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SISTEMA DE

GESTÃO AMBIENTAL

autor do original
ALEXEI ZARATINI

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  regiane burger, modesto guedes júnior

Autor do original  alexei zaratini

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  fabrico

Revisão linguística  aderbal torres bezerra

Imagem de capa  shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

Z36s Zaratini, Alexei


Sistemas de gestão ambiental / Alexei Zaratini.
Rio de Janeiro : SESES, 2015.
122 p. : il.

ISBN: 978-85-5548-086-7

1. Sustentabilidade. 2. Responsabilidade socioambiental.


3. Gestão ambiental. 4. Política ambiental. I. SESES. II. Estácio.
CDD 658.408

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Gestão ambiental, responsabilidade socioambiental


e sistemas de gestão ambiental 10
Uma visão geral do tema ambiental 10
O que é responsabilidade socioambiental 21

2. Sistema de gestão ambiental: Série ISO 14000 30

Sistemas de gestão ambiental 31


O que é a ISO? 33
Surgimento da ISO 14000 34
A ISO 14000 no Brasil 36
Detalhamento da implantação: descrição das etapas 37
O processo de certificação ISO 14001 42
As diferentes normas dentro da série ISO 14000 44

3. Série ISO 14000, política ambiental e auditorias


ambientais 52
Política ambiental 53
Implantação 56
Auditoria ambiental 64
4. Rotulagem e selos ambientais 74

Rotulagem ambiental 75
Integração com a cadeia, rotulagem ambiental e avaliação de ciclo
de vida 87

5. Sistemas de gestão ambiental empresarial 94

Indicadores de desempenho ambiental 95


Crescimento empresarial sustentável 99
Demandas de mercado e compromisso com a qualidade ambiental 101
Recursos necessários ao SGA 102
Relevância do SGA nas indústrias 105
Pensando dificuldades, desafios, vantagens e desvantagens de
implantação do SGA 107
Casos de sucesso 109
Prefácio
Prezados(as) alunos(as)

Nos próximos capítulos, você estudará a respeito de um dos mais importantes


mecanismos de apoio às organizações em seus esforços rumo à internalização da
Sustentabilidade: os Sistemas de Gestão Ambiental. Veremos o que são, como
funcionam, qual normatização mais relevante e atualmente utilizada, como se
dá a realidade brasileira, enfim, conheceremos um pouco mais a seu respeito.
Um ponto fundamental para o sucesso nos estudos é compreender que a
apresentação dos conteúdos em qualquer área de formação envolve o resgate
contínuo de conceitos e a associação dos mesmos a novos conceitos. Você já
pode ter percebido que os estudos vão e vem, parecem explorar temas seme-
lhantes. No entanto, para que você possa construir associações entre os sabe-
res, com bases mais sólidas, é fundamental esse processo de resgate de conte-
údos. Saiba, portanto, que você deve preparar sua leitura para rever ao longo
desta apostila diversos conceitos que eventualmente já tenha visto, bem como
deve saber que verá conteúdos agora, para reforçá-los e associá-los a outros
saberes, em momentos, futuros. Saiba ainda que a busca de informações e o
aprendizado a esse respeito requerem que você busque sempre novas fontes e,
acima de tudo, busque analisar e refletir com senso crítico sobre as informa-
ções que recebe, para então poder, de fato, aplicá-las em suas atividades!

7
1
Gestão ambiental,
responsabilidade
socioambiental e
sistemas de gestão
ambiental
1  Gestão ambiental, responsabilidade
socioambiental e sistemas de gestão
ambiental
No primeiro capítulo resgataremos alguns conceitos que dão fundamenta-
ção aos Sistemas de Gestão Ambiental. Reforçaremos assim a importância de
compreensão das bases das ferramentas de Gestão Ambiental, bem como da
tomada de decisão de maneira geral. Buscaremos contextualizar a formação da
Gestão Ambiental, sua relação com a Responsabilidade Socioambiental de or-
ganizações, de modo que o papel dos SGA fique mais claro.

OBJETIVOS
•  Resgatar conceitos fundamentais para a ação em gestão ambiental;
•  Reforçar os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável;
•  Verificar a relação entre SGA e responsabilidade socioambiental;
•  Compreender algumas das bases conceituais da ferramenta SGA.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter lido algo a respeito dos Sistemas de Gestão Ambiental? E da rela-
ção desse conceito com outros, como a Gestão Ambiental, Desenvolvimento Sustentável,
Responsabilidade Socioambiental? Entender as relações entre conceitos como esses é fun-
damental para que possamos analisá-los criticamente. A partir disso, nossa compreensão
melhora e, consequentemente, a qualidade das decisões que tomamos! Não deixe de sempre
parar para refletir, durante a leitura, de modo que os conteúdos fiquem mais bem assimilados.
Bons estudos!

1.1  Uma visão geral do tema ambiental

As mudanças sociais, econômicas e tecnológicas pelas quais a Humanidade


passou influenciam a maneira como lidamos com as questões socioambien-
tais na atualidade. Tais questões, aliás, se mostram muito presentes no dia a

10 • capítulo 1
dia das pessoas, seja no ambiente de trabalho ou em outras esferas de atuação
de cada um de nós, em maior ou menor grau a depender da atuação profissio-
nal e da conscientização pessoal de cada um. Embora essas questões estejam
presentes, elas nem sempre se mostram de maneira simples e são compreen-
didas. Não poderia ser diferente: compreender exatamente como funciona a
Natureza, seus sistemas de vida, seus equilíbrios e ciclos, bem como o papel e a
participação humana nesses elementos é tarefa complicadíssima!
Por mais que percebamos as questões ambientais de maneira distanciada,
por mais que vivenciemos realidades confortáveis de acesso a recursos natu-
rais, transformados tecnologicamente ou não, a realidade se faz e se desdobra,
sem que possamos parar para refletir. Nem sempre, também, é possível retro-
ceder, recuperar danos ambientais, resgatar formas de vida em extinção.
Dentro desse contexto, as empresas cumprem papel muito relevante nos im-
pactos causados pelo ser humano sobre os equilíbrios naturais. Mas, se as em-
presas têm responsabilidade destacada sobre os impactos gerados, podem ter
também papel relevante sobre os impactos prevenidos, ou danos recuperados,
concorda? As empresas não são as únicas responsáveis pelos danos causados
ao ambiente natural. Todos nós, segundo o papel que assumimos na sociedade
e na Economia, temos responsabilidades sobre tais impactos. E você, já parou
para pensar a respeito do impacto causado e da responsabilidade assumida pe-
las empresas das quais você compra a maioria dos seus alimentos, bens durá-
veis ou não duráveis, como roupas, produtos de higiene, eletrodomésticos, car-
ros? Não é essa também uma responsabilidade nossa, enquanto consumidores?
Mas, o que isso tudo pode ter a ver com os Sistemas de Gestão Ambiental
(SGA), tema de nosso capítulo ou com a gestão da empresa? Sem dúvida, isso
tudo está muito ligado ao SGA, sua razão de ser, suas perspectivas de desenvolvi-
mento futuro, suas potencialidades. A ligação se dá por conta do tema da Susten-
tabilidade envolver a todos, o que inclui as empresas. Dentro de uma economia
de mercado, na lógica produtiva-consumista capitalista em que nos encontra-
mos, as empresas devem ser vistas como locais em que se desenvolvem proces-
sos com impacto ambiental envolvido. Além disso, é também nas empresas que
algumas decisões relevantes são tomadas, com impacto direto sobre o ambiente
natural. Mais ainda, as pessoas que formam as organizações são as mesmas que
formam a sociedade. O desenvolvimento de políticas de conscientização e ama-
durecimento das reflexões dentro da empresa tem impacto relevante fora dela
também. Lembre-se: a divisão de responsabilidades envolve a todos!

capítulo 1 • 11
1.1.1  Sustentabilidade e gestão ambiental

Conforme vimos na apresentação inicial, a necessidade de reflexão e análise


crítica das informações é requisito básico para um aprendizado mais amplo
e uma atuação rumo à excelência. Para que possamos analisar com senso crí-
tico determinado conceito, é importante buscarmos suas raízes, seus desdo-
bramentos, enfim, sua contextualização. Assim, teremos uma melhor compre-
ensão do conceito. No caso dos Sistemas de Gestão Ambiental, é importante
atentarmos para outros conceitos ou áreas de conhecimento que os fundamen-
tam. Por analogia, podemos perceber que os SGA têm forte relação com os te-
mas da Gestão Ambiental, concorda? O próprio nome já nos indica muito disso.
Mas, e a Gestão Ambiental, por sua vez, origina-se a partir de qual conceito
ou área de conhecimento? As práticas e estudos dedicados à Gestão Ambiental
têm início após o surgimento das discussões acerca do desenvolvimento sus-
tentável, da Sustentabilidade e dos problemas ambientais (ALMEIDA; MELLO;
CAVALCANTI, 2004). Tais debates surgem também a partir de estudiosos da
Ecologia, ciência que se dedica ao estudo das interações entre seres vivos e am-
biente, sejam as interações entre seres vivos ou entre eles e o ambiente natural
em que coabitam. É provável que você já tenha algum conhecimento sobre os
conceitos de Sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, Gestão Ambien-
tal e Ecologia. Mesmo que já os conheça, vale à pena resgatá-los. Vamos lá?

1.1.2  O que é sustentabilidade?

Conforme podemos verificar no dicionário online Michaelis Uol (UOL-MICHA-


ELIS, 2014), o primeiro significado atribuído ao termo Sustentabilidade é “qua-
lidade de sustentável”, sendo que sustentável é aquilo que pode ser sustentado,
mantido, provido de recursos. A partir disso, fica mais claro compreendermos
que o conceito da Sustentabilidade diz respeito à capacidade das sociedades,
ou da própria Humanidade de maneira ampla, de sustentar-se, de manter-se ao
longo do tempo. Mas, como surgiu o conceito e por que ele se disseminou em
diferentes discursos, de diferentes posicionamentos ideológicos?
As últimas décadas do século XX são determinantes para o surgimento dos
debates sobre o papel do ser humano no destino dos ecossistemas, dos am-
bientes naturais e da própria Humanidade. As discussões e reflexões se iniciam
a partir de diferentes eventos e iniciativas, como o Clube de Roma, as edições

12 • capítulo 1
das Conferências das Nações Unidas, bem como os esforços de estudiosos e
ambientalistas que surgem e ganham voz em um contexto de problemas de de-
sequilíbrio ambiental crescente. Naquela época, alguns impactos resultantes
de ações humanas no ambiente natural começam a ganhar projeção mundial.
As sociedades, principalmente as ocidentais do mundo desenvolvido, passam
a ligar o alerta e incentivar estudos dedicados à análise dos impactos da ação
humana sobre o ambiente (DIAS, 2011).
Com o amadurecimento dos debates, diferentes correntes ideológicas pas-
sam a tomar corpo, paralelamente ao processo de acirramento de alguns pro-
blemas ambientais e das consequências dos mesmos à própria vida humana,
até então não em âmbito global, mas localmente. Tomam corpo, portanto, as
possibilidades de desenvolvimento sustentável, que buscam conciliar o desen-
volvimento econômico vital à economia capitalista com as questões da esfera
ambiental. Aqui, já podemos compreender um pouco melhor que o desenvol-
vimento sustentável é um dos desdobramentos dos estudos e debates sobre a
questão ambiental (ALMEIDA; MELLO; CAVALCANTI, 2004; DIAS, 2011). Não
o único desdobramento, mas um importante resultado que acaba por embasar
diversos outros esforços dedicados a contribuir com a busca pela sustentação
da Humanidade em um ambiente saudável. Aliás, embora não seja o tema de
nosso capítulo, cabe resgatarmos reflexões relevantes.
Há diferentes formas de a Humanidade sustentar-se ao longo do tempo. A
maneira como influenciamos o ambiente natural determina qual forma de sus-
tentação teremos. Sendo assim, a saúde humana e ambiental devem ser consi-
deradas quando pensamos em Sustentabilidade? Você considera satisfatório
que o ser humano se mantenha em um ambiente natural completamente de-
gradado? Isso é possível? Por quanto tempo poderemos nos manter em um pla-
neta cuja vida definha em razão da ação humana? Sem dúvida, muitas dessas
respostas são difíceis de ser alcançadas, ou ao menos difíceis de ser alcançadas
em consenso entre todos. Além disso, há incertezas tecnológicas e diferenças
culturais ou ideológicas sobre o tema (DIAS, 2011). Tais diferenças não podem
ser pormenorizadas aqui, para que não fujamos de nosso objetivo principal,
mas são relevantes para compreendermos todos os temas ambientais. Isso
tudo torna o assunto ainda mais complexo.
O desenvolvimento sustentável passa a ser tomado por diferentes entidades
como conceito básico à formulação de iniciativas que buscavam e buscam miti-
gar, ou amenizar, os impactos da ação humana sobre o meio ambiente. Para se

capítulo 1 • 13
compreender melhor, é importante lembrarmos que os problemas dos países
ricos (ou países do Norte) estão ligados ao desenvolvimento econômico excessi-
vo, principalmente durante as últimas décadas do século XX (DIAS, 2011).
Esse desenvolvimento econômico pode ser compreendido por excessivo
quando se dá com fortes bases pautadas no consumismo, aliado ao produtivis-
mo, que compreendem um estilo de vida ecologicamente inviável, portanto, in-
sustentável. Esse estilo de vida consumista/produtivista dá força à ideia de cres-
cimento linear de riquezas materiais como o valor central das sociedades. Se os
recursos naturais não são infinitos e o planeta Terra tem limites estabelecidos
(ainda que não os conheçamos exatamente), portanto, a ideia de crescimento
linear (contínuo) das riquezas materiais implica em insustentabilidade desse
modo de vida, concorda? Ressalta-se, ainda, que o impacto negativo não é cau-
sado somente pelos países ricos, mas também pelos demais países, nesses ca-
sos por fatores como o aumento populacional, as limitações tecnológicas que
implicam em alternativas mais impactantes, e a incorporação cada vez maior
do modo de vida propagado nos países desenvolvidos (DIAS, 2011).

© DARINPFEIFFER | DREAMSTIME.COM

Figura 1 – Urbanização e crescimento populacional acelerados.

Em contraposição a esses argumentos, surge o desenvolvimento tecnológico


voltado à economia de recursos naturais, reaproveitamento, reciclagem, enfim,
voltado a amenizar o impacto humano negativo sobre o ambiente natural. (AL-
MEIDA; MELLO; CAVALCANTI, 2004; DIAS, 2011). Se esse impacto é amenizado,
passamos a contar com mais tempo para buscar novos meios de desenvolver as
sociedades e prover as necessidades dos seres humanos. Vale lembrar que o cres-

14 • capítulo 1
cimento da população é outro fator relacionado, pois quanto maior a população
humana, maior tende a ser o impacto da Humanidade sobre o planeta.
Quando passamos a considerar o desenvolvimento tecnológico e a expec-
tativa de que por meio dele possamos mitigar os impactos humanos no equi-
líbrio ambiental, nos aproximamos do conceito de desenvolvimento sustentá-
vel. Maurice Strong, então secretário geral da Conferência ONU em Estocolmo,
1972, sugeriu que a abordagem de desenvolvimento sustentável ocorre quando
três critérios fundamentais são obedecidos ao mesmo tempo: equidade social,
prudência ecológica e eficiência econômica (DIAS, 2011). Aspectos sociocultu-
rais deveriam passar a ser considerados e a qualidade de vida do ser humano,
uma condição para o progresso. Por qualidade de vida, espera-se que sejam
abarcadas as questões da qualidade ambiental e social, para que se alcance, de
fato, o desenvolvimento sustentável. Alguns objetivos passam a ser levados em
conta na formulação de políticas desenvolvimentistas que se alinham ao con-
ceito em voga. Alguns exemplos são (DIAS, 2011):
•  Retomada do crescimento econômico;
•  Alteração da qualidade desse desenvolvimento;
•  Atendimento às necessidades básicas como emprego, alimentação,
energia, água e saneamento;
•  Manutenção de um nível (tamanho) populacional sustentável;
•  Conservação e melhoria da base de recursos utilizáveis pelas atividades
humanas;
•  Reorientação da tecnologia no sentido de auxiliar o ser humano na busca
por Sustentabilidade;
•  Inclusão das questões ambientais e econômicas nos processos de toma-
da de decisão.

Perceba que, quando analisamos o termo “eficiência econômica”, passamos


a compreender que pelo desenvolvimento sustentável espera-se produzir mais ri-
quezas com menos recursos naturais. Busca-se assim reduzir a “pegada ecológi-
ca” das atividades humanas na Terra. A partir disso, percebe a relação do desen-
volvimento sustentável com a necessidade de inovação tecnológica que permita
a referida eficiência econômica? E você, consegue já unir melhor os termos e con-
ceitos na sua cabeça, a fim de compreender melhor as bases fundamentadoras
da Gestão Ambiental e, consequentemente, dos Sistemas de Gestão Ambiental?

capítulo 1 • 15
CONCEITO
A pegada ecológica é um conceito que busca disseminar a compreensão individual ou glo-
bal do desgaste natural decorrente das atividades humanas. Assim, é possível se “medir” a
pegada ecológica tanto de indivíduos isoladamente, como de comunidades mais amplas, ou
mesmo da própria humanidade. As medições não são perfeitamente precisas, mas servem
para termos melhor compreensão dos impactos decorrentes das nossas atividades. Quanto
mais um indivíduo ou país tem o consumismo arraigado como prática comum e quanto mais
consome bens industrializados, maior tende a ser sua pegada ecológica. Em contraposição, a
pegada ecológica tende a ser menor para aqueles que, por exemplo, optam por usar bicicleta
ao invés de veículos automotores, consumir alimentos orgânicos, de produtores locais e com
venda a granel ao invés de consumir alimentos altamente industrializados, e assim por diante.

É fundamental para a correta compreensão do conceito de desenvolvimen-


to sustentável e suas potencialidades que saibamos das polêmicas envolvidas
com ele. Dentre as quais, pode-se citar:

•  Falta de precisão na definição do conceito, algo ligado ao seu processo


de desenvolvimento ainda corrente, em curso;

•  Manutenção da ideia de que a Natureza é objeto de exploração humana,


desde que não prejudique as gerações futuras;

•  Dificuldade de se estabelecer quais são as necessidades das gerações fu-


turas, bem como quão futuras são essas gerações de fato consideradas
nas políticas ditas de desenvolvimento sustentável;

•  Privilégio de um dos três eixos principais em detrimento dos demais.

Citamos aqui apenas algumas das ambiguidades e contradições que se dão a


partir da disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável. Essas am-
biguidades se refletem na maneira como as organizações e as pessoas buscam
aplicar a Gestão Ambiental. Por consequência, tais contradições acabam se fa-
zendo presentes também na maneira como aplicamos as ferramentas da Gestão
Ambiental, tais como o conceito de Produção mais Limpa, ou P+L, o SGA, o Eco-
Design, entre outros. Percebe agora a relevância de pensarmos melhor nas bases
do SGA, antes de adentrarmos no estudo dos procedimentos de implantação?

16 • capítulo 1
1.1.3  O que é gestão ambiental?

