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Tt 105 INTRODUÇÃO À CIENCIA HUMANA

Introdução
Há no mundo um mistério, que nem mesmo a voracidade do cotidiano consegue tragar. Os
desenvolvimentos técnicos e científicos, as descobertas e invenções que dia após dia, despertam
fascínio e polemica não nos afastam – ao contrário, nos aproximam desse encantamento. Quem
diante do Universo que as sondas espaciais hoje revelam, já não se indagou, de onde veio tudo isso?
De onde viemos?

Essas são perguntas que de há muito acompanham o ser humano. Muitos ao longo dos séculos, tem
procurado responder, sábios, filósofos, cientistas, pesquisadores enfim muita gente. De tentativa em
tentativa o leque de interesses humanos foi se ampliando: astronomia, matemática, física, química,
biologia, ética, política, sociologia, economia entre outros conhecimentos humanos, tudo derivando
de uma curiosidade inicial, à qual alguns homens da Grécia Antiga procuraram satisfazer usando a
razão deixando de lado a explicação que os deuses eram responsáveis pela vida e pelos fenômenos
que a constituíam para buscar respostas neles mesmos.

Conhecer a ciência tem demonstrado ser uma enorme aventura intelectual, Conhecer sua história
constitui, muitas vezes, um gostoso garimpar nos rascunhos do passado, vendo o quanto a
civilização se desenvolveu até um determinado estágio para poder enfrentar os desafios da natureza.

Hoje, da mesma maneira que para nossos antepassados, a ciência está sempre presente, a tecnologia
envolvida na construção de uma faca de pedra polida nos primórdios dos séculos foi tão desafiadora
quanto a inteligência posto a serviço do desenvolvimento de um supercomputador no final do
século XX.

Em uma era como a nossa, voltada para o resultado e a satisfação imediata, conhecer as origens da
ciência humana, é entrar em contato com aquele lado as vezes meio esquecido, que não se contenta
com o circunstancial que encanta o mundo e que procura, ao buscar compreender seu sentido,
desvenda-lo.

I CAPITULO – A JORNADA INICIAL

1.0 Introdução
A humanidade existe na superfície do globo há mais de um milhão de anos. Temos uma época
remotíssima – as idades glaciais, em que grande parte da terra estava coberta por camadas de gelo
da qual temos algumas esparsas informações, por vestígios de pedras lascadas – líticos – que foram
usadas como ferramentas.

Os períodos seguintes – tempos líticos - já são determinados por dados mais concretos, dos quais
temos informações a partir da localização de deferentes fósseis, da fauna e da flora, e de trabalho
em pedras. Com base nesses elementos são feitas as classificações dos períodos arqueológicos que
antecederam a nossa era, sendo que alguns fósseis localizados e datados permitiam que se
estabeleçam informações bastantes valiosas de diferentes períodos

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O inicio de nossa história é bem mais contado por Engels filósofo que no século dezenove prestou
importante colaboração para o entendimento das mudanças estruturais da sociedade.

“Há muitos milhares de anos, em uma época ainda não estabelecida definitivamente – naquele
período de3 desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciária, provavelmente no fim
desse período -, vivia em algum local da zona tropical – talvez um extenso continente hoje
desaparecido nas profundezas do Oceano Indico – uma raça de macacos antropomórficos
extraordinariamente desenvolvidos”

2.0 Teoria de Darwin

“Darwin nos dá uma descrição aproximada desses nossos antepassados. Estavam totalmente
cobertos de pêlos, tinham barba, orelhas pontiagudas, viviam em árvores e formavam manadas. É
de se supor, como conseqüência direta de sua maneira de vida que as mãos, ao trepar, tinham que
desempenhar funções distintas das dos pés. Assim esse macacos foram se acostumando a prescindir
delas para caminha no solo e começaram a adotar mais e mais um posição ereta. Foi o passo
decisivo para a transição do macaco ao homem (...) “

“Seguramente haveriam de passar milhares de anos – que na história da Terra tem menos
importância que um segundo na vida de um homem – antes que na sociedade humana, surgisse
aquela manada de macacos que trepavam em árvores. E o que voltamos a encontrar como sinal
distinto entre a manada de macacos e a sociedade humana – O trabalho . A manada de macacos se
contentava em devorar alimentos que determinavam as condições geográficas ou a resistências das
manadas vizinhas.”

3.0 Primeiras Ferramentas / Armas / Descoberta do Fogo


Um galho de árvore ou um fêmur tornaram-se tanto armas para defesa quanto instrumentos para
apanhar frutos em lugares altos. Gradativamente essas primitivas ferramentas foram sendo
melhoradas, possuindo o homem primitivo com as descobertas de outros objetos e novos materiais
um arsenal tecnológico.

Os maiores benefícios vieram quando o homem foi capaz de produzir e conservar o fogo. Dominar
o fogo deve ter sido uma tarefa muito perigosa e difícil, e usualmente relacionada com seres ou
forças sobre-humanas. Muitas civilizações relatam histórias onde o fogo é patrimônio dos deuses,
que o mantêm longe dos homens até que um personagem o rouba e por isso é cruelmente castigado.
Uma das lendas mais próximas é a de Prometeu semi deus da mitologia grega, que segundo esta,
roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens, ensinando-os também a usá-lo sendo por isso punido
por Zeus. Semelhantemente, muitos outros povos tem lendas sobre a origem do fogo. James G.
Frazer escreveu num livro, Mitos sobre el origen del fuego,( Barcelona – Editora Alta Fulla – 1986).

Muito provavelmente a descoberta que se seguiu ao domínio do fogo foi a da cocção dos alimentos
que utiliza utensílios para cozer alimentos. Aos poucos o homem foi conhecendo fórmulas praticas
de uso comum referente à cocção, fermentação, curtição, tingimento e vitrificação, que formam
uma primitiva química utilitária e são facilitadoras na transformação de uma substância em outra.

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Em uma determinada parte da história nossos ancestrais deixaram de ser caçadores e se
estabeleceram como cultivadores de terra e criadores de animais domésticos. Muito provavelmente
a vida sedentária com agricultura e artesanatos primitivos começou nas margens dos grandes rios.
A transformação do homem em pastor lhe proporcionou um certo domínio sobre a natureza e
facilitou-lhe a obtenção dos alimentos.

4.0 Pensamento Oriental

É difícil precisar o instante – se é que houve um – em que a história da ciência e do pensamento


começou. Poder-se-ia considerar, talvez, os mitos e as lendas que nos chegaram com primeiras
tentativas de explicação do mundo e seus fenômenos, mas essa seria uma empreitada arriscada.
Essa fase da aventura humana perdeu-se nos milênios de caminhada, e hoje, envolta em mistérios
pouco ajuda a elucidar como o homem iniciou sua jornada que o acabaria levando a filosofia e a
ciência.

Para resolver esse impasse, estudiosos e especialistas elegeram como ponto de partida os séculos VI
e V antes de Cristo. Nesse período, testemunha do surgimento de homens como Sócrates (Grécia),
Buda (India) e Lao-tsé (China), toma forma o pensamento mais aberto `a compreensão, o qual
herdeiro das tradições culturais de um passado ainda mais remoto, é também um marco de uma
etapa que levaria o homem a procurar o sentido do mundo e da vida na própria natureza.
É o momento em que os deuses vão perdendo seu papel como origem de todas as coisas, e o
raciocínio passa a ocupar o espaço antes destinado aos mitos.

Novas descobertas – diferentes ciclos vitais


A descoberta dos diferentes ciclos vitais é um dos primeiros feitos da biologia que iniciava as
relações entre operações agrícolas e o aumento das colheitas conduziram à elaboração das primeiras
teorias, ponto de partida para o surgimento de uma ciência racional. A agricultura influiu
grandemente no aperfeiçoamento de outras técnicas, como operações de cavar, semear, ceifar,
trilhar o que passou a exigir a fabricação de novos instrumentos agrícolas. O armazenamento de
grãos e líquidos passou a exigir a criação de recipientes cerâmicos de maiores tamanhos e ,
consequentemente, o desenvolvimento de técnicas mais apuradas para a sua fabricação.

A disponibilidade de abundantes quantidades de lã, linho e outras fibras determinou a criação dos
primeiros instrumentos de fiação e tecelagem, a construção de casas para abrigo ao lado das
exigências de ferramentas mais a busca diversificada de materiais para a construção exigiram o
conhecimento de operações de aritmética e geometria. Já na remota Antigüidade havia noções de
anatomia, pois nos mais antigos desenhos encontramos peixes ( com indicações de estrutura ósseas
e esquemas de tubo digestivo), renas, cavalos, bisontes, rinocerontes e mamutes admiravelmente
desenhados.

5.0 Estudo das plantas


O estudo das plantas fez parte dos primeiros conhecimentos do homem pois este necessitava
selecionar raízes, caules, folhas, frutos e sementes destinados `a alimentação, vestuário, construção.
O arroz já era cultivado na China 5 mil anos antes da nossa era. A cevada, o linho e o trigo também
foram culturas desenvolvidas em tempos remotos.

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Por volta de 4000 a.C. o homem usava metais, a principio utilizava o ouro e o cobre por serem esses
metais encontrados livre na natureza, apenas no fabrico de objetos de adorno. O descobrimento do
cobre foi talvez um acontecimento acidental, quando o homem suspendeu-se ao ver bolas brilhantes
de cobre, ao fazer fogo em um terreno onde havia malaquita ou azurrita (minérios de cobre). A
descoberta do preparo de ligas metálicas com o bronze (preparo do estanho e cobre) foi uma das
mais sofisticadas descoberta do homem quando começou a usar os metais. Além dessas informações
sobre o fazer ciência dos nossos ancestrais, vamos comentar separadamente, as ciências antigas em
seis civilizações antigas: a egípcia, mesopotâmica, fenícia, hebraica, indiana e chinesa.

6.0 Os Egípcios
Já no final do período neolítico (ou Pedra Polida), o Egito era um Estado organizado, centralizado
no rio Nilo, limitada ao norte pelo Mar Mediterrâneo e com ambiente hostis nas demais fronteiras, a
civilização egípcia teve características insulares, formando um universo independente, com seus
deuses, sua língua e sua escrita hieroglíficas e sua maneira particular de viver.
Apesar do isolamento, característica fundamental do Egito antigo, originou-se ali uma civilização
magnifica que era olhada com inveja pelos povos vizinhos. Os desertos que o cercavam impediam
que sua pacífica população fossem molestados, dando origem a frase de Heródoto “ O Egito é um
presente do Nilo” que além de ser a síntese da economia do pais reflete a significativa contribuição
desse rio para o estabelecimento de um conhecimento aplicado na agricultura.
Um sistema bem organizado de irrigação para aproveitar as cheias, exigia conhecimentos para
garantir adequado emprego do solo, correto manejo do gado e conveniente armazenamento das
safra.

O Nilo está também na origem da cosmologia religiosa dos egípcios. Os seres vivos teriam surgido
em uma colina que emergira de uma inundação original. Os poderes divinos eram amigos e
dispostos a lhes ajudar, guiando-os na vida, na morte e no outro mundo.
Com um clima mais homogêneo e com a s enchentes regulares do rio, este se tornava fonte de toda
fertilidade e parecia uma amigo leal, constante e digno de confiança, e símbolo dos poderes
sobrenaturais.

O Egito foi unificado no quatro milênio antes de Cristo e com exceção de dois períodos de
instabilidade, manteve-se com um reino único por mais de 2 mil anos, os soberanos eram os faraós,
que apesar de despóticos, eram representados com ideais de responsabilidade em relação ao povo:
seu objetivo era garantir aos seus súditos uma vida feliz, governado-os com leis apresentadas como
justas.

O Egito atingiu um nível elevado de conhecimento: com o desenvolvimento da roda raiada e do


barco à vela; o comércio foi aprimorado com o uso de balanças com pesos; o vestuário tornou-se
prático com o surgimento do tear; a aritmética tinha um nível elevado os egipicios contavam
segundo uma numeração decimal.

Havia profissionais dedicados a agrimensura, que ensejou um grande desenvolvimento da geometria


e da álgebra, existe no British Museum em Londres, muito papiros entre os quais o famoso papiro
de Rhind) que constituem provas documentais do avança da matemática egípcia.

Os astrônomos egipicios identificaram inúmeras constelações, mas fizeram da astronomia algo


pratico não especulativo, assim não estavam preocupados com a teoria a respeito do Sol e da Lua
mas estudavam-nos com base na marcação do tempo. Entre os diferentes calendários que
estudavam através das constelações, havia um que o ano tinha a duração de 365 dias e ¼ dias.

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Foi só no final do século passado que os ëgipitólogos” (estudiosos da ciência egípcia) puderam
conhecer o grande avanço da medicina egípcia a partir da descoberta de dezenas de papiros, que
relatam descobertas de astronomia, práticas de cirurgias médicas, receitas de pomadas e de colírios
e até de praticas para prognosticar o sexo da criança.

A ausência de madeiras que os egípcios tinham que importar da Líbia ou da Síria fez deles hábeis
cortadores de pedra (o Vale do Nilo era uma enorme pedreira) e excelentes escultores e reputados
artífices em metal e na confecção de jóias.

A mais atual associação que fazemos aos egípcios são as pirâmides, monumentais construções,
algumas são ainda verdadeiros enigmas para a moderna engenharia, principalmente sua orientação
exata com as faces voltadas para os quatro pontos cardeais, o que teria exigido um método que
desafia os mais preciso até hoje. A pirâmide de Quéops tem por exemplo mais de 2.3 milhões de
blocos de pedras calcárias, cada uma pesando até 2.5 toneladas.

7.0 Os Mesopotâmios

Diferente do Egito a Mesopotâmia a “terra entre os dois rios” (Tigre e Eufrates), não foi o local de
um pais só nem de um povo só, a região passou a ser ocupada progressivamente por povos
nômades, que no processo de adaptação às enchentes dos dois rios iniciaram a construção de
barragens e canais. Entre o quarto e o terceiro milênio a.C. a região passou a ser habitada pelos
sumérios que construíram as primeiras cidades que se tem registro, das quais a mais importante foi
Uruk (Ur), cada uma dessas cidades tinha um rei que exercia o comando do exército e detinha o
poder sacerdotal.

A primeira escrita de que se tem noticia – a suméria - uma das invenções mais importantes da
cultura humana é creditada a esse povo. Para contabilizar os bens do Estado, foi criado por volta de
3500 a.C. um sistema de sinais em forma de cunha com diferentes inclinações, a esse sistema deu-
se o nome de escrita cuneiforme.

A roda, a organização da agricultura e a engenharia hidráulica foram inovações surgidas ali, além
disso cidades como Nippur, Uruk e Eridu, já existiam em 3000 a.C., com um comércio de
crescimento regular e uma cultura que se estendeu aos povos vizinhos, alcançando terras distantes
como a Índia e a China.

Nessas primeiras células de vida urbana, numa área que depois viu florescer Nínive e Babilônia,
tem origem um pensamento elaborado. A antiga crença na Deusa-Mãe, que no período Néolitico,
personificava a fertilidade da terra, desdobra-se em inúmeros cultos ou entes sobrenaturais que
correspondem às forças da natureza.

Anu, a abóbada celeste, simboliza a água e sua fertilidade. Isthar representa o amor e as relações
sexuais. Os deuses comandam os fenômenos da natureza e aos poucos assumem o papel de
causadores dos acontecimentos humanos: a guerra, a paz, o sucesso, a desgraça.

Hamurabi soberano da Babilônia estabelece o culto a Marduk (ou Baal), reverenciado como o mais
importante dos deuses. O complexo sistema de deuses e crenças é depurado no século VIII a.C. por
Zoroastro (ou Zaratustra), que numa nação ao sul, a Pérsia (atual Irã), ensina existir um único deus,

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principio do Bem: Ahura Mazda. Presente na mente de cada homem, ele luta constantemente contra
Arimã, o principio do Mal. Cabe a cada um agir corretamente para a vitória final do Bem.

Outras civilizações importantes tiveram períodos de esplendor na Mesopotâmia: os acadianos, com


o lendário rei Sargão I que embelezou Ur; os babilônios, os amoritas com Nabucodonosor que
fundou importante dinastia. Todas essas diferentes culturas deixaram contribuições importantes para
a medicina, a biologia, a astronomia, a geografia. O ano babilônico tinha 360 dias divididos em 12
meses. Relógios solares assinalavam a passagem do tempo e o dia era divido em horas, minutos e
segundos.

Os babilônicos observavam o movimento aparente do Sol e dos planetas entre as estrelas fixas e
nomearam os sete dias da semana com os nomes do Sol e da Lua e dos outros cinco planetas
conhecidos (Júpiter, Vênus, Marte, Mercúrio e Saturno), também traçaram a trajetória percorrida
pelo Sol, dividindo-a em doze partes e associando-as a animais místicos. Foi dessa divisão que
surgiram os signos do zodíaco.
A medicina mesopotâmica associou astrologia e a magia com conhecimentos científicos de plantas
para o preparação dos remédios. Identificavam e tratavam doenças como a hidropisia, a febre, a
lepra, a sarna, a hérnia, problemas de pele e de cabelo, garganta, pulmões e estômago, deixaram um
ciência prática sem a preocupação de fundamentar metafísica ou teológicamente os fatos.

8.0 Os Fenícios e os Hebreus


Já no terceiro milênio a.C. a região situada entre a Mesopotâmia e o Egito, incluindo principalmente
a costa fenícia e a Palestina assistiu ao “florescimento de uma civilização relativamente homogênea
e não desprovida de originalidade, à qual a moderna arqueologia deu o nome de civilização
“cananéia” – nome extraído da Bíblia que chama de Canaã a região onde se fixaram os hebreus, isto
é a Palestina.”

Devemos creditar aos fenícios a primeira escrita alfabética – uma das mais geniais criações da
ciência humana – que apresenta uma redução de sinais gráficos para apenas trinta letras, o que é
muito significativo se consideramos as centenas de símbolos das escritas silábicas cuneiforme e
hieroglífica, essa escrita, cujas duas primeira letras são alef e bet – daí o nome alfabeto – foi
transmitida pelos fenícios aos gregos e, através destes, ao mundo inteiro exceto à China.

A escrita na maioria das civilizações – foi privilégio da classe dominante e essa é uma das razões
pelas quais não há escritos teóricos sobre as manipulações ou tratamento de materiais feitos por
camponeses, artífices, metalurgistas ou operários. A causa dessa divisão foi a divisão social do
trabalho. A escrita estando na mãos da classe dirigente, destinava-se somente as questões do Estado
ou aos cultos religiosos.
Os fenícios foram grandes comerciantes e navegadores tendo fundado colônias no norte da Africa e
na Espanha.

Sobre a ciência hebraica as referências são quase que exclusivamente da Bíblia, porque os hebreus
escreviam em pergaminhos, que dificilmente se conservavam. Em Israel encontramos dois sistemas
de numeração: o decimal derivado da pratica de contar nos dedos e o sexagesimal, originário da
Babilônia. A língua usada foi o hebraico que é um dialeto cananeu. A Bíblia está escrito em
hebraico, havendo algumas partes escritas em aramáico outro idioma semítico muito difundido. O
calendário judaico baseia-se, ainda hoje no ciclo lunar, como as doze lunações perfazem 354 dias,
para se adaptar ao ano solar esse calendário tem número de dias variáveis. (Por exemplo, em 1994,
o calendário judaico registrava o ano 5755, pois os judeus não consideram como no calendário

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gregoriano o nascimento de Cristo como o ano I. Também as comemorações do ano novo judeu são
variáveis a cada ano, em geral no mês de setembro de nosso calendário).

Os hebreus não deixaram nenhum tratado médico, mas na Bíblia, principalmente no Livro Levítico,
há muitas normas de higiene. Diferentemente de outros povos, sua religião era monoteísta, daí a
crença da magia não estar presente na sua cultura.

9.0 A Ciência Hindu


No começo do terceiro milênio a.C. existiu uma florescente cultura no vale do rio Indo, com as mais
ricas e mais importantes cidades da época como Taxila ou (Taksasila), que superava , por exemplo
Babilônia. As cidades tinham excelente trabalhos urbanísticos, com notáveis sistemas de esgotos e
de piscinas comprovando o elevado estágio de higiene pública. Muito da cultura indiana se perdeu
no tempo. Os registros que servem como material de estudo iniciam-se com o araianos, que
chegaram ali a partir de 1500 a.C. Pouco se sabe sobre os conhecimentos científicos que dispunham
os hindus. Rudimentar no inicio essa cultura amplia-se, aprofunda-se e cristaliza-se numa coleção
de obras em sânscrito, os livros dos Vedas. Conjunto de escritura sagradas de varias religiões da
Índia, principalmente do vedismo, do bramanismo e do hinduísmo, até o momento a mais antiga
literatura indo européia conhecida. Em hinos épicos como o Rigveda emergem idéias poderosas,
como a existência de uma ordem no universo, nos níveis fisico (rita) e moral (darma) e a
necessidade de sacrifícios para conserva-la. Os textos sagrados do Vedas constituem intensa
literatura e são a base dos ritos, das crenças e da organização da sociedade hindu. Os Vedas foram
transmitidos inicialmente pela tradição oral e depois registrados em sâncristo arcaico. O sâncristo é
o “chamado latim da Índia” pois era ao mesmo tempo uma língua de cultura e de relação,
dispersando-se por todo o território hindu, em diversos dialetos.

