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introdução
Introdução
Nesta unidade, vamos falar a respeito da história da comunidade surda no Brasil e no mundo.
Para tanto, é necessário abordar as leis que o=cializam a língua de sinais e, consequentemente,
autenticam a cultura surda em nosso país.
O campo que melhor protagoniza tais avanços é o da educação, isso porque a escola, por
excelência, molda a identidade cultural e reforça as trocas sociais, de modo a permitir a
construção de valores por meio dos princípios éticos e morais que norteiam a vida humana.
Mitos e Verdades,
Identidade e Cultura
#PraCegoVer : a =gura mostra uma pessoa com síndrome de Down realizando uma atividade na
cozinha com o auxílio de uma pessoa sem de=ciência.
Perceba que fatores subjetivos e objetivos eram utilizados por essas culturas como
instrumentos de identi=cação coletiva. A identidade era moldada a partir das vantagens
percebidas, ou seja, daquilo que se destacava (“atributos”). Tais valores não davam espaço para
quem não se encaixava nessa lógica, e é por isso que encontramos pouquíssimas narrativas a
respeito das pessoas com de=ciência no período antigo.
Sem julgarmos a história, podemos a=rmar que, em sua maioria, a construção de diversas
culturas se pautou na versão dos fatos narrados pelo mais “forte”, isto é, os grupos minoritários
(pobres, mulheres, crianças, pessoas com de=ciência etc.) sempre encontraram di=culdades
para serem vistos e ouvidos. Em última instância, a oportunidade para que outras histórias e
experiências não dominantes fossem também narradas foi tirada pelos grupos dominantes
(GARBE, 2012).
Entretanto, esse outro “lado” da história sempre existiu, por mais que não cedessem espaço
para ele. A cultura surda, por exemplo, se constituiu mesmo com a violência física, o desprezo,
as tensões e os conkitos impostos a ela. Assim, o modo que as pessoas surdas encontraram
para expressar a própria narrativa partiu da perspectiva de sua própria identidade, e não mais
daquilo que foi imposto pelo lado dominante da história.
A língua é um instrumento social e cultural muito poderoso, seja para um povo, seja para um
grupo. No caso do surdo, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) é o seu idioma materno, o que lhe
confere identidade e sentimento de pertença a algo. Pode soar um pouco estranho para alguns
o fato de termos no Brasil uma segunda língua, no entanto, essa situação é ainda mais
conkitante para uma minoria que se utiliza de um idioma que não é falado pelo restante das
pessoas do seu próprio país. O desgaste emocional (e até mesmo físico) para conseguir se
comunicar com a maioria das pessoas faz com que a língua de sinais seja indispensável ao
processo de humanização e de acessibilidade da pessoa surda.
A expressão da cultura surda ganhou visibilidade nos últimos anos, mas ainda existem muitas
di=culdades estruturais. No caso do Brasil, os surdos enfrentam sérios desa=os relacionados à
comunicação, à garantia de seus direitos, ao respeito à sua identidade etc., e isso enfraquece a
validação de novas conquistas. Assim, é importante destacar o esforço de grupos e entidades
que lutam para garantir que a comunidade surda tenha sua identidade preservada, sem
qualquer dependência da comunidade ouvinte (não surdos). Destacamos algumas dessas
instituições a seguir:
Essas e outras instituições vêm se esforçando para promover a cultura surda, de modo a torná-
la mais evidente e acessível, tendo em vista que não são todas as pessoas surdas que as
conhecem e/ou são direcionadas para um atendimento especializado. Isso di=culta a construção
de uma cultura, pois as pessoas surdas não conseguem se apropriar de seu grupo ou, então,
encontram sérias di=culdades para ter acesso a informações adequadas.
Por =m, apesar de a busca por reconhecimento, valorização e estabilidade da cultura surda ser
uma constante, não podemos nos esquecer de que toda e qualquer cultura sofre modi=cações
ao longo do tempo. Isso nos motiva a acreditar que, a partir dos esforços empregados na
atualidade, o futuro nos proporcionará uma sociedade com mais justiça e equidade, sobretudo
para os grupos menos favorecidos.
Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)
A cultura surda sempre esteve presente na história da humanidade, mesmo sendo silenciada e pouco
evidenciada em alguns momentos. Diante disso, assinale a alternativa que indica uma a=rmativa correta
acerca da visibilidade da cultura surda e do espaço que ela tem ocupado em meio à cultura ouvinte
predominante:
a) É por meio da comunidade ouvinte que identi?camos os avanços que a cultura surda tem
conquistado nos últimos tempos.
b) A cultura surda está presente nos diversos espaços sociais. Aos poucos, haverá a
possibilidade de substituirmos algumas palavras por sinais em Libras. Isso tornará o acesso à
informação mais democrático e facilitará a vida das pessoas surdas na cultura ouvinte.
c) Abandonando uma interpretação fatídica e pessimista, os surdos fortalecem suas raízes
culturais a partir da informação, do conhecimento e do fortalecimento de sua própria
identidade.
d) Somente agora a comunidade surda está iniciando o processo de construção da sua cultura.
Ou seja, durante toda a história da humanidade, nunca houve a presença de pessoas surdas.
e) Gradativamente, estamos caminhando em direção a uma cultura em que ouvintes e surdos
terão os mesmos direitos e deveres.
História dos Surdos
Educação na Modernidade
Já de início, é importante ressaltar que, na formação de uma cultura (língua, tradições, valores
etc.), o fator político sempre vai estar presente. Isso inkuencia diretamente na vida dos
indivíduos, sobretudo quando o que está em jogo é o direito de existir e de se expressar.
Nesse sentido, a história dos surdos está diretamente associada à da educação. Como é de
praxe nas sociedades, esse acesso à educação ocorreu primeiramente entre os mais ricos e
nobres. Historicamente falando, é compreensível a preocupação desses grupos em educar seus
parentes surdos, pois, além da questão da herança, a pessoa que desenvolvia a fala poderia ter
acesso ao reconhecimento público de sua capacidade intelectual, emocional e social. Em última
instância, era como se o fato de saber falar concedesse ao sujeito a condição de ser humano
(CABRAL, 2016).
Como panorama geral, é importante apresentar o quadro a seguir, que traz os principais nomes
que se destacaram pelo pioneirismo no trabalho com a pessoa surda entre os séculos XVI e
XVIII:
Quadro 1.1 – Nomes que se destacaram pelo trabalho com pessoas surdas
Fonte: Adaptado de Cabral (2016, p. 34-36).
Em todos os casos, =ca evidente um ensino “reparador”, em que a pessoa surda é vista como
alguém que necessita se ajustar ao mundo ouvinte. Porém, também precisamos considerar que
essas pessoas acreditavam na possibilidade de que os indivíduos surdos fossem educados e,
consequentemente, alcançassem o status social de cidadãos.
Educação na Contemporaneidade –
Congresso de Milão
O que se criou na sequência foi uma tensão entre dois métodos de ensino presentes na
educação de surdos. Assim, o oralismo e a língua de sinais foram objetos de grandes debates
entre os pedagogos, com objetivo de concluir qual seria o melhor instrumento para se educar os
surdos. A disputa acerca dessa temática desencadeou, mais adiante, em 1870, um forte
movimento de oralização na educação, tendo como força motriz as ideias de eugenia e de
“normalização” da pessoa surda (BAGGIO; CASA NOVA, 2017). Como estratégia de
parametrização do assunto, realizou-se, em 1880, o famoso e histórico Congresso de Milão, em
que se decidiu pela seguinte metodologia:
Organizado por uma maioria oralista, teve como principal resultado o banimento
da língua de sinais e a eleição da metodologia oral como exclusiva para a educação
dos surdos. [...] Após o Congresso de Milão, desapareceu a Ogura do professor
surdo, o que pôs Om à convivência pacíOca entre a linguagem falada e a linguagem
gestual na educação dos surdos. Essa virada em direção à busca exclusiva da
oralização trouxe inúmeros prejuízos para a educação e para a articulação político-
social dos surdos (BAGGIO; CASA NOVA, 2017, p. 33).
