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Linguística

Aplicada ao Ensino
do Inglês
Débora Hradec

Unidade 1

Livro Didático Digital


Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autora
DÉBORA HRADEC
A AUTORA
Débora Hradec
Olá. Meu nome é Débora Hradec. Sou formada como Bacharel
em Letras, Tradutores e Intérpretes, licenciada para Português e Inglês,
Especialista em Língua Inglesa pela USP e Mestre em Tecnologia e
Gestão da Educação pela FATEC/UNESP, com uma experiência técnico-
profissional na área de ensino superior, tradução, revisão e autoria de
livros didáticos de mais de 20 anos. Passei por empresas como a Uninove,
FAM entre outras como docente, Panasonic, Otis Elevadores, Sharp entre
outras como tradutora. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.
Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Conhecendo a Linguística........................................................................ 10
Como Surgiu a Linguística?......................................................................................................10

Língua, Linguagem e os linguistas e suas Teorias.................................................. 17

A Linguística Aplicada (LA)......................................................................30


A linguística Aplicada no Ensino da Língua................................................................. 38

Caracterizar a Área de Estudos Denominada “Linguística


Aplicada”..........................................................................................................40
Apresentação dos Fundamentos Básicos da Linguística........... 42
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 7

01
UNIDADE

LIVRO DIDÁTICO DIGITAL


8 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

INTRODUÇÃO
Você sabia que a linguística é a ciência que estuda os fenômenos
da linguagem humana? Para a linguística é muito relevante estudar as
variações socioculturais da língua, como ela funciona, e o motivo porque
as variações ocorrem, além de que forma ocorrem.

Exemplo: Um exemplo de nosso foco será estudar eventos como


quando se diz: “cê qui sabe, mano” ou ainda, “tu quem sabes, guri”,
respectivamente nas regiões sudeste e sul do país.

A linguística que nos concerne neste estudo está muito mais


interessada nas formas usadas pelo povo do que na norma culta, nos
fenômenos como ela se manifesta com base na cultura e civilização. Os
estudos desta ciência encontram-se divididos em uma ampla gama de
campos, como a aquisição da linguagem, ensino e aprendizagem, estudos
literários, terapia da fala, análise do discurso, comunicação corporativa,
comunicação na mídia, em fonologia, sintaxe, fonética, semântica,
estilística, tradutologia e pragmática, além de áreas relacionadas como a
lexicografia, lexicologia, terminologia e filologia.

Entendeu um pouco sobre o que é a linguística? Percebe a infinidade


de campos aos quais você terá acesso ao dominar este estudo científico
da linguagem? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste
universo fantástico dos estudos da linguagem!
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Conhecer basicamente as origens da linguística.

2. Determinar a diferença entre a linguística e a linguística aplicada.

3. Caracterizar a área de estudos denominada “Linguística Aplicada”.

4. Apresentar os fundamentos básicos da Linguística Aplicada.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Conhecendo a Linguística

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como surgiu e como funciona a ciência da linguagem
denominada linguística, como ela se articula e para que
serve. Isso será fundamental para o exercício de sua
profissão, sobretudo na área docente. Nosso objetivo é
prepará-lo para o desempenho das competências que
envolvem o estudo dessa ciência para que possa aplicar
em sua prática docente. Observe a notável reflexão que
se segue que responde à questão “para que existe a
linguagem, então? ”.

[...] a linguagem existe para que as pessoas possam relatar


a estória de suas vidas[...]expressar seus desejo e temores,
resolver problemas, avaliar situações, influenciar seus
interlocutores, predizer o futuro, planejar ações” (SALOMÃO,
1999, p.65)

E então? Motivado para desenvolver esta competência frente à


linguagem que nos possibilita interagir socialmente, condição fundamental
para o convívio dos seres humanos? Então vamos ao que interessa!

Como Surgiu a Linguística?


Inicialmente, foi o estudo das línguas românicas, gregas e
germânicas que deu origem aos estudos da linguagem, elaborando
comparações sobre seu uso natural. Vale pontuar que há uma diferença
entre língua e linguagem.

Linguagem é a capacidade humana de transmitir ideias, sensações,


situações, enfim, se comunicar, seja através textos em linguagem verbal
ou não verbal (como gestos, imagens, movimentos da face, etc.).
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 11

DEFINIÇÃO:

Texto é a manifestação linguística de ideias de um indivíduo


e pode ser escrito, oral (verbal) ou não verbal.

Figura 1: Exemplos de textos de linguagem não verbal. Transmitem uma ideia sem palavras

Fonte: @pixabay.

Figura 2: Exemplos de textos de linguagem verbal.

Fonte: @pixabay.
12 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Figura 3: Exemplo de textos de linguagem mista.

Fonte:@wikipedia.

Revisando: Linguagem verbal consiste de toda expressão oral (da


fala) ou escrita para se comunicar, usamos uma língua como o português
que é um código a ser decodificado pela pessoa que recebe a mensagem.
A linguagem não verbal inclui outras formas de comunicar ideias como
imagens, desenhos, símbolos, mímica, fotos, pinturas e até a postura do
corpo ou a representação facial.
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 13

Vale comentar que os elementos que possibilitam a comunicação


são:
Figura 4: Elementos de comunicação conforme teoria do linguista Roman Jakobson.

Fonte: Adaptação do autor

SAIBA MAIS:

Os participantes do ato comunicativo são os interlocutores:


um que emite a mensagem e outro que recebe a mensagem
que se deseja comunicar em dado contexto. Para ler um
pouco mais sobre este assunto, vide (VANOYE, 1981, p.15).