Esse fulcro de idéias, em que se menosprezam práticas rituais e no qual a salvação individual
consiste em abandonar o ego e mergulhar numa Essência universal constitui a base do jainismo
(fundado por Mahavira) e do budismo ensinado por um ex. príncipe, Sidarta Gautama, nascido em
556 a.C. num reino ao norte da Índia, junto a atual fronteira com o Nepal. Meditando Gautama
atingiu a iluminação e tornou-se o Buda (Iluminado) até morrer, com 86 anos em 470 a.C.. Buda se
destaca por propor uma filosofia moral, difundida também em sânscrito. Buda propunha o esforço
de cada um para livra-se dos desejos ilusões e do individualismo a fim de chegar ao Nirvana –
cortando desse modo a cadeia de reencarnações que levaria de novo a enfrentar doenças sofrimento
e morte. A filosofia budista entre outros interesses, buscou explicações para problemas científicos.
Formulou uma teoria atômica primitiva na qual estendeu ao tempo a idéia de descontinuidade,
tendo talvez influenciado ao atomistas gregos.

Há informações de que a aritmética hindu, que se usava no século III a.C., tinha um sistema de
numeração da qual derivou hoje com a denominação equivocada de “numeração arábica”; É muito
provável que os árabes tenham assimilado esse sistema dos gregos, que o teriam recebido por sua
vez, dos hindus.

10.0 A Ciência Chinesa

No vale de um grande rio o Hoangô, (ou Rio Amarelo) desde o terceiro milênio a.C. se desenvolveu
uma civilização agrícola neolítica. Os utensílios encontrados indicam conexões com outras

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civilizações asiáticas. Assim começou a civilização chinesa, que em função das características da
região, foi desde o inicio muito mais dedicada a agricultura, do que a criação de rebanhos.
A escrita chinesa foi inventada no século XIV a.C. sendo os fatos e os feitos registrados pelos
escribas da época.

A idéia de que o mundo é regido por forças misteriosas e de que cabe ao imperador intermediar
entre o homem e Shang-Ti , a divindade celeste, surge na China do século XVI a.C. A felicidade
depende da sabedoria desse soberano e das corretas consultas ao I Chang – O Livro das Mutações.

Sábios e eruditos formaram escolas políticas, buscando intervir na solução de conflitos sociais e nas
guerras, a de Mo Ti, que pretendia instituir a paz universal por meio de uma ativa propaganda de
amor ao próximo e de uma organização militar a serviço da segurança pública; a dos Legistas, que
só concebiam paz pela conquista militar e mediante a centralização em um único governo que
imporia suas leis pela força. Entre as escolas não intervencionistas inspiradas na pratica da
agricultura merece destaque a de Confúcio, que segundo ele , não havendo conhecimento, a vontade
é impotente; o essencial é conhecer o homem, o homem em sociedade.

A matemática desse período era bastante desenvolvida e havia instrumentos para realizar os
cálculos que deram origem ao que hoje conhecemos com o nome de “ábacos”. Havia relojoeiros,
astrônomos e astrólogos a serviço do governo. Desde os primeiros textos o calendário já esta
dividido em 365 e dias, e há catálogos que fazem referências a 1.464 estrelas agrupadas em 284
constelações. São conhecidas as explicações a partir do dualismo yin (escuro, frio, úmido, feminino,
impar...) e yang (luminoso, quente, seco, masculino, par...) que será importante para explicar tantos
dualismo da ciência moderna, como por exemplo a teoria ácido - base ou da matéria –antimatéria.

Essa teoria era empregada na medicina chinesa para explicar as causas das enfermidades, que
compreendiam os seis “excessos”: o frio e o calor, o vento e a chuva, a luz e a escuridão.
Os chineses cultivavam um grande número de plantas, e sua farmacopéia descrevia os produtos
úteis, inúteis ou prejudiciais dos três reinos. Na mais antiga obra encontra-se uma relação de mais
trezentas plantas e 46 substâncias minerais

Sumário

Neste primeiro capitulo procuramos buscar nossas origens pretendeu mostrar como se iniciou a
construção do conhecimento. A história parte desde os tempos primitivos do homem com as grandes
descobertas principalmente do “fogo” e da roda que trouxe ao conhecimento humano os principais
meios de cozimento para alimentação, fusão dos metais entre outras funções importantes, e a roda
que veio trazer o meio de locomoção do homem.

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II CAPITULO - A CIÊNCIA GREGA

1.0 Introdução

Costuma-se atribuir o início da ciência aos pensadores da Grécia da cidade de Mileto (Ásia Menor,
atual Turquia), no sec. VI a.C. – (cidade que foi destruída em 494 a.C. pelos persas). Conforme já
vimos, devemos salientar que ocorreu um desenvolvimento semelhante e independente na China. A
ciência nasceu duas vezes, pelo menos. Concentrando-nos no Ocidente, poderemos perguntar: o que
havia antes da ascensão das cidades - estado gregas?

Tecnologia.
Em 3000 a.C., já se estabelecera a metalurgia, a tecelagem e a cerâmica, assim como o uso da roda
em veículos de transporte (adaptado da roda do ceramista). A agricultura, com suas técnicas de
irrigação, domesticação de animais, preparação e preservação de alimentos, foi essencial para o
surgimento de cidades. Além disso, a escrita surgiu em torno de 3500 a.C.
Tais desenvolvimentos técnicos implicam uma ciência? À medida que não envolvem uma
teorização consciente, não. No entanto, tais desenvolvimentos certamente envolvem uma grande
capacidade de observação e de aprendizado, que são essenciais na ciência.

Medicina
A medicina nos antigos Egito e Mesopotâmia era dominada por magia e superstição. No entanto,
um papiro egípcio (chamado "Edwin Smith") de 1600 a.C. (mas que se refere ao período anterior)
relata 48 casos de cirurgia clínica, envolvendo ferimentos de guerra, cada qual apresentando
exame, diagnóstico e tratamento, além de explicações de termos médicos.

Astronomia e matemática
Grande parte do esforço astronômico se dirigia à elaboração de calendários, o melhor dos quais era
o egípcio. No entanto, foi na Babilônia que a matemática e a astronomia mais avançaram. Os
babilônios introduziram um sistema numérico com "valor posicional", como o nosso atual, só que
na base 60 ao invés de na base 10. Já o sistema egípcio era como o romano, sendo inferior para
certas operações, como as envolvendo frações. Os babilônios registravam sistematicamente os
acontecimentos celestes, como os aparecimentos e desaparecimentos do planeta Vênus, eclipses
solares e lunares, além de fenômenos meteorológicos. Com isso, eram capazes de fazer algumas
previsões astronômicas, baseadas em regularidades aritméticas (e não modelos geométricos do
cosmo), como as de eclipses lunares (os solares são mais difíceis de prever).
Com esse cenário, o que os milésios como Tales, Anaximandro e Anaxímenes, além dos outros
chamados "filósofos pré-socráticos", trouxeram de novo?

I) A separação entre a natureza e o sobrenatural. As explicações dos milésios não faziam referência
a deuses ou forças naturais. Se na mitologia grega os terremotos tinham sua origem no deus dos
mares (Poseidon), para Tales a explicação não envolvia deuses. Para ele, a terra boiava na água do
oceano, e os terremotos teriam sua origem em grandes ondas e tremores marítimos.

II) A prática do debate. Os pensadores pré-socráticos discutiam criticamente as idéias de seus


colegas e antecessores, muitas vezes em frente a uma platéia. Uma conseqüência disto é que
diferentes explicações para um mesmo fenômeno natural passavam a competir entre si. O esforço
para encontrar a melhor explicação levava a uma reflexão a respeito dos pressupostos, das
evidências e dos argumentos a favor e contra teorias opostas.

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Por que estas novidades surgiram numa cidade - estado grega no séc. VI a.C., e não em outro lugar
ou em outra época? Uma contribuição decisiva foi dada pela organização política de cidades -
estado como Mileto, Atenas e Corinto, onde os cidadãos participavam ativamente na escolha de
membros do governo e na elaboração de leis.

2.0 A Estruturação do Conhecimento


Nenhum povo da Antigüidade influenciou tão decisivamente nossa civilização ocidental como os
gregos. Eles reúnem características que os distinguem singularmente dos demais povos cuja cultura
se desenvolveu antes do inicio da era cristã. Esse povo diferente dos que conhecemos, não se
estabeleceu as margens de um grande rio, a Grécia de hoje, que coincide aproximadamente com a
Hélade dos antigos, é predominante, montanhosa, árida e rochosa. Há uma região continental, onde
se destaca o maciço do Olimpo, com pico do mesmo nome com 2.917 m; uma região peninsular, o
Peloponeso, ligada ao continente pelo istmo de Corinto; e uma região insular formada por mais de 2
mil ilhas agrupadas em 3 arquipélagos além das ilhas de Creta (a maior de todas com 8.336 km2),
Lesbos, Quios e Samos.
Os gregos diziam que seu mar pontilhado de ilhas era o espelho do céu, pois é aproximadamente o
número de estrelas visíveis a olho nu.

Nenhuma região do mundo apresenta uma costa tão extensa em relação a superfície 1 km de costa
para cada 10 km2 de área, permitindo assim entendermos porque a marinha mercante grega é a
terceira do mundo, e por que no período que vamos estudar, a navegação e o comércio marítimo
foram tão importantes. Essa geografia fez com que os gregos dependessem muito da pesca e de uma
agricultura de pequenas propriedades familiares, onde cultivavam azeitonas e uvas sendo a
economia completada com um agressivo comércio exterior, através de um organizado sistema de
transporte marítimos.

Diferentemente dos outros povos os gregos não tinham livros sagrados e seus deuses participavam
das fraquezas e paixões humanas. Assim puderam fazer uma seleção critica dos elementos culturais
que tomaram de seus vizinhos mais antigos e daqueles que invadiam seu território. (Mesmo não
tendo livros sagrados veremos que Hesíodo, na sua Teogônia, racionalizou os mitos, contando como
os deuses inicialmente eram monstruosos, tornaram-se a imagem e semelhança dos homens
morando no Olimpo e comendo néctar e ambrosia). Quatro fatores propiciaram a origem e o
desenvolvimento da ciência e da cultura grega:

a) uma grande curiosidade intelectual que os levou a absorver conhecimentos e técnicas de outras
culturas mais complexas.
b) A ausência de uma organização administrativo - religiosa que impusesse pautas rígidas de
comportamento e conduta.
c) O pequeno tamanho das cidades – Estados, que facilitava a participação ativa de todos os
cidadões nos assuntos públicos, e sua proximidade física com a s técnicas de produção,
d) A sua tendência a reflexão e seu afeiçoamento a argumentação e a dialética, que os impelia a
contrastar as idéias de cada um com as dos demais.

Menos assim não há um “gênio” grego , o surgimento de um pensamento racional (filosofia), foi
decorrente de diversos entrelaçamentos econômicos, culturais, sociais e históricos. A fixação da
escrita, o estabelecimento de leis escritas, a criação da moeda cunhada com a efígie do rei, a divisão
dos poderes civil, militar e religioso, fizeram com que a filosofia fosse chamada para resolver o
caos da cidade (pólis) e do cidadão.

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A história que levou esse povo a prestar em tempos remotos, tão importante legado a ciência
moderna, usualmente se divide em dois períodos: períodos remotos e idades próximas.
Temos poucas informações sobre os períodos remotos, quase todas de natureza arqueológica e nas
chamadas idades próximas podemos sintetizar quase 1.500 anos de história da Grécia.

 Período Geométrico – (1.100 a 700 a.C.)


Os dóricos ganham supremacia com suas armas de ferro e inicia-se o comércio com os
povos vizinhos;
 Período do Arcadismo ( 700 a 500 a.C)
 As cidades estados se desenvolvem, mantendo a uniformidade da vida social, política e
religiosa.
 Período Clássico (500 a 323 a.C)
Ocorrem memoráveis batalhas (Maratona, Salamina) – nesse período se consagra o
pensamento grego com influência nas armas, no comércio e nas artes.
 Período Helenístico (323 a 146 a.C)
A civilização grega se espalha além de suas fronteiras e o grande império se parte em
pequenos reinos.
 Período Romano (146 a.C. a 300 d.C.)
Os romanos conquistam a Grécia e a transformam em uma província, a Acaia, local de
excelência para o aperfeiçoamento pelos romanos de suas elites culturais.

As primeiras informações escritas sobre os gregos, ainda de um tempo anterior ao vamos estudar se
devem a dois poetas gregos: Homero e Hesíodo. Não se sabe se Homero existiu realmente, ou se é
um nome genérico dos poetas épicos gregos. Esses poetas percorriam o mundo mediterrâneo
recitando seus poemas. As duas obras creditadas a Homero são a Ilíada e Odisséia os chamados
tempos homéricos vão do século XII ao VII a.C. Os poemas de Homero retratavam os heróis de
uma raça conquistadora que acabava com a tirania, criando um amistoso ambiente nas relações
entre os homens e deuses. Os poetas de Homero desfrutaram de imensa popularidade na
Antigüidade e serviram de base para o ensino, sendo tomados como padrão ético e estético e
exemplos para muitos outros poetas épicos gregos e latinos, inclusive nos tempos modernos.

Hesíodo, que viveu na primeira metade do século VIII a.C é considerado o pai da poesia didática e
um inspirador de gerações de poetas, pois na sua época ainda não se conhecia a escrita e suas obras
se mantiveram por tradição oral. Nos seus trabalhos destacam-se: Os trabalhos e os dias – escrito
para pedir a punição de um irmão desonesto – onde Hesíodo defende a necessidade do trabalho
árduo como condição humana acabou sendo um dos mais detalhados documentos sobre técnicas
agrícolas e as práticas rurais do período do Arcadismo;

A Tegônia (a descrição da origem do Universo) e o Escudo de Héracles. Dos seus escritos


podemos apreender qual função principal da religião grega consistia em interpretar a natureza e seus
processos em termos inteligíveis, fazer com que o homem se sentisse no mundo como em sua casa.

3.0 O Desenvolvimento da Polis


A partir de 1.150 a.C. (data aproximada) os dórios, vindos do norte, começaram a a invadir a
Grecia, estabelecendo-se em Epiro, Etólia, Arcânia, Peloponeso Greta e Anatólia. Outros povos
também entraram em terras gregas, a civilização milênica foi destruída, e a cultura de certa maneira
retraiu-se, o comércio cedeu à economia agrícola e a escrita desapareceu, vivia-se no isolamento das
aldeias, com formas de vida tribais, sendo esse período denominado “idade das trevas”.

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Transformações decisivas dão-se no plano político realeza desaparece e o poder político passa a ser
controlado por uma aristocracia de ricos proprietários de terras, o resultado é o fim da unidade
política e a sociedade passa a ser vista como lugar de desordem, de conflitos entre os variados
grupos sociais. Como preservar a unidade e a coesão da comunidade sem a existência de um rei?
Como recuperar a ordem e a harmonia perdidas?.
A organização da “polis” impõe-se aos poucos como respostas a essas perguntas. Na origem da
pólis encontram-se também outros fatores como o renascimento do comércio que ganha grande
impulso com a invenção da moeda cunhada – acabando com isso o isolamento das aldeias levando a
união que acaba por dissolver as antigas linhagens tribais.

Também o centro da cidade sofre uma mudança radical, passa a ser a ágora, a praça pública onde
acontecem as transações comerciais e as discussões sobre a vida da cidade, a começar por sua
defesa. O acesso a ágora passa a ser cada vez maior estendendo-se a democracia, a todos que tem
direito a cidadania, habitantes do sexo masculino, adultos que não sejam estrangeiros nem escravos.
Essa nova forma de organização política e social é a “polis”, cujas características, são a supremacia
dos “logos” (que significa, “palavra”, “discurso” e razão”), pois a decisão sobre os assuntos
públicos depende apenas das forças das palavras dos oradores.
Essa revolução política foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano. Na polis
com os cidadões em pé de igualdade, vence quem sabe convencer, é preciso valer-se
exclusivamente do raciocínio e da correta exposição de idéias – em suma do logos – que passa
inclusive a ser o critério para pensar qualquer coisa.

4.0 O Desenvolvimento da Ciência Grega


É preciso recordar que mesmo que se deseje conhecer, um pouco da ciência dos gregos esta não é (e
não pode ser) dissociada da filosofia, com a qual se estrutura de maneira conjunta. Esta tentativa de
conhecer a ciência dos gregos pode ser esquematizada em alguns passos que marcam a filosofia,
que eles produziram para explicar o mundo visível nos últimos séculos que antecedem a nossa era:

Século VI a.C - Surgem três escolas: da Jônia, de Pitágoras e de Eleia.


Século V a.C – dominado pelos atomistas: Período Clássico – Anaxágoras e Empédocles. Os
sofistas – Hipócrates de Quios e Hipócrates de Cós. Sócrates e a escola socrética.
Século IV a.C – Platão e Aristóteles
Século III a.C – A Grécia perde a hegemonia política e cultural.

Em cada um desses grandes momentos da construção da maneira de pensar dos gregos vamos
buscar a presença da “espiteme” termo grego que significa “ciência” em oposição à “doxa”, que
significa “opinião” e à “techne”, “arte ou habilidade”.

4.1 A Ciência Jônica


Mileto, capital da Jônia, na costa da Ásia Menor, foi provavelmente no século VI a.C., o berço da
ciência grega, bem como de suas primeiras escolas de arquitetura e literatura. Os milésios habitantes
de Mileto – estavam interessados na natureza, e buscavam explicações para as coisa à luz de sua
experiências diárias surgindo dentre eles notáveis inventores muito valorizados como:

Anacarsis o Escita, a quem é atribuída a invenção do fole e da roda de ferreiro, bem como do
aperfeiçoamento da âncora.

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Glauco de Quis, que teria inventado o soldador; Teodoro de Samos, que teria ensinado a fundir o
bronze e inventado o níquel, o esquadro e o compasso. Esses nomes surgem novos poemas que se
cantavam os feitos dos homens da época, no entanto, sua referência é indicativa do quanto os
jônicos consideravam a ciência.

Há quatro grandes filósofos jônicos que prestaram significativa contribuição a compreensão da


natureza, por representarem a síntese do pensamento de outros que os antecederam e de muitos de
seus discípulos conhecidos como “jônicos”.

As Teorias dos Milésios


Os filósofos-cientistas teóricos milésios são mais lembrados pelas três cosmologias propostas.

Tales de Mileto (640-548 a.C)


Considerado pela tradição clássica, o primeiro filósofo – matemático e astrônomo, previu o eclipse
do Sol de 585 a.C.. Mercador que viajou muito, guiando-se pelas estrelas. Visitou o Egito onde
estudou geometria , tendo superado seus mestres, porque compreendeu melhor que eles a natureza
das demonstrações gerais. Concebeu um método de calcular a distância dos barcos à costa,
utilizando a semelhança de triângulos. Tales ainda propôs que “a água é o principio formador de
tudo,” sendo assim o primeiro a oferecer uma explicação geral da natureza sem invocar o poder
sobrenatural. No entanto, não se conhecem explicações sobre como esta água se transformaria em
outras substâncias, como o fogo.
Se Tales aparece como o iniciador da filosofia, é porque seu esforço em buscar o princípio único
para a explicação do mundo não constituiu o ideal mesmo da filosofia como também forneceu-lhe o
impulso para desenvolver-se.

Anaximandro (610-547 a.C.)


Díscipulo de Tales de Mileto, ampliou suas observações e elaborou uma teoria que expôs em Sobre
a natureza, onde afirmou que a água não poderia ser o princípio de tudo, pois como a terra, a neve,
e o fogo, ela sofre transmutações. São formas diferentes de uma substância que chamou de
“Ilimitado” o “indeterminado”, e disso resulta uma series de pares opostos- água e fogo; frio e calor
– que constituem o mundo. O “Ilimitado”, é desse modo algo abstrato, que não se fixa em nenhum
elemento palpável da natureza, seria assim, uma substância eterna, indestrutível, infinita, dotada de
movimento invisível.

Anaxímines (588-524 a.C.)


Discipulo de Anaximandro, ensinou que a substância originária não poderia ser a água (como
acreditava Tales) e nem tampouco o “Ilimitado” (como ensinava Anaximandro), e sim o ar infinito
que seria o principio de tudo (o pneuma aiperon), que através da rarefação se transformaria em
fogo e da condensação em água formaria todas as coisas. Explicava da mesma maneira que nossa
alma é ar, também o aiperon mantém unido o universo inteiro. Tudo que existe, mesmo
apresentando qualidades diferentes, reduz-se as variações quantitativas (mais raro, mais denso)
desse único elemento. Temos assim os primeiros passos para entender o problema da mudança.

Heráclito de Éfeso (540-475 a.C.)


Filósofo jônico – ensinava que o universo muda e transforma a cada instante, havendo um
dinamismo eterno que o anima. Tudo é movimento, tudo flui. Dizia ele “que não nos banhamos
duas vezes no mesmo rio”, porque, na segunda vez, nós não mais seremos os mesmos e o rio terá
mudado pois, sempre estão ocorrendo mudanças esse é o sentido da dialética. Heráclito foi um
pensador radical, os gregos o achavam-no muito abstrato, congeminando-o de Heráclito o Obscuro.

