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FONÉTICA E FONOLOGIA

DO PORTUGUÊS
Unidade 4
Fonética e Fonologia
no ensino da língua
portuguesa
Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS

Gerente Editorial

ALESSANDRA FERREIRA

Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA

Autoria

DÉBORA HRADEC
Débora Hradec
AUTORIA

Sou mestre em Tecnologia e Gestão da Educação pela


Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo/Universidade
Estadual Paulista, especialista em Língua Inglesa pela
Universidade de São Paulo, bacharel em Letras, Tradutores e
Intérpretes e licenciada em Línguas Portuguesa e Inglesa, com
experiência técnico-profissional na área de Docência no Ensino
Superior, tradução, revisão e autoria de livros didáticos há mais
de 30 anos. Fui docente em instituições como Universidade Nove
de Julho, Centro Universitário das Américas, Universidade Santo
Amaro, entre outras, além de tradutora sênior de materiais
institucionais para empresas privadas da área técnica, comercial,
farmacêutica e jurídica. Sou apaixonada pelo que faço e adoro
Unidade 4

transmitir minha experiência de vida aos que estão iniciando sua


trajetória profissional. Por esse motivo, fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores. Conte comigo!

4 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

ÍCONES
Para o início do
Houver necessidade
desenvolvimento
de apresentar um
de uma nova
novo conceito.
OBJETIVO competência. DEFINIÇÃO

Quando necessárias
As observações
observações ou
escritas tiveram que
complementações
ser priorizadas para
para o seu
NOTA IMPORTANTE você.
conhecimento.

Curiosidades e
Algo precisa ser indagações lúdicas

Unidade 4
melhor explicado ou sobre o tema em
EXPLICANDO detalhado. estudo, se forem
MELHOR VOCÊ SABIA?
necessárias.

Textos, referências Se for preciso acessar


bibliográficas um ou mais sites
e links para para fazer download,
aprofundamento do assistir vídeos, ler
SAIBA MAIS ACESSE
seu conhecimento. textos, ouvir podcast.

Se houver a
necessidade de Quando for preciso
chamar a atenção fazer um resumo
sobre algo a acumulativo das
REFLITA ser refletido ou RESUMINDO últimas abordagens.
discutido.

Quando alguma Quando uma


atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
ATIVIDADES for aplicada. TESTANDO forem explicadas.

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Fonética e Fonologia e o ensino da língua portuguesa.......... 9
SUMÁRIO

A importância da Fonética e da Fonologia na comunicação........................ 9

A consciência fonológica na escola ................................................................ 10

A Fonética e a Fonologia no estudo do português ..................................... 12

Análise comparativa da presença da Fonética e Fonologia nas gramáticas


da língua portuguesa......................................................................................... 14

Variação fonológica do português brasileiro........................ 22


A variação fonológica, as circunstâncias contextuais e sua repercussão na
escrita................................................................................................................... 22

A variação fonológica nas gramáticas do português................................... 27

Os tipos de variações no português brasileiro que levam a diferentes


realizações sonoras............................................................................................ 28
Unidade 4

Os processos envolvidos na produção e variação fonológica .................. 31

Os traços distintivos e as classes naturais na produção do som e de suas


variações.............................................................................................................. 33

Interferências fonológicas na escrita..................................... 37


A distinção entre a Fonologia e a Fonética e sua importância na
escrita................................................................................................................... 37

A forma como ocorrem as interferências fonológicas na escrita.............. 40

Os processos fonológicos que podem causar reflexos na escrita e


variações.............................................................................................................. 43

Aquisição do som e da escrita e das variações...................... 47


A aquisição do som ........................................................................................... 48

A importância da Fonética e da Fonologia para a formação do


indivíduo .............................................................................................................. 50

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Você sabia que a Fonética e Fonologia do português
consistem em estudos sistematizados, mas que levam em

APRESENTAÇÃO
consideração os fatos contextuais, tendo em vista aspectos
idioletais e socioletais presentes no nosso país? Nesta unidade
letiva, você vai mergulhar neste universo e vai conhecer as
relações dos estudos de Fonética e Fonologia com o ensino
da língua portuguesa, inteirar-se da variação fonológica do
português brasileiro, familiarizar-se com as interferências
fonológicas na escrita e conhecer a aquisição do som, da escrita
e das variações fonéticas e fonológicas. Bom estudo!

Unidade 4

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Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é
auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
OBJETIVOS

profissionais até o término desta etapa de estudos:

1. Definir as relações dos estudos de Fonética e Fonologia


com o ensino da língua portuguesa.

2. Interpretar a variação fonológica do português


brasileiro.

3. Identificar os aspectos do sistema escolar brasileiro e a


administração do sistema nacional de ensino.

4. Interpretar as interferências fonológicas na escrita.

Então? Preparado para uma viagem empolgante rumo ao


conhecimento? Ao trabalho! Por meio deste conteúdo, você terá
Unidade 4

todo o aparato teórico necessário para o desempenho de suas


atividades acadêmicas e a efetivação de estudos práticos na
Fonética e Fonologia do português! Sucesso!

8 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Fonética e Fonologia e o ensino
da língua portuguesa
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender alguns conceitos importantes acerca da
importância da conscientização sobre o som no
OBJETIVO estudo da língua portuguesa. Isto será fundamental
para o exercício de sua profissão.

A importância da Fonética e da
Fonologia na comunicação
A comunicação é inerente ao ser humano e, para que seja
eficaz, precisa haver a compreensão entre os interlocutores, que

Unidade 4
são o emissor e o receptor, quando compartilham uma mensagem.
Isso só ocorre de forma plena quando há o entendimento da
língua, por meio da articulação e produção dos sons adequadas,
ou seja, quando as palavras são pronunciadas do modo correto
e em condições que possibilitem a compreensão. Kock (1997)
comenta que a linguagem humana compreende três concepções.
A primeira é o fato de que ela é um espelho do mundo e da forma
de pensar. A segunda é que ela também é uma ferramenta ou
instrumento para a comunicação. Por fim, ela é um meio ou uma
“circunstância” que permite a interação.

Outro estudioso, Ferrarezi (2010, p. 43), não só concorda


com as asseverações de Kock, como também afirma que essas
três concepções não podem ser separadas para que se realize
uma língua natural, uma vez que ela é um “sistema sociabilizado
e culturalmente acertado de representação do mundo e de suas
ocorrências”. O autor acrescenta, ainda, que, na comunicação,
deve haver criatividade, aspectos culturais e representatividade

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 9


na linguagem. Todos estes fatores devem ser incorporados ao
ensino pelos professores.

É fato que a docência da língua portuguesa carrega conceitos


em que certas lacunas precisam ser preenchidas em relação ao
estudo do som. Esse fato pode ser corroborado pela observação
dos livros didáticos do ensino regular e pela forma como se dá
o preparo dos professores licenciados de língua portuguesa e
pedagogos quanto ao tema. Ambos devem deter informações
sobre Linguística e não podem estar alheios às reflexões de
aprimoramento da prática docente nesse tema, como solução
para aproximar os alunos da realização comunicativa do som por
um viés funcional e linguístico assertivo e não somente como uma
abordagem sem interação com outros elementos da gramática.
Unidade 4

A consciência fonológica na escola


Na escola, é muito importante que os professores possam
oferecer oportunidades educativas que propiciem a aquisição de
competências metalinguísticas. Essas competências auxiliarão
as crianças a adquirir a consciência fonológica que tornará mais
fácil a compreensão de que as frases se compõem de palavras,
as palavras são formadas por sílabas, e as sílabas são formadas
por unidades menores que são as letras e os fonemas.

Nos primeiros anos de vida, as crianças ainda não têm


consciência de que as palavras são compostas por unidades
sonoras menores, porque seu interesse e atenção está voltado
para o significado do que falam e escutam. A consciência
fonológica precisa ser trabalhada de forma sistematizada, de
acordo com as regras da língua falada, pois prepara o aluno para
ser alfabetizado. No entanto, há uma diferença entre consciência
fonêmica e consciência fonológica no desenvolvimento da
criança. A primeira trata da capacidade de decompor palavras

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em unidades sonoras menores, os fonemas. Já a consciência
fonológica é a habilidade de isolar os sons da fala como um
todo, os sons da língua usados durante seu desenvolvimento, ou
seja, a dimensão sonora da língua. Ainda, alguns autores falam
em consciência intrassilábica que é a habilidade de isolar sons
dentro da sílaba (WOOD; TERREL, 1998).

Na pré-escola, a criança já apresenta consciência fonêmica


que só será aperfeiçoada, mas a conscientização fonológica
é adquirida no contato com o ambiente e com as pessoas que
a cercam, por exemplo, ao ouvir os sons dos colegas e dos
professores. Esta aquisição fonológica pode ser natural, somente
devido ao convívio social, como pode ser intencional, por meio
de atividades dirigidas que são propostas pelo professor.

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Segundo Freitas, Alves e Costa (2007), as crianças devem ser
estimuladas à conscientização fonológica a partir da consciência
silábica, isto é, isolando sílabas, facilitando a alfabetização.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) lança aos


docentes o desafio de propiciar aos alunos a apropriação da
língua escrita e da leitura por meio da aprendizagem da escrita
alfabética, fazendo uso de atividades pedagógicas e lúdicas. Os
jogos fonológicos podem ser usados para atender este quesito
na alfabetização.

