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Entendemos como fracasso escolar quando as crianças não atingem os estudos mínimos

determinados. Ou seja, é um conceito utilizado para se referir ao grupo de pessoas


que não conseguiram completar com sucesso as diferentes etapas do ensino
obrigatório, seja devido ao abandono escolar precoce. A expressão tem sido
utilizada para se referir a uma série de fenômenos educacionais designados por
termos e expressões como: baixo rendimento escolar, aquisição insuficiente de
conhecimentos, defasagem na relação idadesérie, reprovação, retenção,
repetência, evasão, dentre outros. O fracasso escolar é considerado um problema sério
do sistema educativo.

Culpa
- É comum encontrar que consideram a má formação docente como responsável pelos
fracassos educacionais nacionais. Tais críticas aos professores em geral são direcionadas
por uma ótica técnica (funcionamento da escola e do sistema público), encarando os
fracassos da educação nacional como consequência dos retrógrados métodos de ensino,
da má gestão da escola e, obviamente, da má formação dos docentes. Apesar de ser
correto que a má formação docente é um problema, atribuir todo esse peso apenas a isso
é simplório e injusto. É razoável supor que se as condições de trabalho forem muito
degradantes, muito dificilmente um professor conseguirá cumprir minimamente o
básico, ainda que sua formação seja adequada.
- Assim, percebe-se que ao longo dos anos tem sido comum concepções advindas do
senso comum de que se o aluno não vai bem na escola, isso se deve às suas
limitações pessoais e ele é visto como alguém que não gosta de estudar, não consegue
aprender ou não se esforça. No âmbito científico, explicações biomédicas, focando na
aptidão ou no contexto que este está inserido.

Para compreender os altos índices de reprovação e o abandono escolar nas séries iniciais
dos alunos da escola pública.
1. Aponta o contexto político durante o século XlX e começo do século
XX: o ideário iluminista com foco no poder da razão e da ciência; a
crença liberal que defendia a “igualdade” de oportunidade; além da
consolidação dos estados nacionalistas. Os sistemas de ensino nesta
época não tinham função socializadora, eram direcionados a intelectuais
burgueses, enquanto os operários eram treinados dentro da própria
fábrica.
2. contexto social-econômico era o da revolução industrial com o
surgimento do trabalho assalariado e das relações de poder entre a classe
dominante e o proletariado. Os donos do capital detinham os meios de
produção que os sustentavam no topo da pirâmide social sem permitir a
ascensão da classe trabalhadora. A exploração da mão de obra assalariada
torna-se cada vez mais necessária para sustentar o capitalismo e houve o
fortalecimento da vida urbana com o êxodo do campo para as cidades.
No âmbito social-cultural, segundo Patto (1993, p. 19) “mantém-se viva a crença na
possibilidade de uma sociedade igualitária num mundo onde, na verdade, a polarização
social é cada vez mais radical”. A igualdade apregoada dependeria do esforço
individual de cada um. No final do século XIX e início do século XX, a escola começa a
se expandir nos países capitalistas por pressões populares em prol da educação,
iniciando o processo de abertura da escola pública às camadas populares.

