Você está na página 1de 90

Bioética e

Responsabilidade Civil
Profª. Drª. Viviane Krominski
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade
exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi-
tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem
a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

K93b Krominski, Viviane


Bioética e responsabilidade civil / Viviane Krominski.
Paranavaí: EduFatecie, 2022.
84 p. : il. Color.

1. Bioética. 2. Saúde pública. 3. Responsabilidade (Direito).


I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a
Distância. III. Título.

CDD : 23 ed. 174.2


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

UNIFATECIE Unidade 1
Reitor Rua Getúlio Vargas, 333
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Centro, Paranavaí, PR
Diretor de Ensino (44) 3045-9898
Prof. Ms. Daniel de Lima

Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz UNIFATECIE Unidade 2
Campano Santini
Rua Cândido Bertier
Diretor Administrativo Fortes, 2178, Centro,
Prof. Ms. Renato Valença Correia Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva

Coord. de Ensino, Pesquisa e


Extensão - CONPEX UNIFATECIE Unidade 3
Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Rodovia BR - 376, KM
102, nº 1000 - Chácara
Coordenação Adjunta de Ensino
Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman Jaraguá , Paranavaí, PR
de Araújo (44) 3045-9898

Coordenação Adjunta de Pesquisa


Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme

Coordenação Adjunta de Extensão www.unifatecie.edu.br/site


Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves

Coordenador NEAD - Núcleo de As imagens utilizadas neste


Educação à Distância livro foram obtidas a partir
Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal do site Shutterstock.

Web Designer
Thiago Azenha

Revisão Textual
Kauê Berto

Projeto Gráfico, Design e


Diagramação
Carlos Eduardo Firmino de Oliveira
AUTOR

Profa. Dra. Viviane Krominski Graça de Souza

● Pós-doutorado em Sustentabilidade pela Universidade Estadual de Maringá


(UEM) – Em andamento;
● Doutora em Microbiologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL);
● Mestre em Microbiologia pela Universidade Estadual de Londrina;
● Especialista em Biologia Aplicada à Saúde pela Universidade Estadual de Londrina;
● Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG);
● Foi docente do departamento de Microbiologia da UEL;
● Foi docente/pesquisadora de 2010 até 2020 do Centro Universitário São Lucas
em Porto Velho-RO.

Foi professora do departamento de microbiologia da UEL por 5 anos, ministrando


a disciplina de Microbiologia para vários cursos: Enfermagem, Zootecnia, Biomedicina,
Fisioterapia, Odontologia, Agronomia e Biologia. Foi também docente/pesquisadora de
2010 até 2020 do Centro Universitário São Lucas em Porto Velho-RO, onde ministrou
as disciplinas de Microbiologia e Imunologia para os cursos de Medicina, Enfermagem,
Nutrição, Biologia, Biomedicina e Odontologia. Foi Editora-chefe da Revista Eletrônica
Saber Científico do Centro Universitário São Lucas no período de 2015 a 2020. Atualmente
realiza pós-doutorado em Sustentabilidade pela Universidade Estadual de Maringá (UEM)
e é docente na Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná (UNIFATECIE).

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/7780313263901907


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado estudante, a partir de agora, estaremos juntos para percorrer os assuntos


desta disciplina; uma caminhada interessante e enriquecedora sobre o estudo da bioética!
Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre os fundamentos da bioética,
seus princípios e reflexões!
Na Unidade I, daremos início aos nossos objetivos, falando sobre o significado
de bioética, sua importância e correlação com noções fundamentais de valor, moral e
ética. Vamos ainda, acompanhar e refletir a evolução da bioética ao longo dos tempos
e sua importância para a solução de conflitos contemporâneos, analisando o modelo
principialista e seus fundamentos para as práticas na área das ciências da vida e da saúde.
Na verdade, veremos a real aplicabilidade dos conceitos e fundamentos da bioética na
resolução de conflitos e tomada de decisão.
Já na Unidade II, você saberá mais sobre saúde pública e bioética, refletindo sobre
seus impactos e perspectivas. Vamos compreender a importância dos códigos de conduta
e sua interrelação com a bioética e os conceitos de ética, moral e deontologia. Trataremos
também da necessidade e importância das leis que reforçam os direitos do paciente e discutir
sobre sua autonomia na tomada de decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida.
Vamos ainda, falar sobre a relação profissional-paciente e você verá a importância
da bioética como norteadora dessas relações, uma vez que esse convício deve ser pautado
em princípios e normas éticas.
Na sequência, na Unidade III, falaremos sobre a relação da bioética com pesquisa
científica, analisando a importância dos princípios bioéticos para orientar as ações e
experimentos nessa área, como conduta ética e moral, diante dos avanços tecnológicos
atuais. Será que existe um limite para a ciência? Qual a importância dos comitês de ética
em pesquisa? A bioética vai responder!
Por fim, na Unidade IV, fecharemos a disciplina com uma discussão sobre os
avanços tecnológicos e o olhar da bioética voltado para o ser humano em todas as
suas características e dimensões. Como a bioética pode atuar e impor seus conceitos
e princípios, quando falamos em cuidados paliativos e dignidade humana? Quais os
desafios da bioética na atualidade e suas novas abrangências? Pois é, discutiremos tudo
isso aqui, e você terá as respostas!
Quero aqui revelar minha satisfação em ter você neste longo, mas enriquecedor e
prazeroso aprendizado. É uma verdadeira jornada de conhecimento, que juntos, faremos
do início ao fim desta trajetória.

Muito obrigada e um excelente estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 4
Noções e Fundamentos de Bioética

UNIDADE II.................................................................................................... 25
Saúde Pública e Bioética

UNIDADE III................................................................................................... 42
Bioética e Pesquisa

UNIDADE IV................................................................................................... 59
Bioética e os Dilemas Contemporâneos
UNIDADE I
Noções e Fundamentos
de Bioética
Profª. Drª. Viviane Krominski

Plano de Estudo:
● Introdução e noções fundamentais: valor, moral e ética;
● Histórico e reflexões;
● Estudo do modelo principialista;
● Panorama da bioética no cenário globalizado.
.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar noções fundamentais de valor, moral e ética
correlacionando com a bioética e sua importância;
● Refletir sobre a evolução da bioética ao longo dos tempos e sua
importância para a solução de conflitos contemporâneos;
● Analisar o modelo principialista da bioética e seus princípios
para as práticas na área das ciências da vida e da saúde;
● Aplicar os conceitos e reflexões da bioética no cenário globalizado.

4
INTRODUÇÃO

Olá! Você já encontrou dificuldade para decidir o que fazer em uma determinada
situação? Ficou na dúvida de como se posicionar? Qual conduta adotar? Pois é, acredito
que sua resposta foi sim e de forma geral, a maioria das pessoas já vivenciou uma questão
como essa! É nesse contexto que a Bioética adquire espaço e suas fundamentações e
reflexões se tornam fundamentais.
Mas o que é bioética e como ela se aplica no mundo globalizado e nos conflitos do
dia-a-dia? É sobre exatamente isso que abordaremos nesta unidade. Vamos nos familiarizar
com conceitos e princípios da Bioética e como ela vem para fundamentar e solucionar
conflitos que envolvam questões como valores, ética e moral. A Bioética tem o objetivo de
amenizar os enfrentamentos de conflitos que surgirão na vida profissional e na sociedade
de uma forma geral. Para isso, vamos mergulhar em um universo de conceitos, definições
e princípios que serão fundamentais para o embasamento científico e a possibilidade de
reflexões e argumentações sobre esse tema tão relevante no mundo atual!

SEJA BEM VINDO (A) E BOM ESTUDO!

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 5


1. INTRODUÇÃO E NOÇÕES FUNDAMENTAIS: VALOR, MORAL E ÉTICA

“Será que minha conduta profissional está fundamentada em princípios éticos?” ou


ainda: “Estou agindo da maneira mais adequada?”. Você já passou por uma situação parecida
de ter que fazer essas perguntas diante de um acontecimento? Eu já. Como responder à
estas questões ou melhor, como agir diante de situações que envolvem valores, ética, moral e
conduta? Nesse contexto, a Bioética tem como objetivo facilitar o enfrentamento de questões
éticas/bioéticas que surgirão na vida profissional. Sem esses conceitos básicos, dificilmente
alguém consegue enfrentar um dilema, um conflito, e se posicionar diante dele de maneira
ética. Assim, esses conceitos devem ser muito claros e fundamentados, pois a ideia não
é impor regras de comportamento, pois as leis existem justamente para isso; a ideia é ter
subsídios para que as pessoas possam pensar e saber se comportar nas diferentes relações
e situações da vida profissional em que surgem conflitos éticos (JUNQUEIRA, 2020).
Para Cohen e Segre (2002) a ética ou a condição de vir a ser ético, leva as pessoas
a pensarem que signifique apenas a competência para ouvir-se o que “o coração diz”. Na
verdade, os autores acreditam que essa seja apenas uma característica de sensibilidade
emocional, reservando-se o “ser ético” para os que tiverem a capacidade de percepção
dos conflitos entre “o que o coração diz e o que a cabeça pensa”, podendo-se percorrer
o caminho entre a emoção e a razão, posicionando-se na parte desse percurso que se
considere mais adequada ou seja, colocando a ética em prática (COHEN e SEGRE, 2002).

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 6


Diante da Bioética das Relações, a pessoa não é moralmente inata, sua estrutura
moral coincide com seu desenvolvimento. Reconhecendo que o ser humano nasce sem
moralidade ou capacidade para funções sociais, ambas as características serão combinadas
no processo de se tornar humano que cada indivíduo terá que passar. Portanto, como
premissa, podemos considerar que cada indivíduo só se torna virtuoso quando consegue
pensar a moralidade em seu aspecto social como ser humano. O pensamento ético torna-
se assim uma tarefa diária quando se está no mundo contemporâneo, pensando e agindo
como um ser humano (LEUTÉRIO et al., 2020).
A Bioética está relacionada com a clareza de conceitos como valor, moral e ética;
não dá para abordar questões bioéticas sem rever e reafirmar esses conceitos (LEUTÉRIO
et al., 2020). Conceitos como valor, moral e ética vão sendo adquiridos e vivenciados de
acordo com a experiência de vida de cada um e sua realidade (COHEN e SEGRE, 2002).
Todos somos influenciados pelo ambiente em que vivemos, histórico, cultural ou social.
Para construir uma mentalidade bioética completa, precisamos conhecer e compreender
essas influências, afinal, não podemos excluí-las de nossa vida! (JUNQUEIRA, 2020).
O conceito de valor está associado ao conceito de preferência ou escolha - o que
é valioso em um determinado momento em um determinado grupo. A ética é um sistema
de valores que conduz a padrões considerados justos por uma determinada sociedade,
grupo ou raça (COHEN e SEGRE, 2002). Alguns autores argumentam que a ética começa
quando as pessoas entendem que certos comportamentos são obrigatórios ou inaceitáveis
justamente por seus efeitos sobre os outros e, portanto, sobre a sobrevivência do próprio
grupo. Nesse contexto, a ética implica análise e reflexão crítica sobre os valores. É uma
ação, um movimento de dentro para fora; surge dos valores intrínsecos de cada indivíduo
para ajudá-lo a definir o que é certo e errado, justo ou injusto, o bem ou o mal em uma ação
humana (LEUTÉRIO et al., 2020).

REFLITA

Para Clotet (1986), ser ético, implica principalmente, na busca do desenvolvimento


pessoal, ou seja, permitir que as pessoas se realizem, com uma ética diretamente ligada
à perfeição humana. O que você pensa sobre isso?
Ou ainda, a ética é a ciência que estuda o comportamento humano e a moral é a
qualidade desse comportamento, do ponto de vista do bem e do mal (WALKER, 2015).
Conseguiu compreender essa relação do bem e do mal?

Fonte: Clotet, 1986; Walker, 2015.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 7


Pode-se dizer que a ética é antes de tudo um processo de reflexão sobre
decisões e atitudes anteriores diante do conflito de valores. A ética e a moralidade são
preceitos fundamentais que regem as ações e decisões de um indivíduo ao longo da
vida, mas, ao contrário da moralidade, a ética não estabelece regras. A moralidade é um
padrão humano. Em seu sentido mais profundo, ética é como cada indivíduo vive em
sociedade, como ele interpreta e reage à vida. Em vida, o homem constrói sua própria
dimensão moral: definindo e fortalecendo seus valores, desenhando seu caráter (COHEN
e SEGRE, 2002). Assim, Warren T. Reich, na Encyclopedia of Bioethics, define bioética
como o estudo sistemático do comportamento humano, nas ciências da vida e na saúde,
quando esse comportamento é visto à luz de valores e princípios morais. No entanto,
essa definição é caracterizada por uma bioética aplicada, o que não significa uma nova
ética ou sistema ético, mas um sistema reflexivo (LEUTÉRIO et al., 2020).
O estudo e fundamentação em princípios bioéticos é importante para que se consiga
responder às questões como as apresentadas acima e apresentar uma conduta baseada
em princípios éticos e morais. Muitas são as situações que envolvem a bioética vivenciada
no dia-a-dia de pessoas durante o exercício profissional. Um exemplo atual, refere-se às
questões bioéticas postas para os países diante da pandemia mundial da Covid-19. Dentre
estas, talvez o mais óbvio esteja relacionado ao gerenciamento de recursos escassos e,
portanto, à necessidade de se estabelecer critérios para a seleção de pacientes a serem
internados em terapia intensiva. O rápido aumento de pessoas infectadas que requerem
hospitalização em países como Itália, Espanha e Estados Unidos, Brasil e muitos outros;
impactou e alarmou, ao mostrar a nítida adoção de parâmetros, evidenciando a existência
da “escolha de quem vive e de quem morre” (GONÇALVES e DIAS, 2020).

REFLITA

As diretrizes produzidas pela associação britânica British Medical Association, por


exemplo, orientam que pacientes idosos ou outros com maior probabilidade de morrer,
assim como os que precisem de cuidados intensivos por mais tempo, devem ser
secundarizados na avaliação de viabilidade para a assistência à saúde. (GONÇALVES;
DIAS, 2020). Diante de situações como esta, nem sempre as respostas estão claras: o
que é certo ou errado?

Fonte: Gonçalves e Dias, 2020.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 8


Existe, portanto, a necessidade de debater questões que colocam em risco
conceitos e as condutas éticas diante de situações inusitadas e de grandes proporções
como a pandemia da COVID-19 e tantas outras questões que envolvem a ética e a moral. O
que fazer? Como agir? São questões que muitas vezes para obter as respostas corretas não
se pode ou muito menos se consegue fazer sozinho, havendo a necessidade da criação de
um comitê bioético multidisciplinar, e que possa assessorar as decisões estratégicas neste
grave momento pandêmico em que não podemos permitir que a escolha por quem vive e
quem morre incida, mais uma vez, sobre os segmentos historicamente mais invisíveis ou
vulneráveis de nossa sociedade (GONÇALVES e DIAS, 2020).
Bom, agora que você já sabe o que é bioética e foi capaz de compreender sua
importância em diversos aspectos da sociedade, iremos avançar para o tópico II! Nele você
terá uma visão geral sobre a história da Bioética e reflexões acerca de seus conceitos e
fundamentos! Vamos estudar juntos?

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 9


2. HISTÓRICO E REFLEXÕES

O termo bioética foi utilizado pela primeira vez em 1970 pelo americano Van Rensselaer
Potter (Figura 1), em texto publicado na revista Perspectives in Biology and medicine, e a
seguir, em 1971, no livro Bioethics: Bridge to the future, com o objetivo de contribuir para o
futuro da humanidade e promover a formação de um novo campo do conhecimento. Potter
propôs a Bioética, destacando que, como alguns conflitos entre ciência e humanidade levam
à insegurança, é preciso fazer uma ponte para o futuro, por meio da ética, para construir outro
campo do conhecimento como elo entre dois saberes (LEUTÉRIO et al., 2020).

FIGURA 1 - VAN POTTER E INTRODUÇÃO DO TERMO BIOÉTICA

Fonte: Junqueira, 2021.

Leone e colaboradores (2001), no entanto, citaram a bioética na década de 1970


como um fenômeno cultural nascido da necessidade, cada vez mais presente na sociedade
contemporânea, de transições políticas e societárias de acordo com proposições éticas autênticas.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 10


Com a expansão do conceito, a bioética atingiu seu apogeu com ampla popularidade,
diretamente relacionada ao desenvolvimento da mídia e ao poder das pessoas de intervir
efetivamente nos processos humanos da natureza, principalmente no nascimento e na
morte. Em 1975, na Universidade de Washington, Andre Hellegers institucionalizou o termo
como uma área acadêmica do conhecimento, possibilitando o estudo, a disseminação e
a aplicação desse conhecimento gerado, bem como um significativo movimento social e
transdisciplinar nas universidades e na mídia (LEUTÉRIO et al., 2020).
Um aspecto bastante importante a ser considerado para que você consiga construir
a reflexão bioética de maneira adequada é compreender qual a influência histórica exercida
desde a época de Hipócrates (Figura 2). É necessário, portanto, retomar alguns conceitos
históricos para entender a influência dessa época. No século IV a.C., a sociedade era formada
por diversas castas, ou seja, camadas sociais bem definidas e separadas entre si que faziam
com que ela fosse “piramidal”. Mas o que isso significa? Isso quer dizer que, na base da
pirâmide, encontrava-se à maior parte das pessoas: os escravos e os prisioneiros de guerra,
que nem mesmo eram considerados “pessoas”. Eles eram tratados como objetos e sem direito
algum. Logo acima deles, numa camada intermediária e, portanto, em número um pouco menor,
estavam os cidadãos. Os cidadãos eram os soldados, os artesãos, os agricultores, e estes
tinham direitos e deveres. No ápice da pirâmide e, todavia, um número bastante reduzido de
pessoas, estavam os governantes, os sacerdotes e os médicos (JUNQUEIRA, 2021).

FIGURA 2 - HIPÓCRATES: “O PAI DA MEDICINA”

Fonte: Junqueira, 2021.

