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Universidade Federal do Ceará


PPG LETRAS e PROFLETRAS
Disciplina: LITERATURA & ENSINO
Professor idolatraaaaaaaaaado: Leite Jr.

CARTILHA INDICADA PARA OS DOCENTES DO NONO ANO –


CONCLUSÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL 2.
TÍTULO:

LEITURAS E RELEITURAS DO SER FEMININO


EM SALA DE AULA .
Autoras:
Mestrandas (em ordem alfabética): Geórgia Linhares, Jackyelle Menezes e Nádya
Gurgel.

ADMIRÁVEIS DOCENTES!
A presente cartilha, intitulada “LEITURAS E RELEITURAS DO SER
FEMININO EM SALA DE AULA.”, é uma pequena contribuição para as vossas
práticas docentes, na disciplina de Língua Portuguesa do nono ano do Ensino
Fundamental II, tomando por base as discussões, as leituras e as resoluções de
atividades referentes a um tema bastante necessário e envolvente: O SER e SE
SENTIR MULHER, e em atenção aos preceitos norteadores da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC). Para isto, foram selecionados poemas, canções,
cartazes, pinturas, fragmentos de romances e contos, filmes, charges, memes e
notícias acerca da mulher, em distintas autorias, contextos históricos e estilos.
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Elaboramos este material eivado de possibilidades de repertórios, visando à


pluralidade e à diversidade artística e cultural e suscitando imprescindível debate
acerca das questões de gênero, necessário para a vida inteirinha dos estudantes que
estão às vésperas do Ensino Médio! Nós vos apresentaremos, sobremaneira,
dezenas de textos, verbais e visuais, que despertem no alunado muita reflexão e
criatividade, comumente associando conceitos canônicos ou cristalizados ao
cotidiano dos estudantes, permitindo uma ponte indestrutível entre o passado, o
presente e acerca do que almejamos para o futuro. O tema MULHER estará
presente, como já fora dito, sob diferentes gêneros textuais e em tempos de
publicação díspares. Sugerimos que os estudantes sejam protagonistas desta
CARTILHA, norteados por Vocês, seus Professores e Professoras, os maiores
referenciais de sabedoria e partilha, sendo agentes das próprias conclusões e
explanações, concordâncias ou sanções negativas, intervenções, exemplificações de
suas próprias vivências (caso queiram oralizar). A partir desta instigante missão
de leituras múltiplas e intersemióticas, enobrecendo imensamente a fala e a escuta,
também serão construídas novas textualizações, nas mais variadas manifestações, e
as práticas pedagógicas tornar-se-ão ainda mais dinâmicas e prazerosas.
As autoras, em ordem alfabética, desejam excelente apreciação deste
material de apoio didático: Geórgia Linhares, Jackyelle Menezes e Nádya Gurgel.

O SER FEMININO NA ARTE

“As mulheres foram, durante muito tempo, deixadas na sombra


da história.”
Georges Duby e Michelle Perrot.

Historicamente, a mulher teve o seu espaço limitado e silenciado, uma vez que a
figura masculina era vista como parte central do âmbito familiar, político, social e
econômico. A partir do século XX, diante das revoluções, dos movimentos feministas e
a conquista das mulheres inglesas e francesas ao direito de participar da vida política e,
assim, votar, as mudanças significantes acerca do comportamento feminino foram
iniciadas em que a “a participação das mulheres na vida cultural conhece um
desenvolvimento sem precedentes nas sociedades ocidentais” (DUBY e PERROT,
1990, p. 351).

Em relação à arte, “apesar de terem sido suprimidas em boa parte da história da


arte como artistas, as mulheres foram tema de inúmeras representações artísticas desde
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os mais remotos tempos” (ALMEIDA, 2010, p. 57), desse modo, as mulheres foram
colocadas como parte central nas pinturas de homens, sendo então coadjuvantes da
história dos homens, visto que havia a predominância masculina na arte, isto é, um lugar
atribuído a eles (MIRANDA, 2006). E com todas as mudanças e lutas femininas que
ocorreram a partir do século XX, o protagonismo da mulher na arte surge para combater
a invisibilidade, o silenciamento, o patriarcado, o machismo e para que as mulheres
possam ser protagonistas de suas próprias histórias, para que sejam vistas, tenham voz,
liberdade e direitos.

Por muito tempo, e ainda é atribuída a mulher “uma natureza feminina que
conduzia as mulheres à esfera do lar, como se elas fossem dotadas biologicamente de
uma capacidade exclusiva de casarem, terem filhos e cuidarem de tudo que envolvesse a
vida privada.” (ALMEIDA, 2010, p.60). Além disso, a imagem de inocente, pura,
materna e do lar sempre foi concebida às mulheres permitindo com que padrões de
beleza, estereótipos e comparações tornassem a vida delas ainda mais difícil, uma vez
que carrega-se a ideia de que a mulher tem que estar sempre dentro desses padrões e
com isso será aceita na sociedade.

E para evidenciar a pluralidade do ser feminino nesta cartilha, escolhemos


algumas artes plásticas – que podem ser chamadas de Belas Artes também – com o
intuito de mostrar o ser feminino na arte, e assim, retratar o ser feminino de diversas
maneiras, como a mulher negra, indígena, militar, atleta, gorda, trans, artista plástica e
para isso iremos fazer um passeio entre pinturas famosas, modernas, contemporâneas,
invisibilizadas e até mesmo marginalizadas.
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Mona Lisa, 1503, Leonardo da Vinci.


5

Banhista sentada, 1930, Pablo Picasso. Mulher Chorando, 1937, Pablo Picasso.

Les Demoiselles d’Avignon, 1907, Pablo Picasso.


6

Moses, 1945, Frida Kahlo.

Hospital Henry Ford, 1932, Frida Kahlo.


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Iracema, 1881, José Maria de Medeiros.

Almoço na Relva, 1863, Édouard Manet.


8

Bettie Cilliers-Barnard: Face, 1974 e Mother and Child, 1955.

