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GESTÃO AMBIENTAL
autor do original
ALEXEI ZARATINI
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial regiane burger, modesto guedes júnior
Diagramação fabrico
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
ISBN: 978-85-5548-086-7
Prefácio 7
Rotulagem ambiental 75
Integração com a cadeia, rotulagem ambiental e avaliação de ciclo
de vida 87
7
1
Gestão ambiental,
responsabilidade
socioambiental e
sistemas de gestão
ambiental
1 Gestão ambiental, responsabilidade
socioambiental e sistemas de gestão
ambiental
No primeiro capítulo resgataremos alguns conceitos que dão fundamenta-
ção aos Sistemas de Gestão Ambiental. Reforçaremos assim a importância de
compreensão das bases das ferramentas de Gestão Ambiental, bem como da
tomada de decisão de maneira geral. Buscaremos contextualizar a formação da
Gestão Ambiental, sua relação com a Responsabilidade Socioambiental de or-
ganizações, de modo que o papel dos SGA fique mais claro.
OBJETIVOS
• Resgatar conceitos fundamentais para a ação em gestão ambiental;
• Reforçar os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável;
• Verificar a relação entre SGA e responsabilidade socioambiental;
• Compreender algumas das bases conceituais da ferramenta SGA.
REFLEXÃO
Você se lembra de ter lido algo a respeito dos Sistemas de Gestão Ambiental? E da rela-
ção desse conceito com outros, como a Gestão Ambiental, Desenvolvimento Sustentável,
Responsabilidade Socioambiental? Entender as relações entre conceitos como esses é fun-
damental para que possamos analisá-los criticamente. A partir disso, nossa compreensão
melhora e, consequentemente, a qualidade das decisões que tomamos! Não deixe de sempre
parar para refletir, durante a leitura, de modo que os conteúdos fiquem mais bem assimilados.
Bons estudos!
10 • capítulo 1
dia das pessoas, seja no ambiente de trabalho ou em outras esferas de atuação
de cada um de nós, em maior ou menor grau a depender da atuação profissio-
nal e da conscientização pessoal de cada um. Embora essas questões estejam
presentes, elas nem sempre se mostram de maneira simples e são compreen-
didas. Não poderia ser diferente: compreender exatamente como funciona a
Natureza, seus sistemas de vida, seus equilíbrios e ciclos, bem como o papel e a
participação humana nesses elementos é tarefa complicadíssima!
Por mais que percebamos as questões ambientais de maneira distanciada,
por mais que vivenciemos realidades confortáveis de acesso a recursos natu-
rais, transformados tecnologicamente ou não, a realidade se faz e se desdobra,
sem que possamos parar para refletir. Nem sempre, também, é possível retro-
ceder, recuperar danos ambientais, resgatar formas de vida em extinção.
Dentro desse contexto, as empresas cumprem papel muito relevante nos im-
pactos causados pelo ser humano sobre os equilíbrios naturais. Mas, se as em-
presas têm responsabilidade destacada sobre os impactos gerados, podem ter
também papel relevante sobre os impactos prevenidos, ou danos recuperados,
concorda? As empresas não são as únicas responsáveis pelos danos causados
ao ambiente natural. Todos nós, segundo o papel que assumimos na sociedade
e na Economia, temos responsabilidades sobre tais impactos. E você, já parou
para pensar a respeito do impacto causado e da responsabilidade assumida pe-
las empresas das quais você compra a maioria dos seus alimentos, bens durá-
veis ou não duráveis, como roupas, produtos de higiene, eletrodomésticos, car-
ros? Não é essa também uma responsabilidade nossa, enquanto consumidores?
Mas, o que isso tudo pode ter a ver com os Sistemas de Gestão Ambiental
(SGA), tema de nosso capítulo ou com a gestão da empresa? Sem dúvida, isso
tudo está muito ligado ao SGA, sua razão de ser, suas perspectivas de desenvolvi-
mento futuro, suas potencialidades. A ligação se dá por conta do tema da Susten-
tabilidade envolver a todos, o que inclui as empresas. Dentro de uma economia
de mercado, na lógica produtiva-consumista capitalista em que nos encontra-
mos, as empresas devem ser vistas como locais em que se desenvolvem proces-
sos com impacto ambiental envolvido. Além disso, é também nas empresas que
algumas decisões relevantes são tomadas, com impacto direto sobre o ambiente
natural. Mais ainda, as pessoas que formam as organizações são as mesmas que
formam a sociedade. O desenvolvimento de políticas de conscientização e ama-
durecimento das reflexões dentro da empresa tem impacto relevante fora dela
também. Lembre-se: a divisão de responsabilidades envolve a todos!
capítulo 1 • 11
1.1.1 Sustentabilidade e gestão ambiental
12 • capítulo 1
das Conferências das Nações Unidas, bem como os esforços de estudiosos e
ambientalistas que surgem e ganham voz em um contexto de problemas de de-
sequilíbrio ambiental crescente. Naquela época, alguns impactos resultantes
de ações humanas no ambiente natural começam a ganhar projeção mundial.
As sociedades, principalmente as ocidentais do mundo desenvolvido, passam
a ligar o alerta e incentivar estudos dedicados à análise dos impactos da ação
humana sobre o ambiente (DIAS, 2011).
Com o amadurecimento dos debates, diferentes correntes ideológicas pas-
sam a tomar corpo, paralelamente ao processo de acirramento de alguns pro-
blemas ambientais e das consequências dos mesmos à própria vida humana,
até então não em âmbito global, mas localmente. Tomam corpo, portanto, as
possibilidades de desenvolvimento sustentável, que buscam conciliar o desen-
volvimento econômico vital à economia capitalista com as questões da esfera
ambiental. Aqui, já podemos compreender um pouco melhor que o desenvol-
vimento sustentável é um dos desdobramentos dos estudos e debates sobre a
questão ambiental (ALMEIDA; MELLO; CAVALCANTI, 2004; DIAS, 2011). Não
o único desdobramento, mas um importante resultado que acaba por embasar
diversos outros esforços dedicados a contribuir com a busca pela sustentação
da Humanidade em um ambiente saudável. Aliás, embora não seja o tema de
nosso capítulo, cabe resgatarmos reflexões relevantes.
Há diferentes formas de a Humanidade sustentar-se ao longo do tempo. A
maneira como influenciamos o ambiente natural determina qual forma de sus-
tentação teremos. Sendo assim, a saúde humana e ambiental devem ser consi-
deradas quando pensamos em Sustentabilidade? Você considera satisfatório
que o ser humano se mantenha em um ambiente natural completamente de-
gradado? Isso é possível? Por quanto tempo poderemos nos manter em um pla-
neta cuja vida definha em razão da ação humana? Sem dúvida, muitas dessas
respostas são difíceis de ser alcançadas, ou ao menos difíceis de ser alcançadas
em consenso entre todos. Além disso, há incertezas tecnológicas e diferenças
culturais ou ideológicas sobre o tema (DIAS, 2011). Tais diferenças não podem
ser pormenorizadas aqui, para que não fujamos de nosso objetivo principal,
mas são relevantes para compreendermos todos os temas ambientais. Isso
tudo torna o assunto ainda mais complexo.
O desenvolvimento sustentável passa a ser tomado por diferentes entidades
como conceito básico à formulação de iniciativas que buscavam e buscam miti-
gar, ou amenizar, os impactos da ação humana sobre o meio ambiente. Para se
capítulo 1 • 13
compreender melhor, é importante lembrarmos que os problemas dos países
ricos (ou países do Norte) estão ligados ao desenvolvimento econômico excessi-
vo, principalmente durante as últimas décadas do século XX (DIAS, 2011).
Esse desenvolvimento econômico pode ser compreendido por excessivo
quando se dá com fortes bases pautadas no consumismo, aliado ao produtivis-
mo, que compreendem um estilo de vida ecologicamente inviável, portanto, in-
sustentável. Esse estilo de vida consumista/produtivista dá força à ideia de cres-
cimento linear de riquezas materiais como o valor central das sociedades. Se os
recursos naturais não são infinitos e o planeta Terra tem limites estabelecidos
(ainda que não os conheçamos exatamente), portanto, a ideia de crescimento
linear (contínuo) das riquezas materiais implica em insustentabilidade desse
modo de vida, concorda? Ressalta-se, ainda, que o impacto negativo não é cau-
sado somente pelos países ricos, mas também pelos demais países, nesses ca-
sos por fatores como o aumento populacional, as limitações tecnológicas que
implicam em alternativas mais impactantes, e a incorporação cada vez maior
do modo de vida propagado nos países desenvolvidos (DIAS, 2011).
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14 • capítulo 1
cimento da população é outro fator relacionado, pois quanto maior a população
humana, maior tende a ser o impacto da Humanidade sobre o planeta.
Quando passamos a considerar o desenvolvimento tecnológico e a expec-
tativa de que por meio dele possamos mitigar os impactos humanos no equi-
líbrio ambiental, nos aproximamos do conceito de desenvolvimento sustentá-
vel. Maurice Strong, então secretário geral da Conferência ONU em Estocolmo,
1972, sugeriu que a abordagem de desenvolvimento sustentável ocorre quando
três critérios fundamentais são obedecidos ao mesmo tempo: equidade social,
prudência ecológica e eficiência econômica (DIAS, 2011). Aspectos sociocultu-
rais deveriam passar a ser considerados e a qualidade de vida do ser humano,
uma condição para o progresso. Por qualidade de vida, espera-se que sejam
abarcadas as questões da qualidade ambiental e social, para que se alcance, de
fato, o desenvolvimento sustentável. Alguns objetivos passam a ser levados em
conta na formulação de políticas desenvolvimentistas que se alinham ao con-
ceito em voga. Alguns exemplos são (DIAS, 2011):
• Retomada do crescimento econômico;
• Alteração da qualidade desse desenvolvimento;
• Atendimento às necessidades básicas como emprego, alimentação,
energia, água e saneamento;
• Manutenção de um nível (tamanho) populacional sustentável;
• Conservação e melhoria da base de recursos utilizáveis pelas atividades
humanas;
• Reorientação da tecnologia no sentido de auxiliar o ser humano na busca
por Sustentabilidade;
• Inclusão das questões ambientais e econômicas nos processos de toma-
da de decisão.
capítulo 1 • 15
CONCEITO
A pegada ecológica é um conceito que busca disseminar a compreensão individual ou glo-
bal do desgaste natural decorrente das atividades humanas. Assim, é possível se “medir” a
pegada ecológica tanto de indivíduos isoladamente, como de comunidades mais amplas, ou
mesmo da própria humanidade. As medições não são perfeitamente precisas, mas servem
para termos melhor compreensão dos impactos decorrentes das nossas atividades. Quanto
mais um indivíduo ou país tem o consumismo arraigado como prática comum e quanto mais
consome bens industrializados, maior tende a ser sua pegada ecológica. Em contraposição, a
pegada ecológica tende a ser menor para aqueles que, por exemplo, optam por usar bicicleta
ao invés de veículos automotores, consumir alimentos orgânicos, de produtores locais e com
venda a granel ao invés de consumir alimentos altamente industrializados, e assim por diante.
16 • capítulo 1
1.1.3 O que é gestão ambiental?
A essa altura você já deve saber que há relação entre a Gestão Ambiental, o con-
ceito de Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, certo? Mas, agora,
passa a ser importante levantarmos outras questões nesse nosso propósito de
reforçar certos conceitos que alguns até já dominam. O que é Gestão Ambien-
tal? Em que sentido a Sustentabilidade pode fundamentar a Gestão Ambiental?
Em primeiro lugar, é importante reforçar que a Gestão Ambiental pode
ser compreendida como a área da Gestão que abrange técnicas e esforços
empregados com a finalidade de promover um uso e uma relação racional e
sustentável dos recursos naturais, nas ações das mais diversas áreas. Esses
esforços buscam, portanto, concatenar a busca pelos resultados já esperados
com melhoramentos nas questões ambientais relacionadas. Por Gestão Am-
biental entendemos mais comumente os esforços empregados em empresas,
mas ela também pode ser útil às entidades públicas, organizações não gover-
namentais (ONG), pessoas individualmente, enfim, em qualquer ação huma-
na que venha a modificar o meio.
Além disso, esses esforços não devem buscar exclusivamente o resultado
econômico ou social almejado. Quando pensamos em resultados ambien-
tais melhores ou aprimorados, devemos pensar naqueles elementos mais
comuns na relação entre homem e ambiente: os recursos naturais, as maté-
rias-primas, a energia, a biodiversidade (quando relacionada a algum fim de
interesse econômico). Portanto, uma gestão ambiental de atividades huma-
nas buscará reduzir o consumo de recursos naturais, buscará substituir recur-
sos não-renováveis por recursos renováveis, além da diversificação na matriz
energética, com privilégio para fontes renováveis, entre outros objetivos (AL-
MEIDA; MELLO; CAVALCANTI, 2004). Mas, além deles, as ações em Gestão
Ambiental podem também reverter os danos já causados, concorda? Nesse
caso, alcança-se um importante resultado, ao beneficiar a saúde ambiental,
ao invés de apenas prejudicá-la em menor grau.
Quando tratamos das estratégias em Gestão Ambiental Empresarial, é pos-
sível traçar três grandes perfis distintos, que indicam o estágio de maturidade
na organização para as questões ambientais e a busca de ações ligadas ao tema.
De maneira geral, podemos resumir o proposto nos estudos de Roldan et al.
(2012), que apresentam uma síntese de diversos outros estudos e indicam esses
três estágios ou perfis genéricos como:
capítulo 1 • 17
• Reativo: Quando a organização apenas reage às sanções e implicações
legais que sofre em razão de posturas incorretas, ou quando sofre perda
de clientes cujas exigências ligadas às questões ambientais não são sa-
tisfeitas, por exemplo. Em geral, essas organizações sofrem com perdas
decorrentes de passivos ambientais.
18 • capítulo 1
Os itens acima elencados permitem constatar a diversidade de variáveis que
influenciam esse importante processo de pressão de partes interessadas para
que ocorra incentivo relevante às ações socioambientais empresariais.
Quando lidamos com SGA fica mais fácil visualizar esse entendimento: as or-
ganizações não são obrigadas por lei a implantá-lo, mas percebem a importância
do tema tanto por um perfil de gestão mais responsável como em decorrência de
oportunidades de negócio que poderão surgir a partir de sua implementação.
A Gestão Ambiental abrange diversos instrumentos que se dedicam a conci-
liar desenvolvimento econômico e menor impacto ambiental. Vamos reforçar,
resumidamente, alguns desses instrumentos:
capítulo 1 • 19
• Sistemas de Gestão Ambiental: Tema de nosso estudo atual. É uma fer-
ramenta não obrigatória que visa organizar e facilitar o controle dos pro-
cessos da organização, com enfoque nas atividades ligadas aos impactos
ou questões ambientais. Veremos mais adiante explicações mais deta-
lhadas desses sistemas.
CONEXÃO
As Bolsas de Resíduos podem ser bastante úteis para organizações que precisam comprar
ou vender insumos comumente caracterizados como resíduos em outros processos produti-
1 Savage, G. T., et al. Strategies for assessing and managing organizational stakeholders. Academy of Management
Executive, v.5, n.2, p.61-75, 1991.
20 • capítulo 1
vos. No Brasil, o Sistema Integrado de Bolsas de Resíduos busca facilitar essas transações e
permitir que elas ocorram em uma perspectiva também interestadual. Você pode saber mais
sobre o SIBR no link:<http://www.sibr.com.br/sibr/index_cni.jsp>
Você deve ter percebido que não é possível falar em Gestão Ambiental sem que
o tema carregue consigo a questão do Desenvolvimento Sustentável e, conse-
quentemente, as diferentes perspectivas sobre Sustentabilidade. Lembra-se de
que tratamos do significado do termo “Sustentabilidade”? Lembra-se também
de que tratamos do conceito de Gestão Ambiental?