DEFINIÇÃO:

Quando a mensagem não é compreendida ou decodificada


pelo receptor devido a uma interferência no ambiente,
problemas de interferência em uma conversa telefônica,
voz muito baixa, entre outros, temos o RUÍDO. O ruído
impede a concretização da comunicação
14 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Os fatos da linguagem em um contexto comunicativo que produzem


os sentidos, ou seja, os fatores pragmáticos da produção de sentidos na
comunicação são de ordem situacional, o que significa que dependem do
contexto e da intenção comunicativa do emissor da mensagem; envolvem
a aceitabilidade ou desejo por parte receptor de receber a mensagem
e também depende da mensagem ou da informação a ser transmitida,
além da relação com outros textos, ou seja, da intertextualidade.

A intertextualidade pode ser classificada conforme sua relação com


o texto fonte, isto é, se aparece de forma direta (explícita – facilmente
identificável pelo leitor) ou indireta (implícita – necessita de conhecimentos
específicos sobre o assunto). Veja mais detalhes:

DEFINIÇÃO:

Intertextualidade é a relação entre dois ou mais textos ou a


criação de um elemento textual a partir de um outro, sendo
que um é chamado de texto fonte. Há a intertextualidade
implícita (se o texto fonte não é obviamente reconhecido
pelo leitor precisando de algum tipo de expertise ou
conhecimento específico) e explícita (quando os leitores
conseguem identificar rapidamente o texto fonte). Mas
antes de estudar as tipologias e exemplos, veja esta
definição muito bem redigida e disponível na página do
EDITAL CONCURSOS BRASIL:

“[...] A intertextualidade, nada mais é, do que a influência ou


relação entre dois ou mais textos, analisando as referências
existentes entre eles. Tais referências podem ser notadas de
formas explícitas ou implícitas e representadas sob diferentes
formas, sejam elas auditivas, visuais ou escritas. Em outras
palavras, a intertextualidade é uma espécie de diálogo
entre as construções visíveis no conteúdo, forma ou ambos.
A intertextualidade é verificada em músicas, propagandas
publicitárias, artes plásticas, dança, entre outras manifestações.
A vantagem da intertextualidade, desde que utilizada da forma
correta, é o enriquecimento textual por explorar o tema tratado
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 15

de forma mais aprofundada. Ademais, serve para comemorar


algum acontecimento, relatar um fato histórico, descrever a
cultura de um povo ou de uma personalidade.” Disponível em
https://bit.ly/2ZObNY2

Figura 5: Exemplos de intertextualidade.

Fonte: https://bit.ly/2FO7xjW
16 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

VOCÊ SABIA?

Você sabia que a intertextualidade pode ser criada de


diversas formas, como aparece na tabela abaixo? Então
vamos lá ler cada uma:

Tabela 1: Tipos de intertextualidade

Quando se faz referência a elementos que existem


Por alusão em outros textos de maneira indireta, mas de forma
simbólica.
O texto fonte é transformado em um outro
muito semelhante, mas com tom humorístico.
Normalmente de forma direta para fácil identificação.
Por paródia
A paródia pode ser crítica, meramente humorística
ou satírica. O intento é estimular uma ironia ou
reflexão. Muito usado na propaganda.
Quando são acrescentados parágrafos, frases ou
Como sentenças que se relacionam com o texto de origem.
epígrafe Também muito usado em textos acadêmicos no
início.
Quando há o acréscimo de partes de obras na
produção de um texto de forma direta, incorrendo
Por citação por vezes, até mesmo na transcrição do texto fonte
com o intuito de gerar legitimidade. É o que ocorre
nos trabalhos acadêmicos.

Quando há uma repetição do conteúdo do texto


de origem usando outras palavras. É a recriação de
Como
um texto já existente com o objetivo de manter ou
paráfrase
reafirmar o que está no texto fonte, com as próprias
palavras do novo autor.

Usado na música e nas artes onde fragmentos do


Bricolagem texto de origem são usados para o novo texto a ser
criado. Também pode ser de cunho irônico.
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 17

Na tradução as diferentes interpretações, bem


como os diferentes usos do léxico perfazem
Tradução
a característica de um texto semelhante, que
resguarda o conteúdo do original.
Quando no novo texto o aparecem personagens
que pertencem à ficção por mistura em que
Crossover
um personagem aparece em outra produção,
interagindo.
Consiste em fazer uma espécie de tradução ao pé
da letra, podendo usar traduções literais de um
idioma a outro.
Exemplo café em japonês para o inglês em “romaji”,
Transliteração ou seja, usando letras romanas:
コーヒー Kōhī = coffee

Disponível em<https://bit.ly/3mIwbDw/> Acesso


em 25 out 2019

Língua, Linguagem e os linguistas e suas


Teorias
Linguagem é um processo evolutivo inerente aos seres. Língua é
um processo cultural, associado a um grupo de pessoas, como o inglês,
o português, entre outros. Segundo PETTER (2002), ao conceituar o que
é linguagem:

Está implícito que [...] as línguas naturais [...] são manifestações


de algo mais geral, a linguagem. Tal constatação fica mais
patente se pensarmos em traduzi-la para o inglês, que possui
um único termo – language – para os dois conceitos – língua
e linguagem. (PETTER, 2002 p.14)

Através das reflexões do linguista suíço Ferdinand de Saussure


no início do século XX, a investigação da linguagem passa a ser
18 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

considerada estudo científico e ele passa a ser considerado o fundador


da ciência da linguagem, ou seja, da linguística moderna de abordagem
estruturalista, que ficou conhecida através de seu Curso de Linguística
Geral, desenvolvido entre 1911e 1913 (publicado somente postumamente
por seus alunos em 1916).
Figura 6: Ferdinand de Saussure (1857-1913)

Fonte: @wikipedia.