EXEMPLO:

O docente distribui imagens e pede aos alunos que separem


as que têm o mesmo som final, como “lata, mata, gata” ou “pato,
mato, gato, rato”, por exemplo. O objetivo é fazer com que as
crianças prestem atenção na sonoridade das palavras. Após o
jogo, o professor abre para uma reflexão, estimulando a ligação
entre os fonemas e os grafemas para que as crianças entendam

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o que cada som representa, conduzindo a uma reflexão sobre a
correspondência entre o que está escrito e a forma oral.

A Fonética e a Fonologia no
estudo do português
Sabemos que os docentes que lecionam para todas as faixas
etárias, mesmo para alunos das séries iniciais, deparam-se com
algumas dificuldades para despertar o interesse dos discentes
quanto à língua portuguesa, e o estudo de aspectos relacionados
à Fonética e à Fonologia fica em segundo plano, embora figure
nas gramáticas logo no começo, em primeiro lugar. Ferrarezi e
Teles (2006) apontam algumas questões complexas ao ensinar o
português do Brasil. Segundo eles, a Fonética na educação básica
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deixa margem a conceitos confusos em relação ao fonema,


ao fone e ao grafema e nas séries iniciais não são abordadas
questões de fonêmica dado à complexidade do tema.

Ao fazer exercícios para estimular a distinção entre


fonemas e grafemas, tradicionalmente, talvez não estejam sendo
apropriadamente aplicados, e as variações dos sons não ficam
claras, levando até a confusões entre o grafema e os fonemas,
gerando erros como de separação silábica, entre outros. Para
solucionar o problema, o professor tem que ter sempre em
mente que a Fonética se preocupa com a produção do som, como
eles são realizados e sua estrutura, mas a fonologia preocupa-se
em identificar se esses sons são distintivos e se exercem função
na linguagem. Por exemplo, o fonema /r/ pode se realizar de
forma alveolar, glotal, uvular ou velar como no caso de “caro e
carro” que são fones possíveis estudados pela fonética, ou seja,
variáveis idioletais, linguísticas, socioletais e paralinguísticas.

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O conceito de fone se contrapõe ao
de fonema. Fone diz respeito aos sons
efetivamente produzidos na fala, que variam
DEFINIÇÃO de região para região. Fonema é um elemento
da língua que corresponde à imagem mental
que os falantes têm das unidades sonoras do
sistema fonológico. A ortografia representa
os fonemas, e não os fones. Tanto quem
pronuncia [‘dia] quanto quem pronuncia
[dƷia] (“djia”) deve escrever (dia). (MARTINS,
[s. d.], on-line)

Quanto aos fones, vale lembrar que a mudança de um

Unidade 4
fone em dado contexto pode causar alteração no significante,
resultando em uma possível alteração no sentido. Além disso, o
fone é concreto, é uma onda acústica realizada em contexto, já
o fonema, normalmente, é abstrato. Em suma, fones distintivos
são chamados de fonemas que são estudados pela Fonologia.
Lembrou?

Mas não é possível entrar nesse nível de detalhamento,


deixando o termo fonema como “som” até o Ensino Fundamental
e os termos fone versus fonema para outros níveis da educação.

As vogais orais são sete em posição tônica, mas são cinco


em posição átona pretônica, quatro em posição postônica átona
não final e chegam a três em posição final átona. Se é assim,
por que alfabetizar indicando cinco vogais orais – [i, e, a, o, u]?
A confusão entre grafemas e sons acontece quando os alunos
não sabem como explicar o fato de vogais abertas poderem ser
representadas por letras sem acento agudo, por exemplo.

Outro exemplo, quando os alunos têm dificuldade para


distinguir hiatos e ditongos. Essa questão pode ser resolvida

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se o professor levar os alunos a compreenderem que os sons
precisam ser pronunciados e que devem atentar para os sons
mais intensos, fortes, ou mais fracos. Esta consiste em uma
abordagem na qual a prática oral em sala de aula faz com que o
problema entre ditongos crescentes e decrescentes desapareça,
por exemplo. Mas é claro que, nas séries iniciais, o aluno deve
desenvolver somente as quatro habilidades – leitura, escrita, fala
e audição.

Análise comparativa da presença


da Fonética e Fonologia nas
gramáticas da língua portuguesa
Em primeiro lugar, vamos considerar o fato de que
Unidade 4

gramática é o conjunto das regras que direcionam o uso


adequado ou correto de uma língua. Quando a palavra foi criada,
advinda do grego grámma, γράμμα, que significa letra, ela servia
somente para nos referirmos à leitura e escrita. Se considerada
a forma como é estudada, a gramática pode ser normativa,
descritiva, histórica e comparativa. No entanto, ela também tem
subdivisões, a Fonologia, a Morfologia, a Semântica e a Sintaxe.
De acordo com a gramática normativa de Faraco e Moura
(1996, p. 35), “a gramática está dividida em três grandes partes:
Fonética, Morfologia e Sintaxe”, demonstrando o fato de que
alguns gramáticos não consideram a Semântica como subdivisão
da gramática. Na Fonologia, temos a ortoépia – estudo que se
preocupa com a forma como os vocábulos são pronunciados,
a prosódia – trata da forma como a palavra é acentuada (sua
tonicidade, isto é, acento tônico e gráfico), e a ortografia, que
se atém à forma como as palavras são escritas, uma vez que a
escrita é a representação do som.

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Agora, vamos observar de forma breve como é apresentada
a Fonética e a Fonologia nos livros de língua portuguesa de
gramática normativa, em que, de maneira geral, o som é,
genericamente, chamado de fonema, sem maiores elucidações
ou alusão ao fone. Há uma confluência na forma como o som é
estudado nas gramáticas da língua portuguesa. Tal confluência
diz respeito à carência do estudo de alguns pontos importantes
além da transcrição. Mas, é certo que a transcrição fonética não
é o cerne do ensino de língua portuguesa no ensino regular,
somente o estudo do “som”, por assim dizer, aplicado aos
encontros consonantais, encontros vocálicos, dígrafos etc.

A gramática tem como intuito instruir os alunos sobre


as regras a serem seguidas e, como consequência, sinalizam

Unidade 4
a correção do que não deve ser seguido por constituir erro,
enfatizando as regras aceitas por um conjunto de falantes, o
dialeto. Temos a gramática normativa ou prescritiva, idealmente
correta ou culta por padronização, que determina as regras
mais apropriadas de pronúncia e acentuação, flexões de gênero,
número e pessoa, regência verbal e nominal, colocação etc., e
uma segunda, a gramática descritiva, que releva o contexto de
realização linguisticamente aceito no recorte social, buscando
descrever o funcionamento da língua. Isto se aplica ao estudar a
produção do som durante a fala.

Veja o vídeo para aprender mais sobre os tipos


de estudo de gramática prescritiva e descritiva de
uma visão bastante assertiva e bem humorada.
ACESSE Acesse o link disponível aqui .

Ao observar algumas gramáticas normativas, temos em


Faraco e Moura (1999), uma seção para o conceito de fonema
sem a distinção entre fonema e fone, apresentando a distinção
em relação à letra e aos conceitos de encontros consonantais e

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 15


vocálicos, dígrafos, alofones, aparelho fonador e tipos de sons,
sendo que há, na sequência, um encontro com o estudo da
divisão silábica ao tratar de tonicidade. Não é clara a explicação
sobre ditongos por vezes produzidos como hiatos, dado que,
para o tema, há uma tabela somente, e essa questão poderia
ser mais facilmente resolvida se relevados os sons que devem
ser pronunciados. A prática oral faria o problema desaparecer de
forma muito simples.

Fato semelhante ocorre em Ferreira (2007), de forma mais


sucinta, mas estruturalmente idêntico, e em Cipro Neto e Infante
(2003) e Sarmento (2005), bem como em Cegalla (2008), que
apresenta e explica o aparelho fonador e a classificação das vogais
e consoantes. Entre essas, observamos ainda que, em Mesquita
Unidade 4

(2002), há um pouco mais de atenção à transcrição fonética, que


acaba sendo meramente ilustrativa sem que provavelmente os
alunos precisem compreender efetivamente do que se trata, a
não ser o fato de serem símbolos que representam sons. Esta
é a única das gramáticas analisadas que evidencia o conceito
de fonema e fone, assim como a diferença entre Fonética e
Fonologia, ilustrando o aparelho fonador.

Mas é relevante o fato de que fica claro, em todas as


gramáticas observadas, que, na língua portuguesa, o intuito da
Fonética é fazer a análise e descrição da forma como as pessoas
falam em situações variadas de interação na sociedade, portanto,
temos aí atendida de certa forma sua relevância e necessidade
no estudo de língua portuguesa. Cagliari (1995, p. 43) afirma
sobre a Fonética: “preocupa-se também com os sons de uma
língua, mas do ponto de vista de sua função. Ela se ocupa dos
aspectos interpretativos dos sons e de sua estrutura funcional
nas línguas”.

