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Educação Brasileira
Educação Brasileira
tes do pensamento pedagógico brasileiro...................................................................... 1
Projeto político-pedagógico............................................................................................ 5
A didática e o processo de ensino e aprendizagem....................................................... 16
Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avalia-
ção.................................................................................................................................. 22
A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação........................................... 27
A didática como fundamento epistemológico do fazer docente..................................... 29
Principais teorias da aprendizagem. Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para
a psicologia e a pedagogia............................................................................................. 30
Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira.............................. 38
Exercícios....................................................................................................................... 50
Gabarito.......................................................................................................................... 67
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grande parte pela calorosa “conversão” de Anísio Teixeira no movimento educacional norte-americano (prag-
matismo), pelo qual o aprendizado ocorre pela capacidade de observação, experimentação do aluno tendo
como orientador, ou facilitador o professor treinado para este fim.
O movimento reformador queria ver contemplado as suas demandas político-pedagógicas por meio de um
sistema nacional de educação, bem como definir um programa educacional para o país. Houve muitas discus-
sões e participações de segmentos. A Igreja acaba participando da discussão na tentativa de garantir seus
interesses e territórios enquanto formadora de mentes e de condutas. Já, os educadores reformistas que ela-
boraram em 1932 o Manifesto da Educação Nova, defendendo a democratização da educação - escola pública
gratuita e laica.
Em contrapartida, outro movimento buscava estabelecer a proposta de Fernando Azevedo, que tem como
base a distinção clara entre educação para elite, enquanto civilizadora e, a educação para a massa, enquanto
força instintiva e afetiva. As discussões se estenderam, e os pioneiros são acusados de partidários de ideais
contrários aos interesses da nação. O interessante é que este grupo objetivava ser reconhecido como base
para uma sociedade capitalista, liberal e de livre-mercado.
Todavia, no pós 1930, alguns interesses educacionais da nação foram reclamados na Reforma de Capa-
nema, e houve a retomada das campanhas sanitaristas, que viabilizaram as Reformas no Ensino Secundário
tendo como base as orientações humanistas de caráter elitista; criação do Sistema de Ensino Profissional (Se-
nai, Sesi, Senac, Sesc) direcionado ao povo visando formar mão-de-obra qualificada e, Reforma Universitária
objetivando um padrão nacional de organização. Em suma, criados para incorporar a massa inculta ao mercado
de trabalho e este efeito permanece até hoje.
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[...] as elites (intelectuais) são assistencionalistas e não têm receio de recorrer à repressão e ao autoritaris-
mo quando se sentem ameaçadas. Por outro lado, as classes médias estão em busca de ascensão social e se
apoiam nas elites. Desta forma, a solução para transformar a sociedade opressora está nas mãos das massas
populares, “conscientes e organizadas”.
Nessa perspectiva, a pedagogia do oprimido3, enquanto processo, buscaria a superação de uma cultura
colonial para uma sociedade aberta. Esse movimento deveria buscar a conscientização do sujeito articulado
com uma práxis desafiadora e transformadora da realidade. Para tanto, torna-se imprescindível estabelecer um
diálogo crítico horizontal (oposta ao eletismo) como condição para favorecer e sustentar o amor, a humildade,
a esperança, fé e confiança nas relações entre os sujeitos para descobrirem-se como sujeitos históricos no
processo.
Em linhas gerais, Paulo Freire, conforme Gadotti caracteriza duas concepções opostas de educação: a
concepção bancária literalmente burguesa, pois, o educador é o que sabe e julga e os alunos meros objetos.
Em contrapartida, a concepção problematizadora funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre edu-
cador e educando – ambos aprendem juntos, ambos se emancipam.
Ser fiel a Paulo Freire significa, antes de mais nada, reinventá-lo e reinventar-se como ele. Nisto, aliás,
consiste a superação (aufhebung) na dialética: não é nem a cópia e nem a negação do passado, do caminho já
percorrido pelos outros. É a sua transformação e, ao mesmo tempo, a conservação do que há de fundamental
e original nele, e a elaboração de uma síntese qualitativa.
Em outro movimento, de acordo com Gadotti, o educador e antropólogo Brandão nos apresenta a educação
popular como alternativa à educação dominante e à conquista de novas formas de organização de classes.
Esse deslocamento aconteceria através de uma educação como processo de humanização ao longo da vida e
de maneira variada.
Então, o processo de ensino-aprendizagem não é algo imposto e sim um ato de conhecimento e de trans-
formação social, pois, o aprender se daria a partir do conhecimento que o aluno traz consigo, ou seja, um sa-
ber popular e para o educador é estar comprometido politicamente e, ser solidário e responsável por buscar a
direção justa para que possam em conjunto construir uma consciência cidadã até que o “povo assume de uma
vez o leme e a direção do barco”.
Nesta perspectiva, a educação popular, será um processo que busca na organização e na persistência, a
participação na formação, o “fortalecimento e instrumentalização das práticas e dos movimentos populares,
com o objetivo de apoiar a passagem do saber popular ao saber orgânico, ou seja, do saber da comunidade ao
saber de classe na comunidade”.
Em uma sociedade, conforme Gadotti, que se fundamenta nos princípios da eficiência e do lucro, as pes-
soas acabam dissipando sua identidade e viram função alienada que segue às cegas as regras da moral, da
ciência, da religião etc., que são articuladas pelo poder mágico do discurso vigente.
Nesse contexto, Rubem Alves propõe a educação como um espaço possível de desinstalação. Ou seja,
procura construir uma educação, uma escola, enquanto espaço de prazer e da fala. Este é o enfoque principal
de Alves, citado por Gadotti, a linguagem, a fala ao lado do corpo.
O educador fala com o corpo. É no corpo de cada educador e de cada educando que estão escritas as suas
histórias. Daí a necessidade de lê-lo e relê-lo constantemente. O corpo é o primeiro livro que devemos desco-
brir; por isso, é preciso reaprender a linguagem do amor, das coisas belas e das coisas boas, para que o corpo
se levante e se disponha a lutar.
Mostra a importância da formação do educador comprometido consigo mesmo e com o aluno, capaz de
superar a burocratização e a uniformização a que são submetidos. Inquietando-se com o papel da saber e com
a crescente desumanização das relações humanas.
Nas palavras de Gadotti, é valorizar o prazer, o sentimento, a arte e a paixão na educação e na vida huma-
na. O melhor método? O método do amor é melhor do que o racional para educar, aprender e ensinar.
E por que não nos deixarmos envolver pela paixão de conhecer o mundo? Eis a proposta de prática peda-
gógica de Madalena Freire, na qual é possível o exercício do diálogo desde a primeira educação articulando
conhecer e viver, envolvidos pela paixão.
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O trabalho de Madalena Freire, conforme Gadotti busca superar a dicotomia entre o cognitivo e o afetivo
para que a educação seja um processo prazeroso. Nas palavras de Madalena Freire: o ato de conhecer é tão
vital como comer ou dormir, e eu não podemos comer ou dormir por alguém. A escola em geral tem esta prática,
a de que o conhecimento pode ser doado, impedindo que a criança e, também, os professores o construam. Só
assim a busca do conhecimento não é preparação para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é vida que precisa
ser resgatada pela escola.
A partir do vivido da criança, o educador pode planejar e organizar as atividades escolares sem perder a di-
reção pedagógica e o seu papel organizativo. As atividades se configuram a partir dos interesses das crianças,
da sua vivência, para que o processo de construção do conhecimento e do afetivo, por exemplo, a alfabetização
e a construção de um sistema de representação (leitura e escrita), fluam naturalmente na vida da criança para
que quando adulto, a vida possa fluir sem artifícios.
É procurando compreender as atividades espontâneas das crianças que vou, pouco a pouco, captando os
seus interesses, os mais diversos. As propostas de trabalho que não apenas faço às crianças, mas que também
com elas discuto, expressam, e não poderia deixar de ser assim, aqueles interesses.
Não é de estranhar, pois, que as crianças se encontrem nas suas atividades e as percebam como algo delas,
ao mesmo tempo em que vão entendendo o meu papel de organizadora e não de “dona” de suas atividades.
Creio que cabe aos professores o exercício proposto por Freire, de se permitirem entender a espontaneida-
de dos nossos alunos (crianças, jovens, adultos), enquanto condição possível para desestabilizar uma pedago-
gia atrelada desde muito tempo à autoridade, para reprodução homogeneizadora e, como “campo de vigilância
sobre o tempo, o espaço, o movimento, os gestos, para produzir corpos submissos, exercitados e dóceis”.
Na verdade, o movimento proposto e quando articulado às práticas pedagógicas é dar sentido não somente
para as atividades, mas também às relações que se constituem no espaço pedagógico. Esse deslocamento
chama para uma nova postura não somente ao professor, mas também ao aluno.
Ao professor, Gadotti citando Chauí cabe algumas perguntas: qual há de ser a função do educador atual?
Como romper com essa violência chamada modernização? Como não cair nas armadilhas do conhecer para
não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, consumir em lugar de realizar o trabalho de reflexão?
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Passado alguns bons anos, nos deparamos com os reais problemas: a má qualidade das escolas, a famo-
sa repetência e acrescento aqui a qualidade das aprendizagens. Como após tantas reformas, investimentos,
e elaborações de políticas e ações à educação, persistem ainda as elevadas taxas de evasão e repetência e
muitas outras dificuldades?
Creio que muitas escolas hoje estão afastadas não de uma concepção democrática e libertadora. Isto por-
que, na grande maioria dos PPP das escolas, estas propostas, conceitos se fazem presentes na escrita. Mas,
no planejamento, na prática, no exercício diário da intervenção pedagógica em sala de aula, esta práxis não se
faz presente.
Tristemente, encontramos influência de uma pedagogia, conforme Gadotti, do bom senso, e do silêncio,
desconectada da vida dos educadores e dos alunos. “Uma vida opaca e conciliadora, e na qual é preciso ser
falso, esconder interesses, montar estratégias, ser “esperto” e “levar vantagem.
Entretanto, se o Brasil precisa de mais e melhor educação, conforme previsto no Programa de Governo de
Dilma Rousseff é porque a qualidade do ensino é um dos pilares que sustenta a proposta por meio da valori-
zação do professor. Valoração, renovação, ação. Eis o sentido, das formações e\ou capacitações que deverão
propiciar ao professor a redescoberta da sua função e tarefa - assumidas em juramento.
Fazer com que o professor saia de um monólogo e busque entender as relações recíprocas existentes entre
domínio do saber e o domínio do saber fazer. Ou seja, tomar consciência do seu verdadeiro exercício, como
dinamizador do processo de ensino-aprendizagem e organizador da intervenção pedagógica. Esse processo
de reflexão em formação pode tornar consciente os modelos teóricos e epistemológicos que se evidenciam na
sua prática, para então refletir sobre o saber e o saber fazer. Essa situação levará o professor a rever o que
propôs e se dispor a novas possibilidades, modificando sua proposta, dispondo-se a repensá-la, ou manter a
mesma proposição.
Neste sentido, penso que a questão pontual para uma melhor educação seja a possibilidade do professor
estabelecer relações entre teoria e prática, assumindo seu papel no processo de ensino-aprendizagem e a
importância deste trabalho ser em conjunto entre professor x aluno, professor x professor. É buscar dar sentido
ao que somos ao que fazemos e por que fazemos.
Na verdade as colocações apresentadas nos mostram o esforço para permitir um processo de ensino-
-aprendizagem voltado à constituição de sentidos, ou seja, produzir significado mostrando ao aluno o que aque-
le conteúdo tem a ver com a vida dele e por que é importante e como aplicá-lo em uma situação real. Chamar os
professores, conforme Mello, para uma reflexão sobre a própria prática pedagógica: o que se faz e com quais
objetivos se faz. Torna-se muito importante ter um parâmetro de como estamos para saber o que precisamos
mudar. Ninguém muda se não tem consciência do que precisa mudar. Já sabemos o que mudar?
Penso que se este movimento estiver, conforme Gadotti, a construir um caminho próprio, libertando-se de
um pensamento transplantado, buscando realmente a superação e transformação das dependências enrai-
zadas nos modelos, nos paradigmas e das teorias elaboradas em outros contextos, em especial aqueles de
países hegemônicos, estaremos sim, caminhando para um comprometimento real para a transformação social.
Um processo, uma luta contra si mesmo à tomada de consciência e contínua; o engajamento, por uma real
mudança.
Projeto político-pedagógico
Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola
precisa ter um projeto político-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto Pedagógico).
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que
significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação provisória de lei.
Plano geral de edificação.
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Segundo Veiga, ao construirmos os projetos de nossas escolas, planejamos o que temos intenção de fazer,
de realizar. Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o possível. É antever um futuro dife-
rente do presente.
Nas palavras de Gadotti:
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um
estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em
função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode
ser tomado com a promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação
possível, comprometendo seus atores e autores.
Nessa perspectiva, o Projeto Político Pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de en-
sino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado
às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado
em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola.
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compro-
misso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por
estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população
majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade.
“A dimensão política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente peda-
gógica”.
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do trabalho pedagógico em dois
níveis: como organização da escola num todo e como organização da sala de aula, incluindo sua relação
com o contexto social imediato, procurando preservar a visão de totalidade.
Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto político-pedagógico busca a organização do tra-
balho pedagógico da escola na sua globalidade.
A principal possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela relativa autonomia da
escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço
público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.
Portanto, é preciso entender que o projeto político-pedagógico da escola dará indicações necessárias à
organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala de aula.
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Buscar uma nova organização para a escola constitui uma ousadia para os educadores, pais, alunos e fun-
cionários. E para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial que fundamente a construção
do projeto político-pedagógico.
A questão é, pois, saber a qual referencial temos que recorrer para a compreensão de nossa prática peda-
gógica. Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica viável, que
parta da prática social e esteja compromissada em solucionar os problemas da educação e do ensino de nossa
escola.
Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e, por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve
estar ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se necessário, também, o domínio das bases teórico-metodo-
lógicas indispensáveis à concretização das concepções assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas
que:
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de luta, de correlações de força - às vezes favo-
ráveis, às vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dos professores e
pesquisadores. Não poderão ser inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola.
Se a escola se nutre da vivência cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes de sua organiza-
ção do trabalho pedagógico à administração central, seja o Ministério da Educação, a Secretaria de Educação
Estadual ou Municipal, não compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular inovações
e coordenar as ações pedagógicas planejadas e organizadas pela própria escola.
Em outras palavras, as escolas necessitam receber assistência técnica e financeira decidida em conjunto
com as instâncias superiores do sistema de ensino.
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de organização das instâncias superiores, implicando
uma mudança substancial na sua prática. Para que a construção do projeto político-pedagógico seja possível
não é necessário convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-
-los de forma espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer
pedagógico de forma coerente.
A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que
dita as normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de
sua autonomia e qualidade.
O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade
em todo o processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do trabalho pedagógico da escola tem a
ver com a organização da sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição social, inserida
na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determinações e contradições dessa sociedade.
Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade. Cada escola é resultado de um processo de
desenvolvimento de suas próprias contradições. Não existem duas escolas iguais. Diante disso, desaparece
aquela arrogante pretensão de saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A arrogância do dono da
verdade dá lugar à criatividade e ao diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da história da edu-
cação da nossa época. Por isso, não deve existir um padrão único que oriente a escolha do projeto das escolas.
Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para estabelecer o seu projeto e autonomia para
executá-lo e avaliá-lo. A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte da própria natureza do ato
pedagógico. A gestão democrática da escola é, portanto, uma exigência de seu projeto político-pedagógico.
Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar.
Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é apenas um aparelho buro-
crático do Estado e não uma conquista da comunidade.
A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigen-
tes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros receptores dos serviços educacionais. Os pais,
alunos, professores e funcionários assumem sua parte na responsabilidade pelo projeto da escola.
Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação de um processo de gestão democrática na escola
pública:
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1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve dar o exemplo.
2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é específico da escola, isto é, o seu ensino.
A participação na gestão da escola proporcionará um melhor conhecimento do funcionamento da escola
e de todos os seus atores. Proporcionará um contato permanente entre professores e alunos, o que leva ao
conhecimento mútuo e, em consequência, aproximará também as necessidades dos alunos dos conteúdos
ensinados pelos professores.
O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua própria aprendizagem. E para ele tornar-se
sujeito da sua aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem respeito ao projeto da escola que
faz parte também do projeto de sua vida.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no artigo 12, define claramente a incumbência da
escola de elaborar o seu projeto pedagógico.
Além disso, explicita uma compreensão de escola para além da sala de aula e dos muros da escola, no
sentido desta estar inserida em um contexto social e que procure atender às exigências não só dos alunos, mas
de toda a sociedade.
Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de professores, supervisores e orientadores a responsabili-
dade de participar da elaboração desse projeto.
A construção do projeto político-pedagógico numa perspectiva emancipatória se constitui num processo de
vivência democrática à medida que todos os segmentos que compõem a comunidade escolar e acadêmica,
devem participar, comprometidos com a integridade do seu planejamento, de modo que todos assumem o com-
promisso com a totalidade do trabalho educativo.
