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Livros

Proféticos
Professor Esp. Felipe Fernandes
2021 by Editora Edufatecie
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F363L Fernandes, Felipe


Livros proféticos / Felipe Fernandes. Paranavaí: EduFatecie,
2022.
85 p. : il. Color.

1. Bíblia. A.T. Profetas - Introduções. 2. Teologia. 3. Profetas.


4. Hermenêutica - Religião. I. Centro Universitário Unifatecie.
II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD: 23 ed. 223.06


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AUTOR

Professor Carlos Felipe Fernandes

● É formado no Bacharelado em Teologia pela Unicesumar (2013);


● Pós graduado em Liderança Pastoral pela Faculdade Teológica Sul Americana –
Londrina Pr (2016);
● Pós-graduado em Docência no Ensino Superior e Tecnologias Educacionais e
Inovação pela Unicesumar (2019);
● Professor Mediador no curso de Graduação em Teologia na Unicesumar – EAD
(2020);
● Atualmente é Orientador dos cursos de pós-graduação das áreas de Educação e
de Teologia da Unicesumar – EAD.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/1466605796030805


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Olá acadêmico (a), seja bem vindo (a)

Iniciamos aqui a nossa disciplina “Livros Proféticos”, neste livro e em nossas aulas
vamos imergir em contextos sociais dos mais diferentes do Oriente Antigo no período bíblico,
iremos compreender o ministério profético, suas nuances e características especiais nos
textos bíblicos. Nesta jornada, iremos perpassar em especial os livros do Antigo Testamento.
Poderemos observar no decorrer como o ministério dos profetas se desenvolveu e quais
foram principais precursores em diferentes épocas no enredo veterotestamentário.
Diferente do que estamos habituados a ouvir sobre os profetas, o profetismo teve
importante papel, não somente no campo religioso, mas foi muito relevante nos campos
políticos e sociais nas sociedades as quais estavam inseridos. Estudar essa temática é
um convite à imersão em culturas diversas bem como a embates entre povo e monarquia,
que mostram como era importante o papel dos profetas nos diferentes contextos aos quais
estavam inseridos.
Neste material vamos estudar os principais períodos e marcos históricos dos
profetas bíblicos suas mensagens e sua vida e abnegação em obediência as ordens e
profecias dadas por Deus para o povo.
Então pegue seu livro e vamos embarcar nessa maravilhosa viagem rumo ao
conhecimento!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Profetas e Profetismo Bíblico

UNIDADE II.................................................................................................... 26
Profetismo do 8° Século

UNIDADE III................................................................................................... 47
Profetismo do Século 7° e 6° Século

UNIDADE IV................................................................................................... 66
Profetismo do 6° e 5° Século
UNIDADE I
Profetas e
Profetismo Bíblico
Professor Esp. Felipe Fernandes

Plano de Estudo:
● Introdução aos profetas;
● Definindo os tipos de profetas;
● Formas de Profetismo;
● Cultura e sociedade no oriente do antigo testamento;
● O Reino de Israel.
.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar quem eram os profetas, seus livros, suas mensagens
e contextos sociais que estavam inseridos;
● Compreender os tipos de profetas e as mensagens
especificas em cada período e contexto;
● Estabelecer a importância da mensagem profética nos campos
da religião, política e sociedade dos períodos aos
quais os profetas estavam inseridos.

3
INTRODUÇÃO

Dentre as diversas áreas do saber no estudo teológico, a teologia bíblica contempla


a clivagem dos estudos sobre os profetas e o profetismo. Em nosso objeto de análise desta
feita, teremos como recorte o profetismo, em especial, no Antigo Testamento.
Nesta unidade introdutória ao nosso material de estudos vamos conhecer quem
eram os profetas, seu ministério e suas peculiaridades. Uma análise mais aprofundada do
ministério destes grandes homens de Deus, de fato, merece a continuidade da pesquisa
acadêmica. Mas nessa unidade, você leitor, será convidado a viajar ao mundo contextual do
Oriente Antigo e vamos descobrir juntos os caminhos que formaram e forjaram os profetas
a serem fiéis à mensagem recebida por Deus, bem como a transmiti-la com coragem e
ousadia a todos: da monarquia aos plebeus, dos ricos aos pobres, aos Filhos de Deus e
aos pagãos, a sacerdotes de divindades pagãs, a profetas vendidos e aos falsos profetas.
Tudo em nome da verdade de Deus e sua vontade ao povo.
Falei aos profetas, e multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas propus
símiles (Oséias 12:10)

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 4


1. INTRODUÇÃO AOS PROFETAS

Devemos iniciar nossa abordagem desconstruindo a ideia de que os profetas


atuavam apenas dentro da abrangência do período bíblico. Existem diversos registros
históricos de profetas e formas de profetismo anteriores aos relatos veterotestamentários.
Desta forma, o termo “profeta” não é oriundo de Israel, mas do antigo mundo da Bíblia,
que podemos nominar como o “Antigo Oriente Próximo”. De fato, com a ampla leitura
dos textos sagrados da Bíblia, o uso do termo profeta ficou comumente relacionado
exclusivamente ao enredo bíblico, mas que tiveram atuação na vida em sociedade dos
mesmos períodos no Antigo Testamento.
No entanto, quando fazemos a clivagem (recorte) da nossa análise da profecia
bíblica no Antigo Testamento, temos seus matizes próprios, características peculiares que
exalam a verdade do Deus de Israel. Os profetas comprometidos em proferir as verdades
de Deus mesmo que suas vidas fossem colocadas em risco, dada à seriedade dos juízos
e acusações que profetizavam. Isso com ousadia e intrepidez, com as quais as elites não
estavam habituadas a lidar e nem estavam dispostas a dialogar e compreender. Neste
contexto, alguns dos profetas do período escreveram suas mensagens proféticas, outros
não registraram, e desta forma tiveram suas profecias contadas por outros escritores
através da tradição oral, muito recorrente nas primeiras culturas da Bíblia.
A profecia bíblica no Antigo Testamento valeu-se dos mais variados gêneros
literários como poesias, figuras de linguagens, simbolismos proféticos e outros diversos.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 5


Houve também neste período, profetas que estavam profetizando por interesses
políticos, outros por proeminência nas regiões onde viviam, e também profetas que profetizavam
por ascensão social. No entanto, havia profetas que iniciaram profetizando as verdades de
Deus (Javé) e corromperam a posteriori. Em oposição a estes, tinham os profetas que estavam
cabalmente firmados em profetizar somente o que Javé ordenara com coragem, para confrontar
uma monarquia organizada e impiedosa, que era seu opositor, e que priorizava e protegia os
mais abastados da sociedade, cuidavam de suas festas e reuniões com seus capatázios, em
detrimento aos pobres e injustiçados. Estes últimos, por sua vez, sofriam as injustiças por meio
de impostos duramente cobrados, que aumentavam drasticamente as desigualdades sociais,
conduzindo a sociedade à miséria sem piedade alguma.
Neste momento, as profecias contra a monarquia seguiam expondo mazelas sociais
e o desagravo de Deus diante do cenário exposto passou a inserir os profetas diretamente
nas questões sociais, bem como, nas questões espirituais às quais o povo também padecia,
pois o relacionamento do povo com Deus a essa altura estava olvidado (esquecido).
Os profetas, agora muito mais inseridos em diferentes classes sociais - no
exército, entre sacerdotes, juízes e latifundiários, e principalmente, com o povo oprimido
e desesperançado, - passam a ter forte atuação utilizando Javé e seus juízos como
arma para que esta realidade instalada sofresse mudanças. Para alguns profetas,
como Jeremias, por exemplo, o embate com a monarquia e suas ofensas aos pobres
são confrontadas com fortes denúncias das injustiças notadas na vida do povo comum,
denúncias estas muito corajosas e audaciosas contra os poderes e instituições ligadas à
monarquia, principalmente quando ressaltamos que a coragem não era um ponto forte no
início do chamamento deste profeta (Jr 1:7-8). Mesmo assim, diante do cenário repleto de
desumanidades que o profeta contemplava, Javé o encoraja ao confronto e ele profetiza
contra a monarquia e as instituições estabelecidas.
Para os profetas bíblicos, seu comprometimento com Deus e suas profecias estavam
firmadas na fidelidade à entrega da mensagem verdadeira. A vocação dos verdadeiros profetas
não contemplava vínculos com grupos ligados às monarquias para abrandamento de suas
mensagens proféticas, principalmente as mensagens proféticas que vaticinavam juízo ante
às opressões causadas pelas desigualdades. O compromisso do profeta antes de qualquer
apontamento era com sua vocação e com os desígnios de Deus para sua vida; estavam
prontos a colocar suas vidas e suas reputações, se preciso fosse, em favor de Deus. Existia
um compromisso verdadeiro do profeta com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 6


2. DEFININDO OS TIPOS DE PROFETAS

Nas leituras veterotestamentárias, o ministério profético se apresenta com diversas


nuances, com contextos e objetivos diferentes em suas profecias. Assim, podemos notar o
quanto a profecia bíblica torna-se um fenômeno diversificado.
Ao estudarmos a profecia podemos dividi-la em três grupos de profecias em todo o
Israel, sendo: Um primeiro grupo que denominamos “profetas do templo e da corte” (Natã
em Gade, pertencentes à corte de Davi). Um segundo grupo, com profecias mais críticas e
também mais distantes da corte e do templo (Elias e Eliseu) e, por fim, um terceiro grupo ao
qual nosso material trará um enfoque maior, os “profetas radicais”, que visavam ao embate
com a monarquia e à denúncia das mazelas sociais causadas pelo Estado (Amós, Isaías,
Jeremias, entre outros). A profecia, mesmo em tempos e ambientes distintos, sempre
apontava a verdade de Javé e sua atenção para com os erros causados por lideranças
e poderes que, de alguma forma, feriam seu povo e os afastavam da comunhão cúltica
com Javé. Geralmente em contextos semelhantes a estes, Deus levantava os profetas em
oposição a estas crises. No entanto, o termo profetas aplicado nas Escrituras perpassa por
diferentes terminologias. Destas, três descreveremos pormenorizadamente, destacando
que as terminologias de cada título profético remetem aos atributos e objetivos do profeta.
Assim sendo, os três títulos são: ro´eh, hozeh e nab’. Há um quarto termo que aparece
também com frequência no enredo bíblico; ´ish´elohim, “homem de Deus”.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 7


Os dois títulos Ro´eh e Hozeh, de forma bem objetiva, apontam para a ideia de vidente
(Heb. hozeh: “aquele que vê”) que se relaciona na língua hebraica ao termo hazon (Heb. hazon:
“visão”), ao qual temos uma aproximação com o texto do profeta Isaias 1:1, como veremos:
“Profecia (Heb. hazon: “visão”) de Isaías, filho de Amós, a respeito de Judá e Jerusalém no
tempo de Ozias, de Joatão, de Acaz e de Ezequias, rei de Judá” (ISAIAS 1:1, Bíblia Jerusalém).
Para muitos pesquisadores bíblicos, o ministério profético estava diretamente rela-
cionado à vidência dos profetas, suas visões sobre os juízos futuros, bem como as verdades
de Javé a eles reveladas previamente, tendo assim a figura do profeta como um vidente,
aspecto preponderante, até mesmo quando apresentamos a relação com exemplos de
profetas arábicos ou também com o profetismo além do cânon bíblico. Isto nota-se também
nos profetas do Antigo Oriente Médio, na cidade de Mari por exemplo, como veremos a
diante em nosso livro. A relação do profeta com o termo hozeh (“aquele que vê”) também
pode ser assemelhada aos nômades patriarcas e no caso de Balaão (Números 22:24). O
termo ro´eh, por sua vez, tem uma definição próxima ao termo hozeh. Quando o termo
hozeh designa “aquele que vê” está vinculando-o à vidência, à revelação de algum fato.
Assim o termo ro´eh, remete-nos a expressão de alguém que pode então penetrar o futuro
e revelá-lo (Dt 18:21-22), como destaca o Isaltino Gomes Coelho Filho ao exemplificar o
termo ro´eh “alguém que vê” ao chamado de Jeremias (Jeremias 1:11-12):
Nem sempre o termo está associado com vidência. Algumas vezes é uma
interpretação dos eventos ou a compreensão de algo mais profundo numa
visão comum. Jeremias vê um oleiro fazendo um vaso e compreende a relação
entre Iahweh e Israel (18.1-4). Vê uma vara de amendoeira florescendo (1.11-
12) e faz um trocadilho: ele vê uma amendoeira. (shaqed) que soa parecido
com vigilante. (shoqed). A amendoeira floresce quando capta o aumento da
umidade do ar. Está pronta para lançar as folhas, novamente. Ela vigia, ela
shoqed o ar. Assim Deus está shoqed com sua palavra. Ninguém veria isso,
mas o profeta vê. Ele vê uma panela fervendo, na parte norte (1.13-15). Estava
vazando. Ele vê a ira de Deus fervendo e pelo norte, de onde vem um inimigo.
Não tem sentido algum para o homem comum, mas tem para ele. O profeta
vê o que os outros não vêem. Chamaríamos isso, hoje, de discernimento. Lá
estão os homens a brincar com o pecado, a sociedade a relaxar seu padrão de
conduta, a moralidade baixar assustadoramente (COELHO FILHO, 2004, p.03)

Estes profetas são dotados de um poder sobrenatural e por isso podem também
ser chamados na bíblia de ´ish’elohim, ou “homem de Deus” (ex. Moisés e Samuel: Dt 33.1;
1 Sm 9.1-10,16). Outra aparição do uso dessa palavra (ro’eh) está em Amós 7.12, no qual
Amazias chama Amós de ro’eh: Vai-te, ó vidente (ro’eh), foge para a terra de Judá, e ali
come o teu pão, e ali profetiza.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 8


Outra terminologia hebraica utilizada para distinguir os fenômenos proféticos é o
uso do termo Nabi’ remetendo à prática da vidência profética. Antonio Gunnenweg, teólogo
protestante holandês e professor do Antigo Testamento, um dos melhores nas referências
para pesquisa em teologia do A.T., relaciona o uso do termo nabi’ a sua raiz em língua
hebraica nb’ (“chamar”) neste caso o vocábulo “chamar” no enredo veterotestamentário.
Para o professor José Luis Sicre, dividia-se o mesmo termo em outras três formas de
atuação profética, como vemos a seguir: “O verbo demonstrativo de nabi’, que se emprega
em nifal e hitpael, às vezes com sentidos bem diferentes: (1) “ficar frenético”, (2)“dançar
ritualmente”, [..] (3) “profetizar”, “cantar” ” (SICRE, 1996, p. 87).
Seguindo a abordagem de Sicre, essas formas frenéticas, danças e cantos
proféticos, são ações denominadas de profecia em delírio extático, “estar fora de si”, ou
seja, em alguns momentos no ato da entrega das profecias os nabi’ eles entravam nesta
espécie de ação transcendente para exercer seu ministério. Outra característica relevante
é que os profetas nabi’, ao contrário dos grupos mencionados anteriormente em nosso
material, podem aparecer no texto bíblico em ações em grupo e reunidos em grupos de
profetas nabi’ (1Sm 10.10-13; 19.18 2Rs 2.15; 4.38; 6.1; 13.11; 2Rs 2.3.5; Ml 3.5).
No entanto, relacionar ou definir estritamente que os profetas nabi’ atuavam apenas
como profetas extáticos ou tinham como características únicas a atuação em grupos pode
ser um erro, pois o termo nabi’ pode ser aplicado também a profetas de atuação individual,
provavelmente com uma relação ao termo nabû com possibilidades de aplicação conjunta
às palavras “chamar”, “anunciar”, “nomear”. Como nos estudos na língua hebraica os
agentes passivos e ativos da ação interferem nas possibilidades de interpretação e com
o uso dos termos, não há como afirmar se estes tem sentido no passivo ou ativo nas
ações proféticas. Desta forma, considerando que o hebraico exprime a ação de profetizar
no passivo (no sentido de que o profeta recebe e depois transmite a profecia), sugerimos
então que o termo nabi’ relaciona-se a quem sofre a ação que Deus lhes impunha (ordem
de profetizar), e consequentemente, a ação do profeta e sua profecia não dependia da
sua iniciativa ou de quaisquer iniciativas humanas, mas dependia exclusivamente da ação
divina. Assim, etimologicamente, nabi’ significaria alguém “chamado”, “convocado” para
uma missão concreta.
Desta forma, em síntese, devemos manter sempre em mente que os profetas foram
anunciadores da(s) Palavra(s) de Deus, pois de alguma forma recebiam de forma passiva

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 9


a mensagem do próprio Deus e a compartilhavam para que os rumos futuros das nações,
dos povos e das monarquias fossem alinhados aos planos de Deus e sua soberania.
O profeta em suas diferentes formas de atuação é o “alguém que vê” os rumos da
história (lembre-se: esse é o significado de ro´eh) e também é um nabi’, ou seja, alguém
que profetiza/proclama a Palavra de Deus.
Outro termo utilizado também nas escrituras remete aos profetas na relação de
mentores, aos quais comumente praticavam uma espécie de relação mestre-discípulo. O
termo neste caso é o beney há-nebi’im ou Filhos dos profetas. Estes filhos dos profetas, eram
crianças e adolescentes entregues aos profetas e inseridos nas comunidades de profetas,
poderiam ficar por longos períodos ou apenas curtas temporadas junto ao seu profeta-mentor.
Os locais aos quais esses filhos de profetas se agregavam aos profetas eram variáveis,
podendo ser em cavernas, matas ou casas, com mobília e estilo de vida bem modestos
afastando-se na maior parte do tempo da vida em sociedade comum (1Rs 20.41; 2Rs 2.23).
Por fim, outro título profético atribuído nas Escrituras é o ‘ish há-elohim (Homem
de Deus) vide os textos bíblicos sugeridos (1Rs 17, 18; 13.1,11; 20.28; 2Rs 1.9-18; 4.7; Jz
13.6.8; 2Cr 25.7,9), título esse concedido dada a comunhão íntima e profunda com Javé.
Esse tipo de título atribuído estava muito mais relacionado à forma como os pertencentes da
comunidade dos profetas viam os profetas e as pessoas da sociedade comum aos quais os
profetas tinham suas relações sociais. O termo ‘ish há-elohim aparece 76 vezes no Antigo
Testamento e quase na metade das vezes é aplicado a Eliseu. O ‘ish há-elohim é mostrado
como uma pessoa de confiança de Deus e as pessoas veem isso na sua vida devotada.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 10


3. FORMAS DE PROFETISMO

Existem diversos relatos de profetas e profetismos na história e em especial no Antigo


Oriente Médio, esse fenômeno religioso se fazia presente em diversas culturas e também
não se constituiu um fenômeno exclusivo do Javismo (Religião de Javé). Relatos apontam
que desde a antiga Assíria havia tipos de profecias estáticas, exercidas por sacerdotisas
no templo de Ishtar. Já quando se trata de relatos equivalentes no Egito, não existe certa
evidência histórica sobre o aparecimento de profetas. Nas regiões de Canaã há registros de
profetas e profetismo, mas desta feita muito mais pelos relatos bíblicos do que por relatos
e pesquisas extrabíblicas (SCHOKEL, 1991). Notamos isso especialmente no relato de 1º
Reis 18 e 1º Reis 19:26-29. Os cananeus, por exemplo, faziam uso de árvores sagradas,
(vide o carvalho de Moré, em Gênesis 12.6 - Moreh, em hebraico, significa - mestre), além
de sonhos e a interpretação dos voos dos pássaros.
Em especial, em nosso material faremos um recorte das pesquisas no tema que
remetem a cidade de Mari, antiga cidade da Mesopotâmia (atualmente Tel Hariri), que foi uma
antiga cidade-estado semítica da Síria e um dos sítios arqueológicos mais importantes na
Mesopotâmia atualmente. Foram através de pesquisas de cartas de profetas da cidade que
relações estabelecidas entre as profecias israelitas e profecias no Oriente Próximo Antigo foram
observadas, em especial na correlação fenomenológica que pode se estabelecer entre ambas.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 11


Embora essa correlação tenha sido feita, neste caso ainda se trata de um vasto
campo de pesquisa para poder estabelecer relações diretas entre os profetismos de Mari
com quaisquer relações com o profetismo israelita ou com seus profetas. Mas em certo
ponto as cartas encontradas na cidade de Mari, mencionam as tipologias de oráculos,
emissários e proclamadores em nome de outro “divino”, com mensagens de alerta e juízos
vindouros, isso antes de qualquer relato bíblico. Em Mari e em suas cartas, um dos oráculos
mencionados é chamado de Apilu / Apiltu, que pode ser um correspondente na forma
participal do verbo “responder”. Essa designação leva-nos a entender que os profetas apilus
eram homens que davam respostas das divindades às perguntas que os homens faziam.
No texto abaixo, apresentado por Fohrer, remete a uma destas respostas:
Fala ao meu senhor: Assim (diz) Mukannishum, teu servo: eu tinha oferecido
os sacrifícios a Dagan pela vida de meu senhor. O respondente de Dagan de
Tutal ergueu-se; assim falou ele, a saber: Babilônia, estás ainda disposta?
Eu te conduzirei para a armadilha... As casas / famílias dos sete parceiros
e quaisquer que (sejam) suas possessões eu porei nas mãos de Zimrilim
(FOHRER, 1982, p. 279).

