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Como valorizar a arte de

autoria feminina no Brasil


Mulheres na História. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . p.6
Figuras femininas na história da arte brasileira. . . . . p. 7
De olho nos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 9
Filosofando. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 11
Universo artístico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 13
Selecionar, relacionar e organizar. . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 14
Mulheres na História

Desde a Antiguidade (4000 a.C – 476 d.C), as mulheres são excluídas


socialmente. Na Grécia, por exemplo, elas eram afastadas dos debates políticos
e públicos da sociedade, não tinham acesso à educação na infância e
concentravam os seus trabalhos no ambiente doméstico.

Durante a idade média (476 – 1453), período marcado pela grande influência e
poder da Igreja Católica na sociedade, a mulher exercia um papel de submissão
aos maridos e de dona do lar. Os primeiros direitos surgiram somente a partir
da Idade Moderna (1453 – 1789).

A ascensão da sociedade burguesa, capitalista e industrial, contribuiu para


definição do ambiente público como trabalho masculino e o espaço privado,
imposto como responsabilidade feminina. As restrições que existiam de
espaços "apropriados" para as mulheres, o posicionamento dado como modelo
frente à sociedade e a conduta correta mostram como a condição de exclusão é
socialmente e historicamente construída a partir das instituições e estruturas.

Com este entrave, a mulher permanecia impedida, dentre outras coisas, de


desempenhar funções consideradas como próprias do espaço público,
sobretudo, as que exigiam um vigoroso trabalho intelectual, a exemplo da
política e do exercício da arte. A racionalidade, intelectualidade e inventividade
eram características atribuídas aos homens.

Os mecanismos de exclusão eram exercidos a partir da negação ao acesso às


instituições de ensino, ao circuito artístico e ao próprio mercado de arte. Além
disso, aquelas que conseguiam produzir tinham suas obras pouco valorizadas
devido à autoria feminina, o que dificultava a profissionalização como artista.
Figuras femininas na história da
arte brasileira
Anita Malfatti
Anita Malfatti foi uma das mais importantes artistas
plásticas brasileiras da primeira fase do modernismo.
“Eu pinto aspectos da vida brasileira, da vida do
povo”, dizia a artista que sempre defendeu o fazer da
arte popular brasileira. Diretamente responsável pelo
crescimento da expressão modernista do país, deixou
um trabalho sensível, com identidade forte e uma
contribuição enorme à arte brasileira.

Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral foi uma das artistas centrais da


pintura brasileira e da primeira fase do movimento
modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu
quadro Abaporu, de 1928, inaugurou o movimento
antropofágico nas artes plásticas.
“Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto
e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior,
aprender com os que ainda não foram corrompidos
pelas academias”, declarou Tarsila em sua volta ao
país, quando passou a explorar as cores e temas do
Brasil profundo.
Lygia Clark
Foi uma pintora e escultora contemporânea que se
autointitulava “não artista”. Movida a novas
experiências e interessada em despertar todos os
sentidos do público, propunha a desmistificação da
arte e do artista e a desalienação do espectador. No
final da carreira de quatro décadas, Lygia Clark
mergulhou na psicologia e nas trocas sensoriais para
criar uma outra linguagem com o público.
Fonte: antigo.funarte.gov.br

Lygia Pape
Lygia Carvalho Pape foi gravadora, escultora, pintora,
diretora de cinema, designer e docente. Integra dois
dos principais movimentos brasileiros de renovação
do cânone construtivo europeu. Sua obra é pautada
pela liberdade com que experimenta e manipula as
diversas linguagens e formatos, incorporando o
espectador como agente.
Fonte: itaucultural.org.br

Se por um lado temos figuras femininas icônicas na história da arte brasileira,


seja na condição de "fundadoras" como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, seja
no papel de disruptoras de sentido, se considerarmos a dupla de Lygias, Clark e
Pape, é preciso pontuar que na produção bibliográfica e crítica há um
apagamento das agentes mulheres e um enaltecimento de artistas homens.

Apesar da presença delas, são os homens os indicados como relevantes nas


ações, e são suas obras e trajetórias tidas como relevantes para as narrativas.
Isso pode ser exemplificado pelos dados que trataremos nas páginas seguintes.
De olho nos dados…
Artes plásticas
Publicado por pesquisadores americanos e divulgado pelo National Museum of
Women in the Arts, um artigo mostra que a grande maioria das obras nas
coleções dos 18 maiores museus dos EUA foi produzida por homens brancos.