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Segundo Veiga
, a abordagem do projeto político-pedagógico, como organização do trabalho da escola como um todo, está
fundada nos princípios que deverão nortear a escola democrática, pública e gratuita:
Igualdade: de condições para acesso e permanência na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há
uma desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto de chegada deve ser garantida pela media-
ção da escola. O autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo educativo em seu conjunto sob
a condição de se distinguir a democracia com a possibilidade no ponto de partida e democracia como realidade
no ponto de chegada. Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais que a expansão quantitativa de ofer-
tas; requer ampliação do atendimento com simultânea manutenção de qualidade.
Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao proje-
to político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade para todos. A qualidade que se busca implica
duas dimensões indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está subordinada a outra; cada uma
delas tem perspectivas próprias.
Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita,
necessariamente, a conteúdos determinados. Demo
afirma que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas,
procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento”.
Política - a qualidade política é condição imprescindível da participação. Está voltada para os fins, valores e
conteúdos. Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos
fins históricos da sociedade humana”.
Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de que a qualidade se centra no desafio de manejar
os instrumentos adequados para fazer a história humana. A qualidade formal está relacionada com a qualidade
política e esta depende da competência dos meios.
A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem
que garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Qualidade para todos, portanto, vai além
da meta quantitativa de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade escolar, entrem na escola. É
preciso garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica consciência crítica e
capacidade de ação, saber e mudar”.
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que exige dos educadores, funcionários, alunos e pais
a definição clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo
de sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a obtenção desses fins são
meios. Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a construção do projeto político-pedagógico.
Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela Constituição vigente e abrange as dimensões peda-
gógica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na prática administrativa da escola, com
o enfrentamento das questões de exclusão e reprovação e da não permanência do aluno na sala de aula, o que
vem provocando a marginalização das classes populares. Esse compromisso implica a construção coletiva de
um projeto político-pedagógico ligado à educação das classes populares.
A gestão democrática exige a compreensão em profundidade dos problemas postos pela prática pedagó-
gica. Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e
prática. Busca resgatar o controle do processo e do produto do trabalho pelos educadores.
Implica principalmente o repensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização. A so-
cialização do poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo; da reciprocidade,
que elimina a exploração; da solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de
órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais das quais a escola é mera executora.
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A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a ampla participação dos representantes dos diferentes
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques
: A participação ampla assegura a transparência das decisões, fortalece as pressões para que sejam elas legí-
timas, garante o controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, contribui para que sejam contempladas
questões que de outra forma não entrariam em cogitação.
Neste sentido, fica claro entender que a gestão democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil
de ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na construção do projeto político-pedagógico e na sua
gestão.
Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado à ideia de autonomia. O que é necessário, por-
tanto, como ponto de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e
a liberdade fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia remete-nos para
regras e orientações criadas pelos próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas.
Para Rios
, a escola tem uma autonomia relativa e a liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é uma arti-
culação de limites e possibilidades. Para a autora, a liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se
na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os outros, não, apesar dos outros”. Se pensamos
na liberdade na escola, devemos pensá-la na relação entre administradores, professores, funcionários e alunos
que aí assumem sua parte de responsabilidade na construção do projeto político-pedagógico e na relação des-
tes com o contexto social mais amplo.
A liberdade deve ser considerada, também, como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
arte e o saber direcionados para uma intencionalidade definida coletivamente.
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Estratégia de Planejamento
Marco Referencial: é necessário definir o conjunto de ideias, de opções e teorias que orientará a prática da
escola. Para tanto, é preciso analisar em que contexto a escola está inserida. Para assim definir e explicitar com
que tipo de sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas ela buscará formar e qual a sua intencio-
nalidade político, social, cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os critérios de ação para planejar
como se deseja a escola no que se refere à dimensão pedagógica, comunitária e administrativa.
É um momento que requer estudos, reflexões teóricas, análise do contexto, trabalho individual, em grupo,
debates, elaboração escrita. Devem ser criadas estratégias para que todos os segmentos envolvidos com a
construção do projeto político-pedagógico possam refletir, se posicionar acerca do contexto em que a escola
se insere. É necessário partir da realidade local, para compreendê-la numa dimensão mais ampla. Então se
deve analisar e discutir como vivem as pessoas da comunidade, de onde vieram quais grupos étnicos a com-
põem, qual o trabalho que realizam como são as relações deste trabalho, como é a vida no período da infância,
juventude, idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta comunidade, quais são as formas de organização desta
comunidade, etc.
A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir a relação que eles têm no tempo histórico, no
sentido de perceber mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e da comunidade. Analisar o que tem
de comum e tentar fazer relação com outros espaços, com a sociedade como um todo. Discutir como se vê a
sociedade brasileira, quais são os valores que estão presentes, como estes são manifestados, se as pessoas
estão satisfeitas com esta sociedade e o seu modo de organização.
Para delimitar o marco doutrinal do projeto político-pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade
nós queremos construir, com que valores, o que significa ser sujeito nesta sociedade, como a escola
pode colaborar com a formação deste sujeito durante a sua vida.
Para definirmos o marco operativo sugere-se que analisemos a concepção e os princípios para o pa-
pel que a escola pode desempenhar na sociedade.
Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de cada um, discutir com todos os segmentos
como queremos que seja nossa escola, que tipo de educação precisamos desenvolver para ajudar a construir
a sociedade que idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica da escola, como devem ser
as relações entre direção, equipe pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a escola pode
envolver a comunidade e se fazer presente nela, analisando qual a importância desta relação para os sujeitos
que dela participam.
Marco Diagnóstico: é o segundo passo da construção do projeto e se constitui num momento importante
que permite uma radiografia da situação em que a escola se encontra na organização e desenvolvimento do
seu trabalho pedagógico acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer comparações e estabe-
lecer necessidades para se chegar à intencionalidade do projeto.
O documento produzido sobre o marco referencial deve ser lido por todos. Com base neste documento de-
ve-se elaborar um roteiro de discussão para comparar todos os elementos que aparecem no documento com
a prática social vivida, ou seja, discutir como de fato se dá a relação entre escola e a comunidade, como ela
trabalha com os conhecimentos que os alunos trazem da sua prática social, como os conteúdos são escolhidos,
como os professores planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando se avalia o trabalho na
sala de aula e o trabalho pedagógico da escola, quem participa desta avaliação, como a escola tem definido a
sua opção teórica no trabalho pedagógico, como se dão as relações e a participação de alunos, professores,
coordenadores, diretores, pais, funcionários e comunidade na organização do trabalho pedagógico escolar.
Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por todos da equipe que elabora o projeto. Com a
finalização do diagnóstico da escola e de sua relação com a comunidade pode-se definir um plano de ação e as
grandes estratégias que devem ser perseguidas para atingir a intencionalidade assumida no marco referencial.
Propostas de Ação ou Marco da Programação: este é o momento em que se procura pensar estratégias,
linhas de ação, normas, ações concretas permanentes e temporárias para responder às necessidades apon-
tadas a partir do diagnóstico tendo por referência sempre à intencionalidade assumida. Assim, cada problema
constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma proposta de ação.
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Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes metas. Para cada meta pode-se definir ações
permanentes, ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para atingir a meta definida. Além
disso, é preciso justificar cada meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos necessários, os res-
ponsáveis pela execução, o cronograma e como será feita a avaliação.
Com base nesses três momentos que devem estar dialeticamente articulados elabora-se o projeto político-
-pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser executado, avaliado e (re)planejado.
Etapas
Devemos analisar e compreender a organização do trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova
organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico.
Nessa perspectiva, a construção do projeto político-pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de
contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos negativos
do poder autoritário e centralizador dos órgãos da administração central.
As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem assim ser definidas:
Cronograma de trabalho e definição da divisão de tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para
a elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com que haja organização e compromisso com o
trabalho de elaboração.
É importante reiterar que, quando se busca uma nova organização do trabalho pedagógico, está se conside-
rando que as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar calçadas nas atitudes de solidariedade,
de reciprocidade e de participação coletiva, em contraposição à organização regida pelos princípios da divisão
do trabalho da fragmentação e do controle hierárquico.
É nesse movimento que se verifica o confronto de interesses no interior da escola. Por isso todo esforço de
se gestar uma nova organização deve levar em conta as condições concretas presentes na escola. Há uma
correlação de forças e é nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, as rupturas, propiciando a
construção de novas formas de relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva que favoreçam
o diálogo, a comunicação horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a
descentralização do poder.
Histórico da instituição: sua criação, ato normativo, origem de seu nome, etc.
Princípios legais e norteadores da ação: a instituição deve observar ainda os planos e Políticas (federal,
estadual ou municipal) de Educação. A partir da identificação dos princípios registrados nas legislações em
vigor, deve explicitar o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação.
Currículo: identificar o paradigma curricular em concordância com sua opção do método, da teoria que
orienta sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção
por um referencial teórico que o sustente. Na organização curricular é preciso considerar alguns pontos básicos:
1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e a escola precisa
identificar e desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para
a manutenção de privilégios. A determinação do conhecimento escolar, portanto, implica uma análise interpre-
tativa e crítica, tanto da cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo expressa uma cultura.
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2º - é o de que o currículo não pode ser separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente
situado e culturalmente determinado.
3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas instituições
têm sido orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do conhecimento escolar.
4º - refere-se a questão do controle social, já que o currículo formal (conteúdos curriculares, metodo-
logia e recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle social
é instrumentalizado pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens transmitidas pela sala de aula e
pelo ambiente escolar”.
Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os valores dominantes são passados aos alunos no
ambiente escolar, no material didático e mais especificamente por intermédio dos livros didáticos, na relação
pedagógica, nas rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto “estimulam a conformidade a ideais nacio-
nais e convenções sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades socioeconômicas e culturais”.
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios implica, inicialmente desvelar as visões sim-
plificadas de sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser humano como alguém que tende a
aceitar papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na visão crítica, é uma
contribuição e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideologia veiculada por intermédio dos currículos
escolares.
2 ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1989.
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Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo, mais hierarquizadas e ritualizadas serão as rela-
ções sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o currículo integração que conduz a
um ensino em extensão.
Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se necessário que a escola reformule seu tempo,
estabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores fortalecendo a escola como instância
de educação continuada.
É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que es-
tão aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico em ação. É preciso
tempo para os estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além da sala de aula.
Finalidades
Segundo Veiga3, a escola persegue finalidades. É importante ressaltar que os educadores precisam ter
clareza das finalidades de sua escola. Para tanto há necessidade de se refletir sobre a ação educativa que a
escola desenvolve com base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades da escola referem-se
aos efeitos intencionalmente pretendidos e almejados.
Alves4 afirma que há necessidade de saber se a escola dispõe de alguma autonomia na determinação das
finalidades e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos específicos. O autor enfatiza que: interes-
sará reter se as finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são definidas no interior do território
social e se são definidas por consenso ou por conflito ou até se é matéria ambígua, imprecisa ou marginal.
Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola deve assumir, como uma de suas principais tare-
fas, o trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito
de autonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado os outros níveis da esfera adminis-
trativa educacional.
A ideia de autonomia está ligada à concepção emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola
não pode depender dos órgãos centrais e intermediários que definem a política da qual ela não passa de exe-
cutora. Ela concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir
uma nova atitude de liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades sociopolíticas e culturais da escola.
Estrutura Organizacional
A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de estruturas: administrativas e pedagógicas.
3 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível.
12ª edição Papirus, 2002.
4 ALVES José Matias. Organização, gestão e projeto educativo das escolas. Porto Edições Asa, 1992.
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Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das administrativas, “organizam as funções edu-
cativas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As estruturas pedagógicas
referem-se, fundamentalmente, às interações políticas, às questões de ensino e de aprendizagem e às de cur-
rículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho
pedagógico.
A análise da estrutura organizacional da escola visa identificar quais estruturas são valorizadas e por quem,
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro que a escola é uma organização orientada
por finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A análise e a compreensão da estrutura orga-
nizacional da escola significam indagar sobre suas características, seus polos de poder, seus conflitos.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os pressupostos que embasam a estrutura buro-
crática da escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a modificar a realidade social. Para
realizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que romper com a atual forma de
organização burocrática que regula o trabalho pedagógico - pela conformidade às regras fixadas, pela obedi-
ência a leis e diretrizes emanadas do poder central e pela cisão entre os que pensam e executam, que conduz
a fragmentação e ao consequente controle hierárquico que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo,
a ordem e a disciplina.
Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os
obstáculos e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a realidade escolar, estabelecendo
relações, definindo finalidades comuns e configurando novas formas de organizar as estruturas administrativas
e pedagógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende.
Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a
realidade escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo, seu projeto político-pe-
dagógico, propiciando consequentemente a construção de uma nova forma de organização.
Processo de Decisão
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas das ações e principalmente das decisões é
orientado por procedimentos formalizados, prevalecendo as relações hierárquicas de mando e submissão, de
poder autoritário e centralizador.
Uma estrutura administrativa da escola adequada à realização de objetivos educacionais, de acordo com
os interesses da população, deve prever mecanismos que estimulem a participação de todos no processo de
decisão.
Isto requer uma revisão das atribuições especificas e gerais, bem como da distribuição do poder e da des-
centralização do processo de decisão. Para que isso seja possível há necessidade de se instalarem mecanis-
mos institucionais visando à participação política de todos os envolvidos com o processo educativo da escola.
Contudo, a participação da coordenação pedagógica nesse processo é fundamental, pois o trabalho é ga-
rantir a satisfação do bom atendimento em prol de toda a instituição.
Avaliação
Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a reflexão com base em dados concretos sobre como
a escola organiza-se para colocar em ação seu projeto político-pedagógico. A avaliação do projeto político-
-pedagógico, numa visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade escolar, busca explicar e
compreender ceticamente as causas da existência de problemas bem como suas relações, suas mudanças e
se esforça para propor ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global, analisam o projeto político-pedagógico, não como
algo estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não rejeitam as contradições e os conflitos. A
avaliação tem um compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia das propostas conservadoras.
Portanto, acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da própria organização do
trabalho pedagógico.
Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação
é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político-pedagógico. Segundo, ela imprime uma
direção às ações dos educadores e dos educandos.
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O processo de avaliação envolve três momentos: a descrição e a problematização da realidade escolar, a
compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e a proposição de alternativas de ação, momento
de criação coletiva.
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser instrumento de exclusão dos alunos provenientes das
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do
aluno de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos historicamente e deve
ser resultante de um processo coletivo de avaliação diagnóstica.
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• Explicar, primeiramente, os princípios gerais e só depois os detalhes;
• Passar para o assunto ou tópico seguinte do conteúdo apenas quando o aluno tiver compreendido o an-
terior.
Como pode-se perceber, esses pressupostos da prática docente que são utilizados até hoje já eram procla-
mados por Comenius em pleno século XVII.
O que é Didática
A Didática é um ramo específico da Pedagogia. Enquanto a Pedagogia pode ser conhecida como filosofia,
ciência e técnica da educação, que estuda, portanto, a educação, a instrução e o ensino, a Didática pode ser
conceituada como a arte, como a técnica de ensino.
Conceitua-se didática como sendo: síntese, sistematização, organização do trabalho docente. E mais, a
maneira como o professor sintetiza, sistematiza, organiza o conteúdo de sua prática docente depende de uma
tomada de decisão que, por sua vez, dependerá da fundamentação que o professor tenha sobre o seu trabalho
e suas relações com o ser humano e com o mundo em que vive.
O conjunto dessas decisões é o que constitui o campo da Didática. A didática é uma das áreas mais im-
portantes da Pedagogia, pois ela investiga os fundamentos, as condições e os modos de realizar a educação
mediante o ensino.
É uma ação historicamente situada e que faz a Didática ir se constituindo como teoria do ensino, não para
criar regras e métodos válidos para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa compreensão das deman-
das que a atividade de ensinar produz, com base nos saberes acumulados sobre essa questão.
A verdade é que o conceito de Didática tem mudado com o passar do tempo, estando ligado à sua coloca-
ção em relação à concepção de educação e à concepção filosófica que a orienta.
Conceitos de Didática
A didática admite vários conceitos que foram apresentados a seguir e os justifica como sendo oriundos
do ponto de vista de várias abordagens ou concepções de educação, tais como: Sentido Etimológico; Senso
Comum; Abordagem Tradicional; Abordagem Humanista; Abordagem Tecnicista; Abordagem Sociopolítica; e,
Abordagem Multidimensional ou Fundamental.
• Sentido Etimológico
Didática - deriva da expressão grega techné didaktiké, que significa “arte ou técnica de ensinar”.
• Senso Comum
Didática - método, técnica, norma, conjunto de princípios técnicos; disciplina prática e normativa; modo,
maneira de dar aula.
• Abordagem Tradicional
Didática - doutrina da instrução, entendida como um conjunto de normas prescritivas centradas no método
e em regras, no intelecto, no conteúdo dogmático. O método mais empregado é o expositivo, segundo o qual o
professor é o centro do processo da aprendizagem.
A metodologia de ensino tem um caráter formal; o professor atribui um significado dogmático aos conteúdos,
concebe o aluno como um ser passivo, sem autonomia e sem considerar conhecimentos e experiências ante-
riores. Para garantir a atenção, o silêncio, o professor usa a disciplina rígida, utilizando inclusive castigos físicos.
