Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
D E S C OM P L I C AN DO
AS ETAPAS DO PROJETO DE PESQUISA
Sumário
2
APRESENTAÇÃO
Jéssica Miranda
3
4
AS GRANDES ETAPAS DA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE
PESQUISA
5
O projeto de pesquisa serve essencialmente ao trabalho de preparação obrigatório
que pode tranquilamente constituir a metade do esforço global a ser fornecido na
etapa da pesquisa. Ele responde três funções essenciais:
6
PRIMEIRA ETAPA:
ESCOLHA DO SUJEITO E CONSTRUÇÃO DA BIBLIOGRAFIA
7
possibilidade de a mesma acontecer. Ex: se você deseja estudar o comportamento
político de um grupo de jovens japoneses que habitam o Japão, é desejável que você
possa estar no Japão durante um determinado período.
Sendo assim, a escolha do sujeito não pode ser feita de forma irresponsável ou
desatenta, esses critérios estabelecidos são importantíssimos na hora da escolha, não
podemos esquecê-los!!!
8
CONSTRUINDO A BIBLIOGRAFIA
9
SEGUNDA ETAPA:
FORMULANDO O PROBLEMA
São esses os principais questionamentos que você deve fazer na hora de escolher
um problema geral. É preciso ter em mente que há diversas formas de falar sobre
problemáticas sociais, filosóficas, literária... Uma boa pesquisadora sabe delimitar seu
sujeito porque ela entende que tem um tempo imposto para realizar as pesquisas e
mobilizar seus instrumentos de investigação, é por isso que ela delimita. Esse
processo não é diferente de uma tarefa cotidiana. Ora, se você enxerga as suas
finalidades, se você sabe onde quer chegar, você aprende a hierarquizar suas ações,
mobilizar instrumentos para isso, delimitando o tempo para tal ação. Com a pesquisa
funciona da mesma forma, conforme discuti acima utilizando a metáfora do GPS.
12
HORA DE ESCOLHER O TEMA ESPECÍFICO
Uma vez escolhido o tema geral ou o problema geral da pesquisa, observado suas
lacunas e suas dimensões, é hora de escolher o tema/problema específico. Levando
em consideração o que discutimos ao longo desse trabalho, na hora de escolher o
tema específico é preciso ter em mente o interesse pelo tema e a afinidade com ele,
além de ter consciência a existência das fontes de informação sobre o tema bem como
a possibilidade de coletar dados a respeito, uma pesquisa cientifica tem por
característica o empirismo, logo, sem dados para coletar e analisar, sem informações
para discutir, não há possibilidade para a existência dessa pesquisa científica ou para
considerá-la científica.
Após realizar essa etapa, passamos para o que eu considero a etapa crucial na
elaboração do projeto de pesquisa: a formulação da questão problema. Sem
questão problema, sem projeto de pesquisa. Repetirei: uma pesquisa científica busca
responder à uma questão. Muitos alunos fazem discussões de teorias sobre um
determinado assunto no seu projeto de pesquisa, mas não propõe nenhum
levantamento pertinente, nenhuma questão. Se não existe questão, não existe
resposta. Logo, não há trabalho de científico. Uma pesquisa cientifica não é um
aglomerado de discussões já existentes sobre um assunto, é um esforço metódico e
de reflexão sobre um assunto específico que mobiliza ferramentas para a
investigação, com a finalidade de responder à pergunta inicial.
Nos meus anos dentro da academia vi muitos amigos terem seus trabalhos
invalidados por diversas razões, mas a maior delas, é que alguns até tinham um
problema de pesquisa formulado como uma questão, mas, ao longo do trabalho, eles
escreviam sobre tudo, exceto sobre a questão proposta e chegavam às suas
conclusões sem responder a questão que levantaram. Não podemos esquecer que o
trabalho inteiro deve girar em torno dessa questão, deve respondê-la, a conclusão
nada mais é do que a resposta à essa questão. Brinco dizendo que uma questão bem
formulada nos diz até como iremos formular os capítulos, o que iremos falar e como
iremos falar. Uma questão bem formulada é a maior característica de uma grande
13
pensadora, tenho certeza que Sócrates concordaria comigo. Sem a dialética não
existiria pensamento científico.
