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A educação está presente em todas as sociedades e passa por diversas mudanças ao longo
do tempo. A sociedade, de uma forma ou de outra, se educa – e a educação molda o homem e, a
depender da finalidade dela na sociedade, pode ser utilizada como forma de dominação ou de
libertação.
É necessário que haja educação para que a sociedade se desenvolva, tenha cidadãos
críticos. A evolução da educação está intrinsecamente ligada à evolução da sociedade. Segundo
Gadotti (1999), a prática da educação é muito anterior ao pensamento pedagógico, que surge
com a reflexão sobre a prática, pela necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de
determinados objetivos.
Como afirma Paulo Freire (1993), a educação como intervenção inspira mudanças
radicais na sociedade, na economia, nas relações humanas e na busca dos direitos, ou seja, uma
sociedade sem educação não evolui.
Diante da grande importância da educação, se torna necessário estudar a História da
Educação em seus mais diversos contextos, pois ela proporciona o conhecimento do passado da
humanidade, criando assim novas perspectivas.
Para Aranha (2006, p. 24), estudar a educação e suas teorias no contexto histórico em que
surgiram, para observar a concomitância entre suas crises e as do sistema social, não significa,
porém, que essa sincronia deva ser entendida como simples paralelismo entre fatos da educação
e fatos políticos e sociais. Na verdade, as questões de educação são engendradas nas reações que
se estabelecem entre as pessoas nos diversos segmentos da comunidade. A educação não é,
portanto, um fenômeno neutro, mas sofre efeitos do jogo do poder, por estar de fato envolvida na
política.
Logo, ao estudar a História da Educação podemos compreender que não há mudanças
sem educação e podemos pensar os indivíduos como agentes construtores de história, ou seja,
podemos perceber a importância da educação na sociedade e na formação cultural, social e
econômica dela.
O Brasil apresenta, em cada período de sua história, realidades e contextos diferentes,
mas que, evidentemente, não difere o modelo de educação destinado às classes populares: uma
educação domesticadora, elitista, reacionária, não raro às vezes, em precárias condições,
privando-as, assim, de uma educação democrática, libertadora, transformadora e realmente de
qualidade.
Por mais que as leis elaboradas ao longo dos anos indicassem mudanças, a realidade
pouco mudava e, a educação, com toda a sua magnitude, se destinou a beneficiar a classe
dominante em detrimento das classes populares, contribuindo para formar “objetos”, quando
deveria formar sujeitos da história.
É com a chegada do elemento europeu a terras brasileiras que essa situação inicia-se,
provocando um choque cultural que rebaixa o índio e, posteriormente, o negro e enaltece o
branco, seu projeto de colonização e seu desejo desmedido de expandir-se territorial e
economicamente.
Nesse contexto, a Companhia de Jesus, que foi fundada para contrapor-se ao avanço da
Reforma Protestante, foi trazida para o Brasil para desenvolver um trabalho educativo e
missionário, com o objetivo de catequisar e instruir os índios e colaborar para que estes se
tornem mais dóceis e, consequentemente, mais fáceis de serem aproveitados como mão de obra.
“A organização escolar na Colônia está como não poderia deixar de ser, estreitamente vinculada
à política colonizadora dos portugueses” (Ribeiro, 1986, p. 24).
A obra educativa dos jesuítas estava integrada à política colonizadora; durante pouco
mais de dois séculos foi a responsável quase exclusiva pela educação no período; além de ser um
ensino totalmente acrítico e alheio à realidade da vida da colônia, foi aos poucos se
transformando em uma educação de elite e, em consequência, num instrumento de ascensão
social.
O ensino não poderia interessar à grande massa pobre, pois não apresentava utilidade
prática, visava uma economia fundada na agricultura e no trabalho escravo; o ensino jesuítico só
poderia interessar àqueles que não precisavam trabalhar para sobreviver.
A Companhia de Jesus, que tinha inicialmente em seus objetivos catequisar e instruir o
índio, de acordo com o Ratio, foi aos poucos se configurando como forte instrumento de
formação da elite colonial, ficando os indígenas e as classes mais pobres à mercê da instrução.
Segundo Piletti (1991, p. 34), “os jesuítas responsabilizaram-se pela educação dos filhos
dos senhores de engenhos, dos colonos, dos índios e dos escravos”. Ribeiro (1986, p. 29) elucida
que “o plano legal (catequisar e instruir os índios) e o plano real se distanciaram. Os instruídos
eram descendentes dos colonizadores. Os indígenas foram apenas catequisados”. Nesse sentido,
não só o índio como todos aqueles que não faziam parte dos altos extratos da sociedade (pequena
nobreza e seus descendentes) estavam excluídos da educação.
O sistema de ensino jesuítico apresentava uma rede organizada de escolas e uniformidade
de ação pedagógica. Além das escolas de ler e escrever, ministrava o ensino secundário e
superior.
Todas as escolas jesuíticas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de
Loiola, o Ratio at que Instituto Studiorum, chamado abreviadamente de Ratio Studiorum. Os
jesuítas não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar, eles
mantinham os cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e
Ciências Sagradas, de nível superior, para a formação de sacerdotes. No curso de Letras
estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; no curso de Filosofia estudava-se
Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Os que pretendiam seguir
as profissões liberais iam estudar na Europa, na Universidade de Coimbra, em Portugal, a mais
famosa no campo das ciências jurídicas e teológicas, e na Universidade de Montpellier, na
França, a mais procurada na área de medicina (Bello, 1992. p. 2).
Em 1759, Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de
Portugal, após entrar em conflito com os jesuítas, os expulsou de todas as colônias portuguesas,
suprimindo todas as suas escolas. A razão para esse conflito apontada por Piletti (1991) é o fato
de os jesuítas se oporem ao controle do governo português.
4
Com a supressão das escolas jesuíticas, “a educação brasileira (...) vivenciou uma grande
ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional” (Bello,
1992).
A reforma pombalina dos estudos menores objetivou, segundo Laert Ramos de Carvalho,
criar a escola útil aos fins do Estado e, nesse sentido, ao invés de preconizar uma política de
difusão intensa e extensa do trabalho escolar, pretenderam os homens de Pombal organizar a
escola que, antes de servir aos interesses da fé, servisse aos imperativos da Coroa (Piletti, 1992.
p. 36).
