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Resumo leituras Aula 27.09.

2022
Marcia Reis

Vimos na aula anterior que a revolução escolanovista, que se desenvolveu sob


os impactos das transformações políticas, sociais e econômicas dos anos de 1930,
representou a revolução pedagógica que abraçou as posições progressistas liberais
que a sociedade demandava e que se manteve em oposição a uma pedagogia
tradicional que enfatizava o individualismo, o privilégio (De Castro et ali, 2019, p.3).
Tal movimento se estabelece nos anos seguintes.
Após fim da 2ª Guerra Mundial, o clima de paz e democracia, como nos fala
Saviani (2019, p.335), foi possível graças a união entre potências até então em lados
antagônicos (os EUA e a antiga União Soviética, por exemplo) contra o fascismo e a
colaboração entre grupos de direita e de esquerda. No Brasil, esse movimento que já
havia se iniciado em 1943, vai refletir nas aproximações de Getúlio Vargas aos
burocratas, aos militares, aos oligarcas e também aos trabalhadores. Essa aproximação
com os trabalhadores faz com que os grupos dominantes olhem para seu governo com
desconfiança. Em 1945, consuma-se o golpe. Vargas deixa o poder e o presidente do
STF José Linhares assume o governo até as eleições de dezembro do mesmo ano.
Importante lembrar que durante a ditadura os partidos políticos haviam sido
extintos. Somente no final de 1942 começa a haver movimentos para formar grupos
políticos novamente, como aconteceu com a formação da UDN, que surgiu do Partido
Democrático e que era ligado às exportadoras de café. Considerado um partido
urbano, seus interesses se ligavam aos banqueiros, exportadores de multinacionais e
também das classes médias urbanas, principalmente os ligados ao comércio. Dois
outros partidos se unem ao UDN: o PSD e o PTB. Em São Paulo, surge o PSP, partido
populista, mas que não conseguiu se lançar nacionalmente.
Nas eleições de 02 de dezembro de 1945, temos o general Eurico Gaspar Dutra,
do PSD, concorrendo com o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, e com Yedo Fiuza
pelo PCB, mesmo com a forte liderança de Luiz Carlos Prestes. Dutra se elege com 55%
dos votos, assim como seu partido, o PSD elege 177 representantes para a Assembleia
Nacional Constituinte.
Mesmo com o fim do governo Vargas, o poder das forças armadas permanecia
no poder, frustrando a euforia democrática (SAVIANI, 2019, p. 338) que se instalara no
país. O governo que se intitulava democrático deixava de fora a classe operária.
No entanto, o clima de paz e democracia que pairava no mundo durou apenas
até o período conhecido como Guerra Fria, polarizando o mundo entre oriente e
ocidente, representados respectivamente pela União Soviética e os EUA. Como sinaliza
Saviani (2019, p. 338), os partidos comunistas passaram a ser taxados de “agentes de
Moscou”. No país, a classe operária era mantida sob forte controle, inclusive com o
fechamento da CGT e das Uniões Sindicais e do PCB e cassação de mandatos. É nesse
contexto que podemos compreender o motivo pelo qual os defensores da Escola Nova
com o ideário de escola pública gratuita para todos passam a ser chamados de
comunistas.

O governo Dutra, conservador, escolhe Clemente Mariani para a pasta da Educação. A


carta Constitucional de 1946 traz alguns dos anseios observados no Manifesto dos
Pioneiros, entre eles a de que o Estado deve legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (artigo 5o, inciso XV, alínea d). Esta dispositivo leva o governo a
criar uma comissão para elaborar o anteprojeto da LDB e convoca os principais
educadores do país, entre eles Lourenço Filho, Alceu Amoroso Filho e Padre Leonel
Franca. Anísio Teixeira é convidado, mas não pode participar, colaborando com
sugestões apenas. Dos educadores convidados, 16 eram escolanovistas, o que se
evidencia no trabalho proposto. Mas havia dois representantes dos educadores católicos,
Alceu Amoroso Lima e padre Leonel Franca. Mais tarde, na segunda metade dos anos
50, seriam os católicos, aliados ao deputado Carlos Lacerda (ironicamente, da própria
UDN), os grandes opositores das ideias preconizadas por Almeida Júnior, Anísio
Teixeira, Fernando de Azevedo e vários outros educadores brasileiros de correntes
diversas.

O documento trazia a proposta de descentralizar as atribuições da União, onde


as ofertas da educação pública seria responsabilidade dos estados e municípios.
Gustavo Capanema, relator do anteprojeto, reage negativamente e arquiva o projeto
que só volta com força aos debates em 1956, marcando o conflito entre escola pública
e particular.

