Você está na página 1de 21

Revista EXITUS

E-ISSN: 2237-9460
revistaicedufopa@gmail.com
Universidade Federal do Oeste do Pará
Brasil

de Melo Moreira, Carlos


TORNAR-SE SURDO: um processo histórico e cultural
Revista EXITUS, vol. 4, núm. 1, enero-junio, 2014, pp. 183-202
Universidade Federal do Oeste do Pará
Santarém, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=553156347010

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
Outros Temas em Educação - 01 p. 183- 202

TORNAR-SE SURDO: um processo


histórico e cultural
Carlos de Melo Moreira93

RESUMO
Este artigo resulta de um estudo bibliográfico que teve como objetivo discutir o pro- cesso
histórico, cultural e identitário do Surdo. Como resultados, constatamos a neces- sidade de
se ter sensibilidade para reconhecer os diferentes processos e fatores que in- fluenciam na
formação de uma identidade e cultura; bem como é preciso estar sensível às diferentes
identidades e culturas surdas que são o resultado de diferentes dinâmicas da vida de cada
surdo e de sua comunidade surda. Constatamos também que historica- mente os surdos
eram considerados deficientes e a surdez era vista apenas como uma patologia. Hoje os
surdos são entendidos como sujeitos em suas diferenças e singula- ridades culturais.

Palavras-chave: Educação de surdos. Diferenças culturais. Identidades surdas.

BECOME DEAF: a case history and cultural

ABSTRACT
This article results from a bibliographic study that aimed to discuss the historical process,
cultural identity and the Deaf. As a result, we see the need to be sensitive to recognize the
different processes and factors that influence the formation of identity and culture, and we
must be sensitive to different cultures and identities deaf that are the result of different dy-
namics of the life of each deaf and his deaf community. We also note that historically were
93
Doutorando em Educação no PPGE UNICAMP. Professor do Instituto de Ciências da Educação da Universidade Federal
do Oeste do Pará. Email: carpedfil@gmail.com

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


184 Carlos de Melo Moreira

considered disabled and deaf deafness was seen only as pathology. Today the deaf are seen
as subjects in their cultural differences and singularities.

Keywords: Deaf education. Cultural diferences. Identities deaf.

INTRODUÇÃO Diante dessa questão, buscamos res-


Com o pressuposto de que os discur- pondê-la com três reflexões convergentes.
sos históricos constroem as narrativas que A primeira, apresentando reflexões a partir
inventam, representam e produzem as pes- da história dos surdos. A segunda, discu-
soas, as coisas, as culturas, as identidades, tindo as três fases na educação dos surdos:
as ideologias, os mitos, as ciências, bem Oralismo, Comunicação Total e o Bilin-
como os lugares que por elas devem ser guismo. E, na terceira parte, demonstramos
ocupados, podemos perceber que a surdez que ser surdo é uma questão de processo
é uma construção cultural; ou seja, a surdez de aquisição e de construção cultural e de
é produzida por discursos de grupos com identidade Surda. Ninguém nasce com a
interesses ideológicos. Construções ideo- cultura surda por ter falta de audição, mas
lógicas podem humanizar ou desumanizar, a pessoa, dentro de suas escolhas existen-
incluir ou excluir uma determinada pessoa ciais, pode se tornar Surda ou não. Trata-
ou o grupo social. se de um processo, um movimento, uma
Diante de diferentes forças ideológi- construção pessoal e coletiva com as co-
cas, esse artigo objetivou discutir o proces- munidades surdas.
so cultural e identitário do Surdo94. Para o
desenvolvimento desse estudo, o método OS SURDOS NA HISTÓRIA: ALGUNS APON-
de pesquisa utilizado foi o bibliográfico. TAMENTOS
Com o objetivo proposto, procura- Dada a diversidade de narrativas his-
mos responder a seguinte pergunta: – Como tóricas sobre os surdos, que por ora podem
se dá o processo histórico, educacional e dificultar este estudo, escolhemos apenas
cultural de tornar-se Surdo? Ou seja, como alguns poucos pontos históricos para me-
uma pessoa surda se torna culturalmente lhor contextualizar e nos mostrar diferen-
Surda, vivendo um processo identitário di- tes concepções sobre os surdos ao longo do
ferente do processo dos ouvintes e não ape- tempo.
nas recebendo um diagnóstico mdico “fa- O primeiro ponto a ser destacado é
talista” de ausência ou perda de audição? que esses discursos e concepções sobre os
Surdos, em sua maioria, foram produzidos
94
O vocábulo Surdo/a com letra maiúscula significa a
cultura Surda e não a falta de audição. por ouvintes, conforme comenta Thoma:

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 185

Imbricada em relações de poder, a educação A Idade Média foi marcada por pe-
dos surdos vem sendo pensada e definida,
historicamente, por educadores ouvintes, quenas iniciativas assistencialistas, con-
embora possamos encontrar em alguns tem- formismo piedoso do Cristianismo, bem
pos e espaços a participação de educadores
surdos (2004, p.9). como pela segregação e marginalização
operadas pelos “exorcistas” e “esconjura-
Isso significa que o olhar que se teve dores” (STROBEL, 2006).
e que ainda se tem em relação aos surdos No século XvI, aparecem os primei-
partiu, em sua maioria, de representações ros surdos na cena educacional. Na Espa-
ouvintes. nha, um monge beneditino chamado Pedro
Historicamente, na antiguidade, Ponce de Leon (1520-1584) educou filhos
percebemos que entre os espartanos e os surdos de nobres.
gregos havia a necessidade de elimina- Segundo Costa:
ção dos sujeitos surdos, devido aos ide-
Era necessário que os filhos surdos de no-
ais de perfeição. A busca do corpo per- bres aprendessem a falar, ler, escrever, fazer
feito e belo. contas, rezar, assistir à missa e confessar-se
mediante o uso da palavra oralizada. A pala-
Em Roma, segundo Strobel, comen- vra falada conferia a visibilidade necessária a
tando sobre as formas de eliminação dos um nobre, que servia de modelo a outros por
sua educação e posição. Os procedimentos
diferentes, diz que: de controle do corpo e de “cura” da deficiên-
cia por meio de terapias da fala submetiam
As crianças recém nascidas tidas como dife- aqueles que eram surdos a um duro proces-
rentes eram colocadas na base de uma está- so de “normalização” e de disciplinamento.
tua nas praças principais e então devoradas (2010, p.41).
pelos cães. Por este motivo muitos historia-
dores pensaram que certamente às crianças
surdas não se desse tal destinação dado que, A finalidade dessa educação discipli-
seguramente, mesmo hoje é muito difícil fa- nadora era o acesso desses sujeitos surdos
zer um diagnóstico precoce da surdez (2006,
p.246). à herança de suas famílias. Já os surdos, fi-
lhos de famílias pobres, geralmente eram
No entanto, outros historiadores rela- recolhidos por instituições de caridade.
tam que, Assim, é possível perceber que havia dois
tipos de instituiões: “instituiões para po-
Por volta de 753 a.C., o fundador de Roma, bres e instituiões para nobres” (COSTA,
o imperador Rômulo, decretou uma lei onde
todos os recém-nascidos que fossem incô- 2010, p.43), como acontece ainda hoje nas
modos para o Estado deveriam ser mortos várias instituições escolares contemporâ-
até os três anos. Então, por isso, muitos sur-
dos não conseguiam fugir deste destino bár- neas. No entanto, o discurso era o mesmo:
baro (STROBEL, 2006, p.247). caritativo e de salvação divina.