Para Saussure, que foi o primeiro a diferenciar a língua da


linguagem, ambas são elementos distintos, onde a primeira é a parte
social da linguagem inerente ao ser. Essa teoria é chamada de dicotomia
Saussuriana.

“[...] não é a linguagem que é natural ao homem, mas a


faculdade de constituir uma língua, vale dizer: um sistema
de signos distintos correspondentes a ideias distintas.”
(SAUSSURE, 1995, P.18)
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 19

Saussure considerou a língua (langue) como um fenômeno social,


definindo-a como um sistema de signos, ou seja, “um conjunto de
unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo.” Não
compreendeu? Então vamos seguir adiante.

[...] O fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas


faces que se correspondem e das quais uma não vale senão
pela outra.” (SAUSSURE apud CARVALHO,2003 , p. 61)

Os Signos linguísticos são o resultado das convenções entre


pessoas de uma determinada comunidade que determina para cada
elocução de voz ou conjunto de letras um significado. Em outras palavras,
os signos são compostos pelo significado que é a contextualização do
som ou da representação escrita que é o significante. Significante são os
fonemas ou as letras e o significado é a ideia ou o conceito. Observe a
imagem que contextualizará sua compreensão:
Figura 7: Signo, significado e significante

Ainda, Saussure considerava que:

“[...] é sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto


estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às
evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão
20 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução”


(SAUSSURE, 1995, p.96).

Sincronia e diacronia são conceitos diferentes, mas complementares,


visto que um foca o estudo no momento específico (sincronia) e o outro
no estudo através do tempo (diacronia).

SAIBA MAIS:

Os signos linguísticos podem variar. Uma variação possível


é a denotação e a conotação. Lembrando que o significante
são as letras e sons, e o significado é o conceito, a ideia.
A denotação é o sentido real. A conotação é um sentido
figurado, que pode ser positivo ou negativo. Por exemplo,
trata-se de denotação quando dizemos: “aquele homem
é uma pessoa muito gentil”. Temos conotação quando
dizemos: “aquele homem é um doce” no sentido figurado,
porque certamente ele não é feito de açúcar..

Saussure falava sobre esses dois conceitos, pois acreditava que


a língua poderia ser estudada em um determinado ponto do tempo
sem relevar aspectos evolutivos. Para Saussure, a única realidade
mais importante era o funcionamento em um determinado momento,
considerando as mudanças correntes.
Figura 8: Diacronia e sincronia,

Fonte: Elaborado pelo autor


Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 21

Agora, veja na tabela um resumo das características de língua e


fala, que se fundem formando a linguagem, segundo Saussure:

Tabela 2: Diferenças entre língua e fala, Elaborado pelo autor

Língua (langue) Fala (parole)


Social /coletiva Individual/ particular

Homogênea/ estrutural Heterogênea/ usual

Sistemática Assistemática

Abstrata Variável

Forma Substância

Duradoura Momentânea

Produto - Produz a fala Produção - Evolui a língua

A língua como instituição da sociedade:

“[...] Como qualquer outra instituição social, a langue se impõe


ao indivíduo coercitivamente. Por isso, ela se constitui um
elemento de coesão e organização social.[...] A parte social
da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si só, não pode
criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de
uma espécie de contrato estabelecido entre os membros da
comunidade.” (SAUSSURE, 1995 p.22)

A língua como acervo da linguística:

“[...] A langue, como acervo linguístico, [...] é o conjunto de


hábitos linguísticos que permitem a uma pessoa compreender
e fazer-se compreender’ e ‘ as associações ratificadas pelo
consentimento coletivo e cujo conjunto constitui a langue, são
realidades que têm sua sede no cérebro [...]. Guarda consigo
toda a experiência histórica acumulada por um povo durante a
sua existência[...] “é uma soma de sinais depositados em cada
cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares,
todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos[...]
22 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

um tesouro depositado pela prática da parole em todos os


indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema
gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou,
mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos.”
(SAUSSURE, 1995 p.21)

A língua como realidade dotada de sistema, estrutura e


funcionalidade:

“[...]Nenhum indivíduo tem a faculdade de criar a langue, nem


de modificá-la conscientemente. Ela é como uma armadura
dentro da qual nos movimentamos no dia-a-dia da interação
humana [...] É a fala (parole) que faz evoluir a língua (langue):
são impressões recebidas dos outros que modificam nossos
hábitos linguísticos.” (SAUSSURE, 1995 p.21)

Ainda, a “[...] língua corresponde à parte essencial da linguagem e o


indivíduo, sozinho, não pode criar nem modificar a língua” (COSTA, 2008,
p.116).

Do ato da fala, podemos citar CARDOSO (1999, p.20): “Ato linguístico


individual, material, concreto, psicofísico, dependente da vontade e da
inteligência do indivíduo (portanto subjetivo), um impulso expressivo, ato
inovador [...], acessório e mais ou menos acidental”.