A boba, 1915–1916, Anita Malfatti


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Maternida
de, 1938, Tarsila do Amaral. A negra, 1923, Tarsila do Amaral.

Amanhecer, 1524, Michelangelo.


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Toulouse Latrec em vermelho, 2017, Toulouse Latrec.

 A liberdade guiando o povo, Eugène Delacroix, 1830.


11

Acalantar, 2021, Alice Yura.

Alice e o chá do espelho, lixão do Aurá, 2020, Rafael Bqueer.


12

Simone de bom voar, Simone Siss.

Violência contra as mulheres, 2015, Vanessa Rosa.


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Grazie

EXERCITANDO (PARTE 1)

Caro (a) docente, a pintura Mona Lisa (1503) de Leonardo da Vinci e a fotografia da
exposição Acalantar (2021) de Alice Yura denotam a pluralidade do ser feminino em
aspectos temporais, históricos, culturais e sociais. A partir disso, proponha uma
atividade que encoraje e estimule os discentes a refletir e analisar aspectos das obras já
vistos pela ótica do ser feminino na arte e a sua pluralidade. Para iniciar a atividade,
algumas perguntas podem ser feitas, como exemplo: Qual a sua percepção acerca do ser
feminino nessas duas obras? Quais as principais diferenças entre elas? O que mais te
chamou atenção?
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EXERCITANDO (PARTE 2)

Caro (a) docente, chegou a hora de discutir sobre arte e saber um pouco sobre as
experiências, opiniões e vivências de seus discentes! Por meio de sua mediação, realize
um debate acerca das vivências dos discentes em relação à arte. É necessário que haja
respeito, que ouça os seus discentes e que torne o debate saudável e empolgante. A
seguir, há algumas perguntas que podem servir de base para o seu debate.

1) O que é arte para vocês?


2) Como é a sua relação com a arte? Em casa, os seus pais apreciam arte? E os
seus amigos?
3) Vocês já foram a um museu ou galeria de artes ou pinacoteca?
4) Na escola, vocês conversam sobre arte?
5) Quais as suas opiniões sobre os pintores famosos, como Leonardo da Vinci,
Michelangelo, Picasso?
6) Quais pintoras famosas vocês conhecem? E o que mais gostam em suas
obras?
7) Vocês gostariam de ser artistas?
8) Vocês acham que a arte é apenas para pessoas cultas? Ou ela é acessível para
todos?
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9) Em suas realidades, vocês conhecem artistas invisibilizados ou


marginalizados?
10) Se sim, o que vocês acham que poderia torná-los visibilizados, no que se
refere à arte?

EXERCITANDO (PARTE 3)

Caro (a) docente, para finalizar, agora é o momento de praticar o que foi
abordado! Neste momento, direcione os seus discentes a produção e/ou criação de uma
arte que tenha foco no ser feminino. A atividade pode ser individual, em dupla, trio ou
grupos. Amplie a vivência e faça essa atividade fora da sala de aula para que essa
atividade seja memorável e enriquecedora para os seus discentes. Além disso, reforce
que a produção/criação pode ser uma fotografia, grafite, desenho, pintura.

A representatividade da mulher nos contos de fadas e


suas mudanças arquetípicas de acordo com o contexto
sociocultural e histórico.

“Eu não sou livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela
forem muito diferentes das minhas.” – Audre Lord
Segundo Ana Maria Machado (2009), ao fazer a apresentação do livro Contos de
Fadas, revela um pouco mais sobre o surgimento desse gênero tão importante para a
nossa cultura. Nessa obra é visto que os contos de fadas chegaram até nós por meio dos
contos populares, são variações destes e possuem raízes celtas. Esta tradição oral
ganhou cada vez mais forma e popularizou-se, edificando-se por meio de Charles
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Perrault, com o livro “Contos da Mãe Gansa”, responsável por iniciar a Literatura
infanto-juvenil.
A primeira coletânea de contos infantis surgiu no século XVII, na França,
organizada pelo poeta e advogado Perrault, porém há relatos de que esses surgiram
muito antes, pela tradição oral, ainda na Idade Média. Os contos de fadas originais, na
verdade, não eram dedicados às crianças, mas sim aos adultos, como forma de
entretenimento e uma espécie de “fuga” dos problemas enfrentados pelos camponeses,
como a fome e a Peste, eram uma espécie de refletir os perigos do mundo e os medos
dos camponeses. Tais contos não possuíam finais felizes, eram violentos e não havia
uma moral da história. Assim, podemos ver que Charles Perrault foi o primeiro a
idealizar e reconstruir os contos de fadas, infantilizando-os.
De acordo com estudos feitos por Machado (2010), já no século XIX, com o
surgimento dos contos de fadas tradicionais, reconhecidos até hoje, aconteceram
mudanças nas histórias originais, como os finais felizes, as lições de moral e uma
diminuição da violência nas histórias. Essas mudanças ocorreram devido a vários
fatores, não só ligados à cultura e à Literatura, mas também fatores históricos e sociais,
como o Iluminismo e a Revolução Industrial. Como a própria psicologia mostra, estas
mudanças na sociedade trouxeram novos valores, entre eles a invenção da família e da
infância, pois até então as crianças eram vistas simplesmente como “adultos em
miniatura”. Assim, esses novos valores tiveram uma importância fundamental na
cultural e na Literatura, dando os novos modelos aos contos de fadas e fazendo o que
são hoje, um marco da Literatura infanto-juvenil.
É sabido, dentre os mais diversos âmbitos, que a mulher sempre ocupou o lugar
de segunda categoria na sociedade, e essa questão pode ser vislumbrada de diversas
formas, inclusive, por meio da literatura, como será visto mais adiante. Portanto, foi e é
também dever da literatura fazer parte das mudanças buscadas pelo gênero feminino ao
longo dos séculos, sendo aquela não só um reflexo da sociedade, mas também um
agente de mudança, o que pode ser confirmado pela teoria Feminista na Literatura,
como com a Crítica Feminista.
Na Grécia Antiga, a posição da mulher sofria variações de acordo com o lugar e
o período, mas, de modo geral, a mulher grega era considerada inferior ao homem,
podendo ocupar apenas os papéis de mulher e mãe. Porém, essa realidade ultrapassa a
Grécia Antiga, sendo ela apenas um reflexo de diversas outras civilizações, inclusive, na
contemporaneidade.
Concomitantemente, é visto que a mulher mesmo oprimida tem sido um agente
de mudanças, muitas vezes à frente do seu tempo, usando de sua força para ir além do
permitido, como podemos ver com o Movimento Feminista.
Segundo é Kate Millett (1989), a Crítica literária Feminista pode ser definida
como: “é a crítica literária baseada na teoria feminista, ou, mais genericamente, pelas
políticas do feminismo. Ela usa os princípios feministas e ideologia para criticar a
linguagem da literatura. Esta escola de pensamento, procura-se analisar e descrever as
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formas pelas quais a literatura retrata a narrativa da dominação masculina através da