Vimos que a rápida mudança da estrutura social e econômica


no final do século XIX resultou em mudanças na mentalidade da
construção de conhecimento.
A rápida industrialização e o crescimento das cidades fizeram
as ciências da saúde se voltarem para os aspectos de salubridade
no ambiente da cidade mediante a ações que controlassem
epidemias e outros aspectos da vida pública.
É nesse contexto que emerge o movimento higienista, o qual
considerava a doença como um fenômeno social e, como
consequência, visando intervenções de saúde coletiva e à moral
dos cidadãos.
A higiene surge como uma área da Biologia que tem por
objetivo melhorar a qualidade de vida humana, prevenir as
doenças, aprimorar a saúde, descobrir cientificamente os melhores
hábitos para a defesa da saúde individual e coletiva.
Com essa autoridade, os médicos prescreveram novos hábitos
sobre todas as condições que pudessem afetar, de algum modo, a
saúde, ou seja, todas as atividades humanas - trabalho, escola,
moradia, asseio corporal, moralidade. Se o país estava doente,
cabia curá-lo, ou melhor, saneá-lo.
Esse movimento tem como ideia central que uma população é
o recurso principal da nação. Um povo educado e com saúde é a
principal riqueza da nação.
No contexto Brasileiro, no século XIX, origem de um discurso
científico brasileiro mais independente dos setores hegemônicos e
ligados aos grupos agrários. Com a transferência da Corte
portuguesa para o Brasil em 1808, foram criadas instituições
culturais como as Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de
Janeiro, as Faculdades de Direito. Essas instituições
possibilitaram a reunião dos primeiros cientistas brasileiros,
leitores da produção científica européia, principalmente. Dentre
esses cientistas, destacaram-se os médicos e o papel que a
medicina desempenhou na sociedade brasileira na segunda
metade do século XIX e no período da 1ª República.
Nesse período , a medicina tem sua órbita desinteresse e
competência ampliada, e o campo educacional emerge como
campo conformado pelo discurso médico. Assim, que a presença
médica na sociedade com esse objetivo de higienização social.
O movimento higienista não fica restrito ao saber médico, mas
encontra um espaço de aceitação em outras ciências, no campo
jurídico e na vida cotidiana. No campo do direito, observamos
ideias higienistas atravessando o ordenamento jurídico em
códigos de conduta e na própria constituição de 1934.

- Slides 18: ideal higienistas foram tão influentes a inclusão de alguns artigos na
Constituição de 1934. Dentre eles destacamos o artigo 138 que discorria acerca da
importância da educação eugênica e de medidas que propiciassem o aperfeiçoamento da
espécie.

- Ao ampliar os espaços de sua competência, a medicina gerou o fenômeno descrito


como medicalização da sociedade. A medicalização da sociedade brasileira, refere-se ao
fato de que a Medicina e o Estado firmaram um compromisso de higienização das
cidades e das populações, pois o Estado reconheceu que a ordem e o progresso sociais
dependiam da higienização das cidades. Os médicos, influenciados pela literatura
européia, voltaram-se para a realidade da falta de higiene urbana. É neste contexto que
surgem o interesse no tema a higiene escolar.
O interesse pela questão educacional com o objetivo de que através da educação poderia ser
produzido um homem e uma sociedade regenerados. A idéia de regeneração do povo brasileiro
através da educação em uma escola higiênica diz respeito à influência das “teorias” raciais no
pensamento médico a partir de 1870. Essas “teorias” (darwinismo social e evolucionismo)
procuravam explicar as desigualdades sociais como desigualdades naturais, decorrentes de
diferenças biológicas entre as raças e coube aos intelectuais brasileiros uma interpretação
própria dessas “teorias”.

A teoria de Charles Darwin (1809-1882) sobre evolução da espécie, de modo que tanto no
reino animal quanto no reino vegetal a sobrevivência das espécies dependeria da adaptação ao
ambiente em que viviam.
Neste sentido, é possível dizer que as pesquisas de Galton eram reconhecidas pelo seu caráter
“social darwinista”. O termo eugenia é entendido como um conjunto de ideias que defendem o
aperfeiçoamento da raça humana e faz referência a ideia de “bemnascido”. Os estudos
eugênicos procuravam investigar a “hereditariedade da inteligência” e as qualidades físicas ou
mentais da raça humana a fim de melhorar as futuras gerações.
Em um campo de forças antagônicas, as teorias racistas despontam para explicar porque a
maioria da sociedade não era incluída no projeto de “igualdade de oportunidade para todos”.
Tais teorias surgem baseadas no mérito e na aptidão pessoal, no inatismo e na pobreza para
explicar a inferioridade de parte da sociedade. Começaram a ser formuladas ainda no final do
século XVIII e têm como berço intelectual a França.
multiplicidade da espécie humana, “o que autoriza a conclusão de que existem raças
anatômicas e fisiologicamente distintas e, por isso, psiquicamente desiguais” Para Patto (1993),
“o racismo, antes de ser uma ideologia para justificar a conquista de outros povos, foi muitas
vezes uma forma de justificar as diferenças entre classes”.