A importância desse resgate histórico está em enfatizar que os médicos da época


eram superiores aos demais, e essa diferença de posição também se manifesta em uma
“degradação de dignidades”. Isso significa que os médicos (semideuses), mesmo que
pretendam salvar os enfermos, são pessoas superiores, melhores que os outros (são mais
valiosos que os outros). Ao longo da história, a estrutura da sociedade não é mais piramidal,
mas essa postura “paternalista”, ou seja, na qual os profissionais da saúde são considerados
“pais”, ou melhores que os seus pacientes ainda é comumente concebida até os dias de hoje.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 11


Os profissionais de saúde possuem conhecimentos técnicos superiores aos dos
pacientes, mas não são mais dignos do que os seus pacientes, nem valem mais do que
eles (como seres humanos). Quando os profissionais se consideram superiores (em
dignidade) aos seus pacientes, também temos uma atitude patriarcal. Esses profissionais
paternalistas são aqueles que não respeitam a autonomia do paciente, não permitindo que
ele expresse seus desejos. Por outro lado, alguns pacientes nem mesmo percebem que
podem questionar o especialista, pois partem do pressuposto de que “quem sabe, quem
decide e quem escolhe é o médico” (JUNQUEIRA, 2021).

SAIBA MAIS

Você sabia que em 1929, foi estabelecido o primeiro Código de Ética no Brasil? Recebeu
o nome de Código de Moral Médica. Esse código era a versão em português aprovado
pelo VI Congresso Médico Latino-Americano que foi realizado na cidade de Havana, em
Cuba, em 1922 e com objetivo de contribuir para a consolidação de uma rede científica
latino-americana. Com ele, surgia a possibilidade de modificar efetivamente a história
natural das doenças. Um novo tipo de profissionalismo surgia com médicos mais atentos
aos pacientes (GRINBERG, 2015). Para saber mais acesse: https://portal.cfm.org.br/
images/stories/documentos/EticaMedica/codigomoralmedica1929.pdf.

Fonte: Grinberg, 2015.

O termo “bioética” surgiu nas últimas décadas, dos grandes avanços tecnológicos
no campo da biologia, e das questões éticas decorrentes das descobertas e da aplicação
das ciências biológicas, possuem grande poder de intervenção na vida e na natureza. A
partir dos anos 80, com o advento da AIDS, a Bioética ganhou impulso definitivo, obrigando
à profunda reflexão “bioética” em razão das consequências advindas para os indivíduos e
a sociedade. O comportamento ético em atividades de saúde não se limita ao indivíduo,
devendo ter também, um enfoque de responsabilidade social e ampliação dos direitos da
cidadania, uma vez que sem cidadania não há saúde (KOERICH et al., 2005).

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 12


A Bioética exige muito conhecimento e estudo em diversas áreas, conhecidas
como interdisciplinares, em especial, aos conceitos da Biologia e do Direito, uma vez
que ambos buscam proteger a vida humana, evitando assim, que a ciência evolua sem
regramento ético e com a utilização de seres humanos por outros seres humanos em
experimentações sem regras, valores ou preocupação com as consequências desses
atos, como aconteceu, infelizmente, nos campos de concentração nazistas durante as
duas grandes Guerras Mundiais (RODRIGUES, 2020).
No Brasil, a Bioética surgiu em meados dos anos 90 como uma nova área do
conhecimento, com uma abordagem religiosa muito forte e aliada a conceitos morais,
embora não seja a única abordagem apresentada pela bioética. A partir desse novo
conhecimento, iniciou-se também uma necessidade maior de olhar para o ser humano
de uma maneira mais autônoma e humanizada e assim, valorizar seus direitos, sua
autonomia, garantindo e valorizando verdadeiramente, a dignidade da pessoa humana
sob o olhar da Bioética (RODRIGUES, 2020). Ainda nessa perspectiva, Hans Jonas
apresentou o conceito de ética da responsabilidade, ou seja, todos têm responsabilidade
pela qualidade de vida do ser humano, aplicando o conceito de risco e a necessidade de
avaliá-lo com responsabilidade (ZANCANARO, 2000).
Por isso, as discussões e reflexões da Bioética não se limitam aos grandes dilemas
éticos atuais como o projeto genoma humano, o aborto, a eutanásia ou os transgênicos.
A Bioética faz uma leitura crítica, conceitual, reflexiva e de igualdade sobre outras áreas
e ações do homem, incluindo também os campos da experimentação com animais e com
seres humanos, os direitos e deveres dos profissionais da saúde e todos os envolvidos,
as práticas psiquiátricas, pediátricas e com indivíduos inconscientes e, inclusive, as
intervenções humanas sobre o ambiente que influem no equilíbrio das espécies vivas e
muito mais. A Bioética não está restrita às Ciências da Saúde e sim, desde que surgiu,
abrange todas as áreas do conhecimento. A Bioética tem a ver com a vida e com um
enfoque interdisciplinar ou, talvez até transdisciplinar (KOERICH et al., 2005).
No próximo tópico abordaremos o modelo principialista da Bioética e seus
princípios. Já ouviu falar sobre ele? Convido você a mergulhar neste universo de
conhecimento e reflexões! Bom estudo!

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 13


3. ESTUDO DO MODELO PRINCIPIALISTA

A Bioética é fundamentada em princípios que são por muitos estudiosos e


pesquisadores denominados basilares ou princípios fundamentais da bioética. Esses
princípios foram propostos no Relatório Belmont em 1978 e têm como objetivo fornecer
orientação adicional para a pesquisa científica em seres humanos. Em 1979, essas
diretrizes, inicialmente propostas apenas para pesquisas científicas, foram estendidas
também à área médica, abrangendo não apenas os médicos, mas também todos os
profissionais de saúde (RODRIGUES, 2020).
Esses princípios são modelos explicativos em bioética para que diferentes autores
possam desenvolver suas propostas e estabelecer uma classificação desses diferentes
modelos para permitir uma visão global de todas as diferentes perspectivas teóricas que
fundamentam o pensamento bioético contemporâneo. O principialismo, o modelo que
vamos discutir neste capítulo, estabelece códigos de conduta no campo das ciências da
vida e da saúde, com base em seus fundamentos filosóficos (BEUCHAMP e CHILDRESS,
2002; DINIZ, 2002).
O principialismo (Figura 3) foi gerado para alicerçar princípios éticos para as
práticas na área das ciências da vida e da saúde em função dos abusos cometidos com
seres humanos nesta área e da ausência de normas éticas que coibissem tais incorreções
de conduta (Diniz, 2002) e se estabeleceu como modelo explicativo da bioética a partir da
obra Princípios da Ética Biomédica de Beauchamp e Childress (2002).

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 14


Este modelo presenta quatro princípios gerais para orientar eticamente a conduta no
campo da biomedicina e são descritos a seguir (RODRIGUES, 2015; RODRIGUES, 2020):
1. Princípio da autonomia: diz respeito à relação médico-paciente e determina que
seja vedado ao médico executar qualquer procedimento sem o esclarecimento
e consentimento prévios do paciente ou responsável, em caso de incapacidade
deste, exceto em situações de perigo iminente de morte. Esse princípio
assegura ao paciente o direito ao autogoverno, a autodeterminação sobre a
sua integridade biopsicossocial, à liberdade de escolha e requer que o indivíduo
esteja em estado de consciência plena, caso contrário, as decisões devem ser
tomadas por um tutor legal. É o princípio da autonomia da vontade do paciente
e talvez seja este o princípio que provoque mais influência sobre a relação
médico x paciente, justamente por ser o princípio que fundamenta o exercício
da atividade médica. O indivíduo tem, em suas mãos, o poder de decisão
sobre a sua vida. O paciente quando capaz e consciente de seus direitos e
deveres é livre para decidir o que deseja ou não consentir autonomamente e
assim gerenciar suas vontades. Evidente que estamos falando de situações em
que há a possibilidade de uma escolha consciente, pensada e estruturada do
paciente e não de casos, no qual o profissional da saúde não dispõe de tempo
para avaliar se o paciente aceitaria ou não o procedimento indicado.
2. Princípio da beneficência: esse princípio estabelece que o médico deva ponderar
entre riscos e benefícios para o paciente e se comprometer em promover o
máximo de benefícios e o mínimo de malefícios. O Princípio da Beneficência
é também conhecido como princípio hipocrático da beneficência e que
resumidamente orienta o profissional a sempre fazer o bem ao seu paciente. O
profissional deve potencializar os benefícios do tratamento e evitar ao máximo
a ocorrência de danos ao paciente.
3. Princípio da não maleficência: estabelece que o médico deva evitar causar
qualquer tipo de mal ao paciente, prevenindo e evitando riscos e danos;
expressa puramente a obrigatoriedade do profissional da saúde de não causar
dano a saúde de seu paciente. Ao médico, cabe a obrigação de empregar todos
os seus conhecimentos, técnicas e recursos disponíveis no intuito de beneficiar
o paciente e jamais exercer o contrário.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 15


O que diferencia a beneficência a não maleficência é exatamente a postura
do profissional, em que de um lado ele deve agir em total conformidade com
os interesses individuais do paciente, desde que, para isso, não necessite
cometer nenhum ato ilícito e de outro lado, o dever de evitar um dano ao
paciente (RODRIGUES, 2020).
4. Princípio da justiça: esse princípio estabelece que a sociedade deva promover
com equidade a distribuição de bens e benefícios, assegurando a todos o
acesso ao tratamento em condições equânimes. O princípio da justiça ou Ideário
da Justiça, como é assim conhecido exatamente por ser dever do profissional
da saúde oferecer a todo paciente um atendimento imparcial, equitativo e livre
de julgamentos ou crenças pessoais. Neste princípio, a máxima constitucional
deve ser sempre praticada: “Todos são iguais perante a lei”, artigo 5º, caput,
da Constituição Federal do Brasil de 1988, e assim, devem ser igualmente
respeitados quando necessitados de atendimento médico. Não cabe ao
profissional de saúde agir com parcialidade, pelo contrário, a ele é exigido que
aja com imparcialidade, equidade, livre de preconceitos, crenças religiosas,
diferenciações sociais e/ou culturais.

FIGURA 3 - BASES DO MODELO PRINCIPIALISTA DA BIOÉTICA: QUAL PRINCÍPIO DEVO ES-


COLHER EM CASO DE CONFLITO ENTRE ELES? QUAL É O PRINCÍPIO MAIS IMPORTANTE?

Fonte: ETHOS UFMG. Modelos Explicativos em Bioética. 2016. Disponível em: https://ethosufmg.wor-
dpress.com/2016/05/05/modelos-explicativos-em-bioetica/. Acesso em: 10 nov. 2021.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 16


O que todos esses princípios sugerem? Em qual se basear? A resposta é
simples: todos eles são alicerces para a bioética. O importante é compreender que é
responsabilidade dos profissionais da área da saúde e dos advogados especialistas na
área médica e proteção à saúde lembrar sempre que não há hierarquia, ou a existência de
um que seja melhor, entre os princípios apresentados, embora, não seja raro a existência
de conflito envolvendo dois princípios ou mais com distintas interpretações e julgamentos.
O adequado é compreender que quando situações divergentes surgirem, o ideal é fazer
uma análise criteriosa do caso concreto com a presença das partes envolvidas (sempre
que possível) ou de seus representantes, para que juntos construam uma solução que
melhor atenda aos interesses dos envolvidos e com o menor prejuízo aos conflitantes.
Dessa forma, é importante reforçar a valorosa importância dos Conselhos e Comitês de
Bioética nos Hospitais, composta sempre por profissionais conhecedores e habilitados a
facilitar resoluções de conflitos (RODRIGUES, 2020).
Você observou que dentro do modelo principialista não há hierarquia entre seus
princípios e também não existe um que seja melhor, concorda? No próximo tópico vamos
correlacionar tudo o que discutimos até agora para entender qual é o panorama da
Bioética no cenário globalizado! Vem comigo!

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 17


4. PANORAMA DA BIOÉTICA NO CENÁRIO GLOBALIZADO

A ética é um aspecto importante na vida de todos, pois é o que nos permite analisar
os valores morais, que mudam com o tempo. Com a globalização, muitos dos valores
apresentados mudaram inevitavelmente de forma drástica devido à quebra de barreiras,
nomeadamente devido ao melhor acesso à informação e à aproximação entre o global
e o local. A globalização, portanto, está afetando também o trabalho dos profissionais de
saúde, o que contribui para a promoção de uma ética capaz de refletir as situações de
saúde de forma macroscópica. A conclusão disso é que mesmo um lugar longe dos centros
urbanos e da tecnologia acredite que a única cura possível para uma criança doente sejam
orações, não estará agindo de forma ética se, na cidade mais próxima, com hospital, essa
doença já é facilmente tratada (FRANÇA et al., 2017).
Nesse contexto, a Bioética surgiu da percepção simbólica da existência do outro,
do conflito que isto causa e da necessidade de nos relacionarmos com as diferenças,
sabendo que podemos agir com autonomia e que a sociedade irá responsabilizar os
nossos atos e isto é o correto e o que se espera de uma sociedade justa e ética. Por
outro lado, o surgimento da Bioética, como consequência do progresso da ciência e do
conceito de autonomia, conduziu a uma revolução social além dos limites da medicina.
Por exemplo, a epidemia de SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) reflete, assim
como outras doenças infecto-contagiosas como a AIDS (Acquired Immune Deficiency
Syndrome), a fragilidade de todos os seres humanos diante de um mundo globalizado,
mas vulnerável ao agente causador da doença.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 18


Isso traz à tona a necessidade de um trabalho educativo, deixando-se de lado
questões políticas, sociais, culturais ou econômicas, uma vez que o risco é tanto individual
quanto mundial. O que temos na atualidade com os grandes casos e conflitos envolvendo a
bioética é a possibilidade de reflexão com qualidade e embasamento, embora a dualidade
entre o bem e o mal, o certo e errado sempre permeiam estas situações como por exemplo,
nas questões que falam sobre pesquisa com células-tronco embrionárias, a aceitação da
eutanásia ou da ortotanásia, a quebra de patentes de medicamentos, as questões éticas
sobre o aquecimento global, etc (COHEN, 2008).

REFLITA

Koerich e colaboradores (2005) reforçam que a bioética é uma ferramenta que nos
auxiliará nas reflexões diárias de nosso trabalho, sendo fundamental para que as
gerações futuras tenham a vida com mais qualidade. Entretanto, como está o ensino da
bioética no mundo? Como as escolas estão preparando os profissionais de saúde para
os impasses éticos do dia-a-dia? As decisões são orientadas para que o mundo se torne
mais humano? Como buscar equidade na assistência com respostas morais adequadas
a realidade que se apresenta no nosso mundo do trabalho? O que você tem a dizer
sobre estas questões?

Fonte: Koerich et al., 2005.

Analisando as normas éticas historicamente, desde seu surgimento até os dias


atuais, é possível observar a relação entre ética e sociedade, em que os princípios morais
variam com as diferentes sociedades ao longo do tempo. “O conceito de ética surgiu na
Grécia com Sócrates, quando ele perguntava aos atenienses em ruas e praças o que eram
diversos conceitos, tais como coragem, justiça e amizade, e as pessoas respondiam que
eram virtudes. Diante disso, Sócrates então perguntava o que era uma virtude, e as pessoas
respondiam que era agir conforme o bem. Por fim, Sócrates perguntava “O que é bem?”.
Assim, a civilização grega arcaica manifestava o pensamento sobre a ética humana, seja
em suas religiões, poesia ou organização política” (FRANÇA et al., 2017).
A Bioética se consolida na tentativa de possibilitar apreender e compreender o
verdadeiro significado do novo, capacitando você e eu a uma possível adaptação a
diferentes situações inusitadas. Ela nos permite expressar o pensamento ético, o que abre
perspectivas de encontrar consensos de qual será o comportamento moral mais adequado
frente a uma determinada questão (COHEN, 2008).

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 19


Devido a intensificação das mudanças extremas e diárias no mundo globalizado
atual, os princípios éticos da nossa sociedade tiveram que se adaptar a essa nova
realidade. Com a globalização, ocorreu o imediato fortalecimento das relações sociais a
nível mundial e também o aumento de disparidades entre países ricos e pobres. Os países
em desenvolvimento, possuem pouca mão de obra qualificada, o que é uma importante
restrição no contexto em que existe uma maior pressão competitiva e uma necessidade
do aumento de produtividade para se inserir no mercado global. Essas disparidades
do mundo globalizado devem ser levadas em consideração diante de uma perspectiva
ética, quando se põe em xeque questões sobre o que é moralmente correto diante de
diferenças econômicas, políticas e culturais tão grandes em um mundo que deveria estar
se unificando (FRANÇA et al., 2017).
Outra questão extremamente relevante é observada em situações catastróficas,
como desastres ambientais e atentados terroristas, que mostra mais uma vez a necessidade
dos países se unirem, fortalecerem suas relações e se integrarem para superar tais
acontecimentos e que, em um mundo globalizado, trazem a perspectiva de que eventos que
ocorrem em um lugar podem gerar consequências para pessoas do outro lado do mundo.
Dessa forma, é importante a consciência de uma ética coletiva e global que sirva para a
convivência das pessoas ao redor do mundo em uma só comunidade (FRANÇA et al.,
2017). Isso pode ser exemplificado com uma situação a qual estamos vivenciando hoje com
a pandemia da COVID-19, em que a ação de uma pessoa implica direta ou indiretamente
na vida da outra pessoa. Quando por exemplo, alguém opta por não usar máscara pode,
mesmo não sabendo se está doente, colocar em risco a vida de outras pessoas.
A saúde, no mundo globalizado, passou a ser vista como um aspecto macro, em que,
mesmo que um problema de saúde atinja apenas uma região, ele pode vir a se espalhar para
outros locais do planeta, como ocorreu com o vírus H1N1 e atualmente com a COVID-19.
Além disso, mesmo no caso de um problema de saúde estar restrito a um local, muitas
vezes a solução pode necessitar da ajuda de outros países, como ocorre com a migração
de profissionais da saúde e na pesquisa científica, a qual pode também ser de interesse de
outros locais. Com a globalização, vieram diversos fatores que podem alterar a saúde de um
país devido às grandes diferenças socioeconômicas entre países (FRANÇA et al., 2017).
Várias questões bioéticas como a realização de pesquisas multicêntricas envolvendo
seres humanos, patente de medicamentos, tráfico de órgãos e bioterrorismo, vem, cada
vez mais, se tornando um fenômeno incontestável de proporções extraordinárias. Essas
questões rompem fronteiras e causam impacto de forma disseminada nas diversas regiões
do planeta promovendo a necessidade de se adotarem medidas de cunho normativo e
operacional com a adoção de tratamento equânime em nível mundial. (OLIVEIRA, 2010).