exploração econômica, social, política e forças psicológicas inseridas dentro da
literatura”.
EXERCITANDO (PARTE 1)

Caro docente, a partir dos conceitos vistos, traga para seus alunos e alunas
narrativas diversas, verbais e não verbais, do gênero conto de fadas. É imprescindível
trazer tanto as versões clássicas dos contos de fadas; que são majoritariamente de
autoria masculina – e vale o/a docente ressaltar isso; como as versões contemporâneas.
Além de narrativas verbais, também é interessante trazer outros objetos não verbais;
como imagens, músicas, cordéis, tudo o que for possível encontrar! A partir disso, crie
um debate saudável com os discentes, ouvindo as suas opiniões e vivências. É
importante usar do gênero oral antes de partir para a produção escrita!

EXERCITANDO (PARTE 2)

Caro docente, a partir do debate realizado entre os alunos e alunas, por meio de
sua mediação, peça para que estes realizem uma produção textual. O gênero textual
pode ser artigo de opinião, crônica, conto, etc; escolha a partir do seu conhecimento a
respeito da turma e do que achar que será mais produtivo e enriquecedor para seus
discentes.

EXERCITANDO (PARTE 3)

Caro docente, agora, para encerrar com chave de ouro, os alunos e alunas devem
produzir uma atividade em cima do que foi debatido e produzido. Esta atividade deve
ser “livre”, ou seja, de acordo com as habilidades dos discentes eles irão resolver o que
fazer. Afinal, a própria BNCC indica que diversas habilidades devem ser trabalhadas,
então por que não trabalhar as habilidades de cada aluno e aluna?

Podem ser feitos cordéis, histórias em quadrinhos, grafites, pinturas, músicas,


contos, crônicas, poesias, podcasts e o que mais os alunos se propuserem a fazer!
Assim, haverá trabalhos mais plurais, que realmente trazem o aprendizado para a
prática. Que tal essa dinâmica para encerrar essa atividade com chave de ouro?
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A Pequena Sereia | Hans Christian Andersen | 1837

A Pequena Sereia / Disney / 1989


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A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões /Louise O'Neill/2019

A Triste História de uma Sereia/ Cárlisson Galdino/ 2020


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Eu Estou Aqui/ Clara Savelli/ 2020


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Campanha contra a violência doméstica


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Contos de fadas dos irmãos Grimm


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Mais versões contemporâneas dos contos de fadas...


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27

Mais campanhas da violência contra a mulher...

Aladdin – 2019
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O SER FEMININO NOS TEXTOS EM PROSA E


VERSO:

TEXTOS, EM PROSA E VERSO, QUE APRESENTAM / TEMATIZAM


MULHERES, em AUTORIAS FEMININAS ou MASCULINAS...

Texto 1
MUITAS FUGIAM AO ME VER...
Carolina Maria de Jesus (14/03/1914 - MG a 13/02/1977- SP)

Muitas fugiam ao me ver


Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava


Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!


E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

Carolina Maria de Jesus, in Antologia pessoal. (Org. José Carlos Sebe Bom Meihy). Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
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Texto 2

VOZES-MULHERES (poema publicado em 1990)

Conceição Evaristo (1946)

A voz de minha bisavó


ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó


ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe


ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.

A minha voz ainda


ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

A voz de minha filha


recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
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Texto 3

BRASIL

Eliane Potiguara (1950)

Que faço com a minha cara de índia?

E meus cabelos

E minhas rugas

E minha história

E meus segredos?

Que faço com a minha cara de índia?

E meus espíritos

E minha força

E meu Tupã

E meus círculos?

Que faço com a minha cara de índia?

E meu Toré

E meu sagrado

E meus “cabocos”

E minha Terra?
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Que faço com a minha cara de índia?

E meu sangue

E minha consciência

E minha luta

E nossos filhos?

Brasil, o que faço com a minha cara de índia?

Não sou violência

Ou estupro

Eu sou história

Eu sou cunhã

Barriga brasileira

Ventre sagrado

Povo brasileiro.

Ventre que gerou

O povo brasileiro

Hoje está só...

A barriga da mãe fecunda

E os cânticos que outrora cantavam

Hoje são gritos de guerra


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Contra o massacre imundo

(In: Metade cara, metade máscara, págs. 32 e 33)

Texto 4

Excerto do conto O OVO E A GALINHA

Clarice Lispector (1920-1977)

“(...)
Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã.
Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas,
arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e
comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do
dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.
E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu apenas um meio, e não
um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito.
Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram
para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o
meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar minha vida
de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio
de verba, ultimamente comprei ações da Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo
ter a necessária modéstia de viver. (...)”
(In: Obra Felicidade Clandestina, pág. 57)

Texto 4

XXVI

Hilda Hilst (1930-2004)

De sacrifício

De conhecimento

Da carne machucada

Os joelhos dobrados

Frente ao Cristo

Meu canto compassado

De mulher-trovador.
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Ai. Descuidado

Que palavras altas

Que montanha de mágoas

Que águas

De um venenoso lago

Tu derramaste

Nos meus ferimentos.