Anísio Teixeira, que comandava órgãos de pesquisa – INEP, CAPES – defendia a escola
pública, universal e gratuita para todos. Em palestra feita em 1956 em Ribeirão Preto,
ele discursa a favor dessa ideia o que gera uma reação violenta do deputado e padre
Fonseca e Silva, pois o Congresso impugnou três propostas ligadas ao ensino religioso:
remuneração dos professores de religião, aumento de sua carga horária e contagem
de pontos desses professores para concurso de ingresso na carreira docente (SAVIANI,
2019, p.346-7), tentando associar Anísio Teixeira e as propostas de Dewey do
marxismo. Tal investida não recebe o apoio esperado por parte da ABE que emite
parecer, em 1957, atestando que não havia incompatibilidade no discurso proferido
por Teixeira em 1956, em São Paulo, e que não existia relação entre os princípios e
métodos de John Dewey e a doutrina de determinismo econômico.

Anísio Teixeira, no entanto, não teve trégua, mas continuou defendendo seus
ideais, reforçando que não defendia o monopólio do Estado na educação, mas, sim, de
uma escola pública e gratuita para todos. A Igreja Católica continua se sentindo
ameaçada e continuam propagando a noção de que os defensores dessa tal escola
para todos são comunistas e adeptos do socialismo.

Em 1958, Carlos Lacerda apresenta um substitutivo ao Congresso que é a favor


da escola particular, apoiado pela Igreja e pelos donos das escolas. A favor da escola
pública temos intelectuais de correntes distintas: a) a liberal-idealista, que defende
educação como o meio pelo qual o animal se converte em homem, um ser moral; b) a
liberal-pragmatista; que vê na educação a possibilidade do indivíduo se desenvolver de
acordo com suas necessidades e inclinações individuais; c) a de tendência socialista,
que percebe a educação como fator de transformação social provocada.

O debate escola pública x particular movimentou a opinião pública e apoio a


ambos os lados. Em 1960, publica-se uma coletânea de 55 textos de professores
importantes no cenário nacional chamado “Manifesto dos educadores: mais uma vez
convocados” que defendia, entre outras coisas, a escola pública com foco no dever do
Estado de oferecer e investir ensino público.

À medida que a pedagogia nova ganhava espaço, a relação dela com a Igreja foi
se modificando. Alguns críticos/religiosos reconheciam a validade de algumas ideias e
assumiam também integrantes de movimentos de renovação pedagógica, o que
contribui para a renovação da pedagogia católica, refletindo, de certo modo, a
predominância da concepção humanista moderna (representada pelos Pioneiros da
Educação Nova).

Mas, como renovar a escola confessional sem renunciar aos objetivos


religiosos?

Como o alunado das escolas confessionais eram a elite econômica e cultural,


atender a nova demanda era uma questão de sobrevivência. Nesse movimento, as
escolas confessionais acabam se alinhando as ideias de Lubienska, que havia
desenvolvido sua teoria em estreita observância da Bíblia e da liturgia católica.

Nos anos finais de 1950 e no início de 1960 o mobilização popular se intensifica,


com destaque o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Movimento Paulo Freire
de Educação de Adultos, ambos alinhados as ideias da Escola Nova.

No entanto, enquanto o pragmatismo e o existencialismo inspiram as ideias da


Escola Nova, o personalismo cristão e a fenomenologia influenciam os movimentos
populares como o MEB e o Movimento Paulo Freire, surge na educação uma “Escola
Nova Popular” (SAVIANI, 2019, p.364) que se alinha a corrente chamada de teologia da
libertação, que por meio de uma análise crítica da realidade social, buscou auxiliar a
população pobre e oprimida na luta por direitos (CAMILO, 2011, p.1).

O que veremos a seguir é a crise das pedagogia nova e articulação de uma


pedagogia tecnicista, que privilegia as tecnologias educacionais e vê estudantes e
professores/as como meros executores de projetos, nos remetendo, dentre outras
coisas, a criticada educação bancária de que tanto Paulo Freire nos falou.
Referências

CAMILO, Rodrigo. A teologia da libertação no Brasil: das formulações iniciais de sua


doutrina aos novos desafios da atualidade. II Seminário de Pesquisa da Faculdade de
Ciências Sociais, Goiás: UFG, 2011. Disponível em:
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/253/o/Rodrigo_Augusto_Leao_Camilo.pdf
Acesso em 26.09.2022

CASTRO et al. O movimento escolanovista e as contribuições dos Pioneiros da


Educação. XXIV Jornada de Pesquisa. RGS: UNIJUI, 2019. Disponível em:
file:///users/marciareis/downloads/12383-texto%20do%20artigo-44854-1-10-
20191016.pdf Acesso em 27.09.2022.

SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2019.

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