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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E MEIO


AMBIENTE
2

João Vitor Rodrigues de Souza

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E MEIO AMBIENTE


1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Editorial
Beatriz Meloni Montefusco
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Márcia Regina Silva
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Souza, João Vitor Rodrigues de
S729i Inovação tecnológica e meio ambiente / João Vitor
Rodrigues de Souza. – São Paulo: Platos Soluções
Educacionais S.A., 2022.
44 p.

ISBN 978-65-5356-270-7

1. Mudança climática. 2. Problemática ambiental.


3. Sistema energético. I. Título
CDD 620.41
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
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INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E MEIO AMBIENTE

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Gestão ambiental e sustentabilidade__________________________ 07

Políticas públicas e acordos ambientais internacionais________ 19

Mudanças climáticas e energia limpa_________________________ 32

Inovações tecnológicas ambientais na prática_________________ 44


5

Apresentação da disciplina

Atualmente, a competitividade das empresas sofre impacto não


apenas das tendências econômicas, políticas, sociais, ambientais e de
saúde, mas também são fatores relevantes no desenho de modelos de
negócios e fundamentais para garantir a prevalência das instituições e a
ascensão delas.

O curso de Inovação Tecnológica e Meio Ambiente explora as


oportunidades e os desafios apresentados pela crescente importância
da agenda ambiental no contexto político, socioeconômico e tecnológico. 

Com o aumento da conscientização ambiental, surge a necessidade de


soluções comercialmente sustentáveis para a conservação de energia
e recursos. O desafio está em traduzir tecnologias ambientalmente
sustentáveis em soluções de mercado viáveis e empreendimentos
comerciais, ou seja, só porque é a coisa certa a fazer não significa que os
clientes comprarão.

Novos setores emergentes apresentam oportunidades interessantes,


mas o próprio dinamismo destes, um nexo de novas tecnologias,
novos mercados, novas redes e novas práticas regulatórias também
apresentam riscos.

Ao estudar Inovação Tecnológica e Ambiental, você aprenderá a


apresentar soluções criativas e inovadoras para reduzir o uso de
matérias-primas, energia e água. Será capaz de desenvolver habilidades
de gestão, como configurar sistemas de gestão ambiental e como operar
dentro dos limites da lei e dos regulamentos ambientais.
6

Ao concluir com sucesso este curso, você será capaz de compreender


as limitações de teorias selecionadas de mudança tecnológica, por
exemplo, linear, induzida, dependente do caminho e evolutiva; de
avaliar criticamente os principais trade-offs que ocorrem na obtenção de
mudanças tecnológicas e desenvolvimento econômico junto à proteção
ambiental; de discutir e apresentar exemplos de mudanças tecnológicas
desenvolvidas para alcançar a transição, por exemplo, para uma
economia de baixo carbono; de aplicar, de forma concisa, uma proposta
de iniciativa ambientalmente benéfica.
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Gestão ambiental e
sustentabilidade
Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza
Leitura crítica: Yara Campos Miranda

Objetivos
• Estabelecer as ideias centrais de gestão ambiental.

• Compreender os conceitos e paradigmas de


envolvimento em desenvolvimento sustentável.

• Identificar ferramentas concretas para


implementação da sustentabilidade e da Gestão
Ambiental.
8

1. Introdução

Esta unidade procura oferecer uma introdução abrangente e


compreensível, que aponta leitores a fontes mais aprofundadas de
gestão ambiental para sustentabilidade. O desenvolvimento é dividido
em três partes: a Parte I trata da teoria, dos princípios e dos conceitos-
chave e introdutórios relacionados à gestão ambiental; na Parte II, são
abordados os princípios voltados à sustentabilidade e sua interface com
gestão ambiental; finalmente, na Parte III, são apresentados exemplos
práticos e ferramentas que podem fomentar a implementação da gestão
ambiental na sociedade e nos negócios.

2. Compreendendo o que é gestão ambiental

O rápido movimento de industrialização em todo o mundo tem


ameaçado seriamente a capacidade da humanidade de manter um
equilíbrio ecológico. A industrialização é o pré-requisito do crescimento
econômico de qualquer país, mas a industrialização não planejada e a
liberação de resíduos pelas indústrias trazem poluição ou degradação
ambiental. Toda atividade de desenvolvimento está diretamente
relacionada aos recursos naturais e ambientais. O desenvolvimento
econômico sem considerações ambientais causa crises ambientais.

Como principal usuário da natureza, a humanidade é a responsável


por garantir que seus impactos ambientais sejam benignos e não
catastróficos. Diante disso, a ciência se apresenta como um importante
instrumento na busca dessas garantias, reunindo e discutindo trabalhos
de pesquisadores acadêmicos e profissionais de fora das universidades,
incluindo empresas, governo, estabelecimentos de pesquisa e grupos de
interesse público, com o intuito de gerar um amplo espectro de pontos
de vista e abordagens para este mesmo interesse.
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Assim surge a ideia de gestão ambiental, que é um campo amplo,


em expansão e em rápida evolução, que diz respeito a todos os
seres humanos e desempenha um papel crucial na busca pelo
desenvolvimento sustentável, sendo amplamente discutida pelas
agências internacionais e organizações não governamentais

(...) mas o que é exatamente a gestão ambiental? É um único campo ou


disciplina? É um processo? É uma abordagem acordada? São esforços
para identificar e perseguir metas? Talvez uma filosofia? Ou é solução de
problemas de ambiente e desenvolvimento? (BARROW, 2006, p. 8)

A gestão ambiental não é fácil de definir. Como Barrow (2006) reconheceu,


pode referir-se a um objetivo ou a uma visão, a tentativas de dirigir um
processo, à aplicação de um conjunto de ferramentas, a um exercício
filosófico que busca estabelecer novas perspectivas em relação ao meio
ambiente e às sociedades humanas, dentre outras possibilidades. 

Os gestores ambientais são um grupo diversificado de pessoas,


incluindo acadêmicos, formuladores de políticas, trabalhadores de
organizações não governamentais (ONGs), funcionários de empresas,
funcionários públicos e uma ampla gama de indivíduos ou grupos que
tomam decisões sobre o uso de recursos naturais, tal como pescadores,
agricultores, pastores, entre outros. 

De fato, a gestão ambiental envolve todas as pessoas até certo ponto,


porque todas as atividades humanas, em última análise, têm algum
tipo de impacto ambiental. No entanto, alguns indivíduos estão mais
diretamente envolvidos com o uso de recursos, e alguns grupos de
interesse especial estão particularmente preocupados com a exploração
de recursos e com questões relacionadas à poluição. 

A gestão ambiental, portanto, abrange muitas partes interessadas


e requer uma perspectiva multidisciplinar. Envolve muitas escalas
espaciais, que vão do local ao global. Também contempla muitos e
diversos objetivos, incluindo o desejo de controlar a direção e o ritmo do
10

desenvolvimento, otimizar o uso de recursos, minimizar a degradação


ambiental e evitar desastres ambientais. 

A gestão ambiental está pautada na descrição e no monitoramento


das mudanças ambientais, com a previsão de transformações futuras
e com as tentativas de maximizar o benefício humano e minimizar a
degradação ambiental devido às atividades humanas. Ainda assim,
caracteristicamente, a gestão ambiental diz respeito à tomada de
decisões – e está especialmente preocupada com o processo de tomada
de decisões em relação ao uso dos recursos naturais, à poluição dos
habitats e à modificação dos ecossistemas (CURI, 2012). 

Fundamentalmente, então, é uma atividade política, porque essas


decisões – sobre recursos, poluição e ecossistemas – nunca são neutras
ou objetivas; ao contrário, são carregadas de valores e refletem o exercício
do poder de determinados grupos sobre outros. Além disso, em geral,
é ingênuo conceber a gestão ambiental como sendo simplesmente
“a gestão do meio ambiente” no sentido de humanos manipulando e
controlando os componentes e processos do sistema terrestre. 

Deste ponto de vista, a gestão ambiental pode ser definida como o


sistema que antecipa e evita, ou resolve, questões ambientais e de
conservação de recursos. Sob outra perspectiva, a gestão ambiental
pode ser definida como um processo preocupado com as interações
homem-ambiente que busca identificar:

• Quais são os resultados ambientalmente desejáveis.

• Quais são as restrições físicas, econômicas, sociais, culturais,


políticas e tecnológicas para alcançar esses resultados.

• Quais são as opções mais viáveis ​​para alcançar esses resultados.

De fato, em muitas partes do mundo (e possivelmente em todo o


mundo), a gestão ambiental está intimamente ligada a questões
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prementes de justiça e até de sobrevivência. Uma outra definição


pode sugerir que a gestão ambiental está preocupada em atender e
melhorar o cumprimento das necessidades e demandas humanas de
forma sustentável, com danos mínimos aos habitats e ecossistemas
naturais. Assim, o conceito de gestão ambiental está intimamente
relacionado a outro conceito importante (e problemático): o de
desenvolvimento sustentável.

3. Desenvolvimento sustentável: definição e


conceitos-chave

O desenvolvimento sustentável é claramente um dos desafios


mais difíceis que a humanidade já enfrentou. Alcançar a
sustentabilidade requer abordar muitas questões fundamentais
nos níveis local, regional e global, e alcançar as metas e os objetivos
da sustentabilidade representa um grande desafio para todos os
segmentos da sociedade (HEINRICHS; MARTENS, 2016).

