“O CONHECIMENTO HISTÓRICO AJUDA NA COMPREENSÃO DA RAÇA HUMANA ENQUANTO SER QUE CONSTRÓI SEU TEMPO” MARC BLOCK
A educação traz consigo sua historicidade. Desde o início da humanidade o homem se educa de alguma forma. As tendencias educacionais também caminhou com o momento histórico no Brasil. Por aqui antes da chegada dos colonizadores, os indígenas já se organizavam como sociedade, com educação difusa, voltada principalmente para aspectos da sobrevivência do dia a dia e a educação era transmitida de forma oral e por imitação. Atividades como caça e pesca, fabricação de utensílios de cerâmica e cerimônias especiais eram essenciais nas vidas destes povos e a manutenção destes elementos até os dias de hoje comprovam a importância da educação como aspecto fundamental destas sociedades. Podemos dizer que a educação formal brasileira iniciou no período do Brasil Colônia, com a chegada dos jesuítas, em 1549. Eles defendiam que por meio da educação é que se integraria os indígenas à sociedade. Foram eles que construíram as primeiras escolas formais aqui no Brasil, criaram uma transcrição da língua tupi para aprender a se comunicar e conservar as lendas locais. Mas tinham como foco principal a catequização dos indígenas. Essa Era Jesuíta se deu até o ano de 1759, quando os colonos viram o modelo educacional Jesuítas como um processo lento e ineficaz, pois esses visavam lucro com a terra, e queriam o lucro rápido. Então, achavam que o tempo em que os indígenas passavam estudando, era menos trabalho feito e, consequentemente, prejuízo econômico. E por achar que o modelo Jesuítico atrasava o progresso econômico e afetava o monopólio da coroa, em 1759 o Marquês de Pombal expulsou os Jesuítas, dando início a implantação de um novo modelo educacional no Brasil, com suas famosas “aulas régias”. Enquanto a Metrópole estava buscando construir um sistema educacional moderno e público, a colônia se afundava e desmanchava a sólida estrutura educacional construída pelos jesuítas. Apesar disso, as aulas régias instituídas por Pombal constituíram a primeira experiência de ensino promovido pelo Estado na história brasileira. A educação, a partir de então, passou a ser uma questão de Estado. Com a chegada da família Real no Brasil, em 1808, a educação passa por uma nova reforma, um novo rumo. O então Principe Regente D. João VI, para atender a necessidade do Império português e da nova capital, reabriu a academia militar, criou duas escolas de medicinas e também a imprensa oficial (Régis), essa impressa criou o primeiro jornal impresso do Brasil. Essas e outras ações mudaram a condição educacional e cultural do Brasil. O surgimento da imprensa por exemplo, permitiu que ideias e fatos fossem compartilhados e divulgados, mas não podemos nos enganar e achar que essa era a tão sonhada democratização educacional, pois apenas a população letrada tinha acesso a essas informações, e esses eram poucos. Sendo assim, não foi possível consolidar um sistema educacional sólido, a educação ainda era de importância secundária e não existiam universidades por aqui. Mas com a abertura dos portos, os brasileiros deslumbraram e enxergaram um novo mundo, novas oportunidades e descobriram que existia outras sociedades, culturas e formas de educação. Em 1822 iniciando o Período Imperial e com a independência do Brasil, D. Pedro I outorga a primeira Constituição brasileira, onde o Art. 179 desta Lei Magna dizia que a “instrução primária é gratuita para todos os cidadãos”. O ensino no período Imperial foi organizado em três níveis: primário, secundário e superior. O primário era somente para ensinar a ler e escrever, o secundário se manteve nas aulas régias e o ensino superior voltado para as elites. O que era para se constituir em avanço, acabou por manter os mesmos objetivos do período colonial, ou seja, o de uma estrutura e organização escolar voltado para atender os interesses das elites. Passeando pela história, em uma República já proclamada, a educação teve influência da filosofia positivista, com a Reforma de Benjamim Constant, que tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino. Onde uma das intenções dessa reforma, era substituir a predominância literária pela científica. Também nesse período, houve a Reforma Rivadávia Correa, de 1911 e na década de vinte a Reforma João Luiz Alves, que foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de mudança tanto das características políticas, quando educacionais brasileira. Já na década de 30, com o Brasil mergulhando na onda capitalista, investindo no mercado interno e na produção industrial, houve a exigência de mão de obra qualificada, o que fez com que fosse preciso investir em educação. Criou a partir daí o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sancionou decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como “Reforma Francisco Campos”. Nessa época