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1 Um Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil


Nesse capitulo nossa ideia é apresentar um breve contexto histórico da
Educação de Jovens e Adultos no Brasil, para entendermos como foi sendo
elaborado esse modelo de ensino ao longo da História deste país.
No Brasil colonial os obstáculos do analfabetismo se deu no período colonial e se
prolongou ao longo de 400 anos, pensando numa expectativa de que há educação
não é só educação, compreender manifestações pedagógicas em forma de
princípios religiosos. Os primeiros mestres alfabetizadores foram os jesuítas com a
finalidade da formação em princípios religiosos para com a população da época, e
essa educação era ofertada através de normas mandamentos cristãos, costumes e
hábitos, além de leis e ofícios, que podem e carecem ser importantes como ações
educativas presentes desde o começo da história do Brasil Colônia. A metodologia
usada era através da oralidade pois os sujeitos não tinham nenhuma noção de
conhecimento educacional e muito menos sabiam escrever. Os lusitanos religiosos
depararam com indígenas, africanos (crianças, jovens e adultos) e estabeleceram
esses ensinamentos através da catequização.
Além de difundir o evangelho, tais educadores transmitiam normas de
comportamento e ensinavam os ofícios necessários ao funcionamento da
economia colonial, inicialmente aos indígenas e, posteriormente, aos
escravos negros. Mais tarde, se encarregaram das escolas de humanidades
para os colonizadores e seus filhos. (HADDAD & DI PIERRO, 2000, p.109)

O modelo de ensino formal se inicia já no período de colonização do Brasil pelos


portugueses e com a chegada da Companhia de Jesus, que era uma grande ordem
religiosa da Igreja Católica Apostólica Romana. A fundação de escolas se iniciou por
volta do ano 1549 século XVI em Salvador na Bahia e em São Paulo onde fundaram
vários colégios e começaram suas catequeses e ensinamentos onde os primeiros
jesuítas que eram chamados de os verdadeiros soldados de Cristo que vieram parar
em terras brasileiras como o espanhol Jose de Anchieta e os português Manoel de
Nobrega e Antônio Vieira com o respaldo do político e militar Tomé de Sousa
primeiro governador-geral do Brasil entre 1549 e 1553.
É importante salientar que essa educação proposta pelos jesuítas não tinha
caráter acadêmico. Mas em sua maioria para fins de cristianizar as populações
indígenas do território colonial e propagar a fé cristã além de fazer orientações sobre
a criação de animais e o plantio e cultivo agrário no Brasil colônia combinando
trabalho e religiosidade ao mesmo tempo.
No sentido de firmar as questões que foram citadas até agora, os jesuítas,
trouxeram consigo suas metodologias de ensino, suas propostas de trabalho
pedagógico, que por sua vez era influenciada pelas orientações filosóficas das
teorias de Aristóteles e São Tomás de Aquino, principalmente no que se refere à
ideia de universalização do ensino. A metodologia era fundamentada por um
documento de código pedagógico, com um plano de estudo, conhecido como Ratio
Studiorum. Além de trazer consigo os principias costumes religiosos e boas
condutas de comportamento.
Os jesuítas empreenderam no Brasil uma significativa obra missionária e
evangelizadora, especialmente fazendo uso de novas metodologias, das
quais a educação escolar foi uma das mais poderosas e eficazes. Em
matéria de educação escolar, os jesuítas souberam construir a sua
hegemonia. Não apenas organizaram uma ampla ‘rede’ de escolas
elementares e colégios como o fizeram de modo muito organizado e
contando com um projeto pedagógico uniforme e bem planejado, sendo o
Ratio Studiorum a sua expressão máxima (Sangenis, 2004, p. 93).

Deste modo, o Ratio Studiorum estabelece uma formação intelectual clássica


precisamente ligada à formação moral fundamentada nas virtudes religiosas, nos
bons costumes e hábitos saudáveis a sociedade, demostrando de forma detalhada
as modalidades curriculares das instituições escolares; o acompanhamento do
desenvolvimento da aprendizagem e a promoção dos alunos; condutas e posturas
respeitosas desde os que conduziam (professores) até os que aprendiam (alunos)
(Toyshima; Costa, 2012).