A definição amplamente aceita de desenvolvimento sustentável é


aquela usada no Relatório Brundtland: desenvolvimento sustentável é o
desenvolvimento que possui o intuito de considerar as necessidades do
presente sem prejudicar a capacidade das gerações futuras de atender
às suas próprias necessidades. Embora esta seja uma declaração
vaga e aberta à interpretação, ela provou ser durável e fornece uma
meta à qual muitas pessoas aspiram, embora não forneça orientação
sobre como chegar lá nem como avaliar o progresso em direção ao
desenvolvimento sustentável (GOLDEMBERG; LUCON, 2008).

Grande parte dos estudiosos da sustentabilidade, do ponto de vista


do desenvolvimento, lhe aplicam o conceito que conota melhoria e
a sustentação de uma economia, sistema ecológico e social para o
desenvolvimento humano. A literatura em geral define sustentabilidade
12

como a capacidade de manter, por um longo período, alguma entidade,


resultado ou processo.

A palavra “sustentabilidade” pode ser usada de diferentes maneiras.


Ambientalistas, muitas vezes, relacionam a sustentabilidade ecológica
quando utilizam o conceito. Muitos empresários realmente querem
associar a sustentabilidade econômica de sua organização quando falam
de sustentabilidade. No entanto, a sustentabilidade abrange os três
aspectos – ambiental, social e econômico – e não é possível atingir um
determinado nível de sustentabilidade ecológica, social ou econômica de
forma independente sem alcançar pelo menos um nível básico de todas
as três formas simultaneamente. A Figura 1 sintetiza essas relações.

Figura 1 – Relações entre sustentabilidade social, econômica e


ambiental

Fonte: elaborado pelo autor.


13

Basicamente, pode-se concluir a partir da figura que, quase tudo o que


o homem faz ou planeja fazer na terra tem implicações para o meio
ambiente, economia ou sociedade e, nesse sentido, a continuidade
da existência e o bem-estar da raça humana. Da mesma forma, como
argumentam Heinrichs e Martens (2016), as esferas constituem um
conjunto de conceitos inter-relacionados que devem fundamentar as
decisões e ações humanas na busca pelo desenvolvimento sustentável.

Goldemberg e Lucon (2008) associaram a sustentabilidade como a


sobrevivência indefinida da espécie humana (com uma qualidade
de vida além da mera sobrevivência biológica) por intermédio da
manutenção de sistemas básicos de suporte à vida (ar, água, terra,
biota) e da existência de infraestruturas e instituições que distribuem e
protegem os componentes destes sistemas

Kahn (1995, p. 54) fornece uma descrição de sustentabilidade pautada


nas três esferas elencadas na Figura 1.

Se um indivíduo em uma determinada área geográfica não tem emprego


(econômico), é provável que seja pobre e desprivilegiado (social); se
ele é pobre e marginalizado, ele tem um incentivo para se engajar em
práticas que prejudicam a ecologia, por exemplo, cortando árvores para
lenha para cozinhar suas refeições e aquecer sua casa (ambiental). Como
suas ações são agregadas às de outros de sua região cortando árvores,
o desmatamento fará com que minerais vitais sejam perdidos do solo
(ambiental). Se minerais vitais forem perdidos do solo, os habitantes
serão privados dos nutrientes dietéticos necessários para sustentar o
desempenho intelectual necessário para aprender novas tecnologias,
por exemplo, como operar um computador, e isso fará com que a
produtividade diminua ou fique estagnada. Se a produtividade estagnar
(econômica), as pessoas pobres continuarão ainda mais pobres (social).

O caso hipotético apresentado ilustra as ligações entre os três domínios


interligados da sustentabilidade e a necessidade de integrá-los para
o desenvolvimento sustentável. Embora este exemplo possa ter sido
14

simplificado demais, ele contextualiza como os substratos econômicos,


sociais e ambientais da sustentabilidade se relacionam entre si e podem
promover o desenvolvimento sustentável.

4. Ferramentas e tecnologias em prol da gestão


ambiental e do desenvolvimento sustentável

O trabalho preventivo de promover a sustentabilidade e a gestão


ambiental depende muito de influenciar o comportamento
corporativo e do consumidor. As ferramentas de gestão ambiental
e de sustentabilidade são, portanto, concebidas para influenciar
as estruturas, os procedimentos e as práticas organizacionais e da
sociedade. Desta forma, serão exemplificadas ferramentas e práticas
que podem ser implementadas na sociedade e nos negócios.

A sustentabilidade está no centro de conceitos, como rendimento


sustentável, sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável. Uma
sociedade sustentável é aquela que aprendeu a viver dentro dos limites
estabelecidos pelos limites ecológicos. Ele pode ser mantido como uma
entidade coletiva e permanente porque as práticas que impunham
cargas excessivas ao meio ambiente foram reformadas ou abolidas. O
desenvolvimento sustentável é um processo de avanço social que acomoda
as necessidades das gerações atuais e futuras e que integra com sucesso as
considerações econômicas, sociais e ambientais na tomada de decisões.

Neste contexto, uma das ferramentas mais promissoras que podem


ser aplicadas junto às sociedades para fortalecer mecanismos de
desenvolvimento sustentável (aliado à gestão ambiental) é a Agenda 2030.

Adotados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, os 17


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são o layout para
alcançar um mundo melhor e mais sustentável para todos até 2030. Os
15

ODS são uma versão ampliada dos oito Objetivos de Desenvolvimento


do Milênio (ODM), que nortearam a ação global para reduzir a pobreza
extrema de 2000 a 2015 (HEINRICHS; MARTENS, 2016).

Pela primeira vez na história, a comunidade internacional foi capaz de


definir uma agenda global e abrangente de desenvolvimento sustentável,
incluindo objetivos sociais (baseados nos ODS) e objetivos ambientais
(em continuação com a Declaração do Rio de 1992 e as cúpulas da COP
subsequentes). O primeiro e mais proeminente dos ODS é a intenção
declarada de erradicar todas as formas de pobreza, em todas as regiões
do mundo. A Figura 2 fornece uma breve visão geral dos 17 ODS.

Figura 2 – Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Fonte: https://odsbrasil.gov.br/. Acesso em: 9 maio 2022.

Os ODS são parte integrante da Agenda 2030 para o Desenvolvimento


Sustentável, que visa promover um futuro mais sustentável. Essa agenda
objetiva combater problemas globais, como pobreza, desigualdade,
clima, degradação ambiental e justiça. 
16

Ele é construído com base nos pressupostos: (i) a prosperidade


econômica, o progresso social e a proteção do ambiente andam de
mãos dadas e devem ser conjugados; (ii) é necessário um esforço
coletivo envolvendo diversos atores (governos, empresas e sociedade
civil) para transformar nossa sociedade global. 

Os ODS são vistos como um meio de federar os esforços desses


diferentes atores em torno de uma aspiração comum. O 17º ODS é
crucial nesse sentido: ele enfatiza explicitamente a necessidade de novas
parcerias multissetoriais e intersetoriais. Sem isso, a ambição de resolver
os grandes desafios do mundo será impossível de alcançar. 

4.1 Ferramentas e apoio à gestão ambiental e


sustentabilidade no negócio

A sustentabilidade empresarial é a prática de operar um


negócio sem impactar negativamente o meio ambiente. Uma
organização sustentável funciona no melhor interesse do ambiente local e
global, o que significa que apoia a comunidade e a economia dependentes
de um planeta saudável. Uma empresa com consciência ambiental
considera mais do que apenas lucros mas também seu impacto na
sociedade e no meio ambiente. Tal negócio é sustentável porque contribui
para a saúde da estrutura dentro da qual opera, ajudando, assim, a
construir um ambiente no qual o negócio possa prosperar.

As empresas sustentáveis consideram


​​ uma ampla gama de fatores
ambientais, econômicos e sociais ao tomar decisões de negócios. Essas
organizações monitoram o impacto de suas operações para garantir que
os lucros de curto prazo não se transformem em passivos de longo prazo.

Existem diferentes vertentes/ferramentas aplicáveis ao mundo


do negócio que podem corroborar para que o setor promova a
sustentabilidade e a gestão ambiental de suas atividades e operações,
sendo algum deles:
17

• Sistema de Gestão Ambiental (SGA): um SGA é um conjunto de


processos e práticas que permitem que uma organização reduza
seus impactos ambientais e aumente sua eficiência operacional. Ele
concentra recursos no cumprimento dos compromissos
identificados na política da organização, que podem incluir a
redução ou eliminação dos impactos ambientais negativos de seus
produtos, serviços e atividades e/ou aumentar seus efeitos positivos.
Uma organização somente alcançará a certificação de seu SGA caso
cumpra todos os requisitos dispostos na ABNT NBR ISO 14001/2015.

• Critérios Ambientais, Sociais e de Governança: derivam do conceito


– em inglês, Environmental, social and governance (ESG) – e podem ser
entendidos como uma série de modelos pautados nas operações de
uma organização nas quais os investidores socialmente conscientes
operam para selecionar investimentos potenciais. A integração
de ESG na decisão de investimento de uma empresa ajudará os
investidores a tomar decisões com base no desempenho geral, e não
apenas no desempenho financeiro. Além disso, ESG é definido como
a obrigação da empresa de melhorar o bem-estar social e riqueza
equitativa e sustentável de longo prazo para as partes interessadas.
Verifica-se que as empresas em conformidade com ESG têm melhor
governança, cuidam mais do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável, têm menos volatilidade de lucros e têm acesso a fundos
de menor custo (CORREA; VASQUEZ-ARANGO, 2020).