Nas cartas, vários títulos proféticos mencionados em Mari relacionam-se com o período
de Zimrilim, rei daquela cidade por volta de 1700 a.C. Os profetas apilus comporiam uma classe
de homens e mulheres que recebiam alguma ordem da divindade, mantinham relação cúltica
com os templos das divindades existentes. Relatos apontam também para manifestações
extáticas (extasiados) com experiências diversas, com presságios futuros e visões e também
as cartas remetem a profetas apilus que tinham visões. As relações destes tipos de profetas
(apilus) com os profetas bíblicos está apenas no campo de análise dos fenômenos dentro dos
tipos de profetismo. A diferença é de simples compreensão, para os profetas bíblicos todos os
outros profetas como nas cartas de Mari eram considerados falsos deuses, os profetas bíblicos
profetizavam apenas no nome de um Deus, o verdadeiro Deus de Israel.
Os profetas vinculados às divindades pagãs, por vezes se diferenciavam da sua
forma de atuação e rituais utilizados em seus atos proféticos, como por exemplo, o uso
recorrente da lecanomância (leitura do futuro pela figura do azeite derramado numa taça
sagrada), a hepatoscopia (a leitura do futuro pelos riscos do fígado de animais sacrificados
aos ídolos). Esses dois rituais são exemplos de atuação profética no paganismo.
No enredo bíblico temos o exemplo dos cananeus, que consultavam as árvores
sagradas como oráculo. No profetismo pagão destaca-se também a relação profeta/
poder, onde as profecias estavam muito mais atreladas a orientação das monarquias em
futuras batalhas bélicas, declarando-se (os profetas) a favor ou não à entrada do rei em
determinada pugna com outra nação, a firmar alianças político/comerciais com outras
nações ou a decisões complexas a serem tomadas, como aconteceu em Gênesis 41,8,
com adivinhadores e os sábios de Faraó.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 12


Por fim, ressalta-se que a diferença fenomenológica nas ações dos profetas pagãos
para com os profetas Javistas, não se caracteriza o movimento profético como exclusivo ao
período bíblico do Oriente Médio, mas que de fato profetismos diferentes são registrados em
textos extrabíblicos e históricos como nas cartas de Mari. Cabe-nos então saber discernir e
diferenciar os profetas e profetismos, isso porque nas Escrituras temos relatos de profetas
Javistas (profetas que creem exclusivamente em Javé) com os de profetas pagãos dentro
do mesmo escrito, merecendo então essa análise de leitura e pesquisa.
Concluímos assim que o profetismo não pertencia exclusivamente aos textos
veterotestamentários e cada profeta bíblico atendia especificamente a um termo sobre sua
forma e atuação profética. Esses profetas compunham um advento registrado na história
como um todo, isso citado nesta unidade nos registros nas cartas de Mari.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 13


4. CULTURA E SOCIEDADE NO ORIENTE DO ANTIGO TESTAMENTO

Toda análise textual da Bíblia requer do estudante a compreensão e prática de um


método de análise dos objetos em pesquisa. Dentro dos estudos na Teologia Bíblica diversos
métodos foram observados, analisados, adaptados ou até mesmo rejeitados pelos estudiosos
desta área na teologia em diversos tempos da história. Fato é que sempre existirá a necessidade
de um método para qualquer análise de textos bíblicos que fundamente os resultados
esperados, seja nas análises de períodos ou fatos bíblicos, assim o método hermenêutico
é muito importante e não pode ser ignorado. A ausência de um método hermenêutico pode
conduzir o estudante/pesquisador a equívocos severos, ainda mais em leituras que exigem
tanto, como as leituras no Antigo Testamento, principalmente nos profetismos. Não respeitar
o método escolhido e empregado na análise, pode conduzir a deduções nos textos que não
existem e que não perpassaram o crivo de outras áreas do saber, relacionadas com a teologia
como arqueologia, história, línguas e outras ciências do saber, trazendo sérios danos aos
estudos. Por esses e outros motivos os métodos são tão fundamentais.
Na teologia bíblica, muitos métodos são usados nas análises literárias, culturais e
linguísticas dos textos: Método Histórico-Crítico, Método Histórico-Crítico-Social, Método His-
tórico-Gramatical, Método Hermenêutico Contextual, Método Sêmio-Discursivo entre outros
Nos textos do Antigo Testamento a compreensão das nuances de contextos,
sejam eles históricos ou culturais, se fazem de muita relevância, pois nos textos do
Antigo Testamento, mudanças de contextos acontecem entre os textos, justamente pela
abrangência histórica entre os livros desta parte da Bíblia.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 14


Existem questões culturais e gramáticas que se diferem, por exemplo, dos textos
do Pentateuco para o livro dos Salmos, isso também ocorre nas leituras dos profetas e em
suas estruturas literárias.
Temos então, profetas diferentes, em tempos diferentes e em contextos diferentes,
profetizando as verdades de Deus com objetivos diferentes. Assim, levar em conta os
contextos de cada profeta torna-se um fator imprescindível para a continuação do nosso
estudo e veremos isso nas unidades posteriores em nosso livro. As leituras hermenêuticas
contextuais nestes casos são de grande valia para poder ampliar as percepções da profecia
e mensurar os efeitos das profecias.
A hermenêutica contextual é uma vertente do método histórico-gramatical. Esta
proposta se distingue pelo maior cuidado na análise dos contextos do texto bíblico e da
época da leitura, algo muito relevante em nossas análises nas próximas unidades, onde
iremos abordar a formação sociocultural de alguns dos profetas bíblicos. Nesta vertente, a
leitura e pressupostos da ação profética são vistos sob diversos prismas, não apenas o viés
teológico da ação dos profetas, mas também os efeitos sociais e fatores socioculturais que
a mensagem a ser entregue poderia causar. Outro fator a ser ponderado nestes casos são
os fatores linguísticos e a escrita dos textos de cada profeta, haja vista, como mencionamos
anteriormente, os profetas tinham formas de escrita que se diferenciavam, bem como,
elementos socioculturais que interferiam diretamente na escrita e direcionamento das
mensagens proféticas. Esta informação pode ser confirmada pelo fato de que os profetas
habitualmente no início de seus escritos se situarem ante aos ambientes que direcionariam
suas profecias (escritos), colocando-se dentro de um plano histórico, como afirma Hans
Walter Wolff: “Os profetas são habitualmente introduzidos no começo de seus escritos, e
identificados pela data e local da atividade. A pessoa histórica do profeta assume importância
fundamental para a transmissão de sua mensagem” (WOLFF, 2003, p.74-75).
Este fato é facilmente notado nas leituras proféticas na Bíblia, por exemplo: “A
palavra de Amós”, “a visão de Isaías” ou “a palavra do Senhor que veio a Oséias”: essas
são algumas formas dos profetas se identificarem no plano contextual da sociedade de seu
tempo. Outra forma é situando-se na história como, por exemplo: “No ano que morreu o
Rei Uzias (Is 6:1)” neste caso que exemplificamos o Rei Uzias, o profeta apresenta dados
importante sobre seu lugar histórico, pois Uzias foi o 10º rei de Judá e teria começado a
reinar por volta de 829 a.C até 778 a.C desta forma Isaías coloca sua profecia num plano
histórico e insere-se como participante deste período para a história da nação.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 15


Neste tipo de inclusão na história o profeta consequentemente assume e/ou de-
monstra a relevância de seu ministério, de sua mensagem. Não apenas no campo da reli-
gião da época, mas de alguma forma o profeta tenta inserir a sua profecia como elemento
relevante da vida e sociedade de seu tempo. Por estes e outros motivos que a leitura dos
textos proféticos exige no hermeneuta uma percepção mais contextual da vida, obra e
mensagem do profeta. Não proceder desta forma é empobrecer a profecia, que por algu-
mas vezes custou a vida dos profetas, para que chegasse ao nosso tempo e pudéssemos
estudá-las com mais profundidade.
No Antigo Oriente próximo, a vida cotidiana perpassava por diversos estilos, como
os peregrinos, nômades, sedentários (oposto de nômades), clã fechados, clãs abertos e etc.
Formas de vida tão diferentes também estavam vinculadas a ambientes bem diferentes. A vida
nestes períodos tinha ambientes variados, mesmo assim a mensagem dos profetas procura
em certa medida atender a totalidade da vida, o andar, o comer, o viver, a fé, as opressões
sofridas pelo povo causadas pelas monarquias, julgamentos, questões agrárias, manejo da
terra, orientações de guerras, o pensar, o escrever entre outras muitas questões. Os profetas
em suas mensagens visavam se fazer ouvidos e com as suas mensagens nas mais variadas
circunstâncias, como forma de que suas profecias fossem vivas e trouxessem vida e esperança
na vida. Neste momento, convido a cada um para ler com atenção o texto de Isaías 28,23-29,
em que apresentaremos a amplitude dos objetivos do profeta com a profecia:
Inclinai os ouvidos, e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.
Porventura lavra todo o dia o lavrador, para semear? Ou abre e desterroa todo
o dia a sua terra? Não é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície,
então espalha nela ervilhaca, e semeia cominho; ou lança nela do melhor trigo,
ou cevada escolhida, ou centeio, cada qual no seu lugar? O seu Deus o ensina,
e o instrui acerca do que há de fazer. Porque a ervilhaca não se trilha com trilho,
nem sobre o cominho passa roda de carro; mas com uma vara se sacode a
ervilhaca, e o cominho com um pau. O trigo é esmiuçado, mas não se trilha
continuamente, nem se esmiúça com as rodas do seu carro, nem se quebra
com os seus cavaleiros. Até isto procede do Senhor dos Exércitos; porque é
maravilhoso em conselho e grande em obra (Isaías 28:23-29, BÍBLIA, 2002).

Nota-se então que o profeta, em sua mensagem, deixa claro sua instrução de
forma didática aos ouvintes de sua mensagem, um poema didático (Wolff, 2003). Fica
clara a relação proposta pelo profeta de relacionar a mensagem ao contexto bucólico ao
qual a maioria de seus ouvintes estava habituada (plantas, cultivar, colher). A profecia
neste ponto fica relacionada ao contexto para a compressão da mesma, isso é leitura
contextual da profecia pelo profeta e deve ser feita pelo estudante/pesquisador. Em um
segundo plano, evidencia que a linguagem bucólica rural é utilizada para apontar o plano
de Iahweh na nação e nos tempos, apresentando a ação divina no plano da história (Deus
cuida da história: começo/plantio, meio/cultivo e fim/colheita).

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 16


Lembramos ainda que o uso da figura bucólica rural era comum aos ensinos
sapienciais do judaísmo primitivo, como vemos no livro de Quohelet, ou Eclesiastes. Por fim,
o profeta (Isaías) deixa claro em sua mensagem profética a bondade de Deus em conceder
conselhos, “profecias pelos profetas”, para que o povo não erre ou transgrida suas leis, sendo
a obediência aos “conselhos proféticos” um caminho mais seguro ao povo. Este texto em
análise, é uma breve apresentação de como a profecia não pode ser observada apenas polo
seu caráter religioso ou espiritual, mas que os profetas se muniam de diversas ferramentas
para que suas mensagens proféticas pudessem ser vividas e memorizadas pelo povo.
Na hermenêutica profética o estudante deve sempre levar em consideração que a
mensagem profética bíblica está relacionada em duas vias: a mensagem divina e os protestos
ao Estado/Monarquia. Isso porque os Estados israelita e judaíta abandonaram os princípios
ordenados por Javé, ocasionando assim desequilíbrio social e opressão ao povo. Soma-se
a este cenário o fato de que esses governantes firmaram alianças com povos aos quais
não deveriam firmar e prestaram cultos a falsas divindades, fato amplamente condenado
por Javé. Podemos notar como as mensagens proféticas se relacionavam diretamente às
opressões do Estado em diversos profetas, como por exemplo, Samuel que, em especial no
oitavo capítulo de seu primeiro livro, direciona a profecia a uma crítica às ações da monarquia
e sua forma de governo (1 Sm 8: 11-17). Os profetas Gade e Natã, que estavam vinculados à
monarquia criticam algumas ações do Estado em detrimento ao povo. Aías, o silonita, é outro
caso semelhante e apoia uma conspiração contra o Rei Salomão por seu modelo de governo
econômico. Elias se levanta contra Acabe, filho de Onri, que iniciou seu reinado no 38º ano
de Asa, rei de Judá e casou-se com Jezabel. O profeta condena as ações governamentais e
as direções espirituais do governo e sofre forte oposição por profetizar contra Acabe. Outro
aspecto a ser destacado nestas e em outras relações entre a mensagem profética e o Estado
pode ser notado nos textos iniciais dos livros proféticos, onde, como vimos anteriormente, o
profeta se situa na história social para compartilhar sua mensagem profética (Is 1:1; Jr 1:1; Ez
1:2s; Am 1:1; Mq 1:1; Sf 1:1; Ag 1:1; Zc 1:1).
As denúncias propostas pelos profetas condenam as ações do Estado e suas
opressões e o rompimento pelo povo e pelo Estado da aliança feita com Javé. Nos estudos,
diferir essas ações é muito importante, como também notar em que aspectos a profecia é
uma crítica estatal, um alerta espiritual ou ambas. Se por um lado, o povo e a monarquia
seguiam obstinados em seus pecados, por outro clamavam a Deus ação mediante as
opressões que sofriam.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 17


Uma relação de interesse mútuo entre monarquia e povo com olhos nos cuidados
divinos: de fato, uma relação “interesseira” com Javé. Neste contexto, Deus envia profetas
seguidamente, que elevam suas mensagens visando o rompimento de um ciclo pecaminoso
(no âmbito espiritual de suas profecias), bem como o rompimento da opressão dos agentes
de poder e cultos a falsos deuses.
Esse conteúdo das mensagens dos profetas aparece e podem ser facilmente
notados em Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel. A complexidade da profecia
eleva então, o profeta, a uma condição de persona digna de apreço em nossos estudos,
pois se apresentam hábeis em suas atuações e percepções do rumo de sua sociedade (não
considerando neste aspecto as profecias messiânicas). Assim, para lermos os profetas é
indispensável compreendê-los em suas incompatibilidades com a dominação monárquica
e o afastamento do verdadeiro Deus. O profeta por vezes atuava solitariamente, pois não
estava comprometido com a política monárquica e seus desmandos. Mas para poder
permanecer fiel ao chamado divino e à verdade a ser profetizada, permanecia firme e
isolado até mesmo de seus semelháveis, alimentando o forte interesse de mudar a situação
espiritual (primeiro plano) e social (em segundo plano) da realidade em que o povo estava
inserido, mostrando disposição em pagar o caro preço pela verdade.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 18


5. O REINO DE ISRAEL

Neste tópico, vamos apresentar de forma resumida a situação política, econômica,


social e religiosa do Reino do Norte.
O Reino de Israel se caracteriza ao longo de sua história no período bíblico por
grandes instabilidades do governo, sendo que o trono foi tomado a força três vezes
(GUSSO, 2003). A estabilidade dentro das estruturas de poder foi conseguida apenas
entre os anos de 885 a 874 a.C., a partir do reinado de Omri, com um governo sólido
que conseguiu manter Israel com propriedade econômica e políticas internas de paz.
Mais à frente, Davi e Salomão remodelam este modelo de governo ampliando com uma
relação mais amena com o Reino do Sul (Judá), fato consolidado no reinado de Acabe,
ao qual as relações internacionais do Reino do Norte foram se firmando. Essa política
interna e externa que perdurava desde Omri, termina em Jeú, com um governo autoritário
ao qual promove brigas e assassinatos internos dentro do Reino. Os efeitos do governo
violento de Jeú são devastadores a Israel, que acaba por ser invadida por vizinhos mais
agressivos, causando mortes e instabilidade social e religiosa entre o povo. É então em
Jeroboão II que a nação ganha novos rumos e o cenário hostil sofre mudança, com o
Reino gozando de uma prosperidade sem igual (GUSSO, 2003). Por fim, com a invasão
dos Assírios esse período de prosperidade e paz termina.
No campo social, os israelitas se viram em meio aos jogos políticos, sendo jogados
de um lado a outro. Períodos prósperos, tão logo seguidos de massacres em massa e
guerras perdidas, o que fez também que este povo desenvolvesse forte habilidade na
administração e experiência em confrontos bélicos, mesmo ante as derrotas sofridas por
nações circunvizinhas.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 19


O livro do Reis parece mostrar mais claramente que a situação do povo não era das
melhores. No reinado de Jeroboão II o comércio volta a ter protagonismo, principalmente
pelo comércio com os Fenícios, mas com o fim da monarquia encabeçada por Jeroboão
a crise novamente se instala, guerras e invasões voltam a acontecer e como forma de
reagir a estas situações e manter o exército armado, os impostos são acrescidos, gerando
necessidades em uma população que passa a ser explorada por classes superiores e
pessoas mais ricas. No período, esta situação social é denunciada pelo profeta Amós, com
duras críticas às castas superiores e à monarquia ostentadora que oprimia o povo. De fato,
a mensagem de Amós teve ênfase na justiça social.
No campo religioso, Israel padecia ante aos conflitos políticos que geravam confusão
no campo religioso, com práticas e cultos aos falsos deuses e abandonando o culto a Javé.
O ponto mais complexo da crise religiosa foi no período do reinado de Acabe, casado com
Jezabel, a qual conseguiu introduzir o culto a Baal em Israel. Divindade herdada de seus
pais, o culto a Baal virou o culto estatal e a religião oficial da monarquia. Acabe mantém o
culto a Javé como religião civil oficial, apenas nominalmente, pois a religião de Javé correu
sérios riscos de ser exterminada do Reino do Norte. Levanta-se então Elias, que confronta
o povo e a monarquia pela quebra da aliança com Javé, profetizando o juízo, caso não
houvesse restauração do culto. Elias conclama o povo a derribar altares e abandonar o
culto pagão, ascendendo à ira de Jezabel e complicando a situação religiosa entre povo
e monarquia. Mas com o apoio do povo, Jeú obtém sucesso em um empreendimento de
golpe de estado e toma o governo de Israel, tirando das esferas de poder todos que tinham
vínculos com Jezabel e seus desmandos, destruindo o templo de Baal e matando todos
os profetas, sacerdotes e sacerdotisas do templo pagão. A ação de Jeú restaura o culto a
Javé, mas raízes permanecem no povo e o sincretismo passa a coabitar entre o povo, fato
condenado posteriormente pelos profetas Amós e Oséias. Os profetas destes períodos
foram: Aías, Elias, Eliseu, Micaías, Jonas, Amós, Oséias e Odede.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 20


6. O REINO DE JUDÁ

Neste tópico vamos apresentar de forma resumida a situação política, econômica,


social e religiosa do Reino do Sul.
Na divisão dos reinos o reino de Judá termina relativamente como um reino fraco,
o que a vistas da política externa, fez com que outros reinos desejassem invadir Judá
e ampliar seus territórios de domínio e assim exercer maior poder. Susac, Rei do Egito,
que articulou politicamente a cisão dos reinos, utilizou de suas informações privilegiadas
e empreendeu contra Judá, invadindo-a e saqueando. Calcula-se que mais de 150
localidades do reino foram atingidas neste ataque ao Reino do Sul (GUSSO, 2003). Essa
vulnerabilidade era cada vez mais exposta, o que fez que Judá sofresse ataque por muito
tempo em sua história, como os ataques da Síria, Assíria, Egito e Babilônia. A relação
com os seus coirmãos do Reino do Norte não era das fraternais e sofria também com as
instabilidades do Reino do Norte, também sentidas de alguma forma no Reino do Sul.
Mas Judá parecia aprender com erros do Reino do Norte e administrava as crises de
forma mais tranquila internamente (GUSSO, 2003).
As dinastias não tiveram sucesso no Reino do Norte, o que acarretava pontos
positivos e negativos. Positivos quando apontamos que os governantes eram atentos ao
povo e evitavam conflitos diretos para não perder seu poder. Negativos, pois não produziam
políticas de médio e longo prazo por medo de terem seus mandatos interrompidos por uma
revolução social e consequentemente uma troca no poder. Entretanto, no reino do Sul, as
dinastias foram quebradas apenas uma vez, e por pouco tempo, quando Atália, esposa
estrangeira de Jeorão, assumiu o trono após a morte de Acazias, seu filho, e sem sucessão
hereditária ao trono, fazendo que ela assumisse o posto mais alto da nação.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 21


Mesmo mais fraco que o Reino do Norte na parte econômica, Judá era mais estável,
mesmo quando oprimida por impostos pesados dos reinos vizinhos, que obtiveram êxito
em suas invasões comprando assim sua “liberdade”. No reinado de Uzias (791-740 a.C.)
a economia local cresce, focada inicialmente na agricultura e cultivo de animais. Poços
de água são cavados em postos estratégicos junto com torres de proteção a produção
agrícola. Uzias lutou e reconquistou usinas de cobre e ferro em Elate e estabeleceu
acordos comerciais com o Egito e com a Arábia. Socialmente, a disposição de renda e
trabalho manteve a população saudável, bem alimentada e as divisões de classes menos
discrepantes. Mas com o abandono do culto a Javé no reinado de Acabe, o cenário
equilibrado sofre mudanças e faz com que Isaías e Miquéias profetizem relacionando a
situação social à crise religiosa.

