Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Psicologia em
Instituições Educacionais
conquista de autonom ia pela Psicologia no Brasil teve na Edu
A cação um dos mais importantes substratos para sua realiza
ção. As transform ações históricas da sociedade brasileira im puse
ram um a m aior preocupação com as questões educacionais e, con-
seqüentemente, com a problem ática pedagógica. Nesse âmbito, a
Psicologia tom ou-se necessária como ciência básica e instrumental
para a Pedagogia, o que acarretou seu desenvolvimento, quer no pla
no teórico, quer no plano prático. Esse desenvolvimento foi de tal
maneira relevante que, da Educação, ampliou-se para outras áreas,
como a organização do trabalho e o atendimento clínico nos Serviços
de Orientação Infantil.
Desde o final do século passado a preocupação com o siste
m a educacional do país ocupou vários setores da sociedade. Tal pre
ocupação não foi hom ogênea e seus motivos guardavam diferenças
fundam entais, articulando-se a interesses diversos e diferentes
concepções sobre a sociedade brasileira e seus rumos.
Nos anos iniciais da república permaneceu grande a influên
cia das idéias positivistas e liberais sobre o pensam ento brasileiro
em geral e sobre o pensamento educacional em especial. Essas idéias
fizeram -se presentes no plano educacional, sucessivam ente no
cientificismo e no humanismo, tendo penetrado largamente nos fun
damentos e na organização escolar.
Os defensores do positivismo tinham como objetivo difundir
suas idéias por m eio da educação escolarizada, que deveria organi-
zar-se segundo seus princípios. Assim, foi realizada, em 1890, a
Reform a Benjamim Constant, que levou o nome do titular do então
M inistério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. Essa re
form a propunha a liberdade, a laicidade e a gratuidade do ensino
63
A Psicologia no Brasil
18 Sobre esse assunto, ver: RIBEIRO, M. L. S. História da Educação Brasileira. São Paulo,
Cortez e Moraes, 1979.
64
Leitura histórica sobre sua constituição
65
A Psicologia no Brasil
66
Leitura histórica sobre sua constituição
67
A Psicologia no Brasil
20 PENNA, A. G. Apontamentos sobre as fontes e sobre algumas das figuras mais expres
sivas da Psicologia na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, FGV, 1986.
68
Leitura histórica sobre sua constituição
“A d y n a m ic a d o p e n s a m e n to h u m a n o n ã o p o d e r ía c o n te r -s e n a es-
tre ite za d o la b o r a to r io ; d e fo rm a -se , a n n u la -se . M e s m o a s s im p le s
a s s o c ia ç õ e s d e id é ia s: m e lh o r a s c o n h e c e m o s n a a n a ly s e d e u m a
o b ra qua lq u er, n a tu r a lm e n te p e n s a d a e e sc rip ta , d o q u e n o s m ilh a
res d e p e s q u iz a s q u e, p a r a e s se fim , se fiz e r a m . T o m e m d o a lb a tro z,
o u m e sm o d o tic o -tic o , a te m -n 'o, j á e n c e r r a d o n u m a g a io la , e, a g o
ra, te n te m e s tu d a r -lh e a d y n a m ic a d o v ô o ! (...) P o is, f o i m il v e ze s
m a is in se n sa ta a p r e te n s ã o d e c o n h e c e r o c o n ju n c to d o e sp irito ,
p e lo q u e se o b te m n a s s im p le s p e s q u iz a s a lá p is e a p p a re lh o s. (...)
o m a is c o m p le x o a q u e se p o d e d e d ic a r a m e n te h u m a n a , te m d e s e r
a p u r a d o à lu z d e to d o s o s m e th o d o s , c o m a c o n tr ib u iç ã o d e to d o s
21 Dentre as várias obras de BOMFIM, vale a pena ver: Bomfim, M. Pensar e Dizer: estudo
do symbolo no pensamento e na linguagem. Rio de Janeiro, Casa Electros, 1923.
69
A Psicologia no Brasil__________________________________________________________________
o s r e c u r s o s ; m a s e v id e n te m e n te , d o s m e th o d o s p o s s ív e is e
a p p lic a v e is , o m a is in s u f fic ie n te s e r á s e m p r e e s te : to m a r u m
in d iv íd u o , c o n s id e r a l- o is o la d a m e n te , im p o r - lh e a s c o n d iç õ e s
r e s tr ic ta s e a r tific ia e s d o la b o r a to r io , p a r a in fe r ir d a s u a c o n s
c iê n c ia d e tu r p a d a o re g im e n n o r m a l n o c o m m u m d a s c o n s c iê n c ia s
(...) o e s p ir ito h u m a n o , c o m p le x o , e s s e n c ia lm e n te a c tiv o e in s tá v e l
c o m o é, te m d e s e r e s tu d a d o e c o m p r e h e n d id o n a s fo r m a s n o r m a e s
e c o m p le ta s d a s u a r e a liz a ç ã o n a tu r a l. E lle e x iste , e p r o d u z , e s e
m a n ife s ta , c o m o a c tiv id a d e c o n ju n c ta e c o lle c tiv a ; a s s im te m d e
s e r c o m p r e h e n d id o e e s tu d a d o . A in tr o s p e c ç ã o , s o m e n te , p u r a o b
s e r v a ç ã o in d iv id u a l, q u e se ja , o u n ã o , tr a b a lh o d e la b o r a to r io ,
n u n c a p o d e r ia d a r a b a s e c o m p le ta d a s le is d o e s p i r i t o ” (1923,
pp. 26 e 27).