Com a expulsão dos jesuítas, desmantelou-se toda uma estrutura administrativa de ensino
e o Estado passou a assumir pela primeira vez os encargos da educação. Com isso, mudou-se o
quadro de professores e até rebaixou o nível de ensino, porém não houve ruptura em suas
estruturas, pois os substitutos foram pessoas preparadas pelos jesuítas e, aos serem recrutados,
passaram a dar continuidade à sua ação pedagógica. “O ensino brasileiro, ao iniciar o século
XIX, estava reduzido a pouco mais que nada” (Piletti, 1991, p. 37), já que, com a reforma
pombalina, nenhum sistema educativo comparado ao jesuítico passou a existir.
A Educação, nos últimos tempos, ocupou lugar de destaque nas esferas econômica, política e
cultural e um campo da vida social de tensão pelas disputas dos projetos societários de diferentes grupos e
segmentos sociais, especialmente para conquistar-se a hegemonia política e cultural na sociedade.
Legislações brasileiras reformuladas têm defendido uma educa- ção de acesso a todo cidadão, de
qualidade e uma iminente inserção no mercado profissional e no mundo do trabalho. Mas nem sempre se
tornam realidade esses discursos, não passando de meras ilusões e uma pseudoeducação. Pois milhares de
crianças, adolescentes e jovens, mesmo matriculados em uma escola, permanecem excluí- dos de uma
educação participativa, democrática, conscientizadora, dialógica, autônoma e afetiva.
Nesse capítulo, será possível refletir a história de uma educação ainda em construção, com
marcas profundas da exclusão social, econômica e cultural, de uma classe menos favorecida; uma educação
sem investimentos e oportunidades a essa parcela da população e sob o domínio de organismos nacionais e
internacionais que direcionam os rumos da educação brasileira para uma ação mercantilista. Mas também é
possível pensar que uma educação diferenciada, participa- tiva e de qualidade será construída com o
compromisso ético, com a paixão em socializar conhecimentos, a criatividade e a dinamicidade na
construção do conhecimento pelos educadores.
Freitag (1980, p.46) em seu livro Escola, Estado e Sociedade apre- senta a História da Educação
em três períodos, correlacionando-os a três modelos específicos da economia brasileira, ou seja, o agroex-
portador, o de substituição de importações e o de internacionalização do mercado interno, que estariam
assim divididos:
1º período – de 1500 a 1930, abrangendo a Colônia, o Império e a Primeira República;
2º período – de 1930 a 1960 aproximadamente;
3º período – de 1960 em diante.
A História da Educação no Brasil inicia com a chegada dos padres jesuítas, responsáveis pelas bases
de um vasto sistema educacional, ocorrendo por esse intermédio o desenvolvimento de um sistema
educacional que seria o marco da educação brasileira, que evoluiu, progressivamente, com a expansão
territorial da colônia, ou seja, com o predomínio da Igreja Católica na definição do sistema educacional. E, por
dois séculos, eles foram quase exclusivos educadores no País. Dessa forma, a Igreja Católica divulgava o
cristianismo e a cul- tura europeia nos colégios e seminários dos jesuítas, atingindo com facilidade os
objetivos da colonização portuguesa.
O modelo agroexportador implementado na Colônia teve como função, oferecer lucro à
metrópole, sendo atingido por meio da pro- dução de produtos primários como açúcar, ouro, café e
borracha. A economia brasileira estava organizada para produzir e exportar gêneros de expressão
econômica no comércio europeu. O objetivo da política portuguesa era alcançar grandes lucros, por
meio da produção da Colônia americana. Mas a produção para exportação dependia diretamente das
oscilações do mercado externo, compro- metendo desastrosamente o desenvolvimento econômico da
Colônia. A estrutura social era formada basicamente por escravos, incluindo os trabalhadores, os senhores de
engenho, os grandes latifundiá- rios e os funcionários da coroa.
2
PIANA, Maria Cristina. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional [online]. São Paulo:
Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. (Adaptado).
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Obviamente, por meio dessa formação da estrutura social em que é inexistente uma política
educacional de caráter estatal, pois a Colônia tinha um sistema educacional de elite e não havia interesse
em ampliar a escolarização para atingir a classe subalterna. Por meio dessas reflexões, verifica-se que, desde o
início, o sistema educacional é organizado e estruturado de forma excludente e seletiva.
Mas a ausência de um sistema educacional é apontada por alguns estudiosos como um entrave ao
desenvolvimento econômico até nos tempos atuais.
Segundo Prado Jr. (1983, p.91), “[...] não se pode considerar sistema de ensino as magras
cadeiras de primeiras letras, Latim e Grego, que havia em alguns dos maiores centros da Colônia”, criadas
somente depois de 1776.
Ainda, por meio dessas reflexões, pode-se deduzir que o nível cultural da Colônia era muito baixo,
e a ignorância dos colonos portu- gueses refletia-se na falta de habilidade e de conhecimentos técnicos,
inclusive para o aprimoramento e o desenvolvimento das atividades produtivas, tanto para a agricultura
quanto para a mineração (ouro, diamantes), sendo apontado também como causa de sua decadência. Os
métodos rudimentares, utilizados na agricultura pelos portu- gueses, eram devastadores, predatórios e
orientados para o proveito imediato dos colonos, ou seja, os portugueses vinham para a Colônia em busca de
riqueza e fortuna.
Nesse período, o objetivo dos portugueses era exclusivamente explorar e usufruir de toda a riqueza
deste País, mas sem se preocupar com a estruturação econômica, política e educacional do povo que
residia no Brasil.
Consequentemente, essa ignorância refletia-se na falta de preo- cupação com o sistema
educacional. Ainda, os colégios e seminários dos jesuítas que funcionavam em toda a Colônia satisfaziam
as ne- cessidades educacionais que a vida econômica impunha para a época. Em 1808, Portugal é invadido e a
família real e a corte transferem-se para o Brasil, e, obviamente ocorrem modificações no plano eco-
nômico, político e social, determinados pela instalação do governo português na Colônia.
Esse fato significou uma reorganização administrativa expressiva que geraria uma crise na estrutura
econômica da Colônia, porque o País produzia para exportação e não para atender a suas próprias
necessidades de acordo com os interesses dos portugueses, pois a fun- ção da Colônia era enriquecer o
colonizador, mas, agora os “donos” estavam residindo no País; era o início da derrocada dos portugueses, do
declínio do poder e do controle de Portugal sobre a Colônia, pois com a abertura dos portos, o comércio foi
subitamente ampliado, a indústria tornou-se livre, e a economia modernizou-se.