• Abordagem Humanista
Didática - apresenta caráter de neutralidade científica, de base psicológica, defendendo ideias de “aprender
fazendo” e “aprender a aprender”, sem considerar o contexto político-social. A característica mais marcante
da Didática é a valorização da criança que é vista como um ser dotado de poderes individuais, cuja liberdade,
iniciativa, autonomia e interesse devem ser respeitados.
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Neste sentido, o conteúdo da Didática enfatiza a questão da motivação para aprender, o atendimento às
diferenças individuais e aos interesses do aluno, como também uma metodologia que atenda a esses aspectos.
• Abordagem Tecnicista
Didática - preocupa-se com as variáveis internas do processo ensino-aprendizagem, sem considerar o
contexto político-social, procurando desenvolver uma alternativa não psicológica, centrando-se nos aspectos
da “tecnologia educacional”, tendo como preocupação básica a eficácia e a eficiência do processo de ensino. A
atuação da Didática está voltada para o planejamento didático formal, na formulação de objetivos de ensino, na
elaboração de materiais instrucionais, organização e eficiência técnica desse ensino e a uma avaliação objetiva
da aprendizagem.
• Abordagem Sociopolítica
Didática - assume os discursos sociológico, filosófico e histórico. Ela é questionada, postula uma antididáti-
ca e seu papel deverá ir além dos métodos e técnicas, associando escola e sociedade, teoria-prática, auxiliando
o processo de politização do professor.
A educação não está centrada no professor ou no aluno, mas na formação do homem. Neste sentido, a
Didática adquire um caráter crítico.
Volta-se para a preocupação com as finalidades e intencionalidades da educação, e com os pressupostos
teórico-ideológicos que fundamentam o processo educativo. Buscando superar o intelectualismo formal do
enfoque tradicional, evitando os efeitos do espontaneísmo escolanovista, combatendo a orientação desmobi-
lizadora do tecnicismo, superando assim as tarefas especificamente pedagógicas, desprestigiadas a partir do
discurso reprodutivista.
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Para finalizar esse tópico, enfatiza-se que não existe consenso em relação à conceituação de Didática.
Os estudos a respeito da didática como disciplina, no entanto, permitem dizer que o processo de ensino e de
aprendizagem é o seu objeto de estudo e que é o principal ramo de estudo da Pedagogia.
A ela compete: investigar os fundamentos, as condições e modos de realização da instrução e da efetivação
do ensino; converter os objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino; selecionar e organizar
os conteúdos curriculares e estabelecer as estratégias para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem
do aluno.
Pelo exposto, podemos afirmar que a Didática, enquanto disciplina, se preocupa com as relações interpes-
soais dos sujeitos no processo educativo, com a organização técnico-metodológica do processo de ensino e
com a aprendizagem e a intencionalidade política da educação. É essencialmente o estudo de como ensinar
para um melhor aprender (aspecto técnico); do por que ensinar, dependendo da concepção de homem e de
sociedade que se tem (aspecto filosófico); e do para quê ensinar (aspecto político), pautado nas finalidades e
intencionalidades sociopolíticas da educação.
Também ressalta Libâneo que o trabalho docente, isto é, a efetivação da tarefa de ensinar, é uma modalida-
de de trabalho pedagógico e dela se ocupa a Didática. Nessa tarefa, a Didática recebe contribuições de outras
disciplinas, tais como: Filosofia da Educação, Teoria da Educação e Teoria de Organização Escolar, dentre
outras.
Fundamenta-se nas ciências do comportamento e, de modo especial, na Biologia e na Psicologia da Edu-
cação, através das pesquisas experimentais.
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Professor: perfil e saberes docentes
Os filósofos gregos são considerados os primeiros professores do mundo. No Brasil, consideramos como
primeiro professor o Padre José de Anchieta, que, após desembarcar no país, em de 1553, começou a ministrar
aulas para os índios.
O professor é, antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a
outros. No entanto, as transformações advindas do processo de globalização e do quadro educacional, bem como
as atuais exigências socioculturais suscitaram mudanças no perfil docente, passando esse a ser um mediador de
conhecimentos e gestor de aprendizagens, apresentando novas atitudes e comportamentos perante a sociedade e
à sua prática docente.
Os professores, embora trabalhem em grupos, devem atingir os indivíduos que os compõem porque são os
indivíduos que aprendem. A disposição do professor para conhecer seus alunos como indivíduos deve estar
impregnada de sensibilidade e de discernimento a fim de evitar as generalizações excessivas e de afogar a per-
cepção que ele tem dos indivíduos em um agregado indistinto e pouco fértil para a adaptação de suas ações.
Assim, na atualidade, necessitamos de um professor que, não formado nessa perspectiva, busque se cons-
truir como intelectual, pesquisador de sua própria prática e do conteúdo que desenvolve, o que reitera a ne-
cessidade da formação continuada e em serviço, porque, o professor precisa mobilizar um vasto cabedal de
saberes e habilidades, porque sua ação é orientada por diferentes objetivos: emocionais, sociais, cognitivos,
coletivos.
O exercício da profissão ganha mais qualidade se o professor conhece bem o funcionamento do sistema
escolar (as políticas educacionais, as diretrizes legais, as relações entre a escola e a sociedade, etc.) e das
escolas (sua organização interna, as formas de gestão, o currículo, os métodos de ensino, o relacionamento
professor-aluno, a participação da comunidade, etc.) e aprende a estabelecer relações entre essas duas ins-
tâncias.
Em suma, o professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além
de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia, e desenvolver um saber
prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos.
O exercício profissional do professor, no sentido de contribuir com o funcionamento da escola, compreen-
de, ao menos, três atribuições: a docência, a atuação na organização e na gestão da escola, e a produção de
conhecimento pedagógico.
A docência é uma profissão, sendo necessária uma formação própria, para cujo exercício não basta adquirir
conteúdos específicos, mas que inclua conhecimentos específicos e pedagógicos, o que exige bem mais do
que conhecimento de um conteúdo exclusivo. As atividades inerentes à docência envolvem relação professor/
aluno, questões metodológicas, planejamento de aula, de curso, curricular, utilização de novas tecnologias no
ensino, elaboração e implementação de instrumentos de avaliação, participação na elaboração do projeto pe-
dagógico do curso, revisão curricular, articulação da disciplina com a totalidade do curso e com a realidade so-
cial e profissional, participação em processos avaliativos internos e externos, para citar apenas algumas ações
em que a dimensão pedagógica está diretamente presente.
Então quais são os saberes que servem de base ao ofício de professor, ou melhor, quais são os conheci-
mentos, as competências e as habilidades, do saber fazer que o professor precisa mobilizar diariamente, na
sala de aula, na escola, isto é, o seu fazer pedagógico, a fim de desenvolver a sua prática docente?
Define-se o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, oriun-
dos da:
c) saberes curriculares – correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos apresentados pe-
las instituições escolares, em forma de programas, que os professores devem aprender e aplicar;
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d) saberes experienciais – chamados saberes experienciais práticos, brotam do trabalho cotidiano e no
conhecimento do seu meio. São incorporados à experiência individual e coletiva transformando-se em hábitos
e de habilidades, de saber-fazer e saber - ser.
Qual a fonte dos saberes dos professores e como são integrados ao cotidiano da prática docente?
Ainda que se faça referência sobre os saberes desenvolvidos por professores do ensino superior, suas
ideias podem ser perfeitamente aplicadas no contexto da educação básica, pois têm como fonte:
a) saberes pessoais dos professores, que têm como fonte a família, o ambiente de vida, a educação no
sentido lato e são integrados ao trabalho docente pela história de vida de cada um;
b) saberes provenientes da formação escolar anterior, que têm as escolas primária e secundária e os
estudos pós-secundários não especializados como fonte, e são integrados ao trabalho pela formação e socia-
lização pré-profissionais;
c) saberes provenientes da formação profissional para o magistério, que têm como fonte os esta-
belecimentos de formação de professores, os estágios, os cursos de reciclagem; saberes provenientes dos
programas e livros didáticos usados no trabalho, que advêm da utilização das ferramentas dos professores,
programas, livros, cadernos de exercícios, fichas, etc., que são adaptadas às tarefas cotidianas;
d) saberes provenientes de sua própria experiência na profissão, na sala de aula e na escola, adquiridos
e incorporados na prática do trabalho e pela socialização profissional.
O professor tem várias responsabilidades profissionais: conhecer bem a matéria, saber ensiná-la, ligar o en-
sino à realidade do aluno e a seu contexto social, ter uma prática de investigação sobre o seu próprio trabalho.
No tocante à organização da educação nacional, os docentes estão incumbidos das seguintes atribuições,
conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Art. 13. BRASIL, 1996):
Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
Zelar pela aprendizagem dos alunos;
Estabelecer estratégias de recuperação para alunos de menor rendimento;
Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados
ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade;
Experiência docente – é pré-requisito o exercício profissional de quaisquer outras funções do magistério, nos
termos das normas de cada estabelecimento de ensino (Art. 67).
A competência profissional do professor não se esgota apenas no conhecimento científico que as ciências
da educação podem lhe dar, mas ao saber prático, “o saber da experiência” que deve ser integrado ao conhe-
cimento acadêmico. O perfil ideal do professor é de um profissional aberto ao aprendizado constante, atento à
sua capacidade de mediador de conhecimentos, habilidades e atitudes, com curiosidade científica, inovador e
reflexivo em relação à sua prática docente.
Estas considerações justificam a necessidade de uma sólida preparação profissional face às exigências
colocadas pelo trabalho docente. Essa é tarefa do curso de formação para atuação na educação básica e,
particularmente, da Didática.
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Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avalia-
ção
Planejamento: concepções
O planejamento não deve ser tomado apenas como mais um procedimento administrativo de natureza
burocrática, decorrente de alguma exigência superior ou mesmo de alguma instância externa à instituição. Ao
contrário, ele deve ser compreendido como mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos,
segmentos e setores que constituem essa instituição e participam da mesma.
A preocupação com o planejamento se desenvolveu, principalmente, no mundo do trabalho, no contexto das
teorias administrativas do campo empresarial.
Essas teorias foram se constituindo nas chamadas escolas de administração, que têm influenciado o campo
da administração escolar. Para muitos teóricos e profissionais, os princípios por elas defendidos seriam aplicá-
veis em qualquer campo da vida social e ou do setor produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola.
Essa influência deixa suas marcas também no que se refere ao planejamento, à medida que o mesmo
assumiu uma centralidade cada vez maior, a partir dos princípios e métodos definidos por Taylor e os demais
teóricos que o seguiram. Isso porque, a partir do taylorismo, assim como das teorias administrativas que o to-
maram como referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerência foram o planejamento e o controle do
processo de trabalho.
Na verdade, o formalismo e a burocratização do processo de planejamento no campo educacional decor-
rem, em boa medida, das marcas deixadas pelos modelos de organização do trabalho voltados, essencialmen-
te, para a busca de uma maior produtividade, eficiência e eficácia da gestão e do funcionamento da escola. Isso
secundariza os processos participativos, de trabalho coletivo e do compromisso social, requeridos pela pers-
pectiva da gestão democrática da educação. É o caso, por exemplo, dos modelos e das concepções de pla-
nejamento orientadas pelo horizonte do planejamento tradicional ou normativo e do planejamento estratégico.
Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a perspectiva do planejamento participativo.
O planejamento estratégico
O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvolveu dentro de uma concepção de administração es-
tratégica que se articula aos modelos e padrões de organização da produção, construídos no contexto das
mudanças do mundo do trabalho e da acumulação flexível, a partir da segunda metade do século XX. Essa
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concepção de administração e de planejamento procura definir a direção a ser seguida por determinada or-
ganização, especialmente no que se refere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas funcionais,
à filosofia de atuação, aos macroobjetivos e aos objetivos funcionais, sempre com vistas a um maior grau de
interação dessa organização com o ambiente.
Essa interação com o ambiente, no entanto, é compreendida como a análise das oportunidades e ameaças
do meio ambiente, de forma a estabelecer objetivos, estratégias e ações que possibilitem um aumento da com-
petitividade da empresa ou da organização.
Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o planejamento dentro um modelo de decisão
unificado e homogeneizador, que pressupõe os seguintes elementos básicos:
- determinação do propósito organizacional em termos de valores, missão, objetivos, estratégias, metas e
ações, com foco em priorizar a alocação de recursos
- análise sistemática dos pontos fortes e fracos da organização, inclusive com a descrição das condições
internas de resposta ao ambiente externo e à forma de modificá-las, com vistas ao fortalecimento dessa orga-
nização
- delimitação dos campos de atuação da organização
- engajamento de todos os níveis da organização para a consecução dos fins maiores.
Em contraposição a esses modelos de planejamento, a perspectiva da gestão democrática da educação e
da escola pressupõe o planejamento participativo como concepção e modelo de planejamento. O planejamento
participativo deve, pois, enquanto metodologia de trabalho, constituir a base para a construção e para a reali-
zação do Projeto Políticopedagógico da escola.
O planejamento participativo não possui um caráter meramente técnico e instrumental, à medida que parte
de uma leitura de mundo crítica, que apreende e denuncia o caráter excludente e de injustiça presente em
nossa realidade. As características de tal realidade, por sua vez, decorrem, dentre outros fatores, da falta ou
da impossibilidade de participação e do fato de a atividade humana acontecer em todos os níveis e aspectos.
Nessa perspectiva, a participação se coloca como requisito fundamental para uma nova educação, uma nova
escola, uma nova ordem social, uma participação que pressupõe e aponta para a construção coletiva da escola
e da própria sociedade.
O planejamento participativo na educação e na escola traz consigo, ainda, duas dimensões fundamentais:
o trabalho coletivo e o compromisso com a transformação social.
O trabalho coletivo implica uma compreensão mais ampla da escola. É preciso que os diferentes segmentos
e atores que constroem e reconstroem a escola apreendam suas várias dimensões e significados. Isso porque
o caráter educativo da escola não reside apenas no espaço da sala de aula, nos processos de ensino e apren-
dizagem, mas se realiza, também, nas práticas e relações que aí se desenvolvem. A escola educa não apenas
nos conteúdos que transmite, à medida que o processo de formação humana que ali se desenvolve acontece
também nos momentos e espaços de diálogo, de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de seus atores,
nas práticas e modelos de gestão vivenciados.
De outra parte, o compromisso com a transformação social coloca como horizonte a construção de uma
sociedade mais justa, solidária e igualitária, e uma das tarefas da educação e da escola é contribuir para essa
transformação.
Por certo, como já analisamos em outros momentos neste curso, a escola pode desempenhar o papel de
instrumento de reprodução do modelo de sociedade dominante, à medida que reproduz no seu interior o indi-
vidualismo, a fragmentação social e uma compreensão ingênua e pragmática da realidade, do conhecimento e
do próprio homem.
Em contrapartida, a educação e a escola articuladas com a transformação social implicam uma nova com-
preensão do conhecimento, tomado agora como saber social, construção histórica, instrumento para com-
preensão e intervenção crítica na realidade. Concebem o homem na sua totalidade e, portanto, visam a sua
formação integral: biológica, material, social, afetiva, lúdica, estética, cultural, política, entre outras.
A partir dos aspectos aqui destacados, é possível definir os seguintes elementos básicos que definem e
caracterizam o planejamento participativo:
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- Distanciam-se daqueles modelos de organização do trabalho que separa, no tempo e no espaço, quem
toma as decisões de quem as executa,
- Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente Projeto Vivencial) enquanto ação de forma refletida,
pensada,
- Pressupõem a unidade entre pensamento e ação,
- O poder é exercido de forma coletiva,
- Implicam a atuação permanente e organizada de todos os segmentos envolvidos com o trabalho educativo,
- Constituem-se num avanço, na perspectiva da superação da organização burocrática do trabalho pedagó-
gico escolar, assentado na separação entre teoria e prática.
O trabalho coletivo e o compromisso com a transformação social colocam, pois, o planejamento participa-
tivo como perspectiva fundamental quando se pretende pensar e realizar a gestão democrática da escola. Ao
mesmo tempo, essa concepção e esse modelo de planejamento se constituem como a base para a construção
do Projeto Políticopedagógico da escola.
O planejamento participativo implica, ainda, o aprofundamento crescente, a discussão e a reflexão sobre
o tema da participação. Sobre essa temática, na Sala Ambiente Projeto Vivencial, importantes elementos são
destacados também.
Referência:
SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão Escolar. Planejamento: concepções. Escola de gestores.
MEC.
PLANEJAMENTO DE ENSINO
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário ainda mais desenvolver um planejamento. Neste
caso, o ensino, tem como principal função garantir a coerência entre as atividades que o professor faz com seus
alunos e, além disso, as aprendizagens que pretende proporcionar a eles. Então, pode-se dizer que a forma de
planejar deve focar a relação entre o ensinar e o aprender.
Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvolver um processo de decisão sobre a atuação concreta
por parte dos professores, na sua ação pedagógica, envolvendo ações e situações do cotidiano que acontecem
através de interações entre alunos e professores.
O professor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe que deve participar, elaborar e organizar
planos em diferentes níveis de complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo envolvimento no pro-
cesso ensino-aprendizagem, ele deve estimular a participação do aluno, a fim de que este possa, realmente,
efetuar uma aprendizagem tão significativa quanto o permitam suas possibilidades e necessidades.
