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LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) NA EDUCAÇÃO INFANTIL: uma


revisão sistemática da literatura (2001-2021)

Rosângela Lopes Borges1

Resumo: Esta pesquisa tem como tema a Língua Brasileira de Sinais (Libras) presente na Educação
Infantil. Tem-se como objetivo geral investigar os benefícios que a inserção da Língua Brasileira de
Sinais, ainda na Educação Infantil, pode trazer para a inclusão socioeducacional dos surdos. Para tal,
utilizou-se como metodologia uma pesquisa bibliográfica, realizada por meio de uma revisão sistemática
da literatura feito no Portal Google Acadêmico. Fez-se uso dos descritores “Libras” e “Educação Infantil”,
selecionando textos mais atuais e que se enquadravam na temática e no objetivo desta pesquisa.
Selecionou-se oito textos, sendo quatro deles de 2021. Após a leitura e análise desses textos, chegou-se
à conclusão de que a Libras, na Educação Infantil, é um direito de todos (ouvintes e surdos). Sua
inserção no meio escolar diminui diferenças e promove a inclusão educacional, consequentemente, o
respeito com a língua dessa classe minoritária, que é a Comunidade Surda.

Palavras-chave: Libras. Língua Brasileira de Sinais. Educação Infantil.

Abstract: this research has as its theme the Brazilian Sign Language (BSL) present in early childhood
education. the general objective is to investigate the benefits that the inclusion of Brazilian Sign Language,
even in early childhood education, can bring to the socio-educational inclusion of the deaf. to this end, a
bibliographic research was used as a methodology, carried out through a systematic literature review
carried out on the academic google portal. the descriptors “libras” and “Educação Infantil” were used,
selecting the most current texts that fit the theme and objective of this research. eight texts were selected,
four of them from 2021. after reading and analyzing these texts, it was concluded that libras, in early
childhood education, is a right for everyone (hearing and deaf). their inclusion in the school environment
reduces differences and promotes educational inclusion, consequently, respect for the language of this
minority class, which is the deaf community.

keywords: Libras. Brazilian Sign Language. Child education.

1 INTRODUÇÃO

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida por lei como a língua oficial
da comunidade surda. Por isso, os alunos surdos têm o direito de ter um intérprete
dentro de sala de aula fazendo a tradução/interpretação o tempo todo. Para além disso,

1
Mestra em Educação Profissional Tecnológica pelo Instituto Federal Goiano (IFGOIANO, 2019),
Graduada em Letras (UEG, 2006) e Pedagogia (ALFAMÉRICA, 2020), pós-graduada em: Educação
Especial (APOGEU, 2010); Psicopedagogia Clínico e Institucional (UNINTER, 2017); Educação a
Distância (ALFAMÉRICA, 2020) e Português Jurídico (ALFAMÉRICA, 2020). Formou-se como Intérprete
de LIBRAS pela Associação de Surdos de Goiânia (ASG, 2011). Atua como professora universitária em
instituições de ensino superior privadas na cidade de Caldas Novas/GO. E-mail:
rosangelalopes@atca.com.br
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estudiosos defendem sua inserção como conteúdo curricular em todas as modalidades