Não obstante, com a expulsão dos jesuítas, em 1759, até a trans- ferência da corte portuguesa
para o Brasil, em 1808, a educação na colônia passou por um período de desagregação e de decadência.
Mas, com a chegada de D. João VI, modificou-se a política educa- cional que o governo português
adotava em relação ao Brasil. Foram inauguradas diversas instituições educativas e culturais e surgiram os
primeiros cursos superiores de Direito, Medicina, Engenharia, mas não universidades.
Diante da nova realidade, surgiu a necessidade da formação de novos quadros técnicos e
administrativos para atender à demanda dos serviços criados, em função das inovações introduzidas
por D. João VI.
Fundaram-se escolas técnicas e academias, para atender à de- manda, pois com a abertura dos
portos, intensificou-se o contato com outros países e outras culturas. Nesse período, foram criadas: a
Academia Real da Marinha, a Academia Militar, o curso de cirurgia, anatomia e, depois, o curso de
Medicina. E ainda, foram criados os cursos de Economia, Agricultura, Botânica, Química Industrial,
Geologia e Mineralogia, e outros. Mas, cabe ressaltar, que a maio- ria dos cursos eram rudimentares em
sua organização, pois focava somente a profissionalização (Freitag, 1980, p.48).
Em 1822, a partir da Independência surgiram novos ideais e a Assembleia Constituinte discutiu
a importância da educação popu- lar, e, em 1827, foi determinada em lei a criação de escolas primárias em
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todas as cidades e vilas mais populosas. Entretanto, essas leis não foram implementadas, passando,
em 1834, para as provín- cias a responsabilidade da educação primária (Guiraldelli Junior, 2003,
p.11).
Após a Independência, na Constituição outorgada, a ideia de um sistema educacional torna-se
embrionária, quando se pretendeu garantir escolas primárias e até universidade, pois deve-se conside- rar
que a educação não era um assunto de interesse geral. E ainda a qualidade dos cursos era insatisfatória.
A instrução secundária limitou-se à ampliação das aulas avulsas e particulares de Latim, Retórica,
Filosofia, Geometria, Francês e Comércio, mas, ainda sem a fiscalização do Estado.
Mesmo a educação sendo para a elite, o atendimento à sociedade aristocrática era deficiente com
relação à quantidade. Os liceus foram criados nas províncias visando amenizar o pauperismo da organiza-
ção e do funcionamento escolar.
Em 1825, foi criado o Ateneu do Rio Grande do Norte. Em 1836, o Liceu da Bahia e da Paraíba
e, em 1837, o Colégio Pedro II, na corte (Pinto, 1986, p.59).
A desconsideração com os problemas educacionais foi tão grande que se confirma com a lei de 15 de
outubro de 1827 que teve vigência até 1946 como a única lei geral para o ensino elementar.
Um dos fatos mais marcantes ocorridos no setor educacional, durante o período de 1834 a 1889,
foi a criação do Colégio Pedro II, pois tinha o papel de servir como padrão de ensino.
No período de 1860 a 1890, a iniciativa particular no sistema educacional cresceu em
oposição à situação de total abandono pelo Estado. A Constituição de 1891 adotou em parte a forma de
admi- nistração do sistema escolar do Império.
Em 1890, foi criado o Ministério de Educação, Correios e Telégrafos, tendo curta duração, sendo
passados os assuntos educacionais para o Ministério da Justiça (Berger, 1976 apud Pinto, 1986, p.59).
Entre 1889 a 1930, foram fundadas algumas escolas superiores e construídas muitas escolas
primárias e secundárias, mas substancialmente pouco se alterou o quadro do sistema educacional. Neste
período, o Estado apenas procurou garantir a manutenção dos estabe- lecimentos considerados como padrão
para as demais escolas secundárias do País, mas não conseguiu atender aos anseios republicanos de
ampliação das oportunidades educacionais, permanecendo ainda um sistema elitista, excludente e
seletivo (idem).
A expansão do ensino foi lenta e irregular, por falta de uma for- mulação da política educacional e
mesmo com a proclamação da República, em 1889, quase não alterou esse cenário, mas houve somente
investimento e expansão no ensino superior, por meio da criação de muitas escolas para a formação de
profissionais liberais, em atenção aos interesses de uma classe dominante para a permanência no poder.
A iniciativa particular assumiu a responsabilidade sobre o ensino secundário, em função da
ausência escancarada do Estado nesse nível educacional.
As transformações ocorridas no setor econômico, político e social na Primeira República
introduziram mudanças no setor cultural, pois a ideia de que a escolarização deve responder aos anseios
das transformações sociais do século XX levou a um entusiasmo pela educação e a um otimismo
pedagógico.
A preocupação com a ampliação da escola primária, na década de 1920, foi o ponto principal
das reflexões e das discussões dos educadores e políticos.
Assim, a política educacional começa a modificar-se após a Primeira Guerra Mundial,
quando surge uma geração de grandes educadores, em destaque Anísio Teixeira; ocorrem, nesse período,
várias reformas do ensino nos Estados. Na década de 1930, surgem as primeiras universidades brasileiras
e amplas reformas do ensino nos demais níveis, consideradas importantes, embora decorrentes da
implementação de um regime autoritário (Guiraldelli Junior, 2003, p.21).
Em 1932, acontece o Manifesto dos Pioneiros da Educação (Mo- vimento Escolanovista),
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trazendo aspectos centrais de uma ampla reforma nacional que influiu fundamentalmente nas mudanças
pos- teriores e denunciou o atraso do sistema educacional brasileiro e a não inclusão da população a um amplo
processo de educação escolarizada.
Nesse período, a cultura do “bacharelismo”, ou seja, a mania da classe média em sonhar com
o título de doutor como meio de enriquecimento e/ou ascensão social, foi uma constante, por este
motivo é que, já em 1916, existiam 16 faculdades de Direito, com uma produção exagerada de
bacharéis. Sendo o País era essencial- mente ligado à agricultura, isso confirma o grande distanciamento
entre a escola e o trabalho.
Com a criação, em 1924, da Associação Brasileira de Educação (ABE) pelos educadores,
intelectuais, políticos e figuras de expressão da sociedade brasileira, foi possível impulsionar as discussões
em torno dos problemas educacionais, por meio desta organização, sendo promovidos cursos, palestras,
semanas da educação e conferências, principalmente, as Conferências Nacionais de Educação. No período
de 1927 a 1929, foram realizadas três grandes Conferências Nacionais de Educação, ocorridas em Curitiba,
Belo Horizonte e São Paulo.
