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CONHECENDO A SURDIDADE

Luiz André Brito Coelho – lacoelho@utfpr.edu.br


UTFPR - PPGECT
Ponta Grossa - Paraná
Antonio Carlos Frasson – frasson@utfpr.edu.br
UTFPR- PPGECT
Ponta Grossa - Paraná
Talícia do Carmo Galan Kuhn – taliciagalan@utfpr.edu.br
UTFPR- NUENS
Ponta Grossa - Paraná

Resumo: Este artigo visa apresentar um resumo das principais abordagens relacionadas à
história dos surdos no mundo, segundo o autor Padd Ladd (2013), em sua obra “Em busca
da Surdidade”. Os surdos têm evidências, demonstradas em pesquisas, de que as línguas de
sinais são línguas de fato, e que as vidas coletivas das pessoas surdas são culturas como
qualquer outra. A Surdidade apresenta a existência de um sentido surdo de ser, uma forma de
encontrar respostas às perguntas a muito enraizadas. Cultura é o termo com que os surdos se
identificam com outras pessoas e/ou minorias linguístico-culturais. Ao observar a
comunicação sinalizada entre eles, também se conscientizaram de que os surdos, ao se
juntarem, eram capazes de expressar as suas ideias como qualquer outra pessoa. O
pensamento surdo puro é ‘Sei que sou diferente, que sou surdo. Aceito a minha identidade e
não vou mudar’. Desse modo a surdidade nasceu e cresceu de diversas maneiras para chegar
até um eu coletivo, envolvida por atos de lutas e reivindicações de seus direitos, com algumas
derrotas, mas com muitas vitórias. Muitos surdos acreditavam que quando crescessem se
tornariam ouvintes, então o aparecimento de adultos surdos foi literalmente uma
confirmação de vida para muitas crianças surdas.

Palavras-chave: Educação, Cultura Surda, Surdidade

1 INTRODUÇÃO

Há pouca compreensão quanto ao que é cultura surda. Os surdos continuam buscando


evidências que ‘provem’ que as línguas de sinais são línguas de fato, e que as vidas coletivas
das pessoas surdas são culturas como qualquer outra. Imaginamos como seria nossa vida
atualmente se não tivessem tirado a língua de sinais e os professores surdos da educação dos
surdos depois do Congresso de Milão de 1880, ou forçado a sofrer um século de alienação na
escrita e no exercício da nossa cidadania.
Ladd (2013, p. 3-4) apresenta uma nova denominação de ‘Surdidade’ (em inglês é escrito
como ‘Deafhood’):
Surdidade representa um processo - a luta por que passa cada criança surda, família
surda e adulto surdo para explicarem a si próprios e aos outros a sua existência no
mundo. Reconhece que a existência como pessoa surda é um processo de tornar-se e
manter-se ‘surdo’, também reflete interpretações diferentes de Surdidade, do que
possa significar ser uma pessoa surda numa comunidade surda.

A Surdidade apresenta a existência de um sentido surdo de ser, uma forma de encontrar


respostas às perguntas a muito enraizadas. Ladd (2013) apresenta em uma exposição, ao
perceber dentre outras coisas, a língua gestual e das pessoas surdas na corte otomana,
ilustrando a cooperação entre pessoas ouvintes e surdas durante a Revolução Francesa aonde
até mesmo a Rainha Victoria gestualizava com um empregado surdo. A ideia da exposição
seria cumprir com um dever social não só para com os surdos e os leigos do século XXI, mas
para com aqueles que foram pioneiros do passado, cujos trabalhos ilustraram as inúmeras e
estimulantes dimensões que a surdidade legou ao futuro.

