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Culpa
- É comum encontrar que consideram a má formação docente como responsável pelos
fracassos educacionais nacionais. Tais críticas aos professores em geral são direcionadas
por uma ótica técnica (funcionamento da escola e do sistema público), encarando os
fracassos da educação nacional como consequência dos retrógrados métodos de ensino,
da má gestão da escola e, obviamente, da má formação dos docentes. Apesar de ser
correto que a má formação docente é um problema, atribuir todo esse peso apenas a isso
é simplório e injusto. É razoável supor que se as condições de trabalho forem muito
degradantes, muito dificilmente um professor conseguirá cumprir minimamente o
básico, ainda que sua formação seja adequada.
- Assim, percebe-se que ao longo dos anos tem sido comum concepções advindas do
senso comum de que se o aluno não vai bem na escola, isso se deve às suas
limitações pessoais e ele é visto como alguém que não gosta de estudar, não consegue
aprender ou não se esforça. No âmbito científico, explicações biomédicas, focando na
aptidão ou no contexto que este está inserido.
Para compreender os altos índices de reprovação e o abandono escolar nas séries iniciais
dos alunos da escola pública.
1. Aponta o contexto político durante o século XlX e começo do século
XX: o ideário iluminista com foco no poder da razão e da ciência; a
crença liberal que defendia a “igualdade” de oportunidade; além da
consolidação dos estados nacionalistas. Os sistemas de ensino nesta
época não tinham função socializadora, eram direcionados a intelectuais
burgueses, enquanto os operários eram treinados dentro da própria
fábrica.
2. contexto social-econômico era o da revolução industrial com o
surgimento do trabalho assalariado e das relações de poder entre a classe
dominante e o proletariado. Os donos do capital detinham os meios de
produção que os sustentavam no topo da pirâmide social sem permitir a
ascensão da classe trabalhadora. A exploração da mão de obra assalariada
torna-se cada vez mais necessária para sustentar o capitalismo e houve o
fortalecimento da vida urbana com o êxodo do campo para as cidades.
No âmbito social-cultural, segundo Patto (1993, p. 19) “mantém-se viva a crença na
possibilidade de uma sociedade igualitária num mundo onde, na verdade, a polarização
social é cada vez mais radical”. A igualdade apregoada dependeria do esforço
individual de cada um. No final do século XIX e início do século XX, a escola começa a
se expandir nos países capitalistas por pressões populares em prol da educação,
iniciando o processo de abertura da escola pública às camadas populares.
- Slides 18: ideal higienistas foram tão influentes a inclusão de alguns artigos na
Constituição de 1934. Dentre eles destacamos o artigo 138 que discorria acerca da
importância da educação eugênica e de medidas que propiciassem o aperfeiçoamento da
espécie.
A teoria de Charles Darwin (1809-1882) sobre evolução da espécie, de modo que tanto no
reino animal quanto no reino vegetal a sobrevivência das espécies dependeria da adaptação ao
ambiente em que viviam.
Neste sentido, é possível dizer que as pesquisas de Galton eram reconhecidas pelo seu caráter
“social darwinista”. O termo eugenia é entendido como um conjunto de ideias que defendem o
aperfeiçoamento da raça humana e faz referência a ideia de “bemnascido”. Os estudos
eugênicos procuravam investigar a “hereditariedade da inteligência” e as qualidades físicas ou
mentais da raça humana a fim de melhorar as futuras gerações.
Em um campo de forças antagônicas, as teorias racistas despontam para explicar porque a
maioria da sociedade não era incluída no projeto de “igualdade de oportunidade para todos”.
Tais teorias surgem baseadas no mérito e na aptidão pessoal, no inatismo e na pobreza para
explicar a inferioridade de parte da sociedade. Começaram a ser formuladas ainda no final do
século XVIII e têm como berço intelectual a França.
multiplicidade da espécie humana, “o que autoriza a conclusão de que existem raças
anatômicas e fisiologicamente distintas e, por isso, psiquicamente desiguais” Para Patto (1993),
“o racismo, antes de ser uma ideologia para justificar a conquista de outros povos, foi muitas
vezes uma forma de justificar as diferenças entre classes”.
2 - Na década de 70 surge a “teoria da carência cultural” nos EUA. Seus defensores delimitam
em concepções ambientalistas do desenvolvimento humano um “ambiente” que se reduz à
estimulação sensorial proveniente do meio físico. Essa visão se entrecruza com a valorização
dos valores provenientes da classe dominante como crenças, normas, hábitos ehabilidades
considerados como mais adequados à promoção de um desenvolvimento psicológico sadio
(PATTO, 1993). O discurso agora se direciona para culpabilidade das pessoas pobres pelo
fracasso de seus filhos, os pesquisadores atravessados pelo discurso ideológico da época
invertem causa e efeito, buscando dados de evasão e de reprovações dos estudantes das
classes populares para comprovarem a tese da carência cultural.
o meio familiar é o principal responsável para as explicações dos desajustes das crianças,
principalmente nas classes populares o pensamento educacional ficou marcado pela visão
estereotipada da família pobre ao relacionar somente os fatores extras escolares para explicar
a boa aprendizagem da criança. “a pobreza ambiental nas classes baixas produz deficiências no
desenvolvimento psicológico infantil que seriam a causa de suas dificuldades de aprendizagem
e de adaptação escolar”. Esse discurso tornou-se essencial para justificar a falta de escola para
as periferias, pois na visão da classe dominante era a família que não se empenhava em
mandar os filhos para a escola.
O brasileiro vê-se como „piedoso‟ diante desses grupos, mas não suporta ter que dividir com
eles, de forma minimamente igualitária, a riqueza social, cultural e econômica.
Na escola, essa dominação dar-se-ia pela manutenção da cultura dominante por meio de
conteúdos ideologicamente delimitados.
Segundo Patto (1993), os pesquisadores brasileiros, submergidos nessa visão, passaram
apontar que o professor proveniente de uma cultura dominante não estava preparado para
ensinar “a criança típica dos bairros periféricos: suja, doente, indisciplinada e pouco
inteligente” (p. 116). A autora destaca que a teoria do déficit sobressai-se, desde então, sobre a
teoria da diferença, o que impede que a escola reconheça a riqueza das diferenças culturais
entre as crianças.
e Patto (1993) ao considerar que a escola está preparada para ensinar o aluno ideal e quando o
aluno não se encaixa no modelo quase sempre é encaminhado para algum atendimento, os
problemas educacionais são focados no indivíduo desconsiderando as condições sociais e
econômicas em que está envolvido.
ainda consideram o aluno e a família como culpadas pelo fracasso escolar. Enfatizam, por isso,
numa perspectiva teórica histórico-cultural, que o ser humano não pode ser considerado
isolado da sociedade e concluem que ao analisar o fracasso escolar numa perspectiva não
crítica somos levados a acreditar no discurso liberal de igualdade e que as relações de
pobreza/riqueza, sucesso/fracasso são composições individuais sem considerar as relações
complexas e concretas de vida impostas pela sociedade.
a problemática do fracasso escolar é uma questão complexa que articula coordenadas
históricas, sociais, psicológicas e políticas.