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Outras teorias naturalistas também foram propostas pelos milésios. Anaximandro, por exemplo,
propôs o primeiro modelo mecânico para os corpos celestes. Postulou anéis de fogo que se
esconderiam por trás de uma névoa espessa, e furos nesta névoa apareceriam como estrelas.
Concebeu a Terra não como repousando na água, dado que havia o problema de explicar sobre o
que esta água repousaria. Concebeu-a como flutuando livremente, "permanecendo onde está por
estar à mesma distância de tudo".

Anaximandro também considerou o problema da origem da vida e do homem. Defendeu que os


seres vivos são gerados quando o "sol age no molhado", evidenciando que acreditavam em geração
espontânea. Quanto ao ser humano, concebeu uma forma de evolucionismo, postulando que o
homem teria vindo de uma espécie de peixe “um cação, que gera seu filho fora do corpo atado a
um cordão”, lembrando o que ocorre no parto humano.

O princípio unificador que governa o mundo é o logos, tanto considerado como o principio
subjacente ao fogo, como a inteligência humana. Essa idéias dos jônicos estão ainda presentes em
muitas de nossas concepções de natureza. Se substituirmos os termos “ar”, ´”agua”, “terra” e
“fogo”, por “gás”, “líquido”, “sólido” e “energia”, encontramos a descrição do universo feito por
Anaximines. É preciso lembra que os jônicos enunciaram essas ideias mais de quinhentos anos
antes de Cristo

4.2 Os Pitagóricos: tudo é matemática


Pitágoras (582-497 a.C.)
Nascido na ilha de Samos, na Ásia Menor, mudou-se para Crotona, na Magna Grécia (atual Itália),
onde formou uma escola religiosa, filosófica e política.
Foi considerado um reformador religioso, tendo uma seita religiosa e mística que tinha como base o
“orfimismo” – inspirada na figura mítica de Orfeu - um culto popular que pregava a transmigração
da alma e a necessidade de purificação do homem para salva-lo do ciclo de sucessivas
reencarnações. Também lhe é atribuída a criação da palavra filosofia (sophos “ sábio” , sophia “
saber” e philos “amigo”) isto é amizade ao saber.

A harmonia está presente, por exemplo na música – um dos elementos chave da pratica ritual do
orfimismo. Conta-se que Pitágoras, examinando a música teria descoberto que o som varia de
acordo com o comprimento da corda, numa relação proporcional simples: diminuindo-se pela
metade o comprimento da corda obtém-se uma oitava acima, um acorde ou harmonia é produzido
quando o comprimento das cordas está na razão de 3:4:5. A musica em suma é uma relação
numérica, e se soa desagradável é porque a relação entre os números não se encontra numa posição
justa. Os pitagóricos vão estender para todas as coisas esse entendimento de musica, o mundo é
número e, para mostra-lo, reduzem tudo que existe a figuras geométricas simples. O ponto
é o numero um, a linha o numero dois, a superfície o três e o volume quatro. Se o mundo é um
número cabe então descobrir as características de cada um de suas relações: Representados
geometricamente os números pares sempre formam um retângulo e representam alteridade,
enquanto os impares que formam um quadrado, com lados iguais, constituem a identidade.

Os pitagóricos viam nos números os elementos básicos de tudo, o que pode ser considerado uma
"causa formal", eles aplicavam a numerologia para tudo. Com isso, realizaram talvez o primeiro
estudo empírico sistemático, ao elaborarem uma lei científica quantitativa, na Acústica. Estudaram
a relação entre os tons musicais de uma corda vibrante e seu tamanho, encontrando que os
intervalos de oitava, quarta e quinta poderiam ser expressos em termos de razões numéricas simples
de comprimentos da corda, respectivamente 1:2, 2:3, 3:4.

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Para os pitagóricos, os números exprimiam mais do que aspectos formais dos fenômenos: as coisas
seriam feitas de números. Desenvolveram também vários modelos astronômicos. Um bastante
interessante foi sugerido por Filolau de Crotona (c. 410 a.C.). O fogo central do universo, Héstia,
que alguns pitagóricos colocavam no centro da Terra, permanecia no centro do cosmo, mas a Terra
era deslocada para fora do centro, circulando em torno de Héstia. Nós não veríamos este fogo
central porque uma "contra-Terra" circularia Héstia, bloqueando a sua visão para os terráqueos.
Com isso, procuravam explicar porque os eclipses lunares são mais freqüentes do que os solares.
Os pitagóricos também foram importantes por terem desenvolvido métodos dedutivos em
Matemática.

O mais conhecido envolve a prova do "teorema de Pitagoras", aplicável para os lados de um


triângulo com ângulo reto: a² + b² = h², cujo enunciado já era conhecido dos babilônios. Outro
problema trabalhado na época envolvia a impossibilidade de exprimir a raiz quadrada  2 como a
razão de dois números, x/y, teorema que na época de Aristóteles seria demonstrado.
Diversas outras descobertas significativas foram feitas por volta desta época, como por exemplo o
problema de construir um cubo cujo volume é o dobro de outro. O trabalho de Arquitas de Tarento
(385 a.C.), que terminou por resolver esta questão, envolveu uma sofisticada construção
tridimensional.

4.3 O Problema da Mudança: Escola de Elea (Eléia)


O grande problema metafísico do início do séc. V a.C. era o problema da mudança: como é possível
algo mudar, e deixar de ser o que era?. Os pensadores do sec. V a.C. ocupavam-se com explicações
sobre todo tipo de questão: Por que o mar é salgado? Por que o Nilo transborda? Como ocorre a
diferenciação sexual em embriões?

Heráclito de Éfeso (500 a.C.)


Salientava que tudo estava sujeito a mudanças: "panta rhei" (tudo flui). Explorava exemplos, como
o da corda tencionada, que indicava que por trás de um repouso aparente havia uma interação entre
contrários, que finalmente podia levar ao movimento (no caso, quando a corda é solta).

Parmênides de Eléia (544-450 a.C.)


Considerado Parmenides o Grande - tomava uma posição oposta do que qualquer pensador antes
dele. Parmênides duvidava da evidência dos sentidos, colocando a razão como única fonte
confiável de conhecimento. Em seu famoso poema, salientou que "o que é não pode deixar de ser",
ou que "do não-ser não pode surgir o ser". Em suma, a mudança é impossível. As mudanças que
vemos à nossa volta são apenas aparentes, não são reais. Após as conclusões de Parmênides, todos
os filósofos gregos tinham que tomar uma posição em relação às suas teses. Este pensamento
inaugura a metafísica, por não se contentar com a aparência das coisas e buscar-lhes a essência e a
lógica (o principio da não contradição existente no ser, que é, e não ser, o que não é).

Zenão (490-430 a.C.)


Discípulo de Parmênides – notabilizou-se sobretudo pelos seus paradoxos acerca do tempo, com os
quais pretendeu refutar o mobilismo e o pitagorismo. – “Se o espaço é infinitamente divisível, é
impossível percorrer qualquer distância infinita de segmentos espaciais em um tempo finito.” – É
considerado o fundador da dialética.

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Xenófantes (se. IV a.C.)
Considerado o fundador da escola eleática. Ridicularizou os deuses mitológicos e zombou das
honrarias concedidas aos atletas olímpicos porque “ o nosso saber vale muito mais que o vigor dos
homens”.

Empédocles de Agrigento (445 a.C.)


Concordava com as limitações do sentido, mas também argumentava que a razão era limitada.
Empédocles concordava que "nada pode vir a ser a partir do não-ser", mas restaurava a noção de
mudança negando a unicidade do ser: haveria quatro elementos, terra, água, ar e fogo, que
produzem mudanças ao se juntarem e separarem. Para responder à questão de como apenas quatro
"raízes" podiam levar a uma multiplicidade de diferentes substâncias, lançou a idéia de que os
elementos se combinariam em diferentes proporções, dependendo da substância. Assim, por
exemplo, o osso consistiria de fogo, água e terra na proporção 4:2:2, ao passo que o sangue
consistiria dos quatro elementos em iguais proporções. Não efetuou, no entanto, nenhuma
investigação empírica metódica para explorar sua idéia, que antecipou (de modo especulativo) a lei
das proporções fixas da química moderna.

Anaxágoras de Clazômenas (499-428 a.C.)


Tutor de Péricles em Atenas considerado o fundador da escola filosófica ateniense. Foi acusado de
ateísmo por se recusar a prestar culto aos deuses do Olimpo, sendo expulso de Atenas. Afirmava
que o principio de todas as coisas são sementes , que inicialmente se misturam e se separam num
caos, e são ordenados pela inteligência. Para ele tudo que existe é composto de todos esses
elementos, uns em quantidade maior outros em proporções tão ínfimas que nem sequer são
perceptíveis. A pluralidade das coisas explica-se assim por infinitas combinações de todos os
elementos. Enfocando o nosso corpo, no entanto, perguntava-se como era possível um cabelo, por
exemplo, surgir a partir do "não-cabelo". Concluiu que o cabelo já deveria existir em nosso
alimento, enunciando então que "em tudo há uma porção de tudo". Um cabelo, então, deve ter
existido desde o começo, na mistura original de todas as coisas.

A outra abordagem para o problema da mudança foi o atomismo de Leucipo de Mileto (435 a.C.) e
Demócrito de Abdera (410 a.C.). Segundo esta visão, só têm realidade os átomos e o vazio.
Qualquer diferença que observamos no mundo é devido a modificações na forma, arranjo e posição
dos átomos. Haveria um número infinito de átomos espalhados no vazio infinito. Os átomos
estariam em movimento contínuo, chocando-se freqüentemente uns com os outros. Nas colisões, os
átomos podem rebater ou então se ligarem através de ganchos ou formas complementares. Diziam
“Nada é criado do nada.” Uma pedra pode ser partida em pedaços cada vez mais pequenos, pode
ser pulverizada mais e mais e cada pedaço dela ou cada partícula de pó segue sendo igual à matéria
original”. A questão está em saber se as divisões podem prosseguir indefinitivamente ou se há um
limite além do qual não se pode passar.

Os atomistas, assim, escapavam das conclusões eleáticas postulando uma infinidade de seres (os
átomos) e também a existência do não-ser (o vácuo). Demócrito foi um escritor prolífico, redigindo
tratados de física, astronomia, zoologia, botânica, medicina, agricultura, pintura e guerra. Aplicou
em detalhe o atomismo em sua doutrina das qualidades sensíveis.
O atomismo grego teve uma aceitação restrita por duas razões:
A primeira foi seu materialismo total que explicava a percepção, inclusive o pensamento em termos
de movimento dos átomos e parecia não deixar espaço para os valores espirituais.
A segunda é que proporcionava explicações para cada caso, sem que fosse possível obter
conclusões verificáveis pela experimentação

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4.4 Os Sofistas
Mestres da retórica e oratória, apareceram na Grécia no século V a.C. – Professores intinerantes
ensinavam sua arte nas praças aos cidadões em geral, pois o domínio do discurso era fundamental
para participação nas assembléias das cidades gregas. – Foram caracterizados por uma concepção
antropocentrica, em oposição visão cosmológica dos filósofos jônicos. Os sofistas utilizavam o
relativismo como forma de expressão e sua defesa da idéia de que a verdade é resultante da
persuasão e do consenso entre os homens. Tiveram contra eles livros escritos por Platão e
Aristóteles que condenavam o relativismo dos sofistas.

A palavra sofista ganhou sentido de demagogo e sofisma de “argumento falso” Na Grécia clássica
foram odiados e procuravam acumular conhecimentos e técnicas nas diversas atividades humanas.
“O homem é a medida de todas as coisas” .. “das que são enquanto são, e das que não são enquanto
não são” – Afirmação de Protágoras (485-410 a.C.) considerado o primeiro sofista. Estudos mais
recentes buscam revalorizar o pensamento dos sofistas mostrando que o relativismo deles baseava-
se em uma doutrina de natureza humana e de sua relação com o real para explicação de fatos e
argumentos utilizados.

4.5 Hipócrates de Quios e Hipócrates de Cós

Para muitos o nome de Hipócrates esta associado apenas a medicina e a ética médica através do
“juramento de Hipócrates”. No século V a.C. entretanto houve dois gregos chamados Hipócrates:

Hipopcrates de Quios (Século V. a.C.)


Matemático da ilha Jônia de Quios, foi um mercador muito mal sucedido que devido a problemas
fiscais e alfandegários, mas tornou-se célebre matemático resolvendo problemas que desafiavam os
estudiosos, como o da duplicação do cubo, e encaminhando a solução de outros, como a quadratura
do círculo.

Hipócrates de Cós (século V a.C.)


Foi um seguidor do fundador da medicina o lendário “Esculápio” (nasceu em Cós por volta de 460
a.C.) e os seus ensinamentos e de seus colegas estão reunidos em cerca de sessenta textos
conhecidos como “Corpus hipocraticum, que relatam doenças em geral relacionadas com os
humores, e os conhecimentos médicos propostos para a sua cura, geralmente baseados em ervas.
Nestes tratados, encontra-se uma preocupação em separar o médico devidamente preparado de um
charlatão despreparado. Boa parte da reputação do médico referia-se à sua capacidade de fazer uma
prognose, descrevendo corretamente a evolução de uma doença. Já a cura era mais difícil, com os
meios limitados de então. Entre os métodos de tratamento do Corpo Hipocrático estavam a cirurgia,
a cauterização, o sangramento, a administração de purgantes e, especialmente, o controle do
"regime", com dieta e exercício. Algumas cidades gregas desenvolveram famosas escolas de
medicina.

Um traço distintivo dos métodos hipocráticos era a concepção de que a doença é um fenômeno
natural, o efeito de causas naturais, e não a ação divina ou sobrenatural. Apesar disto, é claro,
permaneciam bastante traços de superstição. Outro métodos desenvolvidos incluíam o exame
cuidadoso do paciente e dos fluidos expelidos, e a observação sistemática da evolução do paciente.
Estudos de caso tão detalhados só seriam retomados no séc. XVI, com Guillaume de Baillou, que se
inspiraria na obra "Epidemia" do Corpo Hipocrático.

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Havia diversas teorias sobre as causas das doenças. Alguns defendiam uma causa única para todas
as doenças, outros que em cada paciente a causa era singular. No entanto, como o fim prático era o
tratamento dos doentes, os médicos valorizavam acima de tudo a coleta de evidência e a cautela
com hipóteses causais. No tratado "Sobre a Medicina Antiga", o autor protestou contra a importação
para a medicina das idéias de filósofos, com seus conceitos de calor, frio, seco, úmido, etc.
Salientou que a medicina é uma arte, techne, que requer prática e não necessita de hipóteses. Apesar
destas críticas contra o uso de explicações teóricas, era inevitável que algumas hipóteses
explicativas acabassem sendo adotadas pelos médicos, como a divisão entre os quatro humores:
sangue, bile amarela, bile negra e flegma (catarro). A recusa em aceitar as especulações filosóficas
caracteriza uma postura que era chamada de empirista.

Para explicar o crescimento, utilizava-se o princípio de "atração dos iguais pelos iguais": cada
substância do corpo atrairia a substância igual presente nos alimentos ingeridos. Tal princípio se
encontra em toda ciência grega, como no provérbio de que "pássaros de pena voam juntos".
Outro problema agudo era o de explicar como as diferentes substâncias de um animal adulto
surgiam a partir de uma semente aparentemente homogênea. Demócrito defendeu que a semente já
contém em si todas as substâncias do corpo. Esta visão foi uma das poucas concepções dos filósofos
que acabou sendo incorporada na visão médica, assim como seria a concepção posterior de
Aristóteles com relação à semente. É digno de nota que, ao lado das inevitáveis especulações
concernentes à embriologia, temos a primeira referência a uma investigação sistemática sobre o
crescimento do ovo de uma galinha no cap. 29 do "Sobre a Natureza da Criança". Vinte ovos foram
incubados, e a cada dia um era aberto para que se observasse o embrião. É provável que nesta época
já se empregasse o método da dissecação em animais (em humanos, isso só ocorreria no séc. III
a.C., em Alexandria).

4.6 Escola Sócrática


Sócrátes (470-399 a.C.)
É um marco nasceu e morreu em Atenas. – Há quem diga que a filosofia propriamente dita só
começou – ou ao menos só chegou a maturidade com Sócrates. Filho de um escultor e de uma
parteira, fez da profissão dos dois parte de seu aprendizado. Eternizou seu método de ensinar “a
maiêutica” (arte de partejar espíritos) e a ironia (arte de interrogar), promovendo assim uma
parturição de idéias que consiste o interlocutor desenvolver o seu pensamento sobre uma questão
que ele pensa em conhecer, para conduzi-lo a verificar que nada sabe, e só então chegar ao saber.
Não tinha escola, não professava nenhuma ciência, não deixou nenhuma obra escrita, pois todo o
seu ensino era pela conversação, mas é considerado o consolidador de toda a filosofia dos que o
antecederam. Tornou-se um educador público e gratuito mostrando que “opiniões não são verdades
pois não resistem ao diálogo critico”.
Como não deixou nada escrito sua obra é conhecida através de seus discípulos e seguidores – Platão
– Xenofonte e Aristóteles. – Platão enriqueceu a maiêutica e a ironia – transformando-as em
dialéticas, Xenofonte a resumiu e Aristóteles apresentou dela um extrato incompleto.

Só sei que nada sei


Segundo Platão, Sócrates teria recebido uma “missão” - origina-se numa consulta que seu amigo
Querofonte faz aos deuses no santuário de Delfos, para haver se havia um homem mais sábio que
Sócrates. – A resposta é negativa. Intrigado, pois não se julgava sábio, Sócrates resolve investigar.
Uma das divisa de Sócrates e´ “Conhece-te a ti mesmo”, que traduz a necessidade de o
conhecimento tornar-se uma ciência de ensinar os homens a praticar o bem e administrar as coisas
da polis. Não se trata de apenas um investigação psicológica, mas de um método para se adiquiri a

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ciência dos valores que o homem traz de si. Há quem considere que a Filosofia propriamente dita
somente chegou a maioridade com “Socrates”.

Em busca da essência
Em busca da essência – Sócrates simplesmente pergunta. Não ensina, quer apreender, destruindo
respostas fáceis dos interlocutores, mostra que o pensamento deve ser mais prudente. Se as
respostas saem fácil é porque a pergunta foi mal formulada.

A condenação da ética
A Sócrates interessam o homem e suas ações, exatamente aquelas tidas como virtuosas, numa época
em que ser virtuoso era sinônimo de cidadão.
Sócrates foi acusado de corromper a mocidade e ser inimigo das leis e das autoridades e
desobediente para com os deuses. Por isso foi julgado e condenado a morte por ingestão de cicuta.;

4.7 As Teorias Platônicas e Aristotélicas


Na segunda metade do séc. V, três fatores influenciaram o desenvolvimento do pensamento grego:
 A expansão da educação, associada ao movimento dos sofistas, que ensinavam qualquer
matéria, além das já tradicionais gramática, música e poesia, em troca de dinheiro;
 Uma virada das preocupações com a filosofia da natureza para a ética, feita por Sócrates e
por muitos sofistas, como Protágoras;
 Atenas tornou-se o principal centro intelectual da Grécia.

Platão (427 – 348 a.C.)


Nasceu em Atenas e discípulo de Sócrates, deixou a cidade após a morte de seu mestre, e por doze
anos visitou outros centros do saber retornando a Atenas ao 40 anos de idade. Entre seus tratados –
ampliou a teoria de Sócrates sobre a idéia: “A idéia é mais do um conhecimento verdadeiro ela é o
ser mesmo, a realidade verdadeira, absoluta e eterna, existindo fora e além de nós, cujos objetos
visíveis são apenas reflexos”

Herdou a preocupação moral de seu mestre, Sócrates, mas também fez contribuições importantes
para a ciência. Fundou sua Academia em torno de 380 a.C., que agregou vários matemáticos,
astrônomos e filósofos importantes. Apesar de se dedicar pouco a áreas particulares da ciência,
Platão contribuiu de maneira significativa para a filosofia da ciência.
Na "República", Platão descreveu a educação do filósofo - rei, que deveria governar a república, e
salientou a importância da razão sobre a sensação. A astronomia platônica, por exemplo, seria uma
astronomia abstrata, matemática. Sua abordagem de matemática da ciência vinha junto com um
desprezo pela observação, mesmo em uma ciência como a acústica.

A Cosmologia de Platão
No "Timeu", Platão apresenta uma cosmologia que parte da distinção entre o mundo mutável do vir
–a - ser e as "Formas" que existiriam de maneira eterna. Ele reconhece que qualquer especulação
sobre o vir –a - ser do mundo não pode ser considerada verdadeira, mas isto por uma questão de
princípio, e não por falta de evidência. Os problemas da física não podem ser resolvidos por
métodos observacionais: tal atividade não passaria de mera "recreação".

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A cosmologia de Platão envolve as Formas puras, as entidades particulares que são modeladas de
acordo com as Formas, e uma teologia, personificada por um demiurgo, o artesão divino, que
impõe ordem à matéria. Tal demiurgo não seria onipotente e nem teria criado o mundo.