O planejamento, neste caso, envolve a previsão de resultados desejáveis, assim como também os meios
necessários para os alcançar. A responsabilidade do mestre é imensa. Grande parte da eficácia de seu ensino
depende da organicidade, coerência e flexibilidade de seu planejamento.
O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho do professor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão
maior neste texto.
Fases do planejamento de ensino e sua importância no processo de ensino-aprendizagem
O planejamento faz parte de um processo constante através do qual a preparação, a realização e o acom-
panhamento estão intimamente ligados. Quando se revisa uma ação realizada, prepara-se uma nova ação
num processo contínuo e sem cortes. No caso do planejamento de ensino, uma previsão bem-feita do que será
realizado em classe, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfeiçoa a prática pedagógica do professor.
Por isso é que o planejamento deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para que não se torne um ato
meramente burocrático, como acontece em muitas escolas. A maneira de se planejar não deve ser mecânica,
repetitiva, pelo contrário, na realização do planejamento devem ser considerados, combinados entre si, os se-
guintes aspectos:
1) Considerar os alunos não como uma turma homogênea, mas a forma singular de apreender de cada um,
seu processo, suas hipóteses, suas perguntas a partir do que já aprenderam e a partir das suas histórias;
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2) Considerar o que é importante e significativo para aquela turma. Ter claro onde se quer chegar, que re-
corte deve ser feito na História para escolher temáticas e que atividades deverão ser implementadas, conside-
rando os interesses do grupo como um todo.
Para considerar os conhecimentos dos alunos é necessário propor situações em que possam mostrar os
seus conhecimentos, suas hipóteses durante as atividades implementadas, para que assim forneçam pistas
para a continuidade do trabalho e para o planejamento das ações futuras.
É preciso pensar constantemente para quem serve o planejamento, o que se está planejando e para quê
vão servir as suas ações.
Algumas indagações auxiliam quando se está construindo um planejamento. Seguem alguns exemplos:
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem?
- Que objetivos pretendem-se alcançar?
- Que meios/estratégias são utilizados para alcançar tais objetivos?
- Quanto tempo será necessário para alcançar os objetivos?
- Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados?
É a partir destas perguntas e respectivas respostas que são determinadas algumas fases dentro do plane-
jamento:
- Diagnóstico da realidade;
- Definição do tema e Fase de preparação;
- Avaliação.
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir que tipo de sociedade e de homem se quer e que
tipo de ação educacional é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo de ação e até que
ponto se está contribuindo para o resultado final que se pretende; propor uma série orgânica de ações para
diminuir essa distância e para contribuir mais para o resultado final estabelecido; executar – agir em conformi-
dade com o que foi proposto; e avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das ações,
bem como cada um dos documentos deles derivados”(GANDIN, 2005, p.23).
Fases do Planejamento
Diagnóstico da Realidade:
Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de atender as necessidades dos seus alunos, a
primeira atitude a fazer, é “sondar o ambiente”. O médico antes de dizer com certeza o que seu paciente tem,
examina-o, fazendo um “diagnóstico” do seu problema. E, da mesma forma, deve acontecer com a prática de
ensino: o professor deve fazer uma sondagem sobre a realidade que se encontram os seus alunos, qual é o
nível de aprendizagem em que estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar o seu trabalho, o
professor deve considerar, segundo Turra et alii, alguns aspectos, tais como:
- as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim de melhor orientar suas realizações e sua integração
à comunidade;
- a realidade de cada aluno em particular, objetivando oferecer condições para o desenvolvimento harmôni-
co de cada um, satisfazendo exigências e necessidades biopsicossociais;
- os pontos de referência comuns, envolvendo o ambiente escolar e o ambiente comunitário;
- suas próprias condições, não só como pessoa, mas como profissional responsável pela orientação ade-
quada do trabalho escolar.
A partir da análise da realidade, o professor tem condições de elaborar seu plano de ensino, fundamentado
em fatos reais e significativos dentro do contexto escolar.
Definição do tema e preparação:
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Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode iniciar o seu trabalho a partir de um tema, que tanto
pode ser escolhido pelo professor, através do julgamento da necessidade de aplicação do mesmo, ou decidido
juntamente com os alunos, a partir do interesse deles. Planejar dentro de uma temática, denota uma preocupa-
ção em não fragmentar os conhecimentos, tornando-os mais significativos.
Na fase de preparação do planejamento são previstos todos os passos que farão parte da execução do
trabalho, a fim de alcançar a concretização e o desenvolvimento dos objetivos propostos, a partir da análise do
contexto da realidade. Em outras palavras, pode-se dizer que esta é a fase da decisão e da concretização das
ideias.
A tomada de decisão é que respalda a construção do futuro segundo uma visão daquilo que se espera obter
[...] A tomada de decisão corresponde, antes de tudo, ao estabelecimento de um compromisso de ação sem a
qual o que se espera não se converterá em realidade. Cabe ressaltar que esse compromisso será tanto mais
sólido, quanto mais seja fundamentado em uma visão crítica da realidade na qual nos incluímos. A tomada de
decisão implica, portanto, nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas as situações vislumbradas
no plano das ideias.
Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente os objetivos gerais e, em seguida, os objetivos espe-
cíficos. Também são selecionados e organizados os conteúdos, os procedimentos de ensino, as estratégias a
serem utilizadas, bem como os recursos, sejam eles materiais e/ou humanos.
Avaliação
É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-á:
a) demonstrar que a ação produz alguma diferença quanto ao desenvolvimento dos alunos;
b) promover o aprimoramento da ação como consequência de sugestões resultantes da avaliação. Além
disso, toda avaliação deve estar intimamente ligada ao processo de preparação do planejamento, principal-
mente com seus objetivos. Não se espera que a avaliação seja simplesmente um resultado final, mas acima de
tudo, seja analisada durante todo o processo; é por isso que se deve planejar todas as ações antes de iniciá-las,
definindo cada objetivo em termos dos resultados que se esperam alcançar, e que de fato possa ser atingível
pelo aluno. As atividades devem ser coerentes com os objetivos propostos, para facilitar o processo avaliativo
e devem ser elaborados instrumentos e estratégias apropriadas para a verificação dos resultados.
A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está ligada à prática do professor, o que faz com que aumente
a responsabilidade em bem planejar. Dalmás fala sobre avaliação dizendo que:
Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um processo de ação-reflexão-ação. Em outras palavras,
parte-se do planejamento para agir na realidade sobre a qual se planejou, analisam-se os resultados, corrige-se
o planejado e retorna-se à ação para posteriormente ser esta novamente avaliada.
Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o planejamento de ensino, pois é através dela que se
percebem os progressos dos alunos, descobrem-se os aspectos positivos e negativos que surgem durante o
processo e busca-se, através dela, uma constante melhoria na elaboração do planejamento, melhorando con-
sequentemente a prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portanto, ela passa a ser um “norte” na prá-
tica docente, pois, “faz com que o grupo ou pessoa localize, confronte os resultados e determine a continuidade
do processo, com ou sem modificações no conteúdo ou na programação”.
Importância do planejamento no processo de ensino-aprendizagem
Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se deslocado para a questão de como se aprende.
Frequentemente ouvia-se por parte dos professores, a seguinte expressão: “ensinei bem de acordo com o pla-
nejado, o aluno é que não aprendeu”. Esta expressão era muito comum na época da corrente tecnicista, em
que se privilegiava o ensino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refletindo sobre a questão da construção
do conhecimento, o questionamento foi maior, no sentido da preocupação com a aprendizagem.
No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pensar na questão do aprendizado. Se realmente há a
preocupação com a aprendizagem, deve-se questionar se a forma como se planeja tem em mente também o
ensino, ou seja, deve haver uma correlação entre ensino-aprendizagem.
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A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de uma visão construtivista como um resultado do esforço
de encontrar significado ao que se está aprendendo. E esse esforço é obtido através da construção do conhe-
cimento que acontece com a assimilação, a acomodação dos conteúdos e que são relacionados com antigos
conhecimentos que constantemente vão sendo reformulados e/ou “reesquematizados” na mente humana.
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em conta os conhecimentos prévios dos alunos, a apren-
dizagem a partir da necessidade, do conflito, da inquietação e do desequilíbrio tão falado na teoria de Piaget. E
é aí que o professor, como mediador do processo de ensino-aprendizagem, precisa definir objetivos e os rumos
da ação pedagógica, responsabilizando-se pela qualidade do ensino.
Essa forma de planejar considera a processualidade da aprendizagem cujo avanço no processo se dá a
partir de desafios e problematizações. Para tanto, é necessário, além de considerar os conhecimentos prévios,
compreender o seu pensamento sobre as questões propostas em sala de aula.
O ato de aprender acontece quando o indivíduo atualiza seus esquemas de conhecimento, quando os com-
para com o que é novo, quando estabelece relações entre o que está aprendendo com o que já sabe. E, isso
exige que o professor proponha atividades que instiguem a curiosidade, o questionamento e a reflexão frente
aos conteúdos. Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um papel ativo de mediador no processo
de aprendizagem do aluno, intervindo pedagogicamente na construção que o mesmo realiza.
Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar o planejamento como ferramenta básica e eficaz,
a fim de fazer suas intervenções na aprendizagem do aluno. É através do planejamento que são definidos e
articulados os conteúdos, objetivos e metodologias são propostas e maneiras eficazes de avaliar são definidas.
O planejamento de ensino, portanto, é de suma importância para uma prática eficaz e consequentemente para
a concretização dessa prática, que acontece com a aprendizagem do aluno.
Se de fato o objetivo do professor é que o aluno aprenda, através de uma boa intervenção de ensino, pla-
nejar aulas é um compromisso com a qualidade de suas ações e a garantia do cumprimento de seus objetivos.
Referência:
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino como Ferramenta Básica do Processo Ensino-
-Aprendizagem. UNICENTRO - Revista Eletrônica Lato Sensu, 2008
Para uma atuação efetiva, o docente precisa dominar a gestão em sala de aula e esta, por sua vez, somen-
te é exercida de forma satisfatória se tiver pautada em três dimensões básicas que, juntas, formam um tripé.
Acompanhe a seguir quais são essas dimensões.
Organização da coletividade
Essa dimensão está relacionada à disciplina e ao chamado clima de trabalho em sala de aula. Organizar a
coletividade nada mais é do que criar um ambiente de participação, interação, disciplina e respeito é importante
para que o processo de ensino e aprendizagem aconteça da melhor forma. Entre as medidas que contribuem
para a organização da coletividade e, consequentemente, para um aprendizado efetivo, estão a realização as-
sembleias de classe, a promoção de conversas sobre a importância da escola, fazer com os alunos um contrato
didático no início das aulas, etc.
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de relacionamento, é preciso que professor e aluno sejam capazes de compreender os diferentes mundos em
que estão inseridos. E este movimento deve partir do professor: é preciso demonstrar interesse, fazer contato,
conhecer e se conectar com a turma.
Mediação do conhecimento
Mediar o conhecimento quer dizer mostrar aos alunos onde se aplica o conteúdo recém aprendido, de que
forma esse conteúdo aumenta a compreensão sobre outros fatos e como o conceito pode ampliar a sua com-
preensão de mundo. Tudo isso é mediar o significado de um conceito.
Diante dessas definições de cada dimensão, entendemos que a importância do tripé integrado por elas
tem sua importância devido à educação escolar ser um processo coletivo e de interação com a realidade, por
meio do relacionamento humano baseado no trabalho com o conhecimento e na organização da coletividade,
cuja finalidade é colaborar na formação do educando na sua totalidade tendo como mediação fundamental os
saberes que possibilitam a emancipação humana.
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Medidas efetivas
Existem algumas ações que podem favorecer e, até mesmo, garantir a construção de um clima escolar sa-
tisfatório e acolhedor. Conheça algumas:
– Regras de convivência: essa medida desempenham um papel importante, desde que construídas con-
juntamente. Joice ressalta que ser acolhedor não é sinônimo de não ter limites. Entender o que pode e o que
não pode é papel dos alunos, professores e funcionários, e ajuda a compreender o espaço de cada um na
escola.
– Tempo de intervalo: algumas escolas proporcionam quinze minutos de intervalo para comer, ir ao ba-
nheiro e brincar, mas as pessoas precisam de mais tempo para se relacionar. É evidente que os alunos ajudam
na manutenção do clima, mas isso só é possível se a escola tiver uma proposta voltada a ouvir as crianças e
jovens e compreendê-los.
– Assembleias escolares: ouvir a opinião de crianças e jovens também é sempre relevante. Entretanto,
com a volta das aulas presenciais, Joice reforça que, além de avaliações e sondagens para verificar a aprendi-
zagem, é necessário promover momentos para que os alunos possam falar como estão se sentindo.
- Objetivos da didática
Nesse sentido, os objetivos da didática tornam-se claros e podemos defini-los assim:
1.Reflexão sobre o papel sociopolítico da educação, da escola e do ensino;
2.Compreensão do processo de ensino;
3.Instrumentalização do professor para identificação e resolução de problemas na prática pedagógica;
4.Desenvolvimento da capacidade de adequar a prática docente à realidade do aluno e a seus conhecimen-
tos prévios.
- Conclusão
Podemos entender que a didática representa um conjunto de conhecimentos que conferem condições ao
docente de trabalhar com seus alunos, adequando seus métodos não só aos conteúdos, mas também ao con-
texto social que o aluno está inserido, buscando formas de obter uma aprendizagem mais significativa, a partir
dos conhecimentos prévios dos estudantes.
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Principais teorias da aprendizagem. Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para
a psicologia e a pedagogia
7 Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem [recurso eletrônico] / Josieli Piovesan ... [et al.]. – 1.
ed. – Santa Maria, RS: UFSM, NTE, 2018.
8 De acordo com Piaget, esquemas são estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelec-
tualmente se adaptam e organizam o meio.
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A figura a seguir demonstra a relação entre assimilação, acomodação e adaptação.
Processo de assimilação e acomodação
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psicologia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendiza-
gem.pdf
Segundo Piaget, haveria aprendizagem somente quando o esquema de assimilação sofre acomodação.
Nesse sentido, o sujeito vai construindo teorias acerca do funcionamento do meio físico e social.
O desenvolvimento cognitivo constitui um processo de sucessivas mudanças nas estruturas cognitivas, de
construção e reconstrução contínuas de esquemas prévios, os quais, aos poucos, transformam bases inatas e
reflexas em representações mentais, conduzindo ao equilíbrio. O equilíbrio entre os dois processos possibilita
uma adaptação cada vez mais adequada do sujeito ao mundo e, consequentemente, sua organização mental.
Todavia, quando este equilíbrio é rompido por experiências ainda não assimiladas, a mente se reorganiza
para construir novos esquemas de assimilação e novamente atingir o equilíbrio. Este processo de reequilíbrio é
denominado equilibração majorante e é o responsável pelo desenvolvimento mental do sujeito.
A partir da abordagem piagetiana, é fundamental provocar o desequilíbrio na mente da criança para que
ela, ao buscar o reequilíbrio, se reorganize cognitivamente e consiga aprender. Ou seja, quando o equilíbrio é
desestabilizado a criança tem a oportunidade de crescer e se desenvolver. Sob esta ótica, é imprescindível que
o professor desafie o aluno, provocando constante desequilíbrio em seus esquemas mentais.
Para compreender melhor esse processo, tomemos como exemplo a figura abaixo:
Cavalo ou cachorro?
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psicologia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendiza-
gem.pdf
Na imagem podemos ver dois animais: um cavalo e um cachorro. Pensemos numa criança que começa
a reconhecer os animais e, até o momento, conhece apenas o cachorro. Então, a representação mental que
possui de animais foi construída com base nas características do cachorro.
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Quando vê outro animal com características semelhantes vai utilizar o esquema que já construiu para iden-
tificar este animal. Assim, ao olhar o cavalo inicialmente pensará que ele também é um cachorro: ambos pos-
suem quatro patas, um rabo, pescoço, nariz molhado, duas orelhas, etc. Nesta etapa ocorre a assimilação: a
semelhança entre o cavalo e o cachorro (apesar da diferença de tamanho) faz com que um cavalo passe por
um cachorro.
A quantidade de informações acumuladas pela criança ainda não é suficiente para que ela diferencie os
dois animais. A diferenciação do cavalo para o cachorro deverá ocorrer após a intervenção de alguém que vai
lhe explicar que se trata de um cavalo, e ela poderá diferenciá-los, construindo um novo esquema (conceito).
Terá assim, dois conceitos diferentes: um para o cachorro e outro para o cavalo, podendo diferenciá-los. É
quando ocorre o processo de acomodação.
Piaget nomina como esquemas as estruturas cognitivas que são modificadas por meio dos processos de
assimilação e acomodação. Os esquemas estão em contínuo movimento e permitem ao indivíduo melhor adap-
tar-se a uma realidade que, ele próprio, vai percebendo mais complexa e abrangente, exigindo formas de pen-
samento e comportamento mais evoluídas.
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Também desenvolve a capacidade de aplicar um mesmo tipo de pensamento em situações-problema dife-
rentes. Crianças na faixa etária das operações concretas tendem a ser menos egocêntricas e mais eficientes
em tarefas que demandam raciocínio lógico, como relações espaciais, causalidade, categorização, raciocínio
indutivo e dedutivo e conservação. E é isso que diferencia a criança em idade escolar de crianças menores.