Essa concepção de Bomfim diferenciava-se radicalm ente da
concepção de pesquisa de outros brasileiros, que defendiam o labo
ratório como expressão m áxima de produção de conhecimento psi
cológico. Em M anoel Bomfim, menos que o êxtase provocado pela
possibilidade de controle e rigor científico que o laboratório repre
sentava, pareciam mais importantes os limites impostos por este
tipo de pesquisa. Buscava ele compreender determinados fenôm e
nos em outras bases, considerando a importância da natureza social
do psiquismo em sua complexidade e concreticidade. Posteriormente,
vários estudiosos da Psicologia empreenderam críticas semelhantes
às de Bomfim, assim como elaboraram concepções de Psicologia e
de fenômeno psíquico muito próximas daquelas que esse autor bra
sileiro formulou pioneiramente.
O laboratório do “Pedagogium ”, em bora não tenha registros
sistem áticos de sua produção, pode ser considerado um celeiro
riquíssim o de reflexões sobre a Psicologia, por m eio das obras
publicadas por seu genial diretor.
O “Pedagogium ” funcionou até 1919, quando foi extinto
por decreto m unicipal. Segundo Penna, essa instituição perpe
tuou-se com a criação em 1938, do Instituto N acional de E stu
dos Pedagógicos — INEP.
70
Leitura histórica sobre sua constituição
71
A Psicologia no Brasil
“a p s ic o lo g ia q u e a d o ta v a , b u s c a v a p r e d o m in a n te m e n te m o d e lo s
o b je tiv o s . E m b o ra h o u v e s s e m a n ife s ta d o s im p a tia p e la
r e fle x o lo g ia e s tr ita d e P a v lo v e B e c h te r e w , n ã o s e f i l i o u a q u a l
q u e r b e h a v io r is m o , p r e fe r in d o a n te s a p s ic o lo g ia d o c o m p o r ta
m e n to , c o m o a e n te n d ia H . P ie r ó n , e s o b r e tu d o a o r ie n ta ç ã o d ita
fu n c io n a lis ta q u e r e p r e s e n ta v a m e n tã o (...) C la p a r è d e , J a m e s ,
D ew ey , etc. e a p r o d u ç ã o d o s e x p e r im e n ta d o r e s r ig o r o s o s q u e p u
n h a m em m a r c h a o m o v im e n to d o s te s te s m e n ta is : B in e t, T erm a n ,
Y erkes, B u r t e o u tr o s ” (1978, p. 156).
72
Leitura histórica sobre sua consiit
73
A Psicologia no Brasil
74
Leitura histórica sobre sua constituição
Escolas Normais
75
A Psicologia no Brasil
p s ic o lo g ia s e fu n d a r a m e q u e p r o fe s s o r e s n a c io n a is re c e b e r a m d e
Th. S im o n , Ed. C la p a rè d e , H é lè n e A n tip o ff, H . P ié ro n , F a u c o n n e t,
L. W alther, K õ h le r e o u tro s e s tra n g e iro s, c u r to s m a s e s tim u la n te s
c u r so s d e c o n fe r ê n c ia s . A fo r m a ç ã o d o s m a is d e s ta c a d o s p s ic ó lo
g o s e d u c a c io n a is b r a s ile ir o s d a a tu a lid a d e [1950] te m s u a s ra íz e s
n a q u e la s e s c o la s n o r m a is ” (1950, p. 31).
76
Leitura histórica sobre sua constituição
77
A Psicologia no Brasil
78
Leitura histórica sobre sua constituição
“E n te n d e u , p o r isso, o G o v e r n o a c tu a l a c o n v e n iê n c ia d e s e a m p li
a re m o s e s tu d o s th e o r ic o s e p r á tic o s d a p e d a g o g ia , p a r a o q u e a
c a d e ir a d e p s y c h o lo g ia e x p e r im e n ta l a p p lic a d a à e d u c a ç ã o . I n i
cio u a in d a , a n n e x o à E sc o la , a o r g a n is a ç ã o d e u m g a b in e te d e
a n th r o p o lo g ia e p s y c h o lo g ia p e d a g ó g i c a ” (1914, p. 17).
79
A Psicologia no Brasil
80
Leitura histórica sobre sua constituição
81
A Psicologia no Brasil
82
Leitura histórica sobre sua constituição
v
2.3. A Guisa de Síntese
A Educação foi, sobretudo nas décadas iniciais do século XX,
fundamental para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil. Foi ela
a principal base sobre a qual a Psicologia emergiu na condição de
ciência, tendo sido por seu intermédio que, em grande parte, os co
nhecimentos produzidos na Europa e nos Estados Unidos chegaram
ao Brasil e, por suas características, foi no seu interior que mais clara
mente a Psicologia revelou-se na sua autonomia teórica e prática.
Na M edicina e principalmente na Psiquiatria esse processo
não foi tão explícito como o foi na Educação. Isso pode ser explica
do, provavelmente, pelas naturezas diversas desses campos.
A Educação, como conjunto de práticas sociais que visam à
formação dos homens e a Pedagogia, sistematização teórico-prática
que busca fundamentar, subsidiar e orientar as ações educativas,
não podem ser consideradas como ciências específicas. Buscam elas
as ciências afins que possam dar-lhes base de sustentação, como é o
caso da Psicologia, considerada “a priori” como ciência autônoma
que tem grande potencial de contribuição, o que lhe permite m os
trar-se plenamente como área específica de saber.
Com a Psiquiatria, no entanto, o tipo de relação que se esta
belece é de natureza diversa. São ambas, Psiquiatria e Psicologia,
não apenas campos de saber e de prática, mas tam bém seus objetos
de estudo e de intervenção não são, até hoje, claram ente definidos e
delimitados. Entretanto, pode-se perceber já nesse período a definição
83
A Psicologia no Brasil
84
Leitura histórica sobre sua constituição
85