Com a crise mundial de 1929, os anos 30 foram para o Brasil um período de sérias dificuldades,
principalmente em relação à superprodução do café, o maior produto de exportação, pois com a queda dos
preços do mercado internacional entrou em colapso e ocorreu o esgotamento das reservas cambiais, com o
agravamento da crise nas finanças públicas.
Os anos 30 caracterizaram-se pelo desenvolvimento industrial. O governo Vargas adotou
medidas para diminuir o prejuízo dos cafeicultores em decorrência da crise, sendo imposta a restrição das
importações dos bens de consumo, pela falta de divisas, contribuindo consideravelmente com o
fortalecimento da produção industrial. A substituição das importações resultou no fortalecimento de
grupos econômicos, a nova burguesia urbano-industrial, provocando mudanças no poder do Estado, em
especial, na dimensão política e social. O País foi assumindo desta forma, uma política de industrialização
e, consequentemente, esta mudança evidenciou uma reestruturação no seio da sociedade política e da
sociedade civil, pois ao lado dos aristocratas e latifundiários do café, emergiu a burguesia financeira e
industrial, e o operariado também sofreu ampliações (Freitag, 1986, p.50).
Nesse período, Getulio Vargas assumiu o poder, contando com o apoio da classe média dos
grandes centros urbanos, com o auxílio de alguns grupos militares e a burguesia cafeeira.
No campo educacional brasileiro surgiram mudanças conside- ráveis, pois teve início um
período em que se desenhou uma certa democratização no ensino, principalmente, em virtude de alguns
fatores, entre eles, a discussão em torno da “escola ativa” de Dewey, tendo como seguidores no Brasil,
Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Francisco Campos. Todos foram nomes re-
nomados no Brasil e ocuparam cargos governamentais. E, mesmo por meio das influências estrangeiras, foi
possível propiciar a discussão dentro dos parâmetros da realidade brasileira (Pinto, 1986, p.62).
Foi por meio das Conferências Nacionais de Educação que surgiu em 1932 o Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova, contendo uma nova proposta pedagógica e trazendo em seu bojo uma
proposta de reconstrução do sistema educacional brasileiro, visando a uma política educacional do
Estado.
A criação do Ministério da Educação e Saúde em 1930 foi a medida educacional mais importante,
pois tinha como papel fundamental, orientar e coordenar, como órgão central, as reformas educacionais que
seriam incluídas na Constituição de 1934, tendo como seu titular Francisco Campos (idem, p.63).
Essas reformas levaram o nome de Reforma Francisco Campos e, de fato, contou com elementos
importantes, como a integração entre as escolas primária, secundária e superior, e ainda, com a elaboração
do estatuto da universidade brasileira. Nesse período, também foram introduzidos o ensino primário
gratuito e obrigatório e o ensino religioso facultativo.
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O pensamento de Freire exerceu profunda influência nos profis- sionais da educação, pois seu
método fundamentava-se na prática pedagógica não diretiva, que consistia em passar o homem da condição de
“objeto” para a de “sujeito” (Freire, 1980 apud Pinto, 1986, p.66).
O período da transição do autoritarismo para a democracia é marcado por forças sociais
presentes no cenário político da transição democrática brasileira, como as propostas educacionais no
âmbito do Estado, as propostas educacionais no âmbito da sociedade civil, a Constituição de 1988 e a
eleição direta para a Presidência da República em 1989. Nesse sentido, evidenciam-se as tendências
vigentes nesse período, identificando o projeto hegemônico de política educacional do Brasil
contemporâneo, representado pelos ideários neoliberais, o que assinala sua maturidade por meio da
privatização do sistema, especificamente para o ensino de terceiro grau.
A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Brasileira de 1996 é a primeira lei geral da
educação promulgada desde 1961 e tem ampla repercussão sobre o sistema escolar. O governo
assume a definição da política educacional como tarefa de sua competência, descentralizando sua
execução para Estado e municípios. O controle do sistema escolar passa a ser exercido por meio de uma
política de avaliação para todos os níveis de ensino. O que para Demo (2001, p.12) não se pode falar
em inovações, no sentido de ser a “lei dos sonhos do educador brasileiro”, trouxe sim, alguns
dispositivos inovadores permitindo avançar em certos rumos, mas “para quem não quer mudar
permanece como está”.
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3
PALMA FILHO, João Cardoso. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Legislação educacional
a organização legal da educação básica. Disponível em:
<https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/65255/1/u1_d25_v1_t01.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2020.
(Adaptado).
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estabelecendo-se em Estado Democrático de Direito. Por sua vez, o caput do artigo 18 (BRASIL,
2012a) assevera: “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, todos autônomos”.
Conforme ensina José Afonso da Silva (2004):
Por ocasião do estudo da LDBEN (Introdução à educação, vol. 1, p. 70-108), comenta- mos
muito brevemente alguns dispositivos do texto constitucional. Isto se deu pelo fato de que
reservamos um estudo mais detalhado, por ocasião do Bloco que trata da gestão educacional.
Como já é tradicional em nossas constituições, principalmente, no período republi- cano,
a partir de 1891, a educação tem merecido destaque. Esse destaque também aparece na atual
Constituição. Como já assinalado, o texto constitucional atual consagra todo um capítulo para a
educação.
4
Claro que, em razão do espaço desti- nado a este caderno, não será possível abordá-los em profundidade.
18
Art. 207
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros,
na forma da lei.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica.
Art. 34.
Alínea “e” – aplicação do mínimo exigido da receita proveniente de im- postos
estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manu- tenção e
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saú- de. (Redação final
dada pela EC nº 29, de 13.9.2000, que alterou a redação anteriormente dada pela EC nº
14).
O Inciso II do art. 208 (BRASIL, 2012c) recebeu a seguinte redação: Art. 208
II – progressiva universalização do ensino médio gratuito.
Em relação ao art. 211(BRASIL, 2012c), três parágrafos foram modificados:
Art. 211
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e dos Territórios, financiará as
instituições de ensino públicas federais e exercerá, em ma- téria educacional, função
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais
e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos
Estados, Distrito Federal e Municípios.
A redação anterior era bem mais restritiva e não mencionava a garantia de equalização de
oportunidades educacionais e nem se preocupava com o estabelecimento de padrão mí- nimo de
qualidade do ensino e, ainda, restringia a ação supletiva da União apenas ao ensino obrigatório,
ou seja, ao ensino fundamental.