Nesse processo de análise, vimos que a Sustentabilidade é um conceito apli-
cado às organizações quando tratamos de sua capacidade de manter-se inde-
finidamente ao longo do tempo, bem como contribuir para que a sociedade
possa manter-se, também, indefinidamente.
Pois bem, nesse sentido, é importante reforçarmos ainda outra vez que a
Gestão Ambiental diz respeito à tomada de decisão que leva em consideração
aspectos socioambientais e econômicos com o objetivo de manter ao longo do
tempo, indefinidamente, o saudável funcionamento das organizações e a pere-
nidade das sociedades em que se inserem. Assim, teremos mais clara a noção
do papel dos Sistemas de Gestão Ambiental como facilitador da busca por Sus-
tentabilidade na organização.
Quando nos indagamos sobre o papel das empresas na busca por Sustentabili-
dade, a palavra “responsabilidade” nos vem como um pré-requisito importante
para justificar tais esforços. Faz sentido, portanto, que possamos analisar um
pouco sobre a responsabilidade das empresas e sobre sua tomada de respon-
sabilidades. A responsabilidade das empresas, como vimos, se dá pelo fato de
serem elas determinantes, em uma economia capitalista, para que os recursos
naturais sejam explorados, de maneira mais ou menos eficiente.
Quando dizemos que uma organização ou pessoa é responsável por deter-
minado ato, entendemos que ela deve responder pelas consequências do mes-
mo, e que tem o dever, às vezes jurídico (estabelecido em lei), às vezes moral
capítulo 1 • 21
(estabelecido socialmente, em maior ou menor consenso), de zelar para que
seus atos não prejudiquem os direitos de terceiros.
A partir disso, podemos já iniciar a compreensão da responsabilidade que
as empresas têm sobre seus atos, o que ainda difere um pouco do conceito de
Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Ainda estamos iniciando os estu-
dos sobre o tema e o objetivo é apenas imaginarmos que há um papel assumido
pelas empresas. Esse papel encerra em si algumas responsabilidades, enten-
didas aqui como deveres dessas organizações perante a sociedade. Podemos
iniciar o tema, portanto, entendendo que para as empresas há alguns deveres,
estabelecidos em leis ou não.
É muito importante também entendermos que não somente a Responsabi-
lidade Social Empresarial (RSE), ou Corporativa, é importante para a busca por
Sustentabilidade. Conforme já vimos, também as responsabilidades individuais
devem ser valorizadas para possamos nos aproximar mais da Sustentabilidade.
Mas, é necessário que as organizações tenham credibilidade em suas ações
de RSC, concorda? Por ser um tema muito relevante, cujas ações ocorrem de
maneira mais proativa e menos reativa por parte da empresa (lembra-se das
posturas organizacionais frente às questões ambientais?), podemos imaginar
que seja necessário algum tipo de normatização para que tais ações em RSC
possam ter mais credibilidade.
É nesse sentido que surgem algumas normas que buscam permitir às em-
presas implantar ações de RSC de maneira mais bem estruturada, seguindo cri-
térios estabelecidos, e verificações esporádicas (DIAS, 2011). Ainda segundo o
autor, duas normas são as mais relevantes no tema da Responsabilidade Social
Empresarial: a SA8000, elaborada pela SAI (Social Accountabiliy International);
e a ISO26000, mais recentemente desenvolvida e que busca, como a anterior,
estabelecer critérios comuns e que partam do consenso entre diferentes inte-
ressados, sobre elementos ligados a diferentes dimensões dessas ações de RSC,
como econômico-financeiras, social e ambiental.
Veja que já nesse ponto podemos perceber algumas semelhanças nas estraté-
gias de RSC e na implantação de um SGA: ambos, por serem de caráter proativo,
demandam padrões que possam auferir resultados efetivos das ações, de manei-
ra a conferir credibilidade ao processo. Esses padrões também não são obriga-
tórios, mas muito auxiliam na realização dos processos. Essas semelhanças não
ocorrem ao acaso, são resultado dos valores que embasam as duas ferramentas:
RSC e SGA. Decorrem também da necessidade de buscar meios de verificação e
22 • capítulo 1
acompanhamento em abordagens realizadas em contexto organizacional, em
que os recursos não são abundantes e há diferentes interesses envolvidos.
É importante ainda destacar que os temas sociais e ambientais são próximos
na gestão organizacional. Sendo assim, quando tratamos das responsabilida-
des e da internalização proativa de responsabilidades, frequentemente lidamos
com questões socioambientais. Daí a possibilidade de denominarmos o tema
como Responsabilidade Socioambiental, que ocorre quando a organização não
se limita aos aspectos sociais, mas também ambientais. Como as duas dimen-
sões são fortemente relacionadas, em geral podemos compreender que as ações
são direcionadas mais a um ou outro eixo, ou a ambos, em complemento.
Você poderá se aprofundar sobre a Responsabilidade Social Empresarial
acessando outros materiais, dedicados mais especificamente ao tema. Por ora,
é importante entendermos que a RSC cumpre papel semelhante ao das ações
em Gestão Ambiental, e estão frequentemente em mesmo contexto. Além dis-
so, reforça-se aqui a compreensão de que as responsabilidades das empresas
devem ir além da geração de lucro aos investidores, já que influencia em as-
pectos sociais e ambientais, em geral implicando em impactos negativos nem
sempre internalizados.
capítulo 1 • 23
legais, concorda? Embora erros possam ser cometidos, a tendência de desgaste
de imagem e perda de credibilidade nas ações de RSC é quase inevitável.
Além disso, se uma determinada empresa aceitar doar certa quantia para
uma ONG, em uma ação isolada, isso também não se configura como ação
de RSC (DIAS, 2011). Ações como essa são genericamente classificadas como
ações de filantropia, e não implicam em organização de esforços no sentido de
se prover de maneira mais contínua determinada ação socioambiental.
Pois bem, veja como o conceito de Responsabilidade Social Corporativa pode
estar intimamente associado aos esforços por Sustentabilidade! As ações de RSC
devem ser mais perenes, contínuas, e devem ser desenvolvidas com o propósi-
to de beneficiar organizações, entidades e pessoas em temas estratégicos para
a organização e para a sociedade em que se insere. Sendo assim, busca-se que a
própria empresa possa sustentar-se melhor ao longo do tempo, ao mesmo tempo
em que se busca contribuir para além das obrigações legalmente instituídas.
Mas, já de início é importante pensarmos nos contrapontos, nas contradi-
ções! Lembra-se de que nós analisamos anteriormente o papel pontual que as
empresas podem realizar na busca por Sustentabilidade? Ou seja, além das em-
presas, outros elementos sociais devem assumir responsabilidades. Ora, se isso
é verdade, então também devemos considerar que as ações de RSC podem cum-
prir um papel pontual, não devem ser vistas como viabilizadoras da Sustentabi-
lidade, isoladamente. O mesmo vale para as organizações: implantar ações de
RSC não deve significar que a Sustentabilidade foi alcançada, mas que mais um
esforço foi realizado nesse sentido. Você concorda, assim, que há relação entre
o conceito de RSC e a Gestão Ambiental, também por intermédio do desenvolvi-
mento sustentável como valor fundamentador de ambas as abordagens?
REFLEXÃO
Vimos neste capítulo diversos temas e elementos que dão base aos Sistemas de Gestão
Ambiental. Auxiliam tanto para a compreensão dos valores ideológicos envolvidos na ferra-
menta em questão, como para a visualização de outras ferramentas de propósito semelhante,
que estão frequentemente relacionadas e implantadas em complemento umas às outras.
Ao longo dos tópicos, tivemos a oportunidade de pensar em alguns contrapontos, ou
seja, de ideias que são apresentadas como contra-argumentos àquelas até então postas.
Isso é muito importante para a construção de uma visão mais crítica sobre os temas, o que
nos confere capacidade de agir com mais eficácia e de tornar as ideias em realidades.
24 • capítulo 1
A implantação dessas ferramentas, tais como o SGA, requer negociação interna, apre-
sentação de argumentos, casos de sucesso, perspectivas distintas. Sendo assim, quanto mais
madura for nossa percepção a respeito, melhor se dará esse processo. A visão pueril dessas
ferramentas e dos temas da Gestão Ambiental pode prejudicar os esforços por mitigar os da-
nos causados pelo ser humano à Natureza, bem como os esforços por despertar consciências
mais críticas nas pessoas, a respeito desse e outros temas. Portanto, é importante acreditar
que a contraposição e a crítica a tais ferramentas é relevante tanto para que possamos imple-
mentá-las com sucesso como para o desenvolvimento social geral.
Como vimos, o próprio conceito de desenvolvimento sustentável, que fornece bases para
a Gestão Ambiental e suas ferramentas, encontra em si contradições que são objeto de
análises distintas. Devemos relacionar os problemas à maneira como desenvolvemos nossas
atividades, quando pensamos na escassez de recursos para todos, no quadro de aumento
populacional vertiginoso a que passamos no século XX e ainda experimentamos, no empo-
brecimento da biodiversidade, enfim, as mais diversas mazelas de ordem socioambiental.
Nesse sentido, passa a receber destaque a ideia de que os instrumentos da Gestão Ambien-
tal são dedicados às consequências dessas posturas, mas não às causas. Sendo assim, não
podem de fato resolver os problemas.
Nesse ponto, devemos considerar que a Gestão Ambiental se dedica a amenizar impac-
tos dentro de um contexto de economia de mercado, capitalista. No entanto, em qualquer
contexto também deve haver uma Gestão racionalizada, que leve em conta as externalida-
des socioambientais, ou seja, os impactos ainda não considerados, oriundos da produção de
bens e serviços. Sendo assim, uma importante reflexão pode surgir quando considerarmos
o propósito da Gestão Ambiental.
Quando se afirma que as ferramentas da Gestão Ambiental buscam amenizar impactos
em nível global ou até mesmo revertê-los, em nível local, percebe-se daí que os impactos não
são necessariamente eliminados. Sendo assim, um conjunto importante de questionamentos
pode ser formulado, no sentido de se investigar quais são os limites reais do modelo atual-
mente desenvolvido, se a inovação tecnológica será suficiente para amenizar os impactos
até um momento em que as lógicas produtivas sejam amadurecidas, enfim, se a crença no
desenvolvimento sustentável permitirá à Humanidade resolver as questões ambientais ade-
quadamente e em tempo suficiente para as mudanças.
É importante a partir de agora você mesmo refletir sobre essas questões, esclarecer
melhor quais são suas perspectivas sobre o tema, bem como quais são suas possibilidades
de contribuição para as organizações, para a sociedade e para sua própria vida particular.
Isso será importante para o sucesso de seu estudo sobre os Sistemas de Gestão Ambiental.
Sucesso em seus esforços!
capítulo 1 • 25
ATIVIDADE
1. Aponte alguns dos principais fatores que levaram ao aumento da importância dos deba-
tes e estudos sobre impactos ambientais de origem humana.
2. Descreva alguns dos elementos básicos necessários para que as atividades humanas
possam alcançar a Sustentabilidade de fato.
LEITURA RECOMENDADA
Livro Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. 2 ed.. São Paulo: Edi-
tora Atlas. 2011.
O livro foi escrito pelo autor Reinaldo Dias, e traz uma visão geral dos três temas prin-
cipais: a Gestão Ambiental, a Responsabilidade Social e a Sustentabilidade. Fornece boas
reflexões a respeito da relação entre os temas, bem como sobre alguns contrapontos e
contradições importantes. Por ser um autor brasileiro, o livro possui linguagem próxima e
apresenta caso inserido em nossa realidade. A leitura é fluida e nos motiva a aprofundarmo-
nos nos temas da Gestão Ambiental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J.R. de; MELLO, C. dos S.; CAVALCANTI, Y. Gestão ambiental: planejamento,
avaliação, implantação, operação e verificação. 2 ed. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2004.
26 • capítulo 1
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2 ed. São Paulo:
Atlas. 2011.
LYRA, M.G.; GOMES, R.C.; JACOVINE, L.A.G. O Papel dos Stakeholders na Sustentabilidade
da Empresa: Contribuições para Construção de um Modelo de Análise. RAC- Revista de
administração contemporânea, v.13, p.39-52, jun. 2009. Disponível em:< http://www.
scielo.br/pdf/rac/v13nspe/a04v13nspe>. Acesso em: 15 maio 2014.
ROLDAN, V.P.S. et al. Gestão Ambiental Nas Empresas De Capital Aberto Do Segmento
‘Novo Mercado’: discutindo a homogeneidade e heterogeneidade de práticas à luz da teo-
ria institucional. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM). v.11, n.2,
p.193-216, jul-dez, 2012. Disponível em:<http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/
article/view/1056/674>. Acesso em: 22 maio 2014.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, lidaremos com os conceitos dos Sistemas de Gestão Ambiental, com
enfoque na série ISO 14000 como normatização mais relevante para sua implantação. Vere-
mos o que pode ser entendido como um Sistema de Gestão Ambiental, bem como quais pro-
cedimentos são necessários à sua implantação na organização. Para uma boa compreensão
do próximo capítulo, é fundamental que os conceitos preconizados no capítulo atual sejam
bem assimilados. Então, você poderá compreender melhor as razões de ser de um SGA.
Bons estudos!
capítulo 1 • 27
2
Sistema de gestão
ambiental: Série
ISO 14000
2 Sistema de Gestão Ambiental:
Série ISO 14000
OBJETIVOS
• Compreender o que é um Sistema de Gestão Ambiental;
• Assimilar o processo de desenvolvimento da norma ISO 14000;
• Entender o processo de certificação e implementação da norma ISO 14001;
• Verificar o propósito de outras normas da série ISO 14000.
REFLEXÃO
Lembra-se de alguma empresa certificada com norma ISO 14001 da qual tenha comprado
produtos recentemente? Você deu ou dá importância para esse atributo de uma organiza-
ção? Lembra-se de ter visto algum caso em que sistemas de gestão contribuíram para o apri-
moramento de processos gerenciais de organizações? Esforço como esse é importante para
começarmos a verificar na prática alguns dos conceitos que trabalharemos aqui. Além disso,
permite também percebermos de maneira mais clara nosso papel no avanço das questões
ambientais dentro das empresas!
30 • capítulo 2
2.1 Sistemas de gestão ambiental
capítulo 2 • 31
gestão, correlacionados e organizados de maneira lógica, cujo objetivo é apri-
morar a gestão da organização a que se destina. Veja que essa é uma definição
básica, elaborada a partir da definição da palavra “sistema”, aplicada ao campo
da Gestão.
Importante também ressaltar que quando tratamos de elementos correla-
cionados para um fim específico, não necessariamente estamos lidando com
softwares. Essas ferramentas buscam levar uma solução computadorizada, tec-
nológica, para a necessidade de se implantar um sistema na organização. Em-
bora via de regra as organizações utilizem softwares e soluções da tecnologia da
informação para implantar sistemas de gestão, essa não é condição obrigatória
para a existência de sistemas.
E então, agora que pudemos ter uma definição do que é sistema e inferir o que
pode ser um sistema de gestão, fica mais fácil definirmos um Sistema de Ges-
tão Ambiental? Já temos essa definição, no tópico anterior. Mas, há ainda al-
guns elementos que podemos levantar a fim de caracterizarmos um SGA.