No entanto, existem outros estudiosos de igual relevância para esta


ciência, que antes submetia-se a outros estudos, que também estudavam
a observação dos fatos da linguagem, embora não fossem específicos
para esse fim, como a retórica, a filosofia, a história, entre outros.

Em se tratando dos linguistas de relevância, cabe compreender


as seis funções desenvolvidas pelo linguista Roman Jakobson, usadas
no contexto comunicativo. Vejamos a ilustração para elucidação na
sequência:
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 23

Figura 9: Sistema de comunicação de Roman Jakobson (1960 p. 123),

Fonte: adaptado pelo autor

IMPORTANTE:

As funções da linguagem de Roman Jakobson são seis.


A referencial ou denotativa é informativa porque, como o
nome indica, faz referência a algo, informa, é o contexto da
informação; algo através de um texto como uma notícia,
um trabalho científico, entre outros. A função emotiva ou
expressiva diz respeito ao emissor, volta-se ao emissor, a
quem deseja transmitir a mensagem, portanto esse tipo de
texto é na primeira pessoa como uma poesia, um e-mail
pessoal, um diário, etc.

A função poética diz respeito à mensagem em si, a preocupação


é como a mensagem vai ser transmitida. A função fática é a que objetiva
estabelecer a comunicação, é o canal, o meio pelo qual a mensagem
é transmitida. A função conativa, também chamada de apelativa é
persuasiva e visa alcançar o receptor, ou o leitor, alguém que observa
uma obra de arte, alguém que ouve uma notícia; a intenção é influenciar
24 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

o receptor como na propaganda, no discurso de políticos, entre muitos


outros exemplos. Esses textos costumam ser na segunda ou terceira
pessoa e usa frequentemente o vocativo e o imperativo.

A função metalinguística diz respeito ao código, assim, usa a


metalinguagem que descreve a si mesma. Um bom exemplo é um
autorretrato que um artista pinta, um filme cujo assunto é o próprio
cinema, etc.

Revisando: Saussure foi o precursor da diferenciação entre língua e


linguagem:

“[...] A Linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo


impossível conceber um sem o outro. [...] A cada instante, a
linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido
e uma evolução: a cada instante ela é uma instituição atual e
um produto do passado.” (SAUSSURE, 1995, p.16).

Segundo ele, língua, então:

“[...] não se confunde com a linguagem, é somente uma parte


determinada, essencial dela [...] é um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício
dessa faculdade nos indivíduos.” (SAUSSURE, 1995, p.17).

Em suma, a fala e a língua juntas compõem a linguagem.

Mikail Bakhtin também é um dos linguistas de grade relevância,


e para ele, a língua consiste da enunciação como fenômeno social da
interação verbal, distinto da linguagem que é um fator fisiológico. A língua
deriva da produção social entre os participantes do ato comunicativo.
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 25

Figura 10 : Filosofo russo Mikail Bakhtin 1895 -1975 (filosofia da linguagem)

Fonte: @wikipedia.

Do mesmo modo de Saussure que separa a habilidade da


fala e comunicação (linguagem) da língua, Noam Chomsky separa a
competência do desempenho.

A saber, competência linguística é, para Chomsky, a capacidade


inata que permite a aquisição da linguagem desde a infância, como objeto
biológico, individual e interno à mente e ao cérebro e o desempenho é
o comportamento decorrente da competência do falante associada ao
convívio social que envolve convenções sociais, atitudes emocionais,
crenças e cultura. Para o desempenho, deve haver a competência
comunicativa. (PETTER, 2002 p. 15).
26 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Figura 11 : Noam Chomsky 1928 – Linguista americano (linguística gerativa e filosofia


analítica)

Fonte: @wikipedia.

Ainda, Michael Alexander Kirkwood Halliday, linguista de dupla


nacionalidade britânica e australiana, desenvolveu a teoria denominada
Gramática Sistêmica Funcional e associada a esta, a Linguística Sistêmica
Funcional (Systems functional linguistics – SFL) e questionava as ideias de
alguns linguistas como Saussure. Nessa teoria, estuda-se a linguagem em
relação ao recorte do funcionamento em sociedade. Assim, a linguagem
para Halliday é um sistema sociossemiótico, pois permite a escolha de
vários significados e ainda, para ele, a linguagem é responsável pela
construção de experiências sociais, de nossa existência e ação em
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 27

contexto onde a linguagem ocorre. Em outras palavras, a linguagem “faz”


a sociedade e o ser.

DEFINIÇÃO:

Semiótica, segundo Charles S. Peirce (1839-1914), consiste


do estudo da forma como o significado é construído, ou
seja, o estudo do signo e seu significado. Embora também
envolva o estudo do signo, não pode haver confusão com a
semiologia de Saussure, embora tratem do mesmo assunto
e sejam parasinônimos, ou seja, trazem uma equivalência
em si.