SAIBA MAIS

Atualmente, existe de forma corriqueira uma crise de compreensão sobre a profecia


bíblica que permeia diversas comunidades de fé, gerando nestes casos afirmações
equivocadas e interpretações desprendidas de um método de interpretação coerente
das Escrituras. Conhecer a profecia e o profeta, mas principalmente o contexto em
que o profeta emitia sua denúncia, é fundamental para uma boa hermenêutica bíblica.
Os profetas não se esconderam ou eximiram-se de pronunciar a verdade de Deus nos
contextos históricos e sociais controversos e opressores em que viviam. Mas, pelo
contrário, profetizaram contra as mazelas sociais e a favor do reestabelecimento da
religião verdadeira em Javé. Assim, quanto melhor a forma de leitura do conteúdo
literário profético, melhor serão os impactos em uma espiritualidade bíblica, promovendo
mudanças em nossos contextos sociais.

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 22


REFLITA

O verdadeiro profeta anunciava a ruína do poder estatal e religioso, devido ao detrimento


moral e espiritual desses (Jr 7; 27-28; cf. 1Rs 22). Os verdadeiros profetas não estavam
comprometidos com a política estatal, mas com a Palavra de Deus. Por isso, considerando
o fato de que os Estados judaíta e israelita abandonaram os princípios do verdadeiro
Deus, os profetas anunciaram sem reservas a destruição desses estados por inimigos.

Fonte: PETERLEVITZ, Luciano R. Introdução ao Profetismo. Revista Theos – Revista de Reflexão Teológica
da Faculdade Teológica Batista de Campina. Campinas: 5ª Edição, v. 4, n. 1 - Junho de 2008. ISSN: 1908-0215.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 23


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final deste nosso primeiro encontro com a mensagem dos profetas e
o profetismo no Antigo Oriente. Neste início, conhecemos a importância de um método que
analise a profecia dentro de um contexto mais amplo e não apenas com leituras voltadas a
percepção espiritual da mensagem profética. Vimos também os nomes que caracterizavam
os profetas e características do profetismo individual dentro dos termos nas línguas originais.
Prosseguimos então olhando os profetas e suas denúncias contra a monarquia
e opressão ao povo, conhecemos também as realidades políticas, sociais e religiosas de
Judá e Israel.
A partir destas compreensões seguiremos avante, agora conhecendo um pouco
mais afundo cada profeta e sua mensagem.

Vamos lá?

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 24


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Teologia do Antigo Testamento
Autor: Paul R. House.
Editora: Vida acadêmica.
Sinopse: Neste material encontramos uma abordagem muito
completa e detalhada de fatores extrabíblicos que muito colaboram
nas pesquisas em textos do Antigo Testamento, sendo um material
indispensável aos estudantes de Teologia.

FILME/VÍDEO
Título: Israel, a terra do Deus da promessa.
Ano: 2018.
Sinopse: Toda a história de Israel é revisitada e analisada pela
perspectiva dos dias atuais de dez renomados escritores israelenses.
Conflitos, religião, amor, diferenças e controvérsias: tudo é explorado
por algumas das mentes mais interessantes do país.

UNIDADE I Profetas e Profetismo Bíblico 25


UNIDADE II
Profetismo do
8° Século
Professor Esp. Felipe Fernandes

Plano de Estudo:
● O profeta Amós;
● O profeta Oséias;
● O profeta Isaias;
● Os profetas Miquéias e Jonas.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar o aluno dentro dos períodos históricos da Bíblia;
● Abordar o profeta em sua vida, obra e missão;
● Estabelecer a importância da mensagem profética nos campos da religião, política
e sociedade dos períodos aos quais os profetas estavam inseridos.

26
INTRODUÇÃO

Olá acadêmico (a),

Iniciamos aqui nossa segunda unidade de estudos de nossa apostila, aqui começa
nossa imersão na vida, obra e missão dos profetas bíblicos. Nesta unidade vamos conhecer
nomes importantes da bíblia como Amós, Oséias, Isaías, Miquéias e Jonas. Veremos que
cada um destes profetas se tem seu destaque e merece muito de nossa dedicação nos
estudos, pois foram relevantes em seu tempo e sua mensagem profética tem verdades
que perduram até hoje, com colaborações importantes na vivência da fé e da pesquisa
acadêmica. Conhecer e aprofundar-se nestes nomes pode elevar sua hermenêutica bíblica
inserindo a você leitor dentro da mensagem e do contexto da mensagem do profeta. O
convite está feito... Vamos mergulhar no mundo que viveram estes profetas.
Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a
alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. (Oséias
6:3) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002).

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 27
1. O PROFETA AMÓS

Sobre a biografia de Amós existem poucos dados sobre sua vida antes da profecia
com poucas informações históricas sobre ele, neste caso apenas conhecemos seu lugar
de origem, Técua, uma cidade pequena e importante localizada a dezessete quilômetros de
Jerusalém e mesmo pregando no Reino do Norte, Amós era judeu. Também sua profissão
o apresenta como alguém do campo, um pastor (noqued), vaqueiro (bôqer) e plantador
de sicômoros (um tipo de figo). Algumas pesquisas apontam Amós como um homem do
campo, mas com posses consideráveis e um viajante inteligente no comercio de animais
e de suas colheitas, caracterizando como um homem viajado e experiente em sua região,
estes aspectos tornam sua mensagem mais relevante como veremos a seguir. O profeta não
alimentava relação com grupos de profetas anteriores e sua vocação profética é levantada
de forma independente.
Logo de início em nossos estudos, precisamos estabelecer uma visão panorâmica da
época do profeta Amós. Inicialmente no século VIII, os profetas de Israel de grande eminência
inauguram o período conhecido como dos “profetas escritores”, isso pelo fato de terem agora
suas profecias escritas em registros literários, apenas este fato já nos aponta a importância
do profeta Amós em seu tempo. A partir de Amós outros profetas também passam a ter tal
reconhecimento de sua mensagem profética, desta forma cada vez a profecia destes homens
a estabelecia relações mais profundas com sua sociedade provando que suas mensagens
vaticinadas causaram impressões importantes em seus ouvintes.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 28
O primeiro grande diferencial da profecia de Amós que difere de seus pares anteriores
a ele se dá pelo fato de que Amós não se enquadraria no grupo de profetas reformistas,
mas o que eram esses profetas reformistas? Os profetas reformistas anteriores a Amós
entregavam suas mensagens profetas com moderação contra a monarquia e os poderosos
de seu tempo, crendo em uma espécie de reforma “mudança” dentro da corte através das
suas profecias. Estes profetas admitiam falhas nas estruturas de poder, mas criam na solução
de problemas mesmo que não abandonassem essas estruturas (GUSSO, 2003). Em Amós,
esse prisma e objeto da mensagem mudam, e o profeta então passa a advertir a todos,
inclusive poderosos de que essas estruturas de poder estão deterioradas, apodrecidas e
que não havia restauração ou “reforma”, o apontamento do profeta é uma ruptura completa
da estrutura uma volta urgente a Deus e sua verdade bem como o arrependimento genuíno,
caso contrário, Deus não perdoaria o seu povo e nem voltaria a agir em favor deles.
Essa ruptura no molde da mensagem profética anterior, a Amós teria sido o motivo
pelo qual a profecia do profeta em menção seria escrita, como forma de que quando a desgraça
acontecesse, ninguém pudesse dizer que Deus não tinha anunciado (SICRE, 1992). Outro
indicativo é que os profetas posteriores a Amós também desejassem manter seus escritos
por dois motivos: prova e contraprova de que Deus havia avisado anteriormente seu povo
e por Deus ordenar a seus oráculos que registrassem as ordenanças de Deus os seus
profetas. Neste sentido, a literalidade iniciada em Amós causará impactos fortíssimos ao
povo por rememorar as palavras de Deus e aos profetas de suas responsabilidades além de
seu tempo. Neste período (século VIII) mais profetas de relevância comunicam sua profecia
e ganham notoriedade no enredo bíblico sendo eles: Oséias, Isaías e Miqueias.
Para podermos contextualizar a profecia de Amós no âmbito social é preciso
atenção, pois embora junto a outros profetas (Oséias, Isaías e Miqueias) as estruturas
sociais são muito parecidas, os problemas sociais também, mas o olhar e o enfoque da
profecia de cada um deles muda e ressalto mesmo em contextos sociais parecidos. Em
Amós, a riqueza do Estado era reduzida por meio do trabalho dos mais pobres, mas este
não era o problema para Amós, já que o fato se dava na opressão e nos soldos injustos
ante o muito trabalho do povo. A supremacia poderosa extraia dos mais pobres sua força de
trabalho ao extremo, sem a remuneração que lhes permitissem no mínimo a subsistência
básica em quanto por outro lado os ricos cada vez mais ricos usufruíam de luxos ignorando
as situações de extrema pobreza do povo. Por este motivo Amós divide a população de
Samaria em dois grupos: os “oprimidos” e os que “entesouram” (Am 3.9-12).

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 29
A cidade Samaria está em um caos de opressão tão discrepante que Amós faz um
convite a seus inimigos mais severos a retornarem a Samaria e contemplarem o tamanho
desgraça como destaca Sicre (1992):
Só um público especializado na matéria (em destruir Samaria) é capaz
de entende-la. Por isso Amós começa convidando os filisteus (Azoto) e
os egípcios. Para os israelitas esses dois povos são inimigos tradicionais,
protótipo de opressores. Os egípcios escravizaram Israel antes do êxodo;
os filisteus, quando se estabeleceram em Canaã. A este público, perito
em infligir opressão, Amós faz o convite de contemplar o espetáculo da
opressão (SICRE, 1992, p. 361).

Por este motivo, como mencionamos na unidade I, que a leitura do contexto agrega
muito a compreensão de sua profecia, leiamos agora o texto de Amós capitulo três os
versículos nove e dez:
Proclamai este oráculo nos palácios de Azot, nos palácios do Egito. Clamai:
Juntai-vos nos montes da Samaria, e vede quantas desordens há nessa
cidade, quanta violência se pratica no seu seio! São sabem fazer o que é reto
- oráculo do Senhor - amontoam em seus palácios “o fruto” de suas violências
e de seus roubos (Amós 3: 9-10, Bíblia, Versão Católica, 2002 ).

Amós usa então termos muito severos para expressar à situação vivida dada as
diferenças sociais explícitas na cidade ele as apresenta como mehûmot rabbôt, ou seja,
grande terror, semelhante ao de guerra. Mas esse cenário apresentado pelo profeta difere-
se muito caso um visitante casual entrasse em Samaria, pois ele veria uma cidade em
construção, um grande canteiro de obras luxuosas e portentosas. O luxo esbanjador das
grandes famílias era facilmente notado trazendo então uma imagem de cidade prospera e
feliz, mas isso não passa pelos olhos do profeta, vejamos:
Oráculo do Senhor: Por causa do triplo e do quádruplo crime de Israel, não
mudarei meu decreto. Porque vendem o justo por dinheiro, e o pobre por um
par de sandálias, porque esmagam no pó da terra a cabeça do pobre, e trans-
viam os pequenos, porque o filho e o pai dormem com a mesma jovem, o que
é uma profanação do meu santo nome, porque se estendem ao pé de cada
altar sobre vestes recebidas em penhor, e bebem no templo do seu Deus o
vinho dos que foram multados (Amós 2:6-8, Bíblia, Versão Católica, 2002 ).

Por fim, é neste caos que Amós se levante para profetizar contra a injustiça notória
praticada ao povo e a exploração dos mais ricos por dinheiro, mas Amós aponta que Deus
vê e agirá diante desta situação. O fim da mensagem de Amós é o consolo do céu ao povo
que tanto foi oprimido, mas com a certeza que Deus viu seu sofrimento, enviou seu profeta
e agira em favor dos seus, castigando severamente quem não atendeu a voz de Deus.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 30
2. O PROFETA OSÉIAS

Sobre a biografia de Oséias não existem informações concretas de seu lugar de


nascimento a história não apresenta sem sua data natalícia nem sua data terminal. Temos
informações de seu pai (Beeri) e de sua esposa (Gomer). O nome Oséias de acordo com
Gardner (2012) significa em hebraico “ajuda” ou “salvação”, ele então é o único personagem
com um nome que faz referência ao termo salvação no Antigo Testamento. A árvore
genealógica com raízes em Oséias se ramifica em seus três filhos, que assim como Oséias
recebem nome com forte apego simbólico sendo: Jezrael (Deus semeia), Lo-Ruama (que
significa Sem Compaixão) e Lo-Ami (que significa Não-povo-meu).
O casamento de Oséias inicialmente é um fato inesperado, uma ordem de Deus
para que o profeta tomasse para si, Gomer como esposa mesmo sendo ela uma prostituta,
fato esse que também ganha possibilidades de interpretação dado aos simbolismos que
envolvem a vida do profeta. Logo no início de seu texto, Gomer engana ao profeta. Posterior
a este fato, o profeta recebe outra mensagem de Deus que lhe pede que tome outra mulher
agora e que o profeta cometesse um ato de adultério com ela, fato que foi consumado,
então o profeta lhe pede uma espécie de celibato e segredo de seu ato (Oséias 3). Nestes
itens alguns autores diferem, pois creditam a Gomer a posição de meretriz, mas seus atos
são frutos de uma relação conturbada com o profeta, que levaram atraiçoes mutuas. No
entanto, Sicre (1992) defende que “essa experiência trágica no casamento serviu a Oséias
para compreender a relação entre Deus e seu povo”.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 31
A mensagem de Oséias tem relações próximas como vimos no tópico anterior, no
que tange a profecia e sociedade, com um enredo literário dos profetas voltados a uma
posição de Deus ante as mazelas sociais as quais o povo estava sendo submetido pelos
poderosos opressores (KESSLER, 2009). Oséias também tem um olhar diferente ao culto
religioso e sua profecia também contempla críticas ao culto, que os olhos de Oséias era um
culto superficial e falso (WOLFF, 2003) somado a rituais a outras divindades que não seriam
o Deus verdadeiro. O culto a Baal instituído por Jeroboão I quando as tribos do Norte e do
Sul haviam se separado, já havia se tornado em uma espécie de culto cultural, ou prática
cultural do período Jeroboão I, que colocará em evidencia imagens de ouro maciço (bezerros)
fazia com que o povo lhes prestasse adoração. Outra modalidade de culto errôneo notado
por Oséias se dava nas relações bélicas firmadas entre Israel, Egito e Assíria, essa aliança
tinha como resultado a manutenção do exército Israelita (defasado) fazendo com que o culto
e práticas e egípcios e assírios fossem aceitas com uma certa normalidade, dividindo ainda
mais o culto com Javé. Aliança tríplice entre essas nações conduzem o povo de Israel a um
erro com consequências penosas diante de Deus, como desta Luis Sicre:
(...) os israelitas correm perigo ao procurar salvação fora de Deus nas
alianças com Egito e Assíria, grandes potencias militares que podem
proporcionar cavalos, carros e soldados. [...] O povo corre atrás deles
esquecendo a Javé (SICRE, 1992, p. 256).

Diante do erro descomunal do povo em sua relação com Deus, Oséias divide em
sua profecia-texto sua pregação em três etapas. A primeira apontando pequenos juízos
de Deus para que seu povo retorne a lei e ao relacionamento estabelecido e esperado por
Deus, um relacionamento de exclusividade. Nesta primeira, o povo se concertava, mas
tão logo retornavam aos erros originais e perdiam as bênçãos da obediência a profecia e
ao profeta (Os 2:9,7; 10-14), assemelhando-se a figura de um casal onde o marido/Deus
perdoa sua esposa/povo. Num segundo momento de sua pregação, em forma de poesia,
a mensagem do profeta muda a figura de Deus/esposo para Deus/pai e Israel sendo seu
filho. Nesta parte Israel/filho se afasta do Deus/pai e prefere os amigos/ Egito-Assíria
abandonando seus ensinamentos, um protótipo de filho rebelde, pois Israel chega a pedir
auxílio a Baal ante suas batalhas. Na última etapa de sua pregação, também em poema,
Oséias inicia com uma exortação, pedindo que o povo se arrependesse e voltasse tão
logo a Deus e seus preceitos, abandonando os ídolos e falsos deuses já estabelecidos na
forma de culto cultural na nação, como resultado deste arrependimento da nação Deus a
curaria, perdoaria e a amaria novamente.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 32
Essas mensagens situam-se no período final do reinado de Jeroboão II, sua
mensagem profética entra em ação logo após o exílio de Amós no reino do Norte. Uma
crise política se estabelece data a alternância na ocupação do trono, Zacaria filho Jeroboão
é morto assinado por Selum, que logo em seguida é assinado por Manaém (2 ª Rs 15:8-
16) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002). Manaém tem um início de reinado prospero, mas com a
ascensão de Teglat-Falasar III ao trono da Assíria, Manaém é rendido e tem que comprar
sua liberdade ao pagar mil pesos de prata (2ª Rs 15:19-20) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002).
Manaém para resolver o déficit em suas contas aumenta impostos inclusive aos mais ricos
e sofre forte pressão no trono (GUNNEWEG, 2005). O filho de Manaém, Facéias, assume
o trono no lugar de seu pai, mas dois anos após sua ascensão ao trono ele é morto. Diante
de batalhas perdidas aos exércitos de Damasco, então Teglat-Falasar III intervém, ajuda a
Judá e deporta judeus a Assíria. O povo, agora rendido ante a um opressor mais poderosa,
fica sem reação e a profecia ganha tons cinzentos quando a esse quadro somasse o
culto a Baal e o povo literalmente afastado de Deus. Assim concluímos que a mensagem
do profeta Oséias foi uma mensagem profética entregue ao povo em diferentes formas e
linguagens, sempre com Deus ansiando de seu povo a compreensão de sua mensagem de
forma completa. O profeta atende a ordem de Deus e entrega por completo sua mensagem
tanto para os juízos como para as bênçãos advindas da obediência, mas de fato, o povo de
coração corrompido e endurecido se afastou da verdade de Javé e colheu as consequências
deste abandono aos preceitos divinos, sofrendo a duras pagas as consequências de sua
obstinação em seguir seus próprios conselhos.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 33
3. O PROFETA ISAIAS