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 20


A visão da saúde no mundo globalizado, por se tratar de um tema que afeta pessoas
e comunidades, deve falar da ética na resolução dos problemas globais de saúde. A saúde,
como um bem universal, significa que ninguém está excluído de sua posse ou consumo e que
seu uso não deve impedir que outros o usufruam. Nenhum indivíduo, país ou região deve ser
excluído e todos podem se beneficiar desse bem universal. Os principais valores embutidos
na ética da saúde global são justiça social, equidade e solidariedade (FRANÇA et al., 2017).
Para Franca e colaboradores (2017) a justiça é um aspecto fundamental da vida
em sociedade e um valor que une a moral individual e coletiva. Um aspecto importante
da justiça social no contexto da saúde global é a contribuição, alocação e distribuição de
recursos entre os países, sejam eles humanos, técnicos ou econômicos. Portanto, existe
também o princípio da equidade (Figura 4), ou seja, a equidade de acesso à saúde no
mundo, que alguns autores defendem ser o principal objetivo da saúde global, enquanto
outros argumentam que o objetivo é reduzir os problemas sociais e de saúde no mundo. De
qualquer forma, ao assumir a equidade e a justiça social como valores centrais na ética da
saúde global, faz-se necessário priorizar países ou regiões mais desfavorecidas no âmbito
da saúde. Diferentemente da igualdade, a equidade enfoca nas diferenças, de forma a
tratar desigualmente diferentes pessoas, conforme suas necessidades.

FIGURA 4 - IGUALDADE E EQUIDADE: VALORES DISTINTOS

Fonte: Oliveira, 2015.

Por fim, a solidariedade internacional desempenha um papel fundamental na ética


da saúde global, por meio do apoio e da cooperação entre os países. Essa preocupação
se baseia na reciprocidade e na necessidade humana como ser social, evidenciada pela
ética da proximidade. Mesmo que a pessoa que você está ajudando não seja próxima
o suficiente para tirar proveito dessa premissa, pertencer à humanidade faz com que as
pessoas ao redor do mundo se sintam próximas e a globalização acaba aproximando as
pessoas através dos canais de comunicação globais. No entanto, é importante sublinhar
que as ações de solidariedade em saúde devem ser tratadas de forma horizontal, sem
relação dominante e com respeito às culturas dos países envolvidos (FRANÇA et al., 2017).

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 21


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bom, chegamos ao final desta unidade e nela apresentamos os principais


conceitos, a história, fundamentações, princípios e aplicações da Bioética na atualidade!
Você pôde refletir sobre conceitos como ética, moral e valores que estão estreitamente
relacionados à Bioética contextualizando com o mundo globalizado! Ainda foi possível
refletir sobre a evolução da bioética ao longo dos tempos e sua importância para a solução
de conflitos contemporâneos.
Na sequência desta unidade você estudou o modelo principialista da bioética e
seus fundamentos para as práticas na área das ciências da vida e da saúde. Além disso,
se deu conta de que não existe um princípio melhor que o outro, pois todos eles são
alicerces para a Bioética.
Finalmente, você foi capaz de aplicar os conceitos e reflexões da bioética no cenário
globalizado, envolvendo questões e conflitos extremamente relevantes e difíceis do ponto
de vista da Bioética! Compreendeu a importância dos Conselhos e Comitês de Bioética
nos Hospitais, para uma análise imparcial e crítica de situações em que a Bioética e/ou seu
estudo se torna fundamental para entender a real necessidade dos envolvidos e sempre,
minimizar os prejuízos em uma situação de conflito.
Agora, com os conhecimentos adquiridos até o momento, pense comigo…você
agiria diferente em uma situação que presenciou ou participou? É para refletir!

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 22


LEITURA COMPLEMENTAR

Motta e colaboradores (2012) fizeram a seguinte pergunta: Bioética: afinal, o que


é isto? Abordando sobre o que realmente é a Bioética, seu contexto histórico, surgimento
no Brasil, conceitos, problemas atuais no campo da bioética e diversos outros pontos
importantes! Faço um convite para você dedicar-se à leitura desse artigo e refletir: afinal, o
que é a Bioética? Qual a sua aplicabilidade e importância?

Fonte: MOTTA, L. C. S.; VIDAL, S. V.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Bioética: afinal, o


que é isto? Rev. Bras. Clin Med, São Paulo, 2012 set-out;10(5):431-9. Disponível em: http://
files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2012/v10n5/a3138.pdf. Acesso em: 25 nov. 2021.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 23


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Bioética e COVID-19
Autor: Luciana Dadalco.
Editora: Foco.
Sinopse: A primeira edição da obra “Bioética e Covid-19” foi um
sucesso absoluto e a rapidez com que as questões bioéticas
foram sendo alteradas nos últimos meses tornou imprescindível
uma nova edição dessa obra, com novos artigos e atualização dos
artigos anteriores. Hoje, a Bioética não está mais negligenciada
na pandemia da Covid-19. Comitê Internacional de Bioética e a
Comissão Mundial sobre Ética do Conhecimento e da Tecnologia,
ambos da UNESCO já reconheceram o papel de destaque da
bioética no contexto da Covid-19.

FILME/VÍDEO
Título: Patch Adams – O amor é contagioso
Ano: 1998.
Sinopse: Em 1969, após tentar se suicidar, Hunter Adams
(Robin Williams) voluntariamente se interna em um sanatório.
Ao ajudar outros internos, descobre que deseja ser médico, para
poder ajudar as pessoas. Deste modo, sai da instituição e entra
na faculdade de medicina. Seus métodos poucos convencionais
causam inicialmente espanto, mas aos poucos vai conquistando
todos, com exceção do reitor, que quer arrumar um motivo para
expulsá-lo, apesar de ele ser o primeiro da turma.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 24


UNIDADE II
Saúde Pública e Bioética
Profª. Drª. Viviane Krominski

Plano de Estudo:
● A Ética da Responsabilidade Pública e Individual;
● Códigos de Conduta;
● Direitos do Paciente;
● A relação profissional-paciente.

Objetivos da Aprendizagem:
● Analisar a importância e aplicações da ética da responsabilidade pública
e individual, refletindo sobre seus impactos e perspectivas;
● Compreender a importância dos códigos de conduta e sua interrelação
com a bioética e os conceitos de ética, moral e deontologia;
● Compreender a necessidade e importância das leis que reforçam os direitos do paciente e
sua autonomia na tomada de decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida;
● Analisar a relação profissional-paciente a partir do referencial da bioética.

25
INTRODUÇÃO

Olá, tudo bem?

Nesta unidade você terá acesso às questões sobre a ética da responsabilidade pú-
blica e individual, e poderá refletir seus impactos e perspectivas. Além disso, iremos discutir,
os códigos de conduta, compreendendo sua importância e inter-relação com a bioética e
os conceitos de ética, moral e deontologia. Trataremos ainda, dos direitos do paciente, e
nesse contexto, você irá perceber a necessidade das leis, para fazer valer esse direito e a
autonomia do paciente na tomada de decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida!
Ao final desta unidade, vamos falar da relação profissional-paciente e as questões
envolvidas nesse processo a partir do referencial da bioética. Você vai compreender que
essas relações devem ser pautadas pelas normas éticas e jurídicas e devem ter como base
os princípios que permeiam essas relações.

Desejo a você um excelente estudo!

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 26
1. A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE PÚBLICA E INDIVIDUAL

O que é a ética da responsabilidade? Hans Jonas foi um dos autores que mais
abordou questões de ética da responsabilidade neste século. Segundo sua linha de ideias,
no campo da ciência, por exemplo, a liberdade de criar e usar novos conhecimentos
deve estar atrelada à responsabilidade individual e pública na aplicação das descobertas
e seus desdobramentos (GARRAFA et al., 2009). De acordo com Hans Jonas, todos
são responsáveis pela qualidade de vida das gerações futuras (KOERICH et al., 2005).
Foi também ele quem abordou o conceito de risco e a necessidade de avaliá-lo com
responsabilidade (ZANCANARO, 2000).
As questões éticas em praticamente todas as áreas da atividade humana já
adquiriram uma conotação pública e não são mais uma questão de consciência individual
que deve ser resolvida na esfera privada (GARRAFA et al., 2009). O “princípio universal
de responsabilidade” não deve ser ignorado em qualquer discussão ética, ao contrário,
sempre deverá pautar as mais inusitadas situações. Esse princípio deve permear todas
as questões éticas e está relacionado aos aspectos éticos da responsabilidade individual
que cada um de nós assume; a ética da responsabilidade pública, que está relacionada
ao papel e às obrigações dos Estados em relação à saúde e à vida das pessoas; e com a
ética da responsabilidade planetária, nosso compromisso como cidadãos do mundo com o
desafio de preservar o planeta (KOERICH, 2002).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 27
Essa visão ética ampliada de valorização da vida no planeta exige uma atitude
consciente, solidária, responsável e virtuosa de todos os seres humanos e, sobretudo,
daqueles que pretendem cuidar de outros seres humanos, nas instituições de saúde ou em
seus lares. Poderíamos pensar em algumas situações do nosso dia a dia que nos levem
a refletir sobre a atitude ética necessária aos profissionais de saúde, nos mais diversos
contextos, questionando-nos: como ajo, penso e falo perante um cliente descontrolado
e agressivo? Enfrentando um cliente alcoolizado que acaba de receber alta do hospital
psiquiátrico? Ou alguém que usa drogas e/ou tem HIV? Diante de uma adolescente grávida?
Diante do cliente que não colabora, não aceita o tratamento e pede alta? Na frente do cliente
inconsciente, da criança ou alguém com demência? Diante da falta de estrutura de ação e
planejamento de recursos na organização dos serviços de saúde? (KOERICH et al., 2005).
É importante, ainda nesse contexto, refletir, como medir, em uma escala de atribui-
ções cada vez mais complexas, mas com atribuições proporcionais, a ética da responsabi-
lidade individual (e o nível de comprometimento ...) de um simples administrador de centro
de saúde que trata mal os usuários? Do maqueiro que faz “corpo mole” na entrada de emer-
gência? Do motorista que afirma “desvio de função” quando solicitado para ajudar a levar
um acidentado até a ambulância? Do ajudante de lavanderia ou de cozinha que negligencia
os requisitos essenciais de higiene e limpeza? Do médico que cuida ou atende de qualquer
forma seus pacientes? Do político responsável por colocar “emendas” de seu interesse
particular no orçamento público da saúde? Do burocrata que deliberada ou abnegadamente
atrasa a entrega de fundos dramaticamente antecipados para locais de necessidade? Do
ministro todo-poderoso que pensa ser o único dono da “chave do cofre”? Ou o Presidente
da República, que na prática insiste que a saúde não deve ser prioridade na ação política
de seu governo (GARRAFA, 1995) O que pensar ou como agir diante dessas situações?
No que se refere à ética da responsabilidade pública, um aspecto que não deve ser
deixado de lado na reflexão sanitária é aquele que diz respeito à definição das prioridades
nos investimentos do Estado, incluindo o estudo da destinação, alocação, distribuição e
controle dos recursos financeiros dirigidos ao setor. Ao contrário dos países industrializados,
no Brasil vivemos situações paradoxais que vão desde a presença persistente de
doenças comuns nos países mais pobres do mundo (dengue, malária, doença de chagas,
esquistossomose, febre amarela) até o registro significativo em nossas estatísticas de
mortalidade dos problemas comuns aos países mais avançados (câncer, problemas
cardiovasculares, acidentes de trânsito, etc.). Com o custo crescente do diagnóstico e a
sofisticação tecnológica natural resultante do avanço científico, os recursos de saúde estão
lentamente se tornando inadequados, mesmo nos países mais ricos.

UNIDADE I Noções e Fundamentos de Bioética 28


A discussão sobre “prioridades” começa a adquirir conotações éticas cada vez mais
dramáticas. É responsabilidade do Estado e das instituições públicas encontrar soluções
morais que abordem a escassez; soluções que não envolvam discriminação injusta ou a
tirania das minorias (HARRIS, 1988).
São questões comuns relacionadas aos serviços de saúde, entre outras, que
podem orientar um debate mais aprofundado do ponto de vista ético. Mostra que abordar
os aspectos éticos na atenção à saúde não se limita à mera padronização nas leis ou na
ética profissional, mas também se estende ao respeito às pessoas como cidadãos e como
seres sociais, por isso se enfatiza que “a essência da Bioética é a liberdade, mas com
compromisso e responsabilidade” (KOERICH et al., 2005).
Encerramos este tópico com a reflexão de Koerich e colaboradores (2005), que diz:
a ética reconhece o valor de todos e considera o ser humano um dos fios que formam a grande
teia da vida. Dessa forma, todos os fios são importantes, indissociáveis e co-produtores uns
dos outros. Ao aderir ao comportamento ético, buscamos saúde e vida. Essa busca leva as
pessoas a um processo de crescimento contínuo. Uma vez que nosso trabalho ocorre em
um ambiente complexo (centro de saúde ou comunidade), todas as nossas ações (a forma
como ouvimos, vemos, tocamos, falamos, nos comunicamos e realizamos procedimentos)
são eticamente questionáveis. A forma como tratamos funcionários, clientes e familiares,
pode influenciar o resultado do nosso trabalho. A relação recíproca não permite arrogância,
onipotência e autoritarismo, mas permite liberdade de expressão de pensamentos, ideias e
experiências e inclui o respeito pela compreensão moral e ética de todos os envolvidos. A
ética da saúde está impregnada de “bom raciocínio” e “introspecção” (auto-exame), e “boas
intenções” não são suficientes. O auto-exame nos permite descobrir que somos falíveis,
frágeis, inadequados, necessitados e que precisamos de compreensão mútua. A bioética é
um instrumento que nos guiará na reflexão cotidiana sobre o nosso trabalho e é essencial
para as futuras gerações para uma melhor qualidade de vida. É o que se espera!

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 29
2. CÓDIGOS DE CONDUTA

A deontologia pode ser entendida como a ciência dos deveres, que inclui o
estudo, a discussão, a elaboração e a necessidade constante de atualização do código
de ética. Tem como objetivos essenciais, os fundamentos do dever, bem como os padrões
morais e éticos (FRANÇA et al., 2017). A deontologia, neste contexto, também se refere
aos princípios e regras de conduta inerentes a uma determinada profissão, ou seja, seus
deveres. Assim, todos os profissionais estão sujeitos à sua própria deontologia para regular
o exercício da sua profissão de acordo com o código de ética da sua categoria. O código
de ética é o documento que reflete a deontologia de uma profissão e pode ser visto como
a ética da intenção. Informa como as pessoas devem se comportar no campo profissional,
com colegas, clientes e pacientes, parentes, professores, etc. Os códigos deontológicos
referem-se estritamente à moralidade de uma profissão e ao comportamento exigido por
um profissional, e, que norteiam a conduta e reflexões acerca de um conflito (Figura 1).
É o próprio grupo profissional que estabelece os padrões e é responsável por listá-los e
colocá-los em prática (FRANÇA et al., 2017).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 30
FIGURA 1 - CONFLITOS ÉTICOS: COMO AGIR?

Fonte: HORA de falar sobre ética na tecnologia da informação. Scurra Tecnologia e Inteligência, 2019,
online. Disponível em: https://www.scurra.com.br/blog/hora-de-falar-sobre-etica-na-tecnologia-da-
informacao/. Acesso em: 10 jan.2022.

O contexto de qualquer exercício profissional deve ser pautado por uma ética
responsável, conhecimento técnico, científico, ético e jurídico, postura profissional e
compromisso com o grupo de trabalho e a sociedade. Sabe-se que ao utilizar os serviços de
um profissional, espera-se que ele não apenas domine os conhecimentos teóricos e práticos
inerentes à sua profissão, mas também a correta aplicação dessa competência - conduta
profissional ética. Na verdade, a sociedade está cada vez mais atenta aos seus direitos, exige
muito da qualidade do atendimento e se preocupa com os erros técnicos profissionais. Todas
as profissões legalmente reconhecidas e regulamentadas possuem um código de ética. Este
código expressa a obrigação de não prejudicar, de renunciar e defender a dignidade e o
respeito. Nesse contexto, é preciso refletir profundamente sobre até onde podemos ir e
quais podem ser os limites de nossa sede de conhecimento (FRANÇA et al., 2017).

REFLITA

A ética não é um obstáculo para a ciência; pelo contrário, é um eixo norteador do


conhecimento.

Fonte: França et al., 2017.

O que você acha de fazer um exercício agora? Pense comigo: já se decepcionou


com o atendimento que recebeu em um determinado estabelecimento? Já se sentiu
humilhado ou esperava um excelente atendimento, com qualidade, acolhimento e respeito
e isso não aconteceu?