Que simetria, justeza

Para ferir-me a mim

Como se a cruz quisesse

De mim ser a moradia.

E eu canto

Porque é esse o destino

Da minha garganta.

E canto.

Porque criança aprendi

Nas feiras: ave e mulher

Cantam melhor na cegueira.

(In: Da Poesia Hilda Hilst, 2017. Parte: Cantares de perda e predileção (1983), págs. 371 e
372)
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Texto 5

Motivo

Cecília Meireles (1901- 1964)

Eu canto porque o instante existe


e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada."

(MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.)

Texto 6

Angela Gutiérrez (1945)

“(...)

- Professora, e minha mãe, também não ia à escola, era prisioneira, como eu?

- Se era prisioneira não sei, mas eu vinha ensinar à Menina como agora venho à
Pequena. Tua mãe também escrevia nessa mesma escrivaninha em que escreves e que
foi da tua avó.

- Minha mãe aprendia as lições e o catecismo sabia de cor?

- Tua mãe tudo sabia sem ninguém ensinar. Até eu aprendia com Menina as mil e
uma histórias que ela dizia.

- Que histórias, Professora? Já não sou tão criança. No fim do mês, treze anos vou
inteirar. As histórias da vida, idade tenho para saber.
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- Pequena, ela me falava de coisas tristes demais. Da multidão de mulheres que vive
nas profundezas do mar. E quando a maré sobe e as ondas crescem, pode-se ouvir seu
grito de socorro que o povo chama de ronco do mar. Contava que em terras distantes
daqui, meninas dormiam e acordavam com pés enlaçados por tiras de pano apertadas
para seus pés nunca crescerem; viúvas eram enterradas vivas com o cadáver do marido
para em outros homens jamais pensar; mulheres cobriam o rosto que nunca podiam
mostrar; meninas se casavam antes mesmo de nascer, não tinham o direito de marido
escolher.
- Por isso ela era triste, por sua sina de mulher?”.

(In: O Silêncio da Penteadeira, págs. 31 e 32)

Texto 7

Adélia Prado (1935)


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Texto 8

Excerto do conto OS OBEDIENTES

Clarice Lispector (1920-1977)

“(...) Com a maçã ainda na mão e olhando-se perto demais no espelho do banheiro- e
deste modo perdendo de todo a perspectiva- viu uma cara pálida, de meia-idade, com
um dente quebrado, e os próprios olhos ... tocando o fundo, e com a água já pelo
pescoço, com cinquenta e tantos anos, sem um bilhete, em vez de ir ao dentista, jogou-
se pela janela do apartamento, pessoa pela qual tanta gratidão se poderia sentir,
reserva militar e sustentáculo de nossa desobediência.”

( In: Felicidade Clandestina, pág.


87)

Texto 9

Ser mulher…

Gilka Machado (1893-1980)

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida, a liberdade e o amor;

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior…

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor;

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um Senhor…

Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais…


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Ser mulher, e oh! Atroz, tantálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

In: Cristais partidos (1915)

Texto 10

Lygia Fagundes Telles (1923)

Texto 11

Texto 12
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MULHER PROLETÁRIA
Jorge de Lima (1893-1953)

Mulher proletária __ única fábrica


que o operário tem, (fábrica de filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
O operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário.
(In: Poemas Escolhidos, 1932)

Texto 13
RECEITA DE MULHER
Vinicius de Moraes (1913-1980)

As muito feias que me perdoem


Mas a beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute costure
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na
[República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma graça apenas pousada e que um
[rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro
[minuto da aurora.
(...)
(In: Nova Antologia Poética, pág. 171)
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Texto 14
ISMÁLIA
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)

Quando Ismália enlouqueceu,


Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
(In: Obra Completa, 1960)

Texto 15
Manuel Bandeira (1886-1968)
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Texto 16
SONETO DA FÊMEA
Pedro Lyra (1945-2017)
E assim se consumou esse processo:
ela largou o lar
largou os filhos
largou o companheiro
e deu-se ao mundo
em troca de um recanto
no mercado
mas só achou lugar
no purgatório.
E ao suplício
diurno
da jornada
o suplício
noturno
do retorno.
E no lugar do afeto
compromissos;
no lugar do convívio
o esgotamento;
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no lugar dos parentes


os colegas;
no lugar de um amor
alguns parceiros;
e no lugar da casa
o shopping center.
E um roído salário ao fim da entrega
com que alimenta a própria imolação.
(In: Desafio uma poética do amor, pág.122)

O SER FEMININO NAS CANÇÕES: CANTANDO ou


SENDO TEMATIZADAS.
1) MULHER DO FIM DO MUNDO

Elza Soares (23 de junho de 1930 a 20 de janeiro de


2022)

Meu choro não é nada além de carnaval


É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qual é

Pirata e Super-Homem cantam o calor


Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
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Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião
A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar


Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida, dura até o fim

Mulher do fim do mundo


Eu sou e vou até o fim cantar

Meu choro não é nada além de carnaval


É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qual é

Pirata e Super-Homem cantam o calor


Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião
A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar


Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida, dura até o fim

Mulher do fim do mundo


Eu sou, eu vou até o fim cantar
Mulher do fim do mundo
Eu sou, eu vou até o fim cantar
Cantar

Eu quero cantar
Até o fim, me deixem cantar até o fim
Até o fim, eu vou cantar
Eu vou cantar até o fim

Eu sou mulher do fim do mundo


Eu vou, eu vou, eu vou cantar
Me deixem cantar até o fim
Lá-lá-lá-laiá-lá-lá-laiá
Lá-lá-lá-laiá-lá-lá-laiá
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Até o fim eu vou cantar


Eu quero cantar, eu quero é cantar
Eu vou cantar até o fim
Lá-lá-lá-lará-lá-lará-laiá
Eu vou cantar, eu vou cantar

Me deixem cantar até o fim


Me deixem cantar até o fim
Me deixem cantar
Me deixem cantar até o fim

*“A Mulher do Fim do Mundo” é o 32º álbum de estúdio da magistral cantora brasileira Elza
Soares (que partira há pouco tempo), lançado em 3 de outubro de 2015 pelo selo Circus.