#PraCegoVer : a =gura mostra uma criança com os dois braços levantados. As mãos seguram papéis
recortados em formato de escola e de balão de diálogo.
Dessa forma, eram necessários novos desdobramentos teóricos e novas pesquisas que
pudessem permitir o progresso da comunidade surda na prática. Dentre as investigações que
emergiram entre 1960 e 1971, destacam-se os seguintes nomes:
William Stokoe (1919-2000) é um dos principais nomes desse período, tendo em vista suas
considerações sobre a linguística e a gramática da língua de sinais norte-americana (ASL).
Mesmo sendo muito criticado na época, inclusive por seus pares, Stokoe incentivou a pesquisa a
respeito do assunto. A partir dele, vários outros linguistas se posicionaram a favor do uso da
língua de sinais na educação de surdos.
Conhecimento
Teste seus Conhecimentos
(Atividade não pontuada)
Em uma perspectiva historiográ=ca, o que temos são diversas tentativas de digni=cação da pessoa
surda e de reconhecimento de sua capacidade de aprendizado. Muitas iniciativas pedagógicas foram
tomadas nesse sentido, ainda que, por vezes, algumas não tenham alcançado os seus objetivos. Porém,
entre erros e acertos, é preciso considerar como válida e necessária a trajetória dos pesquisadores ao
longo dos anos. Diante dessas informações, assinale a alternativa que apresenta uma a=rmativa correta
quanto ao signi=cado da compreensão histórica dos surdos no Brasil e no mundo:
a) As tentativas do passado de educar a pessoa surda não devem ser levadas em consideração,
já que muitos erros foram cometidos nos vários períodos históricos anteriores à modernidade.
b) Conhecer a história dos surdos é fundamental para que os “erros” do passado não se repitam
no futuro. Desse modo, os fatos históricos são cruciais para que, por meio da reUexão e do
debate democrático, a comunidade surda conquiste mais visibilidade e respeito.
c) O interesse dos grupos religiosos em catequizar as pessoas surdas era puramente dogmático,
ou seja, não havia qualquer preocupação com a real condição humana desses indivíduos.
d) As novas de?nições promovidas pelo Congresso de Milão (1880) foram fundamentais para a
implementação o?cial da língua de sinais nas escolas.
e) A comunidade surda poderia ter alcançado patamares maiores ao longo da história, caso não
tivesse sofrido tantas injustiças sociais. No entanto, não convém se ocupar com fatos oriundos
de décadas ou séculos anteriores, tendo em vista que não há como “consertá-los”, tampouco
voltar atrás em relação a decisões tomadas no passado.
Leis de acessibilidade
para Surdos
#PraCegoVer : a =gura é uma placa indicando uma rampa de acesso para pessoas em cadeira de
rodas.
Ao pensarem na inclusão das pessoas com de=ciência, as políticas públicas estão cumprindo o
papel de complementar os direitos civis e de promover o reconhecimento social desse grupo. Ao
longo da história, progressivamente, uma nova mentalidade se instaurou nas pautas
governamentais. Trata-se da inclusão, que permitiu, por exemplo, o acesso da pessoa surda aos
espaços que são rotineiros para os ouvintes.
Obviamente, a pauta da inclusão não surgiu do nada, isto é, sem qualquer pressão e cobrança
social. Ela surgiu a partir do diálogo, de debates, de questionamentos por parte da população e
de pais, mães e demais familiares e amigos de pessoas surdas que enfrentam diariamente o
grande desa=o que é ter um espaço garantido em uma sociedade normalizante como a nossa.
Em 1994, a Declaração de Salamanca trouxe um novo fôlego para o debate referente ao per=l
de escola que se pretendia ter no futuro. Por meio desse documento, reketiu-se sobre uma
educação que fosse de todos e para todos. Em última instância, a Declaração de Salamanca
tinha como objetivo perceber a riqueza das possibilidades de se educar em meio a diversidade
de ideias, culturas e saberes.