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 31
Pois é, não são raras as vezes que esse tipo de acontecimento permeiam as
relações profissional-cliente e, sem dúvida alguma, são momentos de desgaste emocional
e caracterizam uma conduta indesejável do profissional que nos atende. Quantas vezes
vamos procurar um atendimento médico, por exemplo, já fragilizados com a causa/
doença e saímos ainda mais entristecidos e desgastados com a recepção e condução da
consulta pelo profissional, do qual esperávamos atenção e empatia com nosso sofrimento
e angústia? Por que isso acontece? Onde encontra-se a conduta ética desse profissional?
Como devemos agir nestas situações?
Nesse contexto, é importante saber que os termos ética (do grego éthos, modo de
ser), moral (do latim costumes, costumes, normas de coexistência) e deontologia (do grego
déon, dever) estão relacionados e ligados uns aos outros na bioética (MALUF, 2020). A ética
é um conhecimento racional que trata de determinar o que é bom. A moralidade tem a ver
com a escolha da ação em que uma dada situação deve ser empreendida. Então, podemos
entender que a tomada de decisões e ações concretas são um problema prático e, portanto,
moral. Examinar esta decisão e esta ação, a responsabilidade daí resultante e os graus de
liberdade e determinismos associados, é um problema teórico e, portanto, ético. A ética é
fundamentalmente investigativa e tem um caráter conceitual. A moralidade é praticamente
inconcebível fora de qualquer contexto histórico, social, político e econômico. A Deontologia
(Código de Ética Profissional) regula as ações dos trabalhadores no contexto da sua prática,
torna-as boas e adequadas. A bioética engloba conhecimentos complexos que visam dar
respostas em situações específicas, sempre em busca de uma certa autonomia. Tem um
caráter pragmático (baseado nos quatro princípios) que se aplica às questões morais
levantadas por decisões clínicas e avanços científicos e tecnológicos. Implica a capacidade
de tomar decisões moral e legalmente aceitas em casos que envolvem valores conflitantes.
Em síntese, concluímos que “o que se estuda na ética, se pratica na moral, é obrigatória na
deontologia, é por fim, é problematizado na bioética” (MALUF, 2020).
Na bioética, ao contrário do que ocorre na ética, na moral e na deontologia, o
bem é sempre pensado a partir de um determinado sujeito e nunca de forma abstrata ou
coletivizada. A peculiaridade da situação do paciente deve sempre servir de base para
questionar, à luz dos princípios da bioética, o grau de humanidade, legitimidade e legalidade
inerente à conduta do profissional de saúde ou do pesquisador (GRACIA, 2010).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 32
Em síntese, podemos concluir que a Bioética é a disciplina que estuda os aspectos
éticos das práticas médicas e biológicas, avaliando suas implicações para a sociedade e
as relações entre os homens e entre eles e os demais seres vivos, indicando a linha de
conduta a ser adotada, a fim de respeitar a dignidade humana (MALUF, 2020).
Agora que você já compreendeu o que é um código de conduta, sua importância e
sua aplicabilidade e inter-relação com a bioética, podemos avançar para o tópico II, onde
falaremos dos direitos do paciente, como validar esses direitos e o dever de respeitá-los e
colocá-los em prática! Vamos lá?

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 33
3. DIREITOS DO PACIENTE

O Brasil não está em sintonia com outros países na adoção de uma lei nacional
sobre os direitos do paciente (ALBUQUERQUE, 2019). Antes da década de 1970, os direitos
dos pacientes não eram exigidos (MALIK, 1997). O paciente não tinha direitos e voz, para
fazer valer suas vontades. Este cenário, foi aos poucos se modificando e o paternalismo
médico, em que o médico “pode tudo”, foi dando espaço para uma medicina centrada no
paciente e no seu bem-estar.
A existência de leis sobre os direitos dos pacientes pressupõe o reconhecimento
da importância desses direitos e a presença de um sistema de saúde em que os direitos
dos pacientes sejam protegidos (JUN, 2019). Os direitos do paciente são o que as pessoas
têm quando recebem tratamento médico simplesmente porque são seres humanos e
devem obter todo respeito. Segundo Albuquerque (2016), os direitos dos pacientes são
os seguintes: direito à vida; direito à privacidade; direito de não ser discriminado; direito à
liberdade; direito à saúde; direito à informação e direito a não ser submetido a tratamentos
desumanos e degradantes. Destes direitos derivam outros mais específicos; são eles: direito
ao consentimento informado; direito a uma segunda opinião; direito de recusar tratamentos e
procedimentos médicos; o direito de morrer com dignidade, sem dor e de escolher o lugar da
morte; direito à informação sobre o estado de saúde; direito de acesso a prontuários médicos;
direito à confidencialidade das informações pessoais; o direito a cuidados médicos seguros
e de qualidade; direito de não ser discriminado; direito de reclamar; direito a indemnização e
direito a participar no processo de tomada de decisão (EUROPEAN COMMISSION, 2016).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 34
LEITURA COMPLEMENTAR

O direito-dever de sigilo na proteção ao paciente

O artigo reflete sobre o dever de sigilo profissional em relação às informações que


o paciente recebe durante o tratamento médico, quanto ao cumprimento de seus direitos
e proteção. Embora a confidencialidade seja considerada um dos preceitos morais mais
tradicionais em saúde, ainda é um dos princípios menos respeitados, fato particularmente
preocupante em épocas de intensa exposição da intimidade como os tempos atuais. De outro
lado, a garantia da confidencialidade, além de estimular o vínculo profissional-paciente, pode
favorecer a adesão ao tratamento e a tomada de decisões mais autônomas, ao assegurar
ao paciente a não exposição de circunstâncias de sua vida pessoal que possam ensejar
julgamentos que ele deseja evitar, mesmo aos entes mais próximos. Nesse contexto, o
sigilo atua como mecanismo de proteção do paciente no que diz respeito aos seus valores
e experiências pessoais e sustenta a necessária confiança na relação médico-paciente.

Fonte: VILLAS-BÔAS, M. L. O direito-dever de sigilo na proteção ao


paciente. Rev. Bioét. 23 (3). 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/
kFY5sjrzNCZYd3qVc5BLXDt/?lang=pt. Acesso em: 10 out. 2021.

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 35
Os direitos do paciente, ao serem incorporados devidamente nas leis e diretrizes
específicas, convergem para os movimentos da sociedade civil que visam ao engajamento
do paciente no seu processo de cuidado e na tomada de decisão sobre questões que
digam respeito ao seu corpo e à sua vida, bem como em decisões sobre a aquisição de
recursos escassos em saúde e incorporação de novas tecnologias em saúde (EUROPEAN
COMMISSION, 2016). As leis de direitos dos pacientes fundamentam-se no cuidado
pautado pela vontade e preferências do próprio paciente, separando-se do modelo
paternalista e objetiva seu empoderamento com vistas ao exercício de seus direitos. Esse
modelo de cuidado em saúde derivado das leis de direitos dos pacientes ultrapassa as
concepções de compaixão, de dignidade e de respeito, pois tem como fundamentação a
reafirmação da sua condição de cidadão que deve ter seus direitos assegurados (HEALTH
AND SOCIAL CARE ALLIANCE SCOTLAND, 2019).
Uma vez que o paciente tem seus direitos respeitados, consequentemente, ficam
mais satisfeitos com os serviços de saúde. As leis sobre direitos dos pacientes fomentam o
modelo do cuidado centrado no paciente, criando uma nova cultura nos serviços de saúde que
se alicerça na parceria entre o paciente e o profissional, o que resulta em melhores condições
de saúde para o paciente (HEALY, 2019). Dessa forma, as leis de direitos dos pacientes são
compreendidas como uma ferramenta útil e central na mitigação da assimetria de poder e de
conhecimento que permeia a relação profissional de saúde e paciente, estimulando assim, a
parceria e conformidade ente os dois (EUROPEAN COMMISSION, 2016).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 36
SAIBA MAIS

Você tem conhecimento de quantos e quais são, os direitos dos pacientes? “Você sabia
que pode consultar seu prontuário médico no momento que desejar? Que tem direito a
uma conta detalhada especificando todas as despesas do tratamento? Que o hospital
é obrigado a informar a origem do sangue utilizado nas transfusões? Pois esses são
alguns dos chamados Direitos do Paciente – uma série de 35 garantias que médicos e
hospitais devem levar em conta para preservar a ética em sua conduta profissional e a
saúde dos pacientes, claro. O problema é que, apesar de asseguradas por lei, essas
normas são praticamente desconhecidas. Hospitais, clínicas e postos de saúde não têm
obrigação de afixá-las em local de fácil visualização e os manuais onde elas constam
são difíceis de encontrar”.

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde / Ministério da Saúde. – 1. ed. –
Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/Carta5.pdf

Bom, o importante até aqui é você entender que as leis de direitos do paciente são
ferramentas essenciais para mudar a cultura de cuidados em saúde no Brasil e promover o
bem maior do paciente, que é a sua vida e o seu bem-estar. Apesar dos avanços já alcançados
até o momento, ainda temos um longo e árduo caminho pela frente, neste assunto.

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 37
4. A RELAÇÃO PROFISSIONAL-PACIENTE

Nas relações entre as pessoas durante o exercício profissional, nos diversos


ramos de atividade, é a qualidade do encontro que determina o seu sucesso, por
exemplo, na formação de um bom médico, a relação médico-paciente é fundamental
(PEREIRA e AZEVEDO, 2005). Nesse contexto, no modelo hipocrático, a relação médico-
paciente é um dos alicerces da medicina e, juntamente com o exame físico, permite obter
informações importantes para o diagnóstico e tratamento de doenças (MENDONÇA e
VON ATZINGEN, 2010). Por outro lado, a necessidade de relacionamento próximo com
o paciente para um correto diagnóstico e terapia adequada, tem sido progressivamente
substituída pela solicitação e execução de exames de diagnóstico cada vez mais
sofisticados (NASCIMENTO JUNIOR e GUIMARÃES, 2003).
As relações profissional-paciente devem ser orientadas por padrões éticos e
legais e pelos princípios básicos que permeiam essas relações. Essas normas éticas
e legais também devem atingir diversos profissionais da saúde, incluindo dentistas,
cientistas, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas, veterinários, entre outros. É de
vital importância respeitar os princípios bioéticos da autonomia (por meio do consentimento
livre e esclarecido), beneficência, não maleficência e justiça, objetivando sempre o melhor
cuidado dedicado ao paciente (DINIZ, 2017).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 38
Na prática médica, por exemplo, os deveres inerente à profissão são: informação
detalhada sobre o estado de saúde do paciente, bem como a explicação do tratamento a ser
implementado diante do diagnóstico obtido; tratar o paciente com zelo e dedicação, utilizando
todos os recursos disponíveis da sua profissão; respeitar as decisões pessoais dos pacientes
em caso de recusa do tratamento oferecido; respeitar os limites contratuais estabelecidos e
preservar o sigilo profissional tendo em vista a privacidade do paciente (DINIZ, 2017).
Quando um profissional da área de saúde tem diante de si uma pessoa que busca
seus serviços, por qualquer que seja o motivo, está ocorrendo um encontro clínico, o qual
pode receber diferentes denominações: relação profissional de saúde-paciente, relação
médico-paciente, interação médico-cliente, interação profissional-usuário, dentre outras
(RANGEL et al., 2011).
Os procedimentos terapêuticos e as características dos profissionais de saúde
desejáveis para que ocorra uma satisfatória aliança de trabalho na relação com o paciente,
são baseados principalmente em qualidades humanas, esperadas em qualquer relação e
situação, e princípios bioéticos, essencialmente presentes nas ações em saúde (GOMES,
2003; PORTO, 2003). Entre as qualidades humanas estão: empatia, continência, humildade,
respeito às diferenças, curiosidade, capacidade de conotar positivamente, capacidade de
comunicação, flexibilidade, criatividade, paciência, solidariedade, integridade e compaixão.
Com relação aos princípios bioéticos, são almejados a ética e sigilo, autonomia do paciente,
beneficência, não-maleficência, justiça, consentimento esclarecido, atenção ao paciente e
responsabilidade (GOMES, 2003; PORTO, 2003).
As características pessoais dos pacientes e as variáveis psicossociais também
influenciam no relacionamento com os profissionais de saúde. As diferenças nas variáveis
psicossociais entre pacientes e profissionais de saúde influenciam, ainda que inconscientemente,
atitudes, percepções e sobretudo a comunicação na interação profissional-paciente (DIAS,
2011). Entre os fatores do contexto em que se desenvolve a relação profissional de saúde-
paciente, o próprio lugar do cuidado e a estrutura do sistema de saúde podem desgastar ou
comprometer essa interação e prejudicar a harmonia (TAYLOR, 2000). Ressalta-se ainda,
que o conhecimento do contexto sociocultural e do sistema de saúde em que profissionais e
pacientes estão inseridos também pode influenciar na relação entre eles (ASSUNÇÃO, 2013).
É importante ressaltar, que falar de relação profissional de saúde-paciente é abordar
o conceito de relação humana, de princípios, deveres e respeito mútuo (CANTO et al., 2011;
GOMES, 2003) e que isso reflete, portanto, discutir sobre humanização do cuidado em
saúde e ponderar a respeito do encontro entre seres humanos, em todas as suas etapas e
circunstâncias, cuja prioridade é a promoção da saúde (GOMES, 2003).

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bom, chegamos ao final desta unidade e nela falamos sobre a ética da


responsabilidade pública e individual, fazendo você refletir que a ética da responsabilidade
e a bioética conduzem a responsabilidade para questões que nos deparamos no cotidiano
e para as relações humanas, para que possamos atuar com sabedoria e apresentar valores
em todas as suas dimensões. Você pôde perceber, que em qualquer discussão que envolva
um tema ético não se pode abrir mão do “princípio universal da responsabilidade”.
Na sequência, você estudou sobre a importância dos códigos de conduta e entendeu
que qualquer exercício profissional deve ser pautado na ética com responsabilidade, no
conhecimento técnico, científico, ético e legal, na postura profissional e no compromisso
com o grupo de trabalho e a sociedade. Além disso, verificou a necessidade e importância de
conhecer e aplicar no dia-a-dia profissional que o paciente tem seus direitos assegurados, e
eles dever ser valorizados e cumpridos. A adoção de leis de direitos dos pacientes pressupõe
o reconhecimento da importância de tais direitos e da presença de um sistema de saúde no
qual os direitos dos pacientes são protegidos.
Finalmente, você foi capaz de compreender a importância da relação profissional-
paciente e suas implicações no âmbito da bioética. Abordamos o conceito de relação
humana, humanização do cuidado em saúde, respeito ao paciente e verificamos, por fim,
que todas essas relações, pautadas em princípios éticas, levam como consequência ao
objetivo mais importante que é a promoção de saúde.
Com todos esses conhecimentos é só refletir sobre a aplicabilidade de todos eles
no dia-a-dia e permitir que saiam do papel e permeiem nossas ações! Vamos lá!

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 40
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Segurança do Paciente. Como Garantir Qualidade nos
Serviços de Saúde
Autor: Guilherme Armond.
Editora: DOC.
Sinopse: O objetivo principal desta obra é ampliar e nortear
o conhecimento e aplicabilidade de diretrizes e estratégias
direcionadas à segurança do paciente visando melhorias na
qualificação da assistência à saúde. O objetivo específico é
contextualizar incidentes notificáveis por lei que resultam dano ao
paciente, bem como estratégias e metodologias para minimizar
a ocorrência desses eventos. A proposta do conteúdo do livro é
utilizar imagens, fotos, gráficos, tabelas, fatos e relatos de eventos
adversos associados a erros na assistência ao paciente bem como
experiências e desfechos.

FILME/VÍDEO
Título: Tempo de despertar
Ano: 1990.
Sinopse: Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um
neurologista que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico.
Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão cata-
tônicos, mas Sayer sente que eles estão só “adormecidos” e que
se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados.
Assim pesquisa bem o assunto e chega à conclusão de que a
L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada para pacien-
tes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para
estes casos. No entanto, ao levar o assunto para o diretor, ele
autoriza que apenas um paciente seja submetido ao tratamento.
Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro),
que há décadas estava “adormecido”. Gradualmente Lowe se
recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos outros
pacientes, sob sua supervisão. Logo os pacientes mostram sinais
de melhora e também se mostram ansiosos em recuperar o tempo
perdido. Mas, infelizmente, Lowe começa a apresentar estranhos
e perigosos efeitos colaterais.

UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 41
UNIDADE III
Bioética e Pesquisa
Profª. Drª. Viviane Krominski

Plano de Estudo:
● Bioética: prática profissional e pesquisa científica;
● Fundamentação da ética na pesquisa científica envolvendo seres humanos;
● Comitê de ética em pesquisa (CEP);
● Consentimento livre e esclarecido para a prática profissional e pesquisa científica.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a importância da bioética, seus fundamentos e princípios na prática profissional
relacionada à realização de pesquisas científicas e as ações éticas necessárias com os
diversos aspectos que vieram com o progresso científico e como estão impactando fortemente a
sociedade, de forma a se refletir na conduta individual e coletiva;
● Analisar os fundamentos da bioética na pesquisa científica envolvendo seres humanos e a
avaliação necessária dos projetos de pesquisa antes da sua fase de execução,
afim de garantir integridade e dignidade aos participantes;
● Compreender a função e importância dos comitês de ética em pesquisa, bem como, suas atribuições
como órgão responsável na análise dos aspectos metodológicos, da relevância e exequibilidade dos
projetos de pesquisa, de forma a garantir o bem-estar dos indivíduos, a equidade e a justiça social;
● Analisar a importância e aplicabilidade do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) como documento necessário para a
validação de pesquisas envolvendo seres humanos.

42
INTRODUÇÃO

Olá! Iniciamos mais uma unidade, falando sobre Bioética e Pesquisa Científica. O
que tem a ver uma coisa com a outra? A resposta, você terá em detalhes na leitura e reflexão
desta unidade, mas podemos exercitar um pouco antes. Veja se você consegue responder
algumas questões a seguir, e vai imaginando como seriam as pesquisas envolvendo seres
humanos, sem os princípios da bioética. Vamos lá:
Existe limite para a ciência? A ausência de limites à ciência, traria riscos à existência
humana? Com os avanços biotecnológicos e de engenharia genética, haveria limites para a
pesquisa com seres humanos? Como realizar uma pesquisa, respeitando o direito à vida e
a dignidade dos participantes? Isso é importante?
Bom, você terá condições de responder e refletir todas essas questões, nos tópicos
desta unidade, no qual falaremos sobre a importância da bioética, seus fundamentos e
princípios na prática profissional relacionada à realização de pesquisas científicas e as
ações éticas necessárias com os diversos aspectos que vieram com o progresso científico e
como estão impactando fortemente a sociedade, de forma a se refletir na conduta individual
e coletiva. Você vai verificar os fundamentos da bioética na pesquisa científica envolvendo
seres humanos e a avaliação necessária dos projetos de pesquisa antes da sua fase de
execução, afim de garantir integridade e dignidade aos participantes.
Na sequência, vai compreender a função e importância dos comitês de ética em
pesquisa, bem como, suas atribuições como órgão responsável na análise dos aspectos
metodológicos, da relevância e exequibilidade dos projetos de pesquisa, de forma a garantir
o bem-estar dos indivíduos, a equidade e a justiça social. Finalmente, se dará conta, da
importância e aplicabilidade do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como
documento necessário para a validação de pesquisas envolvendo seres humanos.
Bom, você percebeu que teremos um grande e valioso aprendizado pela frente!
Aproveite e tenha um ótimo estudo!

