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Comparada
Éderson da Cruz
Unidade 1
Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
ÉDERSON DA CRUZ
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
O AUTOR
Éderson da Cruz
INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova com- novo conceito;
petência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou
mento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Conhecendo o Campo da Teoria Literária......................................11
A Linguagem Literária..................................................................................................................14
Ambiguidade..........................................................................................................22
Multissignificação........................................................................................................22
Ficção............................................................................................................................23
Conotação..............................................................................................................23
Criatividade..............................................................................................................25
Estruturação..............................................................................................................25
Literaridade..............................................................................................................25
Verossimilhança...........................................................................................................26
Manuais franceses......................................................................................................32
Manual brasileiro...........................................................................................................32
Crises teóricas................................................................................................................35
O papel da tradição..................................................................................................42
01
UNIDADE
INTRODUÇÃO
Ao longo dos tempos, o ser humano sempre teve a necessidade de
se expressar, de deixar sua “marca” no mundo. Podemos perceber isso se
olharmos os registros das pinturas rupestres, datados há milhares de anos.
Com o desenvolvimento das civilizações e da linguagem, a humanidade
buscou lançar mão de diferentes técnicas para registrar elementos que
considerasse importantes de serem transmitidos às próximas gerações,
registrando cerimônias, ritos religiosos e de passagem e outros, que
pudessem ter significado dentro das culturas em que estavam sendo
produzidos. Assim, com o passar do tempo, técnicas artísticas cada vez
mais elaboradas foram sendo desenvolvidas, dentre as quais destacam-
se, por exemplo, a pintura, a escultura, a dança, a música, entre outras.
A literatura, por sua vez, surgiu como uma forma de registro artístico
dependente de uma matéria-prima oriunda de uma outra técnica: a escrita.
Claro, também no contexto literário, não podemos nos esquecer de que
essa forma de arte usa como fonte de produção também a imagem, a
sonoridade, a oralização e a dramatização, dentre outros elementos. No
entanto, podemos afirmar que, em linhas gerais, a literatura seria uma forma
artística que explora a palavra em seus diferentes recursos. Entendeu? Ao
longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
10 Literatura Comparada
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos::
1. Estudar as Teorias da Literatura Comparada, observando
os discursos literários entre mídias, para a questão da
interdisciplinaridade e da intertextualidade.
2. Relacionar texto, contexto e linguagem literária.
3. Estudar a natureza e a função da literatura comparada.
4. Estudar as relações entre Literatura Comparada e Tradução
Literária, abordando a influência das traduções na cultura,
língua e sociedade de uma nação.
não contam.
à efusão lírica.
[…]
(ANDRADE, 1945, p. 6)
Literatura Comparada 13
A Linguagem Literária
Você conhece o mito da torre de Babel? Esse mito perpassa a
consolidação da Babilônia na Antiguidade, onde hoje se localiza o Iraque.
Vamos à leitura?
Fonte: @Commons
Foi a partir daí que, segundo o texto, Deus resolveu visitar a cidade
para ver o que ocorria e, então, vendo a construção da torre, decidiu
confundir a língua dos homens, para que esses se espalhassem sobre a
Terra (clímax) e, com a separação dos homens pelas diferentes línguas, a
cidade parou de ser construída (desfecho).
Exemplo:
ACESSE
Vale sempre ouvir essa música. Se você quiser relembrá-la
ou mesmo conhecê-la, acesse: https://bit.ly/2wQLVzd.
Texto 1:
Texto 2:
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
A canção escrita por Renato Russo, por sua vez, é marcada por um
tom descritivo acerca do amor, sendo que, em sua constituição, a mesma
se utiliza de paráfrases e de citações do poema “amor é fogo que arde
sem se ver”, de Camões, e também de elementos relacionados aos textos
bíblicos, que abordam o mesmo tema.
REFLITA
Nenhum texto surge do nada; antes, ele é o resultado das
interações de mundo que seu autor foi realizando ao longo
da vida.
SAIBA MAIS
O filme “Somos tão jovens” (direção: Antônio Carlos de
Fontoura, 2013) retrata a biografia de Renato Russo, bem
como suas produções de maior sucesso. Vale a pena
conferir.
Literatura Comparada 21
RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você
aprendeu que o texto literário é, antes de tudo, uma
produção humana, que utiliza a linguagem de um modo
diferente do cotidiano. A literatura pode ser definida como
a arte das palavras. As obras de arte (literatura, pintura,
escultura, música etc.) conversam entre si. Essa conversa
marca tanto formas de interpretação da obra anterior,
quanto um elemento denominado “intertextualidade”.