Entretanto, cabe assinalar que, ainda, não foi regulamentado o que venha a ser padrão
mínimo de qualidade, nos termos do que dispõe o inciso VII da Constituição Federal “§ 2º Os
Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil” (BRASIL,
2012a, grifo nosso).
A redação anterior mencionava a obrigatoriedade de atuar no ensino fundamental e na
pré-escola. Provavelmente, o legislador constitucional tomou pré-escola como sinônimo de
educação infantil, esquecendo-se da creche. É bem verdade que, anteriormente, a creche era vista
como local de ação de assistência social e não tinha a função de educar. Em boa hora, esse
entendimento foi corrigido, neste caso, para melhor. Entretanto, conforme estabelece a LDB
(BRASIL, 2012b): “§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino
fundamental e médio”.
Observe-se que o ensino fundamental deve ser compartilhado tanto pelos Estados,
Distrito Federal e Municípios. De acordo com o que dispõe a Constituição Federal no art. 211
19
(§1º e § 2º), Art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a EC nº 14 deu nova
redação ao caput e introduziu sete novos parágrafos. Em linhas gerais, a nova redação
possibilitou a criação do Fundo Nacional para o Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério, conhecido pela sigla FUNDEF, mais tarde, substituído pelo
FUNDEB. Entretanto, as alterações perderam validade por ocasião da edição da EC nº 53,
analisada a seguir.
A mesa deu nova redação aos artigos 208, 211, 212, 214 e artigo 76 das Disposições
Constitucionais Transitórias.
Em relação ao artigo 208 (BRASIL, 2012d), foram dadas novas redações aos Incisos I e
VII:
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,
assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na
idade própria;
VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de
programas suplementares de material didático escolar, trans- porte, alimentação e
assistência à saúde.
O contido no Inciso I será de implantação progressiva até o ano de 2016, e contará com
apoio técnico e financeiro da União5.
Outra alteração foi a do § 4º do artigo 211 da CF (BRASIL, 2012d) que ficou com a
seguinte redação:
Art. 211.
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do
ensino obrigatório.
Art. 212
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendi- mento das
necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a univer- salização, garantia de
padrão de qualidade, nos termos do Plano Nacional de Educação.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração de- cenal, com o
objetivo de articular o sistema nacional de educação em re- gime de colaboração e
definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a
manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades
por meio de ações integra- das dos poderes públicos das diferentes esferas federativas
5
Cf. artigo 6º da EC nº 59.
20
que conduzam a: [...]
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educa- ção como
proporção do produto interno bruto.
Há vários aspectos a serem considerados como inovadores nessa nova redação dada ao
artigo em apreço, o qual:
• Institui que, por meio do PNE, será alcançado o objetivo de articular o sistema nacional
de educação, expressão que aparece pela primei- ra vez na legislação educacional e é
alçada à condição de manda- mento constitucional. Importante frisar que, no texto
constitucional originário de 1988, aparece apenas o sistema federal, o dos estados e o dos
municípios. Fica ausente a figura de articulação entre os dife- rentes entes federativos.
• Estabelece, como referencial para aplicação de recursos públicos em educação, uma
proporção do produto interno bruto (PIB), ou seja, caso haja aumento do PIB, a
educação deverá se beneficiar na mes- ma proporção de crescimento do mesmo.
• Por fim, acrescenta um § 3º ao artigo 76 (BRASIL, 2012e) do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), com a se- guinte redação:
Art. 76
§ 3º Para efeito do cálculo dos recursos para manutenção do ensino de que trata o art. 212
da Constituição, o percentual referido no caput deste artigo será de 12,5% (doze inteiros e
cinco décimos por cento) no exercício de 2009, 5% (cinco por cento) no exercício de 2010 e
nulo no exercício de 2011.
A principal divergência entre as duas propostas era em relação ao papel que o Estado
deveria desempenhar no que se referia a educação. De um lado, a sociedade civil,
representada pelo Projeto Jorge Hage, preocupava- se com os excessivos mecanismos de
controle social do sistema de ensino. Do outro, a proposta dos senadores previa uma
estrutura de poder mais concentrada nas mãos do governo (SCUARCIALUPI, 2011).
Enfim, a LDB 9.394/96 foi sancionada pelo então Presidente da República Fernando
Henrique Cardoso, em 20 de dezembro de 1996, como também pelo Ministro da Educação Paulo
Renato Souza. Veja abaixo os quadros comparativos da organização do ensino e da estrutura das
Leis de Diretrizes e Base da Educação.
6
SOUSA, Harley Gomes; SILVA, Graça Maria de Morais Aguiar e. Política e Legislação da Educação. Sobral:
INTA, 2016. (Adaptado).
22
Lei 5.692/71
Lei 9.394/96
Título I - Da Educação
Composição das leis com relação aos números de artigos: a LDB/61 tinha 120 artigos, a
LDB/71 tinha 88 artigos e LDB/96 tem 92 artigos. A redemocratização do Brasil na década de
1980, especificamente em 1985, com o movimento das “Diretas Já!”, apontava para o fato de que
os brasileiros avançariam em muitos aspectos em que anos de Ditatura permaneceram na
escuridão. E um desses aspectos – a educação – tem suma importância para formação de um
povo.
Vale salientar que a LDB 9.394/96 foi constituída após a promulgação da Constituição de
1988, por isso já carrega em si característica de alguns princípios fundamentais para a construção
da cidadania, como: democracia, pluralidade, participação, liberdade, tolerância etc. Por essa
razão, aponta-se que a LDB/96 é uma das mais completas.
Em seus nove títulos e cinco capítulos, a lei trata inicialmente da finalidade da educação
e a quem compete, apresentam os princípios que regerá a educação brasileira, o que compete ao
Estado (União, Estados, DF e municípios), a organização do ensino em níveis e modalidades,
quem são os profissionais da educação, os recursos que financiarão o ensino, as disposições
gerais e transitórias.
Enfim, para conhecer mais sobre a última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
segue, na próxima seção, a apresentação da LDB nº 9.394/96 por artigo, com base em Carneiro
(2011).
O art. 3º traz os doze princípios que conduzirão as ações do ensino e aprendizagem, bem
como as políticas públicas em educação. Esses Princípios:
exemplo, o que já acontece com os recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE),
onde o Conselho Escolar reúne-se, discute as prioridades, ouvindo os pares e aplica os recursos.