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


186 Carlos de Melo Moreira

Percebemos que a posição do sujei- nização, caso contrário, eram considera-


to surdo através da história, até o século dos como semelhantes aos ouvintes, mas
XvI, predominou como a de não humano, infelizes, reduzidos à condição de animal,
sem identidade, sem cultura, não falante, sem identidade e sem cultura, figura da
incapaz de aprender, sem possibilidade de anormalidade, sujeitos de experiência,
desenvolvimento moral e/ou intelectual. monstro bestial, semelhantes aos animais
Sujeito de direito à vida, mas não à edu- por seus gritos e gestos comparados aos
cação. Insensível, sem raciocínio, idiota. dos macacos, violador das leis jurídicas
Considerado aquele que não tinha possibi- e da natureza. O surdo, em sua posição,
lidade de construir pensamentos e expres- estava desprovido de alguma coisa, enfra-
sar sentimentos. Subnormal, impuro para o quecido, cortado, impedido, abobalhado
culto, rejeitado socialmente por despertar ou estúpido, fraco de espírito, sem inteli-
medo e por razões de profilaxia. Asseme- gência, sem identidade, profanador da lei
lhado aos loucos, fora do universo huma- divina ou um monstro (COSTA, 2010).
no. Adotados por congregações religiosas No século XvIII, o importante edu-
que faziam caridade (COSTA, 2010). cador na história dos surdos Charles-Mi-
Somente após o século XvI, com o chel de L’Epe (1712-1789) “em 1760,
início da educação dos surdos, essa narra- transformou sua casa na primeira escola pú-
tiva passou a ser a de apto à linguagem, à blica para surdos” (THOMA, 2004, p.12).
comunicação, aos pensamentos, aos sen- O Abade L’Epe é, desse modo, o criador
timentos, à moral, ao trabalho, que não do Instituto Nacional de Surdos-Mudos de
é mais rudimentar. O surdo passou a ser Paris. L’Epe institui, pela primeira vez, o
visto como um ser humano. Os surdos ensino coletivo.
passaram a ocupar a posição daqueles De acordo com Costa:
que poderiam ser ensinados a falar, a ler,
A educação de surdos feita por L’Épée fun-
a escrever e, sobretudo, a serem cristãos.
cionou como condição de possibilidade para
Mais tarde, essa narrativa centrava-se em que muitos surdos se articulassem numa
comunidade surda e para que a modalidade
uma proibição – a de se comunicar através
linguística desse grupo pudesse ser reconhe-
de sinais – e ele era obrigado a se oralizar. cida como uma forma de comunicação e um
método de aprendizagem. (2010, p.44).
A fala passa a ser valorizada para a aceita-
ção social do surdo. A posição do sujeito
surdo é afetada pela obrigatoriedade da Isso porque L’Epe, percebendo que
oralização a partir do Congresso de Milão, entre os surdos havia uma forma de
em 1880. Sua condição de humanização comunicação – através dos sinais – ela-
estava condicionada ao ensino e à cristia- borou um método que relacionava estes

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 187

sinais com o alfabeto francês. Tal mé- Essa posição, porém, não era consen-
todo foi chamado “Sinais metódicos” so entre os especialistas e as famílias. Um
(COSTA, 2010). exemplo do não consenso é o de Thomas
Também no século XvIII começa a gallaudet (1787-1851), um americano que
formar-se um paradigma em relação à edu- se interessou pela língua de sinais por ter
cação dos sujeitos anormais: é o paradigma convivido na infância com uma vizinha
de institucionalização. Surgiram a partir surda: Alice Cogswell. No Instituto Na-
daí inúmeras instituições específicas para cional de Surdos-Mudos, na França, teve
cada tipo de anormalidade identificada: es- contato com a educação de surdos. Em
colas para deficientes mentais, escolas para 1817, ao retornar aos Estados Unidos com
cegos, escolas para surdos etc. seu Professor Francês Laurent Clerc, fun-
De acordo com Thoma (2004, p.12), da a primeira escola pública para surdos.
“no sculo XvIII, acreditava-se que reunir “Quase cinco dcadas mais tarde, no ano
os corpos surdos em instituições totalitá- de 1864, foi criada naquele país a Univer-
rias tornava possíveis as ações do poder sidade Nacional para Surdos-Mudos, hoje
disciplinar e viabilizava a produção da do- Universidade gallaudet” (THOMA, 2004,
cilidade e da utilidade”, ou seja, aões de p.12).
normalização de corpos e mentes. Nesse Em 1855, veio para o Brasil, mais es-
caso, tais instituições buscavam normali- pecificamente, para o Rio de Janeiro, o sur-
zar os surdos por meio do treinamento da do francês Eduard Huet. Ele fundou, com
fala. Nessa lógica, podemos nos referir à apoio de Dom Pedro II, o Imperial Instituto
Samuel Heinicke (1727-1822) que fundou de Surdos-Mudos, no dia 26 de setembro95
a primeira escola oral de surdos na Alema- de 1857. Huet havia sido diretor do Insti-
nha, em 1750. Estabelece-se, pois, o siste- tuto da França, e, portanto, podemos afir-
ma de internato: mar, de acordo com Costa, que “no Brasil,
a educação de surdos deu-se sob influência
Desde o século XVIII, mediante o sistema de
direta do Instituto de Paris. O Instituto Na-
internato, as famílias passavam parte de seu
compromisso com a educação dos filhos para cional de Surdos desenvolveu-se com um
as escolas. As famílias dos surdos encontra-
forte acento na caridade e na benevolên-
ram no sistema de internato uma forma de
garantir o desenvolvimento dos filhos, bem cia” (2010, p.48).
como de propiciar-lhes um ambiente estimu-
Nesse contexto favorável de desen-
lador e cercado de cuidados com sua saúde. A
surdez, entendida como um problema de saú- volvimento da educação de surdos no Bra-
de, castigo ou algo a ser corrigido, era tratado
95
de forma a minimizar seus efeitos aparentes, Dada a importância da fundação deste Instituto, hoje
fazendo-se os sujeitos surdos falarem como se chamado de Instituto Nacional de Educação de Surdos-
fossem ouvintes. (COSTA, 2010, p.43-44). INES, 26 de setembro passou a ser comemorado, no
Brasil, o Dia nacional do Surdo.

