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Responsabilidade Civil
Profª. Drª. Viviane Krominski
2021 by Editora Edufatecie
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP
UNIFATECIE Unidade 1
Reitor Rua Getúlio Vargas, 333
Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Centro, Paranavaí, PR
Diretor de Ensino (44) 3045-9898
Prof. Ms. Daniel de Lima
Diretor Financeiro
Prof. Eduardo Luiz UNIFATECIE Unidade 2
Campano Santini
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Diretor Administrativo Fortes, 2178, Centro,
Prof. Ms. Renato Valença Correia Paranavaí, PR
(44) 3045-9898
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
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Thiago Azenha
Revisão Textual
Kauê Berto
UNIDADE I....................................................................................................... 4
Noções e Fundamentos de Bioética
UNIDADE II.................................................................................................... 25
Saúde Pública e Bioética
UNIDADE III................................................................................................... 42
Bioética e Pesquisa
UNIDADE IV................................................................................................... 59
Bioética e os Dilemas Contemporâneos
UNIDADE I
Noções e Fundamentos
de Bioética
Profª. Drª. Viviane Krominski
Plano de Estudo:
● Introdução e noções fundamentais: valor, moral e ética;
● Histórico e reflexões;
● Estudo do modelo principialista;
● Panorama da bioética no cenário globalizado.
.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar noções fundamentais de valor, moral e ética
correlacionando com a bioética e sua importância;
● Refletir sobre a evolução da bioética ao longo dos tempos e sua
importância para a solução de conflitos contemporâneos;
● Analisar o modelo principialista da bioética e seus princípios
para as práticas na área das ciências da vida e da saúde;
● Aplicar os conceitos e reflexões da bioética no cenário globalizado.
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INTRODUÇÃO
Olá! Você já encontrou dificuldade para decidir o que fazer em uma determinada
situação? Ficou na dúvida de como se posicionar? Qual conduta adotar? Pois é, acredito
que sua resposta foi sim e de forma geral, a maioria das pessoas já vivenciou uma questão
como essa! É nesse contexto que a Bioética adquire espaço e suas fundamentações e
reflexões se tornam fundamentais.
Mas o que é bioética e como ela se aplica no mundo globalizado e nos conflitos do
dia-a-dia? É sobre exatamente isso que abordaremos nesta unidade. Vamos nos familiarizar
com conceitos e princípios da Bioética e como ela vem para fundamentar e solucionar
conflitos que envolvam questões como valores, ética e moral. A Bioética tem o objetivo de
amenizar os enfrentamentos de conflitos que surgirão na vida profissional e na sociedade
de uma forma geral. Para isso, vamos mergulhar em um universo de conceitos, definições
e princípios que serão fundamentais para o embasamento científico e a possibilidade de
reflexões e argumentações sobre esse tema tão relevante no mundo atual!
REFLITA
REFLITA
O termo bioética foi utilizado pela primeira vez em 1970 pelo americano Van Rensselaer
Potter (Figura 1), em texto publicado na revista Perspectives in Biology and medicine, e a
seguir, em 1971, no livro Bioethics: Bridge to the future, com o objetivo de contribuir para o
futuro da humanidade e promover a formação de um novo campo do conhecimento. Potter
propôs a Bioética, destacando que, como alguns conflitos entre ciência e humanidade levam
à insegurança, é preciso fazer uma ponte para o futuro, por meio da ética, para construir outro
campo do conhecimento como elo entre dois saberes (LEUTÉRIO et al., 2020).
SAIBA MAIS
Você sabia que em 1929, foi estabelecido o primeiro Código de Ética no Brasil? Recebeu
o nome de Código de Moral Médica. Esse código era a versão em português aprovado
pelo VI Congresso Médico Latino-Americano que foi realizado na cidade de Havana, em
Cuba, em 1922 e com objetivo de contribuir para a consolidação de uma rede científica
latino-americana. Com ele, surgia a possibilidade de modificar efetivamente a história
natural das doenças. Um novo tipo de profissionalismo surgia com médicos mais atentos
aos pacientes (GRINBERG, 2015). Para saber mais acesse: https://portal.cfm.org.br/
images/stories/documentos/EticaMedica/codigomoralmedica1929.pdf.
O termo “bioética” surgiu nas últimas décadas, dos grandes avanços tecnológicos
no campo da biologia, e das questões éticas decorrentes das descobertas e da aplicação
das ciências biológicas, possuem grande poder de intervenção na vida e na natureza. A
partir dos anos 80, com o advento da AIDS, a Bioética ganhou impulso definitivo, obrigando
à profunda reflexão “bioética” em razão das consequências advindas para os indivíduos e
a sociedade. O comportamento ético em atividades de saúde não se limita ao indivíduo,
devendo ter também, um enfoque de responsabilidade social e ampliação dos direitos da
cidadania, uma vez que sem cidadania não há saúde (KOERICH et al., 2005).
Fonte: ETHOS UFMG. Modelos Explicativos em Bioética. 2016. Disponível em: https://ethosufmg.wor-
dpress.com/2016/05/05/modelos-explicativos-em-bioetica/. Acesso em: 10 nov. 2021.
A ética é um aspecto importante na vida de todos, pois é o que nos permite analisar
os valores morais, que mudam com o tempo. Com a globalização, muitos dos valores
apresentados mudaram inevitavelmente de forma drástica devido à quebra de barreiras,
nomeadamente devido ao melhor acesso à informação e à aproximação entre o global
e o local. A globalização, portanto, está afetando também o trabalho dos profissionais de
saúde, o que contribui para a promoção de uma ética capaz de refletir as situações de
saúde de forma macroscópica. A conclusão disso é que mesmo um lugar longe dos centros
urbanos e da tecnologia acredite que a única cura possível para uma criança doente sejam
orações, não estará agindo de forma ética se, na cidade mais próxima, com hospital, essa
doença já é facilmente tratada (FRANÇA et al., 2017).
