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A História em quadrinhos, por ser um meio de comunicação em massa, provoca

um grande fascínio nas crianças, em razão da aparência dos personagens, do


poder da Mônica, pelos personagens terem tornado-se garotos propaganda e pelas
crianças poderem entendê-las somente através da observação dos desenhos.

Assim, vemos uma nova função da história em quadrinhos, afetando a educação


do público infantil, em face da transmissão de ideologias, por trabalhar conceitos
de vida e morte, alegria e tristeza, medo, insegurança, luta, agressividade,
timidez, dentre outros tão importantes para quem se encontra em formação,
ampliando assim os conhecimentos sobre o mundo, que a vida social exige.

O gênero discursivo Histórias em Quadrinhos como material pedagógico De acordo com a


recomendação dos PCN1 de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental para o uso dos gêneros
do discurso no contexto da sala de aula, particularmente para o trabalho com a leitura, bem
como o oferecimento de um contato intenso e sistematizado dos alunos com a literatura, o
gênero discursivo Histórias em Quadrinhos tem encontrado destaque. Em suas histórias, os
autores das HQs expressam diferentes modos de viver, oferecendo ao leitor leituras
significativas com o uso de signos variados que vão ao encontro do gosto e das necessidades
atuais, atrelados às aspirações humanas expressas desde tempos mais antigos, “[...] aguçando
sua curiosidade e desafiando seu senso crítico” (VERGUEIRO, 2010, p. 21). Nesse contexto,
Custódio (2007, p. 65) salienta que por meio das HQs “[...] pode-se tratar de qualquer assunto,
em qualquer disciplina ou grau de ensino. A contribuição para a Língua Portuguesa, Redação,
leitura e Educação Artística dispensa comentários”. 1 Parâmetros Curriculares Nacionais. 227 I
JORNADA DE DIDÁTICA - O ENSINO COMO FOCO I FÓRUM DE PROFESSORES DE DIDÁTICA DO
ESTADO DO PARANÁ ISBN 978-85-7846-145-4 Ramos (2010) destaca que se há tempos mais
remotos as HQs foram desprestigiadas e desvalorizadas pela comunidade escolar, nos dias
atuais, elas têm sido inseridas nas escolas por meio de incentivos governamentais. Prova disso
são os PCN, provas de vestibular, Enem2 , PNBE3 , dentre outros. Os PCN de Língua
Portuguesa, no que diz respeito ao uso dos quadrinhos pelo profissional docente, permitem a
reflexão e a compreensão do uso desse gênero no trabalho com a leitura em sala de aula,
particularmente nas de Língua Portuguesa. Nessa direção, Ramos e Feba (2011, p. 220) trazem
uma explicitação de grande relevância que, em: “[...] 2008, segundo o MEC4 , o PNBE
disponibilizou, para o Ensino Fundamental, cinco acervos com 20 títulos cada [...]”, dentre eles,
há a inserção das HQs. Assim sendo, Vergueiro e Ramos (2009) afirmam que a inserção desse
gênero nos PCN possibilitou maior utilização das HQs no âmbito educacional, bem como a
busca do conhecimento mais sistemático e amplo por educadores, estudiosos e pesquisadores
acerca das características e do processo de evolução do gênero em questão com vistas a um
trabalho mais dinâmico e completo na efetivação das aulas. A esse respeito, os mesmos
autores salientam que as HQs passaram a ser compreendidas como leitura que não se limita
ao público infantil, mas diante do valor desse gênero, elas são lidas por leitores das mais
diferentes faixas etárias, e que, além do entretenimento encontrado no decorrer da leitura,
há, dentre outras possibilidades, a edificação do conhecimento. Conforme Vergueiro e Ramos
(2009), na segunda metade do século passado as HQs foram consideradas prejudiciais para os
alunos, vistas apenas como fonte de entretenimento e que os distanciava de leituras
consideradas adequadas para a formação do leitor. Foi com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), de 1996, que as HQs começaram a ser valorizadas no contexto
escolar. Mas, a oficialização do uso desse gênero aconteceu de forma mais sistemática, com a
concepção dos Parâmetros Curriculares Nacionais: 2 Exame Nacional do Ensino Médio. 3
Programa Nacional Biblioteca na Escola. 4 Ministério da Educação. 228 I JORNADA DE
DIDÁTICA - O ENSINO COMO FOCO I FÓRUM DE PROFESSORES DE DIDÁTICA DO ESTADO DO
PARANÁ ISBN 978-85-7846-145-4 [...] pode-se afirmar que os quadrinhos só foram
oficializados como prática a ser incluída na realidade de sala de aula no ano seguinte ao da
promulgação da LDB, com a elaboração dos PCN, criados na gestão do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (VERGUEIRO; RAMOS, 2009, p. 10). Outro aspecto importante nesse
contexto é que: [...] os PCN de Língua Portuguesa também mencionam os quadrinhos. No caso
do ensino fundamental, existe referência específica à charge e à leitura crítica que esse gênero
demanda (2008: 38,54). O mesmo texto menciona igualmente as tiras como um dos gêneros a
serem usados em sala de aula (2008: 54). Nesse sentido, uma das propostas dos PCN de Língua
Portuguesa é que o conteúdo seja transmitido por meio de gêneros, conceito até então
desconhecido pela maior parte dos docentes (VERGUEIRO; RAMOS, 2009, p. 10-11). Nos PCN
de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, há uma classificação dos gêneros sugeridos para
o contexto escolar. Na seleção, há abordagem de que existem gêneros considerados
importantes para o aprendizado da escuta e da leitura de textos, vistos como apropriados para
o trabalho com a linguagem oral e com a linguagem escrita. Com relação a esta última, há a
menção das charges e das tiras. Nos PCN para o Ensino Médio também há menção ao uso dos
quadrinhos para o âmbito educacional (BRASIL, 1998). Nesse sentido, os PCN salientam a
importância de o profissional docente trabalhar as várias linguagens existentes no universo
cultural da sociedade, não se restringindo a um tipo exclusivo de linguagem. Além dos PCN, há
a presença dos quadrinhos nas provas do Enem sendo solicitado ao aluno a leitura de
linguagens verbais e não-verbais. Também em provas de vestibular há a presença das HQs.
Importante salientar que, a inserção dos quadrinhos nos acervos dos PCN, PNBE e em tanto
outros como exames de vestibulares, livros didáticos, provas do Enem, deixa assinalado que
essas obras não são utilizadas somente para a Educação Infantil ou meramente por
entretenimento, pois as HQs têm conquistado a leitura de leitores das mais variadas idades.
229 I JORNADA DE DIDÁTICA - O ENSINO COMO FOCO

