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DIDÁTICA
P R O F ª . A D R I A N A F R EI T A S

1. EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS:


(Breve) história do pensamento pedagógico brasileiro. .................................................. 01

2. A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ............................................ 10

3. PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM. ..................................................................... 19

4. TEORIAS DO CURRÍCULO .................................................................................................. 33

5. ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. ........ 43

6. POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. ................................................ 51

7. LEGISLAÇÃO BÁSICA DA EDUCAÇÃO ............................................................................... 66

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1. EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIO- O ensino libertário ministrado pelas escolas modernas encer-
rou-se, pelo menos na capital de São Paulo e em São Caetano,
NAIS E PEDAGÓGICOS: (Breve) história do pen-
em 1919. Aquele ano foi marcado por fortes tensões entre os
samento pedagógico brasileiro. anarquistas e as autoridades, especialmente porque circulavam
informações de que estava sendo promovida no Rio de Janeiro,
A educação brasileira começa a ter autonomia com o desen- com a participação de anarquistas, uma conspiração visando à
volvimento das teorias da Escola Nova, no final do século XIX, derrubada do governo. Entretanto, desde 1915 já vinha se confi-
pois nosso pensamento pedagógico reproduzia o religioso medi- gurando um quadro bem pouco favorável à sobrevivência do
eval. Graças ao pensamento iluminista trazido da Europa por ensino racionalista tal como fora proposto por Ferrer. O naciona-
intelectuais e estudantes de formação laica, positivista, liberal, a lismo e a consequente decisão do governo de imprimir novas
teoria da educação brasileira pôde dar alguns passos. diretrizes no campo da educação foram outros fatores que con-
A criação da Associação Brasileira de Educação (ABE), em tribuíram para o encerramento da mais avançada experiência
1924, foi fruto do projeto liberal da educação que tinha, entre libertária no país.
outros componentes, um grande otimismo pedagógico: recons- O pensamento pedagógico libertário teve como principal di-
truir a sociedade através da educação. Reformas importantes, fusora a educadora Maria Lacerda de Moura (18871944), comba-
realizadas por intelectuais na década de 20, impulsionaram o tendo principalmente o analfabetismo.
debate educacional, superando gradativamente a educação jesuí- Em Lições de Pedagogia (1925), Moura propôs uma educação
tica tradicional, conservadora, que dominava o pensamento pe- que incluísse educação física, educação dos sentidos e o estudo
dagógico brasileiro desde os primórdios. O domínio dos jesuítas do crescimento físico. Amparando-se em Binet, Claparede e Mon-
havia sofrido um retrocesso durante apenas um curto espaço de tessori, afirmava que, além das noções de cálculo, leitura, língua,
tempo, entre 1759 e 1772. O obscurantismo português sobre a pátria e história, seria preciso estimular associações e despertar a
colônia era tanto que, em 1720, a metrópole proibiu a imprensa vida interior da criança para que houvesse uma autoeducação.
em todo o Brasil, na tentativa de mantê-la isolada de influências Dizia ela que era preciso declarar guerra ao analfabetismo,
externas. mas também à ignorância presumida, ao orgulho tolo, à vaidade
Os jesuítas nos deixaram um ensino de caráter livresco e repe- vulgar, à pretensão, à ambição, ao egoísmo, à intolerância e aos
titivo, que estimulava a competição por meio de prêmios e casti- preconceitos, em suma: guerra à mediocridade, à vulgaridade e à
gos. Discriminatórios e preconceituosos, os jesuítas dedicaram-se prepotência asseguradas pela autoridade do diploma e do bacha-
à formação das elites coloniais e difundiram nas classes populares relado incompetente.
a religião da obediência, da dependência e do paternalismo, Em 1930, a burguesia urbano industrial chega ao poder e
características marcantes de nossa cultura ainda hoje. Uma edu- apresenta um novo projeto educacional. A educação, principal-
cação que reproduzia uma sociedade perversa, dividida entre mente a educação pública, passou a ter espaço nas preocupações
analfabetos e doutores. do poder.
Um balanço da educação até o final do Império está em dois O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por
pareceres de Rui Barbosa (18491923): o primeiro sobre o ensino 27 educadores em 1932, seria o primeiro grande resultado políti-
secundário e superior, e o segundo sobre o ensino primário, co e doutrinário de 10 anos de luta da ABE em favor de um Plano
apresentados ao Parlamento, respectivamente, em 1882 e 1883. Nacional de Educação.
Neles Rui Barbosa prega a liberdade de ensino, e a instrução Outro grande acontecimento da década de 30 para a teoria
obrigatória. A reforma sugerida por ele inspirava-se nos sistemas educacional foi a fundação, em 1938, do Instituto Nacional de
educacionais da Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos. Estudos Pedagógicos (INEP), realizando um antigo sonho de
O balanço mostrava o nosso atraso educacional, a fragmenta- Benjamin Constant que havia criado em 1890 o Pedagogium. Em
ção do ensino e o descaso pela educação popular, que predomi- 1944, o INEP inicia a publicação da Revista Brasileira de Estudos
naram até o Império. A República prometia levar a questão edu- Pedagógicos, que se constitui, desde então, num precioso teste-
cacional a sério. Em 1890, os republicanos criaram o Ministério da munho da história da educação no Brasil, fonte de informação e
Instrução junto com os Correios e Telégrafos. Em 1931, o Ministé- formação para os educadores brasileiros até hoje.
rio da Justiça seria associado à Saúde Pública. Os grandes teóricos deste período foram, sem dúvida, Fer-
A educação foi interesse constante também do movimento nando de Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970),
anarquista no Brasil no início do século XX. Para os anarquistas, a Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) e Roque Spencer Maciel de
educação não era o único nem o principal agente desencadeador Barros (1927-1989). O pensamento pedagógico liberal teve gran-
do processo revolucionário. Entretanto, se não ocorressem mu- des contribuições no Brasil, entre elas as de Roque Spencer Maci-
danças profundas na mentalidade das pessoas, em grande parte el de Barros, João Eduardo. R. Villalobos, Antonio de Almeida
promovidas pela educação, a revolução social desejada jamais Junior, Laete Ramos de Carvalho (1922-1972), Moysés Brejon
teria êxito. Este posicionamento dos anarquistas em relação à (1923-1991) e Paul Eugene Charbonneau (1925-1987).
educação derivava do princípio da liberdade: os libertários eram Os católicos e os liberais representam grupos diferentes, cor-
contra a opressão e a coerção. rentes históricas opostas, porém não antagônicas. Os primeiros
O movimento anarquista no Brasil era profundamente influen- desejavam imprimir à educação um conteúdo espiritual e os
ciado pelo europeu através de livros, revistas e jornais. Essa in- segundos, um cunho mais democrático. Contudo, os dois grupos
fluência é claramente percebida quando se comparam duas inici- tinham pontos em comum.
ativas educacionais promovidas em São Paulo: a Escola Libertária Representavam apenas facções da classe dominante e, por-
Germinal, que não foi em frente, e a Escola Moderna, destinada à tanto, não questionavam o sistema econômico que dava origem
educação de crianças da classe operária, inspirada na obra de aos privilégios e à falta de uma escola para o povo. A mudança
Francisco Ferrer. empregada pelos dois grupos estava centrada mais nos métodos

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do que no sentido da educação. A análise da saciedade de classes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Morreu no Rio de
com poucas exceções estava ausente da reflexão dos dois grupos. Janeiro.
Só o pensamento pedagógico progressista, a partir das reflexões Suas principais obras foram: Educação pública: organização e
de Paschoal Lemme, Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire, é que administração (1935), Educação não é privilégio (1956), A educa-
coloca a questão da transformação radical da saciedade e o papel ção é um direito (1967) e pequena introdução à filosofia da edu-
da educação nessa transformação. cação (1978).
Em 1948, a ministro Clemente Mariani enviou ao Congresso Nos dias de hoje, quando a ciência vai refazendo o mundo e a
um projeto de lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que onda de transformação alcança as peças mais delicadas da exis-
só seria sancionado depois de muitas disputas e alterações, em tência humana, só quem vive à margem da vida, sem interesses e
1961, constituindo-se na primeira lei geral da educação brasileira sem paixões, sem amores e sem ódios, pode julgar que dispensa
em vigor até a Constituição em 1988. uma filosofia. A filosofia de um grupo que luta corajosamente
Depois da ditadura de Getúlio Vargas (19371945), abre-se um para viver não é a mesma de outro cujas facilidades transcorrem
período de redemocratização no país que é brutalmente inter- em uma tranquila e rica abundância, pois conforme o tipo de
rompido com o golpe militar de 1964. Nesse curto espaço de experiência de cada um, será a filosofia de cada um. A vida vai,
tempo, em que as liberdades democráticas foram respeitadas, o porém, assumindo aspectos mais gerais, dia a dia, e os predica-
movimento educacional teve novo impulso, distinguindo-se por mentos da filosofia irão também, assim, dia a dia, se aproximan-
dois grandes movimentos: o movimento por uma educação po- do.
pular e o movimento em defesa da educação pública, o primeiro À medida que se alargam os problemas comuns, mais viva-
predominante no setor da educação informal e na educação de mente sentidos, será a falta de uma filosofia que nos dê um pro-
jovens e adultos, e a segunda mais concentrada na educação grama de ação e de conduta, isto é, uma interpretação harmoni-
escolar formal. osa da vida e das suas perplexidades.
O primeiro teve seu ponto alto em 1958, com o segundo Está aí a grande intimidade entre a filosofia e a educação. Se
Congresso Nacional de Educação de Adultos, e no início de 1964, educação é o processo pelo qual se formam as disposições es-
com a Campanha Nacional de Educação de Adultos, dirigido por senciais do homem, emocionais e intelectuais, para com a nature-
Paulo Freire, defendendo uma concepção libertadora da educa- za e para com os demais homens, filosofia pode ser definida
ção. O segundo teve um momento importante com os debates como a teoria geral da educação, conforme o pensamento de
em torno da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), principalmente em Dewey. Filosofia se traduz, assim, em educação, e educação só é
1960 com a realização, em São Paulo, da primeira Convenção digna desse nome quando está percorrida de uma larga visão
Estadual de Defesa da Escola Pública e da Convenção Operária filosófica. Filosofia da educação não é, pois, senão o estudo dos
em Defesa da Escola Pública. problemas que se referem à formação dos melhores hábitos
Mas encarar esses dois movimentos como antagônicos seria mentais e morais em relação às dificuldades da vida social con-
um equívoco já que em ambos existem posições conservadoras e temporânea.
progressistas. O ideal seria unir os defensores da educação popu- Considerada, assim, a filosofia como a investigadora dos valo-
lar que se encontram nos dois movimentos: aqueles que defen- res mentais e morais mais compreensivos, mais harmoniosos e
dem uma escola com uma nova função social, formando a solida- mais ricos que possam existir na vida social contemporânea, está
riedade de classe e lutando por um Sistema Nacional Unificado claro que a filosofia dependerá, como a educação, do tipo de
de Educação Pública. sociedade que se tiver em vista. Admitindo que nos achamos em
Essa unidade passou a ser mais concreta a partir de 1988, com uma sociedade democrática servida pelos conhecimentos da
o movimento da educação pública popular, sustentado pelos ciência moderna e agitada, em princípio, pela revolução industrial
partidos políticos mais engajados na luta pela educação do povo. iniciada no século XVIII, a filosofia deve procurar definir os pro-
Esse novo movimento acredita que só o Estado pode dar conta blemas mais palpitantes dessa nova ordem de coisas e armá-los
do nosso atraso educacional, mas sem dispensar o engajamento para as soluções mais prováveis.
da sociedade organizada. Preconiza uma reorganização político Nenhuma das soluções pode ser definitiva ou dogmática. A fi-
administrativa embasada num projeto ético político progressista, losofia de uma sociedade em permanente transformação, que
a partir da participação ativa e deliberativa da sociedade civil. aceita essa transformação e deseja torna-la um instrumento do
As ideias de Anísio Teixeira (19001971) influenciaram todos os próprio progresso, é uma filosofia de hipóteses e soluções provi-
setores da educação no Brasil e mesmo o sistema educacional da sórias.
América Latina. Entre suas contribuições, pode-se citar o Centro O método filosófico será, assim, experimental, no sentido de
Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador (BA), primeira experi- que as soluções propostas serão hipóteses sujeitas à confirmação
ência no Brasil de promover a educação cultural e profissional de das consequências.
jovens. Os ideais e aspirações contidos no sistema social democrático
Anísio Teixeira nasceu em Caieté (BA). Foi inspetor geral de envolvem a igualdade rigorosa de oportunidades entre todos os
ensino e diretor geral da Instrução Pública da Secretaria do Inte- indivíduos, o virtual desaparecimento das desigualdades econô-
rior, Justiça e Instrução Pública da Bahia. Esteve nos EUA pesqui- micas, e uma sociedade em que a felicidade dos homens seja
sando a organização escolar desse país e formou-se em educação amparada e facilitada pelas formas mais lúcidas e mais ordena-
na Universidade de Colúmbia, tornando-se discípulo e amigo do das. Essas aspirações e esses ideais serão, porém, uma farsa, se
filósofo e educador norte americano John Dewey. Em 1935, tor- não os fizermos dominar profundamente o sistema público de
nou-se secretário da Educação e Cultura do Distrito Federal, lan- educação. A escola tem que dar ouvidos a todos, e a todos servir.
çando um sistema de educação global do primário à universida- Será o teste de sua flexibilidade, da inteligência de sua organiza-
de. Foi ainda membro do Conselho Federal de Educação, reitor da ção e da inteligência dos seus servidores.
Universidade de Brasília, e recebeu o título de professor emérito

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Esses têm de honrar as responsabilidades que as circunstân- Nesse processo, o professor contratado ou precário, sem con-
cias lhes confiam, e só o poderão fazer transformando-se a si trato e sem estabilidade, substitui o efetivo ou estável, conforme
mesmos e transformando a escola. as determinações do mercado, colocando-o numa situação idên-
O professor de hoje tem que usar a legenda do filósofo: nada tica à do proletário. Na unidade escolar básica é o professor que
que é humano me é estranho. Tem de ser um estudioso dos mais julga o aluno mediante a nota, participa dos conselhos de classe,
embaraçosos problemas modernos, tem que ser estudioso da nos quais o destino do aluno é julgado, define o programa de
civilização, tem que ser estudioso da sociedade e tem que ser curso nos limites prescritos e prepara o sistema de provas ou
estudioso do homem, tem que ser, enfim, filósofo. exames.
A simples indicação desses problemas demonstra que o edu- Para cumprir essa função, ele é inspecionado, é pago por esse
cador não pode ser equiparado a nenhum técnico, no sentido papel de instrumento de reprodução e exclusão. A própria dispo-
usual e restrito da palavra. Ao lado da informação e da técnica, sição das carteiras na sala de aula reproduz relações de poder: o
deve possuir uma clara filosofia da vida humana e uma visão estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes sentados
delicada e aguda da natureza do homem. em cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de mon-
Um dos poucos pensadores anarquistas atuais preocupados tagem industrial, configura a relação saber/poder e dominante/
com a escola, Maurício Tragtenberg representa hoje uma impor- dominado. O poder professoral manifesta-se através do sistema
tante corrente de pensamento e ação político pedagógica cujas de provas ou exames em que ele pretende avaliar o aluno. Na
raízes estão em Bakunin, Kropotkin, Malatesta e Lobrot. realidade, está selecionando, pois uma avaliação de uma classe
O pensamento de Tragtenberg na educação mostra os limites pressupõe um contato diário demorado com a mesma, prática
da escola como instituição disciplinadora e burocrática, e as pos- impossível no atual sistema de ensino.
sibilidades da autogestão pedagógica, como iniciação à autoges- O disciplinamento do aluno tem no sistema de exame um ex-
tão social. A burocracia escolar é poder, repressão e controle. celente instrumento: o pretexto de avaliar o sistema de exames.
Critica tanto os países capitalistas quanto os socialistas, que de- Assim, a avaliação deixa de ser um instrumento e torna-se um fim
sencantaram a beleza e a riqueza do mundo e introduziram a em si mesmo. O fim, que deveria ser a produção e transmissão de
racionalização sem sentido humano. A burocracia perverte as conhecimentos, acaba sendo esquecido. O aluno submete-se aos
relações humanas, gerando o conformismo e a alienação. exames e provas. O que prova a prova? Prova que o aluno sabe
As propostas de Tragtenberg mostram as possibilidades de como fazê-la, não prova seu saber.
organização das lutas das classes subalternas e de participação O fato é que, na relação professor/ aluno, enfrentam-se dois
política do trabalhador na empresa e na escola visando à reedu- tipos de saber: o inacabado do professor e a ignorância do aluno.
cação dos próprios trabalhadores em geral e dos trabalhadores Não há saber absoluto nem ignorância absoluta. No fundo, os
em educação, em particular. Suas principais obras são: Adminis- exames dissimulam, na escola, a eliminação dos pobres, que se dá
tração, Poder e Ideologia (1980), Sobre Educação, Política e Ideo- sem exame. Muitos deles não chegam a fazê-la, são excluídos
logia (1982) e Burocracia e Ideologia (1974). Professores, alunos, pelo aparelho escolar muito cedo, veja-se o nível de evasão esco-
funcionários, diretores e orientadores. As relações entre todos lar na 1ª série do 1º grau e nas últimas séries do 1º e 2º graus.
estes personagens no espaço da escola reproduzem, em escala Qualquer escola se estrutura em função de uma quantidade de
menor, a rede de relações que existe na sociedade. saber, medido em doses, administrado homeopaticamente. Os
As áreas do saber se formam a partir de práticas políticas dis- exames sancionam uma apropriação do conhecimento, um mau
ciplinares, fundadas em vigilância. Isso significa manter o aluno desempenho ocasional, um certo retardo que prova a incapaci-
sob um olhar permanente, registrar, contabilizar todas as obser- dade do aluno de apropriar-se do saber.
vações e anotações sobre os alunos, através de boletins individu- Em face de um saber imobilizado, como nas Tábuas da Lei, só
ais de avaliação, ou uniformes/ modelo, por exemplo, perceber há espaço para humildade e mortificação. Na penitência religiosa
aptidões, estabelecendo classificações rigorosas. só o trabalho salva, é redentor; portanto, o trabalho pedagógico
A prática de ensino em sua essência reduz-se à vigilância. Não só pode ser sacrificado. Para não desencorajar os mais fracos de
é mais necessário o recurso à força para obrigar o aluno a ser vontade, surgem os métodos ativos em educação. A dinâmica de
aplicado. É essencial que o aluno, como o detento, saiba que é grupo aplicada à educação alienou-se quando colocou em pri-
vigiado. Porém há um acréscimo: o aluno nunca deve saber que meiro plano o grupo em detrimento da formação. A utilização do
está sendo observado, mas deve ter a certeza de que poderá pequeno grupo como técnica de formação deve ser vista como
sempre sê-lo. uma possibilidade entre outras. Tal técnica não questiona radi-
Dessa forma, a escola se constitui num observatório político, calmente a essência da pedagogia educacional. O fato é que os
um aparelho que permite o conhecimento e o controle perpétuo grupos se acham diante de um monitor, aqueles caracterizam o
de sua população através da burocracia escolar, do orientador não saber e este representa o saber. Ao invés de colocar como
educacional, do psicólogo educacional, do professor ou até dos tarefa pedagógica dar um curso e o aluno recebe-lo, por que não
próprios alunos. É necessário situar ainda que a presença obriga- colocá-lo em outros termos: em que medida o saber acumulado e
tória com o diário de classe nas mãos do professor, marcando formulado pelo professor tem chance de tornar se o saber do
ausências e presenças, atribuindo meia falta ao aluno que atrasou aluno? Por tudo isso a escola é um espaço contraditório: nela o
uns minutos ou saiu mais cedo da aula, é a técnica de controle professor se insere como reprodutor e pressiona como questio-
pedagógico burocrático por excelência herdada do presídio. nador do sistema, quando reivindica. Essa é a ambiguidade da
No seu processo de trabalho, o professor é submetido a uma função professoral.
situação idêntica à do proletário, na medida em que a classe A possibilidade de desvincular saber de poder, no plano esco-
dominante procura associar educação e trabalho, acentuando a lar, reside na criação de estruturas de organização horizontais em
responsabilidade social do professor e de seu papel como guar- que professores, alunos e funcionários formem uma comunidade
dião do sistema. real. É um resultado que só pode vir de muitas lutas, de vitórias

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setoriais e derrotas também. Mas sem dúvida a autogestão da Para Saviani, apud Gasparin (2005), a Escola Nova acaba por
escola pelos trabalhadores da educação, incluindo os alunos, é a aprimorar o ensino das elites, rebaixando o das classes populares.
condição de democratização escolar. Sem escola democrática não Mas, mesmo recebendo esse tipo de crítica, podemos considerá-
há regime democrático, portanto a democratização da escola é la como o mais forte movimento ‚renovador‛ da educação brasi-
fundamental e urgente, pois ela forma o homem, o futuro cida- leira.
dão. A tendência liberal renovada manifesta-se por várias versões:
a renovada progressista ou pragmática, que tem em Jonh Dewey
1.1 TEORIA DA EDUCAÇÃO, DIFERENTES CORRENTES e Anísio Teixeira, seus representantes mais significativos; a reno-
DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO. vada não-diretiva, fortemente inspirada em Carl Rogers, o qual
enfatiza também a igualdade e o sentimento de cultura como
1.1.1 A TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL desenvolvimento de aptidões individuais; a culturalistas; a piage-
tiana; a montessoriana; todos relacionadas com os fundamentos
A tendência tradicional está no Brasil, desde os jesuítas. O da Escola Nova ou Escola Ativa.
principal objetivo da escola era preparar os alunos para assumir Por educação nova entendemos a corrente que trata de mu-
papéis na sociedade, já que quem tinha acesso às escolas eram os dar o rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca,
filhos dos burgueses e a escola tomava como seu papel principal, dando-lhe sentido vivo e ativo. Por isso se deu também a esse
fazer o repasse do conhecimento moral e intelectual porque movimento o nome de `escola ativa´‛ (LUZURIAGA, 1980, p. 227).
através deste estaria garantida a ascensão dos burgueses e, con- Enfim, considerando suas especificidades e propostas de práticas
sequentemente, a manutenção do modelo social e político vigen- pedagógicas diferentes, as versões da pedagogia liberal renovada
te. Para tanto, a proposta de educação era absolutamente centra- têm em comum a defesa da formação do indivíduo como ser
da no professor, figura incontestável, único detentor do saber livre, ativo e social. ‚Do ponto de vista da Escola Nova, os conhe-
que deveria ser repassado para os alunos. cimentos já obtidos pela ciência e acumulados pela humanidade
O papel do professor estava focado em vigiar os alunos, acon- não precisariam ser transmitidos aos alunos, pois acreditava-se
selhar, ensinar a matéria ou conteúdo, que deveria ser denso e que, passando por esses métodos, eles seriam naturalmente en-
livresco, e corrigir. Suas aulas deveriam ser expositivas, organiza- contrados e organizados‛ (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 28).
da de acordo com uma sequência fixa, baseada na repetição e na Essa tendência retira o professor e os conteúdos disciplinares
memorização. Aulas de memorização de conteúdos (retirados dos do centro do processo pedagógico e coloca o aluno como fun-
livros), em que os alunos eram considerados como um papel em damental, que deve ter sua curiosidade, criatividade, inventivida-
branco, nos quais era impresso o conhecimento, cabendo a eles de, estimulados pelo professor, que deve ter o papel de facilita-
concordar com tudo sem questionar. dor do ensino. Defende uma escola que possibilite a aprendiza-
Eram formados para ser sujeitos a-críticos e passivos. Nessa gem pela descoberta, focada no interesse do aluno, garantindo
concepção de ensino o processo de avaliação carregava em seu momentos para a experimentação e a construção do conheci-
bojo o caráter de punição, muitas vezes, de redução de notas em mento, que devem partir do interesse do aluno. Essa concepção
função do comportamento do aluno em sala de aula. Essa ten- pedagógica sofreu e sofre distorções fortes por parte de alguns
dência pedagógica foi/é muito forte em nosso modelo de educa- educadores. Muitos defendiam essa tendência, mas na prática,
ção, ainda hoje, tanto no ensino fundamental e médio como no abriam mão de um trabalho planejado, deixando de organizar o
ensino superior, que vive uma salada de concepções pedagógi- que deveria ser ensinado e aprendido com a falsa desculpa de
cas. que o aluno é o condutor do processo.
Sabemos que os professores são fruto da sua formação esco-
lar, social e política, que esta se reflete na sua prática pedagógica, 1.1.3 A TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA
quando esta não é pensada/refletida cotidianamente, nesse caso,
temos um ciclo vicioso: formado sem reflexão –formo alunos sem A Tendência Liberal Tecnicista começa a se destacar no final
reflexão, também. dos anos 60, quando do desprestígio da Escola Renovada, mo-
Ao longo da história da educação, a tendência liberal tradicio- mento em que mais uma vez, sob a força do regime militar no
nal, sofreu/sofre várias críticas, a saber: os conhecimentos adqui- país, as elites dão destaque a um outro tipo de educação direcio-
ridos fora da escola não eram considerados como primeiro passo nada às grandes massas, a fim de se manterem na posição de
para a construção de novos conhecimentos, como um caminho dominação.
importante para a construção de saberes dotados de significado; Tendo como principal objetivo atender aos interesses da soci-
era extremamente burocratizado (conteúdos, memorização, pro- edade capitalista, inspirada especialmente na teoria behaviorista,
vas) com normas rígidas. Dentre todas, a maior crítica advém da corrente comportamentalista organizada por Skinner que traz
ausência de sentido, já que o conhecimento repassado não pos- como verdade inquestionável a neutralidade científica e a trans-
suía/possui relação com a vida dos alunos. posição dos acontecimentos naturais à sociedade.
O chamado ‚tecnicismo educacional‛, inspirado nas teorias da
1.1.2 A TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA aprendizagem e da abordagem do ensino de forma sistêmica,
constituiu-se numa prática pedagógica fortemente controladora
Novos ventos mudaram o mundo, no que diz respeito às con- das ações dos alunos e, até, dos professores, direcionadas por
cepções filosóficas e sociológicas da educação. Por volta dos anos atividades repetitivas, sem reflexão e absolutamente programa-
20 e 30, o pensamento liberal democrático chega ao Brasil e à das, com riqueza de detalhes. O tecnicismo defendia, além do
Escola Nova chega defendendo a escola pública para todas as princípio da neutralidade, já citada, à racionalidade, a eficiência e
camadas da sociedade. a produtividade.

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A educação, a escola passa a ter seu trabalho fragmentado 1.1.5 A TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA
com o objetivo de produzir os ‚produtos‛ sonhados e demanda-
dos pela sociedade capitalista e industrial. Tais como: o micro- Essa tendência teve como fundamento principal realizar modi-
ensino, o tele-ensino, a instrução programada, entre outras. Su- ficações institucionais, acreditando que a partir dos níveis meno-
bordina a educação à sociedade capitalista, tendo como tarefa res (subalternos), iriam modificando, ‚contaminando‛, todo o
principal à produção de mão de obra qualificada para atender ao sistema, sem definir modelos a priori e negando-se a respeitar
mercado, trazendo para os alunos e para as escolas consequên- qualquer forma autoridade ou poder.
cias perversas, a saber: Suas ideias surgem como fruto da abertura democrática, que
vai se consolidando lentamente a partir do início dos anos 80,
1. A sociedade passou a atribuir a escola e a sua tecnologia toda com o retorno ao Brasil do exilados políticos e com a conquista
a responsabilidade do processo de aprendizagem, negando paulatina da liberdade de expressão, através dos veículos de
os saberes trazidos pelos alunos e pelos professores; comunicação de massa, dos meios acadêmicos, políticos e cultu-
2. Incutiu a ideia errada de que aprender não é algo inerente ao rais do país.
ser humano e sim um processo que ocorre apenas a partir de Cresce o interesse por escolas verdadeiramente democráticas
técnicas específicas e pré-definidas por especialistas; e inclusivas e solidifica- se o projeto de escola que corresponda
3. O professor passou a ser refém da técnica, repassada pelo aos anseios da classe trabalhadora, respeitando as diferenças e os
manuais e o aluno a ser um mero reprodutor de respostas interesses locais e regionais, objetivando uma educação de quali-
pré-estabelecidas pela escola. Assim, se o aluno quisesse lo- dade e garantida a todos os cidadãos.
grar sucesso na vida e na escola, precisava apenas responder Esse pensamento defende, apoia e estimula a participação em
ao que lhe foi ensinado e reproduzir, sem questionar e/ou cri- grupos e movimentos sociais: sindicatos, grupos de mães, comu-
ar algo novo; nitários, associações de moradores etc.., para além dos muros
4. O bom professor deveria observar o desempenho do aluno, escolares e, ao mesmo tempo, trazendo para dentro dela essa
apenas com o intuito de ajustar seu processo de aprendiza- realidade pulsante da sociedade. A necessidade premente era
gem ao programa vivenciado; concretizar a democracia, recém criada, através de eleições para
5. Cada atividade didática passou a ter momento e local pró- conselhos, direção da escola, grêmios estudantis e outras formas
prios para ser realizada, dentre outras. de gestão participativa.
No Brasil, os educadores chamados de libertários têm inspira-
Naturalmente que este modelo, que defende a fragmentação ção no pensamento de Celestin Freinet. Buscam a aplicação con-
do conhecimento, calcado na crescente especialização da ciência creta de suas técnicas, na qual os próprios alunos organizavam
compromete a construção de uma visão global por parte dos seu trabalho escolar. A metodologia vivenciada é a própria auto-
educadores, impossibilitando ou dificultando, muitíssimo, o de- gestão, tornando o interesse pedagógico intrínseco às necessida-
senvolvimento de um ser humano mais integrado interiormente e des e interesses do grupo.
participante socialmente.
Vele salientar, que essa tendência pedagógica marcou forte- 1.1.6 A TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO SOCIAL DOS
mente as décadas de 70 e 80 e tem influência ainda hoje. CONTEÚDOS OU HISTÓRICO-CRÍTICA

1.1.4 A TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA Essa tendência se constitui no final da década de 70 e início
dos 80 com o propósito de ser contrária à ‚pedagogia libertado-
No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura política decor- ra‛, por entender que essa tendência não dá o verdadeiro e me-
rente do final do regime militar coincidiu com a intensa mobiliza- recido valor ao aprendizado do chamado ‚saber científico‛, histo-
ção dos educadores para buscar uma educação crítica, tendo em ricamente acumulado, e que constitui nosso identidade e acervo
vista a superação das desigualdades existentes no interior da cultural.
sociedade. Surge, então a ‚pedagogia libertadora‛ que é oriunda A ‚pedagogia crítico-social dos conteúdos‛ defende que a
dos movimentos de educação popular que se confrontavam com função social e política da escola deve ser assegurar, através do
o autoritarismo e a dominação social e política. trabalho com conhecimentos sistematizado, a inserção nas esco-
Nesta tendência pedagógica, a atividade escolar deveria cen- las, com qualidade, das classes populares garantindo as condi-
trar-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações ções para uma efetiva participação nas lutas sociais.
concretas sobre a realidade social imediata. O professor deveria Esta tendência prioriza, na sua concepção pedagógica, o do-
agir como um coordenador de atividades, aquele que organiza e mínio dos conteúdos científicos, a prática de métodos de estudo,
atua conjuntamente com os alunos. Seus defensores, dentre eles a construção de habilidades e raciocínio científico, como modo
o educador pernambucano Paulo Freire, lutavam por uma escola de formar a consciência crítica para fazer frete à realidade social
conscientizadora, que problematizasse a realidade e trabalhasse injusta e desigual. Busca instrumentalizar os sujeitos históricos,
pela transformação radical da sociedade capitalista. aptos a transformar a sociedade e a si próprio. Sua metodologia
Os seguidores da tendência progressista libertadora não tive- defende que o ponto de partida no processo formativo do aluno
ram a preocupação de consolidar uma proposta pedagógica seja a reflexão da prática social, ponto de partida e de chegada,
explícita, havia opção didática já aplicada nos chamados ‚círculos porém, embasada teoricamente.
de cultura‛. Entende que não basta repassar conteúdo escolar que aborde
Devido às suas características de movimento popular, essa às questões sociais. Complementa que se faz necessário, que os
tendência esteve muito mais presente em escolas públicas de alunos tenham o domínio dos conhecimentos, das habilidades e
vários níveis e em universidades, do que em escolas privadas. capacidades para interpretar suas experiências de vida e defender
seus interesses de classe.

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1.2 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Compreender o caráter político e pedagógico do PPP nos leva
a considerar dois outros aspectos:
O Projeto Político-Pedagógico (PPP) deve se constituir na re-
ferência norteadora de todos os âmbitos da ação educativa da 1) a função social da educação e da escola em uma sociedade
escola. Por isso, sua elaboração requer, para ser expressão viva de cada vez mais excludente, compreendendo que a educação,
um projeto coletivo, a participação de todos aqueles que com- como campo de mediações sociais, define-se sempre por seu
põem a comunidade escolar. caráter intencional e político. Pode, assim, contraditoriamente,
Todavia, articular e construir espaços participativos, produzir tanto reforçar, manter, reproduzir formas de dominação e de
no coletivo um projeto que diga não apenas o que a escola é exclusão como constituir-se em espaço emancipatório, de
hoje, mas também aponte para o que pretende ser, exige méto- construção de um novo projeto social, que atenda às necessi-
do, organização e sistematização. dades da grande maioria da população.
Queremos dizer que não é apenas com ‚boas intenções‛ ou
voluntarismo que se constrói um projeto dessa natureza; é preci- 2) a necessária organicidade entre o PPP e os anseios da comu-
so muito trabalho organizado se quisermos, de fato, que o proje- nidade escolar, implicando a efetiva participação de todos em
to proposto desencadeie mudanças na direção de uma formação todos os seus momentos (elaboração, implementação, acom-
educativa e cultural, de qualidade, para todas as crianças e jovens panhamento, avaliação). Dessa perspectiva, o projeto se ex-
que frequentam a escola pública. Vazquez (1977), ao discutir a pressa como uma totalidade (presente-futuro), englobando
questão da práxis, compreendida como prática transformadora, já todas as dimensões da vida escolar; não se reduz a uma so-
chamava a atenção para a necessidade de ações intencionalmen- matória de planos ou de sugestões, não é transposição ou
te organizadas, planejadas, sistematizadas para a realização de cópia de projetos elaborados em outras realidades escolares;
práticas transformadoras. Como ressalta o autor: Discutir as di- não é documento ‚esquecido em gavetas‛.
mensões político e pedagógica dos projetos de escola pode pa-
recer um assunto já esgotado. Também não são poucos os que É esse compromisso do PPP com os interesses reais e coleti-
acreditam que a proposta de construção de PPP nas e pelas esco- vos da escola que materializa seu caráter político e pedagógico,
las também já se esgotou, preferindo aderir a novas linguagens, posto que essas duas dimensões são indissociáveis, como destaca
quase sempre oriundas do universo gerencial, consideradas mais Saviani (1983, p. 93), ao afirmar que a ‚dimensão política se cum-
‚modernas‛, ‚eficientes‛, ‚técnicas‛, para se resolver os problemas pre na medida em que ela se realiza enquanto prática especifica-
das instituições. Infelizmente, mente pedagógica‛. Assim, é na ação pedagógica da escola que
se torna possível a efetivação de práticas sociais emancipatórias,
A teoria em si [...] não transforma o mundo. Pode contri- da formação de um sujeito social crítico, solidário, compromissa-
buir para sua transformação, mas para isso tem que sair do, criativo, participativo. É nessa ação que se cumpre, se realiza,
de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assimila- a intencionalidade orientadora do projeto construído.
da pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efeti- Compreender essa dialética entre o político e o pedagógico
vos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade práti- torna-se imprescindível para que o PPP não se torne um docu-
ca transformadora se insere um trabalho de educação mento pleno de intenções e vazio de ações; de pouco adianta
das consciências, de organização dos meios materiais e declarar que a finalidade da escola é ‚formar um sujeito crítico,
planos concretos de ação: tudo isso como passagem in- criativo, participativo‛, ou anunciar sua vinculação às teorias críti-
dispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse cas se, nas suas práticas pedagógicas cotidianas, perduram estru-
sentido, uma teoria é prática na medida em que materia- turas de poder autoritárias, currículos engessados, experiências
liza, através de uma série de mediações, o que antes só culturais empobrecidas. Ao contrário, é desvelando essas condi-
existia idealmente, como conhecimento da realidade ou ções, afirmando seu caráter político, que a escola, por meio de
antecipação ideal de sua transformação (VAZQUEZ, seu Projeto Político-Pedagógico, pode mobilizar forças para mu-
1977, p. 207) danças qualitativas. É nessa perspectiva que fazem sentido pro-
blematizações como: Problematizações dessa natureza possibili-
O termo projeto tem origem no latim projectu, que, por sua tam dois movimentos: por um lado, conhecer, explicitar e discutir
vez, é particípio passado do verbo projicere, que significa ‚lançar concepções e valores nem sempre revelados, mas sempre presen-
para diante‛. Plano, intento, desígnio. (VEIGA, 2000) adesões tes como orientações imiscuídas em nossas práticas cotidianas e,
pouco críticas a ‚conceitos midiáticos‛, ou a fácil penetração dos por outro, reconstruir essas concepções, reorientar ações, a partir
modismos no campo da educação têm levado muitos educadores do desvelamento das contradições que estão em suas origens. Se
a descartar conceitos e propostas, vinculados muitas vezes ao mudanças, inovações, transformações são possibilidades que o
ideário crítico, em favor de uma suposta eficiência técnica. Acredi- PPP da escola traz consigo, elas não se realizam de modo ‚auto-
tamos, como nos lembra Gimeno Sacristan (2001, p. 11) que: mático‛; é preciso ‚educar as consciências‛, como nos diz
Procurando, então, problematizar o óbvio, propomos começar Vazquez (1977), posto que nem toda inovação tem caráter eman-
nossa discussão pelos termos que compõem o conceito de ‚Pro- cipatório. Discutindo essa relação – PPP e inovação, Veiga (2003),
jeto Político-Pedagógico‛ e nos perguntarmos: apoiando-se nas contribuições de Boaventura Santos, faz uma
interessante distinção entre ‚inovação regulatória‛ e ‚inovação
• O que nos diz a palavra ‚projeto‛? emancipatória‛.
• Qual sua relação com a dimensão política e com a peda-
gógica? • Qual a finalidade da escola?
• O que há de político no PPP? E de pedagógico? • Que sujeitos, cidadãos queremos formar?
• Que sociedade queremos construir?

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• Que conhecimentos, saberes a escola irá trabalhar? preender o mundo em que vivem em condições de respeito e
• Como possibilitará a apropriação dos saberes cultural e dignidade e o PPP deve dar cabo a todas essas instâncias, sem
historicamente construídos, por seus alunos? perder de vista o caráter principal de sua existência, que é a de-
• Que espaços participativos criará? mocracia.
• Como estimulará, apoiará e efetivará a participação do co-
letivo da escola?
BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO:
Na construção do PPP, Veiga (2003) parte do princípio de que
a inovação emancipatória não pode ser confundida com reforma, - ARANHA, Maria Lucia De Arruda. História da Educação.- 2. ed.
invenção ou mudança; ela se constitui, de fato, em processos de rev. e atual.-São Paulo: Moderna, 1996.
ruptura com aquilo que está instituído, cristalizado. A inovação - BARRETO, Maribel Oliveira. A escola 1, 2, 3: Um caminho lúdi-
emancipatória é resultante da reflexão sobre a realidade da esco- co para o ensino-aprendizagem. Dissertação (Mestrado em
la, tomando-se sempre como referência as articulações entre essa Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da
‚realidade da escola‛ e o contexto social mais amplo. Baseia-se Bahia, Bahia,1999.
em processos dialógicos e não impositivos, na comunicação e na - FAVERO, Maria de L. de Almeida. Universidade e Utopia Curri-
argumentação, e não na imposição de idéias, valorizando os cular: Subsídios e Utopia Curricular In: ALVES, Nilda (Org).
diferentes tipos de saberes. Formação de professores pensar e fazer. São Paulo: Cor-
Sob essa ótica, o projeto é um meio de engajamento coletivo tez,1992, p. 53-71.
para integrar ações dispersas, criar sinergias no sentido de buscar - GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre:
soluções alternativas para diferentes momentos do trabalho pe- Artes Médicas, 2000. GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para
dagógico-administrativo, desenvolver o sentimento de pertença, a Pedagogia Histórico-Crítica. 2ª ed. Campinas, SP: Autores
mobilizar os protagonistas para a explicitação de objetivos co- Associados, 2003.
muns definindo o norte das ações a serem desencadeadas, forta- - GIMENO SACRISTAN, J. A educação obrigatória: seu sentido
lecer a construção de uma coerência comum, mas indispensável, educativo e social. Porto Alegre: Artmed, 2001.
para que a ação coletiva produza seus efeitos (VEIGA, 2003, p. - LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: a
275). pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola,
Numa perspectiva emancipatória, o PPP apresenta as seguin- 1990.
tes características: - LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia Da Educação. São Paulo:
ed. Cortez,1994.
 É um movimento de luta em prol da democracia da escola; - SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproxima-
 Não esconde as dificuldades, os pessimismos da realidade ções. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1992.
educacional, mas não se deixa imobilizar por estes, procu- - _____. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São
rando assumir novos compromissos em direção a um futu- Paulo: Cortez, 1983.
ro melhor orienta a reflexão e ação da escola. - VAZQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e
 Está voltado para a inclusão: observa diversidade de alu- Terra, 1977.
nos, suas origens culturais, suas necessidades e expectati- - VEIGA, I. P. A. Projeto Político-Pedagógico da escola: uma
vas educacionais. construção possível. 10 ed. Campinas, SP: Papirus , 2000.
 Por ser coletivo e integrador, é necessário, para sua elabo- - ______. Inovações e projeto-pedagógico: uma relação regula-
ração, execução e avaliação, o estabelecimento de um cli- tória ou emancipatória? Caderno Cedes, v. 23, nº 61, Campi-
ma de diálogo, de cooperação, de negociação, asseguran- nas, Dez, 2003.
do-se o direito de as pessoas intervirem e se comprome-
terem na tomada de decisões de todos os aspectos que
afetam a vida da escola (VEIGA, 2003).
 Há vínculo muito estreito entre autonomia escolar e PPP.
 Sua legitimidade reside no grau e tipo de participação de 01. As teorias pedagógicas estão intimamente relacionadas às
todos os envolvidos com o ambiente educativo; supõe concepções de homem e sociedade, portanto modificam-
continuidade de ações apresenta uma unicidade entre a se conforme o contexto histórico em que se apresentam.
dimensão técnica e política; preocupa-se com trabalho A respeito do pensamento pedagógico brasileiro, assinale
pedagógico, porém não deixa de articulá-lo com o contex- a alternativa correta.
to social (articulação da escola com a família e comunida- (A) Na tendência tradicional, os conteúdos são privilegiados, o
de). professor é detentor do conhecimento, e as relações pedagó-
gicas são horizontais.
A educação pública é, ao mesmo tempo, condição e resultado (B) Na tendência libertadora, os conteúdos são trabalhados de
das sociedades modernas; e acesso ao conhecimento não é ape- forma sistematizada, o professor mantém uma relação próxi-
nas condição para a autonomia e participação efetiva dos sujei- ma ao aluno, que por ser analfabeto, é um ser passivo.
tos, mas também condição para sua própria constituição como (C) Na tendência escolanovista, há uma centralização nos conte-
tal. Os sujeitos são dotados de infinitas possibilidades, cabendo à údos, de as relações entre professor e aluno são marcadas pe-
educação propiciar as melhores condições para seu desenvolvi- lo diálogo de pelo afeto.
mento; auxiliar em sua inserção no mundo, capacitando-os para (D) A tendência libertária é marcada pela biopsicologização dos
bem intervir, para participar ativamente na vida produtiva e social, alunos, que são considerados em suas particularidades de
dando-lhes condições de intercâmbios sócio-culturais, de com- origem.

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(E) A tendência crítico-social dos conteúdos percebe o aluno 05. É a pedagogia que sustenta a ideia de que a escola tem
como sujeito ativo em seu processo de conhecimento e traba- por função preparar os indivíduos para o desempenho de
lha os conteúdos relacionando-os ao contexto. papéis sociais, de acordo com aptidões individuais, por is-
so os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valo-
02. Assinale a opção correta acerca da concepção progressista res e às normas vigentes na sociedade de classes por meio
libertária. do desenvolvimento da cultura individual. Trata-se da pe-
(A) A relação entre professor e aluno ocorre de forma horizontal, dagogia
o que possibilita o desenvolvimento, no aluno, da consciência (A) Libertadora.
da realidade em que vive com vistas à busca da transformação (B) Liberal.
social. (C) Libertária.
(B) Segundo essa concepção, cujo principal representante foi (D) Progressista.
Celestin Freinet, a estratégia pedagógica deve ser não diretiva, (E) Iluminista.
ou seja, o professor é orientador e os alunos são livres.
(C) A proposta pedagógica da escola de Summerhill, idealizada 06. O trabalho docente que relaciona a prática vivida pelos
alunos com os conteúdos propostos pelo professor, mo-
por Alexander Neill, que propôs utilizar a escola para construir
mento em que se dá a ruptura em relação à experiência
um mundo melhor, fundamenta-se nessa concepção.
pouco elaborada, deve ser classificado, segundo as ten-
(D) A principal representante dessa concepção foi Maria Montes-
dências pedagógicas, como tendência
sori, para quem o professor era um auxiliador no desenvolvi-
(A) Progressista libertadora.
mento livre da criança.
(B) Liberal tecnicista.
(E) A exposição e demonstração verbal da matéria e a utilização
(C) Progressista libertária.
de modelos são as principais estratégias pedagógicas dessa
(D) Liberal tradicional.
concepção.
(E) Crítico-social dos conteúdos.

03. Maria da Graça Nicoletti Mizukami, no livro Ensino: a


07. O termo “aprender a aprender”, inicialmente vinculado a
abordagem do processo, publicado no ano de 1986, apre-
aspectos como o deslocamento do eixo do processo edu-
senta cinco concepções/abordagens a respeito do proces-
cativo do lógico para o psicológico, de conteúdos para
so de ensino-aprendizagem. A respeito desse tema, assi-
métodos, em que o papel do professor deixa de ser o da-
nale a alternativa INCORRETA.
quele que ensina para transformar naquele que auxilia a
(A) Na abordagem comportamentalista, os elementos mínimos a aprendizagem e o foco está em aprender a estudar, a bus-
serem considerados num processo de ensino são: o aluno, um car conhecimentos. Segundo Saviani (2008) “aprender a
objetivo de aprendizagem e um plano para alcançar o objeti- aprender significa adquirir a capacidade de buscar conhe-
vo proposto. Aprendizagem será garantida pelo programa es- cimentos por si mesmo, de se adaptar a uma sociedade
tabelecido. que era entendida como um organismo em que cada indi-
(B) Na concepção cognitivista, o ensino é baseado no ensaio e víduo tinha um lugar e cumpria um papel determinado
erro, na pesquisa, na investigação, na solução de problemas em benefício de todo o corpo social”. No curso das ideias
por parte do aluno e não na aprendizagem de fórmulas, no- pedagógicas, o termo “aprender a aprender” ganha hoje
menclaturas, definições etc. ainda um novo sentido voltado para a necessidade cons-
(C) Na abordagem tradicional, a ênfase é dada às situações de tante de atualização e habilidade de adaptação com o ob-
sala de aula, onde os alunos são instruídos, ensinados pelo jetivo de aumentar as chances de empregabilidade do su-
professor. jeito. Essa ressignificação do termo “aprender a aprender”
pode ser classificada como
(D) Na abordagem sociocultural, a atitude básica a ser desenvol-
(A) Tecnicismo
vida é a de confiança e de respeito ao aluno.
(B) Neoconstrutivismo
(E) Na abordagem humanista, o conteúdo advém das próprias
(C) Neoescolanovismo
experiências do aluno, o professor não ensina; apenas cria
(D) Neotecnicismo
condições para que os alunos aprendam.
(E) Escolanovismo
04. As tendências pedagógicas podem ser divididas também
em críticas e não críticas. Da perspectiva de Saviani 08. Os teóricos da pedagogia histórico-crítica afirmam que a
(1987), as críticas compreendem a educação como algo dialética é a essência dessa proposta didática. Acerca des-
determinado socialmente. Desse modo, marque a opção se tema, assinale a alternativa correta.
que não se refere a uma tendência pedagógica crítica. (A) Nessa concepção didática, há um entendimento idealista da
(A) Pedagogia da escola libertadora dialética, que se resume no ato de transformar as questões
(B) Pedagogia da escola libertária sociais em diálogo, no qual todos têm espaço para expor suas
(C) Pedagogia da escola crítico-social dos conteúdos ideias, sem haver uma reordenação teórica destas.
(D) Pedagogia da escola tecnicista. (B) Não é possível a emancipação do sujeito sem que ele se
(E) Nenhuma das opções anteriores. aproprie de conhecimentos historicamente construídos e sis-
tematizados socialmente, tendo como ponto de partida e de
chegada a prática social vivida pelo educando, respeitando as
três fases do método dialético prática, teoria e prática.

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(C) A ideia de práxis, defendia pelos marxistas, não se aplica aqui V. A estruturação do Projeto Político-Pedagógico segue um
pelo fato de transformar a educação em um ato político. Essa padrão rígido de desenvolvimento, devendo evoluir, conforme
concepção está mais preocupada com as questões histórico- as regras impostas pela direção da escola.
críticas que com as políticas.
(D) Essa concepção defende a emancipação do educando por Estão corretas apenas as afirmativas:
meio da retrospectiva histórico-crítica. Por isso, tem como (A) I, II e V.
fundamento psicológico as teorias de aprendizagem focadas (B) I, II, IV e V.
no estímulo e na resposta. (C) II, III e IV.
(E) A emancipação do sujeito ocorre de diferentes formas: a edu- (D) I, II e V.
cação é importante instrumento; mas, sem ela, é possível se (E) I, II, III e IV.
apropriar dos conhecimentos historicamente construídos e
socialmente sistematizados. 13. Ao adotar a avaliação mediadora, presente no PPP, cons-
truído coletivamente, o professor Marcos passou a estu-
09. Determinada abordagem pedagógica que se fundamenta dar estratégias para operacionalização da mesma, por
no positivismo e defende a tese de que a ação pedagógica compreender que favorece ao aluno:
deve ser balizada nos princípios da racionalidade, da efici- (A) O senso comum, fundamental função da escola pública.
ência, da eficácia e da produtividade é a abordagem (B) Informações generalistas sobre o rendimento de cada aluno e
(A) Tecnicista. a homogeneização da turma.
(B) Progressista. (C) O alcance de um saber competente e a aproximação com os
(C) Tradicional ou estática. conceitos científicos.
(D) Dialética. (D) A uniformidade na aprendizagem da turma e a facilidade no
(E) Histórico-cultural. ensino por garantir a promoção automática.
(E) A classificação e distribuição dos alunos em turmas homogê-
10. Considere o seguinte texto: “uma forma intermediária de neas contribuindo para a evolução dos mais capacitados.
castigo, entre o físico e o moral, era deixar o aluno em pé,
durante a aula, enquanto os colegas permaneciam senta- 14. A professora Eliane busca desenvolver a avaliação media-
dos. Nesse caso, era castigado fisicamente, pela posição, e dora, definida coletivamente no PPP escolar, ouvindo to-
moralmente, pelo fato de tornar-se visível a todos os co- das as perguntas dos alunos, fazendo-lhes novas e desafi-
legas sua fragilidade. Era a exposição pública do erro”. adoras questões “implicantes”, na busca de alternativas
(Cipriano Luckesi) O controle de disciplina, descrito por para uma ação voltada para a autonomia moral e intelec-
Luckesi, faz referência a procedimentos adotados na tual dos mesmos. Autonomia, no sentido de ser capaz de
(A) Escola Tradicional. se situar consciente e competentemente na rede dos di-
(B) Pedagógica Tecnicista. versos pontos de vista e conflitos presentes numa socie-
(C) Escola Nova. dade. Nesse sentido, a professora deve objetivar:
(D) Pedagogia Anarquista. (A) A formação integral dos alunos e a contribuição na constru-
(E) Escola Libertária. ção de uma escola de qualidade para todos.
(B) Que o ensino de qualidade seja oferecido para quem de-
11. Em uma escola que se propõe, por meio de seu PPP, a monstra interesse e para isso ela necessita priorizar o desen-
desenvolver uma postura inclusiva, seus professores ori- volvimento de aptidões e valores.
entam suas práticas no sentido de: (C) O fortalecimento de uma escola inclusiva, no sentido de prio-
(A) Separar os alunos que têm necessidades dos demais. rizar a participação dos alunos deficientes.
(B) Ensinar a todos os alunos da mesma forma e com os mesmos (D) Atender especialmente os alunos que ainda não sabem e
recursos. transferir os que já sabem para turmas, nivelando-os.
(C) Estabelecer propostas de trabalhos diversificadas, consideran- (E) O desenvolvimento de atitudes e valores desejáveis que ga-
do as necessidades de cada aluno. rantem a transformação da sociedade brasileira.
(D) Realizar a avaliação sob um mesmo parâmetro.
15. A falta de coerência entre o discurso e a prática é um dos
12. Projeto Político-Pedagógico representa a proposta de fatores que promove o fracasso do trabalho escolar, rela-
organização do trabalho educativo definido por ações in- tivo à formação de valores. Nesse sentido, é fundamental:
tencionais estabelecidas coletivamente. Partindo deste (A) Um discurso desvinculado da prática que circule no interior da
princípio, analise as afirmativas a seguir: escola e favoreça que o proclamado torne-se real.
I. A estruturação do Projeto Político-Pedagógico estabelece (B) A utopia que garante o sucesso escolar de crianças e jovens
uma trajetória que não pode ser imposta. das classes mais favorecidas da população.
II. O PPP é um caminho que resulta do envolvimento dos seus (C) O discurso e a repetição frequente no cotidiano escolar que
participantes e da compreensão sobre a necessidade de cons- não é possível uma aprendizagem bem sucedida para os alu-
truir uma escola a partir de novas perspectivas. nos de baixo poder aquisitivo.
III. O Projeto Político-Pedagógico resulta da construção diária e (D) A dicotomia teoria e prática na formação de valores.
da ampliação da participação de todos no processo. (E) O exemplo, demonstrado na ação docente, conforme os prin-
IV. A estruturação do Projeto Político-Pedagógico apresenta cípios postos na LDB 9.394/96 e no PPP da escola.
perspectivas para a melhoria do trabalho educativo.