Entendendo isso, podemos mobilizar algumas astúcias para elaborar uma boa
questão problema. Percebemos que o que nos ajuda a escolher a questão geral é um
exercício de classificação, no entanto, a escolha da questão específica até a questão
problema, exige mais de nós, porque ela é caracterizada por ser uma leitura crítica do
problema específico. Nesse momento precisamos concentrar nossas atenções e
começar a ler e investigar obras ou trabalhos que tratem especificamente desse
sujeito, quero dizer, se você escolheu investigar sobre a violência machista durante
os anos X e Y num território Z, você deve começar a investigar os trabalhos já
produzidos sobre esse sujeito, e ler de maneira crítica tais trabalhos a fim de encontrar
lacunas analíticas sobre o assunto e se perguntar de que forma diferente você poderia
investigar o mesmo problema. É na percepção dessas lacunas que podermos propor
e justificar novas análises, e graças a isso, formular nossa questão problema. Vou dar
um exemplo. Na teoria do crescimento demográfico formulada por Thomas Robert
Malthus em sua obra “Ensaios sobre o princípio da população” ele chega à conclusão
de que as pessoas são pobres porque têm muitos filhos, relacionando a pobreza ao
crescimento demográfico. Ora, Malthus entendeu a pobreza por esse viés, no entanto,
Marx que também se interessou por investigar as origens da pobreza, identificou as
lacunas no pensamento Malthusiano, discordando sobre as origens da pobreza,
chegou a outra conclusão “ As pessoas não sais mais pobres porque têm muitos filhos,
elas tem mais filhos porque são mais pobres”, identificando as múltiplas facetas e
mazelas da pobreza. São dois autores pensando um mesmo assunto com uma ótica
analítica diferente, é para isso que serve ler diversos autores e refletir sobre os seus
pontos de vistas.
14
Vamos então para a astúcia , segue abaixo alguns exemplos de lacunas que
podemos observar nos trabalhos que discutem o assunto específico que nos
interessa.
15
A má escolha da abordagem teórica ou a formulação da questão problema
que você julga insatisfatória. Exemplo: entender o fenômeno da
maternidade compulsória através da abordagem da física quântica.
16
Resumindo este capítulo chegamos às seguintes conclusões:
17
TERCEIRA ETAPA:
FORMULANDO A HIPÓTESE
Existem várias definições sobre a hipótese, mas uma que me parece bastante
pertinente é a definição de Brians, que segundo ele é “a hipótese pode ser
considerada como uma resposta delimitada que o pesquisador formula para sua
questão específica de pesquisa. Brians et al (2013, p.191)”. Sendo assim, ela pode ser
descrita como como uma enunciação declarativa precisando uma relação antecipada
e plausível entre os fenômenos observados ou imaginados.
Brinco dizendo que o que diferencia uma fanática de uma cientista é o desapego
à hipótese. É verdade que ela deve estar bem formulada, mas ao longo do nosso
processo de pesquisa podemos perceber que nossa resposta antecipada não dá
conta de responder ao fenômeno. É nesse momento que uma fanática e uma cientista
se diferenciam. A fanática vai a todo custo tentar encaixar seus resultados na hipótese
a fim de comprovar de que ela estava correta, custe o preço que custar, muitas vezes
1 Brians,Craig L. Lars WILLNAT, Jarod B MANHEIM e Richard C. RICH (2013), Empirical Political
Analysis, Research methods in Political Sciences, New York, Routledge.
18
acontece de tentar de manipular os dados para tal, oferecendo respostas
contraditórias. A cientista age de forma diferente, ela passa a se perguntar como os
resultados obtidos até o presente momento, graças à verificação da hipótese, pode
ajudá-la a enxergar o fenômeno com mais precisão.
1) A hipótese deve ser plausível: ela deve ter uma relação direta com o
fenômeno que ela pretende explicar. Para verificar se a hipótese e o fenômeno
estudado possuem uma relação estreita é preciso inicialmente fazer uma
pesquisa exploratória a respeito do fenômeno para entender suas
características, em outras palavras, é preciso conhecer o que se estuda. Não
podemos formular como hipótese, por exemplo, que o congelamento da água
a 0 graus celsos é provocado pela queda das folhas durante o outono.
2) A hipótese deve ser verificada: Isso significa que não há espaço para
fundamentalistas na ciência, não podemos formular uma hipótese que além de
não poder ser verificada já foi verificada. Uma hipótese é uma resposta
antecipada, é verdade, mas essa resposta não é uma conclusão fechada, a
hipótese deve ser aberta para ser verificada através de instrumentos de coletas
de dados.
3) A hipótese deve ser precisa: é imprescindível evitar toda forma de
ambuiguidade na construção da hipótese. Em outras palavras, é necessário
deixar bem claro na hipótese as definições dos conceitos, termos e abordagens
que iremos utilizar. Por exemplo, o conceito EGO é extremamente ambíguo,
existem várias abordagens e conceitualizações diferentes, se na construção da
sua hipótese você trabalha com o conceito de Ego, é preciso deixar claro qual
definição ou abordagem você vai utilizar, se é a psicanalítica, a filosófica, a
religiosa....