2 O SER SURDO

As comunidades surdas vêm dedicando-se nos últimos 250 anos pelo reconhecimento da
sua verdadeira natureza de “ser-no-mundo”. Nos últimos 120 anos, crianças surdas e os seus
pais têm sido obrigados a viver debaixo de políticas e discursos que buscam evitar que estes
aprendam ou utilizem as línguas de sinais na comunicação, sendo que os professores surdos
foram os primeiros afastados e depois efetivamente proibidos de trabalhar com crianças
surdas. Estas crianças concluem a escola com um nível de leitura correspondente em média ao
de uma criança ouvinte com oito anos, uma fala virtualmente incompreensível, e capacidades
de leitura labial equivalentes a de uma criança ouvinte que na vida a teria praticado no
máximo durante um dia.
Cultura é o termo com que os surdos se identificam com outras pessoas e/ou minorias
linguísticas. Um povo pode existir sem uma língua que lhe seja única, mas sem cultura não
existe ‘povo’, e uma batalha travada para preservar a sua própria língua pode ser encarada
como resistência política, linguística ou econômica, mas é a cultura que a define.
Os utilizadores da língua de sinais são aqueles que nasceram ou ficaram surdos ainda
numa idade muito precoce. Quando desenvolvem suas próprias comunidades e línguas onde
encontram conforto e orgulho. As pessoas surdas facilmente se adaptam a uma outra língua de
sinais diferente da sua e o conceito de surdidade busca abranger tais dimensões. A distinção
entre pessoas que ouvem mal, incluindo pessoas idosas, e as comunidades surdas sinalizantes
tem sido assim ofuscada, como tática deliberada e instrumento usado para suprimir as línguas
de sinais da educação de surdos.
As comunidades surdas sinalizantes pregam um modelo linguístico-cultural – enfatizam
que a sua situação existencial é principalmente a de uma minoria linguística, e não de um
grupo de deficientes. A teoria da deficiência se expandiu a partir do modelo médico da
deficiência. Porém, o movimento da deficiência inverteu este padrão, propondo um modelo
social radical que afirmava a sua igualdade social enquanto seres humanos com direito à
cidadania. Tal abordagem radical tem feito progressos consideráveis nos últimos anos. As
comunidades surdas são modificadas com os diversos movimentos do modelo social, porém,
muitos ficam desconfortáveis com a sua inclusão no modelo social da deficiência porque
inclui as comunidades surdas no grupo da surdez física, ou do conceito médico.
As línguas de sinais são línguas autênticas, e portanto, a cultura surda é uma cultura
autêntica, o que nos leva a concluir que existem epistemologias surdas. É através da cultura
que valores, crenças e ações são mediados. Isso nos torna a todos exploradores, com muito
para dar uns aos outros. As culturas surdas têm uma contribuição importante para dar à
humanidade, nos aspectos do desenvolvimento multilíngue. Aprender sobre culturas de outros
povos é desafiador, requer recursos e paciência consideráveis e quanto ás culturas
minoritárias, não existe nenhuma obrigação para aprendê-las. Quanto ás culturas e línguas
dominantes, somos todos obrigados a apreendê-las, pois são os detentores de poder e dinheiro,
dando á sociedade os moldes de valores e crenças.
Há também fatores psicológicos que moldam a forma como as pessoas se constroem a si
próprias desde a infância. O multiculturalismo e todos os seus desafios apresentam-se cada
vez mais diante de nós, e em todos estes aspectos, o conceito de cultura é a chave para a
mudança efetiva, sendo o objeto do nosso olhar, o processo através do qual os desafios para a
nossa identidade devem ser examinados, e a forma através da qual realizamos alterações.
Ao se estudar os surdos e outras comunidades minoritárias, percebemos que o modelo
que oferece o maior poder gerador é o que concebe as comunidades surdas como sendo objeto
de colonização, pois a dominação de uma comunidade que usa determinada língua por outra
diferente pode resultar num processo muito semelhante ao colonialismo. Lane (1993) examina
paralelos entre o colonialismo e o que ele chama de ‘audismo’ e aponta o motivo econômico
nos lucros obtidos com a comercialização de tecnologia de próteses auditivas como o
principal fator para a imposição desse audismo.
O momento em que os domínios da surdez e da surdidade interagem com o Pós-
Colonialismo, é sintetizado pela afirmação de Merry (1991, p. 894) de que “o colonialismo
descreve a relação entre dois ou mais grupos numa relação de poder desigual onde além de