A essa altura você já deve saber que há relação entre a Gestão Ambiental, o con-
ceito de Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, certo? Mas, agora,
passa a ser importante levantarmos outras questões nesse nosso propósito de
reforçar certos conceitos que alguns até já dominam. O que é Gestão Ambien-
tal? Em que sentido a Sustentabilidade pode fundamentar a Gestão Ambiental?
Em primeiro lugar, é importante reforçar que a Gestão Ambiental pode
ser compreendida como a área da Gestão que abrange técnicas e esforços
empregados com a finalidade de promover um uso e uma relação racional e
sustentável dos recursos naturais, nas ações das mais diversas áreas. Esses
esforços buscam, portanto, concatenar a busca pelos resultados já esperados
com melhoramentos nas questões ambientais relacionadas. Por Gestão Am-
biental entendemos mais comumente os esforços empregados em empresas,
mas ela também pode ser útil às entidades públicas, organizações não gover-
namentais (ONG), pessoas individualmente, enfim, em qualquer ação huma-
na que venha a modificar o meio.
Além disso, esses esforços não devem buscar exclusivamente o resultado
econômico ou social almejado. Quando pensamos em resultados ambien-
tais melhores ou aprimorados, devemos pensar naqueles elementos mais
comuns na relação entre homem e ambiente: os recursos naturais, as maté-
rias-primas, a energia, a biodiversidade (quando relacionada a algum fim de
interesse econômico). Portanto, uma gestão ambiental de atividades huma-
nas buscará reduzir o consumo de recursos naturais, buscará substituir recur-
sos não-renováveis por recursos renováveis, além da diversificação na matriz
energética, com privilégio para fontes renováveis, entre outros objetivos (AL-
MEIDA; MELLO; CAVALCANTI, 2004). Mas, além deles, as ações em Gestão
Ambiental podem também reverter os danos já causados, concorda? Nesse
caso, alcança-se um importante resultado, ao beneficiar a saúde ambiental,
ao invés de apenas prejudicá-la em menor grau.
Quando tratamos das estratégias em Gestão Ambiental Empresarial, é pos-
sível traçar três grandes perfis distintos, que indicam o estágio de maturidade
na organização para as questões ambientais e a busca de ações ligadas ao tema.
De maneira geral, podemos resumir o proposto nos estudos de Roldan et al.
(2012), que apresentam uma síntese de diversos outros estudos e indicam esses
três estágios ou perfis genéricos como:

capítulo 1 • 17
•  Reativo: Quando a organização apenas reage às sanções e implicações
legais que sofre em razão de posturas incorretas, ou quando sofre perda
de clientes cujas exigências ligadas às questões ambientais não são sa-
tisfeitas, por exemplo. Em geral, essas organizações sofrem com perdas
decorrentes de passivos ambientais.

•  Preventivo: Um estágio secundário de amadurecimento das questões


ambientais na gestão da organização. Em geral, se dá quando as perdas
decorrentes de uma postura reativa já ocorreram e levam a organização
a buscar prevenir novas perdas. Assim, ela busca melhor conhecer os ris-
cos que corre em relação ao tema ambiental, para prevenir novos preju-
ízos. Aqui, a consciência da importância do tema já começa a ocorrer, e
algumas ações de Gestão Ambiental mais efetivas já começam a ser de-
senvolvidas.

•  Proativo: Estágio mais avançado da postura organizacional frente aos as-


pectos ambientais. É quando a organização, além de cumprir com todos
os deveres aos quais está sujeita, realiza ações em Gestão Ambiental e
Responsabilidade Social Corporativa sem que haja obrigação explícita
para isso. A implantação de um sistema de gestão ambiental, por exem-
plo, não é obrigatória, mas auxilia na busca por Sustentabilidade. Por-
tanto, pode ser vista como uma ação típica de organização proativa.

González-Benito e González-Benito (2006) propõem que a postura proativa


ocorre quando a organização percebe a pressão de stakeholders por ações que
superem as obrigações legais. Tais pressões podem ocorrer de maneira explíci-
ta ou apenas se manifestarem como expectativas. Além disso, segundo os mes-
mos autores alguns fatores determinam a intensidade e o grau de percepção da
pressão dessas partes interessadas:
•  Porte da companhia;
•  Grau de internacionalização;
•  Posição na Cadeia de Valores;
•  Setor industrial;
•  Localização;
•  Atitude gerencial;
•  Atitude estratégica.

18 • capítulo 1
Os itens acima elencados permitem constatar a diversidade de variáveis que
influenciam esse importante processo de pressão de partes interessadas para
que ocorra incentivo relevante às ações socioambientais empresariais.
Quando lidamos com SGA fica mais fácil visualizar esse entendimento: as or-
ganizações não são obrigadas por lei a implantá-lo, mas percebem a importância
do tema tanto por um perfil de gestão mais responsável como em decorrência de
oportunidades de negócio que poderão surgir a partir de sua implementação.
A Gestão Ambiental abrange diversos instrumentos que se dedicam a conci-
liar desenvolvimento econômico e menor impacto ambiental. Vamos reforçar,
resumidamente, alguns desses instrumentos:

•  Ecodesign: Conceito pelo qual a organização busca desenvolver produ-


tos e processos levando em consideração alternativas mais avançadas no
tocante aos aspectos ambientais. Produtos que consomem menos maté-
ria-prima, com processos mais adequados de fabricação, com logística
reversa facilitada, dentre outros atributos, são exemplos de resultados
dos esforços em Ecodesign.

•  Licenciamento Ambiental: Procedimento de autorização das atividades


de uma organização, por parte de órgãos especializados e autorizados,
de modo a impedir que atividades prejudiciais ou de risco possam ser
desenvolvidas sem a devida compensação ou adequação.

•  Estudos de Impacto Ambiental: Estudos de levantamento de dados e


informações relativas a determinada atividade humana, com o propó-
sito de esclarecer quais impactos aquela atividade causa no ambiente
em que é realizada e no seu entorno. Os Estudos de Impacto Ambiental,
assim como a Avaliação de Ciclo de Vida, são ferramentas que auxiliam
outras etapas do processo de Gestão Ambiental, à medida que fornecem
informações relevantes para a tomada de decisão.

•  Bolsas de Resíduos: São iniciativas de centralização dos processos de


compra e venda de resíduos. Quando uma determinada empresa gera
resíduos em seus processos produtivos, mas tem conhecimento de que
tais resíduos podem ser úteis a outras empresas ou entidades, ela pode
optar por vendê-lo. Nesses casos, as Bolsas de Resíduos auxiliam os com-
pradores e vendedores a realizar seus negócios.

capítulo 1 • 19
•  Sistemas de Gestão Ambiental: Tema de nosso estudo atual. É uma fer-
ramenta não obrigatória que visa organizar e facilitar o controle dos pro-
cessos da organização, com enfoque nas atividades ligadas aos impactos
ou questões ambientais. Veremos mais adiante explicações mais deta-
lhadas desses sistemas.

Os estudos de González-Benito e González-Benito (2006) foram muito importantes


para a análise dos fatores determinantes para o estabelecimento de uma postura
proativa na estratégia organizacional, quando lidamos com as questões ambientais.
O papel dos stakeholders fica bastante claro, nesse tema. Os stakeholders são as par-
tes interessadas na organização, o que compreende uma ampla gama de entidades,
instituições e pessoas, como sindicatos, ONGs, os próprios empregados, investidores,
governos, consumidores, fornecedores etc. Diferentes posturas podem ser observadas
também no caso dos stakeholders, que podem, segundo Savage et al. (19911 , apud
LYRA; GOMES; JACOVINE, 2009), assumir papéis de disposição ou indisposição para
cooperar, pouco participativos ou de postura ambígua, quando podem assumir papel
cooperativo ou antagônico.

Listamos resumidamente algumas ferramentas importantes da Gestão Am-


biental na atualidade. Sem dúvidas, essas e outras ferramentas serão constante-
mente aprimoradas e substituídas por outras mais adequadas à época. À medida
que as sociedades despertam para as questões socioambientais, ou que os im-
pactos da ação humana se fazem mais claros, tais ferramentas tendem a ser mais
utilizadas, ou aprimoradas. Mas, você pode estar percebendo que a Sustentabili-
dade tem forte relação com a Gestão Ambiental, bem como todas as ferramentas
que listamos (ou mesmo as demais!), à medida que têm como propósito reduzir
impactos ambientais. Vamos analisar um pouco mais sobre essa relação?1

CONEXÃO
As Bolsas de Resíduos podem ser bastante úteis para organizações que precisam comprar
ou vender insumos comumente caracterizados como resíduos em outros processos produti-

1  Savage, G. T., et al. Strategies for assessing and managing organizational stakeholders. Academy of Management
Executive, v.5, n.2, p.61-75, 1991.

20 • capítulo 1
vos. No Brasil, o Sistema Integrado de Bolsas de Resíduos busca facilitar essas transações e
permitir que elas ocorram em uma perspectiva também interestadual. Você pode saber mais
sobre o SIBR no link:<http://www.sibr.com.br/sibr/index_cni.jsp>

1.1.4  Sustentabilidade e gestão ambiental

Você deve ter percebido que não é possível falar em Gestão Ambiental sem que
o tema carregue consigo a questão do Desenvolvimento Sustentável e, conse-
quentemente, as diferentes perspectivas sobre Sustentabilidade. Lembra-se de
que tratamos do significado do termo “Sustentabilidade”? Lembra-se também
de que tratamos do conceito de Gestão Ambiental?
Nesse processo de análise, vimos que a Sustentabilidade é um conceito apli-
cado às organizações quando tratamos de sua capacidade de manter-se inde-
finidamente ao longo do tempo, bem como contribuir para que a sociedade
possa manter-se, também, indefinidamente.
Pois bem, nesse sentido, é importante reforçarmos ainda outra vez que a
Gestão Ambiental diz respeito à tomada de decisão que leva em consideração
aspectos socioambientais e econômicos com o objetivo de manter ao longo do
tempo, indefinidamente, o saudável funcionamento das organizações e a pere-
nidade das sociedades em que se inserem. Assim, teremos mais clara a noção
do papel dos Sistemas de Gestão Ambiental como facilitador da busca por Sus-
tentabilidade na organização.

1.2  O que é responsabilidade socioambiental

Quando nos indagamos sobre o papel das empresas na busca por Sustentabili-
dade, a palavra “responsabilidade” nos vem como um pré-requisito importante
para justificar tais esforços. Faz sentido, portanto, que possamos analisar um
pouco sobre a responsabilidade das empresas e sobre sua tomada de respon-
sabilidades. A responsabilidade das empresas, como vimos, se dá pelo fato de
serem elas determinantes, em uma economia capitalista, para que os recursos
naturais sejam explorados, de maneira mais ou menos eficiente.
Quando dizemos que uma organização ou pessoa é responsável por deter-
minado ato, entendemos que ela deve responder pelas consequências do mes-
mo, e que tem o dever, às vezes jurídico (estabelecido em lei), às vezes moral

capítulo 1 • 21
(estabelecido socialmente, em maior ou menor consenso), de zelar para que
seus atos não prejudiquem os direitos de terceiros.
A partir disso, podemos já iniciar a compreensão da responsabilidade que
as empresas têm sobre seus atos, o que ainda difere um pouco do conceito de
Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Ainda estamos iniciando os estu-
dos sobre o tema e o objetivo é apenas imaginarmos que há um papel assumido
pelas empresas. Esse papel encerra em si algumas responsabilidades, enten-
didas aqui como deveres dessas organizações perante a sociedade. Podemos
iniciar o tema, portanto, entendendo que para as empresas há alguns deveres,
estabelecidos em leis ou não.
É muito importante também entendermos que não somente a Responsabi-
lidade Social Empresarial (RSE), ou Corporativa, é importante para a busca por
Sustentabilidade. Conforme já vimos, também as responsabilidades individuais
devem ser valorizadas para possamos nos aproximar mais da Sustentabilidade.
Mas, é necessário que as organizações tenham credibilidade em suas ações
de RSC, concorda? Por ser um tema muito relevante, cujas ações ocorrem de
maneira mais proativa e menos reativa por parte da empresa (lembra-se das
posturas organizacionais frente às questões ambientais?), podemos imaginar
que seja necessário algum tipo de normatização para que tais ações em RSC
possam ter mais credibilidade.
É nesse sentido que surgem algumas normas que buscam permitir às em-
presas implantar ações de RSC de maneira mais bem estruturada, seguindo cri-
térios estabelecidos, e verificações esporádicas (DIAS, 2011). Ainda segundo o
autor, duas normas são as mais relevantes no tema da Responsabilidade Social
Empresarial: a SA8000, elaborada pela SAI (Social Accountabiliy International);
e a ISO26000, mais recentemente desenvolvida e que busca, como a anterior,
estabelecer critérios comuns e que partam do consenso entre diferentes inte-
ressados, sobre elementos ligados a diferentes dimensões dessas ações de RSC,
como econômico-financeiras, social e ambiental.
Veja que já nesse ponto podemos perceber algumas semelhanças nas estraté-
gias de RSC e na implantação de um SGA: ambos, por serem de caráter proativo,
demandam padrões que possam auferir resultados efetivos das ações, de manei-
ra a conferir credibilidade ao processo. Esses padrões também não são obriga-
tórios, mas muito auxiliam na realização dos processos. Essas semelhanças não
ocorrem ao acaso, são resultado dos valores que embasam as duas ferramentas:
RSC e SGA. Decorrem também da necessidade de buscar meios de verificação e

22 • capítulo 1
acompanhamento em abordagens realizadas em contexto organizacional, em
que os recursos não são abundantes e há diferentes interesses envolvidos.
É importante ainda destacar que os temas sociais e ambientais são próximos
na gestão organizacional. Sendo assim, quando tratamos das responsabilida-
des e da internalização proativa de responsabilidades, frequentemente lidamos
com questões socioambientais. Daí a possibilidade de denominarmos o tema
como Responsabilidade Socioambiental, que ocorre quando a organização não
se limita aos aspectos sociais, mas também ambientais. Como as duas dimen-
sões são fortemente relacionadas, em geral podemos compreender que as ações
são direcionadas mais a um ou outro eixo, ou a ambos, em complemento.
Você poderá se aprofundar sobre a Responsabilidade Social Empresarial
acessando outros materiais, dedicados mais especificamente ao tema. Por ora,
é importante entendermos que a RSC cumpre papel semelhante ao das ações
em Gestão Ambiental, e estão frequentemente em mesmo contexto. Além dis-
so, reforça-se aqui a compreensão de que as responsabilidades das empresas
devem ir além da geração de lucro aos investidores, já que influencia em as-
pectos sociais e ambientais, em geral implicando em impactos negativos nem
sempre internalizados.

1.2.1  Relação entre gestão ambiental e responsabilidade socioambiental

Os estudos de Dias (2011) contribuem para trazermos aqui o conceito de Res-


ponsabilidade Social Corporativa (RSC) e buscarmos suas relações com a Gestão
Ambiental. O autor nos ajuda a compreender que as iniciativas que se conven-
cionou chamar de RSC devem ir além do simples cumprimento das obrigações
já estabelecidas por lei. Quando uma empresa cumpre determinada legislação
ambiental ou trabalhista, por exemplo, embora possamos dizer que ela está
cumprindo com sua responsabilidade, não podemos dizer que haja nesse caso
uma ação de RSC. As ações de RSC implicam mais do que isso. Ocorrem quan-
do a organização começa a se antecipar à legislação. As leis ambientais mudam
com certa frequência, o que implica na tendência de ampliação dos deveres, ou
responsabilidades das organizações.
Portanto, para que uma determinada organização possa de fato adotar uma
medida de RSC, é necessário que ela já tenha alguma base consolidada no to-
cante ao cumprimento das leis. A empresa pode se contradizer e prejudicar
toda a ação, caso ela mesma ainda não cumpra com todas as determinações

capítulo 1 • 23
legais, concorda? Embora erros possam ser cometidos, a tendência de desgaste
de imagem e perda de credibilidade nas ações de RSC é quase inevitável.
Além disso, se uma determinada empresa aceitar doar certa quantia para
uma ONG, em uma ação isolada, isso também não se configura como ação
de RSC (DIAS, 2011). Ações como essa são genericamente classificadas como
ações de filantropia, e não implicam em organização de esforços no sentido de
se prover de maneira mais contínua determinada ação socioambiental.
Pois bem, veja como o conceito de Responsabilidade Social Corporativa pode
estar intimamente associado aos esforços por Sustentabilidade! As ações de RSC
devem ser mais perenes, contínuas, e devem ser desenvolvidas com o propósi-
to de beneficiar organizações, entidades e pessoas em temas estratégicos para
a organização e para a sociedade em que se insere. Sendo assim, busca-se que a
própria empresa possa sustentar-se melhor ao longo do tempo, ao mesmo tempo
em que se busca contribuir para além das obrigações legalmente instituídas.
Mas, já de início é importante pensarmos nos contrapontos, nas contradi-
ções! Lembra-se de que nós analisamos anteriormente o papel pontual que as
empresas podem realizar na busca por Sustentabilidade? Ou seja, além das em-
presas, outros elementos sociais devem assumir responsabilidades. Ora, se isso
é verdade, então também devemos considerar que as ações de RSC podem cum-
prir um papel pontual, não devem ser vistas como viabilizadoras da Sustentabi-
lidade, isoladamente. O mesmo vale para as organizações: implantar ações de
RSC não deve significar que a Sustentabilidade foi alcançada, mas que mais um
esforço foi realizado nesse sentido. Você concorda, assim, que há relação entre
o conceito de RSC e a Gestão Ambiental, também por intermédio do desenvolvi-
mento sustentável como valor fundamentador de ambas as abordagens?

REFLEXÃO
Vimos neste capítulo diversos temas e elementos que dão base aos Sistemas de Gestão
Ambiental. Auxiliam tanto para a compreensão dos valores ideológicos envolvidos na ferra-
menta em questão, como para a visualização de outras ferramentas de propósito semelhante,
que estão frequentemente relacionadas e implantadas em complemento umas às outras.
Ao longo dos tópicos, tivemos a oportunidade de pensar em alguns contrapontos, ou
seja, de ideias que são apresentadas como contra-argumentos àquelas até então postas.
Isso é muito importante para a construção de uma visão mais crítica sobre os temas, o que
nos confere capacidade de agir com mais eficácia e de tornar as ideias em realidades.

24 • capítulo 1
A implantação dessas ferramentas, tais como o SGA, requer negociação interna, apre-
sentação de argumentos, casos de sucesso, perspectivas distintas. Sendo assim, quanto mais
madura for nossa percepção a respeito, melhor se dará esse processo. A visão pueril dessas
ferramentas e dos temas da Gestão Ambiental pode prejudicar os esforços por mitigar os da-
nos causados pelo ser humano à Natureza, bem como os esforços por despertar consciências
mais críticas nas pessoas, a respeito desse e outros temas. Portanto, é importante acreditar
que a contraposição e a crítica a tais ferramentas é relevante tanto para que possamos imple-
mentá-las com sucesso como para o desenvolvimento social geral.
Como vimos, o próprio conceito de desenvolvimento sustentável, que fornece bases para
a Gestão Ambiental e suas ferramentas, encontra em si contradições que são objeto de
análises distintas. Devemos relacionar os problemas à maneira como desenvolvemos nossas
atividades, quando pensamos na escassez de recursos para todos, no quadro de aumento
populacional vertiginoso a que passamos no século XX e ainda experimentamos, no empo-
brecimento da biodiversidade, enfim, as mais diversas mazelas de ordem socioambiental.
Nesse sentido, passa a receber destaque a ideia de que os instrumentos da Gestão Ambien-
tal são dedicados às consequências dessas posturas, mas não às causas. Sendo assim, não
podem de fato resolver os problemas.
Nesse ponto, devemos considerar que a Gestão Ambiental se dedica a amenizar impac-
tos dentro de um contexto de economia de mercado, capitalista. No entanto, em qualquer
contexto também deve haver uma Gestão racionalizada, que leve em conta as externalida-
des socioambientais, ou seja, os impactos ainda não considerados, oriundos da produção de
bens e serviços. Sendo assim, uma importante reflexão pode surgir quando considerarmos
o propósito da Gestão Ambiental.
Quando se afirma que as ferramentas da Gestão Ambiental buscam amenizar impactos
em nível global ou até mesmo revertê-los, em nível local, percebe-se daí que os impactos não
são necessariamente eliminados. Sendo assim, um conjunto importante de questionamentos
pode ser formulado, no sentido de se investigar quais são os limites reais do modelo atual-
mente desenvolvido, se a inovação tecnológica será suficiente para amenizar os impactos
até um momento em que as lógicas produtivas sejam amadurecidas, enfim, se a crença no
desenvolvimento sustentável permitirá à Humanidade resolver as questões ambientais ade-
quadamente e em tempo suficiente para as mudanças.
É importante a partir de agora você mesmo refletir sobre essas questões, esclarecer
melhor quais são suas perspectivas sobre o tema, bem como quais são suas possibilidades
de contribuição para as organizações, para a sociedade e para sua própria vida particular.
Isso será importante para o sucesso de seu estudo sobre os Sistemas de Gestão Ambiental.
Sucesso em seus esforços!

capítulo 1 • 25
ATIVIDADE
1. Aponte alguns dos principais fatores que levaram ao aumento da importância dos deba-
tes e estudos sobre impactos ambientais de origem humana.