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


188 Carlos de Melo Moreira

sil, a Língua de Sinais Brasileira ganhou religioso e jurídico. Para respondermos


forças com a fundação do Imperial Institu- neste momento mais diretamente a nossa
to de surdos-mudos. A LIBRAS é o resulta- pergunta norteadora e atingir o nosso obje-
do da mistura da Língua de Sinais Francesa tivo, destacamos três pontos que merecem
com os sistemas de comunicação já usados maior atenção em relação à história do su-
pelos surdos das mais diversas localidades jeito surdo, por representarem deslocamen-
brasileiras. Quando os surdos terminavam tos em sua concepção. Os dois primeiros
seus estudos no Instituto, voltavam para as relacionam-se diretamente à condição de
suas cidades, levando e ensinando a língua humanidade: é a posição sujeito surdo tor-
brasileira de sinais e, dessa forma, esta lín- nado humano. O primeiro deles é que, com
gua foi se espalhando por todo o país, até o cristianismo, o surdo passou a ser assunto
a sua oficialização, somente em 24 de abril da consciência ética espiritual. O segundo
de 2002, com a Lei 10.436 e o Decreto-Lei encontra-se na educação, no momento em
5.626, de 22 de dezembro de 2005. que o surdo passa a ser considerado como
Devido às fortes mudanças de con- ensinável, sua posição é deslocada e ele
cepções filosóficas sobre a surdez e as ten- passa a ser, também, um sujeito de direito,
dências pedagógicas internacionais de cada com identidade e cultura própria.
período, o Instituto Nacional de Educação O terceiro ponto está relacionado à
dos Surdos transformou a sua concepção e linguagem. Percebe-se que a concepção de
a sua prática pedagógica em relação à edu- linguagem, ao longo da história, é predo-
cação do surdo por várias vezes, seguindo minante para que a posição sujeito surdo
os padrões internacionais de cada época. seja deslocada. A linguagem, por um longo
Segundo Thoma: período não sendo concebida fora da orali-
dade, foi propulsora da posição de não hu-
O atendimento desse instituto priorizou a
manidade dada ao surdo. E essa discussão
educação oralista durante um longo período
por acreditar que era inútil tentar ensinar os foi tão intensa que, mesmo após mudanças
surdos a escrever, já que o analfabetismo era
históricas significativas em direção à edu-
condição da maioria da população brasileira.
Por isso, a fala era o único modo pelo qual os cação do surdo e, portanto, em direção a
surdos poderiam integrar-se na sociedade e
uma nova concepção de linguagem, ela
no mercado de trabalho. As meninas foram
mantidas fora da instituição até 1932. (2004, retornou com força total no Congresso de
p.12).
Milão de 1880 e devolveu ao sujeito sur-
do a condição de falta, de quem deveria se
Notamos até aqui que estão pre- igualar a um padrão de normalidade. De-
sentes, nas atribuições da posição sujeito volveu também à linguagem a condição
surdos, os discursos social, patológico, de não concebida fora da oralidade (COS-

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 189

TA, 2010). O Congresso de Milão trouxe para o código da fala dentro de uma abor-
grandes prejuízos e atrasos linguísticos, dagem oral. Diferentemente, para aqueles
pedagógicos, humanos, históricos, sociais que não têm razoável resíduo ou mesmo
e econômicos para o desenvolvimento das que apresentam grandes dificuldades em
culturas e identidades surdas e das línguas desenvolverem a oralidade, a Língua de Si-
de sinais em todo o mundo. nais constitui-se na língua mais adequada
para o sujeito interagir com o meio.
EDUCAR OS SURDOS: UM DESAFIO ME- As discussões existentes entre os de-
TODOLÓGICO fensores das diferentes filosofias ou méto-
Ter conhecimento sobre a história, dos demonstram que há diferentes formas
bem como sobre as filosofias e métodos de enfrentar as consequências da surdez,
educacionais criados para ensinar os sur- respeitando-se cada pessoa e as escolhas de
dos, nos permitem a compreensão da rela- sua família. O professor, junto com os pais,
ção existente entre o compromisso linguís- deve explorar e buscar alternativas para
tico dessa população, a qualidade das suas cada aluno, no sentido de provocar o desen-
interações interpessoais e o seu desenvol- volvimento pleno de suas potencialidades.
vimento cognitivo. A história serve de su- As fases ou os métodos de ensino,
porte para que seja feita uma análise crítica como são muitas vezes chamados, divi-
das consequências de cada filosofia ou mé- dem-se em três abordagens principais que
todo de ensino no desenvolvimento destes produziram muitas formas de se trabalhar
sujeitos surdos. com o aluno surdo. São eles: o método do
Como foi apresentado no item ante- Oralismo, o da Comunicação Total e o do
rior, a partir do século XvI o surdo ganha Bilinguismo.
uma nova interpretação histórica e propos-
tas e métodos começam a ser criados para Oralismo
a sua educação. A maioria desses métodos Em 1880, aconteceu um marco na
inicialmente fundamentava-se em substi- história da educação dos surdos, que mu-
tuir a audição perdida por outro canal sen- dou todo o cenário de até então. Ocorreu,
sorial, como a visão, o tato, ou aproveitan- na Itália, o Congresso de Milão.
do os resíduos auditivos existentes. De acordo com Lulkin:
O aspecto dos métodos considerado
Nesse evento internacional onde se reúnem
o mais problemático é a afirmação de que
profissionais dedicados à educação de sur-
existe apenas um método para todos os sur- dos, dois terços dos 174 congressistas são
italianos. Os outros são franceses, ingleses,
dos. Para aqueles surdos que têm resíduos
suecos, suíços, alemães e americanos. De to-
auditivos, pode ser oferecido um acesso dos os congressistas, somente um é surdo!

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


190 Carlos de Melo Moreira

Com exceção de Edward Gallaudet, delega- nância do Oralismo, foram obtidos pou-
do norte-americano, o Congresso celebra a
vitória do oralismo sobre a inferioridade da cos resultados quanto ao desenvolvimento
língua gestual. As manifestações em favor da da fala, pensamento e aprendizagem dos
supremacia da língua oral, em favor da pure-
za natural da palavra falada, traduzem o es- surdos. As técnicas usadas nesta corrente
pírito da época, marcado pela racionalidade pedagógica eram de estimulação da fala,
em oposição à emoção. (2005, p.37).
desenvolvimento da leitura orofacial, am-
pliação da capacidade de compreensão,
Após a decisão tomada no Congresso
atenção e memória através da repetição,
de Milão, toda a Europa adotou o Oralis-
desestimulação do uso de sinais, gestos,
mo como método escolar, o que resultou na
mímica (SKLIAR, 2001).
quase extinção oficial da língua de sinais.
No entanto, o Oralismo extrapolou
Apenas os Estados Unidos preservaram a
os muros das escolas e contribuiu para a
Língua de Sinais (THOMA, 2004).
formação de estereótipos e representações
Porém, marginalmente, a língua de
marginais sobre os surdos. Além disso, o
sinais continuou existindo na comunicação
Oralismo não foi substituído por outro mé-
dos surdos, que se escondiam nos banhei-
todo ou extinto. Ele permanece até hoje
ros, nos quartos à noite, já que a maioria
como proposta educacional (SKLIAR,
das escolas eram internatos, nos pátios das
2001).
escolas e em outros espaços marginais,
De acordo com goldfield (1997), o
onde se comunicavam em língua de sinais
Oralismo visa a integração do surdo na co-
(THOMA, 2004).
munidade dos ouvintes, dando-lhe condi-
Desse modo, instituiu-se o Oralismo
ções de desenvolver a língua oral (no caso
como método de ensino imposto e oficializa-
do Brasil, o português). Para alguns defen-
do por ouvintes para a educação dos surdos.
sores dessa filosofia, a linguagem restrin-
De acordo com Skliar:
ge-se à língua oral sendo por isso mesmo
A concepção de sujeito surdo no oralis- mo esta a única forma de comunicação para os
diz respeito exclusivamente a uma di- surdos. Acreditam assim que, para a crian-
mensão clínica – a surdez como deficiên-
cia, os surdos como sujeitos deficientes ça surda se comunicar, é necessário que ela
– numa perspectiva terapêutica, segundo a saiba oralizar.
qual a surdez e os surdos devem ser, em
primeiro lugar, curados e/ou reabilitados Para goldfield (1997), o Oralismo
(2001, p.88). concebe a surdez como uma deficiência
que deve ser minimizada por meio da esti-
Nessa perspectiva, houve a imposi- mulação auditiva que possibilitaria a apren-
ção do modelo ouvinte ao surdo. Durante dizagem da língua portuguesa e levaria a
aproximadamente um século de predomi- criança surda a integrar-se na comunidade