2) Garota de Ipanema

Tom Jobim (1927-1994)

Olha que coisa mais linda


Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar

Moça do corpo dourado


Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?


Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse


Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor.

*Composta por Antônio Carlos Jobim e letrada por Vinicius de Moraes em 1962.

Texto 3
Girl from Rio (Garota Do Rio)
44

Anitta (1993)

Garotas gostosas de onde eu venho


Nós não parecemos modelos
Linhas bronzeadas, grandes curvas
E a energia brilha
Você vai se apaixonar
Pela garota do Rio (sim sim sim)

Deixa eu te contar sobre um Rio diferente


Aquele de onde eu venho
mas não aquele que você conhece
Aquele que encontra quando não tem nenhum Real
Baby é meu caso de amor
É meu caso de amor sim
Acabei de descobrir que tenho outro irmão
Mesmo papai mas uma mãe diferente
Isso foi algo que eu sempre quis
Baby é um caso de amor
É um caso de amor sim

Oh woah
Eu entendi
Eu entendi
Eu entendi
Eu entendi
Corre no meu sangue oh
Adoro
Eu amo isso
Eu amo isso
Eu amo isso
Você já sabe
Um centavo a dúzia
45

Estou com sorte


Estou com sorte
Estou com sorte
Eu sei
É meu caso de amor

Garotas gostosas de onde eu venho


Nós não parecemos modelos
Linhas bronzeadas, grandes curvas
E a energia brilha
Você vai se apaixonar
Pela garota do Rio (pela garota do Rio)
(Vai malandra gringo canta todo mundo canta)

Garotas gostosas de onde eu venho


Nós não parecemos modelos
Linhas bronzeadas, grandes curvas
E a energia brilha
Você vai se apaixonar
Pela garota do Rio (pela garota do Rio)
(Vai malandra gringo canta todo mundo canta)

Honório Gurgel para sempre


Bebês tendo bebês como se isso não importasse
Sim, as ruas me educaram. sou favela
Baby é meu caso de amor
É meu caso de amor sim
Eu precisei deixar outro amante
Por ele não conseguir lidar com minha personalidade
Porque eu sou com fria como o inverno
quente como o verão
Baby, é meu caso de amor
É meu caso de amor
46

Oh woah
Eu entendi
Eu entendi
Eu entendi
Eu entendi
Corre no meu sangue oh
Adoro
Eu amo isso
Eu amo isso
Eu amo isso
Você já sabe
Um centavo a dúzia
Estou com sorte
Estou com sorte
Estou com sorte
Eu sei
É meu caso de amor

Garotas gostosas de onde eu venho


Nós não parecemos modelos
Linhas bronzeadas, grandes curvas
E a energia brilha
Você vai se apaixonar
Pela garota do Rio (pela garota do Rio)
(Vai malandra gringo canta todo mundo canta)

*Canção lançada em 2021.

Texto 4
GENI
Chico Buarque de Holanda (1944)
47

De tudo que é nego torto


Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela (...)pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniquidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela (...) pra qualquer um
Maldita Geni
48

Mas de fato, logo ela


Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você (...)pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela (...) pra qualquer um
Maldita Geni
In: Álbum: Ópera do Malandro, 1979
49

Texto 5
A RITA
(Chico Buarque)
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato
Seu trapo
Seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meu pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato
Seu trapo
Seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
50

A Rita matou nosso amor


De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meu pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão

In: Álbum: Chico Buarque de Hollanda,1966


51

TEXTO 6

RESPOSTA DA RITA (Ana Carolina)

Não levei o seu sorriso


Porque sempre tive o meu
Se você não tem assunto
A culpada não sou eu

Nada te arranquei do peito


Você não tem jeito faz drama demais
Seu retrato, seu trapo, seu prato
Devolvo no ato pra mim tanto faz

Construí meu botequim


Sem pedir nenhum tostão
A imagem de São Francisco
E aquele bom disco estão lá no balcão

Não matei nosso amor de vingança


E deixei como herança um samba também
Seu violão nunca foi isso tudo
E se hoje está mudo por mim tudo bem

Ana: Não levei o seu sorriso


Chico: A Rita levou meu sorriso
A: Porque sempre tive o meu
C: No sorriso dela, meu assunto
A: Se você não tem assunto
C: Levou junto com ela o que me é de direito
A: A culpada não sou eu
C: E Arrancou-me do peito e tem mais
A: Nada te arranquei do peito
C: Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
A: Você não tem jeito faz drama demais
C: Que papel
A: Seu retrato, seu trapo, seu prato
C: Uma imagem de São Francisco, e um bom disco de Noel
A: Devolvo no ato pra mim tanto faz
C: A Rita matou nosso amor de vingança
A: Construí meu botequim
C: Nem herança deixou
A: Sem pedir nenhum tostão
C: Não levou um tostão
A: A imagem de São Francisco
52

C: Porque não tinha não


A: E aquele bom disco estão lá no balcão
C: Mas causou perdas e danos
A: Não matei nosso amor de vingança
C: Levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos e o meu coração
A: E deixei como herança um samba também
C: E além de tudo
A: Seu violão nunca foi isso tudo
C: Me deixou mudo, o violão
A: E se hoje está mudo por mim tudo bem

DICA: Apresentar aos estudantes o videoclipe de 2014, disponível no YouTube.

TEXTO 7
RITA
Thierry (1989)
Sua ausência tá fazendo mais estrago
Que a sua traição, lê-lê-lê-lê
Minha cama dobrou de tamanho
Sem você no meu colchão
Seu perfume tá impregnado nesse quarto escuro
Que saudade desse cheiro de cigarro e desse álcool puro
Rita, eu desculpo tudo
Ôh, Rita, volta, desgramada!
Volta, Rita, que eu perdoo a facada
Ôh, Rita, não me deixa
Volta, Rita, que eu retiro a queixa
(...)
*Canção de 2020.