Almeida, Mello e Cavalcanti (2004) nos indicam que um SGA é um meio de
se expressar o compromisso da organização com os deveres ambientais de-
terminados em sua política ambiental e expressá-la em planos, programas ou
procedimentos específicos. Tais procedimentos são sistematizados e padroni-
zados de maneira a incrementar o controle e permitir a prestação de contas a
interessados. Segundo os mesmos autores, a implantação de um SGA implica
adotar requisitos frequentemente mais exigentes do que os legalmente impos-
tos. Além disso, um Sistema de Gestão Ambiental busca outro objetivo que é
fundamental para o sucesso dos esforços pelo desenvolvimento sustentável:
a melhoria ou aprimoramento contínuo (ALMEIDA; MELLO; CAVALCANTI,
2004; VALLE, 2006; DIAS; 2011).
Uma abordagem de melhoria contínua é aquela que leva a organização a
buscar a resolução de problemas como uma tarefa permanente. Dessa manei-
ra, a organização se dedica a analisar os pontos críticos de seus processos, de-
senvolver mecanismos para facilitar a resolução de problemas, e, assim, alcan-
çar a qualidade em um nível superior.
Ao observarmos o componente de melhoria contínua que o SGA busca pos-
sibilitar na organização, percebemos que uma contribuição importante desse
32 • capítulo 2
sistema é auxiliar a organização não apenas no momento de sua implementação,
ou como certificador de esforço por excelência ambiental, mas, também, auxiliar
na resolução efetiva dos problemas ligados à questão ambiental organizacional.
Sempre que estivermos em análise de um SGA, portanto, é fundamental en-
tendermos que nele deve haver uma série de elementos e processos, que eles
necessariamente devem ser relacionados entre si, e que, por fim, devem buscar
como finalidade a excelência ambiental da organização, com a melhoria contí-
nua como valor fundamentador de sua aplicação. Você compreenderá melhor o
que são esses elementos e processos que constituem um SGA, segundo a norma
ISO 14001, entenderá ainda porque dizemos que eles são relacionados entre si,
e perceberá como eles buscam possibilitar a melhoria contínua da organização.
capítulo 2 • 33
• O Conselho de Gestão Técnica, que é responsável pelos comitês técnicos,
que desenvolvem os padrões e normas. Esse Conselho é importante no
nosso tema atual, pois está diretamente relacionado ao desenvolvimen-
to da ISO 14000.
CONEXÃO
A ISO oferece um mecanismo de busca das suas publicações de normas e padrões. Além
disso, oferece alguns checklists para auxiliar as organizações em processo de certificação
ou auditoria, para diferentes normas. Embora muitos desses conteúdos sejam acessados
somente depois de pagos, vale à pena acessar e navegar pelas diferentes normas desenvol-
vidas e entender um pouco melhor a razão da credibilidade alcançada pela ISO. Acesse pelo
link: <http://www.iso.org/iso/home/store.htm>.
34 • capítulo 2
zação para procedimentos de implementação de um SGA, o BS 7750. Um
dos propósitos dessa norma foi estabelecer um paralelo ambiental com
outra norma, a BS 5750, precursora da ISO 9000, ambas ligadas ao tema
da Gestão da Qualidade.
capítulo 2 • 35
tante padronizados aos quais a própria ISO se submete em seus trabalhos. É
importante que você visualize ainda que o processo não é interrompido ao fim
do desenvolvimento da norma. Os subcomitês mantêm responsabilidade so-
bre os temas aos quais estão ligados.
ATENÇÃO
Como são relacionadas em diferentes aspectos, as normas ISO 14000 e ISO 9000 possuem
pontos de convergência que justificaram a elaboração de um grupo-tarefa dentro da ISO,
cuja responsabilidade era de harmonizar os trabalhos e resultados alcançados pelo TC-207
e TC-176, comitê técnico já desenvolvido à época do início dos trabalhos pela norma ISO
14000. Esse comitê é responsável pela série ISO 9000 e possui características semelhantes
ao TC-207. A melhoria contínua, aspecto presente no SGA, reflete sua ligação estreita com
as questões da qualidade. Em razão disso, busca-se também com um SGA o aprimoramento
da “qualidade ambiental” da organização.
36 • capítulo 2
volvimento das normas e padronizações, mas outras entidades devem realizar
auditorias e o processo de certificação. Veremos mais a respeito no capítulo III.
Os estudos de Pombo e Magrini (2008) apontam que a partir dos coletados
até 2006, a região Sudeste era a que apresentava maior participação no número
de certificações brasileiras, com destaque para o estado de São Paulo, cuja re-
presentatividade é da ordem de 50% do total emitido. A Petrobras, por sua vez,
era a empresa de maior destaque no Brasil, com 41 certificações, sendo duas ra-
zões possíveis o fato de essa empresa ser potencialmente poluidora de grande
porte, e realizar a certificação multsites em que cada unidade potencialmente
poluidora da organização possui certificação própria, de maneira a melhorar o
processo no todo (POMBO; MAGRINI, 2008).
Os dados que vimos acima são relevantes para ilustrarmos um pouco do que
representa a norma ISO 14001:2004 para a realidade brasileira. Você pode aces-
sar mais informações a respeito, caso queira se aprofundar, em outras fontes
mais dedicadas ao tema. A leitura recomendada deste capítulo pode lhe forne-
cer informações relevantes. De maneira geral, é importante que fique mais claro
o papel da certificação no Brasil. Agora, devemos partir para a análise do pro-
cesso de certificação e implantação da norma ISO 14001:2004 nas organizações.
CONEXÃO
A Petrobras é uma das empresas mais avançadas no processo de utilização do SGA, bem
como outros sistemas de gestão, que funcionam de maneira integrada. Trata-se de um bom
exemplo, portanto, de empresa que dispõe de uma integração entre diferentes normas, como
a ISO 9001:2008, ISO 14001:2004 e OHSAS 18001:2007. Na página eletrônica da empre-
sa, você pode acessar informações interessantes sobre esses sistemas integrados, bem como
outras ligadas à ISO 14001:2004 na empresa. Acesso pelo link: <http://goo.gl/ACrsJP>.
capítulo 2 • 37
Para “implementar” ou “implantar” a norma ISO 14001:2004 na organiza-
ção é necessário realizar uma série de mudanças e adaptações, a fim de se apli-
car um sistema de gestão ambiental que possua elementos e enfoques distin-
tos, cujo fim seja o aprimoramento da qualidade ambiental. Já para “certificar”
a norma ISO 14001:2004, é necessário que os procedimentos nela orientados
já tenham sido implantados ou estejam em processo de implantação. A partir
disso, entidades específicas auxiliarão a organização nos procedimentos finais,
e outras cumprirão o papel de atestar, dar credibilidade ao esforço empregado
no sentido de utilização de um SGA.
Pois bem, agora que já pudemos diferenciar esses dois processos que são
bastante ligados entre si, é momento de buscarmos compreender como se dá
um dos processos, para depois compreendermos o outro. Iniciaremos pelo pro-
cesso de implantação da norma ISO 14001:2004.
Antes disso, é importante saber que a Norma NBR ISO 14001:2004 é baseada
no conceito do ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act) de gestão em quatro passos. É
possível que você já conheça a respeito dele. Para resgatá-lo e facilitar sua com-
paração com o SGA como um todo, segue abaixo uma breve explicação dos qua-
tro passos, levados ao tema ambiental, segundo a própria Norma (ABNT, 2004):
38 • capítulo 2
das duas normas, de modo que pode ser bastante relevante para a organização
buscar a implantação das duas.
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capítulo 2 • 39
• Objetivo Ambiental: é a meta global, sempre quantificável, decorrente da
política ambiental.
40 • capítulo 2
área ser excluída do SGA, algo que a organização tem liberdade para de-
cidir. Além disso, a organização pode optar por implementar a Norma
no todo ou em unidades específicas.
capítulo 2 • 41
diretrizes gerais para a implantação estruturada de um SGA. Por seguir uma
estrutura de implantação específica, seguindo os requisitos sugeridos, a orga-
nização pode passar a buscar uma certificação, que lhe forneça credibilidade
sobre seus compromissos de implantação de um SGA e, por consequência, so-
bre os seus compromissos com o aprimoramento contínuo de sua relação com
aspectos ambientais diversos.
Perceba que as especificações técnicas não são contempladas pela Norma
(ABNT, 2004). Tais especificações ou são abrangidas por outras normas, as
quais veremos de maneira superficial adiante, ou devem ser tratadas no pró-
prio conteúdo do sistema, em seus parâmetros, seus processos de medição,
com auxílio de consultorias especializadas. Isso decorre também do fato de que
cada setor de atividade e cada organização possuem especificidades que não
cabem na abrangência da NBR ISO 14001:2004. Consequentemente, o mesmo
vale para a própria norma ISO 14001:2004, ou seja, a norma internacional, da
qual deriva a Norma brasileira.
Para uma correta implantação da Norma, é fundamental, portanto, perce-
ber que nela há ainda espaços que devem ser ocupados por outras normatiza-
ções, e que a credibilidade do SGA em si está ligada também ao cumprimento
de requisitos legais e do levantamento de outros parâmetros ligados aos aspec-
tos ambientais da organização. Isso significa dizer, portanto, que não é na NBR
ISO 14001:2004 que uma organização encontrará os parâmetros de emissão de
poluentes atmosféricos aos quais deve se submeter. Mas, tais parâmetros de-
vem constar, por exemplo, como documentos, dentro da dimensão de imple-
mentação e operação. Compreende, agora, a complexidade de implantação da
Norma? Vê como é necessário um trabalho prévio à certificação que demanda
diferentes atores internos e externos à organização?
42 • capítulo 2
2.6.1 Contratação de organismo certificador:
CONCEITO
O IAF é uma organização mundial que abrange os órgãos de acreditação em avaliações de
conformidade do mundo todo. O enfoque dessas avaliações de conformidade não abrange so-
mente os sistemas de gestão, mas também produtos e serviços, por exemplo. O propósito de
atuação da IAF é semelhante ao da ISO, à medida que busca dar maior credibilidade a organi-
zações em um tema que exige um grau de confiança maior por parte dos interessados nessas
organizações. No caso do IAF, as organizações são justamente as certificadoras das normas.
capítulo 2 • 43
administradores e envolvidos no processo. Serão avaliados os documentos, a
política ambiental estabelecida, bem como o cumprimento de outros requisi-
tos da Norma.
Busca-se assim verificar se o estágio de amadurecimento do SGA já é suficien-
te para que o processo de auditoria de certificação seja de fato iniciado. Qualquer
inconformidade que ainda possa existir deverá ser apontada nessa etapa.
Vimos que a NBR ISO 14001:2004 abrange somente os aspectos ligados à im-
plantação de um Sistema de Gestão Ambiental na organização. Diversos outros
tópicos estão ligados ao tema na organização. Eles não podem ser todos inse-
ridos na mesma norma, que fugiria do escopo mais adequado. Além disso, não
necessariamente dizem respeito a todas as organizações que desejam implan-
tar certificação na Norma. A partir disso, temos as diversas normas pertencen-
tes à chamada série ISO 14000.
Dias (2011) apresenta, com base em dados da própria ABNT, um quadro
listando normas da série ISO 14000. Esse quadro é apresentado abaixo e nos
auxilia a ter uma visualização inicial da diversidade de propósitos de algumas
das normas da série.
44 • capítulo 2
NÚMERO
DESCRIÇÃO
DA NORMA
capítulo 2 • 45
As normas NBR ISO 14001:2004 e NBR ISO 14040:2001 são aquelas da série
passíveis de certificação. Alguns aspectos e atividades não incluídos no projeto
inicial da série ISO 14000 precisaram ser incorporados, tais como a Comunica-
ção Ambiental e as emissões de gases de efeito estufa, ou GEE (VALLE, 2004).
No caso da Comunicação Ambiental, a norma ISO 14063 compreende as
diretrizes e exemplos, de maneira a orientar as organizações quanto à forma
de comunicar mais adequadamente seu desempenho e aspectos ambientais
envolvidos. Já no caso da emissão de GEE, as normas ISO 14064 e ISO 14065
tratam dos critérios de medição, validação e verificação das emissões de GEE,
bem como dos organismos utilizados no credenciamento e reconhecimento
das ações nesse sentido (VALLE, 2004).
ATIVIDADE
1. Aponte e discorra sobre os principais motivadores que levaram à elaboração da norma
ISO 14001.
5. Indique dentre as normas da série ISO 14000 aquelas que estão ligadas ao tema da
Rotulagem Ambiental e da Auditoria Ambiental. Explique porque há separação da série
ISO 14000 em diferentes normas.
REFLEXÃO
Vimos ao longo deste capítulo uma série de aspectos conceitos e práticos da implantação
de um SGA segundo a NBR ISO 14001:2004. Um propósito central buscado foi iniciar a
compreensão da realidade, na prática da implantação da Norma. Paralelamente, o leitor deve
já buscar compreender algumas limitações e benefícios oriundos da implantação da Norma.
46 • capítulo 2
De modo geral, a empresa objetiva também atender a seus interesses quando busca cer-
tificação. Assim, seus administradores sabem que a partir da certificação, haverá aumento de
competitividade e maior estabilidade dos negócios, principalmente aqueles ligados a consumi-
dores que exigem determinado padrão de qualidade ambiental ou mesmo exigem a certificação
em si (VALLE, 2004). Ainda segundo os mesmos estudos, outros benefícios ligados à geração
de valor pela empresa estão ligados ao acesso a novos mercados – novamente, àqueles em que
o nível de consciência ambiental é maior – e aos prêmios de seguro frequentemente menores
para as organizações certificadas, em razão dos menores riscos de perda corridos por elas. Valle
(2004) nos informa ainda que o movimento de busca por certificação ambiental foi iniciado pelas
indústrias – e a elas é mais difundido – e atinge cada vez mais outros setores da economia, desde
organizações comerciais a prestadores de serviços e instituições de ensino. Como temos visto,
certificar-se implica buscar reconhecimento pelos esforços na questão ambiental. Assim, o tema
está bastante ligado à Comunicação. Ligado ainda a como a organização divulga seus esforços.
Veremos no capítulo IV mais a respeito da rotulagem ambiental, que é um exemplo de ferramenta
ligada à comunicação de esforços ambientais.
Por outro lado, um sistema como a série ISO 14000 pode ser nefasto se o propósito
de sua utilização for esconder interesses corporativos diversos e mecanismos de proteção
comercial. Valle (2004) exemplifica que esse perigo surge quando há setores produtivos
obsoletos, dentro da economia de um país, cujas organizações buscam se proteger de for-
necedores externos que empregam tecnologias de menor impacto ambiental ou estão mais
avançados em suas políticas ambientais. Por fim, há uma crítica importante de ser feita, não
relacionada à aplicação da norma em si, mas que permeia o processo. Diz respeito ao real
comprometimento dos empresários e administradores das organizações em relação à dimi-
nuição de seus impactos socioambientais, à internalização dos custos decorrentes de suas
práticas predatórias, enfim, a um comportamento mais ético e de responsável.
Como a política ambiental é estabelecida pela própria organização, e o comprometimen-
to com a melhoria contínua da mesma é também fruto de seus esforços, então é possível
que não haja a dedicação necessária entre os administradores e empresários para que a
organização de fato avance em sua postura responsável ambientalmente. Surge daí uma
série de limitações que devem ser tratadas não somente sob a perspectiva de implantação
da Norma, mas de uma abordagem mais crítica ao tema. Se não há dedicação necessária por
parte desses envolvidos, não há melhoria contínua de fato.
capítulo 2 • 47
LEITURA RECOMENDADA
Artigo: ISO14001 e a sustentabilidade. A eficácia do instrumento no alcance do desenvolvi-
mento sustentável. Disponível em: <http://www.usp.br/mudarfuturo/cms/?p=212>. Aces-
so em: 25 ago. 2014.