Já no estágio operatório formal, a partir dos 12 anos de idade, a criança consegue pensar de forma abs-
trata e hipotética, é capaz de estabelecer relações possíveis respeitando determinada lógica, testa hipóteses
em busca de solução para problemas. Atinge um nível mais elevado de desenvolvimento, podendo resolver
situações através do raciocínio lógico e explicar fatos observáveis utilizando-se de suposições. Neste estágio o
indivíduo inicia sua transição para o modo adulto de pensar.
Por serem sucessivos, cada um dos estágios tem como ponto principal o aparecimento de uma etapa de
equilíbrio, ou seja, uma fase de organização das ações e das operações do sujeito, descrita mediante uma
estrutura lógico-matemática. Quando se considera a ação educativa, a passagem de um estado de menos
conhecimento para um estado de conhecimento mais avançado encontra explicação nos estudos de Piaget.
A aprendizagem escolar não é uma recepção passiva do conhecimento transmitido, mas sim um processo
ativo de elaboração, no qual a interação múltipla entre os alunos e os conteúdos que eles têm de aprender deve
ser favorecida. Assim, por meio das ações efetivas ou mentais que realiza sobre o conteúdo de aprendizagem,
o aluno constrói o conhecimento.
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Neste sentido, destaca que o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um proces-
so através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam. As formulações de Vy-
gotsky permitem observar a existência de duas características diferentes na educação formal: a sistematização
dos conhecimentos e a interação com os pares.
Nesse aspecto, um dos grandes legados de Vygotsky para a educação está nos conceitos de Zona de De-
senvolvimento Real, Zona de Desenvolvimento Proximal e Zona de Desenvolvimento Potencial. A partir de tais
conceitos é possível concluir que a inserção social do sujeito, sua interação com o outro, interfere significativa-
mente no desenvolvimento intelectual, o qual está estreitamente ligado à aprendizagem.
Segundo Vygotsky, a Zona de Desenvolvimento Real refere-se ao nível de desenvolvimento das funções
mentais da criança que se estabelecem como resultado de certos ciclos de desenvolvimento já completados.
Nisso reside a importância de, além das características do desenvolvimento, a escola considerar o conheci-
mento que a criança já possui.
A Zona de Desenvolvimento Potencial refere-se ao que o sujeito pode aprender com o outro, cuja aprendiza-
gem encontra-se num nível mais elevado. A Zona de Desenvolvimento Proximal alude ao espaço entre o que a
criança já possui e o que ela precisa construir, ou seja, as funções que ainda estão em processo de maturação.
É um domínio psicológico em constante transformação, em que a criança se desenvolve com o auxílio de
outras crianças e adultos mais experientes. Em síntese, a Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância
entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de proble-
mas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação
de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.
O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal mostra que com auxílio do outro a criança tem possibili-
dade de produzir mais do que produziria sozinha. Aponta o potencial da criança frente às possibilidades ainda
não realizadas e destaca a importância da mediação tanto para a construção de conhecimentos como para o
desenvolvimento das relações sociais.
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psicologia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendiza-
gem.pdf
A imagem auxilia a clarear tais conceitos. Como vemos, na Zona de Desenvolvimento Real está o saber
atual, isto é, todas as aprendizagens que a criança já construiu, tudo aquilo que ela é capaz de fazer sem ne-
cessitar da ajuda de outras pessoas. Por exemplo: amarrar os sapatos, vestir a roupa, andar, subir e descer
escadas, andar de bicicleta, montar um quebra-cabeça, escrever, desenhar, entre outras atividades realizadas
sem a intervenção de outra pessoa.
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No centro da figura, está a Zona de Desenvolvimento Proximal, onde a ponte indica um caminho a ser
percorrido. É o lugar das aprendizagens que estão sendo construídas, de tudo aquilo que a criança ainda não
sabe, mas que pode aprender com o auxílio de pessoas mais experientes. Por isso é um lugar de mediação,
de interação, de trocas com o professor, com os colegas, com outras pessoas que podem auxiliar a criança
aprender.
Existem tarefas que a criança ainda não consegue realizar sozinha, mas se torna capaz de realizar se al-
guém lhe der um exemplo, uma instrução de como fazer, fornecer pistas ou auxiliar na execução da tarefa para
que entenda o processo. Por exemplo: para uma criança que ainda não consegue andar sozinha, para aprender
a andar precisa que um adulto a segure pela mão e a ensine, mas ela precisa estar num determinado nível de
desenvolvimento (por volta de um ano de idade).
Uma criança de dois ou três meses, mesmo com a ajuda de um adulto, não é capaz de andar. Posterior à
Zona de Desenvolvimento Proximal está a Zona de Desenvolvimento Potencial que é o saber a ser alcançado,
ou seja, conhecimentos que a criança ainda não construiu, aquilo que ainda não sabe, que não consegue fazer
sozinha, nem com a ajuda de outras pessoas.
É importante dizer que cada nova aprendizagem que a criança consegue realizar se torna um saber atual e
vai aumentando sua capacidade de aprender coisas novas. Assim, aquilo que a criança não conseguiria realizar
mesmo que recebesse ajuda de outra pessoa vai se tornando mais acessível à sua capacidade e ela passa a
conseguir realizar com auxílio, até a aprendizagem se tornar completa e ela realizar sozinha.
Nessa perspectiva, o professor desempenha uma função fundamental para o desenvolvimento da criança,
na medida em que pode possibilitar diferentes maneiras de interação e construção do conhecimento. Vygotsky
critica o aprendizado orientado para os níveis de desenvolvimento que já foram alcançados pelas crianças, pois
torna o trabalho educativo ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança. Acrescenta que
a noção de Zona de Desenvolvimento Proximal propõe que o “bom aprendizado” é aquele que se adianta ao
desenvolvimento.
Segundo o autor, aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organiza-
do resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de ou-
tra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do pro-
cesso de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas.
Assim, faz-se necessária uma compreensão de desenvolvimento a partir de um processo dinâmico de
aprendizagem, constituído por idas e vindas, elaborações e reelaborações, em que a aprendizagem estimula o
processo de desenvolvimento, que por sua vez incita processos internos que, ao serem internalizados, tornam-
-se aquisições independentes da criança.
Outro aspecto importante na teoria de Vygotsky é a ideia de mediação. As relações sociais dos seres huma-
nos são mediadas por instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente pelo próprio homem.
O desenvolvimento da linguagem, instrumento de comunicação e síntese do conhecimento, marca quali-
tativamente a evolução da espécie e do indivíduo. A mediação ocorre tanto nos processos de representação
mental de natureza simbólica, em que o ser humano é capaz de estabelecer relações mentais na ausência de
referências concretas, como no aspecto social, com a internalização de formas de comportamento culturalmen-
te estabelecidas, num processo que transforma as atividades externas, funções interpessoais, em atividades
internas, intrapsicológicas.
No que refere à intervenção pedagógica, ela provoca avanços na aprendizagem que não ocorreriam espon-
taneamente. A importância da intervenção deliberada de um indivíduo sobre outro, com o intuito de promover
desenvolvimento, articula-se como a ideia de Vygotsky de que a aprendizagem é fundamental para o desenvol-
vimento desde o nascimento da criança.
É importante ressaltar que para este teórico a aprendizagem começa muito antes de a criança entrar na
escola. Mas é na escola que o aluno entra em contato com saberes formalizados, diferentes dos saberes do
senso comum.
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Seus estudos resultaram na construção da teoria que, por sua abrangência e profundidade, é denomina-
da como psicogênese da pessoa completa. Nela, propõe que o desenvolvimento seja estudado de maneira
integrada, englobando a afetividade, a motricidade e a inteligência enquanto campos funcionais nos quais se
distribui a atividade infantil, bem como os diferentes momentos de sua evolução psíquica (estágios do desen-
volvimento), numa perspectiva abrangente e global.
As proposições de Wallon demandam que se estude o desenvolvimento infantil tomando a própria criança
como ponto de partida, buscando compreender cada uma de suas manifestações no conjunto de suas pos-
sibilidades, sem a prévia censura da lógica adulta. Assim, a teoria de Wallon indica que no desenvolvimento
humano é possível identificar a existência de etapas diferenciadas, que se caracterizam por um conjunto de
necessidades e de interesses que lhe asseguram lógica e coesão.
O estudo da criança contextualizada possibilita que se perceba que, entre os seus recursos e os de seu
meio, instala-se uma dinâmica de determinações recíprocas: a cada idade estabelece-se um tipo particular de
interações entre o sujeito e seu ambiente. Os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem e
os conhecimentos próprios a cada cultura formam o contexto do desenvolvimento.
Conforme as disponibilidades da idade, a criança interage mais fortemente com um ou outro aspecto de seu
contexto, retirando dele os recursos para o seu desenvolvimento. Com base nas suas competências e necessi-
dades, a criança tem sempre a escolha do campo sobre o qual aplicar suas condutas. O meio não é, portanto,
uma entidade estática e homogênea, mas transforma-se juntamente com a criança.
Esse processo é influenciado por fatores orgânicos e sociais. Os fatores orgânicos são os responsáveis pela
sequência fixa que se estabelece entre as etapas do desenvolvimento, porém, não asseguram uma homoge-
neidade no seu tempo de duração, haja vista a interferência das circunstâncias sociais.
O simples amadurecimento do sistema nervoso não garante o desenvolvimento de habilidades intelectuais
mais complexas. Para que se desenvolvam, precisam interagir com “alimento cultural”, isto é, linguagem e co-
nhecimento”.
A passagem dos estágios de desenvolvimento não ocorre de maneira linear, mas num ritmo descontínuo,
marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando importantes mudanças em cada fase vivida pela
criança. Consiste num processo de contínua reformulação, marcado por crises que afetam a conduta da crian-
ça.
No processo de desenvolvimento infantil surgem inúmeros conflitos, o que conduz Wallon a manter um
olhar atento a este aspecto. Todavia, não os vê como problemas na vida da criança, e sim como propulsores
do desenvolvimento.
Sobre a origem dos conflitos esclarece-se que Conflitos de origem exógena, quando resultantes dos desen-
contros entre as ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura. De natureza
endógena, quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa.
Até que se integrem aos centros responsáveis por seu controle, as funções recentes ficam sujeitas a apare-
cimentos intermitentes e entregues a exercícios de si mesmas, em atividades desajustadas das circunstâncias
exteriores. Isso desorganiza, conturba, as formas de conduta que já tinham atingido certa estabilidade na rela-
ção com o meio.
Nesse contexto, o desenvolvimento do sujeito é visto como uma construção progressiva, com fases suces-
sivas, em que o predomínio dos aspectos afetivos e cognitivos se alterna. Wallon denomina essa tendência ao
predomínio de um aspecto sobre o outro de “predominância funcional”. Tal predomínio é orientado pelo princípio
de alternância funcional, isto é, as formas de atividade se alternam em cada fase em função do interesse da
criança, estando ligadas aos recursos que a criança dispõe para interagir com o ambiente.
Apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à
outra. Cada uma, ao reaparecer como atividade predominante num dado estágio, incorpora as conquistas reali-
zadas pela outra, no estágio anterior, construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração
e diferenciação.
São apresentadas abaixo, as características principais de cada um dos cinco estágios propostos pela psi-
cogenética walloniana:
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– No estágio impulsivo-emocional, que abrange o primeiro ano de vida, a emoção é o instrumento privi-
legiado de interação da criança com o meio.
– No estágio sensório-motor e projetivo, que vai até o terceiro ano, a criança direciona seu interesse
para a exploração sensório-motora do mundo físico, em que predominam as relações cognitivas com o meio. O
desenvolvimento da função simbólica e da linguagem são marcos importantes desta fase.
– No estágio do personalismo, na idade dos três aos seis anos, a tarefa central é o desenvolvimento da per-
sonalidade. A construção da consciência de si, que ocorre pelas interações sociais, reorienta o interesse da criança
para as pessoas. Retorna o predomínio das relações afetivas.
– Aos seis anos tem início o estágio categorial, que, por conta da consolidação da função simbólica e da
diferenciação da personalidade realizadas no estágio anterior, traz importantes avanços no plano da inteligên-
cia. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para o conhecimento e conquista do mundo a sua
volta. Predomínio do aspecto cognitivo.
– No estágio da adolescência a crise pubertária impõe a necessidade de uma nova definição dos con-
tornos da personalidade em virtude das mudanças corporais. Movimento que traz à tona questões pessoais,
morais e existenciais, retomando a predominância da afetividade.
Assim, ao estudar o ser humano em sua integralidade, a psicogenética walloniana identifica a existência de
campos que reúnem a diversidade das funções psíquicas. A efetividade, o ato motor, a inteligência, são campos
funcionais entre os quais se distribui a atividade infantil”, diferenciando-se gradativamente.
A pessoa é o todo que integra esses vários campos e é, ela própria, um outro campo funcional. A figura a
seguir expressa a ideia de inter-relação e continuidade presente nos quatro campos funcionais.
Quatro Campos Funcionais de Wallon
https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/358/2019/07/MD_Psicologia-do-Desenvolvimento-e-da-Aprendiza-
gem.pdf
No decorrer do desenvolvimento incidem, entre os campos funcionais e no interior de cada um, sucessivas
diferenciações (mudanças). A ideia de diferenciação é fundamental na psicogenética walloniana, e, numa pers-
pectiva mais ampla, orienta o processo de formação da personalidade.
Outro aspecto a ser ressaltado na teoria de Wallon é o papel da emoção. Para ele, a emoção encontra-se
na origem da consciência, regulando a passagem do mundo orgânico para o social, do plano fisiológico para o
psíquico. Diferencia emoção de afetividade, sendo a emoção uma manifestação da vida afetiva e a afetividade
um conceito mais abrangente. As emoções se diferenciam de outras manifestações afetivas e se manifestam
acompanhadas de alterações orgânicas (aceleração dos batimentos cardíacos, da respiração, etc.), provocan-
do alterações na expressão facial, na postura, na maneira como os gestos são executados.
Defende, ainda, que as emoções são reações organizadas e que se exercem reguladas pelo sistema ner-
voso central, cujos comandos próprios estão situados na região sub-cortical. Contudo, salienta que é somente
com a aquisição da linguagem que as possibilidades de expressar as emoções se diversificam, como também
os motivos que as originam.
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A motricidade ocupa lugar especial na teoria walloniana, é simultânea e sequencial à primeira estrutura de
relação e correlação, tanto com o meio, quanto com os outros e com os objetos posteriormente. É pelo ato
motor que nos relacionamos com o mundo físico (motricidade de realização), tendo o movimento um papel
fundamental na afetividade e também na cognição.
Um dos traços originais desta perspectiva teórica consiste na ênfase que dá à motricidade expressiva, isto
é, à dimensão afetiva do movimento. Por meio do movimento as pessoas são mobilizadas para posteriormente
agirem sobre o mundo físico.
A psicogenética walloniana também atribui muitas significações ao tônus muscular, enquanto componente
corporal que se modifica ao manifestar emoções. Esclarece que o músculo, mesmo em repouso, possui um
estado permanente de tensão que é conhecido como tono ou tônus muscular. Ele está presente em todas as
funções motrizes do organismo como o equilíbrio, a coordenação e o movimento. O tônus muscular é direta-
mente moldado pelas emoções.
Nesse sentido, não é possível selecionar um único aspecto da criança para ser trabalhado, pois o desen-
volvimento acontece nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil: afetivo, cognitivo
e motor. O campo afetivo oferece as funções responsáveis pelas emoções, pelos sentimentos e pelo desejo.
O campo cognitivo oferece um conjunto de funções que permite a aquisição e a manutenção do conheci-
mento por meio de imagens, noções, ideias e representações. É ele que permite ainda registrar e rever o passa-
do, fixar e analisar o presente e projetar futuros possíveis e imaginários. O campo motor oferece a possibilidade
de deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem
como o apoio tônico para as emoções e sentimentos se expressarem.
A psicologia genética de Wallon, por sua abrangência e dinamicidade, serve de base para direcionar muitas
ações no campo educacional. O maior objetivo da educação, no contexto de sua psicologia genética, estaria
posto no desenvolvimento da pessoa e não em seu desenvolvimento intelectual. A inteligência é uma parte do
todo em que o sujeito se constitui. Neste sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada
na psicogênese da pessoa completa.
Suas proposições pedagógicas indicam a necessidade de reformulação no contexto escolar, no sentido de
superar a dicotomia entre indivíduo e sociedade, a partir de um processo de reflexão da própria escola acerca
de suas dimensões sócio-políticas e de seu papel no movimento de transformações da sociedade.
A organização da Educação9 que temos encontra razões históricas para ser o que é, a mudança da realida-
de requer a mudança da lógica que nos trouxe até aqui. Atribui-se a Einstein a afirmação de que não é possível
resolver um problema com a lógica que o criou. Desvelar a lógica histórica da organização da educação brasi-
leira é essencial para a proposição de alternativas de mudança.
Dessa forma, porque temos a organização da educação que temos?