Neste tópico abordaremos um dos profetas de mais proeminência nos escritos


veterotestamentários, Isaias. Não existem dados concretos de pesquisa quanto ao seu
nascimento e educação, mas provavelmente o profeta Isaias tenha nascido e foi educado
em Jerusalém (GARDNER, 2012). Seu pai chamava-se Amós, mas não podemos afirmar
uma relação entre o profeta Amós de Técua (SHOKEL e SICRE, 1988 ) o restante de sua
genealogia segue ainda desconhecida, no entanto, existem suposições de uma relação
parental com o Rei Uzias (791 a 740 a.C.) isso pelo fato de o profeta ter acesso a corte
e assuntos a ela relacionada que pessoas comuns não poderiam acessar. Um reforço a
esta tese se dá pela forma de escrita e literalidade, pois o profeta Isaias tinha consciência
história de seus escritos e que apontam para valorosa formação acadêmica.
Sobre a literalidade do profeta Isaias, destaca-se as diferentes formas de escrita
utilizadas em seu livro e a forma compreensível em que comunicava os oráculos de Deus a
seu povo. A forma da escrita do livro é esplêndida e rompe em partes com os modelos literários
do Antigo Testamento até Isaias, para Paul Gardner a escrita de Isaias é “incomparável
em sua expressão literária” isso pelo uso de seus artifícios retóricos e imagens literárias.
Esses artifícios retóricos se dão pela facilidade que o profeta tinha de escrever utilizando
linguagens de guerras, conflitos sociais e vida rural. Somasse a essas ricas características
um vocabulário muito polido do profeta em sua escrita, fator que reforça a tese anterior de
um vínculo parental mesmo que distante com a monarquia.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 34
Por fim em sua literalidade aspectos devem ser levados em consideração na
hermenêutica das profecias vaticinadas por Isaias como: Personificação da criação (sol,
lua, montanhas, arvores...) ele também faz uso de expressões apocalípticas, metáforas,
sarcasmo, aliterações, jogos de palavras, assonâncias e usa até zombarias em seus escritos
(Is 14:4-23). Quando falamos do uso destes recursos na língua hebraica um desenho do
profeta como pregador também começa a surgir, e Isaias ganha o caráter de um pregador
exímio e talentoso, Isaias pregava não para oferecer às respostas as crises de seu tempo
e sociedade, mas propunha questionamentos, elemento diferencial a ser destacado como
orador. Isaias como pregador e profeta mostrava-se em seus escritos também como um
servo temente, piedoso e devotado e sua vocação profética.
O chamado de Isaias acontece com ele ainda muito jovem, neste período Isaias
desfrutava de uma “piedade juvenil”, ou seja, estava próximo de Deus e sabia que seu
chamado estando alinhado a este relacionamento íntimo certamente lhe trazia grande
segurança e convicção. Quatro pilares são estabelecidos tanto na profecia como em sua
vida devocional, são eles: a) A santidade de Deus; b) a consciência do pecado (individual
e coletivo); c) a necessidade de um juízo (castigo) e por fim d) a esperança de salvação
em Deus. Isaias casou-se ainda jovem, mas relatos convictos de que era sua esposa ainda
merecem ser mais apurados, mas deste relacionamento Isaias tem dois filhos Sear Yasub
(“Um resto há de voltar”) e Maher Salal Has Baz (“Pronto para o saque, preparado para o
butim”) (SICRE, 1992), esses nomes também reafirmam a devoção completa a Deus pelo
profeta. Sobre a família e genealogia de Isaias não temos informações ou fontes confiáveis
para tal, às informações também vagam quanto a data de sua morte.
A profecia de Isaias no enredo de livro e transmitida pelos copistas da época, colo-
cam Isaias profetizando em três períodos durante o texto, sendo: no reinado de Joatão, no
reinado de Acaz e no período de minoridade e maioridade de Ezequiel. Em uma proposta
de síntese da mensagem do profeta Isaias, podemos dividi-la em dois períodos, sendo um
período mais voltado aos problemas sociais de seu povo e outro com sua profecia voltada
a questões mais políticas a partir do ano 734 (SICRE, 1992).
Em suas ações proféticas o caráter de denúncia do profeta se dá em partes por
influência do profeta Amós, mesmo estando em estados diferentes (Norte e Sul), mas
mantendo-se o mesmo viés de crítica, em que apontavam principalmente as classes
dominantes e as injustiças sociais que causavam.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 35
Suas mensagens em oposição a estes fatos alimentavam no profeta a esperança
de mudança de comportamento dos opressores: “Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer
o bem” (Is 1:17) a mentalidade profética de Isaias vislumbrava essa mudança por parte
dos opressores. Somando-se a isso a experiência pessoal do profeta ao “ver o trono” é
um fato marcante no desenvolvimento de sua profecia, e ver como um homem pecador,
impuro no meio de um povo impuro traz para o profeta uma responsabilidade na mudança
do cenário ao qual estava inserido e um clamor a obediência primeiramente a Deus, como
em sua vocação e também em sua mensagem profética. A mensagem do profeta Isaías
deste modo mesclou repreensões e anúncios de maldições pela infidelidade do povo, com
conforto e esperança pela restauração futura. Desse modo, o profeta Isaías pregou sobre
a importância da fidelidade ao Senhor.
Essa mudança proposta pelo profeta em sua mensagem estabelece em Isaias uma
nova forma de modus vivendi do povo com Deus, no texto de Isaias fica notório que a conversão
a mudança de erros cometidos no passado está diretamente atrelada a uma relação integra e
correta com Deus, para o profeta então, Deus não espera palavras de fidelidade e cultos fiéis,
mas espera obediência integral por parte dos seus causando assim mudanças na sua vida
cotidiana, isso seriam frutos de uma conversão a Deus por meio da mensagem profética.
Isaias também em sua profecia é alimentado de um messianismo, fato que por
algum tempo de forma corriqueira era chamado de profeta messiânico, isso pelo fato de
sua mensagem ter forte apego a vinda de um Messias que reestabeleceria a verdade de
Deus e sua justiça entre o povo. Muitas de suas mensagens com foco em seu tempo
apontavam apara um futuro próximo e que foram cumpridos no ministério de Jesus (cf. Is
53:4-6; 2Co 1:15; Hb 9:26 ) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002). Outro aspecto que podemos
incluir a estes fatos se dá ao fato que Isaías apresentou Jesus como “o Servo” que traria
justiça as nações, que restabeleceria a aliança, iluminaria os gentios (no sentido de prover
salvação a eles), expiaria o pecado de seu povo e, finalmente, ressuscitaria dos mortos
(Is 42:1-7; 49:1-7; 52:13-53:12) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002). Essa percepção da vinda do
Messias prometido, fizeram com que o profeta Isaias fosse o profeta mais mencionado no
Novo Testamento, principalmente quando as pautas direcionavam a pessoa de Jesus e as
profecias que se cumpriram com perfeição sobre o Messias no Antigo Testamento.
Sobre a morte do profeta, alguns historiadores apontam que Isaías morreu durante
o reinado do rei Manassés. Se for esse o caso, por este motivo, o nome de Manassés não
consta na relação de reis em Isaías 1:1 porque talvez o profeta Isaías já não desempenhasse
mais nenhuma atividade profética neste período. A tradição também afirma que o profeta
Isaías sofreu martírio sendo serrado ao meio por ordem do próprio Manassés, mas não há
muitas evidencias a esse respeito.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 36
Caso de fato tenha ocorrido isso com o profeta, então talvez o escritor do livro de
Hebreus tenha mencionado seu martírio na galeria dos heróis da fé (Hb 11:37) (BIBLIA
JERUSALÉM, 2002).
Por fim, o livro de Isaias está repleto de mensagens proféticas ao seu povo com
vistas ao futuro, isto também pelo fato do livro de Isaias conter dois blocos de textos
apocalípticos (Cap. 24-27 e 33-35). A formação abalizada do profeta, sua forma rebuscada
de escrita, seu vínculo com a monarquia, sua habilidade como pregador, sua percepção e
crítica social, sua responsabilidade com sua vocação, sua sinceridade de condição diante
de Deus, sua autoridade, sua audácia, suas convicções e fidelidade a Deus de fato atribuem
ao profeta características que de fato o elevam de categoria nos textos bíblicos e de forma
mais que merecida. Nesta pequena amostragem da vida e obra do profeta as páginas
deveriam exceder-se mais, nossas laudas são poucas, mas que permaneça em nós leitores
o desejo pela pesquisa do profeta Isaias.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 37
4. OS PROFETAS MIQUÉIAS E JONAS

4.1 Miquéias
Neste momento apresentaremos uma síntese sobre a vida e obra do profeta
Miquéias. Nascido em Moreset, aldeia próxima a Judá, a cerca de 35 quilômetros, o profeta
teve sua formação em um ambiente bucólico/rural vivenciando as experiências e sabedoria
destes, mas também vivendo conjuntamente com suas agruras e opressões, principalmente
advindas de latifundiários (SICRE, 1992). Poucas informações apontam para qual seria a
profissão do profeta e suas condições sociais, mas certamente seria um homem embainhado
de simplicidade e dado ao trabalho pesado. Em seu ministério, como afirma Wollf (2003)
o profeta desempenha um importante papel, sendo já um ancião (zaqen) Miqueias parece
ter se cansado das injustiças que presenciou ao longo de sua vida e que a incomodarão
com tais fatos o levantassem como profeta de Deus. Seu ministério foi desenvolvido entre
os reinados de Joatão, Acaz e Exequias, alinhando-se em alguns aspectos a mensagem
do profeta Isaias, isso entre os períodos de 740-698 a.C. (SICRE, 1992). Durante esses
reinados, ao levantar sua denúncia profética Miquéias foi muito incisivo contra os opressores
dos moradores rurais, com veementes ameaças contra latifundiários que exploravam os
trabalhadores rurais o ambiente em que Miqueias viveu era marcado por latifúndio, altos
impostos, aldeias saqueadas, roubos, tra¬balhos forçados e prostituição.
A mensagem do profeta em aspectos literários, ou seja, sua escrita está basicamente
nos capítulos inicias de seu texto, mais especialmente nos capítulos 2 e 3, onde o profeta
de fato é apresentado como um forte promotor de justiça contra as invasões e apropriações
das casas dos camponeses.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 38
A narrativa nos coloca como leitores do livro de Miquéias em um ambiente tenebroso, onde
os mais fracos, sem condições de qualquer residência ou defesa perdem tudo de forma autoritária.
Ao abrirmos o livro do profeta Miqueias, deparamo-nos com fortes denúncias e julgamentos
severos contra as autoridades do seu tempo. À luz de seu sofrimento o profeta acredita que Deus
não compactua com a realidade notada de injustiça social. Como vemos abaixo:
Escutem bem, chefes de Jacó, governantes da casa de Israel! Por acaso,
não é obrigação de vocês conhecer o direito? Inimigos do bem e amantes
do mal, vocês arrancam a pele das pessoas e a carne de seus ossos. Vocês
são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra
seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão. Depois,
vocês gritarão a Javé, mas ele não responderá. Nesse tempo, ele esconderá
o rosto, por causa da maldade que vocês praticaram (Mq 3:1-4).

Concluímos então que o profeta Miqueias elabora uma espécie de “Teologia da


Opressão” onde os opressores serão julgados de forma severa pelo próprio e Deus e
verão em vida as consequências de seus atos injustos e por outro lado os oprimidos serão
assistidos pelo próprio Deus e libertos da opressão e injustiça de seus opositores. Quanto
à morte de Miqueias as informações não são concretas, mas o profeta encerra sua carreira
com uma mensagem de forte embate contra as injustiças ao povo de Deus.

4.2 Jonas
O profeta Jonas identificado como “filho de Amitai” no início de seu livro, era
natural da vila de Gate-Hefer, uma região cosmopolita e com diferentes culturas coabitando
na vila, fato que pode ter sido preponderante no envio de Jonas Nínive. O nome Jonas
tem o significado em hebraico de “pomba”, esse significado pode ser dado por seu país
considerarem Jonas uma criança dócil e pacífica, mas também um contraponto a vocação
dele como profeta ao enviar uma dura mensagem contra os Nínivitas. A época de Elias já
havia passado e seu sucessor, Eliseu, tinha morrido durante o reinado do pai de Jeroboão
II. Embora Jeová tivesse usado esses homens para eliminar a adoração de Baal, Israel
estava se desviando novamente (HOUSE, 2005). O país estava mais uma vez sob o poder
de um rei que “fazia o que era mau aos olhos de Jeová” (2 Reis 14:24).
A ida a Nínive é a peça chave do quebra cabeça da compreensão da vocação profética
de Jonas. A cidade era capital do reino da Assíria, na margem esquerda do rio Tigre, na
antiga Mesopotâmia, Nínive, cujo nome significava “bela” (também de dimensões territoriais
extensas). Jonas então é enviado a Nínive para converter o seu povo e, assim evitar a sua
destruição (Jonas 3:1-10). Mais tarde, é o profeta Naum que descreve a ruína de Nínive, que
parece ter sucedido por volta de 612 (a.C).

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 39
Os Assírios, tradicionalmente tidos como um povo conquistador e cruel foram
construtores de uma civilização que deixou marcas importantes no mundo antigo, visíveis
nas suas cidades, como Nínive, Assur e Nimrud. Decaíram a partir do século VII a. C., depois
de mais de quinze séculos de conquistas e esplendor.
A ida de Jonas a Nínive, cidade fundada por Oannes, por uma ordem divina, em uma
leitura inicial pode apresentar-nos características de desobediência e covardia por parte do
profeta, mas também é inegável notar que Jonas teve papel muito importante na história de
Israel e na expansão do reinado de Jeroboão II (782 a 753 a.C.) (GARNER, 2012).
Ao que é notado as palavras do profeta Jonas serviram de grande incentivo as
investidas progressistas e expansivas de Jeroboão II e a recuperação de territórios que
estavam em domínio dos sírios trouxe de volta parte da glória de Israel como nos dias
de Davi e Salomão. Embora fatos históricos se assemelham ao livro e são apresentados
pelo profeta Jonas, alguns teólogos caracterizam o livro como uma alegoria, uma parábola
destinada a ensinar algumas lições, como por exemplo que Deus é o senhor de todas as
nações. (GARNER, 2012, p. 372). Este fato é confrontado por outros historiadores que
apontam Jesus reafirmando a historicidade Jonas ao afirmar que ele ficou três dias no
ventre do grande peixe (Cf. Mt.12:40) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002), o Cristo entendia a
história de Jonas como um fato real e que no período do Novo Testamento a narrativa era
considerada historicamente verídica.
O profeta mesmo podendo contemplar os efeitos da sua mensagem ficou
desapontado com o ato de “certa maneira” misericordioso de Deus ao ver que seus ouvintes
se arrependeram como vemos abaixo no texto de seu livro:
E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e
Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez. Mas
isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado. E orou ao Senhor,
e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha
terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus
compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te
arrependes do mal (Jn 3:10 e 4:1-2) (BIBLIA JERUSALÉM, 2002).

Esta sensação de fracasso de Jonas foi para Deus um sucesso na missão do envio
do profeta, haja vista, é notada a conversão de uma cidade pagã ao arrependimento e volta
às leis e desígnios de Deus, reafirmando o fato de que Deus é um Senhor de amor, e o
amor um de seus atributos inegociáveis, desejando a salvar todos indistintamente (Jn 4:11)
(BIBLIA JERUSALÉM, 2002).

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 40
Quanto à morte do profeta isto é um fato desconhecido, mas a história é, no mínimo
curiosa, do profeta que tenta fugir de sua vocação e acaba engolido por três dias no ventre
de um peixe e depois vomitado não pode ser resumida a apenas isso. O trabalho de Deus
em experiências pessoais com o profeta merece destaque nas leituras, somado a isso a
coragem de pisar em um território voraz e hostil faz que a coragem esteja acima da tentativa
de fugir e que a obediência de Jonas esteve acima de sua própria vida.

SAIBA MAIS

A prostituição sagrada em Oséias

A imagem da prostituição é muito usada na profecia de Oseias. Em geral, as pessoas


leem e conhecem Oseias como o profeta que se casa com uma mulher de prostituição.
E Javé é apresentado como o marido que condena sua esposa, neste caso o povo, por
cometer prostituição. Mas como entender essa linguagem? Que tipo de prostituição
é cometida? O termo prostituição no livro de Oseias tem vários sentidos: indica
as relações internacionais proibidas, a corrupção das elites políticas e religiosas
e a própria religião do Estado — especialmente a religião que incentiva o culto de
fertilidade praticado nos santuários do rei, chamado de “prostituição sagrada” (cf. Os
4,12-14). Nas antigas cidades-estados de Canaã, como Tiro dos sidônios (1Rs 16,29-
34), existem os cultos a Baal oficial (GUSSO, 2003), o Deus da chuva e da fertilidade.
Nos cultos, além da oferta dos produtos em sinal de agradecimento à divindade pela
colheita, há também muitos rituais de fertilidade, incluindo a celebração do encontro
entre Baal e Anat, sua esposa e irmã. Esse encontro é representado por meio de
relações sexuais entre mulheres e homens escolhidos(as) para serem prostitutos(as)
sagrados(as) a serviço dos fiéis de Baal. Mas qual a origem do culto a Baal? Uma das
histórias do povo cananeu sobre as origens de Baal, Deus da chuva e da fertilidade,
diz o seguinte: Mot, a divindade da esterilidade e da morte, mata Baal. A deusa Anat,
irmã e esposa de Baal, mata Mot, fazendo Baal retornar à vida. Essa história explica
o calor e a seca durante os meses de maio a setembro, quando não cai uma gota de
água sobre a terra de Canaã. É o período em que Baal está morto. Mas o reencontro
apaixonado e a relação sexual entre Baal e Anat têm força de reiniciar a estação das
chuvas, em outubro. Em seguida, o próprio Baal entra em combate com Mot, morre
outra vez e, depois, volta à vida. Esse mito era celebrado anualmente.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 41
No tempo de Oseias, nos santuários oficiais há rituais e cultos a Javé oficial com as
mesmas características do culto a Baal, ou seja, celebrações nas quais se invoca a
Javé como o Deus da fertilidade, aquele que garante colheita para a terra, cria para os
animais e filhos e filhas para as famílias. Mas com a crescente necessidade de produtos
e pessoas para sustentar a política de Israel e o imperialismo da Assíria, sacerdotes e
agentes do Estado promovem e até convocam filhas e noras para assumirem funções
reprodutivas nos santuários. Por um lado, a dominação da Assíria sobre Israel implica
alto pagamento de tributo ao império, em produtos e às vezes em mão de obra. Por
outro, para concorrer no comércio internacional e sustentar
um exército que garanta a segurança interna, Israel também necessita de mais produtos
e mão de obra. Com o objetivo de aumentar a arrecadação, o Estado faz uso da religião.
A profecia de Oseias condena o uso da religião em vista do enriquecimento das elites
religiosas e políticas.

Fonte: TOSELI, C; MARQUES, M.A. Eu não vou castigar suas filhas por se prostituírem. Pia Sociedade
de São Paulo. 2022. Disponível em: https://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-biblicos/eu-nao-vou-
-castigar-suas-filhas-por-se-prostituirem-uma-leitura-de-oseias-44-14/. Acesso em: 10 jan. 2022.

REFLITA

A obediência tem dois níveis:


1ª. Temos que obedecer quando Deus diz para fazer!
2ª. Também temos que obedecer quando Deus diz para não fazer!

Fonte: Marcelo Rissma, 2020.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, podemos descobrir nuances do profetismo bíblico no 8º Século.


Nesta unidade viajamos em culturas diversas e com textos no mínimo curiosos, como o
profeta que se relaciona com uma prostituta, outro que acaba por temor e desobediência na
boca do peixe e um camponês muito corajoso. Mas também aprendemos juntos que olhar
desta forma simplória aos profetas destacando de sua vida e obra apenas fatos curiosos
são de fato perder a riqueza que há nos elementos históricos e culturais que envolviam
cada profeta. Notar sua luta por causas que lhes envolviam e não se calar antes a injustiças
cometidas na sociedade de sua época deve ser um agente motivador para o exercício
de nossa espiritualidade na contemporaneidade, para que possamos nos alinhar mais em
fidelidade a Deus e seus mandamentos bem como agir na autoridade que ele nos concede
a denunciar erros que o desagradam. Nossa unidade termina aqui e agora vamos a fundo
conhecer mais de perto o profetismo do 7º século.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 43
LEITURA COMPLEMENTAR

Complementando os conhecimentos em Isaias 61

Versículos 1-3: O Messias, seu caráter e ofício; 4-9: Suas promessas de bênção
futura para a sua Igreja; 10,11: A Igreja louva a Deus por suas misericórdias.

