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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO - CE
CURSO DE PEDAGOGIA – DIURNO

Profº. Drº. Jorge Luiz da Cunha


Disciplina: História da Educação Brasileira A
Acadêmica: Manuela Aparecida Andrade da Silva
Turma: 11

Memorial

Este memorial tem como intuito sintetizar os conhecimentos acerca da


História da Educação brasileira, assunto esse que foi discutido e apresentado
durante o semestre, desse modo, irá descrever e pontuar alguns momentos
marcantes para a história da educação no Brasil.
Dessa maneira, é necessário realizar uma linha cronológica para
compreender todos os acontecimentos que culminaram na visão de educação
brasileira que temos atualmente, assim, ao regressar na história do país e refletir
sobre o momento em que o Brasil era uma colônia de Portugal, período de 1500 -
1822, em que os responsáveis pela educação no Brasil colônia eram os padres
jesuítas, que a priori tinham como objetivo de ensinar a fé católica para os indígenas
- de modo a “civilizar os exóticos” - mas logo depois, passaram a ensinar os filhos
da elite brasileira, constituindo dessa forma o ensino de elite, instrução totalmente
diferente da ofertada para os nativos.
Ao analisar esse cenário, é perceptível a discrepância entre os ensinos, uma
vez que ao ensinar os indígenas o objetivo era “controlar” e impor a cultura
europeia, enquanto, o ensino para os filhos da aristocracia brasileira tinha o
propósito de preparar esses jovens para o ensino superior fora do Brasil,
normalmente realizados em Coimbra. Essa dualidade perdurou por muito tempo no
contexto educacional do país e acredito que, infelizmente, ainda perdura, pois, ao
ponderarmos as dificuldades que o ensino público vem passando, percebemos a
desigualdade entre a educação pública e a privada.
Foi no Brasil Império (período de 1822 - 1888), que as primeiras tentativas de
se pensar a organização da educação nacional surgiram. Nesse período, a partir da
Assembleia Constituinte Legislativa, foi discutida e aprovada a primeira lei acerca da
instrução pública nacional do Império, assim, a “instrução primária é gratuita para
todos os cidadãos”.
Entretanto, o “para todos os cidadãos” na prática não era realmente assim,
pois, não incluía os negros e indígenas, que na época não eram vistos como
cidadãos. Isto me faz questionar mais a frente a ideia de democracia que vamos
debater no período de redemocratização do Brasil, logo depois da Ditadura Militar.
Mas, retornando para a época do Brasil Império, foi também nesse tempo que o Ato
Adicional de 1834 delimitou que “o Estado ficaria responsável pela educação
primária e o governo central pelo ensino superior”, desse modo, descentralizando a
responsabilidade educacional. Com isso, “surgiu a primeira escola normal do país,
em Niterói.” Vale pontuar/relembrar que o ensino superior brasileiro surgiu ainda no
Brasil Colônia, pois, com o desenvolvimento colonial e a decadência metropolitana,
o país teve um desenvolvimento econômico e social que culminou em um avanço
cultural e educacional, assim, os primeiros cursos superiores no país foram criados
no Rio de Janeiro em 1808 com a Academia Real da Marinha e em 1810 com a
Academia Real Militar.
É notório que ocorrem diversas mudanças no campo educacional brasileiro,
entre o Brasil Colônia e o Brasil Império, mas foi nos anos de 1930 a 1960 que as
transformações nas esferas econômica e social impactaram a educação brasileira.
Assim, de modo a contextualizar o momento que o país estava passando, os anos
de 1930 a 1960 foi marcado pela “transição da economia agrário - exportadora para
uma economia fundamentada na indústria” e com a Revolução de 1930 houve uma
“ruptura da sociedade agrária tradicional, por uma sociedade urbano - industrial”.
Com o surgimento do capitalismo e a industrialização, foi necessário a
disponibilidade de mão de obra e de consumidores, de modo que, para ter
trabalhadores era preciso que eles soubessem ler e escrever, requisito esse que
destacou o analfabetismo presente na sociedade brasileira. Logo, era imprescindível
que esse problema fosse solucionado. Mas quando perceberam que era importante
dar atenção para a educação no país e ofertar uma educação gratuita e pública para
as camadas menos favorecidas da sociedade brasileira, houve o embate entre “os
renovadores e/ou progressistas versus os conservadores tradicionais”. Pois, como
ainda é hoje, o letramento e o acesso ao conhecimento por parte das classes mais
baixas é uma ameaça para a dominância da elite. Por isso, que a ideia de que a