Na sequência, essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
Algumas especi=cações foram estabelecidas, como, por exemplo, a formação de professores e
de instrutores de Libras, a garantia da educação das pessoas surdas ou com de=ciências
auditivas, a garantia de acesso à saúde, a difusão da língua de sinais etc. (BRASIL, 2005, on-line).
É importante que você perceba que o processo de inclusão da pessoa surda não é igual ao
processo de inclusão das pessoas com de=ciências que exigem outras formas de acessibilidade.
Para um cadeirante, por exemplo, o rebaixamento de alguns pontos nas calçadas, os banheiros
adaptados e os locais com elevadores garantem o seu direito ao acesso. Nossa intenção,
obviamente, não é a=rmar que a surdez, dentre todas as de=ciências, é a que mais sofre por
falta de acessibilidade, ou que sua causa é mais importante que qualquer outra bandeira. Longe
disso, nossa intenção é que você observe que a surdez tem certas particularidades e demandas
que não são possíveis de serem “sanadas” de imediato.
reflita
Reflita
A pessoa surda, em diversos momentos e por
diferentes fatores e motivos, vivencia a
experiência de se sentir estrangeiro em seu
próprio país, seja no trabalho, seja entre amigos
etc. Assim, conseguir se comunicar de maneira
acessível é indispensável a qualquer pessoa,
principalmente no atendimento às necessidades
básicas. Conhecer a história, aprender a língua
de sinais e saber respeitar as características da
cultura surda são fatores fundamentais para
construirmos uma sociedade mais justa, digna e
humana.
A surdez traz consigo a di=culdade de comunicação, tendo em vista que estamos nos referindo a
pessoas que se comunicam por meio de uma língua diferente da utilizada pelas demais pessoas
no convívio social. Pela impossibilidade de ouvir, a pessoa surda recebe informações somente
quando estas lhe são diretamente comunicadas por meio de sua língua. Esse fator é crucial para
a inclusão do sujeito surdo, uma vez que “o acesso à informação é vital para um indivíduo
participar plenamente na sociedade, e o oposto também é verdadeiro – a falta de informação
contribui para a exclusão social” (MIGLIOLI; SANTOS, 2017, p. 137). Por esse motivo, a
o=cialização da língua de sinais é um dos maiores trunfos da acessibilidade da pessoa surda.
Atualidade das Políticas e das Leis de
Inclusão
No ano de 2004, foi criada, no âmbito do Ministério da Educação (MEC), a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi). O objetivo era debater as
políticas de inclusão e de acessibilidade referentes à pessoa com de=ciência, visando a
aprimorar o fortalecimento da identidade desse grupo. Apesar da pluralidade de pautas e das
limitações de suas ações, a inclusão das minorias era o principal objeto de trabalho da Secadi.
Mesmo com as possíveis críticas com relação à atuação da Secadi, o que se observa é que ela foi
responsável por inúmeras políticas de acessibilidade, não apenas relativas à pessoa com
de=ciência, mas também aos demais grupos minoritários que sofrem com a exclusão social. A
Secadi se manteve durante 15 anos e administrou programas importantes voltados à Educação
de Jovens e Adultos (EJA), à educação no sistema carcerário etc. A educação especial também foi
abarcada pela Secretaria, conforme apresentado por Morais et al. (2018, p. 43-44):
Essas são apenas algumas das políticas instauradas pela Secadi no âmbito das pessoas com
de=ciência. Apesar de sua representatividade, a Secretaria foi extinta por meio do Decreto nº
9.465, de 2 de janeiro de 2019, o que foi considerado um retrocesso, inclusive por grupos de
apoio à pessoa com de=ciência (TAFFAREL; CARVALHO, 2019). Como uma nova proposta de
política de inclusão, o governo federal apresentou o Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de
2020, que institui a “Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida”.
Todavia, da mesma forma que a extinção da Secadi, o novo decreto também recebeu críticas de
entidades como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Comitê Fiocruz pela
Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com De=ciência, o Observatório de Educação Especial e
Inclusão Educacional (ObEE) e o AcolheDown. Essas instituições, em conjunto, discordaram, por
exemplo, do modo como os artigos do decreto abordam a inclusão da pessoa com de=ciência
nos espaços educacionais.