Isaías [61]:1-3. Os profetas tinham o Espírito santo de Deus em todos os momentos;


Ele lhes ensinava o que falar e fazia com que o dissessem; porém, Cristo sempre tem
o Espírito sem medida para equipar o homem, de forma que este realize a sua obra. O
necessitado costuma estar mais disposto a receber o Evangelho (Tg 2.5), e só há proveito
neste quando é recebido com mansidão. Cristo pregou as boas novas aos pobres de espírito
quando disse: “Bem-aventurados os mansos”. A expiação de Cristo é aceita. Pelo domínio
do pecado em nós, estamos atados e submetidos ao poder de Satanás, porém, o Filho está
pronto para livrar-nos por seu Espírito; e então seremos verdadeiramente livres. O pecado
e Satanás seriam destruídos e Cristo triunfou sobre eles na cruz. Ainda assim, os filhos dos
homens que resistem a esta oferta serão tratados como inimigos. Cristo é o Consolador;
enviado a consolar a todos os que se lamentam e buscam a Ele, e não ao mundo como
consolo. Ele fará tudo - isto por seu povo, para que abundem em frutos de justiça como
ramos do plantio de Deus. A misericórdia de Deus, a expiação de Cristo e o Evangelho da
graça não trazem benefício ao autossuficiente e soberbo. Eles devem ser humilhados e
guiados pelo Espírito santo a conhecerem o seu próprio caráter, e quão néscios são, para
ver e sentir a necessidade do Amigo e salvador dos pecadores. sua doutrina contém a boa
nova para aqueles que se humilham diante de Deus...Isaías [61]:4-9. Aqui há promessas
para os judeus que retornaram do cativeiro, e que são estendidas a todos os que, pela
graça, são libertos da escravidão espiritual. Uma alma ímpia é como cidade derribada, sem
muros, como uma casa em ruínas, porém pelo poder do Evangelho e da graça de Cristo, é
preparada para ser uma habitação de Deus por meio do Espírito.
Quando pela graça de Deus alcançamos a santa indiferença no tocante aos assun-
tos deste mundo, ainda que as nossas mãos estejam ocupadas neles, e o nosso coração
não está enredado com eles, mas completamente preservado para Deus e para o seu
serviço, então os filhos da estranha serão os nossos aradores e podadores das nossas
vides. Ele põe para trabalhar os que o colocaram em liberdade seu trabalho é a liberdade
perfeita, a maior honra.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 44
Todos os crentes são feitos reis e sacerdotes para o nosso Deus, e sempre devem
se conduzir como tais. os que têm o Senhor como sua porção têm motivos para dizer que
possuem um bem valioso, e para regozijarem-se nisto. Na plenitude dos gozos do céu
receberemos mais do que o dobro por nossos serviços e sofrimentos. Deus ama a verdade
e odeia toda a injustiça. Não justificará o roubo de ninguém que diga: foi para holocausto;
esse roubo é mais odioso por ter tal pretexto. Que os filhos de pais santos sejam tais para
que todos possam ver os frutos de uma boa educação; uma resposta às orações por eles
no fruto da bênção de Deus.
Isaías [61]:10,11. No além somente serão vestidos com vestes de salvação aqueles
que estão cobertos com o manto da justiça de Cristo e, pela santificação do Espírito, têm a
imagem de Deus renovada em si mesmos. Estas bênçãos brotarão em épocas vindouras
como surge o fruto da terra. Tão oportuna, continuamente e com grande proveito para a
humanidade, o Senhor Deus fará com que brotem a justiça e o louvor. Eles se estenderão
até muito longe; a grande salvação será anunciada e proclamada até aos confins da terra.
sejamos fervorosos para orar; que o Senhor faça com que a justiça brote entre nós o que
constitui a excelência e a glória da profissão cristã.

Fonte: HENRY, MATTEW. Comentário Bíblico. 1ª ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 45
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Palavra e Mensagem do Antigo Testamento
Autor: Org. Josef Schreiner.
Editora: Paulus/Teológica.
Sinopse: Com a contribuição de diversos pesquisadores referencias
do Antigo Testamento como: Luis Alonso Schokel, Lothar Ruppert,
Friedrich Ziener entre outros essa obra traz 23 contribuições,
que pretendem apresentar os livros do AT (Antigo Testamento),
desenvolvendo as linhas mestras do seu querigma. Intencionalmente,
e quase como um programa, encontra-se no começo um capítulo
sobre o AT como palavra de Deus e palavra do homem.

FILME/VÍDEO
Título: Milagres do Paraíso
Ano: 2016
Sinopse: Milagres Do Paraíso é baseado na incrível história
verdadeira da família Beam. Quando Christy (Jennifer Garner)
descobre que sua filha de 10 anos, Anna (Kylie Rogers), tem uma
doença rara e incurável, ela busca incessantemente a cura da
sua filha. Após Anna sofrer um acidente inesperado, um milagre
acontece quando ela está prestes a ser salva, surpreendendo
especialistas, restaurando sua família e inspirando sua comunidade.

UNIDADE III Profetismo


Profetas e Profetismo
do 8° Século
Bíblico 46
UNIDADE III
Profetismo do
Século 7° e 6° Século
Professor Esp. Felipe Fernandes

Plano de Estudo:
● Os profetas Naum e Sofonias;
● O profeta Jeremias;
● O profeta Habacuque;
● O profeta Ezequiel.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar o aluno dentro dos períodos históricos da Bíblia;
● Abordar o profeta em sua vida, obra e missão;
● Estabelecer a importância da mensagem profética nos
campos da religião, política e sociedade dos períodos
aos quais os profetas estavam inseridos.

47
INTRODUÇÃO

Olá acadêmico (a) estamos nesta oportunidade continuando nossa viagem pelos
profetas bíblicos, espero que você continue animado em conhecer mais culturas e contextos
que envolviam os profetas. Esta viagem ao mundo contextual dos profetas é muito interes-
sante e ressalto, vale a pena continuar nossas pesquisas sobre esse tema. Em especial
nesta unidade, temos profetas como objeto de análise que foram de certa forma referencial
em seu período de atuação, uns mais temerosos e outros mais audaciosos, mas todos
atuaram com muita convicção de sua vocação, não se omitiram de ser a voz profética que
denunciava mazelas sócias dos mais poderosos ante aos mais pobres e atuaram fielmente
para que a justiça de Deus operasse em meio ao seu povo.
Será que ao término desta unidade não se levantarão profetas para atuarem em
nossa sociedade proclamando a verdade de Deus?

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 48


1. OS PROFETAS NAUM E SOFONIAS

As épocas áureas das profecias bíblicas sofreram também por alguns períodos
de silêncio sem voz profética, um período de cerca de setenta e cinco anos. Este fato
geralmente é atribuído pelo longo reinado de Manassés, um homem sanguinário que
não mediu suas ações aumentando o suplício do povo mais pobre (2Rs 21:16) . Neste
silêncio profético, não podemos afirmar que não existiram profetas de menor expressão
literária profetizando, mas de alguma forma sua voz foi suprimida e suas mensagens não
permaneceram. A exceção se dá ao surgimento do profeta Naum que se tornou o único
profeta conhecido ao profetizar no período do reinado de Manassés (698-643) em que
seus poucos registros ele profere condenações a Nínive e também tece críticas as ações
planejadas do reinado Assírio. É importante destacar que neste período, mudanças do
governo em sua administração e mudanças também no campo religioso aconteceram,
mas veremos isso nas análises dos profetas pormenorizadamente.
Vamos iniciar abordando o profeta Naum, seu nome em hebraico significa
“consolo”, Naum era profeta e sua cidade natal foi Elkosh/Elcós (HOUSE, 2005) e apensa
isso se sabe sobre sua origem, até informações mais precisas sobre a cidade se perderam
ao longo da história. O livro de Naum é um tanto quanto curto o que deixa ainda mais
complexas as possibilidades de pesquisa para traçar melhor a atuação profética dele.
Mas uma curiosidade deve ser destacada, muitos estudantes atrelam o nome de Naum ao
aparecimento na genealogia de Jesus apresentada no evangelho de Lucas (3:25), mas não
há subsídios para ligar o Naum da genealogia com o Naum de Elcós.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 49


A profecia de Naum esclarece e estabelece um paralelo melhor ao desafio que Jonas
se deparou ao entrar em Nínive, pois a cidade estava vivendo em extremo pecado diante
de Deus, a informação de que a cidade estava imersa em extremas crueldades inclusive
aos profetas que se levantavam para denunciar os erros dos ninivitas, opressão sem limite,
cultos a falsos deuses e o afastamento do Senhor e da Sua Palavra. Obviamente, ante a
complexidade da situação espiritual de Nínive o profeta Naum teve grande colaboração
no anuncio e nas denúncias de Deus contra aquele povo. A profecia continha expressões
fortes contra os pecados de Nínive como ao dizer que Deus não toleraria outros deuses
e age como terrível vingador contra toda idolatria, em outro momento ao dizer que Deus
demora demais para se irar; é paciente e longânime, mas seu poder é incalculável, eram
fortes ameaças feitas a uma cidade imponente, poderosa e rica.
A profecia de Naum se cumpriu nos anos 612 antes de Cristo, acredita-se que ele
tenha revelado essa sentença de juízo contra Nínive entre 663 e 612 antes de Cristo. Vale
ainda destacar que a ida de Jonas ocorreu por volta de 100 anos antes do cumprimento da
profecia de Naum.

1.1 Sofonias
Agora conheceremos outro profeta, Sofonias. O nome Sofonias significa “escondido
de Deus ou quem Deus escondeu”, seu livro é breve e por este motivo, consequentemente,
temos poucas fontes de pesquisa para ampliar nossa abordagem, mas não se engane, a
brevidade do livro não pode também diminuir a importância deste profeta. O tema central de
seu texto pode ser resumido pela frase “o dia do Senhor” e isso em alusão ao juízo de Deus
ao povo e aos governantes. Sofonias era filho de Cusi, filho de Gidalias, filho de Azarias,
filho de Ezequiel (SICRE, 1992). Neste caso, Cusi, que significa “etíope”, portanto, filho de
estrangeiros, mas ele mesmo era judeu, profetizou durante o reinado de Josias (640-609
AC). Também é o único dentre os Profetas Menores, que é descendente real, pois o mesmo
é tetraneto do rei Ezequias e isso é uma informação muito importante, pois este fato dava a
este profeta livre acesso a corte, fato que não era muito corriqueiro ao ministério dos profetas
bíblicos. Seu ministério tem uma data provável como sendo “nos dias de Josias, filho de
Amom, rei de Judá” (1.1), cerca de 640 a 609 a.C. (II Rs.23:2-1; 23:30 e II Cr.34:1; 35:27)
a maioria das pesquisas estabelece a data provável dos escritos entre 630 a 627 a.C. Seus
contemporâneos incluem Jeremias e Naum, pois Sofonias deve ter iniciado seu ministério
na data provável do ano 625 a.C. De acordo com o arranjo das Escrituras hebraicas, assim
Sofonias seria o último profeta a escrever antes da ida ao cativeiro. Destacamos também
que Sofonias foi contemporâneo ao rei Josias e seu parente distante, há uma possibilidade
plausível que mantinham uma amizade.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 50


Aproximadamente 100 anos antes de sua profecia, o Reino do Norte (Israel) havia
sido derrotado e tomado pela Assíria. O povo havia sido levado cativo, e a terra havia sido
entregue a estrangeiros. Essa tomada dos exércitos da Assíria afetou a Judá politicamente
e também as suas práticas religiosas, sua vida social e a religião em Judá foram mudadas,
conduzida para as divindades pagãs, consequentemente aumentando as práticas de artes
mágicas, videntes e encantadores. A religião astral se torno tão popular, que o rei Manassés,
construiu altares para adoração do sol, lua, estrelas, signos do zodíaco e todos os astros do
céu, à entrada da Casa do Senhor (2Rs 23.11) . O paganismo e a corrupção alcançaram o
seu auge em Judá por volta dos anos 620 a.C. e por este motivo, Sofonias se levanta, seu
objetivo advertir a nação sobre a condenação e um juízo de Deus que se aproximava na
mesma medida que as práticas astrais aumentavam também.
Mesmo coabitando dentro do palácio, os olhos do profeta não deixaram de
contemplar a condição moral e religiosa do povo em declínio gerando insatisfação no
profeta. Ele tentou alertar e se fazer ouvido.
Já no início de seu livro no primeiro capítulo, Sofonias começa bruscamente a
sua profecia dizendo que o Senhor vai consumir todas as coisas sobre a face da terra. O
começo avassalador da profecia de juízo vai se abrandando ao decorrer de sua profecia e o
profeta passa a apresentar as condicionantes especificas a cada povo quanto a juízo futuro
de Deus. Um aspecto a ser destacado em Sofonias é seu caráter profético messiânico, pois
o significado do nome de Sofonias “O Senhor Encobriu” conduz ao ministério de Jesus. A
verdade da Páscoa no Egito, onde aqueles que foram encobertos pela marca de sangue
nas portas foram protegidos do anjo da morte, é repetida na promessa de Sofonias de onde
aqueles mansos da Terra que preservaram a justiça de Deus serão encobertos no “Dia da
ira do Senhor”. Em Colossenses 3:2-3 explica esse aspecto do ministério de Cristo: “Pensai
nas coisas que são de cima e não na que são terra; porque já estais mortos, e a vossa vida
está escondida com Cristo em Deus”.
O dia da ira do Senhor era entendido como uma intervenção de Deus na história,
quando este vinga seu povo, decide seu destino e o salva. A memória do êxodo é muito
viva em épocas de dominação estrangeira ou de estados autoritários, por vezes relembrada
com cânticos. Essa ira seria derramada ante a opressão dos assírios Sofonias tinha grande
preocupação para com os pobres assim ele se torna na voz profética do povo subjugado.
Sofonias termina seu livro num tom de esperança e alegria. Apresentando um
Deus justo, que ouve o clamor dos fracos, levanta-se para fazer o julgamento, depondo os
poderosos e exaltando os pobres. Sobre a morte do profeta não temos conhecimento de
fontes seguras sobre o fim de sua trajetória.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 51


2. O PROFETA JEREMIAS

Caso o Profeta Sofonias tenha começado a profetizar a partir de 625 a.C., então
o início de seu ministério coincide com o período em que o ministério do Profeta Jeremias
também teve início. Estudar e conhecer o ministério profético de Jeremias seja o estudo
mais prazeroso entre os profetas, isso por um simples fato, Jeremias não só profetizou
os oráculos de Deus, mas também se permitiu ser conhecido no seu livro, mostrou suas
emoções, suas dúvidas e suas inquietações pessoais, se mostrou como um profeta acima
de tudo humano. Antes de apresentarmos a biografia e ações do ministério de Jeremias,
vamos apresentar uma breve cronologia em forma de esboço proposta por Luis Sicre, para
que possamos olhar o livro em planos gerais:

TABELA 1 - ESBOÇO DA PROFECIA DE JEREMIAS


Ano a.C Ação Referência Bíblica
625-627 Vocacionamento (Jr 1:4-10)
627-609 Pregação em Israel (Jr 3:6-13)
609 Oráculo sobre Joacaz (Jr 22:10-12)
608 Discurso no templo (Jr 7:1-15 e Cap. 26)
605 - Oráculo contra o Egito. (Jr 46:2-12)
- Discurso sobre a conversão. (Jr 25:1-11)
- Redenção e leitura do volume. (Jr 36)
- Palavras de Baruc (Jr 35)

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 52


598 - Palavras sobre Jeconias. (Jr 22:24-30)
- As duas cestas de figos. (Jr 24)
- Carta aos exilados. (Jr 29)
- Oráculo contra Elam. (Jr 29:34-39)

594-593 - Contra a rebelião. (Jr 27-28)


- Maldição da Babilônia. (Jr 28:51-64)

587-586 - Durante o cerco. (Jr 21:1-10)


- Preso no pátio da guarda. (Jr 32;33; 39:15-18)

586 Depois da queda de Jerusalém Depois da queda de Jerusalém

Fonte: (SICRE, 1992, p. 286).

O profeta Jeremias nasceu na cidade de Anatot, a cerca de seis quilômetros de


Jerusalém, uma pequena aldeia de vida e rotina muito simples, era filho do sacerdote Hilquias,
sacerdote também em Anatot e provavelmente aos vinte anos de idade foi chamado para o
ofício profético ente 625 e 627 a.C. Embora sua linhagem fosse sacerdotal Jeremias não
desempenhou esse ministério Contextualmente, algumas crises permeavam a sociedade
contemporânea a Jeremias, o reinado de Manassés, ficou caracterizado pela blasfêmia e
pelo derramamento de sangue inocente. Este cenário caótico trouxe receio ao profeta que
inicia sua chamada julgando-se incapaz e despreparado para se opor a um estado de poder
tão sólido e maléfico. Próximo então do ano treze do reinado de Josias o profeta assume sua
vocação e inicia seu ministério (Jr 3:6). Embora as pesquisas divirjam sobre a data exata
do início do ministério de Jeremias a maioria dos pesquisadores credita ao ano 609 a.C. o
início de sua chamada a partir do discurso no templo, mas antes desta estreia no templo,
um período pré-profético de preparação ocorre com Jeremias durante o reinado de Josias.
Jeremias teve atuação profética durante o reinado de três Reis Josias, Joaquim e Sedecias.
O reinado de Josias foi marcado por um período de reconstrução política e religiosa, no início
de sua chamada Jeremias permanece em Anatot e consegue sentir os efeitos das reformas
de Josias, a luta contra a idolatria e o sincretismo de certa forma animou Jeremias a ver
esperança de mudança e isso somado às vezes que o próprio Deus encorajou o profeta a
se levantar como voz ativa. Então em especial nos capítulos 2 e três de seu livro o profeta
se levanta especialmente contra os pecados notados por ele, combatidos por Josias e
repreendidos por Deus. Mesmo ante a essas reformas, a situação do povo permeava um
profundo desanimo, pois estavam passando necessidades, algumas cidades haviam sido
despovoadas, a economia não dava sinais de reação e não havia uma coesão política.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 53


Jeremias retoma essa pauta nos capítulos finais de seu livro (Cap. 30-31) com uma
mensagem de esperança em que Deus não abandonaria seu povo e que o sofrimento se
converteria em alegria e também que os tempos de abundância retornariam. No reinado
de Joaquim (609-598) o cenário sofre fortes mudanças que influenciaram o profeta. Josias
morre em Megido, a Babilônia vence s egípcios ao comando de Nabucodonosor e prospera
como potência do mundo da época. Jeremias relaciona essa ascensão e a invasão dos
babilônios como parte de um possível juízo de Deus ante a desobediência de seu povo. Ao
pronunciar isso Jeremias é preso, açoitado e colocado em prisão (Jr 20:1-6) e ainda preso
solicita a presença de Bacuc, seu auxiliar, e dita as palavras de uma profecia que fosse lida
no templo por três vezes, uma ao rei, as autoridades e ao povo, mas Joaquim à medida que
vai ouvindo a profecia ordena que os volumes escritos fossem queimados, não bastasse
isso o rei Joaquim prende também a Baruc, mas tanto Baruc como Jeremias conseguem
fugir da prisão (Jr. 36). Essa situação de perseguição por parte do rei, coloca Jeremias
em situação vulnerável e parte de suas confissões pessoais de medo ante o ministério
profético estão relacionadas a esse contexto. Por outro lado, é neste momento também que
pessoalmente Jeremias aumenta a envergadura de seu ministério profético pois perpassa
os capítulos cinco, seis e sete de seu livro com fortes acusações e denúncias contra as
autoridades e povo que se esqueceu de Deus, vaticinando claramente mensagens de juízo
de Deus a estes.
No reinado de Sedecias, o contexto conflituoso é abrandando, pelo menos no
aspecto político. Neste período uma forte junta militar cria uma coesão contra a Babilônia,
mas Jeremias não coaduna com a ação, pois tinha em mente que a força da Babilônia era
parte da ação e do juízo de Deus contra os desobedientes, conforme destaca Luiz Sicre:
O profeta se opõe a coalizão, convicto que Deus entregou o domínio do
mundo a Nabucodonozor. Para transmitir sua mensagem utiliza a celebre
ação simbólica do jugo, que provoca um confronto com o profeta Ananias
(Cap 27-28) (SICRE, 1992 , p. 87).

