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JESSICA MIRANDA

D E S C OM P L I C AN DO
AS ETAPAS DO PROJETO DE PESQUISA
Sumário

AS GRANDES ETAPAS DA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA ...... 5

ESCOLHA DO SUJEITO E CONSTRUÇÃO DA BIBLIOGRAFIA ............................... 7

FORMULANDO O PROBLEMA ................................................................................10

COMO ENCONTRAR UM PROBLEMA GERAL DE PESQUISA? .........................11

HORA DE ESCOLHER O TEMA ESPECÍFICO ..................................................... 13

FORMULANDO A HIPÓTESE ...................................................................................18

CONSTRUINDO UM QUADRO OPERATÓRIO........................................................ 22

ESTRATÉGIAS DE VERIFICAÇÃO ..........................................................................30

A ESCOLHAS DOS INSTRUMENTOS DE COLETA DE INFORMAÇÃO ................. 34

APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES ANTECIPADAS ........................................ 38

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APRESENTAÇÃO

A disciplina mais importante para quem almeja seguir carreira acadêmica e


exercer o ofício da pesquisa é sem dúvidas a disciplina de metodologia do estudo
científico. Infelizmente, dentro da academia essa é a disciplina mais rejeitada e
desprezada. Uma cientista não nasce da noite para o dia, assim como toda e qualquer
habilidade, o refinamento de uma pesquisadora é fruto de um processo árduo de
reflexões, de investigação, coleta e análise de dados. Não há uma outra maneira para
se familiarizar com a pesquisa senão o ato de pesquisar. Não se assustem, o primeiro
passo é o mais importante de todos. Essa apostila é fruto de um trabalho que tem
como objetivo principal facilitar a construção de uma reflexão lógica de um projeto de
pesquisa. A proposta aqui é ajudar vocês a se familiarizarem com esse processo e
entender que ele é e deve ser visto de forma metódica, onde cada parte é fundamental
para a próxima, para que no fim possamos ter um projeto de pesquisa satisfatório que
nos ajude no decorrer do processo de investigação. Um bom projeto de pesquisa é
fundamental, não apenas para a seleção do mestrado e do doutorado, mas também
para nos orientar ao longo do trabalho. É no projeto de pesquisa que o júri percebe
que a candidata ao processo possui ou não habilidades para exercer e manusear os
instrumentos científicos a fim, não apenas de discutir seu objeto de estudo, mas de
apresentar dados consistentes que possam embasar suas reflexões e sustentar sua
hipótese. A ciência é um projeto sem fim, almejamos nos aproximar da verdade, a
lógica é disciplina que nos garante uma reflexão coerente de acordo com o que nos
predispomos a investigar. Uma verdadeira cientista assume um compromisso com
todas as etapas discutidas nesse trabalho, porque seu verdadeiro objetivo é de tornar
a realidade no qual estamos inseridas um pouco mais clara, para que a partir do
diagnóstico possamos sugerir os “medicamentos” necessários para a sua
transformação positiva e efetiva. Se o objetivo da cientista é se aproxima da verdade
de uma determinada realidade, o motor que a guia é o amor pela humanidade. Que
esse trabalho possa ser um guia capaz de orientá-las no doce, mas às vezes amargo,
ofício que é pesquisar.

Jéssica Miranda

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AS GRANDES ETAPAS DA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE
PESQUISA

O que é um projeto de pesquisa e por que é importante construir um bom projeto de


pesquisa?

Um projeto de pesquisa é a etapa preliminar da pesquisa no qual devemos


estabelecer os limites do objeto de estudo e precisar a maneira de realizar
cada uma da etapa dos processos.

Eu diria que o projeto de pesquisa é uma espécie de currículo vitae da


pesquisadora. É através do projeto de pesquisa que alguém demonstra sua ou não
habilidade com as etapas do pensamento reflexivo e científico e com os métodos de
investigação. O projeto de pesquisa estrutura nosso pensamento em torno de um
problema que devemos e queremos investigar, é através do projeto que
problematizamos um determinado assunto e que oferecemos um novo ângulo para
analisá-lo a partir das lacunas existentes a respeito do tema. Por que investigar tal
coisa? Como investigar tal coisa? O que é essa tal coisa? Qual melhor abordagem
para investigar essa tal coisa? Todas essas questões antecipam a construção do
projeto de pesquisa, é preciso amadurecer as ideias para trazê-las para o papel.

Este trabalho tem como objetivo apresentar as etapas da construção do projeto


de pesquisa para ajudá-las na construção do projeto. Para isso, defini o caminho a
ser percorrido. São eles:

1. Escolha do sujeito e construção da bibliografia


2. Formulação do problema
3. Enunciação da hipótese
4. Construção do quadro operatório
5. Escola da estratégia de verificação
6. Escolha do método de coleta de informação
7. Apresentação das conclusões antecipadas

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O projeto de pesquisa serve essencialmente ao trabalho de preparação obrigatório
que pode tranquilamente constituir a metade do esforço global a ser fornecido na
etapa da pesquisa. Ele responde três funções essenciais:

 Ele ajuda a precisar e delimitar o objeto de estudo


 Ele permite estruturar as etapas da pesquisa
 Ele ajuda a selecionar as estratégias e os métodos de pesquisa mais
apropriados levando em consideração aquilo que queremos demonstrar

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PRIMEIRA ETAPA:
ESCOLHA DO SUJEITO E CONSTRUÇÃO DA BIBLIOGRAFIA

Ora, na altura do campeonato, não estamos aqui para reinventar a roda. É


muito provável que já existam autores, autoras e trabalhos que discutam, no mínimo,
alguma perspectiva sobre o sujeito que te interessa. A escolha do sujeito que
queremos investigar é importantíssima e deve respeitar alguns critérios estratégicos
para ajudá-las na hora da construção do projeto. Os quatro principais critérios na hora
de escolher aquilo que iremos investigar, são: o nosso próprio interesse em relação
ao sujeito, a quantidade de trabalhos que já discutam sobre o sujeito mesmo que seja
através de uma outra perspectiva, a pertinência social e cientifica do sujeito e os
instrumentos de pesquisa disponíveis.

Primeiramente, a consideração importante é que é preciso ter um interesse em


torno do sujeito, senão fica difícil manter um período de boa produtividade trabalhando
com algo no qual não se tenha afinidade. A segunda consideração trata em se
assegurar sobre a amplidão de trabalhos em torno do sujeito, primeiro para se
certificar que não existe trabalho que você quer realizar, segundo para analisar as
lacunas existentes e (re)pensar seu próprio trabalho. Toda pesquisa tem raízes em
pesquisas já realizadas anteriormente, ou para confirmar os resultados, seja para
ampliar os resultados. Nos dos casos é interessante se apoiar em pesquisas
anteriores para identificar mais claramente as nuances sobre o sujeito de pesquisa
que você deseja trabalhar. Um sujeito de pesquisa pode ser analisado a partir de
vários ângulos, é necessário entender como outros pesquisadores a fim de escolher
a melhor forma de pesquisá-lo.

Nós devemos, em seguida, verificar a disponibilidade e a qualidade das fontes


de informação que serão fornecidas como dados a ser analisados. Não podemos tocar
uma pesquisa se é inviável coletar determinados dados, entrevistar determinadas
pessoas ou ter acesso às fontes de informação necessárias para as análises. É a
observação empírica que diferencia a pesquisa cientifica de outras formas de
conhecimento. Se quiser assegurar a observação empírica, é preciso verificar a

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possibilidade de a mesma acontecer. Ex: se você deseja estudar o comportamento
político de um grupo de jovens japoneses que habitam o Japão, é desejável que você
possa estar no Japão durante um determinado período.