Foi ela, a educação dada pelos jesuítas, transformada em educação de


classe, com as características das que tão bem distinguiam a aristocracia
rural brasileira que atravessou todo o período colonial e imperial e atingiu o
período republicano, sem ter sofrido, em suas bases, qualquer modificação
estrutural, mesmo quando a demora social de educação começou a
aumentar, atingindo as camadas mais baixas da população e obrigando a
sociedade a ampliar sua oferta escolar (MOURA, 2003, p. 26)

A um longo período a educação de jovens e adultos no Brasil foi desprezada até


se tornar legalizada. E só em 1930 com a ascensão do governo Getúlio Vargas o
foco era a educação de crianças e jovens, e só tempos depois voltaram até olhos na
educação de adultos. A política baseada no investimento do café neste período, não
via com interesse o adulto alfabetizado, pois para esses investidores esse sujeito
servia apenas para o trabalho rural o adulto não alfabetizado era visto como um
“sem futuro” e muito menos tinha oportunidade de aprender a ler e escrever.
No decorrer de quatro séculos, e visto que os colonizadores cristãos brancos
alfabetizados e em sua maioria homens se opunham e tinham autoridade acerca da
cultura dos indígenas, negros, mulheres e analfabetos comprovando que a
educação sucedia apenas para uma classe exclusiva e seletiva. Mas somente na
metade do século XX, é que são feitas reformas para com a educação de jovens e
adultos, com o intuito não de educar para libertar mas para visar nesse público um
aumento da quantidade de eleitores, e logo são aprovados projetos de leis propondo
atender esses interesses de grande parte da alta sociedade.

Com a Lei Saraiva de 1882 o ensino passa a se tornar legalizado, a proposta só


passa a ser implantada a pós à Constituição Federal de 1891, que impedia o voto
dos analfabetos, o que fazia com que somente os votos dos eleitores e candidatos
alfabetizados fossem registrados.

Mas somente mais tarde em 1925, por meio da Reforma João Luiz Alves, iniciou
o ensino em turno noturno para jovens e adultos para atender aos anseios da elite ,
que pretendia aumentar seu grupo eleitoral como objetivo em meados de 1930, e assim
se dava o início ao movimento contra
[...] o analfabetismo é a expressão da pobreza, consequência inevitável de
uma estrutura social injusta. Seria ingênuo combatê-lo sem combater suas
causas [...] a educação de jovens e adultos está condicionada às
possibilidades de uma transformação real das condições de vida do aluno
trabalhador. (GADOTTI, 2011, p. 71)

Por meio da Constituição Federal de 1934 ficou determinado que no Brasil


será indispensável a gratuidade do ensino primário para todos, mas foi somente no
século XX que começou, o ensino noturno para esses sujeitos que não obtiveram
acesso à educação formal na idade adequada.

Para Moacir Gadotti (2011) acrescenta que: a história da educação de


adultos, propriamente dita, no Brasil, poderia ser dividida em três períodos: de 1946
a 1958 – onde em 1946 aconteceram a realização de grandes campanhas nacionais
de iniciativa oficial, chamadas de “cruzadas”, sobretudo para “erradicar o
analfabetismo”, entendido como uma “chaga”, uma doença como a malária. Por isso,
falava-se em “zonas negras de analfabetismo”.
Ainda segundo Gadotti (2011) em 1958, foi realizado o 2º Congresso Nacional
de Educação de Adultos, que contou com a participação de Paulo Freire. De onde
partiu daí a ideia de um programa permanente de enfrentamento do problema da
alfabetização que desembocou no Plano Nacional de Alfabetização de Adultos,
dirigido por Paulo Freire e extinto posteriormente pelo Golpe de Estado de 1964,
depois de um ano de funcionamento.
Nesse mesmo ano, Juscelino Kubitschek formulou a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo, e continuada no início da década de sessenta pelo
Movimento de Educação de Base (MEB) idealizado pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, que ainda continua atuante nos dias atuais, beneficiando,
sobretudo, a região Nordeste e utilizando-se, inicialmente, de programas
radiofônicos. O programa foi iniciado no governo de Jânio Quadros em 1961 por
meio de um convênio entre governo e a CNBB.
Conforme Gadotti (2011) o terceiro período foi durante o governo militar onde
tiveram as campanhas como a Cruzada do ABC (Ação Básica Cristã) e,
subsequentemente, com o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização)
contemplado como um sistema que tinha como objetivo o controle da população, em
especial a rural. É em seguida arquitetada a Fundação EDUCAR, com propósitos
mais democráticos, mas não tinham os mesmos instrumentos financeiros de que o
MOBRAL desfrutava. A educação de jovens e adultos era compreendida com base
nas causas do analfabetismo, como educação de base, ligada com as “reformas de
base”, apoiada pelo governo prestigiado e populista de João Goulart.
Para o pesquisador Luís Oscar Ramos Corrêa mestrado em Educação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005) que tem experiência na área de
Educação e Alfabetização de Jovens e Adultos e em Ciclos de Formação e
Economia Solidaria. Que estuda o tema e pesquisa: a gestão do cuidado: a cultura
do acolhimento em uma escola para adultos.
Historicamente, os processos educacionais de jovens e adultos não
levavam em consideração aspectos relevantes para uma educação crítica
com significado (como a cidadania, a cultura, a corporeidade, as artes, a
política), limitando-se à função mecânica e utilitária do domínio da leitura e
da escrita, ou seja, a alfabetização serviria como uma preparação para o
mercado de trabalho, para ser aceito e reconhecido na sociedade ou, ainda,
para engordar os números das estatísticas de “erradicação do
analfabetismo” que recheiam as propagandas políticas. (CORRÊA, 2012, p.
7)