2. Descreva alguns dos elementos básicos necessários para que as atividades humanas
possam alcançar a Sustentabilidade de fato.

3. Analise e descreva a relação entre a Gestão Ambiental e a Responsabilidade Socioam-


biental.

4. Qual a relação entre Responsabilidade Socioambiental e Sistemas de Gestão Ambien-


tal? Você pode apontar semelhanças e diferenças.

5. Reflita e aponte alguns limites do desenvolvimento sustentável e das ferramentas de-


senvolvidas segundo esse conceito.

LEITURA RECOMENDADA
Livro Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. 2 ed.. São Paulo: Edi-
tora Atlas. 2011.
O livro foi escrito pelo autor Reinaldo Dias, e traz uma visão geral dos três temas prin-
cipais: a Gestão Ambiental, a Responsabilidade Social e a Sustentabilidade. Fornece boas
reflexões a respeito da relação entre os temas, bem como sobre alguns contrapontos e
contradições importantes. Por ser um autor brasileiro, o livro possui linguagem próxima e
apresenta caso inserido em nossa realidade. A leitura é fluida e nos motiva a aprofundarmo-
nos nos temas da Gestão Ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J.R. de; MELLO, C. dos S.; CAVALCANTI, Y. Gestão ambiental: planejamento,
avaliação, implantação, operação e verificação. 2 ed. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2004.

26 • capítulo 1
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2 ed. São Paulo:
Atlas. 2011.

GONZÁLEZ-BENITO, J.; GONZÁLEZ-BENITO, Ó. A Review of Determinant Factors of Envi-


ronmental Proactivity. Business Strategy and the Environment. v. 15, p. 87-102, 2006.

LYRA, M.G.; GOMES, R.C.; JACOVINE, L.A.G. O Papel dos Stakeholders na Sustentabilidade
da Empresa: Contribuições para Construção de um Modelo de Análise. RAC- Revista de
administração contemporânea, v.13, p.39-52, jun. 2009. Disponível em:< http://www.
scielo.br/pdf/rac/v13nspe/a04v13nspe>. Acesso em: 15 maio 2014.

ROLDAN, V.P.S. et al. Gestão Ambiental Nas Empresas De Capital Aberto Do Segmento
‘Novo Mercado’: discutindo a homogeneidade e heterogeneidade de práticas à luz da teo-
ria institucional. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM). v.11, n.2,
p.193-216, jul-dez, 2012. Disponível em:<http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/
article/view/1056/674>. Acesso em: 22 maio 2014.

UOL-MICHAELIS. Dicionário Online – Dicionário Michaelis – UOL. 2014. Disponível


em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 30 ago. 2014.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, lidaremos com os conceitos dos Sistemas de Gestão Ambiental, com
enfoque na série ISO 14000 como normatização mais relevante para sua implantação. Vere-
mos o que pode ser entendido como um Sistema de Gestão Ambiental, bem como quais pro-
cedimentos são necessários à sua implantação na organização. Para uma boa compreensão
do próximo capítulo, é fundamental que os conceitos preconizados no capítulo atual sejam
bem assimilados. Então, você poderá compreender melhor as razões de ser de um SGA.
Bons estudos!

capítulo 1 • 27
2
Sistema de gestão
ambiental: Série
ISO 14000
2  Sistema de Gestão Ambiental:
Série ISO 14000

No segundo capítulo veremos o que é um Sistema de Gestão Ambiental, como


se dá sua implementação, quais as normatizações relacionadas, o processo de
desenvolvimento histórico dessas normas, bem como algumas questões de re-
flexão sobre o tema. Não deixe de relacionar o capítulo II à anterior, pois assim
você poderá compreender melhor a razão de ser de um SGA. Além disso, é ne-
cessário compreender que o capítulo II trata de tema mais ligado à operacio-
nalização dos conceitos, enquanto que no capítulo anterior tivemos acesso às
bases conceituais dessa ferramenta. Bons estudos!

OBJETIVOS
•  Compreender o que é um Sistema de Gestão Ambiental;
•  Assimilar o processo de desenvolvimento da norma ISO 14000;
•  Entender o processo de certificação e implementação da norma ISO 14001;
•  Verificar o propósito de outras normas da série ISO 14000.

REFLEXÃO
Lembra-se de alguma empresa certificada com norma ISO 14001 da qual tenha comprado
produtos recentemente? Você deu ou dá importância para esse atributo de uma organiza-
ção? Lembra-se de ter visto algum caso em que sistemas de gestão contribuíram para o apri-
moramento de processos gerenciais de organizações? Esforço como esse é importante para
começarmos a verificar na prática alguns dos conceitos que trabalharemos aqui. Além disso,
permite também percebermos de maneira mais clara nosso papel no avanço das questões
ambientais dentro das empresas!

30 • capítulo 2
2.1  Sistemas de gestão ambiental

Em alguma medida, sabemos da necessidade de estabelecimento de normas e


critérios que possam conferir credibilidade aos processos de gestão ambiental
empresarial. Mas, não se trata apenas disso. Quando estamos diante de uma
organização com SGA implantado, percebemos também que os próprios pro-
cessos de gestão ambiental ficam facilitados, ou seja, a conformidade com as
normas sugeridas e a estruturação das ações permitem uma melhor gestão, o
que implica em resultados mais efetivos. Não devemos entender aqui resultado
apenas como lucro, mas também os resultados ligados à busca por Sustentabi-
lidade, o que implica relacionar as conquistas com economia de energia, recur-
sos naturais, prevenção de poluição, dentre outros aspectos ambientais sobre
os quais já estamos em estudo.

2.1.1  O que é um sistema de gestão?

Antes de conceituarmos e aprofundarmo-nos sobre o tópico do SGA, é impor-


tante analisarmos um conceito que abarca tal ferramenta. Trata-se do sistema
de gestão. Lembra-se que analisamos de maneira geral a Gestão Ambiental
como uma gestão que busca levar em consideração os aspectos ambientais?
Pois bem, no caso do SGA, podemos inferir que se trata de um sistema de gestão
que busca incorporar aspectos ambientais nos seus elementos constituintes.
Aliás, você saberia definir o que significa a palavra “sistema”? Há muitas
definições para a palavra, todas próximas entre si. Pesquise na internet algu-
mas dessas definições. No dicionário Michaelis Uol (UOL-MICHAELIS, 2014),
vemos que um sistema é “qualquer conjunto ou série de membros ou elemen-
tos correlacionados”. Outras duas definições para a palavra, constantes no
mesmo dicionário, podem nos ajudar a compreender melhor o tema: “Corpo
de normas ou regras, entrelaçadas numa concatenação lógica e, pelo menos,
verossímil, formando um todo harmônico”; e “Método, combinação de meios,
de processos destinados a produzir certo resultado; plano”.
Veja que as três definições apresentadas têm significados semelhantes.
Sendo o sistema um conjunto de elementos correlacionados, bem como um
grupo de normas logicamente relacionadas, destinadas a produzir um resul-
tado específico, portanto, podemos estabelecer como uma definição geral
para sistema de gestão como sendo um conjunto de elementos e processos de

capítulo 2 • 31
gestão, correlacionados e organizados de maneira lógica, cujo objetivo é apri-
morar a gestão da organização a que se destina. Veja que essa é uma definição
básica, elaborada a partir da definição da palavra “sistema”, aplicada ao campo
da Gestão.
Importante também ressaltar que quando tratamos de elementos correla-
cionados para um fim específico, não necessariamente estamos lidando com
softwares. Essas ferramentas buscam levar uma solução computadorizada, tec-
nológica, para a necessidade de se implantar um sistema na organização. Em-
bora via de regra as organizações utilizem softwares e soluções da tecnologia da
informação para implantar sistemas de gestão, essa não é condição obrigatória
para a existência de sistemas.

2.1.2  O que é um SGA?

E então, agora que pudemos ter uma definição do que é sistema e inferir o que
pode ser um sistema de gestão, fica mais fácil definirmos um Sistema de Ges-
tão Ambiental? Já temos essa definição, no tópico anterior. Mas, há ainda al-
guns elementos que podemos levantar a fim de caracterizarmos um SGA.
Almeida, Mello e Cavalcanti (2004) nos indicam que um SGA é um meio de
se expressar o compromisso da organização com os deveres ambientais de-
terminados em sua política ambiental e expressá-la em planos, programas ou
procedimentos específicos. Tais procedimentos são sistematizados e padroni-
zados de maneira a incrementar o controle e permitir a prestação de contas a
interessados. Segundo os mesmos autores, a implantação de um SGA implica
adotar requisitos frequentemente mais exigentes do que os legalmente impos-
tos. Além disso, um Sistema de Gestão Ambiental busca outro objetivo que é
fundamental para o sucesso dos esforços pelo desenvolvimento sustentável:
a melhoria ou aprimoramento contínuo (ALMEIDA; MELLO; CAVALCANTI,
2004; VALLE, 2006; DIAS; 2011).
Uma abordagem de melhoria contínua é aquela que leva a organização a
buscar a resolução de problemas como uma tarefa permanente. Dessa manei-
ra, a organização se dedica a analisar os pontos críticos de seus processos, de-
senvolver mecanismos para facilitar a resolução de problemas, e, assim, alcan-
çar a qualidade em um nível superior.
Ao observarmos o componente de melhoria contínua que o SGA busca pos-
sibilitar na organização, percebemos que uma contribuição importante desse

32 • capítulo 2
sistema é auxiliar a organização não apenas no momento de sua implementação,
ou como certificador de esforço por excelência ambiental, mas, também, auxiliar
na resolução efetiva dos problemas ligados à questão ambiental organizacional.
Sempre que estivermos em análise de um SGA, portanto, é fundamental en-
tendermos que nele deve haver uma série de elementos e processos, que eles
necessariamente devem ser relacionados entre si, e que, por fim, devem buscar
como finalidade a excelência ambiental da organização, com a melhoria contí-
nua como valor fundamentador de sua aplicação. Você compreenderá melhor o
que são esses elementos e processos que constituem um SGA, segundo a norma
ISO 14001, entenderá ainda porque dizemos que eles são relacionados entre si,
e perceberá como eles buscam possibilitar a melhoria contínua da organização.

2.2  O que é a ISO?

Vimos inicialmente o que é um Sistema de Gestão Ambiental, alguns de seus


propósitos e características. Trataremos aqui da norma ISO 14000 como pa-
râmetro mais relevante para implantação de um SGA em uma organização.
Portanto, é importante que você compreenda também um pouco mais sobre a
organização ISO, ou International Organization for Standardization, para com-
preender melhor a norma que trataremos adiante.
A ISO é uma organização independente e não-governamental, criada em 1947,
maior desenvolvedora mundial de padrões internacionais de adesão voluntária
(ISOa, 2014). Além disso, é composta por 163 membros, que são os órgãos de pa-
dronização nacional de cada um dos países representados por cada um dos mem-
bros (ISOa, 2014). A página virtual da organização nos permite ainda compreen-
der um pouco melhor como se dá sua estrutura de funcionamento (ISOa, 2014):

•  A sede da organização está situada em Genebra, na Suíça. É onde está


localizado o Secretariado Central, que coordena todo o sistema.

•  Uma assembleia geral é organizada anualmente e se trata da autoridade


final para os trabalhos da organização.

•  O Conselho ISO, que é rotativo e representativo dos membros da organi-


zação, e toma conta da maior parte das questões de governança.

capítulo 2 • 33
•  O Conselho de Gestão Técnica, que é responsável pelos comitês técnicos,
que desenvolvem os padrões e normas. Esse Conselho é importante no
nosso tema atual, pois está diretamente relacionado ao desenvolvimen-
to da ISO 14000.

A ISO desenvolveu mais de 19.500 padronizações internacionais, quase


sempre ligadas à indústria, desde alimentícia até tecnológica, cuja função é de
prover especificações em âmbito mundial para produtos, serviços e sistemas,
a fim de se garantir qualidade, segurança e eficiência (ISOa, 2014). Agora que
você já tem uma visão geral do funcionamento da organização ISO, está pronto
para conhecer mais a respeito da norma ISO 14000.

CONEXÃO
A ISO oferece um mecanismo de busca das suas publicações de normas e padrões. Além
disso, oferece alguns checklists para auxiliar as organizações em processo de certificação
ou auditoria, para diferentes normas. Embora muitos desses conteúdos sejam acessados
somente depois de pagos, vale à pena acessar e navegar pelas diferentes normas desenvol-
vidas e entender um pouco melhor a razão da credibilidade alcançada pela ISO. Acesse pelo
link: <http://www.iso.org/iso/home/store.htm>.

2.3  Surgimento da ISO 14000

Conforme vimos no tópico anterior, a ISO desenvolve suas normas e padrões


a partir de comitês técnicos, geridos pelo Conselho de Gestão Técnica. Esses
comitês técnicos são compostos por pessoas envolvidas com os temas de inte-
resse da norma a ser desenvolvida.
Conforme nos relata Valle (2006), o surgimento da série ISO 14000 está tam-
bém relacionado a algumas iniciativas precedentes, tais como:

•  Desenvolvimento de selos verdes como o Anjo Azul, em 1978 na Alema-


nha. Tais selos buscavam fornecer credibilidade para os produtos, me-
diante o cumprimento de algumas normas.

•  A British Standards Institution (BSI) institui em 1992 a primeira padroni-

34 • capítulo 2
zação para procedimentos de implementação de um SGA, o BS 7750. Um
dos propósitos dessa norma foi estabelecer um paralelo ambiental com
outra norma, a BS 5750, precursora da ISO 9000, ambas ligadas ao tema
da Gestão da Qualidade.

Depois dessas iniciativas, a ISO passa a buscar o desenvolvimento de uma


norma para atender à necessidade de estabelecimento de padrões internacio-
nais, até então inexistentes. Assim, estabelece em 1993 um novo comitê técni-
co, o TC-207, a fim de elaborar normas internacionais que auxiliassem a im-
plantação dessas abordagens sistêmicas de gestão ambiental (VALLE, 2006).
Em razão da complexidade envolvida, o TC-207 foi dividido inicialmente em
seis subcomitês, além do Comitê Organizador (VALLE, 2006):
•  SC1: Subcomitê de Gerenciamento Ambiental.
•  SC2: Subcomitê de Auditoria Ambiental.
•  SC3: Subcomitê de Rotulagem Ambiental.
•  SC4: Subcomitê de Avaliação de Desempenho Ambiental.
•  SC5: Subcomitê de Análise de Ciclo de Vida.
•  SC6: Subcomitê de Termos e Definições.

Outros subcomitês foram criados em decorrência do amadurecimento das


questões relacionadas, a exemplo do SC7, subcomitê dedicado às questões cli-
máticas, gestão das emissões de gases do efeito estufa e assuntos correlatos
(ISOb, 2014).
Conforme observamos, cada subcomitê trata de algum assunto específi-
co, mas todos dizem respeito a questões ligadas ao SGA. Assim, temos o SC2
tratando de auditorias ambientais, tema que nos aprofundaremos em breve, e
que está relacionado ao processo de certificação da norma ISO 14001 e, conse-
quentemente, à implementação de um SGA. Do mesmo modo, temos o tema da
rotulagem ambiental, a avaliação de desempenho ambiental e a análise de ciclo
de vida dos produtos como outros aspectos diretamente ligados ao SGA.
Conforme se observa, o desenvolvimento da norma ISO 14000 se deu por
um processo complexo de análise do tema, por parte do Comitê Técnico TC-
207, o que demonstra a complexidade do tema, sua abrangência e expectativa
envolvidas. É bastante relevante observarmos esses aspectos, tanto para com-
preensão mais profunda da norma como para visualizar os procedimentos bas-

capítulo 2 • 35
tante padronizados aos quais a própria ISO se submete em seus trabalhos. É
importante que você visualize ainda que o processo não é interrompido ao fim
do desenvolvimento da norma. Os subcomitês mantêm responsabilidade so-
bre os temas aos quais estão ligados.

ATENÇÃO
Como são relacionadas em diferentes aspectos, as normas ISO 14000 e ISO 9000 possuem
pontos de convergência que justificaram a elaboração de um grupo-tarefa dentro da ISO,
cuja responsabilidade era de harmonizar os trabalhos e resultados alcançados pelo TC-207
e TC-176, comitê técnico já desenvolvido à época do início dos trabalhos pela norma ISO
14000. Esse comitê é responsável pela série ISO 9000 e possui características semelhantes
ao TC-207. A melhoria contínua, aspecto presente no SGA, reflete sua ligação estreita com
as questões da qualidade. Em razão disso, busca-se também com um SGA o aprimoramento
da “qualidade ambiental” da organização.

2.4  A ISO 14000 no Brasil

No Brasil, a entidade responsável pela divulgação de normas técnicas é a Asso-


ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A entidade representa o Brasil
na ISO, mas também em outros órgãos internacionais, como o International
Electrotechnical Comission (IEC), Comissão Panamericana de Normas Técnicas
(COPANT) e a Associação Mercosul de Normalização (AMN) (ABNT, 2014).
Inicialmente publicada em 1996, a norma NBR ISO 14001 foi revisada
e publicada novamente em 2004, de modo que foram necessárias algumas
adaptações para aquelas organizações que adotaram a norma em sua versão
14001:1996 (DIAS, 2011). Ainda segundo o autor, o prazo para a migração de
uma versão a outra foi até 2006. A partir disso, somente são aceitos os requisitos
constantes na publicação NBR ISO 14001:2004.
Segundo pesquisa divulgada pela ISO (2012), o número de organizações cer-
tificadas pela ISO 14001 em 2012 era de 285.844, no mundo todo. Já no Brasil,
a mesma publicação (ISO, 2012) indica que o número de certificações distribu-
ídas em 2012 foi da ordem de 3.300. Cada certificação tem prazo de validade de
três anos, com acompanhamento semestral ou anual. A ISO não certifica orga-
nizações, nem realiza auditorias (ISO, 2014a). Ela se responsabiliza pelo desen-

36 • capítulo 2
volvimento das normas e padronizações, mas outras entidades devem realizar
auditorias e o processo de certificação. Veremos mais a respeito no capítulo III.
Os estudos de Pombo e Magrini (2008) apontam que a partir dos coletados
até 2006, a região Sudeste era a que apresentava maior participação no número
de certificações brasileiras, com destaque para o estado de São Paulo, cuja re-
presentatividade é da ordem de 50% do total emitido. A Petrobras, por sua vez,
era a empresa de maior destaque no Brasil, com 41 certificações, sendo duas ra-
zões possíveis o fato de essa empresa ser potencialmente poluidora de grande
porte, e realizar a certificação multsites em que cada unidade potencialmente
poluidora da organização possui certificação própria, de maneira a melhorar o
processo no todo (POMBO; MAGRINI, 2008).
Os dados que vimos acima são relevantes para ilustrarmos um pouco do que
representa a norma ISO 14001:2004 para a realidade brasileira. Você pode aces-
sar mais informações a respeito, caso queira se aprofundar, em outras fontes
mais dedicadas ao tema. A leitura recomendada deste capítulo pode lhe forne-
cer informações relevantes. De maneira geral, é importante que fique mais claro
o papel da certificação no Brasil. Agora, devemos partir para a análise do pro-
cesso de certificação e implantação da norma ISO 14001:2004 nas organizações.