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2. A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO quer mudança não pode se dar a partir de decisões externas a
E APRENDIZAGEM essa realidade.
Além do mais, a educação sempre esteve atrelada a modelos
organizacionais inadequados, privando os professores de tomar
Podemos conceituar Didática sob duas perspectivas:
qualquer decisão em relação aos conteúdos e formas de agir,
ficando uma separação entre o pensar e o agir da atividade do-
- Um saber, um ramo do conhecimento e, portanto, uma ciên-
cente, acarretando supervalorização do trabalho dos gestores e
cia com seu próprio objeto.
supervisores escolares e redução do fazer didático, se restringin-
- Uma disciplina dos cursos de formação de professores.
do a aplicar normas muitas vezes com pouca clareza, como é o
caso dos documentos: Referencial Curricular Nacional para a
Ela é uma disciplina integradora que faz a ligação entre a teo-
Educação Infantil, Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensi-
ria e a prática. Ordena e estrutura teorias e práticas em função do
no Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
ensino. Um professor que pretende realizar com sucesso o seu
Médio, Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adul-
trabalho, vendo acontecer justamente o objetivo do ensino, que é
tos e Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Superior.
proporcionar a aprendizagem ao seu aluno, certamente não dis-
Por isso, a escola mostra-se tão inoperante, defasada, incapaz
pensará o conhecimento de toda a teoria que dá suporte ao fazer
de acompanhar as novas exigências da sociedade. O professor
pedagógico consciente.
não foi preparado durante sua formação para refletir sobre a sua
A Didática tem seu corpo teórico fundamentado nas contri-
própria prática à luz dos resultados obtidos, nem sobre o proces-
buições da Psicologia, da Filosofia e da Sociologia que são áreas
so de aprendizagem dos alunos (ALONSO, 1999). Ele necessita
do conhecimento que lançam luz sobre a complexidade da práti-
realmente refletir sobre sua prática, que inclui a preocupação com
ca pedagógica.
o aluno mais do que com o conhecimento a ser ensinado, com as
Os objetivos da Didática são: refletir sobre o papel sócio-
reações frente a esses conhecimentos, com os seus objetivos de
político da educação, da escola e do ensino; compreender o pro-
ensino e aprendizagem e estar consciente do seu papel.
cesso de ensino e suas múltiplas determinações; instrumentalizar
Os assuntos postos nos currículos escolares devem ser alvo de
teórica e praticamente, o futuro professor para captar e resolver
descoberta do sentido daquilo que foi considerado importante
os problemas postos pela prática pedagógica; redimensionar a
num determinado tempo, suas variações em outras épocas, esta-
prática pedagógica através da elaboração da proposta de ensino
belecer relações entre o que veio antes e o que virá depois, trans-
numa perspectiva crítica de educação (OLIVEIRA, 1995).
formando a escola num espaço de trocas de informações e co-
nhecimentos com outras pessoas, instituições diferenciadas no
2.1 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DIDÁTICO: PLANEJAMEN-
país e fora dele, através de contatos pessoais, a distância e virtu-
TO, ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS, AVALIAÇÃO.
ais.
O momento histórico em que nos encontramos, nos exige ou- Outro aspecto mencionado, é o papel do professor de influ-
tro modo de pensar e agir, porque transmitir conhecimentos não enciar os comportamentos e atitudes dos alunos, argumentando-
é mais o seu papel. A tendência atual dos sistemas de ensino, é se que ele é um comunicador, um formador de opiniões, hábitos
admitir que a qualidade de ensino está atrelada à competência e atitudes que se exteriorizam na forma como ele ensina, quer
do professor. Ele se vê diante de uma situação totalmente nova e, seja no restrito espaço da sala de aula, quer num ambiente de
embora reconhecendo a necessidade de redimensionar o seu aula virtual, locais onde a definição de regras de convivência,
trabalho e buscar novas bases para o ensino, reconhece, também, formas de ação, atitudes e comportamentos afloração na intera-
que se encontra despreparado, mal informado e sem condições ção com os alunos e entre eles.
de solucionar os problemas que estão a surgir na sua sala de aula. A forma como o professor ensina, sua maneira de se relacio-
Nós somos cobrados de diversas formas: pelos pais, por não nar com os alunos, sua postura como pessoa e como profissional,
compreenderem exatamente o que está acontecendo e pela refletem nas reações e comportamentos dos alunos, marcando-os
sociedade, que o responsabiliza por todos os males sociais. Junte- com aprendizagens mais significativas do que os próprios conte-
se a esta cobrança, o fato dos baixos salários e o desprestígio údos trabalhados na disciplina.
social da profissão. Por outro lado, os sistemas de ensino modifi- Vale mencionar que o papel do professor é o de auxiliar na
cam-se através de reformas de sua estrutura organizacional, de compreensão, utilização, aplicação e avaliação das inovações que
sua estrutura curricular, com o propósito de se adaptar aos novos surgem para o aluno num espaço muitas vezes que não é o esco-
tempos, com o aceite do professor. Só que essas modificações lar. Os conhecimentos encontram-se disponíveis em ambientes
pouco têm a ver com o dia a dia da escola e do trabalho docente, virtuais acessíveis, via redes. São conhecimentos disponíveis para
tornando-se, muitas vezes, em propostas que não saem do papel. quem os buscar e o professor, diante dessa situação, não será
A escola básica de hoje não é, pois, um retrocesso com rela- aquele que estará passando informação, mas aquele que orienta-
ção à escola de ontem. É outra escola, principalmente por ser rá, promoverá discussão, estimulará a reflexão crítica do material
altamente expandida, e suas alegadas deficiências precisam ser colhido nas diversas fontes. Esse é o verdadeiro papel do profes-
enfrentadas por um esforço permanente de investigação e busca. sor na atualidade.
A única certeza é que não há certezas. O professor é o ele-
2.1.1 PLANEJAMENTO DO ENSINO
mento chave para qualquer mudança, pois só se estiver conven-
cido da necessidade de mudar é que as reformas acontecerão. A
De forma resumida, podemos conceituar planejamento como
natureza do trabalho educativo é única e peculiar, porque envolve
um processo que visa racionalizar qualquer atividade que se pre-
diretamente o professor e o aluno e todas as suas ações são
tenda realizar. Na educação, podemos acrescentar que esta raci-
direcionadas a uma relação de apoio e confiança e por isso qual-
onalização encontra-se restrita à atividade escolar sem esquecer

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que ela reflete as influências econômicas, políticas e sociais que pre preparar uma boa aula, apresentando um esquema e uma
caracterizam a sociedade. sequência lógica dos temas trabalhados.
É sempre bom entender que o planejamento é associativo e Portanto, um Plano de Aula tem como principal objetivo fazer
coletivo e deve estar em sintonia e consonância com outros pla- a distribuição dos Objetivos Específicos, do Conteúdo a ser traba-
nejamentos que perpassam a escola (Vide o quadro abaixo): lhado na aula, dos Procedimentos a serem efetivados tanto pelo
professor como pelos alunos, dos Recursos que deverão ser dis-
TIPO EXECUTOR MOMENTO ponibilizados para ajudar na compreensão do tema e do instru-
ANTES DO INICIO mento de avaliação que será utilizado para, através dele, fornecer
REDE SISTEMA DE ENSINO
DO ANO ESCOLAR dados ao professor. É importante ressaltar que o Plano de Aula
SEMANA deve ser encarado como uma necessidade e não como exigência
ESCOLAR COMUNIDADE ESCOLAR
PEDAGÓGICA ou obrigação imposta pela coordenação da escola.
PROFESSORES DA Apesar de ser uma ferramenta que descreve detalhadamente
TURMA / PCA´S / SEMANA os elementos necessários para o desenvolvimento do processo
CURSO
COORDENADOR PEDAGÓGICA ensino-aprendizagem, o professor não deve ficar preso a ele, mas
ESCOLAR pode se afastar do Plano de Aula sempre que os alunos tiverem
PROFESSORES DA necessidade. Por exemplo, se o professor está ministrando a
ÁREA / PCA´S / matéria de que estava planejada no Plano de Aula e sente a ne-
ÁREA COORDENADOR BIMESTRAL cessidade de fazer uma demonstração experimental para melhor
ESCOLAR fixação de conteúdo nos alunos, ele pode fazer sem medo, pois
mais importante é a aprendizagem do que o cumprimento do
DENTRO DO 1/3 DE Plano.
AULA PROFESSOR
PLANEJAMENTO
2.1.2 ESTRATÉGIAS DE ENSINO
No Brasil, nos ano 60, o planejamento passou a ser obrigató-
rio nas escolas e como os professores não receberam capacitação No processo de ensino e aprendizagem, é importante o pro-
para tal, estruturou-se um quadro com colunas que até hoje fessor conhecer quem são os alunos e quais os conhecimentos
perdura na maioria das escolas. É um modelo-padrão com os prévios que possuem, a fim de estabelecer o que é necessário
seguintes itens: objetivos, conteúdos, procedimentos, recursos e para pensar num planejamento de ensino com possibilidade de
avaliação. Este modelo buscava criar uma camisa de força impos- ajudá-los a desenvolver suas capacidades a partir do que eles já
ta pelo regime militar. sabem e do que eles são.
Com o passar do tempo, em contraposição a esta concepção, É provável o professor ter, na sala de aula, alunos que não
surgiram durante o processo de redemocratização do país, novas apresentam os conhecimentos necessários para a aprendizagem
concepções de planejamento, ampliando a participação na sua dos novos conteúdos que já estão previstos. Daí, é imprescindível
elaboração que culminou com a implantação do Projeto Político- corrigir esta situação na medida do possível, com atividades es-
Pedagógico (Já debatido anteriormente) pecíficas, por exemplo. De nada adiantará o professor esforçar-se
O planejamento de ensino também é um elemento integrador por dar uma boa aula, se o aluno não estiver preparado para
da escola e o contexto social, e o trabalho didático consiste na aprender e, aqui, nós acrescentamos que muitas vezes uma sala
definição dos objetivos, na organização dos conteúdos, na sele- torna-se indisciplinada por conta desses alunos que não conse-
ção dos procedimentos e no estabelecimento dos critérios de guem se desenvolver a contento.
avaliação. Quando alguém pretende aprender e consegue, a experiência
Ao preparar-se para entrar numa sala de aula, o professor de- vivida para tal proporciona bem-estar, lhe oferece uma imagem
ve sempre ter em mente o que irá ministrar para aquela turma. positiva de si mesmo, eleva sua autoestima e o impulsiona para
Ele deve estar bem seguro do conteúdo que vai ser trabalhado novas aprendizagens. Há estudos que apontam para o fato de
com os alunos, de que maneira vai abordar o assunto, quais os que existe uma relação entre a autoestima e o rendimento esco-
recursos de ensino necessários para aquela aula, e como vai ava- lar, de maneira que alunos que apresentam um alto nível de au-
liar a aprendizagem. Todo esse preparo deve estar registrado toestima obtêm melhores resultados de aprendizagem.
num documento que tem um nome específico e chama-se Plano O professor que tem a visão de que seu ensino pode contri-
de Aula. Um Plano de Aula é um instrumento de trabalho do buir para um desenvolvimento integral do aluno, sua função vai
professor onde, nele, o docente especifica o que será realizado além da introdução de saberes culturalmente organizados que
dentro da sala, buscando com isso aprimorar a sua prática peda- privilegiem o desenvolvimento da capacidade cognitiva, organi-
gógica, bem como melhorar o aprendizado dos alunos. zando procedimentos de ensino e conteúdos de aprendizagem
Como o trabalho do professor é intencional, o Plano de Aula que conduzam ao alcance o maior desenvolvimento possível de
funciona como um instrumento no qual o professor aborda de todas as capacidades.
forma detalhada as atividades que pretende executar dentro da Os Parâmetros Curriculares Nacionais se configuram como um
sala de aula, assim como a relação dos meios que ele utilizará documento oficial elaborado com a finalidade de apoiar as dis-
para realização das mesmas. De maneira bem sintetizada, pode- cussões pedagógicas na escola e contribuir para a atualização
se dizer que o Plano de Aula é uma previsão de tudo o que será profissional do professor, em especial.
feito dentro de classe em um período determinado. É importante Este documento foi elaborado para os anos iniciais do Ensino
lembrar ao professor que a sua elaboração não o isenta de pre- Fundamental, vindo em seguida os que incorporavam o restante
parar as aulas a serem ministradas, pelo contrário, ele deve sem- dos anos escolares. Depois surgiram os Parâmetros para o Ensino
Médio e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

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e só recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Por conteúdos conceituais entende-se o conjunto de fatos,
Educação de Jovens e Adultos. objetos ou símbolos que tem características comuns e sua apren-
Em todos eles os objetivos são propostos em termos de de- dizagem necessita de compreensão. Não se pode dizer que um
senvolvimento das capacidades cognitivas, físicas, afetivas, de aluno aprendeu algo se ele não sabe o significado, se ele não
relação interpessoal, de inserção social, ética e estética, visando sabe utilizar o conhecimento em qualquer atividade que o requei-
uma formação integral. É conveniente, pois, os professores e toda ra.
a equipe escolar definir o que se deve entender por cada um A aprendizagem de conteúdos conceituais permite atribuir
destes aspectos, porque só assim poderá determinar qualquer significados aos conteúdos aprendidos e relacioná-los a outros. É
ação que venha colaborar para a potencialização destas capaci- uma aprendizagem que implica uma compreensão que vai muito
dades. além da reprodução literal de enunciados. As atividades postas
Resumidamente, os Parâmetros apresentam o que seria cada para o aluno desenvolvê-las devem ser complexas que provo-
uma destas capacidades: a cognitiva refere-se ao uso de formas quem um processo e construção pessoal do conceito; atividades
de representação e de comunicação, envolvendo a resolução de que favoreçam o relacionamento dos novos conteúdos com os
problemas; a física refere-se ao autoconhecimento e uso do cor- conhecimentos prévios. Por conteúdos procedimentais entende-
po na expressão das emoções, nos jogos; a afetiva refere-se às se um conjunto de ações ordenadas dirigidas para a realização de
motivações, à autoestima, à sensibilidade e à adequação de atitu- um objetivo. Inclui regras, técnicas, métodos, destrezas, procedi-
des no convívio social; a de relação interpessoal refere-se à com- mentos. A aprendizagem de um procedimento implica na realiza-
preensão e convivência com os outros, a partir da percepção das ção das ações que formam esse procedimento. Assim, aprende-se
diferenças entre as pessoas; a de inserção social refere-se à per- fazendo. E exercitando este fazer para o domínio competente.
cepção de perceber-se como parte de uma comunidade, de uma Mas não é suficiente a repetição do exercício. Faz-se necessário
classe, de um grupo e comprometer-se com questões que consi- uma reflexão sobre a própria atividade para que se tome consci-
dere importante para a coletividade; a ética refere-se à possibili- ência da atuação de maneira a realizá-la com as melhores condi-
dade de reger as próprias ações, através da construção interna, ções de uso. Por fim, a aplicação em contextos diferenciados do
pessoal, de princípios considerados válidos para si e para os ou- conteúdo procedimental vai favorecer a sua utilização em qual-
tros; e a capacidade estética refere-se à produção de arte e apre- quer ocasião.
ciação de diferentes produções artísticas. Por conteúdos atitudinais entende-se uma série de conteúdos
Os estudos atuais da psicologia apontam para o entrelaça- que permeiam todo o conhecimento escolar, pois agrupa valores,
mento que há nas diferentes áreas do desenvolvimento, a saber: atitudes e normas. Os valores são princípios que permitem as
no ser humano a ação é influenciada pela emoção, as relações pessoas emitir um juízo sobre o comportamento, como a solida-
sociais influenciam a maneira de pensar, as sensações de bem- riedade, o respeito, a responsabilidade etc. As atitudes são ten-
estar ou mal-estar afloram no comportamento, enfim, as capaci- dências para se comportar de determinada maneira, como coo-
dades estão relacionadas, ao ponto de exigir do professor que ele peração em um trabalho de grupo, ajuda aos colegas, respeito ao
saiba encontrar o ponto de equilíbrio entre os diferentes tipos de meio ambiente etc. As normas são padrões de comportamento
capacidades. Isto vai refletir nas atividades de ensino e de apren- que são seguidos em determinadas situações que obrigam a
dizagem realizadas na sala de aula. fazer ou deixar de fazer algo. Aprende-se uma atitude quando o
É bem verdade que é muito complexo planejar para atender aluno pensa, sente e atua de forma mais ou menos constante
às orientações dos documentos oficiais, uma vez que o peso da diante do objeto a quem dirige essa atitude. Ensinar e aprender
tradição continua desequilibrando o que o professor pensa em atitudes requer um posicionamento claro (NOVAMENTE) partindo
fazer para melhorar a situação atual da educação escolar. Esses dos objetivos do Projeto Político Pedagógico da escola.
documentos oficiais são construídos de maneira muito ampla,
sem detalhamentos, sendo necessário um esforço direcionado 2.1.3 MÉTODOS DE ENSINO
para o estudo e compreensão do material com a ajuda de outros
profissionais que possam contribuir para a sua efetivação. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais encontramos os pro-
Na construção dos objetivos de ensino, há de se analisar pri- cedimentos de ensino como a intervenção do professor na cria-
meiramente o que dizem os objetivos gerais de cada nível de ção de situações de aprendizagem que indicam como determina-
escolaridade: infantil, fundamental, médio e do ensino de jovens e do conteúdo poderá ser ensinado. É um momento de escolha das
adultos. Em seguida, interpretar para compreender o elenco de técnicas de ensino mais apropriadas para envolver o aluno na
objetivos gerais propostos para cada disciplina, também de acor- construção do conhecimento. É um momento, também, de refle-
do com os citados níveis e, só depois, elaborar os objetivos gerais xão sobre a forma como o conteúdo deve ser tratado porque é
da disciplina para o ano letivo. Só assim o professor saberá o que através do desenvolvimento da aula que os objetivos vão sendo
deve propor para o aluno desenvolver certo tipo de capacidade alcançados.
que se espera como resultado da aprendizagem no cotidiano Se o professor pretende possibilitar ao aluno oportunidade
escolar. para desenvolver a autonomia, a aula deve ser ministrada envol-
Os documentos oficiais, mudam o foco tradicional em relação vendo-o para que construa seu próprio conhecimento, valorizan-
aos conteúdos que são vistos como um fim em si mesmo, para do suas experiências e conhecimentos prévios, com momentos
um meio de fazer com que os alunos desenvolvam as capacida- para agir com independência e com iniciativa. Para isto, o profes-
des que lhes permitam produzir e usufruir dos bens culturais, sor deve ter um olhar amplo no sentido e contemplar o desenvol-
sociais e econômicos. Nesta proposta de mudança de foco, os vimento da capacidade ética e afetiva, porque a autonomia em
conteúdos ultrapassam os fatos e conceitos incluindo procedi- relação à aquisição do conhecimento envolve também o autor-
mentos e atitudes. respeito, o respeito mútuo, a sensibilidade, a autoestima.

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Então, para aprender conteúdos procedimentais e atitudinais O material impresso e o virtual são úteis na medida em que
que levem ao desenvolvimento da autonomia, a aula tem que ser informam, explicam, demonstram, mas não capacitam à realiza-
planejada para este fim e os procedimentos de ensino seriam, por ção da atividade proposta. Isto quer dizer que não se aprende a
exemplo: planejamento de uma tarefa escolar, identificação de pesquisar apenas memorizando todos os passos de uma pesqui-
formas para resolver um problema, formulação de boas pergun- sa, assim como não se aprender a redigir um texto conhecendo
tas e boas respostas, levantamento de hipóteses, resolução de as regras gramaticais da língua portuguesa.
conflitos e outros mais que contemplem o trabalho tanto indivi- Ressaltamos que a aprendizagem de conteúdos procedimen-
dual, quanto coletivo. tais é a junção do conhecimento de seu uso com a realização das
Para acompanhar o desenvolvimento de capacidades no âm- atividades, que quanto mais analíticas, exigirão também ativida-
bito da individualidade, é necessário um olhar atento para identi- des mais complexas, contextualizadoras, com situações em que o
ficar aqueles que precisam ser acompanhados mais de perto, aluno terá que avaliar a pertinência do uso dos procedimentos e
quer porque apresentam déficit sensorial, motor ou psíquico, ou traçar formas próprias de utilização. Por isso, um único recurso de
porque apresentam superdotação intelectual. As diferenças não ensino não favorecerá a aprendizagem desse tipo de conteúdo,
devem impedir que o professor exerça bem o seu papel, pelo mas vai ser a sua variedade que possibilitará a construção do
contrário, é por meio delas que se colabora para o cumprimento conhecimento com a motivação, com o envolvimento e com o
de um princípio constitucional que é o direito de todos à educa- fazer próprio necessários ao seu completo domínio.
ção. Com relação à aprendizagem de conteúdos atitudinais, por
Decidir pela forma de trabalhar um conteúdo é um momento ser um campo com determinadas características, e pela comple-
de reflexão, de análise sobre a classe que vai receber o ensino, xidade de sua concretização por envolver disposições para adqui-
sobre a sala de aula (tamanho do espaço físico, número de alu- ri-los, os recursos podem ser utilizados na aprendizagem de con-
nos, faixa etária), sobre o tema da aula, sobre o tempo da aula, ceitos. Mas não bastam para fazer o aluno se dispor a comportar-
enfim, é um momento decisivo para incrementar aquilo que foi se adequadamente, amoldado a certos valores.
previsto nos objetivos. O que os recursos de ensino podem colaborar é na motivação
Quando a decisão recai sobre o aspecto de crescimento soci- para a discussão e os debates advindos de uma situação ou um
al, não se pode deixar de trabalhar em grupo para que haja opor- comportamento conflitante. É preciso que haja uma ação vigilan-
tunidade de falar, de dialogar, de ouvir o outro, de compreender, te por parte do professor em propor atividades nas suas aulas
de explicar. É aqui que aflora o aspecto afetivo, o grau de aceita- que envolvam os valores que ele ou a escola querem transmitir.
ção ou de rejeição, a competitividade, tudo isto interfere na pro- Os recursos de ensino são apenas meios auxiliares para a faci-
dução do trabalho. litação da construção do conhecimento. No surgimento da esco-
Por fim, os procedimentos de ensino vão ajudar, ou não, a la, encontramos o livro didático como o único recurso para in-
construção do conhecimento, qualquer que seja a situação em formar ao aluno sobre conteúdos de qualquer área do conheci-
que a aula for ministrada. O professor planejará com antecedên- mento até uns cinquenta anos atrás, quando era exigido dele que
cia, levando em consideração que não importa o tema da aula em apenas os memorizasse. Com o passar do tempo, com a introdu-
si, mas a ligação do que se aprende ao que já se sabe e para que ção de conteúdos que exigiam interpretações mais adequadas a
serve. Tudo isto voltado para aquele que é o foco principal do sua compreensão, colocou os livros didáticos numa situação
processo educacional: o aluno. precária por não favorecer a construção do conhecimento abor-
Os recursos de ensino são os meios que o professor utiliza dando o porquê dos fatos, as relações que se estabelecem entre
como suporte para a transmissão de informações, para propor eles, as razões que os explicam e o usufruto dos seus benefícios
atividades e para a construção do conhecimento. Quando o pro- na vida de cada um.
fessor dá uma aula expositiva, os recursos de ensino são aqueles Mesmo com a tentativa de adequação à nova proposta de
materiais que contribuem para a explicação, para a demonstra- como ensinar usando menos a aula expositiva, oferecendo fórmu-
ção, para a experimentação, para a incorporação da aprendiza- las prontas e mais aulas com fórmulas que promovam e desenca-
gem de conteúdos conceituais. Os recursos não podem se limitar deiem processos em que o aluno possa por si só aprender, os
ao livro didático, mas cadernos de exercícios convencionais ou livros didáticos procuraram adequar-se a esse novo modelo de
eletrônicos, textos extraídos de outras fontes, imagens, blocos de prática escolar, e passam a oferecer livros que pretendem dirigir o
anotações, computador. Com estes recursos os alunos terão a processo construtivo do aluno combinando textos explicativos
oportunidade de estabelecer relações, de ampliar a percepção com as propostas de atividades. Surgiram, então, os livros descar-
sobre o conteúdo aprendido. táveis, que por serem tão criticados pelos pais, deram origem aos
O texto escrito dá essa condição, mas ele não é suficiente pa- cadernos de exercícios descartáveis, como forma de superar o
ra promover a atividade mental para a compreensão dos concei- problema da sua reutilização pelos outros filhos.
tos. O professor deve provocar a consulta fora do livro didático Enfim, o livro didático é um recurso de ensino que contém os
adotado, a pesquisa em outras fontes, e usar imagens em movi- conhecimentos que resumidos ou ampliados serve como material
mento, atividades de laboratório, tudo isto associado com diálo- de consulta, porque para a construção do conhecimento ele não
gos e debates para facilitar a compreensão além estimular a par- é suficiente. Há necessidade de outros recursos, que ofereçam
ticipação de todos os alunos. atividades apropriadas para elaboração de conceitos e a utiliza-
Para aprendizagem de conteúdos procedimentais, por exigir a ção de conteúdos procedimentais de diferentes naturezas, como
exercitação concreta do objeto de estudo, haja vista que há ne- observação, o trabalho em equipe etc.
cessidade da repetição de ações ordenadas para que a aprendi- Outro recurso que, se bem utilizado, é um suporte para as au-
zagem seja assegurada, os recursos devem ser bem adequados las expositivas: é a projeção de imagens através de retroprojetor,
para cumprir perfeitamente a sua função. data show ou qualquer outro equipamento que possibilite os
esclarecimentos que as palavras não conseguem comunicar. Sua

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utilização motiva os alunos, mas não os fazem aprender se há gógicos necessários para organizar os conteúdos a serem
muitas informações e não são apresentadas de forma pausada, trabalhados em cada etapa de ensino, sendo seus resulta-
quer as imagens sejam de esquemas, mapas conceituais, gráficos, dos utilizados como uma forma de promoção do estudan-
tabelas ou de acidentes geográficos, corpo humano, meio ambi- te.
ente etc.  As avaliações externas permitem o diagnóstico, o monito-
Quanto ao uso de filmes e gravações de vídeo, cd, dvd ou ou- ramento do sistema educacional, e também, podem sub-
tro, que são recursos também auxiliares como fonte de informa- sidiar o trabalho dos profissionais da educação, tornando-
ção, não podem fazer o papel de professor substituto, porque o se mais uma ferramenta para o acompanhamento e me-
contato professor-aluno, assim como aluno-aluno, é um forte lhoria do processo ensino-aprendizagem, uma vez que são
aliado no processo de ensino e de aprendizagem porquanto, aplicadas de modo a mensurar o conhecimento dos alu-
durante a projeção, haverá necessidade de paradas em momen- nos, estabelecendo uma comparação entre o desempenho
tos para explicações complementares, para estabelecimento de esperado e o apresentado, por este motivo, denominada
diálogo e indicação de aspectos relevantes. também de Avaliação de Desempenho.
Modernamente, a informática como recurso de ensino tem
atendido aos ritmos e às características individuais dos alunos, É sempre bom estarmos ligados nas avaliações, do tipo exter-
além de possibilitar o diálogo entre programa e aluno. É um re- nas, que perpassam a educação brasileira.
curso que pode substituir ou completar atividades de exercícios
sequenciados, melhorá-los e ainda fazer autocorreção. No entan- Índice de desenvolvimento da educação básica – IDEB: O Ideb
to, não podemos deixar de lembrar que a aprendizagem exige foi criado INEP em 2007, em uma escala de zero a dez. Sintetiza
um contexto de afetividade e isto só se consegue plenamente dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da edu-
com contatos pessoais. E, por fim, os avanços tecnológicos permi- cação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em
tiram a combinação da informática e do vídeo com os armazena- língua portuguesa e matemática. O indicador é calculado a partir
dores de dados, que abrem muitas possibilidades, além de ser um dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e
valioso suporte para a complexa tarefa de ensinar. Através da das médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb e a
virtualidade, também, se aprende de fato, desde que o professor Prova Brasil.
possa acompanhar o andamento do estudo e da construção do
conhecimento de forma mais frequente possível. Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB: composto
por três processos:
2.1.4 AVALIAÇÕES DE ENSINO
1. Avaliação Nacional da Educação Básica – A Aneb é realizada
Encontramos vários conceitos de avaliação na literatura espe- por amostragem das Redes de Ensino, em cada unidade da
cializada desde o seu aparecimento ocupando o centro do pro- Federação e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais.
cesso de ensino até os dias atuais quando ela passa a ser o Por manter as mesmas características, a Aneb recebe o nome
acompanhamento do processo de aprendizagem, deixando de do Saeb em suas divulgações.
apoiar-se em provas, quer escritas ou orais, para apoiar-se em 2. Avaliação Nacional do Rendimento Escolar – A Anresc é mais
desafios propostos pelo professor durante a aula. O conceito extensa e detalhada que a Aneb e tem foco em cada unidade
vigente é o de Luckesi (1986), que diz ser uma apreciação qualita- escolar. Por seu caráter universal, recebe o nome de Prova
tiva sobre dados relevantes do processo de ensino e de aprendi- Brasil em suas divulgações.
zagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu tra- 3. Avaliação Nacional de Alfabetização – ANA. Esta avaliação, é
balho. aplicada anualmente, com caráter censitário e avalia a quali-
Também é a concepção que se encontra nos Parâmetros Cur- dade, equidade e eficiência do ciclo de alfabetização das re-
riculares Nacionais: uma avaliação contínua que se apresenta em des públicas.
todas as oportunidades e que espera que cada aluno possa per-
ceber que pode progredir independente de progressos conquis- Prova Brasil – O público-alvo do sistema de avaliação são os
tados pelos colegas. Esta perspectiva da avaliação induz o profes- estudantes dos quinto e nono anos do ensino fundamental das
sor a que, sistematicamente, durante todo o processo esteja cole- escolas públicas, urbanas e rurais, e do terceiro ano do ensino
tando dados sobre o progresso do aluno e não após a conclusão médio. O sistema também coleta informações amostrais de esco-
de etapas mensais ou bimestrais, como o é de costume. Assim, las particulares. A Prova Brasil oferece resultados por escola, mu-
progressivamente, faz-se ajuste (chamado indevidamente de nicípio, Unidade da Federação e país que são utilizados no cálculo
recuperação) do que ainda não foi alcançado, contribuindo para do Ideb. A avaliação diagnostica os rendimentos para os compo-
que o ato educativo tenha sucesso através da aprendizagem nentes curriculares de Português e Matemática.
plena.
Vale ressaltar que quando olhamos para o cotidiano escolar, Provinha Brasil – Avaliação diagnóstica do nível de alfabetização
devemos entender a existência de dois tipos de avaliações: IN- das crianças matriculadas no segundo ano de escolarização das
TERNAS e EXTERNAS. escolas públicas brasileiras. Essa avaliação acontece em duas
etapas, uma no início e a outra ao término do ano letivo. A apli-
 A Avaliação Interna praticada pelo Professor em sala de cação em períodos distintos possibilita aos professores e gestores
aula com o intuito de verificar a aprendizagem dos seus educacionais a realização de um diagnóstico mais preciso que
alunos, podendo, por este motivo, ser muitas vezes defini- permite conhecer o que foi agregado na aprendizagem das crian-
da como Avaliação da Aprendizagem. Vale salientar que ças, em termos de habilidades de leitura dentro do período avali-
esta concorre também para a definição dos tempos peda- ado.

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ENEM – Exame nacional do Ensino médio, a partir de 2017, torna- Sendo assim, cada aluno é um sujeito repleto de saberes. Sa-
se exclusivamente propedêutico (apenas para aferir os conteúdos beres particulares, diversos, nascidos da interação com o meio
básicos e necessários para promoção a outro nível de escolarida- físico, familiar, da experiência com o trabalho, do fazer e dos
de) para entrada no SISU. papéis sociais que cada um de nós desempenha em cada fase da
vida.
ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes é, ao Visto dessa forma, entendemos o conhecimento como resul-
lado da análise dos cursos e das instituições, um dos meios de tado de uma interação entre o sujeito e o meio externo: apren-
avaliação da qualidade da educação superior no Brasil. Criado em demos com as pessoas com as quais convivemos, com o que
2004, o Enade substituiu o Exame Nacional de Cursos (também fazemos e com o que acontece ao nosso redor. Trata-se de um
conhecido como Provão). constante ir e vir da informação externa com os conhecimentos
de que já dispomos.
Portanto, o sistema avaliativo apropriado para um novo con- O(a) aluno(a) chega à sala de aula repleto de teorias, explica-
ceito de escola e de aprendizagem, requer uma avaliação signifi- ções e hipóteses. Sua família, a comunidade onde vive, seu traba-
cativa e centrada na aprendizagem que respeita a individualidade lho e sua religiosidade permitiram-lhe construir um sem-número
do aluno. Ela deverá aparecer desde o momento da sondagem, de saberes. Cabe ao(à) professor(a) descobrir qual é esse corpo
do diagnóstico, quando instrumentalizará o professor com dados de conhecimentos, feito de pura experiência e percepção, para a
iniciais para que possa planejar as aulas de forma adequada. Este partir dele convidar seus alunos a acederem outras formas de
é o momento do levantamento dos conhecimentos prévios em pensar, explicar, fazer e agir. Essa visão de conhecimento pressu-
termos de conteúdos para estruturar sua programação e deverá põe, então, um aprendiz ativo e pensante, capaz de elaborar
acontecer durante todo o ano letivo sempre que for iniciar conte- conhecimentos.
údo novo. A avaliação inicial é um elemento que direciona a ação Transformar a sala de aula num espaço de reflexão, de pen-
didática. samento, nem sempre é uma tarefa fácil. Numa sociedade tão
Durante o decorrer do processo, mediante o acompanhamen- hierarquizada como a brasileira, nossos alunos e alunas, geral-
to do avanço e da qualidade da aprendizagem alcançada no final mente, desenvolvem as ocupações mais subalternas, nas quais o
de cada etapa, seja esta determinada pelo fim de um bimestre ou que mais se tem a fazer é obedecer a uma série de chefes, pa-
de um ano, ou mesmo no final de um conteúdo ministrado, colo- trões, gerentes...Treinados a seguir orientações, não é de estra-
ca a avaliação contínua como um mecanismo que irá subsidiar a nhar que ao chegarem à escola desejem encontrar atividades em
avaliação final, indicando passo a passo o que o aluno já apren- que predominem a cópia, a repetição do que disse o(a) profes-
deu, impedindo que ele prossiga sem que lacunas sejam preen- sor(a) e outras situações do mesmo tipo. Pensar e tomar decisões
chidas a tempo. é bem diferente e dá muito trabalho, principalmente para quem
De acordo com os Parâmetros, é salutar usar uma diversidade tem pouco exercício dessa prática. Entretanto, como queremos
de instrumentos e situações para avaliar as diferentes capacida- formar cidadãos críticos e atuantes, não podemos esquecer que,
des e conteúdos de aprendizagem curriculares, através de dife- provavelmente, a escola é o único espaço na vida desses alunos
rentes códigos como o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, atra- onde a prática de pensar de forma organizada tem lugar.
vés de desenhos, em situações distintas: pela observação sistemá- Os jovens caracterizam-se como um grupo heterogêneo, do
tica cujo acompanhamento é registrado criteriosamente, pela ponto de vista da faixa etária, da cultura, da visão de mundo e
análise das produções (e não reproduções) dos alunos, e pelas dos conhecimentos prévios. A imersão, por vezes precoce, no
atividades específicas para a avaliação, deixando claro para eles o mundo do trabalho e a experiência social fizeram com que esses
que pretende avaliar, pois só assim ficarão atentos para vencer as alunos acumulassem uma bagagem rica e diversa de conheci-
dificuldades que porventura surjam no decorrer da aprendizagem mentos e formas de atuar no mundo em que vivem. A escola
daquele conteúdo a ser cobrado. representa para eles um espaço ao mesmo tempo de recolocação
social, de sociabilidade, de formalização do saber e de desenvol-
2.2 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E vimento pessoal. Nesse sentido, os alunos diferem, em muitos
INTERAÇÃO. aspectos, das crianças, e isto deve ser sempre considerado. Esses
alunos precisam ver na escola um espaço que atenda suas neces-
O conhecimento resulta de uma motivação dos seres huma- sidades como pessoas, cidadãos e aprendizes em potencial. De
nos para explicar o mundo e a si mesmos, bem como para res- sua parte, vão para as salas de aula ávidos por aprender.
ponder aos desafios que o ambiente lhes propõe. Desde que A escola é o lugar especialmente estruturado para potenciali-
nascemos temos por característica universal o desejo de conhe- zar a aprendizagem dos alunos. A escola, poderíamos afirmar, é o
cer, de explicar o que é percebido. Foi esse desejo que impulsio- cenário no qual alunos e professores, juntos, vão construindo
nou, e continua a impulsionar, as grandes descobertas da huma- uma história que modifica, amplia, transforma e interfere em
nidade, as belas produções artísticas, literárias e os avanços da diferentes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está
ciência e da tecnologia. inserida e o da sociedade, numa perspectiva mais ampla.
Antes mesmo de ter acesso a conhecimentos considerados No lugar de um espaço fechado, com muros altos e portões
oficiais ou formais, cada um de nós cria, pela própria experiência trancados, defendemos uma escola com muros transponíveis, de
concreta, explicações para os fenômenos naturais, sociais e cultu- portas abertas tanto à cultura popular quanto à cultura erudita.
rais. Nossas teorias particulares são, inclusive, a porta de acesso a Os horários e a rigidez da grade curricular são, muitas vezes,
outros novos conhecimentos. obstáculos à permanência do(a) aluno(a) jovem e adulto na esco-
la.

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Assim, torna-se necessário que a escola proponha uma forma e contribuir com a prática pedagógica do professor. Ela é a disci-
de organização adequada ao seu público. É preciso repensar plina que ordena e estrutura teorias e práticas em função do
horários de entrada e saída, os tipos de tarefas extraescolares, as ensino.
exigências em torno da frequência, as propostas feitas que não Hoje, o processo de ensino requer do professor um olhar
conseguem manter os alunos motivados e atuantes, de tal modo abrangente na busca de compreender a complexidade do mundo
que estar na escola a despeito do cansaço, do adiamento de atual, com suas demandas, impulsionando-o a procurar em ou-
outros compromissos e da ausência na família seja realmente tras áreas do conhecimento, a saber, das ciências da educação, o
importante e indispensável. Defendemos, nesse sentido, uma suporte para atualizar o diálogo com o fazer pedagógico cotidia-
escola voltada, de fato, para seus alunos, no conteúdo e na forma no. É nesta perspectiva que surge a necessidade de pensar criti-
em que se propõe a ensinar. camente os conteúdos, métodos e avaliação para ensinar bem,
conectado com outras práticas sociais para melhor colaborar na
2.3 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO EPISTEMOLÓGICO DO formação dos alunos.
FAZER DOCENTE. Tanto o ato de ensinar quanto o de aprender, exige que o
professor seja flexível em termos de espaço, de tempo, de forma
Epistemologia significa ciência, conhecimento, estudo científi- de ministrar a aula, de selecionar os conteúdos, de usar mais
co que trata dos problemas relacionados com a crença e o co- procedimentos que envolvam a participação ativa dos alunos.
nhecimento, sua natureza e limitações. Como principal, mas não Qualquer que seja a compreensão que se tem do que seja o
único, objeto de estudo da Didática, o ensino categoriza-se como ensino, a Didática dá suporte possível para a organização de
um dos mais complexos, por conta das infraestruturas e supraes- processos de ensino eficientes de maneira a favorecer a aprendi-
truturas que o tangenciam. zagem.
Se você, já é professor, certamente tem uma visão pessoal so- Ser professor nos dias atuais implica na ampliação da visão do
bre o que é ensinar, para que ensinar, como ensinar e o que ensi- papel que representa no desenvolvimento dos alunos, partindo
nar, não é verdade? Sua prática pedagógica reflete justamente o da compreensão do que seja o objetivo do ensino. Para tanto,
que você pensa disso. E você, graduado ou graduando que ainda requer do profissional uma atualização permanente na área das
não atua em sala, também tem uma visão pessoal peculiar de ciências em educação, da tecnologia, da psicologia, do currículo,
quem não se envolve diretamente com a profissão. É uma visão dos conteúdos que leciona e uma reflexão sobre a sua prática
distorcida? Não! É uma visão de quem ainda não teve oportuni- pedagógica. Está vendo, caro aluno, que ser professor não é fazer
dade de pensar sobre o fazer pedagógico, que tem uma teoria seu trabalho de qualquer jeito?
com aportes históricos, filosóficos, sociológicos e psicológicos Ao se considerar o ensino dentro do processo educacional
capazes de subsidiar o futuro professor, dando-lhe respostas para como uma prática social específica, ele pode ocorrer de maneira
todos os desafios postos no seu caminhar. informal e espontânea ou pode ocorrer de maneira formal, siste-
Dentre as concepções de ensino encontradas pela pedagogia mática, intencional e organizada. Para tanto, o professor ao exer-
ao longo da atividade de ensinar pelo homem, destacam-se três: cer a atividade de ensino não pode desvinculá-lo da aprendiza-
na primeira, o ensino é concebido como aquilo que vem de fora gem, pois ela é a única resposta ao seu trabalho didático peda-
para dentro, através da ação dos professores no ato de transmitir gógico.
o conhecimento; na segunda, o ensino é concebido como aquilo As teorias modernas da aprendizagem dizem que aprender
que vem de dentro para fora, o que se manifestaria pela ajuda do não é conseguir se lembrar dos ensinamentos transmitidos em
professor em aflorar as ideias que os alunos já possuíam a respei- sala de aula, mas é dispor de esquemas de pensamento que per-
to do conteúdo a ser aprendido; e na terceira, o ensino é conce- mitam resolver problemas quando percebidos num encontro com
bido como uma construção de instrumentos para conhecer e a a realidade, considerando o saber que os alunos já possuem e
possibilidade do aluno, reagindo às perturbações do meio ou as procurando articulá-lo a novos saberes e práticas.
suas inquietações internas, assimilar o que foi ensinado. A ação de ensinar, pois, é intencional e a intencionalidade está
Nos dias atuais, considera-se o ensino como uma prática soci- presente no conhecimento prévio que o professor deve ter dos
al específica que se dá de uma forma intencional, sistemática e seus alunos. É bem verdade que o professor terá que dedicar
organizada. Seria, pois, uma ação que se desenvolve na escola a mais tempo para executar atividades antes e depois da aula, a fim
partir da definição de objetivos, da organização dos conteúdos já de garantir que seja atingido o objetivo a que ele se propôs.
pré-estabelecidos, da opção por uma forma de ministrar estes O primeiro passo a ser dado pelo professor na sua atividade
conteúdos, auxiliada por materiais adequados e da proposição de de ensino, é estabelecer objetivos cujo alcance ultrapasse a carga
uma avaliação, tanto do ensino como da aprendizagem. horária da disciplina, pois a formação do aluno não termina com
Esta concepção de ensino leva-nos a ver o professor como a última prova do ano e, sim, os objetivos devem favorecer a que
aquele que, através da mediação do ato de ensinar, proporciona ele tenha o desejo de aprender, de procurar sempre respostas
a seus alunos a oportunidade de olhar ao seu redor e verificar para os seus anseios e curiosidades.
que a possibilidade de compreender a realidade e intervir sobre Estes objetivos devem favorecer o desenvolvimento de capa-
ela, modificando-a se necessário. cidades mais complexas e mais necessárias nos dias de hoje,
Acrescentamos, aqui, que o ensino se caracteriza como uma como a capacidade de lidar com a informação e de resolver pro-
ação vinculada à aprendizagem e não uma mera transmissão de blemas, de usar a criatividade, de planejar, executar e avaliar seus
conhecimentos, mas a criação de possibilidades de sua produção propósitos, de incorporar as novas tecnologias como recurso de
ou de sua construção. O professor aprende no processo de ensi- aprendizagem de maneira a utilizá-las independente da influência
nar, mas é um aprendizado diferente daquele realizado pelo de alguém.
aluno porque há uma especificidade no seu trabalho. E é para
este trabalho que a Didática surge como elemento para subsidiar

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C) Da interação do professor com seus alunos, em sala de aula
BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO: convencional e outros espaços.
D) Exclusivamente da interação do professor com a gestão da
- COLL, C. Aprendizagem escolar e construção do pensamento. escola, por meio do planejamento e das reuniões pedagógi-
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. cas.
- LEI DE DIRETRIZES BÁSICAS DA EDUCAÇÃO NACIONAL, 1996. E) Exclusivamente da interação do professor com o seu conteú-
- LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2008. FREIRE, P. do programático e possibilidades metodológicas para desen-
Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática edu- volvê-lo.
cativa. 30ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
- MARTINS, P. L. O. A didática e as contradições da prática. São 18. Sobre o planejamento escolar, NÃO podemos afirmar que
Paulo: Papirus, 1998. A) É processo de busca de equilíbrio entre meios e fins, entre
- NEVO, D. Avaliação por diálogos: uma contribuição possível recursos e objetivos, visando ao melhor funcionamento de
para o aprimoramento escolar. In: TIANA, A. (Coord.). empresas, instituições, setores de trabalho, organizações gru-
- Anais do Seminário Internacional de Avaliação Educacional, 1 pais e outras atividades humanas.
a 3 de dezembro de 1997. Tradução de John Stephen B) As ideias que envolvem o planejamento são amplamente
- Morris. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas discutidas nos dias atuais, assim a compreensão de conceitos
Educacionais (Inep), 1998. p. 89-97. e o uso adequado dos mesmos não são complicadores para o
- OLIVEIRA, M. R. N. S. (org.). Didática: Ruptura, compromisso e exercício da prática de planejar.
pesquisa. 2ª ed. Campinas/SP: Papirus,1995. C) É sempre processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a
- OLIVEIRA, A. P. de M.A Prova Brasil como política de regula- ação; processo de previsão de necessidades e racionalização
ção da rede pública do Distrito Federal. 276 f. de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) dis-
- Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em poníveis, visando à concretização de objetivos, em prazos de-
Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2011. terminados e etapas definidas, a partir dos resultados das ava-
- VEIGA, I. P. A. Repensando a Didática. São Paulo: Papirus,1988. liações.
- ZABALA, A. A prática educativa: Como ensinar. Porto Alegre: D) Processo contínuo que se preocupa com o ‚para onde ir‛ e
ArtMed, 1998. ‚quais as maneiras adequadas para chegar lá‛, tendo em vista
- OLIVEIRA, A. P. de M.A Prova Brasil como política de regula- a situação presente e possibilidades futuras, para que o de-
ção da rede pública do Distrito Federal. 276 f. senvolvimento da educação atenda tanto as necessidades da
- Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em sociedade, quanto as do indivíduo.
Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2011. E) Faz parte da história do ser humano, pois o desejo de trans-
formar sonhos em realidade objetiva é uma preocupação
marcante de toda pessoa.

19. Sobre a importância do planejamento escolar, Libâneo


coloca que o mesmo não é algo neutro, é político, uma
16. Analise as seguintes afirmativas concernentes ao planeja-
vez que envolve opções e ações. Destaca as seguintes fun-
mento e à organização do ensino.
ções:
I. O planejamento do ensino centrado em aulas expositivas
I. Explicitar princípios, diretrizes e procedimentos do trabalho
potencializa a criação de estratégias que favorecem a intera-
docente.
ção dos alunos com os objetos do conhecimento (os tópicos
II. Assegurar a racionalização, organização e coordenação do
do currículo).
trabalho docente evitando a improvisação e a rotina.
II. Para exercer seu papel de mediador entre o livro didático e os
III. Assegurar a unidade e a coerência do trabalho docente, para
alunos, o professor deve realizar uma avaliação crítica do livro
que todos trabalhem da mesma forma.
e definir o ritmo e as maneiras de seu uso segundo os conhe-
IV. Facilitar a preparação das aulas indicando as ações de profes-
cimentos prévios de seus alunos e suas possibilidades cogniti-
sores e alunos e possibilitando o replanejamento do trabalho
vas.
frente a novas situações.
III. Um planejamento pedagógico cuidadoso deve começar pela
clarificação dos objetivos educacionais passando pela seleção Estão corretos apenas os itens:
das ideias importantes do conteúdo e das habilidades a serem A) I, III e IV.
desenvolvidas. B) II, III e IV.
C) I, II e IV.
A partir dessa análise, pode-se concluir que estão CORRETAS
D) I, II e III.
A) Apenas as afirmativas I e II.
B) Apenas as afirmativas I e III. 20. Para que o professor possa atingir efetivamente os objeti-
C) Apenas as afirmativas II e III. vos, é necessário que realize um conjunto de operações
D) Todas as afirmativas. didáticas coordenadas entre si, ou seja, o planejamento, a
direção do ensino e da aprendizagem e a avaliação (LIBÂ-
17. O trabalho pedagógico resulta: NEO, 1994). No que diz respeito ao planejamento escolar,
A) Da relação entre os professores. o professor deve:
B) Exclusivamente do planejamento feito ao início de cada ano A) As alternativas B, C, D, E se encontram corretas;
letivo.

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B) Possuir conhecimento das características sociais, culturais e A) Registro de pesquisas.
individuais dos alunos, bem como o nível de preparo escolar B) Postura quanto ao conteúdo curricular.
em que se encontram; C) Relatos orais e escritos.
C) Conhecer os vários métodos de ensino e procedimentos didá- D) Provas individuais.
ticos, a fim de poder escolhê-los conforme os temas a serem E) Autoavaliação do aluno e do professor.
tratados, características dos alunos, etc.;
D) Compreender as relações entre a educação escolar e os obje- 25. A proposta de avaliação escolar, convencionalmente e
tivos sociopolíticos e pedagógicos, ligando-os aos objetivos secularmente concretizada em nossas escolas, tem sido al-
de ensino; vo de muitas críticas, pois:
E) Prever atividades didáticas em termos da sua organização e I. Cumpre funções pedagógico-didáticas e de diagnóstico em
coordenação em face aos objetivos propostos, quanto a sua relação às quais recorre a instrumentos de verificação e
revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. acompanhamento do rendimento escolar.
II. Alimentou-se de instrumentos avaliativos preocupados ape-
21. O Processo de ensino-aprendizagem compreende, EXCE- nas em atribuir notas e classificar estudantes.
TO: III. Objetiva uma função prioritariamente burocrática, em que fixa
A) A organização do ambiente educativo, a motivação dos parti- critérios de desempenho dos estudantes, isentos de fatores
cipantes. externos e internos de aprendizagem.
B) A definição do plano de formação. IV. É visualizada apenas como medida e diagnóstico do quantita-
C) Um conjunto de ações e estratégias que o sujeito/educando, tivo de saber do estudante.
considerado apenas o individual de cada um.
D) O desenvolvimento das atividades de aprendizagem e a avali- Está (ao) correta (s):
ação do processo e do produto. A) III.
B) II, III e IV.
22. A concepção de avaliação que um professor tem determi- C) I, II e III.
na a escolha dos instrumentos e procedimentos utilizados D) II e III.
no processo avaliativo. Uma avaliação de caráter demo- E) III e IV.
crático se caracteriza por atividades e estratégias de ensi-
no que respeita a participação do estudante, sua cultura e 26. A didática, como área de estudo da Pedagogia, tem como
a realidade sociocultural. Uma estratégia de ensino relaci- objeto nuclear:
onada a esse perfil pode ser assim descrita: A) O como ensinar, prática isenta de valores e projetos político-
A) Ênfase na aplicação de testes escritos, de natureza objetiva e sociais.
extensa, a fim de testar os conhecimentos dos estudantes e B) Ensinar como ensinar, numa perspectiva meramente técnica.
classifica-los segundo o desempenho apresentado. C) Ensinar por meio de regras a como dar aula.
B) Realização de exames orais e individuais a fim de medir e D) O ensino em situação, compreendido como uma prática edu-
comparar o grau de expressividade e de memorização do cativa intencional, estruturada e dirigida a outros.
conteúdo trabalhado em sala de aula. E) O ensino em situação, compreendido como uma prática edu-
C) Sequência de atividades estruturadas, repetidas, com níveis de cativa sem objetivos, dirigida a outros.
dificuldades progressivos e com ênfase na memorização.
D) Atividades de auto avaliação pelo aluno, com atribuição de 26. São considerados elementos essenciais no trabalho dos
notas a aspectos do seu próprio desempenho. conteúdos escolares com os alunos, tendo a função de
E) Sucessiva aplicação de exercícios individuais sobre o mesmo mediar às relações didáticas que ocorrem na sala de aula:
assunto a fim de garantir a fixação do conteúdo estudado. A) Sistema de Avaliação;
B) Recursos Didáticos;
23. O professor utiliza estratégias de ensino para que seus C) Processo Ensino-Aprendizagem;
alunos as utilizem ativamente e realizem a construção do D) Aulas de Campo;
conhecimento. Em síntese, estratégias de ensino é(são) E) Aulas Teóricas e Práticas.
A) Um reforço da aprendizagem realizada, tendo como referên-
cia o socio construtivismo. 27. Sobre a Didática e Democratização do Ensino, NÃO po-
B) Meios para que o aprendiz escolha sua profissão. demos afirmar que
C) Caminhos a serem seguidos pelo professor e os meios de que A) A participação ativa na vida social é o objetivo da escola pú-
ele dispõe para atingir os objetivos determinados pelo seu blica e o ensino é colocado como ações indispensáveis para
plano de trabalho. ocorrer à instrução.
D) Concepções teóricas de por que e para que se aprende, na B) A escola pública deve assegurar a transmissão e assimilação
perspectiva da escola ativa. dos conhecimentos e habilidades.
E) Formas de impor o conhecimento didático-pedagógico do C) O primeiro compromisso da atividade profissional de ser
professor, demonstrando sua competência para ensinar co- professor (o trabalho docente) é certamente de preparar os
nhecimentos prontos e acabados. alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na
família, no trabalho e na vida cultural e política.
24. Para avaliar o processo ensino-aprendizagem, o professor D) As práticas educativas é que verdadeiramente podem deter-
utiliza diversas estratégias. Na sequência abaixo, existe minar as ações da escola e seu comprometimento social com
uma alternativa que não se configura como uma estraté- a transformação social.
gia de avaliação. Identifique-a.

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E) O magistério não é um ato político porque se realiza no con- 3. PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM.
texto das relações sociais delimitadas no âmbito restrito da
sala de aula e da escola. Nos próximos tópicos (que também compreenderá as bases
empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas
28. A categoria didática “conteúdos” sofreu um desdobra- teorias da aprendizagem) apresentaremos alguns pontos inte-
mento no contexto da teoria construtivista, isto é, além
ressantes sobre a questão da aprendizagem e o processo de
dos conteúdos conceituais e dos factuais, outros tipos
aprender, procurando introduzir os conceitos e teorias que serão
passaram a ser considerados conteúdos, para o planeja-
discutidos ao longo do certame. São muitas as questões em torno
mento de ensino: os procedimentais e os atitudinais. Os
da aprendizagem e muitas são também as dificuldades encontra-
chamados procedimentais dizem respeito:
A) Às habilidades cognitivas, psicomotoras e socioafetiva objeti- das pelos profissionais dessa área.
vadas no planejamento. A cada dia vemos surgir novas hipóteses e novos conceitos
B) Aos procedimentos do professor para desempenhar seu tra- que procuram explicar por que aprendemos de determinada
balho didático-pedagógico. maneira ou mesmo de que maneira funciona o cérebro de quem
C) Aos procedimentos administrativos necessários à transmissão aprende mais e de quem aprende menos. Mas, quais devem ser
as preocupações de um professor em relação à aprendizagem de
dos conteúdos planejados.
D) Aos procedimentos necessários para o aluno matricular-se e seus alunos? O que um professor deve saber para poder conduzir
passar a frequentar a escola. sua disciplina de maneira a facilitar a compreensão de todos?
Para chegar a essas discussões, precisamos primeiro passear pelo
29. Sobre o objeto da Didática e sua importância na formação universo das teorias. Quais são elas? E de que maneira auxiliam os
do docente, marque o item incorreto: profissionais da Educação? Mais ainda: o que vem a ser aprendi-
A) A Didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino zagem? Como ela ocorre?
no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e É bom lembrarmos que para cada teórico ou conjunto de teo-
formas organizativas de aula se relacionam entre si de modo a rias, a aprendizagem é definida de uma maneira diferente e a
criar condições de garantir aos alunos uma aprendizagem explicação sobre como ela ocorre também se diferencia. Portanto,
significativa; não devemos nos expressar de forma a validar uma e negar a
B) A Didática ajuda o professor na direção e orientação das tare- outra, ou seja, não devemos dizer que uma está certa e outra
fas do ensino e aprendizagem, fornecendo-lhe segurança pro- errada. O que ocorre é que todas têm validade, pois lançam um
fissional; olhar sobre maneiras específicas de aprender.
C) A Didática trata dos objetivos, condições e meios de realiza- Por exemplo, vocês já aprenderam alguma coisa memorizan-
ção do processo de ensino, ligando meios pedagógicos- do? Já foram capazes de aprender a partir da experimentação do
didáticos a objetivos sociopolíticos; objeto (experiência)? Notam alguma habilidade maior em alguma
D) A Didática tem como objeto de estudo somente o ensino, os matéria ou atividade? Costumam aprender mais facilmente quan-
métodos e os conteúdos são assimilados, desconsiderando o do ensinados a partir de conhecimentos que vocês já possuem?
cognitismo dos educandos; Pois então, todos vocês já foram apresentados a algumas das
E) A Didática tem como objeto de estudo o processo de ensino e principais teorias da aprendizagem e todas elas trouxeram contri-
aprendizagem, especificamente os nexos e relações entre o buições para a vida de aprendiz de vocês.
ato de ensinar e o ato de aprender. Além disso, as respostas sobre a aprendizagem geralmente
são procuradas na infância. Isto ocorre justamente porque pode-
mos considerar que o cérebro ainda está em desenvolvimento e
que, é a partir do nascimento que a criança vai sendo apresenta-
da ao mundo, fazendo uso de seus sentidos para explorá-lo,
internalizando nomes, cores, sensações, sentimentos, percepções,
gostos, cheiros, fazendo associações entre as informações que
recebe.
A arrumação ou disposição dessas informações recebidas pela
criança é chamada de aprendizagem, mas o que intriga a todos
nós e aos especialistas é justamente de que maneira essa ‚arru-
mação‛ vai sendo feita e o que leva a criança a associar uma
informação a outra.