Destacamos que o patrono da educação no Brasil Paulo Freire de (1921-


1997) designou um novo caminho para a realidade da educação no Brasil com
destaque para um moderno e idealizador método de alfabetização para adultos, no
qual agrega o ensino da leitura e escrita, com entendimento da expressão da
cultura, assim como a politização e análise das dificuldades da realidade brasileira.
Segundo o pensamento de Freire, a educação é fundamental para a
sabedoria da condição humana na sociedade. O seu método se destacou pela
carência da valorização do conhecimento e da cultura popular, para a alfabetização
ele buscava fatores identificados na realidade de cada grupo que estava inserido no
método de alfabetização a partir do estudo da linguagem do povo, sendo assim
Paulo Freire aplicou sua prática pedagógica e suas ideias iniciais com a organização
desse método de alfabetização.
Sempre confiáramos no povo. Sempre rejeitáramos fórmulas doadas.
Sempre acreditávamos que tínhamos algo a permutar com ele, nunca
exclusivamente a oferecer-lhe. Experimentávamos métodos, técnicas,
processos de comunicação. Superamos procedimentos. Nunca, porém,
abandonamos a convicção que sempre tivemos, de que só nas bases
populares e com elas, poderíamos realizar algo de sério e autêntico para
elas. Daí, jamais admitirmos que a democratização da cultura fosse a sua
vulgarização, ou por outro lado, a doação do povo, do que formulássemos
nós mesmos, em nossa biblioteca e que a ele entregássemos como
prescrições a serem seguidas. (FREIRE, 2005, p. 110)

Para Paulo Freire, e essencial estar informado de seus obstáculos e ter boas
perspectivas de vida, a procura de melhor colocação para melhores oportunidades,
e assim, fazer da educação escada para as chances de libertação do oprimido.
Consolida que,

[...] a alfabetização possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se


como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o
engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria
da qualidade de vida e pela transformação social. (Freire, 1991, p.68)