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 43


1. BIOÉTICA: PRÁTICA PROFISSIONAL E PESQUISA CIENTÍFICA

Com os avanços da sociedade em relação à medicina, as tecnologias biomédicas


e a novos tratamentos, surge a necessidade de se pensar sobre a ética médica, ética
em saúde, pesquisa ou bioética (FRANÇA, 2017). Diversos aspectos que vieram com o
progresso científico estão impactando fortemente a sociedade, de forma a se refletir na
conduta individual e coletiva (CLOTET, 1993).
Atualmente, a bioética é uma área que cuida de questões éticas que dizem respeito
ao início e ao fim da vida humana, como métodos de fecundação, engenharia genética
e formas de eutanásia, bem como temas referentes a transplante de órgãos e pesquisas
com seres humanos. É importante ressaltar que a criação da bioética não trouxe novos
princípios éticos, mas começou a aplicar conceitos já conhecidos do estudo da ética em
novas situações que foram trazidas com as inovações no campo da saúde (FRANÇA,
2017). No Brasil, os aspectos éticos, as diretrizes e as normas regulamentadoras de
pesquisas envolvendo seres humanos são estabelecidos pela Resolução no 466, de 12
de dezembro de 2012 (BRUM, 2017).
Inúmeros fatores influenciam o contexto da pesquisa em saúde, incluindo questões
relacionadas aos profissionais da área da saúde, aspectos econômicos (como patrocínio
de indústria farmacêutica), familiares e religiosos, além de aspectos legais e institucionais.
Em determinadas situações, tais fatores podem resultar em conflitos de interesse, na
tentativa de influenciar e até restringir as tomadas de decisões clínicas, o estabelecimento
de objetivos de pesquisa ou mesmo a divulgação de resultados (BRUM, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 44


No entanto, a dimensão ética norteia decisões clínicas e objetivos de pesquisa, de
forma a assegurar a justiça, a equidade e a dignidade das diversas relações, atividades e
pesquisas no campo da saúde (BEAUCHAMP e CHILDRESS, 2009).
O conceito pesquisa pode ser compreendido como toda atividade com o objetivo
científico de demonstrar, construir ou desenvolver um conhecimento generalizável. No
entanto, podemos encontrar definições de pesquisa atreladas aos objetos e/ou objetivos
específicos de cada área do conhecimento. Na área da saúde humana, em geral, o principal
objetivo das pesquisas é o desenvolvimento de melhorias relacionadas a proteção, promoção
e manutenção da saúde individual ou coletiva. Além disso, as pesquisas em saúde estão
relacionadas a uma gama de contextos que vão desde a busca por um tratamento até
a análise da situação dos sistemas de saúde ou a descoberta de novas tecnologias. Os
interesses econômicos, por sua vez, não devem se sobrepor a nenhum objetivo dessas
pesquisas (BRUM, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 45


2. FUNDAMENTAÇÃO DA ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA
ENVOLVENDO SERES HUMANOS

A vida é o bem mais valioso para o ser humano no contexto de todas as suas relações
(social, política e jurídica). Assim, a proteção da vida e da integridade física do ser humano,
tornam-se os direitos considerados mais preciosos, e a bioética surge no âmbito da socie-
dade científica, como proposta de um espaço para se refletir sobre desenvolvimento e uso
das tecnologias e seus impactos na natureza e na vida humana, preocupando-se com todo
tipo de intervenção humana. Por outro lado, o avanço da medicina rumo à determinação de
novos tratamentos clínicos e cirúrgicos e novos métodos de diagnóstico envolve a experi-
mentação em seres humanos, o que torna necessária a avaliação dos projetos de pesquisa
antes da sua fase de execução, afim de garantir integridade e dignidade aos participantes
(BALLESTRERI, 2017). A bioética oferece aos pesquisadores e à sociedade parâmetros
para que eles possam julgar e se manifestar sobre os riscos e sobre a oportunidade do uso
das tecnologias. No caso da pesquisa com seres humanos, a ênfase da bioética estará
nos efeitos que o projeto desenhado pelo pesquisador terá sobre os participantes. A função
prioritária da bioética em pesquisa é proteger o participante, um indivíduo que se submete
voluntariamente a um risco. Os três princípios referentes à bioética são os da autonomia,
da beneficência e da justiça. Entretanto, a incidência de um quarto princípio, o da não
maleficência, é reconhecida por muitos pesquisadores (BALLESTRERI, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 46


REFLITA

Uma ciência que acolhe a reflexão ética, é uma ciência com consciência. A tomada
de consciência da ciência conduz à noção de responsabilidade dos cientistas e
pesquisadores, na sua atuação, perante a sociedade.

Fonte: Morin, 2005; Moller, 2009; Santos, 2003.

O princípio da autonomia se reporta à capacidade de auto escolha, que é a


possibilidade de alguém tomar suas próprias decisões. As pessoas devem ser reconhecidas
como entes capazes de tomar suas próprias decisões, devendo ser prévia e devidamente
informadas a respeito dos procedimentos, seus riscos e suas consequências. O princípio
da beneficência deve ser entendido como uma dupla obrigação: primeiramente, a de não
causar danos; e, em segundo lugar, a de maximizar o número de possíveis benefícios e
minimizar os prejuízos. Já o princípio da justiça pode ser resumido no dever da imparcialidade
na distribuição dos riscos e dos benefícios inerentes à pesquisa, bem como no tratamento
igualitário. O princípio da não maleficência é o mais controverso de todos e muitos autores
o incluem no princípio da beneficência. Estes justificam essa posição por acharem que,
ao evitar o dano intencional, o indivíduo já está, na realidade, visando ao bem do outro. A
bioética não possui novos princípios básicos fundamentais. Ela trata da ética já conhecida e
estudada ao longo da história da filosofia, porém aplicada a uma série de situações novas,
que são causadas pelo progresso das ciências biomédicas (BALLESTRERI, 2017).
A pesquisa em seres humanos só é aceitável quando ela responde preliminarmente
às conveniências do diagnóstico e da terapêutica do próprio experimentado, a fim de
restabelecer sua saúde ou diminuir seu sofrimento. Qualquer pesquisa que não almeje a
esses interesses é inaceitável. Se o ser humano tem pelo seu corpo um direito limitado,
muito mais limitado é o direito do médico, cuja missão é preservar a vida até em que suas
forças e a ciência permitirem. O médico deve ter, como norma irrecusável, um conjunto de
princípios éticos e morais, inclinando-se mais para a vida, para a preservação da espécie e
para a exaltação das liberdades fundamentais (SCHNAIDER, 2010).
Sem dúvida, a experimentação com seres humanos é uma das razões de grandes
discussões na bioética, e se baseia, no dilema entre o respeito à dignidade humana e
a necessidade de experimentação imposta pelo desenvolvimento tecnocientífico, que
representa benefício para a humanidade.

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 47


No século XVI, Galileu defendeu que a verdade sobre os fenômenos naturais não
deveria ser simplesmente aceita, mas, sim, deveria passar por experimentação sistemática
e observação crítica. A partir daí, surgiu o método científico e desde então o número
de pessoas que se dedica à pesquisa e à ciência vem aumentando consideravelmente
(BALLESTRERI, 2017).
Tornou necessário, então, serem criadas maneiras de formalizar e legalizar os
procedimentos que poderiam ser utilizados e as atitudes que deveriam ser tomadas para
que fosse viável e seguro lidar com seres humanos em pesquisas. Entre elas, estão os
Comitês de Ética, a Declaração de Nuremberg, de 1947, a Declaração de Helsinque,
publicada em 1964, a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 196/96 e Resolução do
Conselho Nacional de Saúde n. 466/12. O Código de Nuremberg foi o primeiro documento
específico envolvendo ética na pesquisa com seres humanos, em 1947, e surgiu em função
das pesquisas médicas abusivas que eram praticadas nos campos de concentração durante
a Segunda Guerra Mundial (BALLESTRERI, 2017).
Os médicos que praticavam experimentos negligentes eram levados a julgamento no
Tribunal de Nuremberg, porém, os juízes não encontravam disposições éticas ou legais que
pudessem servir de subsídios para condenar os médicos, então, a partir daí, foi elaborado
um documento contendo 10 itens que passou a ser conhecido como o Código de Nuremberg.
Entre os itens do código, podemos destacar o item I – “O consentimento voluntário do ser
humano é absolutamente essencial para a inclusão na pesquisa” – e o item V – “Não deve
ser conduzido nenhum experimento quando existirem razões para acreditar que pode ocorrer
morte ou invalidez permanente, exceto, talvez, quando o próprio médico pesquisador se
submeter ao experimento”. O código estabelece que somente um paciente falante e que tenha
autonomia para decidir o que é melhor para si, participe, e que a ele sejam apresentados
pontos referentes a como deve ser conduzida a experimentação, aos direitos do investigado,
a quem conduzirá a investigação e à segurança do investigador (BALLESTRERI, 2017).
Mesmo com a elaboração do código, as práticas abusivas continuaram, e por essa
razão, surgiu a Declaração de Helsinque, elaborada pela Associação Médica Mundial, em
1964, que, após passar por diversas revisões, a última em 2008, foi considerada um guia
para os pesquisadores em todo o mundo. Essa declaração traz um conjunto de princípios
éticos que orientam a pesquisa com seres humanos e é considerada o primeiro padrão
internacional de pesquisa biomédica (BALLESTRERI, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 48


O Brasil, até 1988, não dispunha de normas específicas. A orientação para as
pesquisas envolvendo seres humanos se baseavam nos documentos internacionais. Assim,
em 1987, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) iniciou uma análise sobre essa questão e no
ano seguinte publicou a Resolução no 01/88, que abrangia vigilância sanitária, biossegurança
e ética (BRASIL, 1988). Em 1996, essa resolução foi revista e então elaborada a Resolução
n. 196/96, que então foi revogada pela Resolução 466/12, que estabelece as normas e
diretrizes de pesquisa envolvendo seres humanos e aborda as questões que vão, desde o
início do projeto de pesquisa até a operacionalização da pesquisa (BALLESTRERI, 2017).
Pela resolução, todo projeto de pesquisa em seres humanos que possa conter
riscos, entendidos como possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral,
intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano em qualquer fase da pesquisa e em
qualquer área do conhecimento, deve ser aprovada antes do início de sua execução por um
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) (BALLESTRERI, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 49


3. COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP)

A análise dos princípios éticos de projetos de pesquisa em saúde deve considerar a


garantia da beneficência, da justiça e do respeito ao indivíduo, englobando todas as pessoas
que possam estar relacionadas à pesquisa (pesquisador, paciente, etc.). A avaliação ética
de um projeto de pesquisa na área da saúde obrigatoriamente deve estar fundamentada na
verificação da experiência e da qualificação dos pesquisadores, assim como na avaliação
risco–benefício ao indivíduo ou à comunidade (BRUM, 2017).
No Brasil, os Comitês de Ética em Pesquisa surgiram por meio da Resolução
196/96; os aspectos éticos, as diretrizes e as normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos, por sua vez, foram estabelecidos pela Resolução no 466,
de 12 de dezembro de 2012. Os Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs), institucionais e
multidisciplinares na sua composição, têm a função de analisar as pesquisas em seres
humanos nas diversas áreas de conhecimento, bem como fomentar discussões sobre
bioética. De forma global, têm como atribuições a análise dos aspectos metodológicos,
da relevância e exequibilidade do projeto de pesquisa, de forma a garantir o bem-estar
dos indivíduos, a equidade e a justiça social. É importante que, além de profissionais da
área, também haja representatividade da comunidade civil (por exemplo, associações
representativas de determinadas patologias) (BRUM, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 50


No campo da assistência à saúde humana, o aumento da complexidade relacionada
aos aspectos éticos no cuidado clínico incrementou a necessidade de implementação de
Comitês de Ética e de consultoria ética nas unidades de saúde, especialmente em hospitais
de grande porte e que atendam a inúmeras especialidades médicas (BRUM, 2017).
Nos hospitais, os Comitês de Ética são responsáveis pela organização de políticas
e condutas éticas e, para tal, é imprescindível que os participantes estejam familiarizados
com a bibliografia de bioética. Além disso, é preciso que haja representatividade dos
diferentes profissionais da área da saúde, com organograma e atribuições especificadas,
assim como representatividade da comunidade externa à organização de atenção à saúde.
Devem ocorrer reuniões periódicas, mantendo o sigilo dos casos discutidos (BRUM, 2017).
Hospitais e empresas de atenção à saúde também têm recorrido, em algumas
situações, a consultores em ética. A consultoria em ética deve ser prestada por profissionais
com qualificação e experiência na área em questão, de forma que emitam pareceres adequados
a cada caso. A qualificação necessária para consultoria em ética inclui conhecimentos de
bioética, dos códigos de ética profissional e da legislação em saúde (BRUM, 2017).
As informações e decisões dos Comitês de Ética e dos consultores em ética são
apenas orientadoras e, em geral, são relatadas ao médico responsável pelo acompanhamento
do caso clínico. Elas têm por objetivo promover melhoria na atenção ao paciente e resolver
questões éticas encontradas em casos individuais (BRUM, 2017).
O fato é que a bioética tem a preocupação ética com as aplicações dos novos
conhecimentos científicos e tecnológicos, em especial quando dirigidos à saúde humana;
e a tentativa de refletir sobre e estabelecer os princípios norteadores das pesquisas e
realizações da ciência. Os novos conhecimentos científicos e biotecnológicos adquiridos
vêm tornando possível o desenvolvimento de novos fármacos, tratamentos, aparelhos
e procedimentos médicos, além de novas formas de reprodução humana e da pesquisa
em engenharia genética que permite a manipulação do genoma com fins terapêuticos. E,
de fato, tais conhecimentos nos permitem vislumbrar, senão já usufruir, de significativos
benefícios à saúde de um incremento da qualidade e da expectativa de vida. Vivenciamos,
assim, um cenário de veloz concretização de muitos anseios: o alívio da dor, a superação
da infertilidade, a libertação das doenças, o prolongamento da vida (MOLLER, 2009).
No entanto, os atuais avanços das ciências biomédicas suscitam uma série de
questionamentos de ordem ética, política e jurídica, acerca do modo de fazer ciência e
acerca dos usos dos resultados das pesquisas e das novas tecnologias à saúde humana e
ao ecossistema.

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 51


Assim, a ciência e seus produtos saem do âmbito restrito de pesquisa, atuação e
arbítrio do cientista (e dos laboratórios, indústrias farmacêuticas e institutos tecnológicos),
para ganhar espaço nas reflexões, seja de estudiosos de áreas diversas, seja de um público
leigo apto a imaginar ou perceber as conseqüências, vantagens e riscos, que o espantoso
progredir da ciência pode trazer em múltiplas esferas de sua vida. Neste contexto, diante
dos riscos comportados pelo uso arbitrário dos novos conhecimentos, e partindo-se de
uma consideração da ciência como necessariamente indissociável do âmbito da ética, veio
conformando-se uma particular noção de responsabilidade: a responsabilidade do cientista
para com a sociedade, e a responsabilidade da sociedade de hoje para com a sociedade de
amanhã (das gerações presentes para com as gerações futuras) (MOLLER, 2009).
Os CEPs (Figura 1) devem ser multidisciplinares, ou seja, não mais da metade
dos membros deve pertencer à mesma categoria profissional e é obrigatório ter um
representante da comunidade. Esses representantes não serão remunerados. Os CEPs
vão atuar analisando os projetos e os acompanhando, de modo a garantir e resguardar
a integridade e os direitos dos voluntários. Assim, o pesquisador, ao desenvolver uma
pesquisa que envolve seres humanos, deverá enviar o protocolo de pesquisa ao CEP,
contendo um conjunto de documentos com a finalidade de comprovar os procedimentos
científicos e éticos empregados. O projeto de pesquisa deve ser submetido ao CEP da
instituição em que a pesquisa será realizada. Caso a instituição não possua um CEP,
o pesquisador deverá submeter o projeto à apreciação do CEP de outra instituição. Ao
ser aprovado um projeto, o CEP passa a ser co-responsável pelos aspectos éticos da
pesquisa. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) é quem controla a atuação
dos CEPs e os projetos de pesquisa de interesse à saúde pública e coletiva. Essa comissão
é vinculada ao governo (BALLESTRERI, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 52


FIGURA 1 - COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA

FONTE: BRUM, 2017; VENTURA, 2015.

A pesquisa científica, representa uma realidade que interfere em toda a sociedade,


tornando-se de responsabilidade coletiva, tendo em vista a salvaguarda da dignidade da
pessoa humana (BENTO, 2011).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 53


4. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A PRÁTICA
PROFISSIONAL E PESQUISA CIENTÍFICA

Para a realização de uma pesquisa, além dos itens citados anteriormente, a

resolução também exige o respeito à autonomia do ser humano, delegando o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como documento que envolve os aspectos

éticos básicos da pesquisa, que são (BALLESTRERI, 2017):

1. Esclarecer os indivíduos e proteger grupos vulneráveis e os legalmente

incapazes (autonomia);

2. Ponderar entre riscos e benefícios (beneficência);

3. Comprometer-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos,

garantindo que danos previsíveis serão evitados (não maleficência);

4. Relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da

pesquisa e a minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis (justiça).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 54


SAIBA MAIS

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) é um documento elaborado pelo


pesquisador em linguagem acessível à compreensão dos sujeitos da pesquisa. O TCLE
deve ser obtido após o sujeito da pesquisa ou seu responsável legal estar suficiente-
mente esclarecido de todos os possíveis benefícios, riscos e procedimentos que serão
realizados, assim como fornecidas todas as informações pertinentes à pesquisa.

Fonte: Schnaider, 2010.