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 191

ouvinte, desenvolvendo sua personalidade vem ser deixados de lado só por causa da
como a de alguém que ouve. Isso significa aprendizagem da língua oral.
que o objetivo do Oralismo é fazer a reabi- Defende assim a utilização de qual-
litaão da criana surda em direão  “nor- quer recurso espaço-visual como facilita-
malidade”. dor da comunicação. Diferentemente do
O método do Oralismo consiste em Oralismo, a Comunicação Total acredita
fazer com que a criança receba a linguagem que o aprendizado da língua oral não asse-
oral através da leitura orofacial e amplifi- gura o pleno desenvolvimento da criança
cação sonora, enquanto se expressa através surda.
da fala. gestos, Língua de Sinais e alfabeto A Comunicação Total valoriza a co-
digital são expressamente proibidos. municação e a interação e não apenas a lín-
gua. Seu objetivo maior não se restringe ao
Comunicação Total aprendizado de uma língua.
Aproximadamente no final da década De acordo com Skliar (2001), a co-
de 1960 e início de 1970, surge outra cor- municação total teve um fim em si mesmo
rente filosófica ou método na educação dos que não se completou. Referindo-se à ex-
surdos: a Comunicação Total. A diferença periência da comunicação total na Dina-
entre a Comunicação Total e o Oralismo é marca, Skliar afirma que:
que esta tenta garantir a comunicação sur-
As crianças não tiveram uma versão visual da
do-ouvinte e surdo-surdo, sendo que a lín-
língua dinamarquesa e, em troca, receberam
gua de sinais é oferecida como uma língua um input linguístico muito inconsciente, pelo
qual não entendiam nem os sinais nem as
de apoio para a aquisição da comunicação
palavras orais. Tendiam a utilizar-se de uma
oral e da escrita (SKLIAR, 2001). meia-língua, misturando as duas línguas para
sobreviver comunicativamente, mas não
AComunicação Total define-se como
tinham a menor ideia sobre onde acabava
uma filosofia ou um método que requer a uma língua e onde começava a outra (2001,
p.90).
incorporação de modelos auditivos, manu-
ais e orais para assegurar a comunicação
eficaz entre as pessoas com surdez. Tem Por isso, essa corrente filosófica ou
como principal preocupação os processos método foi chamado de Comunicação To-
comunicativos entre surdos e surdos, e en- tal, pois se utilizava de todo e qualquer
tre surdos e ouvintes. meio para estabelecer a comunicação. Ao
mesmo tempo, isso fez com que o sujeito
Este método se preocupa também
surdo não tivesse nenhuma forma de co-
com a aprendizagem da língua oral pela
municação consistente, que lhe ofereces-
criança surda, mas acredita que os aspectos
se condições linguísticas satisfatórias de
cognitivos, emocionais e sociais não de-

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


192 Carlos de Melo Moreira

aprendizagem e desenvolvimento, preju- reconhecimento dos surdos como pessoas


dicando a constituição de sua identidade surdas e da sua comunidade linguística es-
e cultura. Assim, não houve espaço para a tão inseridos dentro de um conceito mais
língua de sinais, pois esta, quando utiliza- geral de bilinguismo.
da, era modificada para se tornar processo Esse conceito mais geral de Bilin-
secundário e auxiliar do processo educati- guismo é determinado pela situação socio-
vo. cultural da comunidade surda como parte
Portanto, a comunicação total tam- do processo educacional. O fato de serem
bém representa o surdo a partir de uma pressupostas duas línguas no processo edu-
visão estritamente relacionada com o défi- cacional da pessoa surda, a Língua Brasi-
cit biológico, pois acredita ser ele um de- leira de Sinais e a Língua Portuguesa, está
ficiente da comunicação (SKLIAR, 2001). inserido num processo educacional. Bilin-
Diante das limitações desses dois guismo para surdos atravessa a fronteira
métodos, Oralismo e Comunicação Total, linguística e inclui o desenvolvimento da
ocorreu, então, a valorização da língua de pessoa surda dentro da escola e fora dela,
sinais e o reconhecimento da existência de seguindo uma perspectiva socioantropoló-
uma cultura surda, identificada principal- gica.
mente pela língua. E, desse modo, acon- Contudo, trata-se de uma filosofia ou
teceram mudanças significativas na edu- método que vem ganhando força na última
cação dos surdos. Somente a partir desse década, principalmente no Brasil. Configu-
novo contexto é que surgiu uma nova pro- ra-se como uma proposta recente defendi-
posta de educação de surdos, a educação da por linguístas voltados para o estudo da
bilíngue. Língua de Sinais e a educação de surdos.
Ainda não foi feita uma avaliação crítica
Bilinguismo desse método, pois, de maneira geral, ainda
O Bilinguismo, num sentido mais não foi efetivamente implantado nas esco-
restrito, é um método de ensino usado por las.
escolas que se propõem tornar acessível à O Bilinguismo parte do princípio de
criança duas línguas no contexto escolar. que o surdo deve adquirir, como sua pri-
Os estudos têm apontado para essa propos- meira língua, a língua de sinais em sua
ta como sendo mais adequada para o ensi- comunidade surda. Isso facilitaria o desen-
no de crianças surdas, tendo em vista que volvimento de conceitos e sua relação com
se considera a língua de sinais como lín- o mundo. Aponta o uso autônomo e não si-
gua natural e parte desse pressuposto para multâneo da Língua de Sinais, que deve ser
o ensino da língua escrita. No entanto, o oferecida à criança surda o mais precoce-