16 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Figura 1 – Sons da fala

Fonte: Freepik

Mas, em nenhuma das gramáticas analisadas, fica clara a

Unidade 4
diferença entre Fonética e Fonologia, sendo que a preocupação
é, realmente, com a Fonética de maneira geral, não fazendo a
distinção da Fonologia como disciplina que estuda os sons da
língua em seu sentido abstrato ou mental (ou seja, os fonemas),
em relação à Fonética que estuda os sons da fala.

Ainda, embora nas gramáticas a Fonética e a Fonologia


estejam nos primeiros capítulos, no início dos livros, notamos que
é um assunto relegado à um exercício secundário de estudo, sem
a devida ênfase e importância no ensino da língua portuguesa.
Nas gramáticas, a Fonética acaba por ser o único item que
abrange o estudo do som, sem que sequer seja mencionado o
termo Fonologia.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 17


A foniatria é uma disciplina médica e seus
especialistas tratam dos transtornos da fala, da
deglutição e dos problemas da voz. O campo
SAIBA MAIS de atuação dos foniatras é bem próximo a dos
fonoaudiólogos. Algumas bibliotecas também
registram os sons.
A fonoteca é o lugar especializado que reúne
mensagens sonoras relevantes para sua dimensão
histórica, cultural ou linguística. A primeira
fonoteca musical foi criada na Áustria no final do
século XIX com a intenção de manter vivo o legado
dos sons. Vale observar que as gravações sonoras
fazem parte do patrimônio cultural de um povo. O
registro das fonotecas é realizado através de um
suporte material específico, o fonograma. (VESCHI,
Unidade 4

2019, on-line)

Considerando as gramáticas normativas que conceituam,


mesmo que de forma muito breve e falha, a Fonética e a Fonologia,
podemos citar Savioli (1992), que se limita a estabelecer noções
vagas sobre a Fonologia, sem mencionar a Fonética, comentando
que a palavra fonologia vem do grego antigo φωνή, phōnḗ, phoné-
= som da fala + -logia, λόγος, lógos = assunto de estudo) e que
é a área da gramática que estuda os fonemas, sem ter antes
demonstrado ao leitor o que vem a ser um fonema. Nesse caso,
conclui-se que talvez fosse melhor, em abordagem inicial ao
leitor, indicar que a Fonologia é uma parte da linguística que faz
o estudo dos sons de uma língua. Faraco e Moura (1996), por sua
vez, mencionam unicamente em sua gramática normativa que a
Fonética estuda os sons da fala, sem elucidar de forma objetiva
seu conceito, tratando de modo impreciso o que são os fonemas
e, principalmente, sem citar o que vem a ser Fonologia.

Em relação à gramática descritiva, podemos citar a obra


de Perini (1996), em sua Gramática Descritiva do Português,

18 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


estabelece critérios para uma análise gramatical descritiva.
Segundo o autor,
Numa tentativa de equacionar a imensa complexidade
da estrutura das línguas, os linguistas estabeleceram
diversos “níveis de análise”, definidos pelos vários
pontos de vista sob os quais se pode encarar os
fenômenos gramaticais. Por exemplo, ao estudar uma
frase como: “Ana desprezou Ricardo.” Pode-se assumir
o ponto de vista do estudo da pronúncia. Nesse caso,
serão estudadas as regras de pronúncia, como o que
nos obriga a pronunciar o primeiro a de Ana como
uma vogal nasal, por ser tônico e estar antes de uma
consoante nasal (n); ou a que nos obriga a pronunciar
a vogal final de Ricardo como um u, e não um o etc.

Unidade 4
A esse estudo das regras de pronúncia de uma língua
se dá o nome de “fonologia”. (PERINI, 1996, p. 49 apud
SOUZA FILHO; TELES, 2013, on-line, grifo nosso)

Mas, o conceito de Perini (1996) também apresenta


falhas, como o fato de não deixar totalmente claras as noções
de Fonologia nem da Fonética deixando lacunas conceituais,
sobretudo, na última, e, de certo modo, até embaralhando os
dois conceitos.

Retomando os conceitos de Cagliari (1995), que nos


parecem os mais apropriados, pois indicam que a Fonética tem
a função de descrever e analisar a fala dos seres humanos na
forma como é realizada, ou ocorre em diferentes situações
sociais que nos cercam, temos que a Fonética é responsável por
estudar “os sons da fala, preocupando-se com os mecanismos
de produção e audição. A fonética procura fazer o trabalho com
ênfase no aspecto descritivo da realidade fônica de uma língua”
(CAGLIARI, 1995, p. 42).

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 19


Quando um falante diz, por exemplo, potxi, txia, tudu,
tapa, até etc., a Fonética comenta as pronúncias tx e t, e
a Fonologia interpreta essa diferença atribuindo um
valor único a esses dois sons, uma vez que tx ocorre
somente diante da vogal i, e o t, diante de outro som que
não seja i. Fato semelhante quando um falante diz ora
iscada, ora escada. A concorrência de i ou e não muda
o significado e, segundo a Fonologia, o i e e, neste caso,
têm o mesmo valor. Porém, num outro contexto, como
em sílabas tônicas, a concorrência de i ou de e tem o valor
distinto de palavras. Por exemplo, numa palavra como vi,
se houver a troca de i por e, surgiria uma palavra nova vi e
vê, é chamado de fonema da língua. Quando um som pode
variar, como tx e t, é chamada variante. Tradicionalmente,
a palavra fonema tem sido usada para se referir
Unidade 4

simplesmente aos “sons” da fala, mas na linguística


moderna, tem um significado especial, como o que
foi descrito acima. Os exemplos utilizados pelo autor
mostram que a Fonologia vai se ater aos sons que se
opõem entre si, gerando, assim, diferenças de sentidos
entre os vocábulos, isto é, a característica principal para
que um som se transforme em fonema é que ele deve
apresentar um conjunto de feixes de traços distintivos,
como por exemplo: +sonoro, +consoante, -vogal etc.
(SOUZA FILHO; TELES, 2013, on-line, grifo nosso)

Desse modo, vimos que é possível dizer que as gramáticas


carecem de uma explicação que elucide de fato o conceito
de fonema como o conjunto de particularidades fonológicas
atinentes a uma unidade fônica ao leitor. Ao tratar da carência
da explicitação mais detalhada sobre fonema e fone, lembramos
que os fonemas são algo como “tipos” em oposição, porque o
significado vem da variação entre cada um. Em relação a isso,
Jakobson (1977, p. 60) afirma:

20 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


O único conteúdo linguístico, ou em termos mais
amplos, o único conteúdo semiótico do fonema é
a sua dissimilitude em relação a todos os demais
fonemas de um dado sistema. Um fonema significa
uma coisa diferente do que outro fonema significa
na mesma posição; é o seu único valor.

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza
de que você realmente entendeu o tema de
RESUMINDO estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que
vimos. Você deve ter compreendido a importância
da Fonética e da Fonologia na comunicação, a
consciência fonológica na escola, assim como teve
acesso a uma análise da presença da Fonética e
Fonologia nas gramáticas da língua portuguesa

Unidade 4

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 21


Variação fonológica do
português brasileiro
Ao término deste capítulo, você será capaz
de entender melhor as variações fonéticas do
português do Brasil. As mais diversas áreas
OBJETIVO de trabalho requerem profissionais com o
entendimento de que a linguagem vai além da
produção de sons, estabelecendo o meio pelo qual
o sujeito passa a existir como sujeito social.

A variação fonológica, as
circunstâncias contextuais e sua
repercussão na escrita
Unidade 4

A variação é um fenômeno que ocorre no português


devido a circunstâncias históricas, culturais, sociais e regionais,
motivadas pelos falantes da língua em determinadas situações.
Compreender as variações evita o preconceito linguístico em
relação à quem produz a fala de forma diferente, visto que nosso
idioma é rico em possibilidades até mesmo lexicalmente falando.
Há fatores extralinguísticos que interferem nas variações, como o
nível socioeconômico, localização geográfica, escolaridade, sexo,
idade, profissão, entre outros. As variações linguísticas podem
ser de ordem morfológica, semântica, estilístico-pragmática
(conforme a interação social), fonético-fonológica e lexical.