Para responder a questão acima é preciso analisar referenciais importantes, como, a análise do processo de
constituição do Estado brasileiro, iluminada pela teoria do imaginário social efetivo de Castoriadis; o Manifesto
dos Pioneiros; a natureza das leis; e os conceitos fundantes da organização sistêmica. Esses referenciais
estabelecem as bases teóricas para a compreensão da situação atual da organização da educação brasileira.
Essa compreensão permitirá a proposição de alternativas para a conciliação da unidade nacional com a
autonomia dos sistemas de ensino, ambas imperiosas para a efetivação da finalidade essencial da educação,
que é a promoção do exercício da cidadania, como condição para o desenvolvimento pleno da pessoa.
9 BORDIGNON, G. Gestão da Educação no Município: sistema, conselho e plano. São Paulo Instituto Paulo
Freire, 2009.
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O Processo de Constituição do Estado Brasileiro
A sociedade humana se institui por um processo de autocriação, auto instituição, determinada pelas sig-
nificações sociais do imaginário coletivo. Esse imaginário, é constituído pelo “magma” de crenças, valores,
costumes historicamente construídos, que constituem a cultura de um povo. E com base nela a sociedade se
autoinstitui, por meio da instituição das normas, do Estado que a governa. Córdova10, analisando o imaginário
social efetivo de Castoriadis, afirma, tais significações são os valores básicos, ou fundamentais que dão senti-
do, a orientação básica dessa sociedade, a sua identidade, o amálgama que lhe permite reunir-se e dizer-se.
O Estado brasileiro foi constituído com base na cultura europeia latina, na cultura europeia anglo-saxônica,
a constituição dos Estados derivou dos valores da identidade nacional, construída pelas significações das prá-
ticas sociais.
Nos países latinos, ao contrário, prevaleceu o processo dedutivo, ou seja, a instituição dos Estados obe-
deceu a princípios e valores teóricos, a fundamentar a nacionalidade. Apenas como sinalização histórica, vale
lembrar que na França, Espanha e Portugal, monarquias constituídas à época como Estados unitários, centra-
lizados, a institucionalidade derivava dos valores das Cortes.
O Estado brasileiro, ignorando a cultura e a história das mais de duzentas nações indígenas aqui existentes,
foi constituído pelas “significações” da cultura latina, de feitio napoleônico. Neste sentido, o Estado brasileiro
precedeu à Nação. As leis do Império buscavam impor valores de inspiração católica, latina e capitalista. Desta
forma foram tecendo muito mais um Estado ideal, centrado na burocracia da Corte, do que o Estado real, cen-
trado num projeto de nacionalidade.
A República, de bases positivistas, seguiu o figurino napoleônico. As leis que temos guardam a memória
do processo histórico de formação da sociedade brasileira. Embora às vezes esquecidas, perdidas no tempo,
as significações históricas que moldaram a constituição do Estado brasileiro continuam atuando na sociedade
atual e fundamentam nosso ordenamento jurídico, porque guardadas como valores no inconsciente coletivo.
Gomes11 em seu artigo, Conselhos de educação: luzes e sombras, explicita bem o impacto dessa cultura
no ordenamento jurídico da educação brasileira, de feitio “hipernormatizador”. Para o autor, os herdeiros da
tradição napoleônica e positivista, ainda alimentamos a falaciosa crença de que a norma pode criar valores e
infundi-los nas pessoas. As normas são incapazes de mudar o caráter das pessoas e suas práticas sociais e,
por isso, não são eficazes para criar valores. Os valores são criados pelos processos sociais, pela cultura, tare-
fa atribuída precipuamente à família e à educação. Em nome da afirmação de valores e do controle dos desvios
éticos, que radicam no caráter das pessoas, tendemos a cair na armadilha de limitar o espaço da autonomia
institucional e do exercício pessoal da cidadania. A excessiva regulamentação, o engessamento normativo da
ação pedagógica, é contraditório com o fundamento freiriano da educação emancipadora.
Embora a Constituição de 1988 tenha buscado expressar os valores da nacionalidade, estimulando a parti-
cipação social, as práticas sociais ainda permanecem impregnadas de traços culturais imperialistas, de fundo
patrimonialista e paternalista. Ainda temos mais aparelhos de Estado do que Nação, mais valores instituídos,
determinados pelas leis, do que práticas sociais de cidadania ativa.
10 CÓRDOVA, Rogério de A. Educação Brasileira: processos e trabalhos. Módulo V, vol. I. PIE. FE/UnB,
Brasília, 2003.
11 GOMES, C. A. C. Conselhos de educação: luzes e sombras. Revista de Educação - AEC, Brasília, v. 32,
2003.
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O Manifesto preconizava uma organização da educação fundada em bases e diretrizes nacionais, articu-
lando responsabilidades próprias dos entes federados. Um projeto nacional com responsabilidades descentra-
lizadas.
Assim, o Manifesto enfatizava uma organização da educação brasileira unitária sobre a base e os princípios
do Estado, no espírito da verdadeira comunidade popular e no cuidado da unidade nacional, não implica um
centralismo estéril e odioso, ao qual se opõem as condições geográficas do país e a necessidade de adaptação
crescente da escola aos interesses e às exigências regionais. Unidade não significa uniformidade. A unidade
pressupõe multiplicidade. Por menos que pareça, à primeira vista, não é, pois, na centralização, mas na apli-
cação da doutrina federativa e descentralizadora, que teremos de buscar o meio de levar a cabo, em toda a
República, uma obra metódica e coordenada, de acordo com um plano comum, de completa eficiência, tanto
em intensidade como em extensão.
A principal discussão que permeou as discussões da elaboração do Plano Nacional de Educação, pelo
Conselho Nacional de Educação de 1937, foi a da descentralização, já apontando caminhos para a municipa-
lização do ensino.
Azanha12 analisa que: Para Anísio Teixeira, grande protagonista dessas discussões, a municipalização do
ensino primário oferecia vantagens de ordem administrativa, social e pedagógica. Quanto à primeira as razões
são óbvias. Quanto à segunda, as vantagens adviriam do fato de o professor ser um elemento local ou pelo
menos aí integrado e não mais um ‘cônsul’ representante de um poder externo. Quanto à terceira, residiria prin-
cipalmente na possibilidade de o currículo escolar refletir a cultura local.
As discussões promissoras suscitadas pelos pioneiros foram interrompidas em 1937 pelo advento do Esta-
do Novo, que optou pela fragmentação das leis orgânicas. A Constituição de 1946 retomou os fundamentos da
Constituição de 1934, permitindo a retomada do projeto dos Pioneiros, consolidado na primeira LDB de 1961.
A descentralização remete à questão do poder local e de abertura de espaços para o exercício da cidadania,
via participação. A descentralização do ensino, por meio de sistemas articulados, na concepção dos Pioneiros,
não significava mera transferência de responsabilidades da União para os entes federados. Significava, muito
mais, compartilhamento de poder. Por isso, os movimentos pela descentralização sempre acompanharam os
movimentos de democratização e de autonomia dos entes federados.
C) Autonomia: o sistema se constitui como um sujeito coletivo com espaço e capacidade de autorregulação,
autônomos;
12 AZANHA, J.M.P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
13 AGESTA, Luiz Sanchez. Sistema Político. In: Dicionário de ciências sociais. Fundação Getúlio Vargas.
Instituto de Documentação. Benedicto Silva (Coord). Rio de Janeiro. Ed. FGV. 1986.
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E) Normatização: a norma é o elemento articulador, organizador do sistema, que estabelece a coerência da
ação das partes em vista da finalidade do todo e define os limites da autonomia.
O conceito de sistema não se limita a valores de grandeza, dessa forma, pode ser atribuído da mesma for-
ma a grandes e pequenos espaços da organização social. O fundamental é ter presente a delimitação do todo
considerado, a abrangência, o que compreende, do que é constituído um determinado sistema, sem perder de
vista as inter-relações com o todo maior no qual se insere.
Os sistemas de ensino compreendem o conjunto de instituições, órgãos e normas educacionais de cada
ente federado. Ou seja: organizam o todo educacional sob responsabilidade de cada ente federado, no âmbito
de sua autonomia.
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Os Conselhos de Educação foram historicamente concebidos como órgãos técnicos de assessoramento
superior, com a função precípua de colaborar na formulação das políticas e diretrizes educacionais no interior
dos sistemas, dessa forma, a função situou os conselhos como órgãos normativos. Na prática, os conselhos
centraram sua ação na normatização e controle do funcionamento das instituições educacionais, assumindo,
no decorrer do tempo, caráter predominantemente cartorial.
As novas exigências da democratização, especialmente a partir da Constituição de 1988, que instituiu o
princípio da gestão democrática da educação, passaram a requer dos conselhos, além da tradicional compe-
tência normativa, ações de controle e de mobilização social. Esses novos papéis atribuem aos conselhos, por
sua vez, uma nova natureza de órgãos de Estado. Essa natureza demanda novo perfil de composição e de
atuação, invertendo a tradicional postura de “ecos” da voz do governo falando à sociedade, para passar a ex-
pressar a voz da sociedade falando ao governo. Na verdade, a nova natureza situa os conselhos como pontes,
mediadores do diálogo entre o governo e as aspirações da sociedade.
Os Planos de Educação, elaborados com a participação da sociedade, passaram a constituir-se em instru-
mentos fundamentais da gestão democrática dos sistemas de ensino. Como instrumentos de gestão, os planos
necessitam guardar coerência com as políticas e diretrizes nacionais e locais. Para isso, é fundamental estabe-
lecer as interconexões entre os diferentes planos, desde o âmbito nacional até o escolar.
O Plano Nacional de Educação (PNE - Lei 1.072/2001), como Plano de Estado, define os objetivos e metas
nacionais. O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE/2007), como plano de governo, com seus eixos
estruturantes (Financiamento, Formação de professores e piso salarial, Avaliação e responsabilização e Plane-
jamento e gestão educacional) é o instrumento estratégico de gestão do MEC, para realização dos objetivos e
metas nacionais do PNE, com foco na qualidade da educação, ou seja, no educando, razão originária de toda
a ação educacional.
Os planos estaduais e municipais, definem os objetivos e metas locais, tanto para a realização, no seu
âmbito, dos objetivos e metas nacionais, como para os próprios de seu sistema de ensino. O Plano de Ações
Articuladas (PAR) define as estratégias locais em para o cumprimento, no seu âmbito, das metas do PDE.
O Projeto ou Proposta Pedagógica (termos utilizados indistintamente pela LDB e pelo CNE nas Diretrizes
Curriculares, mas definido na literatura pedagógica e na maioria das instituições educacionais como Projeto
Político Pedagógico - PPP - ou, em alguns casos, Eco-Político-Pedagógico - PEPP) particulariza para a escola,
segundo sua identidade, definida pelo ambiente e pela educação oferecida, as políticas e diretrizes nacionais e
locais. Conforme estabelece o artigo 13 da LDB, a proposta pedagógica - PEPP para nós - fundamenta o Plano
de Trabalho Anual - PTA - ou, em coerência com o PDE e o PAR, o PDE-Escola, que particularizam na escola
as metas estratégicas anuais da promoção da qualidade da educação.
Na prática, essa arquitetura constitui um verdadeiro sistema nacional de educação, que articula, por meio
dos dispositivos normativos e planos, os sistemas de ensino, nos quais se inserem os conselhos de educação.
Sistema a ser operado por meio do regime de colaboração. O Regime de Colaboração é o princípio constitucio-
nal posto como nó para estabelecer a conectividade geradora das interconexões necessárias para articular a
unidade na multiplicidade. Mas, esse princípio não foi eficaz como elo articulador dessas interconexões. Assim,
hoje se coloca a questão da regulamentação do regime de colaboração por meio da construção de um sistema
nacional de educação.
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e mantendo as especicifidades de cada um, respeitadas as normas gerais emanadas dos órgãos superiores e
definindo-se o papel da União, estados e municípios” (Documento Final da Conferência Nacional de Educação
Básica).
Ao longo do Documento Final é recorrente a referência à necessidade de regulamentação do regime de
colaboração e como processo de construção do Sistema Nacional Articulado de Educação. Em que pese a con-
vergência das discussões nacionais sobre essa necessidade de regulamentação, expressão da nossa cultura
histórica hipernormatizadora, ao que parece dominando nosso inconsciente coletivo, algumas reflexões, ou
questões provocadoras, se tornam pertinentes.
As normas existentes já não são suficientes? E, seria uma nova regulamentação capaz de tornar efetivo o
que já é determinação legal? A Constituição e a LDB, complementadas por outras leis federais e Resoluções
do CNE, definem diretrizes educacionais comuns a todo o território nacional, no cumprimento do § 1º, art. 8º da
LDB que atribui à União a “coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sis-
temas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais”,
com vistas a superar as desigualdades regionais e promover a qualidade da educação.
Por outro lado, qual seria a dimensão da nova regulamentação? O que entendemos por “regulamentação”?
É oportuno distinguir a natureza, o que é própria da lei, do que é próprio dos regulamentos, ou normas com-
plementares. A natureza da lei é a de formalizar e legitimar, fundada em nossa identidade cultural e política, os
valores da cidadania que queremos. O objeto próprio da lei é o de definir os objetivos e diretrizes gerais; esta-
belecer os limites das liberdades da cidadania, os direitos e deveres, o que pode e o que não pode. Ou seja: a
lei define a intencionalidade, o horizonte a alcançar, a orientação da ação, o caminho a percorrer. Neste sentido
a lei assume um caráter mais geral e permanente. Até porque, sua elaboração, de competência privativa do
Poder Legislativo, demanda demoradas discussões com os representantes de toda a sociedade.
O objeto dos regulamentos, ou normas complementares (decretos, resoluções, pareceres normativos, por-
tarias, estatutos, regimentos, regulamentos), como o termo o diz, é o de regulamentar a aplicação da lei, esta-
belecendo os critérios e processos da ação no âmbito do Poder Executivo, o modo de percorrer o caminho, para
alcançar os objetivos definidos pela lei.
Em síntese, a lei institui, formaliza e legitima os valores e objetivos mais permanentes da sociedade, do
projeto de nacionalidade e; as normas complementares tratam dos processos, das metodologias - situados no
transitório das circunstâncias da gestão - para o caminhar na direção definida pela lei.
Dessas questões derivam duas análises para reflexão:
- A regulamentação do regime de colaboração não demanda, necessariamente, uma lei própria. Cabe sim
definição legal, disciplinando - na LDB ou, se for o caso, em lei própria - o princípio constitucional do regime
de colaboração, explicitando de forma pertinente as competências próprias dos entes federados. A regulamen-
tação das ações que efetivam o regime de colaboração está mais para a ordem da definição de processos e
métodos, de regulamentação propriamente dita no âmbito do Poder Executivo. No caso é oportuno enfatizar o
papel normativo dos conselhos de educação (Nacional, Estaduais/Distrital e Municipais) para a efetivação do
princípio constitucional e das diretrizes e objetivos legais.
- A construção do Sistema Nacional Articulado de Educação não implica na organização de um novo sis-
tema. A criação de um novo sistema - não previsto na Constituição - do ponto de vista filosófico incorreria em
equívoco, se constituído como ente ontologicamente substante, com vida e realidade, órgãos e regulamentação
próprios. Sua adequada natureza será de Fórum e de atuação em rede, não de sobreposição piramidal ao regi-
me federativo. Convém enfatizar que a Constituição não atribui ao regime federativo organização piramidal. O
Sistema Nacional Articulado de Educação, como o próprio termo articulado induz, aponta para a interconectivi-
dade dos atuais sistemas, seus conselhos e planos, articulados com base na moderna teoria das redes. Como
já afirmavam os Pioneiros, esse sistema, “no cuidado da unidade nacional, não implica um centralismo estéril e
odioso, ao qual se opõem as condições geográficas do país”, mas a articulação dos atuais sistemas, respeitada
sua autonomia, “na aplicação da doutrina federativa e descentralizadora”, republicana e democrática.
Assim, além dos princípios constitucionais e diretrizes legais, para a regulamentação do regime de cola-
boração entre os atuais sistemas de ensino e a construção do Sistema Nacional Articulado de Educação, se
apresentam como importantes os seguintes fundamentos:
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A) A dimensão da nacionalidade: se em sua constituição original o Estado brasileiro precedeu a Nação,
hoje a identidade nacional está culturalmente constituída. A Constituição Federal de 1988 colocou no cenário
nacional um novo ator social: o cidadão. A organização do Estado, nele a organização da educação, precisa
não só preservar essa identidade, mas promover a cidadania ativa para todas e todos. Essa tarefa demanda
visão sistêmica da educação nacional e fundamenta a necessidade de formulação de políticas e diretrizes na-
cionais comuns, que requerem articulação, normatização e coordenação, assegurando a unidade nacional na
multiplicidade das características e culturas locais.
C) A doutrina federativa - autonomia dos entes federados: ao constituir-se como República Federativa,
o Brasil adota os fundamentos democráticos de que o Estado pertence aos cidadãos, é “res-pública”, coisa
pública. O espaço de poder, a autonomia dos entes federados, descentraliza a ação governamental, permitindo
ao cidadão exercer sua cidadania no seu “lócus” concreto de vida. Mas o sistema de ensino do ente federado
não é apenas parte de um todo maior, é também um todo em si. Por isso se constitui como um sistema dotado
de finalidade, autonomia, organização e normatização próprias, como espaço de poder e de exercício de cida-
dania. O regime federativo articula e preserva o papel da diversidade local com a unidade nacional, por meio
da distribuição de responsabilidades prioritárias e competências específicas dos sistemas de ensino dos entes
federados.