2 - Na década de 70 surge a “teoria da carência cultural” nos EUA. Seus defensores delimitam
em concepções ambientalistas do desenvolvimento humano um “ambiente” que se reduz à
estimulação sensorial proveniente do meio físico. Essa visão se entrecruza com a valorização
dos valores provenientes da classe dominante como crenças, normas, hábitos ehabilidades
considerados como mais adequados à promoção de um desenvolvimento psicológico sadio
(PATTO, 1993). O discurso agora se direciona para culpabilidade das pessoas pobres pelo
fracasso de seus filhos, os pesquisadores atravessados pelo discurso ideológico da época
invertem causa e efeito, buscando dados de evasão e de reprovações dos estudantes das
classes populares para comprovarem a tese da carência cultural.
o meio familiar é o principal responsável para as explicações dos desajustes das crianças,
principalmente nas classes populares o pensamento educacional ficou marcado pela visão
estereotipada da família pobre ao relacionar somente os fatores extras escolares para explicar
a boa aprendizagem da criança. “a pobreza ambiental nas classes baixas produz deficiências no
desenvolvimento psicológico infantil que seriam a causa de suas dificuldades de aprendizagem
e de adaptação escolar”. Esse discurso tornou-se essencial para justificar a falta de escola para
as periferias, pois na visão da classe dominante era a família que não se empenhava em
mandar os filhos para a escola.
O brasileiro vê-se como „piedoso‟ diante desses grupos, mas não suporta ter que dividir com
eles, de forma minimamente igualitária, a riqueza social, cultural e econômica.
Na escola, essa dominação dar-se-ia pela manutenção da cultura dominante por meio de
conteúdos ideologicamente delimitados.
Segundo Patto (1993), os pesquisadores brasileiros, submergidos nessa visão, passaram
apontar que o professor proveniente de uma cultura dominante não estava preparado para
ensinar “a criança típica dos bairros periféricos: suja, doente, indisciplinada e pouco
inteligente” (p. 116). A autora destaca que a teoria do déficit sobressai-se, desde então, sobre a
teoria da diferença, o que impede que a escola reconheça a riqueza das diferenças culturais
entre as crianças.
e Patto (1993) ao considerar que a escola está preparada para ensinar o aluno ideal e quando o
aluno não se encaixa no modelo quase sempre é encaminhado para algum atendimento, os
problemas educacionais são focados no indivíduo desconsiderando as condições sociais e
econômicas em que está envolvido.
ainda consideram o aluno e a família como culpadas pelo fracasso escolar. Enfatizam, por isso,
numa perspectiva teórica histórico-cultural, que o ser humano não pode ser considerado
isolado da sociedade e concluem que ao analisar o fracasso escolar numa perspectiva não
crítica somos levados a acreditar no discurso liberal de igualdade e que as relações de
pobreza/riqueza, sucesso/fracasso são composições individuais sem considerar as relações
complexas e concretas de vida impostas pela sociedade.
a problemática do fracasso escolar é uma questão complexa que articula coordenadas
históricas, sociais, psicológicas e políticas.