Essas divergências demonstram o caráter político que permeia as leis de acessibilidade, que
dependem, na maioria das vezes, das ideologias presentes em cada governo para existirem ou
não. Tal contexto ideológico inviabiliza a criação de políticas bem estruturadas, pois o risco de
serem alteradas a cada quatro anos é muito grande. Por esse motivo, a sociedade precisa estar
sempre em alerta para que sejam cumpridos os direitos conquistados ao longo da história, bem
como para fortalecer a identidade e a cultura tanto da pessoa surda quanto das demais pessoas
com de=ciência.
praticar
Vamos Praticar
As leis de acessibilidade da pessoa com de=ciência foram construídas e validadas ao longo de várias
décadas, a partir das necessidades dos indivíduos e do olhar atento da sociedade. Dessa forma,
relembrar as principais leis de acessibilidade e de inclusão que existem em nosso país é uma forma
importante de reketirmos sobre o processo contínuo de busca pela garantia dos direitos básicos da
pessoa surda.
Faça uma linha do tempo e, nela, identi=que datas, eventos e leis que contribuem e/ou contribuíram
para garantir o acesso da pessoa surda à educação e à inclusão.
Educação dos surdos no
Brasil
Até aqui, percorremos um belo caminho a respeito da história da pessoa surda, da língua de
sinais e das leis de acessibilidade existentes no país. Dando continuidade a essa temática,
falaremos agora sobre o per=l educacional brasileiro na formação de surdos.
No Brasil, a educação de surdos teve início em meados do século XIX, a partir da chegada do
educador francês Hernest Huet, convidado por Dom Pedro II. Huet foi o fundador do Instituto de
Educação de Surdos-Mudos, inaugurado no dia 26 de setembro de 1857. Atualmente, essa
instituição é conhecida como Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Por inkuência de
seu fundador, a escola utilizava um alfabeto manual e um sistema sinalizado com fortes traços
da cultura francesa (BAGGIO; CASA NOVA, 2017).
saiba mais
saiba mais
Saiba mais
O Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines)
cumpre um papel fundamental na validação da
identidade surda no Brasil. Por ser uma instituição
pioneira e que se faz presente em todo o país (por meio
de seus vídeos, eventos e representantes), o Ines é
essencial para o reconhecimento da comunidade surda
brasileira. Saiba mais sobre o Ines, desde a sua fundação
até os dias de hoje, acessando o site. Na página, você
encontrará vídeos em língua de sinais e legendados,
notícias sobre a cultura surda, informações sobre eventos
e congressos, e muito mais.
ACESSAR
De fato, a educação que se ofertava no Instituto seguia a lógica da época, ou seja, “curar” a
pessoa surda, de modo que ela pudesse participar da vida em sociedade por meio da oralidade.
Esses são rekexos de uma leitura mundial da surdez, o que, no Brasil, não foi diferente.
Falar sobre os direitos da pessoa surda no campo da educação é uma rekexão moderna. Um
discurso inicial de inclusão ocorreu apenas a partir do século XX, no qual as pessoas com
de=ciência foram inseridas. A partir daí, novas leis foram criadas com objetivo de garantir o
acesso da pessoa com de=ciência aos vários setores da sociedade, de acordo com suas
necessidades.
Tal progresso inkuenciou não somente nos aspectos de acessibilidade e de inclusão, mas
também na validação de novas culturas e identidades. Nesse sentido, a cultura surda ganhou
novos signi=cados, espaços e termos. A palavra “surdo”, por exemplo, é relativamente moderna,
uma vez que, antes, ao se referir à surdez, havia uma perspectiva clínica, isto é, enquanto
de=ciência. O termo “de=ciente auditivo” caiu em desuso a partir do Decreto nº 5.626/2005, fato
que trouxe novas características para o surdo e a surdez:
A pessoa surda é deOnida como aquela que, por ter perda auditiva, compreende o
mundo e interage com ele por meio de experiências visuais, manifestando sua
cultura principalmente pelo uso da Libras. O mesmo documento reconhece o direito
dos surdos a uma educação bilíngue, na qual a língua de sinais é a primeira língua,
e a língua portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita, é a segunda
(PEREIRA et al., 2011, p. 97).