Terceira consideração é a respeito da pertinência do sujeito, é preciso que ele


tenha uma pertinência social e científica, principalmente para o departamento onde
você pretende realizar o processo seletivo, esse é um dos critérios para obter a bolsa.
Ao pensar sobre seu sujeito de pesquisa leve em consideração que existam
professores capacitados para te orientar no processo e que tenham finalidade com o
tema, caso o contrário, torna-se difícil a aprovação do projeto.

A quarta e não menos importante consideração concerne à utilização dos


instrumentos de pesquisa. É preciso ter certeza que o sujeito a ser investigado poderá
ser investigado a partir dos instrumentos de pesquisa disponíveis, caso contrário, a
observação empírica torna-se inviável. Ex: não podemos pesquisar sobre o sexo dos
anjos, porque não temos instrumentos de pesquisas que nos permitam ter acesso ao
sujeito, e o sujeito, por sua vez não nos possibilita estudá-lo empiricamente.

Sendo assim, a escolha do sujeito não pode ser feita de forma irresponsável ou
desatenta, esses critérios estabelecidos são importantíssimos na hora da escolha, não
podemos esquecê-los!!!

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CONSTRUINDO A BIBLIOGRAFIA

A bibliografia do projeto de pesquisa obedece a dois papéis fundamentais: primeiro


permite saber se existe material suficiente para a pesquisa e ela nos informa o tipo e
as categorias de documentos disponíveis em relação ao sujeito trado. É importante
possuir essas informações bem antes de começar a construir o projeto de pesquisa
para poder orientar facilmente as pesquisas. Alguns critérios também nos ajudam a
construir a melhor bibliografia possível para nosso projeto:

1. Delimitar o sujeito o máximo possível e desde o início para restringir a


pesquisa bibliográfica. Quanto mais largo o sujeito, mais volumoso será
o corpo bibliográfico.
2. Podemos usar o princípio de triangulação que nos ensina a não confiar
exclusivamente numa única fonte de informação. Podemos utilizar outras
fontes como index e bibliografias nas quais podemos acessar
diretamente; ex : bibliografias de artigos científicos que discutem os
sujeitos que nos interessa.
3. É importante privilegiar os documentos, artigos, revistas que passaram
por uma validação externa, em outras palavras, documentos confiáveis
publicados por órgãos confiáveis.
4. Podemos igualmente consultar obras de referências e beber de suas
fontes bibliográficas, além disso, existem dicionários e enciclopédias que
sempre definem ou conceituam bem um termo e indicam autores que
pesquisaram a respeito. Ex: dicionários de filosofia do direito, sociologia
etc.

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SEGUNDA ETAPA:
FORMULANDO O PROBLEMA

Após escolher o sujeito, é necessário concentrar as energias na formulação do


problema de pesquisa que constitui a etapa inicial do processo de pesquisa, e cá para
nós, é a parte mais importante. A formulação do problema é constituída por duas
partes importantes : a identificação do problema geral que busca identificar as
principais dimensões a estudar de maneira geral, mas que é muito extenso para ser
um objeto de pesquisa ; a segunda etapa é o exercício de classificação do problema
de pesquisa que é um exercício de leitura crítica da literatura produzida sobre a
dimensão ou o tema particular que nós escolhemos estudar, denominado problema
especifico.

É preciso lembrar que a pesquisa cientifica é um processo de questionamento,


logo, as questões das etapas cientificas não surgem do nada, elas são resultado de
uma constatação de uma possível lacuna sobre as discussões do sujeito de pesquisa.
Sendo assim, podemos definir um problema como:

Uma lacuna constatada entre uma situação de partida insatisfatória e uma


situação de chegada desejada. O processo de pesquisa serve para superar essa
lacuna.

Ora, um problema é de fato um problema, geralmente caracterizado como um


problema social, político ou científico. Ou seja, é algo que incomoda, que atrapalha,
que queremos entender as razões para encontrar possíveis soluções. A formulação
de um problema de pesquisa tem duas grandes razões, a primeira consiste em
demonstrar como o objeto de pesquisa foi discutido anteriormente por outros
trabalhos, nos devemos saber quais foram os ângulos, a literatura, as abordagens que
esse objeto foi tratado e investigado? Ou seja, é importante que sejamos capazes de
demonstrar as principais discussões em torno do objeto, para que, através delas,
possamos levantar questões pertinentes. E é justamente essa a segunda função da
formulação do problema: ela nos permite estruturar uma questão problema. É essa
questão problema que nos iremos investigar ao longo do processo de pesquisa. Não
existe trabalho científico sem uma questão problema, ela é o coração da pesquisa,
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todos nossos esforços teóricos e metodológicos servem para discutir essa questão e
para respondê-la.

Imaginemos a seguinte metáfora, a do GPS. O GPS serve para nos levar de


um ponto A até um ponto B. O ponto A representa, no trabalho de pesquisa, todas as
discussões já feitas em torno de um objeto, ora, não podemos chegar a lugar algum
se não sabemos onde nos encontramos. Pronto, levantar trabalhos e discussões em
torno do objeto de estudo é esse ponto onde nos encontramos. No entanto, o GPS
também não pode nos orientar se não sabemos onde queremos chegar. Saber aonde
queremos chegar é a resposta dada à questão problema, mais conhecida também
como hipótese, que iremos discutir em outro capítulo. Uma vez que sabemos onde
estamos e onde queremos chegar, o GPS vai escolher os melhores caminhos para
nos conduzir mais rapidamente, esses caminhos, na perspectiva científica,
representam os métodos de investigação e de coleta de dados.

COMO ENCONTRAR UM PROBLEMA GERAL DE PESQUISA?

A formulação do problema da pesquisa compreende dois momentos importantes,


cada um deles possuem etapas especificas. Para delimitar um problema geral de
pesquisa, temos duas etapas principais: identificando as principais dimensões do
sujeito e escolhendo o tema específico que queremos tratar. A formulação do
problema específico da pesquisa compreende duas etapas igualmente importantes:
identificação das lacunas analíticas sobre o assunto em outros trabalhos; e
seguida de uma enunciação da questão de pesquisa na qual queremos
responder e que vai orientar nossos esforços metodológicos para a análise.

A identificação das principais dimensões do sujeito é o primeiro passo na


elaboração do problema geral. Eu diria que o minimalismo e a humildade acadêmica
é necessária nesse processo, muitas vezes tentamos abraçar o mundo com as pernas
e escolhemos sujeitos muito vagos e muito complexos para serem tratados. É preciso
ter a consciência do tempo que temos para realizar tal pesquisa e a humildade
necessária que durante esse processo tentaremos olhar tal sujeito com outras lentes
e não vamos inventar a roda ou desenvolver uma grande teoria capaz de explicar um
fenômeno social. Quem almeja ser uma cientista deve ter em mente que algumas
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características diferenciam uma boa pesquisadora de uma pessoa que apesar de
amar a pesquisa não faz ideia de como executá-la. Essa característica tem relação
com a capacidade de enxergar as dimensões do sujeito que iremos abordar. Um bom
exemplo é a questão da pobreza ou da política. Ora, são assuntos muito vagos que
podem ser estudados de inúmeras maneiras e sob inúmeras perspectivas, querer
pesquisar sobre a pobreza ou sobre a politica requer algumas coisas : saber quais
fenômenos que envolvem essas problemáticas que te interessa mais, saber quais as
abordagens para investigar essa problemática, saber qual é o local ou o campo que
você quer investigar a manifestação dessa problemática... Ou seja : você quer estudar
o quê em relação a pobreza? A origem dela? As causas? As consequências? Onde?
Como? Sob qual perspectiva? Qual é o espaço-tempo-local? Quais autores você vai
usar?