controlar e reinar sobre o outro, também se esforça por impor a sua ordem cultural no grupo
subordinado.” Compreende-se que todo o processo tem sido mediado por dois conjuntos de
línguas e pelas tentativas de uma erradicar a outra.
Essa visão tem de ser centrada na ‘experiência surda’. Na luta de libertação de alguns
grupos, um argumento forte pode ser feito para aquilo a que Spivak (1990) chama
‘essencialismo estratégico’. As ideologias atuais nos tratos com surdos são caracterizadas pelo
termo ‘surdez’, mas é necessário outro termo que possa criar um espaço onde as
autoconceções dos surdos possam ser examinadas. Daí o uso da expressão ‘surdidade’ ser tão
apropriado, pois torna visível esses discursos surdos que não estão escritos, bem como
maneiras surdas de estar no mundo, de conceber esse mundo e o seu lugar ali.
Nos últimos anos, as hegemonias dominantes foram desafiadas, o que incitou o início das
lutas de descolonização de grupos étnicos e de minorias embora ainda não reconheçam
plenamente as ideologias da libertação dos surdos, que continuam desta forma vulneráveis
tanto a discursos conservadores, como a acadêmicos liberais. Truffaut (1993, p.114), ao fazer
um levantamento da situação geral européia, confirma que ‘a história da educação dos surdos
escrita por pessoas ouvintes substituiu a verdadeira história dos surdos’.
Todos que tem uma visão positiva da surdez parecem despertar para a sua existência
como grupo. Ao observar a comunicação sinalizada entre eles, também se conscientizaram de
que os surdos, ao se juntarem, eram capazes de expressar as suas ideias como qualquer outra
pessoa. Aqueles que os viam negativamente pareciam se focar apenas em indivíduos surdos
isolados, a partir de um discurso sobre os surdos como seres humanos que sofrem de uma
insuficiência ou imperfeição, que são um modelo com deficiência.
É possível encontrar durante uma análise histórica alguns surdos com formação
educacional. Truffaut (1993, p. 15) identifica um, Etienne de Fay, que, segundo informações,
além de ler e escrever, sabia arquitetura, geometria de Euclides, mecânica, desenho, história
sagrada e profana, especialmente da França. A sua ausência de fala não era vista como um
obstáculo ao seu trabalho, que pode ter sido desenvolvido através de gestos-mímica e escrita.
Muito embora insuficientes as informações, considera-se que Etienne de Fay era conhecido
como professor de crianças surdas na Abadia.
Presneau (1993, p.413-6) descreve o uso geral de códigos manuais secretos, sinais
manuais em bailes de máscaras e o seu papel em uma forma de arte, a Commedia dell’arte, o
primeiro autor surdo conhecido de um livro, Pierre Desloges, declara que aprendeu língua de
sinais com um ouvinte, membro italiano de uma dessas companhias.
Durante o Renascimento, Gannon (1981, p.XXV) cita um poeta surdo, Joachin Dubellay,
e o seu Hino à surdez. Deusing, em um livro publicado em 1656, descreve a língua de sinais
sendo utilizada durante um sermão público, onde a esposa e o criado eram intérpretes. Fala-se
também sobre surdos em outros momentos.
Leonardo Da Vinci afirma que ‘as formas dos homens devem ter atitudes apropriados às
atividades a que se dedicam, para que ao vê-los compreendamos o que pensam ou dizem. Isto
pode ser feito copiando os movimentos dos mudos, que falam com os movimentos das mãos e
olhos e sobrancelhas e toda a sua pessoa. Mirzoeff propõe que os pontos de vista de Da Vinci
se estenderam a França, e Montaigne, então, escreveu construtivamente sobre os surdos. Tais
pesquisas indicam uma facilidade latente nos surdos para competências orientadas para a
visão, bem como comprovar que os surdos expressavam a sua humanidade aos olhos de
quaisquer pessoas que duvidassem dela. Desde a década de 1750, tanto os surdos como as
suas línguas de sinais tornaram-se um critério para a especulação crescente sobre a natureza
do homem e da língua.
Groce (1985) comenta a existência de uma comunidade surda considerável na ilha de
Martha’s Vineyard, a partir do seu povoamento, na década de 1640. Muito embora já não
existam surdos ali atualmente, muitos dos ouvintes mais velhos na ilha têm boas memórias
daqueles tempos. Groce complementa que ‘eles não pensavam nada sobre eles, eram iguais a
toda a gente. Sabe, aqui todos falavam língua de sinais’. O interessante da história é que
muitas das pessoas idosas tiveram grande dificuldade em recordar quem era surdo e quem era
ouvinte, comprovando que a atmosfera bilíngue era comum. Sacks (1989, p.35-6), a esse
respeito comenta que ‘a primeira visão disto foi de fato inesquecível. Eles podiam ser pessoas