• Relatórios de Sustentabilidade: representam um mecanismo


potencial para gerar dados e medir o progresso e a contribuição
das empresas para os objetivos globais de desenvolvimento
sustentável, pois podem ajudar as empresas e organizações a medir
seu desempenho em todas as dimensões do desenvolvimento
sustentável, estabelecer metas e apoiar a transição para uma
economia verde de baixo carbono, eficiente em termos de recursos
e inclusiva. Os principais relatórios são: Global Reporting Initiative
(GRI), Carbon Disclosure Project (CDP), International Integrated
Reporting Council (IIRC), Sustainability Accounting Standards Board
(SASB) e Sustainability Accounting Standards Board (SASB).
18

A sustentabilidade e a gestão ambiental são, portanto, um dos maiores


desafios e metas mais importantes da atualidade. São áreas de
atenção para pesquisadores, acadêmicos, governos e organizações
não governamentais, envolvendo indivíduos, comunidades, países,
continentes e o globo como um todo. Em outras palavras, podem
ser consideradas como estratégias-chave contra o pano de fundo do
crescimento da população humana e da exploração desenfreada do
meio ambiente pelos humanos. 

Referências
BARROW, C. J. Environmental Management and Development. 2. ed. London:
Routledge, 2006. 464p.
CURI, D. Gestão ambiental. Hoboken: Pearson Prentice Hall, 2012. 166p.
CORREA-GARCIA, J. A.; VASQUEZ-ARANGO, L. Environmental, Social, and Governance
Performance: Impact on Financial Performance in the Latin American Context.
Revista Facultad de Ciencias Económicas: Investigación y Reflexión, v. 28, n.
2, p.67-84, 2020. Disponível em: https://revistas.unimilitar.edu.co/index.php/rfce/
article/view/4271. Acesso em: 2 ago. 2022.
GARCIA, J. A. C.; ARANGO, L. V. Desempenho ambiental, social e de governança
(ASG): incidência no desempenho financeiro no contexto latino-americano. Rev.
fac. cienc. econ., v. 28, n. 2, p. 67-84, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.18359/
rfce.4271. Acesso em: 9 maio 2022.
GOLDEMBERG, J.; LUCON, O. Energia, meio ambiente e desenvolvimento. São
Paulo, SP: EDUSP, 2008.
HEINRICHS, H.; MARTENS, P.; WIEK, A. Sustainability science. Dordrecht: Springer,
2016.
KAHN, M. Concepts, definitions, and key issues in sustainable development: the
outlook for the future. Sustainable Development, v. 3, n. 2, p. 63-69, 1995.
19

Políticas públicas e acordos


ambientais internacionais
Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza
Leitura crítica: Yara Campos Miranda

Objetivos
• Entender as principais políticas públicas relacionadas
ao meio ambiente.

• Compreender a importância da legislação ambiental


no ordenamento dos recursos naturais.

• Assimilar os acordos ambientais internacionais e


suas implicações nas políticas públicas.
20

1. Introdução

A governança ambiental é um conceito que orienta os mercados, a


tecnologia e a sociedade para alcançar as metas de sustentabilidade.
Considera aspectos sociais, econômicos e ambientais na tomada de
decisões de suas políticas.

Esta unidade procura oferecer uma visão ampla dos esforços promovidos
pelo Brasil e entre as nações mundiais, por meio de ações, políticas,
instrumentos e afins, com o objetivo único de promover o ambiente em
suas diferentes faces. Neste contexto, é feita, num primeiro momento,
uma abordagem sob o Brasil e, em seguida, são mostrados os principais
momentos históricos relacionados à temática em ordem global.

2. Políticas ambientais no Brasil


Em sociedades democráticas, sistemas legais confiáveis ​​são mais
comuns do que em autocráticos e, consequentemente, governança e
conformidade ambiental são esperadas nas democracias. Isso é
fundamental, principalmente, em países megadiversos, onde os recursos
naturais podem ser um capital abundante e importante para o bem-
estar humano, incluindo questões socioeconômicas.

Desde 1965, as leis ambientais federais brasileiras registraram


avanços sucessivos associados ao aumento dos dispositivos legais
e sistemas de monitoramento com base na participação popular e
no aconselhamento especializado. Por mais de 50 anos, houve um
grande e cumulativo interesse da sociedade brasileira em aprimorar a
legislação ambiental federal, gerando um fortalecimento gradual dos
mecanismos de preservação ambiental.

Em 1981, o governo brasileiro colocou em vigor a Política Nacional


do Meio Ambiente (PNMA) por meio da Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981). O
principal objetivo dessa política é estabelecer normas que viabilizem o
21

desenvolvimento sustentável, utilizando mecanismos e instrumentos


capazes de garantindo maior proteção ao meio ambiente. A PNMA
abrange diversas questões ambientais, incluindo definição de
normas, licenciamento ambiental, avaliação de impacto ambiental,
áreas especiais de preservação, incentivo à produção mais limpa e
zoneamento ambiental. As diretrizes dessa política são desenvolvidas
por meio de normas e planos para orientar os órgãos públicos da
federação brasileira, de acordo com os dez princípios enunciados no art.
2º da referida lei. Esses princípios estão descritos a seguir:

• Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como bem público a ser
necessariamente garantido e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

• O uso racional do solo, subsolo, água e ar;

• Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

• Proteção de ecossistemas, preservação de áreas representativas;

• Controle e zoneamento de atividades poluidoras ou


potencialmente poluidoras;

• Incentivos ao estudo e pesquisa de tecnologias para o uso racional


e proteção dos recursos ambientais;

• Acompanhamento do estado de qualidade ambiental;

• Recuperação de áreas degradadas;

• Proteção de áreas ameaçadas de degradação;

• Educação ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo


a educação comunitária, destinada a capacitá-los a participar
ativamente da proteção ambiental. (BRASIL, 1981, [s. p.])
22

Outro aspecto importante são os doze instrumentos da Política Nacional


do Meio Ambiente utilizados para promover a proteção do meio
ambiente, os quais são apresentados no art. 9º da lei, dentre eles:

• Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

• Zoneamento ambiental;

• Avaliações de impacto ambiental;

• Licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente


poluidoras;

• Incentivos à produção e instalação de equipamentos e à criação ou


adoção de tecnologia destinada a melhorar a qualidade ambiental;

• A criação de áreas protegidas especiais pelos governos federal,


estadual e municipal, como áreas de proteção ambiental de
significativo interesse ecológico e reservas extrativistas;

• O sistema nacional de informação ambiental;

• O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa


Ambiental;

• O Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras


e/ou que utilizam recursos ambientais. (BRASIL, 1981, [s. p.]) 

Vale ressaltar que tanto as diretrizes quanto os instrumentos da referida


lei foram primordiais para a elaboração do Capítulo Específico do Meio
Ambiente na Constituição Federal de 1988 – art. 225 –, consolidando a
forma pela qual é estruturada a política ambiental brasileira.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
23

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e


preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988, [s. p.])

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é a forma como a


Constituição Federal se dirige ao que chama de “direito ao meio
ambiente”. O direito dos cidadãos não é a garantia de um simples “meio
ambiente”, mas de um meio ambiente preservado, equilibrado, útil para
a humanidade e protegido de impactos negativos sobre ele.

Para isso, a partir da Lei nº 6.938/1981 foi criado o Sistema Nacional do


Meio Ambiente (SISNAMA), que reúne órgãos e instituições ambientais
da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, e tem como
objetivo primordial colocar em prática os princípios e as normas que são
impostas pela Constituição (BRASIL, 1981). 

O Conselho Nacional de Governo é o órgão máximo de assessoramento


da Presidência da República para a formulação das diretrizes e políticas
ambientais nacionais. Abaixo dele existe o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), órgão que assessora o governo nacional e delibera
sobre normas e padrões adequados à proteção do meio ambiente, que
devem ser seguidos pelos governos estaduais e municipais. 

Em seguida, destaca-se o Ministério do Meio Ambiente (MMA), que


planeja, coordena, fiscaliza e controla a política ambiental nacional
e as diretrizes estabelecidas para o meio ambiente, exercendo a
função de articulação dos diversos órgãos e entidades que compõem
o SISNAMA. Vinculado ao MMA está o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
​​ e o Instituto
Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBIO), que possuem como
atribuições a formulação, coordenação, supervisão e administração
relacionadas à preservação e conservação dos recursos naturais. 

E, finalmente, na base da estrutura do SISNAMA, estão os órgãos


municipais e estaduais responsáveis pela
​​ fiscalização das atividades
degradantes do meio ambiente e pela implementação de programas,
projetos e atividades de monitoramento nocivos ao meio ambiente. A
Figura 1 sintetiza a estrutura hierárquica do SISNAMA.
24

Figura 1 – Estrutura hierárquica do SISNAMA

Fonte: elaborada pelo autor.

Apesar da estrutura legal, a governança ambiental no Brasil tende a ser


realizada com uma abordagem de cima para baixo, em que o governo
estabelece uma legislação que os mercados devem cumprir. Essa forma de
comando e controle já gerou inúmeras tensões entre governos, empresas
e comunidades locais.  Um exemplo disso é o estabelecimento de áreas
marinhas e costeiras protegidas no Brasil. Muitas vezes, são impostas
restrições à pesca artesanal sem qualquer envolvimento das comunidades
locais na tomada de decisões (o impacto negativo na subsistência dessas
comunidades locais resultou em vários conflitos). A resiliência ecológica
da pesca costeira também é afetada pela abordagem de criação de
reservas. Acredita-se que a falta de envolvimento local, participação pública
e cogestão limita a resiliência ecológica e reduz a eficácia das reservas
costeiras na proteção do número de animais selvagens.
25

O Brasil possui uma vasta oferta de água doce com algumas das maiores
bacias hidrográficas do mundo (ex.: Rio Amazonas, Rio Paraná e Rio São
Francisco). Proteger esse recurso natural não é apenas de importância
ecológica mas também social e econômica, pois muitas cidades e áreas
populosas do Brasil dependem dele como fonte de água potável. Uma
opção de governança hídrica no Brasil para gerir esta questão é a Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) (Lei nº 9.433/1997), criada após
mais de uma década de discussão no Congresso. A PNRH visa promover
a água como um recurso com valor econômico e criar estruturas de
governança integrada de todos os usos da água ao nível da bacia
hidrográfica – conselhos de bacia hidrográfica (CBHs), que trabalham
em conjunto com a gestão mais tradicional, como municipal e órgãos
estaduais de água e meio ambiente. No entanto, tem sido argumentado
que esta política se concentrou excessivamente em estratégias de cima
para baixo, como a introdução de preços de água e taxas ambientais,
em vez de abordar a mobilização pública, a restauração fluvial e a justiça
ambiental (GOLDEMBERG; LUCON, 2008). Assim, apesar do aparato
legal, é importante considerar as especificidades locais.