4) A hipótese deve ser comunicável: essa etapa tem relação com a etapa
anterior. Todas pessoas que lerem sua hipótese, precisam compreender da
19
mesma forma e exatamente o que você quis dizer, é por isso que é importante
evitar as ambuiguidades.
20
Para resumir esse capítulo, segue abaixo as etapas para a formulação da
hipótese:
21
QUARTA ETAPA:
CONSTRUINDO UM QUADRO OPERATÓRIO
A maioria dos alunos comete um erro grave quando vão começar a escrever seus
projetos de pesquisas. Eles colocam inúmeras informações na sua introdução, propõe
uma discussão sobre o sujeito, mas não uma problemática em si. Um trabalho
científico não pode ser tratado como um bate papo entre amigos, é preciso que
tenhamos foco. Todo trabalho científico respeita a proposta filosófica de uma dialética,
possuem uma hipótese que irá ser investigada para se aproximar de uma verdade
sobre o sujeito pesquisado. Mas antes de elaborar uma hipótese precisamos primeiro
saber qual o problema estamos tratando, além disso, precisamos desenvolver uma
boa problemática. Como tudo na vida, se quisermos ter boas respostas precisamos
saber elaborar boas perguntas. A chave para uma boa pesquisa científica é essa.
Uma vez que elaboramos uma questão pertinente e uma boa hipótese precisamos
saber e explicar como essa pesquisa vai acontecer. Podemos chamar isso ou de
quadro operatório ou de problemática. Veremos a seguir que uma problemática não é
a mesma coisa que um problema geral, problema específico ou uma questão
problema. Muitos alunos, inclusive professores, confundem esses conceitos. É preciso
distingui-los. Todos fazem partes de uma pesquisa ou de um projeto de pesquisa, mas
são coisas diferentes. A problemática é um grande resumo de como iremos mobilizar
ideias, conceitos e variáveis para a realização da nossa pesquisa. Veremos mais
detalhadamente ao longo desse capítulo.
Sem a problemática o trabalho não fica coeso e as ideias ficam soltas, não nos
serve ter muita informação sobre o tema, se ele não for problematizado e investigado
da forma correta. A construção de uma problemática é sem dúvidas a parte mais difícil
de um trabalho acadêmico, sem isso não existe trabalho. Para isso, precisamos saber
diferenciar uma problemática de uma proposta de discussão. Propor uma discussão
sobre um tema é diferente de propor uma problemática. Na discussão levantamos
teorias e abordagens a respeito do problema, na problemática propomos um quadro
operacional para investigar o problema específico.
22
Eu vou tentar ser mais clara dando dois exemplos para que você possa
entender melhor:
Proposta de discussão:
23
quero dizer, saber como você vai investigar esse problema específico. A
elaboração da problemática requer uma boa dose de pensamento crítico, ela é o
quadro que vai demonstrar sinteticamente como você vai mobilizar os instrumentos
científicos para verificar sua hipótese e responder sua questão problema.
Quando você define um objeto de pesquisa, você define a questão que você
quer responder nas suas investigações. A problemática é também uma
questão, mas ela diferente do objeto de pesquisa, ela é o que nos permite
defender nossa “tese” dentro do nosso quadro de pesquisa. A tese é a resposta
que daremos à questão que responderemos ao nosso objeto de pesquisa. A
problemática consiste então no ponto de partida para formular essa resposta.
24
Voltando ao exemplo do feminicídio:
Ora, temos o feminicídio como um fato, apesar de não ter sido exposto com
dados estatísticos (devemos sempre expor dados para fortalecer a pertinência das
nossas questões). Nesse exemplo, nossa questão é: pensar nas causas do
feminicídio dentro da realidade brasileira. Quais são as causas? Sabendo que nossa
realidade é plural, levando em conta as diversas diferenças de classes e de raça,
supomos que a realidade não é a mesma para cada mulher, que outros fatores irão
influenciar nessa realidade, e tais fatores não devem ser desprezados, são variáveis
importantíssimas.
Esse objeto de discussão proposto por mim, poderia também fazer parte de um
objeto de pesquisa, poderia ser o ponto de partida para pensar as causas do
feminicídio. Mas como transformar esse objeto de pesquisa ou objeto de discussão
numa problemática?
25
PROBLEMA PROBLEMÁTICA
26
O Quadro operatório forma um elemento central do projeto de pesquisa e do
trabalho de pesquisa na medida que ele específica aquilo que iremos analisar
especificamente para verificar nossa hipótese. Uma verificação de hipótese ou uma
demonstração cientifica seja ela qual for, deve ser realizada mais precisamente
possível. O quadro operatório assegura essa lógica e essa precisão da
demonstração porque ela fornece as referências empíricas mais concretas e fiéis
possíveis para a construção de variáveis e de indicadores, porque ele orienta o
conjunto da verificação da hipótese.