O TCLE visa à aceitação de um tratamento específico ou à experimentação, sabendo


da sua natureza, das suas consequências e dos seus riscos, ele assegura todos os direitos
e a autonomia dos sujeitos da pesquisa, inclusive o direito a indenizações, ressarcimentos,
medicamentos, etc. O participante, após receber explicação completa sobre a natureza da
pesquisa, os seus objetivos, os métodos, os benefícios previstos e os potenciais riscos,
tendo concordado com estes, deverá assinar e receber uma cópia do TCLE e tem o direito
de desistir a qualquer momento (BALLESTRERI, 2017).
O TCLE deve ser redigido em linguagem clara e acessível, conter a justificativa,
os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa e garantir o sigilo e
a privacidade dos sujeitos quanto aos dados que possam identificá-los. Ele deverá ser
elaborado pelo pesquisador responsável e aprovado pelo CEP. A pesquisa envolvendo
seres humanos deverá observar alguns aspectos, como (BALLESTRERI, 2017):
1. Ser adequada aos princípios científicos e estar fundamentada na ex-perimentação
prévia realizada em laboratórios, animais ou em outros fatos científicos;
2. Ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa
ser obtido por outro meio;
3. Devem, os benefícios, sempre prevalecer aos riscos previstos;
4. Contar com o consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa;
5. Assegurar a confidencialidade, a privacidade e a proteção da imagem do pesquisado;
6. Respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos quando
as pesquisas envolverem comunidades;
7. Comunicar às autoridades sanitárias os resultados da pesquisa sempre que
necessário;
8. Assegurar a inexistência de conflito de interesses entre o pesquisador e os
sujeitos da pesquisa ou patrocinador do projeto.

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 55


LEITURA COMPLEMENTAR

O artigo a seguir, fala sobre o TCLE e fatores que interferem na adesão:

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


(TCLE): FATORES QUE INTERFEREM NA ADESÃO.

Fonte: SOUZA, M. K. et al. Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE):


Fatores que interferem na adesão. São Paulo: [s.n.], 2013. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/abcd/a/PZYGqFG7mwwDH9sBzZjZ4Vw/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10
out. 2021.

Considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos tem riscos. Levando
isso em conta, esse tipo de pesquisa será admissível quando o risco se justifique pela
importância do benefício esperado e que o benefício seja maior, ou no mínimo igual, a
alternativas já estabelecidas para prevenção, diagnóstico e tratamento. Além disso, o
pesquisador responsável deverá suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum
risco ou dano não previsto no termo de consentimento. A responsabilidade de assistência
integral às complicações e aos danos decorrentes dos riscos é do pesquisador, do
patrocinador e da instituição (BALLESTRERI, 2017).

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 56


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final de mais uma unidade! Quanto aprendizado, não é mesmo? Foi
possível compreender que a bioética, seus fundamentos e princípios são fundamentais
para nortear as decisões clínicas e pautar os objetivos de pesquisas envolvendo seres
humanos, bem como em outras áreas.
Com os avanços nas metodologias e técnicas de biologia molecular, a ética
é princípio essencial para a realização de ações responsáveis na pesquisa, de forma a
assegurar a justiça, equidade e a dignidade das diversas relações, atividades e a avaliação
metodológica adequada de pesquisas no campo da saúde.
Você foi capaz de entender a importância e como funcionam os CEPs, bem como,
o significado e aplicabilidade do TCLE, ferramentas necessárias para impedir o uso arbi-
trário dos novos conhecimentos, garantindo a relevância e exequibilidade dos projetos de
pesquisa, e assim, garantir a integridade e dignidade dos participantes, em todas as fases
de execução da pesquisa. Resumindo, é fazer ciência e pesquisa baseados nos princípios
éticos, com consciência, responsabilidade e respeito à vida!

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 57


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Introdução à bioética aplicada a pesquisas envolvendo
seres humanos
Autor: Sebastião Rogério Gois Moreira.
Editora: CRV.
Sinopse: Os laços entre ética e pesquisa, nem sempre
compreendidos em sua profundidade, são o foco desde trabalho.
Este livro possibilita conhecer as regulamentações, os princípios
éticos que orientam a realização da pesquisa com seres humanos,
o papel e funcionamento dos Comitês de Ética, o que por si já
o torna leitura fundamental para qualquer pesquisador ou futuro
pesquisador. Mas o autor vai mais além: com a sensibilidade de
quem trilha há muitos anos os caminhos da pesquisa acadêmica e
atua como psicólogo no sistema público de saúde, traz à reflexão
uma ética do cuidado, do compromisso.

FILME/VÍDEO
Título: Gattaca
Ano: 1997.
Sinopse: Aborda um futuro no qual os seres humanos são
criados geneticamente em laboratórios, e as pessoas concebidas
biologicamente são consideradas “inválidas”. Vincent Freeman
(Ethan Hawke), um “inválido”, consegue um lugar de destaque
em uma corporação, escondendo sua verdadeira origem. Mas um
misterioso caso de assassinato pode expôr seu passado.

UNIDADE III Bioética e Pesquisa 58


UNIDADE IV
Bioética e os Dilemas
Contemporâneos
Profª. Drª. Viviane Krominski

Plano de Estudo:
● A bioética e os dilemas atuais;
● Bioética: cuidados paliativos e a terminalidade da vida;
● Neuroética: novos campos da bioética;
● Bioética: desafios contemporâneos.

Objetivos da Aprendizagem:
● Discutir os avanços da tecnologia com o olhar da bioética e voltado
para o ser humano em todas as suas características;
● Compreender o significado e importância dos cuidados paliativos
como exemplo de dignidade humana no processo de morrer;
● Reconhecer novas abrangências da bioética e assinalar
alguns aspectos iniciais da neuroética;
● Explorar algumas interfaces da bioética com as neurociências;
● Discutir e refletir os desafios da bioética nos dias atuais.

59
INTRODUÇÃO

Olá! Tudo bem? Como agir no âmbito da bioética, diante da evolução científica
que nos encontramos e levando em consideração os avanços tecnológicos, a rapidez
com que as informações são repassadas, sem esquecer dos conceitos e aspectos éticos?
Bom, iniciamos esta unidade com exatamente a mesma questão! E assim, vamos no
decorrer das reflexões, buscando respostas e procurando entender que a bioética clínica
surge nesse contexto dos avanços da tecnologia, mas com o olhar voltado para o ser
humano em todas as suas características.
Vamos na sequência dos estudos, buscar compreender o significado e importância
dos cuidados paliativos como exemplo de dignidade humana no processo de morrer,
enxergando que pessoa em fase terminal está viva e tem necessidades especiais que
podem ser descobertas e atendidas pelos profissionais de saúde. E assim deve ser!
Ainda nesta unidade, você vai reconhecer novas abrangências da bioética e
assinalar alguns aspectos iniciais da neuroética, bem como, explorar algumas interfaces
da bioética com as neurociências e suas implicações. Por último, vamos discutir e refletir
os desafios da bioética nos dias atuais, destacando que “nem tudo o que é cientificamente
possível é eticamente admissível”. É isso aí! Compreendeu?

Bons estudos!

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 60


1. A BIOÉTICA E OS DILEMAS ATUAIS

Como agir no âmbito da bioética, diante da evolução científica que nos encontramos
e levando em consideração os avanços tecnológicos, a rapidez com que as informações são
repassadas, sem esquecer dos conceitos e aspectos éticos? Por exemplo, a rapidez atual
da comunicação faz com que entremos em contato diário com os avanços tecnológicos no
tratamento dos pacientes e assim, cada vez mais, a formação profissional, vai deixando para
traz a importância do relacionamento profissional e paciente, abandonando a sua caracterís-
tica fundamental que é a de cuidar do doente e não só da doença (GIMENES, 2020).
A bioética clínica surge nesse contexto, como uma forma de entender e discutir
os avanços da tecnologia com o olhar voltado para o ser humano em todas as suas
características. Por exemplo, a inseminação artificial trouxe um grande alento aos casais
que por diversas causas não podiam concretizar o seu desejo de ter filhos. No entanto, com
essa questão, surgiu problemas éticos de difícil solução. Um dos problemas, refere-se à
inseminação homóloga, na qual óvulos e espermatozoides são doados pelo próprio casal
dando origem a embriões que podem ser implantados no útero da doadora; isso fez surgir
a questão do destino dos embriões congelados nas clínicas de reprodução assistida e
também o número de embriões a serem implantados em cada gestação. Outra questão que
se tornou motivo de discussão foi a da cessão temporária de útero conhecida como “barriga
de aluguel” e todas as implicações que existem em tal procedimento.

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 61


Já na inseminação heteróloga, na qual os gametas não pertencem ao casal, o
surgimento dos bancos de espermatozoides que possibilitam a escolha do doador através
da análise de suas características físicas, acaba conduzindo inevitavelmente a questões
como a eugenia e a real paternidade do concepto (GIMENES, 2020).
Por outro lado, a pesquisa científica com células tronco embrionárias humanas
trouxe a expectativa do desenvolvimento da terapia gênica. No entanto, vem acompanhada
de dilemas éticos e jurídicos relacionados a origem destas células retiradas de embriões
humanos descartáveis nas clínicas de fertilização. Dar ao embrião humano o mesmo amparo
jurídico que tem atualmente o nascituro é uma questão amplamente discutida em nosso
meio. Outro item analisado pela bioética clínica é o aborto. Além das suas implicações
legais, a discussão se torna mais ampla quando se coloca em pauta as teorias sobre a
determinação do início da vida humana (GIMENES, 2020).

REFLITA

Quando ocorre o início da vida humana? Ela se daria após a junção dos gametas, após
a nidação, após o desenvolvimento do sistema nervoso do embrião ou após o parto? A
defesa de cada uma destas teorias está diretamente ligada ao conceito de aborto. Sob o
ponto de vista legal, qual seriam as implicações da sua descriminalização em nosso país?

Fonte: Gimenes, 2020.

Outra questão, é o desenvolvimento da genética a partir do sequenciamento completo


do genoma humano, isso trouxe a reflexão sobre questões éticas e legais como o uso de
testes genéticos preditivos de doenças após o nascimento, a terapia gênica em células
somáticas ou germinativas com a possibilidade da transmissão de genes modificados para
gerações futuras. A importância do aconselhamento genético por profissionais capacitados
tem se tornado um ponto fundamental na atuação da bioética clínica. A identificação biológica
ao nascer, através do estudo do genoma, traz a possibilidade da criação de bancos de
dados que podem ser utilizados em diversas ocasiões futuras (GIMENES, 2020).
O transplante de órgãos traz à discussão os aspectos técnicos, legais e éticos que
vão além do processo de captação. Surge a necessidade da definição do quadro de morte.

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 62


O diagnóstico de morte encefálica passa a ser utilizado como condição fundamental
para a eleição do doador e a sua confirmação por exames clínicos e complementares regidos
por lei e resoluções do CFM. No que se refere à legislação existe todo um histórico que se
inicia em 1963 na tentativa de disciplinar o transplante de órgãos no Brasil. Desde então,
as normas foram modificadas culminando na Lei 9.434/1997 que estabelece os critérios
técnicos para a doação de órgãos e tecidos entre vivos e “post mortem” (GIMENES, 2020).
Outra questão é o aumento de idosos na população mundial e especialmente em
nosso país, que trouxe a necessidade da inclusão do tema sobre envelhecimento nos
estudos sobre humanização. A bioética passa a ser o fórum mais adequado para a reflexão
e discussão sobre o envelhecimento. Abordamos não só as condições fisiológicas e clínicas,
mas também as dificuldades do cuidador e a interação do paciente idoso com a família e
com a sociedade. Reconhecer a sua vulnerabilidade e preservar a sua autonomia deve ser
uma meta a ser alcançada. Envelhecer deve ser encarado como uma conquista, nunca
como um demérito. A terminalidade da vida é o momento no qual o ser humano se defronta
com angústias e medos. A bioética clínica se propõe a discutir amplamente, a forma de
enfrentar as diversas situações relacionadas a tal estado (GIMENES, 2020).
A distanásia que pode ser definida como a manutenção de procedimentos fúteis
que prolongam o sofrimento do paciente na fase final da vida deve ser o ponto de reflexão
a ser levantado por todos os envolvidos. Médico, família e pacientes tem o direito e o dever
de ter acesso e discutir todas as informações antes da tomada de decisões. A ortotanásia,
definida como a morte justa sem prolongamento artificial ou desnecessário da vida do
doente, caracteriza o processo de humanização. Proporciona a morte digna permitindo
que o paciente enfrente o período final da sua existência sem dor, com tranquilidade e
aceitação. Este procedimento necessita, na maioria dos casos, da aplicação dos cuidados
paliativos onde a atuação adequada requer a formação de grupos multiprofissionais. O
suicídio assistido, atualmente adotado em alguns estados americanos, trouxe a reflexão
sobre a eutanásia e a validade de tal procedimento como ato médico eticamente aceitável.
Cada um desses itens citados, estão sob o olhar da bioética e exigem aprofundadas
discussões e reflexões (GIMENES, 2020).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 63


Dentro deste contexto se insere a importância da relação médico paciente e
o valor da comunicação, escuta e acolhimento como formas de humanização. Estes
valores acabam sendo relegados a um segundo plano frente a velocidade da evolução
biotecnológica. Existe, de fato, a necessidade da constante atualização diante de novos
procedimentos e tratamentos o que faz com que a maioria dos profissionais da saúde
deixem de enfocar a sua atuação nas características holísticas do paciente. A bioética não
deve se ater apenas à tentativa de resolução de conflitos, mas, fundamentalmente, na
capacidade de introduzir as informações necessárias para o desenvolvimento da reflexão
sobre assuntos voltados a ética. Nesse contexto, a humanização deve ser encarada como
um verdadeiro instrumento de trabalho, colocada em prática e essencial na formação de
profissionais da saúde (GIMENES, 2020).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 64


2. BIOÉTICA: CUIDADOS PALIATIVOS E A TERMINALIDADE DA VIDA

Apesar de todo o avanço tecnológico de que dispomos na atualidade, temos ainda


um número expressivo de enfermidades para as quais não é possível a cura. Quando um
doente e sua família recebem a informação de que a doença não tem mais cura, muitos
questionamentos e dúvidas surgem em suas vidas. Essa realidade costuma causar muita
angústia a essas pessoas e seus familiares (MORAES, 2009). Para agravar essa situação, o
paciente fora de possibilidades de tratamento e cura é comumente rotulado como “terminal”.
Isso traz a falsa percepção de que nada mais pode ser feito em seu favor. Porém, a pessoa
em fase terminal está viva e tem necessidades especiais que podem ser descobertas e
atendidas pelos profissionais de saúde (KÓVACS, 1992).
Por exemplo, quando falamos em dignidade humana no processo de morrer,
na morte e no luto dos familiares, espera-se dos profissionais de saúde práticas
pautadas nos princípios bioéticos para que sejam garantidos os cuidados de fim de
vida (BARCHIFONTAINE, 2010). Esses cuidados se sustentam na assistência ativa e
integral, prestada a pacientes com doença grave, progressiva e irreversível que não
respondem a tratamentos curativos, buscando controlar a dor e outros sintomas, tendo
em vista a prevenção precoce e o alívio do sofrimento nas dimensões física, emocional,
social e espiritual. Trata-se de perspectiva centrada no enfermo e na família, que rompe
o paradigma da atenção biologicista (direcionada exclusivamente para a doença) por
compreender que nada é mais humano do que ajudar a aliviar o sofrimento da pessoa em
cuidados paliativos e seus familiares (MEDEIROS et al., 2020).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 65


Nesse contexto, torna-se imprescindível a introdução de outras formas de atenção
que propiciem a melhoria da qualidade de vida que resta, bem como o suporte necessário
para o doente e sua família. Diante dessa realidade surge uma nova maneira de atuar perante
esses pacientes sem perspectiva de cura. Esse conjunto de ações recebe a denominação
de cuidados paliativos, definidos como os cuidados ativos e totais aos pacientes quando a
doença não responde mais aos tratamentos curativos (FERREIRA et al., 2008).
A Organização Mundial da Saúde, define que cuidados paliativos consistem na
atenção promovida por uma equipe multidisciplinar, que busca a melhoria da qualidade de vida
do paciente e seus familiares, diante de uma doença terminal, por meio da prevenção e alívio
do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais
sintomas físicos, sociais, psicológicos e também, espirituais. Cabe, portanto, ressaltar que,
dentro desse conceito, os cuidados paliativos baseiam-se em ciências referentes às diversas
especialidades do conhecimento médico reafirmando a necessidade de saber específico,
desde a prescrição de medicamentos, decisões à respeito de medidas não farmacológicas,
observando a importância da forma de atuação que envolve a interação com o paciente, sua
adequação psicológica e social, principalmente, quando se lida com a dor, tendo desvelo
quanto ao aspecto espiritual, respeitando crenças e valores da pessoa (MELLO, 2020).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 66


LEITURA COMPLEMENTAR

Conflitos bioéticos nos cuidados de fim de vida

Esta revisão integrativa da literatura tem por objetivo identificar os principais


conflitos entre paciente em cuidados de fim de vida, familiares e equipe de saúde sob a
ótica da ética principialista.

Fonte: MEDEIROS, M. O. S. F.; MEIRA, M. V.; FRAGA, F. M. R.; SOBRINHO, C.


L. N.; ROSA, D. O. S.; SILVA, R. S. Conflitos bioéticos nos cuidados de fim de vida. Rev.
Bioét. 28 (1). 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/FGXnfknWjcgmnqVKJ-
TKP5mw/?lang=pt. Acesso em: 10 nov.2021.

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 67


Em uma visão ampla, considerando o indivíduo em sua integração biopsicossocial,
agrega-se aos cuidados paliativos a questão da espiritualidade e a preocupação com a
família, em relação a assistência prestada após a morte e durante o período de luto. É
importante afirmar, que tais cuidados não se baseiam em protocolos e, sim, em princípios,
não se falando mais em terminalidade, mas em doença que ameaça a vida (MELLO, 2020).
É diante desse panorama que o serviço de cuidados paliativos surge, propondo
uma nova filosofia de cuidado por meio da qual o profissional de saúde deve respeitar a
autonomia do paciente enfermo, fora de possibilidades de cura, quando ele não quiser
mais uma vida de sofrimento (BIFULCO, 2005). A assistência aos pacientes com doença
terminal e a suas famílias, deveria ser prestada dentro de uma concepção multiprofissional
de cuidados totais, ativos e continuados. A equipe multiprofissional deveria empenhar-se
em aumentar a qualidade de vida restante de pacientes (e familiares) que lutavam contra
uma enfermidade mortal (BRASIL, 2002).
A palavra pallium, de origem greco-romana, está relacionada ao casaco de lã
que era usado pelos pastores para se protegerem do clima adverso, estando, portanto,
relacionada com o cuidado e proteção, não com medidas extraordinárias para combater a
morte (KOVÁCS, 1999). O movimento dos cuidados paliativos trouxe de volta, no século
XX, novamente a possibilidade de humanização do processo de morrer, opondo-se à
ideia de morte como uma doença a ser curada a qualquer custo. Nesta perspectiva a
morte deve ser vista como uma parte de um processo da vida, e, no adoecimento os
tratamentos devem visar à qualidade de vida e ao bem-estar, mesmo quando a cura não
é mais possível (BIFULCO e IOCHIDA, 2009).
No contexto atual, paliativos são cuidados ativos totais prestados a pacientes e às
suas famílias quando o doente já não se beneficiará de tratamento que cure sua doença.
Nesse momento, o enfoque terapêutico é voltado para a qualidade de vida, o controle dos
sintomas do doente e o alívio do sofrimento humano (BRASIL, 2002). O cuidado paliativo
como um campo científico e não científico ao mesmo tempo, em que pessoas se organizam
para lidar com suas próprias dificuldades e, também, das outras pessoas, acerca de uma
etapa enigmática para a ciência, que é a morte (SILVA et al., 2010).
O cuidado paliativo implica, principalmente, a relação entre as pessoas que cuidam
e as que são cuidadas, sendo as intervenções técnicas secundárias à relação que se
estabelece entre equipe de cuidados e pacientes (SIMONI e SANTOS, 2003).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 68


Para Remedi et al. (2009), nos cuidados paliativos a ação não é determinada apenas
pela competência técnico-científica, apoiada no processo diagnóstico e terapêutico; a ação
é também realizada por questões políticas, éticas, culturais, sociais e subjetivas. Dessa
forma, o maior desafio enfrentado pela equipe multidisciplinar envolvida no processo, é
encontrar no trabalho cotidiano, junto dos que recebem cuidados paliativos, um equilíbrio
harmonioso entre a razão e a emoção.
O termo paliativo é adotado na modernidade para o cuidado no fim de vida. É
um termo ligado à morte ritualizada nos hospitais, embora não esteja necessariamente
associado ao fim de vida medicalizado (SIMONI e SANTOS, 2003). Os cuidados paliativos
abordam de forma objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares
diante de uma doença que ameaça a vida, por meio da prevenção, alívio de sofrimento,
identificação precoce, avaliação, tratamento da dor e outros problemas físicos, psicológicos
e espirituais (CLEMENTE e SANTOS, 2007).
A origem do termo cuidado paliativo situa-se, na verdade, em uma discussão
da prática médica sobre o lidar com pacientes considerados terminais. Desta forma,
o cuidado paliativo difere do curativo pela noção médica de paciente “terminal” ou “fora
de possibilidades terapêuticas” (SIMONI e SANTOS, 2003). Os princípios dos cuidados
paliativos incluem: não apressar ou postergar a morte e, sim, oferecer alívio da dor e de
outros sintomas angustiantes, integrar aspectos psicológicos e espirituais do tratamento do
paciente, apoiando a família durante a doença do paciente e após sua morte (SILVA, 2000).
Os alicerces dos cuidados paliativos abrangem três grandes áreas: honestidade e
sinceridade em lidar com a morte e o morrer; comprometimento em avaliar todos os fatores
necessários ao conforto do paciente enfermo e de seus familiares; o desejo de contemplar
essas necessidades pelo envolvimento ativo com outros profissionais ca- pacitados para
esse fim (MOHALLEN e RODRIGUES, 2007).
A Bioética, no contexto dos cuidados paliativos, se coloca no patamar da autonomia
da pessoa enferma, proporcionando-lhe, de acordo com a sua situação, oportunidades
de decisão e de opções que lhe tragam satisfação. Cabe ao profissional de saúde, que
tem a oportunidade de estar e permanecer com o paciente e seus familiares por um
período relativamente largo, a responsabilidade e o compromisso de lhe proporcionar a
beneficência por meio do processo cuidativo em enfermagem, que deve estar ancorado
pela dimensão humanística. É imprescindível estar comprometido com o outro; neste caso,
é o compromisso do profissional com o paciente (SILVA et al., 2010).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 69


3. NEUROÉTICA: NOVOS CAMPOS DA BIOÉTICA

A neuroética é um campo novo, mas altamente influente, no espectro internacional.


Emergiu na interface da bioética com as novas descobertas e estudos das neurociências,
psiquiatria, neurologia (ZOBOLI e PENA, 2017). A neurociência penetra tópicos
historicamente ligados à filosofia, indo ao núcleo do que significa ser humano: qual é a
natureza da moralidade? O que explica a perda de autocontrole? Quando as crenças
são justificadas? Como se deve buscar o conhecimento? (LEVY, 2008). Há trabalhos na
neurociência, e na psicologia também, que parecem demonstrar que a emoção tem papel
significativo no julgamento moral, talvez maior do que a maioria das pessoas, filósofos e
científicos ousavam pensar (LEVY, 2008). Com isso, a neuroética é um saber interdisciplinar
e se refere a duas questões éticas interrelacionadas: a ética das neurociências e o estudo
das bases neurais do comportamento moral (ZOBOLI e PENA, 2017).
Como ética da neurociência e de outras ciências voltadas ao estudo da mente
humana, a neuroética busca refletir e responder questões sobre a aplicação do conhecimento
neurocientífico. Faz a análise das implicações éticas do desenvolvimento do conhecimento,
da pesquisa, da tecnologia e da prática clínica em neurologia, neurocirurgia, psiquiatria. Em
certa medida, esse âmbito é mais habitual na bioética, uma vez que está se difundiu por
meio de reflexões acerca das questões éticas envolvidas na aplicação de novas tecnologias
biomédicas (LEVY, 2008). Ao estudar as bases neurais do comportamento moral das
pessoas, a neuroética é a “neurociência da ética”. Ou seja, o estudo das bases neurais do
comportamento ético, livre-arbítrio, consciência e comportamento moral, integrando dados
científicos duros a conceitos humanísticos (RAMOS-ZUÑIGA, 2015).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 70


SAIBA MAIS

Neurociência: ciências experimentais que tentam explicar o funcionamento do cérebro,


valendo-se de métodos e técnicas de pesquisa próprios das ciências como observação,
experimentação e hipóteses.
Epigenética: o conceito, surgido nos anos 1940 e reelaborado na década de 1990,
identifica o modelo etiológico que compreende a vulnerabilidade às doenças como
consequência da interação gene-ambiente. Nos estudos psiquiátricos, a genética e
a variação ambiental não são fatores determinantes da doença, mas contribuições
discretas e probabilísticas à formação psicopatológica.

Fonte: Zoboli e Pena, 2017.

O respeito pela autonomia, na bioética, tem pressuposto identidades pessoais


relativamente estáveis ao longo do tempo, mas como ficará isso com as possibilidades
abertas pelas novas tecnologias neurocientíficas de se fazerem modificações cognitivas que
poderão implicar novas identidades para a pessoa? Ao ter boa parte de suas memórias
reescritas, o que se dará com a autonomia da pessoa? Esse reescrever das memórias é
violação da autonomia? O direito de as pessoas autonomamente direcionarem suas vidas
incluirá o direito de se recriarem para enriquecer suas vidas? Quem decidirá quais bens
possíveis com a neurociência são valiosos ou benéficos para a pessoa e a sociedade?
Quem vai, e como vai aquilatar os danos de modificações cognitivas, se as pessoas podem,
por exemplo, obter vantagens competitivas no local de trabalho? Será justo que alguns tipos
de modificações sejam patrocinados por comunidades, empresas, militares e países para
tornar as pessoas mais aptas e úteis para as tarefas de interesse dessas organizações ou
estados? Será justo as pessoas se utilizarem de modificações que melhorem desempenho
cerebral para manter-se empregado ou numa colocação de boa remuneração? Por que não
melhorar as funções cerebrais se as melhorias físicas são buscadas pelas pessoas, e em
certa medida até prescritas pelos profissionais de saúde, com exercícios, cirurgias plásticas?
Essas modificações não atingirão a dignidade humana? (SHOOK e GIORDANO, 2014).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 71


Esses questionamentos mostram que neuroética, a fim de guiar de maneira prudente
e responsável essas dinâmicas considerando a dignidade humana em um cenário mundial
moralmente plural, não pode se furtar a indagações relevantes para a humanidade, pois
os avanços da neurociência e as neurotecnologias possibilitarão mudanças profundas na
condição humana, se não no ser humano (SHOOK e GIORDANO, 2014).
Os avanços das neurociências abrem espaço para concretizar ainda mais um
dos princípios éticos que norteiam a atividade científica e a prática da atenção à saúde:
beneficiar. Aumentam as possibilidades de intervir de maneira mais efetiva sobre agravos
como esquizofrenia, Alzheimer, demência senil, transtorno bipolar (CORTINA, 2011). Os
avanços da neurociência se acompanham de significativos desafios éticos de natureza
prática (monitorar e manipular a mente humana, quebrar sua privacidade, melhorar as
funções motoras e psicológicas e entender as bases físicas da tomada de decisões) e
filosófica (entendimento da relação cérebro--mente, pós-humanidade). É urgente, uma
neuroética que almeje as diretrizes para o uso moralmente prudente das neurotecnologias
(KIPPER, 2011). A neuroética precisa ser construção conjunta dos que se dedicam à
bioética e às neurociências, considerando três chaves da ética moderna, como define
Cortina (CORTINA, 2011): ética universal, política democrática e liberdade.

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 72


4. BIOÉTICA: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS

O respeito à vida deve prevalecer em toda a sua dimensão, independendo do


momento evolutivo do ser humano, abrangendo desde a fase pré-implantatória do embrião
até a valorização da dignidade daquele que já morreu. Novas esperanças e conflitos nascem
com o desabrochar da biotecnologia, pois “nem tudo o que é cientificamente possível é
eticamente admissível”. Daí advém a importância do debate bioético, da regulamentação
do biodireito daquilo que a biotecnologia constrói (MALUF, 2020).
A bioética relaciona-se intimamente com os movimentos sociais e com a evolução
das ciências, da tecnologia e do pensamento que se transmutam com a evolução histórica
dos tempos; ao biodireito coube a regulamentação dos temas explorados pela bioética
introduzidos pela biotecnologia, que operam numa velocidade astronômica, alterando a
feição do cotidiano. Assim, ao se fazer um balanço dessas grandes realizações e do
legado que se está deixando para as futuras gerações, começa-se a pensar como estará
o mundo no futuro; quais serão os valores dominantes; como estarão equacionadas
as condições de vida e saúde da humanidade. E por fim, que desafios enfrentarão as
gerações futuras? (PESSINI, 2002).Busca-se desta forma dar um novo sentido à existência
e à experiência humana, destaca-se cada vez mais o encontro da felicidade e da realização
pessoal, raiz máxima da condição humana.

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 73


É fundamental o estabelecimento de limites éticos e operacionais bem definidos
para que as pesquisas científicas possam progredir sem danificar o meio ambiente, sem
ultrapassar as barreiras da dignidade, sem comprometer o futuro das espécies, suplantando
assim os interesses individuais em prol do interesse da coletividade, evitando desta forma
uma nova maneira de sujeição do homem pelo homem, agora do ponto de vista genético,
quando falamos em eugenia, em mapeamento genético, na relativização dos papéis
familiares (MALUF, 2020).
O respeito à vida humana tomou uma nova dimensão no mundo contemporâneo,
tendo em vista vários aspectos, como a valorização da dignidade humana, o momento
histórico vigente, a evolução dos costumes, o diálogo internacional, a descoberta de novas
técnicas científicas, a tentativa da derrubada de mitos e preconceitos, fazendo com que o
indivíduo possa, sentir-se em casa no mundo (MALUF, 2010).

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 74


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos chegando ao final de nossa última unidade. Já sabemos o que é bioética


e como ela se aplica no mundo globalizado e nos conflitos do dia-a-dia. Tivemos acesso às
questões sobre a ética da responsabilidade pública e individual, seus impactos e perspectivas
e a importância da bioética, seus fundamentos e princípios na prática profissional relacionada
à realização de pesquisas científicas e o papel dos Comitês de Ética em Pesquisa como
órgão responsável para avaliar a relevância e exequibilidade dos projetos de pesquisa, de
forma a garantir o bem-estar dos indivíduos, a equidade e a justiça social.
Agora, ao longo desta unidade discutimos os desafios e o olhar da bioética diante
dos avanços biotecnológicos, as novas abrangências da bioética, os cuidados paliativos
no final da vida, mostrando sempre que a vida é nosso bem maior e o ser humano, o
protagonista desse processo evolutivo, e que, portanto, o respeito à vida, deve ter uma nova
dimensão no mundo contemporâneo, tendo em vista a valorização da dignidade humana,
seu bem-estar e direito à autonomia nas decisões. É fundamental o estabelecimento e
cumprimento de limites éticos num mundo globalizado e quase “sem limites científicos”.
Assim, a bioética e seus princípios tornam-se essenciais para impor valores
e reflexões diante de questões de ética e moral que assolam o cotidiano, valorizando e
respeitando sob todos os aspectos, a dignidade e a vida humana!

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 75


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Bioética no século XXI: Anseios, receios e devaneios
Autor: Leocir (Leo) Pessini, Christian de Paul de Barchifontaine,
William Saad Hossne.
Editora: Edições Loyola.
Sinopse: Estamos diante de um texto escrito por autores,
amigos morais (segundo Engelhardt) que trabalham juntos as
questões de Bioética há mais de duas décadas, um percurso
iniciado em 1995, e que têm distintos backgrounds em termos de
conhecimento, formação científica e trabalho profissional. Longe
de antagonismos em virtude dessas diferenças, nutrimos ao longo
desse tempo uma sintonia e um sincronismo em assuntos de
interesse da Bioética, como a promoção, proteção e defesa dos
valores éticos relacionados com a vida, no sentido mais amplo
possível, e os cuidados humanizados na esfera do sistema de
saúde e do exercício profissional das diferentes profissões da
saúde. Este texto celebra 20 anos de reflexão, militância, amizade
e caminhada nas sendas desafiadoras da Bioética contemporânea.
Nossa condição humana e profissional representa, desse modo, a
característica fundamental da Bioética: um saber de cunho inter,
multi e transdisciplinar.

FILME/VÍDEO
Título: Menina de ouro
Ano: 2004.
Sinopse: O filme Menina de ouro conta a história de Maggie
Fitzgerald, interpretada por Hilary Swank, que enfrenta mais que
apenas preconceitos na tentativa de construir uma carreira no
boxe. A garota vai à academia de Frankie Dunn (Clint Eastwood),
treinador experiente que agenciara grandes nomes do esporte,
em busca do sonho, mas ele a rejeita por ser mulher e estar
acima da idade ideal. Mesmo assim, Maggie utiliza o ginásio para
treinar, diariamente, e recebe o apoio de Scrap (Morgan Freeman),
zelador da academia e único amigo de Frankie. Vencido pela
insistência, Frankie aceita treiná-la, mas, após tornar-se uma
lutadora de grande potencial, Maggie sofre uma lesão que a deixa
completamente paralisada. Neste momento, o filme toca em um
assunto ainda delicado: a eutanásia. O destino da garota está nas
mãos de Frankie: deixá-la viver, porém infeliz; ou autorizar a morte
assistida e tirá-la do sofrimento de não poder lutar.

UNIDADE IV Bioética e os Dilemas Contemporâneos 76


REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, A. Direitos Humanos dos Pacientes. Curitiba: Juruá, 2016.

ALBUQUERQUE, A. Os Direitos dos Pacientes no Brasil: análise das propostas legislati-


vas e o papel do Sistema Único de Saúde. Rev Bras Bioética. 15(e16):1-24. 2019.

ASSUNÇÃO, G. S. Relação profissional de saúde-paciente: avaliação de uma inter-


venção com estudantes da área de saúde. Dissertação de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde. Universidade
De Brasília Instituto de Psicologia. 2013. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bits-
tream/10482/13319/1/2013_GracianaSulinoAssuncao.pdf. Acesso em: 15 out. 2021.

BALLESTRERI, E. Desafios da bioética: pesquisa com seres humanos, eutanásia e abor-


to. In: FRANÇA et al. Bioética e biossegurança aplicada. Porto Alegre: SAGAH, p. 55-68.
2017.

BARCHIFONTAINE, C. P. Bioética no início da vida. Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor., Curiti-
ba, v. 2, n. 1, p. 41-55. 2010. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/pistispraxis/article/
view/13499/12917 Acesso em: 16 nov. 2021.

BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Justice. In: BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F.


(Ed.). Principles ofbiomedical ethics. 6. ed. New York: Oxford University Press, p. 240-280.
2009.

BENTO, L. A. Bioética e pesquisa em seres humanos. São Paulo: Ed Paulinas, 2011.

BEUCHAMP, T.; CHILDRESS, J. Princípios de ética biomédica. São Paulo, 2002.

BIFULCO, V. A.; IOCHIDA, L. C. A formação na graduação dos profissionais de saúde e a


educação para o cuidado de pacientes fora de recursos terapêuticos de cura. Rev. bras.
educ. méd. 33(1)92-100. 2009.

BIFULCO, V. O cuidar do paciente fora de possibilidades de cura. Rev. Prática Hospitalar.


41(7)114-166. 2005.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução no 001, de 1988. Brasília, DF, 1988.

77
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de
Câncer. Cuidados paliativos oncológicos: controle da dor. Rio de Janeiro. 2002.

BRUM, L. F. S. Ética aplicada à pesquisa em saúde. In: FRANÇA et al. Bioética e biosse-
gurança aplicada [recurso eletrônico] / Fernanda Stapenhorst França ... [et al.]; [revisão
técnica: Litz Tomaschewski, Guilherme Marin Pereira]. – Porto Alegre: SAGAH, p. 47-54.
2017.

CANTO, A.; MACHADO, C. L.; MANFROI, W. C. Paralelo entre a relação professor aluno
e a relação médico-paciente. Revista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 31(4), 521-
522. 2011.

CLEMENTE, R. P. D. S.; SANTOS, E. H. A não-ressuscitação, do ponto de vista da


enfermagem, em uma unidade de cuidados paliativos oncológicos. Rev. bras. Cancerol,
53(2)231-36. 2007.

CLOTET, J. Por que Bioética? Bioética, Brasília, DF, v. 1, n. 1, p. 13-19, 1993.

CLOTET, J. Una introducción al tema de la ética. Psico, Porto Alegre, v. 12, n. 1, p. 84-92,
1986.

COHEN, C. Por que pensar a bioética? Rev. Assoc. Med. Bras, 54 (6). 2008. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/ramb/a/qMNSRZcB9JHC7vsLpdV7pyc/?lang=pt. Acesso em:
21 out. 2021.

CORTINA, A. Neuroética y neuropolítica: sugerencias para la educación moral. 3.ed.


Madrid: Tecnos. 2011.

DIAS, C. V. Percepções de estudantes sobre comunicação em saúde: Implicações para a


atuação profissional. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília. Brasília. 2011.

DINIZ, D. O que é bioética. São Paulo: Brasiliense, 2002.

DINIZ, M. H.O Estado atual do Biodireito. 10. ed. São Paulo: Saraiva jur, 2017.

EUROPEAN COMMISSION. Patients’ Rights in the European Union Mapping eXerci-se.


Luxembourg: Publications Office of the European Union, 2016.

78
FERREIRA, N. M. L. A.; SOUZA, C. L. B.; STUCHI, Z. Cuidados paliativos e família. Rev.
Ciênc. Méd. Campinas. 17(1). 2008.

FLORIANI, C.A.; SCHRAMM, F.R. Cuidados paliativos: interfaces, conflitos e necessida-


des. Ciência. saúde coletiva. (13)2123-32. Rio de Janeiro. 2008.

FRANÇA et al. Bioética e biossegurança aplicada [recurso eletrônico] / Fernanda Stape-


nhorst França ... [et al.]; [revisão técnica: Litz Tomaschewski, Guilherme Marin Pereira].
Porto Alegre: SAGAH, 2017.

FRANÇA, F. S. [et al.]. Bioética e biossegurança aplicada [recurso eletrônico] / [revisão


técnica: Litz Tomaschewski, Guilherme Marin Pereira]. Porto Alegre: SAGAH, 2017.

FRANÇA, F. S. Ética e sociedade no mundo globalizado e ética em saúde. In: FRANÇA et


al. Bioética e biossegurança aplicada [recurso eletrônico] / Fernanda Stapenhorst França
... [et al.]; [revisão técnica: Litz Tomaschewski, Guilherme Marin Pereira]. Porto Alegre:
SAGAH, p. 35-46. 2017.

GARRAFA, V. Novos paradigmas para a saúde: a ética da responsabilidade individual e


pública. In: Primeiro Simpósio Internacional sobre Políticas de Saúde e Financiamento.
Memeo. Brasília. 1995.

GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde pública, bioética e quidade. 2009. Dispo-
nível em: https://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/361.
Acesso em 13 out. 2021.

GIMENES, A. C. Bioética e humanização. In: SERODIO, A. M. B. et al. Biodireito, bioética


e filosofia em debate. Coordenadores: Carlos Eduardo Nicoletti Camillo, Paulo Fraga da
Silva, Renata da Rocha e Roger Fernandes Campato. Almedina, p. 223-228. 2020.

GOMES, J. C. M. As bases éticas da relação médico-paciente. Em R. F. G. R. Branco


(Ed.). A relação com o paciente: Teoria, ensino e prática (pp. 01-09). Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003.

GONÇALVES, L.; DIAS, M. C. Escolha sobre quem deve viver: bioética e covid-19 no
contexto brasileiro. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3xTfyLP. Acesso em: 21 out. 2021.

GRACIA, D. Pensar a bioética – metas e desafios. São Paulo: Paulinas/São Camilo, 2010.

79
GRINBERG, M. HM 21- Curiosidades Sobre O Primeiro Código De Ética Médica Aplicado
No Brasil (1929). 2015. Disponível em: https://bioamigo.com.br/hm-21-curiosidades-sobre-
-o-primeiro-codigo-de-etica-medica-aplicado-no-brasil-1929/. Acesso em: 21 out. 2021.

HARRIS, J. More and better justice. In: Mendus S, Bell M. Philosophy and medical welfa-
re. Cambridge: University Press, 1988: 75-97. 8.

HEALTH AND SOCIAL CARE ALLIANCE SCOTLAND. Being human: a human rights-ba-
sed approach to health and social care in Scotland. 2019. Disponível em: https://www.
alliance-scotland.org.uk/wp-content/uploads/2017/11/ALLIANCE-BeingHuman--publica-
tion-2017-1.pdf. Acesso em: 13 out. 2021.

HEALY, J. Patients as regulatory actors in their own health care. 2019. Disponível em:
http://press-files.anu.edu.au/downloads/press/n2304/pdf/ch34.pdf. Acesso em: 13 out.
2021.

JUN, H. S. Concept analysis of patient rights. Korean Journal of Adult Nursing. 31 (1):89-
99. 2019.

JUNQUEIRA, C. R. Bioética. Disponível em: https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_vir-


tual/esf/2/unidades_conteudos/unidade18/unidade18.pdf. Acesso em: 21 out. 2021.

KIPPER, D. J. Neuroética: uma reflexão metodológica. Bioética.19(1):29-43. 2011.

KOERICH, M. S. Enfermagem e patologia geral: resgate e reconstrução de conheci-


mentos para uma prática interdisciplinar [dissertação]. Florianópolis (SC): Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem/UFSC; 2002.

KOERICH, M. S.; MACHADO, R. R.; COSTA, E. Ética E Bioética: Para Dar Início À
Reflexão. Texto Contexto Enferm 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/
NrCmm4mctRnGGNpf5dMfbCz/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 21 out. 2021.

KOERICH, M. S.; MACHADO, R. R.; COSTA, E. Ética E Bioética: Para Dar Início À Refle-
xão. Texto Contexto Enferm. 14(1):106-10. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
tce/a/NrCmm4mctRnGGNpf5dMfbCz/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 15 out. 2021.

KÓVACS, M. J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

80
KOVÁCS, M. J. Pacientes em estágio avançado da doença, a dor da perda e da morte.
In: CARVALHO, M. M. J. (Org.). Dor: um estudo multidisciplinar. 2. ed. São Paulo: Sum-
mus.1999.

LEONE, S.; PRIVITERA, S.; CUNHA, J. T. (coords.). Dicionário de bioética. Aparecida,


Santuário, 2001.

LEUTÉRIO et al. Noções preliminares: origem, evolução e conceito de Bioética. IN:


Bioética, direito e medicina / editores Claudio Cohen, Reinaldo Ayer de Oliveira; editores
associados Alex Pereira Leutério ... [et al.]. 1.ed. Barueri [SP]: Manole, 2020.

LEVY, N. Introducing Neuroethics. Neuroethics.1:1-8. 2008.

MALIK, M. Advocacy in nursing - a review of the literature. J Adv Nurs. 25 (1):130-


138.1997.

MALUF, A. C. R. F. D. Curso de bioética e biodireito - 4. ed. – São Paulo: Almedina, 2020.

MALUF, A. C. R. F. D. Desafios contemporâneos para a bioética e biodireito. Curso de


bioética e biodireito. 4. ed. São Paulo: Almedina. 2020.

MALUF, A. C. R. F. D. Novas modalidades de família na pós-modernidade. São Paulo:


Atlas. 2010.

MEDEIROS, M. O. S. F.; MEIRA, M. V.; FRAGA, F. M. R.; SOBRINHO, C. L. N.; ROSA,


D. O. S.; SILVA, R. S. Conflitos bioéticos nos cuidados de fim de vida. Rev. Bioét. 28 (1).
2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/FGXnfknWjcgmnqVKJTKP5mw/?lan-
g=pt. Acesso em: 16 nov. 2021.

MELLO, M. A. L. Cuidados paliativos: uma visão filosófica. IN: SERODIO, A. M. B. et


al. Biodireito, bioética e filosofia em debate. Coordenadores: Carlos Eduardo Nicoletti
Camillo, Paulo Fraga da Silva, Renata da Rocha e Roger Fernandes Campato. Almedina,
p. 223-228. 2020.

MENDONÇA, A.R. A.; VON ATZINGEN, A. C. Relação médico-paciente na radiologia. IN:


SILVA, J. V. Bioética: visão multidimensional. 1. ed. São Paulo: Iátria, 2010.

MOHALLEN, A. G. C.; RODRIGUES, A. B. Enfermagem Oncológica. São Paulo: Manole.


2007.

81
MOLLER, L. L. Esperança e responsabilidade: os rumos da bioética e do direito diante do
progresso da ciência. In: ALVES, C. A. et al. Bioética e responsabilidade. Organizadoras
Judith Martins-Costa, Letícia Ludwig Möller. Rio de Janeiro: Forense, p. 23-54. 2009.

MORAES, T. M. Como cuidar de um doente em fase avançada de doença. São Paulo: O


Mundo da Saúde. 33(2)231-38. 2009.

MORIN, E. Ciência com consciência. Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice S. Dó- ria. 9
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

MOTTA, L. C. S.; VIDAL, S. V.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Bioética: afinal, o que é isto? Rev.
Bras. Clin Med., São Paulo, 2012 set-out;10(5):431-9. Disponível em: http://files.bvs.br/
upload/S/1679-1010/2012/v10n5/a3138.pdf. Acesso em: 21 out. 2021.

NASCIMENTO JUNIOR, P.G.; GUIMARÃES, T.M.M. A relação médico-paciente e seus


aspectos psicodinâmicos. Bioética. 11(1):101-14. 2003.

OLIVEIRA, A. A. S. Direitos Humanos: Parâmetros Éticos Compartilhados para uma


Bioética Global. Brasília, Vol. 12, n°97, 2010. Disponível em: file:///C:/Users/Viviane%20
Krominski/Downloads/178-Texto%20do%20artigo-371-1-10-20150223%20(1).pdf. Acesso
em: 21 out. 2021.

OLIVEIRA, D. Reflexões, dicas e ideias: equidade. São Paulo, 2015. Disponível em: http://
pdhpsicologia.com.br/equidade/. Acesso em: 21 out. 2021.

PEREIRA, M.G.A.; AZEVEDO, E.S. A relação médico-paciente em Rio Branco: AC sob a


ótica dos pacientes. AMB Rev. Assoc. Med. Bras. 51(3):153-7. 2005.

PESSINI, L. A vida em primeiro lugar. In: PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. P. (Org).


Fundamentos da bioética. São Paulo: Paulus. 2002.

PORTO, C. C. Medicina dos doentes e medicina das doenças. IN: R. F. G. R. Branco


(Ed.). A relação com o paciente: teoria, ensino e prática (pp. 10-17). Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003.

RAMOS-ZUÑIGA, R. Neuroethics are more than the bioethics of neuroscience. Surg


Neurol Int. 6:24. 2015.

82
RANGEL, R. F., BACKES, D. S., SIQUEIRA, D. F., MORESCHI, C., PIEXAK, D. R., FREI-
TAS, P. H.; MORISSO, T. S. Interação profissional-usuário: apreensão do ser humano
como um ser singular e multidimensional. Revista de Enfermagem da UFSM. 1(1), 22-30.
2011.

REMEDI, P. P. et al. Cuidados paliativos para adolescentes com câncer: uma revisão da
literatura. Rev. bras. Enferm. 62(1)107-12. 2009.

RODRIGUES, M. S. Os modelos explicativos da bioética e seus fundamentos filosóficos:


semelhanças, diferenças e condições de aplicação. VIII World Congress on Communica-
tion and Arts. 2015. Disponível em: http://copec.eu/wcca2015/proc/works/51.pdf. Acesso
em: 21 out. 2021.

RODRIGUES, N. C. B. S. A bioética e seus princípios, [s.l.: s.n.], 2020. Disponível em:


https://portalhospitaisbrasil.com.br/artigo-a-bioetica-e-seus-principios/. Acesso em: 21 out.
2021.

SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciências. 14 ed. Porto: Afrontamento, 2003.

SCHNAIDER, T. B. Bioética e pesquisa. In: MENDONÇA, A. R. A. et al. Bioética: visão


multidimensional / José Vitor da Silva, (org). 1. ed. São Paulo: Iátria, p. 112-123. 2010.

SEGRE, M. Definição de valores, moral, eticidade e ética. In: SEGRE, M.; COHEN, C.
Bioética. 3.ed. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

SHOOK, J. R.; GIORDANO, J. A principled and cosmopolitan neuroethics: considerations


for international relevance. Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine. 9:1. 2014.
Disponível em: A principled and cosmopolitan neuroethics: considerations for international
relevance | Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine | Full Text (biomedcentral.
com). Acesso em: 25 out. 2021.

SILVA, J. V.; DIAS, E. N.; VITORINO, L. M. Os cuidados paliativos no contexto da bioética.


IN: SILVA, J. V. et al. Bioética: visão multidimensional / José Vitor da Silva, (org). 1. ed.
São Paulo: Iátria, 2010.

SILVA, Y. B. Paciente fora de possibilidades terapêuticas oncológicas. In: AYOUD. A.C. et


al. Planejando o cuidar em enfermagem oncológica. São Paulo: Lemar. 2000.

SIMONI, M.; SANTOS, M. L. Considerações sobre cuidado paliativo e trabalho hos-


pitalar: uma abordagem plural sobre o processo de trabalho de enfermagem. Psicol.
USP.14(2)169-94. 2003.

83
TAYLOR, S. E. Health Psychology. New York: Random House, 2000.

VENTURA, L. O comitê de ética em pesquisa. 2015. Disponível em: http://www.funda-


caoaltinoventura.com.br/site/?page_id=6398. Acesso em: 01 nov. 2021.

VILLAS-BÔAS, M. L. O Direito-Dever De Sigilo Na Proteção Ao Paciente. Rev. Bioét. 23


(3). 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/kFY5sjrzNCZYd3qVc5BLXDt/?lan-
g=pt. Acesso em: 17 out. 2021.

WALKER, M. R. Disciplina Fundamentos da Ética. Santa Helena, PR: UTFPR, 2015.

ZANCANARO, L. Cuidando do futuro da vida humana: a ética da responsabilidade de


Hans Jonas. O Mundo da Saúde. 2000 Jul-Ago; 24 (4): 21-5.

ZANCANARO, L. Cuidando do futuro da vida humana: a ética da responsabilidade de


Hans Jonas. O Mundo da Saúde, 24 (4): 21-5, 2000.

ZOBOLI, E. L. C. P.; PENA, J. L. C. Novas abrangências em bioética: saúde mental global


e neuroética. In: SEOANE, A. F. et al. Ética e bioética: desafios para a enfermagem e a
saúde / organizadoras Taka Oguisso, Elma Lourdes Campos Pavone Zoboli. 2.ed.Barueri,
SP: Manole. p. 107-122. 2017.

84
CONCLUSÃO GERAL

Prezado (a) aluno (a),

Neste material, busquei trazer para você conceitos, características e definições sobre a
bioética e sua aplicabilidade e reflexões diante dos conflitos que rotineiramente nos deparamos.
Sobretudo, analisamos a evolução da bioética ao longo dos anos e como seus conceitos e
princípios são fundamentais para as práticas na área das ciências da vida e também da saúde.
Destacamos também, a necessidade e importância dos códigos de conduta em
diversas áreas, ou seja, os deveres, os princípios e regras inerentes a uma determinada
profissão. Assim, todos os profissionais estão sujeitos à sua própria deontologia para
regular o exercício da sua profissão de acordo com o código de ética da sua categoria.
Os códigos deontológicos referem-se estritamente à moralidade de uma profissão e ao
comportamento exigido por um profissional, e, que norteiam a conduta e reflexões acerca
de um conflito. Nesse contexto, você viu também como é necessário a regulamentação
de leis que respeitem os direitos do paciente e assegurem sua autonomia na tomada de
decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida. Tudo isso, tem ação direta na ética da
relação profissional-paciente, respeitando os princípios bioéticos da autonomia (por meio
do consentimento livre e esclarecido), beneficência, não maleficência e justiça, objetivando
sempre o melhor cuidado dedicado ao paciente.
Vimos que a bioética é essencial na orientação de condutas individuais e coletivas
dentro da ciência e pesquisa, como promotora de conceitos éticos e morais, para garantir a
realização de ações responsáveis, de forma a assegurar a dignidade das diversas relações,
atividades e a avaliação metodológica adequada de pesquisas no campo da saúde. Nesse
contexto, falamos da função e importância dos comitês de ética em pesquisa, bem como,
suas atribuições como órgão responsável na análise dos aspectos metodológicos, da
relevância e exequibilidade dos projetos de pesquisa, de forma a garantir o bem-estar dos
indivíduos, a equidade e a justiça social.

85
Compreendemos ainda, os desafios da bioética diante dos avanços tecnológicos e da
rapidez com que as informações são divulgadas, pois devemos acompanhar estas evoluções
sem nos esquecer dos conceitos e aspectos éticos e da importância do relacionamento
profissional e paciente, pois não se deve abandonar a sua característica fundamental que é
a de cuidar do doente e não só da doença. Assim, a bioética clínica surge nesse contexto,
como uma forma de entender e discutir os avanços da tecnologia com o olhar voltado para o
ser humano em todas as suas características, com valores e total dignidade.
Finalizamos esta disciplina, destacando o significado e importância dos cuidados
paliativos como exemplo de dignidade humana no processo de morrer; pois quando estamos
falando de final da vida, morte e no luto dos familiares, espera-se dos profissionais de
saúde práticas pautadas nos princípios bioéticos para que sejam garantidos os cuidados
adequados, com total empatia e demonstrando um respeito incondicional à vida humana
nesse momento tão delicado.
Agora é com você! Aplique e pratique todo conhecimento conquistado até aqui!

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigada!

86
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
www.unifatecie.edu.br

Você também pode gostar