São esses os principais questionamentos que você deve fazer na hora de escolher
um problema geral. É preciso ter em mente que há diversas formas de falar sobre
problemáticas sociais, filosóficas, literária... Uma boa pesquisadora sabe delimitar seu
sujeito porque ela entende que tem um tempo imposto para realizar as pesquisas e
mobilizar seus instrumentos de investigação, é por isso que ela delimita. Esse
processo não é diferente de uma tarefa cotidiana. Ora, se você enxerga as suas
finalidades, se você sabe onde quer chegar, você aprende a hierarquizar suas ações,
mobilizar instrumentos para isso, delimitando o tempo para tal ação. Com a pesquisa
funciona da mesma forma, conforme discuti acima utilizando a metáfora do GPS.

A construção da pesquisa é também um processo de auto-conhecimento e


desenvolvimento de virtudes, sendo a humildade e a boa percepção da realidade
fundamentos necessário na construção de uma boa pesquisadora. Aceite: você não
vai descobrir a cura para AIDS em 2 anos de pesquisa. Não tenha medo ou vergonha
de propor um sujeito bem delimitado, tanto o mestrado quanto o doutorado são apenas
estágios que servem para moldar e construir a pesquisadora, comece devagar, por
baixo, entendendo seus limites e os limites do próprio sujeito escolhido.

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HORA DE ESCOLHER O TEMA ESPECÍFICO

Uma vez escolhido o tema geral ou o problema geral da pesquisa, observado suas
lacunas e suas dimensões, é hora de escolher o tema/problema específico. Levando
em consideração o que discutimos ao longo desse trabalho, na hora de escolher o
tema específico é preciso ter em mente o interesse pelo tema e a afinidade com ele,
além de ter consciência a existência das fontes de informação sobre o tema bem como
a possibilidade de coletar dados a respeito, uma pesquisa cientifica tem por
característica o empirismo, logo, sem dados para coletar e analisar, sem informações
para discutir, não há possibilidade para a existência dessa pesquisa científica ou para
considerá-la científica.

Após realizar essa etapa, passamos para o que eu considero a etapa crucial na
elaboração do projeto de pesquisa: a formulação da questão problema. Sem
questão problema, sem projeto de pesquisa. Repetirei: uma pesquisa científica busca
responder à uma questão. Muitos alunos fazem discussões de teorias sobre um
determinado assunto no seu projeto de pesquisa, mas não propõe nenhum
levantamento pertinente, nenhuma questão. Se não existe questão, não existe
resposta. Logo, não há trabalho de científico. Uma pesquisa cientifica não é um
aglomerado de discussões já existentes sobre um assunto, é um esforço metódico e
de reflexão sobre um assunto específico que mobiliza ferramentas para a
investigação, com a finalidade de responder à pergunta inicial.

Nos meus anos dentro da academia vi muitos amigos terem seus trabalhos
invalidados por diversas razões, mas a maior delas, é que alguns até tinham um
problema de pesquisa formulado como uma questão, mas, ao longo do trabalho, eles
escreviam sobre tudo, exceto sobre a questão proposta e chegavam às suas
conclusões sem responder a questão que levantaram. Não podemos esquecer que o
trabalho inteiro deve girar em torno dessa questão, deve respondê-la, a conclusão
nada mais é do que a resposta à essa questão. Brinco dizendo que uma questão bem
formulada nos diz até como iremos formular os capítulos, o que iremos falar e como
iremos falar. Uma questão bem formulada é a maior característica de uma grande

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pensadora, tenho certeza que Sócrates concordaria comigo. Sem a dialética não
existiria pensamento científico.

Entendendo isso, podemos mobilizar algumas astúcias para elaborar uma boa
questão problema. Percebemos que o que nos ajuda a escolher a questão geral é um
exercício de classificação, no entanto, a escolha da questão específica até a questão
problema, exige mais de nós, porque ela é caracterizada por ser uma leitura crítica do
problema específico. Nesse momento precisamos concentrar nossas atenções e
começar a ler e investigar obras ou trabalhos que tratem especificamente desse
sujeito, quero dizer, se você escolheu investigar sobre a violência machista durante
os anos X e Y num território Z, você deve começar a investigar os trabalhos já
produzidos sobre esse sujeito, e ler de maneira crítica tais trabalhos a fim de encontrar
lacunas analíticas sobre o assunto e se perguntar de que forma diferente você poderia
investigar o mesmo problema. É na percepção dessas lacunas que podermos propor
e justificar novas análises, e graças a isso, formular nossa questão problema. Vou dar
um exemplo. Na teoria do crescimento demográfico formulada por Thomas Robert
Malthus em sua obra “Ensaios sobre o princípio da população” ele chega à conclusão
de que as pessoas são pobres porque têm muitos filhos, relacionando a pobreza ao
crescimento demográfico. Ora, Malthus entendeu a pobreza por esse viés, no entanto,
Marx que também se interessou por investigar as origens da pobreza, identificou as
lacunas no pensamento Malthusiano, discordando sobre as origens da pobreza,
chegou a outra conclusão “ As pessoas não sais mais pobres porque têm muitos filhos,
elas tem mais filhos porque são mais pobres”, identificando as múltiplas facetas e
mazelas da pobreza. São dois autores pensando um mesmo assunto com uma ótica
analítica diferente, é para isso que serve ler diversos autores e refletir sobre os seus
pontos de vistas.

O que justifica nosso trabalho de pesquisa é exatamente a constatação dessas


lacunas analíticas nos trabalhos anteriores.

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Vamos então para a astúcia , segue abaixo alguns exemplos de lacunas que
podemos observar nos trabalhos que discutem o assunto específico que nos
interessa.

 Generalização de um assunto sem levar em conta a necessidade de um


estudo empírico, afirmação de uma realidade sem mobilização da
investigação científica. Exemplo: Toda terça feira chove em Recife.
Baseado em quê alguém pode afirmar tão certamente que toda terça feira
chove e irá chover em Recife? Para afirmar é preciso comprovar
cientificamente!
 Impossibilidade de oferecer uma conclusão a respeito da pesquisa porque
o estudo realizado foi muito parcial. Geralmente esses trabalhos são feitos
por pessoas extremamente apaixonadas por uma perspectiva analítica e
que tentam a todo custo comprovar sua leitura sobre o fenômeno
generalizando-o sem levar em conta a necessidade de investigá-lo e de
pensá-lo de outras formas. É por isso que toda boa pesquisadora deve
carregar em si os atributos de uma filósofa, ela se interessa por se
aproximar da verdade e não de validar suas opiniões, para isso, ela tem a
humildade de refletir sobre o assunto através de múltiplos viés. Obviamente
que a imparcialidade não existe, mas esse exercício deve ser realizado, a
paixão cega em qualquer esfera, na acadêmica não é diferente.
 Conclusões contraditórias.
 As más escolhas dos métodos de coletas de dados e de análises. Exemplo:
querer investigar sobre a pobreza realizando questionários perguntando às
pessoas se elas se consideram ou não pobres, e chegar a uma conclusão
a partir dessas respostas. Antes de investigar sobre a pobreza é preciso
conceitualizá-la e definir critérios materiais para definir o que torna uma
pessoa pobre.
 Lacunas nas coletas de informações. Se você sente que elas não são
suficientes para responder o problema.
 Se os resultados das pesquisas já estão ultrapassados. Exemplo, não
podemos usar os mesmos dados dos anos 70 para investigar um fenômeno
atual sobre o comportamento do eleitor nas últimas eleições.