27
conceitos numa linguagem concreta que irá nos permitir trabalhar a verificação
empírica.
28
Segue abaixo o resumo para a construção do quadro operatório:
29
QUINTA ETAPA:
ESTRATÉGIAS DE VERIFICAÇÃO
30
É uma estratégia pouco utilizada nas ciências sociais ou humanas, geralmente
realizada em laboratório. Ela tem algumas vantagens, podemos aplicá-las a um grupo
considerável de casos independentes, mas comparáveis, de maneira que podemos
isolar a ou as variáveis pertinentes e comparáveis para avaliar sua influência.
31
longitudinal é comparar o impacto entre antes e o depois de um determinado
acontecimento no comportamento de um grupo. Exemplo: avaliar as mudanças do
comportamento político de jovens paulistanos antes e durante o mandato do
Presidente Jair Bolsonaro.
A última grande estratégia e uma das mais utilizadas é o estudo de caso. Nesse
tipo de estratégia a pesquisadora não pode manipular as variáveis (lembrando que
isso só é possível na estratégia experimental). O que fazemos nesse tipo de estratégia
é observar as relações possíveis entre as variáveis escolhidas. O estudo de caso é
uma estratégia empírica na qual a pesquisadora investiga estudos contemporâneos,
quero dizer, objetos de estudos que possam ser vistos e analisados através da
interação entre a pesquisadora e objeto de estudo. Como o próprio nome sugere, no
estudo de caso a pesquisadora foca sua análise num único grupo/individuo/entidade.
O objetivo aqui é perceber se há uma relação entre duas variáveis nesse caso
estudado. Exemplo: investigar a relação entre o aumento da precariedade do trabalho
e da violência num dado território após a reforma da previdência entre os anos X e Y.
Nos estudos de caso geralmente utilizamos uma análise quantitativa, podemos ou não
utilizar dados estatísticos descritivos. A maior vantagem aqui é que podemos fazer um
estudo aprofundado sobre o caso escolhido, a desvantagem é que os resultados
obtidos não podem ser generalizados, ficando restritos à realidade estudada, apesar
de poder servir de base para pensar outras realidades e oferecer pistas às novas
pesquisas.
32
2
Gerrind (2012) sugere que a gente escolha a estratégia observando a
quantidade de casos ou de observações que iremos fazer no nosso trabalho. Quanto
maior for o número de casos, as estratégias sugeridas são a do tipo experimental e
correlacional, simplesmente porque os dados utilizados possibilitam a execução desse
tipo de estratégia, lembrando que quanto maior for o número de caso maior é a
necessidade de utilizar softwares na hora de coletar, filtrar e analisar os dados.
Diferentemente, se o número de casos é pequeno as estratégias mais aconselhadas
são: estudo de caso, estudo comparativo ou estudo longitudinal.
2 GERRING, John (2012), Social Sciences Methodology : a criterial framework, 2° edition, Cambridge
and New York, Cambridge University Press.
33
SEXTA ETAPA:
A ESCOLHAS DOS INSTRUMENTOS DE COLETA DE INFORMAÇÃO
34
mas deve ser conciliada com outras fontes de informação, dialogando com outras
coletas de dados.
É preciso reinterar que a analise do conteúdo não deve ser confundida com
a análise do discurso. Apesar deles serem semelhantes, eles possuem pontos
fundamentais que os diferenciam. Enquanto a análise do conteúdo defende a ideia de
que o discurso assume uma característica mais ou menos neutra, que é efeito de uma
realidade que existe em si mesma, fora da linguagem. No entanto, a análise do
discurso assume uma característica oposta, porque tanto o conteúdo quanto a sintaxe
do conteúdo possuem sempre uma implicação sociais e políticas que a análise do
discurso não pode ignorar.
35
nenhum documento. As entrevistas geralmente são realizadas com pessoas capazes
de fornecer informações sobre um dado contexto, são escolhidas a partir da relação
direta com o fenômeno investigado. As entrevistas podem ser realizadas tanto no
início das pesquisas quanto no fim. No início elas servem para nos familiarizar com
nosso objeto de estudo, para nos assegurar igualmente que as bases da nossa
pesquisa são sólidas, que a nossa hipótese tem uma ligação íntima com a questão
problema colocada, podemos chamar essa etapa de etapa exploratória. No fim da
pesquisa para coletar as informações que nos servirão para interpretar a realidade e
verificar nossa hipótese.
36
de acordo com os instrumentos escolhidos. Por exemplo, em caso de observação de
documentos , é necessário indicar o período da consultação, as fontes, o tipo e a
natureza das publicações oficiais que iremos utilizar.
37
OITAVA PARTE:
APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES ANTECIPADAS
38