Nesse contexto, a Bioética surgiu da percepção simbólica da existência do outro,
do conflito que isto causa e da necessidade de nos relacionarmos com as diferenças,
sabendo que podemos agir com autonomia e que a sociedade irá responsabilizar os
nossos atos e isto é o correto e o que se espera de uma sociedade justa e ética. Por
outro lado, o surgimento da Bioética, como consequência do progresso da ciência e do
conceito de autonomia, conduziu a uma revolução social além dos limites da medicina.
Por exemplo, a epidemia de SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) reflete, assim
como outras doenças infecto-contagiosas como a AIDS (Acquired Immune Deficiency
Syndrome), a fragilidade de todos os seres humanos diante de um mundo globalizado,
mas vulnerável ao agente causador da doença.
REFLITA
Koerich e colaboradores (2005) reforçam que a bioética é uma ferramenta que nos
auxiliará nas reflexões diárias de nosso trabalho, sendo fundamental para que as
gerações futuras tenham a vida com mais qualidade. Entretanto, como está o ensino da
bioética no mundo? Como as escolas estão preparando os profissionais de saúde para
os impasses éticos do dia-a-dia? As decisões são orientadas para que o mundo se torne
mais humano? Como buscar equidade na assistência com respostas morais adequadas
a realidade que se apresenta no nosso mundo do trabalho? O que você tem a dizer
sobre estas questões?
LIVRO
Título: Bioética e COVID-19
Autor: Luciana Dadalco.
Editora: Foco.
Sinopse: A primeira edição da obra “Bioética e Covid-19” foi um
sucesso absoluto e a rapidez com que as questões bioéticas
foram sendo alteradas nos últimos meses tornou imprescindível
uma nova edição dessa obra, com novos artigos e atualização dos
artigos anteriores. Hoje, a Bioética não está mais negligenciada
na pandemia da Covid-19. Comitê Internacional de Bioética e a
Comissão Mundial sobre Ética do Conhecimento e da Tecnologia,
ambos da UNESCO já reconheceram o papel de destaque da
bioética no contexto da Covid-19.
FILME/VÍDEO
Título: Patch Adams – O amor é contagioso
Ano: 1998.
Sinopse: Em 1969, após tentar se suicidar, Hunter Adams
(Robin Williams) voluntariamente se interna em um sanatório.
Ao ajudar outros internos, descobre que deseja ser médico, para
poder ajudar as pessoas. Deste modo, sai da instituição e entra
na faculdade de medicina. Seus métodos poucos convencionais
causam inicialmente espanto, mas aos poucos vai conquistando
todos, com exceção do reitor, que quer arrumar um motivo para
expulsá-lo, apesar de ele ser o primeiro da turma.
Plano de Estudo:
● A Ética da Responsabilidade Pública e Individual;
● Códigos de Conduta;
● Direitos do Paciente;
● A relação profissional-paciente.
Objetivos da Aprendizagem:
● Analisar a importância e aplicações da ética da responsabilidade pública
e individual, refletindo sobre seus impactos e perspectivas;
● Compreender a importância dos códigos de conduta e sua interrelação
com a bioética e os conceitos de ética, moral e deontologia;
● Compreender a necessidade e importância das leis que reforçam os direitos do paciente e
sua autonomia na tomada de decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida;
● Analisar a relação profissional-paciente a partir do referencial da bioética.
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INTRODUÇÃO
Nesta unidade você terá acesso às questões sobre a ética da responsabilidade pú-
blica e individual, e poderá refletir seus impactos e perspectivas. Além disso, iremos discutir,
os códigos de conduta, compreendendo sua importância e inter-relação com a bioética e
os conceitos de ética, moral e deontologia. Trataremos ainda, dos direitos do paciente, e
nesse contexto, você irá perceber a necessidade das leis, para fazer valer esse direito e a
autonomia do paciente na tomada de decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida!
Ao final desta unidade, vamos falar da relação profissional-paciente e as questões
envolvidas nesse processo a partir do referencial da bioética. Você vai compreender que
essas relações devem ser pautadas pelas normas éticas e jurídicas e devem ter como base
os princípios que permeiam essas relações.
UNIDADE II
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NoçõesPública
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1. A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE PÚBLICA E INDIVIDUAL
O que é a ética da responsabilidade? Hans Jonas foi um dos autores que mais
abordou questões de ética da responsabilidade neste século. Segundo sua linha de ideias,
no campo da ciência, por exemplo, a liberdade de criar e usar novos conhecimentos
deve estar atrelada à responsabilidade individual e pública na aplicação das descobertas
e seus desdobramentos (GARRAFA et al., 2009). De acordo com Hans Jonas, todos
são responsáveis pela qualidade de vida das gerações futuras (KOERICH et al., 2005).
Foi também ele quem abordou o conceito de risco e a necessidade de avaliá-lo com
responsabilidade (ZANCANARO, 2000).
As questões éticas em praticamente todas as áreas da atividade humana já
adquiriram uma conotação pública e não são mais uma questão de consciência individual
que deve ser resolvida na esfera privada (GARRAFA et al., 2009). O “princípio universal
de responsabilidade” não deve ser ignorado em qualquer discussão ética, ao contrário,
sempre deverá pautar as mais inusitadas situações. Esse princípio deve permear todas
as questões éticas e está relacionado aos aspectos éticos da responsabilidade individual
que cada um de nós assume; a ética da responsabilidade pública, que está relacionada
ao papel e às obrigações dos Estados em relação à saúde e à vida das pessoas; e com a
ética da responsabilidade planetária, nosso compromisso como cidadãos do mundo com o
desafio de preservar o planeta (KOERICH, 2002).