O artigo foi escrito pela autora Ana Carolina Rieksti e traz diversas informações importantes
para uma melhor compreensão do papel da norma ISO 14001:2004 no Brasil, bem como
suas relações com o desenvolvimento sustentável. O artigo pode ser baixado gratuitamente
em sua versão integral, dentro da publicação Certificação e Sustentabilidade Ambiental: Uma
análise crítica. Na publicação há muito conteúdo complementar ao que você está acessando
aqui. Portanto, vale a leitura!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J.R. de; MELLO, C. dos S.; CAVALCANTI, Y. Gestão Ambiental: planejamento,
avaliação, implantação, operação e verificação. 2 ed. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2004.
______. ISO/TC 207/SC 07 “Greenhouse gas management and related activities”. 2014.
Disponível em: <http://isotc.iso.org/livelink/livelink?func=ll&objId=8774363&objAc-
tion=browse&viewType=1>. Acesso em: 25 ago. 2014.
POMBO, F.R.; MAGRINI, A. Panorama de aplicação da norma ISO 14001 no Brasil. Gestão
e Produção. São Carlos, v. 15, n. 1, p. 1-10, jan.-abr. 2008.
48 • capítulo 2
em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 30 ago. 2014.
VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6 ed. São Paulo: Editora Senac, 2006.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, você verá mais alguns aspectos relevantes à norma ISO 14001, bem
como terá um aprofundamento de outros, já iniciados no capítulo atual. Você terá acesso
a um detalhamento da Auditoria Ambiental, para compreender a importância da atividade
dentro das questões ambientais empresariais, com a certificação entre elas. Verá ainda um
detalhamento maior dos requisitos ligados à implantação da norma, além de refletir a respeito
da importância da Política Ambiental organizacional no âmbito da implantação de um Sistema
de Gestão Ambiental. Bons estudos!
capítulo 2 • 49
3
Série ISO 14000,
política ambiental
e auditorias
ambientais
3 Série ISO 14000, política ambiental e
auditorias ambientais
OBJETIVOS
• Reforçar os aspectos mais relevantes dos requisitos necessários à implantação do SGA
segundo a Norma NBR ISO 14001:2004;
• Analisar o papel da Política Ambiental para o sucesso do SGA;
• Analisar a importância da Auditoria Ambiental dentro do âmbito do SGA e dos compromis-
sos ambientais da organização;
• Compreender a importância do papel da alta administração e da cultura organizacional no
sucesso do SGA.
REFLEXÃO
Você se lembra de algum caso famoso de infração ou conduta inadequada a respeito de
aspectos ambientais, por parte de empresas? Ao analisar casos como esses, consegue per-
ceber como os procedimentos inadequados poderiam ser evitados caso houvesse um SGA
na organização? Quando uma empresa lança mão dessa ferramenta, previne riscos, não só
pelos esforços da própria organização, mas pelo acompanhamento de uma auditoria que a
leva a manter seus esforços por melhoria contínua. Desse modo, há uma série de ganhos
paralelos com a adoção do SGA, além de seus objetivos principais. Vamos continuar os es-
tudos sobre o tema?
52 • capítulo 3
3.1 Política ambiental
capítulo 3 • 53
correntes de suas atividades, que são arcados por terceiros, de modo que ela
própria se responsabilize.
Lembre-se: quando uma atividade industrial, por exemplo, causa prejuízos
à população de entorno em decorrência da emissão de poluentes atmosféricos,
ela própria deve responsabilizar-se por isso e buscar efetivamente meios de so-
lucionar o problema. Isso se aplica a uma infinidade de outras situações que
ainda não são consideradas pelos mais diversos tipos de empresas.
Para compreendermos, em termos mais práticos, quais aspectos e compro-
missos uma organização pode estabelecer para além do cumprimento à legis-
lação e outras obrigações já vigentes, vejamos abaixo uma listagem de alguns
desses aspectos:
• Educação e treinamento;
54 • capítulo 3
SGA implantado. Sem o alinhamento da cultura organizacional e a adesão das
pessoas, o SGA perde legitimidade dentro da empresa (JABBOUR; OLIVEIRA;
CASTRO, 2011).
Em síntese, os autores Jabbour, Oliveira e Castro (2011) fundamentam-se em
literatura prévia para afirmar que diferentes estratégias de inovação ambiental
decorrem de diferentes profundidades de alteração cultural e consequente com-
prometimento da cultura organizacional. Isso significa dizer que “quanto mais
superficial se revelar a alteração cultural para apoiar a gestão ambiental, mais
tende a ser gerado um padrão de inovações incrementais, pautadas em tecnolo-
gias de controle da prevenção” (JABBOUR; OLIVEIRA; CASTRO, 2011, p. 8).
Por outro lado, a alteração mais radical dos pressupostos inconscientes a
respeito dos temas ambientais tende a fundamentar o desenvolvimento de ino-
vações ambientais mais profundas, situadas na fronteira do conhecimento, ou
seja, que envolvem maior ruptura. São exemplos desse tipo de inovação mais
profunda o “planejamento de bio-sistemas integrados e tecnologias que são
isentas de impactos ambientais” (p. 8). Por bio-sistemas integrados entende-
se as redes estabelecidas entre organizações ou dentro da própria organização,
cujo propósito é transformar outputs em novos inputs, ou, de maneira geral,
resíduos em matérias-primas (JABBOUR; OLIVEIRA; CASTRO, 2011).
É importante perceber, a partir disso, que um comprometimento maior da
organização deve refletir um trabalho prévio de aprimoramento da cultura or-
ganizacional, o que pode demandar, por vezes, uma alteração radical de pres-
supostos inconscientes em seus membros. Nesse sentido, faz-se necessária a
compreensão dos envolvidos – o que compreende todos os funcionários – acer-
ca das questões ambientais, seu papel e o papel da organização, bem como os
mecanismos necessários ao cumprimento dos objetivos e metas.
Veja que aqui relacionamos aspectos do SGA que já temos visto: a proposta de
melhoria contínua, a importância da política ambiental da organização, a impor-
tância da capacitação, treinamento e comunicação interna, entre outros. Assim,
à medida que o SGA avança e amadurece na organização, o propósito de melhoria
contínua leva à necessidade de mais esforços para ruptura daqueles pressupos-
tos inconscientes orientados aos temas ambientais. A partir daí, passa a haver
ambiente mais favorável à implantação de inovações mais profundas, o que não
diminui a importância do controle de prevenção anteriormente implantado.
capítulo 3 • 55
3.2 Implantação
Como vimos resumidamente, três aspectos estão mais ligados aos requisitos
de implantação (ou implementação) do SGA. Teremos maior detalhamento dos
três, neste momento:
56 • capítulo 3
deve haver ambiguidades e noções vagas no momento da definição de respon-
sabilidades: deve-se esclarecer e comunicar a todos quem são os responsáveis,
e pelo quê o são.
Seiffert (2011) orienta que de forma semelhante ao que ocorre para a ISO
9001, é importante que seja elaborada uma matriz de responsabilidades. Per-
mite-se, com isso, uma melhor visualização das funções e responsabilidades
associadas a cada funcionário. A visualização facilitada, por ser um recurso
menos textual, permite que essas informações sejam divulgadas no espaço fí-
sico da empresa, como um complemento e reforço da importância. O quadro
3.1 apresenta um trecho simplificado de matriz de responsabilidades. O fun-
damental é compreendermos que por meio dela se indica claramente as res-
ponsabilidades e corresponsabilidades sobre cada aspecto relevante do SGA.
Um efeito desse esclarecimento é instruir e motivar os responsáveis ou corres-
ponsáveis a realizar suas tarefas e procedimentos adequadamente, de modo a
reduzir risco de incorrer em impactos ambientais ou não-conformidades.
Estabelecer objetivos
R C
e metas ambientais.
Desenvolver orça-
mento para Gestão C C C
Ambiental.
Desenvolver e
coordenar plano de R C C
treinamento anual.
capítulo 3 • 57
3.2.2 Treinamento e capacitação
3.2.3 Comunicação
Esse tópico do SGA compreende as formas optadas pela organização para promo-
ver e controlar o fluxo de informações relacionado à sua atuação, em relação aos
aspectos ambientais. Seiffert (2011), informa que, segundo a Norma, a organiza-
ção deve estabelecer procedimentos para realizar comunicação entre os vários
níveis e funções, bem como atuar sobre os processos de recebimento, documen-
tação e respostas a comunicações relacionadas às partes interessadas externas.
É fundamental que no estudo da Norma, compreendamos o papel da comu-
nicação no sucesso de implementação. Conforme aponta Seiffert (2011, p. 132):
“as comunicações representam um importante elemento da dinâmica de um
sistema, uma vez que o poder, a liderança e a tomada de decisão […] dependem
do processo de comunicação”. Outro aspecto muito relevante ligado ao tema diz
respeito ao relacionamento da organização com partes interessadas exteriores.
Por exemplo, os clientes: é comum encontrar empresas que comunicam
seus clientes de maneira enganosa ou incorreta a respeito de suas conquis-
58 • capítulo 3
tas em aspectos ambientais. Você já observou alguma comunicação desse
tipo? Sabe dizer se a organização em questão é certificada pela Norma ISO
14001:2004? Por comunicação enganosa ou incorreta, devemos entender, por
exemplo, aquelas que anunciam produtos como perfeitamente sustentáveis,
com zero impacto ou argumentos semelhantes, quando na verdade o que hou-
ve foi uma melhoria incremental apenas pontual, uma redução em consumo de
recursos, energia etc.
Não faz parte do propósito desta apostila lidar de maneira aprofundada
sobre o tema da comunicação, principalmente aquela direcionada a clientes.
No entanto, é importante que você compreenda a importância do tema e que
ele também está abrangido dentro dos compromissos e responsabilidades ne-
cessários à organização certificada pela norma ISO 14001:2004. Como vimos
no capítulo 2, outras normas da série buscam dar melhor orientação sobre os
procedimentos mais adequados de comunicação. Lembre-se: a honestidade na
comunicação está diretamente ligada ao compromisso ético da organização e
de seus tomadores de decisão.
CONEXÃO
O tema do Greenwashing, ou propaganda ambiental enganosa, tem ganhado corpo à medida
que aumenta o nível de entendimento da sociedade a respeito do tema ambiental. Lem-
bre-se: é muito raro o produto ou serviço que tenha impacto zero. Nesse sentido, algumas
propagandas que alardeiam impacto zero de um produto ou significados semelhantes levam
o cliente a confundir-se, quando não compreende com mais profundidade o tema. O artigo
a seguir dá uma breve reflexão sobre o isso e abre oportunidade para você aprender mais.
Acesse pelo link:<http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=5732>.
3.2.4 Documentação
Um importante item relativo ao SGA, cuja adequação tem impacto direto sobre o
bom andamento dos demais processos, é a correta estruturação do sistema docu-
mental do SGA. Isso se torna particularmente importante por ser algo fortemente
ligado à avaliação de conformidades e não-conformidades, com necessidade de
embasamento por meio de documentos, relatórios, dados parametrizados.
capítulo 3 • 59
Assim, um bom sistema documental, ou uma boa estrutura documental,
implicará na manutenção do fluxo de informações de interesse do SGA, de ma-
neira a reduzir riscos de não-conformidade.
Seiffert (2011) afirma que o manual de gestão é o elemento mais signifi-
cativo do subsistema documental (dentro do SGA) e busca apresentar sinteti-
camente, de maneira mais superficial, as informações relativas aos procedi-
mentos do SGA, que estão detalhadas em outros documentos. Sendo assim, o
sistema documental pode ser estruturado obedecendo a níveis hierárquicos
conforme se pode visualizar na figura 3, a seguir, e que corresponde também
aos níveis hierárquicos estabelecidos na ISO 9001. Aqui se observa mais um
ponto de semelhança entre a ISO 9001 e a ISO 14001. Isso ilustra como elas ten-
dem a convergir para esforços semelhantes dentro da organização.
Politica Ambiental
Manual do SGA
Procedimentos sistêmicos
(ou padrões de processo)
Procedimentos operacionais
Instruções de trabalho,
formulários e registros
60 • capítulo 3
• São instrumentos de consulta e orientação (o que facilita o treinamento).
• Não são a solução para todos os problemas (e podem ser vistos como tal,
por parte de alguns dos envolvidos).
Vê-se que o manual de gestão deve ser encarado de maneira cuidadosa, para
que possa atingir seus objetivos e assumir papel de facilitador na compreensão
da norma por parte dos envolvidos, bem como na divulgação dos procedimen-
tos necessários.
Embora o manual de gestão seja parte muito importante do subsistema de
gestão documental, ele não é o único aspecto importante. Um dos propósitos
desse subsistema é permitir que a organização consiga estabelecer e manter
procedimentos para controle de todos os documentos exigidos. A partir de um
bom sistema documental, assegura-se que os documentos relacionados:
• Possam ser facilmente localizados;
• Sejam periodicamente analisados;
• Sejam revisados quando necessário;
• Possam ser aprovados por pessoal autorizado, caso estejam adequados.
capítulo 3 • 61
Seiffert (2011) aponta ainda que é evidente a necessidade de acesso rápi-
do e fácil aos documentos ambientais, por parte dos membros da organização,
sendo que a forma como são acessados durante as auditorias é indicativo de
performance (ou desempenho) e conformidade à Norma.
Você já deve ter percebido como a Norma pode ser esmiuçada e detalhada,
de maneira a permitir uma implantação com excelência. Temos visto diversos
aspectos ligados a ela, até agora dedicados a fases de elaboração da política
ambiental ou da implantação do SGA. Há ainda uma grande diversidade de
aspectos ligados ao SGA, como operacionais, referentes a situações emergen-
ciais, dentre outros. Mesmo para as duas etapas iniciais, não trataremos com
profundidade aqui, dada a complexidade do tema. É importante que você te-
nha em mente que a implantação da Norma ocorre com o acompanhamento de
consultorias especializadas, de modo a viabilizar o processo.
62 • capítulo 3
3.2.5.1 Monitoramento e medições:
Nesse ponto, o SGA deve dispor de procedimentos documentados para que haja
monitoramento e medição periódicos das características principais das ope-
rações e atividades com potencial de impacto sobre o meio ambiente. Deve-se
ainda assegurar o registro do monitoramento, bem como que os equipamentos
usados nas medições estejam corretamente calibrados. Em termos práticos,
etapas do processo produtivo que emitam poluentes, líquidos, gasosos ou resí-
duos sólidos, devem ter meios garantidos de verificação e medição, e o registro
dessas medições deve ser adequadamente preservado.
capítulo 3 • 63
3.2.6 Análise Crítica pela gerência
64 • capítulo 3
3.3.1 Conceito
3.3.2 Histórico
capítulo 3 • 65
Já na década de 90, a ISO anuncia a intenção de desenvolver a série de nor-
mas 14000. Nessa intenção, incluiu-se o desenvolvimento de normas para audi-
torias, as normas ISO 14010, 14011 e 14012 (VALLE, 2006). Já no caso brasileiro,
alguns estados desenvolveram leis que exigem a realização de auditorias am-
bientais. São exemplos o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Minas Gerais
(PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2004).
ATENÇÃO
Quando analisamos o desenvolvimento e consolidação das auditorias ambientais, percebe-
se que foi um processo natural de utilização desse procedimento para que se pudesse acom-
panhar com maior confiabilidade os compromissos das organizações perante as questões
ambientais. Tal preocupação se inicia focada nos acidentes ambientais e suas consequên-
cias, para depois se consolidar também na prestação de contas, certificação e credibilidade
de ações ambientais mais avançadas.