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 A má escolha da abordagem teórica ou a formulação da questão problema
que você julga insatisfatória. Exemplo: entender o fenômeno da
maternidade compulsória através da abordagem da física quântica.

Uma vez que encontramos as lacunas analíticas, podemos elaborar a questão


problema. Infelizmente não existe uma fórmula ou receita mágica, mas de acordo com
o que discutimos até aqui podemos elaborar critérios que nos possibilite caracterizar
uma boa questão problema. Quanto mais delimitada, melhor! Uma boa questão
problema é bem delimitada de acordo com a ótica do seu estudo. Um outro ponto está
relacionado aos dados referentes à pesquisa, ou seja, você precisa sustentar sua
questão problema em fatos que podem ser observados e analisados.

Eu sei que vocês gostariam de um exemplo que demonstre esses critérios,


então segue abaixo:

(introdução ao problema específico) Nas eleições presidenciais de 2018, de


acordo com dados do instituto X, notamos que a abstinência do voto entre jovens de
16 e 25 anos na cidade de São Paulo foi a maior da história. (Lançamos a questão
problema) Sendo assim, podemos nos perguntar:

A abstenção desses jovens nas eleições presidenciais de 2018 foi


motivada pelas características reacionárias dos projetos de governo propostos
pelos candidatos à presidência, podendo ser interpretada como um ato político
crítico face à crise da democracia representativa? Tais jovens compensam o ato
de votar por outras formas de mobilização política?

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Resumindo este capítulo chegamos às seguintes conclusões:

1) Em relação à escolha do sujeito devemos investigar se ela é pertinente e


respeita os critérios científicos, nessa etapa construímos a bibliografia geral
e começamos a ler as obras principais que discutem o sujeito.

2) Na formulação do problema geral da pesquisa devemos identificar as


múltiplas dimensões sobre o assunto abordado e escolher um dentre eles,
nessa etapa nós devemos classificar as dimensões e escolher a que mais
temos afinidades.

3) Na formulação do problema específico devemos nos certificar que estamos


realizando uma leitura crítica sobre ele a partir das lacunas encontradas nas
leituras que realizamos que tratam especificamente desse assunto. Nessa
etapa aqui devemos identificar as abordagens teóricas utilizadas por outros
pesquisadores, observar as lacunas existentes para então lançar a questão
problema.

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TERCEIRA ETAPA:
FORMULANDO A HIPÓTESE

No presente momento já temos uma questão problema elaborada que respeita os


critérios estabelecidos na discussão desse trabalho, precisamos agora elaborar uma
boa hipótese. A hipótese é tão importante para a construção de um trabalho científico
quanto a questão problema, mas o que é uma hipótese?

Existem várias definições sobre a hipótese, mas uma que me parece bastante
pertinente é a definição de Brians, que segundo ele é “a hipótese pode ser
considerada como uma resposta delimitada que o pesquisador formula para sua
questão específica de pesquisa. Brians et al (2013, p.191)”. Sendo assim, ela pode ser
descrita como como uma enunciação declarativa precisando uma relação antecipada
e plausível entre os fenômenos observados ou imaginados.

Toda pesquisa científica deve constar no mínimo uma hipótese. Na formulação da


questão problema vimos o quanto ela é importante para o ofício da pesquisa. Bem,
essa mesma reflexão serve para a hipótese. Se precisamos de uma questão bem
formulada para sabermos onde queremos ir, precisamos igualmente de uma
orientação para saber como chegaremos lá essa orientação é a hipótese. O modo
como iremos responder à questão problema é estruturado na hipótese, essa resposta
antecipada é a orientação do nosso trabalho, porque ao longo das discussões, da
coleta e das análises de dados é a verificação da hipótese nosso real objetivo.
Tentamos verificar se ela está ou não correta.

Brinco dizendo que o que diferencia uma fanática de uma cientista é o desapego
à hipótese. É verdade que ela deve estar bem formulada, mas ao longo do nosso
processo de pesquisa podemos perceber que nossa resposta antecipada não dá
conta de responder ao fenômeno. É nesse momento que uma fanática e uma cientista
se diferenciam. A fanática vai a todo custo tentar encaixar seus resultados na hipótese
a fim de comprovar de que ela estava correta, custe o preço que custar, muitas vezes

1 Brians,Craig L. Lars WILLNAT, Jarod B MANHEIM e Richard C. RICH (2013), Empirical Political
Analysis, Research methods in Political Sciences, New York, Routledge.

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acontece de tentar de manipular os dados para tal, oferecendo respostas
contraditórias. A cientista age de forma diferente, ela passa a se perguntar como os
resultados obtidos até o presente momento, graças à verificação da hipótese, pode
ajudá-la a enxergar o fenômeno com mais precisão.

Dessa forma a hipótese anterior acaba ajudando-a a enxergar novos caminhos


para que ela possa se aproximar da verdade sobre o fenômeno. Assim como as
etapas anteriores a formulação da hipótese também respeita alguns critérios
importantes, são eles.

1) A hipótese deve ser plausível: ela deve ter uma relação direta com o
fenômeno que ela pretende explicar. Para verificar se a hipótese e o fenômeno
estudado possuem uma relação estreita é preciso inicialmente fazer uma
pesquisa exploratória a respeito do fenômeno para entender suas
características, em outras palavras, é preciso conhecer o que se estuda. Não
podemos formular como hipótese, por exemplo, que o congelamento da água
a 0 graus celsos é provocado pela queda das folhas durante o outono.
2) A hipótese deve ser verificada: Isso significa que não há espaço para
fundamentalistas na ciência, não podemos formular uma hipótese que além de
não poder ser verificada já foi verificada. Uma hipótese é uma resposta
antecipada, é verdade, mas essa resposta não é uma conclusão fechada, a
hipótese deve ser aberta para ser verificada através de instrumentos de coletas
de dados.
3) A hipótese deve ser precisa: é imprescindível evitar toda forma de
ambuiguidade na construção da hipótese. Em outras palavras, é necessário
deixar bem claro na hipótese as definições dos conceitos, termos e abordagens
que iremos utilizar. Por exemplo, o conceito EGO é extremamente ambíguo,
existem várias abordagens e conceitualizações diferentes, se na construção da
sua hipótese você trabalha com o conceito de Ego, é preciso deixar claro qual
definição ou abordagem você vai utilizar, se é a psicanalítica, a filosófica, a
religiosa....
4) A hipótese deve ser comunicável: essa etapa tem relação com a etapa
anterior. Todas pessoas que lerem sua hipótese, precisam compreender da

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mesma forma e exatamente o que você quis dizer, é por isso que é importante
evitar as ambuiguidades.