A constituição da matéria
Com relação à constituição da matéria, tomou os quatro elementos de Empédocles e os identificou
com quatro sólidos regulares: fogo  tetraedro; ar  octaedro; água  icosaedro (20 faces); terra 
cubo; o quinto sólido regular, o dodecaedro (12 faces), não correspondia a nada. Como tais sólidos
podem ser construídos a partir de unidades mais básicas (assim como as faces podem ser
construídas de triângulos), Platão sugeriu explicações para algumas transformações na natureza. Por
exemplo, a água se transforma em vapor porque o icosaedro da água se transformaria em dois
octaedros de ar e um tetraedro de fogo.
Platão, desta maneira, deu um passo a mais no atomismo antigo, introduzindo uma descrição
geométrica precisa dos átomos, e descrevendo as mudanças por meio de fórmulas matemáticas.
Platão, porém, não aceitava o vácuo de Leucipo e Demócrito.

Aristóteles de Estagira (384 – 322 a.C.)


Nasceu em 384, na cidade de Estagira, na Calcídica, que se encontrava sob a dependência de
Macedônia. Foi discípulo de Platão e ,é provavelmente o nome que por mais tempo influiu no
“fazer filosofia” e no “fazer ciência” e sua obras foram fontes de consultas durante séculos. Nas
divergências que tinha com Platão dizia: “Amigo de Platão mas, mais amigo da verdade.” No
período final da Idade Média, a versão cristã de seu pensamento torna-se praticamente a doutrina
oficial da igreja. Deixou uma vasta obra e exerceu uma influência incomparável até o séc. XVII,
mencionaremos apenas algumas de suas teses mais relevantes para a história da ciência, deixando
de lado significativos desenvolvimentos em lógica, epistemologia e outras áreas da filosofia.

O problema da mudança
Aristóteles o formulou o problema da mudança na forma de um dilema. Como é que algo pode vir a
ser? Pois não pode vir daquilo que não é (pois isto não existe), nem daquilo que é (pois isto já
existe, e não vem a ser). Para solucionar este dilema, propõe a distinção entre potencialidade e
atualidade. Assim, uma semente é uma árvore em um sentido (potencialidade), mas não é em outro
sentido (atualidade).
Para Aristóteles, a finalidade da ciência é revelar a causa das coisas. Por "causa’, ele entende quatro
fatores:
a) a matéria – uma mesa é feita de madeira;
b) a forma – a forma da mesa;
c) a causa eficiente – a mesa foi feita por um carpinteiro;
d) d) a causa final – a finalidade do carpinteiro.

Estas noções se aplicam também aos objetos naturais. Tomemos como exemplo a reprodução de
uma espécie animal, como o homem. A matéria seria fornecida pela mãe, a forma seria a
característica definidora da espécie (no caso do homem, um bípede racional), a causa eficiente seria
fornecida pelo pai, e a causa final seria o adulto perfeito para o qual cresce a criança. Na natureza a
causa final não consistiria de uma finalidade consciente, mas seria uma finalidade imanente, que
pode ser impedida de acontecer devido à ação de outros fatores.

A física de Aristóteles
A física aristotélicas rejeitava a "quantificação das qualidades" empreendida pelos atomistas e por
Platão. Partiu de dois pares de qualidades opostas: quente/frio, seco/úmido. Os corpos simples que

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compõem todas as substâncias são feitos de opostos: terra = frio e seco; água = frio e úmido; ar =
quente e úmido; fogo = quente e seco. Os corpos celestes envolveriam um quinto elemento, o éter,
que daria conta da imutabilidade dos céus, em seu eterno movimento circular. Na Terra, fogo e ar
sobem naturalmente, água e terra descem. Há movimentos não naturais, como quando uma pedra é
jogada para cima. A doutrina aristotélicas da relação entre corpos celestes e mundo sub - lunar tinha,
reconhecidamente, vários problemas.

A "dinâmica" praticamente não existia antes de Aristóteles. Os pré-socráticos falavam no princípio


de "atração dos iguais pelos iguais", o que explicaria porque a pedra tende a cair para o chão, mas o
princípio se aplicava a tudo. Aristóteles, por contraste, refletiu sobre os fatores determinantes da
velocidade de um corpo em movimento. Enunciou três leis em contextos diferentes.
a) Em "Sobre os Céus", sugeriu que a velocidade v é diretamente proporcional ao peso P do
corpo: v  P.
b) Na "Física", sugeriu que a velocidade é inversamente proporcional à densidade D do meio
no qual se dá o movimento: v  1/D. Disso, inferiu que o movimento no vácuo seria
impossível.
c) Ao tratar do movimento forçado, sugeriu que a velocidade é diretamente proporcional à
força aplicada F, e inversamente proporcional ao peso: v  F/P. Reconheceu porém que há
exceções, pois às vezes a diminuição da força leva abruptamente a uma situação sem
movimento.
Hoje em dia, podemos dizer que as leis aristotélicas se aplicam corretamente apenas em domínios
restritos de observação. Por exemplo, v  P é aproximadamente válido em meios densos, mas não
em meios rarefeitos como o ar. As leis de Aristóteles não só falham em condições mais gerais, como
são mutuamente inconsistentes. No séc. VI a.D., Filoponus obteria evidência observacional contra a
doutrina de que v  P .

A observação da natureza
A maior parte da obra científica de Aristóteles versa sobre a biologia. Ao contrário dos platônicos,
ele valorizava a observação detalhada da natureza. Em seus tratados, fez referência a mais de 500
espécies animais. Fez uso constante da dissecação de animais, mas não do homem. Cometeu vários
erros, como a suposição de que o cérebro não tem sangue, ou que o coração é o centro das
sensações. Em contrapartida, fez descobertas importantes, como a descrição do cação ( Mustelus
laevis, mencionado também por Anaximandro), um peixe vivíparo cujo embrião fica preso a uma
espécie de cordão umbilical. Só em 1842, com Johannes Müller, é que esta descoberta foi
confirmada. O motivo principal destas descrições detalhadas era o de fornecer explicações,
estabelecendo as causas formais e finais. Em sua discussão sobre a reprodução, analisou a questão
de se a semente contém todas as partes do progenitor adulto (a "pangênese" dos atomistas e de
alguns médicos), e concluiu que não, argumentando que muitas vezes o filho de um pai mutilado
não nasce mutilado.

Com relação às causas finais, tanto Platão quanto Aristóteles insistiam que a natureza é regida por
um desígnio racional, em contraste com a abordagem mecanicistas de Empédocles e dos atomistas.
Empédocles, de fato, resvalou na noção de seleção natural ao imaginar que, no início, as partes dos
corpos de diferentes animais teriam se juntado ao acaso, e aqueles bem adaptados teriam
sobrevivido ao passo que os mal organizados teriam perecido.

Dentre as semelhanças e diferenças entre Platão e seu aluno Aristóteles, destaca-se a concepção
sobre as Formas: para Platão, elas existem independentemente dos particulares, enquanto que para
Aristóteles forma e matéria são indissociáveis de fato (só sendo distinguíveis no pensamento).
Platão salientava o uso da matemática para a compreensão dos fenômenos, enquanto Aristóteles
valorizava as investigações empíricas.

21
4.8 A Astronomia do Século IV a.C.

O desenvolvimento da astronomia teve papel destacado na antiga ciência grega. Eudoxo de Cnido
(365 a.C.), membro da Academia de Platão, foi o nome mais importante no séc. IV. O "Timeu" de
Platão já revelara que os gregos distinguiam dois tipos de movimentos celestes:
a) o movimento da esfera de estrelas fixas, compartilhado por todos os corpos celestes;
b) os movimentos independentes do Sol , Lua e planetas ao longo da "eclítica", um círculo
oblíquo ao primeiro movimento e em sentido oposto. Já se sabia também que Vênus e
Mercúrio têm a mesma velocidade média que o Sol.
Platão formulou, então, o problema de como explicar movimentos aparentes dos planetas a
partir de movimentos uniformes e ordenados, ou seja, apenas a partir de movimentos
circulares. A dificuldade era explicar as paradas e movimentos retrógrados dos planetas.

Eudoxo conseguiu resolver o problema construindo um modelo que envolvia 4 esferas concêntricas
para cada planeta.
a) A esfera externa gira com o movimento das estrelas fixas, de leste a oeste, em 24 horas.
b) A segunda esfera gira com a inclinação da eclítica, representando o movimento aparente do
planeta ao longo do zodíaco, movendo de oeste a leste.
c) O movimento das duas esferas internas descreve uma figura com a forma do algarismo "8",
figura esta conhecida como "hipopédia".
d) O eixo da terceira esfera é perpendicular ao da segunda, ao passo que o eixo da quarta é
levemente inclinado em relação à terceira, girando em sentido oposto com a mesma
velocidade angular.
Eudoxo resolveu desta maneira o problema de Platão, usando apenas movimentos uniformes
circulares! Estimou bem os dados para cada planeta, para o Sol e para a Lua (estes dois só
necessitavam três esferas cada). A teoria, porém, não explicava tudo:

Para um mesmo planeta, os retrocessos variam em forma, tamanho e duração, o que não era
explicado por seu modelo. Sua teoria funcionava bem para Júpiter e Saturno, mas não para Vênus e
Marte. O modelo não explicava a desigualdade das estações, fato já conhecido na época e não
explicava variações no diâmetro aparente da Lua ou no brilho dos planetas, o que mais tarde seria
explicado (no modelo dos epiciclos) como sendo resultado de variações na distância dos corpos
celestes com relação à Terra.

No total, Eudoxo postulou 27 esferas. Para resolver os problemas de seu modelo, Calipo de Cizico
(330 a.C.) postulou 34 esferas. Com isso, conseguiu dar conta do problema da desigualdade das
estações. O passo seguinte foi dado por Aristóteles, que elaborou um modelo físico que
correspondesse a esse modelo matemático. Em primeiro lugar, tinha que colocar todos os planetas,
Sol e Lua no mesmo sistema mecânico de esferas conectadas. Para cancelar o movimento das
esferas superiores, teve que introduzir esferas "reagentes". Usando o sistema de Calipo, chegou a 56
esferas ou, simplificando um pouco, 49. Um "movedor imóvel" teria feito o sistema funcionar.

Conclusão

Esta visão panorâmica sobre a cultura (principalmente nos séculos VI, V, IV a.C.) sobre a cultura
grega mostra a significativa contribuição que o mundo da ciência recebeu dos gregos.

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CAPITULO III A Ciência Helenista e a Romana: O começo da Era Cristã

1.0 Introdução
A ascensão do império de Alexandre teve o efeito de pôr outras culturas em contato com a grega.
Com sua morte em 323 a.C. e a queda de seu império, diversos reinos surgiram concentrando
bastante riqueza, como o Egito, a Selêucia (na Babilônia) e Pérgamo. Com isto, a atividade
científica foi impulsionada pela patronagem real. O ponto alto desta patronagem ocorreu na dinastia
dos Ptolomeus, no Egito, com a fundação da Biblioteca e do Museu de Alexandria, que se tornou o
principal centro de pesquisa do séc. III a.C. O Museu era uma comunidade de pesquisadores. O
interesse dos reis ptolomaicos estaria em parte no desenvolvimento de armas bélicas, e em parte na
obtenção de prestígio.

Com as conquistas de Alexandre Magno, a cultura grega, que fora sufocada na Grécia, reacende no
Egito. Denomina-se Helenismo o período que começa nesse momento e vai até a conquista do Egito
pelos romanos, um pouco antes do inicio da era cristã. A grande metrópole do conhecimento
científico nos séculos que antecederam a era cristã, e mesmo no inicio desta, foi Alexandria, cidade
que foi fundada por Alexandre Magno em 332 a.C., depois da conquista do Egito. Projeto do
arquiteto Dinócrates, Alexandria foi construída no local da antiga cidade egípcia de Raconda ou
Racotis, dos gregos, junto ao delta do Nilo e as margens do Mediterrâneo. A região era uma ilha
onde se localizava o famoso farol de Alexandria, uma das setes maravilhas do mundo antigo.

O grande imperador da Macedônia, Alexandre Magno, morreu em 323 a.C., aos 33 anos de idade,
menos de um século depois, a Macedônia, que se desagrega e com ela a Grécia em sub impérios, já
se encontra sob o domínio de uma nova potência Roma. Mas, se o império universal arquitetado por
Alexandre não sobreviveu a sua morte, seu ideal foi realizado ao menos no plano da cultura, como
resultado das conquistas de Alexandre, forma-se um vasto mundo cultural, relativamente
homogêneo, que exerce forte influência até mesmo sobre os romanos. A cultura helenista foi mais
do que a simples transposição da tradição grega para uma cenário mais amplo. Assim como outros
povos se adaptaram aos valores helênicos, passando adotar a língua, a arte o pensamento dos
gregos, a própria cultura dos gregos também sofreu modificações. No plano político, por exemplo, a
forma de governo evoluiu para o despotismo à maneira persa ou egípcia. No religioso, os cultos
orientais misturaram-se aos gregos, enquanto os tradicionais deuses do Olimpo tornavam-se cada
vez mais desacreditados

De modo geral, essas modificações e adaptações significaram uma grande virada na compreensão
que os gregos tinham de si mesmos. Até então, quando se dizia “homem”, referia-se basicamente ao
homem grego, o indivíduo livre, cidadão da polis, os outros não passavam de “bárbaros” seres
desprezíveis e inferiores. Na medida que a polis sucumbiu ao império, o orgulho dos gregos perdeu
o fundamento e todos se igualavam-se na condição de súditos, participantes não mais de uma polis
mas da cosmópolis, a cidade universal não havendo mais possibilidade de influir na vida política,
que se torna um assunto alheio á maioria das pessoas. Na época clássica, a filosofia grega, tinha
como pressuposto implícito essa definição do homem como um animal político, e fazia da políticas
arealização máxima da moral e conduta ética, Assim no período “helenistico” ,a filosofia volta-se
para o interior do homem, pois sua realização na vida exterior, como animal político está
interditada.

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2.0 A biblioteca de Alexandria
Egito foi dado a um membro da corte de Alexandre Ptolomeu. Ptolomeu I Sóter (o Salvador)
fundou a dinastia ptolomaica que reinou no Egito até o ano 30 a.C., com quinze reis (Ptolomeu)
dentro do depostimo egípcio e fez de Alexandria a capital intelectual e artitisca do mundo
helenístico, por ter se tornado o ponto de confluências de diferentes culturas e ter atraído sábios de
diferentes lugares. A biblioteca de Alexandria foi fundada por Ptolomeu I, e desenvolvida, por seu
filho, Ptolomeu II Philadelphus (de philos, “amigo” e delphus, “irmão”). Demétris Phalereus,
escritor, estadista e antigo aluno de Teofrasto, no Liceu (Escola de Aristóteles), organizou-a a partir
de sua experiência anterior na biblioteca de Atenas.

Acredita-se que a biblioteca tenha reunido mais de 700 mil rolos de papiro selecionados por
filósofos, matemáticos, pesquisadores de diversas áreas que vertiam para o grego o conhecimento
que estava nas diversas línguas do Mediterrâneo, do Oriente Médio e da Índia. A biblioteca
compreendia ainda uma grande museu (palavra em homenagem ás Musas) e uma academia onde os
sábios debatiam suas teses. Havia um jardim onde se colecionavam plantas de diferentes locais e
mesmo animais exóticos. Havia salas onde médicos realizavam dissecações de animais e que
contavam com aparelhos para observação astronômicas.

A biblioteca foi incendiada em 47 a.C., quase trezentos anos depois de sua fundação, nas batalhas
de posse do Egito, pelos romanos. Ao retirar-se da cidade O Imperador César deu-a a Cleopatra. A
biblioteca foi mais uma vez incendiada em 269 d.C. e totalmente delapidada em 415 d.C. quando a
biblioteca foi queimada por instigações de monges cristãos, que a viam como um centro herético.
Nessa ocasião a biblioteca de Alexandria era dirigida pela primeira mulher reconhecida como
cientista da época: Hepácia – matemática e filósofa neopaltônica que foi assassinada brutalmente na
ocasião. Em 640 d.C., na invasão dos árabes a biblioteca foi mais uma vez, e agora definitivamente
incendiada e destruída, mas antes disso os sábios árabes tinham se apropriado de muitos de seus
conhecimentos.

Ao referirmo-nos a Alexandria, merecem destaque a Escola Filosófica, que durante sete séculos (III
a.C. a IV d.C.) foi um centro que fez do platonismo uma fé mística do qual Plotino e Pórfiro são os
expoentes, A Escola de Matemática de Alexandria, a Escola de Medicina e as Escola de Astronomia.

3.0 A Escola Filosófica

A filosofia helenística descende de Sócrates, mas por vias diferentes das tomadas por Platão e
Aristóteles. Eles tentaram dar respostas positivas às perguntas que o mestre fazia, mas alguns dos
outros discipulos de Sócrates levaram a risca a critica das certezas baseadas na opinião, concluindo
que todo conhecimento é impossível.

3.1 Cinismo e ceticismo


Antístenes (444-365 a.C.) – O cinismo
Para os filósofos cínicos o conhecimento é sempre duvidoso, pois busca idéias gerais, quando
apenas existem coisas singulares ( por exemplo, este cavalo). Falar é inútil, assim como ler e
escrever, o melhor a fazer é afastar-se do convívio dos homens e viver só da natureza. O mesmo
desprezo pelas convenções sociais demonstra Diógenes (413-327 a.C.), a imagem que dele restou é

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bastante conhecida: conta-se que tinha por casa um simples tonel e que vagava nu, com uma
lamparina acesa em plena luz do dia à procura do “verdadeiro homem”.

Pirro de Elida (360-270 a.C.) – O ceticismo


Segundo autores, é dele o pensamento do ceticismo, ele porém, nada escreveu, e de seu pensamento
só se conhece o que seria exposto por Timon (320-235 a.C.) e mais tarde por Sexto Empirico
(séculos II e III d.C.) em Hipoteses Pirrônicas. Atitude próxima aos cínicos é mantida pelo
ceticismo – a palavra ceticismo deriva de um verbo grego que significa “olhar cuidadosamente”,
mas no caso de ser cuidadoso eqüivale a duvidar do conhecimento. A verdade das coisas é
inacessível, já que delas só se podem apreender aparências sempre mutáveis. O céptico, no entanto,
é incoerente, pois não permanece em “afasia” – (sem perturbação ou agitação) – Ele fala. E fala
porque, ao abandonar o conhecimento, não abandona o desejo de atingir a felicidade e a serenidade.

3.2 Epicuristas e Estóicos


Os discípulos de Aristóteles não procuraram desenvolver um sistema alternativo ao de Aristóteles;
quem fizeram isso foram os epicuristas e estóicos. Colocando a ética acima da física e da lógica,
viam na finalidade da filosofia a obtenção da felicidade, mesmo diante de adversidades.
Os discípulos de Aristóteles não procuraram desenvolver um sistema alternativo ao de Aristóteles;
quem fizeram isso foram os epicuristas e estóicos. Colocando a ética acima da física e da lógica,
viam na finalidade da filosofia a obtenção da felicidade, mesmo diante de adversidades.

Epicuro (341-270 a.C.)


Nasceu em Samos, mas fundou sua escola, o Jardim, em Atenas. Atacou vigorosamente a
superstição e a mitologia, mas não se interessava pela investigação detalhada dos fenômenos
naturais, pois o objetivo da pesquisa seria atingir a paz de espírito reunia seus discípulos, numa
escola conhecida como Jardim. Para ele, felicidade é prazer, basicamente satisfação de desejos
físicos. O autêntico prazer é inseparável da tranqüilidade da alma e da realização plena da auto-
suficiência.
Nesta perspectiva a amizade e, talvez, a mais importante fonte de satisfação e compensações. Se
Epicuro considera o prazer uma realidade física é porque ele é um seguidor da teoria dos atomistas
de Demócrito, não existe nada além das coisas físicas e corpóreas (os átomos) e sua ausência (o
vazio). Por isso o conhecimento só pode ser resultado do contato direto entre coisas e os sentidos
sendo assim, o acúmulo das sensações que vão se classificando como idênticas ou diferentes de
acordo com as antecipações.

Epicuro era um atomista, seguindo Leucipo e Demócrito, e sendo sucedido neste aspecto pelo
romano Lucrécio (sec. I a.C.). Respondendo às críticas de Aristóteles, defendeu que os átomos são
"mínimos físicos", mas não "mínimos matemáticos", tendo assim um tamanho e partes. Epicuro
também adicionou a propriedade de peso à lista das propriedades primárias dos átomos, que para
Leucipo e Demócrito eram apenas forma, arranjo e posição. Enquanto que os fundadores do
atomismo concebiam que os átomos rumariam aleatoriamente em todas as direções, formando
assim agregados ao acaso, Epicuro imaginava os átomos "descendo" com a mesma velocidade no
vácuo, todos paralelamente. Como se formaria o mundo assim? Epicuro introduziu um pequeno
movimento aleatório lateral ("clinamen"), um movimento sem causa, para explicar a progressiva
agregação da matéria. Tal movimento sem causa seria também usado para explicar a liberdade da
alma. Epicuro era um materialista, e explicava eventos mentais por meio de átomos-espirituais.