3.3.3 Tipos
66 • capítulo 3
devem estar envolvidos também os procedimentos administrativos e operacio-
nais, bem como sistemas de proteção, documentação etc. Quando uma audito-
ria é realizada, há três enfoques fundamentais: a situação do licenciamento da
empresa, a competência para controle dos riscos ambientais e a confiabilidade
do monitoramento já realizado.
CONCEITO
Uma auditoria ambiental é um processo estruturado e objetivo, mas que nem por isso deixa
de ser complexo. Além disso, há diversos propósitos que podem ser alcançados com sua
realização, para além daqueles que já vimos. Alguns deles são (VALLE, 2006): avaliar o
estabelecimento levando em conta os passivos ambientais e os custos eventuais para sua
reabilitação; melhorar as condições de diálogo da empresa com seus stakeholders; apontar
melhorias possíveis na gestão dos gastos dedicados à correção de não-conformidades am-
bientais, dentre outros.
Phillipi Jr. e Aguiar (2004) sugerem ainda que as auditorias podem ser clas-
sificadas de acordo com a parte auditora, com os critérios de auditoria e com os
objetivos de auditoria:
capítulo 3 • 67
• Classificação de acordo com os objetivos da auditoria: Podem ser clas-
sificadas como auditoria ambiental de certificação, quando se busca a
obtenção da certificação pela norma, principalmente a ISO 14001:2004.
Perceba que no caso da auditoria de sistema de gestão ambiental, na
classificação por critério, não se busca a obtenção da certificação, mas
uma verificação da conformidade com o que foi estabelecido no SGA. As
auditorias podem ainda ser classificadas como de acompanhamento;
de verificação de correções; de responsabilidade, para avaliar possíveis
riscos de passivos ambientais, em geral antes de fusões e aquisições; de
sítio, para verificar o grau de contaminação de áreas específicas; ou audi-
toria compulsória, destinada a cumprir exigência legal.
68 • capítulo 3
• Identificação da unidade auditada e do cliente da auditoria;
• Objetivos da auditoria;
• Escopo (entendido como enfoque ou elementos considerados, inclusive
o período em que a organização já foi coberta por auditoria);
• Critérios da auditoria;
• Data de condução;
• Identificação dos membros da equipe auditora e do auditor-líder;
• Resumo do processo de auditoria;
• Conclusões da auditoria;
• Declaração de confidencialidade;
• Lista de distribuição do relatório (a quem ele será entregue).
capítulo 3 • 69
Para o relatório da auditoria é necessário que os auditores realizem suas
análises baseados nos dados coletados na organização, confrontados com os
requisitos legais e normatizações. A avaliação é feita definindo-se as questões a
ser analisadas, para então haver a previsão das consequências. Essa análise das
consequências pode fornecer informações importantes à organização, quando
bem elaborada. Representa uma parte relevante quando há não-conformidades.
ATIVIDADE
1. Apresente as etapas de implantação de um SGA segundo a norma ISO 14001:2004,
resumidamente.
2. Aponte quais são, na sua opinião, dois dos papéis mais importantes assumidos pela alta
administração da organização na viabilização de um SGA.
REFLEXÃO
Tivemos ao longo neste capítulo de nossos estudos uma visão mais procedimental, ou seja,
mais dedicada aos aspectos práticos de implantação da norma NBR ISO 14001:2004 e do
funcionamento do SGA na organização. Ligado a isso esteve o tema das auditorias ambien-
tais, fundamental para a viabilização do SGA.
Em razão dessa abordagem necessária neste momento dos estudos, tivemos menor
atenção dada à reflexão crítica do conteúdo visto. No entanto, alguns aspectos devem ser
destacados para que você possa resgatar os conteúdos vistos, bem como as reflexões já
apresentadas, e elaborar as suas próprias reflexões. É o caso, por exemplo:
• Do papel da alta administração na viabilização do SGA.
• Do papel do SGA e de todos os envolvidos.
• Dos efeitos da auditoria sobre o funcionamento do SGA.
• Das possibilidades de cuidados com os processos em não-conformidade com normas
ou parâmetros legais.
70 • capítulo 3
Tente refletir também sobre como esses elementos acima listados estão relacionados
entre si. Nesse caso, é importante pensarmos no conceito de melhoria contínua, inerente ao
SGA segundo a Norma. Assim, devemos atentar para a necessidade de que haja real com-
prometimento da alta administração, bem como dos demais envolvidos, para que as práticas
de gestão ambiental da organização mantenham-se em melhoria contínua real. Sem isso, o
conceito de Sustentabilidade fica mais afastado da realidade empresarial.
LEITURA RECOMENDADA
Livro: Sistemas de Gestão Ambiental (SGA-ISO 14001): Melhoria Contínua e Produção mais
Limpa na prática e experiência de 24 empresas brasileiras. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
O livro foi escrito pela autora Mari Elizabete Bernardini Seiffert, a mesma autora de um dos
livros utilizados por nós. O tema é complementar ao que trabalhamos neste capítulo. A autora
busca apresentar uma relação dos SGA com os conceitos de Melhoria Contínua e Produção
mais Limpa. Depois de realizar seus estudos, você já estará preparado para melhor absorver
novos conteúdos por meio desse livro. A leitura fluirá melhor e você terá acesso a uma aborda-
gem mais aprofundada e especializada do tema.
A publicação apresenta resultados de uma pesquisa realizada com 24 organizações, loca-
lizadas em cinco estad2os do Sudeste e Sul do Brasil, por meio da aplicação de questionário
e realização de entrevista com o coordenador do sistema de gestão da empresa. Além disso, o
texto argumenta sobre como o investimento em aprimoramento do desempenho ambiental pode
significar, além de benefícios socioambientais generalizados, uma possibilidade de geração de
valor econômico-financeiro à organização e seus investidores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PHILIPPI JR., A. AGUIAR, A. de O. e. Auditoria Ambiental. In: PHILIPPI JR., A.; ROMÉRO, M.
de A.; BRUNA, G.C. (ed). Curso de gestão ambiental. Barueri: Ed. Manole, 2004.
JABBOUR, C.J.C.; OLIVEIRA, S.V.W.B. de; CASTRO, R. de. Cultura Organizacional, Inovação
e Gestão Ambiental: integrando conceitos para a edificação de organizações sustentáveis.
Revista de Engenharia e Tecnologia. v. 3, n. 3, 2011. Disponível em: <http://www.revis-
taret.com.br/ojs-2.2.3/index.php/ret/article/view/74>. Acesso em: 25 ago. 2014.
capítulo 3 • 71
SEIFFERT, M. E. B. ISO 14001 Sistemas de Gestão Ambiental: Implantação objetiva e
econômica. 4 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6 ed. São Paulo: Editora Senac, 2006.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, você verá um dos procedimentos relacionados ao Sistema de Gestão
Ambiental, mas que ocorre em geral após os resultados alcançados a partir do sistema. Trata-
se da Rotulagem Ambiental, algo que não necessariamente ocorre com a certificação, mas
que muito contribui para o processo de comunicação com o público externo, principalmente
os clientes. Com a rotulagem ambiental, poderemos ter uma compreensão mais ampla dos
resultados possíveis alcançados a partir do SGA. Nesse caso, os resultados serão mais de
ordem econômica, com geração de valor econômico à organização. Bons estudos!
72 • capítulo 3
4
Rotulagem e selos
ambientais
4 Rotulagem e selos ambientais
No quarto capítulo veremos um dos procedimentos relacionados ao Sistema de
Gestão Ambiental que representam uma ferramenta situada em elo posterior na
cadeia de processos de negócios da empresa. Ocorre, assim, após os resultados
alcançados a partir do sistema. Trata-se da Rotulagem Ambiental, que não ocorre
obrigatoriamente após a certificação, mas que muito contribui para o processo
de comunicação com o público externo, principalmente os clientes. Com a ro-
tulagem ambiental, e os selos ambientais, os clientes podem ter uma compre-
ensão mais facilitada dos resultados possíveis alcançados a partir do SGA. Para
a empresa, o uso da rotulagem ambiental deve representar resultados de ordem
econômica, com geração de valor econômico à organização. Vamos aos estudos!
OBJETIVOS
• Compreender e conceituar Rotulagem Ambiental e selos ambientais;
• Identificar os objetivos da Rotulagem Ambiental;
• Identificar os aspectos relacionados ao processo de Rotulagem Ambiental;
• Compreender os impactos da Rotulagem Ambiental sobre os resultados econômicos da
empresa;
• Compreender o papel da Rotulagem Ambiental e dos selos ambientais sobre a relação
entre empresa e consumidores.
REFLEXÃO
Você se lembra de ter visto produtos com selos ambientais no supermercado? Ou conhece
algum produto rotulado segundo critérios ambientais? Que tipo de produto? Qual importân-
cia você dá para a existência desses selos ou rótulos ambientais, como aqueles indicativos de
alimentos orgânicos ou agroecológicos, ou de outras contribuições ambientais? A importân-
cia deste capítulo será grande, para compreendermos melhor as maneiras de se comunicar
com credibilidade as conquistas alcançadas nas questões ambientais, com o auxílio do SGA.
O estudo será importante tanto para a sua atuação profissional, como para a compreensão
de um tema ligado ao consumo consciente!
74 • capítulo 4
4.1 Rotulagem ambiental
O tema do consumo consciente deve ser recorrente quando lidamos com a ro-
tulagem ambiental. Quando consumimos, deve ficar claro que há uma relação
direta entre os impactos causados pelo produto consumido e nossa responsa-
bilidade sobre o tema ambiental.
Podemos ainda relacionar o “Marketing Verde” aos conceitos de rotulagem
e selos ambientais. Marketing Verde pode ser compreendido como o conjunto
dos processos de Marketing realizados levando-se em consideração a variável
ambiental-ecológica mais do que no Marketing tradicional, como resposta ao
processo de desenvolvimento da consciência ambiental na população (DIAS,
2011). Essa consciência ambiental leva os consumidores, em diferentes níveis
de exigência, a buscar produtos que estejam em conformidade com suas con-
cepções de Sustentabilidade e adequação socioambiental. Essas concepções
são resultado do grau de compreensão dos indivíduos a respeito do tema, de
modo que podemos esperar diferentes graus de compreensão e, por consequ-
ência, diferentes níveis de consciência ambiental.
A partir da consolidação do Marketing Verde na organização, espera-se
que haja uma diversificação de enfoques, que passam a considerar, ao lado do
cliente, também as demais partes interessadas, como sociedade de entorno,
ONGs, governo etc. (DIAS, 2011). Isso deve significar que não apenas a satis-
fação imediata das pessoas posicionadas como clientes da organização será
considerada, mas os benefícios e malefícios relacionados a outras pessoas, que
são, em razão disso, partes interessadas no bom desenvolvimento dos proces-
sos daquela organização.
capítulo 4 • 75
O Marketing Verde traz consigo uma diversidade de termos e elementos
obscuros, de difícil compreensão do público em geral e causadores de divergên-
cia e contradições na compreensão do conceito. Um de seus pontos de maior
destaque nesse sentido é o “preço ecológico” (DIAS, 2011, p. 166), que deve ser
elaborado levando-se em consideração os aspectos ambientais relacionados ao
produto e à organização. Nesse sentido, um produto vendido a um “preço eco-
lógico” seria aquele que leva em consideração custos ambientais – e mesmo so-
ciais, caso queiramos expandir o conceito – e comunica ao cliente quais custos
foram internalizados. O problema aqui é que muitos custos socioambientais
não são conhecidos ou ainda são externalidades – aspectos não considerados
pela organização, mas que causam efeito positivo ou negativo em terceiros.
Além disso, uma diferença fundamental entre rotulagem ambiental e
Marketing Verde refere-se ao fato de que na rotulagem alguns critérios obje-
tivos e pré-estabelecidos devem ser seguidos, e o foco não é unicamente a pro-
moção do produto e seu posicionamento perante o cliente (SIQUEIRA, 2010).
Ainda segundo a autora, os dois conceitos são diferentes, pois a rotulagem am-
biental permite compreensão mais clara dos critérios, enquanto que o marke-
ting verde frequentemente apresenta “excessos publicitários [...] cuja mistura
de informações necessárias e promocionais podem confundir o consumidor,
ou mesmo salientar vantagens [...] não certificadas” (p.6).
CONCEITO
O tema do Marketing Verde e Greenwashing deve atrair mais atenção dos consumidores e
das organizações de proteção e defesa aos consumidores que, preocupados com o aumento
das comunicações de atributos ambientais, têm tentado divulgar informações que auxiliem
os consumidores. Há diferentes iniciativas nesse sentido, que podem ser interpretadas como
uma reação de ceticismo por parte da sociedade, frente ao excesso de comunicação ligada
ao tema da Sustentabilidade. Já vimos anteriormente as contradições ligadas ao fenômeno.
A Associação Proteste elaborou um material analisando o assunto, de fácil compreensão e
de grande ajuda aos consumidores. Para ver um pouco mais sobre a questão da maquiagem
verde, acesse o link:<http://www.proteste.org.br/dinheiro/nc/noticia/greenwashing>.
76 • capítulo 4
relacionadas. O ponto de conexão mais importante do Marketing Verde com a
rotulagem e selos ambientais é a comunicação, como parte componente do mix
desse tipo de Marketing.
Na comunicação, portanto, os aspectos ambientais devem ser levados em
consideração de maneira adequada e honesta para que não se incorra em ma-
quiagem verde, ou greenwashing. Isso ocorre quando há, por exemplo, banaliza-
ção (ou uso incorreto) de palavras como “desenvolvimento sustentável” e “sus-
tentabilidade”, Relatórios de Responsabilidade Social Corporativa distorcidos
e que não atendem ao seu propósito de transparência do desempenho socio-
ambiental e financeiro, entre outros (MARTINI JUNIOR; SILVA; MATTOS, 2012).
Antes de começarmos a refletir sobre como a rotulagem e os selos ambien-
tais podem auxiliar na comunicação séria dentro do Marketing Verde, vamos
entender um pouco mais sobre o que significam esses dois conceitos.
4.1.2 Conceito
capítulo 4 • 77
pela questão ambiental apenas por meio do consumo, não venha a assumir a
responsabilidade total. Isso implicaria outros riscos de insustentabilidade, em
razão da manutenção do impacto atual.
Mas, veja, essas são reflexões sobre o tema! Se os programas de Educação
Ambiental têm sucesso em transmitir a conscientização ambiental, bem como
transformar padrões de consumo e modos de vida, então teremos a Rotulagem
Ambiental como uma ferramenta que refletirá a melhoria contínua buscada
pelas organizações. Você concorda? Quando pensa a respeito, surgem outras
possibilidades em suas análises? Esse processo é fundamental para desenvol-
vermos uma análise crítica sobre o tema!
Ainda segundo a ABRE (2012), esse tipo de rotulagem implica em um dife-
rencial. Em razão disso mesmo, deve ser usado com ética e transparência para
não confundir, iludir ou ainda distorcer conceitos sobre preservação ambiental
aliada à sustentabilidade. Um objetivo da rotulagem ambiental é, portanto, es-
timular a demanda por produtos com menor impacto ambiental, promovendo
educação e desenvolvimento sustentável.
Surge então uma série de aspectos que devem ser considerados para que o
rótulo seja corretamente elaborado a fim de comunicar aspectos ambientais
adequadamente. É incorreto rotular produtos ou embalagens com mensagens
vagas, sem que os dados apresentados possam ser comprovados ou ainda com
aspectos irrelevantes frente ao impacto total da cadeia (ABRE, 2012).