Após a formulação da hipótese passamos para a outra etapa, a verificação da


hipótese. Repetirei mais uma vez: o objetivo da pesquisa é responder à questão
formulada, para isso, usamos o método de investigação para verificar a hipótese
dada à questão. Mas como acontece o processo de verificação? Sinto aqui a
necessidade explicar brevemente uma das principais discussões da disciplina de
epistemologia – filosofia da ciência – a respeito da verificabilidade da hipótese.
Segundo um dos maiores pensadores da epistemologia, Karl Popper (1973) uma das
características da ciência é que nunca podemos comprovar que uma hipótese é
verdadeira ou falsa, porque para que um pensamento seja realmente científico ele
deve estar sempre aberto à verificação. Chamamos isso de princípio da
verificabilidade ou verificacionismo. Enquanto cientistas, uma vez que conseguimos
verificar uma hipótese através dos nossos métodos de coleta de dados e análises,
devemos deixá-la aberta para ser verificada o máximo de vezes possível. O que vai
caracterizar a força da nossa hipótese é a capacidade de quantas vezes ela consegue
resistir às verificações, ou seja, à prova das verdades. A cada vez que ela é testada e
permanece sendo intacta à compreensão de dado fenômeno, ela pode ser
considerada uma boa hipótese. Esse processo nas ciências sociais e humanas é bem
delicado, porque nos prova o quanto estamos distantes da verdade, visto que o
objetivo filosófico da ciência é a aproximação da verdade de uma realidade. Enquanto
cientistas, nosso dever é oferecer ao fenômeno que estudamos uma possibilidade de
ser analisado através de outra ótica e abordagem, a fim de contribuir com os outros
colegas de profissão para a compreensão do fenômeno. É por isso que na ciência não
há espaços para fundamentalistas. Toda e qualquer pesquisa deve ser discutida e
colocada em questão, para isso, precisamos mobilizar a dialética e as diversas
ferramentas de análises para a interpretação da realidade. Sendo assim, confirmar
uma hipótese significa constatar que há uma ligação direta entre nossa questão
problema e a hipótese colocada. Para invalidar a hipótese precisamos perceber e
comprovar o oposto, que não há nenhuma relação entre a questão e a hipótese
colocada, ou que a relação entre ambas é muito frágil.

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Para resumir esse capítulo, segue abaixo as etapas para a formulação da
hipótese:

1) Assegure-se que sua questão problema é pertinente em relação ao


objeto de estudo, ou seja a ligação entre ele e a teoria ou abordagem
utilizada.

2) Lembre-se: a hipótese é uma resposta antecipada que deve ser


verificada e, obviamente, deve ser uma resposta lógica.

3) Ao formular sua hipótese verifique que o verbo empregado por você


traduz exatamente o sentido da sua preposição. Uma hipótese é
afirmativa. Se a questão problema se manifesta em forma de questão,
usando uma interrogação, a hipótese é uma afirmação, usando um ponto
final. Nada de exclamação, a menos que você seja uma fundamentalista,
nesse caso, verifique-se se o que você quer é de fato fazer ciência.

4) Determine os conceitos que você irá utilizar ou os termos chaves da


hipótese que irão se transformar em variáveis. Exemplo de hipótese: nos
casos de violência doméstica percebe-se que as mulheres mais afetadas
por elas são economicamente dependentes do cônjuge. Termos chaves
ou conceitos para ser investigado: relação entre dependência
econômica e violência doméstica.

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QUARTA ETAPA:
CONSTRUINDO UM QUADRO OPERATÓRIO

A maioria dos alunos comete um erro grave quando vão começar a escrever seus
projetos de pesquisas. Eles colocam inúmeras informações na sua introdução, propõe
uma discussão sobre o sujeito, mas não uma problemática em si. Um trabalho
científico não pode ser tratado como um bate papo entre amigos, é preciso que
tenhamos foco. Todo trabalho científico respeita a proposta filosófica de uma dialética,
possuem uma hipótese que irá ser investigada para se aproximar de uma verdade
sobre o sujeito pesquisado. Mas antes de elaborar uma hipótese precisamos primeiro
saber qual o problema estamos tratando, além disso, precisamos desenvolver uma
boa problemática. Como tudo na vida, se quisermos ter boas respostas precisamos
saber elaborar boas perguntas. A chave para uma boa pesquisa científica é essa.
Uma vez que elaboramos uma questão pertinente e uma boa hipótese precisamos
saber e explicar como essa pesquisa vai acontecer. Podemos chamar isso ou de
quadro operatório ou de problemática. Veremos a seguir que uma problemática não é
a mesma coisa que um problema geral, problema específico ou uma questão
problema. Muitos alunos, inclusive professores, confundem esses conceitos. É preciso
distingui-los. Todos fazem partes de uma pesquisa ou de um projeto de pesquisa, mas
são coisas diferentes. A problemática é um grande resumo de como iremos mobilizar
ideias, conceitos e variáveis para a realização da nossa pesquisa. Veremos mais
detalhadamente ao longo desse capítulo.

Sem a problemática o trabalho não fica coeso e as ideias ficam soltas, não nos
serve ter muita informação sobre o tema, se ele não for problematizado e investigado
da forma correta. A construção de uma problemática é sem dúvidas a parte mais difícil
de um trabalho acadêmico, sem isso não existe trabalho. Para isso, precisamos saber
diferenciar uma problemática de uma proposta de discussão. Propor uma discussão
sobre um tema é diferente de propor uma problemática. Na discussão levantamos
teorias e abordagens a respeito do problema, na problemática propomos um quadro
operacional para investigar o problema específico.

22
Eu vou tentar ser mais clara dando dois exemplos para que você possa
entender melhor:

Proposta de discussão:

Ex: No Brasil, o número de casos de feminicídio tem aumentado drasticamente


nos últimos anos, sendo assim, faz-se necessário pensar as causas responsáveis por
essa realidade que atinge mulheres de todas classes sociais.

Problemática ou quadro operatório:

Antes de expor um exemplo de uma problemática, eu quero enfatizar a


importância dela e o processo que usamos para formulá-la.

O Processo da produção de uma problemática consiste na problematização de


um sujeito de estudo, problematizar um sujeito é questioná-lo para determinar a
maneira mais apropriada de investigá-lo. Ou seja, uma proposta de discussão não é
necessariamente uma problemática, mesmo que ela proponha refletir sobre um
determinado assunto, ela continua sendo muito vasta, possibilitando mil maneiras de
pensá-lo.

No exemplo que citei acima sobre a proposta de discussão a respeito do caso


de feminicídio, pode-se pensá-lo de diversas maneiras, não? Podemos achar
inúmeras causas para o feminicídio, causas justificadas até pelos homens que
cometeram tais crimes, no entanto, podemos pensar: será que tais causas
correspondem de fato com a realidade ou com a “verdade”?

Outra coisa a respeito da minha proposta de discussão, é a justificativa


implícita dela, ou seja, eu tento justificar por que é importante pensar nas causas do
feminicídio. Uma problemática não pode ser acompanhada de uma justificativa. A
justificativa deve estar presente no corpo do texto, mas não na problemática em si. O
que o leitor (leia aqui “orientador”) espera não é a justificação da sua discussão, a
problemática é a exposição de um sujeito de estudo de maneira problematizada,

23
quero dizer, saber como você vai investigar esse problema específico. A
elaboração da problemática requer uma boa dose de pensamento crítico, ela é o
quadro que vai demonstrar sinteticamente como você vai mobilizar os instrumentos
científicos para verificar sua hipótese e responder sua questão problema.

Para resumir e conceitualizar o que é uma problemática, ela é a síntese do


questionamento que apresentamos na introdução, ela aparece no final,
anunciando de forma clara, o sujeito que iremos investigar, ela argumenta as
escolhas feitas e anuncia o viés que essa questão será investigada e os métodos
de pesquisa utilizados.

Mas é necessário distinguir problematização e problemática. A


problematização é todo o processo de reflexão proposto na introdução, ou seja, no fim
da problematização temos uma questão problema. A problemática, por sua vez, é a
síntese exposta desse questionamento. A problemática sintetiza e expõe o arcabouço
e a maneira como você vai conduzir as orientações do trabalho.

1) Ela delimita o objeto, em outras palavras, para descrever o que será


tratado e o que não será tratado e as razões para as escolhas feitas
2) Ela expõe o problema subjacente na questão e que tentaremos resolver
nesta pesquisa;
3) Ela anúncia a(as) abordagem (s) escolhida (s) para tentar resolvê-la;
4) a formulação de uma ou mais hipóteses de trabalho que orientarão a
coleta de dados, análise, interpretação e desenvolvimento de
recomendações.