3.1 INATISMO, COMPORTAMENTALISMO, BEHAVIORISMO,


INTERACIONISMO, COGNITIVISMO.

3.1.1 TEORIAS INATISTAS

Voltando às teorias, iniciemos pelo primeiro grande conjunto


de teorias que tentou explicar a aprendizagem, as teorias inatis-
tas. Para começar: vocês sabem o que significa a palavra inato?
De acordo com Ferreira (1986, p. 929), significa *aquilo+ ‚que
nasce com o indivíduo; congênito; conato; que pertence à nature-
za de um ser‛. Assim, as teorias inatistas são aquelas que acredi-

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tam na existência de idéias ou princípios, independente da expe-  Privilegia a experiência como fonte de conhecimento e de
riência, ou seja, para tal corrente teórica, a aprendizagem inde- formação de hábitos de comportamento (empirismo). Diz que
pende daquilo que é vivido pelo sujeito, independe de suas expe- as características individuais são determinadas por fatores ex-
riências no mundo, estando a aprendizagem relacionada à capa- ternos ao indivíduo e não necessariamente pelas condições
cidade congênita do sujeito de desempenhar as tarefas que lhes biológicas.
são propostas.  Suas práticas pedagógicas estão baseadas no assistencialismo,
Segundo Moura, Azevedo e Mehlecke (2006), o inatismo conservadorismo, direcionismo, tecnicismo: o ensino bom,
opõe-se à experimentação por considerar que o indivíduo ao aprendizagem boa.
nascer já traz determinadas as condições do conhecimento e da  A escola é supervalorizada já que o aluno é um receptáculo
aprendizagem que se manifestarão ou imediatamente, ou pro- vazio, uma ‚tábula rasa‛:deve aprender o que se lhe ensina.
gressivamente durante o processo de seu desenvolvimento bio-  Há predominância da palavra do professor, regras e transmis-
lógico. Assim, toda a atividade de conhecimento passa a ser ex- são verbal do conhecimento, o professor é o centro do pro-
clusiva do sujeito que aprende, sem participação do meio. cesso de ensino-aprendizagem: o professor um ente ativo... o
Podemos classificar como teorias inatistas da aprendizagem, aluno um ente passivo.
por exemplo, as que falam sobre a aquisição da linguagem, como
a proposta por Chomsky. É o que costumamos chamar de apren- 3.1.3 TEORIAS INTERACIONISTAS
dizagem de dentro para fora.
As teorias interacionistas percebem a aprendizagem como um
Principais Características: processo de inter-relação entre o sujeito e o objeto. Segundo
este conjunto de teorias, é a partir da ação do sujeito sobre o
 Assegura que as capacidades básicas do ser humano são objeto, ou melhor, da interação do sujeito e do objeto que o
inatas. aprendiz extrai daquilo que quer conhecer as informações neces-
 Enfatiza fatores maturacionais e hereditários como definidores sárias para seu uso, caracterizando um tipo de aprendizagem
da constituição do ser humano e do processo de conhecimen- ativa. É por isso que incluímos nesse conjunto de teorias o cons-
to (biologismo). trutivismo, pois além de ver a aprendizagem como um processo
 Considera que o desenvolvimento (biológico, maturativo) é de interação entre o sujeito e o objeto, também considera o
pré-requisito para a aprendizagem. aprendiz um sujeito ativo, construtor (daí a origem do termo
 A educação em nada contribui para esse desenvolvimento, já construtivismo) de seu próprio conhecimento.
que tudo está determinado biologicamente segundo a pro-
gramação genética. Principais características
 Confia nas práticas educacionais espontaneistas, pouco desa-
fiadoras: primeiro esperar para depois fazer.  Parte de que o biológico e o social interagem (unidade dialé-
 Assevera que o desempenho das crianças na escola não é tica), sendo que o biológico (cérebro principalmente) constitui
responsabilidade do sistema educacional: as capacidades bá- a base da aprendizagem social.
sicas para aprender não se criam, ou seja, se nasce com elas e  Considera o interno (biológico e psicológico) em interação
elas é que permitem aprender. com o externo (meio, ambiente natural e social).
 Defende o desenvolvimento da complexa estrutura humana
3.1.2 TEORIAS AMBIENTALISTAS como um processo de apropriação pelo homem da experiên-
cia histórica e cultural.
Já as teorias ambientalistas levam em consideração o meio no  Assegura que nessa interação o homem transforma seu meio
qual a criança está inserida. O ambiente passa a ser o grande e é transformado nas suas relações culturais. Valoriza o papel
responsável pelo que a criança aprende. Para esse conjunto de da escola, em particular, e da sociedade, em geral, do ponto
teorias, a criança aparece como uma folha em branco, na qual de vista individual (para o desenvolvimento pessoal) e do
serão inscritos hábitos, comportamentos e demais aprendizagens ponto de vista social (para o desenvolvimento da própria so-
a partir do meio no qual a criança está inserida. Nesse caso, a ciedade).
aprendizagem efetua-se de fora para dentro. É o caso, por exem-  Assegura que a aprendizagem se produz pela interação do
plo, da teoria comportamentalista ou behaviorista da aprendiza- sujeito que aprende (mediado) e do sujeito que ensina (medi-
gem, que considera a aprendizagem um processo relativo às ador), porém, quem aprende auto constrói seu próprio co-
respostas que o indivíduo dá aos estímulos gerados pelo meio. nhecimento.
Tanto no caso das teorias inatistas quanto no caso das ambi-
entalistas, não se fala em interação entre o dentro e o fora, ou 3.1.4 TEORIAS COMPORTAMENTALISTA
seja, entre a criança e suas estruturas internas e o meio no qual
ela está inserida. Essa relação passa a ser encontrada no conjunto A abordagem comportamentalista analisa o processo de
de teorias conhecido como interacionistas, da qual fazem parte as aprendizagem, desconsiderando os aspectos internos que ocor-
teorias construtivistas, que têm como principal teórico Jean Pi- rem na mente do agente social, centrando-se no comportamento
aget. observável. Essa abordagem teve como grande precursor o norte-
americano John B. Watson, sendo difundida e mais conhecida
Principais características pelo termo Behaviorismo. A grande efervescência dessa teoria se
deu pelo fato de ter caracterizado o comportamento como um
 Atribui ao ambiente à constituição das características huma- objeto de análise que apresentava a consistência que a Psicologia
nas. científica exigia na época – caráter observável e mensurável – em

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função da predominância cientificista do Positivismo. Esta última A generalização é a capacidade de darmos respostas seme-
sendo uma corrente de pensamento que triunfou soberana no lhantes a situações semelhantes. Já a discriminação consiste na
século XIX, e que tinha como princípio fundamental à utilização capacidade de percebemos diferenças entre estímulos, dando
do método experimental, tanto para as Ciências da Natureza respostas diferentes a cada um deles. No caso da aprendizagem
quanto para as Ciências Sociais. escolar, ambos os conceitos são fundamentais, pois em algumas
Desse modo, o Behaviorismo desenvolveu-se num contexto situações o educando precisa generalizar, ou seja, transferir uma
em que a Psicologia buscava sua identidade como ciência, enfati- aprendizagem a diversas situações; ou discriminar, dar uma res-
zando o comportamento em sua relação com o meio. Com isso, posta específica a um determinado estímulo. A Teoria Behavioris-
se estabeleceu como unidades básicas para uma análise descritiva ta de Skinner teve uma grande aplicabilidade na educação, sendo
nesta ciência os conceitos de ‚Estímulo‛ e ‚Resposta‛. A partir da consubstanciada pela ‚tendência tecnicista‛ traduzida pelos mé-
definição dessa base conceitual o ser humano passou a ser estu- todos de ensino programado, o controle e organização das situa-
dado como produto das associações estabelecidas durante sua ções de aprendizagem e da tecnologia de ensino. No Brasil, prin-
vida entre os estímulos do meio e as respostas que são manifes- cipalmente na década de 1970, a tendência tecnicista influenciou
tadas pelo comportamento. as abordagens do processo de ensino/aprendizagem, a partir da
Apesar de Watson ter sido o grande precursor do Behavioris- inserção do conceito de uma aprendizagem por condicionamen-
mo, B. F. Skinner foi um dos psicólogos behavioristas que teve to, sendo ratificada pelos novos modelos de currículo, pelas polí-
seus estudos amplamente divulgados, inclusive no Brasil, haven- ticas educacionais que valorizavam a formação técnica do educa-
do um grau de aplicabilidade muito forte na educação. dor e a inserção de recursos didáticos que estimulassem a apren-
B. F. Skinner nasceu em Susquehanna, Estados Unidos e, em dizagem nas escolas.
suas pesquisas, ele tinha como ponto fundamental o estudo das
relações funcionais entre o estímulo e a resposta na modificação, 3.1.5 Teorias Cognitivista
permanência ou extinção de um comportamento. A base de sua
teoria está no conceito de ‚condicionamento operante‛. Contrapondo-se ao behaviorismo que centra a sua atenção no
No entanto, para que este fosse compreendido, Skinner fez comportamento humano, o cognitivismo propõe analisar a men-
uma distinção entre dois tipos de comportamento: o ‚reflexo‛ e o te, o ato de conhecer; como o homem desenvolve seu conheci-
‚operante‛. mento acerca do mundo, analisando os aspectos que intervém no
O comportamento reflexo é o tipo de resposta não voluntária processo ‚estímulo/resposta‛. Seguindo esse modo de compre-
do organismo a um estímulo do ambiente como, por exemplo, o ensão Moreira (1982, p. 3) ratifica que ‚a psicologia cognitiva
arrepio da pele ao ser atingida por um ar frio. Nesse caso, ar frio preocupa-se com o processo de compreensão, transformação,
seria um ‚estímulo incondicionado‛ que ocasiona o ‚comporta- armazenamento e utilização das informações, envolvida no plano
mento reflexo‛. Por outro lado, temos determinados estímulos do da cognição.‛
ambiente que atuam como reforçadores de um tipo de compor- A cognição é o processo por meio do qual o mundo de signi-
tamento operante e estes são responsáveis pelas nossas ações; ficados tem origem. Os significados não são entidades estáticas,
sendo assim, agimos e operamos sobre o mundo em função das mas pontos de partida para a atribuição de outras significações
respostas (conseqüências) que nossas ações criam. que possibilitam a origem da estrutura cognitiva sendo as primei-
A preocupação dos estudos skinnerianos centra-se nesse tipo ras equivalências utilizadas como uma ponte para a aquisição de
de condicionamento. Conforme Keller (apud MOREIRA, 1999, p. novos significados. A abordagem cognitivista, apesar de ter sur-
33) O comportamento operante ‚inclui todos os movimentos de gido quase no mesmo período que o behaviorismo, teve grande
um organismo dos quais se possa dizer que, em algum momento, efervescência nos anos de 1990, resgatando estudos teóricos da
têm um efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. Psicologia Cognitiva como aqueles desenvolvidos por Piaget e
O comportamento opera sobre o mundo, por assim dizer, Vigotsky.
quer direta, quer indiretamente‛. A partir desse viés, Skinner de- Estes teóricos não desenvolveram propriamente uma teoria
senvolveu o conceito de reforço, relacionando ao comportamen- da aprendizagem, mas seus estudos serviram de pressuposto
to. Podemos distinguir dois tipos de reforço – o ‚positivo‛ e o para teóricos do campo educacional, que se apropriando desse
‚negativo‛ – que têm em comum a manutenção de um determi- referencial elaboraram e desenvolveram a teoria da aprendiza-
nado comportamento. A diferença está no fato do reforço positi- gem denominada de Construtivismo. Com sua transposição para
vo fortalecer um comportamento que ocasiona um estímulo o contexto das práticas escolares, esta teoria, já foi equivocada-
agradável e, no caso do reforço negativo, um comportamento é mente, concebida por alguns (mas) professores e professoras
instalado com o intuito de evitar um estímulo desagradável. como método de ensino.
Contrapondo-se ao reforço positivo e negativo, Skinner tam- Atualmente, outro mito que gira em seu entorno está associ-
bém trabalhou com um condicionamento operante que pudesse ado ao pensamento que a converte numa espécie de ‚Deusa
extinguir um tipo de 100 comportamento. Essa experiência foi Atenas‛ do ensino/aprendizagem ou o ‚papado da teoria peda-
desenvolvida a partir da ‚ausência‛ de um reforço, por ser este o gógica‛, isto é, a denominação de que o Construtivismo é a teoria
mantenedor de uma determinada resposta. Todavia será nos mais adequada ou mais eficiente para o bom desenvolvimento do
conceitos de ‚generalização‛ e ‚discriminação‛ que a Teoria do ensino/aprendizagem dentro das escolas, como bem analisa Silva
Reforço de Skinner será compreendida como uma Teoria da (1996, p. 213).
Aprendizagem. Esse mito que paira sobre o discurso oficial pode ser confir-
mado por intermédio da seguinte afirmação extraída dos Parâme-
tros Curriculares Nacionais (PCN) de 5ª a 8ª séries:

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‚Os fracassos escolares decorrentes da aprendizagem, A acomodação, no sentido formulado por Jean Piaget, pode
das pesquisas que buscam apontar como o sujeito que ser entendida como um dos mecanismos da adaptação que es-
conhece, das teorias que provocam reflexão sobre os trutura e impulsiona o desenvolvimento cognitivo. É o processo
aspectos que interferem no ensinar e aprender, indicam pelo qual os esquemas mentais existentes modificam-se em fun-
que é necessário dar novo significado à unidade entre ção das experiências e relações com o meio. É o movimento que
aprendizagem e ensino, uma vez que, em última instân- o organismo realiza para se submeter às exigências exteriores,
cia, sem aprendizagem não há ensino. (BRASIL, 1998, adequando-se ao meio. O outro mecanismo da adaptação é a
p.71)‛. assimilação, que consiste no processo mental pelo qual os dados
das experiências se incorporam aos esquemas de ação e aos
O núcleo central da integração de todas estas contribuições esquemas operatórios existentes, num movimento de integração
refere-se ao reconhecimento da importância da atividade mental do meio no organismo. O processo de regulação entre a assimila-
construtiva nos processos de aquisição do conhecimento (grifo ção e a acomodação é a equilibração. Em algumas atividades
nosso). Daí o termo construtivismo, denominando esta conver- mentais predomina a assimilação (jogo simbólico) e em outras
gência. (Idem). Procurando fugir desses equívocos teóricos e na predomina a acomodação (reprodução).
tentativa de (des)construir a versão ‚religiosa‛ do construtivismo Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo do indivíduo está
apresentar-se-á na seqüência dois de seus principais precursores, sempre passando por equilíbrios e desequilíbrios. Isso se dá com
seus conceitos fundamentais e a influência de tais conceitos na a mínima interferência, seja ela orgânica ou ambiental. Para que
política educacional brasileira nos anos de 1990, principalmente, passe do desequilíbrio para o equilíbrio são acionados dois me-
em relação à reforma curricular promovida na década. canismos: o de assimilação e o de acomodação. Por exemplo, a
inteligência seria uma assimilação, pois incorpora dados da expe-
3.2 CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON PARA riência no indivíduo. Assim, uma vez que ele assimilou intelectu-
A PSICOLOGIA E PEDAGOGIA. almente uma nova experiência, vai formar um novo esquema ou
modificar o esquema antes vigente. Então, na medida em que ele
3.2.1. PIAGET compreende aquele novo conhecimento, ele se apropria dele e se
acomoda, aquilo passa a ser normal. Então, volta novamente ao
As crianças aprendem comportamentos, hábitos e conheci- equilíbrio. Esse período que a pessoa assimila e se acomoda ao
mentos de diversas maneiras e, tanto a psicologia quanto a pe- novo é chamado de adaptação. Pode-se dizer, que dessa forma,
dagogia, explicam como esta aprendizagem se dá. São diversas se dá o processo de evolução do desenvolvimento humano.
maneiras de aprender, cada uma destacada por teóricos das mais
variadas tendências. A criança inicia seu processo de conhecimen- 3.2.2. VYGOTSKY
to explorando os objetos que estão ao seu alcance, quando ela
atua sobre eles. É o que acontece com um bebê de quatro meses Outro aspecto a ser levado em consideração é que muitas ve-
ao segurar com as mãos um objeto: ele aplica o esquema de zes a aprendizagem se dá por imitação daquilo que as crianças
ação, que no momento se limita a segurar o objeto, puxá-lo, veem no seu ambiente. O psicólogo russo Lev Semenovich
movê-lo, levá-lo à boca. Vygotsky trata desta questão dando uma nova dimensão ao pa-
De acordo com suas pesquisas, o suíço Jean Piaget explica pel da imitação na aprendizagem, pois não via o lado puramente
que à medida que se tem experiências com os objetos, esses mecânico da repetição, mas como uma oportunidade de recons-
esquemas serão ampliados, diversificando-se e coordenando-se trução daquilo que a criança observa ao seu redor. Assim, pela
até chegar a condutas complexas diante das coisas que são pró- imitação ela é capaz de realizar ações que ultrapassam o limite de
prias das crianças de um ano e meio: trata-se de uma verdadeira suas capacidades.
experimentação na qual faz uma análise do objeto, age sobre ele Na educação formal, há a compreensão de que, por intermé-
e tira conclusões sobre as suas características. dio da imitação, a criança aprende, e o professor e demais profis-
Essa exploração e experimentação constantes que a criança sionais que atuam em creches e pré-escolas, necessitam promo-
faz sobre os objetos, no decorrer dos dois primeiros anos de vida, ver situações que permitam o desencadeamento do processo de
proporcionam-lhe um conhecimento de mundo que a envolve: as aprendizagem, sem correr o risco de propor atividades descon-
características dos objetos (os que tem gosto, os que fazem ruído, textualizadas, visando exclusivamente a repetição, sem sentido,
os que se movem etc), as relações que podem ser estabelecidas de um modelo observado. Para Vygotsky, a criança não se limita a
entre os objetos e as situações (se puxar a porta ela se abre, se responder aos estímulos, mas atua sobre eles, transformando-os.
pedir água a mãe aparece etc). Por isso, ele enfatiza a importância da mediação de instrumentos
Por meio desses processos, Piaget chama de assimilação a que se interpõem entre o estímulo e a resposta.
aplicação do mesmo esquema a diferentes objetos e situações e Para Vygotsky, os instrumentos mediadores, inclusive os si-
acomodação a pequenas mudanças que a criança introduz nos nais, são proporcionados pelo meio social, através da cultura. O
esquemas para adaptar-se a situações diferentes. Durante toda a professor que decide atuar nessa ótica, tem que bem compreen-
infância a atividade sobre os objetos será muito importante, até der como deve intervir pedagogicamente para não ocorrer que
que ao conseguir se comunicar pela linguagem, haverá uma vari- ele vá tomar posturas diretivas, tradicionais.
ação no tipo de atividade que a criança fará para conhecer o Ele ainda enfatiza o papel da intervenção no desenvolvimento,
mundo: ela passará a fazer operações mentais não visíveis, utili- cujo objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural, e
zando a linguagem como instrumento de pensamento. das relações entre indivíduos na definição de um percurso de
desenvolvimento da pessoa humana, e não propor uma pedago-
gia autoritária, haja vista que o educando, para o teórico, é uma

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receptor ativo que está sempre reconstruindo, reelaborando a materiais e o contexto histórico-social. Em cada uma das diferen-
partir dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo social. tes etapas do desenvolvimento, o indivíduo dispõe de um modo
As obras de Vygotsky incluem alguns conceitos que se torna- particular de se relacionar com este meio e construir o seu co-
ram incontornáveis na área do desenvolvimento da aprendiza- nhecimento.
gem. Um dos conceitos mais importantes é o de Zona de Desen- A obra de Henri Wallon é perpassada pela ideia de que o pro-
volvimento Proximal (ZDP), que se relaciona com a diferença cesso de aprendizagem é dialético: não é adequado postular
entre o que a criança consegue realizar sozinha e aquilo que, verdades absolutas mas, sim, revitalizar direções e possibilidades.
embora não consiga realizar sozinha, é capaz de aprender e fazer Wallon reconhece que o fator orgânico é a primeira condição
com a ajuda de uma pessoa mais experiente (um adulto, uma para o desenvolvimento do pensamento; ressalta, porém, a im-
criança mais velha ou com um colega que possui maior facilidade portância das influências do meio. O homem, para Wallon, seria o
de aprendizado etc.). A Zona de Desenvolvimento Proximal é, resultado de influências sociais e fisiológicas, de modo que o
portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelec- estudo do psiquismo não pode desconsiderar nem um nem outro
tuais quando lhe é dado o suporte educacional devido. Este con- aspecto do desenvolvimento humano. Por outro lado, para Wal-
ceito foi posteriormente desenvolvido por Jerome Bruner, sendo lon as potencialidades psicológicas dependem especialmente do
hoje vulgarmente designado por etapa de desenvolvimento. contexto sócio-cultural.
A imitação é, em geral, uma das vias fundamentais no desen- O desenvolvimento do sistema nervoso, então, não seria sufi-
volvimento cognitivo e cultural da criança. O próprio processo de ciente para o pleno desenvolvimento das habilidades cognitivas.
imitação pressupõe uma determinada compreensão do significa- Uma das consequências desta postura é a crítica às concepções
do da ação do outro. Neste sentido, o processo imitativo também reducionistas: Wallon propõe o estudo da pessoa completa, tanto
se coloca como campo possibilitador de criação de ZDP, porque a em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e
criança poderá, por imitação, realizar ações que vão além de sua motor. Para Wallon, a cognição é importante, mas não mais im-
capacidade atual. portante que a afetividade ou a motricidade.
Para Vygotsky, enquanto imita, a criança apreende a atividade
do outro e realiza aprendizagem. Ela não faz uma mera cópia da 3.3. GARDNER E A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
ação do outro, como um ato mecânico, mas se envolve na ativi-
dade intelectualmente, o que implica representá-la e avaliar a Você já leu alguma coisa referente à Teoria das Inteligências
adequação de sua imitação. Múltiplas? Se não, você vai conhecer uma das mais instigantes
teorias sobre o ensinar e o aprender numa perspectiva de atender
3.2.3. WALLON às tendências e aptidões humanas.
O pesquisador norte-americano Howard Gardner, autor da
Médico, psicólogo, pedagogo e ativista político, Henri Wallon Teoria das Inteligências Múltiplas, desenvolveu seus estudos a
construiu uma psicologia genética e uma proposta pedagógica partir da constatação de que existe um número desconhecido de
que, pelas suas características, podem ser consideradas construti- capacidades humanas diferenciadas, em contraste com a teoria
vistas. de Piaget, que via todo pensamento humano como lutando pelo
A obra de Wallon, contemporânea da de Piaget, aproxima-se ideal do pensamento científico e com a concepção de inteligência
em alguns aspectos do trabalho do suíço e em outros aspectos se vigente, a qual se restringia à capacidade de dar respostas breves,
distancia dele de modo significativo. Ambos ofereceram grande rapidamente, a problemas envolvendo o uso das habilidades
contribuição ao estudo do desenvolvimento humano, mas, para lógico-matemáticas e linguísticas. Sua concepção de inteligência
Piaget, cujo interesse é epistemológico, o objeto de estudo é o se ampliou, na medida em que tinha uma visão pluralista da men-
conhecimento e ele só abordou o desenvolvimento da criança te e definiu inteligência como a capacidade de resolver proble-
como recurso para atingir seu objeto de estudo, enquanto para mas ou elaborar produtos que são importantes num determinado
Wallon, cujo interesse é psicológico, o objeto de estudo é mesmo ambiente ou comunidade cultural. Além disto, Gardner se dedi-
o desenvolvimento da criança e o aspecto mais valorizado se sua cou também a explorar as implicações educacionais da sua teoria
obra continua sendo seu modelo psicogenético. com um trabalho voltado, não somente para o desenvolvimento
A orientação walloniana, põe em evidência a importância do de currículo e da formação dos professores, mas, também, para a
conhecimento das necessidades primordiais e das mudanças de criação de novas fórmulas de avaliação.
objeto de seus comportamentos em idades e situações diferen- Sua pesquisa colheu dados de várias fontes: a primeira, refe-
tes. No decorrer do desenvolvimento nota-se em cada idade a rente ao desenvolvimento de diferentes tipos de capacidades nas
predominância de certos comportamentos e modalidades de crianças normais; a segunda, referente à informação sobre o
adaptação que constituem a melhor forma de utilização dos mei- modo pelo qual estas capacidades falham sob condição de dano
os comportamentais naquele momento. A descoberta da ativida- cerebral; e a terceira, referente à observação de crianças prodí-
de predominante permite reconstituir quais as necessidades pri- gios, idiotas sábios (aqueles que são deficientes mentais com um
mordiais num dado momento, quais os objetivos mais importan- talento altamente especializado em determinada área: música,
tes e as prioridades adaptativas da criança naquela idade. memória, espaço etc.), crianças autistas e crianças com dificulda-
Wallon elaborou sua própria concepção de meio. Ele admitiu de de aprendizagem.
que a relação homem-meio deve ser colocada, de um lado, sob a A Teoria das Inteligências Múltiplas está concentrada nas ori-
influência das relações materiais entre natureza e sociedade hu- gens biológicas de cada capacidade de resolver problemas restri-
mana e de outro, no contexto histórico das aquisições feitas e das tos apenas à espécie humana, sem deixar de vincular o aspecto
mudanças que elas determinam. O meio tem para este teórico biológico ao estímulo cultural nessa área. Exemplo, a capacidade
um sentido diferente do que tem para Piaget, pois seu conceito de comunicação é universal e pode manifestar-se particularmente
de meio inclui o meio físico, o meio social e mais as condições como escrita em uma cultura e como oral em outra.

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Certas áreas do cérebro são mais importantes do que outras
no cálculo matemático. Há idiotas sábios que realizam grandes
façanhas de cálculos, mesmo que continuem sendo tragicamente
deficientes na maioria das outras áreas.

3.3.3 INTELIGÊNCIA MUSICAL

A inteligência musical é a inteligência que se manifesta na or-


ganização dos sons criativamente, discriminando desde cedo os
tons, timbres e temas, independente de ter que adquirir conhe-
cimento formal sobre música. As crianças-prodígio atestam que
existe um vínculo biológico a uma determinada inteligência. A
área do cérebro responsável pela percepção e produção da músi-
ca está localizada no hemisfério direito.

3.3.4 INTELIGÊNCIA ESPACIAL

A Inteligência espacial é a inteligência que se manifesta na


capacidade de formar um modelo mental preciso de uma situa-
ção espacial e utilizá-lo na orientação entre objetos ou transfor-
mar as características de um determinado espaço.
Como exemplo: os arquitetos, navegadores, pilotos, cirurgi-
ões, engenheiros, escultores. A parte do cérebro responsável pelo
Assim, Gardner estabeleceu vários critérios para que manifes- processamento espacial é o hemisfério direito, pois ao ocorrer um
tações sejam consideradas como inteligência desde que as mes- dano nas regiões posteriores da direita, provoca prejuízo na ca-
mas fossem levadas em consideração por todos os grupos sociais pacidade de encontrar o próprio caminho em torno de um lugar,
e, além do mais, que áreas do cérebro fossem localizadas como de reconhecer rostos, ou cenas, ou observar pequenos detalhes.
responsáveis por elas.
3.3.5 INTELIGÊNCIA CORPORAL CINESTÉSICA
3.3.1 INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA
A inteligência corporal cinestésica é a inteligência que se ma-
A inteligência linguística manifesta-se na habilidade para lidar nifesta na capacidade para utilizar todo o corpo de diversas ma-
criativamente com as palavras, nos diferentes níveis da lingua- neiras. Cinestesia quer dizer sentido pelo qual percebem os mo-
gem, tanto na forma oral como na escrita. Gardner divide a lin- vimentos musculares, o peso e a posição dos membros. Como
guagem em quatro capacidades ou operações: exemplo: atletas, dançarinos, malabaristas, atores, cirurgiões.

3.3.6 INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL


1ª: as propriedades do som e tonalidade da linguagem;
2ª: a gramática ou sintaxe;
Inteligência interpessoal é a inteligência que se manifesta na
3ª: os significados da palavra os aspectos lógicos e os usos
capacidade de uma pessoa dar-se bem com as outras, compre-
pragmáticos da linguagem;
endendo-as, percebendo suas motivações ou inibições. Como
4ª: as formas orais e escritas da linguagem.
exemplo: professores, terapeutas, líderes políticos, atores, apre-
sentadores de TV.
Como exemplo: os escritores, oradores, jornalistas, advoga-
Nas crianças pequenas, isto se manifesta quando elas negoci-
dos, poetas, publicitários, vendedores etc. Em crianças pequenas,
am com os colegas, assumem liderança, se preocupam com os
isto se manifesta naquelas que gostam de brincar com palavras,
outros. A parte do cérebro responsável corresponde aos lobos
fazer rimas, inventar histórias.
frontais, pois um dano nessa área pode provocar profundas mu-
A parte do cérebro responsável pela produção de sentenças
danças de personalidade, ao mesmo tempo em que não altera
gramaticais, é a chamada ‚Centro de Broca‛ no hemisfério es-
outras formas de resolução de problemas.
querdo que, ao sofrer algum dano, pode compreender palavras e
frases bastante bem, mas ter dificuldade em juntar palavras em
3.3.7 INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL
algo além das frases mais simples.
A inteligência intrapessoal é a inteligência que se manifesta na
3.3.2 INTELIGÊNCIA LÓGICO-MATEMATICA
capacidade de fazer analogias. Significa conhecer-se e estar bem
consigo mesmo, administrando seus sentimentos e emoções a
A inteligência lógico-matemática é a inteligência que se mani-
favor de seus projetos. O maior exemplo são os terapeutas, pois
festa na habilidade para o raciocínio dedutivo, para a compreen-
são capazes de refletir sobre suas emoções e depois transmiti-las
são de cadeias de raciocínios, para solucionar problemas envol-
para os outros. A parte do cérebro responsável também são os
vendo números. É a competência mais diretamente associada ao
lobos frontais. Um dano na parte inferior provocará irritabilidade
pensamento científico.
ou euforia, ao passo que um dano nas regiões mais altas produzi-
rá indiferença, desatenção, lentidão e apatia.

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A criança autista exemplifica bem uma pessoa com a inteli- e profundamente, a fim de que possa selecionar variados pro-
gência intrapessoal prejudicada, pois ela nunca se referirá a si cedimentos de trabalho diferenciados para atender às especi-
própria, no entanto ela apresenta notáveis capacidades musicais, ficidades da classe;
computacionais, espaciais ou mecânicas.
d) a escola deve oferecer uma educação que combine os perfis,
3.3.8 INTELIGÊNCIA NATURALISTA objetivos e interesses dos alunos a determinados currículos e
determinados estilos de aprendizagem.
A inteligência naturalista é a inteligência que se manifesta na
capacidade de compreender e organizar os fenômenos e padrões A Teoria das Inteligências Múltiplas se configura como um
da natureza. Como exemplo: arquitetos, paisagistas, designs. avanço importante ao conseguir ultrapassar a ideia de uma inteli-
gência única, fechada. Por isso, é importante o professor se apro-
3.3.9 INTELIGÊNCIA PICTÓRICA fundar nos fundamentos basilares desta teoria para perceber no
aluno a capacidade que mais lhe sobressai. Os resultados seriam
A inteligência pictórica é a inteligência que se manifesta na melhores, pois a independência entre as inteligências não existe
capacidade de reproduzir, pelo desenho, objetos e situações, e, portanto, ao desenvolver uma estará, em consequência, afe-
quer reais, quer imaginárias. Também aqui se inclui os que sabem tando as outras.
organizar elementos visuais de forma harmônica, estética. Como Reforçamos lembrando que as pessoas desenvolvem suas ca-
exemplo: pintores, artistas plásticos, desenhistas, ilustradores e pacidades inatas de acordo com a educação e as oportunidades
chargistas. que encontram. Para Gardner, todos nascem com um vasto po-
tencial de aptidões ainda não moldado pela cultura, o que só
3.3.10 INTELIGÊNCIA EXISTENCIAL começa a ocorrer por volta dos cinco anos de idade. A educação
se equivoca quando não leva em consideração os vários poten-
A inteligência existencial é a inteligência que se manifesta na ciais de cada um. Além do mais, é comum as escolas não levarem
capacidade de refletir sobre questões fundamentais da existência, em conta as individualidades, pelo hábito de nivelar como se
aguçada em vários segmentos diferentes da sociedade. Os profis- todos pudessem ter o mesmo nível de desenvolvimento e, por-
sionais da área de educação ao decidirem optar pela concepção tanto, passassem pelo mesmo processo de aprendizagem.
das inteligências múltiplas têm que pensar numa escola que te-
nha como objetivo desenvolver as inteligências e auxiliar os alu- 3.4 TEMAS CONTEMPORÂNEOS:
nos a atingirem seus objetivos de ocupação e diversão adequadas
ao seu potencial de inteligência, haja vista que a visão pluralista 3.4.1 BULLYING
da mente reconhece muitas facetas da cognição.
Reconhece, também, que as pessoas têm forças cognitivas di- Seja direto ou indireto, o bullying se caracteriza por três crité-
ferenciadas e estilos de aprendizagem contrastantes, reconhece rios:
que as crianças de diferentes idades têm necessidades diferentes,
percebem as informações culturais de modo diverso e assimilam 1. comportamento agressivo e intencionalmente nocivo;
noções e conceitos a partir de diferentes estruturas motivacionais 2. comportamento repetitivo (perseguição repetida);
e cognitivas. 3. comportamento que se estabelece em uma relação interpes-
O trabalho docente, pois, alicerçado nos princípios da Teoria soal assimétrica, caracterizada por uma dominação.
das Inteligências Múltiplas deverá se basear em que:
Além de adotar esses três critérios, alguns pesquisadores en-
a) nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e as mesmas fatizam o fato de a vítima se sentir impotente, incapaz de se de-
habilidades, nem aprendem da mesma maneira; assim, o alu- fender (Cerezo, 1997) e de perceber a si mesma como vítima
no poderá demonstrar de diversas maneiras o seu crescimen- (Field, 1999). Outros acrescentam que a agressão ocorre sem que
to, sua aprendizagem, não apenas em língua e matemática, tenha havido uma provocação (Pereira, 2008) ou sem motivação
mas no seu modo de movimentar seu corpo seguindo uma evidente, como se verifica na publicação da Associação Brasileira
música ou mesmo uma batida repetida de mãos, pelo modo Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abra-
de desenhar ou produzir uma escultura ou pela maneira de pia, 2000: 5), que caracteriza o bullying como: todas as formas de
relacionar-se com os colegas; atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem sem
motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra
b) toda criança tem potencial para desenvolver-se intensamente outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma
em uma ou várias áreas e isto pode ser observado facilitando relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre
uma interferência na escola, no desenvolvimento e o exercício iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as característi-
das competências, possibilitando a verificação dos resultados cas essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.
da reflexão da prática pedagógica e, consequentemente, re- Em síntese, considerando o que é consensual nas várias defi-
flexão sobre ela; nições, podemos reconhecer o bullying escolar nas situações em
que um aluno, ou um grupo de alunos, causa intencionalmente e
c) há necessidade de uma nova visão de avaliação escolar, pois repetidamente danos a outro(s) com menor poder físico ou psico-
essa teoria abre a possibilidade do professor analisar as com- lógico. Esta assimetria de poder se faz presente mesmo quando
petências que o aluno tem mais desenvolvidas e refletir sobre só existe na percepção da vítima, que se sente incapaz de reagir à
elas para melhorar outras nas quais o aluno tenha menos de- agressão.
senvolvimento, levando o professor a conhecê-lo mais ampla

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As pesquisas feitas em escolas de vários países (Portugal, Es- der como é que o ambiente escolar pode interferir na maior ou
panha, Noruega, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Japão e menor prevalência da violência dos estudantes entre si.
vários outros) mostram que as ações que os alunos usam no Em muitos países, especialmente da Europa e da América do
bullying escolar são bastante semelhantes, e que envolvem tanto Norte, o programa proposto por Olweus tem sido aplicado, total
o bullying direto (físico ou verbal) quanto o indireto. ou parcialmente, ou com algumas modificações, nas escolas. Este
Uma modalidade mais recente do fenômeno vem se desen- programa propõe ações em três níveis: no nível da escola, no
volvendo rapidamente, acompanhando o progresso tecnológico: nível da classe e no nível individual, e seus resultados têm sido
o cyberbullying, que se utiliza basicamente de telefones celulares, relatados como satisfatórios (Pereira, 2008).
especialmente os dotados de inúmeras funções, e de computado- A implementação de programas requer sempre a fundamen-
res ligados à Internet. tação em um claro conhecimento do fenômeno no contexto
Meninas são filmadas ou fotografadas em cenas sexuais, me- escolar em que se pretende intervir. Só assim, poderão ser focali-
ninos são provocados para brigar e são fotografados no momen- zados os problemas reais da instituição e promovidas as estraté-
to em que estão apanhando, cenas são forjadas com os recursos gias mais adequadas para o seu enfrentamento (Freire, Simão &
da informática, tudo com o objetivo de divulgá-las na Internet, de Ferreira, 2006), dentre as quais se destaca a educação em direitos
forma a expor os colegas a situações humilhantes e vexatórias. humanos. Tais intervenções podem ser feitas na sala de aula, no
A literatura apresenta poucos estudos sobre o cyberbullying. recreio, na relação da escola com os pais, nas relações interpes-
A pesquisa de Campbell (2007) com meninas mostra uma porcen- soais nos mais diversos níveis, nos regulamentos e nas formas de
tagem expressiva de vítimas entre 11 e 15 anos, com maior inci- divulgação e de aplicação dos mesmos e no desenvolvimento do
dência nos 13 anos. clima social ou ethos da escola (Pereira, 2008).
Outra informação interessante desse estudo foi que metade Para se obter esse conhecimento, torna-se necessário realizar,
das estudantes também era vítima das outras modalidades de na escola, um levantamento diagnóstico de como o processo se
bullying, que não o cyber. De acordo com Campbell (2007), o instala e ocorre e a partir daí adotar propostas como as sugeridas
cyberbullying se torna mais grave por não ter limites geográficos, abaixo:
além de envolver o poder da palavra escrita. Nesse sentido, pode
adentrar as casas, ampliando o seu raio de ação. Considera-se,  levantamento diagnóstico da situação de bullying na escola.
ainda, o agravante de sua permanência, já que é praticamente Nesse levantamento, o bullying deve ser abordado em pers-
impossível sua total eliminação. pectiva contextual, que exige, inclusive, o conhecimento das
Há um consenso sobre as consequências adversas do bullying características da população atendida pela escola;
para as vítimas, para os agressores, como também para as teste-  Conscientização e sensibilização de toda a comunidade esco-
munhas, embora a preocupação maior seja com os danos obser- lar, incluindo os pais, sobre o problema. Os dados do levan-
vados nas vítimas. Os problemas vão desde a queda do rendi- tamento diagnóstico são de grande valia para isso;
mento escolar até ao desenvolvimento de depressão e suicídio.  Formação dos profissionais da escola (diretores, coordenado-
Muitas são as dificuldades imediatas; outras, em médio e lon- res, professores e funcionários). Esse conhecimento é funda-
go prazos. Além de poder comprometer o rendimento escolar, as mental para direcionar as ações;
vítimas tendem a se isolar, a apresentar baixa autoestima e a se  Formação dos pais. O conhecimento dos pais sobre os danos
recusar a ir à escola, alegando dores de cabeça, estômago ou e as características do bullying e dos papéis que seu filho po-
abdominais. Em longo prazo, ressaltam-se dificuldades de relaci- de desempenhar no bullying ajuda-os na identificação e os
onamento e sintomas de depressão que podem seguir a pessoa mobiliza para a busca de ações com vistas a soluções;
pela vida.  Formação dos alunos. Ressalta-se aqui a importância de não
Para os agressores, também se coloca a questão do baixo se cair na armadilha dos discursos moralistas e paternalistas.
rendimento escolar, em função de seu distanciamento dos objeti- Além dos conhecimentos específicos sobre o bullying, como
vos da escola, e a supervalorização da violência como forma de os apontados para os pais, é preciso enfatizar uma formação
obter poder (Fante, 2005). Ainda com referência aos agressores, voltada para a promoção de valores que são incompatíveis
vários estudos confirmam a ideia de que é de se prever que os com as práticas de violência; Instituição de um canal claro e
jovens que são agressivos com os seus pares (os bullies) correm eficiente de fala e de escuta, que promova o relato de vítimas
um risco claramente maior de mais tarde se envolverem em ou- sobre suas experiências de bullying; Melhorias e diversificação
tros problemas, tais como a criminalidade, o uso de drogas ou o dos espaços físicos;
comportamento agressivo em família. Trata-se, portanto, de um  Atuação nos locais de recreio (com chuva, sem chuva) e nas
problema social grave que extravasa o âmbito escolar e pessoal. atividades extraclasse (ludoteca, informática, esportes etc.),
As testemunhas do bullying que, como já dissemos, embora não trabalhando as preferências dos alunos;
estejam diretamente envolvidas, também sofrem danos, especi-  Promoção da melhoria da qualidade do ensino e das avalia-
almente pela convivência em um clima escolar em que as relações ções; Promoção de atividades que exijam cooperação; Aten-
interpessoais se deterioram e em que a tensão é constante. dimento aos alunos envolvidos em bullying, se necessário. Pa-
Estudos recentes (Fortinos, 2006; Debarbieux, 2001) sobre o ra os ‘alunos-alvos’, é importante planejar atividades capazes
meio ou o ambiente escolar mostram a relação entre bullying e de promover: elevação da autoestima, desenvolvimento da
‘clima escolar’, de modo a descartar a possibilidade de isenção da comunicação e das habilidades sociais, assertividade e com-
escola no que diz respeito à participação na produção e na ma- portamentos adequados ao enfrentamento da situação. Para
nutenção da violência. De acordo com Freire, Simão e Ferreira os autores, são importantes as atividades que promovam con-
(2006), nas últimas décadas, a investigação tem-se centrado cada trole das emoções, respeito aos colegas, aceitação das dife-
vez mais em fatores ligados à escola no sentido de se compreen- renças e dos diferentes e análise das consequências dos atos
de violência;

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 Construção partilhada do Projeto Político Pedagógico. Garan- Nessa contradição existente no seu interior, está a possibili-
tir a participação de toda a comunidade escolar; dade da mudança, haja vista as lutas que aí são travadas. Portan-
 Construção partilhada de normas que devem reger a escola, to, pensar a função social da escola implica repensar o seu pró-
em todos os níveis, de forma a conduzir o estabelecimento de prio papel, sua organização e os atores que a compõem. Para
pactos de convivência na escola; desenvolvimento de conteú- Petitat (1994), a escola contribui para a reprodução da ordem
do que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes para social. No entanto, ela também participa de sua transformação, às
incrementar valores que se oponham à violência (lei n. vezes intencionalmente. Outras vezes, as mudanças se dão, ape-
11.525/07). sar da escola. Nesse contexto, o dirigente escolar, o professor, os
pais de alunos e a comunidade em geral precisam entender que a
3.4.2 O PAPEL DA ESCOLA escola é um espaço contraditório e, portanto, se torna fundamen-
tal que ela construa seu Projeto Político-Pedagógico.
Ao discutirmos a função social da educação e da escola, es- Cabe ressaltar, nessa direção, que qualquer ato pedagógico é
tamos entendendo a educação no seu sentido ampliado, ou seja, um ato dotado de sentido e se vincula a determinadas concep-
enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os ções (autoritárias ou democráticas), que podem estar explícitas ou
homens estabelecem entre si, nas diversas instituições e movi- não. Assim, pensar a função social da educação e da escola impli-
mentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas ca problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos
relações. a escola que queremos. Nesse processo, a articulação entre os
O homem, no processo de transformação da natureza, instau- diversos segmentos que compõem a escola e a criação de espa-
ra leis que regem a sua convivência com os demais grupos, cria ços e mecanismos de participação são prerrogativas fundamen-
estruturas sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à tais para o exercício do jogo democrático, na construção de um
medida que se vai constituindo em locus de formação humana. processo de gestão democrática.
Nesse sentido, a escola, enquanto criação do homem, só se justi-
fica e se legitima diante da sociedade, ao cumprir a finalidade 3.4.3 A ESCOLHA DA PROFISSÃO
para a qual foi criada.
Assim, a escola, no desempenho de sua função social de for- Quando ao adolescente é solicitado que faça uma escolha
madora de sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabili- profissional, isto é, que eleja uma determinada profissão para
dade que possibilite a construção e a socialização do conheci- exercer, esta escolha não é feita isoladamente, ela é determinada
mento produzido, tendo em vista que esse conhecimento não é por uma série de fatores. Ao escolher um caminho profissional a
dado a priori. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza seguir, o sujeito elege não só o que quer fazer, mas também
como processo em construção. A educação, como prática social quem ele quer ser. A escolha profissional está intimamente ligada
que se desenvolve nas relações estabelecidas entre os grupos, ao projeto pessoal. Assim, é importante que o jovem esteja cons-
seja na escola ou em outras esferas da vida social, se caracteriza ciente de quem ele é e do que deseja para si ao elaborar o seu
como campo social de disputa hegemônica, disputa essa que se projeto de vida.
dá "na perspectiva de articular as concepções, a organização dos O termo ‚projeto‛ vem do latim ‚projectare‛, que significa
processos e dos conteúdos educativos na escola e, Políticas e ‚lançar à frente‛, e remete a um sentido de ação, ou de um pro-
Gestão na Educação 3 mais amplamente, nas diferentes esferas pósito de realizar algo no futuro (Rodríguez-Moreno, 2005). De
da vida social, aos interesses de classes" (FRIGOTTO, 1999, p. 25). acordo com Guichard (1993), o projeto está inserido em uma
Assim, a educação se constitui numa atividade humana e his- perspectiva temporal, em que o futuro é a parte essencial. Entre-
tórica que se define na totalidade das relações sociais. Nessa tanto, é a relação entre o passado, o presente e o futuro desejado
ótica, as relações sociais desenvolvidas nas diferentes esferas da que caracterizam o projeto. Ou seja, é através de uma releitura e
vida social, inclusive no trabalho, constituem-se em processos reinterpretação dos fatos passados e das atualidades do presente
educativos, assim como os processos educativos desenvolvidos que se pode determinar um futuro, o futuro que o indivíduo
na escola consistem em processos de trabalho, desde que este deseja alcançar para si.
seja entendido como ação e criação humanas. É certo que vários fatores influenciam na construção de um
Contudo, na forma como se opera o modo de produção capi- projeto de futuro. Porém a escola, pelo fato de ser o lugar onde o
talista, a sociedade não se apresenta enquanto totalidade, mas é adolescente passa grande parte do seu tempo, constitui-se como
compreendida a partir de diversos fatores que interagem entre si um meio de forte influência tanto no seu desenvolvimento voca-
e se sobrepõem de forma isolada. Nessa perspectiva, "a educação cional (Patton e McMahon, 1999), como na sua socialização e na
e a formação humana terão como sujeito definidor as necessida- formação da sua personalidade (Groisman e Kusnetzoff, 1984),
des, as demandas do processo de acumulação de capital sob as aspectos que contribuem de forma fundamental na construção
diferentes formas históricas de sociabilidade que assumem" (FRI- do projeto de vida.
GOTTO, 1999, p. 30), e não o desenvolvimento de potencialidades Neste sentido, Bohoslavsky concorda ao postular que: Rece-
e a apropriação dos conhecimentos culturais, políticos, filosóficos, ber a instrumentação, a formação e o enriquecimento necessários
historicamente produzidos pelos homens. Segundo Frigotto para exercer uma ocupação produtiva dentro da comunidade, e
(1999), a escola é uma instituição social que, mediante sua prática deixar de ocupar um papel fundamentalmente receptivo, é a
no campo do conhecimento, dos valores, atitudes e, mesmo por função primordial – nem sempre assumida – da educação siste-
sua desqualificação, articula determinados interesses e desarticula mática (1998, p. 27).
outros. Assim, mais do que um meio de reprodução social que prepa-
ra o estudante apenas para seguir determinados papéis, a insti-
tuição escolar tem por dever proporcionar a reflexão acerca dos
papéis que o indivíduo exerce na vida e das diversas influências

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externas que interferem na elaboração de um projeto. ‚Nenhum Os principais objetivos da educação para a carreira são, se-
projeto é elaborado no vazio‛, assegura Fonseca (1994, p. 58), o gundo Rodríguez e Figuera (1995), que o aluno possa:
que significa que todo o mundo à volta, todo o contexto ao qual
o adolescente pertence precisa ser observado. Nas sociedades I. alcançar uma consciência realista de si mesmo.
contemporâneas os jovens enfrentam uma dilemática na constru- II. estar ciente das oportunidades oferecidas pelo mundo labo-
ção de seus projetos: por um lado multiplicam-se as oportunida- ral.
des existentes, por outro, a competitividade e a concorrência III. compreender o momento econômico em que vive, estando
entre essas oportunidades tornam-se cada vez mais acirradas. preparado para as transformações aceleradas do mundo do
Neste contexto, importa que os projetos sejam realistas e fle- trabalho e da sociedade
xíveis. Segundo Gama (2003), realistas porque implicam maturi- IV. aprender a escolher e a tomar decisões
dade, assim como o conhecimento de si e do mundo; flexíveis V. adquirir as competências necessárias para conseguir um tra-
porque devem adaptar-se às mudanças, por vezes bem rápidas, balho. Uma forma de intervir em educação para a carreira é
que o mundo de hoje impõe: Não é invulgar encontrar alunos através da ‚infusão curricular‛, ou seja, incorporar às ativida-
que alimentam aspirações que um bom observador externo clas- des diárias de todas as disciplinas a ênfase no desenvolvimen-
sifica rapidamente de irrealistas, uma vez que são de concretiza- to de carreira (Pérez, 2005).
ção muito difícil ou se encontram acima das reais possibilidades
dos jovens. Para este fim, cabe aos professores abordar em suas discipli-
Daí a necessidade de se construírem projetos que sejam ade- nas as relações entre os conteúdos que ensinam, sua utilidade e
quados às características dos alunos, elas próprias em processo aplicação prática no mundo do trabalho (Pérez, 2005; Rodríguez,
de evolução, e às oportunidades que o meio proporciona, opor- 1988; Rodríguez e Figuera, 1995), desenvolvendo competências
tunidades estas, que os indivíduos não têm que aceitar de forma ligadas ao trabalho, assim como o conhecimento das oportuni-
acrítica e que podem tentar transformar (Gama, 2003, p. 41). dades educativas e profissionais e atribuindo significado aos
É importante que o jovem tenha em mente que há uma reali- conteúdos a serem relacionados à vida cotidiana presente e futu-
dade que envolve a emergência do projeto e que esta nem sem- ra dos aluno.
pre levará apenas ao prazer, pois as vontades têm limites, o que, O professor pode aproveitar as possibilidades oferecidas pe-
muitas vezes, pode gerar frustrações (Fonseca, 1994). Daí a im- los diversos temas incluídos no conteúdo programático da sua
portância da construção de um projeto flexível. A orientação disciplina para pôr em prática atividades que justifiquem a aplica-
vocacional, inserida no contexto escolar, permite a reflexão acerca bilidade desses conteúdos, como por exemplo através de discus-
das escolhas que se deve fazer, contribuindo não só para a elabo- sões a respeito das profissões relacionadas à matéria que leciona.
ração do projeto de vida do adolescente, mas também para clari- É importante que o professor tenha consciência do seu papel
ficar o sentido da escola e o valor dos estudos. Conforme Fonseca no desenvolvimento e na formação dos seus alunos, de modo
(1994), é através da percepção clara do sentido e da utilidade dos que ele se mostre aberto a colaborar nesse processo. Entretanto,
estudos e da aprendizagem escolar que se torna possível constru- para que o professor se sinta apto a atuar na educação para a
ir um projeto de vida. Podem colaborar neste sentido, em âmbito carreira, não se pode deixar de lado a formação que ele deve ter,
escolar, tanto os professores – através da educação para a carrei- de forma a capacitá-lo para este tipo de trabalho.
ra – como os profissionais de orientação.
O movimento da educação para a carreira surge, primeira- 3.4.4 TRANSTORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA
mente, nos Estados Unidos na década de setenta, em meio a um
período de recessão, devido ao forte aumento do desemprego Os transtornos alimentares são caracterizados quando os há-
ocorrido a partir da década de sessenta. O que se apresentava era bitos alimentares interferem na saúde física e mental de uma
um número cada vez maior de indivíduos deixando o sistema pessoa, dificultando suas relações pessoais e até profissionais.
educativo sem as competências necessárias requeridas para As causas desses transtornos são diversas e difíceis de serem
adaptarem-se ao mercado de trabalho e um sistema educacional mensuradas. Pode ser uma predisposição genética ou até mesmo
não ajustado às mudanças. Logo, formavam-se indivíduos com uma vontade muito grande de se encaixar nos padrões estéticos
baixas qualificações para o mercado laboral e estudantes que não do mundo da moda ou de pessoas famosas.
compreendiam a relação entre aquilo que aprendiam e o que A Organização Mundial de Saúde só considera como trans-
utilizariam fora da escola (Montané e Martinez, 1994). tornos alimentares a anorexia e a bulimia, uma vez que é extre-
Diante destas condições, uniram-se esforços para adotar mo- mamente difícil concluir a causa de transtornos como esses. A
delos de intervenção a fim de solucionar a ‚desarmonia‛ existente anorexia, bulimia, obesidade, vigorexia e ortorexia, foram descri-
entre o sistema escolar e o mundo do trabalho, bem como de tas desde o antigo Egito e se tornam cada mais comuns na nossa
resolver a falta de motivação dos jovens em aprender e o seu sociedade atual. Apesar de serem distúrbios da imagem, elas
desconhecimento do mundo profissional. possuem algumas diferenças. Obesidade, é um distúrbio caracte-
A educação para a carreira trata-se, então, de um programa rizado pelo excesso de peso no indivíduo. Este, alimentando-se
que visa estimular o desenvolvimento da identidade ocupacional indiscriminadamente, adquire um peso muito acima do previsto
dos estudantes, desde o início da escolarização, através de estra- para a sua altura, idade e sexo e desenvolve, a partir daí, outras
tégias educacionais. Segundo a definição de Hoyt (1995, citado complicações na sua saúde física e mental como: altas taxas de
por Pérez, 2005), a educação para a carreira seria o esforço total colesterol e glicose no sangue, problemas de circulação, cardíacos
da educação pública e da comunidade em auxiliar o estudante a e respiratórios, baixa auto-estima, depressão, etc.
familiarizar-se com os valores ocupacionais, implementando-os
em suas vidas, de forma que o trabalho seja significativo e satisfa-
tório para o indivíduo.

