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Eixo Temático
Quadrinhos e Linguagem
RESUMO - A Análise do Discurso (AD) pode oferecer importantes ferramentas para o estudo
das Histórias em Quadrinhos. A partir dessa premissa, o presente trabalho revela alguns dos
discursos em relação às Histórias em Quadrinhos (HQs) ,em um primeiro momento, os
discursos do senso comum, que apontam os preconceitos que envolvem esse gênero. Ainda
considerado como cativo de um único público e, consequentemente, apresentando um
conteúdo não muito profundo. A Análise do Discurso é uma área da Linguística, que incorpora
ao seu modus operandi saberes de outras áreas além da Linguística. Para comprovarmos esta
tese selecionamos um cartum de Angeli, publicado originalmente no site Uol Sexo e depois em
uma antologia intitulada “Sexo é uma coisa suja”, observamos, por intermédio da AD, as várias
Formações Discursivas ali representadas e como os sujeitos retratados nesse cartum
assumem, incorporam essas vozes. Verificamos também como se dá a construção do humor,
baseado no principio de ironia, ou seja, na sua superfície o texto tenciona dizer uma coisa, na
apreensão de todos os elementos, a mensagem potencializa outros significados.
ABSTRACT - A Discourse Analysis (DA) may provide important tools to study the comics.From
this premise, this study reveals some speeches about the comics, at first,the discourse of
common sense, pointing the prejudices surrounding this genre,
still considered a single captive audience and because of that, the requirement
have a reading of "easy". The discourse analysis is an área of linguistics, which
incorporates the knowledge of their modus operandi fields other than linguistics.
For the implementation of Instrumental DA selected an Angeli's cartoon,
published in an anthology entitled "Sex is a dirty thing, " observed through the
AD, the various discursive formations and how they present the subjects
depicted in this cartoon assume incorporate these voices , We also note how is
the humor contruction based on the principie of irony, that is, on its surface the
text will say one thing, the apprehension of ali elements, the message
reinforces other meanings.
1 INTRODUÇÃO
Escola de Comunicações e Artes - Universidade de São Paulo - 23 a 26 de agosto de 2011
sentido, que não pode ser controlado como se fosse um objeto contido no
texto” (MASCIA, 2005 p. 46).
Figura 1
Fonte: ANGELI. Sexo é uma coisa suja. São Paulo: Devir, 2003 p. 32
Escola de Comunicações e Artes - Universidade de São Paulo - 23 a 26 de agosto de 2011
Ainda sobre o texto analisado para este trabalho, ele demandaria ainda
outras questões que não serão devidamente verificadas. A relevância do
suporte em que texto foi publicado. Como já dito, o cartum foi originalmente
pensado para ser veiculado em uma página da internet e logo depois publicado
em forma de livro. As relações de leitura e recepção desse texto são
diferentes. Há de se considerar que o público, na emigração de um suporte
para outro também muda.
O cartum, assim como grande parte das HQs, teve sua origem na
imprensa do século XIX. Os caricaturistas retratavam com humor o cenário
político e social. O traço humorístico ainda se mantém, ou seja, os cartuns, em
sua maioria, oferecem ao leitor uma visão irônica e ácida da realidade. Não se
pode falar também que as HQs seriam um gênero único – foi essa visão, por
exemplo, que orientou a definição da obra “Dez na área” como infantil. O
cartum integra um grande feixe de gêneros ou um conjunto a que se
denominam HQs. Dentre os quais podemos pensar na charge. Considerar
também nas tênues fronteiras que delimitam a charge e o cartum (Ramos
2009). A charge possui uma dependência muito grande da sua cenografia
original, ou seja, os efeitos de humor podem se perder caso não seja possível
uma recuperação do horizonte de sua produção. O cartum já teria uma certa
independência da sua cenografia, pois lidaria com um humor, digamos, mais
universal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
outro nível de leitura, que apreende o texto como parte de uma rede, interligada
a outros e à história, Ou seja, a AD não busca apenas “decodificar” o texto,
mas também o que motivou sua produção, que vozes e discursos são
propagados nos enunciados. Esse rastreamento não se limita ao texto em
questão, mas a um mergulho em um emaranhado de vozes que o constituiu e
que possibilitaram o seu surgimento. Posto assim, as vozes ali representadas
ocupam diferentes frentes de atuação. De um lado, os discursos que ordenam
e condicionam o corpo e o sexo da mulher, do outro, as vozes que discordam
desse papel instituído, dessa função meramente biológica. O humor funciona
pela justaposição de um texto e de uma imagem que são discordantes entre si.
O jogo que se obtém é de uma tentativa de um sentido literal (os enunciados
verbais) que seria desconstruído pelos “deslizamentos” semânticos provocados
pela mesma linguagem verbal e também pela não verbal. Entretanto, esses
sentidos não estão indexados ao texto, só são acessíveis mediante a
recuperação de elementos além do texto, fora dele. Tais procedimentos em
relação às HQs denotam que o horror e a ignorância (palavras retiradas dos
discursos no início deste artigo) advêm, sobretudo, daquilo que não
conhecemos. A ciência ajuda a entender que as HQs não são de propriedade
de um público único, cativas de uma leitura linear e rasa. Trata-se de um
gênero heterogêneo, múltiplo, e que, nas suas entrelinhas – ou na sarjeta (o
intervalo de uma vinheta para outra) pode mostrar um emaranhado de vozes,
vozes estas que deflagram um pouco da matéria intersubjetiva de que somos
feitos e refeitos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORLANDI, Eny Pulcinelli. Discurso & Leitura. São Paulo: Cortez, 2008