CONEXÃO
A Petrobras é uma das empresas mais avançadas no processo de utilização do SGA, bem
como outros sistemas de gestão, que funcionam de maneira integrada. Trata-se de um bom
exemplo, portanto, de empresa que dispõe de uma integração entre diferentes normas, como
a ISO 9001:2008, ISO 14001:2004 e OHSAS 18001:2007. Na página eletrônica da empre-
sa, você pode acessar informações interessantes sobre esses sistemas integrados, bem como
outras ligadas à ISO 14001:2004 na empresa. Acesso pelo link: <http://goo.gl/ACrsJP>.

2.5  Detalhamento da implantação: descrição das etapas

Ao estudar sobre a ISO 14001, é possível que você se pergunte se há diferen-


ça entre o termo “certificação” e “implementação”, ou “implantação” da nor-
ma na empresa. Aqui e em outros conteúdos podemos observar o uso frequente
dos dois termos. Embora sejam processos complementares, via de regra ocor-
ridos sempre juntos, é importante compreendermos que um não é exatamente
a mesma coisa que o outro.

capítulo 2 • 37
Para “implementar” ou “implantar” a norma ISO 14001:2004 na organiza-
ção é necessário realizar uma série de mudanças e adaptações, a fim de se apli-
car um sistema de gestão ambiental que possua elementos e enfoques distin-
tos, cujo fim seja o aprimoramento da qualidade ambiental. Já para “certificar”
a norma ISO 14001:2004, é necessário que os procedimentos nela orientados
já tenham sido implantados ou estejam em processo de implantação. A partir
disso, entidades específicas auxiliarão a organização nos procedimentos finais,
e outras cumprirão o papel de atestar, dar credibilidade ao esforço empregado
no sentido de utilização de um SGA.
Pois bem, agora que já pudemos diferenciar esses dois processos que são
bastante ligados entre si, é momento de buscarmos compreender como se dá
um dos processos, para depois compreendermos o outro. Iniciaremos pelo pro-
cesso de implantação da norma ISO 14001:2004.
Antes disso, é importante saber que a Norma NBR ISO 14001:2004 é baseada
no conceito do ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act) de gestão em quatro passos. É
possível que você já conheça a respeito dele. Para resgatá-lo e facilitar sua com-
paração com o SGA como um todo, segue abaixo uma breve explicação dos qua-
tro passos, levados ao tema ambiental, segundo a própria Norma (ABNT, 2004):

•  Planejar (Plan): Atividade de estabelecimento dos objetivos e processos


necessários ao alcance dos resultados em concordância com a política
ambiental organizacional.

•  Executar (Do): Colocar os processos planejados em prática, ou trazê-los


à realidade.

•  Verificar (Check): Levantar dados, monitorar e medir, ou mensurar, os


processos em conformidade com a política ambiental, objetivos, metas,
requisitos legais e outros. Compreende também a atividade de relatar os
resultados.

•  Agir (Act): Implica a reprodução contínua do ciclo, para continuamente


melhorar o desempenho do sistema de gestão ambiental.

Perceba como a abordagem da Norma ISO NBR 14001:2004 está intima-


mente ligada à abordagem da Gestão da Qualidade, abordada na norma ISO
NBR 9001. O ciclo PDCA como fundamentador demonstra a compatibilidade

38 • capítulo 2
das duas normas, de modo que pode ser bastante relevante para a organização
buscar a implantação das duas.
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Figura 2 – O ciclo contínuo do PDCA.

Além da compreensão das etapas, é relevante visualizarmos algumas de-


finições importantes, a exemplo daquelas apresentadas por Almeida, Mello e
Cavalcanti (2006) para a norma ISO 14001:1996, mas que podem ser aplicadas
à ISO 14001:2004 também:

•  Melhoria Contínua: conforme já vimos, é um aspecto fundamental do


SGA, e implica no processo de melhoramento do sistema, com vistas ao
melhoramento do desempenho ambiental como um todo.

•  Aspecto Ambiental: é um ou mais elementos daquela atividade que inte-


ragem com o ambiente natural.

•  Impacto Ambiental: alteração positiva ou negativa no ambiente natural


e oriunda das atividades, produtos ou serviços de uma organização.

•  Auditoria de SGA: processo sistemático de verificação. Vale-se de docu-


mentos para que se possam avaliar objetivamente evidências que indi-
quem a conformidade ou não conformidade de elementos do SGA com
os critérios estabelecidos. Veremos mais a respeito da auditoria ambien-
tal no capítulo III.

capítulo 2 • 39
•  Objetivo Ambiental: é a meta global, sempre quantificável, decorrente da
política ambiental.

•  Desempenho Ambiental: resultado mensurável do SGA. Está relacionado


com o controle, segundo política, objetivos e metas.

•  Política Ambiental: Serve de base para os objetivos e metas. É uma decla-


ração de intenções e princípios. Tomaremos mais estudo sobre a política
ambiental no capítulo III.

•  Meta Ambiental: é um requisito de desempenho detalhado. Deve ser


mais pormenorizado do que o objetivo ambiental.

•  Prevenção de Poluição: uso de procedimentos que evitem, controlem ou


reduzam a poluição.

O propósito da listagem dessas definições é facilitar o entendimento dos


processos de certificação e implantação da norma ISO 14001:2004. Se não com-
preendemos algumas dessas definições, é possível que haja confusão na com-
preensão do processo em si.
Ainda segundo a ABNT (2004), o nível de detalhamento e a complexidade do
SGA, bem como a extensão de sua documentação ou dos recursos nele empre-
gados dependerão de diferentes fatores, a saber: “o escopo do sistema, o porte da
organização e a natureza de suas atividades, produtos e serviços”. Assim, à medi-
da que a organização se torna mais complexa e diversificada, tende a aumentar
o nível de complexidade e detalhamento do SGA implantado.
Para a implantação da Norma é necessário que a organização cumpra al-
guns requisitos, quais sejam, em linhas gerais (ABNT, 2004):

1.  Requisitos Gerais: Diz respeito à definição do escopo e estabelecimen-


to dos compromissos de implantação do SGA em conformidade com
a Norma. O escopo deve abranger os limites da organização, até onde
será aplicado o SGA, as atividades, produtos e serviços abrangidos.
Nesse ponto, é fundamental que a organização tenha ciência de que a
credibilidade de seu SGA deriva também da abrangência definida no
escopo. Deve haver justificativa plausível para o caso de determinada

40 • capítulo 2
área ser excluída do SGA, algo que a organização tem liberdade para de-
cidir. Além disso, a organização pode optar por implementar a Norma
no todo ou em unidades específicas.

2.  Política Ambiental: Requisito bastante relevante para nossos estudos. A


política ambiental abrange os objetivos e metas. É uma declaração de in-
tenções e princípios. É a força motriz para funcionamento do SGA e deve
refletir o compromisso da alta administração com a questão ambiental.

3.  Planejamento: Para implantação da Norma, requer-se que o Planeja-


mento conte com alguns elementos essenciais. Ele deve abranger, as-
sim, os aspectos ambientais, os requisitos legais, bem como os objeti-
vos, metas e programas.

4.  Implementação e Operação: Requer-se que a administração assegure


recursos essenciais disponíveis para estabelecer, implantar, manter e
melhorar o SGA. Deve ainda assegurar que seus profissionais tenham
formação adequada quando lidarem com aspectos ambientais, bem
como esforçar-se por realizar comunicação adequada.

5.  Verificação: Alguns requisitos necessários à implantação da Norma di-


zem respeito à verificação do andamento e dos resultados oriundos do
SGA. Eles abrangem aspectos ligados ao monitoramento e medição de
indicadores ligados a aspectos ambientais, que são apontados pela pró-
pria organização ou por consultoria especializada; à avaliação do aten-
dimento a requisitos legais (ou outros requisitos); aos procedimentos
de ação corretiva e preventiva de não-conformidade; ao controle de re-
gistros; e à auditoria interna.

6.  Análise pela Administração: Requer-se que os procedimentos de análi-


se pela alta administração da organização contemplem todo o escopo
do SGA, o que significa analisar seus resultados para cada área, produto
ou serviço abrangido pelo sistema.

Cada um desses requisitos serão tratados de maneira mais detalhada no ca-


pítulo III. É importante que você já tenha noção clara de que eles estabelecem

capítulo 2 • 41
diretrizes gerais para a implantação estruturada de um SGA. Por seguir uma
estrutura de implantação específica, seguindo os requisitos sugeridos, a orga-
nização pode passar a buscar uma certificação, que lhe forneça credibilidade
sobre seus compromissos de implantação de um SGA e, por consequência, so-
bre os seus compromissos com o aprimoramento contínuo de sua relação com
aspectos ambientais diversos.
Perceba que as especificações técnicas não são contempladas pela Norma
(ABNT, 2004). Tais especificações ou são abrangidas por outras normas, as
quais veremos de maneira superficial adiante, ou devem ser tratadas no pró-
prio conteúdo do sistema, em seus parâmetros, seus processos de medição,
com auxílio de consultorias especializadas. Isso decorre também do fato de que
cada setor de atividade e cada organização possuem especificidades que não
cabem na abrangência da NBR ISO 14001:2004. Consequentemente, o mesmo
vale para a própria norma ISO 14001:2004, ou seja, a norma internacional, da
qual deriva a Norma brasileira.
Para uma correta implantação da Norma, é fundamental, portanto, perce-
ber que nela há ainda espaços que devem ser ocupados por outras normatiza-
ções, e que a credibilidade do SGA em si está ligada também ao cumprimento
de requisitos legais e do levantamento de outros parâmetros ligados aos aspec-
tos ambientais da organização. Isso significa dizer, portanto, que não é na NBR
ISO 14001:2004 que uma organização encontrará os parâmetros de emissão de
poluentes atmosféricos aos quais deve se submeter. Mas, tais parâmetros de-
vem constar, por exemplo, como documentos, dentro da dimensão de imple-
mentação e operação. Compreende, agora, a complexidade de implantação da
Norma? Vê como é necessário um trabalho prévio à certificação que demanda
diferentes atores internos e externos à organização?

2.6  O processo de certificação ISO 14001

Já vimos anteriormente que há diferença entre implantar um SGA na organiza-


ção e buscar certificação quando essa implantação se dá a partir da norma NBR
ISO 14001:2004. Quando isso ocorre, objetiva-se que o SGA seja reconhecido e
acreditado pelas diferentes partes interessadas, ou stakeholders.
De maneira geral, podemos estabelecer três fases de um processo de certifi-
cação, pensando na lógica de funcionamento desse processo:

42 • capítulo 2
2.6.1  Contratação de organismo certificador:

Imagine-se como o administrador de uma organização que busca a certificação


pela Norma em questão. Depois de empregar esforços para buscar a adequação
da organização ao que determina a Norma, passa a ser necessário iniciar os es-
forços por buscar o reconhecimento dessa implantação, ou seja, a certificação.
Nesse ponto, o administrador deve buscar o organismo certificador.
Tal organismo certificador deve ser “acreditado”, ou seja, deve comprovar
que está habilitado a certificar organizações segundo a NBR ISO 14001:2004.
Para tanto, é necessário que ele possua registro junto ao INMETRO, como sig-
natário do mecanismo de reconhecimento mútuo do IAF (International Accre-
ditation Forum), o que implica no cumprimento de normas e regulamentos
para que possa auditar e conceder certificações.

CONCEITO
O IAF é uma organização mundial que abrange os órgãos de acreditação em avaliações de
conformidade do mundo todo. O enfoque dessas avaliações de conformidade não abrange so-
mente os sistemas de gestão, mas também produtos e serviços, por exemplo. O propósito de
atuação da IAF é semelhante ao da ISO, à medida que busca dar maior credibilidade a organi-
zações em um tema que exige um grau de confiança maior por parte dos interessados nessas
organizações. No caso do IAF, as organizações são justamente as certificadoras das normas.

Não basta ainda que o auditor/certificador seja acreditado pelo INMETRO.


É relevante também que o mesmo possua experiência no processo de implanta-
ção e certificação pela Norma. Os profissionais desse organismo, em geral em-
presas especializadas, devem ainda possuir os requisitos mínimos de qualifica-
ção, além da experiência. Assim, poderão realizar o processo adequadamente.
Veremos mais a respeito desses requisitos no capítulo 4.

2.6.2  Pré-auditoria de certificação

É possível que seja necessário a realização de uma pré-auditoria para avaliação


do estágio de desenvolvimento do SGA. Isso implica no levantamento de infor-
mações dentro da organização, bem como realização de visitas e contatos com

capítulo 2 • 43
administradores e envolvidos no processo. Serão avaliados os documentos, a
política ambiental estabelecida, bem como o cumprimento de outros requisi-
tos da Norma.
Busca-se assim verificar se o estágio de amadurecimento do SGA já é suficien-
te para que o processo de auditoria de certificação seja de fato iniciado. Qualquer
inconformidade que ainda possa existir deverá ser apontada nessa etapa.

2.6.3  Auditoria de certificação.

É o processo de auditoria em si. Consiste, de maneira geral, no exame dos docu-


mentos, parâmetros, política ambiental, enfim, todos os requisitos da Norma, por
meio de entrevistas realizadas com os envolvidos e outros meios, para que se veri-
fique a conformidade do SGA implantado com o que é determinado pela Norma.
Se os auditores concluírem que o SGA está adequado à norma, o certificado
é emitido e tem validade de três anos. Somente depois de concedida a verifica-
ção é que a empresa pode passar a divulgá-la, mas deve ainda manter esforços
de manutenção e melhoria contínua do SGA para que se mantenha certificada.

2.7  As diferentes normas dentro da série ISO 14000

Vimos que a NBR ISO 14001:2004 abrange somente os aspectos ligados à im-
plantação de um Sistema de Gestão Ambiental na organização. Diversos outros
tópicos estão ligados ao tema na organização. Eles não podem ser todos inse-
ridos na mesma norma, que fugiria do escopo mais adequado. Além disso, não
necessariamente dizem respeito a todas as organizações que desejam implan-
tar certificação na Norma. A partir disso, temos as diversas normas pertencen-
tes à chamada série ISO 14000.
Dias (2011) apresenta, com base em dados da própria ABNT, um quadro
listando normas da série ISO 14000. Esse quadro é apresentado abaixo e nos
auxilia a ter uma visualização inicial da diversidade de propósitos de algumas
das normas da série.

44 • capítulo 2
NÚMERO
DESCRIÇÃO
DA NORMA

Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – Especificações para implan-


ISO 14001 tação e guia.

Sistemas da gestão ambiental - Diretrizes gerais sobre princípios,


ISO 14004 sistemas e técnicas de apoio.

ISO 14010 Guias para Auditoria Ambiental – Diretrizes Gerais.

ISO 14011 Diretrizes para Auditoria Ambiental e Procedimentos para Auditorias.

ISO 14012 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Critérios de Qualificação.

ISO 14020 Rotulagem Ambiental – Princípios Básicos.

ISO 14021 Rotulagem Ambiental – Termos e Definições.

ISO 14022 Rotulagem Ambiental – Simbologia para Rótulos.

ISO 14023 Rotulagem Ambiental – Testes e Metodologia de Verificação.

Rotulagem Ambiental – Guia para certificação com base em Aná-


ISO 14024 lise Multicriterial.

ISO 14031 Avaliação da Performance Ambiental.

ISO 14032 Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operadores.

ISO 14040 Avaliação do Ciclo de Vida – Princípios Gerais.

ISO 14041 Avaliação do Ciclo de Vida – Inventário.

ISO 14042 Avaliação do Ciclo de Vida – Análise dos Impactos.

ISO 14043 Avaliação do Ciclo de Vida – Migração dos Impactos.

capítulo 2 • 45
As normas NBR ISO 14001:2004 e NBR ISO 14040:2001 são aquelas da série
passíveis de certificação. Alguns aspectos e atividades não incluídos no projeto
inicial da série ISO 14000 precisaram ser incorporados, tais como a Comunica-
ção Ambiental e as emissões de gases de efeito estufa, ou GEE (VALLE, 2004).
No caso da Comunicação Ambiental, a norma ISO 14063 compreende as
diretrizes e exemplos, de maneira a orientar as organizações quanto à forma
de comunicar mais adequadamente seu desempenho e aspectos ambientais
envolvidos. Já no caso da emissão de GEE, as normas ISO 14064 e ISO 14065
tratam dos critérios de medição, validação e verificação das emissões de GEE,
bem como dos organismos utilizados no credenciamento e reconhecimento
das ações nesse sentido (VALLE, 2004).

ATIVIDADE
1. Aponte e discorra sobre os principais motivadores que levaram à elaboração da norma
ISO 14001.

2. Discorra sobre a importância da ISO 14001 para o cenário econômico e ambiental


nacional e internacional.

3. Diferencie o processo de implantação da Norma do processo de certificação.

4. Aponte os requisitos necessários para implantação da NBR ISO 14001:2004.

5. Indique dentre as normas da série ISO 14000 aquelas que estão ligadas ao tema da
Rotulagem Ambiental e da Auditoria Ambiental. Explique porque há separação da série
ISO 14000 em diferentes normas.

REFLEXÃO
Vimos ao longo deste capítulo uma série de aspectos conceitos e práticos da implantação
de um SGA segundo a NBR ISO 14001:2004. Um propósito central buscado foi iniciar a
compreensão da realidade, na prática da implantação da Norma. Paralelamente, o leitor deve
já buscar compreender algumas limitações e benefícios oriundos da implantação da Norma.

46 • capítulo 2
De modo geral, a empresa objetiva também atender a seus interesses quando busca cer-
tificação. Assim, seus administradores sabem que a partir da certificação, haverá aumento de
competitividade e maior estabilidade dos negócios, principalmente aqueles ligados a consumi-
dores que exigem determinado padrão de qualidade ambiental ou mesmo exigem a certificação
em si (VALLE, 2004). Ainda segundo os mesmos estudos, outros benefícios ligados à geração
de valor pela empresa estão ligados ao acesso a novos mercados – novamente, àqueles em que
o nível de consciência ambiental é maior – e aos prêmios de seguro frequentemente menores
para as organizações certificadas, em razão dos menores riscos de perda corridos por elas. Valle
(2004) nos informa ainda que o movimento de busca por certificação ambiental foi iniciado pelas
indústrias – e a elas é mais difundido – e atinge cada vez mais outros setores da economia, desde
organizações comerciais a prestadores de serviços e instituições de ensino. Como temos visto,
certificar-se implica buscar reconhecimento pelos esforços na questão ambiental. Assim, o tema
está bastante ligado à Comunicação. Ligado ainda a como a organização divulga seus esforços.
Veremos no capítulo IV mais a respeito da rotulagem ambiental, que é um exemplo de ferramenta
ligada à comunicação de esforços ambientais.
Por outro lado, um sistema como a série ISO 14000 pode ser nefasto se o propósito
de sua utilização for esconder interesses corporativos diversos e mecanismos de proteção
comercial. Valle (2004) exemplifica que esse perigo surge quando há setores produtivos
obsoletos, dentro da economia de um país, cujas organizações buscam se proteger de for-
necedores externos que empregam tecnologias de menor impacto ambiental ou estão mais
avançados em suas políticas ambientais. Por fim, há uma crítica importante de ser feita, não
relacionada à aplicação da norma em si, mas que permeia o processo. Diz respeito ao real
comprometimento dos empresários e administradores das organizações em relação à dimi-
nuição de seus impactos socioambientais, à internalização dos custos decorrentes de suas
práticas predatórias, enfim, a um comportamento mais ético e de responsável.
Como a política ambiental é estabelecida pela própria organização, e o comprometimen-
to com a melhoria contínua da mesma é também fruto de seus esforços, então é possível
que não haja a dedicação necessária entre os administradores e empresários para que a
organização de fato avance em sua postura responsável ambientalmente. Surge daí uma
série de limitações que devem ser tratadas não somente sob a perspectiva de implantação
da Norma, mas de uma abordagem mais crítica ao tema. Se não há dedicação necessária por
parte desses envolvidos, não há melhoria contínua de fato.

capítulo 2 • 47
LEITURA RECOMENDADA
Artigo: ISO14001 e a sustentabilidade. A eficácia do instrumento no alcance do desenvolvi-
mento sustentável. Disponível em: <http://www.usp.br/mudarfuturo/cms/?p=212>. Aces-
so em: 25 ago. 2014.
O artigo foi escrito pela autora Ana Carolina Rieksti e traz diversas informações importantes
para uma melhor compreensão do papel da norma ISO 14001:2004 no Brasil, bem como
suas relações com o desenvolvimento sustentável. O artigo pode ser baixado gratuitamente
em sua versão integral, dentro da publicação Certificação e Sustentabilidade Ambiental: Uma
análise crítica. Na publicação há muito conteúdo complementar ao que você está acessando
aqui. Portanto, vale a leitura!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J.R. de; MELLO, C. dos S.; CAVALCANTI, Y. Gestão Ambiental: planejamento,
avaliação, implantação, operação e verificação. 2 ed. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2004.

ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Conheça a ABNT. 2014.


Dsiponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 25 ago. 2014.

DIAS, R. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. 2 ed. São Paulo:


Atlas. 2011.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION – ISO. ISO Survey 2012.


2013. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/home/standards/certification/iso-survey.ht-
m?certificate=ISO%2014001&countrycode=BR#countrypick>. Acesso em: 25 ago. 2014.

______. About ISO. 2014. Disponível em: <http://www.iso.org/iso/home/about.htm>.


Acesso em: 25 ago. 2014.

______. ISO/TC 207/SC 07 “Greenhouse gas management and related activities”. 2014.
Disponível em: <http://isotc.iso.org/livelink/livelink?func=ll&objId=8774363&objAc-
tion=browse&viewType=1>. Acesso em: 25 ago. 2014.

POMBO, F.R.; MAGRINI, A. Panorama de aplicação da norma ISO 14001 no Brasil. Gestão
e Produção. São Carlos, v. 15, n. 1, p. 1-10, jan.-abr. 2008.

UOL-MICHAELIS. Dicionário Online – Dicionário Michaelis – UOL. 2014. Disponível

48 • capítulo 2
em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 30 ago. 2014.

VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6 ed. São Paulo: Editora Senac, 2006.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, você verá mais alguns aspectos relevantes à norma ISO 14001, bem
como terá um aprofundamento de outros, já iniciados no capítulo atual. Você terá acesso
a um detalhamento da Auditoria Ambiental, para compreender a importância da atividade
dentro das questões ambientais empresariais, com a certificação entre elas. Verá ainda um
detalhamento maior dos requisitos ligados à implantação da norma, além de refletir a respeito
da importância da Política Ambiental organizacional no âmbito da implantação de um Sistema
de Gestão Ambiental. Bons estudos!

capítulo 2 • 49
3
Série ISO 14000,
política ambiental
e auditorias
ambientais
3  Série ISO 14000, política ambiental e
auditorias ambientais

No terceiro capítulo vamos ver de maneira mais aprofundada sobre os requisi-


tos de implantação do SGA. Alguns detalhes são importantes de ser vistos aqui,
outros não cabem nos propósitos de nosso estudo. Você já viu no capítulo pas-
sada, de maneira geral, quais são os requisitos para implantação segundo a pró-
pria Norma. É importante que você tenha visto e analisado o conceito em sua
relação com outras etapas. Agora, tomaremos procedimento parecido, dessa
vez destacando a importância da Política Ambiental organizacional para funda-
mentar e “legitimar” o SGA na organização. Além disso, veremos a importância
da Auditoria Ambiental como mecanismo de acompanhamento por parte da
própria organização e como oportunidade de esforço por melhoria contínua.

OBJETIVOS
•  Reforçar os aspectos mais relevantes dos requisitos necessários à implantação do SGA
segundo a Norma NBR ISO 14001:2004;
•  Analisar o papel da Política Ambiental para o sucesso do SGA;
•  Analisar a importância da Auditoria Ambiental dentro do âmbito do SGA e dos compromis-
sos ambientais da organização;
•  Compreender a importância do papel da alta administração e da cultura organizacional no
sucesso do SGA.

REFLEXÃO
Você se lembra de algum caso famoso de infração ou conduta inadequada a respeito de
aspectos ambientais, por parte de empresas? Ao analisar casos como esses, consegue per-
ceber como os procedimentos inadequados poderiam ser evitados caso houvesse um SGA
na organização? Quando uma empresa lança mão dessa ferramenta, previne riscos, não só
pelos esforços da própria organização, mas pelo acompanhamento de uma auditoria que a
leva a manter seus esforços por melhoria contínua. Desse modo, há uma série de ganhos
paralelos com a adoção do SGA, além de seus objetivos principais. Vamos continuar os es-
tudos sobre o tema?

52 • capítulo 3
3.1  Política ambiental

Já vimos que uma política ambiental é a declaração da organização sobre suas


intenções ou princípios a respeito de seu desempenho ambiental global, de
maneira a prover uma estrutura fundamentadora para ações e para o estabele-
cimento dos seus objetivos e metas ambientais.
A política ambiental deve ser o conjunto de referências que estará acima das
metas e objetivos. Será, portanto, uma definição do nível de compromisso da or-
ganização e sua gestão com as questões ambientais a ela relacionadas. Quando
o desempenho ambiental for avaliado, será confrontado também com esse nível
estabelecido pela política ambiental. Em geral, é a alta administração da organi-
zação que estabelece a política ambiental. Resulta daí a importância de que os
próprios envolvidos na alta administração estejam preparados e conscientes de
seu papel, para que estabeleçam uma política ambiental mais avançada.
Alguns dos elementos mais importantes que devem ser considerados em
uma política ambiental são:

•  Missão, visão, valores e crenças essenciais;

•  Determinações, interesses e requisitos das partes interessadas, bem


como a comunicação com elas;

•  Compromisso de melhoria contínua;

•  Compromisso de prevenção da poluição;

•  Integração com as demais políticas da organização, tais como aquelas


relacionadas à gestão da Qualidade, da Saúde e Segurança no trabalho;

•  As condições locais ou regionais específicas;

•  A adequação às normas ambientais relevantes, leis e outros critérios aos


quais a organização se submete.

É relevante também que a alta administração da organização reconheça e,


por consequência, considere no estabelecimento da política ambiental, que to-
das atividades, produtos ou serviços podem causar impacto ambiental e, via de
regra, o causam. À medida que se reconhece isso, abre-se caminho para que a
organização acompanhe a vanguarda na busca por internalização de seus im-
pactos ambientais, ou seja, passe a considerar também custos e prejuízos de-

capítulo 3 • 53
correntes de suas atividades, que são arcados por terceiros, de modo que ela
própria se responsabilize.
Lembre-se: quando uma atividade industrial, por exemplo, causa prejuízos
à população de entorno em decorrência da emissão de poluentes atmosféricos,
ela própria deve responsabilizar-se por isso e buscar efetivamente meios de so-
lucionar o problema. Isso se aplica a uma infinidade de outras situações que
ainda não são consideradas pelos mais diversos tipos de empresas.
Para compreendermos, em termos mais práticos, quais aspectos e compro-
missos uma organização pode estabelecer para além do cumprimento à legis-
lação e outras obrigações já vigentes, vejamos abaixo uma listagem de alguns
desses aspectos:

•  Minimização de quaisquer impactos ambientais adversos significativos


de novos empreendimentos e ações, por meio do uso de procedimentos
de gerenciamento ambiental e de planejamento integrados;

•  Desenvolvimento dos procedimentos de avaliação do desempenho am-


biental e de indicadores associados;

•  Incorporação do conceito de Ciclo de Vida;

•  Produtos projetados de maneira a minimizar seus impactos ambientais


na produção, uso e disposição;

•  Prevenção da poluição, redução de resíduos e do consumo de recursos


(materiais, combustíveis, energia), e compromisso com a recuperação e
reciclagem, ao invés de disposição, quando praticável;

•  Educação e treinamento;

•  Compartilhamento de experiência ambiental;

•  Envolvimento e comunicação com as partes interessadas;

•  Trabalho no sentido do desenvolvimento sustentável;

•  Encorajamento para o uso do SGA por fornecedores e contratados.

Um dos elementos fundamentais para o sucesso dos esforços rumo à Sus-


tentabilidade ambiental é a adesão das pessoas inseridas na organização aos
objetivos e metas preconizados na política ambiental. Isso significa dizer que a
cultura organizacional deve estar preparada para fundamentar ou fortalecer o

54 • capítulo 3
SGA implantado. Sem o alinhamento da cultura organizacional e a adesão das
pessoas, o SGA perde legitimidade dentro da empresa (JABBOUR; OLIVEIRA;
CASTRO, 2011).
Em síntese, os autores Jabbour, Oliveira e Castro (2011) fundamentam-se em
literatura prévia para afirmar que diferentes estratégias de inovação ambiental
decorrem de diferentes profundidades de alteração cultural e consequente com-
prometimento da cultura organizacional. Isso significa dizer que “quanto mais
superficial se revelar a alteração cultural para apoiar a gestão ambiental, mais
tende a ser gerado um padrão de inovações incrementais, pautadas em tecnolo-
gias de controle da prevenção” (JABBOUR; OLIVEIRA; CASTRO, 2011, p. 8).
Por outro lado, a alteração mais radical dos pressupostos inconscientes a
respeito dos temas ambientais tende a fundamentar o desenvolvimento de ino-
vações ambientais mais profundas, situadas na fronteira do conhecimento, ou
seja, que envolvem maior ruptura. São exemplos desse tipo de inovação mais
profunda o “planejamento de bio-sistemas integrados e tecnologias que são
isentas de impactos ambientais” (p. 8). Por bio-sistemas integrados entende-
se as redes estabelecidas entre organizações ou dentro da própria organização,
cujo propósito é transformar outputs em novos inputs, ou, de maneira geral,
resíduos em matérias-primas (JABBOUR; OLIVEIRA; CASTRO, 2011).
É importante perceber, a partir disso, que um comprometimento maior da
organização deve refletir um trabalho prévio de aprimoramento da cultura or-
ganizacional, o que pode demandar, por vezes, uma alteração radical de pres-
supostos inconscientes em seus membros. Nesse sentido, faz-se necessária a
compreensão dos envolvidos – o que compreende todos os funcionários – acer-
ca das questões ambientais, seu papel e o papel da organização, bem como os
mecanismos necessários ao cumprimento dos objetivos e metas.
Veja que aqui relacionamos aspectos do SGA que já temos visto: a proposta de
melhoria contínua, a importância da política ambiental da organização, a impor-
tância da capacitação, treinamento e comunicação interna, entre outros. Assim,
à medida que o SGA avança e amadurece na organização, o propósito de melhoria
contínua leva à necessidade de mais esforços para ruptura daqueles pressupos-
tos inconscientes orientados aos temas ambientais. A partir daí, passa a haver
ambiente mais favorável à implantação de inovações mais profundas, o que não
diminui a importância do controle de prevenção anteriormente implantado.

capítulo 3 • 55
3.2  Implantação

Como vimos resumidamente, três aspectos estão mais ligados aos requisitos
de implantação (ou implementação) do SGA. Teremos maior detalhamento dos
três, neste momento:

3.2.1  Recursos, funções e responsabilidade:

Temos visto a importância do comprometimento de todos na organização para


o sucesso do SGA. Isso acaba por refletir o que ocorre na sociedade, como um
todo: sem comprometimento de todos, não será possível alcançar Sustentabi-
lidade de fato. Nesse sentido, não somente a parte da estrutura organizacional
dedicada integralmente à questão ambiental deve estar empenhada no sucesso
do SGA. Outros setores da organização também devem ter sua parcela de res-
ponsabilidade e contribuição.
Aqui, também a importância do exemplo se faz presente: quando o compro-
metimento começa pela alta administração, o SGA tem mais chances de ter su-
cesso. Para que seja um exemplo real, não apenas no discurso, recomenda-se
que um ou mais representantes específicos dessa alta administração seja(m)
designado(s) para dedicar-se à implementação do SGA. O indivíduo que assumir
a responsabilidade de ser o representante da alta administração para implanta-
ção do SGA deve possuir um perfil específico e adequado. Há maior chance de
sucesso quando a organização dispõe de profissional que já possua experiência
na implementação de certificações, outras normas e sistemas de gestão.
Quando o contexto é de empresas de pequeno e médio porte, a seleção da-
quele que assumirá esse tipo de responsabilidade deve ser um dos principais
focos, de modo que o proprietário deve designar a si mesmo ou a um colabora-
dor com formação técnica, ou, ainda em geral, um engenheiro que pode ou não
estar vinculado à qualidade ou meio ambiente (SEIFFERT, 2011). Isso ocorre
em razão das limitações de recursos e pessoas nas organizações desses portes
menores. Não se pode esperar, nesse sentido, que a decisão seja simples. Nes-
ses casos, a habilidade de comunicar-se bem com os administradores e pro-
prietários, tanto quanto com os níveis operacionais é um atributo importante.
Com o mesmo grau de importância, deve-se garantir que sejam oferecidos
os recursos necessários para que os responsáveis assumam seus papéis. Não

56 • capítulo 3
deve haver ambiguidades e noções vagas no momento da definição de respon-
sabilidades: deve-se esclarecer e comunicar a todos quem são os responsáveis,
e pelo quê o são.
Seiffert (2011) orienta que de forma semelhante ao que ocorre para a ISO
9001, é importante que seja elaborada uma matriz de responsabilidades. Per-
mite-se, com isso, uma melhor visualização das funções e responsabilidades
associadas a cada funcionário. A visualização facilitada, por ser um recurso
menos textual, permite que essas informações sejam divulgadas no espaço fí-
sico da empresa, como um complemento e reforço da importância. O quadro
3.1 apresenta um trecho simplificado de matriz de responsabilidades. O fun-
damental é compreendermos que por meio dela se indica claramente as res-
ponsabilidades e corresponsabilidades sobre cada aspecto relevante do SGA.
Um efeito desse esclarecimento é instruir e motivar os responsáveis ou corres-
ponsáveis a realizar suas tarefas e procedimentos adequadamente, de modo a
reduzir risco de incorrer em impactos ambientais ou não-conformidades.

RESPONSABILIDADES PRESIDENTE DIRETORIA RH MANUTENÇÃO EMPREGADOS

Estabelecer objetivos
R C
e metas ambientais.

Desenvolver orça-
mento para Gestão C C C
Ambiental.

Desenvolver e
coordenar plano de R C C
treinamento anual.

Quadro 3.1 – Exemplo de matriz de responsabilidades (R=responsável e C=corresponsável).


Fonte: adaptado de Seiffert (2011, p.121).

A elaboração da matriz não é requisito mandatário, ou obrigatório, para im-


plantação do SGA segundo a Norma. No entanto, sua elaboração auxilia bastan-
te na divulgação das responsabilidades. Além disso, aproxima a organização
do atendimento da norma ISO 9001, o que tende a ser atrativo para a busca de
melhoria contínua pretendida.

capítulo 3 • 57
3.2.2  Treinamento e capacitação

Como temos visto, o treinamento é também um esforço por conscientização de


todos os envolvidos, até mesmo partes interessadas (stakeholders) externas à or-
ganização. Conscientização envolve ruptura e amadurecimento dos pressupostos
ambientais inconscientes, conforme vimos a partir dos estudos de Jabbour, Oli-
veira e Castro (2011). Treinamento envolve preparo para lidar com as novas tecno-
logias ou procedimentos que serão implantados ou aprimorados a partir do SGA.
Para que esses esforços possam ser efetivos, é recomendado que a organi-
zação tenha uma noção prévia do estágio de amadurecimento da conscientiza-
ção dos funcionários, bem como dos treinamentos necessários para que possa
atingir as metas e objetivos preconizados na política ambiental.
É importantíssimo também que a organização incentive de diferentes ma-
neiras seus prestadores de serviço ou fornecedores para que sejam submetidos
a treinamentos, capacitações e esforços por conscientização, de modo a buscar
garantias de que possuem os requisitos mínimos de capacitação e que estão
alinhados aos esforços de melhoria contínua. Buscar envolver fornecedores e
outros stakeholders nessa corresponsabilização faz parte das medidas de me-
lhoria contínua.

3.2.3  Comunicação

Esse tópico do SGA compreende as formas optadas pela organização para promo-
ver e controlar o fluxo de informações relacionado à sua atuação, em relação aos
aspectos ambientais. Seiffert (2011), informa que, segundo a Norma, a organiza-
ção deve estabelecer procedimentos para realizar comunicação entre os vários
níveis e funções, bem como atuar sobre os processos de recebimento, documen-
tação e respostas a comunicações relacionadas às partes interessadas externas.
É fundamental que no estudo da Norma, compreendamos o papel da comu-
nicação no sucesso de implementação. Conforme aponta Seiffert (2011, p. 132):
“as comunicações representam um importante elemento da dinâmica de um
sistema, uma vez que o poder, a liderança e a tomada de decisão […] dependem
do processo de comunicação”. Outro aspecto muito relevante ligado ao tema diz
respeito ao relacionamento da organização com partes interessadas exteriores.
Por exemplo, os clientes: é comum encontrar empresas que comunicam
seus clientes de maneira enganosa ou incorreta a respeito de suas conquis-

58 • capítulo 3
tas em aspectos ambientais. Você já observou alguma comunicação desse
tipo? Sabe dizer se a organização em questão é certificada pela Norma ISO
14001:2004? Por comunicação enganosa ou incorreta, devemos entender, por
exemplo, aquelas que anunciam produtos como perfeitamente sustentáveis,
com zero impacto ou argumentos semelhantes, quando na verdade o que hou-
ve foi uma melhoria incremental apenas pontual, uma redução em consumo de
recursos, energia etc.
Não faz parte do propósito desta apostila lidar de maneira aprofundada
sobre o tema da comunicação, principalmente aquela direcionada a clientes.
No entanto, é importante que você compreenda a importância do tema e que
ele também está abrangido dentro dos compromissos e responsabilidades ne-
cessários à organização certificada pela norma ISO 14001:2004. Como vimos
no capítulo 2, outras normas da série buscam dar melhor orientação sobre os
procedimentos mais adequados de comunicação. Lembre-se: a honestidade na
comunicação está diretamente ligada ao compromisso ético da organização e
de seus tomadores de decisão.

CONEXÃO
O tema do Greenwashing, ou propaganda ambiental enganosa, tem ganhado corpo à medida
que aumenta o nível de entendimento da sociedade a respeito do tema ambiental. Lem-
bre-se: é muito raro o produto ou serviço que tenha impacto zero. Nesse sentido, algumas
propagandas que alardeiam impacto zero de um produto ou significados semelhantes levam
o cliente a confundir-se, quando não compreende com mais profundidade o tema. O artigo
a seguir dá uma breve reflexão sobre o isso e abre oportunidade para você aprender mais.
Acesse pelo link:<http://www.usp.br/aun/exibir.php?id=5732>.

3.2.4  Documentação

Um importante item relativo ao SGA, cuja adequação tem impacto direto sobre o
bom andamento dos demais processos, é a correta estruturação do sistema docu-
mental do SGA. Isso se torna particularmente importante por ser algo fortemente
ligado à avaliação de conformidades e não-conformidades, com necessidade de
embasamento por meio de documentos, relatórios, dados parametrizados.

capítulo 3 • 59
Assim, um bom sistema documental, ou uma boa estrutura documental,
implicará na manutenção do fluxo de informações de interesse do SGA, de ma-
neira a reduzir riscos de não-conformidade.
Seiffert (2011) afirma que o manual de gestão é o elemento mais signifi-
cativo do subsistema documental (dentro do SGA) e busca apresentar sinteti-
camente, de maneira mais superficial, as informações relativas aos procedi-
mentos do SGA, que estão detalhadas em outros documentos. Sendo assim, o
sistema documental pode ser estruturado obedecendo a níveis hierárquicos
conforme se pode visualizar na figura 3, a seguir, e que corresponde também
aos níveis hierárquicos estabelecidos na ISO 9001. Aqui se observa mais um
ponto de semelhança entre a ISO 9001 e a ISO 14001. Isso ilustra como elas ten-
dem a convergir para esforços semelhantes dentro da organização.