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Essa visão ética ampliada de valorização da vida no planeta exige uma atitude
consciente, solidária, responsável e virtuosa de todos os seres humanos e, sobretudo,
daqueles que pretendem cuidar de outros seres humanos, nas instituições de saúde ou em
seus lares. Poderíamos pensar em algumas situações do nosso dia a dia que nos levem
a refletir sobre a atitude ética necessária aos profissionais de saúde, nos mais diversos
contextos, questionando-nos: como ajo, penso e falo perante um cliente descontrolado
e agressivo? Enfrentando um cliente alcoolizado que acaba de receber alta do hospital
psiquiátrico? Ou alguém que usa drogas e/ou tem HIV? Diante de uma adolescente grávida?
Diante do cliente que não colabora, não aceita o tratamento e pede alta? Na frente do cliente
inconsciente, da criança ou alguém com demência? Diante da falta de estrutura de ação e
planejamento de recursos na organização dos serviços de saúde? (KOERICH et al., 2005).
É importante, ainda nesse contexto, refletir, como medir, em uma escala de atribui-
ções cada vez mais complexas, mas com atribuições proporcionais, a ética da responsabi-
lidade individual (e o nível de comprometimento ...) de um simples administrador de centro
de saúde que trata mal os usuários? Do maqueiro que faz “corpo mole” na entrada de emer-
gência? Do motorista que afirma “desvio de função” quando solicitado para ajudar a levar
um acidentado até a ambulância? Do ajudante de lavanderia ou de cozinha que negligencia
os requisitos essenciais de higiene e limpeza? Do médico que cuida ou atende de qualquer
forma seus pacientes? Do político responsável por colocar “emendas” de seu interesse
particular no orçamento público da saúde? Do burocrata que deliberada ou abnegadamente
atrasa a entrega de fundos dramaticamente antecipados para locais de necessidade? Do
ministro todo-poderoso que pensa ser o único dono da “chave do cofre”? Ou o Presidente
da República, que na prática insiste que a saúde não deve ser prioridade na ação política
de seu governo (GARRAFA, 1995) O que pensar ou como agir diante dessas situações?
No que se refere à ética da responsabilidade pública, um aspecto que não deve ser
deixado de lado na reflexão sanitária é aquele que diz respeito à definição das prioridades
nos investimentos do Estado, incluindo o estudo da destinação, alocação, distribuição e
controle dos recursos financeiros dirigidos ao setor. Ao contrário dos países industrializados,
no Brasil vivemos situações paradoxais que vão desde a presença persistente de
doenças comuns nos países mais pobres do mundo (dengue, malária, doença de chagas,
esquistossomose, febre amarela) até o registro significativo em nossas estatísticas de
mortalidade dos problemas comuns aos países mais avançados (câncer, problemas
cardiovasculares, acidentes de trânsito, etc.). Com o custo crescente do diagnóstico e a
sofisticação tecnológica natural resultante do avanço científico, os recursos de saúde estão
lentamente se tornando inadequados, mesmo nos países mais ricos.
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2. CÓDIGOS DE CONDUTA
A deontologia pode ser entendida como a ciência dos deveres, que inclui o
estudo, a discussão, a elaboração e a necessidade constante de atualização do código
de ética. Tem como objetivos essenciais, os fundamentos do dever, bem como os padrões
morais e éticos (FRANÇA et al., 2017). A deontologia, neste contexto, também se refere
aos princípios e regras de conduta inerentes a uma determinada profissão, ou seja, seus
deveres. Assim, todos os profissionais estão sujeitos à sua própria deontologia para regular
o exercício da sua profissão de acordo com o código de ética da sua categoria. O código
de ética é o documento que reflete a deontologia de uma profissão e pode ser visto como
a ética da intenção. Informa como as pessoas devem se comportar no campo profissional,
com colegas, clientes e pacientes, parentes, professores, etc. Os códigos deontológicos
referem-se estritamente à moralidade de uma profissão e ao comportamento exigido por
um profissional, e, que norteiam a conduta e reflexões acerca de um conflito (Figura 1).
É o próprio grupo profissional que estabelece os padrões e é responsável por listá-los e
colocá-los em prática (FRANÇA et al., 2017).
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FIGURA 1 - CONFLITOS ÉTICOS: COMO AGIR?
Fonte: HORA de falar sobre ética na tecnologia da informação. Scurra Tecnologia e Inteligência, 2019,
online. Disponível em: https://www.scurra.com.br/blog/hora-de-falar-sobre-etica-na-tecnologia-da-
informacao/. Acesso em: 10 jan.2022.
O contexto de qualquer exercício profissional deve ser pautado por uma ética
responsável, conhecimento técnico, científico, ético e jurídico, postura profissional e
compromisso com o grupo de trabalho e a sociedade. Sabe-se que ao utilizar os serviços de
um profissional, espera-se que ele não apenas domine os conhecimentos teóricos e práticos
inerentes à sua profissão, mas também a correta aplicação dessa competência - conduta
profissional ética. Na verdade, a sociedade está cada vez mais atenta aos seus direitos, exige
muito da qualidade do atendimento e se preocupa com os erros técnicos profissionais. Todas
as profissões legalmente reconhecidas e regulamentadas possuem um código de ética. Este
código expressa a obrigação de não prejudicar, de renunciar e defender a dignidade e o
respeito. Nesse contexto, é preciso refletir profundamente sobre até onde podemos ir e
quais podem ser os limites de nossa sede de conhecimento (FRANÇA et al., 2017).
REFLITA
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Pois é, não são raras as vezes que esse tipo de acontecimento permeiam as
relações profissional-cliente e, sem dúvida alguma, são momentos de desgaste emocional
e caracterizam uma conduta indesejável do profissional que nos atende. Quantas vezes
vamos procurar um atendimento médico, por exemplo, já fragilizados com a causa/
doença e saímos ainda mais entristecidos e desgastados com a recepção e condução da
consulta pelo profissional, do qual esperávamos atenção e empatia com nosso sofrimento
e angústia? Por que isso acontece? Onde encontra-se a conduta ética desse profissional?