“universidade não é para todos” ainda persiste na atualidade brasileira, porque o
pobre não pode, ou não deveria, chegar ao nível superior, segundo esse
pensamento.
O perigo representado pela escola pública gratuita consistia no risco
de esvaziamento das escolas privadas, mas consistia sobretudo no
risco de extensão da educação escolarizada a todas as camadas,
com evidente ameaça para os privilégios até então assegurados às
elites.(Romanelli, 1998, p.144 apud QUADROS, 2010, p. 45)
É a partir dessas discordâncias no âmbito educacional que alguns manifestos
foram realizados, sendo eles: o manifesto de 1932 e o de 1959. Com isso, ficou
evidente a pressão que os educadores fizeram para discutir sobre a “importância e a
gravidade da educação brasileira” e diante disso, defender a educação pública e
gratuita. Foi diante desse cenário, que no ano de 1961 a primeira Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) adveio, Lei nº 4.024/61.
Mas, o que chama a atenção é que mesmo o ensino saindo de uma visão
tradicional e de moral religiosa, ele acabou caindo em uma concepção tecnicista e
de instrução, o que para nós, futuros(as) educadores(as), não é visto como algo
benéfico, por não visar o pensamento crítico. Entretanto, para o momento estudado,
foi um avanço.
A partir da leitura da Unidade 3 do texto “História e organização da educação
brasileira”, é exposto a educação brasileira no estado militar, sendo esse período de
1964 a 1985. Este momento, que é marcado por uma grande repressão, afetou
fortemente o contexto educacional, pois, na época, a educação era baseada no não
- diálogo - o que vai contra a pedagogia libertadora de Paulo Freire, que visa o
diálogo e a consciência crítica. “Educação um ato político capaz de construir sujeitos
autônomos e livres” (Paulo Freire, ) -, houve um "boom" nos índices de repetência e
de evasão escolar, além de escolas com “deficiência de recursos, de materiais,
professores mal remunerados” e uma elevada taxa de analfabetismo. A opressão
naquela época foi tão acentuada que em 1969 foi sancionado o Decreto - lei n° 477
que proibia os professores, alunos e funcionários da educação a se manifestarem
politicamente acerca dos acontecimentos. Foi nesse período que surgiram alguns
movimentos de educação popular, sendo eles: o Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL) e a Cruzada de Ação Básica Cristã (Cruzada ABC).
Ressalta-se que Paulo Freire estava bastante envolvido com o Mobral e era visto
como perigoso por conta de suas ideias, por isso, foi perseguido e exilado no
período militar.
Ademais, como já foi dito, nos anos de 1964 a 1985 ocorrem várias
mudanças significativas para a educação brasileira, sendo elas:
- A Reforma tecnicista;
- A LDBEN 5692/71, que acentuou a privatização e a profissionalização do
ensino;
- A Reforma Universitária, que delimitou que a universidade perderia parte da
sua autonomia. Vale destacar a parte em que é discorrido que o governo possuía
controle em algumas decisões como a seleção e nomeação de pessoal. Ação essa
que, infelizmente, vemos acontecendo no governo atual, sendo que nos dias atuais
vivemos em uma democracia e depois da Constituição de 1988 nos é garantida a
autonomia das universidade;
- O vestibular se torna unificado e classificatório.
Além disso, foi nesse período que ocorreu a Reforma do Ensino Fundamental
e do Ensino Médio a partir da lei n° 5. 692/71, que foi uma mudança muito bem
recebida pelos professores. Nessa reforma o antigo 1º grau viraria o Ensino
Fundamental e o 2º grau passaria a ser o Ensino Médio. Com a reforma, a
obrigatoriedade escolar passou de 4 para 8 anos, ademais, também foi criado o
ensino supletivo, que permanece na atual LDB 9394/96.
Em seguida, logo no início da Unidade 4 do texto “História e Organização da
Educação Brasileira”, onde fala sobre o processo de redemocratização, lembrei do
que Paulo Freire debate em seu livro “Educação como prática da liberdade”, onde o
patrono da educação brasileira discorre que o Brasil tinha uma “inexperiência
democrática enraizada em verdadeiros complexos culturais'' e que “realmente o
Brasil nasceu e cresceu dentro de condições negativas às experiências
democráticas.” Com esse trecho do livro regresso ao questionamento já exposto,
acerca da concepção de cidadão apresentada no Brasil Império, onde negros e
indígenas não eram vistos como cidadãos, dessa forma, questiono a ideia de
redemocratização logo após o Golpe de 64, pois, se desde o início não tínhamos a
experiência da democracia, então, depois do Golpe a verdadeira noção de