MAURÍCIO DE SOUSA: QUADRINHO É


LITERATURA
Texto publicado na coluna OPINIÃO, da Folha de S. Paulo, em 20/04/2015
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/04/1618249-mauricio-de-sousa-quadrinho-e-
literatura.shtml

Segundo estudo da Universidade de Brasília, sob o título “Retrato da Escola”, “alunos que
leem HQ’s têm melhor desempenho escolar do que os que se atêm somente ao livro
didático. A concentração é maior pois o envolvimento é maior”.

Um jovem tem vários equipamentos eletrônicos funcionando ao mesmo tempo ao seu


redor, como o celular, o computador, o aparelho de som e a televisão. Quando se está
lendo, o máximo de interferência seria um som. Talvez nem isso.

Em encontros com meus leitores, nas bienais do livro, a toda hora escuto de um pai que
ele aprendeu a ler com as minhas histórias e que agora é seu filho quem passa por esse
processo. Vejo meus leitores repetirem o que também aconteceu comigo quando criança.

E, agora, diante de meus quase 80 anos, sei que é uma forma que passa pelas gerações.
As histórias em quadrinhos são uma cartilha não oficial para alfabetizar milhares de
crianças, criando leitores para todo o tipo de leitura.

Quando fui convidado para integrar a Academia Paulista de Letras, em 2011 –algo inédito
no mundo por se tratar de um autor de quadrinhos–, percebi que a base dos autores de
HQs sempre foi a literatura e que a literatura também bebe nas criações dos quadrinhos.

Em um primeiro momento, foram apresentadas as linhas gerais das ações didáticas e os


objetivos almejados (fig.34). Não houve perguntas, todos entenderam bem a proposta.

Depois, foi projetado o vídeo intitulado “O que é quadrinho”. Todos os alunos ficaram
atentos, o que reafirma nossa compreensão de que a linguagem visual exerce sobre o jovem
contemporâneo um forte poder de atração. A reação dos alunos foi marcada por riso em
algumas cenas, o que certifica, sem dúvida, que o vídeo lhes interessou e mobilizou sua
emoção. Após a projeção do vídeo, o professor-pesquisador fez comentários sobre a
linguagem dos quadrinhos, lembrando elementos básicos constitutivos dessa forma de
expressão, numa retomada de conteúdos já desenvolvidos em aulas de séries anteriores,
ministradas pelo mesmo professor. Posteriormente, foi projetado outro vídeo, cuja
abordagem foi a relação entre literatura e quadrinhos. Trata-se este vídeo de uma entrevista
veiculada no Programa “Entrelinhas”, com o jornalista Paulo Ramos, autor do livro A leitura
dos Quadrinhos. Nesta entrevista, o foco recai sobre a importância dessa linguagem e o
diálogo que ela estabelece com a literatura
Os estudantes se mantiveram atentos, o que demonstra seu interesse pelo tema. Ao final,
foi destacada a relação com o primeiro vídeo, no qual foi mostrado como se construía uma
história em quadrinhos, com o segundo, com destaque para a relação do gênero HQ com a
literatura. O objetivo com a projeção dos vídeos foi o maior envolvimento dos sujeitos da
pesquisa com o gênero Arte Sequencial.