3. Acordos ambientais internacionais

Acordos internacionais são entendimentos ou compromissos formais


entre dois ou mais países – de forma voluntária e não obrigatória. Um
acordo entre dois países é chamado de “bilateral”, enquanto um acordo
entre vários países é “multilateral”. Os países vinculados por um acordo
internacional são, geralmente, chamados de “Estados Partes”. Acordos
relacionados ao clima buscam implementar ações, procedimentos ou
instalações de precaução adotadas para prevenir ou reduzir os danos
causados ​​pela poluição às condições ou aos padrões climáticos naturais,
incluindo a temperatura predominante, a composição atmosférica e a
precipitação. Neste sentido, os principais acordos estão listados a seguir:
26

• Protocolo de Genebra de 1984 sobre Financiamento de Longo


Prazo do Programa Cooperativo de Monitoramento e Avaliação da
Transmissão de Poluentes do Ar de Longo Alcance na Europa (EMEP).

• Protocolo de Helsinque de 1985 sobre a Redução das Emissões de


Enxofre.

• Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio (1985).

• Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada


de Ozônio (1987).

• Protocolo de Sofia de 1988 relativo ao controle de emissões de


óxidos de nitrogênio.

• Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática


(1992).

• Protocolo de Genebra de 1991 relativo ao controle de emissões de


compostos orgânicos voláteis.

• Protocolo de Oslo de 1994 sobre Redução Adicional das Emissões


de Enxofre.

• Protocolo de Quioto (1997).

• Protocolo de Aarhus de 1998 sobre Metais Pesados.

• Protocolo de Aarhus de 1998 sobre Poluentes Orgânicos


Persistentes (POPs).

• Protocolo de Gotemburgo de 1999 para reduzir a acidificação,


eutrofização e ozônio troposférico.

• Acordo de Paris (2016).

Dentre estes acordos, destaca-se o Acordo de Paris, nos


termos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
27

Mudança do Clima, também denominado Acordo Climático de


Paris, ou COP21, tratado internacional nomeado para a cidade de Paris,
na França, em dezembro de 2015, que visava reduzir a emissão
de gases que contribuem para o aquecimento global. O Acordo de
Paris visou melhorar e substituir o Protocolo de Kyoto, um tratado
internacional anterior destinado a conter a liberação de gases de efeito
estufa. Entrou em vigor em 4 de novembro de 2016 e foi assinado por
195 países e ratificado por 190 em janeiro de 2021, conforme ilustrado
pela Figura 2, que mostra, no mapa-múndi, quais países aderiram,
ratificaram e foram apenas signatários.

Figura 2 – Acordo de Paris

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Paris_(2015)#/media/
Ficheiro:ParisAgreement.svg. Acesso em: 1 ago. 2022.

O objetivo era que um acordo vinculativo e universal projetado para


limitar as emissões de gases de efeito estufa a níveis que impediriam que
as temperaturas globais aumentassem mais de 2 °C acima da referência de
temperatura estabelecida antes do início da Revolução Industrial.
28

A reunião fez parte de um processo que remonta à Cúpula da Terra


de 1992, no Rio de Janeiro, quando os países aderiram inicialmente
ao tratado internacional denominado Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima. Vendo a necessidade de fortalecer
as reduções de emissões, em 1997, os países adotaram o Protocolo de
Kyoto. No entanto, o acordo foi amplamente considerado ineficaz,
porque os dois principais países emissores de dióxido de carbono do
mundo, China e Estados Unidos, optaram por não participar. A China, um
país em desenvolvimento, não estava vinculada ao Protocolo de Kyoto, e
muitos funcionários do governo dos EUA usaram esse fato para justificar a
não participação do país.

Em se tratando de ações voltadas à natureza e à proteção dos recursos


vivos e terrestres, pode-se elencar, como principais instrumentos, acordos
ou afins:

• Convenção da Organização dos Estados Americanos sobre Proteção


da Natureza e Preservação da Vida Selvagem no Hemisfério Ocidental
(1942).

• Tratado da Antártida (1959).

• Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas de Importância


Internacional Especialmente como Habitat de Aves Aquáticas (1971).

• Convenção da UNESCO sobre a Proteção do Patrimônio Mundial


Cultural e Natural (1972).

• Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas


de Flora e Fauna Selvagens (CITES) (1975).

• Tratado de Cooperação Amazônica (1978).

• Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias e Animais


Silvestres (1979).
29

• Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) (1992).

• Convenção das Nações Unidas para Combater a desertificação


(UNCCD) (1992).

• Acordo Internacional de Madeira Tropical (ITTA) (1994).

• Compromisso Internacional sobre Recursos Genéticos de Plantas


da Organização para a Alimentação e Agricultura (2008).

No Brasil, destaca-se o Tratado de Cooperação Amazônica, assinado


em 3 de julho de 1978, o qual deu origem à Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica (OTCA), que tem como objetivo promover o
desenvolvimento harmônico dos territórios amazônicos de tal forma que
a atuação conjunta dos países amazônicos produza resultados equitativos
e mutuamente benéficos em alcançar o desenvolvimento sustentável da
Região Amazônica.

Constituída pelos oito países amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,


Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), a OTCA tornou-se o único bloco
ambiental na América Latina, atuando em diferentes dimensões no âmbito
da implementação de ações: político-diplomática, estratégica e técnica,
construindo sinergias entre governos, organismos multilaterais, agências de
cooperação, organizações civis sociedade, movimentos sociais, comunidade
científica, setores produtivos e sociedade como um todo (TILIO NETO, 2010).

4. Políticas ambientais internacionais


As políticas ambientais são importantes em tempos de globalização
crescente, pois muitos problemas ambientais se estendem além das
fronteiras nacionais e só podem ser resolvidos através da cooperação
internacional. Assim sendo, abrange uma série de questões: proteção do
clima, política de energia sustentável, preservação da diversidade biológica
e conservação de florestas, mares e solos. Outros tópicos relacionados
30

são desertificação, gestão sustentável de resíduos e proteção contra


substâncias perigosas. Quase todas essas questões precisam de estratégias
abrangentes para garantir que a proteção ambiental seja considerada
também em outras áreas de política, como a cooperação com países em
desenvolvimento (HEINRICHS; MARTENS; WIEK, 2016).

Neste sentido, as Nações Unidas fundaram seu Programa das Nações


Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em 1972. Desde então, o número
de acordos ambientais sob a égide das Nações Unidas tem aumentado
constantemente. O primeiro foi o Protocolo de Montreal sobre Substâncias
que Destroem a Camada de Ozônio. A Cúpula da Terra de 1992, no Rio
de Janeiro, focou as relações internacionais nos problemas ambientais
globais. Inúmeras convenções se seguiram, como a Convenção de
Brasileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos
Perigosos (1989), a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (1992), a
Convenção sobre Diversidade Biológica (1992), o Protocolo de Kyoto (1997),
a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas e a
Convenção de Estocolmo sobre Persistência Poluentes Orgânicos (2001).

Tratando-se da política ambiental dos países mais influentes do mundo


(G8), formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália,
Reino Unido e Rússia, destaca-se que a agenda do G8 inclui há muito tempo
o meio ambiente. O objetivo é enviar um sinal de alto nível sobre questões
ambientais atuais, como proteção do clima, biodiversidade, proteção
das florestas, combate ao crime ambiental e proteção dos oceanos do
mundo. Em 2007, sob a presidência alemã do G8, foram lançadas as bases
para uma meta de proteção climática global de longo prazo, com o objetivo
de reduzir pelo menos pela metade as emissões globais de gases de efeito
estufa até 2050. No período que antecedeu a conferência sobre o clima
em Copenhague, em 2009, o G8 reconheceu a necessidade de limitar o
aquecimento global a 2 °C.

Como resposta à crise económica e financeira global, o G20 – grupo


formado pelos países do G8 e Argentina, Austrália, Arábia Saudita, África do
Sul, Brasil, México, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Turquia e União
Europeia – ganhou importância como protagonista da nova “governança
global”. A transição do formato G8 para o formato G20 foi assim iniciada. Na
31

opinião da Alemanha, seria útil que o G20 tratasse intensamente de


questões fora da agenda da política financeira – como a política ambiental e
de desenvolvimento. No entanto, o G20 deve primeiro determinar o papel
que deve desempenhar.

A maioria dos problemas ambientais tem uma natureza transfronteiriça


e, muitas vezes, um âmbito global e só podem ser resolvidos de
forma eficaz através da cooperação internacional. Por esta razão,
estabelecer mecanismos por meio de acordos, tratados e afins auxilia no
estabelecimento e na promoção de medidas a nível internacional, para
fazer face aos problemas ambientais regionais ou mundiais e, em particular,
o combate às alterações climáticas. 