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Na maioria dos casos o indivíduo tem consciência do proble- A comunidade local se organiza como sociedade civil para
ma que adquiriu, por ser muito aparente, mas sofre preconceitos exercer direitos e deveres, enquanto o sistema de ensino repre-
e piadinhas, o que dificulta a sua ida a um médico. É uma doença senta o poder público que, em um Estado democrático de direito,
perigosa e que tem atingido uma grande quantidade de pessoas, tem obrigação de cobrar deveres e garantir o exercício da cida-
na maioria dos casos por falta de balanceamento na alimentação dania também pela oferta de serviços sociais a toda a população.
e de atividades físicas. No mundo globalizado e complexo em que vivemos, as rela-
O paciente anoréxico tem uma distorção grave do seu corpo ções entre setores, instituições e atores sociais estão muito imbri-
sempre se achando mais gordo do que realmente é e, por isso, cadas. Fica cada vez mais difícil entender os problemas educacio-
para de comer ou come muito pouco. Já os bulímicos não possu- nais apontando apenas para as dificuldades originadas fora da
em uma distorção tão grave da imagem corporal; gostam de escola ou somente pelos processos internos a ela. Se, por um
comer muito, mas não querem engordar. Dessa maneira, procu- lado, não podemos desconsiderar a influência da situação socioe-
ram aliviar a culpa de um ataque compulsivo provocando vômitos conômica, da violência, das mudanças de costumes sobre o com-
ou tomando laxantes e diuréticos. portamento e desempenho dos alunos, por outro, não podemos
A ortorexia é a obsessão por alimentos biologicamente puros, admitir que a escola se transforme numa agência de assistência
por uma alimentação saudável, enquanto a vigorexia é a obses- social e negligencie sua função específica de zelar pela aprendi-
são por um corpo perfeito. Esta última tem atingido mais aos zagem escolar.
jovens do sexo masculino, os quais, para atingir tal objetivo, aca- É recomendável optar por uma abordagem relacional entre
bam por utilizar suplementos alimentares e esteróides, associados educação e contexto social. Sempre com foco nos processos de
a uma atividade física intensa. ensino-aprendizagem, enxergamos as relações professor-aluno
A ortorexia, apesar de ainda pouco conhecida, é preocupante, em uma perspectiva ampliada que considera a cadeia de relações
pois ameaça a saúde do corpo e a saúde mental e emocional das que está por trás e entre esses dois atores, conforme sugere o
pessoas. A preocupação exagerada com o que irá comer desvia a esquema da página seguinte.
maior preocupação, que deveria ser com a saúde do corpo. Podemos dizer que a relação entre escola e família está pre-
Apesar da OMS só considerar esses transtornos, é sabido que sente, de forma compulsória, desde o momento em que a criança
o universo de desvios de comportamento envolvendo os hábitos é matriculada no estabelecimento de ensino. De maneira direta
alimentares é enorme e geralmente atingem os adolescentes e ou indireta, essa relação continua viva e atuante na intimidade da
jovens. Por isso importante e a conscientização, bem como o sala de aula. Assim, sempre que a escola se perguntar o que fazer
trabalho preventivo e diagnóstico da comunidade escolar sobre para apoiar os professores na relação com os alunos, provavel-
esses transtornos e os encaminhamentos necessários, caso sejam mente surgirá a necessidade de alguma interação com as famílias.
identificados grupos de risco.
3.4.6 ESCOLHAS SEXUAIS.
3.4.5 FAMÍLIA
A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no
No mundo familiar as crianças são filhos; no mundo escolar currículo das escolas de primeiro e segundo graus tem se intensi-
elas são alunos. A passagem de filho a aluno não é uma operação ficado a partir da década de 70, por ser considerada importante
automática e, dependendo da distância entre o universo familiar na formação global do indivíduo. Com diferentes enfoques e
e o escolar, ela pode ser traumática. Dentro da escola, o respon- ênfases há registros de discussões e de trabalhos em escolas
sável direto pela condução dos alunos é o professor, um adulto desde a década de 20. A retomada contemporânea dessa questão
que também passou por um processo de formação para alcançar deu-se juntamente com os movimentos sociais que se propu-
a condição de profissional da educação. nham, com a abertura política, a repensar sobre o papel da escola
As crianças que chegam à escola são membros-dependentes e dos conteúdos por ela trabalhados. Mesmo assim não foram
de um núcleo familiar que lhes dá um nome e um lugar no mun- muitas as iniciativas tanto na rede pública como na rede privada
do. Os professores, conectados ou não com o lugar social deste de ensino.
aluno, têm como principal função garantir o direito educacional A partir de meados dos anos 80, a demanda por trabalhos na
de cada menino e menina, guiando-se pelas diretrizes do siste- área da sexualidade nas escolas aumentou devido à preocupação
ma/estabelecimento de ensino com o qual tem vínculo de traba- dos educadores com o grande crescimento da gravidez indeseja-
lho. O conjunto de professores, funcionários, coordenadores da entre as adolescentes e com o risco da contaminação pelo HIV
pedagógicos, diretores escolares e familiares configura uma co- (vírus da AIDS1 ) entre os jovens. A princípio, acreditava-se que as
munidade escolar, que tem funções deliberativas sobre vários famílias apresentavam resistência à abordagem dessas questões
aspectos do projeto da escola. no âmbito escolar, mas atualmente sabe-se que os pais reivindi-
As famílias estão inseridas em uma comunidade, localizada cam a orientação sexual nas escolas, pois reconhecem não só a
em determinado território, com seus costumes, valores e histórias sua importância para crianças e jovens, como também a dificul-
a que chamaremos de contexto social. As escolas fazem parte de dade de falar abertamente sobre esse assunto em casa. Uma
um sistema ou rede de ensino, sob coordenação da Secretaria pesquisa do Instituto DataFolha, realizada em dez capitais brasi-
Municipal de Educação, que compartilha um mesmo marco regu- leiras e divulgada em junho de 1993, constatou que 86% das
latório (leis, decretos, atos normativos do Conselho Nacional de pessoas ouvidas eram favoráveis à inclusão de Orientação Sexual
Educação etc.) com as Secretarias de Estado e o Ministério da nos currículos escolares.
Educação. A essas relações denominaremos contexto institucio- As manifestações de sexualidade afloram em todas as faixas
nal. etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas mais habitu-
ais dadas pelos profissionais da escola. Essas práticas se funda-
mentam na ideia de que o tema deva ser tratado exclusivamente

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pela família. De fato, toda família realiza a educação sexual de
suas crianças e jovens, mesmo aquelas que nunca falam aberta-
mente sobre isso. O comportamento dos pais entre si, na relação 31. Quanto ao behaviorismo não é correto afirmar:
com os filhos, no tipo de ‚cuidados‛ recomendados, nas expres- A) Um importante estudioso da teoria behaviorista, John B. Wat-
SÕes, gestos e proibições que estabelecem são carregados de son, postulava o comportamento como o objeto de estudo da
Determinados valores associados à sexualidade que a criança Psicologia.
Apreende. B) A tendência Funcionalista constitui o estudo do comporta-
O fato de a família ter valores conservadores, liberais ou pro- mento como função de certas variáveis do meio, de acordo
Gressistas, professar alguma crença religiosa ou não e a forma com o behaviorismo.
Como o faz determina em grande parte a educação das crianças. C) O comportamento, na abordagem behaviorista, só pode ser
Pode-se afirmar que é no espaço privado, portanto, que a criança estudado enquanto processo psicológico observável e mensu-
REcebe com maior intensidade as noções a partir das quais cons- rável.
TRuirá sua sexualidade na infância. D) O processo de aprendizagem ocorre por meio de insights.
A criança também sofre influências de muitas outras fontes: E) O reforço positivo imediato é colocado por Skiner como um
De livros, da escola, de pessoas que não pertencem à sua família dos principais elementos do processo de aprendizagem.
E, principalmente, nos dias de hoje, da mídia. Essas fontes atuam
De maneira decisiva na formação sexual de crianças, jovens e 32. Conforme Barbosa, o ___________ representado pelas ideias
Adultos. A TV veicula propaganda, filmes e novelas intensamente de H. Wallon e de Vygostky afirma que o conhecimento é
ERotizados. Isso gera excitação e um incremento na ansiedade construído socialmente, a partir das possibilidades de in-
RElacionada às curiosidades e fantasias sexuais da criança. Há terações entre os sujeitos e o ambiente físico e social onde
Programas jornalísticos/científicos e campanhas de prevenção à estão inseridos.
AIDS que enfocam a sexualidade, veiculando informações dirigi-
Das a um público adulto. As crianças também os assistem, mas A alternativa que preenche corretamente a lacuna do tre-
Não podem compreender por completo o significado dessas cho acima é:
Mensagens e muitas vezes constroem conceitos e explicações A) construtivismo
ERrôneas e fantasiosas sobre a sexualidade. B) behaviorismo
Todas essas questões são trazidas pelos alunos para dentro C) cognitivismo
Da escola. Cabe a ela desenvolver ação crítica, reflexiva e educati- D) humanismo
VA. E) socioconstrutivismo
Se a escola que se deseja deve ter uma visão integrada das
EXperiências vividas pelos alunos, buscando desenvolver o prazer 33. A teoria da aprendizagem que se refere à hereditariedade
Pelo conhecimento, é necessário que ela reconheça que desem- do sujeito e afirma que suas características são determi-
nadas desde o seu nascimento, é a denominada
Penha um papel importante na educação para uma sexualidade
A) cognitivismo.
LIgada à vida, à saúde, ao prazer e ao bem-estar, que integra as
B) empirismo.
DIversas dimensões do ser humano envolvidas nesse aspecto. O
C) inatismo.
TRabalho sistemático e sistematizado de Orientação Sexual den-
D) behaviorismo.
tro Da escola articula-se, portanto, com a promoção da saúde das
E) interacionismo.
CRianças e dos adolescentes.
A existência desse trabalho possibilita também a realização de
34. É uma das correntes teóricas empenhadas em explicar
AÇões preventivas às doenças sexualmente transmissíveis/AIDS
como a inteligência humana se desenvolve, partindo do
de FOrma mais eficaz. Diversos estudos já demonstraram os par-
princípio de que o desenvolvimento da inteligência é de-
cos REsultados obtidos por trabalhos esporádicos sobre a ques-
terminado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio,
tão. INúmeras pesquisas apontam também que apenas a infor- ou seja, é uma concepção que entende o homem como
mação Não é suficiente para possibilitar a adoção de comporta- um ser que não nasce inteligente, mas também não é pas-
mentos Preventivos. sivo sob a influência do meio, tendo em vista que este
mesmo homem responde aos estímulos externos para
posteriormente agir sobre eles, justamente para construir
BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO:
e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada
- BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros vez mais elaborada.
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fun-
damental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Este conceito se refere ao:
Brasília: MEC/SEF, 1998. A) Behaviorismo.
- CASTRO, Jane Margareth Castro e Marilza Regattieri B) Cognitivismo.
(org.).Interação escola-família: subsídios para práticas escola- C) Humanismo.
res.. – Brasília : UNESCO, MEC, 2009. 104 p. D) Marxismo.
- LA TAILLE, Yves de, OLIVEIRA, Marta Kohl de, DANTAS, He- E) Construtivismo.
loysa. 1992. Piaget, Vygotsky, Wallon – teorias psicogenéticas
em discussão. São Paulo: Summus. 35. Uma teoria de aprendizagem é uma tentativa de interpre-
- SILVA, T. T. Identidades terminais: as transformações na políti- tar e sistematizar a área do conhecimento da aprendiza-
ca da pedagogia e na pedagogia da política. Petrópolis: Vo- gem e representa o ponto de vista de um pesquisador
zes, 1996. que, ao construir sua teoria, indica o que é e como funcio-

PÁG.30
na o processo de construção da aprendizagem. Nesse con- A) 9 aos 14 anos, com o desenvolvimento de um egocentrismo
texto, assinale a alternativa que APRESENTA teorias de intelectual e social.
aprendizagem. B) 7 aos 11 ou 12 anos com o início da construção lógica, ou
A) Comportamentalismo, Cognitivismo e Humanismo. seja, a capacidade da criança estabelecer relações que permi-
B) Humanismo, Cognitivismo e Construtivismo. tam a coordenação de pontos de vista diferentes.
C) Behaviorismo, Comportamentalismo e Cognitivismo. C) 6 aos 10 anos, quando deixa de ter dificuldade para realizar as
D) Construtivismo, Behaviorismo e Liberalismo. operações no plano das ideias sem necessitar de manipulação
E) Comportamentalismo, Behaviorismo e Associacionismo. ou referências concretas.
D) 10 aos 14 anos, quando é capaz de abstrair e generalizar,
36. Analise o texto abaixo: criando teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspec-
Os estudos epistemológicos de________ demonstravam que tos que gostaria de modificar.
tanto as ações externas, quanto os processos de pensamento E) 4 aos 7 anos, com o aparecimento da linguagem, incremen-
implicam uma organização lógica. Ele buscava conjugar duas tando a comunicação e a interação com os demais.
variáveis - o lógico e o biológico – numa única teoria e, com
isso, apresentar uma solução ao problema do conhecimento 41. A distância entre o que a criança já se sabe e o que se
humano. pode saber com alguma assistência é denominada por
Vygotsky de:
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna do A) Zona de desenvolvimento real.
texto. B) Zona de desenvolvimento potencial.
A) Wallon C) Zona de desenvolvimento exponencial.
B) D) Zona de desenvolvimento proximal.
C)
D) 42. Dentre as teorias abaixo, marque a opção que correspon-
E) de à teoria de aprendizagem segundo Lev Vygotsky.
A) A aprendizagem é uma experiência social, a qual é mediada
37. Os conceitos de Assimilação e Acomodação foram contri- pela interação entre a linguagem e a ação.
buições de qual teórico? B) A criança responde às impressões que as coisas lhe causam
A) Jean Piaget. com gestos dirigidos a elas.
B) Jean Jaques Rousseau. C) Equilibração é o processo da passagem de uma situação de
C) Sigmund Freud. menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio.
D) Karl Marx. D) Os comportamentos são obtidos punindo o comportamento
E) Adam Smith. não desejado e reforçando ou incentivando o comportamento
desejado com um estímulo, repetido até que ele se torne au-
38. De acordo com Piaget, a criança age sobre os objetos do tomático.
ambiente para conhecê-los por meio de alguma base de
conhecimento que já possua. A esse processo de utilizar 43. “Vygotsky deu início a uma discussão inteiramente nova
um esquema que já existe e aplicá-lo a uma nova situação, não só em relação à aprendizagem, mas também no que
Piaget chama de: se refere ao desenvolvimento e às funções do ensino”. As-
A) Equilibração sinale a alternativa INCORRETA:
B) Assimilação A) Vygotsky defende que não existe um único nível de desenvol-
C) Acomodação vimento, mas sim dois: o nível de desenvolvimento potencial e
D) Esquematização a zona de desenvolvimento proximal.
B) Vygotsky estabeleceu as bases para uma nova compreensão
39. Segundo Piaget, o pensamento infantil passa por quatro da relação entre o sujeito psicológico e o contexto histórico,
estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, que resgata o sentido subjetivo e pessoal do homem.
quando a capacidade plena de raciocínio é atingida. Se-
C) Vygotsky considerava que os processos psicológicos inferiores
gundo ele:
e superiores humanos constituem-se em atividades mediadas
A) A criança constrói conhecimento somente na interação com
pela linguagem, estruturadas em sistemas funcionais, dinâmi-
outras crianças.
cos e historicamente imutáveis.
B) O aprendizado da criança não está relacionado com a intera-
D) Vygotsky não nega a existência de uma relação entre deter-
ção da criança com o meio.
minado nível de desenvolvimento e capacidade potencial de
C) O ensino só se efetiva mediante a avaliação.
aprendizagem dos alunos, o que significa obviamente que a
D) A criança constrói o conhecimento a partir de suas descober-
aprendizagem deve se dar de forma coerente com o nível de
tas quando em contato com o mundo e com os objetos.
desenvolvimento do aluno.
E) O processo de ensino/aprendizagem deve ser um processo
rigoroso, centrado no professor.
44. Na psicogenética de Henri Walon, a dimensão afetiva
ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da constru-
40. O modelo piagetiano do desenvolvimento humano pro- ção da pessoa quanto do conhecimento. Ambos se iniciam
põe períodos que são caracterizados pelo aparecimento num período que se estende ao longo do primeiro ano de
de novas qualidades do pensamento, interferindo no de- vida e que o autor denomina de
senvolvimento global. O período de operações concretas
se dá dos

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A) cognitivo-emocional. 48. Gardner (1995) afirma que, no desenvolvimento das múl-
B) afetivo-compulsivo. tiplas inteligências, nenhuma criança é uma esponja passi-
C) impulsivo-cognitivo. va que absorve o que lhe é apresentado. Portanto, com
D) impulsivo-emocional. base nessa teoria, qual dos tipos de inteligências defendi-
E) afetivo-cognitivo. das pelo autor corresponde à seguinte descrição: revela-se
através do poder do relacionamento com os outros e na
45. De acordo com Heloysa Dantas in La Taille (1992), a afeti- sensibilidade para a identificação de suas intenções, suas
vidade não é apenas uma das dimensões da pessoa, ela motivações e sua auto-estima.
prepondera em uma fase do desenvolvimento. Para Wal- A) Espacial
lon, em qual momento do desenvolvimento humano a B) Interpessoal
afetividade prevalece em relação à razão? C) Cinestésica-corporal
A) Na fase adulta, quando a pessoa necessita usar a afetividade D) Naturalística ou biológica
para tomar decisões sobre seu futuro e suas relações. E) Intrapessoal
B) No seu momento inicial, logo que o indivíduo sai da vida
puramente orgânica, e que suas ações são puramente emoci- 49. A escola pública de antigamente era seletiva e organizada
onais. para receber os filhos das famílias estruturadas e das ca-
C) No início da adolescência, quando o sujeito utiliza a afetivida- madas média e alta da sociedade. As escolas públicas de
hoje são inclusivas por receber um grande contingente de
de como instrumento para lidar com as diferenças.
crianças de baixo poder aquisitivo e uma clientela bastan-
D) Na etapa em que, já idoso, o indivíduo passa a usar mais
te diversificada. Esta realidade impõe às escolas e aos pro-
afetividade recordando fatos do assado.
fessores a exigência de repensar os objetivos e conteúdos
E) Na fase final da infância, quando a criança usa da afetividade de ensino no sentido de proporcionar:
para conseguir atenção de pais e professores. A) a transmissão do conhecimento que fortalece o senso comum
e os conhecimentos prévios, como resultado do ensino.
46. Conforme ANTUNES, a teoria das inteligências múltiplas,
B) a transformação da sociedade brasileira, função social da
desenvolvida por Gardner, possui atualmente milhares de
educação escolar.
adeptos no mundo inteiro. Em relação a essa teoria, é
CORRETO afirmar que: C) a manutenção dos valores que circulam na sociedade burgue-
A) Atua de forma a integrar as diferentes inteligências, porém sa.
não é possível direcionar estratégias e jogos para aguça-las. D) uma educação que tenha significado na vida dessa população
B) Engloba apenas oito inteligências, dentre elas: linguística, de modo a prepará-la para participar da vida social que per-
lógico-matemática, espacial, sonora, cinestésico-corporal, na- mita o exercício ativo da cidadania.
turalista, intra e interpessoal. E) o acesso de todas as camadas da população, sem preocupar-
C) Consiste em um método pedagógico com a adoção de práti- se com objetivos educacionais.
cas restritas, como jogos e exercícios com função instrucional.
50. O projeto educativo docente precisa ter, também, a di-
D) É um novo paradigma de compreensão do ser humano que
mensão do presente, em função de planejar/projetar o su-
abandona sua avaliação através de sistemas limitados e per-
cesso escolar de sua turma. Daí a importância do profes-
cebe-o com acentuada amplitude.
sor procurar conhecer tão profundamente quanto possí-
vel:
47. Muito embora o discurso pedagógico use a caracterização
A) Quem são os seus alunos, como vivem e o que fazem.
de “indivíduos inteligentes ou pouco inteligentes”, já se
B) Os alunos indisciplinados por meio do docente da turma
afasta o conceito de uma inteligência única e geral e ga-
anterior, a fim de desenvolver ações com os estudantes inte-
nha espaço a convicção de Howard Gardner, e de uma
grande equipe da Universidade de Harvard, de que o ser ressados.
humano é dotado de inteligências múltiplas. Assim sendo, C) Os pais que não acompanham os seus filhos para evitar a
com base em Gardner (1995) e sua teoria sobre as inteli- renovação da matrícula.
gências múltiplas, o que é aprendizagem? D) Os alunos bem sucedidos e investir em seus processos evolu-
A) É a modificação sistemática do comportamento, em caso de tivos.
repetição da mesma situação estimulante ou na dependência E) Os alunos com problemas familiares, exclusivamente, criando
da experiência anterior com dada situação. estratégias para evoluírem cognitivamente.
B) É composta por automotivação, empatia e habilidade de soci-
alização que influenciam na tomada de decisão.
C) É a transformação de um esquema de ação, de natureza sen-
sório-motora ou cognitivo-relacional, cuja tendência compen-
satória de acomodação aos objetos – quando estes resistem à
assimilação – se dá após o êxito da ação.
D) É o desenvolvimento do controle emocional, do domínio dos
impulsos, tolerando frustrações com otimismo, auto-estima e
de modo empático e eficaz. e. É uma mudança relativamente
permanente no comportamento, pois a criança nasce com a
habilidade para aprender, mas a aprendizagem, em si, ocorre
com a experiência, através de estímulos.

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4. TEORIAS DO CURRÍCULO. A centralidade está, portanto, no conhecimento legitimado
como formativo. Aqui começa a importância e complexidade
política e pedagógica do currículo.
Nunca se constatou na história da educação uma tamanha
importância atribuída às políticas e propostas curriculares, diria
4.1 ACESSO, PERMANÊNCIA E SUCESSO DO ALUNO NA ES-
mesmo, um tamanho empoderamento do currículo enquanto
COLA.
definidor dos processos formativos e educacionais e suas con-
cepções. No Brasil não é diferente.
A história da educação pública, enquanto demanda social, es-
Parâmetros, Parâmetros em ação, Diretrizes Curriculares, leis
tá associada à luta pela construção dos direitos sociais e huma-
específicas sobre conteúdos curriculares, fazem parte do cenário
nos, consubstanciada na luta pela construção do Estado de Direi-
contemporâneo de decisões educacionais em nosso país.
to ou Estado Social.
Se levarmos em conta o contexto de importância que o currí-
A educação pública vem sendo produzida historicamente nos
culo assume no mundo, em termos da concepção e da constru-
embates político sociais, a partir da luta em prol da ampliação, da
ção contemporânea das formações, o seu empoderamento políti-
laicidade, da gratuidade, da obrigatoriedade, da universalização
co-pedagógico, assim como a complexidade que emerge dessas
do acesso, da gestão democrática, da ampliação da jornada esco-
configurações, a explicitação reflexiva do campo curricular e da
lar, da educação de tempo integral, da garantia de padrão de
noção de currículo, no sentido de distinguir histórica e conceitu-
qualidade. Esses aspectos vinculam-se à criação de condições
almente as perspectivas e as práticas, se torna uma responsabili-
para a oferta de educação pública, envolvendo a educação básica
dade formativa social e pedagógica incontestável. Junto com esse
e superior, tendo por base a concepção de educação de qualida-
compromisso, faz-se necessário trazer para esse cenário discursi-
de como direito social.
vo e elucidativo o lugar do debate e da diversidade das concep-
No Brasil, a luta pela democratização da educação tem sido
ções, sem com isso aceitar os prejuízos conceituais e político-
uma bandeira dos movimentos sociais, de longa data. Pode-se
pedagógicos causados pelas perspectivas que acolhem posições
identificar em nossa história inúmeros movimentos, gerados pela
do tipo: ‚você deve dominar e aplicar essa concepção de currículo
sociedade civil, que exigiam (e exigem) a ampliação do atendi-
porque é científica‛, ou mesmo, ‚não é preciso conceituar algo
mento educacional a parcelas cada vez mais amplas da socieda-
que é extremamente complexo‛.
de. O Estado, de sua parte, vem atendendo a essas reivindicações
Diríamos que as práticas curriculares e suas urgentes deman-
de forma muito tímida, longe da universalização esperada.
das de compreensão e interferência político-pedagógica, bem
Nas diversas instâncias do poder público – União, estados,
como a necessidade do argumento competente sobre o instituí-
Distrito Federal e municípios – pode-se perceber o esforço em
do e o instituinte desse campo, não mais legitimam reduções,
atender às demandas sociais por educação básica, porém de
pulverizações e concepções a-críticas. É urgente, avaliamos, neste
forma focalizada e restritiva. A focalização se deu na ampliação
contexto da história das perspectivas e práticas curriculares, que
significativa do acesso a apenas um dos segmentos da educação
os educadores entrem no mérito do que se configura como currí-
básica: o ensino fundamental, com o atendimento a 32.086.188
culo e saibam lidar com suas complexas e interessadas dinâmicas
estudantes (Inep, 2007).
de ação, sob pena de deixarem que os burocratas da educação
Porém, mesmo nesse segmento, há uma restrição evidente,
continuem tomando de assalto um âmbito das políticas e práticas
pois somente às crianças de seis a quatorze anos é garantida a
educacionais que hoje define, em muito, a qualidade e a natureza
oferta obrigatória do ensino fundamental. Com isso, parcelas dos
das opções formativas, na medida em que trabalha, fundamen-
jovens e adultos ficam à margem do atendimento no ensino
talmente, nas organizações educacionais, com o conjunto dos
fundamental, bem como parte das crianças de zero a seis anos,
conhecimentos e atividades eleitas como formativas. Este é o
demanda da educação infantil, e dos jovens, clientela do ensino
campo do currículo, que desejamos refletir profunda e democra-
médio, tem atendimento ainda insuficiente pelo Estado. O que
ticamente.
assume dimensão ainda mais crítica, quando se consideram os
Os tecnocratas do currículo, em geral, não sabem e pouco se
enormes desafios para garantir acesso com qualidade à educação
sensibilizam por aquilo que podemos denominar de um currículo
superior.
educativo, formativo. Ou seja, um currículo em que as intenções
É importante destacar que a democratização da educação não
formativas sejam explicitadas e se desenvolva, elucidando e com-
se limita ao acesso à instituição educativa. O acesso é, certamen-
promissando-se com uma educação cidadã. ‚Pensam‛ sempre na
te, a porta inicial para a democratização mas torna-se necessário,
arquitetura curricular, no seu desenho expresso nas antigas ‚gra-
também, garantir que todos os que ingressam na escola tenham
des‛, hoje matrizes curriculares, fixadas num documento.
condições de nela permanecer, com sucesso. Assim, a democrati-
É preciso, portanto, que a sociedade, seus grupos de fato e os
zação da educação faz-se com acesso e permanência de todos no
movimentos sociais implicados nos cenários e ações educacionais
processo educativo, dentro do qual o sucesso escolar é reflexo da
tenham a oportunidade de compreender e debater bem o currí-
qualidade. Mas somente essas três características ainda não com-
culo, num processo de democratização radical da sua discussão
pletam o sentido amplo da democratização da educação.
conceitual e da elucidação das práticas e, a partir daí, se apropri-
Se, de um lado, acesso, permanência e sucesso caracterizam-
em e construam percepções e ações de descolonização nos âmbi-
se como aspectos fundamentais da democratização e do direito à
tos das propostas Numa primeira aproximação ao conceito de
educação, de outro, o modo pelo qual essa prática social é inter-
currículo, podemos dizer que o currículo se caracteriza nas orga-
namente desenvolvida pelos sistemas de ensino e escolas torna-
nizações educacionais como o conjunto de conhecimentos esco-
se a chave mestra para o seu entendimento. Esta última faceta da
lhidos como formativos.
democratização da educação indica a necessidade de que o pro-
cesso educativo seja um espaço para o exercício democrático. E,

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para que isso aconteça, surge nova forma de conceber a gestão as formas de aferir níveis de aprendizado (ou seja, instrumentos
da educação: a gestão democrática. de avaliação, valendo ou não nota). O desenho das atividades,
É importante observar, também, que a concepção de sucesso ênfase dos conteúdos, a forma de avaliação, materiais, etc., são
escolar de uma proposta democrática de educação não se limita consequência dos objetivos de aprendizagem da disciplina. Nessa
ao desempenho do aluno. Antes, significa a garantia do direito à lógica, critérios de avaliação são documentados em formato de
educação, que implica, dentre outras coisas, uma trajetória esco- escala de proficiência, de maneira que o aluno entenda um ‚5,0‛
lar sem interrupções, o respeito ao desenvolvimento humano, à exatamente em termos do que foi aprendido adequadamente e o
diversidade e ao conhecimento. Além disso, implica a consolida- que ainda necessita maior dedicação.
ção de condições dignas de trabalho, formação e valorização dos Do ponto de vista amplo, um processo de ensino pautado em
profissionais da educação e a construção de PPP e PDI articulados gestão da aprendizagem é considerado ‚centrado no aluno‛, não
com a comunidade e demandas dos movimentos sociais. Signifi- em virtude do método de ensino em destaque, mas por permitir,
ca, também, reconhecer o peso das desigualdades sociais nos a partir do momento que desempenho acadêmico seja descrito
processos de acesso e permanência à educação e a necessidade em termos de lacunas e pontos fortes, que o aluno seja ativo na
da construção de políticas e práticas de superação desse quadro. busca de aprimoramento.
Assim, a gestão democrática pode ser considerada como meio Do ponto de vista do professor, a gestão da aprendizagem
pela qual todos os segmentos que compõem o processo educati- em sala de aula, ao mesmo tempo em que confere liberdade na
vo participam da definição dos rumos que as instituições de edu- escolha de ênfases, formatos e estilos em função do contexto,
cação básica e superior devem imprimir à educação, e da maneira realidade social, anamneses e diagnósticos, permite maior sinto-
de implementar essas decisões, em um processo contínuo de nia com as demandas institucionais e harmonização de discursos.
avaliação das ações. Cada docente devera realizar em sala o acordado e pactuado
Como elementos constitutivos dessa forma de gestão podem pela escola, em vista os documentos norteadores (DCN´s, PCN´s e
ser apontados: participação, autonomia, transparência e plurali- PPP), gerando indicadores de aprendizagem (não limitados a
dade. E, como instrumentos de sua ação, surgem as instâncias médias e reprovações) que permitam à escola prestar contas à
diretas e indiretas de deliberação, tais como conselhos escolares sociedade se o ensino que se comprometeu a entregar produziu
ou equivalentes, órgãos colegiados superiores e similares, que os efeitos almejados.
propiciem espaços de participação e de criação da identidade do São pontos que envolvem uma gestão de aprendizagem efici-
sistema de ensino e da instituição de educação básica e superior. ente:

4.2 GESTÃO DA APRENDIZAGEM. 1. Definição de objetivos de aprendizagem para os programas


de ensino.
Os programas de ensino indicam requisitos para o respectivo 2. Tradução dos objetivos de aprendizagem dos programas em
corpo docente quanto à qualificação acadêmica e/ou profissional comportamentos e conhecimentos observáveis e mensuráveis.
e práticas pedagógicas. Na perspectiva institucional, qualidade Por exemplo, ‚pensamento crítico‛ foi traduzido em habilida-
está relacionada ao grau de aquisição, pelo aluno formado, dos des tais como: construção de hipóteses, argumentação e uso
conhecimentos específicos e competências definidas nos objeti- da lógica e avaliação de evidências. A estas habilidades são
vos de aprendizagem dos programas. Em outras palavras, o indi- conferidos quatro graus de expressão de maturidade (grau 1
cador de qualidade de uma escola é o nível de aprendizado dos corresponde à inexistência ou inconsistência e grau 4 a pleno
alunos. domínio).
Ao posicionarmos aprendizagem como variável fim, atributos 3. Elaboração de avaliações com perguntas estruturadas que nos
e comportamentos de professores e alunos ou mesmo métodos permitam capturar os conhecimentos e habilidades almejados.
de ensino que tendem a ser foco de discussões pedagógicas, 4. Estabelecimento de fóruns com diretores, professores e coor-
assumidos como fatores determinantes de sucesso, passam a se denadores para discussão dos resultados desse processo e re-
tornar variáveis de ajuste de um processo construído e monitora- flexões sobre ações de cunho pedagógico e institucional com
do para aferir a eficácia dos seus vários componentes em promo- vistas à melhoria contínua do processo de ensino e aprendi-
ver aprendizado. zagem.
Esse processo se denomina gestão da aprendizagem e parte
de objetivos descritos em termos de fundamentos e habilidades, Utilizamos o termo ‚gestão da aprendizagem‛ por este en-
desenho de avaliações adequadas para mensuração de tais obje- globar aspectos como mensuração, identificação de lacunas,
tivos e critérios que vão além de certo/meio certo/errado, mas desenho de ações, estabelecimento de metas e subsequente
que apontam níveis de desenvolvimento dos alunos, bem como esforço de mobilização de pessoas para o alcance das metas.
lacunas de aprendizagem, frente aos objetivos estabelecidos. A gestão da aprendizagem envolve o exercício de comprome-
Na grande maioria das escolas, o planejamento da disciplina timento, aprimoramento, planejamento e circulação de informa-
parte do conteúdo que necessita ser coberto no período. Refle- ções para o empoderamento de todos e todas para uma gestão
xões sobre como deve ser o desenho das avaliações surgem participativa, democrática e de qualidade na escola pública.
alguns dias antes das datas no calendário. Critérios de correção
são elaborados pouco antes da correção (muitas vezes ficam na 4.3 PLANEJAMENTO E GESTÃO EDUCACIONAL.
cabeça do professor) e notas são dadas em termos quantitativos.
O aluno entende um 5,0 em termos de ‚passei‛, enquanto o A ação do gestor escolar será tão ampla ou limitada, quão
professor o entende em termos de ‚lá vai um aluno que terá ampla ou limitada for sua concepção sobre a educação, sobre a
dificuldades‛. Essa lógica é oposta à gestão da aprendizagem, na gestão escolar e o seu papel profissional na liderança e organiza-
qual primeiro se planeja fundamentos/habilidades e quais serão ção da escola. No entanto, essa concepção, por mais consistente,

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coerente e ampla que seja, de pouco valerá, caso não seja colo- Apesar da importância do planejamento, no entanto, há fortes
cada em prática mediante uma ação sistemática, de sentido glo- indícios de que as ações educacionais carecem de um processo
bal, organizada, seguramente direcionada e adequadamente de planejamento competente e apropriado para produzir planos
especificada em seus aspectos operacionais. E essas condições ou projetos com capacidade clara de orientar todos e cada mo-
somente são garantidas mediante a adoção de uma sistemática mento das ações necessárias. Observa-se haver em várias circuns-
de planejamento das ações educacionais em todos os segmentos tâncias do contexto educacional a desconsideração em relação à
de trabalho da escola. importância do planejamento para a determinação da qualidade
Isso porque sem planejamento, que organize e dê sentido e do ensino, pela organização do seu trabalho com esse foco. Essa
unidade ao trabalho, as ações tendem a ser improvisadas, aleató- desconsideração é demonstrada quando os planos são delinea-
rias, espontaneístas, imediatistas e notadamente orientadas pelo dos com uma orientação formal, de que resulta, por exemplo, que
ensaio e erro, condições que tantos prejuízos causam à educação. o Projeto Político-Pedagógico da Escola e o seu Plano de Desen-
Sem planejar, trabalha-se, mas sem direção clara e sem consis- volvimento fiquem guardados em gavetas ou armários, em vez de
tência entre as ações. Dá-se aula, mas não se promove aprendi- estarem na mesa do diretor, dos coordenadores ou supervisores
zagens efetivas; realizam-se reuniões, mas não se promove con- pedagógicos e dos professores; que até mesmo sejam desconhe-
vergência de propósitos em torno das questões debatidas; reali- cidos por profissionais que trabalham na escola; que os planos de
za-se avaliações, mas seus resultados não são utilizados para aula sejam cópias daqueles realizados em outras turmas e outros
melhorar os processos educacionais; enfrenta-se os problemas, anos letivos, isto é, ‚planeja-se‛, mas não se usa o plano resultan-
mas de forma inconsistente, reativa e sem visão de conjunto, pela te para orientar o cotidiano do trabalho escolar (ou, na pior das
falta de análise objetiva da sua expressão e da organização das hipóteses, que esses planos nem existem, por falta de acompa-
condições para superá-las. nhamento e reforço por parte do diretor escolar); que os planos
Planejar constitui-se em um processo imprescindível em todos sejam considerados como meros instrumentos burocráticos e não
os setores da atividade educacional. É uma decorrência das con- como mapas orientadores do trabalho.
dições associadas à complexidade da educação e da necessidade Ao planejar e liderar o processo de planejamento, cabe ao di-
de sua organização, assim como das intenções de promover retor escolar promover as condições para que o processo seja
mudança de condições existentes e de produção de novas situa- realizado de modo a contribuir, como é o sentido do planejamen-
ções, de forma consistente. O planejamento educacional surgiu to, para que se promova:
como uma necessidade e um método da administração para o
enfrentamento organizado dos desafios que demandam a inter-  o desenvolvimento de maior compreensão dos fundamentos
venção humana. Cabe destacar também que, assim como o con- e dos desdobramentos Dimensões da gestão escolar e suas
ceito de administração evoluiu para gestão, também o planeja- competências 35 das ações educacionais;
mento como formalidade evoluiu para instrumento dinâmico de  a construção de um quadro abrangente e com maior clareza
trabalho. sobre o conjunto dos elementos envolvidos
Planejar a educação e a sua gestão implica em delinear e tor-  em relação à situação sobre a qual se vai agir e sua relação
nar clara e entendida em seus desdobramentos, a sua intenção, com interfaces;
os seus rumos, os seus objetivos, a sua abrangência e as perspec-  uma maior consistência e coerência entre as ações educacio-
tivas de sua atuação, além de organizar, de forma articulada, nais;
todos os aspectos necessários para a sua efetivação. Para tanto, o  uma preparação prévia para a realização das ações;
planejamento envolve, antes de tudo, uma visão global e abran-  um melhor aproveitamento do tempo e dos recursos disponí-
gente sobre a natureza da Educação, da gestão escolar e suas veis;
possibilidades de ação.  uma concentração de esforço na direção dos resultados dese-
Vale dizer que as finalidades, princípios e diretrizes da educa- jados;
ção somente são promovidos, na medida em que sejam traduzi-  uma superação da tendência à ação reativa, improvisada,
dos por ações integradas, sistemáticas, organizadas e orientadas rotineira e orientada pelo ensaio e erro;
por objetivos detalhados, responsabilidades e competências  um controle e redução das hesitações, ações aleatórias e de
estabelecidas, tempo e recursos previstos e especificados. Esse ensaio e erro;
processo de planejamento resulta em um plano de ação, cujo  a formação de acordos e integração de ações;
papel é o de servir como mapa norteador da ação educacional,  a definição de responsabilidades pelas ações e seus resulta-
em vista do que deve estar continuamente sobre a mesa de tra- dos;
balho. Planos nas gavetas e que não são cotidianamente consul-  o estabelecimento de unidade e continuidade entre opera-
tados para a orientação das ações a serem realizadas e para o ções e ações, superando-se a fragmentação e mera justaposi-
monitoramento e avaliação das já realizadas, têm valor meramen- ção destas.
te formal (Lück, 2008).
Como vimos, o planejamento é inerente ao processo de ges- Quem planeja, examina e analisa dados, comparando-os crite-
tão, constituindo-se na sua primeira fase. É considerado como a riosamente, coteja-os com uma visão de conjunto, estuda limita-
mais básica, essencial e comum de suas dimensões, uma vez que ções, dificuldades e identifica possibilidades de superação das
é inerente a todas as outras, já que sem planejamento não há a mesmas. Esse processo de análise, cotejamento, dentre outros
possibilidade de promover os vários desdobramentos da gestão processos mentais, define o planejamento como um processo de
escolar, de forma articulada. reflexão diagnóstica e prospectiva mediante o qual se pondera a
realidade educacional em seus desdobramentos e se propõe
intervenções necessárias.

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4.4 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL, DE DESEMPENHO E DE curioso é que a expressão da língua inglesa accountability que
APRENDIZAGEM. implica na prática de monitoramento e avaliação, não tem cor-
respondente em português. Ela representa responsabilidade e
Verifica-se que o monitoramento e avaliação em educação, prestação de contas, combinados. O termo é traduzido ou como
embora constituam-se em processos essenciais da sua gestão, responsabilidade ou como prestação de contas, desconectando
não são práticas comuns em escolas e apenas recentemente ambos os significados, daí porque ser preferível adotar o termo
estão sendo adotados como práticas na gestão de sistemas de inglês accountability, assim como já utilizamos feedback, pelo
ensino. Aliás, estranhamente, apesar de seu caráter de ‚ feedback‛ mesmo motivo.
necessário ao trabalho educacional, a referência à sua possível A avaliação constitui-se no processo de medida e julgamento
instituição nas escolas provoca entre seus profissionais fortes dos resultados parciais obtidos durante a realização de um plano
reações e até mesmo resistência. Talvez porque sejam atribuídos ou projeto e os integrados ao seu final. Esses dois estágios da
significados inadequados a eles: o monitoramento é visto como avaliação apresentam características diferentes constituindo a
um controle cerceador e limitador, portanto, negativo, e a avalia- avaliação formativa e a somativa². Conforme Rios (2006) indica, a
ção como uma estratégia de encontrar erros e causar reprova- avaliação formativa é processual (Rios, 2006) e nesse sentido
ções. Sugerimos a proposta que esse entendimento pode ter acompanha o monitoramento, realizando um julgamento a res-
mais a ver com o modo como a avaliação é praticada nas escolas peito da eficácia das ações implementadas passo a passo, permi-
do que como seu real significado pedagógico. Prestemos atenção tindo a correção necessária de rumos, ritmos e recursos proces-
à nossa linguagem a respeito: ‚vou corrigir trabalhos‛, ‚agora não suais, de modo que no final, mediante avaliação formativa e de
adianta mais avaliar, os alunos não podem ser reprovados‛ (afir- caráter globalizador, se possa julgar os resultados obtidos pelo
mação de professores de sistemas de ensino que adotaram o conjunto das ações. Mediante a avaliação de planos e projetos
ciclo escolar). Esses depoimentos, por certo, expressam um senti- pode-se conhecer:
do punitivo atribuído à avaliação que se difunde acriticamente
para outras práticas de monitoramento e avaliação.  em que medida estão sendo realizados os objetivos propostos
Percepções de tal ordem revelam, portanto, um entendimento e esperados;
inadequado e até mesmo prejudicial sobre o monitoramento e  que outros objetivos eventuais estariam também sendo pro-
avaliação, que atribui impressões com resultados negativos, den- movidos;
tre os quais se destacam a cultura de estudar para a prova, a  que fatores mais contribuem para explicar os resultados ob-
prática da cola, o alerta dado pelos professores aos seus alunos − servados;
‚prestem atenção, que pode cair na prova‛− que resultam na  que perspectivas existiriam para promover melhores resulta-
desvalorização da aprendizagem como modo de ser e de fazer do dos;
cotidiano escolar. Os índices de reprovação e distorção ida-  que decisões devem ser tomadas para a maximização e refor-
de/série, presentes em nossas escolas são indicadores de uma ço dos resultados obtidos e realização de outros.
prática inadequada de avaliação da aprendizagem escolar e de
falta de monitoramento contínuo dos processos pedagógicos Sendo a eficácia e a eficiência intimamente interligadas, o
(Lück e Parente, 2005; Lück, 2006). Mediante a associação entre monitoramento e a avaliação são duas ações inter-relacionadas.
monitoramento e avaliação pelos próprios profissionais que atu- Acrescente-se que não é possível fazer monitoramento sem um
am na escola, com uma perspectiva reflexiva e crítica de estudo julgamento (avaliação) da propriedade das ações, seu ritmo, sua
sobre suas práticas e seus resultados, seria possível agir pedago- intensidade, etc. Por outro lado, uma avaliação de resultados,
gicamente sobre situações como essas e superá-las. para ser adequada, envolve uma análise e interpretação dos re-
A desconsideração ao monitoramento de processos de avalia- sultados à luz das condições que os criaram, o que pressupõe a
ção dos resultados das práticas educacionais como estratégia de realização de avaliação.
gestão educacional ocorreu a partir da interpretação dada pelas
concepções denominadas críticas da educação que, ao valoriza- 4.5 O PROFESSOR: FORMAÇÃO E PROFISSÃO.
rem as dimensões sociopolíticas, inadequadamente, desvaloriza-
ram as dimensões técnicas, mediante a rotulação ligeira de ‚tec- Num olhar retrospectivo na esteira da história Hamze (2011)
nicismo‛ dentre as quais a medida e a avaliação, que em muitas afirma que se podem contemplar etapas que marcaram o ensino
instituições formadoras de profissionais da educação desaparece- e também exerceram influência no modo de atuação do profes-
ram dos seus currículos, em prejuízo de uma formação voltada sor. Resumidamente, do ensino tradicional aos dias atuais é pos-
para as necessidades concretas do trabalho educacional. Cabe sível perceber que a educação, no Brasil, sofreu mudanças.
destacar que essa tendência resultou na mera aplicação de ins- O ensino tradicional, enciclopédico, perdurou por longos tre-
trumentos e rotinização desse processo, aplicado, sem a conse- zentos e oitenta e três anos e foi marcado pelos padres da Com-
qüente reflexão e retroalimentação das práticas educacionais, panhia de Jesus que trazem o professor como transmissor de
incluindo a reflexão sobre o significado por trás das mesmas, em conhecimentos. A partir da Escola Nova, em torno de 1932, o
detrimento da sua orientação como práxis pedagógica. professor torna-se apenas um facilitador do processo de ensino e
A grande escassez de referências bibliográficas sobre monito- de aprendizagem. Neste seguimento, a escola de tendência tecni-
ramento e avaliação em relação à educação brasileira é um indi- cista, inserida no final dos anos 60 no Brasil, objetivava adequar e
cador da desconsideração dessa fundamental dimensão da ges- inserir o sistema educacional e o ensino com métodos educacio-
tão educacional. O que existe diz respeito a sistemas educacio- nais norte americanos, ou seja, nos moldes do sistema de produ-
nais, Dimensões da gestão escolar e suas competências sobretu- ção capitalista e racional, o que tolhia a criatividade do professor.
do em relação ao SAEB, nada havendo de substancial sobre o
processo nas escolas ou mesmo na gestão de sistemas. Fato

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Assim, por meio de métodos de ensino meramente técnico o aluno goste de estar por conta do profissionalismo do profes-
utiliza-se material sistematizado como manuais, módulos de sor.
ensino, livros didáticos, dispositivos audiovisuais, visando com Perrenoud, define profissionalização sob dois pontos de vista.
isso a imediata produção de sujeitos competentes para atender o O primeiro denominado estático como sendo o grau em que um
mercado de trabalho, com uma transmissão de informações rápi- ofício manifesta as características de uma profissão; e o segundo
das, objetivas e sem subjetividade. Passa a ser irrelevante o rela- seria um movimento dinâmico porque expressa o grau de avanço
cionamento interpessoal. Debates, discussão e questionamento da transformação estrutural de um ofício, no sentido de uma
não existem e tão pouco importam as relações afetivas e pessoais profissão. Outra definição trazida por Nóvoa (1992), complemen-
dos sujeitos envolvidos no processo de ensino. O relacionamento ta a intenção que se busca por meio desse texto: ‚A profissionali-
professor aluno é puramente técnico, o objetivo é o aluno calado zação é um processo, através do qual os trabalhadores melhoram
recebendo, aprendendo e fixando informações e o professor o seu estatuto, elevam os seus rendimentos e aumentam o seu
administrando e transmitindo eficientemente a matéria visando a poder, a sua autonomia (p. 23).
garantia na eficácia nos resultados da aprendizagem. Assim o profissional professor pode ser considerado como um
O surgimento da Escola Crítica em 1993 possibilitou ao pro- teórico-prático que adquiriu por meio de muito estudo e pelo
fessor um novo direcionamento. A sua atuação passou a ter en- desenvolvimento de suas vivências em sala de aula, o status e a
foque na construção e reconstrução do saber, de interação e capacidade para realizar com autonomia, responsabilidade e
articulação e participação na aprendizagem do aluno. Assim, ousadia sua função. Além disso, o profissional professor é tam-
percebe-se que a formação do professor acompanha a evolução bém uma pessoa em relação e evolução em que o saber da expe-
educacional que ocorreu no Brasil e cada vez mais se acentua a riência lhe pode conferir maior autonomia profissional, juntamen-
necessidade de profissionalização do docente. te com outras competências que viabilizam a sua profissão. Tor-
Ao vivenciar o século XXI, observa-se que a construção dos na-se claro que os vocábulos ‚formação e profissionalização‛
saberes passa a ser dominada por novas tecnologias, no espaço e estão intimamente imbricados e se complementam na relação
no tempo, e a formação do profissional professor torna-se efeti- que perfaz todo o trabalho do professor. O professor é um profis-
vamente, cada vez mais importante no processo educacional. O sional do sentido.
Professor do século XXI precisa, então, ser um profissional da Podemos sinalizar ainda que para a formação de professores,
educação com espírito aguçado e muita vontade para aprender, é indispensável que a formação tenha como eixo de referência o
razão pela qual o processo de formação torna-se mais e mais desenvolvimento profissional, na dupla perspectiva do professor
veemente para responder às demandas do mundo contemporâ- individual e do coletivo docente. Além disso, que o trabalho pos-
neo com competência e profissionalismo. sibilite e favoreça espaço de interação entre as dimensões pesso-
Afinal, o que vem a ser a formação de professores? O que ais e profissionais, promova os seus saberes e seja um compo-
vem a ser a profissionalização? Quais são as características que nente de mudança. Isto exige estudo e abertura para os desafios
envolvem a formação e a profissionalização? e persistência na busca do conhecimento. A profissão docente é
A palavra professor, proveniente do latim ‚professore‛, signifi- um renovar-se todos os dias.
ca aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, o saber, Relacionar os dois temas a partir da legislação e dos autores,
o conhecimento. Portanto, para poder ensinar, o professor preci- demonstra a necessidade de a formação integrar-se à profissio-
sa estar imbuído do conhecimento que lhe advém por meio da nalização de forma consciente e humanizada. Por isso, a educa-
formação que se vai profissionalizando pela prática cotidiana. A ção continuada pode ocorrer além de escolas e universidades, em
capacitação do indivíduo para o trabalho docente se constitui em qualquer outro ambiente que traga um aprendizado. Pode ser em
um ato educativo de criatividade e inovação. Mais que isso, se- casa, no trabalho, no lazer. Proporcionar que os professores se
gundo Libanio (2001), em seu livro a ‚Arte de formar-se‛, é um atualizem e desenvolvam seus saberes, permitem-lhes articular
investimento pessoal de busca de conhecimento. teoria e prática, ou seja, unem conhecimentos científicos adquiri-
Desse modo, o investimento na formação torna-se ponto de dos na Universidade aliados à prática diária em sala de aula.
partida para as possibilidades de melhoria da profissionalidade e Entende-se, assim, que ser educador é educar-se constante-
para a ressignificação de sua prática. Entende-se que a formação mente por meio de aprendizado em que o conhecimento cons-
contribui para uma reflexão permanente voltada para a constru- truído resulta em novas relações com outros conhecimentos que,
ção de uma educação orgânica (MONTEIRO JÚNIOR, 2001, p. 88) por sua vez, geram novas construções. Desse modo, a profissão
que religa os saberes e vai ao encontro da dinâmica de desenvol- docente renova-se todos os dias e é uma das pedras angulares
vimento do ser humano. imprescindíveis a qualquer intento de renovação do sistema edu-
Ressalte-se que o processo de formação do professor é um cativo. Discutir, então, sobre a formação do professor é discutir
crescente e um continuum. Como indivíduo, ele é formado a cada como manter o domínio e a qualidade do conhecimento e das
dia, em momentos que fazem o seu cotidiano, e, como educador, técnicas que envolvem a profissão docente, a competência e a
molda-se no compromisso que consegue estabelecer com os eficácia profissional. A preocupação com o desenvolvimento de
alunos e demais atores que formam a comunidade escolar. E que uma ação educativa capaz de preparar alunos para a compreen-
escola são todos os que nela convivem e aprendem: professores, são e transformação da sociedade, constitui um compromisso
alunos, funcionários, famílias, membros da comunidade e gesto- com o processo.
res. Por isso, espera-se que o profissional da área de educação
tenha uma visão sistêmica do papel de sua organização junto à 4.6 A PESQUISA NA PRÁTICA DOCENTE.
sociedade e do seu papel junto à instituição para que possa tra-
balhar novas formas de construção do conhecimento, visando à No que diz respeito à pesquisa escolar, entendemos que ela
melhoria contínua da educação, bem como do ambiente escolar. pode servir como um elemento significativo na construção e
A escola precisa ser um ambiente de prazer, aconchegante onde apropriação do conhecimento. Todavia, com o crescimento acele-