do ensino básico, inclusive na Educação Infantil.
Apesar da Libras ter sido reconhecida como a língua oficial dos surdos, há ainda
muito pré-conceito (e preconceito) envolvendo seu uso e seus usuários. O mais visível
dele é o aluno surdo ser inserido no ensino regular oralizado (falado), estar em um
ambiente que limita sua comunicação com professores e colegas, precisar dos serviços
de um intérprete o tempo todo, estando em seu próprio país de origem.
Levantamos como hipóteses que a temática da Libras na Educação Infantil não
seja muito discutida no meio acadêmico-científico, e por isso, haja uma carência de
literatura nessa área. Além disso, inferimos que os textos que encontrarmos serão
defensores do uso da língua ainda na infância para divulga-la de forma mais ampla,
proporcionar inclusão para os surdos e permitir que os ouvintes estejam em contato
direto com a Libras desde criança, diminuindo assim, o preconceito sofrido por essas
pessoas.
Esta pesquisa tem como objetivo geral investigar os benefícios que a inserção da
Língua Brasileira de Sinais, ainda na Educação Infantil, pode trazer para a inclusão
socioeducacional dos surdos. Como objetivos específicos temos: a) selecionar textos
que abordam sobre a Libras na Educação Infantil; b) identificar os enfoques dados
pelos autores quando escrevem sobre essa temática; c) entender como deve se dá
inserção da Libras, ainda na infância.
Acreditamos que discutir sobre a inserção da Libras na Educação Infantil é
proporcionar mais inclusão às pessoas que são surdas. Por isso, a temática é de
relevância educacional implicando na inclusão dos alunos surdos em toda a educação
básica; e um valor social, pois colabora com a inclusão desse indivíduo como um todo
na sociedade.
A metodologia utilizada para esta pesquisa é a pesquisa bibliográfica, realizada
por meio de uma revisão sistemática da literatura. Trata-se, portanto, de um apanhado
geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem
capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema (LAKATOS;
MARCONI, 2003). Para isso, utilizamos o Google Acadêmico como meio de pesquisa, e
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filtramos apenas artigos científicos mais atuais e que se enquadravam mais na temática
aqui debatida.
A metodologia estabelecida para a análise e discussão dos dados embasou-se
na Análise de Conteúdo de Bardin (2016). Sendo realizada em três etapas principais: a)
selecionar a amostra do material para a análise; b) estabelecer a unidade de análise, c)
determinar as categorias de análises, d) analisar e comparar as categorias de cada
texto. Também foram utilizados os principais itens para relatar Revisões Sistemáticas
de Moher et al. (2015). Tais recomendações são do PRISMA (Principais Itens para
Relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises) e o organograma e quadros
construídos, na seção posterior, foram produzidos com base nos 27 itens sugeridos
neste documento.

2 LIBRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM AS PESQUISAS?

Para realizar nosso levantamento da literatura utilizamos a Plataforma Google


Acadêmico por ter um mecanismo que é focado no setor de ensino; conter uma forma
simples de pesquisar; apresentar uma variedade de disciplinas e fontes; por
disponibilizar publicações de várias revistas e bancos de dados de universidades de
todo o Brasil, além daqueles de acessos públicos como o Scielo, o Wiley e o Altametric.
Selecionamos como descritores para a nossa pesquisa as palavras “libras” e
“educação infantil”. Tais descritores foram utilizados em letras minúsculas, entre aspas
e separados por “&”. O primeiro resultado nos deu 16.800 textos.
Aplicamos esses dois termos no mecanismo virtual de pesquisa Google Acadêmico,
filtramos para pesquisas mais atuais, levando em consideração as datas de
reconhecimento da Libras como língua (BRASIL, 2002), do seu Decreto (BRASIL, 2005)
e da regulamentação da profissão do intérprete de Libras (BRASIL, 2012).
Estabelecemos, portanto, um recorte temporal de 2001 a 2021 e o número de texto caiu
para 14.801.
Depois, filtramos por “relevância”, estabelecemos somente textos em “Português” e
optamos apenas por “artigos de revisão”. Fizemos uma seleção inicial de artigos
científicos (completos) publicados em revistas, eliminando assim resumos, resumos
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expandidos, textos de eventos, livros, dissertações e teses. Dessa forma, conseguimos


diminuir consideravelmente a quantidade dos textos, restando 135 documentos.
Na sequência, fizemos uma seleção pela leitura do “título” e do “resumo” dos
artigos selecionados, eliminando aqueles títulos que não se enquadravam no foco da
nossa pesquisa. Como exemplo, foram eliminados textos que abordavam sobre:
intérpretes de língua de sinais, a postura do professor regular, música em libras,
práticas pedagógicas, ludicidade e surdez, etc. Nesse caso, restaram 26 textos.
Depois de selecionados os textos, partimos para uma leitura aprofundada do
restante do texto. Dessa forma, após a leitura dos 26 textos, conseguimos afunilar
ainda mais a quantidade de artigos. Separamos oito textos que estavam mais alinhados
com a temática e o objetivo dessa pesquisa. Vejamos o organograma da revisão
sistemática, com base

Figura 1 – Resumo da Revisão Sistemática e critérios de inclusão e exclusão

16.800 Descritores

14.801
Recorte Temporal
2001 a 2021

135
Relevância
Português
Artigos Completos

26
Título
Resumo
Temática

8 Leitura densa e análise textual completa

Fonte: Organizado pela Autora (2021).