Referências
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 31 jul. 2022.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 31 jul. 2022.
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei
nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro
de 1989. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: 31 jul. 2022.
CURI, D. Gestão ambiental. Hoboken: Pearson Prentice Hall, 2012. 166p.
GOLDEMBERG, J.; LUCON, O. Energia, meio ambiente e desenvolvimento. São
Paulo, SP: EDUSP, 2008.
HEINRICHS, H.; MARTENS, P.; WIEK, A. Sustainability science. Dordrecht: Springer,
2016.
TILIO NETO, P. D. A Amazônia brasileira. In: TILIO NETO, P. D. Soberania e
ingerência na Amazônia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Centro Edelstein de
Pesquisa Social, 2010. p. 46-67.
32

Mudanças climáticas e energia


limpa
Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza
Leitura crítica: Yara Campos Miranda

Objetivos
• Compreender os conceitos relacionados às
mudanças climáticas.

• Identificar as variáveis que confirmam as alterações


climáticas no planeta.

• Avaliar as alternativas energéticas de baixo impacto


ambiental.
33

1. Introdução

Esta unidade contempla questões reais associadas às mudanças


climáticas e ao aquecimento global, refletindo sobre como isso afeta o
planeta e toda humanidade. De uma perspectiva física, abrange tópicos,
como pressões populacionais, saúde, questões alimentares, aumento do
nível do mar e degradação do litoral. Em seguida, apresenta-se impactos
sociais, como questões humanitárias, ética, adaptação, dinâmica urbana,
ação local e questões socioeconômicas. Por fim, discute-se alternativas
para o enfrentamento deste desafio, evidenciando o uso energético
de fontes com impacto ambiental menos atenuante. Ao oferecer esta
revisão holística dos mais recentes impactos das mudanças climáticas,
busca-se auxiliar a entender melhor o que precisa ser feito para avançar
em direção às energias renováveis.

2. Conceito de mudanças climáticas e


aquecimento global

“Mudanças climáticas” e “aquecimento global” são frequentemente


usados de forma intercambiável, mas têm significados distintos. Da
mesma forma, os termos “tempo” e “clima”, às vezes, são confundidos,
embora se refiram a eventos com escalas espaciais e temporais
amplamente diferentes.

O “tempo” refere-se às condições atmosféricas que ocorrem localmente


em curtos períodos de tempo – de minutos a horas ou dias. Exemplos
familiares incluem chuva, neve, nuvens, ventos, inundações ou
tempestades. O clima, por outro lado, refere-se à média regional ou
mesmo global de longo prazo dos padrões de temperatura, umidade
e precipitação ao longo de estações, anos ou décadas (HEINRICHS;
MARTENS, 2016).
34

O termo aquecimento global é o aquecimento a longo prazo do sistema


climático da Terra observado desde o período pré-industrial (entre 1850
e 1900) devido às atividades humanas, principalmente a queima de
combustíveis fósseis, o que aumenta os níveis de gases de efeito estufa
na atmosfera da Terra. 

Já mudança climática refere-se a uma mudança de longo prazo nos


padrões climáticos médios que passaram a definir os climas locais,
regionais e globais da Terra. Essas alterações têm uma ampla gama
de efeitos observados, que são sinônimos do termo (HEINRICHS;
MARTENS, 2016).

Nos 11.000 anos anteriores à Revolução Industrial, a temperatura


média em todo o mundo manteve-se estável em torno de 14 °C. A
Revolução Industrial começou em meados de 1800, quando os humanos
começaram a queimar combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e
gás (IPCC, 2019). A Figura 1 apresenta um gráfico para a variação da
temperatura média global desde 1960 e traz uma previsão para até o
ano de 2100.

Figura 1 – Variação da temperatura média global (°C)

Fonte: IPCC (2019, [s. p.]).


35

Desde então, o uso exacerbado de combustíveis fósseis e seus derivados


tem corroborado para o aumento da temperatura na Terra. Embora o
aquecimento não tenha sido uniforme em todo o planeta, a tendência
de elevação da temperatura média global mostra que mais áreas estão
aquecendo do que esfriando. Dados do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (em inglês, Intergovernmental Panel on Climate Change
– IPCC) mostram que a temperatura combinada entre o continente e o
oceano aumentou a uma taxa média 0,08 °C por década até 1880. A partir
disso, houve um aumento para cerca de 0,18 °C/ano (IPCC, 2019).

As temperaturas globais subiram cerca de 1,1 °C de 1901 a 2020.


Todavia, as mudanças climáticas referem-se a mais do que um aumento
na temperatura, pois também incluem a elevação do nível do mar,
mudanças nos padrões climáticos, como secas e inundações, e muito
mais, tal como variáveis das quais dependemos e valorizamos – água,
energia, transporte, vida selvagem, agricultura, ecossistemas e saúde
humana – estão sofrendo os efeitos de um clima em mudança.

2.1 Consequências das alterações climáticas

Os impactos das mudanças climáticas em diferentes setores da


sociedade estão inter-relacionados. A seca pode prejudicar a produção
de alimentos e a saúde humana. As inundações possuem o potencial
de elevar a propagação de doenças e danos aos ecossistemas e
à infraestrutura. Problemas de saúde humana podem aumentar
a mortalidade, afetar a disponibilidade de alimentos e limitar a
produtividade do trabalhador. Os impactos das mudanças climáticas são
vistos em todos os aspectos do mundo em que vivemos. No entanto,
são desiguais em todo o país e no mundo – mesmo dentro de uma
única comunidade, os impactos das mudanças climáticas podem diferir
entre bairros ou indivíduos. Desigualdades socioeconômicas de longa
data podem tornar os grupos carentes, que geralmente têm a maior
exposição a riscos e menos recursos para responder, mais vulneráveis.
36

A seguir, consequências dos impactos ambientais serão discutidos e


apresentados.

Recursos hídricos: efeitos adicionais das mudanças climáticas globais


têm implicações importantes para os recursos hídricos, incluindo
aumento das taxas de evaporação; maior proporção de precipitação
recebida, tal como chuva; estações secas mais severas e longas;
aumento da temperatura da água; diminuição da qualidade da água
tanto no interior quanto no litoral. A Figura 2 apresenta um resumo dos
impactos ambientais sobre os recursos hídricos.

Figura 2 – Impactos das mudanças climáticas dos recursos hídricos

Fonte: elaborada pelo autor.

Um efeito final e importante dos impactos sobre os recursos hídricos


discutidos acima é o potencial para conflitos de alocação de água
interestaduais e internacionais mais frequentes e intensos. Os mercados
de água têm o potencial de prevenir ou difundir tais conflitos, no entanto
a atribuição de direitos sobre a água para estabelecer o mercado pode
criar mais conflitos do que difundir (HEINRICHS; MARTENS, 2016)

Alimento: é muito provável que as mudanças climáticas afetem a


segurança alimentar em nível global, regional e local. As mudanças
climáticas podem interromper a disponibilidade de alimentos, reduzir o
acesso aos alimentos e afetar a qualidade deles. Por exemplo, aumentos
projetados nas temperaturas, mudanças nos padrões de precipitação,
alterações em eventos climáticos extremos e reduções na disponibilidade
de água podem resultar na redução da produtividade agrícola. Elevações
37

na frequência e gravidade de eventos climáticos extremos também


podem interromper a entrega de alimentos, e os picos resultantes nos
preços dos alimentos após eventos extremos devem ser mais frequentes
no futuro. O acréscimo das temperaturas pode contribuir para a
deterioração e contaminação (ALPINO et al., 2022).

Saúde pública: as mudanças climáticas, junto a outros estressores


de saúde naturais e causados pelo homem, influenciam a saúde e
as doenças humanas de várias maneiras. Algumas ameaças à saúde
existentes se intensificarão e novas ameaças à saúde surgirão. Nem
todos estão igualmente em risco, uma vez que é importante considerar
idade, recursos econômicos e localização geográfica.

A saúde pública pode ser afetada por perturbações nos sistemas físicos,
biológicos e ecológicos, incluindo distúrbios originados aqui e em outros
lugares. Os efeitos para a saúde dessas interrupções incluem aumento
de doenças respiratórias e cardiovasculares, lesões e mortes prematuras
relacionadas a eventos climáticos extremos, mudanças na prevalência e
distribuição geográfica de doenças transmitidas por alimentos e água e
outras doenças infecciosas e ameaças à saúde mental (ABREU et al., 2020).

Economia: os impactos econômicos totais das mudanças climáticas


são difíceis de estimar, mas aumentam para mudanças de temperatura
elevadas. Por exemplo, estima-se que os danos totais sejam 90%
menores se o aquecimento global for limitado a 1,5 °C em comparação
com 3,66 °C, um nível de aquecimento escolhido para representar
nenhuma mitigação (IPCC, 2019).  Um estudo encontrou uma redução
de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB) global até o final do século se o
aquecimento for limitado a 3 °C, excluindo o efeito potencial de pontos
de inflexão (HOEGH-GULDBERG et al., 2018). No cenário de alta emissão
da Oxford Economics, um aumento de temperatura de 2 graus até o ano
de 2050 reduziria o PIB global em 2,5% – 7,5% (HOEGH-GULDBERG et al.,
2018). Até o ano 2100, neste caso, a temperatura aumentaria 4 graus, o
que poderia reduzir o PIB global em 30% no pior dos casos.
38

2.2 Mitigação e adaptação

As mudanças climáticas são uma das questões mais complexas que


enfrentamos hoje. Envolve muitas dimensões – ciência, economia,
sociedade, política e questões morais e éticas – e é um problema global,
sentido em escalas locais, que perdurará por décadas e séculos. O dióxido
de carbono (CO2), o gás de efeito estufa responsável pelo aquecimento
global recente, permanece na atmosfera por centenas de anos, e o
planeta (especialmente os oceanos) demora um pouco para responder ao
aquecimento. Portanto, mesmo que parássemos de emitir todos os gases
de efeito estufa hoje, o aquecimento global e as mudanças climáticas
continuarão a afetar as gerações futuras. Desta forma, a humanidade está
“comprometida” com algum nível de mudança climática.