No Título V: Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino, Capítulo II: Da
Educação Básica, Seção I: Das Disposições Gerais, como já preconizado nos artigos 1º e 2º, o
art. 22 reforça apenas a finalidade da educação escolar. Já o art. 23 expõe as formas de
organização que cada ente federado deve escolher para direcionar seus sistemas de ensino, por
sua vez as escolas. Mas, Carneiro (2011) alerta que, embora estejamos diante de uma abertura
legal para a efetiva construção da identidade escolar, as possibilidades de tornar essa utopia
concreta é remota.
O art. 25 é polêmico porque retoma ao nono princípio, delineado no art. 3º desta lei –
garantia do padrão qualidade, cuja operacionalidade é muito remota, pois a fixação normativa
da relação número de estudantes/professor/carga horária/ condições materiais não é implementada
na maioria das escolas do país. O que se vê são salas de aulas lotadas, poucos professores e
materiais escassos ou sem nenhum. E o parágrafo único reforça a não obrigatoriedade da
possibilidade do sistema de ensino agir de acordo com suas disponibilidades.
Sobre o art. 28, chamamos atenção apenas para o fato de que as políticas públicas para a
educação do campo, para as escolas da zona rural do país, embora estejam em curso, ainda é
desconsiderada no planejamento dos sistemas de ensino (CARNEIRO, 2011). Carneiro (2011, p.
15) reforça que: “A escola rural brasileira é pobre e desassistida. [...]. As dificuldades encontradas
para a objetivação deste dispositivo legal refletem o caráter profundamente elitista da escola
básica brasileira”.
Na Seção II: Da Educação Infantil, percebemos que, com esta nova visão (LDB/96,
ratificada em 2013 pela Lei n º 12.796) a Educação Infantil ganha status de etapa da Educação
Básica e, portanto, tem praticamente as mesmas regras do ensino fundamental, exceto a forma de
avaliação e a frequência escolar.
Na Seção III: Do Ensino Fundamental, evidenciamos o art. 33. Embora que,
atualmente, o ensino religioso (ER) comprometa-se mais com as questões de valores humanos, do
que com vínculo a dogmas, mitos ou cultos, fica uma questão: se o ER é de matrícula facultativa,
mas é parte integrante da formação básica e compõe o currículo escolar, como ficaria se algum
pai ou mãe não permitisse o(a) filho(a) participar das aulas? Reprovaria?
Considerando a Seção IV: Do Ensino Médio e a Seção IV-A: Da Educação
Profissional Técnica de Nível Médio, observamos que, a partir de 2008, os sistemas de ensino,
constatando a necessidade de profissionalizar os jovens adolescentes, recém-concluintes do
29
ensino fundamental ou que fazem o ensino médio, vincularam uma Profissão Técnica a essas
etapas escolares, sendo uma inovação no ensino brasileiro. É de fato uma política pública em
educação revolucionária e complementar à educação básica.
Na Seção V: Da Educação de Jovens e Adultos, artigos 37 e 38, observa- se que essa
modalidade de ensino é destinada àqueles que não tiveram acesso ao ensino ou não puderam dar
continuidade aos estudos na idade adequada. Esses estudantes deverão frequentar cursos
supletivos, os maiores de 15 anos deverão concluir o ensino fundamental e os estudantes acima
de 18 anos deverão concluir o ensino médio.
No Capítulo III: Da Educação Profissional e Tecnológica, o art. 39 reza que a
educação profissional e tecnológica agrega as modalidades de educação. Essa educação abrange
a formação inicial e continuada, a formação profissional técnica de nível médio, graduação e
pós-graduação. Nos artigos 40, 41 e 42, menciona que a educação profissional pode ser
desenvolvida através do ensino regular, em instituições especializadas ou em ambiente de
trabalho. O conhecimento adquirido através do trabalho pode ser um elemento de avaliação e
consequentemente de conclusão dos estudos. As instituições ao ofertarem cursos regulares
também poderão ofertar a educação profissional e tecnológica.
No capítulo IV: Da Educação Superior, o artigo 43, menciona que a educação superior
deve formar cidadãos para diferentes áreas de conhecimento, incentivando a pesquisa científica
com a finalidade de desenvolver a ciência e a tecnologia. Provocar o desejo de aperfeiçoamento
cultural, científico e técnico que constitui o patrimônio da humanidade e disseminar o saber
através do ensino.
Nos artigos 44, 45, 46 e 47, menciona que a educação superior deve ser aberta a todos os
candidatos que concluem o ensino médio e seu ingresso no ensino superior será através de
processo seletivo. A educação superior deverá ser ministrada em instituições públicas ou
privadas. A autorização, o reconhecimento e o credenciamento terão prazos limitados com a
possibilidade de renovação. O ano letivo deverá ser de até duzentos dias de trabalho acadêmico.
Nos artigos 48 e 49, menciona que os diplomas dos cursos superiores terão validade
nacional uma vez que reconhecidos, e quanto aos diplomados estrangeiros serão revalidados por
universidades públicas. Em relação às transferências de alunos, deverão ser aceitos mediante
processo seletivo.
No Capítulo V: Da Educação Especial, artigo 58, constatamos que é um avanço notório
que os educandos com deficiência tenham direito de estar numa sala regular, muito embora,
salientamos que essa modalidade de ensino carece de ações mais eficazes em todos os sistemas
de ensino. Além disso, segundo Carneiro (2011), duas áreas precisam de atenção urgente: o aluno
superdotado e a formação profissional das pessoas com deficiência e, juntos a elas, ampliamos a
formação docente, pois milhares de professores no nosso país precisam de formação para
trabalhar com inclusão.
O mesmo autor descreve um perfil dos estudantes com deficiência desconhecida do senso
comum, exceto os mais usuais, como: mental, auditivo, visual, múltiplos, motora, Down, etc.
Outros educandos estão em uma categoria que Carneiro (2011, p. 428) denomina de “[...] alunos
especiais que têm suas vidas marcadas por desconformidades sociais ou por contingência de
trabalho”, que são:
30
Pode-se dizer que a Década da Educação não produziu mudanças aguadas na educação
brasileira, a não ser no campo da quantidade das matrículas. Os aspectos da qualidade do ensino
e da melhoria dos padrões de eficiência dos sistemas continuaram intocáveis e o país prossegue
exibindo resultados medíocres nos testes de avaliação internacional (CARNEIRO, 2011,
p.546).
dos PCNs como o próprio nome aponta um norte, o autor denuncia seu caráter padronizado (sem
considerar as diferenças regionais), elitista, arbitrário e monopolizado, pois sua construção foi
feita por poucos professores de uma única escola e sem participação das universidades. Foi
realizado por Cesar Coll e Philippe Perrenoud da Espanha e uma equipe de muitos especialistas
renomados.