Em seguida, o professor-pesquisador expôs, no quadro, esboços sobre o gênero, definindo


alguns elementos básicos da história em quadrinhos, como vinheta, enquadramento, planos,
balões, linguagem onomatopéica. A proposta era que os estudantes iniciassem a prática do
desenho, sob orientação. Assim, de posse de papel para desenho A3 foi-lhes solicitado que
desenhassem na perspectiva do desenho de quadrinhos. O professorpesquisador desenhou
um círculo e pediu que eles fizessem o mesmo na folha; daí por diante foram criando, juntos,
um rosto, como se fosse um personagem de quadrinho

O professor-pesquisador iniciou a aula perguntando aos estudantes quais memórias tinham


da trama do romance Dom Casmurro. Foram feitas perguntas gerais e específicas e os
estudantes foram respondendo às questões oralmente. Comentavam a cena que mais
gostaram e a descreviam. Alguns alunos destacaram a cena da morte de Escobar e falaram
de forma que demonstrava grande prazer pelo acontecido na narrativa. Outros comentaram
que a narrativa foi muito lenta. Uma aluna afirmou ter gostado do livro mais para o final da
narrativa, 69 entretanto, a cena do primeiro beijo entre os protagonistas Capitu e Bentinho
teria sido a mais interessante do livro. Outros alunos, igualmente, destacaram como
melhores as cenas iniciais, nas quais Capitu e Bentinho eram jovens e namoravam. Isso
atesta inquestionavelmente o poder de atração, para o jovem leitor, de uma trama
romanesca que focalize a relação amorosa entre adolescentes. Cumpre lembrar aqui o
aspecto da identificação do leitor com as personagens da trama ficcional que envolve o
receptor no ato da leitura. Em seguida, a fim de ativar um pouco mais a memória do enredo
machadiano, foi feita, de forma coletiva, a leitura do resumo6 de Dom Casmurro. Cada aluno
leu dois parágrafos do resumo proposto, o que foi bastante interessante, pois todos queriam
participar. Além de recordar o conteúdo lido nas aulas de literatura, essa retomada da
história teve o propósito de posicionar algum aluno que não teria lido integralmente a obra.
Após a rememoração da narrativa, foi entregue aos alunos a versão do romance Dom
Casmurro em HQ, do quadrinista Rodrigo Rosa (Editora Ática). A solicitação inicial do
professor-pesquisador foi a de que buscassem a cena que comentaram como de maior
impacto quando da leitura do romance. Durante a atividade, os alunos demonstraram
grande interesse no processo. Depois dessa etapa foi distribuído um questionário sobre o
interesse pelo gênero quadrinho, ao qual responderam com bastante interesse.

Conforme projeto da Sequência Didática, foi pedido aos alunos que fizessem nova visita ao
texto visual quadrinizado e respondessem, posteriormente, à questão: “Qual sua impressão,
sua opinião sobre o quadrinho em literatura? A proposta era a de que atendessem à questão
usando também a linguagem dos quadrinhos. Como a turma já tinha demonstrado excelente
produção da primeira experiência com esboços, nesta etapa pediu-se uma melhor finalização
dos desenhos. Para a realização da atividade, foi distribuída uma folha formato A3 já com as
vinhetas prontas, na qual os estudantes deveriam inserir seu personagem, balões e falas.
Ademais, deveriam fazer um pequeno esboço e, em seguida, passá-lo a limpo, dando melhor
qualidade ao trabalho final. Todos os alunos realizaram a proposta. A distribuição das
vinhetas prontas foi necessária tendo em vista o tempo disponível para a atividade, pois
para que os estudantes projetassem suas próprias vinhetas seria necessário mais tempo e
materiais como réguas para todos. Os resultados foram intitulados “Literatura e quadrinhos:
o caso de Dom Casmurro”

Nesse dia foi montada uma exposição de alguns dos trabalhos realizados durante o processo
de aplicação do projeto, de forma que a produção visual criada pelos alunos foi divulgada e
comentada pelos colegas da turma, que disseram ter achado criativas as produções
resultantes da prática leitora. Integraram a exposição as atividades resultantes da criação de
uma página e de uma capa para a recriação do romance Dom Casmurro, bem como a
referente à opinião sobre a experiência de leitura dos quadrinhos baseados em literatura

conclusao

Na sociedade contemporânea, marcada pela pluralidade de linguagens e pelo forte apelo


dos novos meios e suportes, é necessário que a escola contemple diversas frentes para a
formação de crianças e jovens na Educação Básica. E nesse rico e novo universo da
comunicação contemporânea, há diversas e atraentes linguagens. Para a cultura visual, a
imagem é argumento desafiando a academia, por isso a necessidade premente de dar
atenção científica ao discurso visual. Tendo em vista essas considerações, a proposta da
presente pesquisa foi trabalhar duas linguagens diferentes, mas que podem se completar, se
integrar: Literatura e HQ.

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