De maneira geral, já compreendemos sobre os conceitos iniciais da Rotu-
lagem Ambiental. Há diversas normalizações relacionadas aos aspectos am-
bientais a serem comunicados nos rótulos e embalagens. As questões ligadas à
reciclagem, por exemplo, devem ser compreendidas no rótulo ou embalagem
e estão dentro dos aspectos ambientais relacionados. Dessa maneira, subme-
tem-se a normas específicas.
78 • capítulo 4
1. Rotulagem Tipo I: Aquela que se orienta pela norma NBR ISO 14024,
a qual relaciona os princípios e procedimentos para o desenvolvimen-
to de programas de rotulagem ambiental, incluindo: seleção de cate-
gorias, critérios ambientais e características funcionais dos produtos,
para avaliar e demonstrar sua conformidade. Relaciona também os
procedimentos de certificação para a concessão do rótulo;
2. Rotulagem Tipo II: A que se orienta pela norma NBR ISO 14021, cujo
propósito é especificar os requisitos para auto-declarações ambientais,
o que inclui textos, símbolos e gráficos. Além disso, descreve termos
usados comumente em comunicações ambientais, bem como fornece
qualificações para seu uso. Apresenta uma metodologia de avaliação e
verificação geral para auto-declarações ambientais;
3. Rotulagem Tipo III: Aquela embasada na norma NBR ISO 14025, que
informa sobre dados ambientais de produtos, classificados segundo
conjuntos de parâmetros selecionados previamente e fundamentados
na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). São rótulos concedidos e licencia-
dos por organizações externas independentes.
capítulo 4 • 79
CONCEITO
O CEMPRE, ou Compromisso Empresarial para Reciclagem é uma associação sem fins
lucrativos dedicada à promoção da reciclagem dentro do conceito de gerenciamento in-
tegrado do lixo. A associação foi fundada em 1992 e é mantida por empresas privadas
de diversos setores. O Cempre objetiva conscientizar a sociedade sobre a importância da
redução, reutilização e reciclagem de lixo por meio de publicações, pesquisas técnicas, se-
minários e bancos de dados. Os programas de conscientização são dirigidos principalmente
para formadores de opinião, tais como prefeitos, diretores de empresas, acadêmicos e orga-
nizações não-governamentais (ONG’s). O trabalho de gerenciamento integrado do lixo tem
bastante ligação com os Sistemas de Gestão Ambiental. Maior será o esforço por gestão
integrada do lixo e de outros aspectos ambientais, quanto mais organizações dentro de uma
cadeia de suprimentos ou região geográfica possuírem SGA baseado na Norma NBR ISO
14001:2004, ou seja, norteados pela melhoria contínua. Essas iniciativas, portanto, podem
ter importante papel quando associadas à melhoria contínua e consolidadas com participa-
ção maior do setor empresarial.
80 • capítulo 4
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capítulo 4 • 81
REPRODUÇÃO/ ©TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
Figura 6 – Símbolo do selo IBD para ingredientes naturais.
Fonte: IBD Certificações. Link:<http://ibd.com.br/pt/IngredienteNaturalIbd.aspx >.
CONEXÃO
Você já se perguntou o impacto que a cadeia de suprimentos dos produtos domésticos de
limpeza pode causar? Conhece impactos reais causados por esses produtos, antes ou depois
do consumo? Levando-se em conta os impactos dos processos de fabricação industrial, a cer-
tificação de produtos de limpeza naturais biodegradáveis, como o “IBD Ingredientes Naturais”
pode ser peça fundamental na orientação a ser dada ao consumidor sobre a sua escolha de
consumo. Para saber mais, acesse: <http://ibd.com.br/pt/IngredienteNaturalIbd.aspx>.
82 • capítulo 4
não são abrangidas pela rotulagem ambiental, já que seu objetivo é distinto da
rotulagem: enquanto as simbologias buscam facilitar e fortalecer os processos
de reciclagem, a rotulagem ambiental busca estimular a demanda por produtos
de menor impacto global (ABRE, 2012). Embora nem todos os símbolos estejam
normalizados, grande parte já está consolidada. Alguns símbolos são mais reco-
nhecidos pelo consumidor e são fruto de norma técnica específica (ABRE, 2012).
Como vimos anteriormente, a norma NBR ISO 14021:2004 é a que especifi-
ca quais são os requisitos para esse tipo de rotulagem, abrangendo textos, sím-
bolos ou gráficos.
Antes de elaborar uma auto-declaração ambiental, é importante que sejam
implantadas medidas de avaliação que sejam capazes de verificá-la por meio
de resultados confiáveis e reproduzíveis (ABRE, 2012). Ainda segundo a ABRE
(2012), esse tipo de avaliação deve ser registrado e retido, para que seja divulga-
do ou consultado futuramente, além de ser válido como informação de evidên-
cia do benefício divulgado, durante o período que o produto estiver no merca-
do. Veja que importante sabermos dessa informação. No caso de organizações
que seguem as especificações das normas NBR ISSO, série 14000, toda a au-
todeclaração ambiental deve ser verificável! Isso significa que as informações
necessárias à sua comprovação devem estar acessíveis.
Para que uma autodeclaração seja confiável, é importante que ela disponi-
bilize informações mínimas necessárias à verificação da veracidade do conteú-
do declarado. Assim, a ABRE (2012) sugere que no rótulo estejam disponíveis:
capítulo 4 • 83
• Quando se tratar de comparação com outros produtos, é necessário que
também sejam declarados o método utilizado e os resultados alcança-
dos com os dois (ou mais) produtos.
84 • capítulo 4
A ACV surgiu da necessidade de se estabelecer uma metodologia que facilitasse a
análise e os impactos ambientais entre as atividades de uma empresa, incluindo seus
produtos e processos. [...] Pela SETAC (Society of Envirommental Toxicology and Che-
mistry), a avaliação do ciclo de vida é um processo objetivo de avaliar as cargas ambien-
tais associadas com um produto, processo ou atividade através da identificação, quan-
tificação e avaliação de impactos quanto ao uso de energia e matéria e de emissões
ambientais, e a determinação de oportunidades de melhorias ambientais. A avaliação
inclui todo o ciclo de vida do produto, processo ou atividade, envolvendo extração e
processamento de matérias-primas; fabricação, transporte, e distribuição; uso/reuso/
manutenção; reciclagem; e disposição final (Duarte, 1997) .
capítulo 4 • 85
corre do fato de que ambos são componentes das práticas de Gestão Ambien-
tal. Portanto, quando lidamos com os conceitos fundamentadores da Gestão
Ambiental, podemos alinhá-los também ao tema atual, por consequência.
Além dessa relação conceitual, há ainda outra, que podemos associar à pri-
meira: as normas da série ISO 14000 contemplam tanto a implantação de um
SGA como os aspectos da rotulagem ambiental. Isso não acontece por acaso:
são temas diretamente relacionados às práticas empresariais ligadas ao concei-
to da sustentabilidade. No tocante aos aspectos ambientais, o SGA contempla
principalmente os processos da organização, enquanto a Rotulagem Ambien-
tal está mais ligada aos produtos. Tibor e Feldman (19963 , apud POMBO; MA-
GRINI, 2008) propõem uma representação gráfica dessa distinção entre as duas
abrangências da série ISO 14000:
Gestão ambiental
ISO 14000
Avaliação de
SIGA
Ciclo de vida
A figura 7 nos permite observar que há dois eixos principais na série ISO
14000. Para nossos estudos atuais, é importante compreender essa distinção e a
maneira como a Rotulagem Ambiental se relaciona com os SGA. A subordinação
da Rotulagem Ambiental à ACV limita seu conceito ao tipo III, de modo que não
se deve levar a figura em conta na análise da Rotulagem Ambienta, isoladamente.
86 • capítulo 4
Com esses elementos fica mais fácil compreender mais um ponto de relação
entre SGA e Rotulagem Ambiental. Para o desenvolvimento de qualquer produ-
to, faz-se necessário que processos estejam organizados e sejam realizados de
maneira adequada. Quando incluímos os aspectos ambientais na sua relevância
para planejamento desses processos e produtos, passamos a levar em conta es-
sas duas ferramentas da Gestão Ambiental. Em poucas palavras, com processos
bem organizados e pensados segundo um SGA, a organização poderá desenvol-
ver produtos com conquistas em favor da redução de seus impactos ambientais,
de modo que poderá divulgar tais conquistas ao público, seguindo critérios e
padrões de divulgação mais exigentes, o que lhe confere credibilidade.
Além disso, a proposta de melhoria contínua que um SGA preconiza na or-
ganização pode implicar em conquistas permanentes e mais avançadas nas
questões ambientais, o que levaria ao desenvolvimento de produtos com ape-
lo ambiental maior, cujos processos de rotulagem poderiam atender critérios
mais avançados, cumprindo um ciclo virtuoso de aprimoramento dessa ques-
tão na organização. De fato, para que isso ocorra é necessário o esforço da orga-
nização e a demanda por produtos cujo apelo ambiental seja divulgado de ma-
neira mais séria e criteriosa. Decorre disso algumas possibilidades de reflexão,
que serão mais bem trabalhadas no capítulo V.
capítulo 4 • 87
verticalizada dentro de suas estruturas, mas também a integração com a cadeia
produtiva, o que envolve fornecedores, distribuidores e clientes. Em compen-
sação, elas não enfrentam problemas significativos de conformidade com as
normas de rotulagem ambiental, tal qual ocorre com as grandes corporações.
Em relação às potencialidades da rotulagem tipo III, embasada na norma
NBR ISO 14025:2006, destaca-se o fato de que passa a ser possível uma gestão
integrada dos aspectos ambientais na cadeia de suprimentos. Imagine deter-
minado setor e região geográfica, que abrangem uma cadeia de suprimentos
específica. Por exemplo, a indústria moveleira. Nesse caso, maiores serão as
conquistas de redução de impactos ambientais quanto mais houver esforços
conjuntos entre os elos dessa cadeia, no sentido de buscar a certificação da
norma, o que envolveria ainda a realização de estudos de ACV. Assim, o maior
embasamento pelo estudo de impacto, ao lado da gestão integrada na cadeia,
poderiam permitir ações mais efetivas, econômicas e rápidas.
ATIVIDADE
1. Defina Rotulagem Ambiental e dê alguns exemplos que você tenha visto.
3. Quais são os tipos de rotulagem ambiental? Defina sucintamente cada um deles. Dife-
rencie selos ambientais de Rotulagem Ambiental.
88 • capítulo 4
REFLEXÃO
Como vimos, o consumo consciente é um dos aspectos mais ligados ao tema da rotulagem
ambiental. No entanto, é importante que se compreenda alguns contrapontos e análises
críticas ao que é concebido como consumo consciente, ou outras denominações utilizadas.
Portilho (2003) afirma que a questão do impacto ambiental do consumo foi inicialmente
entendida dentro da noção do “consumo verde”, algo que passou a ser denominado também
como “consumo sustentável”, além de outras denominações que tendem a confundir sobre
a real definição.
A pesquisadora aponta ainda que até a década de 80 o setor empresarial era visto como
inimigo, quando, a partir da maior atenção recebida por parte do público comum, passa a
ocorrer esforços pelo inverso. Isso significa que o setor empresarial passa a buscar associar
sua imagem à de “amigos do verde”. Até então, a ideia de preservar o ambiente natural era
vista como gastos sem retorno, que reduziam a competitividade da empresa. A partir da
pressão das pessoas e do acirramento dos debates a respeito, as empresas passam a tentar
se apropriar do discurso sustentável, de modo a beneficiarem-se da preocupação crescente
sobre o tema.
No entanto, o processo histórico de desenvolvimento dos debates a respeito da Susten-
tabilidade não se dá de forma unilateral. Desse modo, conforme afirma Viola (1992, apud
PORTILHO, 2003), a inclusão dos setores econômicos nos debates e preocupações sobre
a crise ambiental leva a uma alteração característica do movimento ambientalista, que passa
a ser, então, “complexo-multisetorial”. Perceba que, de uma maneira ou de outra, as respon-
sabilidades dos setores econômicos, ou das empresas, não pode ser descartada e deve
ser levada em conta nos debates e estudos da questão ambiental. Isso significa, ainda, que
embora tenhamos perspectivas distintas sobre a real contribuição das empresas, não se deve
deixar de considerar que a responsabilidade delas é grande e alguns esforços podem ser
vistos como iniciativas de sucesso.
Há ainda a questão do ritmo em que os recursos naturais são consumidos, o que implica
saber o ritmo em que a crise ambiental se torna real. Nesse ponto, conforme já vimos, alguns
dos esforços empresariais podem ser vistos como iniciativas que reduzem o impacto, mas
que não necessariamente podem ser interpretados como suficientes. A parir daí, implica
também pensarmos na necessidade de maior comprometimento da alta administração das
empresas para que o SGA seja um mecanismo viabilizador de resultados ambientais mais
ambiciosos (o que implica menor impacto ambiental). Além disso, implica, por fim, pensarmos
no tema da Rotulagem Ambiental como outro aspecto da sustentabilidade empresarial que
pode precisar de uma postura mais ambiciosa, a fim de que consiga resultados suficiente-
capítulo 4 • 89
mente positivos nos esforços por redução do impacto ambiental. E você, a quais reflexões o
texto deste capítulo o leva? Pense a respeito!
LEITURA RECOMENDADA
Artigo: Rotulagem Ambiental: O Caso Do Setor Cosmético. Disponível em: <http://goo.gl/
VrU7WF>. Acesso em: 05 set. 2014.
Essa é uma boa opção de artigo para quem quer ler mais a respeito da rotulagem am-
biental, em um contexto mais aplicado. O trabalho foi escrito por Érika Nakahira e Gerson
Araújo de Medeiros. Trata-se de um artigo que auxiliará o leitor a ter uma visão geral de
alguns tópicos importantes ao estudo realizado. Os autores analisam, posteriormente, os pro-
cedimentos de rotulagem ambiental de um caso específico, apontando aspectos positivos e
ainda carentes de avanço no caso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE EMBALAGEM – ABRE. Diretrizes de Rotulagem Ambiental
para Embalagens, 2 ed. 2012. Disponível em: <http://www.abre.org.br/wp-content/uplo-
ads/2012/07/cartilha_rotulagem.pdf>. Acesso em: 2 set. 2014.
BARRETO, A.P.L.; et al. Ciclo de Vida dos Produtos: Certificação e Rotulagem Ambiental. In.:
XXVII Encontro Nacional De Engenharia De Produção. Foz do Iguaçu, PR, Brasil,
09-11 out., 2007.
HINZ, R.T.P.; VALENTINA, L.V.D.; FRANCO, A.C. Sustentabilidade ambiental das organiza-
ções através da produção mais limpa ou pela Avaliação do Ciclo de Vida. Estudos tecno-
lógicos. v.2, n.2. p.91-98, 2006.
90 • capítulo 4
MARTINI JUNIOR, L.C. de; SILVA, E.R. da; MATTOS, U.A. de O. Análise Da Maquiagem Ver-
de (GREENWASHING) Na Transparência Empresarial. In.: XXXII Encontro Nacional De
Engenharia De Produção. Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15-18 out., 2012.
SIQUEIRA, R.R. Série ISO 14.000: Um Olhar Sobre a Importância da Rotulagem Ambiental.