Obs.: As canções chicobuarqueanas a seguir apresentam EU LÍRICO FEMININO:

TEXTO 8

OLHOS NOS OLHOS

Chico Buarque (1944)

Quando você me deixou, meu bem


Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
53

Quando você me quiser rever


Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando


Me pego cantando
Sem mais nem por quê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim


Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz.

(In: Álbum: Meus Caros Amigos, 1976)

Texto 9

FOLHETIM

Chico Buarque de Holanda

Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim

E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim

E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis

Mas na manhã seguinte


Não conta até vinte
54

Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim

In: Álbum: Ópera do Malandro (1979)

TEXTO 10

MEU GURI

Chico Buarque de Holanda

Quando, seu moço,


Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
55

Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)

(In: Álbum Almanaque, 1981)

EXERCITANDO (PARTE 1):


Apreciem as três canções a seguir, de modo a enfatizar os tão distintos modos de pensar e
considerar a MULHER, e em TEMPOS bem DISTINTOS, sobremaneira a terceira
composição (de 2019) em relação às duas primeiras (da década de 1940). É interessante que,
recorrendo ao YouTube, as 3 canções sejam reexibidas, reapresentadas. Em seguida devem ser
abertas as possibilidades de trocas de impressões acerca delas, por meio da verbalização
(deixando, claro, a turma à vontade para apenas ouvir, intuir e fazer anotações). Passado esse
primeiro contato com os textos... devem ser apresentadas as quatro questões a seguir... referentes
às canções.
56

1) EMÍLIA (1941)

Wilson Batista (1913/1968) e Haroldo Lobo (1910/1965)

Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar


Que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar
Só existe uma
E sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília
Não posso mais

Eu quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar...

Ninguém sabe igual a ela preparar o meu café


Não desfazendo das outras, Emília é mulher
Papai do Céu é quem sabe a falta que ela me fez
Emília, Emília, Emília
Não posso mais

2) AI, QUE SAUDADES DA AMÉLIA (1942)


Mário Lago (1911-2002) e Ataulfo Alves (1909 - 1969)

Nunca vi fazer tanta exigência


Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, o que se há de fazer!
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade

3) MENINA SOLTA (2019)

Giulia Be (1999)

Ah, ah
Ela era lá da Barra, ele de Ipanema
Foram ver o campeonato lá em Saquarema
57

Achando que ia dar bom


Mas só deu problema, só deu problema
A mina chegou gigante, cheia dos esquemas
O moleque apaixonado e ela toda plena
Ele queria um amor e ela só tinha pena, só tinha pena

Enquanto ele dormia, mal ele sabia


Que lá no pé da areia outro chama de sereia
Essa menina solta
Essa menina solta
Enquanto ele dormia, mal ele sabia
Que lá na casa dela ela sentava e escolhia
Quem ela queria
Essa menina solta
Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta
Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta
Saquarema 'tava quente e ela toda fria
Falando que ia pra festa que ela nem ia
Mesmo levando perdido, ele não desistia (caraca, meu irmão)
Apegado nos momentos que tiveram um dia
Sem noção da situação que ele se metia
Todo sem entender o game que ela fazia
Vai, menina
Enquanto ele dormia, mal ele sabia
Que lá no pé da areia outro chama de sereia
Essa menina solta
Essa menina solta
Enquanto ele dormia, mal ele sabia
Que lá na casa dela ela sentava e escolhia
Quem ela queria
Essa menina solta
Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta
Ele vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta (essa menina solta)
Essa menina solta (essa menina solta)
58

Logo, logo ele, que era difícil de se apaixonar


Logo ele, vai ter que superar
Vai ter que superar
Vai ter que superar
Vai ter que superar
Essa menina solta
Essa menina solta
Essa menina solta
(https://www.youtube.com/watch?v=vz9XHsctOtc)
01. Em atenção ao verso “Não desfazendo das outras, Emília é mulher”, marcante na
primeira canção, que tipo de entendimento o eu lírico externa da mulher, naquela
década de 1940? Como deveriam ser, de acordo com a mentalidade de muitos
viventes daquele tempo, as “outras”?
_________________________________________________________

02. A segunda canção, intitulada “Ai, meu Deus que saudade da Amélia”, foi
responsável, desde a década de seu lançamento (também na década de 1940),
pelo surgimento da expressão “Mulher-Amélia” ou “Mulher do tipo Amélia”.
Vocês já ouviram tais formas de pensar e/ou de falar? Que mensagem elas nos
deixam? Ainda cabe, em pleno 2022, tal concepção acerca da mulher? Por quê?
________________________________________________________________
_____________________________________________________________

03. Em “Menina solta” pode ser detectada uma quebra de paradigmas em relação à
postura feminina e suas considerações quanto aos laços afetivos. Caracterize,
agora, a quem os versos são destinados. Vale reforçar o excerto “Ele vai ter
que
superar”:_________________________________________________________
________________________________________________________________

04. De acordo com as três canções, quais os perfis femininos em destaque?


Canção 1: (Há dois perfis femininos apresentados. Caracterize-
os):___________________________________________________________________
________________________________________________________________
Canção 2: (Qual é o perfil da Emília?):____________________________________
Canção 3: (Como é caracterizada a
protagonista?):__________________________________________________________
59

EXERCITANDO (PARTE 2):