Foram selecionados quatro textos de 2021, um de 2016, um de 2013, um de 2012,


um de 2001. Dentre eles, um é capítulo de livro, um foi publicado em Anais de eventos,
quatro em revistas, um em jornal, e o último disponibilizado Repositório Politécnico de
Lisboa. Vejamos no Quadro 1 a relação desses textos:

Quadro 1: Relação dos textos selecionados para esta pesquisa


Nº TÍTULO Fonte AUTOR ANO
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Capítulo de Karnopp e
1 Educação Infantil para Surdos 2001
livro Quadros
Prática bilíngue na Educação Infantil: Libras e
2 Klein 2012
Português - reflexões de uma prática Anais
O Ensino da Língua Brasileira de Sinais na Educação
Marques,
Infantil para crianças ouvintes e surdas:
3 Rev. Bras. Ed. Barroco e 2013
considerações com base na Psicologia Histórico-
Esp Silva
Cultural
Formação de Docentes de Libras para a Educação
Revista
4 Infantil e séries iniciais: a pedagogia numa Leite 2016
Diálogos
perspectiva bilíngue
Revista
Fonseca e
5 Aquisição de Libras na Educação Infantil Faculdade 2021
Araújo
FAMEN
Revista de
O Desenvolvimento do Ensino e aprendizagem da Estudos em
6 Máximo 2021
Libras para Crianças Surdas de 4 a 5 Anos Educação -
REEDUC
A importância do ensino da Língua Brasileira de Brazilian
Azevedo e
7 Sinais - (LIBRAS) para educação infantil e formação Journal of 2021
Alencar
dos professores das séries iniciais Development
IPL -
O ensino da Língua Brasileira de Sinais na Educação Repositório Ramos e
8 2021
Infantil: caminhos para o uso e difusão Politécnico de Alves
Lisboa
Fonte: Organizado pela Autora (2021).

O primeiro texto, trata-se de autores de renome nas pesquisas sobre Língua


Brasileira de Sinais. Ronice Muller de Quadros é pesquisadora da área de Libras e
Educação de Surdos e, também, é uma CODA 2. A autora defende que os direitos
linguísticos das crianças surdas devem ser respeitados em qualquer situação, incluindo
dentro das escolas infantis.
Karnopp e Quadros (2001) descrevem em seu texto as fases da aquisição da
linguagem para uma criança surda. As autoras explicam que assim como um ouvinte, a
linguagem surge naturalmente seguindo as seguintes fases: período pré-linguístico (do
nascimento aos primeiros sinais); estágio de um sinal (dos 12 meses a 2 anos),
estágios das primeiras combinações (dos 2 anos à primeira combinação de sinais),
estágios das múltiplas combinações (dos 2 anos até a “explosão do vocabulário”).
As autoras defendem que se a criança chega à escola sem língua, é fundamental
que o trabalho seja direcionado para a retomada do processo de aquisição dessa
linguagem visual-espacial. Para isso, elas sugerem quatro tipos de atividades que

2
Sigla referente a expressão “Child of deaf adult” refere-se a uma pessoa que foi criada por um ou mais
pais ou responsáveis surdos.
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podem ser realizadas com as crianças surdas na Educação Infantil: aquisição da


linguagem e internalização das culturas e identidades surdas (brincadeiras, jogos e
atividades em sinais); acesso aos aspectos formais da língua de sinais de forma
implícita (morfologia, sintaxe e semântica); acesso às diferentes funções e usos da
linguagem (poesias, músicas, palestras); acesso à arte da língua de sinais (produzir e
relatar em Libras).
Notamos, portanto, que é necessário que as crianças adquiram a língua de sinais
ainda na infância e que ela seja trabalhada dentro da Educação Infantil. Kein (2012)
relata sua experiência de receber uma criança surda na Educação Infantil e do desafio
que foi pesquisar sobre novas metodologias, bem como, adaptar o ambiente para a
recepção e acolhimento da nova aluna.
Para Kein (2012 p. 06), o segundo texto do Quadro 1, se resume da seguinte forma
“A educação bilíngue não se dá com um professor sem formação específica, sem
inserir o aluno em sua cultura. Não basta uma metodologia diferenciada, é necessária
outra LÍNGUA!”. Esta frase nos faz refletir sobre a formação inicial e continuada dos
professores da Educação Infantil quanto à sua capacidade de entender a pessoa surda
como alguém que tem direito de se comunicar e ser entendido na sua língua.
O terceiro texto do Quadro 1 tem uma abordagem mais ampla. Marques, Barroco e
Silva (2013) focam na Libras como um recurso para a inclusão e mediação entre
crianças ouvintes e surdas. As autoras entendem que “[...] o ensino de Libras pode
favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento de crianças surdas e ouvintes,
permitindo, sobretudo, àquelas multiplicar o número de interlocutores” (p. 503). Ou seja,
nessa inclusão tanto ouvintes quanto surdos ganham tendo trocas linguísticas efetivas
e a descoberta de um novo universo cultural.
As autoras supracitadas reconhecer que a Libras, presente nos espaços da
educação infantil, não deve ser vista como um privilégio, todavia deve-se constituir
como um conteúdo fundamental ao surdo e um “elemento agregador” (p. 503) ao
ouvinte. Porquanto, podemos compreender que a linguagem, no caso a Libras, é
necessária para o desenvolvimento integral humano.
Leite (2016), quarto texto do Quadro 1, foca na formação dos docentes, e nos
dispositivos legais para a sua regulamentação, para se trabalhar Libras na Educação
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Infantil. Por meio de revisão bibliográfica, análise comparativa entre a legislação e