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 193

mente possível. A língua portuguesa é ensi- respeite a experiência psicossocial e lin-


nada como segunda língua, na modalidade guística da criança surda.
escrita e, quando possível, na modalidade Para Lacerda:
oral, dependendo de cada caso.
O objetivo da educação bilíngue é que a
Contrapõe-se às propostas da Comu-
criança surda possa ter um desenvolvimento
nicação Total, uma vez que não privilegia cognitivo-linguístico equivalente ao verifica-
do na criança ouvinte, e que possa desenvol-
a estrutura da língua oral sobre a Língua de
ver uma relação harmoniosa também com
Sinais. ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a lín-
gua de sinais e a língua do grupo majoritário
De acordo com Brito (1993), no bi- (2000, p.54).
linguismo a língua de sinais é considerada
uma importante via para o desenvolvimen- Portanto, não há um consenso,
to do surdo, em todas as esferas de conhe- muito menos apenas um modelo de edu-
cimento, e, como tal, propicia não apenas cação bilíngue a ser seguido. Existem di-
a comunicação surdo – surdo, além de de- versas experiências de educação de sur-
sempenhar a importante função de suporte dos, as quais vêm se denominando bilín-
do pensamento e de estimulador do desen- gues, algumas por oferecerem as duas
volvimento cognitivo e social. línguas, concomitantemente; outras por
Para os bilinguistas, os surdos for- oferecerem a língua majoritária apenas na
mam uma comunidade, com cultura, iden- modalidade escrita; outras, ainda, por
tidade e língua próprias, tendo, assim, uma exigirem do surdo, também, a oralidade
forma peculiar de pensar e agir que devem desta língua.
ser respeitadas. De acordo com Skliar (2001), os
Segundo Quadros (1997), o bilin- múltiplos projetos chamados de educação
guismo é uma proposta de ensino usada por bilíngue para surdos não têm que conten-
escolas que se propõem tornar acessível à tar-se simplesmente em definir formalmen-
criança duas línguas no contexto escolar. te a utilização das duas línguas dentro da
Os estudos têm apontado para essa pro- educação de surdos. Trata-se de línguas
posta como sendo a mais adequada para o diferentes, com representações diferentes e
ensino das crianças surdas, tendo em vista concepções também diferenciadas. A Lín-
que considera a língua de sinais como lín- gua de Sinais é a língua natural do surdo e
gua natural e parte desse pressuposto para deve sempre ser ensinada primeiro à crian-
o ensino da língua escrita. ça surda.
A preocupação do bilinguismo é res- Desse modo, é possível ver os sur-
peitar a autonomia das línguas de sinais dos como pessoas diferentes linguística
organizando-se um plano educacional que

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


194 Carlos de Melo Moreira

e culturalmente, com identidade própria BARRANCO, RIO OU LAMA: IDENTIDA-


e não como deficientes. A educação dos DES E CULTURAS EM MOVIMENTO
surdos, na perspectiva bilíngue, toma uma Nesse terceiro – e final – subtítulo,
forma que transcende as questões pura- daremos continuidade à elaboração da res-
mente linguísticas. Para além da língua de posta à pergunta norteadora deste artigo.
sinais e do português, essa educação si- Percebemos parcialmente nos subcapítulos
tua-se no contexto de garantia de acesso um e dois que os surdos foram, não raras
e permanência na escola. Essa escola está vezes, culturalmente situados no “meio
sendo definida pelos próprios movimen- do caminho” entre os ouvintes, ou seja, os
tos surdos: marca fundamental da consoli- ouvintes foram considerados humanos de
dação de uma educação de surdos em um qualidade superior ou humanos em toda a
país, como o Brasil, que se entende equi- sua plenitude, possuidores de uma iden-
vocadamente monolíngue. O confronto se tidade e uma cultura, enquanto os surdos
faz necessário para que se constitua uma foram considerados como “subumanos”,
educação verdadeira: bi-multi-língue e desprovidos de todos os traços que os asse-
multicultural em todas as suas dimensões melham aos seres humanos, sem cultura e/
(QUADROS, 2010). ou sem identidades próprias. Incapazes de
Ademais, o Bilinguismo é um mé- se tornarem pessoas, de produzirem cultura
todo de ensino escolar com a qual o surdo e identidades próprias.
poderá assumir sua identidade e cultura Para Skliar (2005), os surdos não
como tal e que lhe permitirá comunicar- podem ser classificados como subuma-
se com a sociedade ouvinte através da nos pelos ouvintes porque não apresentam
sua língua natural, no caso do Brasil a “traos de humanidade” ou porque não são
LIBRAS, e no da linguagem do ouvinte, ouvintes, muito menos porque não conse-
português, na forma escrita. Destacamos guem ser aceitos como seres humanos em
também a importância do ensino com me- sua plenitude cultural específica.
todologia especial para surdos, uma vez Na sua diferença, a defesa e a prote-
que o surdo, para se reconhecer como tal, ção da língua de sinais pelos surdos, mais
precisa aprender juntamente com outros que significar uma autossuficiência e o di-
surdos a sua cultura, e não a do ouvinte. reito de pertença a um mundo particular,
Dessa forma, ele terá a LIBRAS como sua parece significar a proteção dos traços de
língua materna, a surdez como cultura e a humanidade, daquilo que faz um homem
língua portuguesa como sua segunda lín- ser considerado homem: a linguagem.
gua, elementos básicos para seu processo A separação entre grupos humanos
de tornar-se Surdo. é produzida socialmente, bem como sua

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 195

integração, na medida em que toda forma cognitivas, tem repercussões também so-
de preconceito, toda discriminação, todo ciais. Ser normal implica ter língua, e se a
comportamento humano está subordina- anormalidade é a ausência de língua e de
do à cultura que os constrói, os propaga, tudo o que ela representa (comunicação,
os veicula e os sedimenta. São as normas pensamento, aprendizagem etc), a partir do
sociais e culturais que “autorizam” essa se- momento em que se configura a língua de
paração, normas que organizam toda a nos- sinais como língua do surdo, o estatuto do
sa vida social, modos de falar, de vestir-se, que é normal também muda. Ou seja, a lín-
de atuar no mundo, de pensar etc. O modo gua de sinais acaba por oferecer uma pos-
como a surdez vem sendo descrita está ide- sibilidade de legitimação do surdo como
ologicamente relacionado a essas normas, “sujeito de linguagem”. Ela  capaz de
assim como a luta política por novas nor- transformar a “anormalidade” em diferen-
mas: cultura e identidade surdas, inclusão ça e a diferença em normalidade, confor-
do surdo nas minorias sociais, junto com me Skliar (2005). Com a aprendizagem e
os negros e índios. Essa luta pela inclusão o domínio da Língua de Sinais, juntamente
 uma forma de “garantia” de afastamento e em diálogo com outros surdos, o surdo
da “anormalidade” e aproximaão das mi- entra no processo de tornar-se Surdo, com
norias, normais embora diferentes. a sua cultura e a sua identidade própria,
Essa mudança de concepção do es- construída coletivamente na comunidade
tatuto da surdez, de patologia para fenô- surda.
meno social e cultural, vem acompanhada Os defensores da língua de sinais
também de uma mudança de nomenclatu- como a base para a educação dos surdos
ra, não só terminológica, mas conceitual afirmam que é só de posse desta língua,
e cultural: de “deficiente auditivo” para considerada “natural”, adquirida mesmo
“Surdo”. que em qualquer idade, é que o sujeito
Historicamente, os surdos eram con- surdo constituirá uma identidade surda, já
siderados deficientes e a surdez era uma que ele não é um sujeito ouvinte (PERLIN,
patologia incurável. Hoje, eles passaram 2001; MOURA, 2000). grande parte dos
a ser entendidos em suas diferenças cultu- estudos surdos tem como base a ideia de
rais. Deficiente auditivo e surdo, ou Sur- que a identidade surda está relacionada a
do, como preferem autores como Moura uma questão de uso da língua. Portanto, o
(2000), por exemplo, são termos ideologi- uso ou não da língua de sinais seria aquilo
camente carregados de significados. Con- que definiria basicamente a identidade do
ferir à língua de sinais o estatuto de língua sujeito, identidade que só seria adquirida
não tem apenas repercussões linguísticas e em contato com outro surdo. O que ocor-