Talvez essa instabilidade entre os profetas pesou na decisão de Sedecias em não se


rebelar contra a Babilônia neste momento, mas rebelou-se cerca de cinco anos depois parando
de pagar tributos a Nabucodonosor. Próximo a este período Jeremias é preso novamente (Jr
37:11-16) e corre sérios risco de sofrer a pena capital de morte (Jr 38:1-13 ). Mas Jerusalém
sucumbe as investidas babilônicas e exatamente em 19 de julho de 586 a.C (SICRE, 1992 )
sendo invadida. Na invasão a Jerusalém os chefes babilônicos dividem o povo em três grupos,
os livres, os deportados e os que serão julgados pessoalmente por Nabucodonosor.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 54


O fato como mencionamos anteriormente que Jeremias parecia Nabucodonosor
como parte dos desígnios de Deus para o povo serviu como base para um abrandamento
da pena de Jeremias, ainda preso, então sub a custódia de Nabucodonosor, o profeta e re-
colocado em liberdade. Um governador provinciano chamado Godolias lidera uma grupo e
é seguido por Jeremias, onde com eles acampa estes camponeses e vive junto a eles, e em
um curto período, esse grupo tem sucesso e prosperidade nas colheitas, mas Godolias é
assassinado, e com este ato, o povo teme e planeja uma fuga a Belém, Jeremias se levanta
e os aconselha a permanecer, mas o profeta não é ouvido, eles se estabelecem uma região
chamada Táfnis, dominada por egípcios e o povo recai na idolatria fato condenado também
por Jeremias o que levou Jeremias a morrer apedrejado pelos seus próprios conterrâneos
em terras egípcias.
Por fim, a mensagem de Jeremias sempre foi clara e objetiva, sempre chamando
o povo a conversão para que tenham a tão sonhada paz e prosperidade, mas não deram
ouvidos ao profeta, mas Jeremias não se omite e faz severos anúncios e denúncias de
juízos futuros caso o povo não mudasse. Jeremias foi humano e por vezes em seu livro
se coloca na mesma condição do povo, sentiu e viveu como eles viveram, mas não se
acovardou, foi corajoso e intrépido. Venceu as prisões e foi fiel a entregar a mensagem que
Deus lhe designou.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 55


3. O PROFETA HABACUQUE

Sem dúvidas este é um dos profetas que menos informações temos para um
aparato de pesquisa convincente. Isso principalmente por seu livro pouco nada abordar
sobre informações e datas (SICRE, 1992). O contexto histórico aponta que seu ministério no
período em que a Assíria estava em decadência e a Babilônia surgindo como potência. Ele
teria presenciado o fim do Reino de Judá, quando a Babilônia invadiu e destruiu Jerusalém
e o templo e deportou o povo para a Babilônia. A partir da leitura do livro uma divisão da
profecia de Habacuque fica evidente sendo elas em três partes: 1) o grito do profeta contra
a violência da elite de Judá e contra a Babilônia; 2) cinco “ais” contra os opressores do povo;
3) Javé é o Senhor da história. Talvez ao fazermos uma análise da forma de abordagem
de Habacuque, ante a situação que ele contemplava, percebemos que o profeta é alguém
incomodado com a situação social e que o justo não deve nem pode ser uma pessoa
passiva dentro da história, mas sujeito ativo e transformador do meio ao qual está inserido.
A esperança do profeta era uma mudança da situação social, a partir de um retorno
a vivência pessoal com o Deus cuidador dos seus, deixando transparecer que o justo de
Deus receberá em troca de sua fidelidade a Deus o cuidado D’Ele (GUNNEWEG, 2005).
Sua mensagem também é direcionada aos opressores e Habacuque condena a crueldade
da Babilônia e a violência do seu exército, que trazem sofrimento ao povo. Por fim a
mensagem de Habacuque pode ser sintetizada na esperança e na justiça de Deus antes
as opressões dos impérios, em um povo já sofrido pelos ataques, cada vez mais sem sua
identidade, cultural e religiosa, um povo que perdeu seus familiares e sem esperança de
que o cenário apresentado sofresse mudança, mas para Habacuque, a justiça de Deus
seria o ânimo e a esperança que deveria alimentar seu povo.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 56


4. O PROFETA EZEQUIEL

Em um povo exilado pelo império Babilônico, surge um judeu celebre e corajoso


Ezequiel. O nome Ezequiel significa “Deus fortalece”, seu pai Buzi era sacerdote da linhagem
de Sadoc e atuou no templo de Jerusalém. Ezequiel casou-se e ficou viúvo pouco antes dos
babilônios tomarem Jerusalém, esta informação é muito importante, pois a leitura de seu livro
fica clara a desenvoltura com que o profeta apresentava as cerimônias e cultos no templo,
ser de linhagem sacerdotal lhe permitiu conhecer a fundo a política sacerdotal e do templo.
Seu livro começa com a clara descrição do chamado e da comissão de Ezequiel
(GARDNER, 2012) , com um enredo maravilhoso da visão da “Glória do Senhor” e da
transcendência de Deus (Ez 1:4-28 ) mas isso acompanhada de uma advertência à atalaia
que não avisava o povo sobre um perigo eminente. Uma possível interpretação deste fato,
da atalaia (sentinela) não avisar o povo do perigo, seria também uma figura de linguagem
utilizada pelo profeta para apresentar seu chamado profético. Uma curiosidade nas
pesquisas sobre a vida do profeta Ezequiel, é que o mesmo, é objeto de pesquisa quanto
a sua saúde mental, alguns pesquisadores creditam ao profeta algum distúrbio diante de
alguns fatos curiosos que veremos a seguir. O profeta realizou certos atos a fim de ilustrar
sua mensagem e suas denúncias como, por exemplo: Apresentar Jerusalém como um
modelo de sítio (Ez 4:1-3); ficou deitado para o lado esquerdo por 390 dias (GADRNER,
2012) e depois virou para o esquerdo por 40 dias (Ez 4: 4-17); raspou um terço do cabelo,
queimou outro terço e jogou um terço ao vento (Ez 5:1-4) e até para a morte de sua esposa
Ezequiel trouxe um significado profético (Ez 24: 16-27).

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 57


Para o povo exilado a mensagem de juízo vindouro de Deus trouxe ao povo o temor,
mas também os deixou em estado de alerta, foram chamados de rebeldes pelo profeta o
que lhes causava estranheza, mas com o passar do tempo, essa expressão caracterizou as
mensagens de denúncias de Deus em Ezequiel (WOLFF, 2003). Em resumo, essa mensagem
contra os rebeldes era subentendida de forma clara pelo povo, compreendiam que mesmo em
meio ao juízo Deus ainda falava com seu povo e que mesmo castigados (pelos babilônicos)
Deus não os abandonaria e estava com os olhos sobre a opressão e o jugo a eles dispensado.
O império Babilônico destrói a cidade de Jerusalém e seus muros, este fato causa
furor em Ezequiel e em Deus, e a mensagem de juízo agora também aos babilônicos
passam a fazer parte do enredo da mensagem de Ezequiel. O profeta se levanta com
uma série de oráculos condenando a ação opressora e destruidora, assegurando que
Yahweh se levantaria contra a arrogância de derrubar os muros de Jerusalém. Assim,
ao passo Ezequiel mantém a sua mensagem de castigo e derrota as objeções de seus
contemporâneos, mas nada pode salvar Jerusalém neste momento (SICRE, 1992). Por
exemplo, na alegoria da águia e do cedro (Ez 17:1-10) . Ezequiel denuncia as práticas
políticas erradas do rei Sedecias, políticas que cada vez mais oprimiam o povo e o ápice
da crítica do profeta as opressões econômicas e religiosas ao povo e dá em especial no
capitulo vinte e dois de seu livro. Este é, talvez, o momento mais turbulento da profecia de
Ezequias e em que as situações contextuais a profecia estão mais confusas, sendo uma
soma: Nabucodonosor investindo contra Jerusalém, Sedecias errando com suas decisões,
o povo distante de Deus, fome e falta de trabalho, uma soma fatal e muito complexa de ser
resolvida ainda mais com um desfecho positivo para o profeta.
Depois da queda de Jerusalém, Ezequiel direciona sua profecia com mais
clareza, ainda aos que eram responsáveis pela mesma, sendo cinco grupos: os príncipes,
sacerdotes, nobres, profetas e latifundiários (usavam trabalho para suprimir o povo). O
profeta Reconhece também a responsabilidade individual, assim cada um será julgado e
condenado por Deus segundo os próprios pecados. Ele também responsabiliza os reis
poderosos por suas injustiças (Ez 34) e anuncia que ele mesmo (Ezequiel) irá ao rastro das
ovelhas que se perderam (Ez 34: 11-16).
A profecia então muda de característica, deixa de ter um caráter acusatório de juízo e
passa a apresentar a esperança que o povo deve ter, assim mesmo em meio aos estranhos, o
povo deveria manter-se “puro”, isto é, fiel as suas tradições, observando os estatutos e normas
de Deus, servindo-o em obediência irrestrita e restaurando o culto a Yahweh (GUNNEWEG,
2005). Um texto constantemente lembrado é o que Ezequiel (Ez 37) é levado até um vale de
ossos secos e vê como o Senhor lhes restitui à carne, os nervos, a vida.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 58


E dessa forma, o profeta percebeu que Deus era universal, e estava acima de todas
as nações. Como final forma do castigo de Israel, o profeta anuncia que o pecado mais duro
que podia os afligir era a destruição do templo e consequentemente a perda da Glória deste
templo. Mesmo assim ao final de seu livro no capitulo quarenta e três Ezequiel profetiza a
construção de um novo templo ao qual voltará à glória do Senhor (Ez 43:1-5).
Ao longo de 48 capítulos, é possível identificar que Ezequiel foi versátil para
transmitir a Palavra de Deus, ele utilizou desenhos de um retrato de Jerusalém, ações
representativas, e até mesmo criatividade na intenção de garantir a atenção do povo, e
compreensão das mensagens. O profeta se diferencia dos demais, não somente em seu
conteúdo, mas também quanto a forma de sua mensagem. Uma curiosidade sobre Ezequiel
é que ele e o profeta Daniel são os únicos personagens, além de Jesus, que foram chamados
de filho do homem. Ele viu o povo exilado e oprimido, teve compaixão deles, mas também
não os eximiu de sua responsabilidade quanto à situação a qual estavam expostos, seu
afastamento de Deus sua irresponsabilidade neste processo. Mas o profeta não somente
apresentou a doença e as chagas que vivia seu povo, também lhes apresentou o remédio
para cura destes males, o arrependimento à volta a obediência e ao culto o exclusivo a
Deus, rejeitando as divindades babilônicas. Ele conseguiu certa autoridade entre o Povo de
Israel; não deixou de realizar prodígios e milagres e todos os seus gestos tinham um objetivo
bem preciso: ao profetizar a queda de Jerusalém, exortava o povo e depois, os consolou
com a promessa da libertação e do retorno à sua amada pátria. Ezequiel foi martirizado
por um chefe do povo, por ter sido repreendido por idolatria aos deuses babilônicos, assim
terminou a trajetória deste grande profeta de Deus.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 59


SAIBA MAIS

Império Babilônico
Por Rainer Souza

Por volta de 1900 a.C., um novo processo de invasão territorial dizimou a dominação dos
sumérios e acádios na região mesopotâmica. Dessa vez, os amoritas, povo oriundo da
região sul do deserto árabe, fundaram uma nova civilização que tinha a Babilônia como sua
cidade principal. Somente no século XVIII o rei babilônico, Hamurábi, conseguiu pacificar a
região e instituir o Primeiro Império Babilônico. Sob o seu comando, a cidade da Babilônia se
transformou em um dos mais prósperos e importantes centros urbanos de toda a Antiguidade.
Tal importância pode até mesmo ser conferida na Bíblia, onde ocorre uma longa menção
ao zigurate de Babel, construído em homenagem ao deus Marduk. De fato, são várias as
construções, estátuas e obras que nos remetem aos tempos áureos desta civilização.
Além de promover a unificação dos territórios mesopotâmicos, o rei Hamurábi também
foi imprescindível na elaboração do mais antigo código de leis escrito do mundo. O
chamado Código de Hamurábi era conhecido por seus vários artigos que tratavam de
crimes domésticos, comerciais, o direito de herança, falsas acusações e preservação
das propriedades. A inspiração necessária para que esse conjunto de leis escritas
fosse elaborado repousa na antiga Lei de Talião, que privilegia o princípio do “olho por
olho, dente por dente”. Apesar desta influência, as distinções presentes na sociedade
babilônica também eram levadas em consideração. Com isso, o rigor das punições
dirigidas a um escravo não era o mesmo imposto a um comerciante. Mesmo promovendo
tantas conquistas e construindo um Estado bastante organizado, os babilônicos não
conseguiram resistir a uma onda de invasões que aconteceu após o governo de Hamurábi.
Ao mesmo tempo em que os hititas e cassitas tomavam parcelas do domínio babilônico,
outras revoltas que se desenvolviam internamente acabaram abrindo espaço para a
hegemonia dos reinos rivais. Entre os anos de 1300 e 600 a.C., os mesopotâmicos
assistiram a dominação assíria, marcada pela violência de sua poderosa engrenagem
militar. Por volta de 612 a.C., a sublevação dos povos dominados e a ação invasora
dos amoritas e caldeus instituíram o fim do Império Assírio e a organização do Segundo
Império Babilônico, também conhecido como Império Neobabilônico. Nesse novo
contexto, podemos destacar a ação do Imperador Nabucodonosor, que reinou entre os
anos de 612 e 539 a.C.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 60


Durante o seu governo, a civilização babilônica vivenciou o auge do desenvolvimento
arquitetônico, representado pela construção das muralhas que protegiam a cidade, os
luxuosos palácios e os Jardins Suspensos da Babilônia, admirado como uma das Sete
Maravilhas do Mundo Antigo. O regime de Nabucodonosor também ficou conhecido pelo
estabelecimento de novas conquistas territoriais, entre as quais se destacam a região
sul da Palestina e as fronteiras setentrionais do Egito. Após este governo, os domínios
babilônicos foram paulatinamente conquistados pelos persas, que eram comandados
pela batuta política e militar do rei Ciro I.

Fonte: SOUSA, R.G. Império Babilônico. História do mundo. Disponível em: https://www.historiadomundo.
com.br/babilonia. Acesso em: 10 nov. 2021.

REFLITA

“Não é o suplício que faz o mártir, mas a causa.”


(Agostinho de Hipona (354 a 430 d.C))

Fonte: HIPONA , Agostinho de. Frases de teólogos/autores/santoagostinho. O pensador [S.I.] [2010?].


Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NzUzMjYz/. Acesso em: 10 nov. 2021.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 61


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos aqui mais um passo no nosso trabalho de conhecer melhor os profetas


e seus contextos. Espero que você leitor possa já ter notado quantos detalhes permeias a
vida contextual de cada profeta, sua sociedade, seu tempo, a política, suas características
pessoais e psicológicas entre outros. Todas essas informações são muito importantes para
que as aplicações hermenêuticas corretas aconteçam. Não conhecer esses elementos,
como dissemos anteriormente, é empobrecer o conteúdo da mensagem dos profetas. Por
fim, cada profetas com grande ou pequeno lastro de pesquisa nos convida a um mundo
particular de onde estavam inseridos. Agora vamos continuar conhecendo mais alguns
profetas do 6º século e também do 5º século, vamos encarar mais esse desafio?

Te vejo na próxima unidade!!

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 62


LEITURA COMPLEMENTAR

A TORRE DE BABEL

Por Dr. Antonio Gasparetto Junior

A Torre de Babel é um dos contos mais intrigantes da história da humanidade,


supostamente construída pelos homens que queriam fazer da torre tão alta para alcançar
os Deuses. Entretanto os Deuses não gostaram da soberba dos homens e derrubaram a
mesma. Além dessa explicação mítica, o conto serviria para esclarecer a razão de existir
tantas línguas no mundo. Os indicativos da Torre de Babel começam na bíblia, especialmente
no Antigo Testamento, livro do Gêneses (FOHERER, 1982). De acordo com este, a torre
teria sido construída pelos descendentes de Noé na época em que o mundo inteiro falava
apenas uma língua. Supostamente, a localização da Torre de Babel seria entre os rios Tigre
e Eufrates, na Mesopotâmia. A soberba dos homens em se empenharem na empreitada
de alcançar o mundo dos deuses teria causado a fúria de Deus, que, em forma de castigo,
teria causado uma grande ventania para derrubar a torre e espalhado as pessoas sobre a
Terra com idiomas diferentes, para confundi-las. Por esse motivo, o mito é entendido hoje
como uma tentativa dos antepassados de se explicar a existência de tantas línguas no
mundo. No entanto, há vários estudos que tentam provar de alguma forma a existência de
tal torre. O mito provavelmente é inspirado na torre do templo de Marduk, que em hebraico
é Babel e significa “porta de Deus”. No sul da Mesopotâmia há realmente restos de torres
que fazem alusão à Torre de Babel da bíblia. Babel era a capital do Império Babilônico, foi
muito rica e poderosa, pois representava um centro político, militar, cultural e econômico do
mundo antigo, recebendo imigrantes de todas as partes. Grande parte dos arqueólogos faz
a conexão da Torre de Babel com a queda do templo-torre de Etemananki, na Babilônia,
que mais tarde seria reconstruído por Nabopolosar e Nabucodonosor II. Esta seria uma
construção piramidal escalonada que integraria a construção de grandes torres-templo na
Suméria, chamadas de zigurates.
Os zigurates representam as maiores construções religiosas construídas,
funcionavam como portões para a vinda de deuses à Terra. Essa crença esteve presente
em muitas civilizações desde os primórdios da história. Por haver tantas construções que
seguiam a crença de chegar aos Deuses, há a hipótese hoje de que a Torre de Babel
poderia ter sido construída em Eridu, pois neste local o monarca da Terceira Dinastia de Ur,
Amar-Sim, entre os anos de 2046 e 2037 a. C., tentou construir também um zigurate que
nunca chegou ao fim. Seguindo essa teoria, a história que teria se encarregado de mudar
o local da construção tempos mais tarde para a região da Babilônia.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 63


Na bíblia, nada é dito sobre Deus ter destruído a torre com um grande vento, tal
ideia é proveniente de relatos no Livro dos Jubileus, em Cornelius Alezandre, Abydenus,
Flávio Josefo e Oráculos Silibinos. Também não consta no Gênesis referência sobre a
altura e a largura da torre, mais uma vez são fontes extra canônicas que induzem sobre
o assunto. A altura continua como objeto de especulação pelos pesquisadores, as ideias
partem dos registros de que Nabucodonosor mandou construir um zigurate em 560 a.C.
com 2089 metros de altura e 100 de largura, o que atesta o interesse dos antigos por
grandes construções. As duas fontes extra canônicas, o Livro dos Jubileus e o Terceiro
Apocalipse de Baruch, mencionam valores supostos para a altura da Torre de Babel. O
Livro dos Jubileus diz que a torre teria 5433 cúbitos e 2 palmos, o que seria equivalente a
2484 metros de altura, quatro vezes mais alta do que as construções mais altas do mundo
hoje. O valor é realmente muito impressionante e não ganha muito prestígio científico, pois
os estudiosos dizem que os antigos não teriam condições de desenvolver construções
com aproximadamente 2,5 quilômetros de altura. Por outro lado, o Terceiro Apocalipse
de Baruch é mais realista, dizendo que a construção teria 463 cúbitos, equivalente a 212
metros. Mesmo o valor estando bem abaixo do sugerido no Livro dos Jubileus, já seria uma
torre mais alta que qualquer construção à época, só superada pela Torre Eiffel em 1889.
Algo tão alto já repercutiria o suficiente para ser relatado na bíblia e em outros textos.

Fonte: JUNIOR, A. G. Torre de babel. Info Escola. Disponível em: https://www.


infoescola.com/civilizacao-da-babilonia/torre-de-babel/. Acesso em 10. nov. 2021.

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 64


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Entendes o que lês?
Autor: Gordon D. Fee e Douglas Stuart.
Editora: Edições Vida Nova.
Sinopse: Este livro é uma ferramenta indispensável ao estudante
de Teologia, nele barreiras de interpretações são diminuídas com
uma excelente pesquisa sobre o mundo bíblico e a forma literária
de cada livro da bíblia. Este é sem dúvida aquele livro que mesmo
após anos de estudos recorrer a ele será de grande ajuda.