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rado da tecnologia, as informações chegam aos nossos estudan- Em sua prática pedagógica, o professor pode atuar em dife-
tes de uma forma muito fácil e rápida, o que gera certo descon- rentes situações: na sala de aula em relação ao processo ensino e
forto por parte das instituições de ensino, uma vez que elas não aprendizagem, nas questões relacionadas ao conteúdo e currícu-
conseguem acompanhar o mesmo ritmo. lo, na relação professor aluno, nas questões relacionadas à gestão
Segundo Abreu e Almeida (2008), essa realidade pode ser ex- escolar, enfim, em diferentes situações que podem gerar proble-
plicada, em um primeiro momento, pela compreensão equivoca- mas na sua prática pedagógica. Daí a necessidade do professor
da que os professores do ensino superior têm do conceito de estar assegurado por atividades investigativas.
pesquisa e, consequentemente, da pesquisa escolar. Em seguida, Para Libâneo (2005), está por traz do conceito de professor a
pelo despreparo na orientação das pesquisas em sala de aula. O ideia de alguém que ajuda os outros a desabrochar suas capaci-
fato de esses professores terem uma visão questionável da pes- dades mediante atividades socialmente estabelecidas por um
quisa escolar e a dificuldade de encaminhar os estudantes para a currículo. Desse modo, cabe ao professor, pela via da pesquisa, se
pesquisa comprometem a efetivação da investigação e, conse- revestir de uma ferramenta favorável ao desenvolvimento do
quentemente, da aprendizagem sobre o como fazer pesquisa. educando.
A pesquisa deve ser entendida não como mera cópia de tre- Na mesma perspectiva, Abreu e Almeida (2008) afirmam que a
chos de livros, artigos, entre outros, mas como atividade impor- pesquisa sobre a prática pedagógica é um processo fundamental
tante no processo de apropriação do conhecimento, já que é por na construção do conhecimento sobre a própria prática, trazendo
meio dela que se pode apreender o conhecimento historicamente contribuições tanto para o desenvolvimento profissional dos
acumulado e avançar no conhecimento dos problemas que afli- professores como também para as instituições educativas a que
gem o campo da educação. Ademais, ela favorece o trabalho eles pertencem. Segundo Imbernón (2002, p. 112-113), ‚*...+ o
pedagógico, uma vez que o professor pode trabalhar, ao mesmo conhecimento pedagógico gerado pelo professor é um conheci-
tempo, com diversas áreas do conhecimento. No entanto, para mento ligado à ação prática, não podendo estar desvinculado da
que a pesquisa esteja presente no cotidiano da sala de aula, é relação teoria e prática‛.
imprescindível que o professor tenha clareza na elaboração do Há quatro grandes razões para que os professores façam pes-
seu planejamento. quisa sobre a sua própria prática, a saber: para saber atuar efeti-
Para Abreu e Almeida (2008), o conceito de pesquisa deve ser vamente em relação às questões relacionadas ao currículo e à sua
desmistificado e repensado levando-se em conta a prática educa- atuação profissional, buscando meios para enfrentar os proble-
tiva. O processo de pesquisa requer um conjunto de atividades mas que podem emergir de sua prática; para contribuir na cons-
que devem ser orientadas pelo professor, visando buscar, desco- trução de um patrimônio de cultura e conhecimento dos profes-
brir e criar um determinado conhecimento acerca de um objeto sores como grupo profissional; e para contribuir nas discussões
investigado. Dessa forma, a curiosidade estimulada no aluno deve em torno dos problemas educativos (ABREU; ALMEIDA, 2008).
levá-lo a duvidar, a formular hipóteses, a confirmar suas certezas, Todavia, embora reconheçamos o papel da pesquisa na for-
tomando consciência de si mesmo enquanto pesquisador e do mação e na prática docente e a sua importância para a aproxima-
seu objeto de estudo. ção e o conhecimento da realidade educacional e da relação
Em relação à pesquisa da prática pedagógica, conforme ad- teoria e prática, concordamos com Diniz-Pereira e Lacerda (2009)
verte Oliveira (2000, p. 148) em A pesquisa em didática no Brasil – quando afirmam que o desenvolvimento de pesquisas na prática
da tecnologia do ensino à pesquisa pedagógica, mais do que docente é algo ainda polêmico no meio acadêmico.
ensinar, planejar, orientar e avaliar a aprendizagem a partir de Na concepção desses autores, a possibilidade ou não de haver
modelos que se constituem a priori, é preciso preocupar-se com pesquisas na prática pedagógica está relacionada a questões de
a reflexão dos alunos, futuros professores, sobre a realidade do poder, pois ainda há pesquisadores que encaram a pesquisa na
ensino, compreendendo-a e problematizando-a. Todavia, essa prática docente como algo que possa competir com a pesquisa
reflexão deve ser proporcionada nos cursos de Pedagogia, já que acadêmica e abalar sua legitimidade. Muitos acadêmicos conside-
ele se constitui, em grande medida, o campo de conhecimento ram a pesquisa científica como modelo para a investigação do
responsável por investigar a natureza e as finalidades da educa- professor. Aí parece residir a razão da discórdia, pois, para alguns
ção na sociedade. teóricos, essa investigação pode se configurar como qualquer
Em Educação: Pedagogia e Didática – o campo investigativo outra coisa exceto como pesquisa científica.
da pedagogia e da didática, Libâneo (2000) reconhece a Pedago- Para Diniz-Pereira e Lacerda (2009), a pesquisa do professor
gia como uma ciência prática que explicita objetivos e formas de da educação básica sobre a prática docente favorece a discussão
intervenção metodológica e organizativa que ocorrem no contex- permanente acerca do currículo escolar, da prática e da proble-
to da atividade educativa, preocupando-se com a transmissão e mática social, possibilitando que os professores se firmem en-
assimilação ativa dos conteúdos, ou seja, ela contribui com a quanto sujeitos responsáveis por sua própria formação, apoiados
investigação da própria prática educativa oferecendo os suportes pelo conhecimento teórico e consigam refletir sobre seu cotidia-
teóricos advindos das demais ciências da educação. no escolar.
Assim, acredita-se na importância de uma aprendizagem par- Da mesma forma, a pesquisa pode favorecer a emancipação
ticipativa, significativa e autonomizante, capaz de proporcionar ao docente, trazendo autonomia aos professores, que deixam de ser
aluno novos conhecimentos, novas ações e, portanto, condições meros executores de ideias pensadas por outros para atuarem e
de intervir e mudar o contexto em que vive e convive. É nesse contribuírem na construção e sistematização do conhecimento
sentido que em Contribuição da didática para a formação de produzido por eles, livres das pressões externas. Por conhecerem
professores – reflexões sobre o seu ensino, Alarcão (2000, p. 181) as teorias presentes na prática pedagógica, dialogam com o co-
afirma que o aluno surge como pesquisador e o professor, como nhecimento teórico produzido fora do contexto escolar. Ademais,
coordenador da aprendizagem na pesquisa. a prática das pesquisas docentes pode fortalecer na escola o
trabalho coletivo entre professores, potencializando suas ações

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investigativas e contribuindo efetivamente para o seu desenvol- e o mal e o mal (quando se admite que ‚entre os males, o me-
vimento profissional. nor‛) é o que diferencia fatos morais (estudados pela ética) de
É inegável a contribuição da pesquisa nos processos formati- fatos sociais (do cotidiano).
vos, uma vez que a prática investigativa pressupõe a articulação O ‚exercício habitual de uma tarefa, a serviço de outras pes-
de processos cognitivos, linguísticos, criativos, dialógicos e outros soas‛ é o conceito que Sá (2009) atribui à profissão. Os benefí-
mais. A pesquisa, portanto, interfere positivamente na constitui- cios, tanto para quem desempenha esta tarefa como para quem é
ção dos saberes docentes e na compreensão de sua própria prá- beneficiado por sua execução também integram este conceito.
tica profissional. Favorece a tessitura de uma escola em que o No exercício de nossa profissão, nos deparamos frequente-
conhecimento produzido passa a ser sistematizado, discutido, mente com dilemas éticos que exigem reflexão. Por exemplo, o
socializado – uma escola em que as proposições externas se mis- que dizer de um advogado que deve defender um criminoso? Ou
turam às proposições internas. Por fim, do ponto de vista político, de um contador que, mesmo sabendo das atividades ilícitas de
a pesquisa na prática docente também pode ser vista como um seu cliente, tenha que lhe prestar serviço? Ou de um da obrigato-
movimento contra-hegemônico que contribui para a ruptura de riedade de se reportar um acidente ocorrido no trabalho ainda
uma determinada forma de saber e poder (DINIZ-PEREIRA, 2002). que isto cause impactos negativos para a empresa junto à socie-
Socializando os saberes oriundos da prática, e tomando a teoria dade?
como texto cuja serventia é a interlocução com esses saberes, a Por outro lado, há uma situação interessante a ser observada.
prática investigativa na escola favorece o esfacelamento de uma Os trabalhadores muitas vezes se queixam da pressão sofrida no
relação endurecida, em que tradicionalmente a teoria era tomada ambiente de trabalho, mas quando são chamados a revelar a
como texto a ser transformado em método e aplicado na prática causa do estresse, não apontam suas verdadeiras causas acredi-
(DINIZ-PEREIRA; LACERDA, 2009, p. 1234). tando que colocarão em risco sua competência profissional.
A ética, permeia o exercício da profissão na medida em que a
4.7 A DIMENSÃO ÉTICA DA PROFISSÃO. conduta profissional condizente com a moral e a regulação feita
pela lei garante benefícios para os profissionais, a categoria à
Há uma confusão na compreensão dos termos ética e moral, qual pertencem e para a sociedade. Vale aqui ressaltar que a
inclusive levando a crer que ambos têm o mesmo significado. conduta ética universal independe das culturas cujos costumes
Deixo claro que isto não está correto. Vamos compreender o são diferenciados, ou seja, o zelo, a honestidade, e a competência
conceito de ética para depois diferenciá-lo de moral. são virtudes desejadas em qualquer exercício profissional inde-
Quando falamos sobre ética, parece que as coisas estão indo pendente da área de atuação ou cultura em que for desenvolvido.
mal. Parece que há uma crise e logo nos reportamos a escândalos Sendo assim, a profissão não deve ser um meio, apenas de ga-
envolvendo a administração pública. "Ora, cada um de nós tem nhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela proporciona, repre-
sua própria ética baseada nas regras impostas pelo grupo do qual sentando um propósito de verdade.
fazemos parte cujas ações se fundamentam na cultura transmitida Para um professor, o seu patrimônio profissional é constituído
de geração a geração e que nos diz o que é certo ou errado". também da percepção que se tem dele, de suas decisões na vida
‚A ética, como ciência do ethos, é um saber elaborado segun- pessoal e de sua conduta na organização com os colegas e na sua
do regras ou segundo uma lógica peculiar‛ segundo o ensina- relação com os alunos. Devemos entender e reforçar o valor do
mento de Patrus-Penas e Castro (2010, p. 32). É a ética, conforme código de ética da profissão de educador no sentido de preservar
Srour (2011, p.21), que esclarece o motivo que leva os agentes o nome profissional que causa impactos em toda categoria.
sociais a tomarem esta ou aquela decisão, orientados por este ou Ao tratar as condutas antiéticas de um educador, reforçamos
aquele valor, condicionados por estes ou aqueles interesses. a importância de se preservar a imagem pessoal e profissional
Portanto, ser ético, significa ser um agente social cujas decisões que faz por merecer a confiança da sociedade e das organiza-
são fundamentadas na moral do grupo ao qual pertence e são ções. O que se faz durante toda uma vida, em poucos dias pode
tomadas com base em valores e interesses que busquem o bem desmoronar, diante dos efeitos malévolos da ação dos caluniado-
comum. res, traidores, difamadores, chantagistas e intrigantes‛ diz Sá
Cada sociedade tem sua ética própria, assim, não podemos (2010). Energia e inteligência são necessárias para que possamos
dizer que há certo ou errado quando se compara o papel que se nos contrapor aos resultados das ações que buscam destruir uma
atribui à mulher no ocidente com aquele preconizado no Oriente imagem positiva, principalmente da tão maltratada carreira edu-
Médio ou na cultura muçulmana. cacional.
O comportamento moral é legislado pela ética que irá definir
o que é bom e investigar princípios da moralidade de uma socie-
dade. Ela fundamenta e justifica certos comportamentos, mas não BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO
cria a moral. A moral de um povo é o conjunto de normas vigen- - ABREU, Roberta Melo de Andrade; ALMEIDA, Danilo Di Manno
tes consideradas como critérios que orientam o modo de agir dos de. Refletindo sobre a pesquisa e sua importância na forma-
indivíduos daquela sociedade. ‚Quando se qualifica um compor- ção e na prática do professor do ensino fundamental. Revista
tamento como bom ou mau, tem-se um critério que é definido Entreideias: Educação, Cultura e Sociedade, n. 14, p. 73-85,
no espaço da moralidade‛ ensina Rios (2011) e isso interessa à jul./dez. 2008.
ética no sentido de procurar o fundamento dos valores que ofe- - LUCK Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competên-
recem sustentação para este comportamento bom ou mau. cias. Curitiba: Editora Positivo, 2009.
As escolhas que estes agentes fazem considerando suas avali- - NÓVOA, António. "Concepções e práticas de formação contí-
ações sobre o bem e o mal; o mal e o bem (quando se admite nua de professores". In Formação Contínua de Professores -
que há um mal necessário para que um bem maior seja atingido); Realidades e Perspectivas. Aveiro: Universidade de Aveiro,
o bem e o bem (quando só é possível beneficiar uma das partes); 1991.

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- Documento de Referência da CONAE 2010. BRASIL, MEC. E) A escola é uma instituição social com o objetivo explícito: o
Plano de Desenvolvimento da Educação. Brasília: MEC, 2007 desenvolvimento das potencialidades, físicas, cognitivas e afe-
Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/conae/ tivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos
documento_referencia.pdf (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valo-
- DEMO, P. Educação pelo avesso: assistência como direito e res), desenvolvendo nos alunos a capacidade de se tornarem
como problema. São Paulo: Cortez, 2000. cidadãos participativos na sociedade em que vivem.
- FREIDSON, E. O renascimento do profissionalismo. São Paulo:
EDUSP, 1998. 52. Considerando o sucesso/fracasso escolar, analise:
- DINIZ-PEREIRA, Julio Emílio; LACERDA, Mitsi Pinheiro de. Pos- I. As crianças entram para a escola com possibilidades de suces-
síveis significados da pesquisa na prática docente: ideias para so e de fracasso escolar e as relações construídas dentro da
fomentar o debate. Revista Educação e Sociedade, Campinas, sala de aula podem funcionar como includentes ou excluden-
v. 30, n. 109, p. 1229- 1242, set./dez. 2009. tes desses estudantes, tendo em vista grupos socioculturais
- FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à aos que pertencem.
prática educativa. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997. II. Para se conseguir o sucesso escolar de nossos estudantes,
- GUIMARÃES, Valter Soares. Formação de professores: saberes, precisa-se aliar as informações pedagógicas, pessoais, sociais,
identidade e profissão. Campinas, SP: Papirus, 2004. culturais, que temos sobre eles, com as metodologias e pro-
- HAMZE, Amélia. Governabilidade e Governança. Disponível postas pedagógicas que levem em conta seus processos de
em: < Acesso em 20 de ago. 2011. construção dos conhecimentos e que rompam com a ossatura
- HELATCZUK, Vitorio. Ser professor hoje. Disponível em: rígida da cultura escolar.
www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/Revista/.../artig III. A origem de classe influi no rendimento dos alunos, de forma
o3.pdf . Acesso em 25 OUTUBRO. 2017. exclusiva e absoluta.
- IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: for- IV. São muitos os fatores que interferem na construção do suces-
mar-se para a mudança e a incerteza. 3. ed. São Paulo: Cortez, so-fracasso escolar, o pertencimento ético, a trajetória escolar
2002. e de vida, o gênero, a idade dos alunos.
- LIBANIO, João Batista. A arte de formar-se. 2 ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2001. Está (ao) correta (s) apenas a (s) afirmativa (s):
- MASETTO, Marcos Tarciso. Pós-Graduação e formação de A) I, II, III e IV.
Professores para o 3° Grau. São Paulo: 1994 (mimeo). B) I, II e IV.
- SÁ, A. L. de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. C) I e IV.
D) II e IV.
E) I.

53. Para Libâneo, existe uma relação direta entre as várias


concepções de gestão escolar e as diferentes visões dos
51. “Devemos inferir que a educação de qualidade é aquela
educadores sobre as finalidades da educação, no que se
mediante a qual a escola promove, para todos, o domínio
refere à formação dos alunos e ao atendimento à socieda-
dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades
de. A concepção de organização e gestão escolar que de-
cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de
fende a forma coletiva de tomada de decisão, dando ênfa-
necessidades individuais e sociais dos alunos.” (Libâneo,
se tanto às ações pedagógicas quanto às relações intra e
2005, pág. 117).
extraescolar, é a:
A) Tecnocrática burocratizante.
Considerando que “a função social da escola é favorecer
B) Demagógica liberal.
acesso ao conhecimento de forma profícua” assinale a al-
C) Democrático-participativa.
ternativa que melhor se relaciona ao pensamento de Libâ-
neo: D) Liberal reformista.
A) A escola pública brasileira, mediante a forma como organiza
54. Libâneo chama atenção para o fato de que o projeto pe-
seu trabalho pedagógico e estabelece seus regulamentos,
dagógico curricular não pode ser confundido com a orga-
ritmos e rituais, ainda não é capaz de produzir o sucesso es-
nização escolar e também não substitui a gestão. São duas
colar e de alcançar os fins educacionais assegurados constitu-
coisas diferentes. Dentro deste princípio, marque a afir-
cionalmente. mativa que melhor condiz com a ideia.
B) É a condição de classe social dos alunos que determina sua A) A gestão põe em prática o processo organizacional para
entrada ou não no sistema de ensino, bem como sua perma-
atender os interesses do corpo docente e da Direção.
nência por um tempo determinado.
B) O projeto é um instrumento da gestão e dá direção política e
C) São os alunos das camadas menos favorecidas economica- pedagógica ao trabalho escolar.
mente da população brasileira que engrossam as estatísticas C) A gestão dá direção política e pedagógica para o trabalho
da repetência, da evasão e do abandono escolar, constituin- escolar, independente do projeto pedagógico.
do-se numa faceta do fracasso escolar. D) A gestão não põe em prática o processo organizacional, isto é
D) A análise da função social da escola está intrinsicamente rela- função do projeto pedagógico.
cionada com o conceito de fracasso escolar diretamente rela-
E) A gestão é um instrumento do projeto e institui procedimen-
cionado com o conceito de avaliação, pois a forma como esta tos e instrumentos de ação para a escola.
tem sido concebida e praticada tem contribuído para sedi-
mentar tal fracasso.

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55. Em relação a avaliação institucional, assinale a alternativa A) Somente I, II e III estão corretas.
correta: B) Somente I, II e IV estão corretas
A) Não faz parte do conceito de avaliação a tomada de decisões C) Somente II, III e IV estão corretas
com julgamentos e resultados. D) Somente I, III e IV estão corretas
B) Visa à identificação de critérios, procedimentos e resultados
para melhorias na educação, com participação individual e co- 60. A interação professor-aluno é um aspecto fundamental da
letiva. organização da situação didática. Segundo Libâneo, po-
C) A avaliação deve ser concebida como um processo sistemáti- dem-se ressaltar dois aspectos para a realização do traba-
co e quantitativo de análise. lho docente:
D) Deve impulsionar o processo criativo e de autocrítica como A) o aspecto social, que se refere à integração de cada aluno ao
um princípio e procedimento teórico. seu meio social e o aspecto atitudinal, que se refere à aquisi-
E) Consolida as relações entre as esferas pública e privada, a ção de conhecimentos acadêmicos a serem utilizados na vida
partir de modelos que propõem a divisão do trabalho. pessoal de cada aluno;
B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao desenvolvi-
56. Quanto às discussões sobre currículo e seus pressupostos mento da autonomia e das qualidades morais e o aspecto in-
sociológicos, assinale a alternativa correta: telectual, que se refere a aprendizagem com vistas a orienta-
A) Currículo, na atualidade, está envolvido com os critérios de ção de trabalhos independente dos alunos;
seleção e poder, ou seja, com as questões identidade e subje- C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito ao sujeito
tividade. aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz respeito aos ob-
B) Para a discussão curricular, selecionar não é uma operação de jetivos do processo de ensino, a transmissão de conhecimen-
poder. tos, hábitos e atitudes;
C) É precisamente a questão de poder que vai articular as teorias D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas de comuni-
curriculares tradicionais, críticas e pós-críticas. cação dos conteúdos escolares e o aspecto sócioemocional
D) As teorias críticas e pós-críticas de currículo não estão preo- que diz respeito às relações pessoais entre professor e alunos
cupadas com as conexões entre saber, identidade e poder. e às normas disciplinares indispensáveis ao trabalho educati-
E) As teorias tradicionais se concentram nas questões compor- vo;
tamentais.
61. Em se tratando da relação professor-aluno na sala de aula,
57. É um tipo de avaliação que tem por função básica a classi- assinale a alternativa incorreta.
ficação dos alunos, sendo realizada no final de um curso A) O trabalho docente nunca é unidirecional.
ou unidade de ensino, classificando os alunos de acordo B) A relação maternal ou paternal deve ser evitada, porque a
com os níveis de aproveitamento previamente estabeleci- escola não é um lar.
dos. O texto acima descreve uma: C) O professor autoritário exerce a autoridade a serviço da auto-
A) Avaliação formativa. nomia e independência dos alunos.
B) Avaliação somativa. D) A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo da
C) Avaliação diagnostica. prática docente, ou seja, à autoridade profissional.
D) Avaliação personalizada.
62. Segundo o mestre Paulo Freire (1996) o educador pro-
58. A respeito da Avaliação Formativa, é INCORRETO afirmar: gressista não pode prescindir de conteúdos obrigatórios à
A) A avaliação formativa não tem como objetivo classificar ou organização programática e a formação docente. Assim,
selecionar. adverte-nos para a necessidade de assumirmos uma pos-
B) Fundamenta-se nos processos de aprendizagem em seus tura ética e a dimensão estética na prática docente, movi-
aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. da para o desejo e movida com alegria, a qual não deve:
C) Uma avaliação não precisa conformar-se a nenhum padrão A) Ser rigorosa, neutra e radical.
metodológico para ser formativa. B) Conduzir ao espaço de reafirmação, criação e amorosidade o
D) O sentido e a finalidade da avaliação formativa deve ser o de aluno desinteressado.
conhecer melhor o professor, suas competências e suas técni- C) Abrir mão do sonho, do rigor, da seriedade e simplicidade
cas de trabalho. inerente ao saber-da-competência.
D) Contribuir para uma postura vigilante contra todas as práticas
59. Na relação professor-aluno envolve interesses e intenções, de desumanização.
sendo esta interação o expoente das consequências, pois a E) Contribuir para a leitura crítica das verdadeiras causas da
educação é uma das fontes mais importantes do desen- degradação humana.
volvimento comportamental e agregação de valores nos
membros da espécie humana. Logo, a relação entre pro- 63. Com base nas considerações de José Carlos Libâneo em
fessor e aluno depende, fundamentalmente: Organização e Gestão da Escola: teoria e prática, o estudo
I. Do clima estabelecido pelo aluno. da organização e gestão da escola tem como objetivos de
II. Da relação empática com seus alunos. aprendizagem:
III. Da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir. I. O conhecimento da organização escolar – a sua cultura, as
IV. Da criação das pontes entre seu conhecimento e os deles. relações de poder, o seu modo de funcionamento, os seus
problemas – bem como das formas de organização e gestão,
Assinale a alternativa correta. das competências e dos procedimentos necessários para a

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atuação, de forma eficiente e participativa, nas decisões e II. mobiliza saberes teóricos e práticos para investigar sua pró-
ações dirigidas ao atendimento dos objetivos educacionais. pria atividade e, a partir dela, construir novos saberes num
II. A compreensão das relações entre as orientações gerais do processo contínuo.
sistema escolar e as escolas e o trabalho do professor, de mo- III. em sala de aula, se revela pesquisador da sua própria prática,
do a desenvolver capacidade crítica para avalia-las em função propondo-se a registrá-la e discuti-la com seus colegas, num
das realidades da escola e das necessidades individuais e so- sentido de superação e tomada de decisões.
ciais dos alunos.
III. O desenvolvimento de saberes e competências para fazer É CORRETO o que se propõe em:
análises de contextos de trabalho, identificar e solucionar A) I, II e III.
problemas (previsíveis e imprevisíveis) e reinventar práticas B) II e III, apenas.
diante de situações novas ou inesperadas, na organização es- C) III, apenas.
colar e na sala de aula. D) II, apenas.
IV. A capacitação para participação no planejamento, organiza- E) I e III, apenas
ção e gestão da escola, especialmente na viabilização das
ações de realização do projeto pedagógico curricular, com
competência técnico-científica, sensibilidade ética e compro-
misso com a democratização das relações sociais na institui-
ção escolar e fora dela.
V. O enfrentamento dos problemas da organização escolar,
como educadores responsáveis pela formação intelectual, afe-
tiva, ética, sob o enfoque de estratégias de gestão democráti-
ca, pautada nos princípios de ordem econômica e financeira e
nos interesses do Banco Mundial regidos pelo mercado inter-
nacional, propiciando uma orientação prática de como lidar
com as situações cotidianas no contexto escolar.

Estão corretas:
A) Somente II, III, IV e V.
B) Somente I, II, IV e V.
C) Somente I, II, III e IV.
D) Somente I e V.
E) I, II, III, IV e V.

64. Assinale a alternativa que, de acordo com Edgar Morin (Os


sete saberes necessários à educação do futuro), apresenta
corretamente um aspecto constitutivo da educação com-
prometida com a ética do gênero humano.
A) A ética do gênero humano tem como uma de suas dimensões
fundamentais a relação entre indivíduo singular e espécie
humana efetivada por meio da comunidade de destino plane-
tário.
B) A ética deve ser ensinada por meio de lições de moral, com
base na consciência de que o ser humano é, ao mesmo tem-
po, indivíduo, parte da sociedade e da espécie humana.
C) Configuram-se como finalidades ético-políticas do novo milê-
nio: conceber a humanidade como uma comunidade planetá-
ria e evitar qualquer controle mútuo entre a sociedade e os
indivíduos.
D) O desenvolvimento humano compreende a conquista das
autonomias individuais e das participações comunitárias, com
predominância das primeiras, que fortalecem as liberdades
democráticas.

65. Nas últimas décadas vem crescendo um movimento entre


os estudiosos da formação do professor. Esse movimento
defende a concepção do professor pesquisador ou reflexi-
vo, como aquele que:
I. se propõe a solucionar os problemas da realidade escolar
mediante a aplicação de um conhecimento teórico e técnico,
previamente disponível, que procede da pesquisa científica.

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5. ASPECTOS LEGAIS E POLÍTICOS DA V. Valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com
piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso
público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para
Para iniciarmos algum entendimento sobre a implementação
todas as instituições mantidas pela União.
de políticas educacionais, uma das questões centrais a ser abor-
VI. Gestão democrática do ensino público, na forma da lei.
dada é a análise das posturas/ações/intervenções do Estado,
VII. Garantia de padrão de qualidade.
inclusive, contemplando diferentes períodos históricos, pois como
indica Bobbio (2007), em termos de bem-estar social, sempre se
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, publicada
supõe que seja o Estado o agente principal na implementação de
em 1996, além de anunciar os princípios constitucionais, ampliou-
políticas.
os, incorporando o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, a
A radical mudança do papel do Estado quanto ao provimento
coexistência das instituições públicas e privadas de ensino, a
dos direitos fundamentais de cidadania vem ocorrendo, em nível
valorização da experiência extraescolar e a vinculação entre a
mundial, desde os anos 80, mas é a partir dos anos 90 que ela se
educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
acirra. Embora o Brasil tenha ingressado com atraso neste proces-
so, os dirigentes, segundo Sousa Junior (2001), resolveram com-
ESTRUTURA DO ATUAL SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
pensar o tempo perdido implementando um conjunto de medi-
das em diversos setores da economia e das políticas públicas,
A estrutura do atual Sistema Educacional Brasileiro é resultado
sendo a área educacional atingida em todos os níveis e modali-
de uma série de mudanças ao longo da história da educação no
dades de ensino, em um curto espaço de tempo.
Brasil. Os primeiros Sistemas Educacionais Brasileiro, que vigorou
O que podemos observar nesse sentido, é que temos um Es-
durante vários anos, teve um caráter excludente desfavorecendo
tado que age, de forma significativa, atendendo ora as necessida-
a grande massa popular e garantindo o acesso à educação so-
des provenientes da sociedade civil, ora atendendo as demandas
mente à elite brasileira.
mercadológicas e/ou da globalização, para estabelecer as diretri-
Segundo Ribeiro, ao referir-se a esse longo período afirma
zes e leis que irão normatizar as relações que são estabelecidas
que éramos um país de Doutores e Analfabetos, pois tínhamos
no contexto educacional, no que se refere ao financiamento,
cursos superiores para poucos, nenhum incentivo à formação de
como na gestão e administração escolar.
professores e escassos recursos para a escola pública. Com a Lei
nº 9.394/96 (LDB) buscou-se, levando em consideração a realida-
EDUCAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA
de educacional acima descrito, normatizar o sistema educacional
e garantir acesso à educação de igual modo a todos. Essa lei traz
Como conceito de políticas públicas encontra-se a de ações e
um conjunto de definições políticas que orientam o sistema edu-
intenções com os quais os poderes ou instituições públicas res-
cacional e introduz mudanças significativas na educação básica
pondem às necessidades de diversos grupos sociais.
do Brasil.
Para a educação as políticas possibilitam ações que atendam
Para compreender a evolução e dimensão do atual Sistema
às necessidades da comunidade escolar, onde por meio dessas, é
Educacional Brasileiro, enquanto parte do processo de desenvol-
possível que haja:
vimento social, foram levadas em consideração algumas premis-
sas:
 valorização dos funcionários da escola;
 formação de Professores;
- A compreensão do sistema educacional brasileiro exige que
 educação: infantil, Ensino Médio, EJA, a distância, especial,
não se perca de vista a totalidade social da qual o sistema
ambiental, profissional, no campo e superior indígena;
educativo faz parte.
 avaliação da educação;
- O sistema escolar é um dos elementos da superestrutura que
 educação para todos;
forma, em unidade com o seu contrário – a infraestrutura - es-
 expansão e Reestruturação do Ensino.
trutura social.
A Constituição de 1988 refere-se à educação como «direito de
Entende-se infraestrutura como os modos e os meios do ho-
todos e dever do Estado e da família [...] promovida e incentivada
mem produzir sua existência. Neste sentido as transformações,
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvi-
desses processos, devem ser compreendidas como alavancas que
mento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
pressionam a ocorrência de mudanças na superestrutura que, por
qualificação para o trabalho» (art. 205).
sua vez se movimenta entre dois elementos: as instituições e as
O seu art. 206 determina que o ensino deve ser ministrado
ideias.
com base nos seguintes princípios:
A relação entre a infraestrutura e a superestrutura é uma rela-
I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
ção determinante que não se dá de fora linear, direta ou absoluta,
cola.
haja vista que a superestrutura tem refletido em si a contradição
II. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
fundamental da infraestrutura – conservação X transformação.
samento, a arte e o saber.
Cada uma e ambas, enquanto unidades de contrários reagem e
III. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coe-
agem combinada e contraditoriamente, via processos de resistên-
xistência de instituições públicas e privadas de ensino.
cias, aceleramentos e recuos, intermediados por normas, regula-
IV. Gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici-
mentos, concepções filosóficas e políticas, recursos e instituições,
ais.
entre tantos outros.

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Tomando como referências estas concepções iniciais, o con- § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito públi-
teúdo do texto toma forma, privilegiando dois mediadores da co subjetivo.
organização educacional brasileira, que complementam-se: § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder
público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da
 As concepções de educação – seus postulados e expressões autoridade competente.
na organização da escola brasileira; § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no
 A organização, propriamente dita, do sistema educacional – ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais
onde a formação educacional (básica e superior) é determi- ou responsáveis, pela frequência à escola.
nante do desenvolvimento social do país. Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e
Desta maneira será demonstrado que a nova proposta educa- respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.
cional brasileira objetiva a democratização e universalização do § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá
conhecimento básico, proporcionando educação e cuidado com a disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
escolarização, assumindo um caráter intencional e sistemático, fundamental.
que dá especial relevo ao desenvolvimento intelectual, sem, con- § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua
tudo descuidar de outros aspectos, tais como o físico, o emocio- portuguesa, assegurada
nal, o moral e o social (Lei nº 9394/96). IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici-
Os princípios balizadores e asseguradores das políticas para a ais;
educação encontra-se depositados na Constituição Federal (C.F.), V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na for-
promulgada em 1988, onde traz em seu Capítulo III - da Educa- ma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso
ção, da Cultura e do Desporto, no Artigo 205: ‚A educação, direi- salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso pú-
to de todos e dever do Estado e da família, será promovida e blico de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno todas as instituições mantidas pela União;
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
cidadania e sua qualificação para o trabalho.‛ VII - garantia de padrão de qualidade às comunidades indíge-
No Art. 206 da Constituição, garante-se que o ensino será nas também a utilização de suas línguas maternas e processos
ministrado com base nos seguintes princípios: próprios de aprendizagem.
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
escola; pios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen- ensino.
samento, a arte e o saber; § 1º A União organizará e financiará o sistema federal de ensi-
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coe- no e o dos Territórios, e prestará assistência técnica e financeira
xistência de instituições públicas e privadas de ensino; aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici- volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritá-
ais; rio à escolaridade obrigatória.
V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na for- § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino funda-
ma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso mental e pré-escola.
salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso pú- Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de de-
blico de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para zoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e
todas as instituições mantidas pela União; cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos,
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
VII - garantia de padrão de qualidade públicas e privadas de desenvolvimento do ensino.
ensino; § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
mediante à garantia de: Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efei-
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para to do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a
os que a ele não tiveram acesso na idade própria; transferir.
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste
ensino médio; artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual
III - atendimento educacional especializado aos portadores de e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará priorida-
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a de ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos
seis anos de idade; termos do plano nacional de educação.
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas
da criação artística, segundo a capacidade de cada um; públicas, podendo ser dirigidos às escolas comunitárias, confessi-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições onais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
do educando; I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus exce-
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, atra- dentes financeiros em educação;
vés de programas suplementares de material didático-escolar, II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
transporte, alimentação e assistência à saúde. comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao poder público, no
caso de encerramento de suas atividades.

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§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destina- Constituição de 1988 por meio do artigo 214. Na Lei n. 9.394/96
dos a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na (LDBEN), em seus artigos 9 e 87 a União recebeu a responsabili-
forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, dade de elaborar tal plano. Assim, a Lei n. 10.172/2001 aprovou o
quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública Plano Nacional de Educação.
na localidade da residência do educando, ficando o poder público Em 2000, efetiva-se o PNE que, apresenta-se dividido em: di-
obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na agnóstico, diretrizes e metas/ objetivos, entra então em vigor
localidade. com suas metas e passa a ter vigência no período de 2001 a 2011.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de Entretanto mostrando as contradições e prioridades em que a
duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento educação encontra-se amparada no nosso pais, o congresso
do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do nacional, com atraso de 4 anos, aprova em 25 de junho de 2014 o
poder público que conduzam à: Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020.
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar; A LEI Nº 9.394/96 (LDB) E A REALIDADE EDUCACIONAL
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho; A tramitação no Congresso Nacional para aprovação e im-
V - promoção humanística, científica e tecnológica do país. plementação desta Lei foi longo e conflituoso, mas apesar das
inúmeras tentativas de eliminar as conquistas obtidas, ao final, a
PROJETO EDUCACIONAL BRASILEIRO Lei promulgada, oferece novas oportunidades educacionais a
todo o povo brasileiro, trazendo um conjunto de definições polí-
O Plano Nacional de Educação (PNE) representa as diretrizes e ticas que visam orientar o sistema educacional e introduz mudan-
as metas a serem alcançadas a longo prazo. É o mapa da cami- ças significativas na educação básica do país.
nhada pela elevação do desempenho das instituições educacio- Após a retrospectiva histórica da educação brasileira a cima
nais. ‚Ali estão as mudanças e os objetivos para que todo o sis- descrito, atentemos as mudanças ocorridas na estrutura educaci-
tema educacional se programe e busque alcançar alvos que per- onal no Brasil, após a atual LDB, vigorando em todo o território
mitam alcançar uma educação com qualidade‛ (NEY, 2008). nacional brasileiro.
A Lei de Diretrizes e Bases Nacional (LDB) tem o papel de re-
gulamentar, disciplinar e estabelecer os sistemas, as estruturas, os Educação Infantil:
recursos para o desenvolvimento da educação, de acordo com a
necessidade do país. A especificidade atribuída a essa etapa da escolarização opõe-
Lembre-se que as Diretrizes correspondem às modalidades se a visão da pré-escola com base na noção de privação ou ca-
da organização da educação, aos ordenamentos de oferta, aos rência cultural, tão expressivo no passado, segundo o qual o
sistemas de conferência de resultados e procedimentos para papel da pré-escola seria o de suprir as deficiências das crianças,
articulação de interestrutura e infraestrutura. Nas diretrizes en- especialmente as de origens populares.
contramos o conteúdo de formulação operativa. As Bases corres- A manutenção da educação infantil como primeira etapa da
pondem às vigas de sustentação que o sistema educacional é educação básica representa uma vitória e a dimensão pedagógica
fundamentado. Aqui estão os princípios axiológicos e os contor- do atendimento de crianças de 0 a 5 anos tem por objetivo o
nos de direitos. desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico,
Um ponto positivo da LDB, é o reconhecimento de que uma psicológico intelectual e social (artigo 29 da LDB).
pessoa não aprende apenas no âmbito escolar, ou na educação Somente com a Constituição Federal de 1988, que começou a
formal, aprende-se no cotidiano em função da família, na qual a alargar os horizontes do ensino infantil no Brasil, pois, em seu
criança recebe seus primeiros ensinamentos e aprende na convi- artigo 208, inciso IV, afirma que é o dever do Estado com a edu-
vência diária os seus primeiros passos da vida. No ambiente, por cação será efetivado mediante a garantia de ‚atendimento em
meio do relacionamento com outras crianças, e o ambiente em creches e pré-escolas a crianças de 0 a 5 anos‛.
que se vive gera aprendizagem. No trabalho, que é por essência Isso significa que o Estado é obrigado pela Constituição Fede-
um princípio educativo, pois os programas educacionais devem ral a disponibilizar vagas para este nível de ensino, pois, a família
ser processos para formar para o trabalho e não pelo trabalho. que achar-se lesada por não conseguir matrícula na rede pública
Nas Instituições de ensino ou pesquisa, que são locais de edu- para o ensino infantil, pode recorrer à promotoria pública que por
cação formal e de formação humana. Nas associações e organi- sua vez acionará judicialmente os órgãos competentes. Direitos
zações civis, que permitem as trocas de experiências em grupos estes conquistados com a Constituição Federal de 1988, princi-
similares ou díspares. Nos movimentos sociais, cuja leitura que a palmente devido à enorme procura de vagas para crianças de 0 a
pessoa faz, possibilita a obtenção de um novo conhecimento e, 5 anos, uma vez que cada vez mais as mulheres conquistavam de
por fim, na Arte, lazer e cultura, que são elementos que contri- maneira significativa posto no mercado de trabalho não dispondo
buem para o desenvolvimento humano. Ou seja, as bases das mais do tempo que outrora tinha para cuidar de suas crianças.
teorias psicogenéticas de Piaget, Vygotsky e Wallon, estão bas- É importante ressaltar que hoje este nível de ensino por força
tante presentes no contexto da LDB. Você consegue perceber da Emenda Constitucional nº 53 de 2006, corresponde as crianças
isso? de 0 a 5 anos de idade.
Outro componente importante no projeto legal para educa- A respeito do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei
ção é o Plano Nacional de educação que historicamente, teve seu federal nº 8.069, de 1990, que é mais uma conquista da socieda-
primeiro estabelecido pelo Ministério da Educação e Cultura em de civil em defesa dos direitos da criança, principalmente das de
1962, sob a aprovação do antigo Conselho Federal de Educação, 0 a 5 anos de idade. Pois, em seu artigo nº 4 afirma:
nasceu, mas não com força de lei. A ideia reapareceu com a

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É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e Essa alteração na LDB do ensino fundamental de 8 anos para
do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetiva- 9 anos é devida da necessidade da melhoria no ensino obrigató-
ção dos direitos referente à vida, à saúde, à alimentação, à educa- rio, sendo assim, o Presidente da República da época, sancionou
ção, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni- no dia 06/02/2006 a Lei nº 11.274 que regulamenta o ensino
dade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comuni- fundamental de nove anos, alterando os artigos 29, 30, 32 e 87 da
tária. LDB, que estabelece as diretrizes da educação nacional.
Ainda em seu artigo nº 53 o Estatuto da Criança e do Adoles- No entanto, devemos estar atentos para o fato de que a inclu-
cente (E.C.A), afirma que a criança tem o direito de ser respeitada são de crianças de seis anos de idade não deverá significar a
por seus, educadores em razão de suas limitações de autodefesa antecipação dos conteúdos e atividades que tradicionalmente
por serem de pouca idade. Pois, são comuns muitas instituições foram compreendidos como adequados à primeira série. Faz
de ensino infantil praticar castigos de toda natureza inclusive necessário, portanto, que se construa uma nova estrutura e orga-
físicos, além do espaço ser inadequado e a falta de formação nização dos conteúdos em um ensino fundamental, agora de
própria dos profissionais para este nível de ensino. Tanto a Cons- nove anos.
tituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente Outra inovação da LBD em seu artigo 26 é a obrigatoriedade
(E.C.A), buscam a proteção e a garantia dos direitos das crianças, do ensino de Artes na grade curricular do ensino fundamental,
garantindo o acesso das mesmas em instituições de ensino de 0 a porém, o ensino da educação física compõe a proposta pedagó-
5 anos. Pois no artigo nº 54 da (E.C. A) reafirma o dever do Estado gica do estabelecimento de ensino, más, torna-se facultativa aos
em assegurar o atendimento em creches e pré-escolas. cursos noturnos. Todas essas mudanças que ocorreram na estru-
Para reforçar o que acima foi descrito a Lei de Diretrizes e Ba- tura do ensino fundamental têm melhorado de maneira significa-
ses da Educação Nacional (L.D.B) lei Federal nº 9394 de 1996, tiva a qualidade neste nível de ensino, no entanto ainda não é o
afirma em seu artigo nº 29 ‚que a educação infantil é a primeira suficiente.
etapa da educação básica e tem como finalidade o seu desenvol-
vimento físico, psicológico, intelectual e social‛. Já no artigo 31 Ensino médio
diz que na educação infantil a avaliação não terá o objetivo de
promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Vale Segundo os artigos 35 e 36 da LDB, esta fase do ensino é a
ressaltar que em seu artigo nº 30 a LDB, subdividem a educação etapa final da educação básica, e observamos que ela vem bus-
infantil em creches para crianças de até 3 anos e pré-escola para cando sua identidade. Ora lhe é delegada a função de preparató-
as crianças de 4 a 5 anos deidade. Em virtude dos acontecimentos rio para a universidade, ora sua finalidade é atender ou preparar
já mencionados chegamos à conclusão que apesar dos enormes para o mercado de trabalho.
esforços por parte do governo federal e sociedade civil em prol Segundo Pinto, o governo Vargas em 1937, implantou um sis-
da melhoria na qualidade do ensino infantil, ainda tem muito que tema de ensino profissionalizante para atender as camadas popu-
se fazer, principalmente na formação dos educadores que atuam lares com objetivo de preparar ‚Mão de obra para o mercado de
neste nível de ensino. Não precisamos de mais leis que assegure trabalho‛, porém, somente o ensino médio propedêutico permitia
os direitos das crianças e sim cumprir as que já existem. acesso ao ensino superior. Mas foi no governo do regime militar
em que o ensino médio teve grandes alterações, pois o presiden-
Ensino fundamental: te Médici através da Lei nº 5692/71, determinou que todas as
escolas do país ministrassem um ensino médio de 3 anos estrita-
Relembrando o histórico desta modalidade, no Brasil a educa- mente de caráter profissionalizante, tudo indica que era uma
ção obrigatória e gratuita foi introduzida com a Constituição tentativa de diminuir a demanda de vagas nas universidades
Federal em 1934 e era composto de apenas cinco anos, somente públicas e barrar as manifestações estudantis que ocorria pelo
por força da Lei nº 5.692/71 esse ensino obrigatório estendeu-se país.
para oito anos com a nomenclatura de primeiro grau. Mas foi No atual texto da LDB (artigo 35, inciso III), o ensino médio,
com a Constituição de 1988 que esta nomenclatura foi alterada objetiva preservar o caráter unitário, partindo da proposta de
para Ensino Fundamental. educação geral. Este nível de ensino desempenha a função de
Segundo Romualdo o ensino fundamental é uma etapa da contribuir para que os jovens consolidem e aprofundem conhe-
educação básica destinada a crianças e adolescentes com dura- cimentos anteriormente adquiridos, visando uma maior compre-
ção mínima de nove anos, obrigatório e gratuito a partir dos seis ensão do significado das Ciências, arte, letras e de outras mani-
anos de idade, de acordo a Lei nº 11.114/05 e conforme a LDB festações culturais.
em seu artigo nº 32 afirma que o Ensino Fundamental terá como Outra função delegada a esta fase final do ensino básico é de
objetivo a formação básica do cidadão mediante inciso III: ‚o possibilitar que os jovens possam ter acesso à educação profissi-
desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em onalizante, aprofundando sua compreensão sobre os fundamen-
vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de tos científicos e tecnológicos. Assim a Lei objetiva-se em possibili-
atitudes e valores‛. tar o aprimoramento do educando como pessoa humana, inclu-
É importante observar que esse artigo, mediante a eliminação indo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelec-
do limite de idade para o direto ao ensino fundamental obrigató- tual e do pensamento crítico.
rio, significa a possibilidade de todos os brasileiros, de qualquer Por fim destaca-se à ampliação da carga horária mínima anual
faixa etária acima de sete anos de idade ter acesso a esta etapa de 200 dias letivos de efetivo trabalho escolar, no nível funda-
da escolarização, podendo exigi-la legalmente do poder público, mental e médio, segundo o artigo 24 incisos I. E também a pro-
pois antes a obrigação do Estado na oferta dessa escolarização gressão continuada, uma inovação que viabilizou procedimentos
excluía os que ultrapassassem a faixa dos quatorze anos. que contribuíram para minimizar os problemas de evasão e repe-

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tência, bem como o tratamento dado com relação a educação  propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes re-
indígena e a educação especial. gular;
 propiciar aos professores da classe regular um suporte técni-
A educação de Jovens e Adultos (EJA): co;
 perceber que as crianças podem aprender juntas, embora
Segundo Kruppa, em 1990 (ano internacional da Alfabetiza- tendo objetivos e processos diferentes;
ção) com Paulo Freire à frente da Secretaria de Educação do Mu-  levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação
nicípio de São Paulo, organizava-se a Primeira Conferência Brasi- com as crianças portadoras de deficiência;
leira de Alfabetização, no qual representantes do Ministério da  propiciar um atendimento integrado ao professor de classe
Educação (MEC) se comprometeram em priorizar a alfabetização comum do ensino regular.
de adultos. Em 1997 o governo Federal desvincula a EJA do MEC
e cria o Programa Alfabetização Solidária, com o objetivo de E que a Educação inclusiva não é:
reduzir as altas taxas de analfabetismo que ainda vigorava em
algumas regiões do país. Programa este presidido pela primeira  levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do
dama do país e atendendo 1,5 milhão e meio de brasileiros em professor especializado;
1200 municípios brasileiros de 15 Estados, trabalhando em parce-  ignorar as necessidades específicas da criança;
rias com empresas, instituições universitárias, pessoas físicas,  fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvi-
prefeituras e o Mistério da Educação (MEC). mento, ao mesmo tempo e para todas as idades;
Além das turmas tradicionais da (EJA), em 2003 o governo do  extinguir o atendimento de educação especial antes do tem-
presidente LULA, criou o Programa Brasil Alfabetizado, que priori- po;
zou de início as instituições filantrópicas, somente a partir do  esperar que os professores de classe regular ensinem as cri-
segundo ano as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação anças portadoras de necessidades especiais sem um suporte
que receberam mais recursos do programa, chegando em 2007 técnico.
com quase 50 % de todos os recursos destinados ao Brasil Alfa-
betizado. Percebe-se ao longo da história e, também na atualidade, que
Em consonância com a Constituição, a LDB, estabelece que ‚O a maioria dos profissionais envolvidos na educação não sabe ou
dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado desconhece a importância e a diferença da educação especial e
mediante a garantia de ensino, obrigatório e gratuito, inclusive educação inclusiva. Por essa razão, veio à realização deste item
para os que a ele não tiveram acesso idade própria‛. para o esclarecimento das pessoas envolvidas na educação e
No seu artigo 37, refere-se à educação de jovens e adultos interessados.
determinando que ‚A educação de jovens e adultos será destina-
da àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos Educação especial:
no ensino fundamental e médio na idade própria‛. No inciso I,
deixa clara a intenção de assegurar educação gratuita e de quali- A Carta Magna é a lei maior de uma sociedade política, como
dade a esse segmento da população, respeitando a diversidade o próprio nome nos sugere. Em 1988, a Constituição Federal, de
que nele se apresenta. cunho liberal, prescrevia, no seu artigo 208, inciso III, entre as
O desafio imposto para a EJA na atualidade se constitui em atribuições do Estado, isto é, do Poder Público, o ‚atendimento
reconhecer o direito do jovem/adulto de ser sujeito; mudar radi- educacional especializado aos portadores de deficiência, prefe-
calmente a maneira como a EJA é concebida e praticada; buscar rencialmente na rede regular de ensino‛. No entanto, muito se
novas metodologias, considerando os interesses dos jovens e tem falado sobre as carências do Sistema Educacional Brasileiro,
adultos; pensar novas formas de EJA articuladas com o mundo do mas, poucas às vezes é mencionado o seu primo pobre – a Edu-
trabalho; investir seriamente na formação de educadores; e reno- cação Especial. Muito menos são reivindicadas melhores condi-
var o currículo de forma interdisciplinar e transversal, entre outras ções para esse segmento que, ao contrário do que parece à pri-
ações, de modo que este passe a constituir um direito, e não um meira vista abrange um número significativo de brasileiros.
favor prestado em função da disposição dos governos, da socie- Segundo os últimos dados oficiais disponíveis do censo esco-
dade ou dos empresários. lar, promovido pelo Ministério da Educação, existem milhões de
crianças e jovens em idade escolar com algum tipo de deficiência.
Educação Inclusiva: Boa parte deles não tem atendimento especializado, estando
matriculados em escolas regulares ou pior, não estudam.
A educação inclusiva é uma educação onde os ditos ‚normais‛ A Educação Especial Brasileira atinge somente pequena parce-
e os portadores de algum tipo de deficiência poderão aprender la dos deficientes, quase a metade deles através de escolas parti-
uns com os outros. Uma depende da outra para que realmente culares e as demais são federais, estaduais e municipais.
exista uma educação de qualidade. A educação inclusiva no Brasil A educação especial trata-se de uma educação voltada para
é um desafio a todos os profissionais de educação. os portadores de deficiências como: auditivas, visuais, intelectual,
Diante deste desafio é importante esclarecer que a Educação física, sensorial, surdocegueira e as múltiplas deficiências.
Inclusiva é: Para que esses educandos tão especiais possam ser educados
e reabilitados, é de extrema importância a participação deles em
 atender aos estudantes portadores de necessidades especiais escolas e instituições especializadas. E que eles disponham de
na vizinhança da sua residência; tudo o que for necessário para o seu desenvolvimento cognitivo.

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A educação profissional no Brasil - OLIVEIRA, Dalila Andrade. Educação Básica: gestão do traba-
lho e da pobreza. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
A Lei 9.394/96, constitui-se num marco para a educação pro- - SAVIANI, Dermeval. Política e Educação no Brasil. São Paulo:
fissional, pois as leis de diretrizes e bases anteriores ou as leis Cortez Autores Associados, 1988.
orgânicas para os níveis e modalidades de ensino, sempre trata-
ram da educação profissional com parcialidade. Legislavam sobre
a vinculação da formação para o trabalho a determinados níveis
de ensino, como a educação formal, quer na época dos ginásios
comerciais e industriais, quer posteriormente através da Lei 66. A mudança para o Ensino Fundamental de Nove Anos, no
5.692/71, com o segundo grau profissionalizante. qual as crianças ingressam com seis anos no primeiro ano
Na atual lei, o Capítulo III do Título V (Dos níveis e das moda- e não mais com sete anos na primeira série, faz com que
lidades de educação e ensino) é totalmente dedicado à educação se repense o trabalho a ser realizado, considerando-se as
profissional, tratando-a na sua inteira dimensão, como parte do suas características.
sistema educacional. Neste novo enfoque a educação profissional
RAPOPORT, Andrea; FERRARI, Andrea; SILVA, João Alberto da. A criança de seis anos e
tem como objetivos não só a formação de técnicos de nível mé- o primeiro ano do ensino fundamental. In: RAPOPORT, A; SARMENTO, D.; NÖMBERG, M.;
dio, mas a qualificação, a requalificação, a reprofissionalização de PACHECO, S. (Orgs.). A criança de seis anos: no ensino fundamental. Porto Alegre:
Mediação, 2009, p. 9.
trabalhadores de qualquer nível de escolaridade, a atualização
tecnológica permanente e a habilitação nos níveis médio e supe- A mudança na Lei descrita no enunciado permitiu aos pro-
rior. Enfim, regulamenta a educação profissional como um todo, fessores do ensino infantil
contemplando as formas de ensino que habilitam e estão referi- A) modificar os procedimentos de avaliação.
das a níveis da educação escolar no conjunto da qualificação B) ampliar as oportunidades de qualificação.
permanente para as atividades produtivas. C) descartar a obrigatoriedade de alfabetizar.
Mais uma vez aparece na Lei de Diretrizes e Bases, no Art. 39, D) repensar as estratégias de curricularização.
a referência ao conceito de ‚aprendizagem permanente‛. A edu- E) alterar a permanência dos alunos na escola.
cação profissional deve levar ao permanente desenvolvimento de
aptidões para a vida produtiva. E mais uma vez, também, destaca 67. O Parecer da Câmara de Educação Básica do Conselho
a relação entre educação escolar e processos formativos, quando Nacional de Educação nº 04 de 1998 esclarece que os sis-
faz referência à integração entre a educação profissional e as temas de ensino possuem autonomia para desenvolver
‚diferentes formas de educação‛, o trabalho, a ciência e a tecno- suas áreas curriculares. Contudo, deixa claro que as pro-
logia. O parágrafo único deste artigo e os artigos 40 e 42 introdu- postas pedagógicas das escolas devem integrar bases teó-
zem o caráter complementar da educação profissional e ampliam ricas que favoreçam a organização dos conteúdos do pa-
sua atuação para além da escolaridade formal e seus lócus para radigma curricular da Base Nacional Comum e sua Parte
além da escola. Diversificada, visando ser coerente:
Finalmente, estabelece a forma de reconhecimento e certifica- A) na legislação, no controle e no monitoramento.
ção das competências adquiridas fora do ambiente escolar, quer B) na programação, na execução e no monitoramento.
para prosseguimento de estudos, quer para titulação, de forma C) no currículo oculto, no currículo formal e no currículo real.
absolutamente inovadora em relação à legislação preexistente. D) no planejamento, desenvolvimento e avaliação das práticas
pedagógicas

BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO: 68. Na primeira reunião do ano, a diretora de uma escola
municipal planejou com sua equipe o trabalho a ser de-
- ABREU, Mariza. Organização da Educação Nacional na senvolvido com as turmas de Educação Infantil, discutindo
especialmente as formas de avaliação das crianças e a dis-
Constituição e na L.D.B. Ijuí: Editora Unijuí, 1998.
tribuição de carga horária pelos dias de trabalho educaci-
- AFONSO, Almerindo Janela. Reforma do Estado e Políticas
onal. Nessa reunião, eles verificaram que, conforme o dis-
Educacionais: Entre a Crise do Estado-Nação e a Emergência
posto na Lei nº 9.394/1996 e suas alterações posteriores, a
da Regulação Supranacional. Educação & Sociedade, ano avaliação deve ser feita mediante
XXII, n. 75, agosto/2001. A) realização de provas subjetivas, com o objetivo de promoção
- ARTIGOS 7, 23, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e para o acesso ao Ensino Fundamental, e carga horária mínima
ao artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitó- anual de 700 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias
rias. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 2006. de trabalho educacional.
- ALVES, J. R.M. A Educação a Distância no Brasil. Instituto de B) realização de provas objetivas visando à promoção para o
Pesquisas Avançadas em Educação, Brasil, 2007. acesso ao Ensino Fundamental e Médio, e carga horária míni-
- CUNHA, Luiz Antônio. Educação, Estado e Democracia no ma anual de 900 horas, distribuídas por um mínimo de 250
Brasil. São Paulo: Ed. Cortez 1991. dias de trabalho educacional.
- CURY, Carlos Roberto Jamil. A Educação Básica No Brasil. C) acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian-
Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 80, setembro/2002, pp. 168- ças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
200. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso Ensino Fundamental, e carga horária mínima anual de 800 ho-
em: 24 fev. 2012. ras, distribuídas por um mínimo de 200 dias de trabalho edu-
- DAVIES, N. FUNDEB: a redenção da educação básica? Campi- cacional.
nas: Autores Associados, 2008.