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


196 Carlos de Melo Moreira

re é que, em contato com outro surdo que pertence. Seria, portanto, nessa relação, no
também use a língua de sinais, surgem no- tempo e no espaço, com diferentes outros,
vas possibilidades interativas, de compre- que o sujeito e a cultura se construiriam.
ensão, de diálogo, de aprendizagem, que Dessa forma, é nas práticas discursi-
não são possíveis apenas por meio da lin- vas que o sujeito emerge e é revelado. Ou
guagem oral. A aquisição de uma língua e seja, é principalmente no uso da linguagem,
de todos os mecanismos afeitos a ela faz e não em qualquer materialidade linguísti-
com que se credite à língua de sinais a ca- ca específica, que as pessoas constroem e
pacidade de ser a única capaz de oferecer projetam suas identidades. “A construão
uma identidade ao surdo. da identidade não é do domínio exclusivo
O que está por trás de tal afirmativa de língua alguma, embora ela seja, sempre,
não é simplesmente uma questão de iden- da ordem do discurso” (MAHER, 2001, p.
tidade social, mas é, mais especificamente, 135) e, portanto, interativa e social. Porém,
uma identidade concebida a partir de um o fato é que não existe uma identidade ex-
determinado pressuposto teórico. Ao tomar clusiva e única, como a identidade apenas
a língua como definidora de uma identi- surda. Ela é construída por papéis sociais
dade social, ainda que se leve em conta as diferentes (pode-se ser surdo, rico, hete-
relações e os conflitos relativos às distintas rossexual, branco, professor, pai etc.) e,
posições ocupadas por grupos sociais, en- também, pela língua, que constrói nossa
fatiza-se o seu caráter instrumental. Assim, subjetividade. Utilizando a expressão de
sua natureza, ou sua significação social, Cameron: “a pessoa  um mosaico intrin-
passa a ser creditada às interações sociais cado de diferentes potenciais de poder em
às quais está ligada (Skliar, 2005). relaões sociais diferentes” (CAMERON
Dessa forma, a identidade está re- et al. apud LOPES, 2001, p.310).
lacionada tanto aos discursos produzidos Nesse caso, não há só escolhas nas
quanto à natureza das relações sociais. Para nossas identidades, isso independe da nos-
Maher (2001, p.116), por exemplo, “ao fa- sa mera vontade. Elas são determinadas
larmos de identidade e cultura, não estamos pelas práticas sociais, impregnadas por
falando de essência alguma”. A identidade relações simbólicas de poder. E, é óbvio,
seria uma construção permanentemente essas práticas sociais e essas relações sim-
(re) feita que buscaria tanto determinar es- bólicas de poder não são estáticas e imu-
pecificidades que estabeleçam fronteiras táveis ao longo da vida dos sujeitos. Esse
identificatórias entre o próprio sujeito e o é justamente o ponto que interessa aqui.
outro quanto obter o reconhecimento dos Essa lógica permanece enquanto as crian-
demais membros do grupo social ao qual ças surdas não se encontram com um surdo

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 197

adulto. Elas têm necessidade dessa identi- pode ser visto dentro de um “vcuo social”.
ficação com os adultos, uma necessidade Ele afeta e é afetado pelos discursos e pelas
crucial. É preciso convencer todos os pais práticas produzidas socialmente. Há estu-
das crianças surdas a colocá-las em conta- dos relacionados à surdez que vêm tratando
to o mais rápido possível com adultos sur- esse tema de outra forma, como se a iden-
dos, desde o nascimento. Ela se construirá tidade fosse constituída apenas a partir de
longe daquela solidão angustiante de ser a dois polos: o dos ouvintes e o dos surdos. A
única no mundo, sem ideias construtivas e identidade e a cultura são construídas sem-
sem futuro (Skliar, 2005). pre em relação a um determinado grupo ao
Ao que parece, a constituição da qual se pertence, diferenciando-se de ou-
identidade e da cultura pelo surdo não está tro, com o qual se estabelece uma relação
necessariamente relacionada apenas à lín- de caráter negativo, ou seja, por oposição a
gua de sinais, mas, sim, à presença de uma ele (MAHER, 2001).
língua que lhes dê a possibilidade de cons- Com isso, a construção da identi-
tituir-se no mundo como “falante”, ou seja, dade e da cultura baseia-se num processo
à constituição de sua própria subjetivida- de “associaão” a um determinado gru-
de pela linguagem e às implicações dessa po, e de “dissociaão” com relaão a ou-
“constituião” nas suas relaões sociais. tros grupos. O pertencimento a um dado
Em outras palavras, torna-se estranha a grupo expressa-se por meio do ethos
afirmação de que todos os surdos só consti- grupal, do conjunto de valores e sabe- res
tuam sua identidade por intermédio da lín- partilhados (MEAD, 1934; ROSE, 1962).
gua de sinais. Afinal, não há uma relação A identidade e a cultura podem ser
direta entre língua específica e identidade construídas também tendo um ethos como
específica, uma vez que ainda encontramos referência negativa: o indivíduo não faz
muitos surdos em diferentes faixas etárias parte daquele grupo e também não faz
que ainda não conhecem e não se comu- parte de nenhum outro grupo que possa
nicam com a língua de sinais (MAHER, ser caracterizado como tendo um ethos
2001). próprio. Por exemplo: os con- ceitos de
A identidade e a cultura não podem normal e patológico definem um ethos de
ser vistas como inerentes às pessoas, mas, referência, a normalidade, e afasta todo
sim, como resultado de práticas discursivas aquele que dele não se apro- xima,
e sociais em circunstâncias sócio-históri- reservando a todos o mesmo lugar social
cas particulares. O modo como a surdez é de patológico. Não há um ethos que possa
concebida socialmente também influencia caracterizar e definir aqueles que são
a construção da identidade. O sujeito não “patologizados”.