Figura 12 : Halliday – Linguista britânico e australiano (1925-2018)

Fonte: @wikipedia.
28 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Aluno(a), antes do século XX, os linguistas preocupavam-se em


estudar as transformações que ocorriam nas línguas no decorrer do
tempo para explicar as mudanças linguísticas, o que era chamado de
linguística diacrônica, descritiva ou histórica (que investiga a história da
língua). Este possuía uma postura diferente de Saussure, que considerava
que a linguística passa a ser estudada sob um determinado momento
histórico, o que se chama linguística sincrônica, ou seja, aquela que
estuda o estado da língua em dado recorte temporal.
Figura 13 – Alguns dos linguistas de grande relevância no estudo da linguagem,

Fonte: elaborada pelo autor

RESUMINDO:

A Linguística Geral inclui todas as áreas de estudo, sem


detalhamentos, gerando modelos e conceituações que
deverão fundamentar o estudo das línguas. Há a linguística
teórica que gera teorias, como o próprio nome indica,
visando criar conceitos de como é a comunicação, quais
os aspectos comuns da comunicação, o que é necessário
para que as pessoas tenham habilidade de comunicar-se,
entre outros fatores.
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 29

Fonte: Elaborada pelo autor

Então, podemos continuar como nossos estudos, com tudo bem


organizado?

Vamos lá?
30 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

A Linguística Aplicada (LA)


INTRODUÇÃO:

De posse desses conhecimentos, vamos passar à


linguística aplicada que é um estudo oposto à linguística
teórica, pois usa os conceitos linguísticos gerados na teoria
para aprimorar o exercício ativo das disciplinas que usam a
linguagem. .

IMPORTANTE:

A linguística aplicada, doravante denominada LA, é o nosso


principal foco de estudo neste momento, pois muitos
problemas podem ser resolvidos através dela, como as
dificuldades de aprendizagem por distúrbios da linguagem,
entre outros assuntos, e é perfeita para as discussões sobre
tradução e aprendizagem de línguas, por exemplo, colocando
as situações da linguagem em prática, em uso, considerando
os lugares onde ocorrem, culturas, finalidades e povos.

Figura 14 : Linguística aplicada,

Fonte: elaborada pelo autor


Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 31

A Linguística Aplicada surgiu na época em que os estudos


de Chomsky se tornavam reconhecidos, após anos de preceitos
saussurianos. O surgimento deu-se nos anos 50 e ganhou força na década
de 80, sobretudo no que se refere ao ensino-aprendizagem da língua. A
Linguística Aplicada subordina-se aos aportes descritivos da linguística
teórica e os coloca em prática; em uso nas situações reais, praticamente
em oposição às proposições de linguistas anteriores.

As articulações que caminhariam ao que seria a Linguística Aplicada


foram, por exemplo, a necessidade de um enfoque científico para o ensino
e aprendizagem de línguas estrangeiras, mesmo que ainda bastante
fundamentado na psicologia behaviorista, devido às necessidades que
surgiram após a Segunda Guerra Mundial, quando houve a necessidade
inevitável de lidar com diferentes línguas, assim como rever os métodos
vigentes na época com foco na leitura (como o de Tradução com listas de
palavras para memorizar e interpretar os textos e o de Gramática focado
somente nas regras e estrutura).

SAIBA MAIS:

Behaviorismo no ensino de línguas – de maneira geral é a


aprendizagem decorrente de repetições e condicionamento
por ações de estímulo e resposta, posteriormente
caracterizando a base do método áudio-lingual.

A evolução da LA, entre outros motivos, decorreu da necessidade


de estudar-se a língua dando ênfase à cultura e contexto, entonação,
articulação, dialetos, sociedade, introspecção individual, metáforas, entre
outros fatores práticos e não mecânicos, como acreditavam que a língua
poderia ser aprendida.

A Linguística Aplicada empresta conceitos e métodos da linguística;


é sinônimo de estudo cientifico dos princípios, mas principalmente, da
prática do ensino-aprendizagem de língua estrangeira e da tradução,
marcada pela necessidade de obter soluções reais para seus problemas.
Segundo Dubois et al (1993, p.394) “Falar é agir; estudar a fala é, portanto,
32 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

estudar um ato no qual o indivíduo se coloca e se afirma”, no caso da LA,


de forma plenamente ativa.

Observe abaixo uma tabela que demonstra algumas das divisões da


linguística de forma simplificada (para uma lista mais completa, consulte
DUBOIS (1993, p. 388):

Tabela 3: Algumas das divisões estudos e aplicações da linguística somente para melhor
visualização.

Linguística teórica Linguística Aplicada

Ensino de línguas
Estudo da natureza da língua Materna e idioma nativo
Nacional/oficial e dialetos regionais

Linguística sincrônica Elaboração de regras ortográficas

Linguística diacrônica Técnicas de alfabetização

Linguística comparativa Tradução

Linguística textual Estilística

Dialetologia

Lingual em contato

História da língua Outras ciências correlatas: etnologia,


psicolinguística, teoria da comunica-
Estrutura da língua: ção, filosofia, sociolinguística.
1. fonética e fonologia
2. morfossintaxe
3. lexicografia, lexicologia
4. semântica

Fonte: CABRAL, L.S. Introdução à linguística. Porto Alegre: Globo, 1969 p.11
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 33

EXPLICANDO MELHOR:

Linguagem é a faculdade cognitiva que nos proporciona


a aprendizagem de uma língua. Quanto a isto, ainda há
consenso. A linguística é o estudo da linguagem. O estudo
linguístico surge formalmente após Saussure para estudar
a “língua”, ou seja, ele causou uma divisão epistemológica
rompendo com os estudos anteriores, mas ainda, como um
estudo passivo. Mas, desde a Antiguidade havia interesse
pela linguagem, somando um gama de observações e
explicações coerentes e de forma por vezes negligenciadas.