25
A libertação e a “cura” para Epicuro se dão através da filosofia, assim como o médico se ocupa das
doenças e do sofrimento do corpo, cabe aos filósofos cuidar das doenças e sofrimento da alma.
Sendo assim a filosofia a terapia das causas da infelicidade humana.
Epicuro resume sua doutrina em quatro máximas: “Não há que temer a Deus” – “Morte significa
ausência de sensações” – “É fácil procurar o bem” – “É fácil suportar o mal”. Aquele que alcançou
a ataraxia tornou-se donos de seus atos não tem medo da morte – o homem nada sente. O
pensamento epicurista liberta o homem das imposições da necessidade, do destino ou dos deuses.
Senhor de sí o homem e livre para perseguir seu objetivo e a felicidade.

Zenão de Citio (335-263 a.C.) – O estoicismo


O estoicismo surgiu na mesma época e foi o grande rival do epicurismo. Fundado por Zenão de
Cítio, desenvolvido por Cleathes de Assus (331-232) e especialmente Crisipo de Soli (280-307),
evoluiu até a época romana, com Sêneca. Os estóicos concordavam com os epicuristas que o motivo
subjacente ao estudo dos fenômenos naturais seria alcançar a paz de espírito, mas, de resto,
discordavam. Os estóicos negavam a existência do vazio dentro do mundo, apesar de fora do
mundo existir um vazio infinito. O mundo seria "pleno", mas mesmo assim o movimento é possível,
pela mesma razão que um peixe nada dentro d’água. O espaço e o tempo seriam contínuos, ao
contrário da opinião de Epicuro, para quem espaço e tempo seriam compostos de partes mínimas.

A física estóica
A física estóica era essencialmente qualitativa. Partia-se de dois princípios, o ativo e o passivo, onde
o passivo é a matéria ou substância sem qualidades, e o ativo é causa, deus, razão ou sopro vital
("pneuma"), alma, fatalidade. Adotavam os quatro elementos de Empédocles e Aristóteles.
O mundo começaria no fogo, evoluiria, até que o processo seria revertido, terminando-se
novamente em fogo, num eterno vai e vem. O pneuma consistiria de ar e fogo, e seria um princípio
ativo. Objetos teriam "hexis", que os mantém coesos; plantas teriam "physis", natureza, que as
fazem crescer e se reproduzir; animais também teriam "psyche", alma, que os fazem se movimentar
e sentir. Segundo os estóicos, o universo como um todo é um ser vivo, com "pneuma", "psyche" e
"nous" (razão). Não haveria acaso na natureza: os estóicos eram deterministas, e procuravam
adivinhar o futuro levando em conta a cadeia de causas e efeitos. Temos com os estóicos a primeira
teoria do contínuo da matéria, iniciando o debate que dura até hoje entre atomismo e continuismo.

4.0 O Desenvolvimento das Ciências - Helenistas


Enquanto a filosofia retrai-se numa espécie de “filosofia popular” perdendo suas forças – a ciência
saindo dos pensamentos filosóficos – embora continuando a alimentar-se das concepções
tradicionais passa a caminhar por si mesma e alcança um grande desenvolvimento. O Liceu de
Atenas e o grande centro do desenvolvimento das ciências helenistas. Os sucessores de Aristóteles
foram Teofrasto de Ereso (371-286) e Strato de Lampsaco (290 a.C.).

Teofrasto (327-288 a.C.) ,


Sucessor de Aristóteles no Liceu – desenvolve-se no terreno da botânica e da mineralogia
classificando as plantas e os minerais. Também prepara as condições para o avanço posterior da
física, com a sua refutação da teoria aristotélicas do movimento (que não admitia a idéia do vazio) e
da finalidade das coisas.
Teofrasto teve uma obra comparável à de Aristóteles, tendo escrito dois grandes tratados de
botânica. Questionou o domínio de validade da noção de causa final: qual seria, por exemplo, a
causa final das marés?

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Rejeitou também que o fogo fosse um dos elementos primários. Investigou vários aspectos da
geração do fogo, questionando-se, por exemplo, por que uma brasa apertada na mão queima menos
do que uma brasa solta. Escreveu um tratado de petrologia, descrevendo pedras de vários tipos a
partir do peso, dureza, reatividade ao fogo, etc. É dele a descrição mais antiga de um método para
determinar as proporções dos constituintes de uma liga metálica, e do método de preparação do
pigmento de chumbo branco.
Nos tratados botânicos, identificou quatro tipos de plantas: árvores, arbustos, arbustos rasteiros e
ervas. Classificou diferentes modos de reprodução de plantas, incluindo a geração espontânea, que
era aceita também em animais,. mas reconheceu que o que aparenta ser "espontâneo" poderia ser
causado por sementes pequenas, como sugerira Anaxágoras.

Strato de Lampsaco,
Sucessor de Teofrasto à frente do Liceu, também escreveu sobre vários assuntos, mas se concentrou
na física e na dinâmica. Só restaram poucos trechos de sua obra.
Sobre a natureza do pesado e do leve (ou seja, sobre a gravidade), rejeitou as idéias aristotélicas de
que haveria duas tendências naturais: corpos leves para cima, corpos pesados para baixo. A
ascensão do ar e do fogo pode ser explicado pelo deslocamento dos corpos mais pesados para baixo.
Investigou também o aumento de velocidade (aceleração) na queda livre, argumentando que tal
aumento ocorre fornecendo exemplos de observações.

5.0 A Matemática Helenista


Na matemática, já longe das implicações religiosas e filosóficas dos pitágoricos e Platão analisa as
seções cônicas, estabelecendo os conceitos de elipse, hipérbole e parábola.

Euclides (323-285 a.C.)


Considerado um dos maiores nomes da ciência, é com ele, que a geometria recebe a sua grande
sistematização0, baseada na demonstração de teoremas a partir do mínimo possível de princípios.
Sua obra mais importante Os elementos em treze volumes, dos quais quatro chegaram aos nossos
dias por intermédio dos árabes. Ele reuniu os trabalhos de Eudoxo, Teeteto e outros matemáticos,
sistematizou-os, melhorou as demonstrações, e coligiu sua obra de acordo com o método
axiomático, que já havia sido utilizado, mas que ele levou ao extremo. Além dos "Elementos", que
possui 13 volumes versando sobre geometria plana, teoria dos números e geometria sólida, Euclides
escreveu sobre astronomia, óptica e teoria musical.

Nos "Elementos", Euclides partiu de definições, opiniões comuns (axiomas, princípios auto-
evidentes) e postulados (suposições geométricas). O número 1 foi tratado como a "unidade", e os
outros como "números" propriamente ditos, refletindo a noção parmenidiana de que o uno é
indivisível. Dos cinco postulados básicos da geometria, destaca-se o último, que diz que dados uma
reta e um ponto fora dela, em um plano, então há apenas uma paralela à reta que passa pelo ponto.
Passou então a demonstrar teoremas e a resolver problemas de construção. Dois métodos de
argumentação se destacavam: o método da exaustão (devido a Eudoxo), que é exemplificado pela
obtenção (aproximada) da área de um círculo pela geração de polígonos regulares inscritos com
cada vez mais lados; e o método da redução ao absurdo, no qual nega-se a tese a ser provada e
deduz-se uma contradição ou absurdo (por exemplo, a tese de que o número de primos é infinito).
Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.)
Matemático, engenheiro, físico, considerado o maior geômetra dos tempos antigos – que formula a
famosa lei de flutuação dos corpos – inventa artefatos bélicos, também cria outros engenhos que a

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sociedade da época, ainda baseada no emprego da mão de obra escrava e que dispensa o uso
econômico da tecnologia, não sabe como utilizar. A grande novidade da matemática grega do
séc. V a.C. havia sido a busca de demonstrações rigorosas de teoremas dentro desta
tradição.
Em geometria, calculou o valor de  como 3 1/7 >  > 3 10/71, e encontrou os valores aceitos para
a superfície e volume de uma esfera. Seguiu o método de Euclides, fazendo uso de vários teoremas
euclidianos em suas demonstrações. Arquimedes também utilizou princípios da estática (a lei da
alavanca) em seus problemas de geometria, e concebeu áreas como somas de linhas paralelas. No
entanto, salientou que tais métodos mecânicos devem ser usados apenas para descobrir respostas
(síntese), mas não para demonstrá-las rigorosamente (análise). Em geral, na tradição grega, os
matemáticos expunham apenas a análise e não a síntese.

Em seu livro "Do Equilíbrio dos Planos", sistematizou os teoremas da estática, apesar de não ter
sido o primeiro a formular a lei da alavanca, que se encontra no corpo aristotélico. Sua hidrostática
foi apresentada no tratado "Dos Corpos Flutuantes", mas não faz menção da estória contada por
Vitrúvio, de que teria saído da banheira gritando "Eureca!" ao descobrir como determinar se a coroa
de ouro do rei Hiero estava adulterada com prata.
É conhecido, sobretudo por uma lei física que leva o seu nome “o principio de Arquimedes” – ele
estabelece que as diversas forças atuando sobre um corpo que submerge em “água mansa”
dependem somente da posição do corpo e não da substância de que ele é feito.

No "Contador de Areia", calculou quantos grãos de areia caberiam no universo inteiro, e para isso
fez estimativas interessantes sobre o tamanho do universo, que concluiu que tivesse um diâmetro de
100 trilhões de estádios (1 estádio  157 metros). Chegou à cifra de 10 63 grãos de areia. Nestes
cálculos, Arquimedes introduziu uma notação plenamente satisfatória para exprimir números
grandes.

Eratóstenes de Cirene (225 a.C.)


Era amigo de Arquimedes, escrevia sobre temas de várias áreas, mas não era considerado o melhor
em nenhuma. Mesmo assim, foi convidado para ser o chefe da Biblioteca de Alexandria. Descobriu
um método para encontrar números primos e uma nova solução ao problema de encontrar um cubo
de volume duas vezes maior do que outro. Seu mais importante trabalho, porém, foi na aplicação da
matemática à geografia. Fez o primeiro mapa mundi com latitude e longitude.
Calculou também a circunferência da Terra a partir de observações da sombra de um gnomon ao
meio dia no solstício de verão em Siene, no Trópico de Câncer, e em Alexandria. Seu valor de
39690 km se aproxima bem do valor aceito atualmente (40009 km), apesar de haver uma incerteza
quanto ao valor de conversão da unidade "estádio".

Apolônio de Perga (200 a.C.)


Era mais jovem do que Erastótenes e Arquimedes, vivendo em torno do ano 200 a.C. Seu trabalho
matemático mais importante é o "Das Cônicas", onde investigou sistematicamente as seções do
cone, que são a elipse, a parábola e a hipérbole.

6.0 A Biologia e Medicina Helenistas

28
A história da biologia e da medicina helênicas sofre da falta de fontes primárias. Vários trabalhos
importantes dos sécs. IV e III a.C. só são conhecidos com algum detalhe devido a comentadores
posteriores, especialmente Galeno de Pérgamo (180 d.C.).

Herófilo da Calcedônia (270 a.C.) e Erasistrato de Ceos (260)


Os dois mais importantes biólogos que trabalharam em Alexandria na primeira metade do séc. III
a.C. Eles foram os primeiros a praticar a dissecação do corpo humano, e é provável também que
tenham feito vivissecção em humanos (ou seja, corte do corpo de pessoas vivas!).
Estes médicos, chamados Dogmatistas, apontavam as vantagens da vivissecção, argumentando que
o benefício trazido superava o mal feito: "não é cruel, como a maioria diz, procurar remédios para
as multidões de homens inocentes de todas as épocas futuras, por meio do sacrifício de um reduzido
número de criminosos". Posteriormente, em Roma, o médico Celsius viria a defender a dissecação
praticada pelos helênicos, mas condenaria a vivisecção, argumentando que o conhecimento
adquirido poderia ser obtido mais lentamente através de outros métodos, como a observação de
feridos de guerra
Fizeram grandes progressos em anatomia, investigando o cérebro, o sistema nervoso, o sistema de
veias e artérias os órgãos genitais e o olho. Mostrou interesse pelo estudo do fígado e intestino e
obteve avanços no estudo da ginecologia. Esse método de dissecação dos corpos seria mais tarde
condenados pelo cristianismo. O conhecimento de anatomia de Herófilo e Erasistrato era ainda
bastante limitado. Fizeram algumas descobertas significativas, mas mantinham concepções erradas,
como Herófilo que afirmava que os nervos ópticos seriam ocos.

Herófilo da Calcedônia
Reconheceu que o cérebro é o centro do sistema nervoso, ao contrário do que defendera Aristóteles,
e descreveu várias de suas partes. Descreveu o olho, a retina, e distinguiu nervos sensoriais e
motores, distinguindo-os de tendões e ligamentos. Descreveu o coração, dando o nome de "veia
arterial" à artéria pulmonar. Cunhou o termo "duodeno". Tocou em questões de anatomia
comparada, comparando os fígados de diferentes mamíferos. Descobriu os ovários, comparando-os
com os testículos. Sua maior contribuição à clínica médica foi a teoria do valor de diagnóstico do
pulso. Classificou diferentes tipos de pulsos (com relação a velocidade, intensidade, regularidade,
etc.) e também três tipos anormais.

Erasistrato de Ceos
Crítico de remédios drásticos como sangramento e purgantes fortes. Desenvolveu uma doutrina
fisiológica bastante arrojada, usando idéias mecânicas para explicar processos fisiológicos, como a
digestão. Sabia que o alimento era empurrado por peristalse e contração do estômago , que era
amassado, e que os nutrientes eram absorvidos pelos vasos sangüíneos, pela ação do vácuo criado.
Desenvolveu também, uma teoria mecânica de como a bile e a urina é separada do sangue.
Descreveu bem as diferenças entre artérias e veias, mantendo a idéia comum na época de que as
artérias contêm apenas ar (ilusão criadas em animais mortos), apesar de outros teóricos
reconhecerem que há uma mistura de ar e sangue. Para Erasistrato, quando uma artéria é cortada, o
ar sairia e puxaria o sangue, que então jorraria.

Apesar destes erros, apreciou o papel das quatro válvulas principais do coração, que são
unidirecionais. Reconheceu que o coração funciona como uma bomba, dilatando as artérias. Inferiu
que deviam haver passagens ligando as terminações das artérias e das veias, mas não chegou perto
da idéia de circulação sangüínea (tais terminações explicariam o jorramento de sangue nas artérias).
Forneceu explicações mecânicas também para o funcionamento anormal do corpo (febres, etc.).
Galeno viria a criticar várias das doutrinas fisiológicas de Erasistrato, mas o admirava como
anatomista. Erasistrato efetuou também alguns experimentos simples.

29
O final do séc. III a.C. viu a proliferação de seitas médicas, como os "dogmatistas" e os
"empiristas", havendo também os "metodistas". Os dogmatistas argumentavam que a consideração
de causas ocultas seria essencial para a prática médica, e que tal conhecimento só poderia ser obtido
suplementando-se a experiência com raciocínio e conjectura. Os empiristas eram contra tais
especulações: o invisível não poderia ser conhecido. Como o médico trata casos individuais, ele
deveria assim evitar inferências, guiando-se apenas pelos sintomas manifestos de cada paciente.

7.0 A Astronomia de Alexandria


Ao examinarmos a astronomia do séc. IV, deixamos de mencionar as opiniões de Heráclides de
Pontus (330 a.C.), contemporâneo de Aristóteles. São dele as idéias de que a Terra gira em torno de
seu próprio eixo (e portanto a esfera das estrelas é fixa), e de que Vênus e Mercúrio giram em torno
do Sol. A idéia de que a Terra gira provavelmente não foi aceita por causa dos efeitos que tal
movimento deveria ter sobre a queda dos corpos e sobre as nuvens. No século III, a abordagem
matemática continuou tendo bastante influência na astronomia, que foi marcada por duas novas
idéias: a hipótese heliocêntrica de Aristarco de Samos e desenvolvimento da idéia de epiciclo, com
Apolônio. Um dos problemas do modelo de Eudoxo era explicar a desigualdade das estações.

O modelo heliocêntrico em nada contribuía para explicar este problema. Porém, um modelo novo
teve bastante sucesso neste sentido: os modelos "gêmeos" dos epiciclos e círculos excêntricos, que
preservava o geocentrismo e os movimentos circulares. Um epiciclo é o movimento circular de um
planeta P em torno de um ponto C, que por sua vez orbita no círculo "deferente" em torno de um
centro E onde se localiza a Terra. Um excêntrico é o movimento circular de P em torno de um ponto
fixo O que não coincide com o centro da Terra E . Pode-se mostrar que ambos os modelos são
equivalentes.

Quem introduziu os epiciclos e excêntricos, que seriam usados de maneira tão hábil por Ptolomeu?
Ptolomeu cita muito Hiparco de Nicea (150 a.C.) e às vezes Apolônio. No entanto, o consenso hoje
é que foi Apolônio quem introduziu os modelos com epiciclos e excêntricos para descrever os
movimentos de todos os planetas, do Sol e da Lua (epiciclos para Mercúrio e Vênus já havia sido
introduzido por Heráclides). Apolônio provavelmente mostrou também que para cada modelo de
epiciclo há um equivalente de excêntricos, e vice-versa.
Desta forma, a observação de Calipo de que, a partir do equinóxio de primavera, as estações têm 94,
92, 89 e 90 dias, pôde ser facilmente representado por epiciclos, ao passo que com esferas
concêntricas a explicação era bem mais difícil. O movimento do Sol conseguiu ser bem explicado,
mas o problema da Lua e dos planetas era mais complicado. No entanto, foi aqui que o modelo dos
epiciclos teve sua aplicação mais espetacular, explicando o movimento dos planetas, com suas
paradas e retrocessos. Isso foi conseguido através de epiciclos que giram no mesmo sentido que os
deferentes. Apolônio obteve este resultado, e Hiparco ajustou os valores numéricos que melhor
explicavam as observações.

Aristarco de Samos (310-230 a.C.)


Foi o primeiro astrônomo a propor uma teoria heliocêntrica, colocando o Sol no centro do
Universo. Escreve Sobre as dimensões e Distâncias do Sol e da Lua, obra rigorosa, mas que contém
muito erros por causa da utilização de dados falsos. Aristarco erra porque não dispõe de
instrumentos precisos de medição dos ângulos, mas descontados os cálculos imprecisos, ele
descobre fatos fundamentais mostra que o Sol dista da Terra muito mais que a Lua e que deve ser
forçosamente muito maior que a Lua. As únicas obras que restaram de Aristarco apresentam um
método para se medirem as distâncias da Lua e do Sol. No entanto, vários autores mencionam sua

30
hipótese heliocêntrica, segundo a qual o Sol e a esfera das estrelas estariam fixas e a Terra circularia
em torno do Sol. Salientou também que a esfera das estrelas é muitíssimo distante. Isso era
necessário para explicar porque não se observava a paralaxe das estrelas.

Ptolomeu (século II a.C.)


Os estudos na astronomia de Ptolomeu levam-no a estabelecer a teoria geocêntrica, fixando a Terra
como o centro do Universo – concepção que só seria refutada no século XVI por Nicolau Copérnico
que situou o Sol como centro do Universo. Investigar o Universo sempre foi uma preocupação dos
sábios em Alexandria ela esteve muito presente através de uma Escola de Astronomia.

Erastótenes (fins do século III a.C.)


Matemático e geógrafo apresentou várias contribuições matemáticas entre as quais o conhecido
crivo de Erastótenes um método usado ainda hoje para encontrar números primos. Sua contribuição
mais significativa foi com a obra a Geografia que permaneceu por um longo tempo como uma das
principais obras de consulta da área. A ele deve-se a primeira medição cientifica da circunferência
da Terra. Seu método bastante simples, baseia-se na diferença de ângulos que os raios solares
formam em duas localidades diferentes: Alexandria e uma cidade mais ao sul, Siene. Em Siene
havia um poço que a cada 21 de junho ao meio dia refletia o Sol, que se encontrava em zênite. Mas
em Alexandria situada a mais de 7 quilômetros (distância aproximada) no mesmo dia e na mesma
hora o Sol não está em zênite. Desse modo Erátotenes concluiu que sendo a superfície da Terra
redonda, alguns de seus pontos devem estar mais distantes do Sol do que outros, uma vez que os
raios solares são praticamente paralelos.

Hiparco de Nicéia (começo do século II)


Fez medidas muito aproximadas das distâncias do Sol e da Lua, aproveitando de uma eclipse total
do Sol que ocorreu em 190 a.C. Sua obra Grande síntese matemática, que os árabes, chamaram de
Almagesto, tornou-se a base da astronomia matemática até o século XVII e foi usada pelos
cientistas astrônomos Copérnico e Kleper.

A astronomia helênica também fez grandes avanços na parte experimental, desenvolvendo


instrumentos de observação mais precisos. A Hiparco é atribuído a "dioptria de bastão de 4 cúbitos".
A dioptria é um bastão com duas fendas separadas, através das quais se pode olhar uma estrela ou
corpo celeste. É possível que Hiparco já usasse também o astrolábio armilar, instrumento que
permitia medir a altura de um astro acima do horizonte.
Plínio conta que Hiparco fez uma observação de uma estrela "nova". Para averiguar se no futuro
outras mudanças ocorreriam nas estrelas fixas, resolveu catalogar todas as estrelas visíveis, ajudado
pelos instrumentos que desenvolveu. Catalogou 850 estrelas, fornecendo a latitude e longitude de
cada uma, o que viria servir de base para o catálogo de Ptolomeu. Com estes dados, Hiparco
descobriu a precessão dos equinóxios: o eixo da Terra descreve um movimento rotatório de 50
segundos de arco por ano, o que resulta num período de 26.000 anos.