Politica Ambiental

Manual do SGA

Procedimentos sistêmicos
(ou padrões de processo)

Procedimentos operacionais

Instruções de trabalho,
formulários e registros

Figura 3 – Estrutura documental de um SGA.


Fonte: Seiffert (2011, p. 137) .

No entanto, a própria autora ressalta que há vantagens e desvantagens na ela-


boração do manual. Algumas vantagens associadas podem ser (SEIFFERT, 2011):

•  Obrigam à crítica, revisão e reavaliação constantes dos processos de trabalho.

•  Podem servir de motivação ao empregado quando avalia a representati-


vidade de seu trabalho.

•  Indicam os limites de autoridade e responsabilidade dos empregados, o


que pode levar a uma predisposição para assumir certas iniciativas.

60 • capítulo 3
•  São instrumentos de consulta e orientação (o que facilita o treinamento).

•  Evitam improvisação ou mal-entendidos, pois são consideradas as ver-


sões oficiais da organização.

Essas vantagens estão bastante associadas à maneira como o fluxo de infor-


mações fica mais bem desenvolvido a partir da elaboração do manual de gestão.
Com isso, a compreensão dos procedimentos necessários fica facilitada. Em
contrapartida, o mesmo material aponta como algumas desvantagens decorren-
tes da elaboração do manual de gestão, as seguintes:

•  Diminuem o julgamento pessoal, ou julgamento crítico.

•  São pouco flexíveis, pelo desconhecimento do usuário.

•  Não são a solução para todos os problemas (e podem ser vistos como tal,
por parte de alguns dos envolvidos).

•  Atuam somente na comunicação formal, originando os aspectos infor-


mais da organização, com distorções das normas.

•  Quando mal redigidos ou muito sintéticos ou prolixos, correm o risco de


obsolescência por falta de dados, por pequenas mudanças na metodolo-
gia de trabalho, ou por excesso de informação.

Vê-se que o manual de gestão deve ser encarado de maneira cuidadosa, para
que possa atingir seus objetivos e assumir papel de facilitador na compreensão
da norma por parte dos envolvidos, bem como na divulgação dos procedimen-
tos necessários.
Embora o manual de gestão seja parte muito importante do subsistema de
gestão documental, ele não é o único aspecto importante. Um dos propósitos
desse subsistema é permitir que a organização consiga estabelecer e manter
procedimentos para controle de todos os documentos exigidos. A partir de um
bom sistema documental, assegura-se que os documentos relacionados:
•  Possam ser facilmente localizados;
•  Sejam periodicamente analisados;
•  Sejam revisados quando necessário;
•  Possam ser aprovados por pessoal autorizado, caso estejam adequados.

capítulo 3 • 61
Seiffert (2011) aponta ainda que é evidente a necessidade de acesso rápi-
do e fácil aos documentos ambientais, por parte dos membros da organização,
sendo que a forma como são acessados durante as auditorias é indicativo de
performance (ou desempenho) e conformidade à Norma.
Você já deve ter percebido como a Norma pode ser esmiuçada e detalhada,
de maneira a permitir uma implantação com excelência. Temos visto diversos
aspectos ligados a ela, até agora dedicados a fases de elaboração da política
ambiental ou da implantação do SGA. Há ainda uma grande diversidade de
aspectos ligados ao SGA, como operacionais, referentes a situações emergen-
ciais, dentre outros. Mesmo para as duas etapas iniciais, não trataremos com
profundidade aqui, dada a complexidade do tema. É importante que você te-
nha em mente que a implantação da Norma ocorre com o acompanhamento de
consultorias especializadas, de modo a viabilizar o processo.

3.2.5  Verificação e Ação Corretiva

Em cada fase ou tópico do SGA que abordamos, consta a afirmação da importân-


cia daquela fase, argumentamos em favor de sua essencialidade. Não poderia
ser diferente, já que se trata de um sistema bastante objetivo, com um propósito
claro. A profundidade de sua aplicação decorre das especificidades de cada em-
presa, de barreiras e facilitadores, enfim, de uma infinidade de variáveis.
Imagine agora a importância que a etapa de verificação e ação corretiva pode
ter para um sistema que deve se propor alinhado à melhoria contínua! Além dis-
so, espera-se que ele auxilie a organização a não incorrer em não-conformida-
des, o que deve implicar, em última instância, a não correr mais riscos de ordem
ambiental. Isso não necessariamente acontece, pois não é possível dominar
completamente a situação, as variáveis relacionadas, o ambiente que nos cerca,
enfim, não temos total poder sobre as consequências das decisões tomadas.
Mesmo assim, é justamente um trabalho de verificação, ação corretiva e
preventiva que dará a menor margem de erro no SGA. Os procedimentos aqui
relacionados são, novamente, bastante similares àqueles da ISO 9001, o que
indica mais uma vez a proximidade entre a Gestão da Qualidade e a Gestão Am-
biental Empresarial.
Para o sucesso das ações aqui relacionadas, é importante que haja no SGA
subsistemas relacionados a diferentes atividades correlatas. São, a saber:

62 • capítulo 3
3.2.5.1  Monitoramento e medições:
Nesse ponto, o SGA deve dispor de procedimentos documentados para que haja
monitoramento e medição periódicos das características principais das ope-
rações e atividades com potencial de impacto sobre o meio ambiente. Deve-se
ainda assegurar o registro do monitoramento, bem como que os equipamentos
usados nas medições estejam corretamente calibrados. Em termos práticos,
etapas do processo produtivo que emitam poluentes, líquidos, gasosos ou resí-
duos sólidos, devem ter meios garantidos de verificação e medição, e o registro
dessas medições deve ser adequadamente preservado.

3.2.5.2  Ação corretiva ou preventiva:


Nessa parte do sistema, organizam-se os processos ligados às ações que visam
restabelecer a conformidade, ou seja, corrigir não-conformidades. As respon-
sabilidades devem estar bem definidas para que se possa atuar frente às não-
conformidades efetivamente. Diferentes métodos podem indicar sua ocorrên-
cia, o que justifica a realização das ações preventivas. Essas, por sua vez, devem
também ser documentadas para aprimoramento posterior. As não-conformi-
dades podem ser identificadas por meio de simulações, de auditorias, revisões
de projeto, controle estatístico, dentre outros.

3.2.5.3  Controle de Registros:


Podemos depreender desse subsistema que seu propósito é abranger os pro-
cedimentos do fluxo de registros: identificar os registros novos, mantê-los, e
eliminar os desnecessários. São registros, por exemplo, dados e informações
oriundos de treinamentos aplicados a funcionários e demais envolvidos; resul-
tados e pareceres de auditorias; análises críticas realizadas internamente. É por
meio do registro que se pode rastrear e identificar atividades ou produtos que
se queira buscar, em razão de algum aspecto ambiental relacionado.
Os registros podem ser realizados de maneira centralizada ou descentrali-
zada: no primeiro caso há um único destino para que eles tenham o controle
facilitado; no segundo caso cada procedimento recebe um controle de registro
próprio (SEIFFERT, 2011). Essa distinção lógica leva diferentes perfis de em-
presa a optarem por uma ou outra possibilidade. Enquanto que empresas de
menor porte optam por centralizar o controle de registros, aquelas de maior
porte, em razão da complexidade de seus processos, tendem a optar por um
controle descentralizado.

capítulo 3 • 63
3.2.6  Análise Crítica pela gerência

Quando tratamos, dentro dos procedimentos ou etapas do SGA, da análise


crítica, estamos nos referindo aos procedimentos de revisão do SGA. Seiffert
(2011) denomina esse como sendo mais um dos subsistemas do SGA segundo
a Norma ISO 14001. Todos os procedimentos de documentação, controle de re-
gistros e armazenamento de informações serão bastante úteis. A partir de tais
dados é que a alta administração realizará as análises críticas.
Essa é uma oportunidade de reflexão sobre o SGA e aprimoramento do mes-
mo. Significa também que mudanças podem ser realizadas no SGA a partir desse
momento. Para que a etapa de revisão crítica funcione adequadamente, é neces-
sário que a alta administração realize ao menos duas reuniões de revisão a cada
ano. No entanto, é possível que se realize mais reuniões. Para o correto anda-
mento dessas reuniões, é importante que as informações necessárias a cada re-
visão sejam previamente coletadas e organizadas para que sejam apresentadas.
Também durante a reunião de revisão é importante que haja um resulta-
do documental do que foi discutido. Assim, minutas ou atas serão importantes
para que haja um controle do que foi visto, discutido e decidido em cada uma
dessas reuniões. Perceba que é necessário aos seus participantes um entendi-
mento profundo do SGA e da política ambiental da empresa.
A revisão crítica terá como propósito, por fim, manter a própria organização
atualizada em sua postura perante seus compromissos de responsabilidade
ambiental. Isso deve refletir, portanto, o real compromisso da alta administra-
ção e a capacidade da organização em identificar não-conformidades e atuali-
zar seus objetivos e metas, bem como o próprio SGA em seus processos.

3.3  Auditoria Ambiental

Vimos alguns elementos importantes para a implantação da norma ISO


14001:2004 e posterior certificação. Um dos processos necessários é a realiza-
ção de auditorias na organização, feitas com o propósito de se analisar e com-
provar as ações propostas, ou os padrões exigidos. Você tem contato direto com
atividades de auditoria, na organização em que está inserido? Conhece os pas-
sos usualmente adotados nesse processo? Vamos saber um pouco mais sobre o
conceito de auditoria ambiental?

64 • capítulo 3
3.3.1  Conceito

Em outras oportunidades, já buscamos a definição do significado dos termos


centrais que estudamos, para iniciar uma boa compreensão sobre os conceitos.
Façamos o mesmo com o termo auditoria, que segundo o dicionário Michaelis
Uol (UOL-MICHAELIS, 2014). é: “Exame analítico minucioso da contabilidade
de uma empresa ou instituição”. Por se tratar de auditoria ambiental, podemos
inferir que se trata do exame analítico e minucioso dos registros e documentos
ambientais da organização.
A auditoria pode ser interna ou externa. Será interna quando ocorrer por
parte de funcionários da própria organização, que realizarão um exame
mais detalhado para identificar não-conformidades. Ocorre com frequên-
cia antes das auditorias externas, realizadas por empresa especializada. O obje-
tivo da auditoria é indicar se uma determinada empresa está em conformidade
ou não com uma norma ou padrão. No caso de nosso estudo, a auditoria am-
biental terá como propósito atestar a adequação à norma NBR ISO 14001:2004,
para manutenção ou renovação da certificação.

3.3.2  Histórico

A história do desenvolvimento das auditorias ambientais está ligada ao amadu-


recimento dos procedimentos de gestão ambiental. Philippi Jr. e Aguiar (2004)
informam que a provável primeira auditoria abrangente nas áreas ambiental,
de saúde e segurança ocupacional ocorreu entre uma empresa terceirizadora
e outra terceirizada, em 1977, nos Estados Unidos. A Arthur D. Little realizou o
procedimento sobre a Allied Chemical, para verificar se os requisitos legais e os
padrões exigidos pela corporação estavam sendo adequadamente cumpridos.
Isso se deu após um acidente envolvendo a empresa terceirizada. Segundo os
mesmos autores, há ainda outras fontes apontando origens diferentes.
A realização de auditorias se intensifica na década de 80, quando se difun-
dem alguns programas de prevenção, bem como outras ações alinhadas à ges-
tão ambiental decorrentes da maior preocupação com os problemas ambientais
causados por acidentes ou ainda com questões ambientais ligadas aos proces-
sos produtivos (PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2004). É a partir daí que muitas normas
ou códigos de conduta passam a incluir auditorias ambientais em sua estrutura.

capítulo 3 • 65
Já na década de 90, a ISO anuncia a intenção de desenvolver a série de nor-
mas 14000. Nessa intenção, incluiu-se o desenvolvimento de normas para audi-
torias, as normas ISO 14010, 14011 e 14012 (VALLE, 2006). Já no caso brasileiro,
alguns estados desenvolveram leis que exigem a realização de auditorias am-
bientais. São exemplos o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Minas Gerais
(PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2004).

ATENÇÃO
Quando analisamos o desenvolvimento e consolidação das auditorias ambientais, percebe-
se que foi um processo natural de utilização desse procedimento para que se pudesse acom-
panhar com maior confiabilidade os compromissos das organizações perante as questões
ambientais. Tal preocupação se inicia focada nos acidentes ambientais e suas consequên-
cias, para depois se consolidar também na prestação de contas, certificação e credibilidade
de ações ambientais mais avançadas.

3.3.3  Tipos

A auditoria pode ser ainda voluntária ou imposta por terceiros. No primeiro


caso, ocorre quando a própria empresa deseja verificar se está em conformi-
dade com sua política ambiental; e, no segundo caso, ocorre por determinação
ou imposição da legislação, a partir da ocorrência de acidentes ambientais, ou
ainda por compradores interessados na aquisição daquela empresa, por exem-
plo (VALLE, 2006).
Portanto, deve-se ter em mente que nem todas as auditorias ambientais são
realizadas com a finalidade de certificação pela norma ISO 14001:2004. Outros
motivos, segundo Valle (2006, p. 87), podem ser, além dos exemplos já citados,
“a preocupação com futuras ações indenizatórias, exigências de companhias
seguradoras, exigência de clientes – especialmente de importadores – e desejo
de melhorar a transparência e a imagem da organização”.
Outra maneira de classificarmos as auditorias, para melhor compreensão,
diz respeito aos seus objetivos. Podem ser, portanto (VALLE, 2006): técnicas, de
conformidade legal, de gerência, de responsabilidade e completas.
Ainda segundo Valle (2006), deve haver um plano de auditoria, em que se
possa identificar as áreas, atividades e processos a ser investigados. Para isso,

66 • capítulo 3
devem estar envolvidos também os procedimentos administrativos e operacio-
nais, bem como sistemas de proteção, documentação etc. Quando uma audito-
ria é realizada, há três enfoques fundamentais: a situação do licenciamento da
empresa, a competência para controle dos riscos ambientais e a confiabilidade
do monitoramento já realizado.

CONCEITO
Uma auditoria ambiental é um processo estruturado e objetivo, mas que nem por isso deixa
de ser complexo. Além disso, há diversos propósitos que podem ser alcançados com sua
realização, para além daqueles que já vimos. Alguns deles são (VALLE, 2006): avaliar o
estabelecimento levando em conta os passivos ambientais e os custos eventuais para sua
reabilitação; melhorar as condições de diálogo da empresa com seus stakeholders; apontar
melhorias possíveis na gestão dos gastos dedicados à correção de não-conformidades am-
bientais, dentre outros.

Phillipi Jr. e Aguiar (2004) sugerem ainda que as auditorias podem ser clas-
sificadas de acordo com a parte auditora, com os critérios de auditoria e com os
objetivos de auditoria:

•  Classificação de acordo com a parte auditora: As auditorias classificam-


se, nessa perspectiva, como auditoria ambiental de primeira parte, quan-
do é realizada por membros da própria organização auditada; de segunda
parte, quando é feita por equipe formada fora da organização auditada,
mas com poder legal ou comercial para exigir a auditoria; e as de terceira
parte, realizadas por instituições auditoras isentas, sem interesse direto
nos impactos ambientais das atividades da organização auditada.

•  Classificação de acordo com os critérios de auditoria: Nessa perspec-


tiva, as auditorias podem ser de conformidade legal ambiental, quando
os critérios de auditoria são exclusivamente os requisitos constantes na
legislação vigente; auditoria de desempenho ambiental, em que indica-
dores de desempenho são comparados a padrões com metas definidas;
e as auditorias de sistemas de gestão ambiental, quando se avalia o cum-
primento da norma, frequentemente a própria ISO 14001:2004, ou ainda
aqueles padrões estabelecidos pelo SGA desenvolvido pela própria orga-
nização, sem embasamento na Norma ISO.

capítulo 3 • 67
•  Classificação de acordo com os objetivos da auditoria: Podem ser clas-
sificadas como auditoria ambiental de certificação, quando se busca a
obtenção da certificação pela norma, principalmente a ISO 14001:2004.
Perceba que no caso da auditoria de sistema de gestão ambiental, na
classificação por critério, não se busca a obtenção da certificação, mas
uma verificação da conformidade com o que foi estabelecido no SGA. As
auditorias podem ainda ser classificadas como de acompanhamento;
de verificação de correções; de responsabilidade, para avaliar possíveis
riscos de passivos ambientais, em geral antes de fusões e aquisições; de
sítio, para verificar o grau de contaminação de áreas específicas; ou audi-
toria compulsória, destinada a cumprir exigência legal.

3.3.4  Protocolo de Auditoria

O protocolo de auditoria pode ser entendido como um plano, um roteiro ou


conjunto de especificações e procedimentos para realização da auditoria. Já
vimos diversos desses elementos em outros tópicos relacionados à Auditoria
Ambiental, neste capítulo. Além disso, como o processo de auditoria segue esse
padrão determinado, o resultado costuma ser apresentado segundo o mesmo
padrão. Isso significa que os elementos de um protocolo de auditoria podem
ser compreendidos também como aqueles apresentados no relatório de audi-
toria. Veremos mais a esse respeito no próximo tópico.

3.3.5  Relatórios de Auditoria

Um relatório de auditoria deve ser o documento em que constam registrados


os resultados do trabalho. Por ser uma importante fonte de informações para
tomada de decisão por parte da organização auditada, o relatório deve ser claro,
objetivo e conciso. Isso significa que mesmo quando houver dúvidas por parte
dos auditores, isso deve ficar claro (PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2004). No relatório
não deve constar ainda discussões teóricas sobre os argumentos utilizados,
para evitar que se perca concisão. Os mesmos autores (PHILIPPI JR.; AGUIAR,
2004) sugerem que alguns itens básicos devem ser contemplados em um rela-
tório dessa natureza:

68 • capítulo 3
•  Identificação da unidade auditada e do cliente da auditoria;
•  Objetivos da auditoria;
•  Escopo (entendido como enfoque ou elementos considerados, inclusive
o período em que a organização já foi coberta por auditoria);
•  Critérios da auditoria;
•  Data de condução;
•  Identificação dos membros da equipe auditora e do auditor-líder;
•  Resumo do processo de auditoria;
•  Conclusões da auditoria;
•  Declaração de confidencialidade;
•  Lista de distribuição do relatório (a quem ele será entregue).

Como a parte mais complexa e densa do relatório é a descrição de confor-


midades e não-conformidades, é comum que se opte pela descrição detalhada
apenas das não-conformidades, algo que a própria norma ISO sugere, tornando
opcional o relato de conformidades (PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2004). É importan-
te agora que você compreenda que o relato de não-conformidades segue algum
padrão, não necessariamente igual para todos os auditores.
Alguns auditores preferem estruturar um relato de não-conformidade apre-
sentando (PHILIPPI JR.; AGUIAR, 2004): (a) o requisito violado, ou item da nor-
ma que não foi seguido; (b) não conformidade, que é uma descrição da exigên-
cia não atendida; e (c) evidência objetiva, sendo o que o auditor viu ou o que
o auditado deixou de mostrar, algo também caracterizado como não-confor-
midade. A seguir, veremos um exemplo de redação de não-conformidade legal
com a legislação ambiental:

Não conformidade n. XXXX


Requisito legal violado: Resolução Conama – art. 20.
Não-conformidade: Limites de emissão de poluentes líquidos excedidos.
Evidência objetiva: Laudo de análise n. 107/2011, do laboratório da empresa, emitido em
24/08/2001, indica concentração de chumbo 15,2mg/l.

capítulo 3 • 69
Para o relatório da auditoria é necessário que os auditores realizem suas
análises baseados nos dados coletados na organização, confrontados com os
requisitos legais e normatizações. A avaliação é feita definindo-se as questões a
ser analisadas, para então haver a previsão das consequências. Essa análise das
consequências pode fornecer informações importantes à organização, quando
bem elaborada. Representa uma parte relevante quando há não-conformidades.

ATIVIDADE
1. Apresente as etapas de implantação de um SGA segundo a norma ISO 14001:2004,
resumidamente.