idosas comuns, até que subitamente, muito surpreendentemente, todos começaram a
sinalizar. Gesticularam durante um minuto, riram e depois voltaram a mudar para a fala’. O
interessante é que o ‘gene surdo’ não foi trazido para a ilha pelos surdos, mas sim por
ouvintes.
Isto indica uma realidade diferente do modelo clássico ocidental do discurso educacional
sobre os surdos, e que é realmente possível imaginar situações e sociedades nas quais a língua
de sinais é incontestavelmente valiosa e, por vezes, valiosa. Quando tanto ouvintes como
surdos são capazes de sinalizar juntos, não existe limitação. A língua de sinais não deve ser
vista como algo desfavorável se era usada abertamente por aqueles que detinham prestígio
social. Um ponto crucial nas construções da surdidade é justamente quando os surdos
afirmam que a comunicação linguística é o indicador primário do seu ser.
Ao discursar sobre uma língua universal, Leibnitz expressa que a língua de sinais pode
fornecer a resposta, ao passo que Descartes usou o exemplo desta como um fator crucial para
distinguir homens de animais. Diderot amplia essa ideia, quando fala que ‘podiamos quase
substituir os sinais manuais por palavras. Digo quase, porque há sinais sublimes que nem
toda a eloquência da oratória pode transmitir’. Montaigne enfatiza que ‘os nossos mudos
debatem, discutem e contam histórias através dos gestos. Vi alguns tão maleáveis e tão
versados nisto, que na verdade são capazes de se fazerem entender quase na perfeição’.
Durante a Revolução Francesa, as relações entre surdos e ouvintes tinham um significado
particular para os surdos. Estes não apenas estavam envolvidos com a classe operária leiga,
como também participavam em organizações políticas defensoras das pessoas da classe
operária. Eles são conhecidos por terem escrito panfletos políticos populares durante este
período e por terem lutado no exército revolucionário, sendo que a própria revolução foi o
primeiro nível político a reconhecer os surdos oficialmente como filhos da nação,
inaugurando desta forma a primeira escola para surdos do mundo. No entanto é preciso
ressaltar que não se deve supor que todas as pessoas leigas tinham atitudes positivas em
relação aos surdos. Os discursos orientados para a fala e para o aspecto clínico da surdez
continuaram durante este período.
Sicard, ao defender a sua posição de que as escolas de surdos são essenciais, enfatiza o
fator linguístico como o elemento como elemento que o humaniza. Indícios históricos
esclarecem que até alguns líderes surdos entraram num discurso pedagógico, ao sentir que não
tinham escolha a não ser aceitar construções como as de Sicard. No entanto, surdos possuem
uma língua que pode ser considerada com uma das descobertas mais afortunadas do espírito
humano, sendo que substitui perfeitamente e com grande rapidez o órgão da fala. Os surdos
percebem a necessidade da comunidade surda de regularizar a língua de sinais para permitir a
existência de um discurso inteligível consistente. Para os ouvintes, o sistema educativo é
identificado como o início do processo de humanização dos surdos. Mas nos discursos
individuais, o fato de se reunirem como comunidade é que é a qualidade humanizadora mais
importante.
Pode-se resumir o discurso surdo da seguinte forma: comunidades surdas possuem
línguas tão especiais que podem ser usadas para dizer coisas que a língua falada não
consegue; elas podem ser adaptadas para atravessar fronteiras internacionais. As pessoas
ouvintes que não conseguem usar eficazmente a língua de sinais são cidadãos ‘gesto-
deficientes’. As línguas de sinais devem ser vistas como um presente para as pessoas
ouvintes, pois juntas melhorariam a qualidade de vida de todos.
A sede de informação é importante fator numa cultura com acesso negado devido ás
omissões da mídia através da ignorância, das restrições oralistas adicionais e da exclusão de
informação parental e educacional. Em sala de aula, cada um buscava ajudar os outros a tentar
entender o que os professores diziam e o que eles queriam dizer com isso. Não haviam líderes
formais. A maioria dos castigos se deviam ao fato de serem pegos sinalizando, e forma que
qualquer um podia tornar-se líder, desde que suportasse o castigo inerente. Isto parecia ser
uma manifestação da cultura dos surdos. Resistir ao Oralismo representava um dos fatores de
rebelião. Aparelhos auditivos eram o símbolo principal do Oralismo.
O pensamento surdo puro é ‘Sei que sou diferente, que sou surdo. Aceito a minha