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D) acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian- 71. A avaliação escolar tem três funções possíveis: somativa,
ças, e provas objetivas, com a finalidade de promoção para o diagnóstica e formativa. A ênfase dada pela pedagogia
acesso ao Ensino Fundamental, e carga horária anual de, no tradicional à avaliação somativa deu lugar, nas últimas dé-
mínimo, 850 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias cadas, à avaliação formativa, por ser mais compatível com
de trabalho educacional. as concepções contemporâneas do educando como agen-
E) acompanhamento e registro do desenvolvimento das crian- te da sua aprendizagem, bem como com a busca de um
desenvolvimento autônomo e preservação da autoestima.
ças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
Em toda a educação básica e, particularmente, na educa-
Ensino Fundamental, e carga horária mínima anual de 700 ho-
ção infantil, a avaliação formativa deve ser priorizada. Po-
ras, distribuídas por um mínimo de 180 dias de trabalho edu-
de-se considerar uma boa prática de avaliação formativa
cacional.
A) o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
B) esta prova de concurso que você está respondendo.
69. Em uma determinada escola, no início do ano, professores
C) a Provinha Brasil, que afere o desempenho da leitura no 1º
se organizavam para planejar a proposta pedagógica para
ano do EF.
o ano letivo. Um grupo de professores entregou à Coor-
denação Pedagógica sua listagem de conteúdos que seri- D) portfólio ou os registros dos trabalhos sobre a vida escolar de
am desenvolvidos ao longo do ano e preparava-se para ir cada aluno.
embora. A direção da escola solicitou que permanecessem E) os testes aplicados na seleção de candidatos a emprego pelos
para a reunião de planejamento com todo o corpo docen- setores de RH.
te. A diretora tomou essa iniciativa baseada na Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação nº 9394, de 20 de novembro 72. Sobre o Plano Nacional de Educação – PNE, aprovado pela
de 1996, que anuncia em seu Art. 13, que docentes in- Lei n. 13.005/2014, é incorreto afirmar que:
cumbir-se-ão de: A) Uma de suas diretrizes é a promoção dos princípios do respei-
A) ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de to aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
participar integralmente dos períodos dedicados ao planeja- socioambiental.
mento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. B) Caberá unicamente aos municípios a elaboração de seus cor-
B) ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de respondentes planos de educação ou adequar os planos já
participar facultativamente dos períodos dedicados ao plane- aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas e
jamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. estratégias previstas nesse PNE, no prazo de 1 (um) ano, con-
C) elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo sua proposta tado da publicação desta Lei.
pedagógica, garantindo assim a autonomia pedagógica do C) O Fórum Nacional de Educação tem também a atribuição de
docente. acompanhar a execução do PNE e o cumprimento de suas
D) elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta metas.
pedagógica do estabelecimento de ensino. D) Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do Dis-
trito Federal a adoção das medidas governamentais necessá-
70. O Título IV da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, rias ao alcance das metas previstas nesse PNE.
estabelece a “Organização da Educação Nacional”, defi-
nindo incumbências aos entes federativos (União, Estados, 73. A respeito das metas e estratégias relativas à educação
Distrito Federal e Municípios). superior no Plano Nacional de Educação (PNE – Lei n.
13.005/2014), analise as afirmativas.
Acerca das incumbências relativas à União, assinale a al- I. Elevar a taxa bruta de matrículas na educação superior para
ternativa correta. 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos.
A) Exercer função redistributiva e supletiva para que os demais II. Promover a formação inicial e continuada dos profissionais
entes da federação consigam atingir o atendimento prioritário técnico-administrativos da educação superior.
à escolaridade obrigatória. III. Extinguir progressivamente as matrículas custeadas por meio
B) Normatizar acerca do funcionamento, extinção e outros as- do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e ampliar a ofer-
pectos relativos aos cursos de graduação e pós-graduação ta de vagas por meio da rede de universidades federais, da
nas instituições públicas e privadas de ensino. Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológi-
C) Apresentar um Plano Nacional de Educação elaborado por ca e do Sistema Universidade Aberta do Brasil.
seu corpo de técnicos, que servirá de referência aos Estados, IV. Substituir o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
Distrito Federal e Municípios na elaboração de seus próprios (ENADE) aplicado ao final do primeiro ano do curso de gradu-
planos. ação pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), com a fi-
D) Financiar os entes federativos para que montem seus próprios nalidade de apurar o valor agregado dos cursos de gradua-
processos de avaliação do rendimento escolar no ensino mé- ção.
dio e superior, objetivando a definição de diretrizes para a
melhoria do ensino. Está correto o que se afirma em:
E) Fiscalizar a elaboração e implementação de um sistema de A) I, II e IV, apenas.
avaliação das instituições de ensino superior estaduais e mu- B) I, II e III, apenas.
nicipais, garantindo que aqueles entes encaminhem uma con- C) II e IV, apenas.
tínua prática avaliativa. D) I e III, apenas.

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74. Sobre as estratégias, definidas pelo Plano Nacional de 77. Segundo a LDB, a classificação em qualquer série ou eta-
Educação (PNE), que visam assegurar que todos os profes- pa, exceto para a primeira do ensino fundamental, pode
sores da educação básica possuam formação específica de ser feita por
nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de A) promoção, para alunos que cursaram, sem aproveitamento, a
conhecimento em que atuam, assinale a afirmativa incor- série anterior, em outra escola.
reta: B) transferência, para candidatos procedentes de outras escolas.
A) Ampliar programa permanente de iniciação à docência a C) avaliação quantitativa baseada em instrumento de ano ou
estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de etapa posterior.
aprimorar a formação de profissionais para atuar no magisté- D) prova objetiva realizada pelo conselho escolar.
rio da educação básica.
B) Promover, exclusivamente, a formação continuada em nível de 78. Um dos critérios a serem observados na verificação do
pós-graduação Lato Sensu dos Técnicos Administrativos e rendimento escolar é o(a)
Técnicos em Assuntos Educacionais nas instituições de ensino A) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,
superior, tendo em vista que os mesmos não desenvolvem com prevalência dos aspectos quantitativos sobre os qualitati-
ações de pesquisa. vos.
C) Implementar programas específicos para formação de profis- B) diminuição do ritmo de ensino/aprendizagem para alunos
sionais da educação para as escolas do campo e de comuni- com atraso escolar.
dades indígenas e quilombolas e para a educação especial. C) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante
D) Implementar cursos e programas especiais para assegurar verificação do aprendizado.
formação específica na educação superior, nas respectivas D) aproveitamento de estudos, mesmo dos não concluídos com
áreas de atuação, aos docentes com formação de nível médio êxito.
na modalidade normal, não licenciados ou licenciados em
área diversa da de atuação docente, em efetivo exercício. 79. A expedição de histórico escolar, declaração de conclusão
de série/ano, diplomas ou certificados de conclusão de
75. A Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o cursos é de responsabilidade do(da)
Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providên- A) Secretaria Municipal de Educação.
cias, garante o atendimento das necessidades específicas B) Conselho Escolar e de Classe.
na educação especial, assegurando o sistema educacional C) Conselho Municipal de Educação.
inclusivo para: D) Instituição de Ensino.
A) Somente para a Educação Básica.
B) Todos os níveis, etapas e modalidades. 80. Conforme disposto no regimento escolar e nas normas do
C) Somente para o Ensino Fundamental. sistema de ensino, o controle de frequência fica a cargo da
D) Para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. escola, exigida a frequência mínima de
E) Para a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A) vinte e cinco por cento do total de horas letivas para aprova-
ção.
76. Indique a opção que completa corretamente a lacuna da B) setenta e cinco por cento do total de horas letivas para apro-
assertiva a seguir. vação.
Ao processo de análise ou julgamento da prática denomina-se C) oitenta e cinco por cento do total de horas letivas para apro-
como ______ ; constitui a instância crítica da operacionalização vação.
ou da melhoria de uma linha de ação ou execução de um pla- D) noventa e cinco por cento do total de horas letivas para apro-
no. Ao processo de coordenação da execução de uma linha vação.
de ação denominação de _______ . Ambos, em conjunto com
______ e ______, percebe-se a prática profissional da supervisão:
1. como trabalho de coordenação e controle da prática edu-
cativa que visa assegurar os princípios e as finalidades da
educação na prática pedagógica; 2. Como interprete do signi-
ficado das políticas e das práticas no duplo movimento que
possa realmente comprometer-se com os princípios e as fina-
lidades da educação.

A) Gestão / política / avaliação / planejamento.


B) Política / avaliação / planejamento / gestão.
C) Planejamento / aprendizagem / política / avaliação.
D) Aprendizagem / gestão / organização / política.
E) Avaliação / gestão / política / planejamento.

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6. POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA sociedade mais solidária, reconhecendo suas potencialidades e os
A EDUCAÇÃO BÁSICA. desafios para inserção no mundo competitivo do trabalho.
A identidade do ensino médio se define na superação do dua-
lismo entre propedêutico e profissionalizante. Importa, ainda, que
6.1 ENSINO MÉDIO.
se configure um modelo que ganhe identidade unitária para esta
O Ensino Médio, no Brasil, tem se constituído, ao longo da etapa da educação básica e que assuma formas diversas e con-
história da educação brasileira, como o nível de maior complexi- textualizadas, tendo em vista a realidade brasileira. Busca-se uma
dade na estruturação de políticas públicas de enfrentamento aos escola que não se limite ao interesse imediato, pragmático e
desafios estabelecidos pela sociedade moderna, em decorrência utilitário.
de sua própria natureza enquanto etapa intermediária entre o Entender a necessidade de uma formação com base unitária
Ensino Fundamental e a Educação Superior e a particularidade de implica em perceber as diversidades do mundo moderno, no
atender a adolescentes, jovens e adultos em suas diferentes ex- sentido de se promover à capacidade de pensar, refletir, compre-
pectativas frente à escolarização, levando-se em consideração ender e agir sobre as determinações da vida social e produtiva –
que estes conceitos são estabelecidos por uma construção social que articule trabalho, ciência e cultura na perspectiva da emanci-
e como estes sujeitos se vêem neste processo, que está intima- pação humana, de forma igualitária a todos os cidadãos.
mente ligado com a representação social que lhes é atribuída. Por esta concepção, o ensino médio deverá se estruturar em
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei consonância com o avanço do conhecimento científico e tecnoló-
9394-96), ao situar o Ensino Médio como etapa final da Educação gico, fazendo da cultura um componente da formação geral,
Básica, define-a como a conclusão de um período de escolariza- articulada com o trabalho produtivo. Isso pressupõe a vinculação
ção de caráter geral. Trata-se de reconhecê-lo como parte de dos conceitos científicos com a prática relacionada à contextuali-
uma etapa da escolarização que tem por finalidade o desenvol- zação dos fenômenos físicos, químicos e biológicos, bem como a
vimento do indivíduo, assegurando-lhe a formação comum indis- superação das dicotomias entre humanismo e tecnologia e entre
pensável para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios a formação teórica geral e técnica-instrumental.
para progredir no trabalho e em estudos posteriores (art. 22). Entre os esforços atuais para se alcançar as expectativas de
As disposições legais sobre o ensino médio deixam clara a uma educação pública, gratuita com qualidade para essa etapa
importância da educação geral como meio de preparar para o nasce o Programa Ensino Médio Inovador buscando os seguintes
trabalho e formar pessoas capacitadas à sua inserção social cida- impactos e transformações: Superação das desigualdades de
dã, de se perceberem como sujeitos de intervenção de seu pró- oportunidades educacionais; Universalização do acesso e per-
prio processo histórico, atentos às transformações da sociedade, manência dos adolescentes de 15 a 17 anos no ensino médio;
compreendendo os fenômenos sociais e científicos que permei-  Consolidação da identidade desta etapa educacional, conside-
am o seu cotidiano, possibilitando, ainda, a continuação de seus rando a diversidade de sujeitos;
estudos.  Oferta de aprendizagem significativa para jovens e adultos,
Paralelamente à expansão do atendimento, as políticas públi- reconhecimento e priorização da interlocução com as culturas
cas educacionais se concentraram também em aspectos relacio- juvenis;
nados à permanência do aluno na escola e à qualidade dos servi-
6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo e avalia-
ços oferecidos. Questões como as condições de funcionamento
ção.
das escolas, a formação e a capacitação dos professores, a quali-
dade do material didático, a leitura no trabalho escolar, a partici- SINTESE DAS DIRETRIZES CURRICULARES
pação dos pais na escola e a qualidade da merenda escolar foram PARA O ENSINO MÉDIO
priorizadas para compensar os efeitos da maior incorporação de
alunos provenientes de famílias de menor escolaridade. Identidade e finalidades do Ensino Médio
O governo federal estabelece como prioridade o desenvolvi-
mento de programas e 3 projetos, em regime de colaboração A identidade do Ensino Médio se configura quando afirma-
com Municípios, Distrito Federal e Estados, que visam à melhoria mos que ele é a última etapa da Educação Básica e como tal é um
da qualidade da educação básica, dentro do que dispõe o Plano direito de todos que deve ser garantido pelo Estado e incentivado
de Metas, Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007. pela sociedade. Nos moldes do art. 3º da Resolução CNE/CEB nº
No contexto histórico da educação brasileira cabe destacar 2/2012, o Ensino Médio é um direito social de cada pessoa e
que o ensino fundamental e o educação superior sempre tiveram dever do Estado na sua oferta pública e gratuita.
seus objetivos e finalidades claramente delineadas nas legislações A Resolução CNE/CEB nº 2/2012 reforça essa identidade
educacionais, sendo que, só a partir da aprovação da Lei de Dire- quando lista, no seu art. 5º, os princípios que devem nortear o
trizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, o ensino médio Ensino Médio na sua oferta e organização:
passou a ser visto como etapa da educação básica, com diretrizes Art. 5º O Ensino Médio em todas as suas formas de oferta e
e finalidades expressas nos Artigos 35 e 36 da LDB. organização, baseia-se em:
A ênfase da lei, que situa o ensino médio como etapa final da I – Formação integral do estudante.
educação básica, implica compreender a necessidade de adotar II – Trabalho e pesquisa como princípios educativos e peda-
diferentes formas de organização curricular, e, sobretudo, estabe- gógicos, respectivamente.
lecer princípios orientadores para a garantia de uma formação III – Educação em Direitos Humanos como princípio nacional
eficaz dos jovens brasileiros, capaz de atender os diferentes an- norteador.
seios dos jovens que se encontram na faixa etária de escolariza- IV – Sustentabilidade ambiental como meta universal.
ção, que possam participar do processo de construção de uma

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V – Indissociabilidade entre educação e prática social, consi- mundo, interesses e necessidades singulares. Além disso, deve-se
derando-se a historicidade dos conhecimentos e dos sujeitos do aceitar a existência de pontos em comum que permitam tratá-lo
processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo como uma categoria social.
de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, sugere-se que, para viabilizar o atendimento a
VI – Integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, todos os estudantes do Ensino Médio, faz-se necessário discutir
técnico-profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinari- as características sócio-econômico-culturais dos jovens que o
dade e da contextualização. frequentam; entender as representações que a escola, seus pro-
VII – Reconhecimento e aceitação da diversidade e da realida- fessores e dirigentes fazem dos estudantes; saber quais sentidos
de concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de e significados os jovens atribuem à experiência escolar; conhecer
produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subja- como os jovens interagem com a diversidade e em que medida a
centes. cultura escolar instituída se aproxima ou se distancia das expecta-
VIII – Integração entre educação e as dimensões do trabalho, tivas dos jovens estudantes.
da ciência, da tecnologia e da cultura como base da proposta e Além disso, é importante verificar se a experiência escolar ofe-
do desenvolvimento curricular. recida guarda alguma relação com os interesses pessoais e os
§ 1º O trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica projetos de vida dos estudantes; identificar em que medida as
de transformação da natureza, como realização atividades desenvolvidas na escola podem contribuir para que os
inerente ao ser humano e como mediação no processo de estudantes elaborem seus projetos de futuro; e verificar se há
produção da sua existência; aspectos que necessitam ser modificados no sentido de favorecer
§ 2º A ciência é conceituada como o conjunto de conhecimen- a permanência dos estudantes, com sucesso, na escola.
tos sistematizados, produzidos socialmente ao longo da história, Esses temas devem pautar as discussões de professores e ges-
na busca da compreensão e transformação da natureza e da tores ao decidir a organização dos estabelecimentos escolares.
sociedade. Essas discussões devem ser realizadas com particular atenção
§ 3º A tecnologia é conceituada como a transformação da ci- quando do atendimento aos estudantes do Ensino Médio notur-
ência em força produtiva ou mediação do conhecimento científi- no, estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), estudantes
co e a produção, marcada, desde sua origem, pelas relações soci- indígenas, do campo, quilombolas e estudantes da Educação
ais que a levaram a ser produzida. Especial.
§ 4º A cultura é conceituada como o processo de produção de
expressões materiais, símbolos, representações e significados que O currículo do Ensino Médio
correspondem a valores éticos, políticos e estéticos que orientam
as normas de conduta de uma sociedade. Nessas Diretrizes Curriculares Nacionais, o currículo é enten-
No mesmo diapasão, a Resolução traz no art. 4º as finalidades dido como a seleção de conhecimentos historicamente acumula-
do Ensino Médio, onde lê-se as finalidades para essa etapa: dos, considerados relevantes e pertinentes em um dado contexto
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos histórico, e definidos tendo por base o projeto de sociedade e de
adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prossegui- formação humana que a ele se articula. O currículo se expressa
mento de estudos; por meio de uma proposta pela qual se explicitam as intenções
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu- da formação e se concretiza por meio das práticas escolares reali-
cando para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se zadas com vistas a dar materialidade a essa proposta.
adaptar a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento Os conhecimentos escolares são reconhecidos como aqueles
posteriores; produzidos pelos homens no processo histórico de produção de
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, in- sua existência material e imaterial, valorizados e selecionados
cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia pela sociedade e pelas escolas que os organizam a fim de que
intelectual e do pensamento crítico; possam ser ensinados e aprendidos, tornando-se elementos do
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos desenvolvimento cognitivo do estudante, bem como de sua for-
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. mação ética, estética e política.
No atendimento ao que estabelece a LDB, o currículo do Ensi-
Os sujeitos/estudantes do Ensino Médio no Médio tem uma base comum, complementada em cada sis-
tema de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte
A decisão sobre a oferta e organização do Ensino Médio deve diversificada. A base nacional comum e a parte diversificada cons-
ser precedida de uma análise dos destinatários e sujeitos dessa tituem um todo 38 integrado e não podem ser consideradas
etapa educacional que são, predominantemente, adolescentes e como dois blocos distintos. A articulação entre ambas possibilita
jovens. a sintonia dos interesses mais amplos da formação básica do
Estas Diretrizes Curriculares concebem a juventude como cidadão com a realidade local e dos estudantes, perpassando
condição sócio-histórico cultural de uma categoria de sujeitos todo o currículo.
que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com Em atendimento ao que determina a LDB, o currículo é orga-
especificidades próprias que não estão restritas às dimensões nizado em quatro áreas do conhecimento:
biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma
multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo  Linguagens
múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. Entender o jovem  Matemática
do Ensino Médio dessa forma significa superar uma noção ho-  Ciências naturais
mogeneizante e naturalizada desse estudante, passando a perce-  Ciências sociais.
bê-lo como sujeito com valores, comportamentos, visões de

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Destaca-se que o currículo deve contemplar as quatro áreas ções dos sujeitos e a realidade da escola e do seu meio. A inter-
de conhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a disciplinaridade e a contextualização devem assegurar a transver-
contextualização e a interdisciplinaridade ou outras formas de salidade do conhecimento de diferentes componentes curricula-
interação e articulação entre diferentes campos de saberes espe- res, propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes
cíficos. campos do conhecimento. Direitos e objetivos de aprendizagem
A legislação nacional determina os componentes obrigatórios dos estudantes do Ensino Médio.
que constituem a base nacional comum e que devem ser tratados As Diretrizes Curriculares Nacionais partem do princípio de
em uma ou mais áreas de conhecimento na composição do currí- que o Ensino Médio é um direito de todos e que o direito para
culo. São eles: ser efetivado deve ser explicitamente enunciado. Nesse sentido,
as Diretrizes enunciam, no art. 12 da Resolução CNE/CEB nº
a) o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática, o conheci- 2/2012, o que deve ser garantido aos estudantes do Ensino Mé-
mento do mundo físico e natural e da realidade social e políti- dio.
ca, especialmente do Brasil; Artigo 12 O currículo do Ensino Médio deve garantir ações
b) o ensino da Arte, especialmente em suas expressões regio- que promovam:
nais, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos es- a) a educação tecnológica básica, a compreensão do significado
tudantes, com a Música como seu conteúdo obrigatório, mas da ciência, das letras e das artes;
não exclusivo; b) o processo histórico de transformação da sociedade e da
c) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da insti- cultura;
tuição de ensino, sendo sua prática facultativa ao estudante c) a Língua Portuguesa como instrumento de comunicação,
nos casos previstos em lei; acesso ao conhecimento e exercício da cidadania.
d) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as contribui- Desse modo, os conteúdos, as metodologias e a avaliação de-
ções das diferentes culturas e etnias para a formação do povo vem ser organizados de maneira que, no final do Ensino Médio, o
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e eu- estudante demonstre domínio dos princípios científicos e tecno-
ropeia; lógicos que presidem a produção moderna e conhecimentos das
e) o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, no formas contemporâneas de linguagem. Para além das capacida-
âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de des cognitivas listadas no art. 12, o Ensino Médio deve, em aten-
Educação Artística e de Literatura e História brasileiras; dimento ao que determina o art. 32 da LDB, propiciar o desenvol-
f) a Filosofia e a Sociologia em todos os anos do curso; vimento da capacidade de aprender e a compreensão do ambien-
g) uma língua estrangeira moderna na parte diversificada, esco- te natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e
lhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter dos valores em que se fundamenta a sociedade.
optativo, dentro das disponibilidades da instituição.
O papel dos estabelecimentos escolares e dos sistemas de
Formas de organização do Ensino Médio ensino.

As Diretrizes Curriculares Nacionais orientam e estimulam Ainda na busca da garantia do direito dos estudantes, as Dire-
que, guardadas as cargas horárias definidas pela LDB, o Ensino trizes apostam na capacidade e no compromisso dos estabeleci-
Médio possa ser organizado nos diferentes formatos conforme a mentos escolares e dos sistemas de ensino. Por isso, afirmam que
necessidade local. Pode ser organizado em séries anuais, perío- cabe a cada unidade de ensino a elaboração do seu projeto polí-
dos semestrais, ciclos, módulos, alternância regular de períodos tico pedagógico, com a proposição de alternativas para a forma-
de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na compe- ção integral e acesso aos conhecimentos e saberes necessários,
tência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, definindo a partir de aprofundado processo de diagnóstico, análi-
sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o se e estabelecimento de prioridades, delimitação de formas de
recomendar. implementação e sistemática de seu acompanhamento e avalia-
Os componentes curriculares devem propiciar a apropriação ção.
de conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informa- O projeto político-pedagógico, na sua concepção e imple-
ções e conhecimentos, estabelecendo um conjunto necessário de mentação, deve considerar os estudantes e os professores como
saberes integrados e significativos. Além de seleção criteriosa de sujeitos históricos de direitos, participantes ativos e protagonistas
saberes, em termos de quantidade, pertinência e relevância, deve na sua diversidade e singularidade.
ser equilibrada sua distribuição ao longo do curso, para evitar A instituição de ensino deve atualizar, periodicamente, seu
fragmentação e congestionamento com número excessivo de projeto político pedagógico e dar-lhe publicidade à comunidade
componentes em cada tempo da organização escolar. A organi- escolar e às famílias.
zação curricular do Ensino Médio deve oferecer tempos e espaços Os sistemas de ensino, de acordo com a legislação e a norma-
próprios para estudos e atividades que permitam itinerários for- tização nacional e estadual, e na busca da melhor adequação
mativos opcionais diversificados, a fim de melhor responder à possível às necessidades dos estudantes e do meio social, devem
heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos interesses criar mecanismos que garantam liberdade, autonomia e respon-
e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua capacidade de
sociais e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento. For- concepção, formulação e execução de suas propostas pedagógi-
mas diversificadas de itinerários podem ser organizadas, desde cas; fomentar alternativas de diversificação e flexibilização pelas
que garantida a simultaneidade entre as dimensões do trabalho, unidades escolares, de formatos, componentes curriculares ou
da ciência, da tecnologia e da cultura, e definidas pelo projeto formas de estudo e atividades, estimulando a construção de itine-
político-pedagógico, atendendo necessidades, anseios e aspira- rários formativos que atendam às características, interesses e

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necessidades dos estudantes e às demandas do meio social, privi- Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações obtidas com
legiando propostas com opções pelos estudantes. vistas a planejar o futuro. Portanto, medir não é avaliar, ainda que
Cabe, ainda, aos sistemas prover os recursos financeiros e ma- o medir faça parte do processo de avaliação. Avaliar a aprendiza-
teriais necessários à ampliação dos tempos e espaços dedicados gem do estudante não começa e muito menos termina quando
ao trabalho educativo nas unidades escolares; garantir professo- atribuímos uma nota à aprendizagem.
res com jornada de trabalho e formação adequadas para o de- A educação escolar é cheia de intenções, visa a atingir deter-
senvolvimento do currículo, bem como dos gestores e demais minados objetivos educacionais, sejam estes relativos a valores,
profissionais das unidades escolares; acompanhamento e avalia- atitudes ou aos conteúdos escolares.
ção dos programas e ações educativas nas respectivas redes e A avaliação é uma das atividades que ocorre dentro de um
unidades escolares. processo pedagógico. Este processo inclui outras ações que im-
plicam na própria formulação dos objetivos da ação educativa, na
O papel do Ministério da Educação. definição de seus conteúdos e métodos, entre outros. A avaliação,
portanto, sendo parte de um processo maior, deve ser usada
Ao Ministério da Educação, como representante da União, ca- tanto no sentido de um acompanhamento do desenvolvimento
be oferecer subsídios e apoio para implementação das Diretrizes do estudante, como no sentido de uma apreciação final sobre o
Curriculares Nacionais e a elaboração de proposta que explicite que este estudante pôde obter em um determinado período,
os direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos sempre com vistas a planejar ações educativas futuras. Quando a
estudantes, que orientem e subsidiem os estabelecimentos esco- avaliação acontece ao longo do processo, com o objetivo de
lares e os sistemas de ensino na busca da garantia de educação reorientá-lo, recebe o nome de avaliação formativa e quando
de qualidade. Cabe ainda ao MEC instituir uma política de forma- ocorre ao final do processo, com a finalidade de apreciar o resul-
ção de professores e organizar as avaliações externas em concor- tado deste, recebe o nome de avaliação somativa. Uma não é
dância com estas Diretrizes. nem pior, nem melhor que a outra, elas apenas têm objetivos
diferenciados.
A avaliação e o Papel Social da Educação Escolar A concepção de educação e a avaliação Para se instaurar um
debate no interior da escola, sobre as práticas correntes de avali-
Até que ponto, nós, professores, refletimos sobre nossas ação, é necessário que explicitemos nosso conceito de avaliação.
ações cotidianas na escola, nossas práticas em sala de aula, sobre Qual a função da avaliação, a partir do papel da educação escolar
a linguagem que utilizamos, sobre aquilo que pré-julgamos ou na sociedade atual? Às vezes, aquilo que parece óbvio não o é
outras situações do cotidiano? Muitas vezes, nosso discurso ex- tanto assim.
pressa aquilo que entendemos como adequado em educação e Para que é feita a avaliação na escola? Qual o lugar da avalia-
aquilo que almejamos. Isso tem seu mérito! Contudo, nossas ção no processo de ensino e aprendizagem?
práticas, imbuídas de concepções, representações e sentidos, ou Tradicionalmente, nossas experiências em avaliação são mar-
seja, repletas de ações que fazem parte de nossa cultura, de nos- cadas por uma concepção que classifica as aprendizagens em
sas crenças, expressam um ‚certo modo‛ de ver o mundo. Esse certas ou erradas e, dessa forma, termina por separar aqueles
‚certo modo‛ de ver o mundo, que está imbricado na ação do estudantes que aprenderam os conteúdos programados para a
professor, traz para nossas ações reflexos de nossa cultura e de série em que se encontram daqueles que não aprenderam. Essa
nossas práticas vividas, que ainda estão muito impregnados pela perspectiva de avaliação classificatória e seletiva, muitas vezes,
lógica da classificação e da seleção, no que tange à avaliação torna-se um fator de exclusão escolar.
escolar. Entretanto, é possível concebermos uma perspectiva de avali-
Um exemplo diz respeito ao uso das notas escolares que co- ação cuja vivência seja marcada pela lógica da inclusão, do diálo-
locam os avaliados em uma situação classificatória. Nossa cultura go, da construção da autonomia, da mediação, da participação,
meritocrática naturaliza o uso das notas a fim de classificar os da construção da responsabilidade com o coletivo. Tal perspecti-
melhores e os piores avaliados. Em termos de educação escolar, va de avaliação alinha-se com a proposta de uma escola mais
os melhores seguirão em frente, os piores voltarão para o início democrática, inclusiva, que considera as infindáveis possibilidades
da fila, refazendo todo o caminho percorrido ao longo de um de realização de aprendizagens por parte dos estudantes. Essa
período de estudos. Essa concepção é naturalmente incorporada concepção de avaliação parte do princípio de que todas as pes-
em nossas práticas e nos esquecemos de pensar sobre o que, de soas são capazes de aprender e de que as ações educativas, as
fato, está oculto e encoberto por ela. estratégias de ensino, os conteúdos das disciplinas devem ser
Em nossa sociedade, de um modo geral, ainda é bastante co- planejados a partir dessas infinitas possibilidades de aprender dos
mum as pessoas entenderem que não se pode avaliar sem que os estudantes.
estudantes recebam uma nota pela sua produção. Avaliar, para o Pode-se perceber, portanto, que as intenções e usos da avali-
senso comum, aparece como sinônimo de medida, de atribuição ação estão fortemente influenciados pelas concepções de educa-
de um valor em forma de nota ou conceito. Porém, nós, professo- ção que orientam a sua aplicação. Hoje, é voz corrente afirmar-se
res, temos o compromisso de ir além do senso comum e não que a avaliação não deve ser usada com o objetivo de punir, de
confundir avaliar com medir. Avaliar é um processo em que reali- classificar ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação
zar provas e testes, atribuir notas ou conceitos é apenas parte do somativa a estes objetivos excludentes. Entretanto, tanto a avalia-
todo. A avaliação é uma atividade orientada para o futuro. Avalia- ção somativa quanto a formativa podem levar a processos de
se para tentar manter ou melhorar nossa atuação futura. Essa é a exclusão e classificação, na dependência das concepções que
base da distinção entre medir e avaliar. Medir refere-se ao pre- norteiem o processo educativo. A prática da avaliação pode acon-
sente e ao passado e visa obter informações a respeito do pro- tecer de diferentes maneiras. Deve estar relacionada com a pers-
gresso efetuado pelos estudantes. pectiva para nós coerente com os princípios de aprendizagem

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que adotamos e com o entendimento da função que a educação A avaliação formativa, assim, favorece os processos de auto-
escolar deve ter na sociedade. avaliação, prática ainda não incorporada de maneira formal em
Se entendermos que os estudantes aprendem de variadas nossas escolas. Instaurar uma cultura avaliativa, no sentido de
formas, em tempos nem sempre tão homogêneos, a partir de uma avaliação entendida como parte inerente do processo e não
diferentes vivências pessoais e experiências anteriores e, junto a marcada apenas por uma atribuição de nota, não é tarefa muito
isso, se entendermos que o papel da escola deva ser o de incluir, fácil. Uma pergunta, portanto, que o coletivo escolar necessita
de promover crescimento, de desenvolver possibilidades para responder diz respeito às concepções de educação que orientam
que os sujeitos realizem aprendizagens vida afora, de socializar sua prática pedagógica, incluindo o processo de avaliação. Qual o
experiências, de perpetuar e construir cultura, devemos entender entendimento que a escola construiu sobre sua concepção de
a avaliação como promotora desses princípios, portanto, seu educação e de avaliação? Há pelos menos dois aspectos sobre os
papel não deve ser o de classificar e selecionar os estudantes, quais a escola precisa refletir, como parte de sua concepção de
mas sim o de auxiliar professores e estudantes a compreenderem educação. Um diz respeito à exclusão que ela pode realizar, caso
de forma mais organizada seus processos de ensinar e aprender. afaste os estudantes da cultura, do conhecimento escolar e da
Essa perspectiva exige uma prática avaliativa que não deve ser própria escola, pela indução da evasão por meio de reprovação,
concebida como algo distinto do processo de aprendizagem. como já foi abordado no texto sobre currículo e cultura. ... A au-
Entender e realizar uma prática avaliativa ao longo do proces- to-avaliação torna-se uma ferramenta importante, capaz de pro-
so é pautar o planejamento dessa avaliação, bem como construir piciar maior responsabilidade aos estudantes acerca de seu pró-
seus instrumentos, partindo das interações que vão se construin- prio processo de aprendizagem e de construção da autonomia.
do no interior da sala de aula com os estudantes e suas possibili- Aqui os processos de avaliação podem atuar para legitimar a
dades de entendimentos dos conteúdos que estão sendo traba- exclusão, dando uma aparência científica à avaliação e transferin-
lhados. A avaliação tem como foco fornecer informações acerca do a responsabilidade da exclusão para o próprio estudante.
das ações de aprendizagem e, portanto, não pode ser realizada
apenas ao final do processo, sob pena de perder seu propósito. 1. É fundamental transformar a prática avaliativa em prática de
Podemos chamar essa perspectiva de avaliação formativa. Se- aprendizagem.
gundo Allal (1986, p.176), ‚os processos de avaliação formativa 2. É necessário avaliar como condição para a mudança de prática
são concebidos para permitir ajustamentos sucessivos durante o e para o redimensionamento do processo de ensino / apren-
desenvolvimento e a experimentação do curriculum‛. Perrenoud dizagem.
(1999, p.143) define a avaliação formativa como ‚um dos compo- 3. Avaliar faz parte do processo de ensino e de aprendizagem:
nentes de um dispositivo de individualização dos percursos de não ensinamos sem avaliar, não aprendemos sem avaliar.
formação e de diferenciação das intervenções e dos enquadra-
mentos pedagógicos‛. Tanto a avaliação somativa quanto a for- Dessa forma, rompe-se com a falsa dicotomia entre ensino e
mativa podem levar a processos de exclusão e classificação, na avaliação, como se esta fosse apenas o final de um processo.
dependência das concepções que norteiem o processo educativo.
Outro aspecto fundamental de uma avaliação formativa diz 6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualização no Ensino Mé-
respeito à construção da autonomia por parte do estudante, na dio.
medida em que lhe é solicitado um papel ativo em seu processo
de aprender. Ou seja, a avaliação formativa, tendo como foco o A interdisciplinaridade deve ir além da mera justaposição de
processo de aprendizagem, numa perspectiva de interação e de disciplinas e, ao mesmo tempo, evitar a diluição delas em genera-
diálogo, coloca também no estudante, e não apenas no professor, lidades. De fato, será principalmente na possibilidade de relacio-
a responsabilidade por seus avanços e suas necessidades. nar as disciplinas em atividades ou projetos de estudo, pesquisa e
Para tal, é necessário que o estudante conheça os conteúdos ação, que a interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagó-
que irá aprender, os objetivos que deverá alcançar, bem como os gica e didática adequada aos objetivos do Ensino Médio. O con-
critérios que serão utilizados para verificar e analisar seus avanços ceito de interdisciplinaridade fica mais claro quando se considera
de aprendizagem. Nessa perspectiva, a auto-avaliação torna-se o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo
uma ferramenta importante, capaz de propiciar maior responsabi- permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questi-
lidade aos estudantes acerca de seu próprio processo de aprendi- onamento, de confirmação, de complementação, de negação, de
zagem e de construção da autonomia. A avaliação formativa é ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos. Tendo
aquela em que o professor está atento aos processos e às apren- presente esse fato, é fácil constatar que algumas disciplinas se
dizagens de seus estudantes. identificam e aproximam, outras se diferenciam e distanciam, em
O professor não avalia com o propósito de dar uma nota, pois vários aspectos: pelos métodos e procedimentos que envolvem,
dentro de uma lógica formativa, a nota é uma decorrência do pelo objeto que pretendem conhecer, ou ainda pelo tipo de habi-
processo e não o seu fim último. O professor entende que a ava- lidades que mobilizam naquele que a investiga, conhece, ensina
liação é essencial para dar prosseguimento aos percursos de ou aprende.
aprendizagem. Continuamente, ela faz parte do cotidiano das A interdisciplinaridade também está envolvida quando os su-
tarefas propostas, das observações atentas do professor, das jeitos que conhecem, ensinam e aprendem sentem necessidade
práticas de sala de aula. Por fim, podemos dizer que avaliação de procedimentos que, numa única visão disciplinar, podem pa-
formativa é aquela que orienta os estudantes para a realização de recer heterodoxos, mas fazem sentido quando chamados a dar
seus trabalhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar conta de temas complexos. Se alguns procedimentos artísticos
suas dificuldades e suas potencialidades, redirecionando-os em podem parecer profecias na perspectiva científica, também é
seus percursos. verdade que a foto do cogumelo resultante da explosão nuclear

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também explica, de um modo diferente da Física, o significado da conhecimento é quase sempre reproduzido das situações origi-
bomba atômica. nais nas quais acontece sua produção.
Nesta multiplicidade de interações e negações recíprocas, a Por esta razão, quase sempre o conhecimento escolar se vale
relação entre as disciplinas tradicionais pode ir da simples comu- de uma transposição didática, na qual a linguagem joga papel
nicação de idéias até a integração mútua de conceitos diretores, decisivo. O tratamento contextualizado do conhecimento é o
da epistemologia, da terminologia, da metodologia e dos proce- recurso que a escola tem para retirar o aluno da condição de
dimentos de coleta e análise de dados. Ou pode efetuar-se, mais espectador passivo. Se bem trabalhado permite que, ao longo da
singelamente, pela constatação de como são 76 diversas as várias transposição didática, o conteúdo do ensino provoque aprendi-
formas de conhecer. Pois até mesmo essa ‚interdisciplinaridade zagens significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam entre
singela‛ é importante para que os alunos aprendam a olhar o ele e o objeto do conhecimento uma relação de reciprocidade.
mesmo objeto sob perspectivas diferentes. A contextualização evoca por isso áreas, âmbitos ou dimen-
É importante enfatizar que a interdisciplinaridade supõe um sões presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza com-
eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um petências cognitivas já adquiridas. As dimensões de vida ou con-
projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, textos valorizados explicitamente pela LDB são o trabalho e a
ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores cidadania. As competências estão indicadas quando a lei prevê
e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo um ensino que facilite a ponte entre a teoria e a prática.
que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de A tendência atual, em todos os níveis de ensino, é analisar a
um olhar, talvez vários. Explicação, compreensão, intervenção são realidade segmentada, sem desenvolver a compreensão dos
processos que requerem um conhecimento que vai além da des- múltiplos conhecimentos que se interpenetram e conformam
crição da realidade e mobiliza competências cognitivas para de- determinados fenômenos. Para essa visão segmentada contribui
duzir, tirar inferências ou fazer previsões a partir do fato observa- o enfoque meramente disciplinar que, na nova proposta de re-
do. forma curricular, pretendemos superado pela perspectiva inter-
A partir do problema gerador do projeto, que pode ser um disciplinar e pela contextualização dos conhecimentos.
experimento, um plano de ação para intervir na realidade ou uma Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pre-
atividade, são identificados os conceitos de cada disciplina que tensão de criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os
podem contribuir para descrevê-lo, explicá-lo e prever soluções. conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema
Dessa forma, o projeto é interdisciplinar na sua concepção, exe- concreto ou compreender um determinado fenômeno sob dife-
cução e avaliação, e os conceitos utilizados podem ser formaliza- rentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma
dos, sistematizados e registrados no âmbito das disciplinas que função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber diretamente
contribuem para o seu desenvolvimento. útil e utilizável para responder às questões e aos problemas soci-
O exemplo do projeto é interessante para mostrar que a in- ais contemporâneos.
terdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém Na proposta de reforma curricular do Ensino Médio, a inter-
sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da com- disciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma aborda-
preensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a gem relacional, em que se propõe que, por meio da prática esco-
realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a cons- lar, sejam estabelecidas interconexões e passagens entre os co-
tituição de conhecimentos, comunicação e negociação de signifi- nhecimentos através de relações de complementaridade, conver-
cados e registro sistemático de resultados. Essa integração entre gência ou divergência.
as disciplinas para buscar compreender, prever e transformar a A integração dos diferentes conhecimentos pode criar as con-
realidade aproxima-se daquilo que Piaget chama de estruturas dições necessárias para uma aprendizagem motivadora, na medi-
subjacentes. O autor destaca um aspecto importante nesse caso: da em que ofereça maior liberdade aos professores e alunos para
a compreensão dessas estruturas subjacentes não dispensa o a seleção de conteúdos mais diretamente relacionados aos assun-
conhecimento especializado, ao contrário. Somente o domínio de tos ou problemas que dizem respeito à vida da comunidade.
uma dada área permite superar o conhecimento meramente Todo conhecimento é socialmente comprometido e não há co-
descritivo para captar suas conexões com outras áreas do saber nhecimento que possa ser aprendido e recriado se não se parte
na busca de explicações. das preocupações que as pessoas detêm. O distanciamento entre
As múltiplas formas de interação que se podem prever entre os conteúdos programáticos e a experiência dos alunos certa-
as disciplinas tal como tradicionalmente arroladas nas ‚grades mente responde pelo desinteresse e até mesmo pela deserção
curriculares‛, fazem com que toda proposição de áreas ou agru- que constatamos em nossas escolas. Conhecimentos seleciona-
pamento das mesmas seja resultado de um corte que carrega dos a priori tendem a se perpetuar nos rituais escolares, sem
certo grau de arbitrariedade. Não há paradigma curricular capaz passar pela crítica e reflexão dos docentes, tornando-se, desta
de abarcar a todas. Nesse sentido, seria desastroso entender uma forma, um acervo de conhecimentos quase sempre esquecidos
proposta de organização por áreas como fechada ou definitiva. ou que não se consegue aplicar, por se desconhecer suas relações
Mais ainda seria submeter uma área interdisciplinar ao mesmo com o real.
amordaçamento estanque a que hoje estão sujeitas as disciplinas A aprendizagem significativa pressupõe a existência de um re-
tradicionais isoladamente, quando o importante é ampliar as ferencial que permita aos alunos identificar e se identificar com as
possibilidades de interação não apenas entre as disciplinas nucle- questões propostas. Essa postura não implica permanecer apenas
adas em uma área como entre as próprias áreas de nucleação. A no nível de conhecimento que é dado pelo contexto mais imedia-
contextualização pode ser um recurso para conseguir esse objeti- to, nem muito menos pelo senso comum, mas visa a gerar a ca-
vo. Contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, pacidade de compreender e intervir na realidade, numa perspec-
em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma tiva autônoma e desalienante. Ao propor uma nova forma de
relação entre sujeito e objeto. Na escola fundamental ou média, o organizar o currículo, trabalhado na perspectiva interdisciplinar e

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contextualizada, parte-se do pressuposto de que toda aprendiza- profissional vinculada a necessidades imediatas, e sim a formação
gem significativa implica uma relação sujeito-objeto e que, para geral da personalidade e o desenvolvimento do caráter através da
que esta se concretize, é necessário oferecer as condições para aquisição de hábitos de estudo, disciplina, exatidão e compostu-
que os dois pólos do processo interajam. ra. Já no âmbito das formas tayloristas/fordistas de organizar o
trabalho capitalista no século XX, desenvolveu-se uma rede de
6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentação legal e curricu- escolas de formação profissional em diferentes níveis, paralela à
lar. rede de escolas destinadas à formação propedêutica, com a fina-
lidade de atender às funções instrumentais inerentes às ativida-
A proposta de integração do curso médio e do curso técnico des práticas que decorriam da crescente diferenciação dos ramos
de nível médio, alternativa constante do Decreto n. 5.154/04, profissionais.
possui um significado e um desafio para além da prática discipli- É essa diferenciação de escolas e redes, que atende às de-
nar, interdisciplinar ou transdisciplinar, pois implica um compro- mandas de formação a partir do lugar que cada classe social vai
misso de construir uma articulação e uma integração orgânica ocupar na divisão do trabalho, que determina o caráter antide-
entre o trabalho como princípio educativo, a ciência como criação mocrático do desdobramento entre escolas propedêuticas e
e recriação pela humanidade de sua natureza e cultura, como profissionais, e não propriamente os seus conteúdos. Assim é que
síntese de toda produção e relação dos seres humanos com seu o conhecimento tecnológico de ponta, embora organicamente
meio. Portanto, ensino integrado implica um conjunto de catego- vinculado ao trabalho, não tem sido democratizado, porque se
rias e práticas educativas no espaço escolar que desenvolvam destina à formação dos dirigentes e por longo tempo tem estado
uma formação integral do sujeito trabalhador. restrito à formação de nível superior.
O trabalho pode ser considerado como princípio educativo Da mesma forma, a versão geral do Ensino Médio disponibili-
para SAVIANI (1989) em três sentidos diversos, mas articulados e zou conhecimento propedêutico à classe trabalhadora, em decor-
integrados entre si. Em primeiro lugar, o trabalho é princípio rência das funções que ela teoricamente passaria a ocupar a par-
educativo na medida em que determina, pelo grau de desenvol- tir da base microeletrônica, e nem por isso se alterou sua posição
vimento social atingido na história, o modo de ser da educação de classe. O desenvolvimento das forças produtivas, à medida
na sua totalidade (conjunto). Em segundo lugar, quando coloca que vai avançando a partir das mudanças na base técnica, vai
exigências próprias que o processo educativo deve preencher em trazendo novas demandas para a educação dos trabalhadores, o
vista da participação efetiva dos membros da sociedade no traba- que no modo de produção capitalista responde às necessidades
lho socialmente produtivo e, em terceiro lugar, o trabalho é prin- decorrentes da valorização do capital.
cípio educativo na medida que determinar a educação como uma O debate travado na década de 1980, sobre a possibilidade de
modalidade específica e diferenciada de trabalho: o trabalho uma formação básica que superasse a dualidade entre cultura
pedagógico (SAVIANI, 1989, p. 1-2). geral e cultura técnica, introduziu na história da educação brasi-
A educação tecnológica ou a politécnica está identificada no leira o conceito de politecnia. Ainda hoje, Saviani (2003) alerta
segundo sentido, no qual a educação básica necessita explicitar o que esse conceito não pode ser compreendido a partir de seu
modo como o conhecimento se relaciona com o trabalho. Portan- significado literal.
to, a categoria que assegura a integração entre os diferentes Se a preparação profissional no Ensino Médio é uma imposi-
níveis e modalidades é a educação básica, formação mínima ção da realidade, admitir legalmente essa necessidade é um pro-
necessária a todo e qualquer cidadão. É com esta perspectiva que blema ético. Não obstante, se o que se persegue não é somente
a União chama para si a coordenação da política nacional de atender a essa necessidade mas mudar as condições em que ela
educação com a finalidade de assegurar a articulação dos dife- se constitui, é também uma obrigação ética e política garantir
rentes níveis, modalidades e sistemas de ensino (Art. 8, parágrafo que o Ensino Médio se desenvolva sobre uma base unitária para
único). todos. Portanto, o Ensino Médio integrado ao ensino técnico, sob
Trabalhar com a concepção mais ampla de educação, de mo- uma base unitária de formação geral, é uma condição necessária
do a incorporar todas as dimensões educativas que ocorrem no para se fazer a ‚travessia‛ para uma nova realidade. Sabemos que
âmbito das relações sociais que objetivam a formação humana foi essa travessia que o Decreto n. 2.208/97 interrompeu, ao for-
nas dimensões social, política e produtiva, implica reconhecer que çar a adequação da realidade à lei, proibindo que o Ensino Médio
cada sociedade, em cada modo de produção e regimes de acu- propiciasse também a formação técnica.
mulação, dispõe de formas próprias de educação que correspon- O restabelecimento dessa garantia, por meio do Decreto n.
dem às demandas de cada grupo e das funções que lhes cabe 5.154/2004, pretende reinstaurar um novo ponto de partida para
desempenhar na divisão social e técnica do trabalho. essa travessia, de tal forma que o horizonte do Ensino Médio seja
O exercício destas funções não se restringe ao caráter produ- a consolidação da formação básica unitária e politécnica, centra-
tivo, mas abrange todas as dimensões comportamentais, ideoló- da no trabalho, na ciência e na cultura, numa relação mediata
gicas e normativas que lhes são próprias, elaborando a escola sua com a formação profissional específica que se consolida em ou-
proposta pedagógica a partir das demandas sociais. Assim é que tros níveis e modalidades de ensino.
a dualidade estrutural se manifestava inequivocamente nos mo- O Ensino Médio integrado ao ensino técnico, conquanto seja
dos de organização da produção, em que a distinção entre diri- uma condição social e historicamente necessária para construção
gentes e trabalhadores era bem definida, a partir das formas de do Ensino Médio unitário e politécnico, não se confunde total-
divisão social e técnica do trabalho. mente com ele porque a conjuntura do real assim não o permite.
À velha escola humanista tradicional correspondia a necessi- Não obstante, por conter os elementos de uma educação poli-
dade socialmente determinada de formar os grupos dirigentes, técnica, contém também os gérmens de sua construção (Saviani,
que não exerciam funções instrumentais. A proposta pedagógica 1997). Entenda-se, entretanto, que a educação politécnica não é
da escola, portanto, não tinha por objetivo a formação técnico- aquela que só é possível em outra realidade, mas uma concepção

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de educação que busca, a partir do desenvolvimento do capita- 6.2 Educação Inclusiva.
lismo e de sua crítica, superar a proposta burguesa de educação
que potencialize a transformação estrutural da realidade. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) uniu os
O Ensino Médio integrado é aquele possível e necessário em povos do mundo todo, no reconhecimento de que "todos os
uma realidade conjunturalmente desfavorável – em que os filhos seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
dos trabalhadores precisam obter uma profissão ainda no nível Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os
médio, não podendo adiar este projeto para o nível superior de outros em espírito de fraternidade" (Art. 1°).
ensino – mas que potencialize mudanças para, superando-se essa A concepção contemporânea de Direitos Humanos, introduzi-
conjuntura, constituir-se em uma educação que contenha ele- da pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), se
mentos de uma sociedade justa. fundamenta no reconhecimento da dignidade de todas as pesso-
Entende-se que, a despeito do afastamento a que foram as e na universalidade e indivisibilidade desses direitos; universa-
compelidos, os educadores que atuam no Ensino Médio e no lidade, porque a condição de pessoa é requisito único para a
ensino técnico de nível médio partilham dos mesmos anseios de titularidade de direitos e indivisibilidade, porque os direitos civis e
fornecer uma sólida e atualizada formação científica, tecnológica, políticos são conjugados aos direitos econômicos, sociais e cultu-
cultural e ética aos seus alunos; de promover as oportunidades rais.
que levem ao desenvolvimento da criatividade e do pensamento A Declaração conjuga o valor de liberdade ao valor de igual-
autônomo e crítico; de fomentar o gosto pela aprendizagem e dade, já que assume que não há liberdade sem igualdade, nem
hábitos de autoaprendizagem; de formar, enfim, pessoas abertas, tampouco igualdade sem liberdade. Neste contexto, o valor da
interessadas, curiosas, críticas, solidárias e de iniciativa. diversidade se impõe como condição para o alcance da universa-
Diante, porém, do desafio de conceber e levar a efeito um lidade e a indivisibilidade dos Direitos Humanos.
curso capaz de atender simultaneamente às duas valias, a de Num primeiro momento, a atenção aos Direitos Humanos foi
servir à conclusão da educação básica e a de levar a uma forma- marcada pela tônica da proteção geral e abstrata, com base na
ção técnica especializada, estes educadores, e não somente eles, igualdade formal; mais recentemente, passou-se a explicitar a
manifestam dúvidas e receios quanto à possibilidade de realizar pessoa como sujeito de direito, respeitado em suas peculiarida-
tais propósitos. Haveria uma sobrecarga dos programas? Dever- des e particularidades. O respeito à diversidade, efetivado no
se-ia prolongar o tempo de escolaridade? O ensino geral teria sua respeito às diferenças, impulsiona ações de cidadania voltadas ao
identidade modificada em favor de uma formação mais especiali- reconhecimento de sujeitos de direitos, simplesmente por serem
zada? Ou, ao contrário, seria o ensino técnico a se re-configurar, seres humanos. Suas especificidades não devem ser elemento
tendo em vista a formação de um perfil profissional mais amplo e para a construção de desigualdades, discriminações ou exclusões,
genérico? Não são, porém, estas as questões que serão aborda- mas sim, devem ser norteadoras de políticas afirmativas de res-
das neste texto. peito à diversidade, voltadas para a construção de contextos
Sabe-se que a modalidade do ‚integrado‛ teria a duração de sociais inclusivos.
quatro anos. Crê-se que, neste tempo, é possível atender à legis-
lação quanto à carga horária mínima exigida para ambos os cur- Princípios
sos. Pretende-se, então, tomar como foco a discussão da concep-
ção e organização curricular, particularizando-a pela referência A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filo-
privilegiada à modalidade do integrado. Para tanto, faz-se neces- sofia que reconhece e valoriza a diversidade, como característica
sário deixar claro que currículo está sendo, aqui, considerado inerente à constituição de qualquer sociedade. Partindo desse
como hipóteses de trabalho e de propostas de ação didática, que princípio e tendo como horizonte o cenário ético dos Direitos
são definidas para serem desenvolvidas na prática educativa; Humanos, sinaliza a necessidade de se garantir o acesso e a parti-
experiências que devem ser investigadas e analisadas. cipação de todos, a todas as oportunidades, independentemente
Entende-se, também, que estas hipóteses ou propostas repre- das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social.
sentam sempre opções escolhidas e/ou combinadas a partir da
análise de situações dadas, do que se quer e do que se calcula A identidade pessoal e social e a Construção da igualdade na
poder alcançar, tendo em vista implementar práticas com efetivi- diversidade
dade educacional.
Em quaisquer circunstâncias, será sempre uma construção di- A identidade pessoal e social é essencial para o desenvolvi-
nâmica, concretizada nas relações pedagógicas, cujo sucesso mento de todo indivíduo, enquanto ser humano e enquanto
depende da participação e da capacidade de auto-avaliação des- cidadão. A identidade pessoal é construída na trama das relações
tas práticas pelos sujeitos que as tecem. No caso de currículos sociais que permeiam sua existência cotidiana.
integrados, o objetivo é a concepção e a experimentação de Assim, há que se esforçar para que as relações entre os indiví-
hipóteses de trabalho e de propostas de ação didática que te- duos se caracterizem por atitudes de respeito mútuo, representa-
nham, como eixo, a abordagem relacional de conteúdos tipifica- das pela valorização de cada pessoa em sua singularidade, ou
dos estruturalmente como diferentes, considerando que esta seja, nas características que a constituem.
diferenciação não pode, a rigor, ser tomada como absoluta ainda "A consciência do direito de constituir uma identidade própria
que haja especificidades que devem ser reconhecidas. Com rela- e do reconhecimento da identidade do outro traduz-se no direito
ção ao objeto deste texto, são os conteúdos classificados como à igualdade e no respeito às diferenças, assegurando oportunida-
gerais ou básicos e os conteúdos nomeados como profissionais des diferenciadas (equidade), tantas quantas forem necessárias,
ou tecnológicos. com vistas à busca da igualdade."