2. Aponte quais são, na sua opinião, dois dos papéis mais importantes assumidos pela alta
administração da organização na viabilização de um SGA.

3. Analise o propósito das classificações em diferentes tipos de auditorias ambientais e


indique ao menos três tipos diferentes.

4. Aponte e reflita sobre o papel da auditoria ambiental no sucesso de um SGA.

REFLEXÃO
Tivemos ao longo neste capítulo de nossos estudos uma visão mais procedimental, ou seja,
mais dedicada aos aspectos práticos de implantação da norma NBR ISO 14001:2004 e do
funcionamento do SGA na organização. Ligado a isso esteve o tema das auditorias ambien-
tais, fundamental para a viabilização do SGA.
Em razão dessa abordagem necessária neste momento dos estudos, tivemos menor
atenção dada à reflexão crítica do conteúdo visto. No entanto, alguns aspectos devem ser
destacados para que você possa resgatar os conteúdos vistos, bem como as reflexões já
apresentadas, e elaborar as suas próprias reflexões. É o caso, por exemplo:
• Do papel da alta administração na viabilização do SGA.
• Do papel do SGA e de todos os envolvidos.
• Dos efeitos da auditoria sobre o funcionamento do SGA.
• Das possibilidades de cuidados com os processos em não-conformidade com normas
ou parâmetros legais.

70 • capítulo 3
Tente refletir também sobre como esses elementos acima listados estão relacionados
entre si. Nesse caso, é importante pensarmos no conceito de melhoria contínua, inerente ao
SGA segundo a Norma. Assim, devemos atentar para a necessidade de que haja real com-
prometimento da alta administração, bem como dos demais envolvidos, para que as práticas
de gestão ambiental da organização mantenham-se em melhoria contínua real. Sem isso, o
conceito de Sustentabilidade fica mais afastado da realidade empresarial.

LEITURA RECOMENDADA
Livro: Sistemas de Gestão Ambiental (SGA-ISO 14001): Melhoria Contínua e Produção mais
Limpa na prática e experiência de 24 empresas brasileiras. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
O livro foi escrito pela autora Mari Elizabete Bernardini Seiffert, a mesma autora de um dos
livros utilizados por nós. O tema é complementar ao que trabalhamos neste capítulo. A autora
busca apresentar uma relação dos SGA com os conceitos de Melhoria Contínua e Produção
mais Limpa. Depois de realizar seus estudos, você já estará preparado para melhor absorver
novos conteúdos por meio desse livro. A leitura fluirá melhor e você terá acesso a uma aborda-
gem mais aprofundada e especializada do tema.
A publicação apresenta resultados de uma pesquisa realizada com 24 organizações, loca-
lizadas em cinco estad2os do Sudeste e Sul do Brasil, por meio da aplicação de questionário
e realização de entrevista com o coordenador do sistema de gestão da empresa. Além disso, o
texto argumenta sobre como o investimento em aprimoramento do desempenho ambiental pode
significar, além de benefícios socioambientais generalizados, uma possibilidade de geração de
valor econômico-financeiro à organização e seus investidores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PHILIPPI JR., A. AGUIAR, A. de O. e. Auditoria Ambiental. In: PHILIPPI JR., A.; ROMÉRO, M.
de A.; BRUNA, G.C. (ed). Curso de gestão ambiental. Barueri: Ed. Manole, 2004.

JABBOUR, C.J.C.; OLIVEIRA, S.V.W.B. de; CASTRO, R. de. Cultura Organizacional, Inovação
e Gestão Ambiental: integrando conceitos para a edificação de organizações sustentáveis.
Revista de Engenharia e Tecnologia. v. 3, n. 3, 2011. Disponível em: <http://www.revis-
taret.com.br/ojs-2.2.3/index.php/ret/article/view/74>. Acesso em: 25 ago. 2014.

capítulo 3 • 71
SEIFFERT, M. E. B. ISO 14001 Sistemas de Gestão Ambiental: Implantação objetiva e
econômica. 4 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011.

UOL-MICHAELIS. Dicionário Online – Dicionário Michaelis – UOL. 2014. Disponível


em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 30 ago. 2014.

VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6 ed. São Paulo: Editora Senac, 2006.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo, você verá um dos procedimentos relacionados ao Sistema de Gestão
Ambiental, mas que ocorre em geral após os resultados alcançados a partir do sistema. Trata-
se da Rotulagem Ambiental, algo que não necessariamente ocorre com a certificação, mas
que muito contribui para o processo de comunicação com o público externo, principalmente
os clientes. Com a rotulagem ambiental, poderemos ter uma compreensão mais ampla dos
resultados possíveis alcançados a partir do SGA. Nesse caso, os resultados serão mais de
ordem econômica, com geração de valor econômico à organização. Bons estudos!

72 • capítulo 3
4
Rotulagem e selos
ambientais
4  Rotulagem e selos ambientais
No quarto capítulo veremos um dos procedimentos relacionados ao Sistema de
Gestão Ambiental que representam uma ferramenta situada em elo posterior na
cadeia de processos de negócios da empresa. Ocorre, assim, após os resultados
alcançados a partir do sistema. Trata-se da Rotulagem Ambiental, que não ocorre
obrigatoriamente após a certificação, mas que muito contribui para o processo
de comunicação com o público externo, principalmente os clientes. Com a ro-
tulagem ambiental, e os selos ambientais, os clientes podem ter uma compre-
ensão mais facilitada dos resultados possíveis alcançados a partir do SGA. Para
a empresa, o uso da rotulagem ambiental deve representar resultados de ordem
econômica, com geração de valor econômico à organização. Vamos aos estudos!

OBJETIVOS
•  Compreender e conceituar Rotulagem Ambiental e selos ambientais;
•  Identificar os objetivos da Rotulagem Ambiental;
•  Identificar os aspectos relacionados ao processo de Rotulagem Ambiental;
•  Compreender os impactos da Rotulagem Ambiental sobre os resultados econômicos da
empresa;
•  Compreender o papel da Rotulagem Ambiental e dos selos ambientais sobre a relação
entre empresa e consumidores.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter visto produtos com selos ambientais no supermercado? Ou conhece
algum produto rotulado segundo critérios ambientais? Que tipo de produto? Qual importân-
cia você dá para a existência desses selos ou rótulos ambientais, como aqueles indicativos de
alimentos orgânicos ou agroecológicos, ou de outras contribuições ambientais? A importân-
cia deste capítulo será grande, para compreendermos melhor as maneiras de se comunicar
com credibilidade as conquistas alcançadas nas questões ambientais, com o auxílio do SGA.
O estudo será importante tanto para a sua atuação profissional, como para a compreensão
de um tema ligado ao consumo consciente!

74 • capítulo 4
4.1  Rotulagem ambiental

Buscaremos compreender neste tópico quais são os elementos conceituais re-


lacionados à Rotulagem Ambiental, qual sua definição, seu propósito, como os
selos ambientais se relacionam com o tema, bem como buscaremos compreen-
der a relação desse tema com os Sistemas de Gestão Ambiental. Veremos ain-
da as normas ISO relacionadas à Rotulagem Ambiental e como a padronização
pode ajudar em sua credibilidade.

4.1.1  Consumo consciente e Marketing Verde

O tema do consumo consciente deve ser recorrente quando lidamos com a ro-
tulagem ambiental. Quando consumimos, deve ficar claro que há uma relação
direta entre os impactos causados pelo produto consumido e nossa responsa-
bilidade sobre o tema ambiental.
Podemos ainda relacionar o “Marketing Verde” aos conceitos de rotulagem
e selos ambientais. Marketing Verde pode ser compreendido como o conjunto
dos processos de Marketing realizados levando-se em consideração a variável
ambiental-ecológica mais do que no Marketing tradicional, como resposta ao
processo de desenvolvimento da consciência ambiental na população (DIAS,
2011). Essa consciência ambiental leva os consumidores, em diferentes níveis
de exigência, a buscar produtos que estejam em conformidade com suas con-
cepções de Sustentabilidade e adequação socioambiental. Essas concepções
são resultado do grau de compreensão dos indivíduos a respeito do tema, de
modo que podemos esperar diferentes graus de compreensão e, por consequ-
ência, diferentes níveis de consciência ambiental.
A partir da consolidação do Marketing Verde na organização, espera-se
que haja uma diversificação de enfoques, que passam a considerar, ao lado do
cliente, também as demais partes interessadas, como sociedade de entorno,
ONGs, governo etc. (DIAS, 2011). Isso deve significar que não apenas a satis-
fação imediata das pessoas posicionadas como clientes da organização será
considerada, mas os benefícios e malefícios relacionados a outras pessoas, que
são, em razão disso, partes interessadas no bom desenvolvimento dos proces-
sos daquela organização.

capítulo 4 • 75
O Marketing Verde traz consigo uma diversidade de termos e elementos
obscuros, de difícil compreensão do público em geral e causadores de divergên-
cia e contradições na compreensão do conceito. Um de seus pontos de maior
destaque nesse sentido é o “preço ecológico” (DIAS, 2011, p. 166), que deve ser
elaborado levando-se em consideração os aspectos ambientais relacionados ao
produto e à organização. Nesse sentido, um produto vendido a um “preço eco-
lógico” seria aquele que leva em consideração custos ambientais – e mesmo so-
ciais, caso queiramos expandir o conceito – e comunica ao cliente quais custos
foram internalizados. O problema aqui é que muitos custos socioambientais
não são conhecidos ou ainda são externalidades – aspectos não considerados
pela organização, mas que causam efeito positivo ou negativo em terceiros.
Além disso, uma diferença fundamental entre rotulagem ambiental e
Marketing Verde refere-se ao fato de que na rotulagem alguns critérios obje-
tivos e pré-estabelecidos devem ser seguidos, e o foco não é unicamente a pro-
moção do produto e seu posicionamento perante o cliente (SIQUEIRA, 2010).
Ainda segundo a autora, os dois conceitos são diferentes, pois a rotulagem am-
biental permite compreensão mais clara dos critérios, enquanto que o marke-
ting verde frequentemente apresenta “excessos publicitários [...] cuja mistura
de informações necessárias e promocionais podem confundir o consumidor,
ou mesmo salientar vantagens [...] não certificadas” (p.6).

CONCEITO
O tema do Marketing Verde e Greenwashing deve atrair mais atenção dos consumidores e
das organizações de proteção e defesa aos consumidores que, preocupados com o aumento
das comunicações de atributos ambientais, têm tentado divulgar informações que auxiliem
os consumidores. Há diferentes iniciativas nesse sentido, que podem ser interpretadas como
uma reação de ceticismo por parte da sociedade, frente ao excesso de comunicação ligada
ao tema da Sustentabilidade. Já vimos anteriormente as contradições ligadas ao fenômeno.
A Associação Proteste elaborou um material analisando o assunto, de fácil compreensão e
de grande ajuda aos consumidores. Para ver um pouco mais sobre a questão da maquiagem
verde, acesse o link:<http://www.proteste.org.br/dinheiro/nc/noticia/greenwashing>.

Não entraremos em análise aprofundada dos temas relacionados ao Marke-


ting Verde. O que foi conceituado e trabalhado acima teve objetivo de ilustrar a
complexidade do tema e auxiliá-lo no processo de análise crítica das questões

76 • capítulo 4
relacionadas. O ponto de conexão mais importante do Marketing Verde com a
rotulagem e selos ambientais é a comunicação, como parte componente do mix
desse tipo de Marketing.
Na comunicação, portanto, os aspectos ambientais devem ser levados em
consideração de maneira adequada e honesta para que não se incorra em ma-
quiagem verde, ou greenwashing. Isso ocorre quando há, por exemplo, banaliza-
ção (ou uso incorreto) de palavras como “desenvolvimento sustentável” e “sus-
tentabilidade”, Relatórios de Responsabilidade Social Corporativa distorcidos
e que não atendem ao seu propósito de transparência do desempenho socio-
ambiental e financeiro, entre outros (MARTINI JUNIOR; SILVA; MATTOS, 2012).
Antes de começarmos a refletir sobre como a rotulagem e os selos ambien-
tais podem auxiliar na comunicação séria dentro do Marketing Verde, vamos
entender um pouco mais sobre o que significam esses dois conceitos.

4.1.2  Conceito

O tema que trataremos adiante está inicialmente relacionado ao uso de rótulos


nos produtos, ao conceito de rótulo e suas possibilidades. A palavra rótulo vem
do latim rotulu, que denominava os rolos de pergaminho usados pelos copistas
para escrever (UOL-MICHAELIS, 2014). Atualmente, o mesmo dicionário indi-
ca que rótulo é um pequeno impresso de formato variável, que serve para colar
em frascos, garrafas, latas, caixas etc., para indicar seu conteúdo.
A partir disso, podemos entender rotulagem ambiental como um mecanismo
ou procedimento de comunicação com os consumidores sobre os aspectos am-
bientais do produto ou serviço, em geral apresentando suas características be-
néficas, com propósito de diferenciá-lo da concorrência (BARRETO et al., 2007).
Segundo a ABRE (Associação Brasileira de Embalagem), a rotulagem am-
biental é uma ferramenta de comunicação cujo propósito é aumentar o interes-
se dos consumidores por produtos de menor impacto, de maneira a possibilitar
a melhoria ambiental contínua orientada pelo mercado (ABRE, 2012). A questão
da orientação pela qual ocorrem as melhorias ambientais envolve, por si, uma
série de reflexões necessárias. Você consegue pensar em algumas delas?
Imagine, por exemplo, se o consumo continuar em constante aumento.
Ainda que os critérios para comunicação de aspectos ambientais estejam nor-
malizados, isso não significaria redução do impacto ambiental total, quando a
exploração de recursos naturais continuar crescente. Além disso, podemos in-
ferir ou imaginar que se a população se limitar a exercer sua responsabilidade

capítulo 4 • 77
pela questão ambiental apenas por meio do consumo, não venha a assumir a
responsabilidade total. Isso implicaria outros riscos de insustentabilidade, em
razão da manutenção do impacto atual.
Mas, veja, essas são reflexões sobre o tema! Se os programas de Educação
Ambiental têm sucesso em transmitir a conscientização ambiental, bem como
transformar padrões de consumo e modos de vida, então teremos a Rotulagem
Ambiental como uma ferramenta que refletirá a melhoria contínua buscada
pelas organizações. Você concorda? Quando pensa a respeito, surgem outras
possibilidades em suas análises? Esse processo é fundamental para desenvol-
vermos uma análise crítica sobre o tema!
Ainda segundo a ABRE (2012), esse tipo de rotulagem implica em um dife-
rencial. Em razão disso mesmo, deve ser usado com ética e transparência para
não confundir, iludir ou ainda distorcer conceitos sobre preservação ambiental
aliada à sustentabilidade. Um objetivo da rotulagem ambiental é, portanto, es-
timular a demanda por produtos com menor impacto ambiental, promovendo
educação e desenvolvimento sustentável.
Surge então uma série de aspectos que devem ser considerados para que o
rótulo seja corretamente elaborado a fim de comunicar aspectos ambientais
adequadamente. É incorreto rotular produtos ou embalagens com mensagens
vagas, sem que os dados apresentados possam ser comprovados ou ainda com
aspectos irrelevantes frente ao impacto total da cadeia (ABRE, 2012).
De maneira geral, já compreendemos sobre os conceitos iniciais da Rotu-
lagem Ambiental. Há diversas normalizações relacionadas aos aspectos am-
bientais a serem comunicados nos rótulos e embalagens. As questões ligadas à
reciclagem, por exemplo, devem ser compreendidas no rótulo ou embalagem
e estão dentro dos aspectos ambientais relacionados. Dessa maneira, subme-
tem-se a normas específicas.

4.1.3  Classificação dos programas

É importante condensarmos os diversos aspectos envolvidos na conceituação


de rotulagem ambiental, a fim de que possamos compreendê-la como o me-
canismo de divulgação de aspectos ambientais benéficos, como maneira de
buscar ampliar o mercado consumidor. Dentro do tema, há ainda três tipos
de rotulagem ambiental propostos pela norma série ISO 14000 (BARRETO et
al., 2007), quais sejam:

78 • capítulo 4
1.  Rotulagem Tipo I: Aquela que se orienta pela norma NBR ISO 14024,
a qual relaciona os princípios e procedimentos para o desenvolvimen-
to de programas de rotulagem ambiental, incluindo: seleção de cate-
gorias, critérios ambientais e características funcionais dos produtos,
para avaliar e demonstrar sua conformidade. Relaciona também os
procedimentos de certificação para a concessão do rótulo;

2.  Rotulagem Tipo II: A que se orienta pela norma NBR ISO 14021, cujo
propósito é especificar os requisitos para auto-declarações ambientais,
o que inclui textos, símbolos e gráficos. Além disso, descreve termos
usados comumente em comunicações ambientais, bem como fornece
qualificações para seu uso. Apresenta uma metodologia de avaliação e
verificação geral para auto-declarações ambientais;

3.  Rotulagem Tipo III: Aquela embasada na norma NBR ISO 14025, que
informa sobre dados ambientais de produtos, classificados segundo
conjuntos de parâmetros selecionados previamente e fundamentados
na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). São rótulos concedidos e licencia-
dos por organizações externas independentes.

De maneira mais geral, os três tipos de classificação constam em material


produzido pelo CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem), em
parceria com a ABRE (CEMPRE, 2008, p.5), da seguinte maneira:
1.  Rotulagem Tipo I – Programas de Selo Verde.
2.  Rotulagem Tipo II – Auto-Declarações Ambientais.
3.  Rotulagem Tipo III – Inclui avaliações de Ciclo de Vida.

Percebemos com essas classificações que a rotulagem ambiental nem sem-


pre se refere às embalagens dos produtos, mas também a outras comunicações
a eles relacionadas. Além disso, percebe-se que há diferentes alternativas às
empresas no uso da rotulagem ambiental. Cada uma delas implica em meca-
nismos diferentes, características diferentes, que levaram à necessidade de es-
tabelecimento de normatizações distintas.

capítulo 4 • 79
CONCEITO
O CEMPRE, ou Compromisso Empresarial para Reciclagem é uma associação sem fins
lucrativos dedicada à promoção da reciclagem dentro do conceito de gerenciamento in-
tegrado do lixo. A associação foi fundada em 1992 e é mantida por empresas privadas
de diversos setores. O Cempre objetiva conscientizar a sociedade sobre a importância da
redução, reutilização e reciclagem de lixo por meio de publicações, pesquisas técnicas, se-
minários e bancos de dados. Os programas de conscientização são dirigidos principalmente
para formadores de opinião, tais como prefeitos, diretores de empresas, acadêmicos e orga-
nizações não-governamentais (ONG’s). O trabalho de gerenciamento integrado do lixo tem
bastante ligação com os Sistemas de Gestão Ambiental. Maior será o esforço por gestão
integrada do lixo e de outros aspectos ambientais, quanto mais organizações dentro de uma
cadeia de suprimentos ou região geográfica possuírem SGA baseado na Norma NBR ISO
14001:2004, ou seja, norteados pela melhoria contínua. Essas iniciativas, portanto, podem
ter importante papel quando associadas à melhoria contínua e consolidadas com participa-
ção maior do setor empresarial.

4.1.4  Rotulagem Tipo I - Selos Ambientais ou Selos Verdes

Alguns Selos Verdes têm reconhecimento internacional já consolidado e bus-


cam prover aos consumidores informações sobre aspectos ambientais dos pro-
dutos, segundo diferentes critérios e propósitos.
Alguns deles são:

•  Envionmental Choice - Ecologo: Originalmente fundado pelo governo


canadense, objetiva auxiliar consumidores a identificar produtos e servi-
ços que são menos danosos ao ambiente natural. Seu símbolo é bastante
característico e remete às suas origens canadenses: a folha símbolo da-
quele país está presente também no selo. O selo Environmental Choice
alcançou tamanha proporção que já possui mais de 7.000 produtos ou
serviços licenciados, de mais de 300 empresas diferentes. Há diferentes
categorias em que os produtos podem ser diferenciados.

80 • capítulo 4
E N TA L C
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REPRODUÇÃO/ ©TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.