Surge, então, um novo ponto de partida, no qual a identidade surda passa a ser priorizada na
discussão. Essa nova abordagem é levada para o ambiente escolar, e a educação da pessoa
surda encontra novos alicerces para se desenvolver (escolas bilíngues e presença de intérpretes
de Libras em escolas regulares). Todos esses fatores foram decisivos para a entrada da língua de
sinais nas escolas, o=cializando um ensino que considera a pessoa surda em suas condições,
identidade e cultura.
É importante ressaltar que a história da educação de surdos não teve início apenas com a
criação de leis e decretos. Muitas experiências pedagógicas já haviam sido criadas para
promover a formação de crianças e jovens surdos e permitir que eles tivessem meios para se
comunicar. Uma das últimas teorias nesse sentido considerava todas as formas de se comunicar
como válidas, sem se limitar a uma ou outra regra linguística em especí=co. Essa abordagem é
chamada de comunicação total, que surgiu por volta de 1990.
A comunicação total encontrava muitas di=culdades em sua prática, sobretudo por não trazer
uma organização sistematizada da língua. Era uma experiência que dependia mais da
compreensão subjetiva de cada indivíduo, pois não incorporava procedimentos e metodologias
justi=cáveis teoricamente.
Essas experiências fazem da língua de sinais um instrumento ainda mais indispensável para se
pensar em uma educação verdadeiramente inclusiva. Majoritariamente, nos dias atuais, o que
temos é a proposta de uma educação bilíngue. O bilinguismo diz respeito ao ensino da pessoa
surda a partir de duas línguas, iniciando sua educação pela língua de sinais e, na sequência, pela
língua de seu país. No caso do Brasil, nas escolas bilíngues, ensina-se Libras, mas acompanhada
da língua portuguesa.
Essa proposta também é alvo de muitas críticas, geralmente movidas pelo fato de que muitas
instituições ditas bilíngues priorizam o ensino da língua portuguesa no processo formativo de
crianças e de jovens surdos. Entretanto, o que se veri=ca é que o bilinguismo é a abordagem
pedagógica na educação de surdos que mais se desenvolveu na atualidade.
Considerando-se os diversos cenários educacionais possíveis, por vezes nos limitamos a pensar
somente a respeito da educação básica. Porém, como =ca a questão da educação superior para
a pessoa surda? No Brasil, existem algumas políticas direcionadas a esse contexto, conforme
veremos a seguir.
Essa prova, de abrangência nacional, deve ser mencionada em nosso material, pois, nos últimos
anos, tornou-se o principal instrumento de acesso à formação superior no Brasil, sobretudo
pelas minorias e camadas mais pobres (BRASIL, 2015). O Enem pontua os candidatos a partir de
conhecimentos sobre disciplinas do ensino médio e de conhecimentos gerais. Para a pessoa
surda, o Enem também é, da mesma forma que para as demais pessoas, um importante
instrumento de acesso ao ensino público, gratuito e de qualidade.
Como forma de inclusão das pessoas com de=ciência, há um aparato estratégico que visa a
diminuir as di=culdades relacionadas à realização das provas, por meio de recursos humanos,
isto é, pro=ssionais que auxiliam na transcrição, ou, então, mediante provas com letras
ampliadas (para pessoas com baixa visão) e locais de acesso com rampas e sinalizações
adequadas (BRIEGA, 2019).
O Decreto nº 5.626/2005 estabelece várias normas para que a pessoa com de=ciência tenha um
acesso adequado a seleções, avaliações e atividades, o que, teoricamente, deveria viabilizar o
processo de formação desses indivíduos sem interferências estruturais e linguísticas, como é o
caso do surdo. Ao falarmos da pessoa surda, novamente encontramos di=culdades especí=cas
para a efetivação de seu direito à acessibilidade, uma vez que a questão da língua, por vezes,
impede a adequada realização das provas.