Paulo Freire acreditava que a educação não podia ser um método mecânico
de propagação de conteúdo que iria resolver o problema da alfabetização. O
conhecimento deve vir seguindo a forma de um diálogo, de uma conversa interativa
que possui início e fim, observando o conhecimento e a leitura que o sujeito traz
consigo nesse processo de alfabetização, dessa forma, o ensino podia favorecer a
alfabetização e ao mesmo tempo transformar o sujeito crítico.
Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve necessariamente
estar precedida de uma reflexão sobre o homem e de uma análise do meio
de vida concreto do homem concreto a quem queremos educar.
(FREIRE,1980, p. 33-34).
Mas de acordo com Gadotti (2003) a educação de jovens e adultos foi,
desacreditada pela “Nova República” e o auto- denominado “Brasil Novos” (1990) do
primeiro presidente eleito depois de 1961, criou se o PNAC (Plano Nacional de
Alfabetização e Cidadania), demostrado como uma grande salvação, mas em 1990
o mesmo é extinto no ano seguinte sem qualquer esclarecimento para a sociedade
civil que o havia aprovado.
Neste espaço de tempo, aconteceu a descentralização dos recursos que era
de atribuições do governo Federal para investimentos na educação de jovens e
adultos, transferindo a responsabilidade para estados e municípios a tarefa da
escolarização desse público.
A fundação EDUCAR por sua vez como outras não conseguiu permanecer
atuando e foi desfeita no ano de 1990 pelo governo Collor, que no entanto não criou
outro programa para a Educação de jovens e Adultos que garante-se as suas
funções de alfabetização.
Ainda segundo Gadotti (2003) em 1989, com o objetivo realizar o Ano
Internacional da Alfabetização (1990), foi formada no Brasil a Comissão Nacional de
Alfabetização de início coordenada por Paulo Freire e depois por José Eustáquio
Romão. Sendo formada para criar diretrizes a longo prazo para a formulação de
políticas de alfabetização. Mas infelizmente não foram levadas adiante pelo governo
federal da época. E abandonado integralmente pelo governo que assumiu em 1995,
e logo depois em 1997 foi totalmente abolida a educação popular.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 9394/96, em
que a EJA e introduzida e é considerada uma modalidade da educação básica nas
etapas do ensino fundamental e médio é promulgada na década de 1990.
Com os frutos colhidos nessa década 1990, e depois já na década seguinte
de 2000 aconteceram várias discordâncias nos debates acerca das experiências na
educação de jovens e adultos que foram produzidas. E em seguida foi idealizado
pelo Conselho Nacional de Educação em 10 de maio de 2000, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Quebrava se então
uma barreira atingindo direto na discriminação do analfabetismo com esse
documento, como um “inculto” ou seja uma sujeito que não é produto de cultura.
(BRASIL, 2002) as Diretrizes ressaltam a EJA como direito, trazendo a ideia
de compensação e substituindo-a pelas de reparação e equidade. Para a realização
de exames, normatizam sua oferta para maiores de 15 anos para o ensino
fundamental e maiores de 18 anos para o ensino médio.
Em 09 de janeiro de 2001 foi aprovado pelo governo federal o Plano
Nacional de Educação (PNE), e muita expressiva a inclusão da educação de
jovens e adultos.
Com o reconhecimento deste plano, legalizado constitucionalmente se
estabelece com um dos objetivos do PNE, a inclusão de ações do poder
público que coordenam à extinção do analfabetismo (art. 214, inciso I),
consistindo da obrigação que requer uma ampla mobilização de recursos
humanos e financeiros em nome dos governos e da sociedade.

Ainda falta um fechamento dessa conclusão


REFERENCIÂS

CORRÊA, Luís Oscar Ramos. Fundamentos Metodológicos em EJA I / Luís Oscar


Ramos Corrêa. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR: IESDE Brasil, 2012.

FREIRE, Paulo. O Homem e sua experiência/Alfabetização e Conscientização. In:


FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e pratica da libertação: uma introdução ao
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1980.

____________. Educação na cidade. São Paulo: Cortez. 1991

____________. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


2005.

GADOTTI, Moacir e Romão, MOVA, por um Brasil Alfabetizado / Moacir Gadotti.


– São Paulo: Instituto Paulo Freire, (Série Educação de Adultos; 1) 2008.

GADOTTI, Moacir; Romão, José E. Educação de Jovens e Adultos: teoria e


prática e proposta / Moacir Gadotti, José E. Romão (orgs.). – 12. ed. São Paulo:
Cortez, 2011.

HADDAD, S.; DI PIERRO, M. C. Escolarização de jovens e adultos. Revista


Brasileira de Educação, São Paulo, n. 14, p. 108-130, 2000.

MOURA, Maria da Gloria Carvalho. Educação de Jovens e Adultos: um olhar


sobre sua trajetória histórica/Maria da Glória Carvalho Moura – Curitiba: Educarte,
2003.

SANGENIS, Luiz Fernando Conde. Franciscanos na Educação brasileira. In:


STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Câmara. Histórias e Memórias da
Educação no Brasil. vol. I – séculos XVI-XVIII. Petrópolis: Vozes, 2004.p. 93-107.

TOYSHIMA, Ana Maria da Silva; COSTA, Célio Juvenal. O Ratio Studiorum e seus
processos pedagógicos. São Paulo, maio 2012. Disponível em:
http://www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2012/trabalhos/co_05/104.pdf. Acesso em
12 fev. 2022.

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