Como já estamos comprometidos com algum nível de mudança


climática, responder às mudanças climáticas envolve uma abordagem
em duas frentes:

1. Reduzir as emissões e estabilizar os níveis de gases de efeito


estufa retentores de calor na atmosfera (“mitigação”).

2. Adaptação às mudanças climáticas já em


andamento (“adaptação”).

A mitigação – redução das mudanças climáticas – envolve a redução


do fluxo de gases de efeito estufa na atmosfera, seja diminuindo
as fontes desses gases (por exemplo, a queima de combustíveis fósseis
por fontes de energia limpa – baixa emissão de CO2) ou aumentando
os “sumidouros” que acumulam e armazenam esses gases (como
oceanos, florestas e solo). O objetivo da mitigação é evitar interferência
humana significativa no sistema climático e estabilizar os níveis de
gases de efeito estufa em um prazo suficiente para permitir que os
ecossistemas consigam se adaptar de forma natural às alterações no
clima, impedindo, assim, qualquer ameaça sob as condições ambientais,
econômicas e sociais (AKABANE; POZO, 2020).
39

Adaptação – adaptar-se à vida em um clima em mudança – envolve


o ajuste ao clima futuro real ou esperado. O objetivo é reduzir nossa
vulnerabilidade aos efeitos nocivos das mudanças climáticas (como
invasão do nível do mar, eventos climáticos extremos mais intensos
ou insegurança alimentar). Abrange também aproveitar ao máximo
todas as oportunidades benéficas potenciais associadas às mudanças
climáticas (por exemplo, estações de cultivo mais longas ou maiores
rendimentos em algumas regiões).

3. Energia limpa

Na progressão da lenha para o carvão e, depois, para o gás na história


humana, novas alternativas de energia evoluíram continuamente
como substitutas de tipos de energia mais antigos com base em suas
vantagens inerentes. A nova revolução energética, pautada em fontes
de baixa emissão de CO2, representa uma escolha feita de acordo com
a tendência de desenvolvimento energético para a sustentabilidade da
sociedade humana, em meio a esforços contínuos para lidar com os
problemas de fornecimento de energia, mudanças climáticas e poluição
ambiental (HEINRICHS; MARTENS, 2016). 

As crescentes preocupações relacionadas aos impactos ambientais


da produção e ao uso de energia, bem como a natureza limitada
dos combustíveis tradicionais, tornaram cada vez mais óbvio que
“mais do mesmo” não é uma solução satisfatória para enfrentar
os desafios críticos relacionados ao nosso crescente consumo de
energia. Muitas das reservas de combustível tradicionais globais estão
sendo totalmente usadas, e a exaustão da fonte está aumentando o
custo dos suprimentos restantes. Estudos argumentam que a indústria
global de petróleo atingirá o máximo no futuro próximo, enquanto
outros se opõem a essa noção e afirmam que os avanços tecnológicos
continuarão disponibilizando novas reservas (NOROUZI; FANI; ZIARANI,
40

2020). Podemos aumentar nosso suprimento de energia com recursos e


tecnologias alternativas com impactos ambientais negativos reduzidos. 

Os sistemas de energia limpa podem resolver esses desafios de


energia de maneira sustentável, confiável e acessível. A energia limpa
oferece soluções potenciais de sustentabilidade para enfrentar os
desafios críticos mencionados até agora. Os sistemas de energia limpa
melhoram (1) a eficiência do sistema, (2) a utilização de recursos, (3) a
acessibilidade, (4) a proteção ambiental, (5) a segurança energética e (6)
o projeto do sistema e análise de desempenho.

Os sistemas de energia limpa fornecem soluções potenciais por


meio de uma abordagem Fonte-Sistema-Serviço, que exige que
tarefas específicas sejam realizadas para construir uma infraestrutura
totalmente e verdadeiramente limpa, conforme mostrado na Figura
3 (DINCER; ACAR, 2018). Em primeiro lugar, é essencial escolher
uma fonte de energia limpa. Certamente, existem alguns princípios
a serem considerados, por exemplo, abundância, obtenção local,
acessibilidade, confiabilidade, segurança, impactos ambientais etc. A
maioria das alternativas promissoras parece ser renovável. A seguir,
é essencial examinar as perdas e eficiências do sistema, além de
selecionar uma fonte de energia limpa. Geralmente, um sistema pode
ser investigado através dos seguintes passos essenciais:

• Atualização do processo para esgotamento mínimo e quantidade


máxima de saídas úteis.

• Aumento da eficiência, encontrando e ajustando as fontes de


perdas.

• Integração do sistema para operação extra confiável com saídas


aprimoradas e aprimoradas.

• Multigeração para aumentar o número de produtos úteis


utilizando a mesma entrada de energia.
41

Figura 3 – Relação Fonte-Sistema-Serviço para a sustentabilidade


energética

Fonte: elaborada pelo autor.

Finalmente, a última etapa, de serviço, envolve a fase de aplicação


e, da mesma forma, é necessário reduzir perdas, irreversibilidades
e desperdícios, para aproveitar ao máximo os bens e serviços
desejados. Quando há escassez de recursos, precisa-se obter mais de
uma quantidade limitada de insumos. Nas últimas décadas, a maioria
dos países melhorou significativamente a eficiência do sistema. São
inúmeras as áreas em que podemos manter e acelerar estas tendências
através de um consumo ainda mais eficiente de todos os recursos
energéticos e materiais.

A necessidade de sistemas mais limpos, confiáveis, acessíveis e


eficientes está aumentando significativamente para produção, entrega e
uso de energia. Os sistemas de energia limpa são uma grande promessa
para atender a essa necessidade e às preocupações relacionadas à
demanda de energia, uma vez que atendem às necessidades atuais
sem comprometer o suprimento de energia das gerações futuras. O
bem-estar social e financeiro, sem prejudicar o meio ambiente, pode
ser alcançado mudando para sistemas de energia limpa. No entanto,
há pontos específicos que devem ser identificados e analisados
cuidadosamente antes de mudar para sistemas de energia limpa. Assim,
no Quadro 1, é apresentada uma análise SWOT (forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças) dos sistemas de energia limpa.
42

Quadro 1 – Análise SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e


ameaças) de sistemas de energia limpa
Força (S) Fraqueza (W)
• Promessas financeiras. • Conscientização da comunidade.

• Utilização da fonte local. • Oposição à mudança.

• Mercado adaptável. • Alto investimento inicial, instalação,


custos de operação e manutenção.
• Oportunidades de expansão.
• Longo tempo de retorno.
• Tecnologias mais inteligentes.
• Mudanças de infraestrutura.
• Soluções inovadoras.
• Falta de consenso e políticas
• Incentivos do governo. institucionais e governamentais.
Oportunidade (O) Ameaça (T)
• Geração de emprego. • Crise financeira global.

• Eficiência geral. • Escalabilidade e tempo.

• Redução na emissão de CO2. • Comercialização.

• Melhoria da qualidade do ar/água/solo. • Substituibilidade.

• Mitigação das alterações climáticas. • Complexidade.

• Promoção da sustentabilidade. • Requisitos regulamentares.

• Vitalidade. • Regulamentos e políticas


governamentais.

• Baixo preço de fontes e sistemas de


energia convencionais.

Fonte: adaptado de Dincer e Acar (2018) e Akabane e Pozo (2020).


43

Há um crescimento substancial na necessidade de sistemas de energia


mais limpos, confiáveis, acessíveis e eficientes. Esses sistemas devem
considerar todas as etapas da cadeia energética – desde a produção até o
uso final. Os sistemas de energia limpa podem atender às demandas de
energia das gerações atuais e futuras sem comprometer o suprimento das
próximas gerações para suas demandas. A segurança social e financeira
pode ser alcançada por intermédio de sistemas de energia limpa.

Referências
ABREU, A. M. et al. A interface entre saúde, mudanças climáticas e uso do solo no
Brasil: uma análise da evolução da produção científica internacional entre 1990 e
2019. Saúde e Sociedade, v. 29, n. 2, 2020.
AKABANE, G. K.; POZO, H. Inovação, tecnologia e sustentabilidade: histórico,
conceitos e aplicações. São Paulo, SP: Érica, 2020.
ALPINO, T. M. A. et al. Os impactos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar
e Nutricional: uma revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 1, p.
273-286, 2022.
DINCER, I.; ACAR, C. Potential energy solutions for better sustainability. In: DINCER,
I.; ACAR, C. Exergetic, energetic and environmental dimensions. Cambridge:
Academic Press, 2018. p. 3-37.
HEINRICHS, H.; MARTENS, P.; WIEK, A. Sustainability science. Dordrecht: Springer,
2016.
HOEGH-GULDBERG, O. et al. Chapter 3: Impacts of 1.5 ºC Global Warming on
Natural and Human Systems. [S. l.]: [s. n.], 2018.
NOROUZI, N.; FANI, M.; ZIARANI, Z. K. The fall of oil Age: a scenario planning
approach over the last peak oil of human history by 2040. Journal of Petroleum
Science and Engineering, p. 188, 2020.
PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Aquecimento
Global de 1,5°C. Relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) sobre os impactos do aquecimento global de 1,5 °C. [S. l.]: IPCC,
2019.
44

Inovações tecnológicas
ambientais na prática
Autoria: João Vitor Rodrigues de Souza
Leitura crítica: Yara Campos Miranda

Objetivos
• Identificar os desafios e as oportunidades
apresentados aos empreendedores pela agenda
verde.