SAIBA MAIS:

É com Pit Corder (1918-1990 professor de linguística aplicada


na universidade de Edinburh que estudou a “análise do
erro”), que a linguística aplicada se inicia no Reino Unido
na década de 50. A linguística aplicada era denominada
segundo, Brumfit (1995), a “investigação empírica e teórica
dos problemas do mundo real dentro da vertente da
linguagem”.

EXPLICANDO MELHOR:

A linguística aplicada é descrita pela Associação


Internacional de Linguística Aplicada como um campo
interdisciplinar de pesquisa prática que trata de problemas
reais da língua e da comunicação que podem ser
identificados, analisados e resolvidos aplicando-se as
teorias disponíveis, métodos ou resultados da linguística ou
ainda, através do desenvolvimento de novas proposições
metodológicas e teóricas específicas para determinados
segmentos desse trabalho.
34 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Notável é que a pesquisa sobre o multilingualismo se expandiu para


diversas outras áreas dentro de organizações associadas a trabalhos com
inteligência artificial e outros ramos da ciência.

Os linguistas contemporâneos sentem-se razoavelmente à vontade


para estudar em quase todos os campos do conhecimento humano,
como filosofia, educação, sociologia, feminismo, tradução, análise
comportamental e estudos relacionados à mídia. A linguística aplicada
profissional é atualmente uma área até certo ponto restrita e o ramo desta
que trata da aquisição da linguagem tem sido o mais aberto à diversas
contribuições.

NOTA:

Atualmente, a linguística em geral tem um papel minoritário


nas produções e estudos da linguística aplicada, ficando
relegada ao uso de suas teorias e ferramentas descritivas.
As teorias dos últimos vinte anos quase nem são mais
mencionados pelos linguistas aplicados dado o avanço das
novas constatações, com exceção de Chomsky e alguns
outros poucos tão relevantes no passado da linguística.

Como a linguagem é a representação do homem, seu pensamento


e comportamento, não poderia ser diferente dizer que os problemas do
mundo real podem, com frequência, ser resolvidos observando aspectos
simples da linguagem.

Como a Linguística Aplicada é interdisciplinar, seu conhecimento


abrange um pouco sobre muitos segmentos e áreas, não somente a
língua, mas filosofia, design experimental, programação de computadores,
sociologia, análise do discurso, entre muitos outros.

Assim, um linguista aplicado é um profissional multidisciplinar


com conhecimentos voltados ao indivíduo e à sociedade. A linguística
aplicada estuda também a aquisição da linguagem pelas crianças, o
desenvolvimento do vocabulário e a aquisição de sua primeira língua.
Do mesmo modo, o estudo do bilingualismo aprendido na infância ou
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 35

o adquirido como L2 após os 07 anos (idade que, em média, a L2 é


aprendida realmente como segunda língua e não mais da mesma forma
que a nativa) é tema de estudo da LA. Esta é a área que nos interessa
nesse momento: o ensino e aprendizagem da língua estrangeira.

Fonte: Elaborado pelo autor.

IMPORTANTE:

Na forma como a Linguística Aplicada tem sido utilizada


atualmente, é positivamente um campo de estudo
científico e não somente mera disciplina, e seu foco
tem sido, em grande parte educacional, para o estudo
do ensino-aprendizagem da língua a partir da segunda
metade do século 20, tanto para elaborar materiais para
lecionar quanto na criação de novos métodos para o ensino
de línguas.
36 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Ainda no campo educacional, a Linguística Aplicada tem


desempenhado um papel importante e interessante internacionalmente
no chamado “planejamento da língua”, isto é, ao auxiliar na escolha da
língua oficial em caso de mudança política ou em novos Estados criados
em que o dialeto pode acabar sendo a língua oficial do país, e ainda, de
que forma pode ser feita a padronização dessa nova língua.

DEFINIÇÃO:

“Dialeto” é a maneira como se fala uma língua oficial dentro


de uma comunidade ou região, uma variedade regional do
idioma oficial, como por exemplo, o dialeto caipira.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso


à seguinte fonte de consulta e aprofundamento acessível
pelo link:https://bit.ly/32CSiU7

Obviamente que, na busca para soluções práticas para certos


problemas de ensino-aprendizagem de idiomas, sempre é feita uma
teorização que registra as soluções criadas, aprimoradas e consolidadas
em sua relevância de eficácia. O fato é que os estudos em Linguística
Aplicada partem do prático para o registro teórico.

A Linguística Aplicada sofisticou-se e busca compreender até que


ponto as teorias linguísticas aplicam-se ao vernáculo moderno relevando
a tomada de decisões em questões individuais e sociais ao lidar com o
ensino de idiomas e com a tradução de forma prática.

Ela inclui reflexões como “de que forma encontrar soluções


contemporâneas para antigos problemas de aprendizagem do idioma” ou
ainda, “qual a melhor faixa etária para começar a estudar uma segunda
língua dependendo da finalidade”, ou “quais as finalidades atuais que
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 37

levam as pessoas a aprender um idioma estrangeiro em um mundo tão


dominado pela tecnologia em constante desenvolvimento nos centros
urbanos”, entre outros questionamentos. Ainda, outro exemplo vem
da tentativa constante de determinar que recursos, materiais, práticas,
treinamentos e técnicas de interação que melhor resolvem os problemas
de aprendizagem ao ensinar uma língua estrangeira.

A LA, como resultado está continuamente desenvolvendo soluções


que mudam frequentemente, de acordo com o mundo moderno,
adaptando novas soluções a problemas e fatos do discurso em constante
evolução.