01. O soneto em destaque é de autoria de uma das mais incríveis poetas modernistas
lusitanas: Florbela d’Alma da Conceição Espanca (1894-1930). O eu lírico
apresentado no poema permite-nos inferir que sua condição de mulher, ainda
que estivesse naquele início do Séc. XX, era capaz romper muitos paradigmas de
tempo. Converse com seus alunos e alunas acerca destas rupturas e peça que
eles/elas evidenciem, preferencialmente na modalidade escrita - de modo a
exercitarem o uso das aspas e outros elementos da citação -, versos
comprobatórios dos ares vanguardistas quando da vontade de “amar”.
-
-
02. Florbela Espanca, na questão supracitada, fora chamada de “Poeta”. Por que não
de “Poetisa”? Converse com seus Estudantes acerca das distinções das duas
formas de tratamento da mulher que escreve versos.
-
-
03. Reforçando os conhecimentos que as turmas já possuem acerca das FIGURAS
DE LINGUAGEM, relembrem e reforcem as manifestações e os conceitos da
GRADAÇÃO e destaquem o verso “E se um dia hei de cinza, pó e nada”. Nele
ocorre GRADAÇÃO ANTICLÍMAX ou DECRESCENTE. Instiguem os estudantes
a, também, reconhecerem outra FIGURA presente, o EUFEMISMO (suavização de
uma ideia ou notícia desagradável ou estarrecedora). Qual é esta ideia amenizada? E
que reforço é dado às posturas do eu lírico?
60

04. No último verso “Que me saiba perder... para me encontrar...” ocorre um


PARADOXO. Reforce o conceito desta figura de linguagem à luz da interpretação que
os alunos e alunas têm desta “perda que faz com que ela se encontre”. Desta forma será
ainda mais evidente o quanto o eu lírico feminino era demasiadamente ousado para seu
tempo.
-

EXERCITANDO (PARTE 3)
Caríssimo(a) Docente, os dois poemas a seguir pertencem, respectivamente, aos séculos
XIX e XX. Elencados estão os poemas dos poetas Castro Alves, ícone da terceira
geração romântica, e Manuel Bandeira, um dos ícones da primeira geração modernista.
61

O adeus de Teresa
Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871)

A vez primeira que eu fitei Teresa,

Como as plantas que arrasta a correnteza,

A valsa nos levou nos giros seus...

E amamos juntos... E depois na sala

“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus”.

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...

E da alcova saiu um cavaleiro

Inda beijando uma mulher sem véus...

Era eu... Era a pálida Teresa!

“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... séc’los de delírio...

Prazeres divinais... gozos do Empíreo...

... Mas um dia volvi aos lares meus.

Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”

Ela, chorando mais que uma criança,

 
62

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...

E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestra

Preenchiam de amor o azul dos céus.

Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!

Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: “adeus”!

Texto 2

Teresa
Manuel Bandeira (1886-1968)

A primeira vez que eu vi Teresa


Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna.

Quando vi Teresa de novo


Achei os olhos mais velhos do que
o resto do corpo.
(Os olhos nasceram e ficaram um
ano esperando que o resto do
corpo nascesse).

Da terceira vez não vi mais nada


Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se
mover sobre a face das águas.

01. Privilegiando o debate e, claro, o exercício de leitura e interpretação, discorra com


os seus estudantes acerca da relação de releitura do segundo poema em relação ao
primeiro. Eis o momento de reavivar os conceitos de PARÓDIA, bem como as duas
versões femininas de cada olhar poemático. Sugestão: pedir para ser realizado, depois
das discussões nos níveis conteudístico e estético, um texto escrito, também em versos,
referente a uma nova versão de Teresa. Com certeza a turma demonstrará novas versões
muito criativas e surpreendentes desta figura feminina.
-
63

-
-

ANEXOS:

ALGUMAS OBRAS BRASILEIRAS COM TÍTULOS


FEMININOS OU REFERENTES ÀS RESPECTIVAS
PROTAGONISTAS:
64
65
66
67

 Eis a TRILOGIA ALENCARINA DE PERFIS FEMININOS CITADINOS:

 (1862) (1864)

(1874)

PRIMEIRA MULHER A PRESIDIR A ACADEMIA


BRASILEIRA DE LETRAS (ABL): Nélida Piñon

Nélida Pinõn passara a presidir a ABL em 1996, no ano do I Centenário da supracitada


Academia carioca.
68

PRIMEIRA MULHER A PRESIDIR A ACADEMIA


CEARENSE DE LETRAS (ACL): Angela Gutiérrez

Angela Gutiérrez tornou-se a Primeira Mulher a presidir a ACL, a Academia mais antiga do
Brasil, tendo sido fundada em 15 de agosto de 1894, no dia 30 de janeiro de 2019.

PRIMEIRA MULHER A SER EMPOSSADA PARA A


ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL):

Rachel de Queiroz passou a ser imortal da ABL no dia 04 de agosto de 1977. E tomara posse na
nossa ACL somente na década de 1994, dezessete anos depois de ser empossada na ABL.
69

ESTEREÓTIPOS FEMININOS CULTUADOS PELAS


INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS / DIETAS SEVERAS /
ANOREXIA...

O que é anorexia?
A anorexia, também chamada de anorexia nervosa, é um transtorno alimentar
capaz de afetar pacientes de ambos os sexos, causado por um desejo excessivo,
ilimitado e sem controle de emagrecer e se manter em um determinado padrão de
beleza.
Quando um paciente possui anorexia, ele para de comer e não consegue ver que
seu corpo, aos poucos, está definhando com a falta de nutrição adequada. O indivíduo
anoréxico pode até mesmo deixar de sentir fome por completo.
70

Na anorexia, as costelas e os ossos das costas começam a ficar aparentes e a


pessoa anoréxica passa a desenvolver doenças e condições complementares, como a
alopecia, que é a queda de cabelo, causadas pela falta de nutrientes no corpo.
Mesmo com uma aparência clara de magreza excessiva, esse transtorno alimentar
é capaz de fazer com que o indivíduo anoréxico se veja com sobrepeso e continue na
busca pela magreza ideal. Muitos médicos indicam que a anorexia é, acima de tudo, um
distúrbio de imagem corporal.
Além de não comer, a pessoa que tem anorexia pode acabar exagerando nos
exercícios físicos e no uso de medicamentos laxantes e diuréticos, sempre com a
intenção de perder peso.
Essa condição não é a única relacionada à autoimagem, sendo que a anorexia e a
bulimia são duas doenças do tipo. Na bulimia, o paciente se alimenta e sente fome. Às
vezes, ele come até mesmo mais do que o normalmente comeria, para depois vomita
constantemente, até que o estômago esteja esvaziado.
Apesar de similares, a anorexia e bulimia possuem evoluções diferentes e uma
pessoa com anorexia também pode ter a bulimia.
(...)
In: https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/anorexia. Acesso em 04/02/2022, às 01:07

CURTA-METRAGEM CEARENSE: VIDA MARIA, lançado em 2006.