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


198 Carlos de Melo Moreira

A identidade é, assim, constituída Dificilmente se pode falar de uma


por diferentes papéis sociais que assu- identidade e cultura surda “pura”. A cons-
mimos e que, vale salientar, não são ho- tituição da identidade do sujeito está rela-
mogêneos. Podem ser ateus ou religiosos cionada às práticas sociais, e não a uma
(cristãos, judeus, mulçumanos etc), polí- língua determinada, e às interações dis-
ticos (de direita, de esquerda, socialistas, cursivas diferenciadas no decorrer de sua
sociais democratas etc), funcionais (me- vida: na família, na escola, no trabalho,
talúrgicos, vendedores, médicos etc), es- nos cursos que faz, com os amigos etc.
téticos (clubbers, punks, hyppies etc), de O reconhecimento dessa realidade seria
gênero (homens, mulheres). A distinção o aprofundamento das discussões sobre a
entre ouvintes e não-ouvintes, de certa identidade no campo da surdez, no qual
maneira, cria um obstáculo teórico: defi- se procura estabelecer uma “norma” com
ne o grupo de “não-ouvintes” como sen- relação ao que é teoricamente chamado de
do o único contexto no qual eles se inse- identidade, e exigir que as análises cor-
rem. A identidade, nesse caso, só pode ser respondam a ela. Ou seja, uma norma de
construída de forma negativa (MAHER, identidade, a identidade do surdo, e uma
2001). Porém, a arquitetura social não norma cultural correspondente, a cultura
se reduz a isso, evidentemente. Talvez o surda (MAHER, 2001).
caso mais óbvio e que se opõe a tal redu- De acordo com Silva:
ção da estrutura social seja o esforço que
A identidade torna-se uma “celebração
várias comunidades religiosas têm feito
móvel”: formada e transformada continu-
para terem os surdos como parte dos seus amente em relação às formas pelas quais
somos representados ou interpelados nos
membros. Pesquisas demonstram que, no
sistemas culturais que nos rodeiam. É
Brasil, a maior parte dos cursos de línguas definida historicamente e não biologica-
mente. O sujeito assume identidades di-
de sinais ainda são oferecidos por comu-
ferentes em diferentes momentos. (2000,
nidades evangélicas e um de seus princi- p.13).
pais “expoentes” tem a seu lado, na tela
de seu programa de televisão, alguém que As identidades e as culturas são for-
faz a tradução simultânea do que ele diz madas e transformadas nas relações entre
para a língua de sinais. Não importa se os pessoas e grupos de pessoas. Elas não são
fiéis são surdos ou não, nesse momento fixas ou estáveis, e sim móveis, múltiplas
eles “pertencem” a um grupo particular e até contraditórias. Um exemplo claro
formado não apenas por surdos, mas por dessa constante mudança das identidades,
um grupo de pessoas que compartilham a bem como das representações que as cons-
mesma religião e, por isso, se identificam. tituem, está no relato de Thoma:

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 199

Recentemente, quando estava em aula depoimentos dos próprios surdos sobre si,
com uma turma de jovens e adultos surdos
em uma escola da rede municipal de Por- a autora identifica algumas possibilidades
to Alegre, fui surpreendida pelo convite de de ser surdo, tais como: Identidades Surdas
um aluno para participar de um jantar com
desfile para escolha da Miss Brasil Gay Sur- Políticas; Híbridas; Flutuantes; Embaça-
da 2006. Diante de mim, estava colocada a das; Transição; Diáspora; Intermediárias.
complexidade das identidades em cenários
contemporâneos. Aquele aluno, integrante A partir dessas múltiplas possibilida-
de um espaço institucional que atende alu- des, é possível perceber que existem dife-
nos surdos em turmas de surdos e que pro-
põe um tempo de aprendizagem organizado rentes modos de ser Surdo. Quando Perlin
por ciclos, colocou-me inúmeras inquieta- (2001) realiza, por meio de sua pesquisa, a
ções e provocou questionamentos do tipo:
qual identidade estaria sendo mais exaltada identificação dessas identidades, não o faz
naquele convite? Pela ordem, podemos pen- no intuito de classificar e determinar que só
sar que o concurso de beleza é o mais sig-
nificativo, seguido da identidade de gênero, existem essas possibilidades de ser surdo e,
estando nesse conjunto a identidade surda muito menos, com o objetivo de possibili-
em último lugar. Qual das identidades mais
o posiciona em lugares de exclusão? De qual tar que encaixemos os surdos nessas iden-
inclusão reclama? (2004, p.14 e 15). tidades. Ao afirmar a existência de muitos
modos de ser surdo, a autora contribui para
Desse modo, podemos dizer que a nossas reflexões sobre o respeito às dife-
identidade e a cultura são marcadas por renças e os processos flexíveis de tornar-se
algo que une as pessoas, mas que, ao mes- Surdo.
mo tempo, as distinguem de outras. Nessa linha de pensamento, Pardo
Nas palavras de Silva, reflete sobre o respeito às diferenças afir-
mando que:
[...] a identidade cultural ou social é o con-
junto dessas características pelas quais os
grupos sociais se definem como grupos: Respeitar a diferença não pode significar
aquilo que eles são, entretanto, é insepará- “deixar que o outro seja como eu sou” ou
vel daquilo que eles não são, daquelas carac- “deixar que o outro seja diferente de mim
terísticas que os fazem diferentes de outros tal como eu sou diferente (do outro), mas
grupos (2000, p.58). deixar que o outro seja como eu não sou,
deixar que ele seja esse outro que não pode
ser eu, que eu não posso ser, que não pode
Quando fala em identidades surdas, ser um (outro) eu; significa deixar que o ou-
tro seja diferente, deixar ser uma diferença
Perlin (2001) aponta a necessidade do afas- que não seja, em absoluto, diferença entre
tamento dos olhares clínico-terapêuticos, duas identidades, mas diferença da iden-
tidade, deixar ser uma outridade que não
que veem a surdez como deficiência a ser é outra “relativamente a mim” ou “relati-
“curada”. Perlin (2005) afirma a existência vamente ao mesmo”, mas que é absoluta-
mente diferente, sem relação alguma com
de múltiplas identidades surdas. A partir de a identidade ou com a mesmidade (PARDO
algumas pesquisas, em que se buscaram apud SILVA, 2000, p.101).