também nasceu o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assim como a nova Constituição (a segunda da República) dispondo, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. Também nessa década foi criada a Universidade de São Paulo, a primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931. E não menos importante, tínhamos Anísio Teixeira como secretário de educação do Distrito Federal, e foi ele que, em 1935 criou a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro. Avançando na história, vamos nos encontrar com o chamado Estado Novo, ou com a Era Vargas, onde a educação enfatizou o ensino pré-vocacional e profissional. Há quem diga que esse disparato sistema educacional foi piramidal, pois o sistema capitalista deixou mais uma vez explicito seus interesses, inclusive na educação, separar as classes. Colocou no topo o ensino vocacional, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas. A educação, dentre outros meios, foi sim uma forma de propaganda e de afirmação de um regime, conhecido como a “Era Vargas”. Mas olhando com os olhos da bondade e retirando os julgamentos ideológicos, pode-se dizer que ao menos, não foi uma total desgraça, foram colhidos frutos bons. Foi mantida a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário (1ª a 4ª séries), foram criadas algumas entidades, autarquias, agremiações e instituições, além de algumas mudanças na legislação educacional. São dessa época a União Nacional dos Estudantes (UNE) , o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). E foi durante a Era Vargas que teve início o debate sobre a educação para desenvolver um anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases. Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua idéia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953, a educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura; em 1961, tem início uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos. Nosso Sistema educacional parecia que estava caminhando pra um futuro educacional mais evoluído, sólido e talvez mais justo. Mas nosso povo se deparou com um golpe militar. E todas as promessas, planos e esperança de um futuro mais digno, se viu diante de um regime militar opressor, que mandou prender professores, condenou as artistas, fechou universidades, sob o pretexto de que as propostas eram “comunizantes e subversivas”. E foi nesse periodo cruel que a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Brasileira foi instituída. Com o fim do Regime militar e uma Nova República, as questões educacionais perderam o sentido pedagógicos e assumiram sua face politica. Se caminharmos mais um pouco na historicidade da educação, vamos encontrar o trabalho do economista e ex-ministro da educação Paulo Renato de Souza, que tornou o Conselho Nacional de Educação menos burocrático e mais político, executando diversos projetos na area educacional, como a Universalização do acesso no Ensino Fundamental, o ENEM e o SAEB. Souza foi ministro no governo Henrique Cardoso. Como em todos os momentos da história, os reflexos do que a sociedade vivia ditou as tendencias educacionais, e não foi diferente com a tecnologia. Essa Era tecnológica deu um novo sentido e e revolucionou a educação. Instituições de ensino passaram gradualmente a adotar laboratórios de informática, a internet tornou o acesso ao conhecimento mais rápido do que as bibliotecas permitiam e a modalidade EaD avançou e se expandiu. O que parecia no primeiro momento algo impossível, nos alcançou, a tecnologia controlando o mundo, ditando tendências e fazendo o sistema educacional passar por mais uma grande reforma. A Internet vem revolucionado as instituições escolares, passando a focar o processo de ensino e aprendizagem em habilidades requeridas pelo mercado dos dias atuais, entre elas empreendedorismo, matemática, lógica e conhecimentos digitais. O formato de sala de aula começa a ser revisto, e muitos modelos são configurados para que o aluno saia do papel de observador e passe a ter função colaborativa ou até protagonista dentro do próprio ensino. Sendo assim, caminho para o fim desse passeio pela história da educação Brasileira. Me fazendo lembrar que: pra chegarmos a viver o que vivemos hoje, nossa educação passou por grandes reformas, avanços; viveu períodos memoráveis e também obscuros. Claro que nossa educação hoje não é a mais excelente do mundo, e, diga-se de passagem, está longe de ser, mas rompemos inúmeros desafios. Não podemos anular e desfazer dos esforços dos que vieram antes, dos que abriram caminhos e que lutaram para que a educação não perecesse. Se chegamos até aqui é porque houve esforços de muitos, para transferir o saber e o conhecimento. Termino dizendo: Seja oral, escrita ou por vivência, enquanto um educador se mantiver de pé e houver alguém disposto a aprender, a educação brasileira irá resistir!