A escrita sofre influências da fala. Assim, a escrita está ligada


à realidade das pessoas, como condição social e econômica,
escolaridade, sexo, idade, grupo social etc. Na escola, o aluno
vai acessar a norma culta por meio da língua portuguesa e vai
notar, certamente, que a forma como fala é diferente da que está
aprendendo. Em uma mesma sala pode haver variações e, desde

22 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


cedo, os alunos devem ser conscientizados de que as variações
não são necessariamente um caso de “erro”, e as variantes
podem não influenciar totalmente a compreensão mútua.
Falantes de qualquer língua fazem reflexões sobre
o uso e a forma da linguagem que utilizam. Estes
falantes são capazes de fazer observações quanto
ao “sotaque” e às “palavras diferentes” utilizadas
por um outro falante. Qual o falante que não se
lembra de ter um dia discutido o “jeito diferente
de falar” de uma pessoa que seja de uma outra
região geográfica? Pode-se também determinar se
o falante é estrangeiro e muitas vezes precisar o
país de origem daquele falante. Qualquer indivíduo
pode “falar sobre” a linguagem e discutir aspectos

Unidade 4
relacionados às propriedades das línguas que
conhece. Isto faz parte do “conhecimento comum”
das pessoas. (SILVA, 2003, p. 11)

Com base nisso, algumas variações são mais prestigiadas


se comparadas a outras, e este pode ser um motivo de exclusão
social, o que leva à importância do estudo do “som” na escola.
Silva (2003) traz à tona reflexões muito relevantes sobre a
questão da variação:
Quando duas pessoas falantes de uma mesma língua
se encontram e passam a interagir linguisticamente,
certamente se dá uma interação ampla em que
cada um a das pessoas envolvidas passa a criar uma
imagem da outra pessoa [...] Falantes de qualquer
língua prestigiam ou marginalizam certas variantes
regionais (ou pelo menos não as discriminam), a
partir da maneira pela qual as sequências sonoras
são pronunciadas. Assim, determinamos variantes
de prestígio e variantes estigmatizadas. Algumas
variantes podem ser consideradas neutras do ponto

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 23


de vista de prestígio. Temos em qualquer língua
as chamadas variantes padrão e variantes não-
padrão. Os princípios que regulam as propriedades
das variantes padrão e não-padrão geralmente
extrapolam critérios puramente linguísticos. Na
maioria das vezes o que se determina como sendo
uma variante padrão relaciona-se à classe social de
prestígio e a um grau relativamente alto de educação
formal dos falantes. Variantes não-padrão geralmente
desviam-se destes parâmetros. Vale dizer que as
características das variantes padrão e não-padrão
nem sempre relacionam-se ao que é previsto pela
gramática tradicional como correto. No português
de Belo Horizonte, por exemplo, a terminação “-ndo”
das formas de gerúndio é pronunciada como “-no”:
Unidade 4

“comeno, fazeno, quereno, dançano, vendeno, etc”.


Note que a redução de “-ndo” para “-no” ocorre
somente nas formas de gerúndio. A forma verbal “(eu)
vendo” não permite a redução de “-ndo” para “-no”, e
uma sentença como “*Eu veno banana” não ocorre.
Vale ressaltar que a redução de “-ndo” para “-no” nas
formas de gerúndio em Belo Horizonte (e em outras
regiões do país) desvia-se do esperado como padrão.
Contudo, sendo o fenômeno amplamente difundido
entre os falantes, temos que a redução de gerúndio
faz parte da variante padrão em Belo Horizonte.
(SILVA, 2003, p. 12)

É por meio do estudo das variações do som que o professor


faz com que haja uma postura adequada e de respeito em relação
às manifestações individuais; o aluno poderá perceber que
deve fazer escolhas em determinados casos para se expressar
e é na escola que são demonstrados os limites de variação oral
de acordo com a situação. As marcas de oralidade podem ser
de vários tipos e incluem também o uso de gírias, falhas na

24 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


concordância tanto verbal quanto nominal, criação de novas
palavras, repetições, falta de pontuação, entre outros aspectos.

Silva (2003, p. 11) define: “Uma comunidade de fala consiste


em um grupo de falantes que compartilham de um conjunto
específico de princípios subjacentes ao comportamento
linguístico”. Sobretudo em um mundo globalizado em que as
mídias sociais estão em evidência, há o contato entre diferentes
estados e até países evidenciando variações linguísticas diversas.
Podemos identificar se a pessoa é falante nativo
daquela língua. Um falante nativo é um indivíduo que
aprendeu aquela língua desde criança e a tem como
língua materna ou primeira língua. Caso classifiquemos
o falante como sendo nativo, podemos afirmar se tal

Unidade 4
pessoa partilha da mesma variante regional daquela
língua. Não precisamos nem mesmo ver um falante
para determinar a sua idade ou sexo, e talvez seu
grau de educação. Isto pode ser facilmente atestado
quando atendemos a um telefonema. Podemos
também precisar se o falante é um estrangeiro que
tem a língua em questão como segunda língua. Na
grande maioria dos casos, falantes de uma segunda
língua têm características de sua língua materna
transpostas para a língua aprendida posteriormente.
Tem-se portanto o “sotaque de estrangeiro” com
características particulares de línguas específicas.
(SILVA, 2003 p. 11)

As questões relacionadas à variação fonética e a forma como


repercute no ensino do português é um fator sócio dialetal, pois
não está relacionado ao grau de escolaridade e sim ao contexto
sociocultural. A escola deve estar preparada para descrever e
explicar os fenômenos da linguagem para poder diagnosticar
limites de uso e sanar dificuldades. O preparo docente para o
ensino e a aprendizagem das variações é de cunho linguístico.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 25


Alguns livros didáticos do Ensino Fundamental trazem estudos
sobre as variedades fonéticas de forma mais ou menos subjetiva.
Alguns casos foram analisados de forma generalizada e resumida
para ilustrar como ocorrem.

As variações que têm que ser consideradas pelo aluno


não são poucas, são de ordem diatópica (regionais), diastráticas
(sociais) e diafásicas (estilísticas), e estas acabam afetando o código
escrito, embora sejam variantes fonéticas pertinentes à fala. É fato
que existe um estigma ou discriminação, por assim dizer, entre
as formas consideradas como fruto de “pouca instrução” e as
prestigiadas, mas isto decorre de fatores históricos político-sociais
de séculos passados quando se acreditava na homogeneidade de
língua, e na escola não é diferente, pois ainda há a crença de que
Unidade 4

a forma de prestígio é a que garante a não marginalização cultural


e evita o fracasso pelo uso “diferente” da fala.

Novamente, é na escola que devem ser ensinados os limites


de erro e variação, e já existem atualmente muitas pesquisas
relacionadas às dificuldades geradas pelas variações no ensino
do português dentro do aspecto fonético, estabelecendo a forma
como a fala influencia a escrita. Um ponto de partida para muitos
estudos é a predefinição enraizada de cinco vogais pretônicas /a,
e, i, o, u/ usadas na alfabetização com foco na forma escrita em
detrimento dos 12 sons vocálicos existentes, a se pensar:

26 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Figura 2 – Sons vocálicos

Unidade 4
Fonte: Mesquita (2002, p. 83).

A variação fonológica nas


gramáticas do português
A variação tem relação direta com o desempenho do
indivíduo na comunidade, o que faz com que os problemas
que aparecem na escola, sobretudo nas séries iniciais, sejam
também relacionados ao dialeto falado e escrito, uma vez que
nem sempre existe correspondência entre a grafia e os sons, e
esta é a relevância que recai da variação sobre o sistema fonético
e fonológico, já que existe a tendência de reproduzir na escrita

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 27


exatamente o que se fala na forma como ocorre, embora seja
certo que a escrita não é a representação direta dos sons da fala.

Retomando a existência do assunto nas gramáticas


do português, Cereja e Magalhães (2012), em sua gramática
“Português linguagens”, opta por estabelecer tipos de variação
linguística, demonstrando quais as aceitas e quais não são, de
forma taxativa e excludente. Na parte de Fonética e Fonologia, o
livro traz preceitos sobre a distinção entre som e letra. Em Hradec
et al. (2013), cobrindo a coleção de todo o Ensino Fundamental II,
a variação fonológica é tratada como opção de aplicação em uso
e há reforço da identidade linguística do falante na diversidade
do idioma. A variação linguística recai sobre a gíria e dialeto
como assuntos que emergem logo no início; e no estudo do som,
Unidade 4

há menção à sílaba tônica. Em Figueiredo (2012), há Fonética e


Fonologia sem que seja trabalhada a terminologia, e a variação
aparece como estudo das possibilidades de produção sonora da
língua. Em Delmanto (2012), aspectos fonéticos e fonológicos são
limitados à distinção de fonemas e letras. Já em Tavares (2012),
há aspectos de variação linguística regional e gírias em questão,
e na Fonética também se limita à distinção de fonemas e letras
com foco na escrita.

Os tipos de variações no
português brasileiro que levam a
diferentes realizações sonoras
As variações de uma língua levam às diferentes produções
fonológicas. Diferente da norma padrão que é baseada na
gramática prescritiva ou normativa, as variedades linguísticas são
as ramificações que ocorrem em uma língua, devido ao momento
histórico, geografia, contexto específico da fala, região e até
mesmo por convenções da sociedade. As variedades fonológicas

28 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


estão em confluência com os estudos da sociolinguística, que
tratam da forma como os diferentes costumes sociais e culturas
originam formas diferenciadas de expressão de um mesmo
idioma. Existem quatro grupos de variações:

• Sociais (diastráticas).

• Regionais (diatópicas).

• Históricas (diacrônicas).

• Estilísticas (diafásicas).

As variações diafásicas ocorrem de acordo com a situação,


em um determinado contexto de comunicação influenciando
a forma como a pessoa fala com seu interlocutor, usando uma
linguagem formal ou informal, por exemplo. Isso significa que um

Unidade 4
indivíduo pode mudar seu jeito de falar dependendo o ambiente
onde está.