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


200 Carlos de Melo Moreira

Diante dos estudos sobre os surdos e constituídos por “[...] tudo o que se vê e
do exposto, há aqueles que ainda se per- sente quando se está em contato com a cul-
guntam: – os surdos têm cultura? Essa é tura de uma comunidade, tais como mate-
uma pergunta que, segundo Strobel (2008), riais, vestuários, maneira pela qual um su-
as pessoas, de modo geral, fazem, duvidan- jeito se dirige a outro, tradições, valores,
do da existência de uma cultura surda. Isso normas etc”. Nessa perspectiva, a autora
porque, geralmente, não conhecem quem menciona alguns artefatos da cultura sur-
são os surdos e, por isso, fazem suposições da, como, por exemplo: Artefato cultural;
equivocadas sobre os surdos. Além disso, experiência visual; linguístico; familiar; li-
tais suposições partem, em sua maioria, de teratura surda; vida social e esportiva; artes
representações da surdez como deficiência, visuais, política; materiais, dentre outros.
ou seja, partem de uma perspectiva ouvin- Todas estas variedades de artefatos cultu-
tista. Nesse sentido, a autora afirma que rais nos mostram o quanto é complexa a
cultura surda é: constituição de uma cultura e da identidade
de uma pessoa indo muito além do simples
O jeito do sujeito surdo entender o mundo
maniqueísmo surdo- ouvinte. Onde o tor-
e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível
e habitável ajustando-o com as suas percep- nar-se Surdo nos apresenta como um pro-
ções visuais, que contribuem para a defini-
cesso contínuo e cheio de ricas aventuras.
ção das identidades surdas e das “almas”
das comunidades surdas. Isto significa que
abrange a língua, as idéias, as crenças, os
costumes e os hábitos do povo surdo (STRO-
REFLEXÕES FINAIS
BEL, 2008, p. 24). Neste trabalho, apresentamos que
tornar-se Surdo é um processo que perpas-
No entanto, um alerta precisa ser fei- sa diretamente pela construção da cultura e
to: nem todas as pessoas surdas compar- da identidade surda, e que esta construção
tilham da cultura surda simplesmente por não é um processo simples e fácil de ser
elas não ouvirem. O que constitui a cultura entendido, conceituado e nem adquirido. É
surda não é o fato de não ouvir, e sim de um processo vivenciado, que perpassa com
compartilhar experiências, crenças, senti- o Surdo em sua comunidade surda, com os
mentos, língua etc. Desse modo, há dife- seus pares primeiramente, mas que depois
rentes culturas surdas, ligadas a diferentes se abre ao diferente e ao outro, misturando-
espaços geográficos, sociais e históricos se sempre mais.
(STROBEL, 2008). vimos que a Língua de Sinais Brasi-
Para finalizarmos este item, ainda leira se fortaleceu a partir do Imperial Insti-
destacamos que, segundo Strobel, (2008, tuto de Surdos-Mudos. Que ela é o resulta-
p.37) temos os artefatos culturais que são do da mistura da Língua de Sinais Francesa

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


Tornar-se Surdo: Um Processo Histórico e Cultural 201

com os sistemas de comunicação já usados igualdade; abrindo espaço para a diversi-


pelos surdos das mais diversas localidades dade e unidade de uma cultura e identida-
brasileiras. de diversificada que se faz e refaz como
Dentre os três métodos mais utili- se fosse um caleidoscópio numa contínua
zados na educação dos surdos, o Oralis- busca de tornar-se surdo.
ta, a Comunicação Total e o Bilinguis-
mo, o Bilinguismo tem se demonstrado Recebido em: Agosto de 2013
o mais eficiente para a construção da Aceito em: Novembro de 2013
cultura e da identidade do surdo em to-
dos os contextos.
Contatamos que há diferentes in- REFERÊNCIAS
terpretações em relação às culturas, às BRITO, L. F. Integração social e educa-
linguagens e às identidades dos surdos e ção de surdos. Rio de Janeiro: BABEL
ouvintes, circulando e confrontando-se Editora, 1993.
com muitas outras interpretações. O surdo
COSTA, Juliana Pellegrinelli Barbosa. A
deve ser pensado como um ser diferente
educação do surdo ontem e hoje: posição
culturalmente, com uma linguagem pró-
sujeito e identidade. Campinas, SP. Merca-
pria, que deve ser respeitado em sua di-
do de Letras, 2010.
ferença, em sua constituição enquanto su-
gOLDFELD, M. A criança surda. São
jeito surdo-visual, e que difere da cultura
Paulo: Plexus, 1997.
do ouvinte.
Desse modo, o surdo necessita de LACERDA, C.B.F.; gÓES, M.C.R. de
oportunidades para a aprendizagem da lín- (Orgs.). Surdez: processos educativos e
gua de sinais e de outras formas de comuni- subjetividade. São Paulo, Lovise, p. 29-49,
cação que vão introduzi-lo no meio social, 2000.
cultural, político e profissional, também, LOPES, L. P. M. Discursos de identidade
mais especificamente, no universo escolar em sala de leitura de L1: a construção da
como um todo. diferença. In: SIgNORINI, I. (Org.). Lín-
Finalmente, demonstramos a im- gua(gem) e identidade. Campinas: Mer-
portância de se ter uma visão mais ampla cado das Letras/FAPESP/FAEP, 2001.
quando se trata de analisar a identidade e LULKIN, Sergio Andrés. Atividades dra-
a cultura de uma pessoa. Que a discussão máticas com estudantes surdos. In: Carlos
gira em torno das diferentes identidades Skliar. (Org.). Educação e exclusão: abor-
e das diferentes culturas, desconstruindo dagens sócio-antropológicas em educação
a visão maniqueísta, de uniformidade e especial. 1.ed. Porto Alegre, 2005.

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014


202 Carlos de Melo Moreira

MAHER, T. M. Sendo índio em português. SILvA, T. T. da. Documentos de identida-


In: SIgNORINI, I. (Org.). Língua(gem) e de: uma introdução às teorias do currículo.
identidade. Campinas: Mercado das Let- Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
ras/FAPESP/FAEP, 2001. SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar
MEAD, g.H. Mind, self and society from sobre as diferenças. Porto Alegre: Ed. Me-
the standpoint of a social behaviorist. diação, 2005.
Chicago: University of Chicago Press, SKLIAR, C. Perspectivas políticas e peda-
1934. gógicas da educação bilíngüe para surdos.
MOURA, M. C. O surdo: caminhos para In: SILvA, Shirley; vIzIM, Marli (Orgs).
uma nova identidade. Rio de Janeiro: Re- Educação Especial: múltiplas leituras e
vinter, 2000. diferentes significados. Campinas: Merca-
PERLIN, g. T. Identidades surdas. In: Skliar, do de Letras: Associação de leitura do Bra-
C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as dife- sil – ALB, 2001.
renças. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2001. STROBEL, K. L. (et al.). Falando com
QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Lín- as mãos. Curitiba: Secretaria de Estado da
gua de Sinais Brasileira: estudos linguís- Educação, 2006.
ticos. Porto Alegre: Artmed, 2010. STROBEL, K. As imagens do outro so-
QUADROS, R. M. A educação de surdos: bre a cultura surda. Florianópolis: Ed. da
a aquisição da linguagem. Porto Alegre: UFSC, 2008.
Artes Médicas, 1997. THOMA, A. da S.; LOPES, Maura Corci-
ROSE, A. (Org.). Human behavior and ni. A invenção da Surdez: Cultura, alteri-
social processes: an interactionist ap- dade, identidade e diferença no campo da
proach. Boston: Houghton Mifflin Com- educação. Santa Cruz do Sul. EDUNISC,
pany, 1962. 2004.

revista EXITUS Volume 04 Número 01 Jan/Jun. 2014

Você também pode gostar