FILME/VÍDEO
Título: Escravos da Babilônia
Ano: 1953.
Sinopse: Na antiguidade, um judeu ajuda o novo rei persa a ser
coroado e, em troca, ele conquista a Babilônia e liberta todos os
escravos judeus.
• Link de acesso: https://www.apaixonadosporhistoria.com.br/
filme/914/escravos-da-babilonia-1953

UNIDADE III Profetismo do 7° e 6° Século 65


UNIDADE IV
Profetismo do
6° e 5° Século
Professor Esp. Felipe Fernandes

Plano de Estudo:
● Os profetas Ageu e Zacarias;
● O profeta Obadias;
● O profeta Daniel;
● Os profetas Malaquias e Joel.

Objetivos da Aprendizagem:
● Contextualizar o aluno dentro dos períodos históricos da Bíblia;
● Abordar o profeta em sua vida, obra e missão;
● Estabelecer a importância da mensagem profética nos campos
da religião, política e sociedade dos períodos
aos quais os profetas estavam inseridos.

66
INTRODUÇÃO

Estamos quase lá! Chegamos a nossa última unidade e nela vamos continuar nossa
viagem aos contextos aos quais estavam inseridos, suas dúvidas e situações peculiares
em que foram levantados como voz de Deus. Espero que esteja acostumado a olhar os
profetas mais contextualmente, nosso objetivo e fornecer o aparato para a leitura dos textos
proféticos e não os dirigir em uma leitura pronta e de uma hermenêutica já exaurida. Desta
forma, quanto mais elementos extratexto você absorver de nosso conteúdo, a sua leitura
sobre os profetas será ampliada lhe permitindo mais liberdade na leitura. Encerramos agora
com seis profetas, muito relevantes no período pós-exílico e muitos detalhes aparecem
nestes profetas que devem e merecem nossa pesquisa, vamos em frente?

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 67


1. OS PROFETAS AGEU E ZACARIAS

Vamos iniciar nossa unidade IV conhecendo mais sobre o profeta Ageu, embora
seu livro seja pequeno em volume a mensagem deste profeta é muito relevante para que
prossigamos conhecendo melhor os contextos dos profetas. O nome Ageu significa “fes-
tivo” do hebraico “hag”. É possível que este nome o tenha sido dado por ele ter nascido
em algum dia importante das festas judaicas. Isto também pode apontar que seus pais
eram religiosos e que isso tem interferências na mensagem profética de Ageu. Uma das
análises possíveis é que o profeta Ageu tenha nascido ainda na Babilônia, e tenha ido
para Jerusalém após o decreto de 538 ou 537 a.C. emitido por Ciro, rei da Pérsia, o qual
permitiu que os judeus retornassem à sua terra natal. No início de seu livro o profeta
parece indicar que o profeta tinha visto Jerusalém antes da destruição do templo e o
exílio em 586 a.C., o que significa que ele já não era tão jovem, provavelmente Ageu tinha
mais de 70 anos de idade em Ageu 2.3 ( Biblia Jerusalém, 2002). A partir desses fatos, a
imagem de Ageu começa a entrar em foco. Desta forma, ele era um homem mais velho
olhando por trás das glórias de sua nação com certo saudosismo, um profeta imbuído em
ver o seu povo se levantar das cinzas do exílio e reclamar o seu lugar de direito (SICRE,
1992). Ageu também foi contemporâneo de Esdras, Neemias e Zacarias.
A profecia de Ageu pode ser lida de forma dividida em blocos que podem ajudar na
compreensão da profecia como um todo sendo elas todas devidamente registradas pelo
próprio profeta e datadas com datas prováveis de: 29 de agosto de 520 a.C. a primeira; a
segunda em 17 de outubro de 520 a.C.; e as duas últimas em 18 de dezembro de 520 a.C.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 68


Em resumo são mensagens de encorajamento ao seu povo apontando esperança
e benção futuras de Deus ao seu povo (GUSSO, 2003). Mantendo a mesma divisão as
quatro principais mensagens seriam; O chamado de Ageu ao povo para reconstruir o
Templo, mostrando a importância de abandonarem a negligência em que estavam (Ag
1:1-15). O profeta Ageu falou sobre o potencial de uma glória maior que haveria no novo
Templo (Ag 2:1-9). O profeta Ageu ressaltou as bênçãos futuras de Deus para um povo
que havia se corrompido (Ag 2:10-19). Ageu também profetizou sobre a promessa de Deus
acerca da vitória de seu povo sobre as nações (GUSSO, 2003). Por fim, sobre a morte do
profeta temos poucas informações concretas por isso não podemos apontar as causas de
sua morte, mas o que podemos concluir que Ageu profetizou contra o povo no sentido que
não deveriam ficar negligentes ante sua situação para com Deus e deveriam se encorajar
em Yahweh para iniciar a reconstrução do templo e consequentemente restaurar a aliança
com Deus, Ageu foi sem dúvida um grande instrumento de Deus neste processo.

1.1 Zacarias
Poderíamos iniciar nosso texto mencionando Zacarias como o profeta fora de seu
tempo, isso porque Zacarias, cujo nome significa: o “Senhor lembra”, é o profeta mais
citado no Novo Testamento, depois de Isaías, e iniciou seu ministério profético no mesmo
ano de Ageu, 520. Pertencente à tribo de Levi, nascido em Galaad, filho de Baraquias
e tendo voltado na velhice à Caldeia, na Palestina, Zacarias teria feito muitos prodígios,
acompanhando-os com profecias de conteúdo apocalíptico e messiânico, como o fim do
mundo e o duplo juízo divino.
Este profeta transmite em seu texto aspectos de uma espiritualidade viva, em seu
texto ele usa de visões e parábolas, anuncia o convite à uma vida consagrada totalmente
a Deus. Também pode ser chamado de profeta messiânico, isso porque, as suas profecias
referem-se ao futuro do novo Israel, futuro próximo e futuro messiânico. Zacarias tem um
texto envolvente, um profeta nato que transpira sua vocação em seu livro e vaticina a profecia
de forma clara, objetiva e muito sincera. Se por um lado, Ageu aponta a reconstrução do
templo como restauração, Zacarias amplia e relaciona a restauração a além do campo
material. Também o profeta Zacarias coloca em evidência o caráter espiritual do novo Israel,
a sua santidade, realizada progressivamente, ao lado da reconstrução material (HOUSE,
2005). Essa restauração espiritual será plena com o reino do Messias. Este renascimento
é fruto do amor de Deus e da sua onipotência para com seu povo.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 69


Em parte do seu texto, a apresentação de uma profecia messiânica, seu texto
aponta para o futuro do povo de Deus, anunciando o aparecimento do Messias com três
imagens: rei, pastor, sofredor. Essas imagens trazem à lembrança Jesus montado num
jumentinho (rei), bom pastor e morte na cruz (servo sofredor) (SHOKEL, 1988).
Essas três dimensões messiânicas da profecia de Zacarias são muito relevantes
e deram de fato um destaque a sua vida e obra ante aos demais profetas menores.
Também seu livro pode ser divido em três grandes blocos sendo: Os capítulos 1-8: em que
o autor fala da reconstrução de Jerusalém; capítulos 9-11: Onde Zacarias apresenta um
projeto de esperança e paz; capítulos 12-14: Profecias que falam do final dos tempos em
Jerusalém. John D. W. Watts apresenta uma síntese muito clara do livro e dos objetivos
de Zacarias em suas profecias:
O tema do livro é o Reino de Deus. Esse tema é apresentado de inúmeras
e variadas maneiras, sempre relacionado a outros temas. A relação de
Jerusalém com o reino de Deus é um tópico que aparece ao longo de todo o
livro. A intenção que o Senhor tem ali de reestabelecer sua morada é a razão
de reconstruir o templo. A vinda de Deus a Jerusalém e sua morada ali são
sinais da eleição da cidade. Ela é o tema central daquela ocasião que o profeta
chama de “aquele dia”. Quando tudo mais estiver sob o juízo final do Senhor,
Jerusalém permanecerá exaltada e confirmada (WATTS, 1969, p. 311).

Zacarias em suas profecias relacionando Jerusalém e a presença do próprio Deus,


tem já um caráter de comprimento de sua profecia com certa brevidade, pois de fato, serão
cumpridos esses propósitos e em Jerusalém será estabelecida a relação de um só povo
com o seu Único Deus se cumprirá, o povo servirá ao Senhor como uma nação santa que
atrai todas as nações a sua capital, cujo será evidente a presença de Deus (HOUSE, 2005).
Por fim, Zacarias anuncia que chegou o tempo das bênçãos do Senhor para
com Israel e seu povo. O Templo se encaminha para a reconstrução e estão para serem
reedificadas Jerusalém e as outras cidades de Judá, enquanto os povos que se alegraram
com sua destruição serão punidos e sofrerão as penas e os juízos de Deus por seus atos.
Quanto à causa da morte do profeta, não temos acesso, porém, provavelmente morreu
muito velho e foi enterrado ao lado do tumulo de Ageu, seu contemporâneo.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 70


2. O PROFETA OBADIAS

Trabalhar em prol do outro, ajudá-lo. Esta pode ser uma síntese do trabalho e
ministério do profeta Obadias. Certamente, esse será o profeta de todo o nosso material
de estudo com menos informações, mas por outro lado, sua vida e obra são no mínimo
inspiradoras a nossa fé.
Obadias ou Abdias em seu livro nos deixou apenas 21 versos ou versículos e por
ser tão resumido seu livro deixou poucos ferramentais para as pesquisas de cunho histórico
e arqueológico, tendo como resultado em poucas informações concretas. Obadias não nos
diz nada sobre o autor de seu texto se foi ele mesmo ou outro escritor em conjunto, exceto
seu nome, e até essa informação é incerta já Obadias era um nome muito comum no Antigo
Testamento, e os estudiosos acham que o Obadias que escreveu o livro não é mencionado
em outros lugares na Bíblia. A dúvida quanto ao nome (Obadias/Abdias) também se dá
porque vogais podem ser adicionadas para as letras hebraicas em mais de uma maneira,
então isso pode significar “adorador do Senhor” ou “Servo de Javé”.
Seu livro aborda a destruição de Edom, nação com muitas características parecidas
com Israel. Obadias era um nome muito comum no Antigo Testamento, e os estudiosos
acham que o Obadias que escreveu o livro não é mencionado em outros livros ou textos
bíblicos (GUNNEWEG, 2005).

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 71


3. O PROFETA DANIEL

O livro de Daniel foi escrito por volta de 530 a.C. enquanto Daniel vivia na Babilônia.
O profeta ainda quando adolescente foi levado para a Babilônia em cativeiro, provavelmente
a escrita do livro se deu quando Daniel tinha por volta de 90 anos. O Profeta Daniel é o autor
do livro que leva seu nome o qual também significa “Deus é Juiz”. Daniel foi selecionado
como um dos jovens judeus mais especiais para ser treinado para servir na corte do rei
Nabucodonosor que foi rei da Babilônia de 605-562 a.C. Daniel viveu na Babilônia durante
os reinados de Belsazar (cap. 5;7-8), de Dario, filho de Xerxes (cap.6 e 9), e de Ciro,
rei da Pérsia, que, em 539 a.C., conquistou a Babilônia e se tornou rei do país (cap.10).
Seguindo esses dados cronológicos, o livro foi escrito depois de 536 a.C. No entanto,
muitos especialistas bíblicos acham que o livro foi escrito depois da profanação do Templo
por Antíoco IV Epífises (I e II Macabeus), rei da Síria 174-165 a.C. (SHOEKKEL, 1988).
Quanto a escrita, maioria dos pesquisadores concorda que a composição final do
livro se deu no período dos Macabeus. O próprio texto de Daniel dá uma indicação precisa
neste sentido em especial no capítulo 11 apresentando contextualmente as guerras entre os
Ptolomeus e Selêucidas que são narradas com riqueza de detalhes, assim como também
o reinado de Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.) no livro do profeta.
O ministério profético de Daniel tem seu início destacando seu dom de interpretar
sonhos, e por sua habilidade de interpretação e inteligência foi promovido a cargos de
liderança nos governos Babilônico e Persa mesmo durante o cativeiro.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 72


Na Babilônia, juntamente com outros companheiros com qualidades semelhantes
a ele eram estudiosos, inteligentes e fies em suas convicções religiosas, Daniel foi educado
para o serviço no Império Babilônico, sendo instruído sobre a língua e a civilização dos
caldeus (Dn 1:4). Dentre os companheiros de Daniel na Babilônia, o relato bíblico destaca
três nomes: Hananias, Misael e Azarias, também conhecidos por seus nomes babilônicos
Sadraque, Mesaque e Abednego respectivamente. Daniel também recebeu outro nome
no cativeiro, no caso Beltessazar.
Uma curiosidade importante de ser destacada se dá pelo fato de que quando o período
de preparação para Daniel determinado por Nabucodonosor terminou, os jovens foram
conduzidos à presença do rei. Na ocasião, não foram achados outros jovens tão capazes
como Daniel, Hananias, Misael e Azarias. O rei lhes interrogou sobre todos os assuntos nos
quais se exigia conhecimento e sabedoria, e Daniel e seus três amigos se mostraram dez
vezes mais sábios do que todos os magos e encantadores do Império Babilônico.
O ministério profético de Daniel tem como grande advento inicialmente interpretando
os sonhos do rei Nabucodonosor (Dn 2:4). Nabucodonosor havia tido um sonho que lhe
deixou perturbado, e, convocando os magos, os encantadores, os feiticeiros e os astrólogos,
pediu-lhes que revelassem não só o significado do sonho, mas o próprio conteúdo do
sonho, nenhum deste conseguiu êxito na interpretação. Isso fez com que Nabucodonosor
ordenasse que todos os sábios da Babilônia fossem executados, incluindo Daniel e seus
amigos. A imagem retratada no sonho do profeta representava quatro impérios mundiais,
começando no presente e se estendendo ao futuro. As duas interpretações mais aceitas
são: Babilônico, Medo-Persa, Grego e Romano, ou Babilônico, Persa, Medo e Grego.
Nas pesquisas arqueológicas nos conhecidos como manuscritos de Qumran
apresentam fragmentos de um ciclo de Daniel, o qual tem semelhanças com o livro canônico,
especialmente no capitulo três e quatro do livro que contém a chamada “Oração de Nabônides”,
encontrada na Caverna IV nas pesquisas que Qumran, onde notamos uma relação com
os textos Dn 3,31-4,34, com a substituição do nome de Nabônides por Nabucodonosor em
Daniel. Este fato ajuda-nos a inserir o livro em um contexto histórico muito importante podendo
ser referenciado em fatos históricos comprovados além do enredo bíblico.
A passagem do sétimo capitulo do livro de Daniel, em que o profeta é lançado na
cova dos leões, também é considerada uma etapa do livro profético relevante nas leituras,
e de fato é, quando mantemos os olhos nas leituras contextuais. O rei Dario nomeou 120
pessoas responsáveis por administrar o império e colocou três supervisores sobre eles,
um dos quais era Daniel.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 73


Durante sua atuação, o profeta se destacou por sua inteligência e sagacidade ante
a situações controversas, o profeta se destacou tanto como supervisor que Dario planejava
colocá-lo à frente de todo o governo. Diante disso, os administradores e os outros dois
supervisores procuraram algum motivo para acusar Daniel em sua conduta, mas nada
conseguiram, então se mancomunaram contra Daniel e seu rito diário de orações ao Deus
de Israel. O rei assinou o decreto com o seu selo real. De acordo com a lei dos medos e
persas, tudo que fosse selado com o selo real não poderia ser jamais alterado. Mesmo ante
ao decreto e a ciência que seus opositores procuravam aspas em Daniel para condená-lo
Daniel foi para a sua casa e como de costume entrou no seu quarto, abriu as janelas e orou
ajoelhado ao seu Deus. Mesmo ante algumas tentativas por parte do rei para livrar Daniel
da pena cabal, o rei não conseguiu livrar Daniel e mandou que seus guardas o prendessem
e o jogassem na cova dos leões conforme o édito que ele mesmo havia proclamado.
Mesmo contra sua vontade a cova foi tapada com uma pedra e o rei a selou com seu anel,
concretizando assim o possível martírio do profeta. Resumidamente, ao conferir a cova,
Daniel encontrava-se vivo e jubiloso ante o livramento lhe conferido. O Rei Dario então
revoga seu édito e agora penaliza os opressores (outros administradores) de Daniel sob
a mesma pena outrora condenatória a Daniel, mas também com suas mulheres e filhos.
Todos morrem devorados pelos leões.
O livro do profeta Daniel, também pode ser caracterizado como um livro profético-
escatológico, isso porque trata de acontecimentos relacionados ao o fim do mundo e com
apontamentos apocalípticos. Esses acontecimentos são revelados ao profeta por meio de
visões e sonhos. O profeta procura explicar ao povo de Deus por que eles estão sendo
perseguidos e ao mesmo tempo, ele os exorta a serem fiéis a Deus. Pois virá o dia em
que Deus acabará com o domínio dos pagãos e, mais uma vez, Israel será uma nação
livre e independente.
O livro em sua estrutura literária neste aspecto escatológico apresenta uma
possibilidade de análise do livro como explica Silva e Tada (2012):
O conteúdo do livro se divide em duas partes. A primeira são histórias a
respeito de Daniel e dos seus três companheiros, que estavam vivendo
na Babilônia, para onde haviam sido levados como prisioneiros pelo rei
Nabucodonosor. Em meio a muitas provações, eles continuaram firmes na
sua fé em Deus e obedeceram às suas leis. Eles ganharam a aprovação
do rei, e ele colocou os três amigos de Daniel em cargos muito importantes
na Província da Babilônia (3.30). Daniel, foi feito a terceira autoridade mais
importante do reino (5.29;6.28). A segunda, contém as visões de Daniel,
que tratam de impérios que aparecem e depois desaparecem. Essas visões
deixam bem claro que os perseguidores serão derrotados e que a vitória final
será do povo de Deus (SILVA e TADA, 2012, p. 02).

