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A Origem da Literatura Infantil Brasileira

Segundo Celia Becker:


“A origem da Literatura infantil vincula-se às mudanças estruturais que ocorreram na
sociedade dos séculos XVII e XVIII, momento em que se instalou o modelo burguês de
família unicelular, provocando uma alteração na forma de se visualizar a infância e todas as
instituições com ela relacionadas. Dessa forma, explica-se o papel de aliada que a escola – e
com ela a produção de textos dirigidos às crianças – passou a exercer para a consecução dos
objetivos e valores preconizados por essa nova classe social emergente.”
Os valores ideológicos presentes na literatura infantil comprometeu seu reconhecimento
como forma de expressão artística e também prejudicou o gosto pela leitura. Porém muitas
obras produzidas permaneceram por suas qualidades estéticas, como algumas obras de
Perrautl, Daniel Defoe, a reunião de contos de fadas feitas pelos Irmãos Grimm, além de
produções voltadas para o público infantil, como as obras de Júlio Verne e também da
Condessa de Ségur.
O Brasil foi influenciado por essa onda de valores, usando o texto infantil como propagador
de preceitos e de normas comportamentais. Quatro fases são percebidas nesse processo de
inserção da literatura no Brasil.
A Primeira Fase compreende o final do século XIX e início do século XX. A preocupação
nesse momento era com a modernização do país e a escola era uma das responsáveis por
alcançar esses objetivos além de incentivar valores patrióticos, principalmente nas crianças.
"Permeável às solicitações da sociedade, a literatura infantil integrou-se aos esforços de
instalação da cultura nacional, vinculada à escola e à valorização do nacionalismo.". Além
disso, obras estrangeiras foram traduzidas e adaptadas para o público infantil brasileiro,
porém sérios problemas surgem devido às expressões utilizadas e o afastamento da vivência
dos brasileiros em relação aos europeus.
A Segunda Fase abrange o período de 1920 - 1945, caracterizada como uma época de muitos
conflitos, entre eles a situação da educação. O índice de analfabetismo estava muito alto e
isso fazia com que o Brasil se caracteriza-se como um país atrasado, para reverter esse quadro
se propôs uma reforma educacional, criando-se a Escola Nova, na qual propunha-se um
ensino intelectual e pragmático. Inovações artísticas também foram marcantes nesse período,
principalmente com a Semana de Arte Moderna (1922).
A respeito da literatura infantil Monteiro Lobato foi o criador das inovações nesse tipo de
literatura. Através de suas obras que a linguagem dos personagens se aproximou à linguagem
do povo brasileiro. Com isso surgira novas publicações direcionadas para o público infanto-
juvenil. Os textos privilegiam o espaço rural no qual o espírito nacionalista predominava.
O folclore constituiu fonte preciosa para revelar um mundo bem brasileiro nos texto infantis.
Apesar disso, algumas obras ainda possuíam um caráter pedagógico, pois a idéia de mudar a
mentalidade das crianças era uma possibilidade de avanço do país para que este alcance o
patamar dos países desenvolvidos. Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se desenvolveu
muito, tornando-se um país moderno, dessa forma, a demanda social por educação aumentou,
culminando em pressões por uma expansão do ensino, diante disso o Estado tomou
determinadas atitudes para atender aos pedidos da população, no entanto tais medidas não
caracterizavam uma política nacional de educação.
A Terceira Fase é marcada pelo período da democracia (décadas de 50 e 60). No campo
educacional a reforma de Capanema estava em vigência até que a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, aprovada em 1961.
As primeiras décadas de 60 são marcadas pelo surgimento dos movimentos de educação
popular e do grupo de reforma da Universidade de Brasília, os quais tinham o objetivo de
alfabetizar e a educação de base.
Com o golpe de 1964 e cultura brasileira ficou prejudicada, "a literatura infantil passou a ter
um caráter conservador: os temas e o ambiente por ela explorados privilegiam a agricultura",
além do caráter patriótico.
A Quarta Fase compreende o período de 1970 e 1980, marcado por grandes transformações.
Na literatura infantil o número de autores e obras aumentou, a linguagem e o ambiente das
histórias estava mais próximas do cotidiano e da realidade dos brasileiros. Recuperou-se o
folclore oral representado pela abordagem das modinhas infantis, canções de ninar e das
brincadeiras de roda.
"A qualidade estética que reveste as produções destinadas ao público infantil na atualidade
permite ao professor a possibilidade de apresentar o mundo mágico da literatura como suporte
para as atividades de alfabetização."

BECKER, Celia Doris. História da literatura infantil brasileira. In: SARAIVA, Juracy
Assmann (org.). Literatura e Alfabetização, do plano do choro ao plano da ação. Porto
Alegre, 2001. p.35-41.

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