Não há como falar de um currículo nacional com a multiculturalidade do Brasil. Não há
como querermos determinar uma identidade curricular nacional, dada à heterogeneidade de
nosso povo. Dada as inúmeras possibilidade de aprender, a pensar, a analisar, ser gente com suas
características próprias. Para Santos (2016), a ideia da educação Espanhola na criação de um
currículo nacional em 1990 foi inspirador para o nosso país criar os PCNs. No entanto, sua
elaboração e versão final foram feita por especialistas e não pela adesão e conhecimento dos
professores brasileiros, como fez a Espanha, que teve a adesão de todos os professores da rede,
reforça o autor. E para enfatizar a ideia que a proposta dos PCNs foi um ato impensado, o
Presidente Fernando Henrique Cardoso apenas encaminhou os Kits dos parâmetros para as
escolas, sem uma prévia formação e oficina de manuseio. Para algumas escolas foi proveitoso
enquanto para outras não foi obtido nenhuma serventia.
A respeito da estrutura dos parâmetros, eles foram pensados para compor as disciplinas
regulares de maneira interdisciplinar no formato de temas transversais. Enfim, os PCNs “[...]
devem ser entendidos como uma dupla corporificação de politicas educacionais: padronização
curricular em todo país; planificação educacional em todo o mundo, tal como proposto pela
UNESCO [...]” (SANTOS, 2016, p.62).
Quanto as DCNs, embora seja considerada lei para a Educação Básica e que tenha uma
aplicabilidade nos sistemas de ensino e nas escolas de modo diferenciado e incisivo, o autor
também entende como o conformismo da política educacional brasileira, elaborados por
especialistas do Conselho Nacional de Educação.
(10%). Segundo o que estabelece a lei de sua criação, as despesas devem ser utilizadas para
renumeração do magistério (60%) e em outras despesas de manutenção da educação (40%).
Quanto às transferências de recursos, elas obedecem a uma base de cálculo valor-aluno,
que sofre variações anualmente tendo em vista aspectos como: tipo de escola, modalidade de
ensino etc. E para controlar, monitorar e fiscalizar a aplicação desses recursos existe o Conselho
do FUNDEB, colegiado paritário composto por membros da comunidade escolar (professor, pais,
estudantes), da gestão municipal da educação (secretaria de educação, diretor escolar, técnico-
administrativo), cada município deve criar seu próprio Conselho. Salientamos que a composição
do colegiado de acompanhamento e fiscalização varia de membros e quantidade, para os estados
e os municípios. O FUNDEB nos municípios não é só controlado pelo Conselho do FUNDEB,
mas pelos Tribunais de Contas dos Municípios - TCM e pelo Ministério Público – MP.
É matéria do FUNDEB o Piso Salarial Nacional dos Professores que desde 2009 entrou
em vigor a partir da Lei nº 11.783/08. Em 2009 o piso era de R$ 950,00, atualmente ele deve
estar de R$ 2.135,64 cujo reajuste pra 2016 foi de 11,36%. Ressaltamos que o piso sofre
variações anualmente de acordo com o valor custo- aluno. Para Santos (2016), o piso tem um
risco nocivo ao efetivá-lo como teto, uma vez que, haverá secretários de educação que optarão
por ultrapassar os valores estabelecidos, de acordo com os reajustes. E vale destacar que há
municípios que não cumprem ainda a lei do piso.
O autor ainda denuncia algumas implicações com relação às políticas públicas em
educação com relação ao FUNDEB, por exemplo, não há indicativo legal de fiscalização de
quem são os membros do Conselho do FUNDEB, podendo até serem membros indicados pelo
executivo, que na prática não fiscalizaria as irregularidades empreendidas. Outra critica do autor
são as ponderações feitas para as escolas receberem o FUNDEB que não abrange de fato as suas
reais necessidades. E por fim, ele aponta que os mecanismos de vinculação das informações
sobre a receita e as despesas, não são claras, nem sequer publicizadas.
Com relação ao FNDE, foi criado para financiar a infraestrutura educacional do Brasil,
“[...] cujo principal objetivo é fornecer as condições concretas para o desenvolvimento de ações,
planos e programas destinados a subsidiar instituições e sistemas de ensino, especialmente em
despesas como as envolvidas em construção de escolas [...] merenda [...]” (SANTOS, 2016, p.
75). Os recursos do FNDE são totalmente do salário-educação que é redistribuído para escolas e
sistemas de ensino através de programas, como: alimentação escolar, caminho da escola (ônibus,
barco, bicicleta etc.), Programa Dinheiro Direto na Escola-PDDE, Programa Nacional do Livro
Didático-PLND, Plano de Ações Articuladas-PAR, Proinfância etc. Enfim, para o autor, o FNDE
financia uma política educacional padronizada de investimentos, por trás do financiamento das
ações PDE/PAR, onde um de seus principais erros (acredita-se) é o padrão matricula do ano
anterior, ou seja, os recursos que as escolas recebem ou os sistemas recebem não coincidem com
a sua matrícula atual, por isso, operam sempre com déficit.
estão sendo bem aplicadas, especialmente se os resultados se referem as variáveis como ensino,
aprendizagem e gestão. Para começarmos a falar sobre as políticas de avaliação e sua relação
com as políticas educacionais será necessário conceituar cada uma delas.
• SAEB/PROVA BRASIL - O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(Saeb) e a Prova Brasil são avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas
pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep/MEC). Têm o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema
educacional brasileiro a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos. E
o resultado desta avaliação indica o Ideb-Indice de Desenvolvimento da Educação
Básica.
O mecanismo CTE, foi criado pelo Decreto Nº 6.094/07 de 24 de abril de 2007. Ele “[...]
consiste em um plano de metas compostas por 28 diretrizes de ações políticas, [...] a serem
cumpridas por todos os signatários do documento; e como previa a parceria entre os municípios e
o governo federal, [...] acabou sendo assinados por todos os municípios” (SANTOS, 2016, p.88).