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 74


Em uma divisão, para que possamos compreender melhor seu conteúdo, dividiremos
o livro, num recorte que se inicia no capítulo 7 e vai até o capítulo 12, em linguagem
figurada, própria do profetismo-escatológico, o autor divide a história em etapas, mostrando
o conflito entre as grandes potências. Ressalta que se aproxima a última etapa da história:
o Reino de Deus está para ser implantado; por isso, é preciso ter ânimo e coragem para
resistir ao opressor, permanecendo fiel, ou seja contém as seguintes visões: capítulo 7 - as
quatro feras; capítulo 8 - o bode e o carneiro; capítulo 9 - as setenta semanas; capítulos
10 a 12 - Tempo da cólera e Tempo do fim, além das disputas do Rei do Norte com o Rei
do Sul. Alguns destes elementos dela reaparecem no Livro de Apocalipse de João (12:3;
13:1-6; 17:8). Nessa visão, Daniel viu “aquele que sempre existiu” sentado no seu trono, no
céu, pronto para julgar a humanidade. A explicação das visões dá mais atenção ao quarto
monstro e especialmente ao chifre, que procurou derrotar o povo de Deus.
Adentrando a uma pauta relevante no livro do profeta Daniel as setenta semanas
também merecem observância. No nono capitulo de seu livro (Dn 9:1-19), Daniel confessa
a Deus seus próprios pecados e os do seu povo. Ele estava preocupado com a profecia de
Jeremias a respeito dos setenta anos que Jerusalém ficaria arrasada e pediu a Deus que
restaurasse o Templo. Daniel ainda estava orando quando Deus mandou uma resposta. Em
linguagem, nem sempre clara e explícita, o anjo Gabriel explica a profecia. O significado da
semana deve ser apurado. A palavra hebraica é shabua, que literalmente significa “sete”.
Deste modo, o versículo 24 do nono capítulo afirma simplesmente que “setenta setes estão
determinados”, e o que são estes “setes” deve ser definido pelo contexto e por outras
passagens das Escrituras.
Os judeus tinham um “sete” de anos bem como um “sete” de dias. E essa “semana
bíblica de anos” era tão conhecida dos judeus quanto uma “semana” de dias. Era, em
alguns aspectos, até mais importante. Existem vários motivos para acreditar que as “setenta
semanas” da profecia de Daniel referem-se ao bem conhecido período de “sete” anos.
Em primeiro lugar, o profeta Daniel estava pensando não apenas sob o aspecto de anos
em lugar de dias, mas também em um múltiplo exato de “setes” (10 x 7) de anos (1,2).
Em segundo, Daniel também sabia que a duração do cativeiro babilônico se baseava na
violação judaica da lei dos anos sabáticos.
Chegamos então ao final do livro e seu desfecho, ao mencionar o que Daniel
chama de tempo da cólera/tempo do fim, além das disputas do Rei do Norte com o Rei do
Sul, se encontram no capítulo 11 e 12. No capítulo 11, o anjo fala a Daniel que o reino da
Pérsia seria conquistado pelo rei da Grécia; depois da morte deste, o reino seria dividido
em quatro partes, entregues a quatro reis.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 75


Em seguida a estes fatos, haveria uma guerra entre a Síria e o Egito, que duraria
muitos anos (não especifica tempo cronológico). Finalmente, o rei da Síria derrotaria o
rei do Egito e invadiria Israel, mas no fim seria morto. Ao final por volta do capítulo 12, o
texto profético caminha para seu fim com a mensagem do anjo anunciado (tempo provável)
quando viria o fim. Anunciando e conclamando o povo a uma vida de fidelidade a Deus
nos tempos difíceis sob a garantia de glória nos dias vindouros como resultado de sua
fidelidade para com Deus.
O livro do profeta Daniel merece nossa pesquisa, por seu enredo envolvente e dado,
os nomes e tempos históricos claramente citados e apresentados em seu livro. Como os
demais livros que apontamos anteriormente, ater-se apenas ao viés profético espiritual pode
empobrecer as dimensões do texto de Daniel. Este livro abre-nos então muitas possibilidades
de leituras, podendo ser lido pelo viés critico histórico, pelo viés profético-escatológico, pelo
viés critico textual, pela historiografia e arqueologia entre outras. A nós, estudantes, cabe-nos
o desafio de conhecer as diversas leituras apresentadas pelo livro de Daniel.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 76


4. OS PROFETAS MALAQUIAS E JOEL

O profeta Malaquias inicia seu ministério setenta anos após Ageu e Zacarias, mas
mantém sua profecia direcionada a Jerusalém, mesmo com o templo já reconstruído e
funcionado normalmente (HOUSE, 2005). Embora a reconstrução estivesse concluída
alguns aspectos das celebrações e da adoração ainda permeavam a superficialidade. O
livro de Malaquias encerra o livro dos doze profetas ou profetas menores, as pesquisas
apontam o livro de Malaquias no período de pós-exílio após o auge do domínio persa nos
dias de Dario I (522-486 a.C.) e como testemunha do declínio com Xerxes, podendo estender
seu período até Artaxerxes II (404-359/8 a.C.) quando o domínio persa, após um declínio
esboçava uma pequena reação. O governo de Ciro sobre os territórios antes dominados
pela Babilônia possibilitou a migração de pessoas, que antes exiladas, poderiam voltar
às suas origens, fato também contextual a Ageu e Zacarias (SHOEKKEL, 1988), ambos
estavam sob a liberdade de retorno estabelecida por Ciro.
O povo em Jerusalém está divido entre os que vieram do exílio e os que haviam
permanecido em Jerusalém. Malaquias, em sua mensagem, compreende essa conjuntura
estrutura social, mas defende as instituições de Jerusalém e o crescimento dessas.
Manifestou descontentamento com a atitude de incredulidade e com o estabelecimento da
injustiça entre os habitantes de Judá e de Jerusalém. Por esta perspectiva, a palavra de
Malaquias parece dirigir-se mais propriamente aos habitantes de Jerusalém que retornaram
do exílio com o desejo de ver restabelecida a glória da capital e do templo.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 77


Na profecia de Malaquias, o templo e Jerusalém eram vistos como o lugar sagrado
reconstruído como aliança de restauração cultural-religiosa para os habitantes daquela
região (KAISER, 2010). Com isso, atendia a forte influência sacerdotal e as esperanças
proféticas buscando unir os grupos em torno do culto e do templo. Malaquias tem um árduo
trabalho, talvez o mais difícil entre os profetas incutir na mente do povo que deveria atentar-
-se a Deus e não a suas diferenças entre grupos, estabelecer a visão teológica de um Israel
renovado, no seu desejo de amar, honrar e servir ao seu Senhor (HOUSE, 2005).
O nome Malaquias significa “meu mensageiro” em língua hebraica, e talvez seu
nome venha tanto a calhar com sua missão, pregar e profetizar a justiça de Deus, um
mensageiro que veio preparar o povo para se encontrar com Deus, o profeta também
apresenta um Deus que não muda e não mudou seu padrão de amor mesmo com o povo
corrompido e exilado em outras terras mostrando um Deus disposto a refazer alianças
sempre que necessário e por amor e zelo a sua palavra.
Em seu livro Malaquias conclui a história contada anteriormente pelos profetas
para o reestabelecimento de Jerusalém e o culto a Yahweh. Ele encerra os períodos de
dominação social e religiosa de outros povos ante ao povo escolhido de Deus, entre os doze
profetas, ou profetas menores, se passam trezentos anos e Malaquias fecha esse período
profético. Sua profecia tem um caráter vislumbrante e alegre ao realçar o futuro profetizado
pelos profetas anteriores a ele e Malaquias concentra-se em apresentar a intervenção de
Deus na história em favor do seu remanescente (HOUSE, 2005).
Por fim, o último dos profetas é alguém dotado de uma sensibilidade maior e
incumbido da missão de unir o povo e torno de um culto único e solene, não superficial, mas
pleno e sincero. Malaquias trabalha para apagar marcas psicológicas e religiosas deixadas
pelos opressores exílicos, que sem piedade descaracterizaram a cultura e a religião em
Israel, mas Malaquias não se omite e se levanta com autoridade e trabalha firmemente para
que o desígnio de Deus em unir seu povo novamente entorno do templo e em Jerusalém
seja cumprido em sua plenitude (KAISER, 2010).

4.1 Joel
Ainda no período pós-exílio e após a reconstrução do Templo de Jerusalém,
o texto do profeta Joel surge com um livro único e com uma característica peculiar, ele
mesmo escreveu seu texto. A data provável de seu livro seria o ano 400 a.C. Uma divisão
é facilmente notada na leitura dos seus três capítulos sendo: uma primeira parte em que
temos as invasões de gafanhotos e povos, e em uma segunda cujo profeta descreve a
resposta de Javé ao povo mediante realizações escatológicas.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 78


O nome Joel significa “O Senhor é Deus” e ele se identifica como filho de Pethuel
(GARDNER, 2012), sua familiaridade com expressões e tema vinculados ao templo abrem
a possibilidade de relacionar o profeta a alguma linhagem sacerdotal ou uma espécie de
“profeta-sacerdotal” com mensagens diretas e compreensíveis a este grupo em especial.
Vamos abordar aqui cinco elementos básicos que caracterizam o livro de Joel. A
primeira é o fato de ser uma das obras com mais detalhes linguísticos do Antigo Testamento,
demonstrando certa habilidade com a língua hebraica e um vocabulário muito rebuscado.
Uma segunda peculiaridade é o fato de Joel fazer abertamente alusão ao Espírito Santo em
seus textos mesmo no Antigo Testamento, servindo de ferramental teológico neste tema.
A terceira característica é a capacidade de registro, ou senso histórico do profeta Joel. O
profeta menciona calamidades nacionais como a praga de gafanhotos, seca, fome, incêndios,
invasões militares opressoras de inimigos, desastres nos céus, e isso relacionado aos
juízos de Yahweh ante a degradação moral e religiosa do povo. Uma quarta característica
é a ênfase que Joel da a um Deus agente na história, que age nela diretamente, fato muito
peculiar a este profeta, um Deus agente e reagente, ora com juízos, ora com avivamento,
dada as ações responsivas do povo as ordenanças divinas. Por último a quinta característica
é a estreita comunhão demonstrada entre Deus e o profeta, uma relação intima e mutua um
profeta muito devotado a Deus e as disciplinas espirituais. Essa relação estreita permitia o
profeta ter voz ativa e respaldo a conclamar o povo ao arrependimento a nível nacional e
ser ouvido também neste item podemos somar o fato de que o profeta tinha fortes vínculos
com os sacerdotes do templo, os escribas e os levitas esse respeito e autoridade muito lhe
ajudaram em sua vocação. Joel parece ter se alimentado muito dos profetas anteriores.
Isso, porém, não impediu de forjar seu próprio estilo, com imagens e metáforas originais e
próprias, demonstrando certo espírito poético e vasto vocabulário hebraico. Para anunciar
o “dia de Javé”, o profeta usa os fatos catastróficos, que são vistas como sinal precursor
do julgamento final, quando Deus irá se manifestar, principalmente, contra as nações
opressoras, mas também com relação a indiferença do povo as ordens de Deus. Por fim, o
uso destes recursos teve resultado positivo e o profeta teve êxito em sua missão profética.
Por fim a mensagem de Joel seja uma das compreensíveis em nosso tempo, pois
o profeta deixa claro em seu texto a necessidade de uma relação íntima com Deus e seus
mandamentos, um Deus que não está inerte na história, mas que age quando necessário,
uma mensagem de juízo a que segue indiferente a voz de Deus e uma mensagem de
avivamento e companhia do Espírito Santo a que manter a berit (aliança) com Deus firme e
inegociável. Sobre a morte do profeta Joel não temos informações concretas e por isso não
apontaremos informações sobre essa pauta.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 79


SAIBA MAIS

Isaias andou nu por três anos?


“Então disse Lahweh: Da mesma maneira que o meu servo Isaías andou três anos nu e des-
calço, sinal e presságio que diz respeito ao Egito e a Cuch (Isaías 20,3) Bíblia de Jerusalém.

Como interpretar a nudez do profeta Isaías?


Prefiro entender como o texto sagrado nos indica. Olhando o texto hebraico, ele é claro,
fala em nudez. Embora alguns os autores deram um sentido mais brando a nudez, por
ser em ambiente profético contestatório, o texto na sua interpretação real se impõe. A
nudez do profeta passa ser um sinal forte e contestador, acusando as alianças com o
Egito não dariam garantias a Israel. Não estamos no erro assim interpretando. O texto é
claro e tem gênero profético contestatório.

Interpretação mais branda


Alguns autores, por respeito humano ou mesmo moralismo, preferem entender a nudez
do profeta Isaías, não como uma nudez real, mas que ele usava vestes mais leves. A
apresentação da nudez de Isaías por 3 anos segundo estes comentaristas era a subs-
tituição das vestes grossas e sem calçados, usados por profetas normais, por vestes
mais leves e descalço.
A bíblia clássica de Antônio Pereira de Figueiredo assim se expressa:
“Nu – segundo o “usus loquendi”, não quer designar a nudez completa, mas sim o hábito
ligeiro, no caso presente indica que estava despojado do manto do luto que cobria e descalço”.
(Bíblia clássica de Antônio Pereira de Figueiredo, volume 7, pág. 30, editora das
Américas, São Paulo, SP, 1950).
Isaías andando nu por três anos foi um sinal para o povo de Israel. O povo de Deus
deveria confiar na proteção divina, como fez até o momento, do que fazer coligação
imaginando segurança nas horas de infortúnio.

Fonte: CASONATO, O. D. Isaias andou nu por três anos? Biblia.org [S.I.] [2018]
Disponível em: https://www.abiblia.org/ver.php?id=10425. Acesso em: 12 nov. 2021.

REFLITA

“Deus usa as coisas improváveis, para realizar as impossíveis!”


Richard Exley.

Fonte: EXCLEY, Richard. Quando você perde alguém que ama: conforto para aqueles que sofrem. Ed.
Honor Books. Oklahoma-USA, 1999.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 80


CONSIDERAÇÕES FINAIS

É hora de nos despedirmos, pois, nossa jornada ao mundo dos profetas chegou ao
fim por um momento, até porque devemos sempre continuar nossas pesquisas, sempre nos
aperfeiçoar. Espero que nesta unidade possamos ter mente com clareza os caminhos de
Deus para a restauração de seu povo, notamos um Deus zeloso, forte, reconciliador e justo.
Acompanhamos profetas corajosos, cada um ao seu contexto, vaticinando veementemente
os oráculos de Deus. Esse legado de fé, por eles deixado deve nos servir de combustível
e motivação a prosseguir, pois cada profeta nos ensina a confiar cada vez mais em Deus e
no seu senhorio sobre a história. Sim, Deus não abandona os seus! Homens brilhantes que
cumpriram com êxito sua vocação.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 81


LEITURA COMPLEMENTAR

Os 12 Profetas de Aleijadinho

A arte barroca estava fortemente ligada ao catolicismo, razão pela qual todas as
criações de Aleijadinho estavam relacionadas a histórias ou figuras bíblicas. Os 12 profetas
no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, são uma homenagem
aos profetas citados pela Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Durante
dez anos Aleijadinho trabalhou nas estátuas, e em 1804 o seu trabalho chegou ao fim.
As características dos profetas apontam para as suas contribuições à história cristã. Sem
contar, é claro, algumas ideias brilhantes e subtis adicionadas pelo escultor genial e a sua
equipa. É uma pena que as esculturas estejam lentamente a deteriorarem-se tanto por
ocorrências naturais como por negligência dos habitantes locais. No entanto, as expressões
faciais e os detalhes das roupas e outros objetos carregados por cada profeta ainda são
visíveis e distinguíveis. Lá, os quatro principais profetas do Antigo Testamento, Isaías,
Jeremias, Ezequiel e Daniel, podem ser vistos em tamanho maior ao longo da ala central
da escadaria. Os oito profetas menores foram escolhidos de acordo com sua importância
no canon bíblico: Baruque, Oséias, Jona, Joel, Abdias, Amós, Naum e Habacuque.
Muitas histórias e rumores rodeiam a composição das figuras. Alguns culpam os
artistas do seu atelier ou da sua deficiência, e outros dizem que é pura genialidade. É um
facto que a distorção é a questão mais controversa. Se olharmos para as estátuas das
escadas, a um nível mais elevado, elas parecem distorcidas. Se olharmos para eles de um
ponto de vista mais baixo, como a maioria das pessoas faz, eles parecem normais. Esta é a
razão pela qual algumas pessoas defendem que a distorção é intencional - assim como as
formas dramáticas e aberrantes, a tradição do estilo barroco. Uma hipótese curiosa é que
o profeta Daniel, com o leão a seus pés, foi o único inteiramente feito por Aleijadinho - ele
destaca-se do grupo pela sua perfeição.

Fonte: CHAVES, Romara. Os doze profetas de aleijadinho. Itinari.com [out.2019].


Disponível em: https://www.itinari.com/pt/aleijadinho-s-12-prophets-in-congonhas-minas-
-gerais-273s. Acesso em: 14 fev. 2022.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 82


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História social do Antigo Israel
Autor: Rainer Kessler.
Editora: Paulus.
Sinopse: Graças às narrativas bíblicas, a história social do
antigo Israel nos parece ao mesmo tempo estranha e familiar.
Disposto a jogar mais luz sobre o tema, Rainer Kessler escreve
História Social do Antigo Israel, editado por Paulinas. Seu texto
esclarece de forma bastante didática as estruturas sociais desde
as primeiras culturas tribais israelitas, a partir do século XII a.C,
até o período helenista, perpassando mais que mil anos de
história, fornecendo um esboço para estudantes, pesquisadores
e todos os que se interessam pelo tema.

FILME/VÍDEO
Título: Daniel na cova dos leões
Ano: 2011.
Sinopse: Quando os pais de Devin (Isaiah Smith) viajam, o
menino fica tão triste que não consegue mais fazer suas orações.
Então, para ajudá-lo a compreender a importância de orar, seu
avô lhe conta a linda passagem bíblica de Daniel na cova dos
leões (Daniel 6). Devin recria, em sua imaginação, essa poderosa
história, a qual fala de um trio de vilões que - para se livrarem
de Daniel - convencem o rei Dario a assinar um decreto e lançar
na cova dos leões quem se dobrar em oração. Mesmo assim, o
destemido Daniel se dobra não apenas uma, mas três vezes por
dia para orar a Deus. Prepare-se para ver o que a fé e a coragem
podem fazer a uma vida.

UNIDADE IV Profetismo do 6º e 5º Século 83


REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada: contendo o antigo e o novo testamento. Trad. João
Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1966.

BÍBLIA. Português. Jerusalém. Nova Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

BÍBLIA. Português. Jerusalém. Nova Edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.
Editora Vida Acadêmica, 2012.

FILHO, Isaltino Gomes Coelho, O profetismo em Israel. Estudo apresentado ao Seminário


Teológico Batista do Sul do Brasil, em Cabo Frio, agosto de

FOHRER, G. História da religião de Israel, tradução de Josué Xavier, São Paulo: Edições
Paulinas, 1982.

GARDNER, Paul. Quem é quem na bíblia. tradução de Josué Ribeiro. São Paulo: Editora
Vida Acadêmica, 2012.

GUNNEWEG, A. H. J., Teologia bíblica do Antigo Testamento. Uma história da religião


de Israel na perspectiva bíblico-teológica, tradução de Werner Fuchs, São Paulo, Editora
Teológica/Edições Loyola, 2005.

GUSSO, Antonio Renato. Panorama Histórico de Israel. Curitiba. AD Santos,2003.

HOFF, P. O Pentateuco. São Paulo: Vida Nova, 2003.

HOUSE, R. Paul.; Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2005.

KAISER JR, Walter C.; Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento. Rio De
Janeiro: CPAD, 2010.

KESSLER, Rainer.; História Social do Antigo Israel. São Paulo: Paulinas, 2009.

84
RICHARDS, Lawrence. Comentário Bíblico do Professor. 3ª reimp.: São Paulo: Vida
Acadêmica, 2010.

SHÖKEL, L. A. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. 1ª ed., São Paulo: Paulus, 1997.

SHÖKEL, L. A.; SICRE, J. L. Os profetas I. Volume I 1ª ed., São Paulo: Paulus, 1988.

SICRE, José Luis. Profetismo em Israel: O profeta, os profetas e a mensagem. 2ª Edição.


Petropólis -RJ. Vozes, 1992.

SILVA, B. M.; TADA, E. T. Estudo sobre a linguagem Visionário-apocalíptica contida na


narrativa Bíblica Do Livro de Daniel. VI Mostra Interna de Trabalhos de Iniciação Científi-
ca. Unicesumar. Maringá-PR, 2012.

WATTS, J. W. Zacarias em comentários Bíblicos. Volume 7. 1ª ed., São Paulo: Vida Nova,
1969.

WOLFF, Hans Walter. Bíblia e Antigo Testamento. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 2003.

WOLFF, Hans Walter. Bíblia e Antigo Testamento. 3ª Edição. Paulus, 2003.

85
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),

Como foi sua viagem aos contextos sociais e históricos dos profetas? Como foi
relacionar os contextos as profecias? Espero que você tenha absorvido todas as informações
necessárias para o aprofundamento de seus estudos sobre os profetas, suas vidas e ministério.
Em nosso material primamos em buscar e apresentar informações relevantes
que de alguma forma foram fatores influenciadores aos profetas. A percepção que cada
profeta tinha sobre sua sociedade, sobre seu povo e sobre a espiritualidade são elementos
que ampliam a análise da profecia. Os confrontos com as monarquias, os poderosos que
oprimiam o povo somado a intrepidez e audácia dos profetas nos mostram que foram
agentes transformadores da sua realidade, não se omitiram ou se esconderam ante as
mazelas que presenciavam. Mas vale ressaltar que, os profetas também eram homens de
obediência incondicional a Deus, colocavam sua vida em risco, caso preciso fosse, para
que fossem oráculos fiéis ao Deus que os havia vocacionado, sem essa fé sem precedentes
talvez esses profetas teriam sucumbido ante ao poder muito superior da monarquia e a
forma implacável que perseguiam seus oponentes.
Nossa apresentação destacou cada profeta facilitando assim que futuramente
caso se faça necessário você possa recorrer diretamente a pesquisa do nome em foco e
consiga assim com certa agilidade objetivar seus estudos. Lembre-se que existiam profetas
diferentes em tempos diferentes e contextos diferentes, mas vaticinando as verdades de
um Deus único e verdadeiro.
De agora em diante você já tem acesso a boas referências bibliográficas e
norteadores de interpretação contextual dos profetas e já pode continuar a viagem sozinho
(a). Avance, pesquise, acredite em você e faça valer cada vez mais a importância dos
estudos dos profetas para os dias de hoje.

86
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
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