Como devemos agir nestas situações?
Nesse contexto, é importante saber que os termos ética (do grego éthos, modo de
ser), moral (do latim costumes, costumes, normas de coexistência) e deontologia (do grego
déon, dever) estão relacionados e ligados uns aos outros na bioética (MALUF, 2020). A ética
é um conhecimento racional que trata de determinar o que é bom. A moralidade tem a ver
com a escolha da ação em que uma dada situação deve ser empreendida. Então, podemos
entender que a tomada de decisões e ações concretas são um problema prático e, portanto,
moral. Examinar esta decisão e esta ação, a responsabilidade daí resultante e os graus de
liberdade e determinismos associados, é um problema teórico e, portanto, ético. A ética é
fundamentalmente investigativa e tem um caráter conceitual. A moralidade é praticamente
inconcebível fora de qualquer contexto histórico, social, político e econômico. A Deontologia
(Código de Ética Profissional) regula as ações dos trabalhadores no contexto da sua prática,
torna-as boas e adequadas. A bioética engloba conhecimentos complexos que visam dar
respostas em situações específicas, sempre em busca de uma certa autonomia. Tem um
caráter pragmático (baseado nos quatro princípios) que se aplica às questões morais
levantadas por decisões clínicas e avanços científicos e tecnológicos. Implica a capacidade
de tomar decisões moral e legalmente aceitas em casos que envolvem valores conflitantes.
Em síntese, concluímos que “o que se estuda na ética, se pratica na moral, é obrigatória na
deontologia, é por fim, é problematizado na bioética” (MALUF, 2020).
Na bioética, ao contrário do que ocorre na ética, na moral e na deontologia, o
bem é sempre pensado a partir de um determinado sujeito e nunca de forma abstrata ou
coletivizada. A peculiaridade da situação do paciente deve sempre servir de base para
questionar, à luz dos princípios da bioética, o grau de humanidade, legitimidade e legalidade
inerente à conduta do profissional de saúde ou do pesquisador (GRACIA, 2010).
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Em síntese, podemos concluir que a Bioética é a disciplina que estuda os aspectos
éticos das práticas médicas e biológicas, avaliando suas implicações para a sociedade e
as relações entre os homens e entre eles e os demais seres vivos, indicando a linha de
conduta a ser adotada, a fim de respeitar a dignidade humana (MALUF, 2020).
Agora que você já compreendeu o que é um código de conduta, sua importância e
sua aplicabilidade e inter-relação com a bioética, podemos avançar para o tópico II, onde
falaremos dos direitos do paciente, como validar esses direitos e o dever de respeitá-los e
colocá-los em prática! Vamos lá?
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3. DIREITOS DO PACIENTE
O Brasil não está em sintonia com outros países na adoção de uma lei nacional
sobre os direitos do paciente (ALBUQUERQUE, 2019). Antes da década de 1970, os direitos
dos pacientes não eram exigidos (MALIK, 1997). O paciente não tinha direitos e voz, para
fazer valer suas vontades. Este cenário, foi aos poucos se modificando e o paternalismo
médico, em que o médico “pode tudo”, foi dando espaço para uma medicina centrada no
paciente e no seu bem-estar.
A existência de leis sobre os direitos dos pacientes pressupõe o reconhecimento
da importância desses direitos e a presença de um sistema de saúde em que os direitos
dos pacientes sejam protegidos (JUN, 2019). Os direitos do paciente são o que as pessoas
têm quando recebem tratamento médico simplesmente porque são seres humanos e
devem obter todo respeito. Segundo Albuquerque (2016), os direitos dos pacientes são
os seguintes: direito à vida; direito à privacidade; direito de não ser discriminado; direito à
liberdade; direito à saúde; direito à informação e direito a não ser submetido a tratamentos
desumanos e degradantes. Destes direitos derivam outros mais específicos; são eles: direito
ao consentimento informado; direito a uma segunda opinião; direito de recusar tratamentos e
procedimentos médicos; o direito de morrer com dignidade, sem dor e de escolher o lugar da
morte; direito à informação sobre o estado de saúde; direito de acesso a prontuários médicos;
direito à confidencialidade das informações pessoais; o direito a cuidados médicos seguros
e de qualidade; direito de não ser discriminado; direito de reclamar; direito a indemnização e
direito a participar no processo de tomada de decisão (EUROPEAN COMMISSION, 2016).
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LEITURA COMPLEMENTAR
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Os direitos do paciente, ao serem incorporados devidamente nas leis e diretrizes
específicas, convergem para os movimentos da sociedade civil que visam ao engajamento
do paciente no seu processo de cuidado e na tomada de decisão sobre questões que
digam respeito ao seu corpo e à sua vida, bem como em decisões sobre a aquisição de
recursos escassos em saúde e incorporação de novas tecnologias em saúde (EUROPEAN
COMMISSION, 2016). As leis de direitos dos pacientes fundamentam-se no cuidado
pautado pela vontade e preferências do próprio paciente, separando-se do modelo
paternalista e objetiva seu empoderamento com vistas ao exercício de seus direitos. Esse
modelo de cuidado em saúde derivado das leis de direitos dos pacientes ultrapassa as
concepções de compaixão, de dignidade e de respeito, pois tem como fundamentação a
reafirmação da sua condição de cidadão que deve ter seus direitos assegurados (HEALTH
AND SOCIAL CARE ALLIANCE SCOTLAND, 2019).