Nesse primeiro momento, o movimento higienista tinha um


caráter mais coletivo, tinha finalidades educativas e formação de
uma moral.
A escola não ficou de fora desse projeto coletivo. A educação
é vista como uma poderosa arma de auxilio na propagação de
ideias higienistas. Via-se que, por meio da educação, poderia
reformular os hábitos das crianças, combatendo os maus
costumes. O sistema de ensino assume o papel de transformar o
cidadão brasileiro. Ordem e progresso seriam possíveis a partir de
uma mudança moral e comportamental que adequasse a
população a um novo papel: o de bom cidadão trabalhador.
A escola na Primeira República deveria servir como
instrumento de progresso e também como parte do processo
civilizatório. Em um momento que grande parcela da população
era analfabeta, investir em projetos educacionais e organizar o
ensino primário parecia ser o caminho ideal para que houvesse
progresso social.
Como sabemos esse movimento representa o desejo da
burguesia de elaboração de um projeto de sociedade que julgam
melhor.
Além disso, vimos que, quando a escola falha em atingir o que
ela se propôs a ser, procura-se respostas cientificas, jogando a
culpa do fracasso escolar ora por conta de fatores genéticos e
individuais, ora na própria pobreza.
Essa busca por respostas evidencia que a preocupação
higienista migra dialeticamente de preocupações com ênfase no
individual/privado para o coletivo/público. Essa tensão entre
coletivo e indivíduo é característico e orientam momentos de
intervenção que fazem parecer uma falsa superação e
amadurecimento científico frente a ideias que não servem mais
para aquele contexto. Talvez por isso, pelo disfarce entre a
constante mudança entre seus 2 polos que seja a condição de sua
vitalidade, de sua manutenção.
A preocupação com a educação se dava pelo fato que de as
crianças analfabetas poderiam constituir elementos negativos para
a instauração da ordem e progresso do ponto de vista econômico.
Por isso, desde 1930, como o movimento Escola Nova
(atravessado por ideais higienistas), propunham-se ações em prol
da alfabetização – tendo em vista as necessidades do mercado.
Paradoxalmente, os higienistas se questionavam se valiam os
esforços para alfabetização para uma grande massa de crianças
anormais e desequilibradas.
Buscando a eficiência da missão educacional, são criados
instrumentos de avaliação psicopedagógicos para mensurar o
desempenho e características dos alunos. Ao mesmo tempo que
transfere a responsabilidade do desempenho escolar ineficiente
para características “desajustadas” dos indivíduos. Essa podiam
ser de caráter cognitivo (encontradas nos ditos anormais) ou de
caracer social (crianças-problemas), estas eram vítimas do
desajustamento social ou familiar.
Buscou-se, então, estudar, as causas do desajustamento de
muitas crianças ao ensino escolar, através da caracteriologia
individual de cada uma delas, seus aspectos de personalidade,
inteligência e capacidade, chegando ao conceito de “criança-
problema”
Criança, em idade escolar, que apresenta sérias
dificuldades de aprendizagem e comportamentos
inadequados, geralmente em consequência de
problemas neurológicos ou de situações familiares e
sociais conflitantes.
Por sua vez, a psicologia diferencial se ocupou em dar seguimento na discriminação dos mais
pobres do cenário educacional. Nascida no mesmo período do darwinismo social justificava as
desigualdades por meio da aptidão biologicamente determinada.
Com o avanço da medicina e da psiquiatria, os médicos ganham espaços para explicar os
problemas escolares. O termo “anormal” passou a circular nos corredores escolares. Tornase
comum os testes psicológicos como instrumentos de avaliação das aptidões embalados. Os
autores se destacavam pela criação de testes baseados na ideia de comprovar que alguns
indivíduos eram inteligentemente mais aptos que outros. já nas primeiras décadas do século
XX, as avaliações psicológicas fazem parte do cotidiano das escolas para diagnosticar crianças.
os anos trinta passam por importantes revisões conceituais: as explicações para os desajustes
infantis deixam de ter respaldo na medicina para terem explicações da psicologia clínica.
Amplia-se o rol de explicações, “as causas agora vão desde as físicas até as emocionais e de
personalidade, passando pelas intelectuais” (p. 44). Nesta época, surgem clínicas destinadas ao
tratamento de crianças com problemas, também os rótulos das classes escolares: “classes
fracas”, “classe de anormais”, “classes atrasadas”.
A testagem psicológica entram na educação como importantes
para criar uma escala de nível mental dos alunos e,
consequentemente, servir para formação de classes ou escolas
homogêneas do ponto de vista intelectual, visto que entendia-se
que não era possível submeter o mesmo plano de aula para aulos
com capacidades diferentes.
A função da educação passa a ser direcionada a seleção de
alunos com base em suas aptidões e formar uma hierarquia
democrática pelas capacidades. A ideia “escola para todos”
prepagada pela reforma educacional não significava escola
