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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS: NO BRASIL

João Victor Torquato Lisboa Pereira1

Pâmella do Nascimento Silva 2

Vitória Monique Costa da Cunha 3

RESUMO
Este artigo tem como intuito o estudo do intervalo histórico no Brasil a partir de meados do período
do Império até hoje, desta forma, ressaltando a educação de surdos na Europa, Estados Unidos e por
fim no Brasil.
Palavras-chave: Acessibilidade, História. Império. Educação de surdos. Legislação.

1. INTRODUÇÃO
Propomos a história da educação de surdos na Europa e nos Estados Unidos, origem das
principais fontes históricas da região pois foram primeiras sociedades a utilizar a língua de
sinais e a fundar escolas para surdos. Traçamos o delicado fio da conturbada história da
educação de surdos no contexto brasileiro. Começou no meio do império, mais precisamente
em 1857, e continua até hoje. Outrora considerados pessoas de segunda classe,
discriminados e segregados de todas as formas sórdidas, os surdos sobrevivem com sua
língua, cultura e identidade, demonstrando sua competência e poder para decidir sobre a
melhor forma de educação que lhes deve ser oferecida. A casa do imperador Pedro II foi de
grande importância no início da história da educação de surdos em nosso país. Outro aspecto
interessante é a origem da nossa língua de sinais, que tem raízes linguísticas em França e
não em português como a nossa língua falada. Assim é a história da American Sign
Language, conhecida apenas por ter sido trazida para os Estados Unidos por outro professor
surdo. Nosso texto apresenta dois momentos históricos importantes para esse tema. O ano de
1857 foi o centro da história e termina no encontro do passado e do presente. Do passado
associado à educação de surdos na Europa e América aos primeiros dias em solo brasileiro.
E do presente deste ano para hoje, a história apresenta-nos momentos marcantes e dolorosos
cujo património educativo ainda hoje sofre as consequências.

1 Acadêmico pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro


Matrícula: 20200056738
Email: jvlisboa@hotmail.com
1 Acadêmica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Matrícula: 20210014212
Email: pamellanascimentos2@gmail.com
Acadêmica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Matrícula: 20210008494
Email: vitoriacostx@gmail.com

I. EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL


A história da educação de surdos no Brasil tem como seu marco inicial a fundação do INES-
Instituto Nacional de Educação de Surdos fundado em 1857 por Dom Pedro II e pelo Padre surdo
Francês Huet nesta época o instituto recebeu o nome de Instituto Imperial de Surdos-Mudos com o
funcionamento em formato de internato, recebendo surdos de todo o país. Em termos de
comunicação empregados na época, além dos sinais que as crianças surdas já faziam uso, elas
também estavam expostas a língua de sinais francesa e aos sinais métodos usados pelo padre que
por ser francês e educado no Instituto nacional de Surdos-Mudos de Paris trouxe os aprendizados e
compartilhou com os demais.
Na mesma senda, não menos importante, Segundo Strobel (2008,p.89) “deduz-se que o
imperador D. Pedro II se interessou pela educação dos surdos por influência de seu genro, o
Príncipe Luís Gastão de Orléans, (o Conde d’Eu), marido de sua segunda filha, a princesa Isabel,
sendo parcialmente surdo”. Contudo, não se tem confirmação desse fato.

Quanto à legislação de fundação do INES, Dória (1958, p.171) detalha:


[...] quando a Lei nº 839, de 26 de setembro de 1857,
denominou-o ‘Imperial Instituto de Surdos-Mudos’ (...), o artigo 19
do Decreto nº 6.892 de 19-03-1908, mandava considerar-se o dia 26
de setembro como a data de fundação do Instituto, o que foi ratificado
pelos posteriores regulamentos, todos eles aprovados por decretos.
Inclusive o Regimento de 1949, baixado pelo Decreto nº 26.974, de
28-7-49 e o atual, aprovado pelo Decreto nº 38.738, de 30-1-56,
(publ. No DOU.o de 31-1-56), referindo-se à denominação de
‘Instituto Nacional de Surdos Mudos' (...) Tal instituição viu seu nome
modificado recentemente pela Lei nº 3.198, de 6-7-57 (publ. No D.º
de 8-7- 57), para ‘Instituto Nacional de Educação de Surdos’ [...].