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(MEC/SEESP, 2001). A Constituição Federal do Brasil assume o - Evolução Estatística da Educação Especial. Marcos Legais Trata
princípio da igualdade como pilar fundamental de uma sociedade do Ordenamento Jurídico, contendo as leis que regem a edu-
democrática e justa, quando reza no caput do seu Art. 5° que cação nacional e os direitos das pessoas com deficiência,
"todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer nature- constituindo importantes subsídios para embasamento legal a
za, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no gestão dos sistemas de ensino. Inclui a seguinte legislação:
país, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à - Constituição da República Federativa do Brasil /88
segurança e à propriedade" (CF - Brasil, 1988). - Lei 7853/89 - Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de
Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Na-
significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas cional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência –
e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou
condições apropriadas de atendimento às peculiaridades indivi- difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Pú-
duais, de forma que todos possam usufruir as oportunidades blico, define crimes e dá outras providências. (Alterada pela
existentes. Há que se enfatizar aqui, que tratamento diferenciado Lei 8.028/90)
não se refere à instituição de privilégios, e sim, a disponibilização - Lei 8069/90 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adoles-
das condições exigidas, na garantia da igualdade. cente e dá outras providências – ECA
- Lei 8859/94 - Modifica dispositivos da Lei nº 6.494, de 07 de
A escola inclusiva é espaço de construção de cidadania dezembro de 1977, estendendo aos alunos de ensino especial
o direito à participação em atividades de estágio.
A família é o primeiro espaço social da criança, no qual ela - Lei 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
constrói referências e valores e a comunidade é o espaço mais Nacional - LDBEN.
amplo, onde novas referências e valores se desenvolvem. A parti- - Lei 9424/96 - Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desen-
cipação da família e da comunidade traz para a escola informa- volvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magisté-
ções, críticas, sugestões, solicitações, desvelando necessidades e rio - FUNDEF.
sinalizando rumos. Este processo, ressignifica os agentes e a prá- - Lei 10098/00 - Estabelece normas gerais e critérios básicos
tica educacional, aproximando a escola da realidade social na para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de
qual seus alunos vivem. A escola é um dos principais espaços de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras provi-
convivência social do ser humano, durante as primeiras fases de dências.
seu desenvolvimento. Ela tem papel primordial no desenvolvi- - Lei 10172/2001 - Aprova o Plano Nacional de Educação e dá
mento da consciência de cidadania e de direitos, já que é na outras providências.
escola que a criança e ao adolescente começam a conviver num - Lei 10216/2001 - Dispõe sobre a proteção e os direitos das
coletivo diversificado, fora do contexto familiar. pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o
modelo assistencial em saúde mental.
Exercício da cidadania e a promoção da paz - Lei 10436/02 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Li-
bras e dá outras providências.
O conceito de cidadania em sua plena abrangência engloba - Lei 10845/2004 - Institui o Programa de Complementação ao
direitos políticos, civis, econômicos, culturais e sociais. A exclusão Atendimento Educacional Especializado às pessoas portadoras
ou limitação em qualquer uma dessas esferas fragiliza a cidada- de deficiência, e dá outras providências - PAED.
nia, não promove a justiça social e impõe situações de opressão e
violência. Decretos:
Exercer a cidadania é conhecer direitos e deveres no exercício - Decreto 2.264/97 - Regulamenta a Lei 9424/96 - FUNDEF, no
da convivência coletiva, realizar a análise crítica da realidade, âmbito federal, e determina outras providências; Decreto
reconhecer as dinâmicas sociais, participar do debate permanente 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de
sobre causas coletivas e manifesta-se com autonomia e liberdade 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração
respeitando seus pares. Tais práticas se contrapõem à violência, da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de
na medida que não admitem a anulação de um sujeito pelo ou- proteção e dá outras providências.
tro, mas fortalecem cada um, na defesa de uma vida melhor para - Decreto 3030/99 - Dá nova redação ao art.2º do Decreto
todos. 1.680/95 que dispõe sobre a competência, a composição e o
Uma proposta de educação para a paz deve sensibilizar os funcionamento do Conselho Consultivo da Coordenadoria
educandos para novas formas de convivência baseadas na solida- Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência.
riedade e no respeito às diferenças, valores essenciais na forma- (CORDE)
ção de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e sensíveis - Decreto 3076/99 - Cria no âmbito do Ministério da Justiça o
para rejeitarem toda a forma de opressão e violência. Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Defi-
ciência. (CONADE).
Para saber mais: Legislação brasileira - marcos legais - Decreto 3631/00 - Regulamenta a Lei 8899/94, que dispõe
sobre o transporte de pessoas portadoras de deficiência no
- A política educacional no âmbito da Educação Especial; sistema de transporte coletivo interestadual.
- Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação - Decreto 3.952/01 - Dispõe sobre o Conselho Nacional de
Básica - Parecer 17/2001; Combate à Discriminação (CNCD).
- Fontes de Recursos e Mecanismos de Financiamentos da - Decreto 3956/01 -Promulga a Convenção Interamericana para
Educação Especial; a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de Deficiência. (Convenção da Guatemala)

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Portarias – MEC O trabalho como princípio educativo vincula-se, então, à pró-
- Portaria 1793/94 -Recomenda a inclusão da disciplina Aspec- pria forma de ser dos seres humanos. Somos parte da natureza e
tos Ético - Político - Educacionais na normalização e integra- dependemos dela para reproduzir a nossa vida. E é pela ação vital
ção da pessoa portadora de necessidades especiais, prioritari- do trabalho que os seres humanos transformam a natureza em
amente, nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em todas as meios de vida. Se essa é uma condição imperativa, socializar o
Licenciaturas. princípio do trabalho como produtor de valores de uso, para
- Portaria 319/99 - Institui no Ministério da Educação, vinculada manter e reproduzir a vida, é crucial e ‚educativo‛. Trata-se, como
à Secretaria de Educação Especial/SEESP a Comissão Brasileira enfatiza Gramsci, de não socializar seres humanos como ‚mamífe-
do Braille, de caráter permanente. ros de luxo‛. É dentro desta perspectiva que Marx sinaliza a di-
- Portaria 554/00 - Aprova o Regulamento Interno da Comissão mensão educativa do trabalho, mesmo quando o trabalho se dá
Brasileira do Braille sob a negatividade das relações de classe existentes no capitalis-
- Portaria 3.284/03 – Dispõe sobre requisitos de acessibilidade mo. A própria forma de trabalho capitalista não é natural, mas
de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os proces- produzida pelos seres humanos.
sos de autorização e de reconhecimento de cursos e de cre- No decênio de 1980, para a elaboração do texto dedicado à
denciamento de instituições. educação na nova Constituição, aprovada em 1988, e para a nova
- Portaria do Ministério do Planejamento 08/2001 - Atualiza e LDB - Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996), discutiu-se
consolida os procedimentos operacionais adotados pelas uni- muito a questão da educação politécnica, da escola unitária e do
dades de recursos humanos para a aceitação, como estagiá- trabalho como princípio educativo. Fazer a crítica da profissionali-
rios, de alunos regularmente matriculados e que venham fre- zação compulsória (segundo a Lei nº 5.692/1971) e defender a
quentando, efetivamente, cursos de educação superior, de en- introdução do trabalho na educação levava à questão de pensar o
sino médio, de educação profissional de nível médio ou de trabalho como princípio educativo. O filósofo húngaro Georg
educação especial, vinculados à estrutura do ensino público e Lukács desenvolveu algumas idéias que foram particularmente
particular. úteis para essa reflexão, ao tratar da ontologia do ser social. A
questão da ontologia tem uma história antiga na metafísica clás-
Resoluções: sica e está ligada à identidade do ser (o ser é e o não ser não é).
- Resolução 09/78 - Conselho Federal de Educação - Autoriza, A ontologia do ser social desenvolvida por Lukács (1978)
excepcionalmente, a matrícula do aluno classificado como su- permite-nos pensar a questão do trabalho e suas propriedades
perdotado nos cursos superiores sem que tenha concluído o educativas, positivas ou negativas. As questões principais que ele
curso de 2º grau. apresenta estão em um de seus últimos escritos, uma conferência
- Resolução 02/81 - Conselho Federal de Educação - Autoriza a que é uma síntese magistral de suas principais idéias.
concessão de dilatação de prazo de conclusão do curso de O trabalho é parte fundamental da ontologia do ser social. A
graduação aos alunos portadores de deficiência física, afec- aquisição da consciência se dá pelo trabalho, pela ação sobre a
ções congênitas ou adquiridas. natureza. O trabalho, neste sentido, não é emprego, não é apenas
- Resolução 02/01 - Conselho Nacional de Educação -Institui uma forma histórica do trabalho em sociedade, ele é a atividade
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Bá- fundamental pela qual o ser humano se humaniza, se cria, se
sica. expande em conhecimento, se aperfeiçoa. O trabalho é a base
- Resolução 01 e 02/02 - Conselho Nacional de Educação - estruturante de um novo tipo de ser, de uma nova concepção de
Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores da Edu- história.
cação Básica, em nível superior, graduação plena. É a consciência moldada por esse agir prático, teórico, poético
ou político que vai impulsionar o ser humano em sua luta para
6.3 Educação, trabalho, formação profissional e as transfor- modificar a natureza (ou para dominá-la, como se dizia no passa-
mações do Ensino Médio. do, antes que se tomasse consciência da destruição que o ho-
mem vem operando sobre o planeta). A consciência é a capaci-
Primeiramente, o Brasil foi a última sociedade no continente a dade de representar o ser de modo ideal, de colocar finalidades
abolir a escravidão. Foram séculos de trabalho escravo, cujas às ações, de transformar perguntas em necessidades e de dar
marcas são ainda profundamente visíveis na sociedade. A menta- respostas a essas necessidades. Diferente dos animais que agem
lidade empresarial e das elites dominantes tem a marca cultural guiados pelo instinto, de forma quase imediata, o ser humano
da relação escravocrata. O segundo aspecto é a visão moralizante age por meio de mediações, de recursos materiais e espirituais
do trabalho, trazida pela perspectiva de diferentes religiões. Tra- que ele implementa para alcançar os fins desejados.
balho como castigo, sofrimento e/ ou remissão do pecado. Ou, Nessa relação com a natureza, estabelece-se uma relação en-
ainda, trabalho como forma de disciplinar e frear as paixões, os tre a satisfação das necessidades biológicas e a parcela de liber-
desejos ou os vícios da ‚carne‛. Um dos critérios de contratação dade implícita em todos os atos humanos para satisfazê-la, por-
de trabalhadores, não raro, é a religião. Por fim, muito frequente que colocam-se objetivos, finalidades alternativas a serem atingi-
é a perspectiva de se reduzir a dimensão educativa do trabalho à das com a ação empreendida. O mundo da liberdade versus o
sua função instrumental didático-pedagógica, aprender fazendo. mundo da necessidade é uma das idéias mais fecundas do filóso-
Sem desconhecer essas dimensões, particularmente a dimen- fo. ‚Toda práxis social, se considerarmos o trabalho como seu
são didático-pedagógica que o trabalho possa vir a ter, o que modelo, contém em si esse caráter contraditório. Por um lado a
demarca a dimensão mais profunda da concepção do trabalho práxis é uma decisão entre alternativas, já que todo indivíduo
como princípio educativo, como veremos num dos itens abaixo, é singular, se faz algo, deve decidir se faz ou não. Todo ato social,
de ordem ontológica (inerente ao ser humano) e, consequente- portanto, surge de uma decisão entre alternativas acerca de posi-
mente, ético-política (trabalho como direito e como dever).

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ções teleológicas [finalidades, objetivos+ futuras‛ (LUKÁCS, ibid., A integração no ensino médio integrado não pode ser pauta-
p. 6). da pela justaposição de disciplinas, em que se cursa o ensino
É a ampliação e a reelaboração desta liberdade, pelo aperfei- médio propedêutico em três anos e acrescenta-se mais um ano
çoamento do agir humano, que vai provocar a divisão do traba- na formação com a formação específica, e sim, que haja um diá-
lho, as formas desiguais de apropriação da riqueza social produ- logo, constante entre formação geral e formação específica, de
zida. E são as apropriações ideológicas que mistificam essas modo que trabalho e educação estejam engendrados em uma
ações, que constituem determinada divisão social do trabalho, concepção única de educação. A justaposição de disciplinas ape-
gerando as classes sociais. nas perpetua a concepção dualista e fragmentária da educação e
Para Saviani (1989) o trabalho pode ser considerado como departamentaliza e fragmenta o saber e o conhecimento, dissoci-
princípio educativo em três sentidos diversos, mas articulados ando o trabalho e a educação.
entre si. Num primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo A formação integrada pressupõe um projeto de educação que
na medida em que determina, pelo grau de desenvolvimento contemple trabalho, ciência, tecnologia e cultura, ou seja, uma
social atingido historicamente, o modo de ser da educação em formação politécnica, em que o conhecimento dos fundamentos
seu conjunto. Nesse sentido, aos modos de produção correspon- da técnica sejam apreendidos e articulados com as vivências e
dem modos distintos de educar com uma correspondente forma experiências de cada um, e por uma educação omnilateral, que
dominante de educação. E um segundo sentido, o trabalho é contemple o ser humano como centro do processo de educação.
princípio educativo na medida em que coloca exigências específi-
cas que o processo educativo deve preencher, em vista da parti- 6.4 Protagonismo Juvenil e Cidadania.
cipação direta dos membros da sociedade no trabalho socialmen-
te produtivo. Finalmente, o trabalho é princípio educativo num No teatro grego, protagonista era aquele que desempenhava
terceiro sentido, à medida que determina a educação como uma o papel de ‚personagem principal‛, ‚ator principal‛ num espetá-
modalidade específica e diferenciada de trabalho: o trabalho culo trágico ou cômico. Já numa perspectiva sociológica, a ex-
pedagógico (SAVIANI, 1989, pp. 1-2). O conceito de politecnia ou pressão ‚protagonismo‛ vem sendo utilizada em referência ao
de educação tecnológica estaria no segundo nível de compreen- ‚ator social‛ de uma ‚ação‛ voltada para mudanças sociais. Mas
são do trabalho como princípio educativo: a educação básica, em na esfera do ensino, o que implica ser um jovem protagonista?
suas diferentes etapas, deve explicitar o modo como o saber se Delors (1996) em relatório internacional sobre a educação pa-
relaciona com o processo de trabalho, convertendo-se em força ra o século XXI destaca que a escola básica passou a desempe-
produtiva. Para as pessoas que constroem suas trajetórias forma- nhar um papel fundamental na preparação de cidadãos para uma
tivas em tempos lineares e considerados ‚regulares‛ – isto é, por participação ativa, uma vez que os princípios democráticos ex-
um processo de escolarização que acompanha seu desenvolvi- pandiram-se por todo o mundo. Assim, para ele, a experimenta-
mento etário –, a relação entre conhecimento e atividade produ- ção de práticas escolares pelos alunos, como jornais da escola,
tiva ocorre de forma mais imediata a partir de uma determinada criação de parlamentos dos alunos, elaboração de regulamentos
etapa educacional. da comunidade escolar, simulação do funcionamento de institui-
No caso brasileiro, isto tende a ocorrer no ensino médio por ções democráticas, exercício de resoluções não-violentas de con-
dois motivos. O primeiro, porque nesse momento, os(as) jovens flitos, tendem a reforçar a aprendizagem da democracia. No en-
estão configurando seus horizontes em termos de cidadania e de tanto, ‚sendo a educação para a cidadania e democracia, por
vida economicamente ativa (dimensões também indissociáveis). A excelência, uma educação que não se limita ao espaço e tempo
experiência educativa, nessa etapa, então, deve proporcionar o da educação formal, é preciso implicar diretamente nela as famí-
desenvolvimento intelectual e a apreensão de elementos culturais lias e outros membros da comunidade.‛ (DELORS, 1996, p. 60).
que possibilitem a configuração desses horizontes. Dentre esses Na defesa de uma educação cívica que contemple, simultane-
elementos, estão as características do mundo do trabalho, inclu- amente, a adesão a valores, a aquisição de conhecimentos e a
indo aquelas que contribuem para a realização de escolhas pro- aprendizagem de práticas de participação na vida pública, Delors
fissionais. O segundo motivo pelo qual a relação entre mundo do (1996) recomenda que a educação, desde a infância e ao longo
trabalho e conhecimento tende a se aproximar mais no ensino de toda a vida, desenvolva no aluno a capacidade crítica que lhe
médio é o fato de, nesta etapa, ser possível compreender o pro- permita ter um pensamento livre e uma ação autônoma. Trata-se,
cesso histórico de transformação da ciência em força produtiva portanto, da exigência de um ensino que seja um processo de
por meio do desenvolvimento tecnológico. Nesse momento, construção da capacidade de discernimento, capaz de propiciar
então, o acesso ao conhecimento sistematizado proporciona a ao aluno a conciliação entre o exercício dos direitos individuais,
formação cultural e intelectual do estudante, permitindo ‚a com- fundados na liberdade pública, e a prática dos deveres e da res-
preensão do significado da ciência, das letras e das artes; o pro- ponsabilidade em relação aos outros e às comunidades a que
cesso histórico de transformação da sociedade e da cultura; a pertencem. (DELORS, et al, 1996, p.61).
língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao No contexto brasileiro, a reformulação do ensino médio insti-
conhecimento e exercício da cidadania‛ (Lei nº 9.394/96, art. 36, tuída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
inciso I). Mas, aqui, se pode levar também à preparação para o (LDBEN), de 1996, e posteriormente regulamentada pelas Diretri-
exercício profissional (idem, art. 36, parágrafo 2º). zes do Conselho Nacional de Educação e pelos Parâmetros Curri-
Desse modo, a formação integrada é uma formação que pos- culares Nacionais, ao deixar de ter como foco a educação para o
sibilita o desenvolvimento do cidadão para ser crítico e reflexivo, ensino superior ou profissionalizante, acentua, especificamente, a
de modo que possibilita a sua autonomia. Essa formação também necessidade e responsabilidade de complementação da educação
possibilita que o trabalhador compreenda o processo político do básica. Isto significa ‚preparar para a vida‛, ‚qualificar para a
trabalho, de modo que a sua formação lhe permita atuar politi- cidadania‛ e ‚capacitar para o aprendizado permanente‛, seja em
camente na sociedade.

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relação ao prosseguimento dos estudos, seja em relação ao mun- jovens através do desemprego, ou ainda, através da exigência de
do do trabalho. novas formas de socialibidade engendradas pela informática. Os
Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou autores interpretam o ‚protagonismo juvenil‛, como uma via
identificar símbolos, está formando para a vida, num mundo promissora de construção de subjetividades, pautadas em valores
como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis e atitudes cidadãs, em face de contextos sociais adversos , carac-
contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumen- terizados por rápidas mudanças, incertezas e instabilidades daí
tar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer nature- decorrentes.
za, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz Esse conjunto de circunstâncias indicaria, segundo diversos
de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma autores, uma urgente necessidade social de promover, de manei-
atitude de permanente aprendizado. (PCNEM, 2002, p.09). ra sistemática, a formação de valores e atitudes cidadãs que per-
Ora, tal formação exige um método de ensino no qual o aluno mitam a esses sujeitos conviver de forma autônoma com o mun-
tenha condições efetivas de comunicação, argumentação, resolu- do contemporâneo. Essa formação para a chamada ‚moderna
ção de problemas, participação social e cidadã, de modo a saber cidadania‛, além de atender uma exigência social, viria a respon-
propor e fazer escolhas, tomar gosto pelo conhecimento, 'apren- der às angústias de adolescentes e jovens diante da efemeridade,
der a aprender'. Mas não seriam esses alguns dos preceitos do dos desafios e das exigências das sociedades pós-modernas e,
‚protagonismo juvenil‛? também, perante as novas configurações do trabalho. O protago-
Na resolução que institui as Diretrizes Curriculares e Nacionais nismo é encarado, nesse sentido, como via promissora para dar
para o Ensino Médio no Brasil-DCNEM há um registro da palavra conta tanto de uma urgência social quanto das angústias pesso-
‚protagonismo‛, não explicitamente o juvenil, mas o protagonis- ais dos adolescentes e jovens. (FERRETTI, ZIBAS, TARTUCE, 2004,
mo de professores e alunos. Tal resolução consiste num conjunto p. 413).
de princípios e procedimentos a serem observados na prática Nessa direção, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o
pedagógica e curricular das escolas, no sentido de consolidar a Ensino Médio (PCNEM) é um outro documento cujo conteúdo
preparação para ‚o exercício da cidadania‛ e para o mundo do permite aproximações com o tema do protagonismo. Aqui, a
trabalho. O termo ‚protagonismo‛ pode ser encontrado neste referência é ao protagonismo do aluno, que é o público jovem, e
documento em referência ao ‚princípio político da igualdade‛ do professor em sua atividade. O papel do aluno como protago-
como um dos princípios que devem nortear as práticas pedagó- nista, deve ser o de ‚constituir‛ ou ‚reconstruir‛ o conhecimento
gicas do ensino médio brasileiro; os outros princípios seriam os por meio da atividade, e não o de ser um mero assimilador de
‚estéticos‛, ‚éticos‛, o ‚da identidade‛, ‚da diversidade‛ e ‚auto- conteúdos. Assim, os Parâmetros propõem uma organização
nomia‛, ‚interdisciplinaridade‛ e ‚contextualização‛. Especifica- curricular na qual seja possível ‚estimular todos os procedimentos
mente sobre a observância de uma política da igualdade nos e atividades que permitam ao aluno reconstruir ou 'reinventar' o
estabelecimentos de ensino, o documento aponta como ponto conhecimento didaticamente transposto para sala de aula, entre
de partida: eles a experimentação, a execução de projetos, o protagonismo
O reconhecimento dos direitos humanos e dos deveres de ci- em situações sociais‛, bem como ‚tratar os conteúdos de ensino
dadania, visando a constituição de identidades que busquem e de modo contextualizado‛ (…) no sentido de estimular o aluno a
pratiquem a igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, o ter autonomia intelectual. (PCN'S, 2000, p.75)
respeito ao bem comum, o protagonismo e a responsabilidade Tais parâmetros, ao enfatizar a atividade do aluno no proces-
no âmbito público e privado, o combate a todas as formas dis- so de aprendizagem, supõem que a escola contribua na constitui-
criminatórias e o respeito aos princípios do Estado de Direito na ção de uma ‚cidadania de qualidade nova‛, ‚cujo exercício reúna
forma do sistema federativo e do regime democrático e republi- conhecimentos e informações a um protagonismo responsável,
cano. (Resolução CEB/CNE, 1998, p.1-2) para exercer direitos que vão muito além da representação políti-
A propósito, o documento destaca a ‚Ética da identidade‛ ca tradicional (...)‛. (PCN'S, 2000, p. 59). Neste sentido, é válido
como um princípio norteador na superação de dicotomias entre ressaltar, como exemplo ilustrativo, experiências de estudantes do
as esferas pública e privada, de modo a constituir identidades que ensino médio em espaços como o ‚Parlamento Juvenil do Merco-
sejam capazes de reconhecer, respeitar e acolher o outro, incor- sul.‛
porando valores como solidariedade, responsabilidade e recipro- Trata-se aqui de um espaço de participação no qual jovens
cidade como norteadores de suas ações na vida profissional, brasileiros, argentinos, paraguaios, uruguaios, bolivianos e co-
social, civil e pessoal. (Resolução CEB/CNE, 1998, p.2). Uma se- lombianos, discutem sobre a educação. A primeira reunião do
gunda referência ao ‚protagonismo‛ presente nestas diretrizes Parlamento Juvenil do Mercosul ocorreu na cidade de Montevi-
remete à necessidade da constituição de ‚competências‛ e ‚habi- déu, capital do Uruguai, em outubro de 2010, congregando cerca
lidades‛ no âmbito das ciências humanas e suas tecnologias. de 126 adolescentes, visando a apresentação de propostas para a
Para Ferretti, Zibas e Tarturce (2004, p.412) o conceito de educação, especialmente o ensino médio, no contexto latino-
‚protagonismo dos jovens/alunos‛ tal como proposto pelas Dire- americano. A criação de equipes multidisciplinares nas escolas;
trizes Curriculares Nacionais (1998), ao enfocar a necessidade do garantia do ensino médio público obrigatório, laico e gratuito;
desenvolvimento de certas ‚competências‛ e ‚habilidades‛ entre melhoria no transporte e alimentação nas escolas e a criação de
os jovens, não está dissociado de questões mais amplas como as projetos para preservação do meio ambiente foram algumas das
próprias transformações sociais e culturais das sociedades con- propostas apresentadas pelos alunos no referido parlamento.
temporâneas, denominadas pós-modernas. Tais transformações Cabe ressaltar que, nesta experiência, dos cinco jovens brasileiros
configuram-se, sobretudo, por profundas mudanças no campo do selecionados para representarem o país, uma é estudante de uma
trabalho estruturado sob o capital, bem como por avanços signi- escola pública do município de Iracema, no Ceará. Fontes:
ficativos nos campos científico e tecnológico. Essas transforma- http://parlamentojuvenil.educ.ar/ptbr; http://portal.mec.gov.br.
ções, em maior ou menor grau, manifestam-se no cotidiano dos

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Acessos: 19/10/2010. Jornal O Povo de 11 de Outubro de 2010. palavra ‚protagonismo‛ ideias como ‚participação‛, ‚cidadania‛,
pág. 12. ‚autonomia‛, ‚responsabilidades‛, ‚ação individual e/ou coletiva‛,
Em face de uma pedagogia focalizada na atividade do aluno, ‚empoderamento‛, ‚resiliência‛, além de outras. Palavras não
qual seria, então, o papel do professor? Conforme os referidos necessariamente sinônimas, mas que convergem para um signifi-
parâmetros curriculares a ‚proposta pedagógica *da escola+ não cado comum, que é o reconhecimento dos jovens como sujeitos.
existe sem um forte protagonismo do professor e sem que este Assim, possíveis de ocuparem, a partir da experimentação de um
dela se aproprie.‛ (PCN'S, 2000, p.70). Desta forma: O exercício processo de construção social, que inclui uma relação dialógica,
pleno da autonomia se manifesta na formulação de uma propos- um lugar relevante em espaços de tomada de decisões sobre
ta pedagógica própria, direito de toda instituição escolar. Essa questões que repercutem em suas próprias vidas.
vinculação deve ser permanentemente reforçada, buscando evitar
que as instâncias centrais do sistema educacional burocratizem e
ritualizem aquilo que no espírito da lei, deve ser, antes de mais BIBLIOGRAFIA PARA ESSE CAPÍTULO
nada, expressão de liberdade e iniciativa, e que por essa razão
não pode prescindir do protagonismo de todos os elementos da - BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Conselho Nacional de
escola, em especial dos professores. (PCN'S, 2000, p. 72). Educação. Resolução CNE/CEB nº 6, de 20 de Setembro de
No que se refere a proposição de uma ‚cidadania de qualida- 2012. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
de nova‛, os Parâmetros Curriculares Nacionais ao apresentarem cação Profissional Técnica de Nível Médio. Diário Oficial da
definições de ‚conceitos estruturadores‛ no ensino de disciplinas União: Brasília, 21 de setembro de 2012, Seção 1, p. 22
das Ciências Humanas, dentre as quais, a Sociologia, destaca a - CIAVATTA, Maria. A formação integrada: a escola e o trabalho
‚cidadania‛, o ‚trabalho‛ e a ‚cultura‛ como aqueles fundamentais como lugares de memória e identidade. In: Ensino Médio in-
para o ensino desta discliplina na atualidade. tegrado: Concepções e mudanças. FRIGOTTO, Gaudêncio; CI-
Assim, a elaboração de tais conceitos, particularmente o de AVATTA, Maria; RAMOS, Marise. (Orgs.) São Paulo: Cortez,
‚cidadania‛, suscita pesquisar sobre as relações indivíduo e socie- 2005. Pág. 83 – 105.
dade; as instituições sociais e o processo de socialização; a defini- - DELORS, Jacques, et al. Da coesão social à participação demo-
ção de sistemas sociais; a participação política de indivíduos e crática. In: Educação um tesouro a descobrir: relatório para
grupos; os sistemas de poder e os regimes políticos; as formas de UNESCO da comissão internacional sobre educação para o
Estado; a democracia; os direitos dos cidadãos; os movimentos século XXI. Cortez, UNESCO, MEC.
sociais, etc. (PCNEM, p.88). Com efeito, tais questões são compa- - FERRETTI, Celso, ZIBAS, Dagmar, et al. Protagonismo juvenil na
tíveis com a discussão do protagonismo, especificamente, quan- literatura especializada e na reforma do ensino médio. In: Ca-
do se reflete sobre este conceito a partir da ação de atores soci- dernos de Pesquisa, v. 34, n° 122, p.411-423, Maio/Agos. 2004.
ais. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/cp/v34n122/22511paf.
Importante destacar que, em 2006, foram elaboradas as Ori- Acesso: 01/01/2010
entações Curriculares Nacionais (OCN's) de modo a esclarecer - FRIGOTTO, Gaudêncio. Concepções e mudanças no mundo do
alguns pontos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, como, por trabalho e o ensino médio. In: Ensino Médio integrado: Con-
exemplo, o desenvolvimento de alternativas didático-pedagógi- cepções e mudanças. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Ma-
cos no trabalho escolar. Embora este documento consista num ria; RAMOS, Marise. (Orgs.) São Paulo: Cortez, 2005. Pág. 57 –
conjunto de reflexões voltadas para orientação de práticas docen- 82.
tes, também aqui é ressaltado o desafio da aprendizagem autô- - RAMOS, Marise. Possibilidades e desafios na organização do
noma e contínua ao longo da vida de modo a preparar o jovem currículo integrado. In: Ensino Médio integrado: Concepções e
para participação nas sociedades contemporâneas. (OCN's, 2006, mudanças. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS,
p.06). Marise. (Orgs.) São Paulo: Cortez, 2005. Pág. 106 – 127.
Do ponto de vista pedagógico, a proposta do ‚protagonismo - SOUZA, Regina Magalhães. O discurso do protagonismo juve-
juvenil‛, como método de trabalho em espaços de educação nil. São Paulo: Paulus, 2008. (Coleção Ciências Sociais).
formal e não-formal, está fundamentada na chamada pedagogia http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ensino_medioinovado
ativa, cujo foco é a ‚criação de espaços e condições que propici- r.pdf. Acessado em 12/10/2017.
em ao adolescente empreender ele próprio a construção de seu
ser em termos pessoais e sociais‛ (COSTA, 2001, p.9). Aqui o pro-
fessor, mais do que alguém que repassa conteúdos, assume um
papel de mediador, ‚situando o aluno no centro do processo
educativo, deslocando o eixo desse processo para a aprendiza-
gem, de modo a minimizar, assim, a dimensão do ensino.‛ (FER- 81. As Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA (CNE,2000)
RETTI, et al, 2004, p. 414-415). preconizam princípios norteadores da ação pedagógica da
Na análise do conceito de ‚protagonismo juvenil‛, e com base escola:
nos discursos de organismos internacionais, organizações gover- A) éticos, políticos e estéticos;
namentais e não -governamentais, constato que esta é uma ex- B) políticos, educacionais e filosóficos;
pressão carregada de significado político, sociológico e pedagó- C) educacionais, pedagógicos e didáticos;
gico. Como um conceito orientador de práticas sociais com ado- D) educacionais, políticos e sociais;
lescentes e jovens, seja em espaços de educação não-formal E) políticos, pedagógicos e sócio-educativos.
(ong's, igrejas, movimentos populares, conselhos), ou em espaços
de educação formal, como a escola e a universidade, o ‚protago-
nismo juvenil‛ admite interpretações heterogêneas, agregando a

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82. Conforme o Parecer CNE/CEB 11/2010, as Diretrizes Curri- A) I, apenas.
culares definidas em norma nacional pelo Conselho Naci- B) I e II, apenas.
onal de Educação são orientações que devem ser necessa- C) I e III, apenas.
riamente observadas na elaboração dos currículos e dos D) II e III, apenas.
projetos político-pedagógicos das escolas. Essa elaboração E) I, II e III.
é de responsabilidade
A) das escolas, seus professores, dirigentes e funcionários, com a 85. De acordo com a Lei Nº 10.639/2003 - História e Cultura
indispensável participação das famílias e dos estudantes. Afro – Brasileira e Africana, julgue as afirmações a seguir,
B) do gestor escolar e sua equipe técnica pedagógica. como Verdadeiro (V) ou Falso (F):
C) dos órgãos centrais da secretaria da educação, da escola e do ( ) É obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira
gestor escolar. nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio oficiais,
D) dos técnicos e dos especialistas do Ministério da Educação e exceto os particulares.
Cultura. ( ) É obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira
E) dos professores, do gestor e da comunidade escolar. nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais
e particulares.
83. A Escola Santo Agostinho percebeu a necessidade de es- ( ) O conteúdo programático sobre História e Cultura Afro-
truturar melhor o seu projeto pedagógico com vistas a Brasileira incluirá o estudo de História da África e dos Africa-
atender as orientações estabelecidas na Resolução nos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o
CNE/CEB n.º 03/98, que instituiu as Diretrizes Curriculares
negro na formação da sociedade nacional, resgatando a con-
Nacionais para o Ensino Médio. Os princípios pedagógicos
tribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
da Identidade, Diversidade e Autonomia, da Interdiscipli-
pertinentes à História do Brasil.
naridade e da Contextualização serão adotados como seus
estruturadores curriculares. Diante do exposto, no que se
refere à Contextualização, os professores dessa escola A sequência CORRETA é:
precisam A) F, F, V.
A) desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem que permi- B) F, V, V.
tam ao aluno reproduzir o conteúdo da mesma forma como C) V, F, F.
foi criado, inventado ou produzido, dando a esse conteúdo D) V, V, V.
um maior significado. E) F, V, F.
B) utilizar a transposição didática a fim de apresentar ao aluno o
conteúdo da forma como foi concebido, dando-lhe uma visão 86. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Funda-
mental (Resolução CEB/CNE no 2, de 7/4/98) indicam que,
ampla e global do que foi estudado.
na definição de suas propostas pedagógicas, as escolas
C) proporcionar aos alunos aprendizagens significativas através
devem:
de estratégias práticas que lhes permitam aplicar os conteú-
A) contar com a participação de todos os profissionais da educa-
dos da mesma forma como foram criados, inventados ou pro-
ção na sua elaboração e execução e com a participação da
duzidos e m situações de trabalho e vida diária.
comunidade local em conselhos escolares.
D) desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem que permi-
B) explicitar o reconhecimento da identidade pessoal de alunos e
tam ao aluno pesquisar como o conteúdo foi criado, inventa-
outros profissionais e da identidade de cada unidade escolar e
do ou produzido nas situações da vida cotidiana de onde sur-
de seus respectivos sistemas de ensino.
giram.
C) assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aulas esta-
E) adotar a transposição didática do conhecimento, como um
belecidas e velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
mecanismo de o aluno estabelecer relação entre a teoria e a
cada docente.
prática, dando significado ao conhecimento aprendido.
D) articular-se com as famílias e a comunidade, criando proces-
sos de integração da sociedade com a escola e informando
84. Diretrizes Curriculares Nacionais são o conjunto de defini-
aos pais e responsáveis sobre a execução da proposta.
ções doutrinárias sobre princípios, fundamentos e proce-
dimentos na Educação Básica, expressas pela Câmara de E) organizar-se na forma de ciclos, com base na idade, na com-
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, e ori- petência e em outros critérios, sempre que o interesse do
entam as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na or- processo de aprendizagem assim o recomendar.
ganização, na articulação, no desenvolvimento e na avali-
ação de suas propostas pedagógicas. As Diretrizes Curri- 87. Uma escola de Ensino Médio está interessada em ofertar,
culares Nacionais para o Ensino Fundamental dizem que também, cursos técnicos. Para que possa concretizar essa
as escolas deverão estabelecer, como norteadoras de suas intenção, seguindo o que está expresso no Parecer
ações pedagógicas: CNE/CEB n° 17/97, que estabelece as diretrizes operacio-
I. os Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da nais para a educação profissional em nível nacional, a
Solidariedade e do Respeito ao Bem Comum; equipe gestora dessa escola
II. os Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do A) deverá optar por oferecer somente cursos técnicos, pois a
exercício da Criticidade e do respeito à Ordem Democrática; legislação pertinente separou essa modalidade do Ensino Mé-
III. os Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, e da dio, devido a suas especificidades.
Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais. B) precisará de aprovação de Proposta Pedagógica expedida
pelo Ministério da Educação para implantar as novas habilita-
Marque as afirmativas corretas. ções técnicas.

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C) necessitará manter exclusivamente a oferta do Ensino Médio, II. A professora Vera não se conformava que as Diretrizes Curri-
visto que a legislação não permite que haja mudanças na na- culares Nacionais não definissem os conteúdos da Base Naci-
tureza da oferta de modalidades de ensino. onal comum.
D) terá o direito de implantar cursos técnicos no currículo do III. A professora Regina defendia a ideia de que os professores
Ensino Médio por meio da substituição de disciplinas da área têm a autonomia para consultar qualquer proposta curricular
de humanidades por módulos da área tecnológica. e, a partir dessa análise, propor uma proposta pedagógica da
E) poderá oferecer componentes curriculares de caráter profissi- escola.
onalizante na parte diversificada, até o limite de 25% do total IV. O professor Marcelo insistia em adotar o planejamento pro-
da carga horária mínima do Ensino Médio. posto pelo livro da sua disciplina, uma vez que seria ele o do-
cumento didático que pautaria o trabalho durante o ano leti-
88. Constitui forma de flexibilização do atendimento aos alu- vo.
nos com necessidades educacionais especiais, prevista ex-
plicitamente como tal nas Diretrizes Nacionais para a Edu- Considerando o texto das DCNs, estão corretos apenas:
cação Especial na Educação Básica, A) as professoras Vera e Regina.
A) a distribuição desses alunos pelas várias classes, dentro do B) os professores Fábio e Vera.
princípio de educar para a diversidade. C) os professores Regina e Marcelo.
B) a existência de serviços de apoio pedagógico especializado, D) os professores Fábio e Marcelo.
realizados nas classes comuns, mediante a atuação colabora- E) os professores Fábio, Vera e Regina.
tiva de professor especializado.
C) a disponibilização de apoio à locomoção, à comunicação e à 91. A educação inclusiva tem como objetivo que as crianças
aprendizagem dos alunos com dificuldades maiores do que a portadoras de necessidades especiais atinjam o máximo
dos demais estudantes. de suas potencialidades, o que implica em mudanças sig-
D) a temporalidade diferenciada do ano letivo para os alunos nificativas na estruturação das escolas:
com deficiência mental, de modo a concluir em tempo maior
o currículo previsto. Sobre a educação inclusiva, assinale a alternativa INCOR-
E) a garantia de acessibilidade aos conteúdos curriculares, medi- RETA.
ante a utilização da Libras, ainda que com prejuízo parcial do A) A implementação de escolas inclusivas deve ser acompanhada
aprendizado da língua portuguesa. por políticas de suporte técnico às escolas.
B) Os benefícios da educação inclusiva não se limitam aos alunos
89. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para Forma- portadores de necessidades especiais, mas permitem que to-
ção de Docentes da Educação Infantil e anos iniciais do dos os alunos tenham uma ampliação de seus potenciais.
Ensino Fundamental em nível médio é CORRETO afirmar: C) Para o sucesso da educação inclusiva é fundamental que os
A) O curso normal em nível médio, conforme prevê o artigo 62 pais acompanhem o processo.
da atual LDB está aberto somente aos jovens e adolescentes D) Cabe ao professor ter uma atitude protetora com as crianças
que concluíram a Educação Básica. portadoras de necessidades especiais, a fim de que elas não
B) A duração do curso normal médio nos diferentes estabeleci- sejam aliadas do processo educacional.
mentos, considerando o conjunto de núcleos curriculares, será
de 2400 horas distribuídas em 3 anos letivos. 92. “Escola inclusiva”
C) Considerando as diversidades regionais, cabe aos estabeleci- I. É aquela que educa todos os alunos em salas de aula regula-
mentos de ensino definirem normas complementares para a res.
implementação dessas Diretrizes. II. É aquela na qual todos os alunos recebem oportunidades
D) Há possibilidade de o curso normal médio cumprir a carga educacionais adequadas que são desafiadoras, porém, ajusta-
horária mínima em 3 (três) anos, condicionada ao desenvol- das às suas habilidades e necessidades.
vimento do curso com jornada diária em tempo integral. III. É aquela que coloca os limites da diversidade apenas e tão
E) O curso não terá preocupação em preparar professores para o somente, além dos quais o comportamento é inaceitável.
ensino fundamental tendo em vista que esta etapa da escola- IV. É aquela onde todos os alunos recebem todo o apoio e ajuda
rização só poderá ser assumida por profissionais graduados de que eles ou seus professores, possam, da mesma forma,
em Pedagogia. necessitar para alcançar sucesso nas principais atividades.
V. É aquela, principalmente, que é um lugar do qual todos fazem
90. Imagine uma situação hipotética: Em uma escola pública parte, em que todos são aceitos, onde todos ajudam e são
da rede municipal, a direção propôs que fosse realizada ajudados pelos colegas, por outros membros da comunidade
uma reformulação no currículo para atender às propostas escolar, para que suas necessidades educacionais sejam satis-
das Diretrizes Curriculares. Os professores questionaram feitas.
quais textos deveriam reger suas escolhas, tendo o diretor
afirmado que as Diretrizes Curriculares estavam disponí- Marque:
veis no portal do MEC e que cada um deveria ler o texto A) Se todos os significados estiverem corretamente colocados.
das DCNs para poder debater em uma reunião a ser mar- B) Se apenas os significados II, III e IV estiverem corretos.
cada. Durante a reunião, com o debate, algumas falas fica- C) Se estiverem corretos os significados I, II, IV e V apenas.
ram marcadas:
D) Se apenas os significados I, II e III – V estiverem corretos.
I. O professor Fábio insistia que os PCNs deveriam obrigatoria-
mente ser alvo de consulta, pois eles constituem um docu-
mento de Diretrizes Curriculares de âmbito nacional.

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93. Em uma gestão democrática da educação que visa a me- 7. LEGISLAÇÃO BÁSICA DA EDUCAÇÃO.
lhoria da qualidade social e inclusiva da escola, é funda-
mental:
7.1 – LEI Nº 9.394/1996 E SUAS ALTERAÇÕES (LEI DE DIRE-
A) Envolver apenas mudanças significativas na estrutura organi-
TRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL).
zacional da escola e investir apenas em quem demonstra inte-
resse em aprender. TÍTULO I – Da Educação
B) Otimizar paradigmas emergentes da nova sociedade do co-
nhecimento, objetivando assegurar a evolução dos alunos in- Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se
teressados. desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no traba-
C) Promover mudanças de paradigmas que fundamentem a lho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais
construção de uma proposta educacional comprometida com e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
a ampliação de processos participativos na tomada de deci- § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve,
sões, nas dimensões administrativa, pedagógica e financeira. predominantemente, por meio do ensino, em instituições pró-
D) Aumentar, tão somente, a participação efetiva do segmento prias.
pedagógico no Conselho Escolar e a eleição direta para ges- § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do tra-
tores. balho e à prática social.
E) Uma prática constituinte das relações sociais mais amplas que
assegurem parcerias para a manutenção da escola e que vi- TÍTULO II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
sem o ingresso dos jovens no mercado de trabalho.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
94. A proposta da educação inclusiva como remoção de bar- nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,
reiras para a aprendizagem e para a participação tem co- tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu
mo pressuposto que todos são capazes de aprender. Isso preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
implica que os professores: trabalho.
A) Assimilem a inclusão como um valor e como um princípio, Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
tratando todos os alunos de forma igualitária, para que todos princípios:
tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem. I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
B) Compreendam a inclusão como um valor e como um princípio escola;
e em vez de ficarem indiferentes à diferença, tratem de reco- II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cul-
nhece-la e de identificar as necessidades de todos e de cada tura, o pensamento, a arte e o saber;
um para ajustar sua prática pedagógica centrando-a na III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
aprendizagem e não no ensino. IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
C) Conheçam as necessidades educacionais de seus alunos e V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
organizem projetos individuais de aprendizagem que levem VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici-
em conta essas necessidades e, quando for o caso, solicitem à ais;
equipe pedagógica o encaminhamento do aluno aos serviços VII – valorização do profissional da educação escolar;
especializados. VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta
D) Compreendam que o princípio da educação inclusiva envolve Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
a integração do aluno na sala de aula, cabendo ao professor IX – garantia de padrão de qualidade;
tratar o aluno com deficiência da mesma forma que trata os X – valorização da experiência extraescolar;
demais. XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti-
E) Assimilem a inclusão como um princípio e reconhecendo as cas sociais;
necessidades do aluno com deficiência, procurem ajustar sua XII – consideração com a diversidade étnico-racial;
prática pedagógica centrando-a no ensino.
TÍTULO III – Do Direito à Educação e do Dever de Educar
95. Um dos grandes desafios da educação inclusiva é desen-
volver na escola a prática de currículos adaptados que Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será
possam atender às diferenças na aprendizagem significa- efetivado mediante a garantia de:
tiva, à qual se chega pela interação (sistematizada e diri- I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos
gida) do sujeito com o objeto. A aprendizagem significati-
17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma:
va supõe
a) pré-escola;
A) valorização dos conhecimentos prévios dos alunos e adequa-
b) ensino fundamental;
do trabalho de incorporação dos novos conhecimentos.
c) ensino médio;
B) seleção de livros didáticos e confecção de materiais ilustrati-
II – Educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos
vos dos temas.
de idade;
C) exclusividade no uso da memorização e da repetição dos
III – atendimento educacional especializado gratuito aos edu-
temas.
candos com deficiência, transtorno os globais do desenvolvimen-
D) avaliação única com análise e comentários do professor.
to e altas habilidades ou superlotação, transversal a todos os
E) análise dos resultados obtidos e reforço nos temas que apre-
níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular
sentem maior dificuldade.
de ensino;

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IV – acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e mé- TÍTULO IV – Da Organização da Educação Nacional
dio para todos os que não os concluíram na idade própria;
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
da criação artística, segundo a capacidade de cada um; organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições de ensino.
do educando; § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de
VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo
com características e modalidades adequadas às suas necessida- função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais
des e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhado- instâncias educacionais.
res as condições de acesso e permanência na escola; § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização
VIII – atendimento ao educando, em todas as etapas da edu- nos termos desta Lei.
cação básica, por meio de programas suplementares de material Art. 9º A União incumbir-se-á de:
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; I – elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração
IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indis- II – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
pensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-apren- oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios;
dizagem; III – prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus
fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade; obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva;
Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direito pú- IV – estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito
blico subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educa-
associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ção infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortea-
ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, rão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar
acionar o poder público para exigi-lo. formação básica comum;
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência federati- IV – A – estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distri-
va, deverá: to Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para iden-
I – recensear anualmente as crianças e adolescentes em idade tificação, cadastramento e atendimento, na educação básica e na
escolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram a educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdo-
educação básica; tação;
II – fazer-lhes a chamada pública; V – coletar, analisar e disseminar informações sobre a educa-
III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à ção;
escola. VI – assegurar processo nacional de avaliação do rendimento
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público as- escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração
segurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos com os sistemas de ensino, objetivando a definição de priorida-
termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis des e a melhoria da qualidade do ensino;
e modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais VII – baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-
e legais. graduação;
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo VIII – assegurar processo nacional de avaliação das institui-
tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese ções de educação superior, com a cooperação dos sistemas que
do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino;
rito sumário a ação judicial correspondente. IX – autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
§ 4ºComprovada a negligência da autoridade competente pa- respectiva mente, os cursos das instituições de educação superior
ra garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.
imputada por crime de responsabilidade. § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensi- de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade
no, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos dife- permanente, criado por lei.
rentes níveis de ensino, independentemente da escolarização § 2º Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
anterior. União terá acesso a todos os dados e informações necessários de
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser dele-
idade. gadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as se- instituições de educação superior.
guintes condições: Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
I – cumprimento das normas gerais da educação nacional e I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
do respectivo sistema de ensino; oficiais dos seus sistemas de ensino;
II – autorização de funcionamento e avaliação de qualidade II – definir, com os Municípios, formas de colaboração na ofer-
pelo Poder Público; ta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribui-
III – capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto ção proporcional das responsabilidades, de acordo com a popu-
no art. 213 da Constituição Federal. lação a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada
uma dessas esferas do Poder Público;

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III – elaborar e executar políticas e planos educacionais, em II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, pedagógica do estabelecimento de ensino;
integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municí- III – zelar pela aprendizagem dos alunos;
pios; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de
IV – autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, menor rendimento;
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além
e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; de participar integralmente dos períodos dedicados ao planeja-
V – baixar normas complementares para o seu sistema de en- mento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
sino; VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com
VI – assegurar o ensino fundamental e oferecer, com priorida- as famílias e a comunidade.
de, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
disposto no art. 38 desta Lei; democrática do ensino público na educação básica, de acordo
VII – assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competên- I – participação dos profissionais da educação na elaboração
cias referentes aos Estados e aos Municípios. do projeto pedagógico da escola;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: II– participação das comunidades escolar e local em conselhos
I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições escolares ou equivalentes.
oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades esco-
planos educacionais da União e dos Estados; lares públicas de educação básica que os integram progressivos
II – exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão
III – baixar normas complementares para o seu sistema de en- financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro
sino; público.
IV – autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
do seu sistema de ensino; I – as instituições de ensino mantidas pela União;
V – oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, II – as instituições de educação superior criadas e mantidas
com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em pela iniciativa privada;
outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas III – os órgãos federais de educação.
plenamente as necessidades de sua área de competência e com Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Fe-
recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Consti- deral compreendem:
tuição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. I – as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo
VI – assumir o transporte escolar dos alunos da rede munici- Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
pal. Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se II– as instituições de educação superior mantidas pelo Poder
integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um Público municipal;
sistema único de educação básica. III – as instituições de ensino fundamental e médio criadas e
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as nor- mantidas pela iniciativa privada;
mas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência IV – os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal,
de: respectivamente.
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educa-
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e finan- ção infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram
ceiros; seu sistema de ensino.
III – assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula es- Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
tabelecidas; I – as instituições do ensino fundamental, médio e de educa-
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada ção infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
docente; II – as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela
V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor iniciativa privada;
rendimento; III – os órgãos municipais de educação.
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando pro- Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classifi-
cessos de integração da sociedade com a escola; cam-se nas seguintes categorias administrativas:
VII – informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, I – públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e ren- mantidas e administradas pelo Poder Público;
dimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta II – privadas, assim entendidas as mantidas e administradas
pedagógica da escola; por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz com- Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas
petente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério seguintes categorias:
Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de I – particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
lei. jurídicas de direito privado que não apresentem as características
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: dos incisos abaixo;
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do esta- II – comunitárias, assim entendidas as que são instituídas por
belecimento de ensino; grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas,
inclusive cooperativas educacionais, sem fins lucrativos, que in-

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cluam na sua entidade mantenedora representantes da comuni- matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros
dade; componentes curriculares;
III – confessionais, assim entendidas as que são instituídas por V – a verificação do rendimento escolar observará os seguin-
grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas tes critérios:
que atendem a orientação confessional e ideologia específicas e a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,
ao disposto no inciso anterior; com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos
V – filantrópicas, na forma da lei. e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais pro-
vas finais;
TÍTULO V – Dos Níveis e das b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com
Modalidades de Educação e Ensino atraso escolar;
CAPÍTULO I – Da Composição dos Níveis Escolares c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante
verificação do aprendizado;
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência
fundamental e ensino médio; paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento
II – educação superior. escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em
seus regimentos;
CAPÍTULO II – Da Educação Básica
VI – o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme
SEÇÃO I – Das Disposições Gerais
o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema
de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o
cento do total de horas letivas para aprovação;
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
VII – cabe a cada instituição de ensino expedir históricos esco-
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
lares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certifica-
trabalho e em estudos posteriores.
dos de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis.
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de perío-
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino mé-
dos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na
dio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de ensi-
competência e em outros critérios, ou por forma diversa de orga-
no oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil
nização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem
horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de 2017.
assim o recomendar.
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de educa-
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando
ção de jovens e adultos e de ensino noturno regular, adequado às
se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no
condições do educando, conforme o inciso VI do art. 4º.
País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais.
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades responsá-
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades
veis alcançar relação adequada entre o número de alunos e o
locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo
professor, a carga horária e as condições materiais do estabele-
sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas leti-
cimento.
vas previsto nesta Lei.
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
das condições disponíveis e das características regionais e locais,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste arti-
I – a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para
go.
o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas por um
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino funda-
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o
mental e do ensino médio devem ter uma base nacional comum,
tempo reservado aos exames finais, quando houver;
a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada
II – a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a pri-
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida
meira do ensino fundamental, pode ser feita:
pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveita-
economia e dos educandos.
mento, a série ou fase anterior, na própria escola;
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemáti-
escolas;
ca, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade
c) independentemente de escolarização anterior, mediante
social e política, especialmente da República Federativa do Brasil,
avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento
observado, na educação infantil, o disposto no art. 31, no ensino
e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou
fundamental, o disposto no art. 32, e no ensino médio, o disposto
etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema
no art. 36.
de ensino;
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões re-
III – nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
gionais, constituirá componente curricular obrigatório da educa-
por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão
ção básica.
parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observa-
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
das as normas do respectivo sistema de ensino;
escola, é componente curricular obrigatório da educação infantil
IV – poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de
e do ensino fundamental, sendo sua prática facultativa ao aluno:
séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis
horas;

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II – maior de trinta anos de idade; sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região,
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em si- especialmente:
tuação similar, estiver obrigado à prática da educação física; I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
de 1969; II– organização escolar própria, incluindo adequação do ca-
V – (vetado); lendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáti-
VI – que tenha prole. cas;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contri- III – adequação à natureza do trabalho na zona rural.
buições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, indíge-
brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e euro- nas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão
peia. normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto justificativa apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do
ano, será ofertada a língua inglesa. diagnóstico do impacto da ação e a manifestação da comunidade
§ 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as lin- escolar.
guagens que constituirão o componente curricular de que trata o
§ 2o deste artigo. SEÇÃO II – Da Educação Infantil
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos
sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação bási-
transversais de que trata o caput. ca, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual
componente curricular complementar integrado à proposta pe- e social, complementando a ação da família e da comunidade.
dagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
mínimo, 2 (duas) horas mensais. I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
§ 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção três anos de idade;
de todas as formas de violência contra a criança e o adolescente II – pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos
serão incluídos, como temas transversais, nos currículos escolares de idade.
de que trata o caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei nº Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as
8.069, de 13 de julho de 1990 (e do Adolescente), observada a seguintes regras comuns:
produção e distribuição de material didático adequado. I – avaliação mediante acompanhamento e registro do desen-
§ 10 A inclusão de novos componentes curriculares de caráter volvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo
obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de para o acesso ao ensino fundamental;
aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação II– carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, dis-
pelo Ministro de Estado da Educação. tribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho edu-
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de cacional;
ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo III – atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas di-
da história e cultura afro-brasileira e indígena. árias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada inte-
§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo in- gral;
cluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam IV – controle de frequência pela instituição de educação pré-
a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento)
étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a do total de horas;
luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e V – expedição de documentação que permita atestar os pro-
indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade cessos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, eco-
nômica e política, pertinentes à história do Brasil. SEÇÃO III – Do Ensino Fundamental
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasi-
leira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbi- Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9
to de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis)
artística e de literatura e história brasileiras. anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão,
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica obser- mediante:
varão, ainda, as seguintes diretrizes: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo co-
I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos mo meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à cálculo;
ordem democrática; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
II – consideração das condições de escolaridade dos alunos político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se funda-
em cada estabelecimento; menta a sociedade;
III – orientação para o trabalho; III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, ten-
IV – promoção do desporto educacional e apoio às práticas do em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a for-
desportivas não formais. mação de atitudes e valores;
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de so-
os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à lidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social.