O objetivo principal dos astrônomos helênicos era "salvar os fenômenos". Muitos dos grandes
astrônomos gregos, incluindo Hiparco e Ptolomeu, acreditavam ser possível prever o futuro a partir
das estrelas (astrologia), e isto estimulou bastante a observação.

9.0 A Mecânica Aplicada e a Tecnologia

31
Na Antigüidade, colocava-se a existência de uma oposição entre teoria e prática, mas também
pregava-se sua união. Papus de Alexandria (sec. IV a.C.) fez um relato das artes mecânicas da
Antigüidade, destacando as seguintes técnicas com relação à sua utilidade para a vida.
1) A arte dos construtores de polias, para levantar pesos.
2) A arte dos fabricantes de instrumentos de guerra, especialmente catapultas.
3) A arte dos fabricantes de máquinas, como as máquinas para elevar água.
4) Os criadores de maravilhas, como os dispositivos pneumáticos, flutuantes e relógios d’água.
5) Os construtores de esferas perfeitas, usadas em astronomia e astrologia.

Os principais autores sobre prática mecânica foram: Ctesibus de Alexandria (270 a.C.), Filo de
Bizâncio (200 a.C.), Vitruvius (25 a.C.) e Hero de Alexandria (60 d.C.).

Os "arquitetos" eram responsáveis não só pelo planejamento e construção de edifícios ou até


cidades, mas também pelo desenho, construção e manutenção de dispositivos mecânicos de vários
tipos, especialmente de guerra. As armas de guerra foram melhorando continuamente, usando o
princípio de torção de fios. Tal evolução se deu basicamente através da tentativa e erro, como
observou Filo, aliada a alguma teorização.

Das cinco máquinas simples conhecidas na Antigüidade, quatro estavam em uso bem antes do séc.
IV a.C.: a alavanca, a polia, a cunha e o sarilho. A quinta máquina, o parafuso, foi uma inovação do
séc. III a.C., com Arquimedes, que a utilizou para elevar água, e com o seu uso em prensas no séc. I
a.C. Outros dispositivos descritos nos textos de mecânica incluem outros tipos de máquinas para
elevar água, guindastes, instrumentos de levantamento topográfico e relógios. Ctesibius construiu
uma bomba dupla para apagar incêndios. Princípios pneumáticos eram usados para abrir portas de
templos automaticamente, a partir de um fogo aceso no altar do templo. Hero construiu um
precursor da máquina a vapor: uma bola que gira sem parar acima de água fervente.

Foram feitos avanços em tecnologia militar, agricultura e tecnologia de alimentos, em especial com
moinhos. No entanto, as forças motrizes do vapor e do vento não foram desenvolvidas.
Um exemplo ilustrativo é o uso de moinhos movidos a roda d’água, desenvolvidos no séc. I a.C.,
mas que só passaram a ser utilizados sistematicamente a partir do séc. III d.C. Por que houve esta
demora?

a) Um fator é a falta de riachos com escoamento rápido nos países do Mediterrâneo, mas tal
problema poderia ser superado de diversas maneiras.
b) Um fator mais importante era a existência de trabalho escravo, que desestimulava a procura de
outras formas de geração de energia, mas que decaiu no séc. III.
c) Outro fator era a relativa complexidade de construção e o custo alto, ao contrário por exemplo
dos moinhos de milho, movidos a jumento.

Uma característica adicional do período era a despreocupação em difundir ou produzir em massa as


novas técnicas desenvolvidas, por exemplo, em metalurgia, tecelagem e cerâmica. De maneira
geral, os antigos faziam de seu ofício uma arte, não uma indústria.

Ptolomeu de Alexandria (150 d.C.)


Escreveu o grande tratado astronômico Composição Matemática, mais conhecido por seu nome em
árabe, Almagesto, além de outras obras que chegaram até nós. Ptolomeu conhecia bem a obra de
seus predecessores, e a desenvolveu em vários aspectos. Levou adiante o catálogo de estrelas de
Hiparco, chegando a 1028 estrelas.
No início do Almagesto, Ptolomeu justificou o estudo da astronomia porque fortaleceria o caráter
dos homens, que passariam a querer que sua alma também atingisse a beleza divina dos corpos

32
celestes. Passou então a formular e justificar as principais teses de seu sistema, como a esfericidade
dos céus, da Terra, e o fato de que a Terra estaria em repouso no centro do universo. Ptolomeu foi
bastante influenciado por Aristóteles, e desenvolveu diversos argumentos para justificar a
imobilidade da Terra, e que seriam retomados por Copérnico (1543).
Ptolomeu apresentou uma detalhada "tabela de cordas", equivalente à nossa tabela de senos e
cossenos, sendo que o primeiro a fazer tal tabela foi Hiparco.

Ptolomeu introduziu correções semelhantes para os planetas, sendo que a principal envolve um
conceito novo chamado "equante". O equante é um ponto fora da Terra e fora do centro do círculo
excêntrico, em relação ao qual o planeta orbita com velocidade angular constante. De todos os
planetas, o caso mais complicado era o de Mercúrio. Ptolomeu forneceu dados numéricos precisos
para possibilitar os cálculos de posições para cada corpo celeste. Apesar de seus méritos, a teoria
ptolomaica estava sujeita a duas críticas.
1) Um movimento circular uniforme em torno de um ponto que não é seu centro, como na
doutrina do equante, quebrava a regra de que só deveria haver movimentos circulares
uniformes em sentido estrito. Tal crítica foi colocada por Copérnico.
2) As teorias lunar e planetária não descreviam certos dados conhecidos pelo próprio Ptolomeu.
No caso da Lua, seu modelo previa que o diâmetro aparente da Lua dobraria entre o perigeu (o
ponto mais próximo da Terra) e o apogeu (o ponto mais distante), o que de fato não é
observado, como ele próprio sabia.

Uma justificativa dada para isto é que ele estaria preocupado apenas em prever as posições da Lua,
e não em fornecer um modelo físico completo. No entanto, em outros momentos, ele demonstrou
preocupação com tal modelo físico, como quando ele utilizou o sistema aristotélico para justificar a
imobilidade da Terra. Em uma outra obra, As Hipóteses dos Planetas, Ptolomeu inclusive sugeriu
uma descrição física: os planetas estariam situados em faixas de esferas (não esferas cristalinas), e
os planetas estariam imbuídos de uma "força vital" que lhes daria movimento.

Com relação ao critério de simplicidade, Ptolomeu o utilizou para fazer escolhas entre diferentes
mecanismos, mas por outro lado defendeu que nosso conceito sublunar de "simplicidade" poderia
ser diferente do sentido que se aplicaria de maneira apropriada aos corpos celestes.

Também escreveu um tratado astrológico, o Tetrabiblos, e também sobre geografia, acústica e


óptica. Seu tratado de óptica é bastante importante, descrevendo detalhadamente a reflexão e a
refração da luz. Os princípios da reflexão já eram conhecidos, mas Ptolomeu os confirmou através
de experimentos. Quanto à refração (que descreve a aparência dos objetos dentro d’água vistos por
alguém de fora), ela já tinha sido investigada qualitativamente por Arquimedes e outros, mas
Ptolomeu fez experimentos medindo os ângulos envolvidos na mudança de direção do raio de luz,
com resolução de grau em grau. Apesar de não enunciar uma lei de refração, fica claro que ele
acreditava numa relação da forma: r = a i – b i², onde r é o ângulo de refração e i o de incidência.
Tanto é que ele modificou alguns dados para que esta equação fosse satisfeita! Ptolomeu também
repetiu seu experimento variando a densidade da água (sem observar alterações), o que é um
procedimento interessante.

9.0 O Declínio da Ciência Antiga


Existe um debate sobre se a ciência antiga cessou por completo após 200 a.D., ou se a atividade
científica e a reflexão original continuaram. Lloyd argumenta que elas continuaram.
No caso da filosofia natural, que inclui a física e a cosmologia, ocorreu um declínio das doutrinas
dos epicuristas e dos estóicos, mas o século III viu o ressurgimento das idéias platônicas através de

33
Plotino (205-270). Seu neoplatonismo concentrou-se essencialmente em aspectos teológicos e
metafísicos, mas pensadores neoplatônicos posteriores desenvolveram aspectos do platonismo que
eram relevantes para a física.

Iâmblico (sécs. III-IV)


Nascido na Síria, defendeu a matematização de todo o estudo da natureza. Proclo de Bizâncio
liderou a Academia platônica em Atenas no final do séc. V, e defendeu o atomismo geométrico de
Platão diante das críticas dos aristotélicos. O neoplatônico pagão Simplício de Atenas (séc. VI)
defendeu a física aristotélica fazendo um relato histórico dos debates realizados nos séculos
anteriores e utilizando alguns argumentos originais e experimentos simples (sobre a questão de se o
ar tem peso).

Trabalho científico mais importante foi realizado pelo cristão João Filoponus de Alexandria, no
séc. VI, que foi o maior crítico das idéias aristotélicas. Sua crítica mais importante foi com relação à
doutrina aristotélica de antiperistasis, ou seja, a noção de que no movimento de um projétil o ar a
sua frente passa para trás e empurra o projétil para frente. Utilizou argumentos teóricos e
experimentais para concluir que o meio só pode resistir ao movimento, nunca sustentá-lo. E
enunciou que "é preciso supor que alguma força motiva incorpórea é conferida pelo lançador ao
projétil", concluindo que tal movimento perduraria no vácuo. Com relação à queda dos corpos no
ar, verificou experimentalmente que os tempos de queda não são proporcionais aos pesos, conforme
anunciara Aristóteles, mas que são praticamente iguais. Atacou também a separação entre o mundo
sublunar e o lunar.

No caso da matemática e astronomia, após o séc. II, também encontramos basicamente relatos
históricos e comentários, especialmente sobre os Elementos de Euclides. Um trabalho original de
destaque foi a Aritmética de Diofanto de Alexandria (séc. III), que sistematizou a área da mesma
maneira que Euclides havia feito com a geometria. A observação astronômica continuou a ser
praticada (especialmente para a regulação de calendários ou por motivos astrológicos), mas os
textos produzidos se resumiam a comentários do Almagesto ou introduções à astronomia.
No caso da biologia e medicina, o conhecimento se mantive vivo devido à importância da profissão
e da manutenção das escolas de medicina. Como nos casos anteriores, escreviam-se basicamente
comentários e compêndios, como a Coleção Médica de Oribásius de Pérgamo (séc. IV), que
ocupou 70 volumes, e vários outros, que se faziam cada vez mais sucintos. A dissecação de animais
também continuou sendo praticada, especialmente no ensino de medicina (e não na pesquisa).

A atividade dos comentaristas foi importante para a preservação do conhecimento científico. Mas
porque a atividade científica original declinou após o séc. II? Uma razão apontada seriam as
turbulências políticas do séc. III, que levaram a problemas de ordem social e econômica. Outra
razão seria a ascensão do cristianismo, que desestimulou o conhecimento da natureza, como
salientado por Agostinho (354-430), e valorizou a revelação divina. Um momento marcante foi o
decreto de Justiniano de 529 fechando a Academia em Atenas e proibindo o ensino pagão.

10.0 A contribuição de Roma

34
Quando as Guerras Punicas (264 – 146 a.C.) entre Roma e Cartago – terminam, praticamente todo
o mundo dito “civilizado” encontra-se sob o domínio romano. Através do Mediterrâneo,
transformando em mare nostrum (nosso mar – segundo os romanos), as riquezas. Chegam a Roma,
tornando-a próspera e luxuosa – chegando também os imigrantes de todas as partes e com eles os
mais variados valores culturais que, com a predominância do helenismo, iria contaminar o modo de
vida e o pensamento dos romanos. Há no poderoso Império Romano, vários enciclopedistas e
compiladores de obras que merecem destaque:

Varrão (116-27 a.C.) apresentou nove artes liberais (gramática, dialética, retórica, geometria,
aritimética, astronomia, musica, medicina e arquitetura) e escreveu sobre todas elas. Desse temas
somente se conservou um sobre temas agrícolas e outro sobre a língua latina.

Caio Julio Cesar (100-44 a.C.) estabeleceu o calendário juliano reformado, no qual o ano vale 365
¼ dias. Esse calendário foi usado até 1582 quando atingiu um erro de dez dias.

Virgílio (30 a.C), escreveu as Geórgicas, apresentando a arte da agricultura em forma de poesia.

Plinio o Velho (23-79 d.C.) – escreveu uma enciclopédia que ainda hoje se conserva completa. É
uma história natural em 37 volumes, que compila cerca de 2 mil obras de quinhentos autores e
cientistas gregos em sua maior parte.

Julio Frontino Sexto (40-103 d.C.) deixou excelentes observações sobre hidrodinâmica. Foi
militar, engenheiro e superintendente dos aquedutos de Roma. Frontino escreveu sobre o
abastecimento de água da cidade.

Galeno de Pérgamo (129-205 a.D.)


Foi um médico e escritor de importância, que viveu em Roma médico do filho do imperador e, em
sua cidade natal, na Ásia Menor. Deixou uma vasta obra em biologia e medicina, escrevendo
também sobre filosofia e filologia. Defendeu o ensino de filosofia para médicos por três razões:
a) O doutor precisa ser treinado no método científico, para poder argumentar corretamente
(mas nem tanto para saber avaliar evidência);
b) O médico precisa estudar a natureza, ou como diríamos hoje, precisa conhecer teoria
biológica;
c) O doutor deve aprender a desprezar o dinheiro!

A fisiologia de Galeno partia da distinção tradicional entre quatro elementos (terra, água, ar, fogo) e
quatro qualidades primárias (quente, frio, seco, úmido). Animais possuiriam não apenas "physis"
(natureza), mas também "psyche" (alma). Seguindo Platão, identificou três faculdades da alma: o
racional (ligado ao cérebro, centro do sistema nervoso), o espiritual (ligado ao coração, a fonte das
artérias) e o apetitivo (ligado ao fígado, fonte das veias). O fígado e veias gerariam o sangue a partir
da alimentação proveniente do estômago e intestinos, e do sangue seria construído o resto do corpo.
Distinguiu entre o sangue venoso, mais denso e escuro, e o sangue arterial, mais leve, vermelho
brilhante e imbuído de um "espírito vital" que seria produzido no coração a partir do ar respirado.
Estabeleceu claramente a distinção os sangues venoso e arterial, sugerindo que o ar tem um papel
essencial nesta distinção. Refutou, através de observações cuidadosas, a noção de que as artérias só
contêm ar, conforme defendido por Erasistrato. Galeno definiu também um "espírito psíquico" que
seria produzido a partir do espírito vital e se localizaria no cérebro. Com isso, forneceu uma
explicação para porque uma pessoa sem ar perde a consciência.

A partir da vivissecção de animais, Galeno desenvolveu bastante a teoria da digestão, introduzindo


outros elementos na visão exclusivamente mecanicista de Erasistrato. Destacou que na nutrição o

35
alimento é inicialmente emulsionado em um "quilo", para depois ser digerido ("pepsis") e
finalmente absorvido

Sua grande obra anatômica se baseou na dissecação de macacos, o que o levou a alguns erros,
apesar de estar ciente da diferença anatômica existente entre homens e macacos. Insistia que os
médicos deveriam praticar a dissecação e não confiar inteiramente nos livros. Em animais vivos,
fez incisões em torno de diferentes vértebras para determinar que partes e funções eram afetadas.
Se erro mais famoso foi a conclusão de que no coração o sangue pode passar diretamente do
ventrículo direito para o esquerdo, através da parede muscular que separa estas duas cavidades
Distinguiu entre o sangue venoso, mais denso e escuro, e o sangue arterial, mais leve, vermelho
brilhante e imbuído de um "espírito vital" que seria produzido no coração a partir do ar respirado.
Estabeleceu claramente a distinção os sangues venoso e arterial, sugerindo que o ar tem um papel
essencial nesta distinção. Refutou, através de observações cuidadosas, a noção de que as artérias só
contêm ar, conforme defendido por Erasistrato. Galeno definiu também um "espírito psíquico" que
seria produzido a partir do espírito vital e se localizaria no cérebro. Com isso, forneceu uma
explicação para porque uma pessoa sem ar perde a consciência.

A partir da vivissecção de animais, Galeno desenvolveu bastante a teoria da digestão, introduzindo


outros elementos na visão exclusivamente mecanicistas de Erasistrato. Destacou que na nutrição o
alimento é inicialmente emulsionado em um "quilo", para depois ser digerido ("pepsis") e
finalmente absorvido

Sua grande obra anatômica se baseou na dissecação de macacos, o que o levou a alguns erros,
apesar de estar ciente da diferença anatômica existente entre homens e macacos. Insistia que os
médicos deveriam praticar a dissecação e não confiar inteiramente nos livros. Em animais vivos,
fez incisões em torno de diferentes vértebras para determinar que partes e funções eram afetadas.
Se erro mais famoso foi a conclusão de que no coração o sangue pode passar diretamente do
ventrículo direito para o esquerdo, através da parede muscular que separa estas duas cavidades
A partir da vivissecção de animais, Galeno desenvolveu bastante a teoria da digestão, introduzindo
outros elementos na visão exclusivamente mecanicistas de Erasistrato. Destacou que na nutrição o
alimento é inicialmente emulsionado em um "quilo", para depois ser digerido ("pepsis") e
finalmente absorvido

Sua grande obra anatômica se baseou na dissecação de macacos, o que o levou a alguns erros,
apesar de estar ciente da diferença anatômica existente entre homens e macacos. Insistia que os
médicos deveriam praticar a dissecação e não confiar inteiramente nos livros. Em animais vivos,
fez incisões em torno de diferentes vértebras para determinar que partes e funções eram afetadas.
Se erro mais famoso foi a conclusão de que no coração o sangue pode passar diretamente do
ventrículo direito para o esquerdo, através da parede muscular que separa estas duas cavidades

Chegou a esta conclusão por perceber que a válvula tricúspide (por onde o sangue entra no
ventrículo direito, era maior do que válvula pulmonar, e por imaginar que capilares (como os que
Erasistrato inferiu para a ligação entre artérias e veias) estariam presentes no septo (parede)
interventricular. Em seu raciocínio, utilizou também o princípio de que a natureza não faz nada
sem um motivo.

A higiene pessoal dos romanos estava entre suas maiores preocupações, e para os ricos era mais
importante possuir um sistema de banho e toalete do que para a cozinha. Os banhos assumiram
também dimensão de coisa publica, as casas de banho ocupavam na cidade os maiores edifícios,
rivalizando com os templos em prioridade e conforto. O abastecimento de água adquiriu conotações
políticas e os famosos aquedutos romanos foram obras que se perpetuaram com o tempo.

36
Soluções para o problema de provisão de água e seu aquecimento foram as grandes realizações da
ciência dos romanos. Um sistema de eliminação das fezes com água corrente já era usado no
primeiro século da nossa era. Na arquitetura a genialidade dos romanos se destacou tanto nas
construções como nos pro9gramas econômicos de (portos, , mercados, construções hidráulicas entre
outras). A cúpula do Panteon de Roma construída no ano 128, é ainda nos dias atuais uma das
maiores do mundo.

37
CAPITULO IV - A Ciência, a Filosofia no Oriente e os Árabes

1.0 Introdução
No decorrer da construção e desenvolvimento do conhecimento nos quinze séculos que iniciam a
nossa era, o intercâmbio entre o Ocidente e Oriente foi muito pequeno, embora não se tenha
restringido às famosas viagens do veneziano Marco Polo (1254-1324), que permaneceu cerca de
dezessete anos na China como funcionário da Corte Imperial. Quando falamos da construção do
conhecimento destacamos as civilizações chinesa e hindu. Até recentemente (segunda metade do
século XX), pouco sabíamos sobre a ciência do Oriente (principalmente da China, o maior núcleo
populacional da Terra), antes de sua integração ao Ocidente no século XVI. Nesse século houve a
“evangelização do Oriente”, e os missionários, em sua maioria jesuítas, não eram apenas portadores
da “boa nova”, entre eles havia, matemáticos e especialistas nos diversos campos da ciência, sendo
que, a partir desse momento o Ocidente deu-se conta da religião e da cultura dos povos não -
cristãos. A partir daí, a Europa passou a reconhecer que fora do seu território, havia homens
“exemplares e virtuosos” apesar de, não possuírem nenhuma religião real, surgindo daí o conceito
do “bom selvagem”, que deveriam ser tratado com respeito, e não como bárbaros até mesmo
porque, possuam “uma religião natural, no lugar de uma revelada por Deus”. Essa nova percepção
originou um movimento conhecido como “deísmo” – uma doutrina que tanto pode acreditar na
existência de um Deus criador, quanto na imortalidade da alma ou na universalidade da moral –
contrariamente ao ‘teísmo” – que afirma a existência de um Deus único, onipotente e onisciente,
criador do universo, tal como na tradição judaico - cristã. Com esse advento a ciência da China e da
Índia deixam de manter suas identidades distintas e passam a integrar-se ao cenário cientifico
internacional.