Insta ressaltar, a insegurança por parte dos brasileiros em reconhecer Huet como um
pedagógico, visto que o mesmo não era reconhecido como um cidadão, desta forma, afetou
diretamente no número de alunos que buscavam a ele. Diferentemente do professor surdo Laurent
Clerc que foi aos Estados Unidos, que também era surdo e que fazia o mesmo trabalho numa escola
para surdos, como Huet. Ambos eram franceses.
A língua de sinais brasileira assim como a língua de sinais americanas são vistas como
línguas irmãs por terem sofrido influência da linguagem francesa. A partir da formação dos
estudantes meninos surdos do INES cada um deles retornaram a seu lugar de origem levando todo
aprendizado e fazendo com que houvesse a expansão da língua de sinais aprendida na INÊS
oferecendo a disseminação da libras no Brasil.
A língua de sinais no Brasil ainda não era oficial e não era ainda entendida como uma
língua. Paralelamente a esses eventos relativos aos surdos, ocorria o Manifesto dos Educadores
Democratas em Defesa do Ensino Público, de 1959. Os educadores brasileiros mais expressivos
reunidos naquele ano, faziam um manifesto ao povo e ao governo de então, reiterando o primeiro
manifesto de 1932, de modo aberto e democrático. Neste intento, objetivam reivindicar mais
atenção à educação no país, mais luz para a obscura ignorância na sociedade e na política, maior e
melhor formação para os professores, entre outros itens. O manifesto reivindicava uma visão
democrática e cidadã, de valores eternos como a honestidade, a verdade, o respeito, a
responsabilidade
Posteriormente fundou-se no Estado de São Paulo o Instituto Santa Terezinha em 1929 com
o enfoque na linguagem de surdos mas com atendimento único a meninas surdas. Ambos
funcionavam em regime de internato, mas décadas depois ambos as escolas atenderam de todos os
sexos e em diferentes horários, mas com embasamento no método francês, Padrão Hue. Desta
forma, a educação de surdos no Brasil adere ao movimento mundial iniciado pelo congresso de
Milão em 1980, que defendeu que a educação de surdos deveria ter como objetivo o
desenvolvimento da oralidade.
Cita-se algumas conquistas, dentre elas a Lei nº 10.436 – Lei da Libras, é considerada uma
das leis mais importantes para a comunidade surda brasileira. A partir dela, a Língua Brasileira de
Sinais passou a ganhar mais visibilidade no país, sendo desenvolvidas diversas ações com o
objetivo de torná-la cada vez mais acessível. Para saber todos os detalhes sobre essa e demais leis
de fundamental necessidade para os surdos no Brasil, confira nosso conteúdo.
O Decreto nº 5.626 de 22 de Dezembro de 2005 que regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de
abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098,
de 19 de dezembro de 2000.

Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de
professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de
Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o
curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o
curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de
professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.

§ 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais


cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da
publicação deste Decreto.

Desta forma, dispõe sobre a formação de professores de libras e tradutores de libras e


intérpretes de língua portuguesa.

II. A legislação brasileira a partir da Constituição de 1988


A Constituição Federal de 1988 estabeleceu estrutura para a educação de surdos para
que tivesse a eficácia que tem nos dias de hoje. A partir da CF/88, o Brasil formulou uma
educação democrática em todos os âmbitos existentes, seja ela classes sociais ou situações.
A Educação de forma geral, ganhou maior visibilidade em todas as áreas especiais e
principalmente no movimento dos surdos, levando uma participação coletiva, com enfoque
em apoio a estes oferecendo acessibilidade e inclusão não só na teoria mas também na
prática, referindo-se às pessoas com deficiência no geral.
Na Constituição Federal da República de 1988, nos artigos 205 e 208 assim como na
Lei de Diretrizes e Bases, nos artigos 4ª, 58, 59 e 60, garantem às pessoas surdas o direito de
igualdade de oportunidade no processo educacional. Contudo, isso não tem sido uma
realidade nas nossas escolas. A CF/88 proporciona a construção de novas perspectivas,
visando sempre o respeito de todos, assim como os das pessoas com deficiência, sendo
mencionada a lei que trata acerca da educação. A lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000 é
pioneira nas práticas dos direitos das pessoas com deficiência.

III. CONCLUSÃO
No Brasil, em 2002, a Lei 10.436 oficializou a Língua Brasileira de Sinais e instituiu
a presença de um tradutor ou intérprete de línguas em diversos espaços. Quatorze anos
depois, mesmo com a legislação, ainda existem vários déficits no cumprimento do que foi
estabelecido. No entanto, é preciso lembrar que já foi pior ainda.
As pessoas surdas foram recorrentemente excluídas do convívio social durante
séculos. A atitude partia da ideia de que sem a linguagem oral não era desenvolvido o
pensamento, ou seja, quem não escuta não fala e quem não fala não pensa. Sendo assim,
eram privados da educação básica. A ideia se estendia à questão religiosa, para Igreja
Católica os surdos não podiam se salvar por não conseguirem confessar seus pecados.
Mulheres e homens com surdez não podiam receber herança familiar ou se casar.
Só no século XVII que as primeiras escolas de surdos surgiram na Europa, mudando
parcialmente o contexto. No Brasil, ainda demorou mais um tempo. O Imperial Instituto de
Surdos Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), foi fundado em 1857
no Rio de Janeiro. Ao longo da jornada educacional de surdos, três correntes metodológicas
ou filosóficas se destacam, são elas: o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo.
Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SURDOS - APS Origem da Língua Gestual Portuguesa
Associação Portuguesa de Surdos. Disponível em . Acesso em 24 Agosto. 2022. BRASIL.

Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988.

BRASIL Lei 10.436, de 24 de Abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e
dá outras providências.

BRASIL Decreto nº 5.626, de 22 de Dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de


abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098,
de 19 de dezembro de 2000.

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano. 3ª ed. Trad. Ephraim F. Alves. Petrópolis: Vozes,
1998.

DORIA, Ana Rímoli de Faria. Compêndio de Educação da Criança Surdo-Muda. Rio de Janeiro:
1958.

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