As variações diatópicas são aquelas relacionadas à posição


geográfica, o que inclui o regionalismo. É uma forma de falar
diferente em virtude do local onde a língua se manifesta, como
a diferença entre a forma de falar do sul do Brasil em relação ao
nordeste. Essas variações são lexicais e fonológicas.

Existem, ainda, as variações diastráticas que são as que


acontecem devido ao convívio em um determinado grupo social,
em razão de preferência, cultura, profissões ou atividades sociais
em comum, como ocorre com os jargões e as gírias.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 29


Figura 3 – Variação diastrática: os jargões da área de Direito como “caput” (enunciado
principal de um artigo de lei)

Fonte: Freepik
Unidade 4

As variações diacrônicas são relativas à evolução histórica


da língua, ou seja, as transformações que ocorrem no tempo,
como o “vossamercê”, “botica”, além de grafias que caíram em
desuso como “frequência” que era com trema, e palavras que
usavam o hífen e foram modificadas como “anti-religioso” que se
tornou “antirreligioso”.
Figura 4 – “Vossa mercê” originou o “você” e, atualmente, o “cê”

Fonte: Freepik

30 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Os processos envolvidos na
produção e variação fonológica
Os fonemas apresentam um caráter contrastivo e invariável,
servindo como base para o sistema de escrita alfabética. No
português, os fonemas orientam os níveis fônicos e gráficos do
nosso sistema ortográfico.
A Fonética é uma disciplina muito antiga criada
por Panini (520-460 a.C., aproximadamente),
na Índia, no século IV. Nessa época, ela
IMPORTANTE descrevia o sânscrito, uma língua indiana
sagrada, e seus estudos são considerados
como a primeira gramática da civilização. Ela
só chegou ao Brasil em 1915. (SILVA, 2011).

Unidade 4
A Fonética trata da produção, da transmissão e da
percepção dos sons e, com base nisso, ela se divide em:

a. Articulatória – estuda a produção do som e os


movimentos do aparelho fonador.

b. Acústica – verifica o modo como é feita a transmissão


do som, ou seja, suas propriedades físico-acústicas.

c. Auditiva – estuda como os sons são percebidos pelo


ouvido. A fala é produzida durante a expiração do ar,
embora existam também sons produzidos durante a
inspiração.

Na produção do som, existem vários processos envolvidos


segundo Cagliari (1982, p. 12) apud Silva (2011, p. 2-3):

a. Neurolinguístico: codificação da língua ainda na mente,


como preparação ao que será pronunciado.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 31


b. Aerodinâmico: que envolve o sistema respiratório, com
os sons ejectivos, quando a corrente de ar é egressiva,
e os implosivos, quando há inspiração do ar.

c. Fonatório: modo como o ar é “excitado acusticamente”


ao passar pela cavidade glotal.

d. Articulatório: envolve o movimento da língua na


cavidade oral.

e. Acústico: estuda a propagação do som.

f. Auditivo: estuda como se dá a percepção no ouvido.

Considerando as variedades linguísticas, podemos entender


o quanto é difícil para uma criança que acaba de aprender a ler
e escrever separar os sons para escrever de forma segmentada
Unidade 4

palavras como “lavar as orelhas” que poderia vir a ser escrito


como “azorelhas” pelo aluno.

Entre os processos de produção do som citados, todos são


igualmente importantes para a fala e são interdependentes. No
entanto, o aerodinâmico merece destaque, uma vez que a fala
humana depende prioritariamente da corrente de ar.

Segundo Cagliari (1981) apud Silva (2011), como não


existe um órgão exclusivo para a fala, convencionou-se chamar
erroneamente o sistema por onde o ar passa de “aparelho
fonador”. A anatomia que se integra para produzir a fala, segundo
Cagliari (1982, p. 9) apud Silva (2011, p. 3), consiste em:

a. Parte respiratória: estrutura do processo de respiração,


como pulmões, brônquios, traqueia etc.

b. Parte fonatória: a laringe e cordas vocais.

c. Parte articulatória: cavidades supraglotais (elementos


situados acima da glote, como língua, cavidades bucais
e nasofaringal, lábios, velo etc.).

32 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Figura 5 – O aparelho fonador

Unidade 4
Fonte: Carvalho e Santos ([s. d.], on-line)

Os traços distintivos e as classes


naturais na produção do som e
de suas variações
Você já sabe que a Fonologia, também conhecida como
fonêmica, é o estudo de unidades de som chamados fonemas.
Por exemplo, a Fonologia visa descrever os fonemas (sons) que
são distintos em uma língua, como nas palavras “fala” e “mala”,
em que temos um par mínimo. A Fonologia é muito confundida

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 33


com a Fonética que é o estudo do discurso humano em geral,
incluindo a articulação e a percepção dos sons. Esse é justamente
o ponto-chave no ensino e na conscientização dos sons na sala de
aula. O trabalho de conscientização em relação aos sons feito na
sala de aula inclui o discernimento quanto a fonemas, entonação,
acentuação, sotaque e algumas características relacionadas ao
discurso, como a elisão, entre outras.
Elisão é uma alteração fonética que se dá
pelo desaparecimento de uma vogal átona no
final de uma palavra seguida por uma inicial
DEFINIÇÃO vocálica na palavra seguinte, como em d’agua,
Santa Bárbara d’Oeste etc.

Em todos os sistemas linguísticos, os sons semelhantes


Unidade 4

se agrupam em classes naturais, devido aos traços que têm em


comum. Esse fato explica como certos processos fonológicos
acontecem na língua, como a assimilação e a substituição.

Para que as substituições fonológicas sejam feitas pelas


crianças durante a aquisição da linguagem, por exemplo, são
usados segmentos da mesma classe natural, como quando a
criança não consegue falar o /r/ e usa o /l/ em seu lugar, porque
os dois sons são consoantes da mesma classe natural. No caso
de uma vogal alterada por um processo de assimilação em razão
da presença de uma vogal vizinha, isto ocorrerá envolvendo
vogais que compartilham os mesmos traços e pertencem à
mesma classe natural, como em “cumida” na execução da palavra
“comida”. Mas todas essas mudanças nos sons são previsíveis se
relevarmos a noção de classes naturais.

Descrevendo os segmentos por meio dos traços que os


distinguem, observou-se que esses se relacionavam com base em
suas características, além de se relacionarem em relação às suas
regras. Assim, a gramática gerativista criou o conceito de classes

34 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


naturais, ou seja, conjuntos de segmentos que se relacionam.
Para que dois ou mais segmentos formem uma classe natural,
eles têm que apresentar mais similaridades do que distinções,
além de apresentarem as mesmas regras fonológicas, sendo
também derivados, como acontece com as consoantes /t/ e /d/.

Os traços servem para caracterizar as classes sonoras que


têm comportamento uniforme, devido ao fato de apresentarem
as mesmas propriedades fonéticas, funcionando do mesmo
modo na Fonologia. Cada traço tem dois valores, como as vogais
que podem ser nasais e as orais. As nasais apresentam o traço
[+nasal] e as orais, o traço [-nasal] – os sinais de menos e mais
indicam a presença ou não da nasalidade, ou que “um som é
mais alguma coisa que o outro ou menos alguma coisa que o

Unidade 4
outro” (SOUZA; SANTOS [s. d.] apud IVO, p. 7).

Portanto, “os traços distintivos delimitam os sons em


classes naturais. O que quer dizer que os elementos de uma
classe natural têm certos traços distintivos em comum” (SOUZA;
SANTOS [s. d.] apud IVO, 2019 p. 6).

EXEMPLO:

“Quanto maior o número de traços distintivos de uma


classe, menor tenderá a ser o número de elementos. Observe:
/p, f, t, s, ʃ, k/ → compartilham o traço [-sonoro]” (SOUZA; SANTOS
[s. d.] apud IVO, p. 9).

Ainda, quanto às variações, vamos lembrar do alofone, que


é qualquer variação do fonema, relacionada a fatores sociais
(socioleto), estilísticos, idioletais ou geográficos. No entanto, em
relação à nossa análise das gramáticas e oferta de conteúdos
sobre o assunto, os alofones são abordados e exemplificados
somente em uma das gramáticas observadas, apesar de
sua importância de estudo devido à situação de realização

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 35


contextual ser muito relevante, e ainda, nessa limitada porção de
abordagem, há somente referência ao fato de a pronúncia variar
em determinada situação em contexto e nada mais.
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos.
Você deve ter compreendido os traços distintivos e
as classes naturais na produção do som e de suas
variações, estudou também os tipos de variações
no português brasileiro que levam a diferentes
realizações sonoras, como ocorre a variação
fonológica do português brasileiro e a variação
fonológica e as circunstâncias contextuais.
Unidade 4

36 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Interferências fonológicas na
escrita
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender ainda mais sobre a origem e distinção
entre a Fonologia e a Fonética, bem como
OBJETIVO sua relevância na escrita, elucidando como os
processos fonológicos podem causar reflexos na
escrita.

A distinção entre a Fonologia e


a Fonética e sua importância na
escrita

Unidade 4
Antes de falar das interferências fonológicas na escrita,
vamos retomar alguns conceitos importantes sobre o surgimento
da Fonética e da Fonologia, e a diferença entre estes dois estudos.
É importante lembrar que o sistema fonológico está relacionado
com a Fonologia, e o sistema sonoro se relaciona com a
Fonética. Ambas são igualmente importantes para o período da
alfabetização do indivíduo. Durante o período de aprendizagem
da escrita, é feita uma correlação direta com os sons, pois as
crianças estabelecem valores sonoros regulares para as letras,
com base na sua própria percepção do que conhece da linguagem
oral em relação à letra. Em outras palavras, o indivíduo usa o
reconhecimento e comparação dos sons, levantando hipóteses
para aprender a escrever e ler.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 37


Figura 6 – A criança compara os sons para aprender a escrita
Unidade 4

Fonte: Freepik

Você já estudou que o alfabeto do português é fonográfico,


porque parte da representação dos sons, mesmo que a relação
entre o sistema sonoro e o alfabeto não seja direta, o que
significa que não há uma correspondência “de um para um”
entre todos os sons e as letras. Há certa regularidade, mas não
uma correspondência “biunívoca” entre os sistemas. O professor
alfabetizador deve compreender essas hipóteses comparativas
entre os sons e as letras que os alunos fazem.

Mas, antes de seguir, vamos voltar um pouco no tempo.


No início do século XX, Trubetzkoy (1949) propôs a
instituição de duas ciências dos sons da linguagem,
sendo uma voltada ao ato de fala (Fonética) e outra, à
língua (Fonologia), cada qual com objetivos diferentes
de trabalho. Caracterizando-a de forma genérica,

38 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Fonética é uma disciplina descritiva, pois faz a
descrição do som real pronunciado pelo falante (som
da fala), em especial as particularidades de pronúncia.
Já a Fonologia interpreta os resultados apresentados
pela transcrição Fonética, ocupando-se do som ideal,
abstrato, acima das diferenças individuais de pronúncia.
Enfim, a Fonologia estuda o som que tem determinada
função na língua. Sendo interpretativa, essa ciência
sempre pressupõe o trabalho do foneticista. A
Fonética relaciona-se com a fala por descrever as
particularidades dela. A Fonologia relaciona-se com a
língua por descrever um sistema compartilhado por
todos (a organização sistemática global dos sons da
língua). Assim, Fonética e Fonologia correspondem,
respectivamente, à dicotomia fala e língua. Nos termos

Unidade 4
de Hjelmslev (1975), Fonética equivaleria à substância
do plano de expressão; Fonologia, à forma do plano
de expressão. (SILVA, 2011, p.1-2)

Já sabemos que a Ortografia, a Fonologia e a Fonética têm


ligação estreita e, para que a produção ortográfica seja garantida
da forma correta, é fundamental ter sólidos conhecimentos a
respeito da Fonética e da Fonologia.
Figura 7 – A fala é fundamental para a aprendizagem da escrita

Fonte: Freepik

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 39


Para mais informações sobre a evolução histórica
da Fonética e da Fonologia, faça a leitura das
páginas 13 a 17 do trabalho de Eliene Santos Silva.
SAIBA MAIS Acesse o link disponível aqui .

A forma como ocorrem as


interferências fonológicas na
escrita
É de extrema relevância que o aluno consiga distinguir se uma
alteração ortográfica é resultado de interferências fonológicas ou
se decorrem da arbitrariedade do sistema ortográfico.
Unidade 4

Durante a fase de alfabetização e letramento, a aquisição


das regras ortográficas é um desafio bastante complexo. No
entanto, as dificuldades com a ortografia não são relegadas
somente às fases iniciais de estudo, pois os problemas de
escrita acompanham o indivíduo durante sua vida em razão das
interferências da fala.
Figura 8 – Séries iniciais: alfabetização

Fonte: Freepik

40 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Como a fala é uma entidade dinâmica e muito flexível,
em constante mutação e atualização, acaba interferindo em
algum momento na escrita, mesmo em casos em que isso não
seria adequado. As interferências da fala às quais nos referimos
aqui são chamadas de processos fonológicos, que é quando, ao
escrever, o indivíduo cria hipóteses sobre sua escrita com base
no que fala.

A sociedade passa por transformações econômicas, culturais


e políticas, sem contar as diferenças nos relacionamentos entre
as pessoas. As mudanças envolvem hábitos, gostos, gestos, jeito
de falar, vestimenta, entre muitas outras coisas.

Mas a interferência da fala na escrita não se limita a esse

Unidade 4
fato. Existem fenômenos que ocorrem no português brasileiro
que são transportados para a forma escrita, embora em sua
maioria incorretos, como a ditongação, a monotongação, a
epêntese e o apagamento rótico que também são formas de
variação linguística.

O ditongo, em geral, ocorre em todas as línguas. Os


ditongos são dois segmentos separados, mas que possuem um
som de transição iniciado no primeiro elemento, se ligando ao
segundo. No português, temos 36 ditongos, sendo 21 crescentes
e 15 decrescentes.

Ditongação é uma alteração fonética que diz respeito à


fala realizada, levando à formação de um ditongo a partir de
uma vogal simples. Esse metaplasmo (desvio fonético) pode
ocorrer ao deslocar um segmento vocálico para a sílaba que o
antecede, o que faz um hiato se tornar um ditongo, por exemplo.
Na ditongação, uma vogal é transformada em ditongo. Pode
ser quando uma vogal e uma semivogal se juntam em uma
mesma sílaba, como ocorre em “desfaiz e desfaz”, “nóis e nós”. A
ditongação compreende ainda a transformação de um segmento

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 41


silábico em semivogal. Ela pode ocorrer devido à velocidade de
elocução, à extensão da palavra, ao contexto sociolinguístico no
nível do registro da fala, entre outros fatores. A ditongação não
condiz com a ortografia correta.

EXEMPLO:

Trêis, Jesuis, aliáis, arroiz, eficaiz, cartaiz, traiz, vocêis, gáis.

A monotongação é quando um ditongo é reduzido se


tornando um monotongo, ou seja, uma vogal simples, em razão
do apagamento da semivogal (glide). A língua portuguesa tem
muitos monotongos, tanto no Brasil quanto em Portugal.

EXEMPLO:
Unidade 4

Comedouro > comedoro

Peixe > pexe

Faixo > faxo


Figura 9 – Peixe monotongado = pexe

Fonte: Freepik

A epêntese é a variação que causa o acréscimo de uma letra


ou de uma sílaba na estrutura do morfema de palavras que são
derivadas.

EXEMPLO:

Adaptar > adap(i)tar

42 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Digno > dig(i)no

Cafezal > café(z)al

O apagamento rótico é um fenômeno da fala que também


acaba influenciando a escrita, como em “vocês vão cantá?”, em
que houve um apagamento do [r] final no verbo cantar. Esse
fenômeno acontece em várias regiões do Brasil e pode acontecer
em posição inicial, medial ou final nas sílabas ou nas palavras.
Existem dois tipos de rótico, o “r” forte e o “r” fraco.

EXEMPLO:

Careta > carreta

Caro > carro

Unidade 4
Os processos fonológicos que
podem causar reflexos na escrita
e variações
Há diversos processos fonológicos que aparecem em razão
das variações se relevados os dois níveis de abordagem dos sons:
aspectos segmentais e suprassegmentais.
Figura 10 – Alfabeto

Fonte: Adaptado de Freepik

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 43


O nível suprassegmental diz respeito ao ritmo e à entonação.
Ritmo está ligado à duração e tempo. No caso de uma sequência
de sílabas, às vezes, longa, às vezes, breve. Em termos fonéticos,
a sílaba é um “pulso torácico”. A percepção da duração de cada
sílaba é marcada por uma unidade chamada “mora” que mede
as pausas entre as proeminências das vogais. Já a entoação diz
respeito à tonalidade; às variações de melodia da fala, desde o
tom mais baixo até o tom mais alto. É da tonalidade que partem
os tipos de frases tão estudados na gramática “declarativas,
interrogativas, imperativas e exclamativas”. Embora os
suprassegmentais sejam aspectos que também ajudam a
construir o sentido, os segmentais são considerados mais
relevantes e consistem das alterações de fones ou de fonemas.
Esses processos fonológicos são chamados metaplasmos, o que
Unidade 4

significa que suprimem, acrescentam ou fazem transposições nos


fonemas das palavras e, ainda, podem ser analisados do ponto
de vista de um estágio ou ponto na língua ou idioma (sincrônico)
ou em estágios sucessivos (ponto de vista diacrônico).

Observe o quadro a seguir que apresenta alguns desses


processos fonológicos que representam variações e que podem
ter reflexo na escrita.

44 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Quadro 1 – Processos fonológicos que podem causar reflexos na escrita

Unidade 4

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 45


Unidade 4

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

Mais um exemplo de variação diz respeito ao esquema


padrão “consoante + vogal” da maioria das sílabas da língua
portuguesa. Mas em alguns dialetos brasileiros, podemos
encontrar a pronúncia de certas palavras com uma vocal chamada
de “epentética” entre consoantes que não são da mesma sílaba.
Exemplo: pneu /pi-new/, captar /ka-pi-tar/, absurdo [abisurdo].

46 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Ainda em relação à variação, não podemos esquecer da
neutralização que causa variações na produção do som.
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza
de que você realmente entendeu o tema de
RESUMINDO estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que
vimos. Você deve ter compreendido os processos
fonológicos que podem causar reflexos na
escrita, a forma como ocorrem as interferências
fonológicas na escrita e quais são elas, além da
distinção entre a Fonologia e a Fonética, bem como
sua importância na escrita.

Aquisição do som e da escrita

Unidade 4
e das variações
Ao término deste capítulo, você será capaz de
entender como é feita a aquisição do som, da
escrita na alfabetização e no letramento e das
OBJETIVO variações. Vamos lá?

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 47


A aquisição do som
Até os dois meses, um indivíduo pode se comunicar com o
mundo por meio de sons desconexos que incluem o choro. Até
os quatro meses, começam a emitir vogais e prestar atenção nos
sons a sua volta de forma a repeti-los e interagir com as pessoas.
A entonação e as variações de intensidade ocorrem a partir dos
quatro meses, e o bebê passa a mover a cabeça para identificar
a origem dos sons.

Somente entre seis e oito meses, a criança começa a


pronunciar vogais e consoantes mesmo que sem sentido preciso,
e, nesta fase, já identifica a origem dos sons e compreende seu
próprio nome. Entre oito e doze meses, já atende comandos
Unidade 4

simplificados e se expressa basicamente indicando negação ou


despedindo-se com a ajuda das mãos. É neste mesmo período
que é possível associar a silabação, como em “mama”, por
exemplo. Até os dezoito meses, a criança já terá a capacidade
de identificar os sons que vêm das laterais e de cima e começa
a produzir palavras significativas. Desta fase até os dois anos,
a criança detém cerca de 50 palavras em seu vocabulário e já é
capaz de estabelecer diálogos. Até os três anos, seu vocabulário
aumentará para 400 palavras em média, juntamente com a
capacidade de elaborar pequenas narrativas. Dos três aos
quatro anos, o vocabulário é extenso, e a criança é capaz de
elaborar frases de seis ou mais palavras, fazendo uso dos tempos
presente, passado e futuro com distinção adequada e facilidade
em ser compreendida. A criança de cinco anos, já plenamente
detentora da pronúncia de todos os fonemas, consegue detalhar
histórias e diálogos com boa noção temporal e espacial. Nessa
fase, as variações começam a tomar lugar de forma concreta, de
acordo com o contexto onde a criança vive.

48 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Embora muito bem-vindos, os sorrisos nos bebês
são reflexos. Só a partir do segundo mês de vida,
um indivíduo sorri intencionalmente.
SAIBA MAIS

Em relação à Fonética, aos três anos, a maioria das crianças


possui o que é chamado de “inventário fonético” completo,
embora com variações de monta entre elas. A aquisição das
consoantes acontece de forma gradual com o passar do tempo.
Aos três anos, os fonemas /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/,/l/, /m/ e /n/ já
se encontram presentes no sistema fonológico dos infantes. Já os
fonemas /f/, /v/, /s/, /ʃ/,/z/, /ʒ/, /ʎ/, /ɲ/, /tʃ/ e /dʒ/ são produzidas
entre três e quatro anos com variações de acordo com o contexto

Unidade 4
e a proveniência. Aos quatro anos, o fonema /r/ é adquirido, e
aos cinco anos estabiliza-se assim como o alofone [R]. Em suma,
aos três anos, a criança com desempenho normal já apresenta o
“teto” da produção fonêmica necessária para a fala. Estes dados
podem variar de um indivíduo a outro e conforme estímulos
recebidos pela criança.

É aproximadamente dos cinco aos sete anos que algumas


crianças já se encaminham para a aprendizagem da escrita. Mas
em relação à idade correta para aprender a escrever e ler, o
governo do Brasil estabelece por meio do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) o compromisso Federativo,
desde 2012, de alfabetizar todas as crianças até o terceiro ano
do Ensino Fundamental, o que significa, em outras palavras,
que no ensino oficial público brasileiro os alunos precisam ler
e escrever até os oito a nove anos. No entanto, não significa
que alguns alunos ficarão atrasados em relação a outros, pois é
possível que indivíduos de 5 a 6 anos já sejam alfabetizados, mas
o letramento continuará até que a linguagem seja desenvolvida
de forma completa.

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 49


Vamos imaginar a dificuldade para um aluno nesta idade
considerar a forma como fala por sua variedades linguísticas
em detrimento da forma como deve escrever e falar na escola,
minimamente, separando os sons corretamente para não
escrever, da forma como se fala, “ozalunos chegarão”. Todavia,
há uma diferença entre ser letrado e alfabetizado. Alfabetizado
é o aluno competente em relação à decodificação de letras e
números, à leitura de palavras, algumas frases e escrever da
mesma forma.

Letramento é mais do que esta decodificação. Letrado é o


aluno que consegue ler, escrever e efetivamente fazer uso do
conteúdo lido ou escrito de forma contextualizada e plenamente
em consonância com o que poderia expor na forma falada no
Unidade 4

contato social. Letramento é o pleno domínio da escrita, leitura


e também o controle da fala nas situações a que se destina em
contexto.

A importância da Fonética e da
Fonologia para a formação do
indivíduo
Tanto a Fonética quanto a Fonologia são ciências
preocupadas com o estudo do som praticado na fala sob
enfoques e especificidades diferentes. Isso significa que ambas
têm relação direta com a manifestação de sons, mas a Fonologia
estuda o som de uma língua e a Fonética, o som da fala articulada
pelo homem.

Se a Fonologia é a área da linguística que diferencia


os fonemas buscando padrões de sonoridade nas línguas,
demonstrando que os sons são distintos e exercem uma função
na linguagem, ela tenta também padronizar gramaticalmente
esses sons para compreender as diferenças gramaticais,

50 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


explicando a organização dos sons em uma mesma língua em
cada situação, relevando, inclusive, as variações que podem ser
sociais, geográficas, culturais etc. A Fonética tem o objetivo de
estudar as propriedades acústicas e articulatórias dos sons que
podem ser emitidos pela fala humana. Em outras palavras, a
Fonética se preocupa com o som que pode ser produzido pelo
ser humano, a forma de realização e a estruturação física, por
meio do estudo da fisiologia dessa produção acústica.
Figura 11 – Alusão à função na linguagem

Unidade 4
Fonte: Freepik

No ensino regular brasileiro, os conceitos e as noções de


fone e fonema são estabelecidos de forma confusa, como vimos
pela análise de algumas gramáticas. O fonema acaba sendo um
item generalizado para ambos os casos nas explicações aos
alunos. Mas a relevância desse estudo está centrada no som
nas gramáticas, sem deixar evidente o sentido de ser estudado,
tornando claro que os sons são necessários para as distinções

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 51


das funções das palavras, sendo imediatamente seguido pela
separação silábica. Essa carência gerada pela abordagem tão
simplificada seria um motivo, por si, suficiente para que se desse
maior relevância ao estudo da Fonética no ensino regular. Isso
sem contar a preocupação com a realização dos fonemas (usados
genericamente em lugar dos fones nas gramáticas) em situação
de contexto, que também é de suma importância.
Figura 12 – As letras são a representação do som
Unidade 4

Fonte: Freepik

Você já aprendeu que um fone é a menor unidade


fisicamente realizada de um som produzido durante a efetivação
da fala, variando em relação à cada região do país, entre outros
fatores. Os fones são representados pelos fonemas e estes
são representados ortograficamente pelas letras. O fone é a
concretização real de um fonema.
Descritos pela fonética, os fones são os sons
pronunciados pelos falantes de uma língua, todos
os humanos normais são capazes de reproduzi-

52 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


los. Eles se reúnem num conjunto relativamente
pequeno de propriedades fonéticas. Quando os fones
têm propriedades distintivas eles são chamados de
fonemas e tornam-se unidades linguísticas. [...] os
fonemas seriam uma realidade acústica registrada
pelo aparelho auditivo, ou seja, os sons elementares
e distintivos que o homem produz quando, pela voz,
exprime seus pensamentos e emoções. (MEDRADO,
2010, on-line).

Para Saussure (2012, p. 138) , os “fonemas são, antes de


tudo, entidades opositivas, relativas e negativas”.

Relembrando conceitos, você aprendeu que os alofones


consistem justamente na variação fonética de um determinado

Unidade 4
fonema. Em outras palavras, os alofones são a forma de realização
fonética do fonema em contexto e em determinadas circunstâncias.
A variação do alofone, também chamado de variante, relaciona-se
a fatos dialetais, considerando a localização geográfica e fatos que
envolvem o contexto fonético e articulatório. A variação também
pode ser devida a escolhas individuais de estilo, o idioleto. O
alofone é, então, uma ou várias formas de expressão fonética de
um mesmo fonema. Em outras palavras, alofones são os diversos
sons que são realizados por um mesmo fonema. No português,
por exemplo, a letra “t” na palavra “tipo” teria no Rio de Janeiro
um alofone do fonema /t/, neste caso, para os cariocas, seria uma
pronúncia [t∫] (ou seja, somente uma outra pronúncia alofone do
fonema /t/; uma variação).