In.: Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação (CONNEPI), 2010. Disponível em:
<http://goo.gl/4IXx7Y>. Acesso em: 05 set. 2014.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Até agora vimos de maneira geral os aspectos mais relevantes ligados aos Sistemas de Ges-
tão Ambiental, alguns de seus conceitos fundamentadores e seus desdobramentos. Quando
analisamos nos capítulos anteriores temas como Auditoria Ambiental e Rotulagem Ambien-
tal, tivemos uma perspectiva de temas diretamente relacionados aos SGA. No próximo e
último capítulo, teremos a oportunidade de analisar mais a fundo alguns aspectos relevantes
do SGA. Dessa vez, buscaremos resgatar todas as reflexões e análises críticas já realizadas,
para aprofundá-las e compreender melhor o papel desses sistemas, tanto para as organi-
zações como para a sociedade e o ambiente natural, de forma mais ampla. Serão reflexões
importantes para fechamento do conteúdo visto. Vamos lá?
capítulo 4 • 91
5
Sistemas de
gestão ambiental
empresarial
5 Sistemas de gestão ambiental empresarial
Depois de vermos alguns aspectos da teoria e implantação na prática, relaciona-
dos aos Sistemas de Gestão Ambiental, torna-se importante analisarmos agora
algumas experiências reais, bem como aprofundarmos algumas análises críti-
cas que foram feitas ao longo dos capítulos anteriores. Ainda em complemento
ao que já estudamos, você verá a importância dos indicadores de desempenho
ambiental como auxílio ao sucesso do SGA. Você observará que a busca por in-
tegração nas cadeias de suprimento com auxílio do SGA é um fator importante
e ainda necessita de algumas conquistas. Além disso, você deverá terminar o
último capítulo do livro capaz de compreender o tema segundo uma visão críti-
ca da aplicação e do impacto do SGA, tanto dentro da empresa como fora dela.
Realize as leituras do capítulo V se esforçando para desenvolver ponderações,
confirmações ou contra-argumentos àquilo que já vimos. Bons estudos!
OBJETIVOS
• Compreender o que são indicadores de desempenho ambiental;
• Aprofundar o estudo das questões do crescimento empresarial sustentável e da relação da
empresa com o ambiente natural;
• Analisar os recursos importantes à implantação do SGA;
• Ilustrar a implantação com casos práticos e reais.
REFLEXÃO
Você se lembra de ter visto algo a respeito de indicadores de desempenho ambiental, fora de
nossos estudos? E algum caso real de sucesso na implantação do SGA? Se conhece algum
caso, em qual setor de atuação ele se encontra? Todas essas questões são importantes para
assimilarmos melhor o que já vimos a respeito dos Sistemas de Gestão Ambiental. Quando
analisamos os indicadores de desempenho ambiental, podemos ter uma compreensão me-
lhor de quanto determinada organização está avançada em seus esforços por diminuir os
impactos ambientais que causa, ou aos quais está relacionada. A partir disso, poderemos ver
casos práticos que envolvem não só a implantação do SGA, mas também diversos outros as-
pectos relacionados aos conceitos que vimos. Não poderia ser diferente: quando observamos
94 • capítulo 5
esforços por trazer à realidade as ideias desenvolvidas e discutidas em etapas anteriores, ve-
mos que há uma diversidade de fatores envolvidos, o que nos auxilia a compreender melhor
a complexidade das ações.
[...] Pode-se dizer que os indicadores são ferramentas utilizadas para a organização
monitorar determinados processos (geralmente os denominados críticos) quanto ao
alcance ou não de uma meta ou padrão mínimo de desempenho estabelecido. Visando
correções de possíveis desvios identificados a partir do acompanhamento de dados,
busca-se identificação das causas prováveis do não cumprimento de determinada meta
e propostas de ação para melhoria do processo. Estes dados ainda fornecem infor-
mações importantes para o planejamento e o gerenciamento dos processos, podendo
contribuir no processo de tomada de decisão.
4 LIMA, L. H. Contabilidade ambiental – avanços internacionais e atraso no Brasil. Anais do I Congresso Acadêmico
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro, FGV, Rio de Janeiro, 2004.
capítulo 5 • 95
(2004, apud CAMPOS; MELO, 2008), o primeiro tipo indica dados de componentes
de um ecossistema; o segundo indica dados referentes às diferentes dimensões
do desenvolvimento sustentável, bem como suas variações, como a dimensão
econômica, social, ambiental, cultural etc.; e, por fim, o terceiro indica o efeito de
determinado processo ou técnica sobre um ou mais aspectos ambientais.
Se os dados dos indicadores são quantificados e quantificáveis, em geral
apresentam-se, portanto, como valores monetários, estatísticos ou ainda valo-
res absolutos indicativos de quantidade de recursos naturais consumidos no
processo. Para cada tipo de indicador, portanto, os dados serão apresentados
segundo um propósito, mas, via de regra indicarão aspectos monetários ou
quantidades como massa, unidades consumidas, tonelada equivalente de car-
bono, número de pessoas afetadas, dentre outros.
Para auxiliar na elaboração e uso dos indicadores de desempenho ambien-
tal, especialmente em Sistemas de Gestão Ambiental, há a norma ISO 14031, no
Brasil apresentada pela norma NBR ISO 14031:2004 (CAMPOS; MELO, 2008).
Essa norma alinha-se à serie ISO 14.000 e está bastante ligada aos estudos que
desenvolvemos ao longo da apostila. Ainda segundo os autores, a norma em
questão distingue duas categorias de indicadores: o de condição ambiental e o
de desempenho ambiental, o qual, por sua vez, subdivide-se em indicadores de
desempenho gerencial e operacional.
Os estudos de Campos e Melo (2008) contribuem ainda por elencar os dife-
rentes indicadores gerenciais e operacionais da norma NBR ISO 14031:2004. A
partir dessa contribuição, eles podem ser visualizados conforme se apresenta
no quadro 5.1, a seguir:
GERENCIAIS OPERACIONAIS
Implementação de política e programas Materiais
Conformidade Energia
96 • capítulo 5
GERENCIAIS OPERACIONAIS
Instalações físicas e equipamentos
Fornecimento e distribuição
Resíduos e emissões
capítulo 5 • 97
estão relacionadas e são desenvolvidas sobre o mesmo enfoque, o que implica
nessas semelhanças.
Para compreendermos melhor como os indicadores podem ser desenvolvi-
dos e apresentados, vejamos abaixo no quadro 2 alguns exemplos ilustrativos
de indicadores alinhados aos diferentes aspectos propostos pelo GRI ou norma
NBR ISO 14031:2004.
UNIDADE DE
ASPECTO INDICADOR MEDIDA
Total de emissões diretas e indiretas de GEE. tonelada CO2eq
Quadro 5.2 – Exemplos de indicadores ambientais. Elaborado pelo autor com base em FIR-
JAN (2008).
98 • capítulo 5
Pelo quadro é possível observar também algumas unidades de medida mais
comumente utilizadas nos indicadores apresentados. Observe que há diferen-
tes unidades usuais, o que dependerá das escolhas da própria organização. O
relevante, nesse ponto, é que se observe tal unidade de medida, a fim de se evi-
tar distorções na comparação com indicadores de outras organizações.
Além disso, os indicadores podem ser absolutos ou relativos, o que implica
em enfoques de análise distintos. Quando comparamos, por exemplo, a quan-
tidade de material utilizado como input no processo industrial, de modo a con-
frontar aquele que tem origem na reciclagem ou reutilização com aquele oriun-
do da exploração de matérias-primas, temos um indicador relativo. Assim o é
porque ele relaciona materiais de origem distinta.
Já quando observamos as emissões de gases poluentes sem compará-la com
outras emissões, apenas indicando o volume total por poluente, temos indica-
dores absolutos. Repare que qualquer indicador pode estar relacionado com
dados levantados em anos anteriores ou outras unidades fabris. Nesse caso, os
indicadores ficam relativizados. Isso dependerá da etapa de análise dos dados
em que se encontra o processo.
Algumas das mudanças mais necessárias para os próximos anos diz respeito
à internalização da Sustentabilidade como valor determinante na estratégia
empresarial e na elaboração dos processos dentro das empresas (DIAS, 2011).
Quando uma empresa ou pessoa internaliza determinado valor, isso significa
que ela passa a levá-lo em consideração, a conhecê-lo e considerá-lo como rele-
vante em seu processo de tomada de decisão. Note que isso não significa afir-
mar que a mudança de postura das empresas será suficiente para alcançarmos
uma sociedade sustentável.
Já vimos que a necessidade de reflexão e análise crítica das informações é
requisito básico para um aprendizado mais amplo, o que implica uma atuação
rumo à excelência. Para isso, vamos resgatar o que estudamos a respeito do de-
senvolvimento sustentável.
Lembra-se que vimos sobre o limite de recursos naturais, o papel da inter-
venção humana no ambiente e a relação disso com desastres ambientais? O
desenvolvimento sustentável, então, será o conceito básico à formulação de
iniciativas que buscavam e buscam mitigar, ou amenizar, os impactos da ação
capítulo 5 • 99
humana sobre o meio ambiente. Há também a questão do estilo de vida hege-
mônico, ou mais comum, pautado no consumismo-produtivismo. Vimos ainda
que ele dá força à ideia de crescimento linear de riquezas materiais como o va-
lor central das sociedades.
A partir disso, podemos refletir melhor a respeito do que pode ser com-
preendido como crescimento empresarial sustentável e já algumas limitações
para esse modelo de desenvolvimento. Lembre-se de que os recursos naturais
não são infinitos, que o planeta Terra tem limites estabelecidos e, portanto, a
ideia de crescimento contínuo das riquezas materiais traz consigo problemas
ligados aos gargalos naturais. Ainda que não saibamos quais são esses limites,
ou até onde eles chegam, podemos perceber sem dificuldade que a Terra pos-
sui recursos finitos e que, por isso, esses limites existem.
Para sabermos até que ponto o crescimento econômico é viável e por conse-
quência até que ponto o crescimento empresarial também o é, faz-se necessá-
rio levar em conta esses limites naturais. Mas, não só eles: também o tamanho
da cadeia de suprimentos, ou quantidade de participantes, o porte desses par-
ticipantes, o tamanho do mercado consumidor, as perspectivas de desenvolvi-
mento tecnológico e o comprometimento dos participantes da cadeia perante
o desenvolvimento sustentável, além de outros fatores.
Veja, portanto, que essa não é uma resposta simples. O assunto também
não está em pauta nas organizações atualmente, via de regra, pois não é possí-
vel na economia de mercado atual, tão competitiva, que uma organização opte
por não crescer quando há risco ambiental para tanto. Esse freio só ocorre por
meio de barreiras legais, políticas, por haver risco financeiro envolvido ou, por
fim, por pressão do mercado consumidor.
CONEXÃO
Os casos de pressão dos consumidores podem ser encontrados via internet, embora a lista
não seja ainda tão extensa. As pressões ocorrem segundo as mais diversas razões, em geral
relacionadas ao uso de materiais potencialmente tóxicos, com riscos à saúde humana, ou
a questões socioambientais diversas. Diante das diferenças de postura e amadurecimen-
to frente às questões ambientais, vemos que haveria espaço para o mercado consumidor
exercer bastante influência, fenômeno ainda em processo de desenvolvimento. No caso de
aspectos sociais, há um exemplo mais recente, que diz respeito à exploração do trabalho. Os
aspectos sociais e ambientais estão sempre diretamente relacionados.
100 • capítulo 5
Isso nos mostra que há uma limitação da ideia de considerar os limites de
crescimento empresarial no presente momento. Ao resgatarmos a compreen-
são do processo de esclarecimento e consideração das externalidades na or-
ganização, podemos imaginar que as externalidades decorrentes desse cres-
cimento serão mais reconhecidas quanto maior for a pressão externa. Você
concorda ou discorda? O que pensa a respeito desses argumentos sugeridos?
Qual a relação desse processo de reconhecimento de externalidades com
o SGA? Lembre-se que esses sistemas buscam melhoria contínua e frequen-
temente são implantados em razão da pressão externa, já que não são obriga-
tórios. Embora a legislação possa ser vista também como uma força externa à
organização, a implantação do SGA não se dá normalmente por essa via. Assim,
vemos que a disseminação do uso de SGA e sua integração entre os participan-
tes da cadeia são processos que devem acompanhar o avanço na compreensão
dos limites para a utilização de recursos naturais.
capítulo 5 • 101
tomar decisões de compra com base em critérios mais amplos.
Resgate nesse ponto a questão da Educação Ambiental como via de desen-
volvimento da consciência ambiental, algo que vimos na unidade I. Num con-
texto de maior consciência ambiental, a força do mercado consumidor como
via de impulsionamento da postura ambientalmente comprometida nas ca-
deias de suprimento será mais percebida.
Por fim, o que acontece atualmente é uma carência grande de políticas de
Educação Ambiental que permitam às pessoas integrarem um mercado consu-
midor exigente. Isso implica em um risco na crença de que essa via é suficiente
para o desenvolvimento sustentável. Portanto, podemos perceber aí uma limi-
tação dos Sistemas de Gestão Ambiental, não como ferramenta de suporte à
gestão, mas como via única de alcance de uma sociedade sustentável. Veremos
mais a respeito em tópicos posteriores.
102 • capítulo 5
para realização desses processos, a fim de que possam ser utilizadas pelos
responsáveis.
capítulo 5 • 103
ambiental, devem ser incentivados e assimilados pela organização.
Segundo Dias (2011), a cultura ambiental deve ser considerada como parte
constituinte da cultura organizacional, de modo que todos os hábitos, costu-
mes, conhecimento (ou mesmo o nível de conscientização) e grau de desen-
volvimento científico e industrial fazem parte desse componente. Segundo o
autor, isso significa dizer que (DIAS, 2011, p.111):
CONEXÃO
A cultura organizacional e sua adequação a determinados objetivos faz parte de um dos te-
mas de estudo do Comportamento Organizacional. É compreendida como o conjunto de prá-
ticas, símbolos, costumes, valores éticos e morais de uma organização; e é bastante relevante
para os estudos ligados à área de Recursos Humanos. Possui forte ligação com ciências
como a Psicologia, Sociologia e Antropologia. Alterar as características culturais de uma de-
terminada organização não é tarefa fácil e envolve esforços internos associados a pressões
externas para que seja possível. Dentro disso está a grande complexidade de inclusão do
valor ambiental entre os valores mais relevantes da organização. É preciso que funcionários
percebam esse valor como de fato relevante para a alta administração e para os resultados
esperados, a fim de que eles próprios internalizem a questão ambiental em suas ações.
104 • capítulo 5
5.5 Relevância do SGA nas indústrias
capítulo 5 • 105
líbrio, por exemplo.
Em relação às indústrias, a relevância do SGA é atualmente mais clara que
para os outros tipos de organizações. Seiffert (2011) lembra que o impacto am-
biental causado pelas empresas industriais é percebido de maneira mais inten-
sa por parte do público consumidor e há um fundamento objetivo para isso.
Com base em dados da OCDE, a autora ressalta que as indústrias dos países
desenvolvidos contribuem com aproximadamente 1/3 do Produto Nacional
Bruto (PNB), mas suas externalidades negativas têm sido proporcionalmente
maiores. Assim, a autora indica, com base nos mesmos dados, que (p.18):
Quanto à poluição do ar, o ramo industrial é responsável por 40% a 50% das emissões
de óxidos de enxofre e 50% [dos gases] do efeito estufa. Com relação à poluição da
água, a indústria contribui com 60% da demanda bioquímica de oxigênio e de material
em suspensão e 90% dos dejetos tóxicos na água. Quanto ao lixo, o setor industrial
produz 75% do lixo orgânico. As informações provenientes do macroambiente indicam
uma situação preocupante e servem para alertar para o impacto causado por diferentes
nichos de atuação industrial.