Objeto de pesquisa é diferente da problemática.

Quando você define um objeto de pesquisa, você define a questão que você
quer responder nas suas investigações. A problemática é também uma
questão, mas ela diferente do objeto de pesquisa, ela é o que nos permite
defender nossa “tese” dentro do nosso quadro de pesquisa. A tese é a resposta
que daremos à questão que responderemos ao nosso objeto de pesquisa. A
problemática consiste então no ponto de partida para formular essa resposta.

24
Voltando ao exemplo do feminicídio:

Ex: No Brasil, o número de casos de feminicídio tem aumentado drasticamente nos


últimos anos, sendo assim, faz-se necessário pensar as causas responsáveis por
essa realidade que atinge mulheres de todas classes sociais.

Ora, temos o feminicídio como um fato, apesar de não ter sido exposto com
dados estatísticos (devemos sempre expor dados para fortalecer a pertinência das
nossas questões). Nesse exemplo, nossa questão é: pensar nas causas do
feminicídio dentro da realidade brasileira. Quais são as causas? Sabendo que nossa
realidade é plural, levando em conta as diversas diferenças de classes e de raça,
supomos que a realidade não é a mesma para cada mulher, que outros fatores irão
influenciar nessa realidade, e tais fatores não devem ser desprezados, são variáveis
importantíssimas.

Esse objeto de discussão proposto por mim, poderia também fazer parte de um
objeto de pesquisa, poderia ser o ponto de partida para pensar as causas do
feminicídio. Mas como transformar esse objeto de pesquisa ou objeto de discussão
numa problemática?

25
PROBLEMA PROBLEMÁTICA

Um problema de pesquisa é um É o quadro no qual se situa a percepção


problema que almejamos resolver do problema.
através da mobilização de recursos e
instrumentos científicos que nos
permitam investigar, analisar e obter
respostas satisfatórias.

Exemplo de problemática: Segundo os dados XX encontrados pela agência de


pesquisa Y, o aumento do uso de porte de arma legalizado em 2019 coincidiu com o
aumento do número de mulheres pertencentes a classe A mortas por arma de fogo,
caso este, entendido como feminicídio. Dessa forma, iremos investigar a relação entre
o consumo de arma de fogo por família de classe A e o aumento de casos de
feminicídio entre os anos de 2016 (quando o porte de arma ainda não era legalizado)
e 2019 (ano em que o porte de arma foi legalizado).

Numa problemática não pensamos sobre. Nós investigamos sobre, somos


cientistas sociais, a reflexão fica no início da introdução e nos leva ao problema que
iremos abordar. Não esqueça: a problemática é a síntese do quadro que iremos
investigar.

O quadro operatório ou a problemática é uma ferramenta preciosa para o


desenvolvimento da pesquisa. Para a construção de um quadro operatório eficaz
precisamos equilibrar considerações teóricas e dados empíricos a respeito do
problema. O quadro operatório é a etapa intermediaria e essencial entre a
hipótese e o trabalho empírico da análise. Podemos definir da seguinte maneira:

26
O Quadro operatório forma um elemento central do projeto de pesquisa e do
trabalho de pesquisa na medida que ele específica aquilo que iremos analisar
especificamente para verificar nossa hipótese. Uma verificação de hipótese ou uma
demonstração cientifica seja ela qual for, deve ser realizada mais precisamente
possível. O quadro operatório assegura essa lógica e essa precisão da
demonstração porque ela fornece as referências empíricas mais concretas e fiéis
possíveis para a construção de variáveis e de indicadores, porque ele orienta o
conjunto da verificação da hipótese.

Em outras palavras, nós construímos um quadro operatório para facilitar a


pesquisa que iremos realizar. O quadro operatório nos força a determinar aquilo que
iremos observar, que são as variáveis, e como nós iremos fazer essa observação, que
são os indicadores. Resumindo, nesse quadro operatório está presente as variáveis e
os indicadores da pesquisa. O quadro operatório é o GPS da nossa pesquisa.

Falamos acima que o quadro operatório fornece níveis de precisões para a


pesquisa: as variáveis e os indicadores. As variáveis são um reagrupamento logico
dos atributos ou das características que descrevem um fenômeno observável
empiricamente. Ela identifica o que existe em comum no grupo que analisamos, é um
reagrupamento de atributos ou características que descrevem um objeto, um grupo
ou uma pessoa. A variável não é a mesma coisa que uma unidade de análise. Essa
última que também podemos chamar de objeto de observação é o objeto, o grupo ou
a pessoa no qual o pesquisador estuda as características. Ou seja, a unidade de
análise é o ator estudado, as características são as variáveis.

Sendo assim, um quadro operatório é a organização das variáveis e dos


indicadores que são necessários construir para isolar os “equivalentes empíricos” dos
conceitos operatórios da hipótese, de tal maneira que possamos traduzir esses

27
conceitos numa linguagem concreta que irá nos permitir trabalhar a verificação
empírica.

28
Segue abaixo o resumo para a construção do quadro operatório:

1) Assegurar-se que os conceitos operatórios da hipótese foram bem definidos e


traduzem adequadamente a relação que queremos investigar a respeito do
objeto de estudo
2) Conhecer as análises anteriores sobre a construção do objeto de estudo, assim
como as abordagens teóricas, a fim de facilitar as escolhas das variáveis e dos
indicadores mais pertinentes, nós justificamos os cada escolha a partir dessa
literatura.
3) Determinar a unidade de análise e suas variáveis
4) Assegurar-se que as condições foram atendidas para falar sobre a relação
causa e efeito
5) Designar os indicadores pertinentes levando em conta a precisão do nível de
medida e respeitar os critérios de precisão, de fidelidade e de validade
6) Indicar em caso de precisão os valores críticos dos indicadores

29
QUINTA ETAPA:
ESTRATÉGIAS DE VERIFICAÇÃO

Se a construção do quadro operatório permite determinar aquilo que iremos


observar, medir ou avaliar para verificar a hipótese, ela nada pode dizer sobre como
iremos fazer isso. Será a estratégia de verificação que nos levara a organizar as
etapas logicas para a coleta de dados necessárias para verificar nossa hipótese.

A estratégia de verificação é uma escolha geral na medida de implementar os


recursos de investigação disponíveis para aplicar da maneira mais eficaz possível o
quadro operatório, de uma maneira que nos possibilite a resposta mais pertinente para
a questão da pesquisa. É a escolha daquilo que devemos fazer quanto ao número de
casos que devemos utilizar e o tipo de pesquisa que devemos realizar para assegurar
a verificação mais completa possível da hipótese.

A escolha da estratégia de verificação é uma etapa importante para a pesquisa


porque ela vai determinar a dimensão do nosso estudo, o tipo de informação
necessária para coletar e o tipo de tratamento de dados que devemos efetuar para
poder verificar a hipótese da melhor forma possível e chegar às conclusões mais
sólidas. Sendo assim podemos nomear os tipos de estratégias de verificação mais
utilizados: experimental, correlacional, comparativa, longitudinal, longitudinal
comparada e estudo de caso.

Estratégia de pesquisa experimental: é utilizada quando queremos verificar


uma relação de causa e efeito porque ela nos permite testes mais rigorosos de uma
hipótese causal. Ela é frequentemente utilizada na psicologia experimental, podemos
usar como o exemplo o filme Laranja Mecânica, onde a pesquisa utilizada foi de cunho
experimental. Essa estratégia de verificação é usada para selecionar dois grupos de
participantes idênticos e expor tais grupos de tal maneira que podemos atribuir
diferenças de comportamentos entre os grupos de acordo com os estímulos.