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§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino II – matemática e suas tecnologias;
fundamental em ciclos. III– ciências da natureza e suas tecnologias;
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por IV – ciências humanas e sociais aplicadas.
série podem adotar no ensino fundamental o regime de progres- § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput
são continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensi- do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar har-
no-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema monizada à Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a
de ensino. partir do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultu-
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua ral.
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a física, arte, sociologia e filosofia.
distância utilizado como complementação da aprendizagem ou § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será
em situações emergenciais. obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às comu-
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoria- nidades indígenas, também, a utilização das respectivas línguas
mente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adoles- maternas.
centes, tendo como diretriz a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamen-
que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a te, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas
produção e distribuição de material didático adequado. estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol,
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como de acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários defi-
tema transversal nos currículos do ensino fundamental. nidos pelos sistemas de ensino.
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte in- § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base Naci-
tegrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos onal Comum Curricular não poderá ser superior a mil e oitocentas
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, horas do total da carga horária do ensino médio, de acordo com
assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, a definição dos sistemas de ensino.
vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho espe-
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos rados para o ensino médio, que serão referência nos processos
para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelece- nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Comum Curricu-
rão as normas para a habilitação e admissão dos professores. lar.
2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a for-
pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos mação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho volta-
conteúdos do ensino religioso. do para a construção de seu projeto de vida e para sua formação
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação
progressivamente ampliado o período de permanência na escola. processual e formativa serão organizados nas redes de ensino por
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e escritas,
alternativas de organização autorizadas nesta Lei. seminários, projetos e atividades on-line, de tal forma que ao final
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente do ensino médio o educando demonstre:
em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino. I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos que pre-
sidem a produção moderna;
SEÇÃO IV – Do Ensino Médio II – conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que
duração mínima de três anos, terá como finalidades: deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arran-
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos jos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prossegui- possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
mento de estudos; I – linguagens e suas tecnologias;
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu- II – matemática e suas tecnologias;
cando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se III – ciências da natureza e suas tecnologias;
adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou IV – ciências humanas e sociais aplicadas;
aperfeiçoamento posteriores; V – formação técnica e profissional.
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, in- § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das res-
cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia pectivas competências e habilidades será feita de acordo com
intelectual e do pensamento crítico; critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos I – (Revogado);
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no II – (Revogado).
ensino de cada disciplina. § 2º (Revogado)
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretri- itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de
zes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular –
conhecimento: BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a V
I – linguagens e suas tecnologias; do caput.

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§ 4º (Revogado) § 15. Além das formas de organização previstas no art. 23, o
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de va- ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o
gas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio sistema de créditos ou disciplinas com terminalidade específica,
cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput. observada a Base Nacional Comum Curricular, a fim de estimular
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação o prosseguimento dos estudos.
com ênfase técnica e profissional considerará: § 16. Os conteúdos cursados durante o ensino médio poderão
I – a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor pro- ser convalidados para aproveitamento de créditos no ensino
dutivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo parcerias e superior, após normatização do Conselho Nacional de Educação e
fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos estabelecidos homologação pelo Ministro de Estado da Educação.
pela legislação sobre aprendizagem profissional; § 17. Para efeito de cumprimento de exigências curriculares
II – a possibilidade de concessão de certificados intermediá- do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer,
rios de qualificação para o trabalho, quando a formação for estru- mediante regulamentação própria, conhecimentos, saberes, habi-
turada e organizada em etapas com terminalidade. lidades e competências, mediante diferentes formas de compro-
§ 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao in- vação, como:
ciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo Nacional I – demonstração prática;
dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua continuidade, do reco- II – experiência de trabalho supervisionado ou outra experiên-
nhecimento pelo respectivo Conselho Estadual de Educação, no cia adquirida fora do ambiente escolar;
prazo de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos Cur- III – atividades de educação técnica oferecidas em outras insti-
sos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da data de oferta tuições de ensino;
inicial da formação. IV – cursos oferecidos por centros ou programas ocupacio-
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se refe- nais;
re o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em V – estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou
parceria com outras instituições, deverá ser aprovada previamen- estrangeiras;
te pelo Conselho Estadual de Educação, homologada pelo Secre- VI – educação a distância ou educação presencial mediada
tário Estadual de Educação e certificada pelos sistemas de ensino. por tecnologias.
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com valida-
de nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio ao pros- SEÇÃO IV-A – Da Educação Profissional
seguimento dos estudos em nível superior ou em outros cursos Técnica de Nível Médio
ou formações para os quais a conclusão do ensino médio seja
etapa obrigatória. Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Capí-
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, o tulo, o ensino médio, atendida a formação geral do educando,
ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas.
sistema de créditos com terminalidade específica. Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, faculta-
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências curriculares tivamente, a habilitação profissional poderão ser desenvolvidas
do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em coopera-
competências e firmar convênios com instituições de educação a ção com instituições especializadas em educação profissional.
distância com notório reconhecimento, mediante as seguintes Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio será
formas de comprovação: desenvolvida nas seguintes formas:
I – demonstração prática; I – articulada com o ensino médio;
II – experiência de trabalho supervisionado ou outra experiên- II– subsequente, em cursos destinados a quem já tenha con-
cia adquirida fora do ambiente escolar; cluído o ensino médio.
III– atividades de educação técnica oferecidas em outras insti- Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível mé-
tuições de ensino credenciadas; dio deverá observar:
IV – cursos oferecidos por centros ou programas ocupacio- I – os objetivos e definições contidos nas diretrizes curricula-
nais; res nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação;
V – estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou II – as normas complementares dos respectivos sistemas de
estrangeiras; ensino;
VI – cursos realizados por meio de educação a distância ou III – as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de
educação presencial mediada por tecnologias. seu projeto pedagógico.
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de es- Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio ar-
colha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional ticulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será
previstas no caput. desenvolvida de forma:
§ 13. Ao concluir o ensino médio, as instituições de ensino I – integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o
emitirão diploma com validade nacional que habilitará o diplo- ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a condu-
mado ao prosseguimento dos estudos em nível superior e demais zir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na
cursos ou formações para os quais a conclusão do ensino médio mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para
seja obrigatória. cada aluno;
§ 14. A União, em colaboração com os Estados e o Distrito Fe- II – concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio
deral, estabelecerá os padrões de desempenho esperados para o ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para
ensino médio, que serão referência nos processos nacionais de cada curso, e podendo ocorrer:
avaliação, considerada a Base Nacional Comum Curricular.

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a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as opor- II – de educação profissional técnica de nível médio;
tunidades educacionais disponíveis; III – de educação profissional tecnológica de graduação e
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as pós-graduação.
oportunidades educacionais disponíveis; § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica de gra-
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de duação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a
inter-complementaridade, visando ao planejamento e ao desen- objetivos, características e duração, de acordo com as diretrizes
volvimento de projeto pedagógico unificado. curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional Educação.
técnica de nível médio, quando registrados, terão validade nacio- Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articu-
nal e habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação lação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de edu-
superior. cação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de trabalho.
de nível médio, nas formas articulada concomitante e subsequen- Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e
te, quando estruturados e organizados em etapas com terminali- tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação,
dade, possibilitarão a obtenção de certificados de qualificação reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão
para o trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de cada de estudos.
etapa que caracterize uma qualificação para o trabalho. Parágrafo único. (Revogado)
Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológi-
SEÇÃO V – Da Educação de Jovens e Adultos ca, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais,
abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àque- aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade.
les que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino
fundamental e médio na idade própria. CAPÍTULO IV – Da Educação Superior
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jo-
vens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espíri-
características do alunado, seus interesses, condições de vida e de to científico e do pensamento reflexivo;
trabalho, mediante cursos e exames. II – formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento,
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a aptos para a inserção em setores profissionais e para a participa-
permanência do trabalhador na escola, mediante ações integra- ção no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na
das e complementares entre si. sua formação contínua;
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-se, prefe- III – incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica,
rencialmente, com a educação profissional, na forma do regula- visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da cria-
mento. ção e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendi-
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames su- mento do homem e do meio em que vive;
pletivos, que compreenderão a base nacional comum do currícu- IV – promover a divulgação de conhecimentos culturais, cien-
lo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. tíficos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras
I – no nível de conclusão do ensino fundamental, para os mai- formas de comunicação;
ores de quinze anos; V – suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural
II – no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores e profissional e possibilitar a correspondente concretização, inte-
de dezoito anos. grando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estru-
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos edu- tura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada gera-
candos por meios informais serão aferidos e reconhecidos medi- ção;
ante exames. VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo pre-
sente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços
CAPÍTULO III – Da Educação Profissional e Tecnológica especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação
de reciprocidade;
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumpri- VII – promover a extensão, aberta à participação da popula-
mento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos dife- ção, visando difusão das conquistas e benefícios resultantes da
rentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na
trabalho, da ciência e da tecnologia. instituição.
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica pode- VIII – atuar em favor da universalização e do aprimoramento
rão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a cons- da educação básica, mediante a formação e a capacitação de
trução de diferentes itinerários formativos, observadas as normas profissionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desen-
do respectivo sistema e nível de ensino. volvimento de atividades de extensão que aproximem os dois
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá os se- níveis escolares.
guintes cursos: Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e
I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissio- programas:
nal;

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I – cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes ní- b) a página principal da instituição de ensino superior, bem
veis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos re- como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a
quisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde que forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma
tenham concluído o ensino médio ou equivalente; finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
II – de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído prevista neste inciso;
o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio ele-
processo seletivo; trônico, deve criar página específica para divulgação das informa-
III – de pós-graduação, compreendendo programas de mes- ções de que trata esta Lei;
trado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e d) a página específica deve conter a data completa de sua úl-
outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação tima atualização;
e que atendam às exigências das instituições de ensino; II – em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino
IV – de extensão, abertos a candidatos que atendam aos re- superior, por meio de ligação para a página referida no inciso I;
quisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino. III – em local visível da instituição de ensino superior e de fácil
§ 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso II do acesso ao público;
caput deste artigo serão tornados públicos pelas instituições de IV – deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de
ensino superior, sendo obrigatória a divulgação da relação nomi- acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido,
nal dos classificados, a respectiva ordem de classificação, bem observando o seguinte:
como do cronograma das chamadas para matrícula, de acordo a) caso o curso mantenha disciplinas com duração diferencia-
com os critérios para preenchimento das vagas constantes do da, a publicação deve ser semestral;
respectivo edital. b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições das aulas;
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo docente
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez salários até o início das aulas, os alunos devem ser comunicados sobre as
mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais de um alterações;
candidato preencher o critério inicial. V – deve conter as seguintes informações:
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará as a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de en-
competências e as habilidades definidas na Base Nacional Co- sino superior;
mum Curricular. b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular de
Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições cada curso e as respectivas cargas horárias;
de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em
abrangência ou especialização. cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação profis-
como o credenciamento de instituições de educação superior, sional do docente e o tempo de casa do docente, de forma total,
terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após contínua ou intermitente.
processo regular de avaliação. § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências eventu- estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos
almente identificadas pela avaliação a que se refere este artigo, de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora espe-
haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o caso, em cial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo
desativação de cursos e habilitações, em intervenção na institui- com as normas dos sistemas de ensino.
ção, em suspensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, salvo
em descredenciamento. nos programas de educação a distância.
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo respon- § 4º As instituições de educação superior oferecerão, no perí-
sável por sua manutenção acompanhará o processo de sanea- odo noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de qua-
mento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, para a lidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a oferta
superação das deficiências. noturna nas instituições públicas, garantida a necessária previsão
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, indepen- orçamentária.
dente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando registrados, terão validade nacional como prova da for-
quando houver. mação recebida por seu titular.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de ca- § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas
da período letivo, os programas dos cursos e demais componen- próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições não
tes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação dos profes- universitárias serão registrados em universidades indicadas pelo
sores, recursos disponíveis e critérios de avaliação, obrigando-se Conselho Nacional de Educação.
a cumprir as respectivas condições, e a publicação deve ser feita, § 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades
sendo as 3 (três) primeiras formas concomitantemente: estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que
I – em página específica na internet no sítio eletrônico oficial tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitan-
da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte: do-se os acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação.
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como títu- § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por
lo ‚Grade e Corpo Docente‛; universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por uni-
versidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos

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e avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equiva- V – contratação e dispensa de professores;
lente ou superior. VI – planos de carreira docente.
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público goza-
transferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese rão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para atender às
de existência de vagas, e mediante processo seletivo. peculiaridades de sua estrutura, organização e financiamento
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na for- pelo Poder Público, assim como dos seus planos de carreira e do
ma da lei. regime jurídico do seu pessoal.
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições as-
ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus seguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas pode-
cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade de rão:
cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio. I – propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e admi-
Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas nistrativo, assim como um plano de cargos e salários, atendidas
como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de as normas gerais pertinentes e os recursos disponíveis;
seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos II – elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade
desses critérios sobre a orientação do ensino médio, articulando- com as normas gerais concernentes;
se com os órgãos normativos dos sistemas de ensino. III – aprovar e executar planos, programas e projetos de inves-
Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de timentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, de
formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesqui- acordo com os recursos alocados pelo respectivo Poder mante-
sa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se nedor;
caracterizam por: IV – elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
I – produção intelectual institucionalizada mediante o estudo V – adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas
sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do peculiaridades de organização e funcionamento;
ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; VI – realizar operações de crédito ou de financiamento, com
II – um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação aprovação do Poder competente, para aquisição de bens imóveis,
acadêmica de mestrado ou doutorado; instalações e equipamentos;
III – um terço do corpo docente em regime de tempo integral. VII – efetuar transferências, quitações e tomar outras provi-
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades espe- dências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial necessá-
cializadas por campo do saber. rias ao seu bom desempenho.
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser es-
universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições: tendidas a instituições que comprovem alta qualificação para o
I – criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e progra- ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação realizada pelo
mas de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às Poder Público.
normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sis- Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Or-
tema de ensino; çamento Geral, recursos suficientes para manutenção e desenvol-
II – fixar os currículos dos seus cursos e programas, observa- vimento das instituições de educação superior por ela mantidas.
das as diretrizes gerais pertinentes; Art. 56. As instituições públicas de educação superior obede-
III – estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa ci- cerão ao princípio da gestão democrática assegurada a existência
entífica, produção artística e atividades de extensão; de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os seg-
IV – fixar o número de vagas de acordo com a capacidade ins- mentos da comunidade institucional, local e regional.
titucional e as exigências do seu meio; Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão se-
V – elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em tenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e comis-
consonância com as normas gerais atinentes; são, inclusive nos que tratarem da elaboração e modificações
VI – conferir graus, diplomas e outros títulos; estatutárias e regimentais, bem como da escolha de dirigentes.
VII – firmar contratos, acordos e convênios; Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o
VIII – aprovar e executar planos, programas e projetos de in- professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de
vestimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, aulas.
bem como administrar rendimentos conforme dispositivos insti-
tucionais; CAPÍTULO V – Da Educação Especial
IX – administrar os rendimentos e deles dispor na forma pre-
vista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos; Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos
X – receber subvenções, doações, heranças, legados e coope- desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferen-
ração financeira resultante de convênios com entidades públicas cialmente na rede regular de ensino, para educandos com defici-
e privadas. ência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático-científica ou superdotação.
das universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pes- § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializa-
quisa decidir, dentro dos recursos orçamentários disponíveis, do, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela
sobre: de educação especial.
I – criação, expansão, modificação e extinção de cursos; § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas
II – ampliação e diminuição de vagas; ou serviços especializados, sempre que, em função das condições
III – elaboração da programação dos cursos; específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas clas-
IV – programação das pesquisas e das atividades de extensão; ses comuns de ensino regular.

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§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de
Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim;
educação infantil. IV – profissionais com notório saber reconhecido pelos res-
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos pectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de áreas
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas afins à sua formação ou experiência profissional, atestados por
habilidades ou superdotação: titulação específica ou prática de ensino em unidades educacio-
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organi- nais da rede pública ou privada ou das corporações privadas em
zação específicos, para atender às suas necessidades; que tenham atuado, exclusivamente para atender ao inciso V do
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem caput do art. 36;
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, V – profissionais graduados que tenham feito complementa-
em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em ção pedagógica, conforme disposto pelo Conselho Nacional de
menor tempo o programa escolar para os superdotados; Educação.
III – professores com especialização adequada em nível médio Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação,
ou superior, para atendimento especializado, bem como profes- de modo a atender às especificidades do exercício de suas ativi-
sores do ensino regular capacitados para a integração desses dades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modali-
educandos nas classes comuns; dades da educação básica, terá como fundamentos:
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva I – a presença de sólida formação básica, que propicie o co-
integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas nhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas com-
para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho petências de trabalho;
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior supervisionados e capacitação em serviço;
nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores,
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais em instituições de ensino e em outras atividades.
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino re- Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação bá-
gular. sica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena,
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional admitida, como formação mínima para o exercício do magistério
de alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fun-
1
educação básica e na educação superior, a fim de fomentar a damental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal .
execução de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
pleno das potencialidades desse alunado. em regime de colaboração, deverão promover a formação inicial,
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com altas a continuada e a capacitação dos profissionais de magistério.
habilidades ou superdotação, os critérios e procedimentos para § 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais
inclusão no cadastro referido no caput deste artigo, as entidades de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educa-
responsáveis pelo cadastramento, os mecanismos de acesso aos ção a distância.
dados do cadastro e as políticas de desenvolvimento das poten- § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará
cialidades do alunado de que trata o caput serão definidos em preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso
regulamento. de recursos e tecnologias de educação a distância.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabe- § 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
lecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência em
fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educa- cursos de formação de docentes em nível superior para atuar na
ção especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder educação básica pública.
Público. § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios in-
Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa centivarão a formação de profissionais do magistério para atuar
preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com na educação básica pública mediante programa institucional de
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habi- bolsa de iniciação à docência a estudantes matriculados em cur-
lidades ou superdotação na própria rede pública regular de ensi- sos de licenciatura, de graduação plena, nas instituições de edu-
no, independentemente do apoio às instituições previstas neste cação superior.
artigo. § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer nota míni-
ma em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino médio
TÍTULO VI – Dos Profissionais da Educação como pré-requisito para o ingresso em cursos de graduação para
formação de docentes, ouvido o Conselho Nacional de Educação
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar bá- – CNE.
sica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido for- § 7º (Vetado)
mados em cursos reconhecidos, são: § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes terão
I – professores habilitados em nível médio ou superior para a por referência a Base Nacional Comum Curricular .
2

docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e mé-


dio;
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pe- 1
Nota do Editor (NE): O disposto neste artigo deverá ser implementado
dagogia, com habilitação em administração, planejamento, su- no prazo de dois anos, contado da publicação da Base Nacional Comum
pervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com Curricular.
2
NE: Esse parágrafo deverá ser implementado no prazo de dois anos,
títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
contados da data da publicação da Medida Provisória no 746/2016.

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Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o inci- TÍTULO VII – Dos Recursos Financeiros
so III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo técnico-
pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo habilitações Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
tecnológicas. originários de:
Parágrafo único. Garantir- se à formação continuada para os I – receita de impostos próprios da União, dos Estados, do
profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em Distrito Federal e dos Municípios;
instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de II– receita de transferências constitucionais e outras transfe-
educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou rências;
tecnológicos e de pós-graduação. III – receita do salário-educação e de outras contribuições so-
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: ciais;
I – cursos formadores de profissionais para a educação básica, IV – receita de incentivos fiscais;
inclusive o curso normal superior, destinado à formação de do- V – outros recursos previstos em lei.
centes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensi- Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoi-
no fundamental; to, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco
II – programas de formação pedagógica para portadores de por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou Leis
diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educa- Orgânicas, da receita resultante de impostos, compreendidas as
ção básica; transferências constitucionais, na manutenção e desenvolvimento
III – programas de educação continuada para os profissionais do ensino público.
de educação dos diversos níveis. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
Art. 64. A formação de profissionais de educação para admi- União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
nistração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação edu- Estados aos respectivos Municípios, não será considerada, para
cacional para a educação básica, será feita em cursos de gradua- efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do Governo que a
ção em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da transferir.
instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
nacional. mencionadas neste artigo as operações de crédito por antecipa-
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superi- ção de receita orçamentária de impostos.
or, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas. § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos mí-
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior nimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita estima-
far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em progra- da na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o caso, por lei
mas de mestrado e doutorado. que autorizar a abertura de créditos adicionais, com base no
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universida- eventual excesso de arrecadação.
de com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exi- § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
gência de título acadêmico. efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas a
profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos cada trimestre do exercício financeiro.
dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa da
I – ingresso exclusivamente por concurso público de provas e União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ocorrerá
títulos; imediatamente ao órgão responsável pela educação, observados
II – aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com li- os seguintes prazos:
cenciamento periódico remunerado para esse fim; I – recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada
III – piso salarial profissional; mês, até o vigésimo dia;
IV – progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, II – recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo dia
e na avaliação do desempenho; de cada mês, até o trigésimo dia;
V – período reservado a estudos, planejamento e avaliação, III – recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final de
incluído na carga de trabalho; cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
VI – condições adequadas de trabalho. § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção
§ 1º A experiência docente é pré-requisito para o exercício monetária e responsabilização civil e criminal das autoridades
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos ter- competentes.
mos das normas de cada sistema de ensino. Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvol-
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º vimento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecu-
do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de ção dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos
magistério as exercidas por professores e especialistas em educa- os níveis, compreendendo as que se destinam a:
ção no desempenho de atividades educativas, quando exercidas I – remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e
em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e demais profissionais da educação;
modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de II – aquisição, manutenção, construção e conservação de ins-
direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramen- talações e equipamentos necessários ao ensino;
to pedagógico. III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensi-
§ 3º A União prestará assistência técnica aos Estados, ao Dis- no;
trito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos públi- IV – levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando
cos para provimento de cargos dos profissionais da educação. precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do
ensino;

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V – realização de atividades-meio necessárias ao funciona- § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser exercida
mento dos sistemas de ensino; em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios se
VI – concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públi- estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua responsabilida-
cas e privadas; de, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta
VII – amortização e custeio de operações de crédito destina- Lei, em número inferior à sua capacidade de atendimento.
das a atender ao disposto nos incisos deste artigo; Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo an-
VIII – aquisição de material didático-escolar e manutenção de terior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos Estados,
programas de transporte escolar. Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei, sem prejuízo
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e desen- de outras prescrições legais.
volvimento do ensino aquelas realizadas com: Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas pú-
I – pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, blicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessio-
ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise, nais ou filantrópicas que:
precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua I – comprovem finalidade não lucrativa e não distribuam re-
expansão; sultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de
II – subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
assistencial, desportivo ou cultural; II – apliquem seus excedentes financeiros em educação;
III – formação de quadros especiais para a administração pú- III – assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
blica, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no
IV – programas suplementares de alimentação, assistência caso de encerramento de suas atividades;
médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas IV – prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos.
de assistência social; § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destina-
V – obras de infraestrutura, ainda que realizadas para benefi- dos a bolsas de estudo para a educação básica, na forma da lei,
ciar direta ou indiretamente a rede escolar; para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando
VI – pessoal docente e demais trabalhadores da educação, houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública de do-
quando em desvio de função ou em atividade alheia à manuten- micílio do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir
ção e desenvolvimento do ensino. prioritariamente na expansão da sua rede local.
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e desenvol- § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão pode-
vimento do ensino serão apuradas e publicadas nos balanços do rão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive mediante
Poder Público, assim como nos relatórios a que se refere o § 3º bolsas de estudo.
do art. 165 da Constituição Federal.
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritariamen- TÍTULO VIII – Das Disposições Gerais
te, na prestação de contas de recursos públicos, o cumprimento
do disposto no art. 212 da Constituição Federal, no art. 60 do Ato Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração
das Disposições Constitucionais Transitórias e na legislação con- das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
cernente. índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa,
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos
Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de oportu- indígenas, com os seguintes objetivos:
nidades educacionais para o ensino fundamental, baseado no I – proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a re-
cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de assegurar ensino de cuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas
qualidade. identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo será II – garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso
calculado pela União ao final de cada ano, com validade para o às informações, conhecimentos técnicos e científicos da socieda-
ano subsequente, considerando variações regionais no custo dos de nacional e demais sociedades indígenas e não índias.
insumos e as diversas modalidades de ensino. Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os siste-
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos Esta- mas de ensino no provimento da educação intercultural às comu-
dos será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as dispa- nidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de
ridades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino e pesquisa.
ensino. § 1º Os programas serão planejados com audiência das co-
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula de munidades indígenas.
domínio público que inclua a capacidade de atendimento e a § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos
medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito Federal Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
ou do Município em favor da manutenção e do desenvolvimento I – fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de
do ensino. cada comunidade indígena;
§ 2º A capacidade de atendimento de cada Governo será defi- II – manter programas de formação de pessoal especializado,
nida pela razão entre os recursos de uso constitucionalmente destinado educação escolar nas comunidades indígenas;
obrigatório na manutenção e desenvolvimento do ensino e o III – desenvolver currículos e programas específicos, neles in-
custo anual do aluno, relativo ao padrão mínimo de qualidade. cluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a comunidades;
União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada esta- IV – elaborar e publicar sistematicamente material didático
belecimento de ensino, considerado o número de alunos que específico e diferenciado.
efetivamente frequentam a escola.

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§ 3º No que se refere à educação superior, sem prejuízo de § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação desta
outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de
nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de ensi- Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em
no e de assistência estudantil, assim como de estímulo à pesquisa sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.
e desenvolvimento de programas especiais. § 2º (Revogado)
Art. 79-A. (Vetado) § 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, supletiva-
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro mente, a União, devem:
como ‚Dia Nacional da Consciência Negra‛. I – (Revogado);
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a a) (Revogada);
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os ní- b) (Revogada);
veis e modalidades de ensino, e de educação continuada. c) (Revogada);
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regi- II – prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adul-
me especiais, será oferecida por instituições especificamente tos insuficientemente escolarizados;
credenciadas pela União. III – realizar programas de capacitação para todos os profes-
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de sores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da
exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a educação a distância;
distância. IV – integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamen-
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de pro- tal do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendi-
gramas de educação a distância e a autorização para sua imple- mento escolar.
mentação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo § 4º (Revogado)
haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a pro-
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento diferencia- gressão das redes escolares públicas urbanas de ensino funda-
do, que incluirá: mental para o regime de escolas de tempo integral.
I – custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao Distrito
radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos seus Mu-
comunicação que sejam explorados mediante autorização, con- nicípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. 212 da
cessão ou permissão do poder público; Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes pelos Go-
II – concessão de canais com finalidades exclusivamente edu- vernos beneficiados.
cativas; Art. 87-A. (Vetado)
III – reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Públi- Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
co, pelos concessionários de canais comerciais. pios adaptarão sua legislação educacional e de ensino às disposi-
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições ções desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir da data de
de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições sua publicação.
desta Lei. § 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos respectivos
realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal sistemas de ensino, nos prazos por estes estabelecidos.
sobre a matéria. § 2º O prazo para que as universidades cumpram o disposto
Parágrafo único. (Revogado) nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, admiti- Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a
da a equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da publicação
pelos sistemas de ensino. desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino.
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser apro- Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime
veitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas insti- anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo Conse-
tuições, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu lho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, pelos
rendimento e seu plano de estudos. órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a autono-
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação própria mia universitária.
poderá exigir a abertura de concurso público de provas e títulos Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
os
para cargo de docente de instituição pública de ensino que esti- Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis n 4.024, de 20
ver sendo ocupado por professor não concursado, por mais de de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não
os
seis anos, ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41 da alteradas pelas Leis n 9.131, de 24 de novembro de 1995 e
os
Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições Constitucionais 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis n 5.692, de
Transitórias. 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as
Art. 86. As instituições de educação superior constituídas co- demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer outras
mo universidades integrar-se-ão, também, na sua condição de disposições em contrário.
instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e Tecno-
logia, nos termos da legislação específica. Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175ºda Independência e 108º
da República.
TÍTULO IX – Das Disposições Transitórias
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO – Paulo Renato Souza
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um Promulgada em 20/12/1996 e publicada no DOU de 23/12/1996.
ano a partir da publicação desta Lei.

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7.2 - LEI Nº 4.024/1961 - FIXA AS DIRETRIZES E BASES DA Art. 8º A Câmara de Educação Básica e a Câmara de Educação
EDUCAÇÃO NACIONAL. Superior serão constituídas, cada uma, por doze conselheiros,
sendo membros natos, na Câmara de Educação Básica, o Secretá-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA rio de Educação Fundamental e na Câmara de Educação Superior,
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a o Secretário de Educação Superior, ambos do Ministério da Edu-
seguinte Lei: cação e do Desporto e nomeados pelo Presidente da República.
Arts. 1º a 5º (Revogados) § 1º A escolha e nomeação dos conselheiros será feita pelo
Presidente da República, sendo que, pelo menos a metade, obri-
TÍTULO IV – Da Administração do Ensino gatoriamente, dentre os indicados em listas elaboradas especial-
mente para cada Câmara, mediante consulta a entidades da soci-
Art. 6º O Ministério da Educação e do Desporto exerce as edade civil, relacionadas às áreas de atuação dos respectivos
atribuições do poder público federal em matéria de educação, colegiados.
cabendo-lhe formular e avaliar a política nacional de educação, § 2º Para a Câmara de Educação Básica a consulta envolverá,
zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento das leis necessariamente, indicações formuladas por entidades nacionais,
que o regem. públicas e particulares, que congreguem os docentes, dirigentes
§ 1º No desempenho de suas funções, o Ministério da Educa- de instituições de ensino e os Secretários de Educação dos Muni-
ção e do Desporto contará com a colaboração do Conselho Naci- cípios, dos Estados e do Distrito Federal.
onal de Educação e das Câmaras que o compõem. § 3º Para a Câmara de Educação Superior a consulta envolve-
§ 2º Os conselheiros exercem função de interesse público re- rá, necessariamente, indicações formuladas por entidades nacio-
levante, com precedência sobre quaisquer outros cargos públicos nais, públicas e particulares, que congreguem os reitores de uni-
de que sejam titulares e, quando convocados, farão jus a trans- versidades, diretores de instituições isoladas, os docentes, os
porte, diárias e jetons de presença a serem fixados pelo Ministro estudantes e segmentos representativos da comunidade científi-
de Estado da Educação e do Desporto. ca.
§ 3º O ensino militar será regulado por lei especial. § 4º A indicação, a ser feita por entidades e segmentos da so-
Art. 7º O Conselho Nacional de Educação, composto pelas ciedade civil, deverá incidir sobre brasileiros de reputação ilibada,
Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, terá atribui- que tenham prestado serviços relevantes à educação, à ciência e
ções normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro à cultura.
de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a § 5º Na escolha dos nomes que comporão as Câmaras, o Pre-
participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação sidente da República levará em conta a necessidade de estarem
nacional. representadas todas as regiões do país e as diversas modalidades
§ 1º Ao Conselho Nacional de Educação, além de outras atri- de ensino, de acordo com a especificidade de cada colegiado.
buições que lhe forem conferidas por lei, compete: § 6º Os conselheiros terão mandato de quatro anos, permitida
a) subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano uma recondução para o período imediatamente subsequente,
Nacional de Educação; havendo renovação de metade das Câmaras a cada dois anos,
b) manifestar-se sobre questões que abranjam mais de um ní- sendo que, quando da constituição do Conselho, metade de seus
vel ou modalidade de ensino; membros serão nomeados com mandato de dois anos.
c) assessorar o Ministério da Educação e do Desporto no di- § 7º Cada Câmara será presidida por um conselheiro escolhi-
agnóstico dos problemas e deliberar sobre medidas para aperfei- do por seus pares, vedada a escolha do membro.
çoar os sistemas de ensino, especialmente no que diz respeito à Art. 9º As Câmaras emitirão pareceres e decidirão, privativa e
integração dos seus diferentes níveis e modalidades; autonomamente, os assuntos a elas pertinentes, cabendo, quan-
d) emitir parecer sobre assuntos da área educacional, por ini- do for o caso, recurso ao Conselho Pleno.
ciativa de seus conselheiros ou quando solicitado pelo Ministro § 1º São atribuições da Câmara de Educação Básica:
de Estado da Educação e do Desporto; a) examinar os problemas da educação infantil, do ensino
e) manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos Estados fundamental, da educação especial e do ensino médio e tecnoló-
e do Distrito Federal; gico e oferecer sugestões para sua solução;
f) analisar e emitir parecer sobre questões relativas à aplicação b) analisar e emitir parecer sobre os resultados dos processos
da legislação educacional, no que diz respeito à integração entre de avaliação dos diferentes níveis e modalidades mencionados na
os diferentes níveis e modalidade de ensino; alínea anterior;
g) elaborar o seu regimento, a ser aprovado pelo Ministro de c) deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Mi-
Estado da Educação e do Desporto. nistério da Educação e do Desporto;
§ 2º O Conselho Nacional de Educação reunir-se-á ordinaria- d) colaborar na preparação do Plano Nacional de Educação e
mente a cada dois meses e suas Câmaras, mensalmente e, extra- acompanhar sua execução, no âmbito de sua atuação;
ordinariamente, sempre que convocado pelo Ministro de Estado e) assessorar o Ministro de Estado da Educação e do Desporto
da Educação e do Desporto. em todos os assuntos relativos à educação básica;
§ 3º O Conselho Nacional de Educação será presidido por um f) manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos Estados
de seus membros, eleito por seus pares para mandato de dois e do Distrito Federal, acompanhando a execução dos respectivos
anos, vedada a reeleição imediata. Planos de Educação;
§ 4º O Ministro de Estado da Educação e do Desporto presidi- g) analisar as questões relativas à aplicação da legislação refe-
rá as sessões a que comparecer. rente à educação básica;
§ 2º São atribuições da Câmara de Educação Superior:
a) (Revogada);

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b) oferecer sugestões para a elaboração do Plano Nacional de 7.3 – LEI Nº 8.069/1990 E SUAS ALTERAÇÕES (ESTATUTO DA
Educação e acompanhar sua execução, no âmbito de sua atuação; CRIANÇA E DO ADOLESCENTE).
c) deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Mi-
nistério da Educação e do Desporto, para os cursos de graduação; O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei fede-
d) deliberar sobre as normas a serem seguidas pelo Poder ral (8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direi-
Executivo para a autorização, o reconhecimento, a renovação e a tos das crianças e adolescentes em todo o Brasil.
suspensão do reconhecimento de cursos e habilitações ofereci- Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em
dos por instituições de ensino superior; partes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais
e) deliberar sobre as normas a serem seguidas pelo Poder codificações existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já
Executivo para o credenciamento, o recredenciamento periódico a segunda parte estrutura a política de atendimento, medidas,
e o descredenciamento de instituições de ensino superior inte- conselho tutelar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracio-
grantes do Sistema Federal de Ensino, bem assim a suspensão de nais.
prerrogativas de autonomia das instituições que dessas gozem, A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem
no caso de desempenho insuficiente de seus cursos no Exame distinção de raça, cor ou classe social, passaram a ser reconheci-
Nacional de Cursos e nas demais avaliações conduzidas pelo dos como sujeitos de direitos e deveres, considerados como
Ministério da Educação; pessoas em desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta
f) deliberar sobre o credenciamento e o recredenciamento pe- do Estado.
riódico de universidades e centros universitários, com base em O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos,
relatórios e avaliações apresentados pelo Ministério da Educação, proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral
bem assim sobre seus respectivos estatutos; e social condizentes com os princípios constitucionais da liberda-
g) deliberar sobre os relatórios para reconhecimento periódi- de e da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade.
co de cursos de mestrado e doutorado, elaborados pelo Ministé- O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
rio da Educação e do Desporto, com base na avaliação dos cur- educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
sos; respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para
h) analisar questões relativas à aplicação da legislação refe- meninos e meninas, e também aborda questões de políticas de
rente à educação superior; atendimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas,
i) assessorar o Ministro de Estado da Educação e do Desporto entre outras providências. Trata-se de direitos diretamente relaci-
nos assuntos relativos à educação superior. onados à Constituição da República de 1988.
j) deliberar sobre processos de reconhecimento de cursos e Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze
habilitações oferecidos por instituições de ensino superior, assim anos de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida
como sobre autorização prévia daqueles oferecidos por institui- entre doze e dezoito anos. Entretanto, aplica-se o estatuto, ex-
ções não universitárias, por iniciativa do Ministério da Educação cepcionalmente, às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de
em caráter excepcional, na forma do regulamento a ser editado idade, em situações que serão aqui demonstradas.
pelo Poder Executivo. Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será ob-
§ 3º As atribuições constantes das alíneas ‚d‛, ‚e‛ e ‚f‛ do pa- jeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
rágrafo anterior poderão ser delegadas, em parte ou no todo, aos violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que seja,
Estados e ao Distrito Federal. devendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos
§ 4º O recredenciamento a que se refere a alínea ‚e‛ do § 2o seus direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que
deste artigo poderá incluir determinação para a desativação de a criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde,
cursos e habilitações. mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam
o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em con-
Brasília, 20 de dezembro de 1961; 140º da Independência e 73º dições dignas de existência.
da República. As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguar-
dar a família natural ou a família substituta, sendo está ultima
JOÃO GOULART – Tancredo Neves – pela guarda, tutela ou adoção. A guarda obriga a prestação de
Alfredo Nasser – Angelo Nolasco – assistência material, moral e educacional, a tutela pressupõe
João de Cegadas Viana – todos os deveres da guarda e pode ser conferida a pessoa de até
San Tiago Dantas – Walther Moreira Salles – 21 anos incompletos, já a adoção atribui condição de filho, com
Virgílio Távora – Armando Monteiro – mesmos direito e deveres, inclusive sucessórios.
Antonio de Oliveira Brito – A. Franco Montoro – A instituição familiar é a base da sociedade, sendo indispen-
Clovis M. Travassos – Souto Maior – sável à organização social, conforme preceitua o art. 226 da
Ulysses Guimarães – Gabriel de R. Passos CR/88. Não sendo regra, mas os adolescentes correm maior risco
quando fazem parte de famílias desestruturadas ou violentas.
Promulgada em 20/12/1961, Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos fi-
publicada no DOU de 27/12/1961 lhos, não constituindo motivo de escusa a falta ou a carência de
e retificada no DOU de 28/12/1961. recursos materiais, sob pena da perda ou a suspensão do pátrio
poder. Caso a família natural, comunidade formada pelos pais ou
qualquer deles e seus descendentes, descumpra qualquer de suas
obrigações, a criança ou adolescente serão colocados em família
substituta mediante guarda, tutela ou adoção.

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Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educa- ‘Considerando que todos têm o dever de zelar pela dignidade
do no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substi- da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tra-
tuta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambien- tamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou cons-
te livre da presença de pessoas dependentes de substâncias en- trangedor, havendo suspeita ou confirmação de maus-tratos
torpecentes. contra alguma criança ou adolescente, serão obrigatoriamente
Por tal razão que a responsabilidade dos pais é enorme no comunicados ao Conselho Tutelar para providências cabíveis.
desenvolvimento familiar e dos filhos, cujo objetivo é manter ao Ainda com toda proteção às crianças e aos adolescentes, a
máximo a estabilidade emocional, econômica e social. delinquência é uma realidade social, principalmente nas grandes
A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são cidades, sem previsão de término, fazendo com que tenha trata-
fatores que interferem diretamente no desenvolvimento das mento diferenciado dos crimes praticados por agentes imputá-
crianças e adolescentes, visto que não permanecem exclusiva- veis.
mente inseridos na entidade familiar. Os crimes praticados por adolescentes entre 12 e 18 anos in-
Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou completos são denominados atos infracionais passíveis de aplica-
violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto que ção de medidas socioeducativas. Os dispositivos do Estatuto da
cabe a sociedade, família e ao poder público proibir a venda e Criança e do Adolescente disciplinam situações nas quais tanto o
comercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e responsável, quanto os menores devem ser instados a modifica-
explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de rem atitudes, definindo sanções para os casos mais graves.
conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes. Na hipótese do menor cometer ato infracional, cuja conduta
Cada município deverá haver, no mínimo, um Conselho Tute- sempre estará descrita como crime ou contravenção penal para
lar composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade os imputáveis, poderão sofrer sanções específicas aquelas descri-
local, regularmente eleitos e empossados, encarregado pela soci- tas no estatuto como medidas socioeducativas.
edade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, mas
adolescente. respondem pela prática de ato infracional cuja sanção será desde
O Conselho Tutelar é uma das entidades públicas competen- a adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou
tes a salvaguardar os direitos das crianças e dos adolescentes nas responsável, orientação, apoio e acompanhamento, matricula e
hipóteses em que haja desrespeito, inclusive com relação a seus frequência em estabelecimento de ensino, inclusão em programa
pais e responsáveis, bem como aos direitos e deveres previstos na de auxílio à família, encaminhamento a tratamento médico, psico-
legislação do ECA e na Constituição. São deveres dos Conselhei- lógico ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até,
ros Tutelares: colocação em família substituta.
Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (inimputá-
1. Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de prote- veis) que pratica algum ato infracional, além das medidas proteti-
ção. vas já descritas, a autoridade competente poderá aplicar medida
2. Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medi- socioeducativa de acordo com a capacidade do ofensor, circuns-
das pertinentes previstas no Estatuto da Criança e do Adoles- tâncias do fato e a gravidade da infração, são elas:
cente.
3. Promover a execução de suas decisões, podendo requisitar 1) Advertências – admoestação verbal, reduzida a termo e assi-
serviços públicos e entrar na Justiça quando alguém, injustifi- nada pelos adolescentes e genitores sob os riscos do envol-
cadamente, descumprir suas decisões. vimento em atos infracionais e sua reiteração,
4. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o 2) Obrigação de reparar o dano – caso o ato infracional seja
Estatuto tenha como infração administrativa ou penal. passível de reparação patrimonial, compensando o prejuízo
5. Encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes. da vítima,
6. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas 3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo
sócio-educativas aplicadas pela Justiça a adolescentes infrato- conscientizar o menor infrator sobre valores e solidariedade
res. social,
7. Expedir notificações em casos de sua competência. 4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o en-
8. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e fretamento da prática de atos infracionais, na medida em que
adolescentes, quando necessário. atua juntamente com a família e o controle por profissionais
9. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta (psicólogos e assistentes sociais) do Juizado da Infância e Ju-
orçamentaria para planos e programas de atendimento dos ventude,
direitos da criança e do adolescente. 5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez que
10. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para exigem dos adolescentes infratores o trabalho e estudo du-
que estas se defendam de programas de rádio e televisão que rante o dia, mas restringe sua liberdade no período noturno,
contrariem princípios constitucionais bem como de propa- mediante recolhimento em entidade especializada
ganda de produtos, práticas e serviços que possam ser noci- 6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extre-
vos à saúde e ao meio ambiente. ma do Estatuto da Criança e do Adolescente devido à priva-
11. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações judi- ção total da liberdade. Aplicada em casos mais graves e em
ciais de perda ou suspensão do pátrio poder. caráter excepcional.
12. Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamentais
que executem programas de proteção e socioeducativos.

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Antes da sentença, a internação somente pode ser determi- Cabe ao Estado zelas para que as crianças e adolescentes se
nada pelo prazo máximo de 45 dias, mediante decisão funda- desenvolvam em condições sociais que favoreçam a integridade
mentada baseada em fortes indícios de autoria e materialidade física, liberdade e dignidade. Contudo, não se pode atribuir tal
do ato infracional. responsabilidade apenas a uma suposta inaplicabilidade do esta-
Nessa vertente, as entidades que desenvolvem programas de tuto da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais
internação têm a obrigação de: são do que o produto da entidade familiar e da sociedade, as
quais têm importância fundamental no comportamento dos
1) Observar os direitos e garantias de que são titulares os ado- mesmos.
lescentes;
2) Não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de 7.4 – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
restrição na decisão de internação, (ART. 205 A 214).
3) Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e
dignidade ao adolescente, CAPÍTULO III
4) Diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
dos vínculos familiares, Seção I
DA EDUCAÇÃO
5) Oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na
família, será promovida e incentivada com a colaboração da soci-
área de lazer e atividades culturais e desportivas.
edade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
6) Reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade compe-
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
tente.
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
Uma vez aplicada as medidas socioeducativas podem ser im-
escola;
plementadas até que sejam completados 18 anos de idade. Con-
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
tudo, o cumprimento pode chegar aos 21 anos de idade nos
samento, a arte e o saber;
casos de internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA. Assim
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coe-
como no sistema penal tradicional, as sanções previstas no Esta-
xistência de instituições públicas e privadas de ensino;
tuto da Criança e do Adolescente apresentam preocupação com a
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos ofici-
reeducação e a ressocialização dos menores infratores.
ais;
Antes de iniciado o procedimento de apuração do ato infraci-
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garanti-
onal, o representante do Ministério Público poderá conceder o
dos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusiva-
perdão (remissão), como forma de exclusão do processo, se
mente por concurso público de provas e títulos, aos das redes
atendido às circunstâncias e consequências do fato, contexto
públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de
social, personalidade do adolescente e sua maior ou menor parti-
2006)
cipação no ato infracional.
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui medi-
VII - garantia de padrão de qualidade.
das aplicáveis aos pais ou responsáveis de encaminhamento a
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da
programa de proteção a família, inclusão em programa de orien-
educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela
tação a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento
Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único.
psicológico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou pro-
A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considera-
gramas de orientação, obrigação de matricular e acompanhar o
dos profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo
aproveitamento escolar do menor, advertência, perda da guarda,
para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no
destituição da tutela e até suspensão ou destituição do pátrio
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
poder.
pios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
O importante é observar que as crianças e os adolescentes
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-
não podem ser considerados autênticas propriedades de seus
científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e
genitores, visto que são titulas de direitos humanos como quais-
obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pes-
quer pessoas, dotados de direitos e deveres como demonstrado.
quisa e extensão.
A implantação integral do ECA sofre grande resistência de
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos
parte da sociedade brasileira, que o considera excessivamente
e cientistas estrangeiros, na forma da lei. (Incluído pela Emenda
paternalista em relação aos atos infracionais cometidos por crian-
Constitucional nº 11, de 1996).
ças e adolescentes, uma vez que os atos infracionais estão fican-
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pes-
do cada vez mais violentos e reiterados.
quisa científica e tecnológica. (Incluído pela Emenda Constitucio-
Consideram, ainda, que o estatuto, que deveria proteger e
nal nº 11, de 1996).
educar a criança e o adolescente, na prática, acaba deixando-os
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado
sem nenhum tipo de punição ou mesmo ressocialização, bem
mediante a garantia de:
como é utilizado por grupos criminosos para livrar-se de respon-
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, in-
sabilidades criminais fazendo com que adolescentes assumam a
clusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram
culpa.
acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constituci-
onal nº 14, de 1996)

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II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Re- § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao
dação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de
III - atendimento educacional especializado aos portadores de 2006)
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de de-
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até zoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e
5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucio- cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos,
nal nº 53, de 2006) compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e desenvolvimento do ensino.
da criação artística, segundo a capacidade de cada um; § 1º - A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
do educando; Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efei-
VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, atra- to do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a
vés de programas suplementares de material didático-escolar, transferir.
transporte, alimentação e assistência à saúde. § 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no ‚caput‛
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito pú- deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal,
blico subjetivo. estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder § 3º - A distribuição dos recursos públicos assegurará priori-
Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da dade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório,
autoridade competente. nos termos do plano nacional de educação.
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no § 4º - Os programas suplementares de alimentação e assis-
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais tência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com
ou responsáveis, pela frequência à escola. recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as se- orçamentários.
guintes condições: § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhi-
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. da pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino Constitucional nº 53, de 2006)
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da con-
respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. tribuição social do salário-educação serão distribuídas proporcio-
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá nalmente ao número de alunos matriculados na educação básica
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino nas respectivas redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda
fundamental. Constitucional nº 53, de 2006).
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em língua Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessi-
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de onais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
aprendizagem. I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus exce-
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí- dentes financeiros em educação;
pios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola
ensino. comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos caso de encerramento de suas atividades.
Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e § 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser desti-
exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supleti- nados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na
va, de forma a garantir equalização de oportunidades educacio- forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos,
nais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistên- quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública
cia técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público
Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na
1996) localidade.
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino funda- § 2º - As atividades universitárias de pesquisa e extensão po-
mental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Cons- derão receber apoio financeiro do Poder Público.
titucional nº 14, de 1996). Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento
no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitu- do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do
cional nº 14, de 1996). Poder Público que conduzam à:
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e I - erradicação do analfabetismo;
os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a asse- II - universalização do atendimento escolar;
gurar a universalização do ensino obrigatório. (Incluído pela III - melhoria da qualidade do ensino;
Emenda Constitucional nº 14, de 1996). IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.

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7.5 – DECRETO FEDERAL Nº 5.154/2004 (DIRETRIZES E BASES de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrí-
DA EDUCAÇÃO NACIONAL). culas distintas para cada curso, podendo ocorrer:
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as opor-
Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº tunidades educacionais disponíveis;
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as
bases da educação nacional, e dá outras providências. oportunidades educacionais disponíveis; ou
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de
confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, intercomplementaridade, visando o planejamento e o desenvol-
DECRETA : vimento de projetos pedagógicos unificados;
Art. 1º A educação profissional, prevista no art. 39 da Lei no III - subseqüente, oferecida somente a quem já tenha concluí-
9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da do o ensino médio.
Educação Nacional), observadas as diretrizes curriculares nacio- § 2º Na hipótese prevista no inciso I do § 1º, a instituição de
nais definidas pelo ensino deverá, observados o inciso I do art. 24 da Lei nº 9.394, de
Conselho Nacional de Educação, será desenvolvida por meio 1996, e as diretrizes curriculares nacionais para a educação profis-
de cursos e programas de: sional técnica de nível médio, ampliar a carga horária total do
I - formação inicial e continuada de trabalhadores; curso, a fim de assegurar, simultaneamente, o cumprimento das
II - educação profissional técnica de nível médio; finalidades estabelecidas para a formação geral e as condições de
III - educação profissional tecnológica de graduação e de pós- preparação para o exercício de profissões técnicas.
graduação. Art. 5º Os cursos de educação profissional tecnológica de
Art. 2º A educação profissional observará as seguintes pre- graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne
missas: aos objetivos, características e duração, de acordo com as diretri-
I - organização, por áreas profissionais, em função da estrutu- zes curriculares nacionais definidas pelo Conselho Nacional de
ra sócio-ocupacional e tecnológica; Educação.
II - articulação de esforços das áreas da educação, do trabalho Art. 6º Os cursos e programas de educação profissional técni-
e emprego, e da ciência e tecnologia. ca de nível médio e os cursos de educação profissional tecnológi-
Art. 3º Os cursos e programas de formação inicial e continua- ca de graduação, quando estruturados e organizados em etapas
da de trabalhadores, referidos no inciso I do art. 1º, incluídos a com terminalidade, incluirão saídas intermediárias, que possibili-
capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização, tarão a obtenção de certificados de qualificação para o trabalho
em todos os níveis de escolaridade, poderão ser ofertados se- após sua conclusão com aproveitamento.
gundo itinerários formativos, objetivando o desenvolvimento de § 1º Para fins do disposto no caput considera-se etapa com
aptidões para a vida produtiva e social. terminalidade a conclusão intermediária de cursos de educação
§ 1º Para fins do disposto no caput considera-se itinerário profissional técnica de nível médio ou de cursos de educação
formativo o conjunto de etapas que compõem a organização da profissional tecnológica de graduação que caracterize uma quali-
educação profissional em uma determinada área, possibilitando o ficação para o trabalho, claramente definida e com identidade
aproveitamento contínuo e articulado dos estudos. própria.
§ 2º Os cursos mencionados no caput articular-se-ão, prefe- § 2º As etapas com terminalidade deverão estar articuladas
rencialmente, com os cursos de educação de jovens e adultos, entre si, compondo os itinerários formativos e os respectivos
objetivando a qualificação para o trabalho e a elevação do nível perfis profissionais de conclusão.
de escolaridade do trabalhador, o qual, após a conclusão com Art. 7º Os cursos de educação profissional técnica de nível
aproveitamento dos referidos cursos, fará jus a certificados de médio e os cursos de educação profissional tecnológica de gra-
formação inicial ou continuada para o trabalho. duação conduzem à diplomação após sua conclusão com apro-
Art. 4º A educação profissional técnica de nível médio, nos veitamento.
termos dispostos no § 2º do art. 36, art. 40 e parágrafo único do Parágrafo único. Para a obtenção do diploma de técnico de
art. 41 da Lei nº 9.394, de 1996, será desenvolvida de forma arti- nível médio, o aluno deverá concluir seus estudos de educação
culada com o ensino médio, observados: profissional técnica de nível médio e de ensino médio.
I - os objetivos contidos nas diretrizes curriculares nacionais Art. 8º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
definidas pelo Conselho Nacional de Educação; Art. 9º Revoga-se o Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997.
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de
ensino; 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de E B D D B E C B A A C E C A
seu projeto pedagógico. 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
§ 1º A articulação entre a educação profissional técnica de ní- E C C B C A C D C B B D B C
vel médio e o ensino médio dar-se-á de forma: 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o A D D E C E A E A B D B B A
43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56
ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a condu-
C D B D E B D A E B C B B A
zir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na
57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para B D C D C C C A B C D C A A
cada aluno; 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84
II - concomitante, oferecida somente a quem já tenha conclu- D B A E B E A C D B A A E E
ído o ensino fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
qual a complementaridade entre a educação profissional técnica B B E D D A D C C B A

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