igualitária. A escola reproduzia as diferenças sociais na produção
das diferenças de escolarização. Assim ela mantem uma suposta
relação harmônica entre ricos e pobres.
O discurso higienista ainda se encontra presente no campo
pedagógico a partir da proposição de avaliar as dificuldades de
aprendizagem com base em ideias/ conceitos, da área médica, que
patologizam o que na verdade era para ser analisado a partir de
uma visão holística.
A escola foi buscar na patologia respostas para seus problemas
como o fracasso escolar. Quando, na verdade, seria necessário que
o espaço pedagógico pensasse sobre o papel do professor e o que
de fato ocorre na sala de aula.
Nesse cenário de transformação de questões não médicas em
questões médicas, onde se busca junto dos profissionais da saúde,
soluções para os problemas escolares, é uma forma de resolver
problemas pedagógicos através de receituários médicos, isso
ganhou o nome de “Medicalização” .
Logo, a medicalização pode ser entendida como a atribuição
ao indivíduo, da causa do fracasso escolar, culpabilizando-o e
delegando à equipe de saúde (psicólogo, médicos,
psicopedagogos, neurologistas, etc.), a responsabilidade por
“curar” o aluno do seu “problema”, quando a escola não encontra
a forma adequada para ajudá-lo.
Os ideais higienistas continuam na sociedade, agora tomando
uma nova face: o uso do remédio para ter uma vida mais
saudável. De fato, descobertas farmacológicas nos ajudaram a
prolongar e nos dar um conforto necessário à vida.
Em contrapartida, percebe-se que diariamente sentimentos
como: tristeza, alegria e medo, passaram a ter uma medida,
considerada padrão para todos. Esses sentimentos estão
transformados de sentimentos legítimos em diagnósticos
patológicos. Estes, em nome de uma eficácia científica, são
tratados com anfetaminas, estimulantes, dentre outras drogas
denominadas de “tarja preta” pelos sérios efeitos colaterais que
causam, assim como a dependência. Por exemplo, nessa métrica,
chega-se ao cúmulo de estabelecer que é possível chorar a morte
de uma pessoa querida por 15 dias, mais do que isso, seria
indicativo de um quadro depressivo, passível de medicação.
Atualmente, a indústria farmacêutica é a segunda maior em
faturamento, perdendo apenas para a indústria bélica. Todo dia
temos um nova substancia, medicamento ao nosso dispor.
No Brasil, por exemplo, o metilfenidato, substância dada para
crianças e adolescentes com a pretensão de diminuir o chamado
“déficit de atenção” na escola, subiu de 70.000 caixas vendidas
em 2000 para dois milhões de caixas em 2010, inserindo o Brasil
no segundo maior consumidor dessa droga no mundo, perdendo
somente para os Estados Unidos.
A inflação diagnóstica produzida pelo DSM e seus efeitos
iatrogênicos, especialmente no âmbito da psiquiatria infantil é
uma das muitas causas de críticas à Psiquiatria. Até mesmo
movimentos que consideram alguns diagnósticos duvidosos,
como o caso do TDAH.
Esse fenômeno é conhecido como “medicalização da vida. Ou
seja, é a transformação em situações normais da existência
humana em objeto de abordagem profissional da área da saúde,
utilizando medicamentos como principal meio de intervenção.
A partir do ano de 2000, assistimos o retorno das explicações
organicistas centradas em distúrbios e transtornos no campo da
educação para explicar dificuldades de crianças na escolarização.
Os transtornos mentais são um conjunto de condições de
saúde que envolve mudanças comportamentais, emocionais e de
pensamento. São categorizados a partir de observações
sindrômicas. Apesar de que não existem biomarcadores que
identifiquem essas condições e apesar das incertezas teóricas no
campo psiquiátrico, este se sustenta pela adoção da hipótese
epigenética para explicar a doença mental como
fundamentalmente biológica, porém sua expressão é modulada
pelo meio.
Os genes não são mais “destino, mas oportunidade” enovas
práticas e intervenções são consideradas, principalmente observa-
se a e a valorização das intervenções medicamentosas,
consideradas as ações psiquiátricas propriamente ditas.
Os transtornos do neurodesenvolvimento ganham espaço de
discussão no processo de escolarização. Transtornos do
neurodesenvolvimento se expressão por algum atravessamento
desconhecido que influencia de forma negativa o
desenvolvimento neural. O desenvolvimento neural inicia no
período pré-natal, mas continua na vida extraulterina. A pesar de
que a evolução cerebral prevê o momento diferentes de
desenvolvimentos neurais (janelas de oportunidades), a infância é
considerada o período crítico para esse desenvolvimento.
O termo Medicalização diz respeito ao reducionismo
biológico do sofrimento psíquico. Nessa prática ocorre uma
valorização desproporcional de explicações neurológicas e
genéticas e o psiquismo é reduzido a sua estrutura biológica.
O tratamento dado a isso seria normativamente a
administração de medicamentos (psicofármacos), as quais, a partir
de um reajuste das disfunções cerebrais, hormonais ou
neuroquímicas, teriam como resultado uma normalização dos
comportamentos inadequados.

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