2.0 A Ciência Chinesa


A China manteve-se isolada por razões geográficas, mesmo tendo uma extensa costa, não realizava
comércio marítimo devido às distâncias e ao fato de a maior parte do pais estar voltada par o leste.
As comunicações por terra com o Ocidente eram também dificultadas pelas distâncias, com muitos
entraves naturais, além da barreira natural do idioma, principalmente quanto ao aproveitamento das
ciências naturais chinesas, pois os ocidentais que viajavam para a China e sabiam a língua chinesa,
em sua maior parte, não eram de áreas científicas, não elaborando daí, nenhum registro desse
conhecimento. Por outro lado, a interpretação dos textos chineses desde a Antigüidade até hoje, tem
sido facilitada, pelo fato da escrita chinesa ter-se mantido até hoje inalterada.

Essa escrita é ideogramática, isto é, composta por ideogramas, sinais gráficos que representam
diretamente uma idéia e não o som que exprime a idéia, como na escrita fonética, mais sujeita a
alterações ao longo do tempo. A China, no começo da nossa era, também sofreu modificações
devido a um grande número de invasões que, em geral, terminavam com a aculturação dos
invasores. Em 589 o território foi unificado, surgindo uma nova dinastia, a Suei. Outra dinastia, a
T’ang, durou de 613 a 907, período de grande brilho para as artes, principalmente para a literatura,
com o ensino dos clássicos confucianos e a presença dos célebres poetas Li T’ai Po e Tu Fu.

Antigüidade chinesa – constituição da matéria


Nos tempos antigos os chineses tinham uma teoria sobre a constituição da matéria baseada em cinco
elementos: metal, madeira, terra, água e fogo. Cinco era para eles um número muito importante,
pois quase tudo que existe (planetas, cores, virtudes) era classificado em cinco categorias.

38
A doutrina do yin e do yang guarda semelhança com os pares de Empédocles (amor/ódio), Yin –
princípio feminino, negativo, pesado, térreo, úmido, frio, escuro, morto e é representado pela Lua, -
Yang, princípio masculino, positivo, rápido, seco, quente, luminoso, vivo, é representado pelo Sol.
A busca é a do equilíbrio entre o yin e o yang. Esses conceitos foram incorporados ao taoísmo,
fundado por Lao Tse.

Alquimia chinesa
Os alquimistas chineses queriam fabricar o ouro porque acreditavam que, comendo-o, alcançariam a
vida eterna e se converteriam em hsien, seres imortais com poderes sobrenaturais. Como o ouro era
caro e os alquimistas pobres a única alternativa era de tentar fabrica-lo. No final do século V a
alquimia chinesa foi abandonada as superstições e a magia e já no século VI havia dois ramos: a
alquimia esotérica (wai tan) que se ocupava das substâncias concretas e a alquimia esotérica (nei
tan), que operava sobre as almas de tais substâncias. Os alquimistas e protoquimicos chineses
projetaram, para realizar seus experimentos, aparelhos como fornos, fornalhas e vasos onde podiam
efetuar reações utilizando como estabilizadores o isolamento térmico, banhos de água e outros.
Fizeram uso da balanças (similares as romanas) e tubulações de bambu em muitas aparelhagens.
Mesmo tendo conhecido o uso do alambique para destilação no começo de nossa era (talvez antes)
usavam uma técnica de congelamento para produzir álcool concentrado.

A matemática chinesa
No século VII os chineses trabalhavam com o valor de p (pi) correto com sete casa decimais. Li Ie
(1178-1265), notável matemático, realizou progressos na álgebra, dispondo de sistemas para
notações de equações com quatro incógnitas. Em 1299 outro matemático Tchu Che-Kie, publicou
sua Introdução a ciência do cálculo, que foi a fonte da álgebra japonesa. Os funcionários públicos
eram recrutados mediante exames de conhecimento e principalmente da capacidade de resolver
difíceis problemas de cálculos, para os quais o “ábaco” era o instrumento indispensável. Ao se
desenvolver mais o conhecimento cientifico, houve uma reação contra o idealismo religioso.

A cartografia e astronomia chinesa


A cartografia chinesa foi muito adiantada, talvez devido às extensões territoriais, e seus mapas já
assinalavam o norte sempre na parte superior. A origem da bússola chinesa está nas técnicas de
adivinhações e de geomancia, que consistia em fazer girar uma colher e ver que direção ela se
deteria. A astronomia teve notável progresso. No século V houve a construção de esferas armilares,
(armilar – Com armila, um dos círculos máximos ou paralelos de uma esfera que reproduz o modelo
da esfera celeste, com seus meridianos e paralelos), dotadas de rodas hidráulicas que permitiam
seguir o movimento diurno de diferentes estrelas e medir sua posição. Em 1092 Su Song, descreveu
um grande relógio astronômico, com movimento giratório de um globo celeste e de uma esfera
armilar.

A medicina chinesa
A medicina chinesa é ligada à tradição, e só muito recentemente o Ocidente passou a aceita-la,
através, da incorporação de técnicas de acunpuntura. A medicina chinesa sofreu influência hindu, e
tem na teoria dos cinco elementos seu ponto alto. O Tratado geral das causas e dos sintomas de
moléstias, publicado em 610, descreve moléstias e tratamentos da varíola, do sarampo, da peste
bubônica, da disenteria, do cólera, do raquitismo, enumerando 1.710 moléstias classificadas em 67
divisões. O desenvolvimento da imprensa e da gravura em madeira permitiu, desde o século XI a
publicação de verdadeiros tratados ilustrados de botânica.

Conclusão
A pólvora, a bússola e a imprensa que tiveram papel decisivo no Oriente na passagem da Idade
Média para os tempos modernos, haviam sido inventados na China muitos séculos antes

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Na China não ocorreu uma revolução cientifica nem significativos avanços na filosofia, como
ocorreu na Europa, As realizações dos chineses eram ligadas as necessidades de vida, sem pretender
alcançar o status de ciência. Não houve tentativas de romper com a ortodoxia marcada por um
Estado burocrático, influenciado por posturas impostas por Confúcio. É importante reconhecer, por
outro lado que, mais recentemente, o Ocidente tem buscado se adaptar a certas convenções orientais
sobre o universo, especialmente no que se refere a uma visão mais “holistica”.

3.0 A Ciência Hindu


Do começo de nossa era até o advento do islamismo, a Índia se desenvolveu com poucas influências
externas, aconteceram contribuições dos seus vizinhos mais próximos, os chineses, e inclusive há
traços marcantes da filosofia grega. Mas os contatos com o Ocidente só ocorreram a partir do século
das grandes navegações, momento em que os portugueses, principalmente, estabeleceram no
território bases comerciais e pólos de evangelização através dos missionários jesuítas.
A Índia se desenvolveu, marcada fortemente pelo hinduísmo, religião animista com grande número
de deuses sendo as atividades religiosas dirigidas para a busca de sintonia com esses deuses. Com o
advento do budismo, a meta tornou-se alcançar o nirvana (a plenitude, com total ausência de
sofrimento). Através da renúncia ao mundo e a individualidade. O desenvolvimento da ciência não
estava entre as preocupações capitais dos hindus.

A matemática hindu
Conheceu grandes progressos, principalmente na área do cálculo, na qual usavam varetas de
contagem e trabalhavam com números ( 10 a 12º ou um milhão de um milhão) em suas
investigações astronômicas. Os números hindus foram assimilados da matemática muçulmana de
Al-Khwarizmi, no século IX d.C. Há alguns matemáticos de destaque na Índia nesse período, como
Aribata I que calculou o valor de pi até a quarta casa decimal e chegou a propor uma geometria
esférica, que já era conhecida pelos gregos. Bramagupta produziu uma série de trabalhos
matemáticos, como o cálculo do volume de um prisma, o cálculo da área de figuras inscritas num
círculo e o estudo de progressões. Bascara (ou Bhascar), nascido em 1114, cujo nome nos evoca a
soluções de equações algébricas do segundo grau. Seu tratado de álgebra foi base para a álgebra da
Europa alguns séculos depois.

A química da Índia
Foi muito pragmática, relacionada com a cerâmica e com a metalurgia. São famosos os pilares de
ferro produzidos pelos fundidores hindus. A tinturaria, a manufatura de pigmentos e o fabrico de
vidro também eram desenvolvidos, porém sem que se tenha informações de tentativas e pesquisas
teóricas sobre isso.

As teorias Budistas
As teorias budistas estimularam o surgimento de uma teoria atômica, com os quatro elementos
associados a uma quintessência de provável influência grega.. Na física o movimento era explicado
pela teoria do ímpeto, mais elaboradas que as propostas aristotélicas de movimento natural e
violento. A base da medicina na Índia parece estar nas preocupações com a higiene, o que ensejou
avanços no processo da cura de muitas moléstias. Os hindus védicos reuniram uma considerável
coleção de fatos sobre formas estruturas e disposições internas de plantas e há indicações de usos
medicinais de raízes, caules, brotos, folhas, frutos e sementes.

Conclusão
É importante destacar que com o avanço da ciência nos tempos modernos, a Índia mesmo sem
contribuir para a chamada revolução cientifica, continuou com renome mundial em alguns campos

40
da matemática e da física, com a descoberta do efeito Raman, relacionada com a difusão da luz, por
Chandrasekhara Raman (prêmio Nobel de Física em 1930).

4.0 A Ciência Árabe


É difícil sintetizar o significado da contribuição dos árabes ao progresso da ciência. Devido a nossa
formação ocidental judaíco-cristã, vemos os mouros mais como bárbaros do que como responsáveis
por avanços significativos na ciência. Geralmente os árabes são apresentados como copistas ou
plagiadores, ou, no máximo como simples transmissores e, muito raramente como inventores.
Quando falamos em ciência árabe, não podemos tomai-la como sinônimo de ciência muçulmana,
porque antes do advento do islamismo, os povos árabes já tinham muitas significativas
contribuições para o desenvolvimento cientifico. Os árabes tiveram um imenso cabedal de
conhecimentos assimilados dos hindus, persas, e principalmente dos gregos, podendo se afirmar que
a ciência árabe é um prolongamento da ciência grega

O surgimento da religião islâmica


A religião islâmica surgiu quando Maomé (que segundo Michael Hart, na sua segunda edição do
seu livro The Hundred, em 1993), é o primeiro nome na lista dos cem homens que mais
influenciaram a humanidade em todos os tempos. Hart afirma que Maomé foi o único homem na
história que teve êxito completo tanto em termos religiosos como seculares. Fundou e promulgou
uma das religiões mais importantes do mundo e foi líder político imensamente efetivo. Maomé,
filho de mercadores teve uma visão do anjo Gabriel, que lhe fez revelações enfeixadas
posteriormente num livro sagrado, o Corão ou Alcorão, assumiu o papel de profeta de um Deus
único e verdadeiro, Alá. A elite governante de Meca não aceitou os ensinamentos de Maomé, que
fugiu para Medina. Essa fuga é conhecida como Hégira, e é o ponto de partida da cronologia
muçulmana no ano 622 de nossa era. Em Mediana estruturou a nova religião, voltando após oito
anos para a Meca, conquistada sem derramamento de sangue. A partir de então colocou-se na
religião o ponto de agregação dos árabes, com a nação transformando-se em um império teocrático.
Maomé morreu em 632, mais seus seguidores continuaram a difundir seus ensinamentos e
rapidamente conseguiram realizar a notável proeza de reunir numa única religião as várias tribos da
Península Arábica.

A expansão do islamismo e o interesse pelas ciências naturais (632 –750)


A expansão da religião islâmica e do império político muçulmano, iniciou-se com a conquista da
Síria, da Palestina, da Pérsia e do Egito. Por volta do século VII. os domínios já se estendiam até o
Marrocos e a Espanha e no Oriente, até a Índia. Durante os dois séculos que se seguiram a morte de
Maomé, houve uma intensa atividade teológica no Islã. Paralelamente ao interesse teológico, surgiu
o interesse pelas ciências da natureza. O Corão leva com freqüência, os fiéis a observar o céu e a
terra a fim de descobrir provas favoráveis à sua fé. As tradições do profeta contém descrições que
são verdadeiros incentivos as ciências: “Buscai a ciência desde o berço até a sepultura, nem que
seja na China”.; “Aquele que caminha na procura da ciência, Deus caminha com ele na estrada
do paraíso”. É verdade que essa ciência é sobretudo o conhecimento da religião. No Islã há uma
associação do saber religioso e do saber profano, e a religião mantém-se em simbiose com o Estado.
Essa é a razão de as guerras muçulmanas terem o “Crê ou morre” como divisa.
A ciência tornou-se uma instituição do Estado muçulmano, e os califas trabalharam para a sua
instauração e para o seu desenvolvimento. Há nome cuja ação tornou-se lendária: Khalid, o
principe filósofo” e al-Mansur, o fundador de Bagdá

41
A filosofia árabe – e sua influência do pensamento grego.
Al-Farabi (870-950), filósofo damasquenho de influência marcadamente aristotélica mostrou como
o pensar grego permitia resolver problemas contemporâneos e escreveu obras de metafísica e
musica e nos seus estudos de física falou da transmudação de substâncias. Propôs uma classificação
do conhecimento em cinco ramos:

a) lingüista e filologia;
b) lógica;
c) ciência matemáticas;
d) física e metafísica;
e) ciências políticas, jurídicas e teológicas.

O sistema atômico dos gregos e os problemas do tempo e espaço apresentados nos paradoxos de
Zenão estimularam o pensamento muçulmano, que recebeu também a influência do atomismo
budista da Índia. Tentou-se explicar a natureza dentro da ortodoxia de Maomé, elaborando-se uma
teoria onde:
“O mundo se compõe de átomos exatamente iguais que Alá cria novos a cada momento. Também o
espaço é atomistico e se compõem de “agoras” indivisíveis. As qualidades das coisas são acidentes
pertencentes as átomos, que são criados e recriados por Alá.”
A filosofia grega, com os árabes, se transformou em um monoteísmo radical a disposição da
religião muçulmana e do Estado.

Alquimia árabe
Na segunda metade do século VIII era definitiva a hegemonia do Oriente sobre a Europa. A química
(al-kimiyã) pratica se ocupa do trabalho com metais e da preparação de drogas. Os minerais
classificam-se em:

a) espíritos: substâncias que se volatilizam inteiramente em contato com o fogo – são cinco:
enxofre, arsênico, mercúrio, amoníaco e cânfora.
b) corpos metálicos: substâncias fusíveis e passíveis de serem marteladas – chumbo, estanho,
ouro, prata, cobre, ferro e carsini (bronze).
c) corpos: ou substâncias minerais fusíveis ou não que não podem ser marteladas nem
pulverizadas

Na alquimia arábica está muito presente a idéia de que o enxofre (ou fogo) e o mercúrio (ou líquido)
constituem elementos primários, que quando combinados produzem ouro. O Ouro era considerado
um metal sadio enquanto os demais metais (doentes) devem ser tratados para se transformarem em
ouro. Assim a transmutação de metais em ouro não era apenas um processo físico, mas o
envolvimento de um principio superior que operava no mundo natural e estava ligado com a idéia
com conceitos de alquimia de morte e ressurreição.
Os nomes de Jabir, Razes, Avicena. Al-Farabi e Al-Kindi são importantes no que se refere as
transmutações, associadas a diferentes combinações de mercúrio e enxofre.

Jabir, ou Abu-Musa-Jabir-ibn-Hayan, seculo VIII.


Famoso químico árabe cujos escritos foram aproveitados por Berthelot, mais dez séculos depois.
Consta que Jabir preparou o carbonato de chumbo, separando o arsênico e o antimônio de seus
sulfitos descobriu a refinação dos metais preparou o aço e obteve o ácido acético da concentração
do vinagre. Sustentava que os seis metais se distinguiam pela diferente proporção na combinação de
enxofre e do mercúrio, sendo a proporção mais perfeita a do ouro. Há os que acreditam que Jabir
tenha sido uma lenda tal a quantidade de conhecimentos atribuídos a ele e descobertos muitos
séculos depois. O escrito chamado “corpus jabiriano” calculado em três mil escritos, talvez não

42
pudesse ser atribuído a uma só época e a um só autor. Na Europa, séculos depois surgiram obras
atribuídas a num certo Geber que provavelmente são de autoria de Jabir.

Razes (854-925)
Tornou-se médico após os trinta anos e dirigiu o hospital de Bagdá. Sua obra na área médica é
considerada um dos trabalhos mais importantes da medicina árabe, sendo utilizada pela escola
holandesa até o século XVI. Razes foi um grande experimentador e aceitava a possibilidade de
transmutações. Sugeriu uma seqüência de operações experimentais para a transmutação de metais
em pedras preciosas. Atento as mudanças de cor, textura, cheiro e forma, usava essas propriedades,
como guias de um processo dividido em várias etapas: purificação, fusão, desintegração, dissolução
e coagulação. Com Razes tivemos a origem da iatroquimica (doutrina médica) com a preparação de
“elixires” que só surgiu na Europa no século XVI.

Avicena, chamado “o principe dos médicos” e uma autoridade em Aristóteles, também explica
como os diferentes metais se transformam pelas diferentes combinações de enxofre e mercúrio.

A astronomia dos árabes


A astronomia no mundo árabe era considerada a mais nobre, a mais elevada e a mais bela
das ciências. Encontrava-se ligada as exigências da religião, como a determinação da hora,
das preces, do mês de Ramadã e da orientação para a Meca. Era utilizada uma obra de astronomia
hindu, o Sidanta traduzida do sâncristo. Nos califatos havia observatórios astronômicos, onde os
astrônomos verificavam e, se preciso, corrigiam os trabalhos de Ptolomeu.

A matemática dos árabes – a álgebra como ciência árabe


Os árabes ampliaram a aritmética dos gregos reunindo os diferentes processos de cálculos até então
conhecidos. A algebrização, no século IX, é importante nos trabalhos de Al-Khwarizmi, de Abu
Kamil e de Abu’l-Wáfa, onde a soluções de equações aparece acompanha por figuras geométricas.

A álgebra, não foi por mero acaso que ela surgiu no califato abássida ("ao contrário dos Omíadas, os
Abássidas pretendem aplicar rigorosamente a lei religiosa à vida quotidiana"), no seio da "Casa da
Sabedoria" (Bayt al-Hikma) de Bagdad, promovida pelo califa Al-Ma'amun, uma ciência nascida
em língua árabe e criada por Al-Khwarizmi, pioneiro da ciência árabe e "antagonista da ciência
grega". Certamente, o que a moderna matemática entende por Álgebra pode parecer uma fria e
objetiva axiomática - constitutiva de uma sintaxe de estruturas operatórias e destituída de qualquer
alcance semântico -, mas essa Álgebra de hoje é o resultado da evolução - em desenvolvimento
contínuo - da velha “ al-jabr “, forjada por um contexto cultural em que não são alheios, elementos
que vão desde as estruturas gramaticais do árabe à teologia muçulmana da época.

A classificação das equações dos diversos graus foi publicado por um poeta que permanece célebre
até hoje: Omar Khayyam ele chega a escrever em uma de suas poesias (pela edição Les Quatrains
d'Omar Khayyam, trad. intr. et notes de Charles Grolleau, Paris, Champ Libre, 1980) - "Para falar
claramente e sem parábolas: / Nós somos as peças do jogo, jogado pelo Céu / Que brinca
conosco no tabuleiro da existência / E depois voltamos, um a um, para a caixa do Nada".

Muhammad Ibn Musa Al-Khwarizmi


Foi membro da “Casa da Sabedoria”, importante academia cientifica de Bagda, que alcançou seu
esplendor sob a direção de Al-Ma’amun (califa de 813 a 833). A ele, Al-Khwarizmi dedicou seu Al-
Kitab al-muhta-sar fy hisab al-jabr wa al-muqabalah ("Livro breve para o cálculo da jabr e da
muqabalah"), o livro fundador da álgebra. As palavras que nomeiam a nova ciência al-jabr e al-
muqabalah, embora empregadas por Al-Khwarizmi em sentido técnico, eram e ainda são termos da

43
linguagem corrente árabe. O radical “ j-b-r “ está associado aos seguintes significados

a) Força: por exemplo, o anjo Gabriel, Jibryl, é, literalmente, força-de-Deus. No Alcorão, Al-
Jabar - o forte, o que faz valer sua vontade - é um dos 99 nomes de Deus.
b) Força que compele, que obriga: neste sentido, o Alcorão diversas vezes, emprega j-b-r para
"tiranizar", "tirano" etc.. Não por acaso, a corrente teológica muçulmana que nega o livre-
arbítrio do homem em favor de um inevitável destino pré-determinado foi denominada
jabariyah.
c) Restabelecer: pôr algo em seu devido lugar, restabelecer uma normalidade. Daí que tajbir
seja ortopedia e jibarah, redução, no sentido médico: reconduzir o osso a seu devido lugar:
Por que Al-Khwarizmi escolhe a palavra jabr para o procedimento fundamental de sua nova
ciência? Precisamente porque - analogamente à ortopedia - a Álgebra é "forçar cada termo a ocupar
seu devido lugar". Já no começo de seu Kitab, Al-Khwarizmi distingue seis formas de equação, às
quais toda equação dada pode ser reduzida e, portanto, canonicamente resolvida. Em notação de
hoje:

1. ax2 = bx
2. ax2 = c
3. ax = c
4. ax2 + bx = c
5. ax2 + c = bx
6. bx + c = ax2

a) Al-jabr é a operação que soma um mesmo fator (afetado do sinal +) a ambos os membros de
uma equação para eliminar um fator (afetado com o sinal -).

b) Já a operação que elimina termos iguais ou semelhantes de ambos os lados da equação é al-
muqabalah (que, por sua vez, deriva do radical q-b-l, cujo significado é: estar frente a frente -
daí a qiblah na mesquita indicar a direção de Meca -; cara a cara , daí também que qabila seja
também beijar – confrontar – equiparar - "toma lá, dá cá" - etc.
Seja, então, um problema em que os dados podem ser postos sob a forma:

Por (al-jbr)

2x2+100-20x=58.