Também busca respostas para a língua falada em comparação


com a escrita, ou seja, a elaboração face às construções sintáticas, uso
de interjeições, metáforas, quantidade de vocabulário necessário para
cada caso, maior ou menor necessidade de alternar com a linguagem
não verbal, o planejamento do que se deseja comunicar, incluindo a
possibilidade ou não de revisão entre a oralidade e escrita, entre outros.

O fato é reconhecer que são os problemas práticos que se baseiam


no estudo de línguas que direcionam os caminhos da linguística aplicada,
uma vez que até mesmo os dialetos e registros do vernáculo moderno
apresentam situações que só podem ser resolvidos de forma prática,
pois afetam a tradução, interpretação, o uso da língua e estilo, enfim, a
comunicação e a transmissão eficaz de ideias.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir um pouco. Você deve ter aprendido o que é
a linguística, um pouco de sua história e desenvolvimento,
alguns linguistas principais e que a linguística aplicada pode
ajudar no ensino-aprendizagem de idiomas estrangeiros.
38 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

A Linguística Aplicada (LA) nasceu há cerca de 60 anos e tem


como objeto o estudo as línguas estrangeiras, a língua materna e a
língua em contextos que tratem do estudo prático da linguagem. Mas
o estudo de métodos e técnicas de ensino ainda persiste na LA como
o registro da observação da prática em contexto. O que interessa é o
ensino-aprendizagem e as investigações aplicadas sobre a linguagem no
contexto social. Assim, a Linguística Aplicada pode ser considerada como
o uso de conteúdos linguísticos para apurar a prática nas áreas que usam
a linguagem e suas variantes.

A definição da linguística aplicada atualmente tem que ser sempre


associada às áreas que a compõem, tamanha a gama que esta ciência
cobre. Há o estudo da linguagem, a linguística computacional, a forense,
a terapia da fala, a neurolinguística, a pesquisa da aquisição da segunda
língua e muito mais.

A linguística Aplicada no Ensino da


Língua
A linguística aplicada dedicada ao ensino-aprendizagem da língua
se distingue também dos muitos domínios e subdomínios da psicologia
e mesmo da educação em si. Como a Linguística Aplicada dedicada ao
ensino-aprendizagem da língua está no centro dos estudos na área de
Letras e oferece subsídio para essas outras áreas, é necessária uma teoria
coerente para a linguagem, oferecendo uma gama rigorosa de ferramentas
relevantes aos estudos adjacentes da linguagem, uma vez que é a LA
que oferece a cadeia lógica que demonstra quais os fatores relevantes
e analogias referenciais para uma teoria matemática, uma simulação
computadorizada da linguagem ou modelagem computacional.

Através dos anos, a Linguística Aplicada demonstrou grande relação


com a psicologia e tem sido fundamental para a elaboração de testes,
elaboração de materiais didáticos e programas ou roteiros de estudos
para planejamento do ensino da língua estrangeira.

A abordagem comunicativa, por exemplo, é um método que precisa


que o docente não seja uma autoridade, mas um organizador, um condutor
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 39

da aprendizagem. São os seus preceitos que ajudaram a demonstrar, à


época, que a abordagem comunicativa surgia como alternativa, mudando
o papel do docente como o “catedrático que tudo sabe e que fica em
um pedestal”, visto que essa postura não atendia mais as expectativas
dos aprendizes de língua estrangeira. Segundo esse exemplo, foi a LA
que permitiu essa mudança na relação produtiva entre docente e aluno
na abordagem comunicativa. Ela propicia espaço para novos métodos e
abordagens no ensino de LEs.

SAIBA MAIS:

Leia este artigo interessantíssimo sobre os métodos


de pesquisa para o ensino de línguas de Netta Avineri.
Disponível em: https://bit.ly/2ZN1a7Y

Podemos ir mais longe através de um exemplo. Os estudos da


Linguística Aplicada permitem analisar aspectos e necessidades políticas
e geográficas para o ensino da língua estrangeira. A escolha de uma
língua a ser ensinada no ensino regular e a preferência imposta pela
mídia, decorrem dos estudos de LA, que indica que língua é melhor para
ser aprendida como L2 em um mundo globalizado, como o inglês, por
exemplo, para garantir a compreensão mútua entre países em todos
os ramos econômicos e profissionais. A Linguística Aplicada oferece as
reflexões sobre o propósito geral do ensino de língua estrangeira e as
implicações na escolha sobre determinados caminhos ou ideais sobre a
linguagem.
40 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Caracterizar a Área de Estudos


Denominada “Linguística Aplicada”

INTRODUÇÃO:

A Linguística Aplicada tenta responder perguntas que


envolvem questionamentos diversos, como o que vem a
ser a linguagem, como ela funciona, o que as línguas têm
em comum, qual o âmbito da variação entre as línguas, qual
a diferença entre a comunicação humana e dos animais,
como uma criança aprende a falar, como é o processo de
assimilação da escrita, como as línguas sofrem variações e
até que ponto as diferenças de classes sociais se refletem
na linguagem. Em suma, até que ponto os modelos
descritivos desta disciplina podem ser usados para resolver
os problemas práticos da língua que usamos sob estudo.