30
É uma estratégia pouco utilizada nas ciências sociais ou humanas, geralmente
realizada em laboratório. Ela tem algumas vantagens, podemos aplicá-las a um grupo
considerável de casos independentes, mas comparáveis, de maneira que podemos
isolar a ou as variáveis pertinentes e comparáveis para avaliar sua influência.

A estratégia correlacional supõe a análise de muitos casos num dado período.


O estudo correlacional é fortemente associado à análise quantitativa por conta do
número de casos observados e, geralmente, utiliza-se instrumentos estatísticos para
analisar esses casos. Nessa estratégia, a pesquisadora utiliza muitos dados de um
curto período para identificar as associações possíveis entre as variáveis. Ou seja, se
desejar estudar um número grande de casos manifestado num determinado tempo, a
escolha mais lógica para verificação é a correlacional, um bom exemplo de estudo
que utiliza essa estratégia são as sondages de opinião política, a desvantagem dessa
estratégia é que os dados obtidos naquele momento possuem data de validade, ou
seja, não poderão ser utilizados num outro momento para explicar uma outra
realidade, a menos que sejam usados para fins comparativos durante períodos de
tempos distintos.

A estratégia de pesquisa comparativa é a mais utilizada nas ciências sociais,


sobretudo nas ciências políticas. Usamos essa estratégia quando percebemos que a
nossa hipótese propõe comparar duas coisas num dado período. Por exemplo, a
influência de uma publicidade no comportamento do consumidor de jovens e idosos.
Geralmente, nesse tipo de pesquisa ou procuramos comparar dois grupos similares
ou dois grupos distintos. A maior dificuldade aqui é poder encontrar grupos que
possuam características suficientes simulares para que possam ser comparados de
uma maneira constante e fiel. Sendo assim, essas dificuldades atrapalham na hora de
obter resultados rigorosos.

Outras duas formas de estratégias se assemelham à estratégia comparativa: o


estudo longitudinal e o longitudinal comparado. Utilizamos o estudo longitudinal
quando queremos estudar a relação entre duas variáveis relativas no mesmo
grupo/indivíduo/caso em momentos diferentes. Podemos analisar, por exemplo, as
mudanças do comportamento político de uma determinada cidade ao longo do
mandato de um determinado prefeito. Outra forma na qual podemos utilizar o estudo

31
longitudinal é comparar o impacto entre antes e o depois de um determinado
acontecimento no comportamento de um grupo. Exemplo: avaliar as mudanças do
comportamento político de jovens paulistanos antes e durante o mandato do
Presidente Jair Bolsonaro.

O estudo longitudinal comparado se comporta de forma semelhante ao anterior


com exceção que durante o espaço de tempo, analise-se o comportamento de dois
grupos/indivíduos/entidades/casos distintos. Exemplo: avaliar as mudanças do
comportamento político dos jovens paulistanos e recifenses antes e durante o
mandato do Presidente Jair Bolsonaro.

A última grande estratégia e uma das mais utilizadas é o estudo de caso. Nesse
tipo de estratégia a pesquisadora não pode manipular as variáveis (lembrando que
isso só é possível na estratégia experimental). O que fazemos nesse tipo de estratégia
é observar as relações possíveis entre as variáveis escolhidas. O estudo de caso é
uma estratégia empírica na qual a pesquisadora investiga estudos contemporâneos,
quero dizer, objetos de estudos que possam ser vistos e analisados através da
interação entre a pesquisadora e objeto de estudo. Como o próprio nome sugere, no
estudo de caso a pesquisadora foca sua análise num único grupo/individuo/entidade.
O objetivo aqui é perceber se há uma relação entre duas variáveis nesse caso
estudado. Exemplo: investigar a relação entre o aumento da precariedade do trabalho
e da violência num dado território após a reforma da previdência entre os anos X e Y.
Nos estudos de caso geralmente utilizamos uma análise quantitativa, podemos ou não
utilizar dados estatísticos descritivos. A maior vantagem aqui é que podemos fazer um
estudo aprofundado sobre o caso escolhido, a desvantagem é que os resultados
obtidos não podem ser generalizados, ficando restritos à realidade estudada, apesar
de poder servir de base para pensar outras realidades e oferecer pistas às novas
pesquisas.

Após a apresentação dessas estratégias podemos nos perguntar: qual é o


critério fundamental para decidir a estratégia que iremos utilizar no nosso trabalho?

32
2
Gerrind (2012) sugere que a gente escolha a estratégia observando a
quantidade de casos ou de observações que iremos fazer no nosso trabalho. Quanto
maior for o número de casos, as estratégias sugeridas são a do tipo experimental e
correlacional, simplesmente porque os dados utilizados possibilitam a execução desse
tipo de estratégia, lembrando que quanto maior for o número de caso maior é a
necessidade de utilizar softwares na hora de coletar, filtrar e analisar os dados.
Diferentemente, se o número de casos é pequeno as estratégias mais aconselhadas
são: estudo de caso, estudo comparativo ou estudo longitudinal.

2 GERRING, John (2012), Social Sciences Methodology : a criterial framework, 2° edition, Cambridge
and New York, Cambridge University Press.

33
SEXTA ETAPA:
A ESCOLHAS DOS INSTRUMENTOS DE COLETA DE INFORMAÇÃO

Ao longo desse trabalho, reforçamos a ideia de que a base da ciência é o


trabalho empírico, e não é possível realizar um trabalho empírico sem uma coleta de
informações pertinentes para a nossa investigação. A coleta de informações é a
reunião de provas necessárias para a verificação da nossa hipótese. Suponhamos
que uma das nossas hipóteses seja verificar que desde 1990 chove todas as terças-
feiras em Recife até o presente momento. Ora, para verificar nossa hipótese
precisaríamos recolher dados do serviço de meteorologia para investigar se chove
todas as terças feiras desde 1990 na cidade. É para isso que serve um instrumento
de coleta de informação. Espera-se que o quadro operatório e a estratégia de
verificação indiquem exatamente qual os instrumentos iremos utilizar para coletar
nossos dados e verificar nossa hipótese.

O instrumento de coleta de informação tem uma relação intima com a natureza


da nossa pesquisa, é ela quem determina as nossas necessidades na hora de
investigar e consequentemente os instrumentos de coleta que iremos precisar. Pode
ser um, dois ou mais instrumentos, tudo depende da natureza da nossa pesquisa.
Sendo assim, podemos descrever as características dos principais instrumentos a
serem utilizados.

Observação e coleta de documentos é um instrumento bastante utilizado nas


pesquisas de ciência política ou ciências jurídicas. Nesse método a pesquisadora
consulta documentos institucionais que lhe possibilita extrair informações
imprescindíveis e factuais para sustentar sua argumentação. Dentro dessas
informações podemos citar: dados estatísticos, declarações oficiais, documentos
históricos, atas etc. Esses documentos podem ser de caráter institucional e
governamental (órgãos, ministérios, tribunais, prefeituras, secretarias) ou baseado em
trabalhos de pesquisas anteriores coletando informações de livros, revistas
especializadas, jornais ou teses. É preferível que tais fontes de informação não sejam
a base mais importante da pesquisa. Elas devem servir de apoio para a nossa análise,

34
mas deve ser conciliada com outras fontes de informação, dialogando com outras
coletas de dados.