Emocionante obra fílmica acerca das condições precárias e limitadas do ato de ser
mulher no meio rural.

Apresenta geração de mulheres chamadas “Marias” - da mesma família pobre e


nordestina – que, sem perspectivas de estudo nem lazer, vivem à mercê da mesma
condição repetitória e determinista, de serem humildes, sem escolas nem faculdades, e
afeitas à multiparidade (múltiplos partos) e à falta da capacidade de sonhar.
71

A LEI MARIA DA PENHA É DO CEARÁ E DE TODO O


BRASIL: EM NOSSA DEFESA, DAS NOSSAS MÃES,
AVÓS, BISAVÓS, FILHAS, IRMÃS, VIZINHAS, NORAS,
NETAS E ESPOSAS.
72

O NEFASTO RACISMO ESTRUTURAL E A MULHER


NEGRA!
“A situação das mulheres negras exemplifica isso: recebem os mais baixos salários,
são empurradas para os “trabalhos improdutivos” – aqueles que não produzem mais-
valia, mas que são essenciais, a exemplo das babás e empregadas domésticas, em geral
negras que, vestidas de branco, criam os herdeiros do capital -, são diariamente
vítimas de assédio moral, da violência doméstica e do abandono, recebem o pior
tratamento nos sistemas “universais” de saúde e suportam, proporcionalmente, a mais
pesada tributação.”
(ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento,
2018. p.145 e 146.)

ASSASSINATOS A MULHERES TRANS, HOMENS


TRANS, GAYS E TRAVESTIS: PUNIÇÃO, JÁ, PARA OS
TRANSFÓBICOS!
TRANSFOBIA

A cada 10 assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro ocorreram no


Brasil
Dados do levantamento feito pelo Transgender Europe (TGEU) mostram
que o Brasil permaneceu pelo 13º ano consecutivo como o país que mais
mata pessoas trans
73

Pedro Grigori
postado em 17/11/2021 23:09 / atualizado em 18/11/2021 00:44

(https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2021/11/4963887-no-mundo-a-cada-10-
assassinatos-de-pessoas-trans-quatro-foram-no-brasil.html . Acesso em 04/02/2022, às
00:17)

Ceará cai de posição, mas continua sendo um dos estados que

mais mata pessoa trans no Brasil


Em relatório mais recente da Associação Nacional de Travestis e
Transexuais, Estado ocupa a quarta posição, com 11 assassinatos de
pessoas trans em 2021
13:27 | Fev. 01, 2022 

Autor Euziane Bastos

Keron Ravache vítima de espancamento em Camocim tinha 13 anos. Sua foto estava na
capa do Relatório de Segurança Pública 2020 (foto: arquivo pessoal)

No dia 29 de janeiro é comemorado o Dia da Visibilidade Trans, e a Associação


Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) escolheu o simbolismo da data para
publicar o dossiê "Assassinatos e violências contra pessoas Trans em 2021", um
relatório anual que mapeia esse tipo de violência em todos os estados brasileiros.
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(https://www.opovo.com.br/noticias/ceara/2022/02/01/ceara-cai-de-posicao-mas-continua-

sendo-um-dos-estados-que-mais-mata-pessoa-trans-no-brasil.html . Acesso em 04/02/2022, às

00:22)

CURIOSIDADES LEXICAIS
 Puta;
 Filha da puta;
 Filha da mãe;
 Vagabunda;
 Piranha;
 Bruxa;
 Maria gasolina;
 Maria vai com as outras;
 Rapariga;
 Cachorra;
 Kenga;
 Maria chuteira;

EXPRESSÕES MACHISTAS COTIDIANAS

 Mulher ao volante... perigo constante;


 Só sabe pilotar fogão;
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 Ela deve estar dando para ele, só pode.


 Ela é mal amada, mal comida.
 Sempre ajudo nas tarefas domésticas.
 Você sempre dá piti ou Só pode estar de TPM...
 Isso é coisa de mulherzinha.
 Que comida boa! Já pode casar.
 Você vai dar trabalho pro seu pai quando crescer.
 Na hora de pagar a conta, nenhuma mulher é feminista.
 Ô, lá em casa!
 Você gosta de futebol? Mas é coisa de homem.
 Como uma mulher tão bonita como você está solteira?
 Mas ela provocou ou Também, vestida desse jeito…
 Mulher tem de se dar ao respeito.
 Comporte-se como uma mocinha.
 Tem mulher que dá motivo pra apanhar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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artes Visuais [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica,
2010. 238 p. ISBN 978- 85-7983-118-8.

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BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC)


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CORSO, Mário. CORSO, Diana Lichtenstein. Fadas no Divã - Psicanálise nas Histórias
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COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.

DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dir.). História das Mulheres no Ocidente: a Idade
Média. Porto: Afrontamento, 1990. v. 2.

FRYE, Northop. Os Arquétipos da Literatura. Fábulas de identidade: Estudos de mitologia


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GABRIELLI, Cassiana. ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO E TEORIA FEMINISTA –


DIÁLOGOS FRUTÍFEROS

MIRANDA, Andrea. A mulher artista na Idade Média: considerações e revelações


acerca do seu lugar na história da arte. R. cient./FAP, Curitiba, v.1, p., jan./dez. 2006.

PINHEIRO, Hélder. Poesia na Sala de Aula. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2018.

PLATÃO, Francisco Savioli; FIORIN, José Luiz. Para Entender o Texto: leitura e
redação. São Paulo: Editora Ática, 1990.

SILVA, Fernanda Maria Diniz da; SILVA, Marilde Alves da; SILVA, Fernângela Diniz
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1. ed. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2019. pp. 165 a 169.

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