identidade e não vou me mudar’. Desse modo a surdidade nasceu e cresceu de diversas
maneiras para chegar até um eu coletivo, envolvido por pequenos atos de rebeldia e algumas
pequenas vitórias. Muitos surdos acreditavam que quando crescessem se tornariam ouvintes,
então o aparecimento de adultos surdos foi literalmente uma confirmação de vida para muitas
crianças surdas. É provável que estas construções negativas tivessem mais força em escolas
não internas. A importância de visitantes surdos era a afirmação da identidade e o acesso à
informação sobre a vida era o objetivo principal. Todas as crianças que estiveram em contato
com adultos surdos tiveram uma visão positiva da surdidade, ajudando-os a resistir ao
paradigma da surdez.
As famílias surdas sempre foram o meio pelo qual a surdidade podia ser trazido para as
escolas e absorvida por suas próprias tradições alternativas. Podemos concluir de tudo isto,
dentre outras coisas que, antes do oralismo, as escolas dos surdos transmitiam quantidades
consideráveis de informação sobre as suas comunidades e indivíduos no seu próprio estilo,
histórias que sobreviveram por algum tempo, mas depois manteve-se forte apenas para
aqueles que tinham um sentimento enraizado de surdidade e desejavam encontrar o seu lugar
nesta história alternativa. De forma que seria necessária uma reintegração da história dos
surdos como a principal essência da experiência surda.
Quando examinamos o indivíduo típico de uma cultura maioritária, é possível ter uma
perspectiva se desenvolvendo de duas formas. Um desses é a forma como o indivíduo absorve
a forma como a sociedade maioritária constrói e dissemina as versões da história coletiva. E
outro domínio é dentro da própria família, onde gerações anteriores reapresentam as suas
versões da história da própria família com exemplos que nos conduzem a uma história maior,
concebendo o eu histórico dentro da identidade individual. Para a maioria das culturas
minoritárias, manter um eu histórico forte era importante para ser capaz de resistir ao
paradigma da cultura maioritária sobre o que eles deviam ser.
Nas culturas minoritárias surdas, a experiência deles contém menos diversidade e mais
semelhança coletiva, o que fortalece o laço global que existe entre os surdos. Isso foi
enrijecido pelo medo, medo de que, se levantassem as mãos para sinalizar em frente aos
professores, eram esbofeteados. ‘O medo’ nunca deixou realmente as pessoas surdas, sempre
foi alimentado por saberem fazer parte de uma pequena comunidade ultrapassada e reforçada
pela falta de acesso à informação.
Por isso a história, a cultura, a surdidade deve ser mantida, para auxiliar as crianças
surdas a reforçarem suas identidades. Uma característica comum entre os surdos é a prontidão
em criticar e a relutância em elogiar. Isso foi feito com eles por décadas. São como uma
pérola enterrada na casca, todos com suas competências, mas estimulados a se refugiarem em
suas ‘cascas’. Conflito interior é o termo mais aplicável. E isso fica como uma marca negativa
no que diz respeito à cultura surda, em que nem todos os surdos conseguem sair desse
envoltório imposto por uma cultura majoritária.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir sobre a importância de compreender sobre a vida dos surdos em uma
trajetória histórica apresentada por Padd Ladd (2013) e a visão de demais autores sobre fatos
marcantes de diferentes sociedades surdas. O orgulho sentido em relação à sua língua é
apenas um aspecto de um contexto maior, que é ter orgulho de ser surdo. A comunidade surda
se define em grande parte pelo uso da língua de sinais, e a diferença linguística aliada ao
orgulho pela sua condição pode ser considerada um ato político. Há o início de um balançar o
mundo do ouvinte, que confuso sem compreender esse posicionamento político, começa a ter
menos controle sobre um grupo minoritário.
Essa mudança entre um ‘aprisionamento’ social à autonomia sociocultural permite que
haja uma abertura de espaços sociais quanto à aceitação do outro em sua condição
fisiobiológica linguística e cultural, que aos poucos vai sendo disseminada no meio ouvinte. O
objetivo final, portanto, não é o de criar um gueto de surdos, mas sim de redefinir o que
significa ser surdo na visão dos ouvintes, para que todos, surdos e ouvintes, possam ter
orgulho de viver numa sociedade em que possam ser o que são e aprendendo mutuamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livro
GANNON, J. (1981) Deaf Heritage. Silver Spring, MD: National Association of the Deaf.