currículos de cursos de Pedagogia a autora chegou à conclusão que apenas a
disciplina de Libras nos cursos de Pedagogia não é suficiente para preparar um
professor sendo necessário, portanto “[...] a criação do curso de Pedagogia bilíngue” (p.
91).
A autora explica que o pedagogo bilíngue seria um profissional fluente em Libras
e em Língua Portuguesa. Ele teria a responsabilidade de alfabetizar os alunos surdos.
Nesse sentido, atuaria nas escolas especializadas, centros de apoio, associações de
surdos, escola bilíngues, Salas de Recurso Multifuncional (SRM), e Atendimento
Educacional Especializado (AEE).
No quinto texto do Quadro 1, Fonseca e Araújo (2021, p. 111) explicitam que é
preciso priorizar a Libras ainda na infância e que essas propostas devem estar
descritas nos documentos legais das instituições:

De maneira que as escolas invistam em projetos educacionais que priorizem o


ensino das LIBRAS para todas as crianças, ouvinte e surdas, e que esse aluno
se aproprie e se familiarize desde cedo, no intuito de construir possibilidades de
interação por meio de um ensino de qualidade e com foco na humanização e no
desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas para além da oralidade.
Por meio dessas ações e da formalização e inclusão delas nos PPP’s das
escolas, é que a educação inclusiva se torna uma realidade bilateral; para
surdos e ouvintes, sem distinções ou barreiras.

Entendemos, portanto, que a construção de uma escola inclusiva, desde a


Educação Infantil, implica em pensar: no tempo, nos profissionais, e principalmente, nos
recursos pedagógicos. Partindo do pressuposto de que toda criança tem eficiência e
deficiência, em sua forma de se relacionar com o mundo, conclui-se que é preciso
promover mudanças que alcancem o máximo de alunos possíveis.
Máximo (2021), o sexto texto do Quadro 1, reforça o que já foi dito aqui por outros
autores e acrescenta que o ensino de crianças surdas, na Educação Infantil, deve ser
de forma lúdica. Para o autor, deve-se associar o abstrato ao concreto, durante as
brincadeiras e jogos, fazendo uso da língua de sinais. Além disso, o Atendimento
Educacional Especializado (AEE), nessa fase é extremamente importante.
Os profissionais, para ofertar esses serviços, devem estar preparados. Para isso,
sua formação deve ser frequente e continuada “[...] para que processo de ensino e
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aprendizagem ganhe mais respaldo e tragam novas ideias para esses alunos que
necessitam de inclusão” (MÁXIMO, 2021, p. 224).
O sétimo texto do Quadro 1, também aborda questões relacionadas à formação dos
professores para trabalhar com alunos surdos na Educação Infantil. Azevedo e Alencar
(2021) relatam que “Hoje dentro das escolas muitos professores por não serem
capacitados para atender as especificidades dos alunos surdos, passam a ignorá-lo” (p.
5658). Mesmo com a presença do intérprete é que preciso que o professor tenha um
conhecimento amplo sobre a pessoa dos surdos, sua cultura, sua identidade e sua
língua para atendê-lo de maneira adequada e legal.
A sociedade atual, para os autores supracitados, não valoriza as classes
minoritárias (no caso, os surdos), e com isso, surgem as desigualdades e os
preconceitos. E para mitigar esses resquícios de uma história de sofrimento, que a
Comunidade Surda, vem suportando é preciso que se ofereça uma educação de
qualidade, com direitos de aprendizagem iguais.
Ramos e Alves (2021), o último texto do Quadro 1, realizou uma pesquisa, na
rede municipal de educação de São Gonçalo/RJ. Motivados pela professora/intérprete
da Sala de Recursos Multifuncionais, os autores selecionaram os alunos de 04 e 05
anos que estavam matriculadas no Pré-Escolar I e II. A ideia foi realizar um trabalho de
ensino de Libras, como segunda língua, para crianças ouvintes.
Os pesquisadores partiram do pressuposto de que as crianças ouvintes não
possuem garantido o direito de serem bilíngues e comunicarem-se com as pessoas
surdas. Com isso, inseriram uma (1) hora de aula semanal de Libras (totalmente
sinalizada) para essa turma de 15 alunos. Para isso, utilizaram atividades lúdicas,
narrativas e contação de histórias.
Ao final desse projeto, foi proposta uma feira de alimentação. Nela os alunos
simulavam a venda de alimentos para as outras crianças, e na oportunidade,
ensinávamos os sinais dos alimentos em Libras. Compreendemos com essa pesquisa
que há a necessidade de se repensar as práticas pedagógicas utilizadas em sala para
promover a inclusão. Nesse contexto, elas devem objetivar a construção de uma
sociedade que não seja exclusivamente ouvinte.
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Podemos notar que há várias abordagens da Libras na Educação Infantil nos