Eles compõem cerca de 75% dos acervos, enquanto as mulheres brancas


representam 11%. Homens asiáticos e latinos, juntos, somam cerca de 10%, e
menos de 1% das coleções é reservado a todos os outros grupos que não se
encaixam nessas categorias.

A realidade do Brasil não é muito diferente, de acordo com números


apresentados em 2017 por Ana Paula Simione, professora e pesquisadora do
Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Segundo ela, a coleção Freitas Vale, por
exemplo, tem apenas 6% de mulheres entre os artistas do período modernista.

Música
Pesquisa realizada pela União Brasileira de Compositores (UBC) junto a
compositoras, intérpretes, musicistas, produtoras fonográficas e técnicas, não
necessariamente associadas à entidade, e respondida por 252 profissionais do
setor do sexo feminino, constatou que 79% das mulheres na música já sofreram
discriminação de gênero e 53% jamais receberam valores de direitos autorais,
porque não tinham músicas tocando em algum lugar ou não eram associadas à
UBC.

O relatório tinha por finalidade medir a participação feminina entre os


associados e revelou, por exemplo, que do total de associados da UBC (União
Brasileira de Compositores), só 15% são mulheres, e dentro dos 100 maiores
arrecadadores, só 9% são do sexo feminino.
De olho nos dados…
Literatura

Em 115 anos de existência do prêmio Nobel de Literatura, apenas 13 mulheres


foram vencedoras. Nos 60 anos do Jabuti, principal premiação brasileira da
área, só 19,9% dos 84 vencedores na categoria romance foram mulheres.

Entre os 40 membros da Academia Brasileira de Letras, atualmente só cinco


são mulheres. E a primeira a ocupar um dos postos, Rachel de Queiroz, só
conquistou a cadeira 80 anos depois da criação da instituição.

Mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras, entre 1965
e 2014, foram escritos por homens. Esse é o resultado de pesquisa
desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea,
coletivo de pesquisadores vinculado à Universidade de Brasília (UNB). Os
dados também mostram que 90% das obras literárias foram escritas por
brancos, e pelo menos a metade dos autores é originária do eixo Rio de
Janeiro/São Paulo.

Os personagens dos livros também refletem esse cenário: 60% das 692
histórias analisadas pela pesquisa são protagonizadas por homens, sendo 80%
brancos e 90% heterossexuais.

Dica de planejamento
Os uso dos dados e estatísticas serve
como estratégica para comprovar seus
argumentos ao longo da produção
textual. Você pode utilizar uma das
informações disponibilizadas nesta seção
para comprovar como a arte de autoria
feminina ainda é pouco valorizada.
“Não se nasce mulher,
torna-se mulher”
Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir (1967) foi uma escritora francesa, filósofa


existencialista, memorialista e feminista, considerada uma das
maiores representantes do existencialismo na França. Ela afirma que
a configuração do “ser mulher” não advém de um destino biológico,
psíquico ou econômico, mas é constituído por uma civilização que
define qual é o seu papel na sociedade.

Durante o século XIX, com o firmamento da sociedade capitalista, os


homens dominaram as funções trabalhistas que representavam maior
status social e econômico, dado que houve um esforço, por parte da
sociedade, em codificar o que as mulheres poderiam ou não fazer.

O empenho em manter a mulher como reprodutora e cuidadora tinha a


intenção de desviá-la do trabalho assalariado tão cobiçado pela
preponderância masculina.

Dica de planejamento
Você pode utilizar o pensamento da
filósofa Simone de Beauvoir para
abordar como a construção social da
identidade feminina prejudicou a
produção e a disseminação do
trabalho intelectual das mulheres.
“É mais difícil matar um fantasma
do que uma realidade.”
Virginia Woolf

Em janeiro de 1931, Virginia Woolf escreveu um texto que foi lido para a
Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres. Convidada para falar sobre as suas
experiências profissionais, a escritora relata que ao começar a escrever suas
primeiras resenhas, havia sido atormentada pelo “Anjo do Lar”, tanto que
preferiu matá-lo.