O recurso disponibilizado pelo MEC para a realização da prova pela pessoa surda era a presença
de um tradutor e intérprete de Libras. Entretanto, devemos lembrar que estamos falando de
uma prova na qual o candidato é avaliado sem qualquer tipo de consulta a materiais. No caso da
pessoa surda e do intérprete, existe a possibilidade de haver frases, termos e contextos que
fujam do conhecimento tanto do surdo quanto do intérprete, o que implica di=culdades na boa
realização da avaliação. Não é à toa que o Inep apresentou dados que indicam que o
desempenho dos surdos nas provas do Enem tem sido um dos mais baixos, mesmo quando
comparado ao desempenho das pessoas com outras de=ciências (BRASIL, 2015). Por esse
motivo, a Feneis se posicionou da seguinte maneira:
Assim, em 2017, o que vimos foi que as provas do Enem disponibilizaram mais uma novidade,
de modo a favorecer, especi=camente, a acessibilidade da pessoa surda à avaliação. Trata-se da
videoprova.
comunicação.
#PraCegoVer : o infográ=co apresenta quatro tópicos em linha horizontal com alguns marcos para o
processo de inclusão. Ao clicar no primeiro tópico, é apresentado o ano de 1994 com o texto
“Reconhecido como o ano da educação, houve grandes avanços para a educação inclusiva a partir da
Declaração de Salamanca. Por meio dela, iniciou-se o processo de inclusão da pessoa com de=ciência
nos ambientes educacionais, com um ensino voltado às suas necessidades, seja de acessibilidade, seja
de comunicação”, ao lado do texto há a imagem de algumas pessoas de costas com os braços
levantados. Ao clicar no segundo tópico é apresentado o ano de 2002 com o texto “A Língua de Sinais
Brasileira é considerada o=cialmente um meio de comunicação e de expressão, a partir da Lei nº
10.436, de 24 de abril de 2002. Com ela, instituições públicas e privadas passaram a permitir o uso de
Libras no atendimento à pessoa surda, conforme suas necessidades”, ao lado do texto há a imagem
de duas mulheres se comunicando por meio da língua de sinais. Ao clicar no terceiro tópico é
apresentado o ano de 2005 com o texto “Se instaura o Decreto nº 5.626, de Dezembro de 2005, o qual
garante a presença não somente de intérpretes nas instituições de ensino, como também a
obrigatoriedade do ensino de Libras em cursos de licenciatura, fonoaudiologia e magistério”, ao lado
do texto há a imagem de um martelo de juiz e uma balança da justiça. Ao clicar no quarto tópico é
apresentado o ano de 2015 com o texto “Entra em vigor a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
De=ciência, que a=rmou a capacidade e a autonomia desses indivíduos para exercerem atos da vida
civil em condições de igualdade com as demais pessoas, nos mais diversos campos: educação, saúde,
trabalho etc”, ao lado do texto há a imagem de uma mulher sorrindo, sentada na cadeira de rodas,
utilizando um notebook branco.
praticar
Vamos Praticar
Na atualidade, temos dois dispositivos legais de suma importância para o reconhecimento da Libras
como instrumento de legitimação da cultura surda. São eles: Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, e
Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Ambos são fundamentais para a identidade surda em
nosso país, tendo em vista os direitos que garantem para esse grupo.
A partir do que foi apresentado, compare os dois dispositivos e busque identi=car quais são os
principais avanços que eles trouxeram para a comunidade surda.
indicações
Material
Complementar
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LIVRO
Ano : 2019
Editora: Letraria
ISBN: 978-85-69395-52-2
conclusão
conclusão
Conclusão
Ao longo desta unidade, aprendemos mais a respeito da história da língua de sinais. Vimos,
também, as di=culdades da pessoa surda em ser reconhecida como humana durante os vários
períodos históricos.
Estudamos as leis de acessibilidade e o percurso histórico de nosso país com relação a construir
políticas públicas voltadas à garantia dos direitos da pessoa surda. No campo da educação,
nossa discussão se deu a partir das conquistas oriundas da língua de sinais e das leis que são
referências para a cultura surda.
referências
Referências
Bibliográficas
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