Além disso, a própria autora pondera que mesmo dentro do ramo industrial
há significativas diferenças de impacto de acordo com o setor específico, sendo
o impacto diferente também para os aspectos ambientais envolvidos. Alguns se-
tores impactam mais na qualidade do ar, outros, da água, e assim por diante. Se
os impactos causados pelas indústrias são de fato maiores, o papel do SGA é po-
tencialmente mais benéfico nesses casos. Essa relevância do SGA deve ficar clara.
Por outro lado, os interesses econômicos imediatos das indústrias também
podem ser beneficiados com a implantação do SGA. Autores como Valle (2006)
e Seiffert (2011) apontam para os benefícios econômicos de implantação do
SGA como um argumento real em favor de sua utilização. As organizações pres-
tadoras de serviços tendem a ter o mesmo tipo de vantagem econômica com a
implantação desses sistemas, quais sejam: economia de recursos, acesso a no-
vos mercados, prevenção de gastos inesperados com acidentes, além de outros.
106 • capítulo 5
Ao longo do estudo vimos em diversos pontos que há dificuldades e desafios en-
volvidos na implantação de um Sistema de Gestão Ambiental nas organizações.
Tratamos dos recursos necessários à sua implantação, dos processos envolvidos,
das exigências determinantes, dentre outros fatores. Todos eles envolvem difi-
culdades para que as organizações possam ter sucesso na implantação do SGA.
Como resgate desses temas trabalhados no livro, pode-se elencar algumas
das principais dificuldades envolvidas na implantação do SGA:
Temos acima apenas algumas das dificuldades envolvidas. Elas são tam-
bém genéricas. Ou seja, a cada organização, as perguntas levam a respostas dis-
tintas, e devem mesmo ser formuladas de maneiras distintas. Todas elas fazem
parte do planejamento prévio à implantação do SGA.
Em relação às vantagens e desvantagens de implantação do SGA, há dife-
rentes perspectivas que devem também ser levadas em consideração. Uma ma-
neira adequada de se avaliar vantagens e desvantagens é usar as três dimen-
sões iniciais de Sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Essa lógica é
proposta apenas como meio de se esclarecer os diversos resultados alcançados
com um SGA.
Assim, de maneira geral e com base em alguns autores da literatura sobre o
tema (VALLE, 2004; DIAS, 2011; SEIFFERT, 2011), podemos sintetizar algumas
vantagens de implantação do SGA conforme segue no quadro 5.3, a seguir. Tais
capítulo 5 • 107
vantagens dizem respeito também aos desdobramentos da implantação.
Veja que o quadro 5.3 permite uma compreensão mais clara dos impactos
positivos da implantação do SGA, tanto na perspectiva da organização como
dos stakeholders. Assim, as potenciais vantagens econômicas têm maior apelo
para os interesses da organização, ao passo que os impactos socioambientais
contribuem mais à sociedade e aos próprios membros da organização enquan-
to inseridos na sociedade impactada.
As vantagens envolvidas devem ainda ser percebidas mais claramente quan-
do leva-se em consideração a melhoria contínua. Lembre-se: o nível de impacto
ambiental das atividades humanas deve ser reduzido continuamente, para que
possamos visualizar Sustentabilidade de fato.
Ressalta-se que por desvantagens devemos compreender os custos e despe-
sas adicionais envolvidos no SGA, algo que implica em certo risco. Esse risco,
108 • capítulo 5
por sua vez, demanda maior planejamento e implica em eventual resistência
por parte da alta administração em apoiar a implantação do SGA. Sendo assim,
a decisão por implantar ou não um SGA na organização acaba envolvendo uma
contraposição desses gastos envolvidos e riscos calculados, com os resultados
potencialmente obtidos.
Aqui, temos um privilégio dado aos resultados econômicos obtidos pela or-
ganização. No modelo econômico em que estamos inseridos, dentro de uma
economia de mercado, esse privilégio é resultado dos interesses imediatos da
organização. Para além deles, há os aspectos que a sociedade deve valorizar
para ampliar a demanda por aprimoramentos em perspectivas socioambien-
tais. A consolidação desse ciclo virtuoso pode ser uma via de alcance das redu-
ções reais dos impactos negativos resultantes das atividades humanas.
capítulo 5 • 109
das unidades de produção. Segue ainda os procedimentos exigidos para certi-
ficação pela Norma. Algumas características específicas do caso nos ajudam a
entender melhor como se dá a implantação, na prática.
Um dos aspectos ilustrativos do caso, que é bastante extenso (AFFONSO,
2001), diz respeito ao treinamento dado aos trabalhadores envolvidos. O quadro
5.4, apresentado a seguir, indica a etapa de treinamento e o público-alvo principal.
MÓDULOS DO CARGA
PÚBLICO-ALVO CONTEÚDO
TREINAMENTO HORÁRIA
Conceitos Ambientais;
Facilitadores e Legislação Ambiental;
ISO 14000 24 h.
Coordenadores. Interpretação e Implementação da
Norma.
Conceitos Ambientais;
Fiscalização; Legislação Ambiental;
Gerentes de O SGA do Serviço de Engenharia;
SGA em Obras 16 h. Obras; Levantamento de Aspectos e Impactos;
Supervisores de Gerenciamento de Resíduos;
contratadas. Boas práticas na Construção e
Montagem.
110 • capítulo 5
MÓDULOS DO CARGA
PÚBLICO-ALVO CONTEÚDO
TREINAMENTO HORÁRIA
Conhecimento do PAE5
Formação de Grupos de Ação;
Fiscalização;
Ações de Sistema de Comunicação;
16 h. Pessoal
Emergência Simulados para: vazamento de
contratado.
combustíveis, incêndio / explosão,
perda de fonte radioativa.
Quadro 5.4 – Resumo dos treinamentos envolvidos com a implantação da norma SGA no
caso estudado por Affonso (2001).5
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Affonso (2001, p.78).
capítulo 5 • 111
para então indicar diversas práticas a eles relacionadas. Assim, podemos compre-
ender de maneira geral as práticas propostas em (OLIVEIRA; PINHEIRO, 2010):
112 • capítulo 5
refas relacionadas ao SGA. Esse nivelamento surge do estabelecimento
de formação mínima e incentivo à formação contínua dos envolvidos.
FATORES DESCRIÇÃO
Comprometimento da alta direção, parceria com a área de
recursos humanos, investimento em capacitação, consci-
FACILITADORES ência ambiental, cultura da organização, interação do co-
mitê de gestão ambiental com direção e preocupação em
minimizar resistência à mudança.
Perceba que alguns fatores dificultadores são bastante claros como barrei-
ras ao avanço da consciência ambiental e das práticas em Gestão Ambiental
realizadas dentro do contexto organizacional. É importante que você reflita,
enquanto estudante do tema, se esses fatores estão arraigados na atuação da
capítulo 5 • 113
organização em que você se insere ou se inserirá. Ou ainda, se já os percebe pre-
sentes agora, durante o estudo. Ou seja, você se considera pessimista ou otimis-
ta em relação aos programas de gestão, em nosso caso específico os programas
e ações de gestão ambiental empresarial? Tende a ser resistente às mudanças
ocorridas em seu trabalho? Agora é momento de pensar a respeito das poten-
cialidades de um SGA e buscar contribuir com sua implantação e manutenção!
ATIVIDADE
1. Defina indicadores de desempenho ambiental e aponte sua importância para o SGA.
4. Sugira ações para resolução de fatores dificultadores para implantação da Norma NBR
ISO 14001:2004 segundo a perspectiva da Gestão de Pessoas.
REFLEXÃO
Você já teve acesso a diversas reflexões ao longo de todo o material que estudou, desde o
capítulo I ao capítulo V. A proposta com isso é justamente que você possa ter uma visão geral
sobre Sistemas de Gestão Ambiental, sem que deixe de analisar criticamente o papel dessa
ferramenta na busca por Sustentabilidade em âmbito empresarial.
Quando lidamos com os temas da Sustentabilidade Empresarial e Gestão Ambiental Em-
presarial, sendo os SGA um desses temas, é necessário que se leve em conta uma série de
questionamentos importantes para interpretarmos se de fato há conquistas rumo a atividades
humanas mais sustentáveis. Vimos que as comunicações podem apresentar os atributos am-
bientais supervalorizados, o que é um risco para a credibilidade e a própria viabilidade da Sus-
tentabilidade nesse âmbito. Além disso, vimos também que a consciência ambiental, embora
tenda a amadurecer, nem sempre está no estágio de amadurecimento necessário para dar
sustentação a produtos e formas de produção mais sustentáveis.
114 • capítulo 5
A partir disso, você já pode compreender como o SGA tem potencial de contribuição e é
ao mesmo tempo limitado ao desenvolvimento dessa consciência. Você deve compreender
também a importância da estruturação avançada proposta para o SGA, bem como a necessi-
dade de melhoria contínua, outro elemento importantíssimo na busca pela Sustentabilidade.
LEITURA RECOMENDADA
Artigo: Os desafios da implantação de um sistema de gestão ambiental: estudo de caso em
uma indústria de laticínios. Disponível em: <http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.
php/gestao_ambiental/article/view/1678>. Acesso em: 25 set. 2014.
Há diversos materiais que podem ilustrar experiências de implantação do SGA, em or-
ganizações de diferentes tipos, setores e tamanhos. O caso específico desse artigo é inte-
ressante por enfocar os desafios envolvidos nesse processo. Os autores Silveira, Alves e
Flaviano apresentam um texto em linguagem simples e buscam relatar superficialmente um
caso voltado à indústria de laticínios. Veja se encontra na internet algum caso no setor em
que você atua!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFFONSO, F.L. Metodologia para implantação de sistema de gestão ambiental
em serviços de engenharia para empreendimentos petrolíferos: um estudo de
caso. 2001. 218 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, CO-
PPE. Rio de Janeiro, março, 2001.
CAMPOS, L.M.S.; MELO, D.A. Indicadores de desempenho dos Sistemas de Gestão Ambien-
tal (SGA): uma pesquisa teórica. Produção, v. 18, n. 3, p. 540-555, 2008.
capítulo 5 • 115
OLIVEIRA, O. J. de; PINHEIRO, C.R.M.S. Implantação de sistemas de gestão ambiental ISO
14001: uma contribuição da área de gestão de pessoas. Gestão e Produção, v. 17, n. 1, p.
51-61, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n1/v17n1a05.pdf>. Aces-
so em: 25 set. 2014.
VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6 ed. São Paulo: Editora Senac, 2006.
EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1
1. Aponte alguns dos principais fatores que levaram ao aumento da importân-
cia dos debates e estudos sobre impactos ambientais de origem humana.
Alguns desses fatores são: relevância de casos de prejuízos e danos à saúde em de-
corrência da poluição ou de desastres ambientais; surgimento de redes e grupos inter-
nacionais de análise dos temas ambientais; avanço nas questões de Direitos Humanos
discutidas globalmente, dentre outros.
2. Descreva alguns dos elementos básicos necessários para que as atividades
humanas possam alcançar a Sustentabilidade de fato.
Para alcançar a Sustentabilidade de fato, as atividades humanas devem ocorrer em equi-
líbrio que possibilite sua manutenção e respeito a outros equilíbrios, como os ambientais,
sociais, econômicos e culturais. Para isso, devem buscar integrar os interesses e os
direitos de todos os envolvidos, da sociedade e da vida, como um todo.
116 • capítulo 5
pria empresa possa sustentar-se melhor ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que
se busca contribuir para além das obrigações legalmente instituídas. As ações de RSC
cumprem um papel pontual, já que não são suficientes para se alcançar Sustentabilidade
de fato, embora contribuam nesse sentido. Por fim, quanto maior for a internalização da
Responsabilidade Socioambiental por parte da organização e seus membros, mais avan-
çadas tenderão a ser as ações de Gestão Ambiental.
Capítulo 2
capítulo 5 • 117
2. Diferencie o processo de implantação da Norma do processo de certificação.
O processo de implantação da Norma implica a realização dos procedimentos necessá-
rios à internalização de um Sistema de Gestão Ambiental, junto com seus valores mais
importantes, como a melhoria contínua e a responsabilidade socioambiental. O processo
de certificação ocorre somente depois que o SGA já foi implantado e visa dar credibili-
dade a esse processo. É, portanto, posterior à implantação e envolve necessariamente a
participação de organização apta à certificação.
4. Indique dentre as normas da série ISSO 14000 aquelas que estão ligadas ao
tema da Rotulagem Ambiental e da Auditoria Ambiental. Explique porque há
separação da série ISSO 14000 em diferentes normas.
Dentre as normas citadas, 14.010, 14.011 e 14.012 dizem respeito à Auditoria Ambien-
tal. Já as normas 14.020, 14.021, 14.022, 14.023 e 14.024 dizem respeito à Rotulagem
Ambiental. A separação ocorre para facilitar o acompanhamento por parte dos interes-
sados e permitir que as normas não fujam ao escopo. Além disso, as necessidades po-
dem surgir ou modificar-se ao longo do tempo, o que acaba por demandar novas normas
dedicadas a outros temas.
Capítulo 3
118 • capítulo 5
2. Aponte quais são, na sua opinião, dois dos papéis mais importantes assu-
midos pela alta administração da organização na viabilização de um SGA.
Dois dos papeis mais importantes da alta administração na viabilização de um SGA
podem ser o respaldo à implantação de uma política ambiental mais avançadas; além
da participação efetiva nas análises críticas de monitoramento do SGA. Com uma alta
administração comprometida nesses aspectos, o sucesso do SGA será mais possível.
Capítulo 4
1. Defina Rotulagem Ambiental e dê alguns exemplos que você tenha visto.
É uma ferramenta de comunicação cujo propósito é aumentar o interesse dos consumi-
dores por produtos de menor impacto, de maneira a possibilitar a melhoria ambiental con-
tínua orientada pelo mercado. Envolve a maneira como as informações ambientais são
apresentadas, no rótulo da embalagem, ou em outro espaço adequado, como web sites.
capítulo 5 • 119
2. Explique sucintamente a relação entre Marketing Verde e Rotulagem Am-
biental. Aponte aspectos positivos e negativos do uso desses dois conceitos.
O ponto de conexão mais importante do Marketing Verde com a rotulagem e selos
ambientais é a comunicação, como parte componente do mix desse tipo de Marketing.
Na comunicação, portanto, os aspectos ambientais devem ser levados em consideração
de maneira adequada e honesta para que não se incorra em maquiagem verde, ou gre-
enwashing.
120 • capítulo 5
6. Descreva sucintamente a relação entre a gestão da cadeia de suprimentos, o
uso de rotulagem ambiental e de sistemas de gestão ambiental.
Maiores serão as conquistas de redução de impactos ambientais quanto mais houver
esforços conjuntos entre os elos de uma cadeia. À medida que tais esforços são alcan-
çados, as empresas podem passar a divulgá-los em suas rotulagens ambientais. Tanto o
esforço de integração como sua consequência na rotulagem ambiental estão relaciona-
dos aos SGA porque podem fazer parte das medidas adotadas a partir do que preconiza
o sistema para a empresa. A partir disso, pode-se perceber uma relação de nexos entre
os três conceitos.
Capítulo 5
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3. Repita a questão anterior, dessa vez para um indicador de desempenho
operacional.
Um exemplo de indicador de desempenho operacional é a quantidade de resíduos pro-
duzidos por produto vendido. Um indicador como esse está ligado a aspectos como
prevenção de poluição, por exemplo. Com as informações disponibilizadas pelo indica-
dor, pode ser possível identificar quais produtos implicam maior ou menor geração de
resíduos e, a partir disso, buscar alternativas de redução desses resíduos.
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