22 Literatura Comparada
Ambiguidade
A ambiguidade, num texto literário, atinge uma dimensão de
multiplicidade de sentidos, possibilitando diferentes interpretações de um
dado texto, a partir da compreensão leitora e de mundo de quem lê. Um
exemplo clássico dessa ambiguidade é a eterna dúvida que o narrador de
“Dom Casmurro”, de autoria de Machado de Assis, deixa aos seus leitores:
afinal de contas, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Não há evidências
concretas, a não ser a desconfiança do personagem, por elementos que
ele deduz de sua própria observação.
Multissignificação
A linguagem literária não tem obrigação de seguir à risca o pacto
linguístico estabelecido entre os falantes de uma língua, o que permite
Literatura Comparada 23
Ficção
DEFINIÇÃO
Segundo o Dicionário Mini Aurélio (2008, p. 404) ficção é “1.
Ato ou efeito de fingir. 2. Coisa imaginária, fantasia, criação.”
Aqui, temos uma lição importantíssima: toda obra literária
é uma obra de ficção, ou seja, a literatura, ainda que seja
baseada em fatos reais, não tem absolutamente nenhum
compromisso com a realidade.
Conotação
Essa é uma das características mais importantes do texto literário,
pois remete à noção de que um texto literário não deve ser interpretado
ao pé da letra, como se cada palavra ali existente tivesse o mesmo
significado que está cristalizado em nossa cultura. A linguagem conotativa
pode ser compreendida como figurada e, por conseguinte, como literária.
Por isso, o código literário se constitui na dimensão da subjetividade,
possibilitando que cada leitor dialogue com o texto de acordo com
suas próprias habilidades leitoras. Isso não acontece, por exemplo, num
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Exemplo
Receita
Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos Beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
Criatividade
Para que a linguagem literária se firme como tal, é imperativo que
ela se caracterize pelo desvio da norma linguística tradicional. Poremos
dizer que a linguagem literária “milita” contra a automatização do uso
linguístico, trazendo de volta expressões em desuso, lançando mão de
neologismos, criando metáforas, reorganizando o léxico e os sintagmas. O
livro “Grande Sertão: Veredas”, de Graciliano Ramos, é um exemplo do uso
criativo da linguagem literária, pois, o autor dá voz a um narrador-homem-
do-sertão, com suas nuances de linguagem sem a maquiagem linguística
dos grandes centros urbanos. Conforme D’Onofrio (2007, p. 19),
Estruturação
Na literatura, ao contrário de outros gêneros textuais, a estrutura
da linguagem pode ser considerada intuitiva, personificada, individual e
subjetiva. A utilização metafórica da linguagem possibilita desvios, tanto
no campo da interpretação como da estruturação.
Literaridade
A literariedade pode ser entendida como um conjunto de
características que, juntas, conferem a um texto a à sua linguagem
a qualidade poética. Em linhas gerais, a um texto só será literário se
apresentar marcas de literariedade.
26 Literatura Comparada
Verossimilhança
Dizemos que a obra literária é verossímil porque se assemelha a
elementos do mundo exterior, porém não é verdadeira; apenas possui a
equivalência da verdade. Essa verossimilhança pode ocupar dois domínios
dentro do texto, a do “poder ser” e a do “poder acontecer”. São elas que
estabelecem a coerência interna e externa do texto. A verossimilhança
interna refere-se à sua coerência estrutural, enquanto a verossimilhança
externa remete à proximidade, fora do texto, com o mundo real. Deste
modo, a obra literária pode não possuir verossimilhança externa, porém,
sempre deverá ter verossimilhança interna, para estabelecer a relação
coesiva. Vejamos:
Seu coração batia sereno. Tinha bons nervos. Se não tivesse, não
poderia exercer aquela profissão.
VOCÊ SABIA?
A narrativa fantástica é uma forma de literatura cuja estrutura
narrativa apresenta todos os elementos convencionais,
porém, seu conteúdo é algo que não existe, ou que não
pode ser reconhecido em nossa realidade.
RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos Neste capítulo, você
aprendeu que a linguagem literária, mesmo que se utilize
do mesmo sistema linguístico da linguagem não-literária,
é constituída por regras próprias, as quais fogem da
objetividade. O texto literário, embora seja semelhante à
realidade, não deve ser compreendido como tal, haja vista
sua possibilidade de ser interpretado a partir das visões de
mundo do leitor. Para se reconhecer a linguagem literária,
há algumas características que, resumidas, podem ser:
múltiplos sentidos, ambiguidade semântica e liberdade de
criação. Essas três características abrem-se para todas as
demais estudadas ao longo dessa seção.