Em suma o Ministério da Educação e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
passam recursos para os municípios enquanto estes se comprometem a cumprir as metas do CTE,
afirma o autor.
Salientamos que a forma como o MEC e o FNDE têm para acompanhar e controlar o
investimento é avaliando a aprendizagem dos educandos, por isso, nascimento do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb, sendo o fundamental parâmetro de aferição da
implementação das metas do CTE, a média 6,0 até 2020. Além disso, a elaboração do PAR é de
suma importância para alcance das metas. Percebe-se que o Decreto Nº 6.094/07, ou CTE é uma
política de mobilização nacional em torno da aprendizagem e da qualidade da educação.
O Decreto nº 6.094 de 24 de abril de 2007, no Capítulo I: Do Plano de Metas
Compromisso Todos pela Educação aponta para a qualidade da educação básica; e a
alfabetização das crianças até oito anos de idade, com acompanhamento através de avaliações e
caso necessário reforço no contraturno com a finalidade de combater a repetência e evasão,
formando o estudante para ser um cidadão ético. O referido decreto indica que os estudantes
deverão ser matriculados nas escolas mais próximas de suas residências; e que seja garantida a
inclusão de pessoas com necessidades especiais às classes comuns. Como também promover a
educação infantil, alfabetizar os jovens e adultos, contribuir para a formação dos professores,
seja na formação inicial ou continuada. E por fim, aponta para a inserção de plano de cargos e
salários valorizando-o pelo seu desenvolvimento profissional, promovendo a gestão participativa
entre os envolvidos na rede de ensino.
No Capítulo II: Do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, no art. 3º menciona
que a qualidade da educação básica será verificada baseada no IDEB, relacionada ao desempenho
dos estudantes, através do censo escolar e dos sistemas (SAEB, ANEB e PROVA BRASIL).
No Capítulo III: Da Adesão ao Compromisso, os artigos 4º, 5º, 6º e 7º, menciona que a
vinculação do Município, Estado ou Distrito Federal será feita por meio de adesão voluntária, e
essa adesão implica na responsabilidade de melhorar a qualidade de ensino. Com isso, fica
estabelecido que através da base de dados educacionais deve-se atingir a evolução no tempo e
que será certificado pelo Ministério da Educação. Será designado pelo Comitê Nacional do
Compromisso Todos pela Educação a responsabilidade de traçar estratégias de mobilização
social pela melhoria da qualidade da educação básica. Organizações sejam sindicais, instituições
privadas ou públicas, igrejas, instituições empresariais, famílias, pessoas físicas ou jurídicas
podem colaborar com o Compromisso para a melhoria da educação básica de modo voluntário.
No Capítulo IV: Da Assistência Técnica e Financeira da União, o artigo 8º, indica que as
adesões ao Compromisso guiarão a União às redes públicas de educação básica dos Municípios,
Distrito Federal e Estadual. Será observado o IDEB e com o apoio do Ministério da Educação
que anualmente, os resultados subsidiaram as orientações à gestão educacional, formação de
professores, recursos pedagógicos e a estrutura física.
Quanto ao Plano de Ações Articuladas - PAR, como o próprio Decreto nº 6.094/07 definiu, ele
36
é um conjunto de ações que visa cumprir o que foi deliberado como meta no Compromisso Todos
pela Educação. É através dele, enquanto política educacional que a educação começa a se efetivar.
O PAR inicia-se com um diagnóstico em 04 dimensões, a saber: Gestão Educacional, Formação
de Professores e Profissionais de Serviço e Apoio Escolar, Práticas Pedagógicas, Avaliação e
Infraestrutura Física e Recursos Pedagógicos.
Após a elaboração do PAR pelos gestores municipais de educação, ele é encaminhado
para o MEC/FNDE (quem financia) ao ser analisado e se aprovado o governo federal libera os
recursos quando as ações necessitam de um aporte financeiro. Sobre o ponto de vista dos
resultados e as implicações do plano, Santos (2016, p.94-95) esclarece que ele: “[...] se insere no
contexto das políticas de responsabilização, dado que os gestores dos sistemas de ensino, em
especial os secretários municipais de Educação, acabam por se comprometer com o desenrolar da
política educacional conduzida nacionalmente pelo MEC”.
Outro mecanismo de execução das políticas públicas em educação, ou seja, outra política
educacional é o Plano de Desenvolvimento Educacional, o PDE, que se assemelha ao PAR, pois
suas ações buscam cumprir as metas do CTE. No entanto, este plano tem abrangência mais local,
isto é, nas escolas e de longo alcance. Santos (2016) ressalta que o PDE é o mecanismo que busca
atingir as metas não cumpridas pelo Plano Nacional de Educação-PNE do período de 1997-2007.
Segundo o autor o PDE conjuga o esforço de alinhar as escolas, os sistemas de ensino e as
universidades para focar na dimensão pedagógica dos planos, pois é nela que se encontra o núcleo
do processo educativo.
O Plano Nacional de Educação (PNE) nasceu com a LDB/96, sendo seu primeiro ano
vigente a partir de 1997. O plano constitui a verdadeira mudança para a construção do que a
legislação chama de Sistema Nacional de Educação, que se quer ver articulado e integrado em
todos os níveis da administração pública e educacional, como apregoou Santos (2016). Mas o
PNE não nasce do nada. Ele nasce na Conferência Nacional de Educação – Conae, que acontece
em nível local (município) regional (estados) e nacional (Brasília), esta ultima etapa é a que
enseja a construção do PNE.
Atualmente o plano se constitui como um importante instrumento de política educacional
na busca pelo caminho e consolidação sistêmica da educação. No entanto, observa-se que
algumas das metas aprovadas no plano de 2014-2023, que tinha curto prazo de execução não
foram cumpridas. Indica-se que uma das razões que levam ao não cumprimento das metas é “a
trajetória do planejamento e das políticas educacionais no Brasil que vem sendo marcadas por
políticas governamentais, em detrimento de políticas de Estado [...]” (DOURADO, 2011, p.50).
Ou seja, a cada período eletivo todo Presidente acaba querendo imprimir sua marca na
administração pública, dessa forma, negligencia o que é mais importante a política de Estado. O
autor ainda reforça que se queremos avançar na construção de políticas públicas de educação,
significa dizer que as ações devem ultrapassar a esfera educacional, requerendo assim uma
analise mais detalhada e global das demais políticas: econômica, social, cultural etc.
Por fim, o autor argumenta: