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Pandemia do coronavírus – 1
Organizadores
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
abordagem multidisciplinar
1ª Edição
ANAP
Tupã, São Paulo, Brasil
2021
2
EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, Tupã, São Paulo. CEP 17.605-310.
Contato: (14) 99808-5947
www.editoraanap.org.br
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editora@amigosdanatureza.org.br
SUMÁRIO
____________________________________
PREFACIO EN ESPANÕL 07
PREFÁCIO EM PORTUGUÊS 09
Capítulo 1 11
I CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – 2021:
REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS, EDUCAÇÃO AMBIENTAL
E SUSTENTABILIDADE
Marta Juliá; Angélica Góis Morales
Capítulo 2 21
OS DESAFIOS PARA AS CIDADES BRASILEIRAS E AS ALTERNATIVAS PARA O MUNDO
PÓS-PANDEMIA
Jeferson Tavares
Capítulo 3 29
POR UM URBANISMO DE CANTEIRO: PROJETO, PESQUISA E POLÍTICAS PÚBLICAS
NA CIDADE PÓS-PANDEMIA
Adalberto da Silva Retto Júnior
Capítulo 4 49
A EPIDEMIA INVISIBILIZADA É A MAIS VIOLENTA
Carolina Russo Simon
Capítulo 5 67
NEGACIONISMO CIENTÍFICO EM TEMPOS DE PANDEMIA
Sandra Regina Mota Ortiz
Capítulo 6 75
RESGATE DO QUE NUNCA DEVERIA DEIXAR DE TER SIDO: O PAPEL HUMANO E
HUMANIZADOR DA EDUCAÇÃO E DO EDUCADOR
Leonides da Silva Justiniano
Capítulo 7 95
REFLEXÕES SOBRE CENÁRIOS SOCIAIS E ECONÔMICOS NO PERÍODO PÓS-PANDEMIA
COVID-19
Edilene Mayumi Murashita Takenaka
Capítulo 8 103
O IMPACTO AMBIENTAL DA COVID 19 NA GESTÃO DOS RESÍDUOS URBANOS
Alba Regina Azevedo Arana
Capítulo 9 111
GESTÃO E USO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS: REFLEXÕES SOBRE O BRASIL
Ana Paula Novais Pires Koga
125
Capítulo 10
LABORATÓRIOS DO MUNDO REAL: A MICROBACIA DO RIBEIRÃO DO LAGEADO COMO
PROJETO PILOTO DE POLÍTICA PÚBLICA PARA A AÇÃO CLIMÁTICA
Ana Paula Koury
6
Capítulo 11 147
RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA: DESAFIANDO OS LIMITES DA SOBREVIVÊNCIA
Carolina Vieira da Silva
Capítulo 12 157
SAÚDE AMBIENTAL, SAÚDE HUMANA: O SER HUMANO FORMA PARTE DA NATUREZA
Edson Vicente da Silva
Capítulo 13 171
SAÚDE ÚNICA (ONE HEALTH): OLHAR HOLÍSTICO SOBRE A PANDEMIA E O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Vamilton Alvares Santarém
Capítulo 14 183
IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NOS SERVIÇOS DE ZOONOSES QUE ATUAM NO
CONTROLE DE LEISHMANIOSE VISCERAL DA REGIÃO DE SAÚDE DE PRESIDENTE
PRUDENTE, SÃO PAULO
Lourdes Aparecida Zampieri D’Andrea; Caroline Lucio Moreira
Capítulo 15 195
MÉDICOS VETERINÁRIOS SÃO PROFISSIONAIS ESSENCIAIS NA PANDEMIA DE COVID-19?
Fernanda Nobre Bandeira Monteiro
Capítulo 16 203
TÉCNICAS EPIDEMIOLÓGICAS APLICADAS AO ESTUDO DA PANDEMIA DE COVID-19
Rogério Giuffrida
Capítulo 17 215
ESPIRITUALIDADE E SAÚDE: O DEBATE CONTEMPORÂNEO
Maria Cândida Avellar Oliveira Moraes de Lima
Capítulo 18 221
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E PÓS-PANDEMIA: POR QUE INVESTIR NA QUALIFICAÇÃO
DURANTE A CRISE?
Wilson Roberto Lussari
Capítulo 19 235
PERMACULTURA URBANA: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PRODUÇÃO E PARA A VIVÊNCIA
NAS CIDADES DURANTE E PÓS-PANDEMIA
Fernando Sérgio Okimoto
Capítulo 20 261
CORONAVÍRUS E ATIVIDADE FÍSICA: REFLEXO FÍSICO E MENTAL
Silas Seolin Dias
Pandemia do coronavírus – 7
PREFACIO EN ESPANÕL
____________________________________
Poner la ciencia en lengua diaria: he ahí un gran bien que pocos hacen
José Martí Pérez
El año 2021 quedará en nuestra memoria como un año triste, donde el mundo
atravesó por un evento cruel, la pandemia de Covid-19, causada por el virus Sars-CoV-2
que, sin embargo, ha llamado a los seres humanos a reflexionar sobre su desempeño en
esta “Tierra” donde “todos” debemos convivir en armonía.
Pero yo he recibido un gran regalo, la lectura de 20 capítulos, resultados de
conferencias dictadas en el I Congreso Latino-Americano de Desarrollo Sostenible ¬ 2021,
que conforman el libro “Pandemia do Coronavírus: abordagem multidisciplinar”,
patrocinado por la Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista de Tupã, a quien
agradezco la invitación y el honor de escribir su prefacio.
Ha sido tan grande el placer de esta experiencia que me satisface recomendar
encarecidamente la lectura del texto.
El lector podrá disfrutar de variadas temáticas, enfoques y metodologías
profundamente tratadas que convergen en un gran reto: ¿Cómo será el mundo,
nuestro mundo, pos Covid-19?, donde se reflexiona sobre lo que me gusta nombrar
“imaginario-certeza”; todo lo que imaginamos posible y necesario hacer, razonar,
integrar y vivir pos pandemia, en contraposición con lo que en realidad tenemos certeza
que continúa ocurriendo.
Solo miremos algunos puntos de la geopolítica actual: Inestabilidad y conflictos
de poder; Cambio climático; Ciber riesgos; Incertidumbre en el sistema de comercio.
No es secreto que la carrera por la hegemonía global, o al menos por la construcción
de un escenario multipolar, considera al clima como una variable más y pone a su servicio
los discursos y las prácticas en torno al cambio climático. Detrás de las apelaciones a
una humanidad en abstracto se traslucen intereses particulares y correlaciones de fuerzas.
Para muchos analistas, el recién concluido encuentro de las partes de la
Convención de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático: COP26, realizado en
la ciudad de Glasgow (Escocia), fue un fracaso, básicamente por su incapacidad para
imponer medidas que definitivamente detengan a los hombres en su negativo accionar
sobre el clima una vez más, en la larga sucesión de reuniones gubernamentales iniciadas
hace casi tres décadas, en 1992, con el Convenio Marco sobre el Cambio Climático.
8
PREFÁCIO EM PORTUGUÊS
____________________________________
Poner la ciencia en lengua diaria: he ahí un gran bien que pocos hacen
José Martí Pérez
O ano de 2021 ficará na nossa memória como um ano triste, no qual o mundo
passou por um acontecimento cruel, a pandemia Covid-19, causada pelo vírus Sars-CoV-2
que, no entanto, exortou os seres humanos a refletirem sobre seu desempenho nesta
"Terra" onde "todos" devemos viver juntos em harmonia.
Mas recebi um grande presente, a leitura de 20 capítulos, resultados de palestras
transcritas no I Congresso Latino-Americano de Desenvolvimento Sustentável-2021, que
compõem o livro “Pandemia do Coronavírus: abordagem multidisciplinar”, promovido
pela Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista de Tupã, a quem agradeço o convite
e a honra de escrever seu prefácio.
O prazer dessa experiência foi tão grande que me satisfaz recomendar
encarecidamente a leitura do texto.
O leitor poderá desfrutar de diversos temas, abordagens e metodologias
profundamente discutidas que convergem em um grande desafio: Como será o mundo,
o nosso mundo, pós-Covid-19?, em que se reflete sobre o que gosto de chamar
"imaginário-certeza"; tudo o que imaginamos possível e necessário fazer, raciocinar,
integrar e viver pós-pandemia em contraposição do que realmente temos a certeza de
que continua ocorrendo.
Vejamos apenas alguns pontos da geopolítica atual: Instabilidade e conflitos
de poder; Mudança climática; Riscos cibernéticos; Incerteza no sistema de comércio.
Não é segredo que a corrida pela hegemonia global, ou pelo menos pela construção
de um cenário multipolar, considera o clima mais uma variável e coloca a seu serviço
os discursos e as práticas em torno das mudanças climáticas. Por trás dos apelos a uma
humanidade em abstrato, aparecem interesses particulares e correlações de forças.
Para muitos analistas, a recém-concluída reunião das partes da Convenção
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima: COP26, realizada na cidade de Glasgow
(Escócia), foi um fracasso, basicamente pela impossibilidade de impor medidas
que definitivamente detenham as ações negativas da humanidade sobre o clima,
mais uma vez, na longa sucessão de reuniões governamentais iniciadas há quase
três décadas, em 1992, com o Convênio-Quadro sobre a Mudança Climática.
10
CA P Í T U L O 1
____________
I CONGRESSO LATINO-AMERICANO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – 2021:
REFLEXÕES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS,
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE1
Marta Juliá2
Angélica Gois Morales3
PRESENTACIÓN EN ESPANÕL
1
Este texto é fruto da transcrição das falas das professoras Marta Juliá e Angélica Gois Morales, que
compuseram a mesa de abertura do I Congresso Latino-Americano de Desenvolvimento Sustentável,
Tupã, São Paulo ¬ maio de 2021.
2
Doctora en Derecho y Ciencias Sociales de la Facultad de Derecho y Ciencias Sociales de la Universidad
Nacional de Córdoba, Investigadora del Centro de Investigaciones Jurídicas y Sociales UNC-CONICET,
Profesor Titular de Medio Ambiente y Legislación de los Recursos Naturales en la Facultad de Ciencias
Económicas, Jurídicas y Sociales de la Universidad Nacional de San Luis. E-mail: dramartajulia@gmail.com
3
Professora doutora. Livre-Docente em Gestão e Educação Ambiental. Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP), campus Tupã. E-mail: ag.morales@unesp.br
12
APRESENTAÇÃO EM PORTUGUÊS
Agradeço à ANAP pelo convite. É um prazer participar deste evento com esta
temática emergente e de grande relevância. Abordar sobre a questão da sustentabilidade
perpassa as políticas públicas, como comentado pela professora Dra. Marta Juliá.
As políticas públicas são fundamentais para pensar em sociedades sustentáveis. Minha fala
parte desse enfoque, pois quando falo aqui de sustentabilidade, é necessário considerar
que é um conceito situado temporal e historicamente, e que precisamos entender que
é dinâmico, que está em um processo permanente de mudanças e deve ser visto a partir
de suas particularidades. Portanto, falar em sustentabilidade é considerar que é um
conceito pluridimensional. Olha o nosso contexto dentro da pandemia, em que a situação
já não estava tão boa antes, e com a pandemia vêm à tona todas as vulnerabilidades
socioambientais, e aquilo que era invisível, neste momento torna-se totalmente visível
para toda a sociedade, ou melhor, para quase toda, já que vale ressaltar também que há
os movimentos negacionistas.
Então, ao abordar sobre a pandemia do novo coronavírus, sabemos que, na
verdade, os cientistas não foram totalmente surpreendidos, principalmente aos da área
ambiental, devido à degradação de áreas naturais e inúmeros problemas que estamos
vivenciando entre a relação sociedade e natureza. Não faltam estudos científicos que
fazem menção aos riscos de possíveis pandemias que poderiam estar relacionadas
à zoonose, associadas ao desmatamento de florestas nativas, entre outros problemas
socioambientais em favor do contexto do agronegócio, que é uma atividade de capital
intensivo. E o que faltou, ou ainda falta é o planejamento, principalmente o planejamento
governamental e, por isso, o debate das políticas públicas se faz tão importante, pois
é emergente. Assim, sabe-se da possibilidade das pandemias como questões que ameaçam
toda a humanidade, mas não se sabe quando outras virão.
Nesse contexto, partimos do pressuposto de que ao falar de educação ambiental na
perspectiva da sustentabilidade é porque nos deparamos com um sistema insustentável.
Como cita Boff (2012), há a insustentabilidade do sistema financeiro mundial que está
em uma crise sistêmica, devido a um sistema capitalista; há insustentabilidade social da
humanidade devido à injustiça mundial, já que não garante os meios de vida para grande
parte da humanidade; há a crescente dizimação da biodiversidade, já que o atual modo
de produção que visa a um alto nível de acumulação de riqueza, comporta a dominação
16
da natureza e exploração dos recursos naturais e, dessa forma, para esses propósitos,
utilizam-se de todas as tecnologias, como tecnologias para extração de gás e petróleo,
nanotecnologia, entre outras; como também os agrotóxicos que são terríveis, devastando
todos microrganismos que habitam o solo e garantem a fertilidade da Terra e os efeitos
de tudo isso é a redução da biodiversidade; há as mudanças climáticas e, assim, há a
insustentabilidade do planeta Terra, em que mostra que já chegamos a comprometer muitos
dos recursos naturais do nosso planeta (BOFF, 201). Tais pontos de insustentabilidade
nos trazem a exigência de pensar sobre a sustentabilidade e a nossa capacidade de
responsabilidade com as questões socioambientais, bem como a importância da elaboração
de processos de gestão e educação ambiental mais sustentáveis; e a Covid-19 nos traz
esse alerta para olhar as situações de insustentabilidade e a necessidade de agirmos como
cidadãos. É emergente!
Diante do que abordei agora, quero trazer sobre os dados da sobrecarga da Terra,
que tem relação com o consumo dos recursos naturais diante da sua capacidade de
regeneração nos ecossistemas. Isso pode ser demonstrado pela data que marca o dia
da Sobrecarga da Terra, que é o momento em que a demanda anual da humanidade em
relação à natureza ultrapassa a capacidade de renovação dos recursos naturais naquele
ano. De acordo com os dados socializados pela Global Foootprint Network, em 2020,
no dia de 22 de agosto o planeta atingiu o esgotamento de recursos naturais para o ano
inteiro e, desde então, já estão no saldo negativo. Em 2019, atingiu o esgotamento em
29 de julho, em 2017, no dia 2 de agosto, e em 1993, o dia da sobrecarga da Terra foi
em 21 de outubro, para terem uma ideia. Então, o que podemos notar é que estamos
gastando o capital natural do planeta a cada ano, reduzindo ao mesmo tempo sua
capacidade futura de regeneração. Estamos consumindo muito rápido e, ao mesmo tempo,
falando em sustentabilidade. Temos uma Agenda Ambiental, pautada na Agenda 21,
depois os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), e atualmente nos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS), e mesmo assim estamos consumindo cada vez
mais o capital natural a cada ano. É algo para pensar!
Nós sabemos que a contenção da pandemia atual e de outras que poderão vir deve
estar associada à diminuição do desmatamento, à revitalização da biodiversidade e das
condições ecológicas de áreas degradadas. Acredito que isso seja um dos caminhos para
controlar ou minimizar as causas do surgimento de novas pandemias. E o que vemos
Pandemia do coronavírus – 17
E a pandemia pode ser uma oportunidade para isso, para refletirmos o que de fato
são prioridades para nós e conhecermos as causas do que estamos enfrentando. E isso deve
se dar a partir do diálogo de saberes (científicos e não científicos, por meio de diálogos
interculturais) para compreender e agir no mundo, e na busca de problematizar isso,
transformar conhecimentos por meio desses saberes ambientais e por meio de integração
de processos naturais e sociais de diferentes ordens de materialidade e esferas de
racionalidade para pensar o hoje e naquilo que queremos para o amanhã.
Tais reflexões são muito importantes, mas, para tanto, é preciso recuperar a nossa
capacidade de indignação, porque vemos muitas pessoas querendo naturalizar as mortes
da Covid-19, já que não é natural ver tantas perdas com a existência da vacina, assim como
não é natural ver tantas mortes de negros, não é tão natural ver tantas criminalidades, etc.
Essas reflexões sobre a indignação foram levantadas pelo educador ambiental Marcos
Sorrentino quando fizemos uma live juntos, via Sala Verde Rede de Educação Ambiental
da Alta Paulista (REAP) no ano passado (2020). Realmente, precisamos parar de ir pelo
caminho de querer naturalizar esses fatos. É necessária uma revolução no sentido
de mudança de valores, e, para isso, a indignação é importante, bem como saber
compreender cada conjuntura. Por exemplo, o teto é igual para todo mundo? Quando
dizemos: fica em casa, será que a casa é a mesma para todos? Sabemos que não e temos
diversos fatores que impactam nisso e que não discutimos! É esse olhar mais crítico
e reflexivo que Santos (2020) nos traz em relação às invisibilidades, indiferenças e
desigualdades que a pandemia escancara. Outra questão é a necessidade da participação
política (no sentido de ter tomada de decisão), e para tanto, é preciso politizar a educação
ambiental. Portanto, para atuar em Educação Ambiental, é necessário olhar para nossos
territórios, a fim de que todos os moradores possam participar e compactuar de maneira
que essa ação seja coletiva. Portanto, precisamos nos reconectar socialmente;
nos reconectar de forma solidária e participar dos processos comunitários. A Educação
Ambiental vem nesse encaminhamento, de sensibilizar, de trazer uma discussão no sentido
de estimular esse pensamento reflexivo, mas também de incentivar processos
participativos na comunidade, como formas de atuar em seus territórios.
Bom, é isso, acredito que são algumas pistas iniciais para continuarmos seguindo,
e para fechar minha fala trago o indígena Ailton Krenak, que vem ajudando muito nas
reflexões socioambientais:
20
REFERÊNCIAS
CAVALCÂNTI, C. (org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo:
Cortez, 2003.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia de Letras, 2019.
LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
C A P Í T U L O 2
_____________
Jeferson Tavares4
INTRODUÇÃO
As cidades e a pandemia
4
Professor doutor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da Universidade de São Paulo (USP),
Paulo. E-mail: jctavares@usp.br
22
A pandemia tem comprovado que as cidades estão integradas, mas não estão
equipadas. As políticas do século XX que buscaram integrar o mercado nacional pela
infraestrutura regional prosperou, contudo, a sociedade do consumo não é saudável.
Complementarmente, pode-se verificar que esse processo de urbanização
polarizado, concentrado e hierarquizado está apresentando tendências de transformação
pela dispersão urbana e pela metropolização do espaço brasileiro. Na prática, essas
transformações representam, respectivamente, o reescalonamento funcional do tecido
urbano e a regionalização do ordenamento territorial pela intensificação das
interdependências e mudanças nas hierarquias urbanas.
Nesse contexto, a própria definição de centro-periferia é questionada, pois no
decorrer do processo de dispersão urbana e de metropolização do espaço, as funções
das áreas centrais alternam-se e o próprio entendimento do que é periferia exige
novas definições.
Os condomínios residenciais de classe média espalhados pelas zonas rurais de
municípios prósperos estão recepcionando os moradores das metrópoles. No entanto, os
pobres dos assentamentos precários mudam-se para os espaços residuais das cidades por
não terem condições econômicas de alugar moradias, ainda que precárias, nas periferias.
Esses fatores estão sempre acompanhados de um debate sobre o antagonismo entre
cidade compacta e cidade dispersa que inibe uma discussão mais ampla e cria um falso
dilema, pois a defesa da cidade compacta pelo adensamento da terra equipada encontra
argumentos contrários pelos processos de gentrificação proporcionados pelo alto preço
dos espaços mais bem infraestruturados. Ao mesmo tempo em que a crítica à cidade dispersa
pela ocupação de áreas verdes é contraposta à oportunidade de soluções alternativas de
assentamentos rurais ou do uso de soluções de infraestruturas vinculadas à natureza
possíveis somente em ocupações de baixa densidade.
A densidade é relevante para constituir qualidade do ambiente urbano, mas a
discussão deve priorizar o modelo de desenvolvimento. Compreender o modelo de
desenvolvimento vigente e construir uma perspectiva daquilo que a sociedade almeja deve
ser o centro do debate. Nesse sentido, algumas respostas à crise sanitária, de saúde, política
e econômica iluminam particularidades do processo de urbanização que podem ser
potencializadas pelo planejamento.
Pandemia do coronavírus – 25
A emergência de alternativas
CA P Í T U L O 3
____________
INTRODUÇÃO
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Agradeço e parabenizo a organização do evento, especialmente as professoras Doutora Geise Pasquotto
e Doutora Sandra Benini.
6
Professor Doutor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, São Paulo. E-mail: a.retto@unesp.br
30
Para ver uma cidade, não basta ficar de olhos abertos. Em primeiro lugar,
é necessário descartar tudo o que nos impede de vê-la, todas as ideias
recebidas, as imagens pré-constituídas que continuam a obstruir o campo
visual e a capacidade de compreensão. Então é preciso saber simplificar,
reduzir ao essencial a enorme quantidade de elementos que a cada segundo
a cidade põe sob o olhar de quem a olha, e conectar fragmentos dispersos
em um desenho analítico e unitário, como o diagrama de uma máquina, a partir
do qual você pode entender como funciona. [...] É com novos olhos que hoje
olhamos a cidade, e encontramos uma cidade diferente diante dos nossos olhos
[...] Mas é daqui que devemos começar a entender, primeiro como a cidade
é feita e, segundo, como ela pode ser refeita. (CALVINO, 2002, p. 6, tradução
do autor)7.
No meu ponto de vista, as duas citações são dois convites contundentes e úteis,
no momento atual, para buscarmos a essência do que poderia ser planejamento urbano na
contemporaneidade, a partir de mecanismos colaborativos e conflituosos que animam
os contextos urbanos e podem nos fazer pensar quais políticas e inovações podem
transformar as cidades em laboratórios da democracia.
À luz da crise econômica, das tensões sociais e ambientais, o centro-oeste paulista
aparece como região em profunda transformação, principalmente do campo, e que
necessita de quadros interpretativos e cenários evolutivos capazes de estabelecer
novo impulso e nova identidade. Por um lado, o ponto de partida da investigação foi
a interrogação sobre a natureza das práticas de elaboração de planos diretores para
cidades pequenas e médias. Esse questionamento visava a repensar, readequar,
ou mesmo adaptar os parâmetros e instrumentos produzidos pelo Ministério das Cidades
os quais, em certa medida, mostravam-se “folgados” quando se pensa nessa escala
de cidades. Por outro lado, buscou-se delinear as bases da formação de um banco de
dados científico, iniciado com a pesquisa histórica a partir do Projeto Temático Fapesp
(2006-2009), com o objetivo de remontar o processo de configuração e transformação
das zonas pioneiras. Pretende-se que o seu conjunto possa funcionar como um
“manifesto” para uma agenda programática que tem a ambição de delinear a visão futura
de região ambientalmente sustentável, baseada em dados científicos que funcionem
como apoio para a Planificação Territorial e Urbana.
7
Per vedere una città, non basta tenere gli occhi aperti. Occorre per prima cosa scartare tutto ciò che
impedisce di vederla, tutte le idee ricevute, le immagini precostituite che continuano a ingombrare il campo
visivo e la capacità di comprendere. Poi occorre saper semplificare, ridurre all’essenziale l’enorme numero
d’elementi che a ogni secondo la città mette sotto gli occhi di chi la guarda, e collegare frammenti sparsi in
un disegno analitico e insieme unitario, come il diagramma d’una macchina, dal quale si possa capire come
funziona. [...] É con occhi nuovi che oggi ci si pone a guardare la città, e ci si trova davanti agli occhi una città
diversa [...] Ma è di qui che bisogna partire per capire – primo – come la città è fatta, e – secondo – come la si
può rifare. (CALVINO, 2002).
32
Como se pode ressaltar, “o urbanismo hoje não é apenas técnica, mas baseia-se
em três aspectos da palavra cidade: urbs, a cidade como ambiente físico da atividade
do homem; civitas, a sociedade que vive naquele ambiente; polis, a atividade de governo,
mediante a qual a sociedade organiza o próprio espaço (RETTO JR., 2020)[...]. E que a
profissão do “urbanista-pesquisador”, principalmente da universidade pública, se diferencia
por responder ao imperativo de, na organização da cidade, amparar os interesses coletivos,
cuja lógica o mercado é incapaz de levar em conta.
A figura desse profissional, destinado à formulação técnica dos instrumentos para
a gestão das transformações urbanas e territoriais, é depositária dos saberes necessários
para fornecer as bases das decisões das autoridades políticas relativas ao meio urbano
e ao território. Os métodos e ferramentas a serem adotados são os do planejamento
urbanístico como saber constituído, no qual o Plano Diretor se coloca como principal
dispositivo para assegurar o direito à cidade, protegendo-a do livre jogo das forças de
mercado (RETTO JR., 2020).
Porém, a entrada do projeto urbanístico nesse cenário permite apresentar, à lógica
quantitativa da acumulação das coisas, a coerência qualitativa de sua “disposição”
(localização) que consiste em dar ao projeto o valor exploratório da especificidade
e potencialidade dos lugares; e também apontar a viabilidade das escolhas. Portanto, não se
trata somente de colocar empecilhos ou limites, mas de inovar com os novos modelos de
natureza espaço-temporal que produzam ambientes originadores de tempo e valor estético.
A interpretação da cidade contemporânea apresentou aos urbanistas questões
inéditas, que necessariamente conduzem a reavaliações de princípios consolidados pela
prática da profissão. As transmutações atuais do espaço urbano na cidade
contemporânea pós-pandemia, mesmo naquelas de dimensões diminutas – não porque
nascem de um dia para o outro, mas pela radicalização com que se impõem – criam uma
série de necessidades ao modo de fazer urbanismo, derivadas do reconhecimento do
fenômeno em ato e que exigem o repensar de figuras e imagens recorrentes em nosso
vocabulário. Uma dessas imagens é aquilo que, há não muito tempo, era chamado
de “diagnóstico” e que, frequentemente, ainda faz parte da terminologia corrente dos
profissionais do urbanismo e dos técnicos públicos, carregando em si a carga do referido
método que pretendia curar as cidades doentes.
Pandemia do coronavírus – 39
subsequentes e necessárias à demanda social, não apenas para fazer alusão cultural,
mas organizacional e funcional e executar uma tarefa específica: levar as intervenções para
os lugares e, em paralelo, mediá-los em relação às suas identidades. Tal configuração
informa o decurso da construção de conhecimento para o projeto, que vai desde o estudo
da forma como elemento de representação de acordo com o tempo, do espaço entre o
original e o modificado até à análise do funcionamento da estrutura do processo.
O mesmo projeto territorial torna-se então sistêmico, representando a verificação
e controle das novas balanças propostas ou impostas pelas alterações, informado e
medido em parâmetros ordenados, estes de acordo com a capacidade dos ecossistemas
em manter sua produtividade, adaptabilidade e capacidade de renovação e modificação.
É por isso que funciona como projeto de sustentabilidade ecológica, social e econômi ca.
A análise não pode, portanto, ignorar o valor expresso pela paisagem como
continuidade visual histórica, culturalmente interpretável e sujeita a transformações.
A organização da escala, como expressão explícita no espaço geográfico dos sistemas
ecológicos, é a base interpretativa para a construção do conhecimento relativo ao
complexo da paisagem. A arquitetura do modelo de representação resultante vê um
quadro integrado de unidades ambientais em diferentes escalas, tamanhos e com
características de resolução de heterogeneidade, cujos domínios proporcionais
correspondem aos processos ecossistêmicos.
Dentro dessa perspectiva, destaca-se outro ponto importante na elaboração de
planos diretores que, mais uma vez, culmina no alargamento da equipe, pois há
necessidade de consultores capazes de responder ao viés interdisciplinar da problemática.
Além do mais, o itinerário das pesquisas deve confrontar-se com a transversalidade das
políticas públicas ligadas ao território e estas precisam referir-se aos âmbitos disciplinares,
exigências que auxiliam o desenvolvimento e a integração de diversos saberes. Planificar
hoje é uma atividade multidisciplinar (mesmo em cidades de pequeno porte) e congrega
entendimentos para promover a aquisição, a compreensão e a capacidade de
desenvolvimento original da abordagem das políticas urbanas e territoriais. A implantação
de políticas que visem a alcançar tais objetivos pressupõe a aplicação seja de conceitos,
técnicas e instrumentos novos e harmonizados, seja de uma análise sistêmica que
possibilite visualizar a complexidade das inter-relações entre a cidade, suas estruturas
e seu território.
42
Para refletir sobre tais questões proponho uma provocação feita pelo professor
Sechi e que abordei em um texto concebido juntamente com a professora Ana Maria
Lombardi Daibem no âmbito do curso Internacional de especialização lato sensu:
Planejamento Urbano e Políticas Públicas: Urbanismo, Paisagem, Território, intitulado:
46
C A P Í T U L O 4
_____________
INTRODUÇÃO
Acredito que esse convite me foi feito exatamente pelo fato de eu ser professora de
Geografia, doutoranda em Geografia e trabalhar alguns anos com pesquisas situadas no
campo da Geografia da Saúde. Assim, trabalhando há alguns anos com Geografia da Saúde
descobri que: o princípio primeiro da geografia é a vida e como geógrafa eu tenho a
preocupação de mudar o mundo, para que essas vidas possam: “Viver mais, Viver Bem, Viver
Melhor” (GUIMARÃES; PICKENHAYN; LIMA, 2014, p. 29).
Para isso, não vejo forma de que vidas femininas possam conquistar o direito de ser
e o direito de viver se eu não for feminista. Então, apresento para vocês um pouquinho
da minha visão sobre como pensar o mundo depois dessa crise sanitária, um mundo da
pós-pandemia da Covid-19, dentro de uma perspectiva mais agravante, que é a epidemia
invisibilizada, a epidemia concomitante à pandemia da Covid-19 e que, com certeza,
é mais violenta.
Desde março de 2020 nós vivemos situações extremas, todos os dias marcados por
mortes. Dormimos e acordamos falando de contaminadas e mortas, essa realidade cruel
chegou ao mundo inteiro, mas o fato é que, apesar do vírus ser “democrático” e contaminar
todos os tipos de pessoas, algumas pessoas sentem muito mais os impactos, seja pela
contaminação, pelo desemprego, pelo isolamento, ou pelo luto. O fato de sentir mais a
pandemia se dá pelas diversas opressões que se interseccionam.
8
Doutoranda em Geografia na Faculdade de Ciências e Tecnologias - Universidade Estadual Paulista (FCT/UNEP).
E-mail: carolina.simon@unesp.br
50
A epidemia invisibilizada
Então, quando começamos a olhar para a violência como uma questão de saúde
pública, entendendo enquanto uma epidemia e identificando seus focos endêmicos,
desmitificando este problema como um resultado histórico da formação socioespacial
brasileira9 (SANTOS,1977). A primeira ação deve ser voltada para os sistemas de saúde: Como
atender? Como parar? Como coibir a violência que é uma enfermidade?
9
Formação socioespacial é uma categoria formulada pelo Professor Milton Santos (1977) derivada da
Formação Econômica e Social enquanto modelo teórico de Marx. Segundo ele, trata-se da "inseparabilidade
das realidades e das noções de sociedade e de espaço inerentes à categoria da formação social e desenvolver
uma reflexão original, visando conduzir a uma teoria do espaço, apoiada nos pressupostos da construção
intelectual de uma outra categoria: de formação sócio-espacial” (SANTOS, 1977, p. 19).
52
Porém, mesmo com os dados nos mostrando a gravidade da situação vivida por
mulheres em todo mundo, parece que perdemos a capacidade de se indignar. Eu coaduno
com o geógrafo Raul Borges Guimarães quando ele fala que: “Passamos a conviver com
a violência numa espécie de patologia social da indiferença, a maior das patologias
geográficas” (GUIMARÃES, 2015, p. 52). Então, como ressaltar que as mulheres estão sendo
espancadas, estupradas e mortas pela violência e pela Covid-19 se a sociedade não se
comove com as perdas de vidas?
Para entender violência trago uma das reflexões de que mais gosto, que é da
Hanna Arendt (1990), ela é filósofa política e ela fala que a violência é tanto a prática
da banalidade do mal quanto ela é diferente do poder. Para fomentar esse debate ela afirma
que a violência tem um caráter instrumental e esse caráter instrumental é um meio que
necessita de orientação e justificativa do fim, mas a violência sendo instrumental por
natureza é racional “ela não promove causas, nem a história, nem a revolução, nem o
progresso nem o retrocesso; mas pode servir para dramatizar queixas e trazer a atenção
pública” (ARENDT, [1994] 2010, p. 99).
Quando começamos a entrar na discussão de violência, existe uma ferramenta
analítica que é quase uma sensibilidade, como diria a criadora do termo, que é a
interseccionalidade (CRENSHAW, 1989). A interseccionalidade se faz extremamente
necessária, porque evidencia os sistemas de opressões e dominações sob os quais vivemos.
No caso brasileiro, a interseccionalidade faz parte da nossa formação histórica, a partir
de uma “Encruzilhada de opressões” como diz Carla Akotirene (2019).
A interseccionalidade, essa ferramenta analítica, evidencia o patriarcado, que é um
sistema de opressão e dominação muito mais antigo que o capitalismo. O capitalismo
tem um pouco mais de 500 anos nos oprimindo por meio das classes sociais, já o patriarcado
tem mais de 5 mil anos. Existem pesquisadoras que dizem que o patriarcado
é iniciado ainda no período neolítico. O patriarcado é uma construção muito antiga
na nossa história, mas ele não é uma condição humana. Não é humano a mulher apanhar,
não é humano a mulher morrer pelo fato de ser mulher, isso é uma construção histórica
e “o patriarcado representa tanto uma estrutura de poder baseada tanto na ideologia quanto
na violência” (SAFFIOTI, 2004, p. 60).
54
Fonte: Youtube: canal @TED, The urgency of intersectionality | Kimberlé Crenshaw.07 de dezembro de.
2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=akOe5-UsQ2o&t=694s&ab_channel=TED. Acesso
em 20 de fevereiro de 2021.
Na estrutura da família patriarcal, o homem tem o poder pelo fato de ser homem.
Como vocês podem ver na Figura 2 a seguir, o pai tem poder sobre todas e todos,
os meninos têm o poder sobre as mulheres. No quadro a seguir, percebam que o mais novo
tem sempre o poder sobre a irmã, mesmo que ela seja mais velha. Eu acho esse quadro
incrível, porque mostra exatamente o que a Heleith Saffioti quis dizer nesta citação:
“o homem tem poder apenas pelo fato de ser homem, independente de suas capacidades
e este poder varia segundo a sua inserção nas diferentes classes sociais, porém existe
sempre uma mulher com menos poder que o último dos homens” (SAFFIOTI, 1994, p. 460).
Pandemia do coronavírus – 55
Seguindo nas análises para América Latina, deparamo-nos com fato de que esta é a
região mais letal para as mulheres, é o local mais perigoso do mundo fora de uma guerra
para ser mulher. Das 2.559 mulheres que morreram por feminicídio na América Latina,
metade morreu no Brasil, com uma média de três mulheres assassinadas por dia
(PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD; ONU MULHERES,
2017). Lembrando que as Américas foram o epicentro da Covid-19.
Sabemos que o patriarcado existe e a família patriarcal é uma ideologia que sustenta
a violência, agora temos que entender onde estamos e compreender o que aconteceu na
América Latina, para assim, conseguir evidenciar e compreender as suas feridas da
colonialidade (QUIJANO; MATIÁREGUI, 1991).
As feridas da colonialidade foram criadas pelos homens brancos que chegaram aqui,
nos feriram tanto que até hoje somos o local mais perigoso do mundo para as mulheres,
principalmente, para as “não brancas” que sofrem ainda mais com um sistema de gênero
moderno colonial (LUGONES, 2014).
56
A situações específicas das mulheres não brancas no Brasil é ainda pior, pois temos
um sistema patriarcal-capitalista-racista (SAFFIOTI, 1969) e fomos o último país a abolir a
escravidão. Essa falta de tomada de decisão lá no passado faz com que, hoje, o racismo
seja estruturante em nossa sociedade, apresente-se de forma sistemática, sendo a forma
que o conceito de raça foi operacionalizado na história (ALMEIDA, 2019). A raça foi
operacionalizada através do sistema de sexo, a mulher negra é o outro do outro
(KILOMBA, 2012). Então, nesse sistema todo de cruzamento de opressões, temos um
patriarcado, um sistema que nos classifica em classes e aqui na sociedade brasileira são as
mulheres indígenas e as mulheres negras as que mais morrem, as mais estupradas,
e eu vou mostrar isso para vocês.
O estupro
Como podemos perceber, esse mapa faz o cruzamento das cores, é um mapa
bivariado. No topo da legenda temos o cinza, que representa alta taxa de mulheres
estupradas e alta taxa de meninas estupradas. Quanto mais claro mais baixo o número
de meninas e de mulheres vítimas. Reparem que no Brasil não existe nenhum lugar que
está mais claro, todos os lugares têm estupros de mulheres e meninas com taxas altas.
Alguns Estados chamam mais atenção, como, por exemplo, Mato Grosso do Sul, onde a
taxa é alta tanto para as mulheres quanto para meninas.
Fonte: Elaborado pela autora, a partir dos dados de FBSP (2020) e IBGE (2018).
Nesse curto tempo, de janeiro a julho de 2020, foram 8.182 mulheres estupradas
no Brasil. Já as vítimas vulneráveis, que são principalmente as meninas, mas são todas
as aquelas mulheres também que não conseguem parar o ato sexual, ou porque estão
drogadas, ou porque estão alcoolizadas, ou porque convivem com algum tipo de
deficiência, foram 17.287 somente nos primeiros seis meses do ano de 2020 (FBSP, 2020).
Um dos fatores importantes para a gente entender o estupro na sociedade brasileira
é que ele funciona, até hoje, como forma de “correção”. As mulheres que não se enquadram
nos padrões da família patriarcal, como por exemplo as mulheres lésbicas. Os dados que
58
O feminicídio
Apesar de alguns Estados se apresentaram “mais brancos”, com taxas mais baixas,
os dados ainda são muito altos e temos que entender toda essa subnotificação, o que
realmente tem por trás dessas informações. Só para termo uma ideia, as vítimas de
feminicídio foram 1.326 no ano de 2019, neste período da pandemia não está sendo
diferente, foram 631 feminicídios no Brasil e dessas 66,6% eram mulheres negras
(FBSP, 2020), o patriarcado é classista e racista no Brasil e dados nos escancaram isso.
Mapa 2 – Meninas e mulheres vítimas de feminicídio e homicídio no Brasil, janeiro a julho de 2020
Fonte: Elaborado pela autora, a partir dos dados de FBSP (2020) e IBGE (2018).
Outro ponto importante para analisar é que apesar de a lei do feminicídio ser aplicável
ao assassinato por ódio ou desprezo de mulheres travestis e transexuais, nós ainda não
temos estatísticas oficiais, mas segundo o Dossiê de assassinato contra travestis e
transexuais da Associação Nacional de Transexuais e Travesti (ANTRA), de janeiro a agosto de
2020, 129 pessoas foram mortas e todas eram negras, um aumento de 70% em relação
a 2019 (BENEVIDES; NOGUEIRA, 2020). Estão dizimando as mulheres transexuais e travestis!
Pandemia do coronavírus – 61
Para completar os fatos e dando mais pistas do que acho importante para ajudar
a pensar um mundo pós-pandemia, não posso deixar de evidenciar que a intersecção de
opressões que sofrem as mulheres que são mães na sociedade brasileira. O nível de ocupação
de mulheres com e sem crianças é bem discrepante: mulheres de 25 a 49 anos vivendo com
crianças de até 3 anos de idade representam 54,6% e homens da mesma faixa etária vivendo
com crianças 89,2%, enquanto mulheres sem crianças 67,2% e 83,4% para os homens sem
crianças, segundo o estudo Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2019). Mães não têm vez.
Esses são alguns dos dados que acho podem nos ajudar a começar a pensar por onde
começar, mas o fato é que não se faz nada sem dinheiro.
Esse desinvestimento que temos assistido neste governo genocida comprova a
naturalização da violência como uma prática deste governo. O governo Bolsonaro não fez
o repasse ao programa de combate à violência contra mulher, enquanto o mundo inteiro
está alertando que vivemos uma pandemia de violência. Entre 2015 e 2019 o orçamento
da secretaria da mulher do governo federal diminuiu de 119 milhões para 5,3 milhões,
segundo o Tribunal de Contas da União (LINDER, 2020).
Tratando especificamente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos, temos dois grandes problemas. Primeiro, a pasta vazia, não temos dinheiro para
combater a violência e o pouco dinheiro que temos não foi usado. Em 2020, Damares,
a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, anunciou que ia liberar 25 casas da
mulher brasileira, não entregou (LINDER, 2020). A casa da mulher brasileira é um
equipamento público extremamente importante para o Brasil, que foi lançado em 2015 no
governo da Presidenta Dilma, que previa que toda capital de Estado deveria ter esse
equipamento, que reúne diversos serviços de forma integrada, como apoio psicólogo,
assistente social, creche, abrigo para mulheres em situações extremas de violência,
delegacias especializadas no atendimento a mulheres, entre outros.
A situação é crítica, é um projeto, temos que ficar atentas com a questão de gastos,
porque sem dinheiro não se faz política pública.
62
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Qual o primeiro passo para o Brasil não ser mais igual a esse atual, que mata as
mulheres dessa forma tão cruel e brutal, no qual não temos o direito de existir em nossas
próprias casas? Diante de todo esse panorama de desgraça, pensar pós-pandemia
da Covid-19 como um cenário diferente que nós, mulheres, vivemos é bem difícil, exige
uma capacidade imaginativa de criação de resistência coletiva.
Primeiro, precisamos de mais mulheres na política, que se comprometam em fazer
política para mulheres. Não quaisquer mulheres, mas mulheres que se comprometam com a
causa das mulheres, principalmente das mulheres trabalhadoras e não brancas. Alguns
estudos mostraram na pandemia, a partir de experiências práticas, que as mulheres têm uma
eficiência no combate ao coronavírus. Os países liderados por mulheres se destacaram
no combate ao vírus, exemplos: Katrín Jakobsdóttir, na Islândia; Jacinda Ardern, na Nova
Zelândia; Angela Merkel, na Alemanha; Tsai Ing-Wen, em Taiwan; e Erna Solberg,
na Noruega (BERTOLDO; MARTINS; FERRARI, 2020). Esses fatos devem ser levados em
consideração para continuarmos disputando o espaço de mais mulheres na política.
Outro ponto é que devemos aplicar a lei que temos. Temos uma das melhores leis
do mundo de combate à violência doméstica, de combate à violência contra mulher,
que é a Lei Maria da Penha (11.340/2006), que veio a partir de uma condenação do Brasil
por não julgar o caso de Maria da Penha. Essa lei é completíssima, traz diversas formas
e mecanismos tanto para prevenir a violência quanto para coibir, e ela está de acordo
com as metas globais até 2030 da ONU de combate à desigualdade de gênero.
A lei também implica produção de dados estatísticos, enquanto recomendação
legal. A produção de dados estatísticos é extremamente importante e, como acabamos
de perceber, os dados indicam de forma poderosa a qualidade de vida das mulheres nos
países que vivem. Então, a Lei Maria da Penha é uma lei que nós precisamos nos apoderar
mais dela, até porque ela também traz os mecanismos de proteção e prevenção à vida das
mulheres, como, por exemplo, as casas-abrigo, as delegacias especializadas em atender
mulheres vítimas, que ainda são equipamentos insuficientes para demanda do nosso país.
A casa-abrigo é um equipamento no caso de a mulher estar em risco iminente
de morte, para quando a violência doméstica estiver tão extrema em que a mulher
vai morrer se não for retirada de casa. A partir de um boletim de ocorrência ela é levada
a um abrigo, só que esse não é um abrigo qualquer, ele possui uma estrutura para essa
Pandemia do coronavírus – 63
mulher voltar a ter uma vida após esse trauma violento e compreender as estruturas
patriarcais, a base da violência vivida. Entretanto, só possuímos 153 casas-abrigo no Brasil,
em 134 municípios dos 5.578 municípios brasileiros. Precisamos urgentemente investir
em casas-abrigo (IBGE, 2018).
Precisamos investir em delegacias especializadas no atendimento a mulheres
vítimas, apesar de a primeira delegacia ter mais de 35 anos de implementação, somente
8,3% dos municípios do Brasil possuem esse equipamento (IBGE, 2018). Então, acreditamos
que apostar na ampliação e implementação desses equipamentos públicos ainda é uma
saída necessária.
Diante do exposto, propomos pensar a violência como um problema de saúde. Pois
ao pensar enquanto problema de saúde, devemos pensar em como promover a saúde das
mulheres mais que combater a violência. Então, para promover a vida, é preciso evidenciar
que as violências existem! É preciso incentivar a denúncia.
Acreditamos que não há formas de se pensar em promoção da saúde, para qualquer
população, sem a educação. Já dizia Paulo Freire: a educação é libertária (1986) e hoje
temos plena certeza, frente a todo esse cenário de ódio contra nós, mulheres, que
precisamos promover uma educação feminista.
Quero terminar dizendo que estamos de luto, mas estamos em luta, nunca vamos
nos esquecer daquelas que se foram. Nós somos as bruxas que não conseguiram matar!
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art. 1º da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Brasília:
DOU, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm.
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Pandemia do coronavírus – 67
C A P Í T U L O 5
_____________
INTRODUÇÃO
10
Pós-doutora em Neurociências pelo Instituto de Ciências Biomédicas na Universidade de São Paulo (USP),
São Paulo; professora do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências do Envelhecimento
– Universidade São Judas Tadeu; diretora de Pesquisa e Pós-graduação Stricto Sensu – Universidade São Judas
Tadeu. E-mail: sandra.ortiz@saojudas.br
68
Como verificado por Kahan (2015) em seu estudo sobre negacionismo em relação
ao aquecimento global, mesmo indivíduos que conseguem compreender a explicação dos
cientistas e respondem corretamente a questões sobre dióxido de carbono e relações entre
mudanças no clima e a intensidade de furacões, podem apresentar um posicionamento
negacionista. No contexto de aquecimento global estudado por Kahan, por exemplo, o
melhor preditor para uma postura científica ou negacionista não era o nível de letramento
científico ou capacidade de racionalização em si, e sim o posicionamento político, que era
o que acabava por definir como o conhecimento e capacidades intelectuais eram aplicadas.
Indivíduos com as características acima utilizavam seus conhecimentos e capacidades para
racionalizar suas crenças prévias acerca do assunto, em vez de as aprimorar.
Uma explicação proposta por Levy (2019) para explicar esse fenômeno é a de que
o ser humano é um “deliberador coletivo” por natureza, tirando melhores conclusões
e obtendo melhores resultados na resolução de problemas ao fazer isso em grupo. Apesar
disso, a epistêmica do próprio indivíduo sempre terá maior valor para o mesmo, assim
como também será dada mais deferência àquelas deliberações mais próximas às do próprio
indivíduo. Quando um grupo não possui uma diversidade de ideias suficiente existe o risco
de o mesmo se polarizar, levando os indivíduos a uma “deferência assimétrica”, na qual
a visão de alguns passam a ser automaticamente aceitas e a de outros automaticamente
rejeitada, reduzindo as chances do grupo como um todo alcançar uma verdade. Assim
sendo, Levy conclui que:
Para o autor não se trata somente sobre “Ao que o indivíduo dá crédito”, mas
também de “O porquê o indivíduo dá esse crédito”; sendo essencial que, além de letramento
e capacidade de racionalização, exista também um número suficiente de pessoas com
capacidade deliberativa em todas as estruturas e esferas sociais, para que distorções
cognitivas não se concretizem.
Pandemia do coronavírus – 71
Kenyon (2016) define a agnotologia (junção das duas palavras gregas agnosis, que
significa “ignorância”, e logia, que significa “estudo”) como o estudo de atos voluntários
para espalhar confusão e engano, geralmente para vender um produto ou ganhar um favor.
Observando os escritos de Robert Proctor, professor de História da Ciência da
Universidade de Stanford, Kenyon (2016) percebe que a ignorância se espalha quando
muitas pessoas não entendem um conceito ou fato científico pela disseminação de
informações controvertidas, culminando em uma sociedade analfabeta e suscetível às
táticas usadas por determinados grupos, que objetivam confundir e achacar a verdade em
detrimento de seus interesses.
A ignorância é considerada o mal do século por incutir no homem um perfil de
servilidade. Servil é aquele que desconhece e que não quer conhecer, que estabelece falsas
ideias sobre o mundo que o cerca, e que alcança o conhecimento científico provado e
comprovado, que gera estagnação e retrocesso (BELLO, 2010).
De qualquer modo, há uma necessidade latente (pela própria sobrevivência
humana) de defender a Ciência nos dias atuais, quando vemos pais que se negam a vacinar
seus filhos, criacionistas religiosos que tentam interferir nos currículos de disciplinas
científicas e negacionistas do aquecimento global, todos propagando desinformação,
pseudociência e anticiência a todo momento (HANSSON, 2020).
A contestação aos argumentos científicos, substituídos por crenças e valores
individuais, aparecem em diferentes polêmicas. O relatório da organização
britânica Wellcome Trust, publicado em 2019, analisou os níveis de compreensão,
interesse e confiança na ciência em uma amostra de 140 mil indivíduos pertencentes a mais
de uma centena de países. No Brasil, por exemplo, as convicções religiosas têm primazia
para 75% dos entrevistados, quando há um confronto entre Ciência e Religião. Nos Estados
Unidos, esse percentual corresponde a 60%.
O mesmo relatório aponta que a desconfiança em relação à eficácia das vacinas
é maior nos países desenvolvidos. Esse fato é comprovado pelo aumento de 400%
no número de casos de sarampo na Europa, os quais – segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS) – saltaram de 5.273 para 21.315 entre 2016 e 2017. Na França, um terço
da população demonstra ceticismo em relação à segurança dos imunobiológicos, atitude
que é em parte explicável considerando-se que, em 1998, houve a publicação de um artigo
do cirurgião Andrew Wakefield na revista Lancet, o qual relacionou a tríplice viral a casos
72
de autismo (essa relação foi negada em estudos posteriores, tendo sido também verificada
a manipulação de dados por parte de Wakefield). No Brasil e em países com baixos índices
de desenvolvimento social – como Bangladesh e Ruanda –, a ampla maioria da população
reconhece os resultados benéficos das vacinas.
No artigo A Test of Three Theories of Anti-Science Attitudes, o sociólogo Gordon
Gauchat explora três hipóteses distintas para o surgimento de atitudes anticientíficas em
uma sociedade. A primeira hipótese parte da carência ou mesmo ausência de letramento
científico; a segunda busca a origem do problema no fundamentalismo religioso; a terceira
hipótese consistiria, por sua vez, em um distanciamento cultural das atividades científicas.
Em termos de correlação, não seria difícil encontrar na sociedade brasileira os três
elementos. Sob um primeiro olhar, a confluência desses três fatores poderia sugerir
soluções de inspiração iluminista: o contato com o conhecimento científico deve conduzir
à construção de uma atitude científica; a atitude científica como libertação do dogmatismo;
o dogmatismo como contraposição à ciência. Esta é, sem risco, uma das soluções mais
familiares ao senso comum, em que pese toda a vagueza implícita quando se fala da
educação como raiz e solução dos nossos problemas.
Para muitos educadores, um dos principais objetivos do ensino obrigatório e da
formação intelectual das crianças e dos jovens é conseguir despertar um pensamento
crítico na população, para que possam ser enfrentados os problemas que surgem nas
sociedades, assim tornando-as mais justas e igualitárias (SOLBES, 2019).
Estendendo e aplicando esse conceito no campo da saúde, podemos pensar que a
educação através da autonomia dos indivíduos em aprender sobre sua condição de saúde
e de sua comunidade pode ser um dos caminhos para minimizar os impactos do
negacionismo científico e combater com informação a desinformação/fake news.
Esta educação em saúde e em ciência, assim como a busca pelo conhecimento está
ligada à aprendizagem e à execução do que se aprendeu. “[...] o ato de estudar, enquanto
ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres
humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas
sabem, mas sabem que sabem” (FREIRE, 2009, p. 60).
Pandemia do coronavírus – 73
REFERÊNCIAS
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SOLBES, J. Cuestiones socio-científicas y pensamiento crítico: una propuesta para cuestionar las
pseudociências. Revista Tecné, Episteme y Didaxis: TED, Bogotá, n. 46, p. 81-99, 2019. Disponível em:
http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-38142019000200081&lang=pt.
Acesso em: 5 fev. 2021.
Pandemia do coronavírus – 75
C A P Í T U L O 6
_____________
INTRODUÇÃO
11
Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, São Paulo. Docente do Centro
Universitário de Lins (UNILINS), São Paulo. E-mail: leojusto@unilins.edu.br
76
Todo produto, quando avaliado por seus usuários, é referido como útil ou não
(serve ou não serve); é avaliado, porém, sobretudo, por sua qualidade (presta ou não
presta). Daí encontrarmos empresas que primam pelo controle de qualidade de seus
produtos; organizações que desenvolvem programas de treinamento em qualidade total;
sem falar em inúmeros discursos que focam a qualidade como um diferencial a ser
perseguido ou como um ideal a ser alcançado, ou como uma meta estabelecida e que
tem de ser mantida.
Na educação não tem sido diferente. É cada vez mais comum a tentativa de
vinculação de uma determinada marca de instituição educacional com algum selo que
ateste sua qualidade; ou, então, a divulgação de resultados positivos alcançados em
avaliações de âmbito nacional e internacional como sendo um atestado de qualidade.
Também não é rara a informação de que a instituição é de qualidade por ter laboratórios,
computadores, diversidade de atividades extraclasse, professores capacitados e
dedicados... Enfim, todo um aparato que circundaria um ideário de qualidade.
Em uma sociedade cada vez mais dominada pela tecnologia e com uma perspectiva
cada vez mais sombria, em termos de estabilidade social e econômica para as futuras
gerações – a persistirem os atuais modelos de produção e distribuição capitalistas e
neoliberais hoje dominantes – os verdadeiros educadores colocam-se a missão de capacitar
adequadamente aqueles que se encontram sob sua responsabilidade profissional de forma
a poderem fazer frente aos desafios que se apresentam.
Todavia, é justamente nesse ponto que surgem outros problemas; afinal, deve-se
preparar as novas gerações para esse “mundo que está aí” ou para o “mundo desejável”?
E quem tem o direito de estabelecer (para os outros) qual é esse mundo desejável? Além
disso, mais que no futuro ou no presente, há que se reconhecer que o mundo, já de há
algum tempo, é profundamente marcado pela tecnologia (entendida a partir dos
computadores e dispositivos conexos); por conseguinte, faz sentido não a colocar como um
critério de qualidade ou elemento de destaque do processo educativo?
São questionamentos válidos, sim. Contudo, o que significaria, de fato, essa
qualidade tão desejada e exigida na educação e da educação? Ainda mais em tempo de
pandemia e, principalmente, para um mundo pós-pandemia?
78
Ora, para que se possa discutir determinado assunto (como a qualidade) este deve
ser adequadamente conceituado e, posteriormente, deve contar com indicadores que
possam demonstrar ou aferir sua efetivação. Em outras palavras, se se pretende falar
em qualidade na educação, qualidade da educação e/ou educação de qualidade,
deve-se, primeiro, definir o que seja essa qualidade; concomitantemente, estabelecer
aqueles critérios (ou indicadores) que permitirão verificar se essa qualidade está sendo
alcançada ou não.
Em suma, a discussão primeira que se apresenta indaga o que seria essa propalada
qualidade. Afinal, o que seria a qualidade, em si, para que se possa caracterizar
a qualidade da educação? Que fatores, que critérios propiciariam o reconhecimento da
qualidade, em si, para que se possa reconhecê-la, também, na educação?
A qualidade é um dos princípios que embasa o ensino – por extensão, a educação –,
como bem o registra a Lei de Diretrizes e Bases em seu art. 3º, inciso IX: “Art. 3º O ensino
será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] IX – garantia de padrão de qualidade
[...]”. Tal requisito é destacado, novamente, no inciso IX do art. 4º:
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante
a garantia de: [...] IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como
a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
O art. 4º já faz uma indicação do que pode ser entendido por qualidade na
educação: a quantidade de insumos por alunos. Nas demais vezes (oito) em que o termo
qualidade é mencionado, é sempre sob a perspectiva de que tal princípio seja assegurado.
Se o profissional da educação buscar pautar sua prática em busca da qualidade
pelo que dizem apenas as letras dos documentos oficiais, sua busca será um tanto
inglória. Infelizmente, não é possível uma afirmação categórica, no melhor estilo
kantiano, a respeito do que se definir ou entender por qualidade, quando circunscrita ao
campo da educação. Podem-se encontrar indicativos ou indicadores do que seja essa
categoria ou atributo – a qualidade – entretanto, não se pode chegar a uma conclusão
definitiva que ilumine as práticas ou refine as teorias. E não que essa seja uma postura
democrática, que indique que o conceito deva ser construído solidária e coletivamente,
a partir das instâncias participantes do processo educativo. Se assim se argumenta, em
vários lugares ou documentos oficiais ou oficiosos, é mais por uma limitação ou
complexidade conceitual que por uma postura política, salvo raras exceções.
Pandemia do coronavírus – 79
O que se pode observar destes “14 princípios” é que, conforme salienta o próprio
Deming, eles podem ser aplicados indistintamente a qualquer tipo de organização. E isso
porque, também como a qualidade, são genéricos. Não se observa nessas pontuações
ou delineamentos referentes à qualidade ou sua implantação, explicitamente, um
indicativo que possa restringir sua aplicação ao setor industrial ou similar.
Pandemia do coronavírus – 81
Em suma, ainda que o conceito de qualidade seja de difícil definição, parece que
o discurso mais prevalente sobre a qualidade (que vai se imiscuir na educação e nas
instituições de ensino) não consegue – ou não pretende – romper com algumas balizas
colocadas pela visão empresarial original, e que pode ser referida por alguns teóricos
da qualidade, dentre os quais Juran e Garvin.
Aprendizagem interrompida
Má nutrição
Estudantes Aumento das taxas de abandono escolar
Maior exposição à violência e à exploração
Isolamento social
Confusão e estresse para professores
Docentes
Desafios para mensurar e validar a aprendizagem
Desafios na criação, manutenção e melhoria do ensino a distância
Escolas
Maior pressão sobre as escolas e sobre os sistemas educacionais que
permanecem abertos
Pais despreparados para a educação a distância em casa
Famílias
Lacunas no cuidado das crianças
Altos custos econômicos
Profissionais de saúde Pressão não intencional nos sistemas de saúde
A ressalva com relação às “condições normais” se deve ao fato de que não foram
realizados estudos prévios relacionados aos incrementos positivos do aumento da carga
horária diária em situações como as da pandemia, embora tenham sido realizados estudos
a respeito das possíveis perdas de conhecimento decorrentes de interrupções dos processos
de ensino, como foram os casos, além das férias normais, de períodos mais longos como
aqueles devidos à epidemia de poliomielite nos Estados Unidos em 1916 (dois meses),
Pandemia do coronavírus – 83
a greve dos professores na Bélgica em 1990 (quase seis meses) e a realocação de alunos após
os furacões Katrina e Rita no sul dos Estados Unidos, em 2005. De todo modo, quando
possível a realização de estudos controlados, o impacto de paralisações, sobretudo aquelas
previstas, como as férias escolares, produziriam pouco impacto ou prejuízo ao desempenho
final dos alunos.
As evidências encontradas, todavia, desafiam o senso comum, conforme registram
os autores:
[...] evidências sugerem que, apesar de parecer intuitivo, não há indícios de que
ampliar as horas de aula garanta ganhos de aprendizagem. [...] Jornada diária
e dias letivos indicam apenas o tempo que o aluno passa na escola, e não,
necessariamente, quanto o aluno está, de fato, engajado em atividades
que geram aprendizado. Os poucos estudos, como os de Bruns et al. (2014)
e Kane et al. (2011), que conseguem, ainda que parcialmente, estimar esse
tempo efetivo de instrução, mostram que alunos aprendem mais quando
professores gastam mais tempo em sala de aula realizando atividades
acadêmicas, e são capazes de mantê-los engajados por mais tempo. Nesse
sentido, a capacidade do professor, novamente, assume o protagonismo.
(OLIVEIRA; GOMES; BARCELLOS, 2020, p. 560, grifos nossos).
Junto a esses estudos, outros têm sido feitos com o propósito de averiguar
percepções, sentimentos e impactos, bem como procedimentos e recursos que possam
auxiliar na superação das consequências negativas provocadas pela pandemia. O que se
verificou foi a alteração significativa dos métodos de ensino, com os mesmos se amparando
nas tecnologias da informação e comunicação e no uso massivo da internet. No início da
pandemia, em maio de 2020, a Unesco publicou um relatório a respeito dos impactos do
covid-19 em relação ao ensino superior. Nesse relatório se evidenciou que as maiores
preocupações nos países da Ibero-América eram a conectividade da internet, as questões
financeiras e a dificuldade de se manter um cronograma regular (horário/rotina regular).
A preocupação com a internet é referendada pelos dados referentes à quantidade de
domicílios que possuem conexão com internet: na África e na América Latina e Caribe
encontram-se os piores índices: 17% e 45%, respectivamente. Em vários países da América
Latina, todavia, observa-se que a quantidade de linhas de telefonia móvel chega a superar,
em muito, a quantidade de pessoas: é o caso de Costa Rica, onde se tem mais de 160 linhas
de telefonia móvel por 100 habitantes. No Brasil, essa relação era de quase 100 linhas de
telefonia móvel para cada grupo de 100 habitantes (UNESCO, 2020, p. 19).
84
Segundo dados da PNAD (IBGE, 2018), 20,9% dos domicílios brasileiros não têm
acesso à internet, o que significa cerca de 15 milhões de lares. Em 79,1% das
residências que têm acesso à rede, o celular é o equipamento mais utilizado
e encontrado em 99,2% dos domicílios, mas muitas famílias compartilham um
único equipamento. Outra realidade que não podemos desconsiderar é que
as casas das classes médias e alta têm uma estrutura privilegiada para o
desenvolvimento de atividades escolares. Porém, as residências das classes
populares se configuram, em geral, com poucos cômodos onde convivem várias
pessoas, tornando-se difícil a dedicação dos alunos às atividades escolares.
A pesquisa TIC Kids Online Brasil (CETIC, 2019) mostra que 11% das crianças
e adolescentes de 9 a 17 anos não têm acesso à internet, correspondendo
a 3 milhões de pessoas, sendo que 1,4 milhão nunca acessou a rede. Estes
dados enfatizam um dos desafios da educação no período da pandemia, que é
o acesso das pessoas à rede internet banda larga para continuarem
aprendendo e ensinando. (SOUZA, 2020, p. 111-112).
Além do aspecto técnico, ainda foram detectados problemas de ordem diversa para
a adequada viabilização do ensino remoto, em todos os níveis de ensino. O já citado
relatório da Unesco chama a atenção para alguns pontos negativos que opuseram grande
parte dos estudantes (embora do ensino superior) à mudança de modalidade de ensino
provocada pela pandemia (UNESCO, 2020, p. 20):
Esses pontos dependem, não somente da busca por novos formatos tecnológicos,
mas de intensa e competente formação dos professores e outros profissionais
da educação. Novos modelos híbridos de ensino (presencial + remoto) serão
capazes de garantir o melhor dos dois mundos para educadores e estudantes e,
uma vez implantados de forma competente, colaborarão diretamente na
transição para modelos mais remotos em tempos de crise. Pesquisa,
prototipação e testagem de novos modelos educacionais de forma participativa
e colaborativa, apoiados por políticas públicas, subsídios, profissionais capacitados
e garantia de acesso igualitário aos estudantes são caminhos que se mostram
fundamentais para o presente e para o futuro da Educação e que emergem
de forma ainda mais incisiva graças à pandemia da Covid-19.
Apesar das TIC já fazerem parte, direta ou indiretamente, da rotina das escolas
e da realidade de muitos professores e estudantes, a utilização delas no período
de pandemia, para substituir os encontros presenciais, tem encontrado vários
desafios, entre eles: a infraestrutura das casas de professores e estudantes;
as tecnologias utilizadas; o acesso (ou a falta dele) dos estudantes à internet;
a formação dos professores para planejar e executar atividades online.
(SOUZA, 2020, p. 112).
as quais os longos períodos de interrupção das aulas presenciais), devem ser selecionadas
e implementadas a partir de uma atuação bastante organizada e adequadamente
planejada, sobretudo nas séries do Ensino Fundamental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Pandemia do coronavírus – 95
C A P Í T U L O 7
_____________
INTRODUÇÃO
12
Economista, doutora em Geografia, coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão
Empresarial/Fatec, Presidente Prudente, São Paulo. E-mail: edilene.takenaka@fatec.sp.gov.br
96
Eis que, em fins de 2019, a humanidade passa a ter sua rotina impactada pela
propagação de um vírus que chama a atenção pela velocidade de disseminação e números
alarmantes de infectados e de óbitos registrados.
Deflagrada pelo novo coronavírus que apresentou o primeiro caso confirmado
na China em fins de 2019 e alastrou-se rapidamente por cinco continentes, a pandemia da
Covid-19 mostrou-se preocupante dada a alta velocidade de disseminação e, apesar dos
esforços da comunidade científica, o conhecimento sobre o SARS-CoV-2 ainda é ínfimo,
gerando incertezas quanto ao seu enfrentamento.
Reforça-se, assim, uma característica cruel de um vírus: um vírus não reconhece
e não obedece a limites territoriais ignorando fronteiras; um vírus de espalha obedecendo
à própria lógica de sua existência.
Dessa forma, combater a ameaça que o novo coronavírus representa para a
humanidade exige uma ação global, sem dispensar medidas a serem adotadas em âmbito
local e respeitando as particularidades de cada país.
Melhor dizendo, cada país dentro de sua realidade, dentro de sua capacidade passa
a adotar medidas específicas para buscar combater a propagação do novo coronavírus.
Mesmo após um ano de pandemia, enfrentam-se ainda controvérsias sobre
os procedimentos a serem adotados, e como agravante surgem novas mutações do vírus
e as vacinas para buscar a imunização da população surgem em um ritmo lento devido
a vários transtornos que incluem a questão da obtenção de insumos, matérias-primas e o
próprio conhecimento tecnológico e capacidade de produção em quantidade para atender
à demanda mundial.
Neste contexto, a sociedade como um todo passa a ter a necessidade de buscar
novas referências relacionadas ao convívio em coletividade como, por exemplo,
o distanciamento social na tentativa de conter a propagação do vírus e, junto a tais
cuidados, faz-se necessário pensar em questões como higiene e equipamentos de proteção
e segurança.
Como consequência, em nível global, houve uma contração em atividades tanto
produtivas quanto de consumo, principalmente naquelas atividades que ocorrem de forma
coletiva, ocasionando um congelamento parcial da oferta e a contenção da demanda global
afetando todas as economias.
98
A transição de uma loja física para uma loja virtual encontrava-se nos planos do
empresariado mesmo antes da pandemia, mas ocorreria de forma gradual. Entretanto, a
necessidade de manter suas atividades comerciais e produtivas fez com que o empresariado
adequasse rapidamente suas empresas a essa nova realidade.
Enfim, a pandemia acelerou o ritmo das mudanças em curso e tais mudanças hoje
passam a fazer parte de nossa rotina.
Ponderação: A crise financeira gerada pela pandemia tem prazo para acabar?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS DE APOIO
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PRADO, L. C. D. Globalização: notas sobre um conceito controverso. Rio de Janeiro: IE-UFRJ, 2003.
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anunciada. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 36, n. 5, maio 2020. Disponível em:
http://cadernos.ensp.fiocruz.br/static//arquivo/1678-4464-csp-36-05-e00068820.pdf. Acesso em:
19 dez. 2020.
Pandemia do coronavírus – 103
C A P Í T U L O 8
_____________
IMPACTO DA COVID-19
NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
INTRODUÇÃO
13
Professora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional (PPGMADRE) da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), campus Presidente Prudente,
São Paulo. Brasil. E-mail: alba@unoeste.br
104
Outra problemática relacionada à coleta seletiva foi com relação à gestão de RSU
que emergiu com o início da pandemia, alguns Estados e cidades brasileiras tiveram este tipo
de serviço suspenso, seguindo as Recomendações para Gestão de Resíduos em Situação
de Pandemia por Coronavírus (Covid-19) propostas pela Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) por conta dos riscos de contaminação sofridos pelos
profissionais e cooperativas que fazem a triagem de resíduos. Porém, ressalta a importância
da manutenção e intensificação da coleta convencional e limpeza dos locais públicos para
evitar o espalhamento de contaminantes (ABES, 2020).
Na Malásia, apenas nos primeiros dias de quarentena, a geração de resíduos sólidos
domiciliares aumentou de 20 a 30%. Apesar disso, o relatório aborda que a geração
foi compensada pela redução da geração dos resíduos sólidos em áreas comerciais
(WMAM, 2020).
Na Bélgica, Portugal, Estônia e Finlândia, a geração elevada promoveu acúmulo dos
resíduos sólidos nos coletores públicos e nas unidades de triagem e reciclagem (ESTONIA,
2020; FINLAND, 2020). No Brasil, Grécia e Luxemburgo suspenderam a coleta de
determinados resíduos sólidos urbanos, como resíduos recicláveis durante alguns meses
na pandemia (ABES, 2020; VLAAMSE, 2020; WALLONIE, 2020). Na Inglaterra, a coleta dos
resíduos sólidos urbanos era feita apenas nas residências que comprovassem os resultados
dos testes para Covid-19 negativos ou após 72 horas de armazenamento dos resíduos sólidos
potencialmente contaminados (ENGLAND, 2020).
As medidas sobre o descarte adequado dos resíduos sólidos na pandemia do Covid-
19 são imprescindíveis para garantir que o vírus não se espalhe ainda mais, não sofra
mutações ao se adaptar as novas condições ambientais e se mantenha ativo por um período
maior de tempo (ABES, 2020).
Contudo, em abril de 2020, segundo os dados apresentados pela Abrelpe, e pela
Associação Internacional de Resíduos Sólidos no Brasil (ISWA, 2020) a geração de resíduos
domiciliares (RD) caiu 7,25%, comparando com o mesmo período do ano passado (2019).
Uma razão para essa diminuição seria o atual cenário do Brasil de instabilidade
e retração econômica, gerando incertezas e contenção por parte dos consumidores. Outro
fator relevante foi a redução das atividades econômicas, pois com o lockdown, que tinha
106
como objetivo impedir o fluxo de pessoas e conter o vírus, muitas atividades e trabalhadores
se impossibilitaram de produzirem, havendo queda da procura de produtos e serviços,
redução do consumo e da geração de resíduos.
A Abrelpe, em 2018, aponta que quantidade de RSU gerado chegou ao total de 79
milhões de toneladas, representando um aumento de pouco menos de 1% em relação
ao ano anterior. Para 2020, a geração de RSU permaneceu quase a mesma (79, 6 milhões
de toneladas), onde somente a produção de plásticos descartados chegou a 13,35
milhões de toneladas.
Ainda segundo a Abrelpe, estima-se que por conta das medidas de quarentena,
isolamento e distanciamento social adotadas haverá um aumento relevante na
quantidade gerada de resíduos sólidos domiciliares (15-25%) e um crescimento bastante
considerável na geração de resíduos hospitalares em unidades de atendimento à saúde
(10 a 20 vezes).
Já em Wuhan, na China, estima-se que o volume de lixo hospitalar aumentou
de 40 para 240 toneladas por dia no auge da epidemia, de acordo com o South China
Morning Post (2020). As instalações de processamento de resíduos médicos em
29 cidades estavam na capacidade total ou quase total (THE WALL STREET JOURNAL, 2020).
As máscaras usadas pelos profissionais de saúde são esterilizadas e enviadas para
o aterro sanitário ou são incineradas. Mas os fabricantes chineses estavam produzindo
116 milhões de máscaras por dia até o final de fevereiro. Ainda não se sabe a rapidez com
que as pessoas têm usado e descartado essas máscaras — que o governo sugere que sejam
usadas em público.
Cerca de 165 bilhões de pacotes são despachados a cada ano nos EUA, e a cartolina
utilizada equivale a aproximadamente 1 bilhão de árvores, informou a Limeloop.
As entregas da Amazon e de kits de refeições, como a Blue Apron, são apenas dois varejistas
eletrônicos que contribuem para o excesso de papelão e plástico.
Houve ainda no isolamento uma nova forma de consumo, as compras on-line,
com a população com medo de sair de casa pelas regras de confinamento. As vendas da
Amazon aumentaram ao ponto de a empresa contratar 100 mil novos funcionários para
atender a demanda. Ainda não conhecemos as consequências deste enorme aumento
dos resíduos de embalagens no mundo. As Nações Unidas preveem que, até 2050, haverá
Pandemia do coronavírus – 107
estabeleceu que esse tipo de resíduo gerado a partir de cuidado com pessoas com
diagnóstico de caso suspeito ou confirmado de Covid-19, deve ser considerado
como categoria A1 (reportado à RDC 222/2018), “uma vez que esse patógeno enquadra-se
como agente biológico Classe 3, seguindo a Classificação de Risco dos Agentes Biológicos,
publicada em 2017, pelo Ministério da Saúde (http://bit.ly/riscobiologico), sendo sua
transmissão de alto risco individual e moderado risco para a comunidade”. (BRASIL, 2020).
Essa posição foi confirmada em publicação recente da Anvisa (Nota Técnica
GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 04/2020, atualizada em 31/03/2020).
Já a lei nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, classifica
os resíduos segundo a origem de geração, sendo os resíduos domiciliares aqueles originários
de atividades domésticas em residências urbanas e, os resíduos de serviços de saúde que
são gerados nos estabelecimentos de assistência à saúde. (BRASIL, 2010).
Os RSS-Covid-19 gerados pelos casos suspeitos ou confirmados dessa doença
no domicílio são resíduos infectantes, mas embora gerados nos domicílios, devem ser de
responsabilidade do serviço público de limpeza urbana, conforme a Lei nº 11.445, de 2007
(BRASIL, 2010).
O município, sendo o gestor de políticas públicas municipais de saúde e saneamento,
deve estabelecer um protocolo mínimo de apoio e atenção a pacientes com diagnóstico
de caso suspeito ou confirmado de Covid-19, oferecendo orientações básicas aos pacientes,
familiares e cuidadores sobre os cuidados com o paciente durante o período de
isolamento/quarentena, incluindo as ações com os resíduos gerados.
Ainda existe o aspecto de proteção à saúde das pessoas que estão em casa
relacionado às soluções adequadas ao problema relativas à segregação, acondicionamento,
identificação, coleta, armazenamento dos resíduos gerados pelos membros da casa com
diagnóstico de caso suspeito ou confirmado de Covid-19.
108
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C A P Í T U L O 9
_____________
INTRODUÇÃO
14
Pós-doutora em Geografia. Docente no Instituto de Geografia na Universidade Federal de Catalão (UFCAT),
Goiás. E-mail: ana_novais@ufcat.edu.br
112
esgotamento no país, sendo que os dados sobre acesso ao abastecimento de água foram
relacionados com a mortalidade por Covid-19, conforme o Painel Saneamento Brasil,
Portal Trata Brasil e Programa Cidades Sustentáveis.
Nesse sentido, compreende-se que a água é um dos componentes modeladores
do relevo e das trajetórias na relação sociedade e natureza, pois as primeiras civilizações
surgiram às margens dos rios e criaram laços sociais, culturais e econômicos. Nesse
sentido, Fracalanza (2002) menciona a diferenciação da necessidade da água para os
seres vivos e para os demais organismos vivos, bem como a diferenciação teórica,
cultural, econômica e social entre as necessidades sociais do uso da água e as
necessidades como insumo no processo produtivo. Analisam-se, segundo a autora,
três vieses da água: as necessidades humanas historicamente criadas, as modificações na
paisagem e a relação com o trabalho humano. Assim, discute-se a água enquanto
elemento natural e enquanto recurso hídrico (PIRES, 2016).
Quanto à Geografia das águas, ressalta-se que o planeta Terra, em valores
aproximados, dispõe de 97,5% de águas salgadas em sua superfície, nos mares e oceanos,
e dois terços dos 2,5% restantes estão dispostos em geleiras e aquíferos subterrâneos.
A água doce oriunda dos rios e lagos representam 0,006% no planeta. O Brasil possui 12%
das reservas hídricas superficiais mundiais, sendo 70% na Amazônia, região com 8,3%
da população do Brasil. Em contrapartida, a Região Sudeste possui 6% das reservas hídricas
nacionais e 42,1% da população (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA, 2002).
É importante salientar, conforme aponta Venturi (2015), que a água não pode ser
considerada um recurso renovável, pois seus estoques são estáveis na natureza. Ou seja,
apesar da manutenção da quantidade de água no planeta, o que pode variar é a qualidade
e a capacidade de captação e abastecimento, conforme as tecnologias e os investimentos
financeiros e de recursos humanos para as atividades da área. Segundo esse geógrafo,
as crises hídricas, quando ocorrem, são sempre ligadas à má gestão das águas, e não
à perspectiva fatalista e naturalista de falta de água.
A gestão de recursos hídricos objetiva harmonizar a oferta e as demandas hídricas,
conciliar conflitos existentes e minimizar a possibilidade de novos conflitos, além de atuar
frente à qualidade ambiental das bacias hidrográficas. O gerenciamento de recursos
hídricos está inserido na gestão como parte das atividades concernentes do arcabouço
administrativo, já a gestão hídrica é uma política pública que abrange uma estrutura
legal e institucional.
Pandemia do coronavírus – 113
Nesse contexto, a partir da Lei Federal 14.026, de 15 de julho de 2020, houve uma
alteração no marco legal do saneamento no Brasil e, assim, a Agência Nacional de Águas
passou a se chamar Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), atuando não só na
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), como integrante do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), regulando as águas
de domínio da União (interestaduais, transfronteiriças e reservatórios federais), mas
também na instituição de normas de referência para a regulação dos serviços públicos
de saneamento básico.
O percurso histórico da gestão hídrica nacional passou por modelos burocráticos
e econômico-financeiros, com centralização Estatal, notadamente do setor elétrico.
Primeiramente, o Código Civil de 1916 trazia a informação de que as águas poderiam ser
públicas ou privadas. Posteriormente, o Código das Águas de 1934 (Decreto Federal
24.643) ainda manteve o domínio privado, apesar de citar o domínio público e comum.
A partir da Constituição Federal de 1988 o domínio privado deixou de existir, já que as
águas passaram a ser bens dos Estados e da União, o que também foi ratificado pela PNRH,
Lei Federal 9.433/1997, que representou um novo momento na história da gestão hídrica
no país, com um modelo integrado a partir de um ideal de gestão descentralizada
e participativa. O artigo 1º da PNRH afirma que a água é um bem de domínio público.
Quanto à qualidade das águas e a PNRH, ressalta-se que os municípios podem
participar da gestão hídrica no país a partir dos comitês de bacias hidrográficas, quer como
representantes do poder público, quer como membros de associações civis que atuem
na temática hídrica. Além disso, o artigo 3º, inciso V, afirma, como diretriz geral da PNRH,
a articulação da gestão hídrica com a gestão do uso do solo, apesar de não haver menção
ao saneamento básico.
No que concerne à defesa ambiental e ao papel do município nesse tema, conforme
a Constituição de 1988, insere-se a água e seus aspectos de quantidade e qualidade. Nesse
sentido, nos Planos de Recursos Hídricos, nas atribuições deliberativas dos Comitês de
Bacias Hidrográficas constam metas para racionalização de uso, aumento da quantidade
e melhoria da qualidade das águas numa bacia hidrográfica. No artigo 5º da PNRH, quanto
às diretrizes gerais de ação, o inciso I cita a gestão hídrica sem dissociação dos aspectos
de qualidade e quantidade; no inciso III, a integração com a gestão ambiental e no inciso V,
a articulação da gestão hídrica com a gestão do uso do solo.
114
A captação de água para abastecimento público está sujeita à outorga, sendo que
todas as outorgas estão condicionadas às prioridades estabelecidas nos Planos de
Recursos Hídricos, que são elaborados por bacia hidrográfica, por estado e para o país 15.
Em relação à qualidade e aos usos da água, um dos instrumentos da PNRH é o
enquadramento dos corpos de água, objetivando assegurar a qualidade da água em
compatibilidade com os usos, sendo também um instrumento de planejamento
ambiental no contexto da qualidade da água a ser alcançada e/ou mantida. Dessa forma,
a Resolução Federal 357/200516, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
trouxe importantes critérios para o enquadramento dos corpos de água em classes de uso
em função dos usos preponderantes, assim como as definições para ambientes lóticos
e lênticos, entre outras.
Para o abastecimento humano, a Resolução 357/2005 cita, para as águas doces,
que as Classes Especiais 1, 2, 3 e 4 podem ser utilizadas para abastecimento humano
e especifica o tipo de tratamento adequado para cada Classe. Para as águas salobras,
a Classe 1 pode ser utilizada pós-tratamento convencional ou avançado.
Importante ressaltar e trazer à discussão deste texto que, a partir da Constituição
Federal de 1988, o saneamento básico é mencionado em três passagens: no artigo 21,
inciso XX, quanto à atribuição da União para instruir diretrizes para o saneamento básico;
no artigo 23, quanto à competência comum dos entes federativos para a promoção
do saneamento básico, assim como no artigo 200, inciso IV, ao citar que compete ao
Sistema Único de Saúde (SUS), participar na formulação das políticas e exercer as ações
para o saneamento básico.
Nesse contexto, reforça-se que o saneamento básico faz parte da política urbana
e o município o ente com competência para executá-la, sendo importante citar o
compartilhamento entre Estados e União quanto à matéria, assim como quanto à fiscalização
das concessões de exploração de recursos hídricos. Entre a importância dos aspectos
referentes à qualidade das águas está não somente a qualidade ambiental em bacias
hidrográficas, mas também a saúde, em virtude das doenças de veiculação hídrica. Assim,
ratifica-se a necessidade da efetivação dos Planos Municipais de Saneamento Básico e, dessa
15
O atual Plano Nacional de Recursos Hídricos tem um horizonte temporal 2022-2040.
16
A Resolução Federal 357/2005 teve atualizações a partir das Resoluções 370, de 2006, 397, de 2008, 410,
de 2009, e 430, de 2011. Complementada pela Resolução 393, de 2007, esta última sobre o descarte contínuo
de água de processo ou de produção em plataformas marítimas de petróleo e gás natural.
Pandemia do coronavírus – 115
forma, reforça-se o papel dos municípios, já que são os detentores dos territórios das bacias
hidrográficas, do parcelamento do solo urbano, mas que não possuem dominialidade
administrativa das águas.
Faz-se pertinente mencionar que os serviços de saneamento básico incluem não
apenas o abastecimento de água para consumo humano, mas também o esgotamento
sanitário, a gestão de resíduos sólidos e a drenagem urbana de águas pluviais.
Destaca-se, também, que são nos municípios que a integração da política nacional
e estaduais de recursos hídricos se torna possível, entretanto, é evidente que há uma colcha
de retalhos entre a PNRH/PERH, Plano Diretor Urbano e Código Florestal quando o tema
é rio urbano, o que contribui para os aspectos positivos e negativos de qualidade ambiental
em bacias hidrográficas e a qualidade das águas.
A partir da pandemia de Covid-19 e do monitoramento de possíveis contaminações
a partir da eliminação do coronavírus nas fezes de pessoas contaminadas, a presença do
vírus nos esgotos e tubulações pode auxiliar o poder público municipal e espacializar
áreas com maior risco de contaminações caso a contenção de aglomerações não seja posta
em prática. Um exemplo desse tipo de estudo foi publicado por Prado et al. em 2021 no
periódico Water Research com o título de Wastewater-based epidemiology
as a useful tool to track SARS-CoV-2 and support public health policies at municipal level
in Brazil, tendo o Rio de Janeiro como lócus de análise.
Outros Estados também fizeram estudos para identificação de carga viral de
coronavírus em esgotos, como é o caso de Minas Gerais e de Porto Alegre, entretanto, ainda
são necessários mais estudos para entender se é possível a contaminação fecal-oral para
o coronavírus quando há contato com esgoto. Em contrapartida, para a água potável que
chega às residências, o cloro consegue inativar o vírus. Dessa forma, é imprescindível o papel
do saneamento básico num momento de crise sanitária como a da atualidade, assim como
exemplifica o papel dos municípios quanto à disciplina do solo urbano, que interfere na
demanda de água para consumo humano; o adensamento humano, na drenagem das águas
pluviais e o descarte das chamadas águas servidas, vinculando, portanto, município e
abastecimento de água.
116
Conforme a PNRH, no artigo 1º, inciso IV, a regra é que a gestão proporcione os usos
múltiplos das águas, sendo que, conforme o inciso III, em situações de escassez o uso
prioritário dos recursos hídricos é para o consumo humano e a dessedentação de animais.
Nesse contexto, segundo o relatório Conjuntura Recursos Hídricos Brasil 2020, a maior
demanda de uso da água no Brasil foi para a irrigação, com retirada de 1.038,1 m³/s
e consumo de 743,5 m³/s, seguida pelo abastecimento humano, com retirada de 505,7 m³/s
e consumo de 101,1 m³/s. Na contabilização da vazão total consumida nas bacias
hidrográficas no ano de 2019, 66,1% foram para irrigação e 9,0% para abastecimento
humano, sendo que, ainda segundo o relatório, o aumento das demandas pelas atividades
que usam intensivamente a água e o aumento da população representam um aumento
do estresse hídrico, notadamente na Região Sudeste.
Além disso, ainda de acordo com o relatório, apesar do atendimento das redes
de abastecimento urbano nas cidades, as perdas e a água não contabilizadas chegam a cerca
de 40% do volume retirado, predominantemente de mananciais superficiais (57%), que
representam o atendimento de 84% da população urbana. O Relatório de Diagnóstico dos
Serviços de Água e Esgoto de 2019 do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento
(SNIS) traz dados sobre níveis de atendimento urbano por rede de água, sendo que os
menores índices estão nos seguintes Estados: Maranhão, Ceará, Acre e Rondônia, entre 60%
a 80% de atendimento; Pará, entre 40% a 60%, e Amapá, abaixo de 40%.
Outro uso da água citado no relatório e que é significante para esse artigo refere-se
ao lançamento de efluentes nos corpos de água, principalmente esgotos domésticos
sem tratamento, o que contribui para a indisponibilidade do uso da água e, assim,
na situação problemática quanto ao balanço hídrico. Nesse contexto, ainda segundo o
relatório do SNIS para o ano de 2019, 610 municípios foram registrados com totalidade
de atendimento urbano com esgoto tratado.
Ainda de acordo ao SNIS, com valores acima de 70% de atendimento urbano com
rede coletora de esgoto estão os Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Roraima. Entre
40 e 70% de atendimento estão os Estados do Rio de Janeiro, Goiás, Espírito Santo, Mato
Grosso do Sul, Bahia, Paraíba e Mato Grosso. Já entre 20 e 40% encontra-se o maior número
Pandemia do coronavírus – 117
de Estados, como Rio Grande do Sul, Tocantins, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte,
Santa Catarina, Alagoas, Sergipe e Piauí. Percentuais entre 10 e 20% estão os Estados
Maranhão, Amazonas e Acre. Abaixo de 10% estão os Estados do Pará, Amapá e Rondônia.
No Brasil, no ano de 2020, já com a pandemia em curso, houve uma atualização no
marco legal do saneamento a partir da Lei Federal 14.026, de 15 de julho de 2020,
atribuindo a função de editar normas de referência sobre o serviço de saneamento à
Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA). Nesse sentido, a ANA promoverá
a articulação entre o Plano Nacional de Saneamento Básico, o Plano Nacional de Resíduos
Sólidos e o Plano Nacional de Recursos Hídricos e a Lei prevê a universalização dos serviços
de água e esgoto até 2033.
Quanto à nova Lei do saneamento, questões que movimentaram as discussões dos
pesquisadores da área referem-se à proibição dos contratos de programas para prestação
dos serviços públicos, tais como água e esgoto, onde prefeitos e governadores poderiam
firmar parcerias diretamente com as empresas estatais, não havendo necessidade de
licitação. Com a Lei, a licitação tornou-se obrigatória e, assim, poderão concorrer
prestadores de serviços tanto públicos quanto privados. Nesse contexto, Heller (2020)
diz que o texto da lei abre caminho à privatização em virtude da obrigatoriedade das
licitações, já que, o setor privado objetivará fortemente o lucro e há, aí, uma assimetria de
poderes em relação às estatais e às privadas. Essa tendência, ainda de acordo com o autor,
vai na contramão de países que estão reestatizando serviços de água e esgoto, como
Alemanha e Estados Unidos.
Outro ponto importante citado por Heller (2020) refere-se ao abandono dos
serviços de saneamento para grupos concentrados em áreas rurais, bem como para as
periferias das cidades médias e/ou grandes e para as cidades pequenas e, também, essas
áreas e populações são pouco representativas para o setor privado.
É importante ressaltar que, para se chegar à universalização do acesso aos serviços
de água e esgoto até 2033 são necessários investimentos e, num recorte temporal de 2014
a 2018, além das perspectivas para até 2033, o Relatório do Cenário Para Investimentos em
Saneamento no Brasil Após a Aprovação do Marco Legal, disponibilizado em 2020 pelo
Portal Trata Brasil, com bases de dados do Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS), mostrou que entre 2014 e 2018, ocorreu uma redução de 12,3% nos
investimentos totais em água e esgoto no Brasil. Além disso, a Região Sudeste, com 42,07%
118
Sobre os dados do Painel Saneamento Brasil (TRATA BRASIL, 2019) para o ano de
2019 e em relação aos números já citados no texto, observa-se a íntima relação entre
acesso ao abastecimento contínuo de água, tratamento de esgoto, saúde, anos de
escolaridade e renda, conforme dados apontados também pelo Painel para anos
anteriores. E trazendo essas informações para contrastar com a situação da pandemia
no país entre 2020 até o atual momento de 2021, as populações que já estavam em
condições de maior vulnerabilidade de contágio são segmentos populacionais de baixa
renda, que vivem em periferias urbanas, em favelas.
Assim, conforme artigo no Urban Studies Journal, citado por Costa et al. (2020)
em publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a própria literatura
confirma a relação entre os aspectos demográficos, de infraestrutura e a vulnerabilidade
às doenças infecciosas, notadamente nas porções periféricas das grandes cidades,
representando riscos de propagação epidêmica. Pesquisas anteriores, que relacionaram
epidemias como a da Aids, dengue e zika, conforme citam Costa et al. (2020), reforçam
que, mesmo o vírus não delimitando classe social para infectar, fatores relacionados
ao saneamento, educação, renda são determinantes para a taxa de contaminação e para
a propagação. Portanto, há uma dimensão territorial da crise sanitária.
120
Figura 1 – Relação entre as capitais brasileiras, acesso ao abastecimento de água e mortalidade por Covid-19
Ainda de acordo com a Figura 1, observa-se que outras capitais, como Macapá e Rio
Branco, apresentaram, neste contexto temporal dos dados, índices superiores de
mortalidade em decorrência da Covid-19 por 100.000 habitantes em relação à Curitiba
e Florianopólis, nas quais há 100% de atendimento da rede de abastecimento de água.
É importante ressaltar que, ao observar os dados de óbitos por Covid-19 em São Paulo,
as realidades são distintas, conforme foi explanado com os dados da Rede Nossa São Paulo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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agua/. Acesso em: 29 jun. 2021.
Pandemia do coronavírus – 125
C A P Í T U L O 10
______________
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta um projeto piloto de política pública para a ação climática
com base no estudo da microbacia do ribeirão do Lageado, localizado na zona leste da
cidade de São Paulo. O projeto foi desenvolvido no âmbito do Lab Itaim Paulista 18:
Laboratório de política urbana e transformação local do Programa de Pós-Graduação da
Universidade São Judas, envolve o mestrado acadêmico em Arquitetura e Urbanismo e o
mestrado profissional em Engenharia Civil. Também tem apoio do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e do laboratório Klimapolis, uma cooperação
entre parceiros alemães e brasileiros estabelecida em 2018 por meio de um acordo entre
o Instituto Max Planck de Meteorologia (MPI-M) e do Instituto de Astronomia, Geofísica
e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) para desenvolver
pesquisas sobre clima urbano, poluição da água e do ar, modelagem, planejamento,
monitoramento e aprendizagem social19.
O Lab Itaim Paulista adota o modelo dos Laboratórios do Mundo Real (LMR), que
experimentos para implementação de uma política de ação climática integrada com a
ciência do clima que têm sido adotados na Europa. Os LMR atuam sobre situações
problema concretas tendo como objetivo a sua transformação. Nesse sentido, os LMR
17
Pós-doutora e docente na Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, e Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo. E-mail: ana.koury@saojudas.br; ana.koury@mackenzie.br
18
Disponível em: https://labitaimpaulista.blogspot.com/
19
Disponível em: https://www.klimapolis.net/
126
OBJETIVOS
METODOLOGIA
O Lab Itaim Paulista possui tipos de atuação que organizam as ações realizadas na
localidade. Como é um laboratório que estuda assuntos complexos sem ter foco em
apenas uma disciplina, os tipos de atuação estruturam as ações realizadas na localidade.
Um deles é o LAB Participa, quando o Lab Itaim Paulista apoia iniciativas de agentes locais.
Outro é o Papo do LAB, que promove debates sobre temas importantes para a localidade.
Já o LAB Explica são os produtos técnicos que elaboramos a partir do conhecimento que
produzimos sobre os problemas da localidade.
Nossa intenção é que, uma vez originados de uma estratégia de participação local,
engajamento de atores e envolvimento de muitas perspectivas na solução de um problema,
esses produtos técnicos sejam de fato mais aderentes na transformação da realidade
que a ciência disciplinar que predomina na Universidade. As soluções disciplinares induzem
à perspectiva de que os problemas do mundo real podem ser resolvidos pela lógica de uma
disciplina, mas, na realidade, não podem, pois eles são constituídos por muitas lógicas
diferentes, então a solução precisa ser multifatorial, multidisciplinar, multiperspectiva, etc.
É assim que procuramos operar no Lab Itaim Paulista.
128
A Figura 1 a seguir ilustra o que são esses tipos de atuação e dá exemplos. Em 2019,
organizamos uma Caravana Científica na escola Dama entre Rios Verdes, e foi uma
experiência muito transformadora para nós. Daí saiu uma das ações mais interessantes que
fizemos no LAB nesse período, que foi ir até a escola e montar oficinas com sensores de
baixo custo para medição da poluição do ar20. Estávamos ali preocupados com as condições
do ar e resolvemos propor um estudo das condições atmosféricas e de poluição, mas nossa
intenção era fazer isso junto com as escolas, dentro de uma ação que pudesse aproximar
os cidadãos dos elementos da ciência e conscientizá-los dos problemas ambientais.
Fonte: Acervo Lab Itaim Paulista. Foto de Pedro Henrique Herculano Correia (mar. 2019).
Na escola, fomos recebidos pela imprensa jovem e pelo diretor, que são muito
articulados com as questões locais e já estavam ali promovendo uma ação para resolver
um outro problema, que era o descarte ilegal de lixo que se dava na frente da escola
20
A atividade foi realizada em colaboração com o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG USP) através da professora Maria de Fátima Andrade e do pesquisador Leonardo
Yoshiaki Kamigauti, que ministrou a oficina com a colaboração do curso de Gestão Ambiental da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades (EACH) através da professora Regina Maura de Miranda e da pesquisadora
Luana Ferreira Vasconcelos.
Pandemia do coronavírus – 129
naquela época. Numa praça, em frente à escola e ao lado do córrego Água Vermelha, havia
um ponto viciado de descarte de lixo. Assim, os alunos toparam nos ajudar a montar as oficinas
de censores de poluição na escola, mas também pediram apoio para fazerem uma ação
de mobilização para resolver esse outro problema anterior deles. É claro que nós topamos.
Os estudantes da São Judas toparam o desafio, mobilizaram-se e foram participar
– temos inclusive um conjunto de alunos que acompanham a nossa equipe há um tempo,
alguns são ex-alunos de graduação que voltaram para fazer o mestrado ou estão engajados
no doutorado, isso também é algo muito gratificante de se ver no Lab. Então, organizamos
uma ação para prestar esse trabalho mais técnico para os alunos da escola, chamamos toda
comunidade, não só os diretores, coordenadores e alunos, mas seus familiares e os
moradores locais, para participarem e também ajudarem a identificar quais eram
os maiores problemas da região. Usamos formulários para essa etapa de identificação,
depois fizemos uma visita técnica de campo com os estudantes e realizamos proposições
– que foram chamadas de “O Livro dos Sonhos”. A partir de tudo isso, criamos um mapa
com a localização dos principais problemas e um guia de diretrizes para transformação
local. Este foi entregue ao subprefeito, que depois realizou obras ali incluindo muitas das
diretrizes que havíamos apontado no relatório em conjunto com a comunidade.
Essa foi uma pequena, mas efetiva, transformação, que aconteceu a partir da
estratégia de multiperspectivismo e contribuição do lado mais técnico do Lab para que isso
acontecesse. É importante dizer ainda que, quando estávamos fazendo os levantamentos
da microbacia do ribeirão do Lageado, visitamos as comunidades – como a do Torresmo,
que fica na região – veio a pandemia. Nesse cenário, não pudemos mais voltar ao território,
o que acabou sendo uma frustração muito grande para nós. Por outro lado, resolvemos
mobilizar a rede de pesquisadores para que fizessem doações e conseguimos arrecadar
recursos, fazendo a doação de cem cestas básicas.
Essa mobilização também aconteceu atendendo a um pedido de ajuda do
subprefeito Gilmar Santos que, diante da pandemia, acionou empresários e organizações
locais, ele mesmo chegou a fazer doações também. Foi uma situação de fato comovente,
já eram comunidades vulneráveis e, com a pandemia, o grau de necessidades básicas deles
aumentou ainda mais. Assim, nós participamos da campanha “Cestas do Bem” que a
subprefeitura promoveu, contribuindo para ampliar o processo de distribuição de
alimentos na região.
130
Essa foi uma importante lição, estávamos lá como pesquisadores, como cientistas,
mas nos deslocamos para a posição de cidadãos. Foi igualmente importante para nossos
alunos, no sentido de entender que esses problemas são todos nossos – não só a questão
da água, mas das pessoas que vivem ali, e como é feita a gestão dessas localidades.
Ou seja, essa ideia de pensar no problema como um todo, de modo complexo e ético,
pressupõe também uma possibilidade de agir de modo diversificado em todos os
sentidos. Não seria justo visitarmos a comunidade para realizar nossas pesquisas e na
hora que chega a pandemia irmos embora, nos isolarmos em casa e não fazer nada.
Isso era o mínimo que poderíamos fazer e ainda gostaríamos de fazer muito mais.
Avançamos pela parte mais científica e acadêmica da pesquisa, que só foi possível
graças à parceria com o IPT, junto ao professor Felipe Falcetta, que se sensibilizou com
a missão do Lab e se ofereceu para dar esse curso de Introdução à Modelagem Hidrológica
na Universidade São Judas (Figura 2). Também tivemos apoio da São Paulo Urbanismo,
que ficou muito empolgada com a possibilidade de pensar o desenvolvimento periférico,
com foco na microbacia do ribeirão do Lageado, utilizando a simulação computacional
como ferramenta de base. Foi interessante poder colocar esses dois atores em contato para
modelarmos juntos a bacia. Então tínhamos a equipe técnica da SP Urbanismo e do IPT junto
com a equipe técnica da subprefeitura e os estudantes da São Judas formando um grupo
muito rico. O material apresentado aqui neste capítulo registra a produção desse grupo.
Fonte: Acervo do Lab Itaim Paulista. Arte de Mari Anna Camargo Firmino (2020).
Pandemia do coronavírus – 131
DESENVOLVIMENTO
Urbanização
Figura 3 – Fotomontagem com o Rio Tietê em sua conformação meândrica original acima e à esquerda
sobreposto à ortofoto mostrando o rio Tietê retificado e ladeado pelas vias marginais
Fonte: Fotomontagem da autora com base em Santos (1958, p. 58) e GeoSampa (2017).
Figura 4 – Ocorrência de alagamentos, inundações e deslizamentos na zona leste da cidade de São Paulo
(esquerda) e com destaque para a microbacia do Lageado e a localização do ponto do Exutório da
Bacia (direita)
Fonte: Elaborado pela autora com base em dados da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento
(SMUL, 2020).
Nossa proposta é pensar como essa microbacia pode ser projeto piloto de política
pública para ação climática. Pensando que isso envolve uma transformação urbano-social
por inteiro, não é só uma questão de desenho da cidade, mas de sua forma social,
distribuição espacial e das condições que isso ocorre, temos muitos motivos para interferir
e ensaiar um novo modelo de cidade nessa área.
Fonte: Fotomontagem da autora à esquerda com base em Fernandes et al. (2020, p. 25) e à direita com
base em GeoSampa (2017).
A Figura 6 ilustra onde fica o Ribeirão do Lageado, bem no centro entre o distrito
do Itaim Paulista e o distrito de Vila Curuçá, no extremo leste da cidade de São Paulo. É
uma microbacia relativamente pequena, atualmente, 90% da sua área encontra-se
impermeabilizada e estima-se que abrigue cerca de 153 mil habitantes (HAB) em 1.100
hectares (ha), o que dá cerca de 139 HAB/ha (Fernandes et al., 2020) – um pouco abaixo
da média do distrito, mas ainda assim muito denso em relação à cidade de São Paulo.
Embora a microbacia hoje esteja praticamente toda impermeabilizada e
densamente ocupada, a conformação geomorfológica do terreno permanece muito
próxima da situação original, conforme demonstra a comparação do Mapa de
Hipsometria na Figura 7, que utiliza os modelos digitais de elevação com base nos
levantamentos de 1930, 2004, 2011 e 2017.
Pandemia do coronavírus – 135
Nessa região, passando pela estrada Dom João Neri, que margeia o ribeirão do
Lageado, está prevista uma rede estrutural de mobilidade que fará a conexão entre
a estação terminal do Itaim Paulista e de São Mateus, o que vai ser uma importante
conexão de transporte também à área metropolitana toda, ligando a região de Guarulhos
com o Grande ABC. Portanto, é um local que tem um importante papel no sistema
metropolitano de transporte e, por esse motivo, é um eixo de transformação urbana
que deve receber investimentos da prefeitura e do governo do estado em breve, para
que isso seja implantado (KOURY; CAVALLARI, 2018).
136
Tal fato parece ser uma grande oportunidade para que a implantação desses eixos
de mobilidade se torne ação para as mudanças climáticas que venham, ao mesmo tempo,
a melhorar a condição de drenagem e a reposição das águas subterrâneas, diminuir os
problemas de alagamento na cidade e, consequentemente, melhorar a situação de vida
dessa população vulnerável que se encontra nas margens dos córregos.
Ou seja, não só o nosso problema de pesquisa é multifatorial, como nós temos
muitas possibilidades de solução e transformação desse problema. Por isso que
escolhemos trabalhar essa microbacia. Inclusive anteriormente houve um trabalho
desenvolvido pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP de São Carlos, conduzido
pelo professor Renato Aneli junto com Marlon Longo, que identificou essa configuração
de problema entre oportunidade de desenvolvimento desse eixo de transformação urbana
com a bacia do Lageado localizada na zona leste. Depois é que nós entramos e a
Universidade São Judas se propôs a fazer as parcerias, procurando colaborar com essa
iniciativa em andamento.
Por se tratar de uma microbacia relativamente pequena, há um potencial de estudo
piloto interessante. Conforme apontado, existem outras regiões nas quais estão previstos
eixos de transformação urbana ligados à implantação do sistema de mobilidade e que
justamente correspondem a áreas de córregos e vulnerabilidade urbana, portanto, seria
possível ensaiar aqui um modelo replicável em outras situações da cidade.
Figura 8 – Esquema de entrada de dados no modelo hidrológico com destaque para os diferentes cenários
de uso de ocupação do solo testados durante o Curso de Introdução à Modelagem Hidrológica
Fonte: Trabalho da Equipe 1 do Curso de Introdução à Modelagem Hidrológica (2020): Flavio Antonio D'Ugo
Bragaia, Lucas Stéfano Rissatto, Rosana Yamaguti e Vinicius Araújo com base no modelo digital de elevação
levantamento SARA Brasil de 1930 realizado por Filipe Falcetta.
Pandemia do coronavírus – 139
Figura 10 – Resultados de volume de vazão de pico por tempo de ocorrência nos quatro padrões de chuva
de Huff definidos em um tempo de duração de 6 horas no Cenário 01 (1930)
Fonte: Trabalho da Equipe 1 do Curso de Modelagem Hidrológica (Prof. Filipe Falcetta, 2020): Flavio Antonio
D'Ugo Bragaia, Lucas Stéfano Rissatto, Rosana Yamaguti e Vinicius Araújo com base em modelagem
computacional realizada com o software HEC HMS
140
Figura 12 – Resultados de volume de vazão de pico por tempo de ocorrência nos quatro padrões de chuva de Huff definidos em um
tempo de duração de 6 horas no Cenário 2 (2017)
Fonte: Trabalho da Equipe 2 do Curso de Modelagem Hidrológica (Prof Filipe Falcetta, 2020): Janilson
Olegário Fernandes, Mari Anna de Camargo Firmino, Matheus Durigan, Pedro Henrique Herculano Correia,
Rafael Giorgi Costa, Rafael Sanches Pimentel com base em modelagem computacional realizada com o
software HEC HMS.
142
Figura 12 – Mapa de uso e ocupação do solo da Microbacia do Lageado considerando condições ideais de
respeito à legislação ambiental e inexistência de núcleos e favelas, diminuição da taxa de ocupação e
aplicação de concreto permeável nas vias públicas
de áreas residenciais, que poderia ser obtida por verticalização das habitações,
por exemplo, e substituição de toda pavimentação por concreto permeável, como pode
ser visto na Figura 12.
Nesse caso, conseguimos uma redução significativa para o primeiro quartil de Huff.
A Figura 13 mostra essa redução de 131 m3/s para 89,9 m3/s. Apesar do tempo de
concentração ter sido praticamente o mesmo, o volume de vazão de pico no Exutório é cerca
de um terço menor.
Figura 13 – Resultados de volume de vazão de pico por tempo de ocorrência no primeiro padrão de chuva
de Huff definidos em um tempo de duração de 6 horas nos Cenários 3, 1 e 2 (ideal, 1930 e 2017)
Fonte: Trabalho da Equipe 2 do Curso de Modelagem Hidrológica (Prof. Filipe Falcetta, 2020): Janilson
Olegário Fernandes, Mari Anna de Camargo Firmino, Matheus Durigan, Pedro Henrique Herculano Correia,
Rafael Giorgi Costa, Rafael Sanches Pimentel com base em modelagem computacional realizada com o
software HEC HMS.
Fonte: Trabalho da Equipe 2 do Curso de Modelagem Hidrológica (Prof. Filipe Falcetta, 2020): Janilson
Olegário Fernandes, Mari Anna de Camargo Firmino, Matheus Durigan, Pedro Henrique Herculano Correia,
Rafael Giorgi Costa, Rafael Sanches Pimentel com base em modelagem computacional realizada com o
software HEC HMS.
144
A Figura 14 aponta uma contraposição entre o cenário atual, o cenário ideal e àquele
de 1930. Apontando que o cenário ideal permite a redução no volume de pico em 30%
em relação ao cenário 2017. Com base no cenário ideal podemos estabelecer indicadores
objetivos de melhoria no comportamento hidrológico da Bacia. Esses indicadores podem
contribuir para aferir o impacto de obras e propostas de desenvolvimento urbano local
e também contribuir através de diretrizes para a regulamentação do uso e ocupação do
solo. Contribuindo assim para aferir o desenvolvimento urbano sustentável na localidade
atendendo os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS 6, 11 e 13).
Oportunidades de transformação
Sob a liderança do professor Rafael Giorgi Costa a equipe da São Paulo Urbanismo
procurou compreender como seria possível mitigar os problemas do comportamento
hidrológico da microbacia do Lageado apontados na análise do modelo computacional do
cenário 2017. Ou seja, quais oportunidades de transformação da bacia existem hoje.
Para entender como ela está configurada, eles mapearam a região, apontando o que são
lotes municipais, onde estão as favelas e os lotes privados transformáveis e zonas de
proteção ambiental.
O grupo também delimitou alguns compartimentos ambientais em função da
declividade, uma vez que os tipos de dispositivos de drenagem devem variar também por
esse fator.
Através dos princípios “reter, armazenar, atrasar, limpar e reutilizar as águas
pluviais”, eles traçaram diretrizes específicas para cada compartimento ambiental
identificado (várzea ou encosta por exemplo). Também procuraram entender como a
legislação urbanística poderia especificar diretrizes de drenagem considerando esses
princípios em função da localização dos compartimentos. Portanto, seria uma forma de
zoneamento em função do comportamento de drenagem da bacia hidrográfica.
Com isso, poderíamos estreitar a relação entre as diretrizes de drenagem com a
própria legislação urbanística existente (PIUs, Projetos Estratégicos, PPPs, projetos de
reurbanização de favelas, zoneamentos).
Para encerrar este estudo de oportunidades, os técnicos da SP Urbanismo, liderados
pelo colega docente Rafael Giorgi Costa, fizeram um conjunto de reflexões no sentido de
estreitar a relação entre dispositivos de drenagem e legislação urbanística. Por exemplo,
Pandemia do coronavírus – 145
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esses foram os resultados do último trabalho que o Lab Itaim Paulista promoveu em
colaboração com os parceiros do Laboratório Klimapolis, o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado (IPT), a São Paulo Urbanismo e a subprefeitura do Itaim Paulista.
Este trabalho procurou estabelecer as bases para uma política pública de ação climática.
Analisou o comportamento hidrológico de uma microbacia hidrográfica periférica
densamente ocupada por população vulnerável frequentemente afetada pelos alagamentos
e deslizamentos de terra localizada no extremo leste da cidade de São Paulo.
Como os eventos de chuvas extremas tendem a ser mais severos e frequentes em
função da crise climática, o quadro analisado pode agravar-se no futuro. O estudo
quantificou através de um modelo computacional o volume de vazão de pico no exutório da
microbacia e estabeleceu um parâmetro numérico de atenuação do pico de vazão em 30%.
O estudo tem como objetivo contribuir para que o desenvolvimento urbano em áreas
periféricas seja mais justo socialmente, mais sustentável e resiliente. Esperamos contribuir
para abordar a complexidade dos problemas ambientais, da ocupação das bacias
hidrográficas e do problema da água (quando falta e quando vaza) e incluir uma nova
abordagem da ciência e da universidade para a transformação das cidades, atendendo aos
objetivos do desenvolvimento sustentável comunidades sustentáveis, água potável e
saneamento e ação contra a mudança global do clima (ODS 6, 11, 13).
146
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Pandemia do coronavírus – 147
C A P Í T U L O 11
______________
RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA:
DESAFIANDO OS LIMITES DA SOBREVIVÊNCIA
INTRODUÇÃO
21
Doutora em Ciências Biológicas: Área de concentração Zoologia, docente na Faculdade Eduvale de Avaré,
São Paulo. E-mail: cvscarol@hotmail.com
148
Como alimentar os habitantes de toda a Terra sem exaurir suas lavouras e sem
causar a extinção de inúmeras espécies de animais? Ademais, como sustentar
o aumento qualitativo nas condições de vida da humanidade se muitos recursos
utilizados para esse fim já estão perto de seu esgotamento, existindo cálculos de
que seria necessário aproximadamente um planeta e meio em recursos naturais
para mantermos a capacidade de regeneração da Terra? (FRIEDE, 2021, p. 84).
A crise ambiental que afeta o país há décadas fez com que a cadeia do setor produtivo
buscasse inovações tecnológicas para a criação de produtos mais sustentáveis. Algumas
empresas investiram na utilização de recursos renováveis para a produção de bens e
serviços, tendo como principal premissa não exceder a capacidade de regeneração desses
recursos, bem como o controle da emissão e o descarte correto de resíduos (ZANIRATO;
ROTONDARO, 2016, p. 84), entretanto, os esforços não foram e ainda não são suficientes.
A pandemia da Covid-19 nos trouxe inúmeras lições, e entre elas tornar ainda mais
evidente que a degradação ambiental traz séria ameaça à sobrevivência da humanidade.
Se não houvesse a exploração da fauna silvestre, o coronavírus causador da Covid-19
não teria evoluído para SARS-CoV-2, e sua circulação estaria restrita aos limites das
florestas, permanecendo somente entre os animais selvagens (ACOSTA et al., 2020, p. 194).
Apesar de todos os ensinamentos que a pandemia proporcionou em relação à
importância da conservação ambiental, ainda continuamos errando com a natureza.
Muitos resíduos plásticos gerados em todo o mundo desde o surto do SARS-CoV-2 não são
descartados de maneira correta e se espalham pelos oceanos. Estima-se que 1,6 milhão
de toneladas de resíduos plásticos biomédicos são produzidas por dia e que 3,4 bilhões
de máscaras sejam descartadas diariamente em todo o mundo. Dessa forma, os níveis de
poluição ambiental por plástico podem constituir um perigo ainda maior para a sobrevivência
dos animais marinhos, os quais já se encontram extremamente ameaçados pelo acúmulo
de plástico nos oceanos (BENSON; BASSEY; PALANISAMI, 2021, p. 8, tradução nossa).
O conceito de Saúde Única (One Health) traz uma abordagem que considera a saúde
humana, animal e ambiental como indissociáveis. Esse conceito foi muito discutido no atual
contexto da pandemia (LIMONGI; OLIVEIRA, 2020, p.146), sendo uma abordagem
fundamental para a superação da Covid-19 e prevenção de futuras catástrofes como essa
(DEEM; BRENN-WHITE, 2020, p.34, tradução nossa). É necessário que profissionais de
diferentes áreas promovam a aplicação da Saúde Única para alcançarmos uma sociedade
mais justa, consciente e sustentável.
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Pandemia do coronavírus – 157
C A P Í T U L O 12
______________
INTRODUÇÃO
22
Professor doutor, Universidade Federal do Ceará (UFC), Brasil. E-mail: cacauceará@gmail.com
158
mais se vão alimentando novas epidemias, de modo que elas virem pandemias. Essa que está
acontecendo agora, a da Covid-19, é algo que já aconteceu de forma similar, no caso da
malária, da peste negra, então, nós temos que compreender como é que isso foi acontecer
e o seu porquê, ou seja, uma questão que ninguém procura responder é como elas surgem.
Esse fato comprova que estamos passando por uma progressiva perda da
inteligência humana natural, da percepção ambiental e social, esquecemos de que somos
parte de um grupo e assumindo cada vez mais comportamentos individualistas. Muitas
das percepções que eram emotivas há anos, hoje se tornam apenas cifras, dados
censitários e estatísticos. A fome, as mortes e desnutrições são abordados apenas como
cifras, números e percentuais.
Assim, a qualidade de vida, a intensidade da fome, as enfermidades e a própria
guerra são maquiadas em forma de valores frios em nosso cotidiano, a mídia vai
transformando essas realidades em algo habitual e comum. A manipulação desses dados,
porém, não pode mascarar as diferenças socioeconômicas e da qualidade de vida no seio
da sociedade contemporânea, principalmente quando lançamos um olhar crítico sobre
o eixo norte-sul no planeta, e se visualizam as tremendas diferenças entre as populações
dos países desenvolvidos e os chamados países em desenvolvimento.
O sentimento que temos pela natureza assume uma visão antropocêntrica,
principalmente junto à população urbana. Compreende-se a fauna e a flora como criaturas
sem espiritualidade qualquer, como se não sentissem dor, nem qualquer tipo de incômodo
e desconforto. A questão dessa diferença de inter-relações com a natureza é como se nós
nos tratássemos como seres privilegiados, independentes e até fora da própria Natureza.
A partir dessa visão antropocentrista predominante, Deus é a nossa imagem e nós
também somos a imagem de Deus. Como filhos preferenciais, o que é pregado pela
maioria das religiões, agimos como a natureza e nosso planeta feito para ser dominado e
espoliado, por sermos justamente os grandes seres superiores.
Na realidade histórica, os seres humanos sempre conviveram com a natureza de
forma orgânica, retirando dela apenas recursos naturais destinados à sua sobrevivência.
No princípio da Humanidade, como ainda é observado em algumas comunidades indígenas
contemporâneas, desenvolve-se maior harmonia e sustentabilidade com a Natureza.
Maior conhecimento perceptivo e intrínseco entre os seres humanos e o seu meio.
A Revolução Industrial e o neocolonialismo foram processos históricos que
levaram a uma grande modificação do planeta, à compartimentação que a gente vê hoje
entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Justamente essas oposições
Pandemia do coronavírus – 159
fizeram com que as relações entre sociedade e natureza se tornassem cada vez mais
antagônicas, predominando as visões antropocentrista, individualista, e cada vez mais
o ser humano aparece como dominante e o há o predomínio das sociedades urbanas.
Mesmo nas zonas rurais há o predomínio dessa visão antropocêntrica, incentiva-se cada
vez mais a assimilação de hábitos e consumos urbanos por parte da população rural.
As pessoas do meio rural, em sua maioria, anseiam ir para a cidade e viver como
moradores urbanos, e a mídia, logicamente, acaba incentivando e estimulando o modo
de vida urbano ocidental, e essa forma de busca acaba se tornando um sonho, uma visão,
um cenário futuro com a predominância da vida urbana, onde o ser humano se mantém
longe da natureza, principalmente para as novas gerações. O homem é lobo do homem,
da própria humanidade, as guerras, os conflitos que o próprio homem cria é que destroem
a natureza, como relatam as histórias da Humanidade.
E depois a aceleração e aumento da capacidade dos meios de transporte e
deslocamento nos países em desenvolvimento, levando a um progressivo acúmulo de
pessoas nos transportes de massa, facilitando a propagação de epidemias. Destaca-se,
assim, que não só a quantidade de pessoas contaminadas aumenta, mas também
a velocidade dessa transmissão, as novas tecnologias atingem não apenas os meios
de comunicação e transporte, mas também os meios de produção, a intensidade de
transformação da Natureza, que cada vez mais chega ao campo.
Nesse sentido, há também uma significativa redução da mão de obra não
especializada, principalmente nas práticas mecanizadas, industrializadas do agronegócio
e de outras formas de produção. Essa população rural acaba buscando o sonho de viver
uma vida urbana, procurando novas formas de comportamento e de consumo que vão
intensificando cada vez mais o êxodo rural dos jovens para os grandes centros urbanos.
A mecanização é um fato no meio rural, quando se falava em meio rural anos atrás,
se pensava em uma fazenda, um agricultor, mas hoje a visão é outra, predominam grandes
áreas de irrigação e o uso de maquinarias pesadas, como ocorre, por exemplo, no bioma
Cerrado, que hoje é praticamente todo ocupado pelo agronegócio. Constata-se que houve
uma grande mudança demográfica e social a partir do século XX, que transformou
significativamente a história da Humanidade, e que essa nova dinâmica social e econômica
que tem surgido vai alterando de forma significativa a natureza, geoambiente,
geobiodiversidade, enfim, as paisagens naturais como um todo.
160
Surgem ainda as grandes migrações por conta das mudanças climáticas, por
conflitos socioambientais, por atrativos econômicos, como o desenvolvimento
concentrado da produção de cana de açúcar na Região Sudeste, fazendo com que um
contingente enorme de pessoas do Nordeste trabalhe por temporadas de safra, ou então
em projetos de mineração. Ambas as atividades promovem o surgimento de ocupações
residenciais e assentamentos urbanos irregulares sem condições urbanas mínimas. Todos
esses fatos formam parte do atual cotidiano antropocênico.
Entre 1950 e 2000 houve modificações quantificativas muito importantes no
contexto mundial, houve uma progressão populacional de 3 para 6 bilhões de pessoas.
Em 50 anos dobrou a população, o consumo do petróleo como energia maior que
movimenta a economia aumentou em 4 vezes, as atividades econômicas como um todo
aumentaram 15 vezes, e hoje a urbanização e os padrões de consumo industrial, do
consumo em massa, predominam em todo o planeta.
O grande problema hoje quando se trata do Antropoceno, é que surge uma nova
classe de processos anteriormente naturais, uma nova categoria de sedimentos, alguns
derivados do petróleo, outros nanopartículas e metais pesados, tudo isso começa a se
incorporar no ambiente a partir das ações humanas. Por outro lado, a biodiversidade
começa a se reduzir, e nesse contexto vamos falar sobre o Brasil, que é um dos maiores
exportadores de biodiversidade do planeta.
O território brasileiro possui de 10 a 20% de toda a fauna e flora do planeta,
com um total de 103 mil espécies de animais e 43 mil espécies de plantas. Só a Amazônia
corresponde a 30% das florestas tropicais, ou seja, o que dela ainda resta. Sua floresta
é um legado para a Humanidade, servindo para contrabalancear as mudanças climáticas e
ambientais. Promove o equilíbrio do ciclo hidrológico. Nessa perspectiva, há uma
necessidade essencial de que se desenvolva uma gestão mais adequada da nossa
biodiversidade, das nossas florestas.
No Brasil, cálculos feitos pelo ICMBio, destacam que o Brasil tem cerca de 8.200
espécies de vertebrados, destes são 4.100 peixes, 1.800 aves, 880 anfíbios, 720 répteis
e 710 mamíferos. Então quando se relaciona a biodiversidade com o surgimento de
doenças transmitidas por animais, pode-se constatar que existe uma relação muito grande
de animais e uma possibilidade também muito forte de transmissão de doença por animais,
se não houverem os devidos planos de gestão e de relação entre sociedade e natureza.
162
transmissão e ainda destaca que como o ser humano se adapta, também os insetos vetores
se adaptam, ficando mais resistentes à aplicação de venenos e também resistentes a essas
modificações ambientais, estabelecendo estratégias de reprodução dentro do contexto
residencial e urbano da sociedade humana.
Desse modo, as ações humanas acabam sendo um grande fator de transformação
ambiental, estamos criando nossas próprias pandemias através da destruição massiva
do meio ambiente, dos desmatamentos e queimadas das florestas, sendo que os
microrganismos que estavam na floresta passam a se disseminar para os diferentes
ambientes humanos, para as diversas paisagens culturais.
Ao analisarmos estudos sobre as mudanças ambientais, verificamos que o ciclo
desses vetores, de alguns insetos, tem uma relação direta com os parâmetros ambientais
que estão sendo modificados, a temperatura, a umidade, a remoção da cobertura vegetal,
de certa forma vão favorecer alguns vetores que irão predominar e ocupar o meio
antrópico. Há ciclos de aumentos da população de insetos, que termina por causar uma
ampliação da transmissão dessas doenças.
A indagação então é: O que fazer? como prevenir e se adequar diante dessa
situação atual? Inicialmente, devemos reconhecer que os próprios seres humanos
também são responsáveis pela proliferação das pandemias.
Não foram os chineses, nem os seus laboratórios que criaram a Covid-19, isso é
uma balela, é agir como uma criança que quebra um brinquedo e fica arrumando
desculpas. Na realidade, devemos buscar estratégias de controle sanitário para impedir
o surgimento de novas pandemias.
Quem a tem? A ciência a veterinária tem, a medicina tem, a geografia tem, nós
precisamos implementar ações a partir de uma visão interdisciplinar. Algumas estratégias
vêm sendo realizadas no contexto amazônico nacional a partir do controle e
monitoramento das zoonoses.
A partir dessas análises, constata-se que há uma correlação direta no surgimento
e ressurgimento de enfermidades devido a construções de barragens, com desmatamento
e com garimpos ilegais, isso é visível, então há que quantificar essa realidade, que mapear
e cartografar esses fatos, identificar e estabelecer estratégias de controle. Estabelecendo
ações em conjunto, por meio de diversos profissionais em diferentes áreas, torna-se
possível planejar, coordenar e propor instituição de modelos de gestão.
Pandemia do coronavírus – 167
Hoje existem tecnologias suficientes para registrar, elaborar cartas temáticas e mapas
propositivos, isso são exemplos de recursos utilizados pelas geotecnologias. Predomina
no Brasil uma situação ambiental grave, sendo que o que ainda resta de unidades de
conservação e de matas, estão sendo incendiadas e desmatadas intencionalmente.
Cita-se o caso do Parque Nacional do Xingú, no seu entorno, todo o território está
sendo saqueado, destruído e contaminado. Então não adianta se conservar parcialmente,
já que os cursos d’água em sua maioria são oriundos de fora do parque. Há que instituir
zonas tampões, corredores ecológicos e um monitoramento permanente no sentido de
se proteger as unidades de conservação de invasões, das pressões antrópicas. Deve haver
um maior controle sobre os cartórios municipais dessas áreas, evitando o registro e a
legalização fundiárias de terras griladas.
Temos que mudar nossa visão, de levar em conta que isso é uma necessidade vital
e que devemos também congregar os conhecimentos científicos com os saberes
tradicionais, considerando o direito à vida para com os animais e a sustentabilidade das
populações de comunidades tradicionais. Devemos exercer a proteção das áreas ainda
ambientalmente conservadas, dando uma real importância para com as comunidades
tradicionais, sejam eles os povos das florestas, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos,
seringueiros. Há uma necessidade de promover uma melhor correlação de gestão,
vinculada a essa interação, também temos que assumir uma visão para os cenários
futuros, futuro, desenhando o que projetamos para as seguintes décadas.
Considerando que nós mesmos somos promotores das pandemias, então qual
o sentido da nossa percepção e qual é a nossa concepção sobre o planeta. Estamos indo
para outros planetas, mas não vemos o que ainda está sob os nossos pés, não temos um
sentimento de pertencimento às florestas, pertencimento aos rios e às águas.
Realmente eu não sei até que ponto a pandemia vai causar maior isolamento,
maior medo da natureza, então a necessidade é agora. Em minha vida, passei por
pandemias de cólera, de malária, estive em outros continentes. E em todas as partes
do planeta, as pessoas em seu íntimo sabem que todas essas mazelas sanitárias
são provocadas pelo próprio ser humano devido à ausência de uma gestão ambiental
eficiente e por falta de reconhecimento que o ser humano é o próprio causador de seus
maiores problemas.
Enquanto não admitirmos nossos erros e percebermos que fazemos parte da
natureza, a situação continuará sendo esta, mas eu tenho fé, tenho esperança e
determinação de que poderemos agir nesse sentido.
Pandemia do coronavírus – 169
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Pandemia do coronavírus – 171
C A P Í T U L O 13
______________
INTRODUÇÃO
23
Professor Doutor Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), campus de Presidente Prudente, São Paulo.
E-mail: vamilton@unoeste.br
172
A pandemia
Desde o fim do ano de 2019 e início de 2020, a humanidade vem se deparando com
a pandemia gerada pelo vírus Sars-CoV-2, o que tem gerado diversos problemas
socioeconômicos no mundo. Além dos problemas ocasionados pelo coronavírus
no organismo, sintomas de ansiedade, depressão, estresse, sofrimento psicológico
e transtorno de estresse pós-traumático têm sido relatados na população de diversos países
em decorrência do distanciamento social (GUESSOUM et al., 2020; VINDEGAARD; BENTROS,
2020; XIONG et al., 2020).
Para compreensão dos processos que levam a epidemias e pandemias é necessária
uma reflexão sobre a evolução humana: da origem até onde o homem pretende chegar.
Atualmente, podemos considerar que vivemos na era antropocênica, na qual o
homem vem deixando a sua marca no planeta. O termo “antropoceno” sugere que a era do
Holoceno está chegando ao fim em virtude dos impactos ocasionados pela humanidade no
planeta (STEFENN et al., 2011). O EcoDebate define o termo antropoceno:
[...] a Era da dominação humana desenfreada sobre o Planeta, tem sido a Era do
aquecimento global, da degradação ecológica e do ecocídio que está provocando
a 6ª extinção em massa das espécies. (ECODEBATE.ORG, 2020, on-line).
Nos últimos anos, o conceito de Saúde Única tem sido adotado como uma
“bússola” para nortear estudos em diversas áreas de saúde humana, animal e ambiental
de forma holística.
O entendimento sobre Covid e outras pandemias são um excelente exemplo para
aplicação da Saúde Única. Ruckert et al. (2020) destacaram quatro áreas nas quais
a aplicação da Saúde Única tem potencial para otimizar o enfrentamento das doenças
infecciosas em geral, particularmente a Covid-19:
a) infraestrutura integrada para vigilância e monitoramento da ocorrência de
doenças infecciosas, tanto em animais como em humanos, para: 1) facilitar
a detecção de novos agentes infecciosos que dividem mesmos genótipos entre
espécies; 2) monitoramento da dispersão espaço-temporal da infecção;
b) otimização da coordenação e colaboração ativa entre diferentes áreas do
conhecimento;
c) Regulação adequada de locais com ambiente que facilitam o risco de
transmissão de zoonoses;
d) elaboração de políticas públicas que reduzam o surgimento de doenças em
população vulneráveis e redução das desigualdades nos serviços de saúde.
1– Erradicação da pobreza;
2– Fome zero e agricultura sustentável;
3– Saúde e bem-estar;
4– Educação de qualidade;
5– Igualdade de gênero;
6– Água potável e saneamento;
7– Energia limpa e acessível;
8– Trabalho decente e crescimento econômico;
9– Indústria, inovação e infraestrutura;
10– Redução das desigualdades;
11– Cidades e comunidades sustentáveis;
12– Consumo e produção responsáveis;
13– Ações contra mudanças climáticas;
14– Vida na água: conservação e uso sustentável;
15– Vida terrestre;
16– Paz, justiça e instituições eficazes;
17– Parcerias e meios de implementação. (Fonte: ONU: https://sdgs.un.org/goals).
A aplicação da Saúde Única no que se refere aos ODS, pode ser apresentada em três
eixos (bem-estar, infraestrutura e ambiental natural), de acordo com o Quadro 1.
Quadro 1 – Aplicação da Saúde Única em ações para os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável,
Agenda 2030, ONU), segundo Queenan et al. (2017)
15 Vida terrestre
Elaboração: O autor, 2021.
Reflexões
De acordo com a Organização Mundial para Saúde Animal (OIE), preservar a saúde
dos animais é proteger o futuro da saúde humana, uma vez que 60% das doenças infecciosas
em humanos são zoonóticas, e 80% das doenças infecciosas emergentes (incluindo ebola,
HIV e influenza) têm origem animal.
A pandemia pela Covid-19 é um exemplo dessa estrita inter-relação associada com
as alterações ambientais decorrentes da ação antrópica.
O período pandêmico que a humanidade está atravessando provavelmente
impactará negativamente na Agenda 2030 no que se refere ao cumprimento dos ODS.
Entretanto, apresentamos uma breve introdução aos conceitos de Saúde Única e como eles
podem contribuir para compreensão e elaboração de estratégias para o desenvolvimento
sustentável visando à saúde do planeta e de seus moradores, quer sejam animais ou os
seres humanos.
Voltando ao estudo de Queenan et al. (2017), esses autores destacaram o ODS 17,
que trata de “Parcerias e meios de implementação”, como um ponto que engloba os demais
eixos de ações. A Saúde Única preconiza a colaboração intersetorial para que essas
estratégias sejam maximizadas, o que vai de encontro com a ODS 17.
O I Congresso Latino-Americano de Desenvolvimento Sustentável teve alguns
eixos temáticos:
180
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.
Pandemia do coronavírus – 183
C A P Í T U L O 14
______________
INTRODUÇÃO
24
Pesquisadora do Centro de Laboratório Regional V – Instituto Adolfo Lutz – Presidente Prudente, Brasil,
e doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Brasil. E-mail:
lourdes.andrea@ial.sp.gov.br
25
Biomédica, mestre em Microbiologia pela Universidade do Estadual de Londrina (UEL), Brasil, Bolsista
FEDIAL no Instituto Adolfo Lutz, Brasil. A referida bolsista auxiliou na transcrição da palestra, assim como
na formatação do documento. E-mail: carolinelucio.m@hotmail.com
184
No caso do ESP, o LACEN é o Instituto Adolfo Lutz (IAL), que é o órgão responsável
para a realização dessas capacitações para que os municípios realizem a triagem
sorológica com imunoensaio cromatográfico Dual Path Platform (DPP) testes rápidos
(TR) DPP Bio-Manguinhos® para LV canina (LVC), produzidos pela Fiocruz, Rio de Janeiro.
Procedimento preconizado pelo Programa de Vigilância e Controle da LV (PVCLV),
da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e MS. Essa atividade de triagem sorológica
é um serviço das secretarias municipais de Vigilância em Saúde, desde que ele tenha
uma equipe treinada e uma infraestrutura adequada dentro das normas de qualidade
e biossegurança para a realização desses exames.
A Rede Regional de Atenção à Saúde 11(RRAS 11) de Presidente Prudente,
que corresponde ao Departamento Regional de Saúde 11 (DRS 11), é composta por 45
municípios, nos quais 34 deles estão em atividade (75,6%) quanto ao serviço de zoonoses.
Apesar disso, dois deles (Mirante do Paranapanema e Euclides da Cunha Paulista) utilizam
a estrutura do Centro de Laboratorial Regional do IAL de Presidente Prudente (CRPP)
por não terem finalizado a estrutura física para execução das atividades pertinentes.
Os outros 11 (24,4%) municípios da RRAS 11 não realizam triagem sorológica, de modo que
cinco deles, apesar de terem sido já capacitados, não têm estrutura física para
186
nas observações do relatório, explicando, assim, o motivo pelo qual não será cumprida
a programação ou se caso necessitar de maior quantitativo, como, por exemplo, em caso de
bloqueio por conta de caso de LV humano. O relatório on-line é o canal de comunicação entre
as escalas, local, estadual e nacional.
Os laudos dos cães cujas amostras sorológicas resultaram em TR DPP não reagente
na triagem realizada pelos municípios, devem ser confeccionados, impressos e entregues aos
tutores. Caso o TR DPP dê reagente, a amostra sorológica deve ser encaminhada ao
LACEN (no caso da RRAS 11 para o CRPP), para que seja feito o teste confirmatório.
No guia de vigilância em saúde do MS é preconizado o ensaio imunoenzimático indireto
(Enzyme-linked immunosorbent assay – ELISA) para LVC. No caso de um resultado reagente
no ELISA, o município é comunicado por meio de boletins informativos, e o laudo deve
ser impresso no sistema SIGHWEB.
Esse laudo, por sua vez, será essencial para que se realizem ações de vigilância
e controle da doença na escala local junto aos tutores. Quando o resultado do ELISA é não
reagente, esse laudo deverá ser entregue ao tutor, e no momento da entrega, o mesmo
deverá ser orientado sobre os cuidados que devem ser tomados com esse animal, além de
uma posse responsável, o uso de coleira repelente e observar o aparecimento de sintomas.
Além disso, informar que uma nova coleta deverá ser realizada por volta de 30 dias após
a primeira, para a confirmação dos resultados.
Desde os primórdios, as doenças infecciosas afetam pessoas, animais domésticos
e selvagens, e são causadas por uma variedade de patógenos capazes de infectar várias
espécies. Após a fabricação e uso em larga escala de antibióticos e vacinas, parecia que
a batalha contra as infecções estava sendo vencida. Entretanto, além de aumentar a
resistência antimicrobiana entre os patógenos bacterianos, nota-se um aumento no
surgimento de doenças zoonóticas, principalmente virais, na vida selvagem, culminando
muitas vezes em surtos fatais, de proporções epidêmicas.
A emergência e reemergência das zoonoses está altamente associada ao contato
e à destruição do habitat da vida selvagem, que pode ser resultado de conflitos armados,
guerras, mudança no padrão do uso da terra, e também ao alto fluxo de pessoas e bens
entre várias localidades. Enfim, as ações antrópicas. Apesar de melhor conhecimento das
causas subjacentes, pouco foi feito do ponto de vista político para enfrentar essas ameaças.
188
Para o bem da saúde pública, a humanidade precisa trabalhar melhor para conservar
a natureza e preservar os serviços ecossistêmicos, incluindo a regulação de doenças que a
biodiversidade fornece, ao mesmo tempo em que compreende e mitiga atividades que
levam ao surgimento de doenças.
Nesse cenário, no final do ano de 2019, foi identificado o Sars-Cov-2, um novo
coronavírus causador da Covid-19, doença zoonótica, de caráter multissistêmico, com alto
nível de contágio, e responsável por causar, principalmente, síndromes respiratórias
graves. Sugere-se que o principal reservatório do coronavírus sejam animais silvestres,
como morcegos e pangolins.
No mês de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou
a Covid-19 uma pandemia, e medidas de controle como uso de máscaras, diminuição
da circulação de pessoas, lockdowns, recursos para o diagnóstico, e até o fechamento
de fronteiras, foram implementadas por diversos países para o controle da transmissão da
doença. Tendo em vista essa situação, as ações de vigilância e os recursos financeiros
e humanos foram realocados com o objetivo de controlar a pandemia. Dessa forma,
doenças que já eram negligenciadas, como é o caso da LV, passaram a ficar ainda mais
expostas frente a essa situação.
Considerando o exposto, o objetivo do estudo foi avaliar o impacto das medidas de
controle da pandemia da Covid-19 sobre as atividades de inquéritos sorológicos para LVC,
entre os meses de janeiro a dezembro de 2020, nos municípios da área de abrangência
do CRPP.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Efetividade da distribuição dos TR DPP LVC nos meses de janeiro a dezembro, no período de
2017-2020
2017 2018 2019 2020
MESES Rec/Prog Rec/Prog Rec/Prog Rec/Prog
Rec Prog (%) Rec Prog (%) Rec Prog (%) Rec Prog (%)
Janeiro 1100 1680 65,48 2200 2545 86,44 900 1910 47,12 2620 3040 86,18
Fevereiro 2800 2460 113,82 2940 2925 100,51 4160 2500 166,4 2480 2860 86,71
Março 2400 3320 72,29 2960 3445 85,92 3380 2340 144,44 2880 3520 81,82
Abril 1800 3760 47,87 2720 3685 73,81 2740 2560 107,03 840 3720 22,58
Maio 4400 4260 103,29 3300 4265 77,37 2740 3120 87,82 1020 4000 25,50
Junho 3880 5550 69,91 3753 5260 71,35 2840 3740 75,94 840 4180 20,10
Julho 4500 2940 153,06 3256 2900 112,28 3160 3200 98,75 520 4000 13,00
Agosto 2900 3790 76,52 3746 3580 104,64 3100 3140 98,73 1840 3460 53,18
Setembro 3046 3800 80,16 3360 3705 90,69 3820 3640 104,95 540 3420 15,79
Outubro 2760 3880 71,13 3460 3840 90,10 2320 2920 79,45 1920 3380 56,80
Novembro 2700 4190 64,44 2220 4530 49,01 1600 2680 59,70 1200 3220 37,27
Dezembro 20 2960 0,68 1400 2690 52,04 2081 2540 81,93 1100 2160 50,93
TOTAL 32306 42590 75,85 35315 43370 81,43 32841 34290 95,77 17800 40960 43,46
Legenda: Recebida (REC), Programada (PROG). Fonte: Instituto Adolfo Lutz, 2021.
Tabela 2 – Média mensal das atividades (recebido/programado) dos municípios no triênio 2017 a 2019, em
comparação à atividade em 2020
Tabela 3 – Distribuição dos TR DPP LVC reagentes, não reagentes e o total analisado, realizados nos meses
de janeiro a dezembro, no período de 2017-2020
2017 2018 2019 2020
MESES
TR TR (%) TNR TOTAL TR TR (%) TNR TOTAL TR TR (%) TNR TOTAL TR TR (%) TNR TOTAL
Janeiro 418 25,27 1236 1654 275 22,60 942 1217 268 22,28 935 1203 266 17,84 1225 1491
Fevereiro 666 19,08 2824 3490 430 18,02 1956 2386 396 10,39 3414 3810 296 17,44 1401 1697
Março 490 17,56 2300 2790 445 14,42 2640 3085 274 14,91 1564 1838 373 18,19 1678 2051
Abril 465 20,46 1808 2273 402 16,62 2017 2419 380 12,11 2759 3139 297 32,35 621 918
Maio 389 17,55 1828 2217 359 14,42 2131 2490 345 17,76 1598 1943 247 24,65 755 1002
Junho 504 23,45 1645 2149 474 17,82 2186 2660 296 11,79 2215 2511 348 25,22 1032 1380
Julho 358 17,67 1668 2026 526 13,95 3244 3770 405 14,99 2297 2702 346 21,76 1244 1590
Agosto 855 22,42 2958 3813 500 12,17 3609 4109 647 14,43 3836 4483 290 23,93 922 1212
Setembro 549 17,09 2664 3213 538 12,33 3825 4363 402 12,68 2768 3170 408 26,07 1157 1565
Outubro 600 14,31 3593 4193 357 11,11 2857 3214 394 15,72 2113 2507 431 30,35 989 1420
Novembro 388 17,72 1801 2189 228 16,69 1138 1366 263 17,81 1214 1477 318 22,57 1091 1409
Dezembro 433 13,42 2794 3227 277 20,34 1085 1362 255 12,12 1849 2104 243 26,53 673 916
TOTAL 6115 18,40 27119 33234 4811 14,83 27630 32441 4325 14,00 26562 30887 3863 23,20 12788 16651
Legenda: Teste rápido Reagente (TR), Teste rápido não reagente (TNR). Fonte: Instituto Adolfo Lutz, 2021.
Tabela 4 – Distribuição dos municípios da RRAS 11 de Presidente Prudente com serviço de zoonoses que
atuaram no inquérito sorológico canino com % de atividade acima da média do recebido/programado do
triênio 2017-2019. Período de janeiro a dezembro de 2020
2017 2018 2019 2020 Média % atividade 2020
MUNICÍPIOS Nº Rec/prog Nº Rec/prog Nº Rec/prog Rec/prog Rec/Progr(% em relação
Rec Prog. Rec Prog Rec Prog Nº cães Rec Prog ) 2017-2019 triênio 2017-2019
cães (%) cães (%) cães (%) (%)
Alfredo Marcondes 1240 180 360 50 1332 260 420 61,90 1392 100 260 38,46 1389 220 360 61,11 50,12 10,99
Ouro Verde 1027 200 220 90,91 1027 240 220 109,09 3465 220 280 78,57 2313 340 240 141,67 92,86 48,81
Panorama 2050 440 1260 34,92 2100 1000 1220 81,97 2100 960 1160 82,76 2100 1280 1180 108,47 66,55 41,93
Pres. Venceslau 4800 740 1600 46,25 4800 680 800 85 4800 1040 1000 104 4800 720 720 100 78,42 21,58
Santa Mercedes 540 360 540 66,67 540 460 540 85,19 540 520 520 100 540 480 540 88,89 83,95 4,94
Tupi Paulista 1200 360 1200 30 1200 900 1200 75 920 620 920 67,39 2200 720 900 80 57,46 22,54
Fonte: Instituto Adolfo Lutz, 2021.
Tabela 5 – Distribuição dos municípios da RRAS 11 de Presidente Prudente com serviço de zoonoses que
atuaram no inquérito sorológico canino com % de atividade abaixo da média do recebido/programado do
triênio 2017-2019. Período de janeiro a dezembro de 2020
2017 2018 2019 2020 % atividade
Média
2020 em
MUNICÍPIOS Nº Rec/prog Nº Rec/prog Nº Rec/prog Nº Rec/prog Rec/Progr(%)
Rec Prog Rec Prog Rec Prog Rec Prog relação triênio
cães (%) cães (%) cães (%) cães (%) 2017-2019
2017-2019
Álvares Machado 6000 660 1440 45,83 6000 480 520 92,31 6000 220 300 73,33 6000 180 300 60 70,49 -10,49
Caiuá 1486 260 240 108,3 1486 260 240 108,3 1486 160 240 66,67 1486 220 240 91,67 94,44 -2,78
Dracena 4400 1160 3300 35,15 4400 1520 2400 63,33 4400 1840 2390 76,99 4400 460 2400 19,17 58,49 -39,32
Emilianópolis 900 220 1000 22 500 620 500 124 500 500 500 100 500 280 520 53,85 82 -28,15
Flora Rica 357 340 480 70,83 600 520 600 86,67 540 560 540 103,7 520 240 520 46,15 87,07 -40,91
Irapuru 1300 460 1480 31,08 1350 720 1380 52,17 1700 860 900 95,56 1700 420 780 53,85 59,60 -5,76
Junqueirópolis 1800 2440 6500 37,54 1500 3640 5120 71,09 2000 3920 4570 100 4500 1700 4540 37,44 69,54 -32,10
Marabá Paulista 700 200 200 100 700 200 180 111,1 700 160 240 66,67 700 122 360 33,89 92,59 -58,70
Martinópolis 7079 300 500 60 7000 2080 1120 185,7 7000 420 400 105 7000 700 3600 19,44 116,9 -97,46
Monte Castelo 830 320 830 38,55 877 320 720 44,44 660 400 660 60,61 660 140 660 21,21 47,87 -26,66
Nova Guataporanga 480 240 480 50 380 340 380 89,47 350 260 360 72,22 380 200 320 62,50 70,57 -8,07
Paulicéia 766 360 240 150 360 460 360 127,8 880 440 480 91,67 1500 340 1200 28,33 123,1 -94,81
Piquerobi 500 240 200 120 500 180 200 100 500 160 200 80 500 160 200 80 100 -20
Presidente Epitácio 4500 680 820 82,93 4500 1000 1680 59,52 4012 840 720 116,7 4012 860 1020 84,31 86,37 -2,06
Presidente Prudente 47000 20506 18800 109,1 50000 17560 18800 93,40 50000 18100 15000 120,7 50000 6000 18200 32,97 107,7 -74,75
Rancharia 7113 280 1880 14,89 7113 600 1860 32,26 7113 560 740 75,68 6408 340 920 36,96 40,94 -3,99
Ribeirão dos Índios 516 280 160 175 516 140 240 58,33 525 20 100 20 529 20 100 25 84,44 -59,44
Santo Anastácio 4000 460 480 95,83 5000 640 720 88,89 3800 420 480 87,50 3800 420 720 58,33 90,74 -32,41
Santo Expedito 1300 420 1300 32,31 720 500 720 69,44 720 320 720 44,44 720 160 700 22,86 48,73 -25,88
São João do Pau D’Alho 480 220 480 45,83 480 300 480 62,50 280 140 380 36,84 240 60 240 25 48,39 -23,39
Teodoro Sampaio 4000 420 1200 35 4000 600 830 72,29 4000 180 660 27,27 4000 320 480 66,67 44,85 21,81
Fonte: Instituto Adolfo Lutz, 2021.
Pandemia do coronavírus – 193
Tabela 6 – Distribuição dos municípios da RRAS 11 de Presidente Prudente sem serviço de zoonoses que
não realizaram atividades de inquérito sorológico canino no triênio 2017-2019. Período de janeiro a
dezembro de 2020
Legenda da situação dos serviços de zoonoses municipais sem realizar triagem sorológica em dezembro de 2020:
Sem capacitaçao sem estrutura
* Capacitado sem estrutura
** Municípios capacitados com estrutura parcial
*** Municípios capacitados com estrutura- sem atividade
Δ Sem vetor
NI Não informado
Ao analisar os resultados, pode-se inferir que houve uma diminuição na atuação dos
serviços de zoonoses municipais de maneira geral, entretanto, isso ocorreu de forma
heterogênea entre os municípios estudados. As equipes relataram que, além de a vigilância
do município estar direcionada para as atividades do controle da transmissão da Covid-19,
os agentes também tiveram muitas dificuldades com os tutores dos cães, uma vez que
os mesmos não permitiam que os agentes adentrassem aos respectivos quintais para a coleta
sorológica dos cães. A justificativa era devido ao risco de contaminação da Covid-19, uma vez
que era uma doença nova, temida por todos e que ainda pouco conhecimento se tinha.
É importante ressaltar que apesar da redução das atividades, os serviços de zoonoses
continuaram realizando demanda espontânea e inquéritos focais, também conhecidos como
bloqueios de área de risco, principalmente em torno de casos de LV humana. Assim, pode-se
inferir que a diminuição da atuação dos serviços de controle dessa zoonose possa provocar
o aumento de casos de LVC, e o consequente aumento de casos humanos da doença,
dado não abordado no presente estudo.
194
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 2017. BEPA, Boletim Epidemiológico Paulista,
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Pandemia do coronavírus – 195
C A P Í T U L O 15
_____________
INTRODUÇÃO
governamentais: Médicos veterinários devem ser vacinados contra Covid-19 Diante desse
cenário, o objetivo deste artigo é fazer uma revisão sobre o assunto de modo a levar o leitor
a uma reflexão sobre este assunto.
26
Doutoranda em Fisiopatologia e Saúde Animal pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade do Oeste
Paulista (UNOESTE). Bolsista Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares
(PROSUP), Mestre em Ciência Animal pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade do Oeste Paulista
(UNOESTE). Bolsista Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP).
Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e Graduada em Economia
pelo Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Brasil. E-mail: fernbmonteiro@icloud.com
196
Polêmicas na mídia
Combate à desinformação
com esse direito estabelecido em norma, os relatos que chegam ao CFMR-SP é de que
muitos médicos-veterinários tiveram dificuldades em conseguir vacinar-se contra Covid-19
(CRMV-SP, 2021).
Médicos veterinários desempenham ações integradas no controle social do SUS
junto ao Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) desde 2011, que atualmente conta
com 114 médicos veterinários atuando nos 19 Estados brasileiros. A importância da
atuação do médico veterinário como agente de saúde se dá por conta de que 75%
das doenças emergentes e reemergentes são de origem animal; desta forma, esta
categoria profissional desenvolve ações de estratégia multidisciplinar no que diz respeito
à promoção de saúde, prevenção e ao controle de doenças e agravos. Também conhece
especialidades no tocante ao manejo técnico das questões ambientais e à circulação
de agentes e patógenos no território e nos domicílios (EPIFÂNIO; BRANDESPIM, 2019;
SANTOS; MORIKAWA; LOPES, 2017).
No NASF, o médico veterinário tem como papel crucial porque é o único profissional
na interface humano/animal, capacitado para realizar ações de planejamento e de
intervenção; prevenção, controle e diagnóstico situacional de risco de doenças transmissíveis
por animais, como raiva, leptospirose, brucelose, tuberculose, leishmaniose, dengue, febre
amarela, etc. Além dessas doenças, atua na prevenção do complexo teníase-cisticercose, são
responsáveis também pela educação em saúde, com foco na promoção, prevenção
e controle de doenças de caráter antropozoonótico e demais riscos ambientais, incluindo
desastres naturais e aqueles provocados pelo ser humano. Ele também desempenha ações
educativas e de mobilização da comunidade, relativas ao controle das doenças e ao uso
e manejo adequado do território, com vistas à relação saúde/ambiente (desmatamentos,
uso de pesticidas, uso indiscriminado de medicamentos veterinários), coordena e planeja
estudos e pesquisas em saúde pública que favoreçam a territorialidade e a qualificação da
atenção e atua nos cuidados com os resíduos sólidos (ANJOS et al., 2021; SILVA et al., 2020).
As ações de educação em saúde nas escolas, divulgação nos meios de
comunicação e sensibilização das comunidades e da sociedade são de responsabilidade
do veterinário do NASF, assim como a prevenção e controle de doenças transmissíveis
por alimentos, e ainda as respostas às emergências de saúde pública e eventos
de potencial risco sanitário nacional, de forma articulada com outros setores
responsáveis. Por fim, também atua na identificação e orientações sobre os riscos de
contaminação por substâncias tóxicas (agrotóxicos e inseticidas) (RIBEIRO et al., 2020).
198
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Pandemia do coronavírus – 203
C A P Í T U L O 16
______________
Rogerio Giuffrida27
INTRODUÇÃO
27
Professor doutor dos Programas de Pós-graduação em Ciência Animal e Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), Presidente Prudente, São Paulo.
E-mail: rgiuffrida@unoeste.br
204
Figura 1 – Modelo SI (“Suscetible – Infectious”). A seta indica o sentido da migração entre compartimentos
à medida que os suscetíveis tornam-se infecciosos
Figura 2 – Modelo SIR (“Susceptible – Infectious – Recovered”). A seta indica o sentido da migração entre
compartimentos à medida que os suscetíveis se tornam infecciosos e recuperados
Figura 3 – Modelo SEIR (“Susceptible – Exposed – Infectious – Recovered”). A seta indica o sentido da
migração entre compartimentos à medida que os suscetíveis se expõem, se tornam infecciosos e
recuperados
Figura 5 – Modelo SIR (“Susceptible – Infectious – Recovered”). A seta indica o sentido da migração entre
compartimentos à medida que os suscetíveis se tornam infecciosos e recuperados. Neste caso os
recuperados podem se reinfectar
Figura 6 – Modelo SIS (“Susceptible – Infectious – Susceptible”). A seta indica o sentido da migração entre
compartimentos à medida que os suscetíveis se tornam infecciosos e suscetíveis novamente
Ainda podem ser incorporadas no modelo variáveis que indicam diferenças entre
sexos ou medidas de contenção da epidemia, como vacinas, isolamento, tratamentos, etc.
(JENNESS; GOODREAU; MORRIS, 2018).
À medida que a epidemia progride, a proporção de indivíduos dentro de cada
compartimento se altera até que toda a população exposta esteja inserida no último
compartimento (Figura 7). Este processo pode ser representado graficamente por meio
de curvas que, sobrepostas em um eixo horizontal, permitem prever o comportamento da
epidemia (Figura 8), após a manipulação matemática de equações diferenciais.
Pandemia do coronavírus – 209
Figura 7 – Evolução relativa de cada compartimento dentro do modelo SEIR (Susceptible – Exposed
– Infectious – Recovered”). A seta indica o sentido da evolução da epidemia
Figura 8 – Evolução relativa de cada compartimento dentro do modelo SIR (“Susceptible –Infectious
– Recovered”) a partir de uma população de mil indivíduos suscetíveis após 300 dias. Os parâmetros
utilizados foram: probabilidade de infecção = 30%, taxa de contatos = 1, taxa de recuperados = 1/10, taxa
de entrada no compartimento de suscetíveis= 1/90, taxa de saída no compartimento de suscetíveis
= 2/100, taxa de saída no compartimento de infecciosos = 1/90 e taxa de saída no compartimento de
recuperados = 2/100. As linhas indicam a evolução do número de indivíduos dentro de cada
compartimento (s.num = suscetíveis; i.num = infecciosos; r.num = recuperados). Nota-se que o pico
da epidemia ocorrerá por volta dos 40 dias (linha vermelha)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Acesso em: 13 set. 2021.
Pandemia do coronavírus – 215
C A P Í T U L O 17
______________
INTRODUÇÃO
28
Jornalista e Conferencista.
216
Então o Homem está totalmente sem o controle de sua finitude, sem o suposto
controle de seu destino, de seu amanhã, como por exemplo, aquelas pessoas que têm
medo de andar de avião porque não têm o controle sobre aquele aparelho.
O ser humano tem a necessidade do controle e sempre acreditou que tem o
controle sobre a sua finitude, como se tivesse a autorização intima de decidir quando
e como ele vai desencarnar, Mas não, não é bem assim, embora acreditemos que sim: “não,
isso não é para mim agora, isso não vai acontecer comigo”, e expõe sua vida como se o fim
nunca fosse ocorrer, embora seja a certeza mais absoluta desde que encarnamos, ou seja,
desde que nascemos.
Logo, a pandemia trouxe essa sensação de insegurança pelo sentido da finitude, “eu
não tenho controle sobre isso”, quando também não tem controle sob a própria doença
se vier a se contaminar, e nem sobre o destino dos filhos, nem da família, nem de ninguém.
Esse estado emocional está fazendo emergir as inseguranças intimas do Homem,
todos os seus pânicos, os seus temores, as suas fobias, o seu desequilíbrio, que por vezes
dentro de uma situação linear na vida fica imerso e que agora está vindo à tona, está se
externando. Para esse momento, de fato, esse momento pós pandemia do vírus, a fé é o
que mais vai dar suporte, precisará estar presente em todos os processos.
Assim, uma pessoa que hoje, por exemplo, se desestabiliza durante o processo da
doença, na fase viral, desestrutura todos os processos da chamada segunda semana,
quando sai da crise viral e entra nas consequências do seu próprio processo imunológico.
Nesse momento mostra-se o Ser como é, e cada pessoa terá uma forma de lidar
dentro dessa pandemia e gerará resultados inerentes a ele, que são pertencentes a cada
indivíduo, por isso que cada um tem uma forma de processar esse momento enquanto
dentro da doença, dentro da crise da doença propriamente dita.
Aí se estabelece aquilo que chamamos de fé. O Homem que a possui se vê diante da
doença, na interpretação de sua vida, gerando para si, para seu próprio sistema imunológico,
calma, resignação, elementos de pacificação intima, ou seja, busca dar-se um momento
de paz intima para que seu corpo físico, para que seu sistema imunológico lendo essa paz
intima, lendo esse momento de tranquilidade, de calma, entenda isso mais seguramente.
Dessa forma, o Ser Humano sabe que aquilo que está acontecendo vai afetá-lo,
sim, mas que vai ter controle sobre isso. É nesse sentido que hoje lemos os processos
da fé nos encaminhamentos, nos desenvolvimentos das doenças manifestas. Como essa
doença, propriamente dita, está muito “linkada” a partir da fase viral ao comportamento
218
íntimo de cada um, fica muito claro quando o Homem pode ser o autor de sua doença,
o autor de sua cura, o autor dos processos íntimos aos quais ele é dotado como Espírito.
Ele é dotado, essas respostas estão lá.
A verdade é que todos nós, Humanos em luta pela vida, sabemos dizer se temos em
nós essa fé inabalável, e a fé inabalável em Deus, e sabemos que a fé inabalável em Deus
vai nos gerar resignação, um estado de espírito de altíssimo poder, e que tem uma forma
muito peculiar de manifestar-se.
Resignar-se é aceitação, “eu aceito isso, isso veio eu aceito. Então eu tenho essa
resignação, essa aceitação, não nego o processo, aceito”.
Assim, a aceitação que é essa resignação, é a fé em Deus. “Eu sei o que está
acontecendo e eu entendo que eu preciso passar por isso”. Mas esse comportamento,
esse pensamento, não é aquela fé em Deus do tipo passiva e submissa, “olha eu estou aqui,
não vou fazer nada, não tomo remédio, não faço nada porque você vai me curar”. Não é isso,
é a fé do entendimento da necessidade e da aceitação, da busca na intimidade da consciência
dos elementos que podem ajudar, na realidade o primeiro autoamor. É necessário que se
faça esse link da fé, o amar-se, o conhecer-se, o saber-se para poder utilizar esses recursos
com sabedoria e parcimônia.
Então, o ser humano nesse momento deve utilizar da fé divina que é a resignação e
da fé em si que é saber que tem controle e autoridade moral com seu próprio corpo. O corpo
“obedece” ao seu primeiro mestre que é o próprio Espírito que ali está, é o Ser que ele é.
O corpo é um vassalo, digamos assim, desse seu mestre, o espírito, a mente, a alma.
E quando nós aprendemos a acessar isso em nós mesmos, pelo nosso conhecimento, pela
nossa sabedoria – primeiro, o conhecimento empírico, o conhecimento que já está lá em
nós pela nossa própria criação, pelo ser que somos - emitimos ordens e determinações
ao nosso próprio corpo, as células do nosso corpo, sabemos acessar o nosso sistema
imunológico e falar com ele. Mas não é simplesmente parar e olhar e falar assim “sistema,
é o seguinte, vamos resolver isso”. Não.
Temos que ter a força intima de saber acessar, inclusive verbalmente. Eu ordeno
ao meu corpo, eu ordeno ao meu sistema imunológico, eu ordeno às minhas células. Eu
posso me curar, eu posso ser melhor. Eu sou o meu médico, eu sou meu regente. Estas
expressões, eu ordeno, eu posso, eu sou têm muito poder. Estas expressões são a fé
verbalizada, emitida, sonorizada. São uma ordenação.
Pandemia do coronavírus – 219
REFERÊNCIAS DE APOIO
C A P Í T U L O 18
______________
INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho
29
Doutor em Geografia, Professor da Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE), campus de Presidente
Prudente, São Paulo. E-mail: wlussari@unoeste.br
222
Também temos que ver um outro lado que é algo muito curioso que nós percebemos.
Vivemos um ciclo de prosperidade jamais visto na humanidade, apesar de
enxergarmos com mais frequência os problemas humanos e sociais. Precisamos entender
que também temos problemas que foram solucionados há algum tempo e que nos últimos
50 anos evoluímos muito mais em termos de bem-estar social e prosperidade que nos
últimos 500 anos (RIDLEY, 2011).
Boa parte disso derivado da tecnologia e avanço do conhecimento no combate
a doenças, melhoria da compreensão do estado de vida da sociedade e melhoria das
condições de vida da sociedade como um todo.
Lógico que quando mencionamos que melhorou não significa que tenha melhorado
para todos. Sabemos que existe aquela parcela da população que ainda sofre questões
fundamentais, mas é algo que vence lenta e gradualmente, diminuindo ao longo Século XX
e do começo do século XXI, que teve uma aceleração da melhoria da condição de vida da
população mundial.
Também temos que enxergar que precisamos encontrar um ponto de equilíbrio. Se
temos um problema de concentração da riqueza, do outro lado temos um problema de
carência do trabalho.
Em 2020 a força de trabalho no mundo era de 3,387 bilhões de pessoas em idade
de trabalhar (WORLD BANK, 2021). Um indicador interessante, porque ao se dizer que tem
muita gente trabalhando, é esse número que queremos trabalhar aqui.
Por outro lado, temos um outro número que é bastante preocupante. Apesar de ser
um dado um pouco mais antigo, temos em torno de 30 a 45% da população mundial
em idade de trabalho sem utilização, ou seja, está desempregada, inativa ou
subempregada. Algo em torno de 850 milhões nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha,
Japão, Brasil, China e Índia (MANYIKA, 2017).
Isso realmente é um desafio muito grande e está atrelado também a uma questão
básica que convivemos aqui em relação à competição pelo mercado de trabalho.
O grande desafio que o indivíduo tem é: Onde é que você está? É uma pergunta
que apresentamos em nossas aulas, sempre que pegamos uma turma nova.
Particularmente hoje, no ensino remoto ou no EaD, a discussão gira em torno
de como fixar a atenção do aluno, como fazer ele se interessar, porque milagre não tem.
Pandemia do coronavírus – 223
Muitas vezes, por mais que queiramos, não se consegue atender a concentração da
pessoa, até por conta que vivemos um estado de comportamento em que tudo compete
pela atenção.
Ficamos debatendo sobre o que se quer aprender, porque se quer estudar, etc.,
mas também tem aquilo que se gosta de fazer, aquilo que atrai.
Então a internet, a televisão, as redes sociais, isso tudo, acaba roubando um tempo
precioso do indivíduo, para que ele efetivamente se aproprie de algum conhecimento do
qual ele possa empregar de fato no seu dia a dia, na sua carreira profissional, no seu mundo
do trabalho.
Isto porque o mundo do trabalho é individual. Não adianta discorrer sobre o nosso
mundo do trabalho, pois não vamos conseguir fazer com que o outro desenvolva o mundo
do trabalho dele. O nosso desafio é tentar enxergar onde é que estamos nesta “fila”
de trabalhadores. Às vezes, usamos nosso próprio exemplo.
Se estamos falando que temos 3,4 bilhões de pessoas, vamos imaginar todos em
uma fila única.
Por que uma fila única?
Por causa da hipercompetição?
Hoje a hipercompetição faz com que as empresas tenham mobilidade de um país
e outro.
No primeiro semestre de 2021, no Brasil, vimos que a Ford fechou as fábricas
demitiu o pessoal e se transformou numa importadora.
É uma típica situação em que a empresa precisa sobreviver, e para sobreviver toma
decisões que muitas vezes não agrada ou não se insere na cabeça das pessoas com relação
à necessidade de se posicionar.
Como resultado os colaboradores têm o problema de ficarem desempregados
subitamente. O que vão fazer da vida? Vão arrumar emprego em outra empresa…
Mas as fábricas estão paradas ou parcialmente funcionando, além do que boa parte
desse pessoal mora em uma região, onde a fábrica se localizava, e as outras empresas,
ou outras vagas de emprego, estariam em outras regiões do Brasil.
Estamos falando de um país continental, onde as distâncias interferem na
mobilidade das famílias.
224
O resultado é uma relação direta com as empresas que estão procurando gente. Elas
querem saber o que as pessoas estão produzindo criativamente, produtivamente,
inteligentemente, que seja de interesse delas.
Aí dizem muitas vezes que a questão da rede social é pessoal, “eu faço o que quiser”.
Bem, você pode fazer “porque eu quero”, como aquela história do “pronto, falei”, mas como
isto impacta no interesse das empresas?
A questão é que as empresas também contratam as pessoas a partir de uma
varrida nas redes sociais, colocando um indivíduo numa posição de entrevista ou
simplesmente de descarte.
A pessoa posta e acha divertido, por exemplo, “odeio meu chefe”, “detesto levantar
cedo na segunda-feira”. Como isto será interpretado? Quem é que vai contratar alguém que
posta isso, especialmente em posições de comando e decisão?
As empresas estão atrás de pessoas. De preferência pessoas qualificadas, que saibam
operar em grupos multiculturais, em escala global, ou, sintetizando, trabalhadores classe
mundial, que dominem o Ethos Virtual de organizações virtuais (GRENIER; METES, 1995).
Ainda assim há momentos de dificuldade de contratação.
No mês de maio de 2021, por exemplo, conhecemos uma pessoa procurando gente
para trabalhar e não conseguia contratar. Isto porque precisava de contratar um gerente.
Já havia entrevistado várias pessoas e não conseguia, porque as pessoas não
tinham as aptidões necessárias, não tinham uma noção com relação a metas de
resultados, liderar equipe, etc. Não tinham essa capacidade.
E aí aparece um dilema da atualidade, algo que chega a ser surreal.
No momento em que nos colocamos como contratantes, precisamos ver quem tem
o perfil adequado para a demanda necessária. E nem sempre ocorre adequadamente.
Também temos aí a questão do trabalho temporário.
O trabalho intermitente e o trabalho temporário, numa primeira análise das
pessoas, têm a ver com a precarização da mão de obra. Mas essa “precarização” da mão
de obra precisa ser mais bem compreendida.
Como foi colocado claramente por Grenier e Metes (1995), é necessário saber
trabalhar em equipes virtuais, que não se refere a equipes virtuais de internet apenas, mas
equipes que são construídas em tempo recorde. Estruturam-se para atender a um objetivo
e se desligam, se desfazem, uma vez este objetivo atingido. E aí vem a questão de qual é a
necessidade do momento.
226
Novas tecnologias
Outro ponto que acreditamos ser muito interessante é a questão das novas
tecnologias. Ao longo do tempo sempre defendemos a ideia de que tecnologia é tecnologia,
desde o homem das cavernas até hoje tudo é tecnologia.
O que ocorreu é o que chamamos hoje de tecnologia, as coisas de ponta,
eletrônicos, etc., derivam de um mundo que avança, a ciência avança, a engenharia avança,
e elas proporcionam a construção de novas concepções, novos conhecimentos, novas
ferramentas.
Quando se fala de novas tecnologias na atualidade, está se tratando da
sobreposição acelerada de tecnologias que sucateiam a tecnologia imediatamente
anterior. Não é uma questão de que as novas tecnologias estão substituindo a tecnologia
de dez mil anos atrás, nada disso.
Muitas vezes, uma tecnologia substitui uma coisa que saiu o ano passado, ou há
poucos dias.
Mas por que isso ocorre?
Por causa da rapidez de processos e de que as empresas buscam efetivamente
construir aplicações tecnológicas cada vez mais eficientes e que ofereçam mais resultado.
O fenômeno de aplicativos, bem como de startups, são casos típicos de tecnologias
que substituem outras tecnologias imediatamente anteriores ou paralelas.
Assim, o problema não é apenas dominar uma tecnologia, mas saber aprender
outras tecnologias, inclusive largando a que se aprendeu ontem para uma com a qual se irá
trabalhar hoje.
Pandemia do coronavírus – 227
Home Office
Porque, do ponto de vista do trabalho, o home office vai expandir daqui para a frente.
As empresas vão deixar em home office tudo aquilo que não cause ônus para ela, que não
seja imprescindível, de forma que o cidadão possa ficar distante e ao mesmo tempo
integrado com a empresa, e o home office vai favorecer o trabalho remoto longe
das instalações.
Atualmente ainda há muitos empregados da empresa na mesma cidade, próximo ao
local de trabalho, trabalhando remotamente.
À medida que as coisas forem sedimentando, as pessoas serão contratadas para
trabalhar em home office, independentemente do local em que ela resida, em qualquer lugar
do mundo.
A pessoa fala bem português, tem contrato de trabalho no Brasil, mas atualmente
reside no Havaí, morando em uma casa à beira da praia.
Para a empresa a questão é: Você dá conta do recado? Sim.
É uma questão que veio para ficar e nós precisamos nos preparar para respeitar esta
nova regra de trabalho.
O home office não é fruto da pandemia, mas com certeza será a árvore que mais dará
frutos pós-pandemia.
Se tínhamos uma expectativa de que novas tecnologias e a IA fossem a bola da vez na
pós-pandemia, além do que foi dito sobre o trabalho temporário, o home office corre por
fora e ultrapassa todas elas.
Por quê? Porque ele atinge um número maior de pessoas do que serão atingidas pela
IA e novas tecnologias. Isso impactará não apenas as questões tecnológicas,
mas também o tecido urbano das cidades, mobilidade urbana, distribuição demográfica dos
trabalhadores, entre outros aspectos.
Ou como citado por Kotkin (2001), em que aponta que no Século XXI as comunidades
precisam sobreviver e prosperar, fomentando um senso de conectividade em união humana,
com um senso de espírito cívico que determinará como elas garantirão lugar na geografia da
era digital.
230
A competitividade pessoal
Diante do até aqui exposto, pode-se perguntar: Mas por que isso? Porque temos
3,387 bilhões de pessoas que estão trabalhando ou em idade de trabalhar. Descontando os
850 milhões citados, temos em torno de dois bilhões e meio de pessoas que
estão trabalhando.
Ou seja, em um mundo de 7 bilhões de pessoas, dois bilhões e meio de pessoas estão
na ativa, trabalhando, produzindo.
E aí vem a questão fundamental: Em que posição você está nesta fila?
Considerando dois bilhões e meio de pessoas estão nesta fila imaginária, então é
preciso saber em que ponto nessa fila o indivíduo está.
Eu estou no primeiro lugar da fila? Estou no último? Pessoalmente, garanto para
vocês que não estamos no primeiro lugar da fila.
Estudamos, fizemos mestrado e doutorado, publicamos livros, trabalhamos há
43 anos, mas não estamos no primeiro lugar da fila. Entretanto, também não estamos
no último lugar da fila.
E aí volta a pergunta: Onde você está? E esse é o desafio que temos na pós-pandemia.
Afinal, muita gente entrou na crise. Porém, a crise tem uma coisa muito interessante:
quando ela ocorre, normalmente a sociedade vai todinha para o buraco, vai por atacado.
Por outro lado, saímos da crise pelo varejo, isto é, um de cada vez, cada um com as
suas próprias forças. Quem tem melhores condições, sai primeiro da crise.
As empresas mais bem estruturadas, mais bem preparadas, saem primeiro da crise
(CHARAN, 2009). As pessoas que estão mais bem capacitadas, e mais bem preparadas para
enfrentar a crise, saem primeiro da crise.
E você? Esse é o seu problema.
Tem gente que só vai se preocupar em se qualificar, investir na educação,
na formação pessoal e profissional depois da crise. “Vamos ver, vamos esperar tudo isso
passar…”.
Aí a vaca já foi para o brejo, porque enquanto a pessoa espera sair da crise, muitas
outras já saíram da crise e pegaram as melhores posições, melhores empregos, as melhores
oportunidades, os melhores negócios, e quem sai por último fica com que tiver, se tiver.
Pandemia do coronavírus – 231
Assim, o nosso dilema individual hoje não é colocar a culpa na sociedade, ou culpar
o futuro, ou na tecnologia. Mas fazer uma autoanálise de fato e refletir: “Onde eu estou essa
fila de trabalhadores?”.
Porque se estiver na fila dos desempregados, pior ainda. Mais ainda eu tenho que
investir em formação, em educação e caprichar no meu currículo. Não tem como fugir disso,
é o nosso maior desafio. E com isso entendemos que, do ponto de vista do trabalho do ser
humano, é preciso se qualificar.
As oportunidades estão aí, onde os governos proporcionaram tantas coisas para as
pessoas. Não apenas do governo presente, mas todos os governos do passado. Ofereceram
oportunidades de ensino superior, favoreceram o ensino a distância, favoreceram o ensino
técnico, cursos gratuitos para toda a sociedade.
Ainda assim, muitos cursos abrem oferta e não conseguem preencher vaga porque
ninguém faz. Ninguém quer, ninguém se interessa.
Qual a razão deste problema?
Falta de conhecimento, falta de iniciativa, falta de interesse, ou acredita-se que
o mundo está bom. Percebemos que muitas pessoas têm uma dificuldade horrorosa em
conceber esse tipo de situação.
O nosso maior pesadelo é exatamente saber ter o momento de parar e pensar um
pouco e dizer: “Eu preciso me qualificar, vou me qualificar e vou me esforçar para fazer isso”.
Porque quando paramos para pensar (lembra-se da fila?), no que você parou para
pensar, já passaram 50 ou 100 pessoas na sua frente. Esta fila é altamente móvel, ela não
estaciona para esperar a pessoa se qualificar.
Mas quando a pessoa obtém um diploma de ensino superior, ela pula milhares de
posições de trabalho, porque mesmo no mundo (e não é só no Brasil), temos ainda uma
minoria da população que tem diploma superior.
Para se ter uma ideia, a “taxa de escolarização líquida (que mede o percentual
de jovens de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior em relação ao total da população
da mesma faixa etária) é de apenas 18,1%”. (SEMESP, 2021). Um pequeno crescimento
dos 16% anteriores.
232
O ensino superior nos qualifica para termos melhor condição de trabalho. Se não
exploramos isso, estaremos em dificuldades.
O principal desafio é se qualificar, é nosso dever. Porque nós temos que ser
competitivos nessa fila de emprego e a pandemia lançou uma lente de aumento
nessa questão da competitividade pessoal. Não é global ou coletiva, é uma competitividade
pessoal.
As empresas, à medida que forem saindo da pandemia, vão observar a fila e dizer:
“Vamos ver quem vamos contratar nesta fila”.
Para quem está trabalhando, quem está em boa ocupação, não vai largar o emprego
para trocar para outra, a menos que seja muito vantajoso.
Mas as empresas vão ter que ficar rastreando quem é que está disponível para ocupar
as vagas de trabalho.
Até mesmo em atividades mais simples, no comércio, existem dificuldades para se
contratar pessoas. Porque elas não estão trabalhando, ou não estão voltando a trabalhar,
e tem emprego de atendimento, para garçom, para serviço geral.
Então tem mais do que apenas um problema socioeconômico. Tem um problema
também de atitudes, que vai influenciar pesadamente a nossa capacidade de emprego
(O LIVRE, 2021).
PARA ENCERRAR
Porque o hiato tecnológico de uma fase anterior da sociedade, como, por exemplo,
da Era Industrial, o Brasil levou 200 anos para ingressar na nela, de 1750 da Inglaterra para
1950 no Brasil. Entretanto, na era tecnológica da economia 4.0 esse hiato tem três anos ou
dois anos e meio, ou seja, praticamente de ontem para hoje.
E esse é o nosso principal desafio: Como é que vamos nos enquadrar nessa nova
sociedade e de que maneira podemos nos posicionar nesta fila de emprego?
Para finalizar, gostaríamos de recomendar a todos que se tornem bastante
competitivos, porque o mercado vai efetivamente absorver essa mão de obra. Afinal, ela é
necessária para o desenvolvimento da sociedade e atender os novos desafios do Século XXI.
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C A P Í T U L O 19
______________
PERMACULTURA URBANA:
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A PRODUÇÃO E PARA A VIVÊNCIA
NAS CIDADES DURANTE E PÓS-PANDEMIA
30
Professor Doutor do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente da Faculdade de Ciências
e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), campus de Presidente Prudente, São Paulo.
E-mail: fs.okimoto@unesp.br
31
https://regiao-sul.pt/2020/03/15/internacional/covid-19-taxa-de-mortalidade-no-mundo-esta-em-
374/490255. Acesso em: 15 abr. 2021.
32
https://xvifinance.com.br/. Acesso em: 15 abr. 2021.
236
O que é permacultura então? Bem, o que foi permacultura está nos livros, textos
e ações passadas, registradas e analisadas ao longo do tempo. O que é permacultura,
ainda está por ser escrito, mas já se encontra impregnado em cada um de nós hoje,
apenas como demanda e, às vezes, também como desejo. O modelo se moldou e se alinhou
com os contextos em que se inseriram ao longo do tempo e há novos conceitos, novas
modelagens e novos rótulos para todos os gostos.
Não parece fazer sentido ficar falando da permacultura do passado, senão para
referenciar e reverenciar seus conceitos e seus criadores num mundo insensível de
copiar/colar. Considera-se preferível falar da permacultura passível de aplicar na construção
civil contemporânea e na vida dos habitantes desse mundo.
Ética
A postura ética da permacultura dizia para cuidar do planeta, cuidar das pessoas
e fazer partilhas justas (NETO, 2018). Se antes remetia aos cuidados ambientais e sociais
nos campos rurais e ao modelo cooperativista de trabalho, atualmente remete:
a) ao consumo responsável dos insumos naturais, buscando preservar, regenerar e
restaurar os processos naturais; b) aos cuidados para com os seres vivos e suas demandas
físicas e emocionais individuais e coletivas (nas associações que buscam naturalmente).
As principais mudanças em relação ao passado foram o aumento da lista de seres vivos que
precisam e cuidados hoje e a visão de que os provimentos necessários aos seres atualmente
são muito mais que alimento e alguns poucos confortos. Hoje, os direitos humanos
são muito mais amplos; e c) se antes a partilha justa significava apenas dividir os custos
e lucros das vendas rurais entre os cooperados ou membros da comunidade, atualmente
significa alinhar todo esse processo capitalista às preocupações e aos impactos ambientais
e sociais que eles promovem. Significa não acumular para além da capacidade do planeta
de acompanhar isso e nunca gerar desperdícios.
Princípios primários
Além dos princípios éticos da Figura 1 (nos seus contextos mais comuns), o modelo
permacultural estabeleceu 12 princípios metodológicos para focar e orientar as metas
e as estratégias de nossos projetos e de nossas ações. Segundo Holmgren (2007),
os princípios são 12 e interpretados por mim como descrito a seguir:
238
3. Obtenha rendimento: Não devemos praticar ações que não tenham propósito,
que não retornam benefícios. De preferência, cada propositura deve acumular quantas
funções puder ter, quantos benefícios puder oferecer. Tem relação direta, mas não
exclusiva, com a eficiência financeira, energética e dos demais insumos e eficiência social
aos usuários e ao planeta também. Pensem nos benefícios que uma parede poderia
verdadeiramente nos oferecer e os poucos que normalmente obtemos dela. Uma viga
que também é calha, um pilar que também é condutor vertical de águas pluviais, etc.
Pandemia do coronavírus – 239
7. Projete partindo dos padrões para chegar aos detalhes: Princípio que solicita que
vejamos os processos e padrões naturais ao longo da história. Se prestarmos atenção,
há padrões e processos naturais que se repetem o tempo todo no planeta. Esse princípio
diz que esses padrões, por se repetirem constantemente na natureza, só podem estar
certos, adequados. Portanto, segui-los parece ser boa ideia. Na construção civil, vemos
os sistemas estruturais se espelhando em sistemas ósseos, esqueléticos ou as redes e as
teias de aranhas ou, ainda, os adesivos como a baba de cupim sintética.
240
8. Integrar, não segregar: Este princípio estimula a visão sistêmica das coisas.
Valoriza a cooperação e a colaboração como estratégia de produção mais eficiente das
coisas e resultado mais eficaz para as coisas. Relaciona a eficiência das ações quando
promove as sinergias positivas e as interlocuções entre os elementos de algo complexo.
Na construção civil, é relevante, importante e contemporâneo falar dos projetos
colaborativos, BIM, em que os atores falam e solucionam as interfaces arquitetônico
e estrutural, estrutural e hidráulico-sanitário, hidráulico e elétrico, etc.
12. Use criativamente e responda às mudanças: Parece que o último princípio fecha
muito bem o conjunto que começou com as ações básicas de observar o (e interagir com o)
meio físico real. Este princípio fala de imaginação, de pensarmos como queremos que seja
o futuro a ser construído, mas também fala de imaginarmos o que podemos fazer, desde já,
para chegarmos a um futuro desejado quando nos são impostas condicionantes externas
ao nosso controle. No fim, resume-se no fato que somente podemos agir se soubermos
aonde queremos chegar, o que queremos que seja. Imaginar cenários! A construção civil,
como tem produtos complexos, caros e demorados, está sujeita a toda sorte de mudanças
e criatividade é a palavra de ordem quando se buscam produtos consistentes.
METODOLOGIA
Seja qual for o produto da construção civil para assentamentos humanos, pode-se
aplicar a metodologia da permacultura com a observância de seus princípios metodológicos.
242
Trajetória na
Primavera
Basta haver a intenção de humanizar, cuidar das pessoas, do meio ambiente e dividir
equitativamente seus benefícios, eficientemente. Entretanto, ambientes muito pequenos
podem não permitir um zoneamento completo, mas não precisa ser assim, pode muito
bem trazer em si os princípios éticos e muitos ou todos os princípios metodológicos que
está tudo bem. O zoneamento e a setorização traduzem apenas as buscas por eficiência de
usos e por contextualização com as energias internas e externas, respectivamente.
33
Fonte: Disponível em: http://www.agenda2030.com.br/os_ods/. Acesso em: 13 mar. 2021.
248
Aqui são apresentados alguns conceitos alinhados à permacultura que podem gerar
políticas públicas. Na Figura 8 estão alguns desses conceitos. Como exemplo, podemos citar
a agroecologia urbana sendo induzida por decretos e incentivos para o cultivo de alimentos
e a restauração ecológica urbana.
Figura 8 – Conceitos que se relacionam com a permacultura e que podem induzir políticas públicas
de uma chopeira. Outras instalações devem ser pensadas e propostas, como, por exemplo,
sistema de drenagem e reúso de águas dos ares-condicionados, sistema de drenagem
de óleo vegetal usado, etc.
Saindo das edificações e chegando às infraestruturas urbanas, a mesma postura
sendo observada, chegaremos às infraestruturas verdes e azuis que ajudam as usuais
cinzas a resolverem a drenagem urbana com materiais mais sustentáveis, com sistemas
mais eficientes e paisagens mais verdes e naturais, até mesmo agroecológicas.
Por fim, algumas políticas públicas podem ser desenvolvidas sobre esses conceitos,
tais como:
a) IPTU ecológico;
b) permissão de uso de áreas públicas;
c) educação ambiental: práticas domésticas;
d) apoio local focado nas comunidades;
e) incentivos na sociocracia, autogestão e autonomia comunitária;
f) participação na gestão local também;
g) equidade de gênero e valorização da diversidade;
h) suporte às minorias e populações;
i) geração local e sistêmica de trabalho e renda;
j) incentivos às tecnologias sociais na produção e no consumo das cidades, etc.
Uma análise desse porte e nessas condicionantes sempre será pessoal porque
carrega em si a personalização das bagagens técnica e cultural individuais.
No bairro, a zona 0 pode ser as unidades habitacionais porque é onde a maioria
dos residentes do bairro passam a maior parte do tempo, mas poderia ser outro
elemento, caso um outro exemplo assim requisitasse.
Os lotes mínimos usuais (entre 200 m 2 e 250 m2) dessas unidades habitacionais
poderiam acomodar planejamentos permaculturais individuais que modificariam o modo
de vida dos habitantes, da família, oferecendo mais autonomia alimentar, menores
consumos de recursos externos, menores gerações de resíduos líquidos e sólidos,
menores custo de vida.
Pandemia do coronavírus – 253
A zona 2 desse bairro precisaria de menor número de espaços, porém maiores porque
seriam áreas que trabalhariam para 4 ou 6 quadras, cuidando de produzir bens e serviços
para 200 famílias. Aí, cabem as padarias de bairro, farmácias de bairro, açougues, mercados,
lojas de materiais de construção básicos. Cabem, também, os pontos de entrega voluntária
256
A zona 3 já deve ser mais ampla, englobando o bairro todo ou mais bairros, se forem
menores, talvez na ordem de residente de umas 30 quadras. Normalmente, nessa escala há
áreas institucionais maiores, destinadas a espaços escolares, unidades de atendimento de
saúde, supermercados, outras edificações institucionais de médio porte como lotéricas
e bancos, pequenos e médios comércios e áreas verdes, praças e parques. Normalmente
nessas áreas institucionais há poucas (ou nenhuma) estratégias de uso real delas. Muitas
vezes, nas áreas verdes são plantadas espécies diversas em fileiras regulares a 3 metros de
distância e deixadas à própria sorte sem os necessários cuidados iniciais. As praças recebem
vegetação ostensiva, normalmente exóticas, e mobiliário. Recebem cuidados iniciais, às
vezes. Os parques costumam receber vegetação nativa com propósito de restauração e um
mobiliário menos incisivo e fica por isso.
Bem, existem por aí propostas bem fundamentadas, planejadas e executadas, mas
são bastante pontuais, quase raras. Esse comércio de bens e serviços de bairro deverá se
adaptar ao novo paradigma já mencionado e se preocupar com seus produtos e seus resíduos
e praticar sustentabilidade na sua produção e logística reversa dos seus resíduos porque
querem fazer isso e porque os residentes também exigirão. Já para as áreas verdes, parque
e praças, poderiam ser temáticas também, mas mais contundentes, apoiadas em projetos
sociais, ambientais e econômicos. Poderia haver uma “praça das orquídeas” que produziria
mudas de espécies nativas em extinção e as distribuiria para organizações especializadas e,
também, produziria renda e trabalho para os residentes que desejassem participar e incluiria
pessoas de populações fragilizadas em recuperação (toxicômanos, alcoólatras etc.). Poderia
haver outras aplicações como silvicultura (plantar florestas de Teca ou bambu Guadua para
usos no próprio bairro, por exemplo), agroflorestas (para produção extensiva de itens
da alimentação, como, por exemplo, frutas das estações) e até mesmo pastoris de pequeno
porte (para produção de derivados, como, por exemplo, laticínios básicos para geração de
trabalho, renda e consumos locais). Tudo isso em áreas institucionais de porte pequeno.
258
REFERÊNCIAS
HOLMGREN, D. Os fundamentos da permacultura. [S.l.]: Holmgren Design Services, 2007. Disponível em:
https://files.holmgren.com.au/downloads/Essence_of_Pc_PT.pdf. Acesso em: 12 maio 2021.
ITS BRASIL. Caderno de debate – tecnologia social no Brasil. São Paulo: [s.n.], 2018. 18 p. Disponivel em:
http://itsbrasil.org.br/wp-content/uploads/2018/02/ebook_TSintroducao.pdf. Acesso em: 12 maio 2021.
MOLLISON, B.; SLAY, R. M. Introdução à permacultura. 2. ed. [S.l.]: Tagari Publication, 1994.
Pandemia do coronavírus – 261
C A P Í T U L O 20
______________
Introdução
Vírus
O título “Coronavírus e atividade física: reflexo físico e mental” foi pautado na ideia
de apresentar informações sobre o vírus, sobre atividade física, sobre o que a atividade física
reflete no corpo e na mente. Apontar alguns dos impactos que o vírus causou e em que
o exercício pode ajudar. Também trazer uma parte de experiência tanto da minha vivência
profissional quanto eu com Covid-19. A ideia é apresentar algo teórico e prático, vivenciado.
O que é vírus? É a primeira pergunta, e como introdução, sem entrar muito em
conceitos biológicos, os vírus, de forma geral, podem ser definidos como parasitas
intracelulares obrigatórios. Eles são parasitas, pois entram na célula saudável do corpo
humano e parasitam essa célula. Realizam isso para sobreviver, reproduzir e se multiplicar.
Assim, eles precisam invadir uma célula saudável do organismo do ser humano,
aproveitando-se das estruturas dessa célula humana para obter nutrientes (FALKE, 1979;
MURRAY et al., 1994; SOARES, 1993). Podemos dizer que o vírus é “traiçoeiro”, pois entra
na célula saudável do ser humano e se aproveita dela. O vírus não é um ser vivo benéfico.
Os vírus são bastantes pequenos e dotados de uma cápsula proteica que contém
o material genético deles, e esse material fornece o código a ser seguido para que ele
possa se reproduzir. Então, além de entrar na célula humana saudável, ele coloca o
material genético dele nessa célula confundindo o nosso material genético, fazendo com
que nossa célula replique o material genético do vírus, fazendo com que a nossa célula
trabalhe para ele com o material genético dele. Essa invasão nas células do corpo humano
faz com que o indivíduo infectado com algum tipo de vírus desenvolva doenças, sinais
e sintomas de acordo com a variedade invasora do vírus, ou seja, com o tipo de vírus que
infectou o corpo humano (FALKE, 1979; MURRAY et al., 1994; SOARES, 1993).
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Doutorando em Educação Física na Universidade Estadual de Londrina, Paraná. Professor do Instituto de
Ensino Superior de Londrina (INESUL), Londrina, Paraná. E-mail: silas_ssd@hotmail.com
262
Fora de uma célula hospedeira o vírus não realiza qualquer tipo de atividade
relacionada ao metabolismo. Assim, se não conseguir entrar em uma célula saudável, ele
não consegue se reproduzir e realizar todo processo que foi citado acima (MURRAY et al.,
1994). Não é científico, mas alguns profissionais da saúde dizem que, referente ao
coronavírus, de alguma forma o corpo humano pode inibir o vírus de atuar na célula
humana, mas isso ainda tem muitas lacunas a serem estudadas e investigadas.
Quais doenças os vírus podem causar? Existem vários tipos de doenças de acordo
com cada variedade de vírus, mas as mais conhecidas são a AIDS, que é causada pelo HIV,
que é um vírus de imunodeficiência humana que atua no sistema imunológico,
atrapalhando o sistema imunológico. A herpes, que é famosa e tem vários tipos. A gripe
comum, causada pelo vírus Influenza. O HPV que também é bastante conhecida.
A poliomielite causada pelo Poleovírus e a rubéola. Esses são algumas das doenças
de vírus, pois tem muito mais.
Covid-19
tanto pelo período de lockdown quanto por não conseguirem manter as portas abertas
quando foi liberado para voltar às atividades. Os exercícios ao ar livre, na cidade de
Londrina/PR, onde resido, foram proibidos de serem realizados por um tempo. Nós, como
profissionais, fomos prejudicados de certa forma no trabalho e isso afetou financeira e
profissionalmente, assim fazendo com que nos adaptássemos e criássemos situações para
não perder ou até mesmo conquistar novos clientes/alunos.
Não havia desculpas para não realizar exercícios. Porém, devemos tomar cuidado
com os exercícios, vídeos que assistimos sobre exercícios e as formas de como iremos
realizar para não sermos prejudicados, não resultar em dores e lesões posteriormente.
A prática de exercícios não é simplesmente fazer por fazer, por isso procure sempre um
profissional qualificado para orientações sem riscos. É importante realizar exercícios,
nem que sejam apenas 5 minutos diários que você tenha, mas o fato de começar já vai
trazer benefícios para saúde e corpo.
traz a relação dos exercícios com a saúde mental, Raiol (2020) aborda as mudanças
que a pandemia causou no estilo de vida da população mundial, no intuito de diminuir
o contágio da doença. Assim, a OMS e várias organizações médicas e governamentais
sugeriram o distanciamento social como principal estratégia, essa medida fez com que
a maioria da população ficasse dentro de suas casas e como consequência houve uma
redução drástica na quantidade de pessoas que realizavam atividade física. Essa redução
acarretou problemas físicos e mentais. Sabemos que o exercício vai trazer benefícios para
saúde física e mental, que ajudará a seguir melhor com as dificuldades do dia a dia.
Vacinação e pós-pandemia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
DIAS, V. M. C. H. et al. Testes sorológicos para Covid-19: interpretação e aplicações práticas. Journal of
Infection Control, v. 9, n. 2, p. 90-101, 2020. ISSN 2316-5324.
FERREIRA, M. J. et al. Vida fisicamente ativa como medida de enfrentamento ao covid-19. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, v. 114, n. 4, p. 601-602, 2020.
270
GUAN, W.; NI, Z.; YU, H. et al. Clinical characteristics of 2019 novel coronavirus infection in China. Medrxiv
(preprint posted online on Feb. 9) 2020; 10.1101/2020.02.06.20020974.
LIMA, F. L. O. et al. Diagnosis of Covid-19: importance of laboratory tests and imaging exams. Research,
Society and Development, v. 9, n. 9, 2020.
MATTOS, S. M.; PEREIRA, D. S.; MOREIRA, T. M. M. et al. Recomendações de atividade física e exercício
físico durante a pandemia Covid-19: revisão de escopo sobre publicações no Brasil. Revista Brasileira de
Atividade Física & Saúde, n. 25, p. 1-12, 2020. Disponível em:
https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/14449. Acesso em: 11 jun. 2021.
MURRAY, P. R.; ROSENTHAL K. S.; KOBAYASHI, G. S. et al. Microbiologia médica. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1994.
RAIOL, R. A. Praticar exercícios físicos é fundamental para a saúde física e mental durante a pandemia da
Covid-19. Brazilian Journal of health Review, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 2804-2813, 2020.
VELAVAN, T. P.; MEYER, C. G. The Covid-19 epidemic. Tropical Medicine & International Health, v. 25,
n. 3, p. 278-280, 2020.
Pandemia do coronavírus – 271