D) As competências e responsabilidades de cada ente federado: o artigo 211 da Constituição, que insti-
tui o princípio do regime de colaboração na organização dos sistemas de ensino, e os artigos 8º, 9º, 10 e 11 da
LDB, estabelecem as responsabilidades educacionais prioritárias comuns e específicas dos entes federados.
E) A natureza própria das leis e das normas regulamentadoras: do caráter geral e mais permanente e
do particular de caráter mais transitório, conforme já explicitado.
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Em tese, todos os órgãos públicos são órgãos de Estado. E os agentes públicos são servidores do Estado.
Os servidores públicos, como a própria etimologia da palavra explicita, são servidores do “público”, vale dizer:
da cidadania.
Essa dualidade é percebida e situada como importante na discussão dos conselhos de educação porque,
historicamente no Brasil, foram situados a serviço dos governos, enquanto estes, por sua vez, estiveram mais
voltados para interesses de grupos dominantes, com viés patrimonialista. Essa tensão está na raiz da formação
histórica do Estado brasileiro, que permitiu aos “donos do poder” se apossar patrimonialmente do Estado e
instituir uma burocracia baseada na obediência à vontade dos governantes de plantão.
Embora tenha sido da tradição dos conselhos sua constituição com mandatos não coincidentes com os do
respectivo poder executivo, a livre nomeação dos conselheiros por este, os situou historicamente como órgãos
a serviço do governo. Os conselhos assumem feição de órgãos de governo quando na sua composição e no
exercício de suas funções expressam, traduzem, legitimam junto à sociedade, a vontade de determinado go-
verno.
A discussão da natureza de órgãos de Estado teve início na instalação do atual Conselho Nacional de Edu-
cação, quando o conselheiro Arthur Gianotti, falando em nome dos colegas, afirmou que o CNE se constituía
como órgão de Estado, porque representava a sociedade civil organizada e em nome dela devia se pronunciar.
Os conselhos de educação se constituem como órgãos de Estado quando representam, articulam e ex-
pressam a vontade da diversidade social; quando falam ao governo em nome da sociedade para responder às
suas aspirações e, em nome dela, exercer suas funções; quando formulam políticas educacionais para além da
transitoriedade dos governos.
A natureza dos conselhos remete à análise de sua posição na estrutura do respectivo executivo e dos papéis
atribuídos e desempenhados. A relação entre os conselhos e os órgãos de gestão da estrutura dos sistemas de
ensino tem registrado tensões, conflitos e rupturas na sua trajetória. Tensões e movimentos de cooperação e
de conflitos, de ampliação e estreitamento da autonomia, de centralização e descentralização.
A nova natureza de órgãos de Estado, assumida pelos conselhos de educação a partir da Constituição de
1988 demanda novos critérios de composição, novas condições de funcionamento e o exercício de novas fun-
ções.
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situa os conselhos como espaços aglutinadores dos esforços comuns do governo e da sociedade para a melho-
ria da qualidade da educação. A função de controle social coloca o conselho na vigilância da boa gestão pública
e na defesa do direito de todos à educação de qualidade.
Quanto ao objeto são variadas as competências atribuídas aos conselhos, algumas são tradicionais e ge-
rais. Destacam-se como mais tradicionais e próprias dos conselhos:
A) A normativa (definir normas para o sistema de ensino);
B) A interpretativa (interpretar e dirimir conflitos sobre a aplicação de normas educacionais);
C) A credencialista (aprovar o credenciamento de instituições de ensino e a autorização de seus cursos);
D) A recursal (resolução de conflitos);
E) A ouvidora (defesa dos direitos educacionais dos cidadãos).
Nem sempre a natureza da função está claramente explicitada nas normas que instituem os conselhos,
nem são muito claros os limites da autonomia do conselho no exercício de suas competências legais. Mas é
fundamental que, especialmente as competências de caráter deliberativo, sejam claramente explicitadas na lei
que institui o conselho para que seu poder de decisão não seja ignorado ou contestado. Neste aspecto cabe
analisar o tradicional instituto da homologação.
O instituto da homologação se situa como uma das questões mais polêmicas relativas à autonomia dos
conselhos. Nesta questão, convém enfatizar que os conselhos estão situados no âmbito do poder executivo e
integram o sistema de educação. Nele, sua ação é de natureza deliberativo consultiva, de supervisão, controle
e mobilização social, não executiva. A efetivação de suas deliberações se situa no âmbito da ação administrati-
va do executivo. A homologação, formal ou não, corresponde ao ato administrativo que dá efetividade, põe em
execução a decisão do conselho. A autoaplicabilidade das decisões do conselho poderia criar duas instâncias,
na mesma estrutura e no mesmo campo de ação, com poderes independentes, não articulados, o que seria
fator potencial de conflitos, sem mecanismos de negociação.
No entanto, é fundamental que os conselhos tenham autonomia para propor e deliberar sobre questões
de sua esfera de competência legal e que o executivo não possa deliberar, nem adotar, em matéria definida
em lei como de competência do conselho, ações que contrariam decisões deste. Caso o executivo considere
inviável ou inadequado adotar a decisão do conselho, deve solicitar a reanálise do assunto, oferecendo razões
fundamentadas.
Mas é imperioso distinguir quais decisões do conselho devem ser objeto de homologação e quais não ne-
cessitam dela. Aceitando-se que a homologação é o instrumento de gestão para dar efetividade às decisões do
conselho, somente devem ser objeto dela as que necessitam de ação administrativa própria do executivo para
sua efetivação na prática.
O instituto da homologação, sem esses limites, tornaria o conselho mero órgão consultivo e de governo,
não de Estado. O instituto da homologação é instrumento adotado para a mediação entre a competência de-
liberativa do conselho e a administrativa do executivo. Neste sentido, a homologação não afeta a autonomia
do conselho, mas constitui ato administrativo de cumprimento de suas decisões. É pertinente, para elucidar a
questão, a analogia com o mecanismo de sanção ou veto, pelo Poder Executivo, dos projetos de lei aprovados
pelo Legislativo, mecanismo que não afeta a independência desses poderes.
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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
Quanto maior a diversidade de saberes e de representação da pluralidade das vozes sociais, mais rica será
a ação dos conselhos. Um conselho de educação somente cumprirá efetivamente sua verdadeira função se
expressar as aspirações da sociedade na sua totalidade. A representatividade social tem como fundamento
a busca da visão de totalidade a partir dos olhares dos conselheiros desde os diferentes “pontos de vista” da
sociedade. Se for constituído de tal forma que represente e expresse somente, ou hegemonicamente, a voz de
um segmento, ou do governo, poderá perder a visão do todo, o foco da razão de ser conselho.
O significado da representação nos conselhos de educação encerra tensões e polêmicas. Distinguir é preci-
so, e com meridiana clareza, a natureza de cada espaço de participação social. Um é um espaço de defesa dos
interesses corporativos e outro o da defesa dos interesses coletivos. Um é o objetivo da parte, da categoria re-
presentada, outro o do todo social, onde transita e atua o conselho de educação. O conselho exerce o cuidado
do projeto educativo fundamentado na cidadania, na nacionalidade, que requer visão do todo social, construída
pelos diferentes pontos de vista dos diferentes segmentos sociais.
B) Dotação orçamentária própria, com autonomia de gestão financeira, suficiente para o exercício de suas
funções;
E) Condições materiais de funcionamento, com espaços próprios, dotados das condições necessárias
ao exercício das funções;
F) Apoio aos conselheiros, técnico, tecnológico, material e financeiro inerente ao exercício da função,
de acordo com as necessidades próprias.
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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
para estabelecer uma nova cultura, determinada pelas relações entre ambas: a cultura da cooperação. Portanto
a rede supera as relações de competição, os projetos isolados, para estabelecer cumplicidade e corresponsa-
bilidade.
Mota, Duarte e Bartholo,15 partindo da análise de Castells16, Capra,17 e Whitaker18, apresentam cinco ele-
mentos que caracterizam a moderna organização em rede:
A) A rede, e somente ela, é capaz de dar coerência a uma pluralidade de componentes divergentes, funcio-
nando como um todo;
B) A rede supera as cadeias lineares de causa e efeito, para estabelecer relações de realimentação, perden-
do sentido a idéia de origem e destino, emissão e recepção;
C) A rede, a partir do compartilhamento de códigos, constitui um sistema aberto e dinâmico, como malha de
múltiplos fios, sem que um dos nós possa ser considerado principal ou central;
D) A lógica de redes é necessária para estruturar o não estruturado, porém preservando a flexibilidade, pois
o não estruturado é a força motriz da inovação na atividade humana;
E) As informações constituem os elos básicos - fios - que interligam os integrantes da rede, estabelecendo
interação mais frequente e intensa.
A organização em rede dos conselhos de educação oferece uma alternativa para a efetivação do regime de
colaboração, com a vantagem de permitir a superação de dois possíveis equívocos:
A) Do conceito de colaboração, cuja conotação é de ato de vontade unilateral, responsável por certo des-
compromisso mútuo, pelo da sinergia cooperativa;
B) Da ideia de um sistema único da União, como supersistema, de viés piramidal centralizador, pelo de
sistema nacional articulado, o que implica em novas relações de articulação entre os atuais sistemas e não em
outro ou novo ente, incompatível com os fundamentos do regime federativo.
A lógica das redes fornece os princípios fundamentais para a criação de vínculos, novas relações sistêmicas
em torno de objetivos e metas comuns. Ou seja: A organização dos conselhos em rede estabelece a interde-
pendência e articulação entre eles, cada um contribuindo com sua especificidade para alcançar objetivos e
metas nacionais, sem constituir-se em supersistema e sem interferir na autonomia de cada ente federado.
Em síntese, podemos dizer que a organização em rede permite estabelecer o regime de colaboração, arti-
culado as competências e responsabilidades de cada ente federado no todo nacional, sem perda da autonomia
e das especificidades de ação de cada sistema de ensino. A organização em rede estabelece conectividade e
interdependência entre os conselhos, para realizar cooperativamente os objetivos nacionais comuns e os espe-
cíficos de cada um. A organização em rede supera a mera agregação ou justaposição e permite eliminar ruídos
de comunicação e superar os conflitos da competição.
A questão está em definir as interconexões do planejamento e da gestão das ações próprias de cada um.
As políticas e objetivos nacionais estão definidos pela Constituição, pela LDB, pelo PNE e PDE. O papel dos
conselhos será o de contribuir para a organização do sistema nacional articulado de educação, definindo as
competências e responsabilidades comuns e específicas e as estratégias de sua ação para realizar as políticas
e objetivos nacionais.
A questão central na constituição e gestão de uma rede é a definição das interconexões, dos nós da conec-
tividade. Na organização da educação as normas nacionais têm sido usadas como o instrumento dessa conec-
tividade. Mas sua efetividade tem sido baixa. Será uma nova norma eficaz para realizar a articulação necessá-
ria? A norma é necessária para organizar a rede, mas será ineficaz se não vier acompanhada de ações efetivas.
15 MOTA, C. Renato, DUARTE, Francisco J. de C. M., BARTHOLO Jr, Roberto dos S. Participação e Gestão
Social. Brasília: SESI, Departamento Nacional, 2002.
16 CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede - A era da informação: economia, sociedade e cultura. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
17 CAPRA, Frijof. A teia da vida: uma nova compreensão dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix/Amaná/
Key, 1997.
18 WHITAKER, Francisco. Rede: uma estrutura alternativa de organização. Mutações sociais: publicação
trimestral do Cedac, Rio de Janeiro, ano 2, n. 3, 1994.
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O caminho aponta, então para a gestão, nela incluídos os planos de educação e um sistema eficiente de
informações, de comunicação. Sem informação uma rede será morta. E na questão da gestão da articulação
os conselhos de educação podem assumir um novo e relevante papel.
A Lei nº 9.131/95 atribui ao Conselho Nacional de Educação a função de “subsidiar a elaboração e acom-
panhar a execução do Plano Nacional de Educação” e de “manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos
Estados e do Distrito Federal acompanhando a execução dos respectivos Planos de Educação”. Como pode-
riam o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, incluído o Distrito Federal, e a União
Nacional dos Conselhos Municipais de Educação articular-se em rede para estabelecer as interconexões ne-
cessárias para a efetivação do regime de colaboração?
Quatro ações de curto prazo poderiam iniciar a caminhada:
A) Criação de Fórum Gestor: Para manter coerência com os princípios da rede - sem que um dos nós pos-
sa ser considerado principal ou central - representantes das três instâncias dos conselhos (Nacional, Estadual
e Municipal) constituem um Fórum em condições de igualdade de representação. A coordenação do Fórum
poderia ser exercida em regime colegiado, de cogestão, pelos três presidentes;
C) Definição de papéis comuns e específicos: O pacto federativo requer o cumprimento de papeis pró-
prios de cada ente em vista de uma finalidade nacional comum. Que papeis cabem a cada ente federado? E
qual o papel de cada conselho nele? Essa definição é importante para um diálogo construtivo e para evitar a
perda de energias em conflitos, explícitos ou velados, que mais levam à competição do que à colaboração; e
D) Definição de compromissos comuns (norma ou acordo): A norma é um dos fios essenciais que ligam
os integrantes da rede. Mas que norma seria essa? Talvez se apresentem como mais apropriados, porque
dinâmicos e flexíveis, o Acordo, o Termo de Cooperação ou a Resolução, aprovados pelas três instâncias parti-
cipantes. Ou então uma Resolução do CNE, (exercendo a competência nacional) com Parecer respaldado por
participação conjunta do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais e da UNCME.
No longo prazo a experiência irá aperfeiçoando os caminhos. O importante é ter a sabedoria de aceitar o
inacabado, ter a perspectiva do processo instituinte, alimentar o sonho.
À Guisa de Conclusão
Os desafios da efetivação do Princípio Constitucional do regime de colaboração, proposta pela Conferência
Nacional de Educação Básica como a construção de um sistema nacional articulado de educação, se situam
na mudança de algumas lógicas que geraram a atual situação. Dentre elas destacam-se: A da cultura de poder
nos processos de gestão; da colaboração como processo de transferência de responsabilidades e; da crença
no poder da norma para mudar a realidade. Lembremos que os velhos paradigmas são incapazes de superar
os problemas que eles próprios geraram.
Em primeiro lugar, um sistema em rede requer a mudança de nossa concepção e cultura de exercício do
poder. Como afirma de Castells19, a organização em rede estabelece uma hierarquia horizontal deslocando o
poder para a periferia da organização e colocando no centro, como eixo articulador, a finalidade, no caso, o
educando, razão originária de todo o processo educacional. Isso requer dos agentes públicos visão clara dos
objetivos nacionais. Requer a postura do agente público como servidor da cidadania. Requer a superação da
concepção patrimonialista do ato de governar e visão do todo, a partir da consideração dos diferentes pontos
de vista, o que, por sua vez, requer sabedoria, desapego e humildade.
A superação do conceito de colaboração, como ato de boa vontade, implica em visão de Estado, em cum-
primento das responsabilidades próprias e compartilhamento das comuns em processos cooperativos. Implica
em covencer o desafio da melhoria da qualidade da educação.
19 CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede - A era da informação: economia, sociedade e cultura. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
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Para a superação da crença do poder da norma para mudar a realidade - tida entre nós como panaceia para
todos os problemas - é preciso distinguir o que é de caráter geral, no âmbito de políticas e diretrizes nacionais,
do que é próprio da regulamentação de cada instância de ação concreta. Quando a lei, seja federal ou local,
define o caminho e o processo do caminhar, constituindo-se ao mesmo tempo em lei e regulamento, cai na
armadilha da centralização legal, do cerceamento do espaço de autonomia normativa das instâncias concretas
de ação. O poder centralizador da lei, às vezes nem tão sutil, constitui uma armadilha a cercear a aprendiza-
gem democrática do exercício da cidadania. Quanto mais a lei federal invade o local, mais assume o risco de
aproximar a unidade da uniformidade, perigo já denunciado pelos Pioneiros.
Por outro lado, a regulamentação nacional excessiva trai um preconceito de que as comunidades locais
ainda são incapazes do exercício da cidadania e de que precisam ser tuteladas. Mas a cidadania é algo que
somente se promove e se aprimora exercendo-a. Esta é, em essência, a lição de Paulo Freire na Pedagogia do
Oprimido. A educação libertadora da escola cidadã requer espaço de autonomia para o exercício da cidadania.
A construção de um efetivo sistema nacional articulado de educação precisa superar o divórcio entre o Bra-
sil oficial e o Brasil real, já denunciado por Anísio Teixeira como fruto de nossa cultura “hipernormatizadora”. A
norma é necessária, mas está longe de ser suficiente. A solução está além da norma, está na eficácia da ação
dos agentes públicos e no efetivo exercício da cidadania ativa.
Exercícios
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(D) renovada não diretiva.
(E) construtivista.
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(D) Na estrutura social, há a estabilidade e a mudança. Com isso, observam-se aspectos de uma mesma
estrutura visivelmente mutáveis, contraditórios, que alcançados pela demora e pela resistência culturais,
mantêm-se resistentes à transformação.