Dentre da coletada de dados documentados, podemos falar sobre a análise


de conteúdo que muitas vezes é entendida como uma forma de tratamento de dados.
Na análise de conteúdo procuramos descriptografar o conteúdo ou o corpo do
documento a fim de retirar dados textuais que serão analisados com a ajuda de um
tratamento de dados. Segundo Bernard Berelson (1952) a análise de conteúdo é uma
técnica de pesquisa objetiva, sistématica e quantitativa de descrição de um conteúdo
manifestado na comunicação. É uma técnica que utilizamos para responder cinco
questões levantadas para a analise interna de uma comunicação : quem fala? O que
diz? Por que diz o que diz? Diz para quem?

É preciso reinterar que a analise do conteúdo não deve ser confundida com
a análise do discurso. Apesar deles serem semelhantes, eles possuem pontos
fundamentais que os diferenciam. Enquanto a análise do conteúdo defende a ideia de
que o discurso assume uma característica mais ou menos neutra, que é efeito de uma
realidade que existe em si mesma, fora da linguagem. No entanto, a análise do
discurso assume uma característica oposta, porque tanto o conteúdo quanto a sintaxe
do conteúdo possuem sempre uma implicação sociais e políticas que a análise do
discurso não pode ignorar.

Para fazer uma análise de conteúdo satisfatória precisamos seguir alguns


critérios, é preciso construir uma ficha de análise que nos servirá para avaliar o
conteúdo das comunicações. Essa ficha de análise é influenciada pelo quadro
operatório. É preciso, primeiramente, determinar o objetivo dessa ficha, após isso
saber qual é o universo dessa investigação, a quantidade de documentos que iremos
tratar e determinar a unidade de medidas que iremos analisar ( palavras, grupos de
palavras, tipos de objetivos) para escolher a análise de categorias ou valores das
variáveis em função das informações que serão repartidas. A partir disso podemos
efetuar um tratamento estatístico das informações classificadas utilizando as técnicas
de análise de dados, entre elas: a análise de frequência, a análise associativa, ou a
semântica quantitativa.

A segunda técnica de coleta de informações é a entrevista. Ela é um meio


usado pela pesquisadora que procura obter informações que não são encontradas em

35
nenhum documento. As entrevistas geralmente são realizadas com pessoas capazes
de fornecer informações sobre um dado contexto, são escolhidas a partir da relação
direta com o fenômeno investigado. As entrevistas podem ser realizadas tanto no
início das pesquisas quanto no fim. No início elas servem para nos familiarizar com
nosso objeto de estudo, para nos assegurar igualmente que as bases da nossa
pesquisa são sólidas, que a nossa hipótese tem uma ligação íntima com a questão
problema colocada, podemos chamar essa etapa de etapa exploratória. No fim da
pesquisa para coletar as informações que nos servirão para interpretar a realidade e
verificar nossa hipótese.

As sondagens é uma forma de pesquisa que utilizamos muitos entrevistados


a fim de recolher, de maneira sistemática, um conjunto de informações pertinentes
sobre nosso objeto de estudo. As sondagens são efetuadas a partir de questionários
estruturados administrados à uma amostra de população, seja através da internet,
encontros pessoais, chamadas telefônicas etc.

Podemos falar de três tipos de sondagens principais: as sondagens auto


administradas (onde os sujeitos respondem livremente), sondagens telefônicas e
sondagens administradas através de entrevistas

A observação direta, é menos utilizada nas ciências política ou nas ciências


jurídicas, mas bastante utilizada na antropologia. A observação direta consiste em
observar diretamente seu objeto de estudo ou o meio no qual esse objeto está inserido
ou o meio no qual o fenômeno se manifesta a fim de extrair informações precisas para
a pesquisa. A observação direta é a técnica que mais fornece informações distintas e
aprofundadas do objeto de estudo, no entanto, ela nos exige um grande esforço
sistemático para evitar erros de medidas ou interferências na realidade observada.

A observação participante é uma variante da observação direta. Nessa


técnica a pesquisadora não é apenas uma observadora da realidade investigada, mas
se torna, também uma atriz no olhar do fenômeno ou do meio em que observa.
Resumindo, a distinção entre pesquisadora e atriz desaparece na observação
participante.

Num projeto de pesquisa, devemos justificar a escolha dos nossos


instrumentos de coleta de informação, é necessário também precisar os paramentros
ou as modalidades de aplicação desses instrumentos. As modalidades sempre variam

36
de acordo com os instrumentos escolhidos. Por exemplo, em caso de observação de
documentos , é necessário indicar o período da consultação, as fontes, o tipo e a
natureza das publicações oficiais que iremos utilizar.

No caso das entrevistas ou das sondagens, precisamos justificar a amostra,


ou seja, a quantidade de pessoas que iremos entrevistar ou aplicar os questionários,
bem como o tipo de pessoa, as características pertinentes para as variáveis que
iremos utilizar. Quando usamos as entrevistas, precisamos anexar a ficha de questões
que iremos usar ou, pelo menos, os grandes temas que serão abordados no curso
das entrevistas para que demonstrar que tem certeza que esse instrumento de coleta
de dados servirá para verificar a hipótese. Em relação aos questionários de
sondagem, devemos anexar também o formato, o modo de administração (internet,
telefônico, entrevistas, cartas) e as questões colocadas.

No caso das observações diretas e de observação participante, devemos


determinar a natureza do fenômeno observado, o período de observação e as
modalidades de aplicação da observação, ou seja, como ela acontecerá.

Justificar com precisão como iremos efetuar essa coleta de informação é


necessária principalmente para a pesquisadora, para que ela tenha em mente como
a pesquisa irá acontecer. É por isso que é tão importante produzir um bom projeto de
pesquisa, ele nos garante uma consciência maior e uma visão mais esclarecida de
como iremos trabalhar, é como uma grande receita de bolo, se temos consciência dos
ingredientes, da quantidade de ingredientes e do passo a passo, podemos sem erro
fazer um bolo desejado.

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OITAVA PARTE:
APRESENTAÇÃO DAS CONCLUSÕES ANTECIPADAS

Nessa etapa do trabalho deveremos anunciar as conclusões antecipadas da


pesquisa, nossas dificuldades, limites e os problemas éticas que ela discute. A
enunciação das conclusões antecipadas assegura e completa o desenvolvimento
lógico do projeto de pesquisa, mas isso não significa dizer que essas conclusões serão
as mesmas que iremos obter no fim dessa pesquisa. São apenas conclusões
plausíveis baseadas no conhecimento que adquirimos até o presente momento,
apenas a pesquisa realizada poderá dizer se essas conclusões antecipadas são
válidas ou não, poderá dessa forma discutir as razões de uma possível invalidade no
fim da pesquisa. Não importa aqui que essas conclusões sejam verdadeiras ou falsas,
o que importa de verdade é que o trabalho seja construído de forma lógica para que
no fim da pesquisa possamos obter resultados consistentes e rigorosos.

Na enunciação das conclusões antecipadas, podemos comentar sobre os


limites do projeto e das dificuldades percebidas no que concerne a aplicação do
quadro operatório, a coleta de informação e o tratamento dos dados. A grande
característica de uma boa pesquisadora é que ela é capaz de prever os possíveis
problemas que irão aparecer no curso da pesquisa e superar tais problemas
apresentando possíveis soluções. Por exemplo, a boa pesquisadora sabe quando o
acesso a tal informação é complicado e propõe uma solução para isso, ela sabe
também sobre os possíveis limites na hora de tratar os dados com o software
escolhido, caso seja necessário.

Na enunciação da conclusão antecipada, o que se espera é que a pesquisadora


tenha em mente os resultados que ela espera obter, em relação aos objetivos do
projeto de pesquisa, tendo consciência que esses resultados podem ou não estarem
corretos, mas apenas o final da pesquisa nos dirá.

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