Literatura Comparada 29
Um Pouco de História
A literatura comparada, como campo do saber, tem sua origem
histórica a partir do século XVI, sendo uma ciência que se desenvolveu
paralelamente ao desenvolvimento dos estudos comparados realizados
pelo campo das Ciências Naturais.
Manual brasileiro
No Brasil, os primeiros estudos de literatura comparada, iniciados
por Tasso da Silveira, no livro “Literatura Comparada”, seguiram os traços
de Van Tieghen, além de autores como F. Baldensperger, Fr Loliée e A.
Doupoy. Há uma grande insistência na busca de fontes e de influências.
Na prática, considera-se o trabalho de Tasso da Silveira como uma
repetição dos manuais franceses, porém, cabe destacar que seu trabalho
Literatura Comparada 33
com uma obra literária, desde que a obra literária seja o ponto de partida,
pode ser compreendido como uma forma de procedimento comparativo.
Crises teóricas
Ainda que os estudos comparados florescessem em outros lugares
longe da França, por décadas os manuais franceses obtiveram certa
hegemonia na orientação do campo teórico. Porém, esse terreno exclusivo
sofreu seu primeiro abalo no ano de 1958, durante o 2º Congresso da
36 Literatura Comparada
RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo, você
aprendeu que a Literatura Comparada é um campo
de conhecimentos que busca analisar e estabelecer
proximidades e distanciamentos entre diferentes textos
literários. O estudo comparado da literatura começa a ser
desenvolvido a partir do século XIX. Desde seu surgimento,
a literatura comparada é palco de diferentes ênfases
teóricas que, mesmo discordantes, são importantes para
sua constituição e consolidação como campo científico.
Literatura Comparada 37
Intertextualidade
A noção de intertextualidade, que remete ao diálogo entre textos,
foi importante para fortalecer a Literatura Comparada. Segundo Carvalhal
(2006, p. 53-54), “toda repetição está carregada de uma intencionalidade
certa: quer dar continuidade ou quer modificar, quer subverter, enfim,
quer atuar com relação ao texto antecessor.” A repetição, por meio da
intertextualidade, ressignificaria o texto; traria à tona sua ideia original para
sacudi-la, desconstruí-la, reescrevê-la.
O papel da tradição
T. S. Eliot, em 1917, com a obra “A tradição e o talento individual”,
traz contribuições importantes para a definição do papel de tradição que,
segundo ele, não deve ser definida pela semelhança, mas como algo
obtido por meio de muito esforço, embasado por senso histórico.
NOTA
Perceba que a Literatura Comparada não se constituiu
cientificamente de uma única vez; ela é resultado de
muitas discussões teóricas, pesquisas e até mesmo viradas
teóricas e metodológicas, elementos importantes para a
constituição de um campo de estudos.
Literatura Comparada 43
NOTA
Os estudos de tradução são um campo de conhecimento
que se ocupa do estudo de teorias relacionadas à tradução
e interpretação, relacionando conhecimentos das Ciências
Sociais e Humanas.
SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos os
seguintes materiais complementares:
PERISEÉ, Gabriel. Literatura & Educação. 1 ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006.
VEREDA LITERÁRIA – Tânia Franco Carvalhal fala sobre
Literatura Comparada. Disponível em: https://bit.ly/3cYfak3.
RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Nessa unidade, você
aprendeu que os principais elementos que constituem
a linguagem literária, e que diferenciam textos literários
de textos não-literários. A definição e o contexto histórico
da Literatura Comparada, que como ciência, vem se
desenvolvendo desde o século XIX. Os principais autores
que contribuíram para o desenvolvimento da Literatura
Comparada. Os pressupostos em relação à Literatura
Comparada e à tradução.
Literatura Comparada 47
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Carlos Drummond de. Procura da Poesia. Editora: Companhia das
Letras, 1945. Disponível em: https://books.google.com.br/books/about/A_
rosa_do_povo.html?id=flJioZ6hV0UC&printsec=frontcover&source=kp_
read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 13/03/2020.
BEHR, N., s/d Receita. Rádio Cultura FM. Disponível em: http://culturafm.
cmais.com.br/radiometropolis/lavra/nicolas-behr-receita Acesso em: 21
jan. 2020.
SOUZA, Roberto Acízelo de. Teoria da literatura. 9 ed. São Paulo: Ática,
Série Princípios, 2000.
Éderson da Cruz