Vocês, que são de uma geração mais jovem e mais feliz, talvez não tenham ouvido
falar dela – talvez não saibam o que quero dizer com o ‘Anjo do Lar’. Vou tentar
resumir. Ela era extremamente simpática. Imensamente encantadora. Totalmente
altruísta. Excelente nas difíceis artes do convívio familiar. Sacrificava-se todos os
dias. (…) Em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia
sempre concordar com as opiniões e vontades dos outros. E acima de tudo – nem
preciso dizer – ela era pura. Sua pureza era tida como sua maior beleza – enrubescer
era seu grande encanto. Naqueles dias (…) toda casa tinha seu Anjo. E, quando fui
escrever, topei com ela já nas primeiras palavras. Suas asas fizeram sombra na
página; ouvi o farfalhar de suas saias no quarto. Quer dizer, na hora em que peguei a
caneta para resenhar aquele romance de um homem famoso, ela logo apareceu atrás
de mim e sussurrou: ‘Querida, você é uma moça. Está escrevendo sobre um livro que
foi escrito por um homem. Seja afável; seja meiga; lisonjeie; engane; use todas as artes
e manhas de nosso sexo. Nunca deixe ninguém perceber que você tem opinião
própria. E principalmente seja pura.
(Trecho de “Profissões para mulheres”, primeiro artigo do livro – Tradução de Denise Bottmann)

Dica de planejamento
Você pode utilizar a alegoria do “Anjo do
Lar”, criado pela autora, para exemplificar
como, ainda hoje, as mulheres são
atormentadas pelo modelo de feminilidade,
o que impacta diretamente na produção,
valorização e disseminação de suas
produções artísticas.
O sorriso de Monalisa se passa nos
anos 1950, mas faz circular temas
pertinentes para se pensar a
posição da mulher na sociedade,
principalmente no estudo da arte. A 2003
trama conta os primeiros passos de
Katherine Watson como professora
de História da Arte de uma das mais
renomadas e conservados
universidades da Inglaterra. Acesso aqui

Grandes olhos conta a história de


Margaret e o sucesso alcançado
pelo marido ao assumir a autoria de
suas obras. Com a justificativa de 2015
que, como mulher, ela não
conseguiria vender suas pinturas,
atrelado ao bom poder de
negociação de seu marido, ele passa
a assinar todos os quadros e
mantém sua esposa produzindo sem Acesso aqui
ter qualquer reconhecimento.

No vídeo produzido pela TV UFMG,


a professora Constância Lima
Duarte aborda o lugar da mulher na
2017
literatura e promove uma reflexão
sobre a importância da presença
feminina nesse território.
aq ui
Acesso
Como valorizar a arte de autoria feminina no Brasil

TESE
Arte brasileira vem reproduzindo padrões de exclusão
impostos pela sociedade.

ARGUMENTO 1 ARGUMENTO 2
A construção social da A omissão do Governo no que
identidade feminina prejudica diz respeito à valorização da
a produção e a disseminação arte, principalmente produzida
da arte de mulheres. por mulheres, contribui para
que ela seja pouco valorizada.

Proposta de intervenção
Proposta de intervenção Agente: Governo junto ao
Agente: Ministério da Programa Nacional de Apoio à
Educação Cultura (PRONAC)

Promover nas escolas Garantir a captação e


conhecimentos acerca da canalização de recursos
arte de autoria feminina e para artistas e projetos de
garantir que haja autoria feminina em todo
discussões nas instituições país.
escolares sobre os papéis
de gênero na sociedade.
BEAUVOIR, Simone. O segundo Sexo. Tradução de Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1967.

COSTA, Isabel. Mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e
2014 foram escritos por homens. Disponível em:
<https://blogs.opovo.com.br/leiturasdabel/2017/11/30/homens-e-brancos-tem-maior-fatia-no-
mercado-editorial-desde-1965/> Acesso em: 04/02/2022

MASSUELA, Amanda. Quem é e sobre o que escreve o autor brasileiro, 2018. Disponível em: <
https://revistacult.uol.com.br/home/quem-e-e-sobre-o-que-escreve-o-autor-brasileiro/>. Acesso
em: 04/02/2022

Pesquisa: 79% de mulheres que atuam na música são discriminadas, 2021. Disponível em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-05/pesquisa-79-de-mulheres-que-atuam-n
a-musica-sao-discriminadas#:~:text=Escolaridade,grau%20incompleto%20ou%20menor%20esc
olaridade.> Acesso em: 04/02/2022

Pesquisas apontam a baixa representatividade em museus, 2019. Disponível em:


<https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/noticia/2019/02/pesquisas-apontam-baixa-represent
atividade-em-museus.html>. Acesso em: 04/02/2022

VERGÍLIO, Iris. LEIA MULHERES: PROJETO VALORIZA A PRODUÇÃO INTELECTUAL


FEMININA, 2021. Disponível em:
<https://elle.com.br/cultura/leia-mulheres-projeto-valoriza-a-producao-intelectual-feminina-e-d
a-9-dicas-de-leitura> Acesso em: 04/02/2022

Virginia Woolf. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. L&PM. Tradução de Denise
Bottmann.

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