Pit Corder (1992, p. 24) define o escopo da Linguística Aplicada


como:

“[...] o uso do conhecimento sobre a natureza da língua


adquirido pela pesquisa linguística para a melhoria da eficácia
de algumas tarefas práticas nas quais a língua é o componente
central”

A ponte a entre a linguística e o ensino de uma língua estrangeira


é a LA. O linguista descreve as diferentes línguas para validar suas
teorias e verificar se as hipóteses teóricas sobre a linguagem humana
são verdadeiras ou não. É uma característica importante na LA que os
problemas práticos com os quais ela lida não sejam resolvidos com uma
única abordagem teórica. Assim, as teorias que influenciam diretamente
na forma como as abordagens de línguas estrangeiras são elaboradas.

Deste modo, ela serve de guia aos trabalhos relacionados


ao treinamento e processos educacionais da língua estrangeira,
ao desenvolvimento de treinamentos e métodos de supervisão,
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 41

desenvolvimento de materiais, métodos e técnicas de ensino, testes e


avaliações, pesquisas em relação aos desenvolvimentos da L2, processo
educativo na L1, descrição da língua, avaliações educacionais de porte e
cultura da língua.

A Linguística Aplicada trata ainda da aquisição de estudos adequados


sobre as línguas, dialetos e verifica se a língua em situação prática se
adequa aos estudos. Portanto, a relação entre a linguística aplicada e o
ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras é necessária para todo
sistema de aprendizagem das LEs para revelar, segundo Halliday, se a
forma de ensinar está adequada ao contexto real como abordagem inter-
e transdisciplinar.

É comprovadamente tão ampla que uma definição única pode ser


controversa e instável sob o ponto de vista de alguns estudiosos. Segundo
Halliday (1990) “uma disciplina é definida de acordo com seu conteúdo: o
que significa que é nada mais além daquilo que está sob investigação.”

Ela está em aplicação sempre que um conhecimento sobre


linguagens está sendo utilizado para resolver problemas relacionados às
próprias linguagens uma vez que a Linguística Aplicada é também uma
tecnologia que produz ideias abstratas e investigações fruto de pesquisas
acessíveis para o mundo real, mediando a teoria e a prática.
42 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

Apresentação dos Fundamentos Básicos


da Linguística

INTRODUÇÃO:

Ainda, quais seriam os problemas relacionados à linguagem


que a Linguística Aplicada e suas teorias podem resolver?

ACESSE:

Esses vídeos interessantíssimos sobre a forma como a LA


pode ser de fundamental importância para outras áreas do
conhecimento humano, além de assuntos ligados à linguagem:
• <https://bit.ly/33HXmWq>
• <https://bit.ly/3hJF4sS>
• <https://bit.ly/2EaT9Su> (linguística computacional e
jornalismo)
• <https://bit.ly/2FHr4mt>
• <https://bit.ly/3iU1VUh> (aquisição e desenvolvimento
da linguagem oral)
• <https://bit.ly/2RBlx3l>
• <https://bit.ly/2FGQiRH>
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 43

SAIBA MAIS:

Uma excelente sugestão disponível online para vários


assuntos que compreendem a LA é a obra: DAVIES, Alan
e ELDER, Catherine. The Handbook of Applied Linguistics.
Malden, USA: Blackwell publishing, 866 p. Disponível em:
https://bit.ly/3hNiS1i

Tudo certo até agora?

Nos veremos em breve na próxima unidade, até lá!


44 Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês

REFERÊNCIAS
Bakhtin, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 6ª ed. Tradução M.
Lahud e Y Viera. São Paulo, 1992.

Brumfit, C. J. Teacher professionalism and research, In G. Cook e B.


Seidlhofer (org.). Principle and Practice in Applied Linguistics. Oxford:
Oxford University Press, 1995

DUBOIS, J. et.al.Dicionário de Linguistica. São Paulo: Cultrix, 1993.

CABRAL, L.S. Introdução à linguística. Porto Alegre: Globo, 1969 p.11

CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 14ª ed., Petrópolis:


Vozes, 2003.

Halliday, M.A.K. New ways of analysing meaning: A challenge to applied


linguistics. Journal of Applied Linguistics. Sheffield: Equinox, 1990.

COSTA, M.A. Estruturalismo. In: Martelotta, M.E. (Org.) et al. Manual de


Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.

Corder, P. Introduction to Applied Linguistics. México: Limusa, 1992.

DAVIES, Alan e ELDER, Catherine. The Handbook of Applied Linguistics


Malden, USA: Blackwell publishing, 866 p. Disponível em:< https://
edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3171374/mod_resource/content/1/
Handbook%20of%20Applied%20Linguistics-2004-gPG.pdf > Acesso em
24 out 2019

PETTER, Margarida. Linguagem, Língua e Linguística. In FIORIN, José Luiz


(org). Introdução à Linguística. Vol. 1 Objetos Teóricos. São Paulo: Contexto,
2002, p. 11-23

PAVEAU, Marie-Anne, SARFATI, Georges-Élia. As grandes teorias da


linguística. Da gramática comparada à pragmática. São Carlos: Claraluz,
2006

SALOMÃO, Maria M.M. A questão da construção do sentido e a revisão


da agenda dos estudos da linguagem. Veredas: revista de estudos
linguísticos, v.3 n.1, Juiz de Fora: UFJF, 1999, p. 61 a 79
Linguística Aplicada ao Ensino do Inglês 45

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Tradução de Antônio Chelini et


al. 22. ed. São Paulo: Cultrix, 1995.

VANOYE, Francis. Usos da Linguagem: Problemas e técnicas na produção


oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1981

WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. Trad. Marcos Bagno.


São Paulo: Parábola, 2002
Livro Didático Digital

Débora Hradec

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