democracia teria surgido na sociedade brasileira, ao invés de uma
redemocratização?
O processo de redemocratização da educação e das ideias pedagógicas na
Nova República, foi em decorrência da formulação da Constituição Federal de 1988,
conhecida como a Constituição Cidadã, que em um dos seus artigos garante que a
educação é para todos e que “é dever do Estado ofertá-la''. O § 1º do Art. 208 afirma
que: “O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo, e seu
não-oferecimento pelo Poder Público ou sua oferta irregular implica
responsabilidade da autoridade competente.”
É a partir da Constituição de 88, que muitas transformações aconteceram na
educação brasileira, como o destaque à importância da autonomia das
universidades (Art. 207) e “o direito às pessoas com necessidades especiais
receberem educação, preferencialmente, na rede regular de ensino” (Art. 208, III).
Outrossim, a Carta Magna “determinou que se elaborasse uma nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional”. Com isso, a nova LDB 9394/96
proporcionou algumas mudanças, como o requerimento de que todo professor
precisa ser formado no ensino superior, assim, solicitando que aqueles que
realizaram o magistério possam complementar seus estudos, como também, a
Educação Infantil e o Ensino Fundamental I passaram a ser responsabilidade dos
municípios e foi incentivado a gestão democrática, além de promover a inclusão no
ambiente educacional. É nesse período da história do Brasil que muitas
transformações acontecem, tanto no contexto econômico - social, quanto no
educacional, por isso, Paulo Freire denomina de “momento de transição”, muito
debatido em seu livro “Educação como prática da liberdade”.
Outrossim, houveram importantes mudanças no cenário educacional
brasileiro, como a criação do Plano Nacional de Educação (PNE), a constituição dos
fundos de manutenção da educação, mudanças no currículo e na formação de
docentes e a criação de um sistema de avaliação nacional, além dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN).
Contudo, ao refletir acerca dessas inúmeras e benéficas mudanças, me
questiono a respeito da praticidade de algumas leis que foram apresentadas ao
longo do semestre. Pois, em muitas ocasiões do momento atual me esbarro com
atitudes totalmente contrárias às propostas da LDB de 1996, como por exemplo,
segundo o Art. 3º da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 é garantido “II - liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber [...]
VII - a valorização do profissional da educação escolar", entretanto, vivenciamos,
recentemente, situações que condizem com o contrário, como ao ouvir relatos, de
colegas que já atuam em sala de aula, em relação à opressão quanto ao que se é
ensinado e discutido em aula, ou ao analisarmos acerca da valorização dos
docentes, percebemos que, infelizmente, não somos devidamente reconhecidos.
Por fim, estudar e compreender as transformações que aconteceram durante
todos esses anos, até o cenário atual da educação brasileira, foi extremamente
importante, pois, contribuiu para o meu entendimento em relação a organização da
educação no Brasil, além de me instigar a questionar sobre situações no âmbito
educacional que são contrárias a concepção de educação que possuo, uma
“Educação Problematizadora” e transformadora.

REFERÊNCIAS

QUADROS, Claudemir de. História da Educação Brasileira. 2010, Universidade


Federal de Santa Maria.

CUNHA, Jorge Luiz da. História e organização da educação brasileira.


Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010.

SOARES, Marcelo; BERNARDO, Nairim. 20 anos da LDB: como a lei mudou a


Educação. Dez. 2016. In: Nova Educação. 19 Dez. 2016. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/4693/20-anos-ldb-darcy-ribeiro-avancos-desafio
s-linha-do-tempo>. Acesso em: 11 jan. 2022.

FONSECA, Genaro Alvarenga. História da Educação - A nova LDB 9394/96.


11min 27 seg. In: Canal UNIVESP. Publicado em 04 de mar. 2021. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=gz8z28YJE0c>. Acesso em: 18 jan. 2022.
DINIZ, Cássio. História da educação brasileira na redemocratização (1988 -
2014). 41 min 35 seg. In: Canal Cássio Diniz. Postado em 01 de Ago. 2020.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9jic0Gk075s>. Acesso em: 18
jan. 2022.

FREIRE, Paulo, 1921 - 1997. Educação como prática da liberdade [recurso


eletrônico] / Paulo Freire. - 1 ed. - Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

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