• Compreender as soluções comercialmente


sustentáveis para a conservação de energia e
recursos.

• Analisar as tecnologias ambientalmente viáveis


como soluções ao mercado.
45

1. Introdução ao conceito de inovação


sustentável

A inovação sustentável tem raízes no desenvolvimento sustentável e é


baseada em princípios de sustentabilidade ética, social, econômica e
ambiental. Princípios semelhantes podem ser vistos na ecoinovação,
na engenharia e na ascensão da mentalidade de valor compartilhado.
Porém, o conceito mais amplo de inovação sustentável precisa ser
minuciosamente elaborado (AKABANE; POZO, 2020).

Nos negócios, a inovação tem sido motivada pela necessidade de criar


competitividade superior no mercado. Tradicionalmente, isso tem sido
realizado por meio de duas estratégias básicas: cortar custos ou criar
produtos superiores aos dos concorrentes. A inovação sustentável, no
entanto, oferece uma terceira estratégia competitiva: criar produtos
ou processos com características desejáveis pelo mercado, como
durabilidade, localidade ou eficiência de materiais e energia. As
inovações que contribuem para a redução dos encargos ambientais
ou para outras metas ecológicas especificadas são frequentemente
chamadas de ecoinovações (HEINRICHS; MARTENS, 2016).

Como os consumidores exigem produtos e serviços sustentáveis e


podem estar dispostos a pagar mais por eles, o mercado de inovação
sustentável está crescendo. A inovação sustentável ajuda clientes
e cidadãos a gerenciarem seus estilos de vida, permitindo que eles
vivam vidas mais felizes de maneiras que apoiem o desenvolvimento
sustentável. A inovação sustentável fornece a base para negócios
futuros; não reflete simplesmente a responsabilidade ética. As tarefas
para as quais a inovação sustentável está têm importância global.

Em resumo, a inovação sustentável tem três características definidoras:


i) contribui para o bem-estar sustentável; ii) é sistêmica; iii) é inclusiva.
Cada característica é descrita em maiores detalhes a seguir:
46

I. Contribui para o bem-estar sustentável: as inovações


sustentáveis são avaliadas de acordo com seu impacto no bem-
estar sustentável. Os três elementos básicos do bem-estar
sustentável são qualidade de vida (incluindo felicidade), economia
sustentável e relação equilibrada com a natureza (desenvolvimento
sustentável). Esses são aspectos modernos da boa vida aristotélica
(HEINRICHS; MARTENS, 2016). Na prática, a abordagem do bem-
estar sustentável pode se concretizar, por exemplo, no projeto
de ambientes físicos de vida, que moldam a complexidade, a
sociabilidade e a pegada ecológica da vida cotidiana. Outro exemplo
é o planejamento de casas individuais e escolhas de deslocamento,
para as quais os incentivos de políticas inovadoras podem
desempenhar um papel particularmente nas escolhas sustentáveis
das famílias; no desenvolvimento de negócios na fase de transição
para um modelo socioeconômico mais sustentável e, ainda, nas
soluções de habitação verde (AKABANE; POZO, 2020).

II. Sistêmico: o impacto de uma inovação é difícil de prever, embora


possam ser criadas condições favoráveis para estimular seu
surgimento. Os líderes nos níveis nacional, regional e organizacional
são frequentemente desafiados por essa realidade, porque
estabelecer tais condições, normalmente, requer mudanças amplas
e de longos prazos. Da mesma forma, resolver problemas perversos
de forma sustentável requer uma visão sistêmica.

III. Inclusivo: a inovação inclusiva apoia a sabedoria coletiva e o


crowdsourcing (modelo de produção/processo) de problemas.
Esse tipo de desenvolvimento e outras formas de colaboração em
massa têm um impacto profundo nas economias, nas empresas
e nos governos. Em um sentido mais profundo, a inovação
sustentável é inclusiva, promovendo novas formas de democracia,
em que os cidadãos têm o direito e a oportunidade de serem
criativos e contribuir para melhorias nos serviços, nos produtos e
na estrutura de organizações públicas, como municípios, escolas e
hospitais (MAY, 2018).
47

Na política de inovação, é preciso passar do nível nacional para lugares


onde as pessoas trabalham juntas, ou seja, aos ecossistemas locais,
onde a política de inovação sustentável está localizada e as pessoas e
suas redes servem como fontes primárias de atividades de inovação.
Compreender as pessoas e o fluxo de ideias como base das atividades
de inovação desafia a política tradicional de inovação e requer uma
abordagem sistêmica e profunda cooperação e interação institucional.

2. Exemplos práticos de inovação tecnológica


ambiental

A inovação sustentável envolve o uso comum de ideias, conceitos, práticas


e produtos que contribuem para o meio ambiente ecológico, a coesão
social e a viabilidade econômica. As empresas e outras organizações
estão adotando cada vez mais a sustentabilidade, embora, muitas
vezes, rotuladas como responsabilidade social corporativa ou inovação
responsável. Muitos exemplos de inovação sustentável mostram essa
convicção. Neste tópico, serão apresentados exemplos práticos de
inovações tecnológicas voltadas à promoção da sustentabilidade.

2.1 Bioenergia

A bioenergia é uma energia renovável derivada da biomassa. A


biomassa é definida como material biológico que é produzido direta ou
indiretamente pela fotossíntese (CURI, 2012). Exemplos incluem resíduos
de madeira, culturas energéticas, resíduos de culturas e resíduos
orgânicos da indústria, agricultura, gestão da paisagem e residências. A
biomassa é convertida em combustível sólido, líquido ou gasoso, que
pode ser usado para produzir calor e/ou eletricidade, ou pode ser
usado como combustível de transporte. A Figura 1 traz um resumo dos
produtos bioenergéticos e seus tipos de uso.
48

Figura 1 – Produtos bioenergéticos e seus tipos de uso

Fonte: elaborada pelo autor.

A bioenergia é, hoje, a principal fonte de energia renovável, contribuindo


para a energia utilizada na geração de energia, calor para a indústria e
edifícios e para os transportes. Assim, constitui de componente essencial
do futuro sistema global de energia de baixo carbono, para que os
compromissos globais de mudança climática sejam cumpridos.

2.2 Veículos elétricos

Os veículos elétricos são movidos a eletricidade, sem motor de


combustão, sendo a principal força motriz a energia elétrica das baterias.
Essas baterias podem ser de níquel-hidreto, íon-lítio ou outros materiais,
49

cada um com vantagens e desvantagens, custos, segurança e vida útil.


A energia é armazenada nessas baterias e convertida em movimento
através dos inversores de potência, transformando a corrente contínua
guardada nas baterias em corrente alternada para motores elétricos.

Os veículos elétricos e híbridos existem desde o final do século XIX. Com


a demanda atual por desenvolvimento sustentável de muitos países,
eles surgiram como uma potencial solução para alguns problemas do
setor de transporte. 

Há um crescimento internacional que tem mostrado que há interesse


em mudar o tipo de energia que movimenta os veículos de transporte
rodoviário, dadas as preocupações mundanas com questões
socioambientais, passando para uma presença mais significativa de fontes
alternativas e mais sustentáveis de energia (RICHARD; ZAILI, 2020).

Em setores econômicos fortemente globalizados, como o automotivo,


a análise macroambiental torna-se elementar, pois pode revelar
oportunidades e ameaças às reivindicações de internacionalização
das corporações. Cada país possui fatores institucionais, econômicos,
logísticos e conjunturais, que podem influenciar as decisões competitivas
das organizações à medida que são monitoradas e traduzidas por seus
principais stakeholders.

No Brasil, cada vez mais importante para o setor automobilístico


mundial, o interesse por veículos híbridos e elétricos tem aumentado e
se consolidado. As fontes renováveis de energia disponíveis e o fato de
algumas montadoras já estarem vendendo alguns modelos no país têm
sido os principais impulsionadores (RICHARD; ZAILI, 2020).

Em números, de acordo com as informações disponíveis no Anuário


da Indústria Automobilística Brasileira 2020 da Associação Brasileira
da Indústria Automobilística (ANFAEVA), até 2019, dos 2.787.850 novos
veículos licenciados, apenas 11.844 tinham motor elétrico (híbrido ou
50

puramente elétrico), cerca de 0,43% do total. Embora em 2018 apenas


3.970 carros elétricos ou híbridos tenham sido registrados no país, na
quantidade disponível, percebe-se que o mercado mais que dobrou em
um ano. Além disso, em uma comparação geral entre o crescimento dos
veículos flex e os veículos elétricos em relação a 2019, é possível concluir
que os registros de veículos elétricos estão crescendo ao longo dos anos
desde 2010, como mostra a Tabela 1 (ANFAEVA, 2020). Apesar do exposto,
há potencial para eles, uma vez que a evolução tecnológica é constante.
Cada vez mais novos componentes estão sendo desenvolvidos, como a
frenagem regenerativa e o aumento da capacidade e autonomia, o que
aumenta a expectativa de crescimento do mercado para esses veículos.

Tabela 1 – Registro de veículos novos flex versus elétrico – 2010/2019


Combustível Crescimento Crescimento
Ano Elétrico
flex flex elétrico
2010 2.570.578 6,39% 24 14,29%
2011 2.524.402 -1,80% 200 733,33%
2012 2.834.334 12,28% 117 -41,50%
2013 2.833.091 -0,04% 484 313,68%
2014 2.588.367 -8,64% 842 73,97%
2015 1.959.868 -24,28% 843 0,12%
2016 1.572.798 -19,75% 1.085 28,71%
2017 1.739.014 10,57% 3.278 202,12%
2018 1.969.672 13,26% 3.965 20,96%
2019 2.123.841 7,83% 11.844 198,71%

Fonte: ANFAEVA (2020, [s. p.]).

Ao discutir o mercado elétrico e híbrido, é necessário avaliar o cenário


brasileiro descrito até aqui. Segundo dados da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL) de 2020, a produção elétrica brasileira é quase
renovável, originada, principalmente, de fontes como hidrelétrica
(54%), eólica (12%) e fotovoltaica (6%). Pode-se dizer que o potencial de
recarga de veículos elétricos e híbridos é praticamente sustentável, pois
o biodiesel e o bioetanol também são fontes de energia utilizadas em
motores a combustão, incentivadas pelo governo (ANEEL, 2020).
51

2.3 Construções sustentáveis

As construções sustentáveis minimizam o consumo de energia e água


e são parte fundamental do desenvolvimento urbano sustentável que
busca combater as mudanças climáticas. 

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050,


cerca de 68% da humanidade viverá em cidades. Estas representam
apenas 3% da superfície do planeta, mas consomem 78% da energia
e produzem 60% das emissões de gases de efeito estufa. Por isso, em
2016, a própria ONU aprimorou a Nova Agenda Urbana para assessorar
os países em seus processos de urbanização e tornar as cidades mais
habitáveis, inclusivas, saudáveis, resilientes e sustentáveis (UN, 2019).

Ao contrário das cidades suburbanas que foram fruto da Revolução


Industrial e do desenvolvimentismo do século XX, as novas tendências
do planejamento urbano incluem a construção de ecobairros, projetos
urbanos que visam reduzir o impacto sobre o meio ambiente e mudar
os hábitos de vida dos cidadãos para torná-los mais responsáveis
pelo seu entorno. A construção de edifícios e outras infraestruturas
utilizando tecnologias e materiais sustentáveis é fundamental para este
tipo de iniciativa.

Uma edificação verde ou sustentável é uma edificação que, por sua


construção e características, pode manter ou melhorar a qualidade de
vida do ambiente em que está inserida. Para isso, é essencial atingir um
alto nível de eficiência: reduzir o consumo de energia, água e outros
recursos minimiza a poluição. O certificado LEED (Leadership in Energy
and Environmental Design) é o reconhecimento oficial internacionalmente
aceito que estabelece se um edifício merece ser considerado sustentável
(veremos mais a respeito no tópico a seguir). A Figura 2 ilustra as
construções sustentáveis.
52

Figura 2 – Museu do Amanhã, localizado no Rio de Janeiro/RJ

Fonte: https://st3.idealista.pt/news/arquivos/styles/news_detail/public/2019-02/museo_
del_futuro.jpg?sv=haWSloAq&itok=dYt3j7DS

O Museu do Amanhã, projetado pelo arquiteto espanhol Santiago


Calatrava e construído ao lado do Pier Mauá, foi inaugurado em 2015
e é um exemplo de construção verde. As soluções de sustentabilidade
incluem painéis solares móveis, sistemas de reaproveitamento de
águas pluviais e sistema de ar-condicionado que utiliza água canalizada
da Baía de Guanabara.

2.4 Certificações ambientais

A sustentabilidade é, atualmente, uma tendência significativa no


desenvolvimento de negócios. Como resultado, mais empresas estão se
tornando mais conscientes de como suas atividades comerciais afetam
o meio ambiente. Um esquema de certificação ambiental refere-se a
um sistema que avalia as operações e os processos de determinando
negócio, verificando se a organização usa práticas ecologicamente
corretas de maneira sustentável. 
53

A certificação ambiental também pode designar um conjunto de


critérios e usá-los como medida para sua empresa. O órgão certificado
concede a certificação ambiental para a organização caso ela atenda aos
critérios pré-estabelecidos para aquele objetivo. A certificação pode ser
usada como prova de que a organização utiliza práticas e processos de
negócios ecologicamente corretos. 

As principais motivações para muitas empresas que optam por


implementar esquemas de certificação ambiental são fornecer um
produto ético para os consumidores, aumentar o desenvolvimento
sustentável, melhorar a imagem da empresa, obter um melhor
relacionamento com os stakeholders e obter maiores lucros. A seguir,
veremos alguns exemplos de algumas das principais certificações
ambientais existentes no mundo.

2.4.1 Carbon Trust

O Carbon Trust Standard é uma certificação internacional líder mundial


que reconhece as melhores práticas e conquistas na redução de carbono
em relação a:

• Uso de energia e emissões de gases de efeito estufa (CO2).

• Uso, gestão e efluentes da água.

• Gestão e eliminação de resíduos.

Seu objetivo declarado é reconhecer as melhores práticas e realizações


reais em redução, para ajudar as organizações a medir, gerenciar e
reduzir seu impacto ambiental, melhorando sua gestão de recursos e
sustentabilidade operacional. O processo de certificação visa identificar
ineficiências no uso de recursos e fornecer uma estrutura para melhorar
os processos de gestão, reduzindo desperdícios e custos. 
54

2.4.2 Sistema de Gestão Ambiental

Um sistema de gestão ambiental (SGA) é um sistema e banco de dados


que integra procedimentos e processos para treinamento de pessoal,
monitoramento, resumo e relatório de informações especializadas de
desempenho ambiental para as partes interessadas internas e externas
de uma empresa. O padrão mais amplamente utilizado no qual um SGA
é baseado é na International Organization for Standardization (ISO) 14001. 

Os objetivos do SGA são aumentar a conformidade e reduzir o


desperdício:

• Conformidade é o ato de alcançar e manter padrões legais


mínimos. Ao não cumprir, as empresas podem enfrentar multas,
intervenção do governo ou podem não conseguir operar.

• A redução de resíduos vai além da conformidade para reduzir


o impacto ambiental. O SGA ajuda a desenvolver, implementar,
gerenciar, coordenar e monitorar as políticas ambientais. A
redução de resíduos começa na fase de projeto por meio da
prevenção da poluição e minimização de resíduos. No final do ciclo
de vida, os resíduos são reduzidos pela reciclagem. 

Para atingir esses objetivos, a seleção de sistemas de gestão ambiental


normalmente está sujeita a um certo conjunto de critérios: uma capacidade
comprovada de lidar com dados de alta frequência, indicadores de alto
desempenho, tratamento e processamento de dados transparentes,
mecanismo de cálculo poderoso, tratamento de fatores personalizado,
múltiplos recursos de integração, automação de fluxos de trabalho e
processos de controle de qualidade e relatórios detalhados e flexíveis.

2.4.3 LEED

O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é uma


ferramenta de certificação que busca incentivar e acelerar a adoção
55

de práticas de construção sustentável. O objetivo do LEED é promover


construções que possam:

• Reduzir a contribuição para as mudanças climáticas globais.

• Melhorar a saúde humana individual.

• Proteger e restaurar os recursos hídricos.

• Proteger e melhorar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

• Promover ciclos de materiais sustentáveis e regenerativos.

• Melhorar a qualidade de vida da comunidade.

Construções que possuem certificação LEED economizam dinheiro,


melhoram a eficiência, reduzem as emissões de carbono e criam
lugares mais saudáveis para as pessoas. Eles são uma parte crítica da
abordagem das mudanças climáticas e do cumprimento das metas
ESG (environmental, social and governance), aumentando a resiliência e
apoiando comunidades mais equitativas.

Para obter a certificação LEED, um projeto ganha pontos ao aderir a


pré-requisitos e créditos que abordam carbono, energia, água, resíduos,
transporte, materiais, saúde e qualidade ambiental interna. Os projetos
passam por um processo de verificação e revisão pelo Green Building
Certification Institute (Instituto de Certificação de Construções Verdes)
e recebem pontos que correspondem a um nível de certificação LEED:
Certificado comum (40-49 pontos), Nível Prata (50-59 pontos), Nível Ouro
(60-79 pontos) e Nível Platino (80 pontos).

As certificações ambientais não apenas ajudam você a mostrar o


que está fazendo certo mas também podem ajudá-lo a identificar as
principais áreas de gerenciamento de sustentabilidade em que sua
empresa não está funcionando tão bem quanto poderia. As certificações
56

colocam suas políticas sob os holofotes e permitem uma análise


aprofundada do processo e da prática. Por meio dessa análise, você
pode encontrar pontos fracos em seus planos de sustentabilidade e
tomar medidas para melhorar suas atividades ambientais antes que elas
afetem seus negócios.

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Sistemas de Informações de Geração
de Energia da ANEEL (SIGA). Brasília, DF: ANEEL, 2020.
AKABANE, G. K.; POZO, H. Inovação, tecnologia e sustentabilidade: histórico,
conceitos e aplicações. São Paulo, SP: Érica, 2020.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Anuário
da Indústria Automobilística Brasileira São Paulo, SP: ANFAVEA, 2020.
CURI, D. Gestão ambiental. Hoboken: Pearson Prentice Hall, 2012.
HEINRICHS, H.; MARTENS, P.; WIEK, A. Sustainability science. Dordrecht: Springer,
2016.
MAY, P. H. Economia do meio ambiente: teoria e prática. 3. Ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier, 2018.
RICHARDS, S. J.; ZAILI, J. A. Contribution of encouraging the future use of
biomethane to resolving sustainability and energy security challenges: the case of
the UK. Energy Sustain. Dev., v. 55, p. 48-55, 2020.
UNITED NATIONS. United Nations Climate Change Annual Report. [S. l.]: [s. n.],
2019.
57

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