GROCE, N. (1985) Everyone Here Spoke Sign Language. Cambridge, MA: Harvard
University Press.
LADD, P. Em busca da surdidade 1: Colonização dos Surdos. Toronto, Sidney:
Multilingual Matters Ltd., 2013. Tradução: Mariana Martini, Portugal, 2013.

LANE, H. (1993a) The Mask of Benevolence. New York: Random House.

LANE, H. (1993b) The medicalization of cultural Deafness in historical perspective. In R.


Fischer and H. Lane (eds) Looking Back. Hamburg Signum.

MERRY, S. (1991) Law and colonialismo. In: Law and Society Review 25, 889-922.

PRESNEAU, J-R. (1993) The scholars, the Deaf and the language of signs in France in the
18th century. In R. Fischer and H. Lane (eds) Looking Back. Hamburg: Signum.

SACKS, O. (1989) Seeing Voices. Berkeley, CA: University of California Press.

SPIVAK, G. (1990) The Post-Colonial Critic: Interviews, Strategies, Dialogues, ed. S.


Harasym. New York: Routledge.

TRUFFAUT, B. (1993) Etienne de Fay and the history of the Deaf. In R. Fischer and H. Lane
(eds) Looking Back. Hamburg: Signum.

KNOWING THE DEAFHOOD

Abstract: The deaf have evidenced evidence in research that sign languages are de facto
languages and that the collective lives of deaf people are cultures like any other. Deafhood
presents the existence of a deaf sense of being, a way of finding answers to deeply rooted
questions. Culture is the term with which the deaf identify with other linguistic-cultural
persons minorities. By observing their signaled communication, they also became aware that
the deaf, in coming together, were able to express their ideas just like any other person. The
pure deaf thought is' I know that I am different, that I am deaf. I accept my identity and I will
not change'. In this way the deafhood was born and it grew of diverse ways to arrive at a
collective I, surrounded by acts of fights and claims of its rights, with some defeats, but with
many victories. Many deaf people believed that when they grew up they would become
listeners, so the appearance of deaf adults was literally a confirmation of life for many deaf
children.

Keywords: Education, Deaf Culture, Deafhood

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