2x2+100=58+20x

Por (al-muqabalah)

Divide por 2 e reduz os termos semelhantes:


x2+21=10x

Feita esta digressão técnica, passemos a analisar (em alguns casos não será possível superar a mera
alusão indicativa...) as relações e conexões de sentido que se dão entre a Álgebra e alguns aspectos
da cultura árabe. Em primeiro lugar, as ciências estão a serviço da fé, também de um modo prático:
uma sociedade sob a forte e urgente necessidade de obedecer à lei do Altíssimo, precisa
operacionalizar as soluções dos graves problemas de partilha. A Álgebra surge como uma ciência
voltada para a resolução desse problema suscitado pelo Alcorão. Cabe, nesse sentido, uma simples -
porém, sugestiva - observação: a Álgebra de Al-Khwarizmi é inteiramente retórica e não emprega

44
símbolos. Note-se que os números simples são designados por dirham, que é uma unidade
monetária; a incógnita é designada pela palavra árabe xay', coisa, e, se é de ordem quadrada, mal
(riqueza, bens, fortuna). Além disso, de um modo intrínseco: "o princípio da tawhid, o ponto capital
da experiência islâmica de Deus, exclui a separação entre ciência e fé. Tudo, na natureza, sendo
'sinal' da presença divina, o conhecimento da natureza torna-se (...) um acesso à proximidade de
Deus. (...) A sabedoria da fé integra todas as ciências num conjunto orgânico, pois todas têm um
objetivo no mundo que, em sua totalidade, é uma 'teofania', uma revelação dos 'sinais de Deus'. O
universo é um 'ícone' no qual o Um se revela através do múltiplo por mil símbolos"

Conclusão
Não há duvida de que filósofos, médicos, cientistas geógrafos, historiadores, matemáticos,
astrônomos, fiscos e químicos árabes contribuíram muito para que a humanidade compreendesse
melhor o mundo natural. Certamente esta foi a grande contribuição do Oriente: preservar, ampliar e
dar conhecimento ao Ocidente da caminhada da ciência dos tempos anteriores. As invasões dos
turcos e dos mongóis e a expulsão dos árabes da Europa decretaram a decadência da ciência árabe
que, mesmo não alcançando a ciência moderna foi verdadeira ponte para que isso ocorresse na
Europa. Foram suas obras traduzidas para o latim que no século XII, desencadearam um novo
renascimento cientifico quando filósofos e cientistas da cristandade, assumiram continuar a
construção do conhecimento humano.
A produção da ciência árabe herdeiros do conhecimento dos gregos de pelo menos meio milênio
(séc. VII a XII), que com suas obras, que traduzidas para o latim, desencadearam no Ocidente no
século XII, um novo renascimento científico, quando filósofos e cientistas da cristandade
assumiram continuar a construção do conhecimento.

45
CAPITULO V– A Ciência na Idade Média

1.0 Introdução
A Idade Média é considerada o milênio que antecedeu os tempos modernos, da qual, talvez,
saibamos menos do que a remota Antigüidade.
Depois de nossas considerações sobre o desenvolvimento da ciência no Oriente, onde ultrapassamos
o primeiro milênio de nossa era vendo florescer, e também declinar, a civilização árabe, vamos
voltar a estudar o Ocidente, então constituído pela Europa. A Idade Média é o milênio transcorrido
entre o término da Idade Antiga (identificado com a queda do Império Romano do Ocidente em
476) e o surgimento do Renascimento (ou a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453).

1.1. Uma nova era se anuncia

As fronteiras do império romano eram cada vez mais violadas por levas de migrações de vários
povos – as chamadas “invasões bárbaras”, ao mesmo tempo que, internamente a economia e a
politica entravam em crescente desorganização. Rotas comerciais eram abandonadas, as cidades
perdiam a população para o campo, as provincias rebelavam-se e a invasão e a pilhagem de Roma
em 410 pelos visigodos comandados por Alarico deram a origem a divisão do Império em Ocidente
e Oriente, que tantas vezes foi tentada e desfeita pelos romanos. Enquanto o Império sobreviveu no
Oriente até 1453 com a queda de Constantinopla o Ocidente com a queda definitiva do império
romano do ocidente, (em 476) transformou-se em um mosaico de pequenos reinos ditos bárbaros
que iam assimilando em suas tradições, alguns dos valores romanos, principalmente o cristianismo.
Começava assim a Idade Média. Esse período foi chamado de “Idade Obscura” ou “Noite de mil
anos” – o adjetivo medieval (ou medievo), às vezes quer significar retrógrado ou obscuro. A Idade
Média pode ser divida em quatro períodos distintos:

 A Alta Idade Média (os seis primeiros séculos), período de um nível muito pequeno de
conhecimento cientifico.
 Os séculos XI e XII, nos quais o Ocidente recebe influência islâmica, tendo como conseqüência
um despertar para a busca do conhecimento, surgindo inclusive, a Universidade.
 Os séculos XIII e o XIV, onde surge a ciência medieval, particularmente a chamada alquimia
cristã.
 A baixa Idade Média, já no século XV, onde há um declínio da ciência escolástica, com o
surgimento de conflitos de pensamentos entre diferentes correntes, integrando-se a ciência na
vida prática da sociedade.

A Idade Média é caracterizada como uma era de obscurantismo pela época seguinte, que,
arrogantemente se autodenominaria de Renascimento indicando que esse período obscuro que se
estendeu por mil anos, não passa de um intervalo entre o esplendor do mundo greco-romano e seu
renascimento posterior. Afinal na Idade Média grassam grandes epidemias (como a Peste Negra),
guerras incessantes, retração da economia, da técnica e da vida urbana e um profundo sentimento de
medo (o temor da morte era o menor deles).

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2.0 O Cristianismo

Falar de Idade Média no Ocidente é falar da Europa cristã, o cristianismo surgiu de uma obscura
seita judaica e difundido no inicio por um grupo de iletrados pescadores, sofreu inúmeras
persiguições em Roma, o centro politico do mundo de então. Históricamente, o cristianismo
origina-se das pregações de Jesus de Nazaré pela Judéia, então anexada ao Império Romano. Sua
mensagem é simples amar ao próximo, praticar a bondade e desprezar os valores deste mundo, pois
a verdadeira morada é o reino dos céus. Jesus se declara filho de Deus, enviado ao mundo para
redimir o homem dos pecados. Sua crucificação seria, nessa medida, o sacrificio do próprio Deus
encarnado para salvar os homens. Essa religião monoteísta, tão diferente da dos deuses greco-
romanos, passou a ser, a partir do século IV a religião do Império Romano, quando da conversão de
Constantino Magno em 312, após vencer uma batalha quase impossível. Conta a lenda, que na
véspera da batalha, Constanino vira nos ceus uma cruz luminosa com a mensagem “Neste sinal
vencermos”. A partir daí, a cruz dos cristões tão perseguida pelos romanos tornou-se o estandarte
romano. Após a vitória, o imperador, seus exércitos e parte do império, converteram-se ao
cristianismo, passando o clero cristão a ter poder civil.

O cristianismo poderia ter-se mantido exclusivamente no terreno da fé. Ao contrário da razão, que
exige provas e demonstrações, a fé basta a si mesma. Crê-se e é suficiente. O cristianismo porém,
não se satisfez com o credo. Entrou no terreno da filosofia, mais do isso foi a forma que a filosofia
assumiu por mais de um milênio. Em contrapartida, a fé cristã assimilou procedimentos racionais,
esse encontro, marcado por tensões entre a fé e a razão, iniciou-se no império romano que
propiciava a mescla de diversos valores culturais e prolongou-se por toda a Idade Média.

A influência da Igreja deixou de ser apenas marcadamente espiritual para tornar-se politica e
economicamente decisória, com os bispos assumindo o ônus de juizes civis. E nessa presença tão
decisiva da Igreja que está sua marca sobre o desenvolvimento da ciência medieval, ou melhor
sobre o grande fracasso da Europa em não fazer aumentar (e até perder) o acervo de conhecimento
recebido dos gregos. Aqui temos de considerar as linhas gerais da teologia dogmática e da moral do
cristianismo elaboradas pelos primeiros “padres da igreja” com elementos da Biblia Judaíca, da
filosofia grega e de religiões e ritos miticos. Essa teologia foi se moldando e adaptando, com a
incorporação de doutrinas resultantes do processo de controvérsias com os hereges e pagãos.

Orígenes (185 –254)


Foi o primeiro a definir essas bases, buscando uma conformidade entre a cultura antiga,
especialmente a ciência alexandrina, e a fé cristã. A teologia de Orígenes, por essa busca de
aproximação com a ciência, foi condenada pelo Concílio de Constantinopla em 553. O cristianismo
patrístico tornou-se inimigo declarado da cultura profana e converteu a filosofia em uma “serva da
teologia”, desestimulando as ciências naturais. A doutrina cristã passou a a tomar medidas
antagônicas diante da cultura secular, identificando-a como paganismo. A Biblioteca de Alexandria
foi destruida, por ser depositária do saber pagão.

Plotino (205 – 270)


Fisólofo de origem romana nascido no Egito estudou por onze anos o neoplatonismo em
Alexandria, onde abriu sua Academia, tendo muistos díscipulos, entre os quais nobres, senadores e
o próprio imperador Gordiano. Parte de sua obra é dedicada à luta contra os cristãos e os gnósticos (
Gnose – nas histórias das religiões, o termo refere-se às doutrinas heréticas dos primeiros séculos do

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cristianismo, onde se defendia a possibilidade de salvação religiosa pelo conhecimento intelectual,
sem a intervenção da graça divina), embora sua interpretação espiritualista tenha influenciado em
muito o pensamento cristão medieval. Segundo relato de seu discipulo e biógrafo Porfirio (234-
305), Plotino, começou a escrever com cerca de 50 anos e desse textos só se conhece os que Porfirio
agrupou em seis “Enéadas”, isto é novenas, pois cada grupo reúne nove tratados dedicados a um
tema. Os vários temas de Plotino convergem para uma única questão: o inicio de tudo, o Uno de que
tudo decorre. O Uno é um mistério, pois a seu respeito não se pode afirmar nada: é indizível. Em
outras palavras, não possui limites que o fixem, não é portanto finito, mas infinito.

Santo Agostinho (354 – 430)


Foi quem exerceu a mais profunda influência do pensamento da Igreja medieval. Suas obras
Confiteor e Civitas são clássicos do crstianismo, Eles retratam a passagem de Agostinho do
maniqueísmo ao neoplatonismo e depois ao cristianismo, até tornar-se o grande bispo de Hipona, na
Africa.

São Jerônimo (341 – 420)


Promoveu uma grande revolução ao traduzir a Biblia para a linguagem comum (vulgata), fez de sua
versão da Bíblia algo agradvel de ser lido podendo ser considerado, na difusão de obras escritas, um
“proto-Gutenberg”.

Na Alta Idade Média, um dos poucos vestígios da cultura profana são as obras de Boécio, um nobre
cristão romano que talvez fosse cristão, pois foi executado em 524. Comentou Aristóteles e Platão e
propos que se estudassem nas escolas as quatro ciências matemáticas do quadrivium: aritimética,
geometria, musica e astronomia. Em 529 por ordem do imperador Justiniano, foram fechadas as
escolas de filosofia gregas, inlcusive a Academia que fora fundada por Platão e o Liceu Aristóteles.
Enquanto a cultura européia encontrava seu nível mais baixo na corte imperial bizantina de
Costantinopla e em outros paises entre a Siria e o Golfo Pérsico desenvolvia-se uma admirável
cultura de origem greco-romana-judaica. Com a fundação de Constantinopla, Roma perdeu muito
de seu poder politico, isso acentuou-se com as invasões germânicas a partir do século V. O clero
assumiu Roma passando o papa a ter também poder temporal, ocorrendo uma grande revitalização
na cidade saqueada, com a instalção de igrejas nos templos pagãos

3.0 Os mosteiros medievais


Já dissemos que a maioria dos textos clássicos de filosofia e ciência tinham desaparecidos do
Ocidente, nos repetidos saques a cidades, ou mais provavelmente destruídos delideradamente para
não contaminarem a doutrina cristã. A Igreja medieval, elemento preponderante na formação,
imprimiu normas importantes à nova sociedade germano românica. A condenação da usura e do
lucro determinou uma estrutura agrária e um comércio muito debilitado. Fazia parte do ideário da
Igreja a condenação do trabalho escravo e da ociosidade (ora e labora). Isso fez com que o europeu
medieval se dedicasse com afinco ao trabalho, considerando como desnecessárias a aplicação de
instrumentais e técnicas disponiveis para a utilização de recursos que substiuissem a mao de obra.
Nos mosteiros medievais, os monges não se dedicavam apenas a contemplação e aos estudos, parte
do seu dia era dedicado a realização de tarefas do cotidiano prático. Nos mosteiros estavam os
poucos letrados da época, sendo ali , principalmente através dos copistas se guardava o
conhecimento. A escola era destinada à formação de membros para a ordem e nela eram edeucados,
desde a infância atgé a vida monástica. A bioblioteca e a Igreja eram as dependências do mosteiro
que recebiam as maiores atenções.exclusivamente. A preocupação da escolástica com as palavras é
enorme. Se a verdade está contida na Biblia, é preciso saber lê-la, distinguindo-se o que pode ser
entendido no sentido literal do que á apenas simbólico. Por isso a escolástica apresenta primeiro

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como o estudo da linguagem (de eu trata o trivium), para depois examinar a realidade das coisas (o
quadrivium) – aritimética – matemática – musica e astronomia. Entre as palavras e as coisas, no
entanto, que relação pode haver? O “nome da rosa” – expressão que daria título ao célebre romance
de Umberto Eco – coloca o dilema dessa questão. A rosa, simbolo de perfeição, é também um nome
que sobrevive à morte da própria flôr, a palavra fala até de coisas inexistentes. Quala a relação entre
o nome e a coisa – Esse problema, que seria conhecido como a questão ou querela dos universais, é
insistentemente discutido na Idade Média.
Os estatutos dos mosteiros eram variados e uma pessoa podia fundar para si ou para seus um
mosteiro ou transformar a própria morada em um mosteiro. O mais conhecido dos mosteiros é o de
Monte Altos, criado no século VII é um dos maiores repositórios do saber. Os mosteiros conservam
apreciável acervo em jóias, esttátuas, objetos de culto e principalmente uma quantidade muito
grande de manuscristos dos quais salvos da Biblioteca de Alexandria e outros centros culturais.
Acredita-se que o conteúdo de muitos desse manuscrsitos, ainda hoje, não tenham sido
reincorporados ao patrimônio de conhecimento da humanidade.

4.0 As grandes catedrais


Pode parecer estranho que numa história de ciência tenhamos um espaço para falarmos das grandes
catedrais. Duas são as razões: a primeira é a crença de que devemos ver as conquistas (e as perdas)
da humanidade de maneira integrada e não fracionada e a segunda é que as construções das
catedrais medievais é algo tão impressionantemente espetacular, e a cujo respeito sabemos taão
pouco. A grande maioria dessas catedrais, pela grandeza de suas obras eram construções que
demoravam dezenas de anos para serem construídas. Em geral cada uma dessa construções tinha
uma reliquia sagrada, com a qual operavam “milagres” que atraiam grandes peregrinações, cujos
integrantes ofereciam óbulos e gastavam seus dinheiros nas feiras das igrejas.
Essa construções verdadeiras obras arquitetônicas, exigiam muitos estudos e conhecimentos
matemáticos, especialmente para o cálculo de abóbadas, dos arcos, das ogivas e dos vãos livres.

5.0 As cruzadas

Motivada pelo objetivo de expulsar os infiéis dos lugares santos e recuperar desde a manjedoura de
Belem até o Santo Sepulcro, a cristandade organizou oito grandes cruzadas. Os árabes tinham
conquistado Jerusalém no século VII e, movidos por intolerência religiosa, dificultavam o acesso
dos cristãos aos lugares santos com ataques violentos aos peregrinos e perseguições às comunidades
ctistã palestinas. As cruzadas desde a primeira em 1096, até a oitava em 1270, tinham ao lado de
motivações religiosas, muitos interesses politicos (expansões territoriais) comerciais, e militares,
promovendo verdadeiro saqueaos conquistados. Quando começaram os retornaos das primeiras, os
homens que haviam estado em lugares distantes contavam histórias que iriam aumentar a
inquietação intelectual.. A Europa que dormira vários séculos parecia agora ansiosa em absorver o
mais rapidamente possivel conhecimentos originais que perdera.

6.0 A Alquimia cristã


Deve-se observar que os grandes nomes da ciência medieval que estão ligados a experimentos de
alquimia pertencem, em sua maioria , as ordens religiosas, sendo muitos, inclusive santos
canonizados pela Igreja. A expliccação é simples nos mosteiros é que estavam os poucos letrados de

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então. Resumidamente podemos considerar como alquimistas, isto é precussores da transição da
alquimia para a quimica.

Alberto Magno ( 1206 – 1280)


Doctor Universalis – considerado o pensador de mentalidade da Idade Média efetuou estudos sobre
astronomia, geometria,geografia, botânica, zoologia, medicina, fisica e quimica dotado de uma
saber enciclopédico foi canonizado como Doctor Universalis pela Igreja. Apresentou uma série de
processos laboratoriais, preparou a potassa caústica e foi o primeiro a descrever a compisição
quimica do cinabre.

Roger Bacon (1214 – 1292)


O pai da ciência experimental – ficou conhecido com o o Doctor Mirabilis, foi um dos primeiros a
ensinar a fisica e a metafisica de Aristóteles, tópicos até então proibidos pela Igreja. Foi preso sob
acusação de heresia por suas idéias sobre transmutações, ou seja os materias que não tivessem o
balanço perfeito deveriam ser tratados com remédios adequados, poara que obtivessem o equlibrio e
a perfeição do ouro. Assim a alquimia centra-se na necessidade de curar o metal que Bacon
expandiu para a necessidade de curar a vida humana na busca de um elixir.

7.0 A Baixa Idade Média


Há uma necessidade especial de destacarmos a dois nomes, que ao lado dois citado quando
comentamos a alquimia cristã prepararam o maior legado que a Idade Média nos deu a
Universidade.

Roberto Grosseteste (1168 – 1253)


Filósofo inglês que tornou-se um fransciscano e estudou todas as ciências do seu tempo

Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274)


Italiano ingressou cedo na Ordem Dominicana e como pregador percorreu toda a Europa, foi
canonizado em 1323. Recebeu o titulo de Doctor Angelicus e teve sua filosofia como o pensamento
oficial da Igreja. É o nome mais importante e influente da filosofia da Idade Média. De sua imensa
obra surgiu uma corrente o tomismo, base da escolástica e da filosofia cristã, destacando-se as duas
sumas: Sumula contra os Gentios(manual de teologia, destinado a converter os mulçumamos), e
Suma Teológica.(embora inacaba – sintetiza o pensamento tomista)

8.0 A Universidade
Na Idade Média, que usualmente se descreve como o tempo onde não se produziu conhecimentos,
vimos principalmente no final de seu longo milênio veio buscar a retomada do conhecimento com o
seu legado maior que foi a Universidade. Quando se fala de história da ciência é preciso fazer um
registro do nascimento dessa instituição, a grande produtora e difusão do conhecimento. Apesar da
existência de uma Escola de Medicina em Salerno na Italia, históricamente considera-se como
primeira a Universidade de Bolonha – Italia (1088) com a escola laica de direito e sete artes liberais.
Depois temos a Universidade de Paris (1150 a e 1170) por iniciativa do episcopado. Até o final da
Idade Média surgiram na Europa grandes universidades que existem até hoje: Padua – (1222),

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Nápoles – (1224), Siena – (1242), Oxford (1249), Cambridge (1284), Coimbra (1308), Pisa (1343),
Praga (1348), Cracóvia (1364) entre outras muito famosas.
As universidades por serem em sua maioria ligadas a Igreja e aos nobres, que por interesse se
submetiam a Igreja eram locais onde o ensino teológico era privilegiado e representado pelo
tomismo, ao qual pertenciam fiéis os dominicanos e mestres leigos.
A Universidade medieval, no inicio do novo milênio começava a transformar a Europa e a recuperar
o que fosse possivel da cultura antiga e depois assimilar o que foi recuperado.

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