(E) Educação e democracia formam parte de uma totalidade em que os indivíduos deveriam ter chances
iguais. Em outras palavras, igualdade de oportunidades dentro de um universo social de diferenças indivi-
duais.
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8. (PREFEITURA DE TIMÓTEO/MG - PROFESSOR – FCM/2022)
Analise as asserções sobre organização do trabalho pedagógico por meio de sequências didáticas e a re-
lação proposta entre elas.
I – Ao organizar a sequência didática, o professor poderá incluir atividades diversas como leitura, pesquisa
individual ou coletiva, aula dialogada, produções textuais e aulas práticas, entre outras,
POIS
II – a sequência de atividades visa trabalhar um conteúdo específico, um tema ou um gênero textual de ex-
ploração inicial até a formação de um conceito, uma ideia, uma elaboração prática e/ou uma produção escrita.
A respeito dessas asserções, é correto afirmar que
(A) as duas são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
(B) as duas são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
(C) a primeira é verdadeira, e a segunda, falsa.
(D) a primeira é falsa, e a segunda, verdadeira.
Estudos apontam que as pessoas aprendem mais quando estão ensinando, praticando ou discutindo os
fundamentos das chamadas metodologias ativas.
(Jomil Costa Abreu Sales. Professor de biologia do ensino médio (com adaptações)).
A partir do texto acima, julgue o item.
A didática é um ramo da ciência pedagógica voltado para a formação do aluno, em função de finalidades
educativas, e que tem como objeto de estudo os processos de ensino e aprendizagem e as relações que se
estabelecem entre o ato de ensinar (professor) e o ato de aprender (aluno).
( ) CERTO
( ) ERRADO
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algumas dezenas de anos. De fato, essas ideias se consagraram apenas no século XX, e, assim mesmo, não
em todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas em pleno século XVII por Comênio (1592-1670),
o pensador tcheco que é considerado como o primeiro grande nome da moderna história da educação.
(Internet:<https://novaescola.org.br> (com adaptações)).
Em relação à didática na formação do professor, julgue o item.
De acordo com Libâneo, a formação docente é um processo filosófico, ou seja, um processo que tem como
objetivo a promoção da aprendizagem, que deve acontecer de forma a levar o professor a agir de maneira com-
petente no processo de ensino.
( ) CERTO
( ) ERRADO
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13. (PREFEITURA DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE/RN - SUPERVISOR ESCOLAR – IBFC/2021)
Sobre a tendência progressista crítico social dos conteúdos ou histórico-crítica, analise as afirmativas e
assinale a alternativa correta.
I. Essa tendência se constitui no final da década de 70 e início dos 80 com o propósito de ser contrária à
pedagogia libertadora, por entender que essa tendência não dá o verdadeiro e merecido valor ao aprendizado
de certos saberes.
II. Esta tendência prioriza, na sua concepção pedagógica, o domínio dos conteúdos científicos, a prática de
métodos de estudo, a construção de habilidades e raciocínio científico, como modo de formar a consciência
crítica para fazer frete à realidade social injusta e desigual.
III. Trata-se de uma tendência pedagógica que vê o papel da escola como parte integrante do todo social;
prepara o aluno para participação ativa na sociedade e vê o papel do aluno como sujeito no mundo e situado
como ser social e ativo.
(A) Apenas a afirmativa I e II estão corretas.
(B) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
(C) Apenas a afirmativa II está correta.
(D) As afirmativas I, II e III estão corretas.
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(E) Educação e democracia formam parte de uma totalidade em que os indivíduos deveriam ter chances
iguais. Em outras palavras, igualdade de oportunidades dentro de um universo social de diferenças indivi-
duais.
16. (SEDF — PROFESSOR — QUADRIX— 2017). Na história da educação brasileira, é possível identificar
diferentes concepções pedagógicas, as quais denotam o modo de realizar o ato educativo. Considerando essa
informação, julgue o item que se segue.
Na concepção pedagógica tradicional, os métodos de ensino baseiam-se nas características individuais do
aluno e na sua participação ativa nos contextos de aprendizagem.
( ) CERTO
( ) ERRADO
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(D) F • V • F • F • V.
(E) F • F • V • F • F.
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( ) A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características
étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioe-
conômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira,
oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas
vezes paradoxal.
( ) O tema “Pluralidade Cultural” propõe uma concepção da sociedade brasileira que busca explicitar a
diversidade étnica e cultural que a compõe, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioe-
conômicas, e apontar transformações necessárias.
( ) Considerar a diversidade não significa negar a existência de características comuns, nem a possibilidade
de constituirmos uma nação, ou mesmo a existência de uma dimensão universal do ser humano.
( ) Pluralidade Cultural quer dizer a afirmação da diversidade como traço fundamental na construção de uma
identidade nacional que se põe e repõe permanentemente, e o fato de que a humanidade de todos se manifesta
em formas concretas e diversas de ser humano. Após análise, assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA dos itens acima, de cima para baixo:
(A) F, V, V, V.
(B) V, V, V, V.
(C) V, F, V, F.
(D) F, V, F, F.
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(D) Todas as assertivas estão corretas.
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(B) Apenas o item II é verdadeiro.
(C) Apenas o item III é verdadeiro.
(D) Apenas os itens I e II são verdadeiros.
(E) Nenhum dos itens é verdadeiro
28. TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO (TRT4) – ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JU-
DICIÁRIA – 2015
Assinale a alternativa correta acerca da relação entre professor, aluno e conhecimento:
(A) O papel do professor é apenas transmitir conhecimento, enquanto o papel do aluno é apenas receber.
(B) A relação entre professor, aluno e conhecimento é um dos pilares fundamentais da educação, sendo
importante que os três elementos se relacionem de forma eficaz. (C) O conhecimento não é um elemento
central na relação entre professor e aluno, sendo apenas um elemento complementar.
(D) A relação entre professor e aluno é a mais importante na educação, pois o conhecimento pode ser ad-
quirido de outras fontes.
29. PREFEITURA MUNICIPAL DE PALMAS (TO) – PROFESSOR NÍVEL II - SÉRIES FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL - GEOGRAFIA – 2015
A relação entre professor, aluno e conhecimento é fundamental para a aprendizagem significativa e para o
desenvolvimento de competências e habilidades. Nesse contexto, é correto afirmar que:
(A) O professor deve ser o único responsável pelo processo de aprendizagem do aluno.
(B) O aluno deve ser um mero receptor passivo do conhecimento transmitido pelo professor.
(C) A relação entre professor, aluno e conhecimento deve ser baseada na confiança e no respeito mútuo.
(D) O conhecimento é estático e não sofre mudanças, sendo transmitido de forma imutável pelo professor.
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(D) Ser extremamente rigoroso em relação à disciplina.
33. A interdisciplinaridade pode ser compreendida sob dois aspectos: enquanto ________________,
algo que historicamente se impõe como imperativo e como ___________, algo que se impõe como de-
safio a ser cifrado.
(A) obrigatória / solução
(B) necessidade / problema
(C) verdade / necessidade
(D) natural / realidade
(E) problema / obrigatório
34. Uma equipe de professores que decida adotar uma atividade interdisciplinar deverá assumir
como postura principal:
(A) A adoção de uma temática central abrangente e diversificada, que impede digressões temáticas e a ne-
cessidade de abordagens múltiplas.
(B) O aprimoramento geral do eixo temático escolhido, definindo um princípio disciplinar ordenador que co-
ordenará a atividade.
(C) Um assunto temático que englobe todas as disciplinas da escola igualmente, mas respeitando as limita-
ções disciplinares dos alunos.
(D) A coletividade e cooperação entre as partes através de um planejamento coletivo amplo respeitando as
particularidades disciplinares.
(E) Um conjunto de ações afirmativas que recorram aos professores como criadores dos conteúdos e das
estratégias pedagógicas diversas.
35. Com relação às estratégias e práticas no ensino de física, julgue o item a seguir.
A transposição didática deve ser compreendida como a inserção do saber científico no sistema escolar,
mantendo-se as características desse saber.
( ) CERTO
( ) ERRADO
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(C) a sua formação continuada como uma contínua e dinâmica construção do conhecimento profissional,
concebendo as contribuições teóricas como subsídios que possibilitem a reflexão e a orientação da prática.
(D) ao domínio de técnicas baseadas em concepções pedagógicas.
37. A cada etapa da Educação Básica pode corresponder uma ou mais das modalidades de ensino. Assinale
a alternativa que apresenta essas modalidades.
(A) Educação infantil, Educação Fundamental e Ensino Médio.
(B) Educação Fundamental, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a Distância.
(C) Educação do Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a Distância.
(D) Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação do
Campo, Educação Escolar Indígena e Educação a Distância.
38. Relacione as colunas e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
1. Avaliação Diagnóstica.
2. Avaliação Somativa.
3. Avaliação Formativa.
( ) Os avaliadores tem recursos para produzir tarefas de alunos aleatoriamente, planejamento de trabalhos
de grupos, permitindo inferências mais defensáveis.
( ) Basicamente identifica as principais insuficiências nos anos iniciais à realização de outras aprendizagens.
Orienta a organização de ensino e aprendizagem em etapas posteriores a aprendizagem corretiva ou terapêu-
tica
( ) Usada antes do ensino, deve atender aos propósitos de verificar os alunos que não possuem habilidades,
pré-requisitos ao assunto, a fim de que o ensino de recuperação coloque-os em situação de trabalhar visando
o desejado.
(A) 2 – 3 – 1.
(B) b. 1 – 2 – 3.
(C) 3 – 2 – 1.
(D) 2 – 1 – 3.
39. Ensinar resulta em adotar procedimentos diferentes dependendo do tipo de conteúdo com que
se lida. A que se atribui a função de propor os melhores meios para tornar possíveis, efetivos e eficien-
tes esse ensino e essa aprendizagem?
(A) Sistema.
(B) Professores.
(C) Escola.
(D) Didática.
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40. O conhecimento sobre as didáticas específicas – verdadeira matéria-prima do trabalho do profes-
sor – existe e começa a ser incorporado às escolas. Hoje, sabe-se que os alunos sempre têm alguma,
ou muita, informação sobre o objeto de ensino que será trabalhado em classe. Portanto, é preciso levar
isso em conta na hora de planejar e propor atividades – em vez de ficar simplesmente reproduzindo um
mesmo método como se a turma fosse 100% homogênea, tanto em termos de conhecimentos prévios,
como na capacidade de avançar.
Ou seja, há didáticas específicas porque não apenas o jeito de ensinar Geografia é diferente do de ensinar
História, por exemplo, mas porque:
(A) cada área do conhecimento tem uma estrutura diferente que requer atividades de ensino também dife-
rentes.
(B) as possibilidades de suporte pedagógico são metodologicamente diferentes para cada disciplina.
(C) os conteúdos têm que ser adequados de maneira a homogeneizar as metodologias de ensino.
(D) devem-se utilizar metodologias diferentes para cada turma, mesmo estas sendo de séries equivalentes.
(E) dentro da própria disciplina há formas mais eficientes de trabalhar cada conteúdo.
41. Para Lerner (2002), uma das formas para conciliar as necessidades inerentes à instituição esco-
lar com o propósito educativo de formar leitores e escritores, o possível é gerar condições didáticas que
permitam por em cena uma versão escolar da leitura e da escrita mais próxima da versão social dessas
práticas. Para tal, a autora sugere, como uma das possibilidades,
(A) o teatro introduzido na escola.
(B) os saraus, contemplando toda comunidade.
(C) as histórias em quadrinhos.
(D) os projetos de produção-interpretação ou trabalho por projeto.
(E) o jornal falado e escrito.
42. De acordo com uma atividade de linguagem escrita, Laura (6 anos) escreveu: “LEITI” (leite) então
a professora pede que ela leia o que escreveu e como pensou sobre aquela escrita.
Refletindo em suma do trabalho da criança, a principio de uma perspectiva que considere o conhecimento
um processo a ser construído a partir da relação entre o que se sabe e o objeto de conhecimento, a professora
constatou que a aluna
(A) afinal ainda não conhece bem a relação fonema-grafema e, por isso, errou ao escrever a letra “I” no lugar
da letra “E”, ao final da palavra.
(B) apresentou uma relação de transcrição direta da fala para a escrita, porque em comum no processo de
construção da base alfabética.
(C) errou por estar desatenta em seu trabalho, sendo então melhor que repita a atividade.
(D) não aprendeu ainda a grafia das letras do alfabeto e por isso não completou a escrita da letra E ao final
da palavra.
(E) errou por não ter aprendido adequadamente a família do TA-TE-TI-TO-TU, todavia deve repetir essa
unidade.
43. Considerando o ensino da música e sua importância para o desenvolvimento da criança, entre-
tanto no que se refere à construção das linguagens musicais, dentro de uma normalidade aceitável,
afastados problemas de saúde de qualquer natureza, assinale a alternativa correta.
(A) Nos primeiros três meses de vida, a criança aprende a falar, por isso é tão importante que ela escute
músicas com letras em várias línguas modernas.
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(B) Entre os dois e os três anos de idade, a criança, que já tem completo desenvolvimento de suas atividades
motoras, não precisa mais ser estimulada a compreender conceitos numéricos.
(C) É na fase da educação infantil que a criança está mais aberta às descobertas, então nessa fase, o desen-
volvimento da aprendizagem é evidenciado e a música portanto pode ser empregada para facilitar e ampliar
a aquisição de conhecimentos por meio de escutas, imitações e improvisações.
(D) Somente a partir dos dez anos de idade, a criança começa a compreender logo conceitos como antes e
depois, em cima e em baixo, ontem, hoje e amanhã, portanto, de nada adianta submetê-la, primeiramente
antes da mencionada idade, a qualquer tipo de incentivo a tais compreensões.
46. Soletrar cada letra de uma palavra para, depois, significar o que foi lido é uma prática pertencente:
(A) Ao método sintético de alfabetização
(B) Ao método analítico de alfabetização
(C) Ao método construtivista de alfabetização
(D) Ao método científico de alfabetização
47. O método que inicia a alfabetização com frases compostas por sílabas advindas de uma mesma letra
do alfabeto é conhecido como:
(A) Palavração
(B) Silábico
(C) Fônico
(D) Sentenciação
48. Na chamada “pedagogia tradicional”, o processo de ensino deve considerar que os indivíduos:
(A) Aprendem a partir de uma interação com o meio e com outros indivíduos
(B) São como “folhas de papel em branco” e aprendem por imitação e reforço
(C) Aprendem nas trocas entre parceiros sociais
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(D) Já nascem com tudo que precisam na sua estrutura biológica para se desenvolver.
50. Teoria sobre o processo de ensino que defende que a aquisição de aprendizagens seja ocorra a partir
de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições do indivíduo com o meio.
(A) Sociointeracionismo
(B) Pedagogia Tradicional
(C) Evolucionismo
(D) Construtivismo
53. A avaliação numa perspectiva mediadora, conforme entende Jussara Hoffmann (2004), tem a finalidade
de:
(A) Estabelecer a classificação entre os alunos capazes e incapazes, comparar diferenças, definir padrões
homogêneos de sucesso e fracasso.
(B) Acompanhar e favorecer a progressão contínua do aluno, através das etapas de mobilização, experiên-
cia educativa e expressão do conhecimento.
(C) Possibilitar a tomada de decisões de classificação com relação ao aluno, e decisões referentes à pro-
moção e certificação pelo sistema educacional.
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(D) Manter o controle de cada passo do processo de aprendizagem dos alunos, para classificá-los.
(E) Favorecer o exercício da função burocrática, com base em regras neutras, objetivas e supostamente
justas.
55. De acordo com a pedagogia histórico-crítica, o planejamento da ação didática deve propiciar:
(A) A socialização dos conhecimentos acumulados pela humanidade
(B) A apropriação acrítica dos conteúdos escolares pelos alunos
(C) A apropriação dos conhecimentos escolares por uma parcela da comunidade escolar
(D) A adaptação dos indivíduos à sociedade
56. No planejamento da ação didática proposto pela pedagogia histórico-crítica, a problematização repre-
senta:
(A) O que os alunos e professores já sabem
(B) Uma nova proposta de ação a partir do novo conteúdo sistematizado
(C) Uma nova forma de entender a prática social
(D) A reflexão sobre os principais problemas da prática social
57. Os cinco passos da ação didática proposto pela pedagogia histórico-crítica são, respectivamente:
(A) Prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse, prática social final
(B) Prática social final, problematização, instrumentalização, catarse, prática social inicial
(C) Problematização, prática social inicial, instrumentalização, catarse, prática social final
(D) Prática social inicial, catarse, problematização, instrumentalização, prática social final
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Gabarito
1 C 30 D
2 C 31 B
3 D 32 D
4 B 33 B
5 D 34 D
6 B 35 B
7 D 36 C
8 A 37 D
9 ERRADO 38 A
10 ERRADO 39 D
11 C 40 E
12 C 41 D
13 D 42 B
14 B 43 C
15 D 44 D
16 ERRADO 45 C
17 D 46 A
18 B 47 D
19 D 48 B
20 D 49 C
21 B 50 D
22 A 51 C
23 D 52 A
24 C 53 B
25 A 54 ERRADO
26 A 55 A
27 C 56 D
28 B 57 A
29 C
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