Uma vez que o paciente tem seus direitos respeitados, consequentemente, ficam
mais satisfeitos com os serviços de saúde. As leis sobre direitos dos pacientes fomentam o
modelo do cuidado centrado no paciente, criando uma nova cultura nos serviços de saúde que
se alicerça na parceria entre o paciente e o profissional, o que resulta em melhores condições
de saúde para o paciente (HEALY, 2019). Dessa forma, as leis de direitos dos pacientes são
compreendidas como uma ferramenta útil e central na mitigação da assimetria de poder e de
conhecimento que permeia a relação profissional de saúde e paciente, estimulando assim, a
parceria e conformidade ente os dois (EUROPEAN COMMISSION, 2016).
UNIDADE II
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SAIBA MAIS
Você tem conhecimento de quantos e quais são, os direitos dos pacientes? “Você sabia
que pode consultar seu prontuário médico no momento que desejar? Que tem direito a
uma conta detalhada especificando todas as despesas do tratamento? Que o hospital
é obrigado a informar a origem do sangue utilizado nas transfusões? Pois esses são
alguns dos chamados Direitos do Paciente – uma série de 35 garantias que médicos e
hospitais devem levar em conta para preservar a ética em sua conduta profissional e a
saúde dos pacientes, claro. O problema é que, apesar de asseguradas por lei, essas
normas são praticamente desconhecidas. Hospitais, clínicas e postos de saúde não têm
obrigação de afixá-las em local de fácil visualização e os manuais onde elas constam
são difíceis de encontrar”.
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde / Ministério da Saúde. – 1. ed. –
Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/Carta5.pdf
Bom, o importante até aqui é você entender que as leis de direitos do paciente são
ferramentas essenciais para mudar a cultura de cuidados em saúde no Brasil e promover o
bem maior do paciente, que é a sua vida e o seu bem-estar. Apesar dos avanços já alcançados
até o momento, ainda temos um longo e árduo caminho pela frente, neste assunto.
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4. A RELAÇÃO PROFISSIONAL-PACIENTE
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Na prática médica, por exemplo, os deveres inerente à profissão são: informação
detalhada sobre o estado de saúde do paciente, bem como a explicação do tratamento a ser
implementado diante do diagnóstico obtido; tratar o paciente com zelo e dedicação, utilizando
todos os recursos disponíveis da sua profissão; respeitar as decisões pessoais dos pacientes
em caso de recusa do tratamento oferecido; respeitar os limites contratuais estabelecidos e
preservar o sigilo profissional tendo em vista a privacidade do paciente (DINIZ, 2017).
Quando um profissional da área de saúde tem diante de si uma pessoa que busca
seus serviços, por qualquer que seja o motivo, está ocorrendo um encontro clínico, o qual
pode receber diferentes denominações: relação profissional de saúde-paciente, relação
médico-paciente, interação médico-cliente, interação profissional-usuário, dentre outras
(RANGEL et al., 2011).
Os procedimentos terapêuticos e as características dos profissionais de saúde
desejáveis para que ocorra uma satisfatória aliança de trabalho na relação com o paciente,
são baseados principalmente em qualidades humanas, esperadas em qualquer relação e
situação, e princípios bioéticos, essencialmente presentes nas ações em saúde (GOMES,
2003; PORTO, 2003). Entre as qualidades humanas estão: empatia, continência, humildade,
respeito às diferenças, curiosidade, capacidade de conotar positivamente, capacidade de
comunicação, flexibilidade, criatividade, paciência, solidariedade, integridade e compaixão.
Com relação aos princípios bioéticos, são almejados a ética e sigilo, autonomia do paciente,
beneficência, não-maleficência, justiça, consentimento esclarecido, atenção ao paciente e
responsabilidade (GOMES, 2003; PORTO, 2003).
As características pessoais dos pacientes e as variáveis psicossociais também
influenciam no relacionamento com os profissionais de saúde. As diferenças nas variáveis
psicossociais entre pacientes e profissionais de saúde influenciam, ainda que inconscientemente,
atitudes, percepções e sobretudo a comunicação na interação profissional-paciente (DIAS,
2011). Entre os fatores do contexto em que se desenvolve a relação profissional de saúde-
paciente, o próprio lugar do cuidado e a estrutura do sistema de saúde podem desgastar ou
comprometer essa interação e prejudicar a harmonia (TAYLOR, 2000). Ressalta-se ainda,
que o conhecimento do contexto sociocultural e do sistema de saúde em que profissionais e
pacientes estão inseridos também pode influenciar na relação entre eles (ASSUNÇÃO, 2013).
É importante ressaltar, que falar de relação profissional de saúde-paciente é abordar
o conceito de relação humana, de princípios, deveres e respeito mútuo (CANTO et al., 2011;
GOMES, 2003) e que isso reflete, portanto, discutir sobre humanização do cuidado em
saúde e ponderar a respeito do encontro entre seres humanos, em todas as suas etapas e
circunstâncias, cuja prioridade é a promoção da saúde (GOMES, 2003).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: Segurança do Paciente. Como Garantir Qualidade nos
Serviços de Saúde
Autor: Guilherme Armond.
Editora: DOC.
Sinopse: O objetivo principal desta obra é ampliar e nortear
o conhecimento e aplicabilidade de diretrizes e estratégias
direcionadas à segurança do paciente visando melhorias na
qualificação da assistência à saúde. O objetivo específico é
contextualizar incidentes notificáveis por lei que resultam dano ao
paciente, bem como estratégias e metodologias para minimizar
a ocorrência desses eventos. A proposta do conteúdo do livro é
utilizar imagens, fotos, gráficos, tabelas, fatos e relatos de eventos
adversos associados a erros na assistência ao paciente bem como
experiências e desfechos.
FILME/VÍDEO
Título: Tempo de despertar
Ano: 1990.
Sinopse: Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um
neurologista que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico.
Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão cata-
tônicos, mas Sayer sente que eles estão só “adormecidos” e que
se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados.
Assim pesquisa bem o assunto e chega à conclusão de que a
L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada para pacien-
tes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para
estes casos. No entanto, ao levar o assunto para o diretor, ele
autoriza que apenas um paciente seja submetido ao tratamento.
Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro),
que há décadas estava “adormecido”. Gradualmente Lowe se
recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos outros
pacientes, sob sua supervisão. Logo os pacientes mostram sinais
de melhora e também se mostram ansiosos em recuperar o tempo
perdido. Mas, infelizmente, Lowe começa a apresentar estranhos
e perigosos efeitos colaterais.
UNIDADE II
I Saúde
NoçõesPública
e Fundamentos
e Bioéticade Bioética 41
UNIDADE III
Bioética e Pesquisa
Profª. Drª. Viviane Krominski
Plano de Estudo:
● Bioética: prática profissional e pesquisa científica;
● Fundamentação da ética na pesquisa científica envolvendo seres humanos;
● Comitê de ética em pesquisa (CEP);
● Consentimento livre e esclarecido para a prática profissional e pesquisa científica.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender a importância da bioética, seus fundamentos e princípios na prática profissional
relacionada à realização de pesquisas científicas e as ações éticas necessárias com os
diversos aspectos que vieram com o progresso científico e como estão impactando fortemente a
sociedade, de forma a se refletir na conduta individual e coletiva;
● Analisar os fundamentos da bioética na pesquisa científica envolvendo seres humanos e a
avaliação necessária dos projetos de pesquisa antes da sua fase de execução,
afim de garantir integridade e dignidade aos participantes;
● Compreender a função e importância dos comitês de ética em pesquisa, bem como, suas atribuições
como órgão responsável na análise dos aspectos metodológicos, da relevância e exequibilidade dos
projetos de pesquisa, de forma a garantir o bem-estar dos indivíduos, a equidade e a justiça social;
● Analisar a importância e aplicabilidade do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) como documento necessário para a
validação de pesquisas envolvendo seres humanos.
42
INTRODUÇÃO
Olá! Iniciamos mais uma unidade, falando sobre Bioética e Pesquisa Científica. O
que tem a ver uma coisa com a outra? A resposta, você terá em detalhes na leitura e reflexão
desta unidade, mas podemos exercitar um pouco antes. Veja se você consegue responder
algumas questões a seguir, e vai imaginando como seriam as pesquisas envolvendo seres
humanos, sem os princípios da bioética. Vamos lá:
Existe limite para a ciência? A ausência de limites à ciência, traria riscos à existência
humana? Com os avanços biotecnológicos e de engenharia genética, haveria limites para a
pesquisa com seres humanos? Como realizar uma pesquisa, respeitando o direito à vida e
a dignidade dos participantes? Isso é importante?
Bom, você terá condições de responder e refletir todas essas questões, nos tópicos
desta unidade, no qual falaremos sobre a importância da bioética, seus fundamentos e
princípios na prática profissional relacionada à realização de pesquisas científicas e as
ações éticas necessárias com os diversos aspectos que vieram com o progresso científico e
como estão impactando fortemente a sociedade, de forma a se refletir na conduta individual
e coletiva. Você vai verificar os fundamentos da bioética na pesquisa científica envolvendo
seres humanos e a avaliação necessária dos projetos de pesquisa antes da sua fase de
execução, afim de garantir integridade e dignidade aos participantes.
Na sequência, vai compreender a função e importância dos comitês de ética em
pesquisa, bem como, suas atribuições como órgão responsável na análise dos aspectos
metodológicos, da relevância e exequibilidade dos projetos de pesquisa, de forma a garantir
o bem-estar dos indivíduos, a equidade e a justiça social. Finalmente, se dará conta, da
importância e aplicabilidade do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) como
documento necessário para a validação de pesquisas envolvendo seres humanos.
Bom, você percebeu que teremos um grande e valioso aprendizado pela frente!
Aproveite e tenha um ótimo estudo!
A vida é o bem mais valioso para o ser humano no contexto de todas as suas relações
(social, política e jurídica). Assim, a proteção da vida e da integridade física do ser humano,
tornam-se os direitos considerados mais preciosos, e a bioética surge no âmbito da socie-
dade científica, como proposta de um espaço para se refletir sobre desenvolvimento e uso
das tecnologias e seus impactos na natureza e na vida humana, preocupando-se com todo
tipo de intervenção humana. Por outro lado, o avanço da medicina rumo à determinação de
novos tratamentos clínicos e cirúrgicos e novos métodos de diagnóstico envolve a experi-
mentação em seres humanos, o que torna necessária a avaliação dos projetos de pesquisa
antes da sua fase de execução, afim de garantir integridade e dignidade aos participantes
(BALLESTRERI, 2017). A bioética oferece aos pesquisadores e à sociedade parâmetros
para que eles possam julgar e se manifestar sobre os riscos e sobre a oportunidade do uso
das tecnologias. No caso da pesquisa com seres humanos, a ênfase da bioética estará
nos efeitos que o projeto desenhado pelo pesquisador terá sobre os participantes. A função
prioritária da bioética em pesquisa é proteger o participante, um indivíduo que se submete
voluntariamente a um risco. Os três princípios referentes à bioética são os da autonomia,
da beneficência e da justiça. Entretanto, a incidência de um quarto princípio, o da não
maleficência, é reconhecida por muitos pesquisadores (BALLESTRERI, 2017).
Uma ciência que acolhe a reflexão ética, é uma ciência com consciência. A tomada
de consciência da ciência conduz à noção de responsabilidade dos cientistas e
pesquisadores, na sua atuação, perante a sociedade.
incapazes (autonomia);
Considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos tem riscos. Levando
isso em conta, esse tipo de pesquisa será admissível quando o risco se justifique pela
importância do benefício esperado e que o benefício seja maior, ou no mínimo igual, a
alternativas já estabelecidas para prevenção, diagnóstico e tratamento. Além disso, o
pesquisador responsável deverá suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum
risco ou dano não previsto no termo de consentimento. A responsabilidade de assistência
integral às complicações e aos danos decorrentes dos riscos é do pesquisador, do
patrocinador e da instituição (BALLESTRERI, 2017).
Chegamos ao final de mais uma unidade! Quanto aprendizado, não é mesmo? Foi
possível compreender que a bioética, seus fundamentos e princípios são fundamentais
para nortear as decisões clínicas e pautar os objetivos de pesquisas envolvendo seres
humanos, bem como em outras áreas.
Com os avanços nas metodologias e técnicas de biologia molecular, a ética
é princípio essencial para a realização de ações responsáveis na pesquisa, de forma a
assegurar a justiça, equidade e a dignidade das diversas relações, atividades e a avaliação
metodológica adequada de pesquisas no campo da saúde.
Você foi capaz de entender a importância e como funcionam os CEPs, bem como,
o significado e aplicabilidade do TCLE, ferramentas necessárias para impedir o uso arbi-
trário dos novos conhecimentos, garantindo a relevância e exequibilidade dos projetos de
pesquisa, e assim, garantir a integridade e dignidade dos participantes, em todas as fases
de execução da pesquisa. Resumindo, é fazer ciência e pesquisa baseados nos princípios
éticos, com consciência, responsabilidade e respeito à vida!
LIVRO
Título: Introdução à bioética aplicada a pesquisas envolvendo
seres humanos
Autor: Sebastião Rogério Gois Moreira.
Editora: CRV.
Sinopse: Os laços entre ética e pesquisa, nem sempre
compreendidos em sua profundidade, são o foco desde trabalho.
Este livro possibilita conhecer as regulamentações, os princípios
éticos que orientam a realização da pesquisa com seres humanos,
o papel e funcionamento dos Comitês de Ética, o que por si já
o torna leitura fundamental para qualquer pesquisador ou futuro
pesquisador. Mas o autor vai mais além: com a sensibilidade de
quem trilha há muitos anos os caminhos da pesquisa acadêmica e
atua como psicólogo no sistema público de saúde, traz à reflexão
uma ética do cuidado, do compromisso.
FILME/VÍDEO
Título: Gattaca
Ano: 1997.
Sinopse: Aborda um futuro no qual os seres humanos são
criados geneticamente em laboratórios, e as pessoas concebidas
biologicamente são consideradas “inválidas”. Vincent Freeman
(Ethan Hawke), um “inválido”, consegue um lugar de destaque
em uma corporação, escondendo sua verdadeira origem. Mas um
misterioso caso de assassinato pode expôr seu passado.
Plano de Estudo:
● A bioética e os dilemas atuais;
● Bioética: cuidados paliativos e a terminalidade da vida;
● Neuroética: novos campos da bioética;
● Bioética: desafios contemporâneos.
Objetivos da Aprendizagem:
● Discutir os avanços da tecnologia com o olhar da bioética e voltado
para o ser humano em todas as suas características;
● Compreender o significado e importância dos cuidados paliativos
como exemplo de dignidade humana no processo de morrer;
● Reconhecer novas abrangências da bioética e assinalar
alguns aspectos iniciais da neuroética;
● Explorar algumas interfaces da bioética com as neurociências;
● Discutir e refletir os desafios da bioética nos dias atuais.
59
INTRODUÇÃO
Olá! Tudo bem? Como agir no âmbito da bioética, diante da evolução científica
que nos encontramos e levando em consideração os avanços tecnológicos, a rapidez
com que as informações são repassadas, sem esquecer dos conceitos e aspectos éticos?
Bom, iniciamos esta unidade com exatamente a mesma questão! E assim, vamos no
decorrer das reflexões, buscando respostas e procurando entender que a bioética clínica
surge nesse contexto dos avanços da tecnologia, mas com o olhar voltado para o ser
humano em todas as suas características.
Vamos na sequência dos estudos, buscar compreender o significado e importância
dos cuidados paliativos como exemplo de dignidade humana no processo de morrer,
enxergando que pessoa em fase terminal está viva e tem necessidades especiais que
podem ser descobertas e atendidas pelos profissionais de saúde. E assim deve ser!
Ainda nesta unidade, você vai reconhecer novas abrangências da bioética e
assinalar alguns aspectos iniciais da neuroética, bem como, explorar algumas interfaces
da bioética com as neurociências e suas implicações. Por último, vamos discutir e refletir
os desafios da bioética nos dias atuais, destacando que “nem tudo o que é cientificamente
possível é eticamente admissível”. É isso aí! Compreendeu?
Bons estudos!
Como agir no âmbito da bioética, diante da evolução científica que nos encontramos
e levando em consideração os avanços tecnológicos, a rapidez com que as informações são
repassadas, sem esquecer dos conceitos e aspectos éticos? Por exemplo, a rapidez atual
da comunicação faz com que entremos em contato diário com os avanços tecnológicos no
tratamento dos pacientes e assim, cada vez mais, a formação profissional, vai deixando para
traz a importância do relacionamento profissional e paciente, abandonando a sua caracterís-
tica fundamental que é a de cuidar do doente e não só da doença (GIMENES, 2020).
A bioética clínica surge nesse contexto, como uma forma de entender e discutir
os avanços da tecnologia com o olhar voltado para o ser humano em todas as suas
características. Por exemplo, a inseminação artificial trouxe um grande alento aos casais
que por diversas causas não podiam concretizar o seu desejo de ter filhos. No entanto, com
essa questão, surgiu problemas éticos de difícil solução. Um dos problemas, refere-se à
inseminação homóloga, na qual óvulos e espermatozoides são doados pelo próprio casal
dando origem a embriões que podem ser implantados no útero da doadora; isso fez surgir
a questão do destino dos embriões congelados nas clínicas de reprodução assistida e
também o número de embriões a serem implantados em cada gestação. Outra questão que
se tornou motivo de discussão foi a da cessão temporária de útero conhecida como “barriga
de aluguel” e todas as implicações que existem em tal procedimento.