textos analisados. Com a leitura deles conseguimos entender que a Libras e um direito
linguístico dos surdos, um recurso valioso para a inclusão e mediação que deve ser
ofertada também para ouvintes; a educação bilíngue é uma obrigação das instituições;
os professores devem ser capacitados, reconhecendo a cultura, a identidade e a língua
dos surdos, e serem estabelecidos dispositivos legais mais específicos para a
regulamentação de sua formação inicial e continuada; fazer uso de práticas
pedagógicas lúdicas adequadas ao processo de ensino e aprendizagem dos estudantes
com surdez; deve ser ofertado o AEE ainda na Educação Infantil oferecendo a língua
portuguesa escrita e a Libras como primeira língua para essas crianças.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos dizer que a temática da Libras não seja mais novidade, ainda mais se
levarmos em consideração o ano de seu reconhecimento, em âmbito nacional.
Entretanto, no meio educacional, parece haver ainda certa resistência das escolas e
docentes em compreender que se trata da segunda língua brasileira e não apenas um
código linguístico utilizado por pessoas surdas.
Inicialmente levantamos a hipótese de que a temática da Libras na Educação
Infantil não seria muito discutida no meio acadêmico-científico e que haveria uma
carência na literatura, nessa área. Não localizamos tal “carência”, ao contrário disso,
encontramos uma quantidade substancial de textos que abordam essa temática e
outras correlatas a ela. Compreendemos, portanto, que a ausência da Libras nas
escolas infantis não está necessariamente ligada à falta de literatura e pesquisas a
respeito.
Outra hipótese levantada foi a de que encontraríamos, no levantamento da
literatura, textos defensores do uso da língua ainda na infância. Essa hipótese foi
confirmada, todos os textos lidos, defendiam que as crianças surdas deveriam ser
apresentadas à Libras, ainda na infância, e que essa língua deveria ser ofertada de
modo mais efetivo nas escolas.
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Nossos objetivos levantados foram todos alcançados, conseguimos: selecionar


os textos, identificar os enfoques, e entender como se dá a inserção da Libras na
Educação Infantil. Concluímos que os benefícios da inclusão da Língua Brasileira de
Sinais, ainda na Educação Infantil, abrangem não somente os surdos, mas também os
ouvintes. Além disso, entendemos que para a inclusão socioeducacional dos surdos é
preciso que haja preparação dos professores regentes dessa modalidade de ensino.
Sugerimos que ao reproduzir esta pesquisa, os futuros pesquisadores ampliem-
na para que sejam selecionados mais textos. Acreditamos que acrescentar
dissertações de mestrado e teses de doutorado agregaria valor científico a esta
pesquisa e poderia nos dar uma visão mais ampla do assunto.

4 REFERÊNCIAS

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da Língua Brasileira de Sinais - (LIBRAS) para Educação Infantil e formação dos
professores das séries iniciais. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.1,
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18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União: 23.12.2005.

______. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de


Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Diário Oficial da União:
2.9.2010

FONSECA, Suely Ferreira do Nascimento; ARAÚJO, Rummenigge Medeiros de.


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11

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