Neste ponto, entramos em uma reflexão muito interessante


de Teles e Souza Filho (2013, on-line):
Como trabalhar com os alunos quando o nível de
ensino não permitir entrar nesses detalhes? Para não
se incorrer em erros, falando-se em fonema como se
esse fosse um termo genérico, como dissemos no

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 53


início, julgamos ser preferível falar-se em sons em vez
de fonemas no Ensino Fundamental e fones e fonemas
nos outros níveis de ensino.

Mas, sabemos que a escola deve construir as competências


e habilidades na língua portuguesa em todas as vertentes que
permitam o domínio da comunicação socialmente eficaz, relevando
as regras, os testes de admissão que virão no transcorrer da vida
acadêmica, e, tudo isso, sem deixar de analisar a grande variedade
de situações de comunicação reais de uso. Fato diretamente ligado
à fala e, portanto, ao estudo do som.
Figura 13 – Falar bem é realizar a comunicação de forma eficaz
Unidade 4

Fonte: Freepik

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) determinam


que o ato de ensinar é a promoção do conhecimento, e a língua
portuguesa é essencial para a interação com a sociedade e com o
conhecimento. Essa afirmação pressupõe a heterogeneidade e a
diversidade de utilização, já que as pessoas não falam da mesma
forma. A variação se faz presente em toda língua e não poderia
deixar ser diferente no português.

54 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


Se a importância do estudo da Fonética e Fonologia diz
respeito à maior compreensão da produção oral em contexto,
justifica-se, portanto, uma maior relevância na língua portuguesa,
até mesmo em atendimento aos PCNs que determinam:
Ao longo dos oito anos do ensino fundamental, espera-
se que os alunos adquiram progressivamente uma
competência em relação à linguagem que lhes possibilite
resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos
bens culturais e alcançar a participação plena no mundo
letrado. Para que essa expectativa se concretize, o
ensino de Língua Portuguesa deverá organizar-se de
modo que os alunos sejam capazes de: expandir o uso
da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com
eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a

Unidade 4
palavra e produzir textos — tanto orais como escritos
— coerentes, coesos, adequados a seus destinatários,
aos objetivos a que se propõem e aos assuntos
tratados; utilizar diferentes registros, inclusive os mais
formais da variedade linguística valorizada socialmente,
sabendo adequá-los às circunstâncias da situação
comunicativa de que participam; conhecer e respeitar as
diferentes variedades linguísticas do português falado;
compreender os textos orais e escritos com os quais
se defrontam em diferentes situações de participação
social, interpretando-os corretamente e inferindo as
intenções de quem os produz; valorizar a leitura como
fonte de informação, via de acesso aos mundos criados
pela literatura e possibilidade de fruição estética, sendo
capazes de recorrer aos materiais escritos em função
de diferentes objetivos; utilizar a linguagem como
instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder
para ter acesso, compreender e fazer uso de informações
contidas nos textos: identificar aspectos relevantes;
organizar notas; elaborar roteiros; compor textos
coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 55


fontes; fazer resumos, índices, esquemas, etc.; valer-se
da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações
pessoais, sendo capazes de expressar seus sentimentos,
experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher,
interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os
quando necessário; usar os conhecimentos adquiridos
por meio da prática de reflexão sobre a língua para
expandirem as possibilidades de uso da linguagem
e a capacidade de análise crítica; conhecer e analisar
criticamente os usos da língua como veículo de valores e
preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia. (BRASIL,
1998, on-line)

Ainda, em relação à escola comprometida com a realidade


da expressão do aluno e a construção das competências e
Unidade 4

habilidades desejadas na aprendizagem da língua portuguesa,


ao mesmo tempo construindo sentidos e vivências, deve
haver riqueza linguística, diversidade de conhecimentos que
enriqueçam a experiência com a linguagem. A língua portuguesa
deve tornar possível a proficiência de seu uso nos alunos,
concebendo diálogos culturais, com a arte, a ciência e outras
dimensões da interação social, sendo possível ler, compreender
e produzir textos orais e escritos. Os PCNs também contemplam
este compromisso:
Pode-se considerar o ensino e a aprendizagem
de Língua Portuguesa, como prática pedagógica,
resultantes da articulação de três variáveis: o aluno;
os conhecimentos com os quais se opera nas práticas
de linguagem; a mediação do professor. O primeiro
elemento dessa tríade o aluno é o sujeito da ação
de aprender, aquele que age com e sobre o objeto
de conhecimento. O segundo elemento o objeto de
conhecimento são os conhecimentos discursivo-
textuais e linguísticos implicados nas práticas sociais
de linguagem. O terceiro elemento da tríade é a prática

56 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


educacional do professor e da escola que organiza a
mediação entre sujeito e objeto do conhecimento.
O objeto de ensino e, portanto, de aprendizagem é
o conhecimento linguístico e discursivo com o qual
o sujeito opera ao participar das práticas sociais
mediadas pela linguagem. (BRASIL, 1998, on-line)

A Fonologia pode contribuir para o ensino do português


devido ao seu propósito de permitir ao aluno uma articulação
de posicionamento social para que a educação seja eficaz. As
consequências das variações da linguagem e a forma como são
ensinadas afetam diretamente o plano fonético e fonológico do
português. Os fatores internos e externos à língua que também
compreendem a Fonologia, envolvem faixa etária, geografia,

Unidade 4
economia, sexo, a própria escolaridade, história, cultura, entre
outros.

Reciprocamente, aprender a Fonética e Fonologia incorre


em habilidades de leitura correta, escrever bem e desenvolver
boa concordância. Além disso, a Fonética é a garantia de uma
boa formação de produtores de textos orais e escritos, tamanha
sua relevância. O estudo da Fonética assegura a habilidade de
ler, ouvir, falar, escrever e expressar-se bem de maneira geral.
Deixar a Fonética em segundo plano, sem monitorar a produção
da fala em sala, é uma forma de subestimar e desqualificar a
produção social competente do aluno como interlocutor, já que
a linguagem é o principal fator de casos de fracasso escolar.
Para isso, é necessário que os professores também conheçam
a relevância do estudo da Fonética e da Fonologia na língua
portuguesa. Mas a perspectiva talvez esteja melhorando como
afirma Simões (2006, p. 36):
O estudo do plano fônico da língua portuguesa
vem ganhando algum relevo nos últimos
tempos. Apesar da dedicação de pesquisadores

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 57


à análise dos fenômenos fonêmicos e fonéticos
do português no Brasil e em Portugal, verifica-se
(ainda hoje) certa marginalização desse plano de
análise no âmbito da formação dos profissionais
de Letras. Nas grades curriculares de alguns cursos
de Letras, fica patente que o tempo reservado ao
estudo do plano fônico é mínimo.

Para que isso ocorra, o professor de língua portuguesa e o


pedagogo precisam propor estratégias didáticas e metodológicas
para efetivar um ensino funcional da Fonologia. O motivo para tal
é enfatizar a prática pedagógica da Fonética e da Fonologia para
que o professor mobilize plenamente os respectivos conceitos no
preenchimento das lacunas atualmente presentes no curso de
língua portuguesa sobre o tema. Além disso, para os professores,
Unidade 4

é necessária a plena compreensão não somente dos conceitos


de fonética e fonologia, mas também de sua importância para
conseguir despertar nos alunos um interesse maior no assunto,
como fenômeno da linguagem.

O estudo dos sons, portanto, é importante para aperfeiçoar


outros elementos como as relações lexicais, versificação,
variantes linguísticas, ortografia, entre vários outros domínios.
Introduzir o estudo de Fonética e Fonologia desde as séries iniciais
por meio da conscientização sonora é essencial para uma melhor
compreensão da língua portuguesa. Além disso, as diferenças
linguísticas podem ser responsáveis pela desigualdade social,
uma vez que o rendimento escolar está diretamente ligado
à proficiência na língua, e a escola é responsável pelo “falar e
escrever bem”.
É indispensável para os professores que atuam na
alfabetização, quer de adultos, quer de crianças
o conhecimento de Fonética e noções sobre o
funcionamento da Fonologia de sua língua, para que

58 FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS


esses professores melhor atendam às necessidades
de seus alunos. Existem técnicas fonológicas que,
empregadas em atividades com os alunos, podem
fazê-los se debruçar com interesse sobre os fatos da
língua. Além disso, é fundamental saber lidar com a
variação fonético fonológica - que sempre vai existir -
e levar o aluno a compreender essas variações, para
relacioná-las aos elementos gráficos. Especialmente
em relação às variações fonéticas que sofrem
influências de natureza social, a sua compreensão
permite lidar mais adequadamente com o preconceito
linguístico que pode surgir na sala de aula. (SEARA,
2011, p. 67)
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu

Unidade 4
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
RESUMINDO deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos.
Você deve ter compreendido um pouco mais
sobre a aquisição do som e da escrita, bem como
das variações e qual a importância da Fonética e
da Fonologia para a formação do indivíduo. Até a
próxima!

FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS 59


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