REFLITA
Quando ocorre o início da vida humana? Ela se daria após a junção dos gametas, após
a nidação, após o desenvolvimento do sistema nervoso do embrião ou após o parto? A
defesa de cada uma destas teorias está diretamente ligada ao conceito de aborto. Sob o
ponto de vista legal, qual seriam as implicações da sua descriminalização em nosso país?
LIVRO
Título: Bioética no século XXI: Anseios, receios e devaneios
Autor: Leocir (Leo) Pessini, Christian de Paul de Barchifontaine,
William Saad Hossne.
Editora: Edições Loyola.
Sinopse: Estamos diante de um texto escrito por autores,
amigos morais (segundo Engelhardt) que trabalham juntos as
questões de Bioética há mais de duas décadas, um percurso
iniciado em 1995, e que têm distintos backgrounds em termos de
conhecimento, formação científica e trabalho profissional. Longe
de antagonismos em virtude dessas diferenças, nutrimos ao longo
desse tempo uma sintonia e um sincronismo em assuntos de
interesse da Bioética, como a promoção, proteção e defesa dos
valores éticos relacionados com a vida, no sentido mais amplo
possível, e os cuidados humanizados na esfera do sistema de
saúde e do exercício profissional das diferentes profissões da
saúde. Este texto celebra 20 anos de reflexão, militância, amizade
e caminhada nas sendas desafiadoras da Bioética contemporânea.
Nossa condição humana e profissional representa, desse modo, a
característica fundamental da Bioética: um saber de cunho inter,
multi e transdisciplinar.
FILME/VÍDEO
Título: Menina de ouro
Ano: 2004.
Sinopse: O filme Menina de ouro conta a história de Maggie
Fitzgerald, interpretada por Hilary Swank, que enfrenta mais que
apenas preconceitos na tentativa de construir uma carreira no
boxe. A garota vai à academia de Frankie Dunn (Clint Eastwood),
treinador experiente que agenciara grandes nomes do esporte,
em busca do sonho, mas ele a rejeita por ser mulher e estar
acima da idade ideal. Mesmo assim, Maggie utiliza o ginásio para
treinar, diariamente, e recebe o apoio de Scrap (Morgan Freeman),
zelador da academia e único amigo de Frankie. Vencido pela
insistência, Frankie aceita treiná-la, mas, após tornar-se uma
lutadora de grande potencial, Maggie sofre uma lesão que a deixa
completamente paralisada. Neste momento, o filme toca em um
assunto ainda delicado: a eutanásia. O destino da garota está nas
mãos de Frankie: deixá-la viver, porém infeliz; ou autorizar a morte
assistida e tirá-la do sofrimento de não poder lutar.
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CONCLUSÃO GERAL
Neste material, busquei trazer para você conceitos, características e definições sobre a
bioética e sua aplicabilidade e reflexões diante dos conflitos que rotineiramente nos deparamos.
Sobretudo, analisamos a evolução da bioética ao longo dos anos e como seus conceitos e
princípios são fundamentais para as práticas na área das ciências da vida e também da saúde.
Destacamos também, a necessidade e importância dos códigos de conduta em
diversas áreas, ou seja, os deveres, os princípios e regras inerentes a uma determinada
profissão. Assim, todos os profissionais estão sujeitos à sua própria deontologia para
regular o exercício da sua profissão de acordo com o código de ética da sua categoria.
Os códigos deontológicos referem-se estritamente à moralidade de uma profissão e ao
comportamento exigido por um profissional, e, que norteiam a conduta e reflexões acerca
de um conflito. Nesse contexto, você viu também como é necessário a regulamentação
de leis que respeitem os direitos do paciente e assegurem sua autonomia na tomada de
decisão no que diz respeito ao seu corpo e sua vida. Tudo isso, tem ação direta na ética da
relação profissional-paciente, respeitando os princípios bioéticos da autonomia (por meio
do consentimento livre e esclarecido), beneficência, não maleficência e justiça, objetivando
sempre o melhor cuidado dedicado ao paciente.
Vimos que a bioética é essencial na orientação de condutas individuais e coletivas
dentro da ciência e pesquisa, como promotora de conceitos éticos e morais, para garantir a
realização de ações responsáveis, de forma a assegurar a dignidade das diversas relações,
atividades e a avaliação metodológica adequada de pesquisas no campo da saúde. Nesse
contexto, falamos da função e importância dos comitês de ética em pesquisa, bem como,
suas atribuições como órgão responsável na análise dos aspectos metodológicos, da
relevância e exequibilidade dos projetos de pesquisa, de forma a garantir o bem-estar dos
indivíduos, a equidade e a justiça social.
85
Compreendemos ainda, os desafios da bioética diante dos avanços tecnológicos e da
rapidez com que as informações são divulgadas, pois devemos acompanhar estas evoluções
sem nos esquecer dos conceitos e aspectos éticos e da importância do relacionamento
profissional e paciente, pois não se deve abandonar a sua característica fundamental que é
a de cuidar do doente e não só da doença. Assim, a bioética clínica surge nesse contexto,
como uma forma de entender e discutir os avanços da tecnologia com o olhar voltado para o
ser humano em todas as suas características, com valores e total dignidade.
Finalizamos esta disciplina, destacando o significado e importância dos cuidados
paliativos como exemplo de dignidade humana no processo de morrer; pois quando estamos
falando de final da vida, morte e no luto dos familiares, espera-se dos profissionais de
saúde práticas pautadas nos princípios bioéticos para que sejam garantidos os cuidados
adequados, com total empatia e demonstrando um respeito incondicional à vida humana
nesse momento tão delicado.
Agora é com você! Aplique e pratique todo conhecimento conquistado até aqui!
86
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