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Figura 4 – Símbolo do selo Environmental Choice - Ecologo.


Fonte: Environemnt Canada. Link:<http://www.ec.gc.ca/p2/default.asp?lang=En&n=AD151361-1>.

•  Blue Angel: A certificação Blue Angel é alemã e uma das precursoras do


processo de certificação ambiental e busca de Sustentabilidade pela via
do consumo. Há mais de 10.000 produtos, em oitenta categorias diferen-
tes já certificados pelo Blue Angel.
.SODAVRESER SOTIERID SO SODOT© /OÃÇUDORPER

Figura 5 – Símbolo do selo Blue Angel.


Fonte: Wikipedia. Link: <http://en.wikipedia.org/wiki/Blue_Angel_(certification)>.

•  IBD Produtos de Limpeza: O selo IBD Ingredientes Naturais foi desen-


volvido pela IBD Certificadora, organização brasileira que é a maior cer-
tificadora da América Latina. Dentre outros pontos, o selo objetiva pro-
mover e garantir produtos de limpeza sem petroquímicos, com maior
uso de material renovável e biodegradável (IBD CERTIFICAÇÕES, 2014).

capítulo 4 • 81
REPRODUÇÃO/ ©TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.
Figura 6 – Símbolo do selo IBD para ingredientes naturais.
Fonte: IBD Certificações. Link:<http://ibd.com.br/pt/IngredienteNaturalIbd.aspx >.

A partir da melhor compreensão da rotulagem ambiental do tipo I, pode-


mos diferenciar de maneira mais clara o que pode ser considerado um selo am-
biental da rotulagem ambiental. Como vimos, os selos ambientais são parte do
conjunto de rotulagens ambientais possíveis. Esse é, então, um conceito mais
amplo, que abrange também aquelas comunicações realizadas por autodecla-
ração ou por certificação segundo critérios de Avaliação de Ciclo de Vida, se-
gundo normas e parâmetros específicos. Os selos ambientais também seguem
normas e parâmetros específicos, cada um desenvolvido para um propósito di-
ferente, com critérios distintos.

CONEXÃO
Você já se perguntou o impacto que a cadeia de suprimentos dos produtos domésticos de
limpeza pode causar? Conhece impactos reais causados por esses produtos, antes ou depois
do consumo? Levando-se em conta os impactos dos processos de fabricação industrial, a cer-
tificação de produtos de limpeza naturais biodegradáveis, como o “IBD Ingredientes Naturais”
pode ser peça fundamental na orientação a ser dada ao consumidor sobre a sua escolha de
consumo. Para saber mais, acesse: <http://ibd.com.br/pt/IngredienteNaturalIbd.aspx>.

4.1.5  Rotulagem Tipo II

As auto-declarações têm ganhado destaque no cenário brasileiro para embala-


gens em geral, consolidando-se como a melhor interface com o consumidor. A
apresentação de simbologias de identificação de materiais e de descarte seletivo

82 • capítulo 4
não são abrangidas pela rotulagem ambiental, já que seu objetivo é distinto da
rotulagem: enquanto as simbologias buscam facilitar e fortalecer os processos
de reciclagem, a rotulagem ambiental busca estimular a demanda por produtos
de menor impacto global (ABRE, 2012). Embora nem todos os símbolos estejam
normalizados, grande parte já está consolidada. Alguns símbolos são mais reco-
nhecidos pelo consumidor e são fruto de norma técnica específica (ABRE, 2012).
Como vimos anteriormente, a norma NBR ISO 14021:2004 é a que especifi-
ca quais são os requisitos para esse tipo de rotulagem, abrangendo textos, sím-
bolos ou gráficos.
Antes de elaborar uma auto-declaração ambiental, é importante que sejam
implantadas medidas de avaliação que sejam capazes de verificá-la por meio
de resultados confiáveis e reproduzíveis (ABRE, 2012). Ainda segundo a ABRE
(2012), esse tipo de avaliação deve ser registrado e retido, para que seja divulga-
do ou consultado futuramente, além de ser válido como informação de evidên-
cia do benefício divulgado, durante o período que o produto estiver no merca-
do. Veja que importante sabermos dessa informação. No caso de organizações
que seguem as especificações das normas NBR ISSO, série 14000, toda a au-
todeclaração ambiental deve ser verificável! Isso significa que as informações
necessárias à sua comprovação devem estar acessíveis.
Para que uma autodeclaração seja confiável, é importante que ela disponi-
bilize informações mínimas necessárias à verificação da veracidade do conteú-
do declarado. Assim, a ABRE (2012) sugere que no rótulo estejam disponíveis:

•  Identificação da norma ou método utilizado. É importante que seja uma


norma internacional reconhecida, que tenha aceitação, ou um método
da indústria/comércio revisado entre pares. Não basta desenvolver um
método sem parâmetros já reconhecidos.

•  Resultado dos ensaios ou evidência documental.

•  Dados da empresa de análise. Quando o serviço de ensaio ou teste for


contratado, inclusive com nome e endereço da empresa, com competên-
cia técnica comprovada.

•  Evidência de que a declaração é precisa, não enganosa. Deve ser funda-


mentada, verificável e relevante. Não basta que implique um avanço in-
significante para a cadeia como um todo.

capítulo 4 • 83
•  Quando se tratar de comparação com outros produtos, é necessário que
também sejam declarados o método utilizado e os resultados alcança-
dos com os dois (ou mais) produtos.

•  Comprovação de que a avaliação realizada fornece garantia quanto à exa-


tidão da autodeclaração, considerando a vida útil do produto, o período
em que ele está no mercado e o período posterior razoável.

Você pode estar se perguntando se é mesmo viável a apresentação de todas


essas informações no rótulo dos produtos. No entanto, a própria ABRE (2012)
orienta que as informações podem ser disponibilizadas em página da internet,
com endereço indicado no rótulo, ou ainda pelo atendimento via SAC (serviço de
atendimento ao consumidor). É importante compreender ainda que quanto mais
fácil for o acesso a tais informações, maior será a credibilidade da autodeclaração.

4.1.6  Rotulagem Tipo III

Conforme já vimos anteriormente, para que um produto receba rotulagem do


tipo III, necessariamente deve haver o acompanhamento, análise e aval de uma
organização externa à empresa fabricante do produto. Deve haver, portanto,
como uma licença de uso daquele rótulo para o produto. Essa licença surge
após a organização externa e independente, outra empresa especializada, por
exemplo, realizar as análises, elaborar a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), e, por
fim, chegar aos resultados comparados de economia de recursos, energia etc.
Para compreendermos como se dá a rotulagem tipo III, é importante ter-
mos uma visão geral da ferramenta ACV, utilizada nesse tipo de rotulagem. É
possível que você já conheça ou ainda vá estudar de maneira aprofundada essa
importante ferramenta da Gestão Ambiental. Lembre-se: faz parte dos estudos
esse “ir e vir”, necessário à melhor compreensão e à maior associação entre um
conhecimento e outro. Além disso, a ACV pode ser aplicada a inúmeras outras
ferramentas da Gestão Ambiental Empresarial. De fato, os dados obtidos nesse
tipo de análise são úteis já a diversas aplicações. Sua complexidade faz com que
muitas empresas optem por limitar o escopo, ou seja, diminuir o número de va-
riáveis e elementos considerados. No artigo de Hinz, Valentina e Franco (2006)
encontramos uma boa definição, baseada em outros trabalhos e na síntese dos
próprios autores (p. 92, grifos meus):

84 • capítulo 4
A ACV surgiu da necessidade de se estabelecer uma metodologia que facilitasse a
análise e os impactos ambientais entre as atividades de uma empresa, incluindo seus
produtos e processos. [...] Pela SETAC (Society of Envirommental Toxicology and Che-
mistry), a avaliação do ciclo de vida é um processo objetivo de avaliar as cargas ambien-
tais associadas com um produto, processo ou atividade através da identificação, quan-
tificação e avaliação de impactos quanto ao uso de energia e matéria e de emissões
ambientais, e a determinação de oportunidades de melhorias ambientais. A avaliação
inclui todo o ciclo de vida do produto, processo ou atividade, envolvendo extração e
processamento de matérias-primas; fabricação, transporte, e distribuição; uso/reuso/
manutenção; reciclagem; e disposição final (Duarte, 1997) .

Um dos objetivos mais importantes da ACV é estabelecer uma lógica sis-


temática confiável e replicável, para permitir a decisão mais adequada entre
várias atividades. Será a melhor decisão aquela que tiver menor impacto am-
biental. A partir dessa metodologia pode-se verificar que a prevenção à poluição
se torna mais racional, econômica e efetiva do que uma ação na direção dos
efeitos gerados (HINZ; VALENTINA; FRANCO, 2006). Ainda segundo os auto-
res, a norma ISO 14040:2001 buscou padronizar internacionalmente a defini-
ção de ACV, que passou a ser considerada como a compilação e avaliação de
entradas, saídas e impactos ambientais potenciais de um sistema produtivo ao
longo de seu ciclo de vida, partindo da aquisição da matéria-prima ou geração
de recursos naturais até a disposição final. A mesma norma divide a ACV em
quatro etapas: definição de objetivo e escopo; análise do inventário; avaliação
de impacto; e interpretação dos dados e resultados.
A partir do estabelecimento da norma NBR ISO 14040:2001 é que foi possí-
vel o desenvolvimento da norma NBR ISO 14025:2006, cujo propósito é orientar
a rotulagem que siga critérios de ACV. O enfoque maior dessa norma é para as
relações entre empresas, entre elos na cadeia de suprimentos que não envol-
vam ainda o consumidor final, ou B2B (Business to business). Isso decorre ainda
do fato de que essa norma envolve maior grau de complexidade, por abranger a
ACV como critério de concessão da certificação.

4.1.6.1  Relação entre Rotulagem Ambiental e SGA


Analisamos diversos aspectos relacionados à Rotulagem Ambiental, de modo
que a partir de agora é relevante compreendermos a relação entre essa ferra-
menta e os Sistemas de Gestão Ambiental. Uma primeira relação imediata de-

capítulo 4 • 85
corre do fato de que ambos são componentes das práticas de Gestão Ambien-
tal. Portanto, quando lidamos com os conceitos fundamentadores da Gestão
Ambiental, podemos alinhá-los também ao tema atual, por consequência.
Além dessa relação conceitual, há ainda outra, que podemos associar à pri-
meira: as normas da série ISO 14000 contemplam tanto a implantação de um
SGA como os aspectos da rotulagem ambiental. Isso não acontece por acaso:
são temas diretamente relacionados às práticas empresariais ligadas ao concei-
to da sustentabilidade. No tocante aos aspectos ambientais, o SGA contempla
principalmente os processos da organização, enquanto a Rotulagem Ambien-
tal está mais ligada aos produtos. Tibor e Feldman (19963 , apud POMBO; MA-
GRINI, 2008) propõem uma representação gráfica dessa distinção entre as duas
abrangências da série ISO 14000:

Gestão ambiental
ISO 14000

Avaliação de
SIGA
Ciclo de vida

Avaliação de Auditoria Rotulagem Padronização


Desempenho ambiental ambiental de produtos
ambiental

Figura 7 – Orientação para produto ou processo nas normas ISO 14000.


Adaptado de Tibor e Feldman (apud POMBO; MAGRINI, 2008).

A figura 7 nos permite observar que há dois eixos principais na série ISO
14000. Para nossos estudos atuais, é importante compreender essa distinção e a
maneira como a Rotulagem Ambiental se relaciona com os SGA. A subordinação
da Rotulagem Ambiental à ACV limita seu conceito ao tipo III, de modo que não
se deve levar a figura em conta na análise da Rotulagem Ambienta, isoladamente.

86 • capítulo 4
Com esses elementos fica mais fácil compreender mais um ponto de relação
entre SGA e Rotulagem Ambiental. Para o desenvolvimento de qualquer produ-
to, faz-se necessário que processos estejam organizados e sejam realizados de
maneira adequada. Quando incluímos os aspectos ambientais na sua relevância
para planejamento desses processos e produtos, passamos a levar em conta es-
sas duas ferramentas da Gestão Ambiental. Em poucas palavras, com processos
bem organizados e pensados segundo um SGA, a organização poderá desenvol-
ver produtos com conquistas em favor da redução de seus impactos ambientais,
de modo que poderá divulgar tais conquistas ao público, seguindo critérios e
padrões de divulgação mais exigentes, o que lhe confere credibilidade.
Além disso, a proposta de melhoria contínua que um SGA preconiza na or-
ganização pode implicar em conquistas permanentes e mais avançadas nas
questões ambientais, o que levaria ao desenvolvimento de produtos com ape-
lo ambiental maior, cujos processos de rotulagem poderiam atender critérios
mais avançados, cumprindo um ciclo virtuoso de aprimoramento dessa ques-
tão na organização. De fato, para que isso ocorra é necessário o esforço da orga-
nização e a demanda por produtos cujo apelo ambiental seja divulgado de ma-
neira mais séria e criteriosa. Decorre disso algumas possibilidades de reflexão,
que serão mais bem trabalhadas no capítulo V.

4.2  Integração com a cadeia, rotulagem ambiental e avaliação de


ciclo de vida

Já vimos que um dos problemas relacionados à maquiagem verde de produtos


decorre da comunicação dos aspectos ambientais entendidos como positivos,
mas que não consideram os impactos negativos da cadeia como um todo. Quan-
do isso ocorre, a empresa divulga alguma redução de consumo de energia, por
exemplo, mas não considera todos os impactos ligados aos demais elos de sua
cadeia de suprimentos, tampouco emprega esforços em selecionar melhores
fornecedores e parceiros comerciais.
A questão da cadeia de suprimentos está intimamente ligada à Avaliação de
Ciclo de Vida do produto, ou ACV. Esse tipo de avaliação busca levantar os im-
pactos ambientais de determinado produto, levando-se em consideração todo
o ciclo de vida, ou seja, desde a retirada da matéria-prima até o descarte final.
Para o caso das pequenas e médias empresas brasileiras, Barreto e colabo-
radores (2007) apontam que elas necessitam não somente de uma integração

capítulo 4 • 87
verticalizada dentro de suas estruturas, mas também a integração com a cadeia
produtiva, o que envolve fornecedores, distribuidores e clientes. Em compen-
sação, elas não enfrentam problemas significativos de conformidade com as
normas de rotulagem ambiental, tal qual ocorre com as grandes corporações.
Em relação às potencialidades da rotulagem tipo III, embasada na norma
NBR ISO 14025:2006, destaca-se o fato de que passa a ser possível uma gestão
integrada dos aspectos ambientais na cadeia de suprimentos. Imagine deter-
minado setor e região geográfica, que abrangem uma cadeia de suprimentos
específica. Por exemplo, a indústria moveleira. Nesse caso, maiores serão as
conquistas de redução de impactos ambientais quanto mais houver esforços
conjuntos entre os elos dessa cadeia, no sentido de buscar a certificação da
norma, o que envolveria ainda a realização de estudos de ACV. Assim, o maior
embasamento pelo estudo de impacto, ao lado da gestão integrada na cadeia,
poderiam permitir ações mais efetivas, econômicas e rápidas.

ATIVIDADE
1. Defina Rotulagem Ambiental e dê alguns exemplos que você tenha visto.

2. Explique sucintamente a relação entre Marketing Verde e Rotulagem Ambiental.

3. Quais são os tipos de rotulagem ambiental? Defina sucintamente cada um deles. Dife-
rencie selos ambientais de Rotulagem Ambiental.

4. Aponte alguns elementos que devem constar em rótulos de autodeclarações ambien-


tais, para que sejam mais confiáveis.

5. Analise e aborde como os Sistemas de Gestão Ambiental podem ajudar na consolida-


ção de rótulos ambientais nas organizações.

6. Descreva sucintamente a relação entre a gestão da cadeia de suprimentos, o uso de


rotulagem ambiental e de sistemas de gestão ambiental.

88 • capítulo 4
REFLEXÃO
Como vimos, o consumo consciente é um dos aspectos mais ligados ao tema da rotulagem
ambiental. No entanto, é importante que se compreenda alguns contrapontos e análises
críticas ao que é concebido como consumo consciente, ou outras denominações utilizadas.
Portilho (2003) afirma que a questão do impacto ambiental do consumo foi inicialmente
entendida dentro da noção do “consumo verde”, algo que passou a ser denominado também
como “consumo sustentável”, além de outras denominações que tendem a confundir sobre
a real definição.
A pesquisadora aponta ainda que até a década de 80 o setor empresarial era visto como
inimigo, quando, a partir da maior atenção recebida por parte do público comum, passa a
ocorrer esforços pelo inverso. Isso significa que o setor empresarial passa a buscar associar
sua imagem à de “amigos do verde”. Até então, a ideia de preservar o ambiente natural era
vista como gastos sem retorno, que reduziam a competitividade da empresa. A partir da
pressão das pessoas e do acirramento dos debates a respeito, as empresas passam a tentar
se apropriar do discurso sustentável, de modo a beneficiarem-se da preocupação crescente
sobre o tema.
No entanto, o processo histórico de desenvolvimento dos debates a respeito da Susten-
tabilidade não se dá de forma unilateral. Desse modo, conforme afirma Viola (1992, apud
PORTILHO, 2003), a inclusão dos setores econômicos nos debates e preocupações sobre
a crise ambiental leva a uma alteração característica do movimento ambientalista, que passa
a ser, então, “complexo-multisetorial”. Perceba que, de uma maneira ou de outra, as respon-
sabilidades dos setores econômicos, ou das empresas, não pode ser descartada e deve
ser levada em conta nos debates e estudos da questão ambiental. Isso significa, ainda, que
embora tenhamos perspectivas distintas sobre a real contribuição das empresas, não se deve
deixar de considerar que a responsabilidade delas é grande e alguns esforços podem ser
vistos como iniciativas de sucesso.
Há ainda a questão do ritmo em que os recursos naturais são consumidos, o que implica
saber o ritmo em que a crise ambiental se torna real. Nesse ponto, conforme já vimos, alguns
dos esforços empresariais podem ser vistos como iniciativas que reduzem o impacto, mas
que não necessariamente podem ser interpretados como suficientes. A parir daí, implica
também pensarmos na necessidade de maior comprometimento da alta administração das
empresas para que o SGA seja um mecanismo viabilizador de resultados ambientais mais
ambiciosos (o que implica menor impacto ambiental). Além disso, implica, por fim, pensarmos
no tema da Rotulagem Ambiental como outro aspecto da sustentabilidade empresarial que
pode precisar de uma postura mais ambiciosa, a fim de que consiga resultados suficiente-

capítulo 4 • 89
mente positivos nos esforços por redução do impacto ambiental. E você, a quais reflexões o
texto deste capítulo o leva? Pense a respeito!

LEITURA RECOMENDADA
Artigo: Rotulagem Ambiental: O Caso Do Setor Cosmético. Disponível em: <http://goo.gl/
VrU7WF>. Acesso em: 05 set. 2014.
Essa é uma boa opção de artigo para quem quer ler mais a respeito da rotulagem am-
biental, em um contexto mais aplicado. O trabalho foi escrito por Érika Nakahira e Gerson
Araújo de Medeiros. Trata-se de um artigo que auxiliará o leitor a ter uma visão geral de
alguns tópicos importantes ao estudo realizado. Os autores analisam, posteriormente, os pro-
cedimentos de rotulagem ambiental de um caso específico, apontando aspectos positivos e
ainda carentes de avanço no caso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE EMBALAGEM – ABRE. Diretrizes de Rotulagem Ambiental
para Embalagens, 2 ed. 2012. Disponível em: <http://www.abre.org.br/wp-content/uplo-
ads/2012/07/cartilha_rotulagem.pdf>. Acesso em: 2 set. 2014.

COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM. A Rotulagem Ambiental apli-


cada às embalagens, 2008. Disponível em: <http://goo.gl/gO4zfk>. Acesso em: 2 set.
2014.

BARRETO, A.P.L.; et al. Ciclo de Vida dos Produtos: Certificação e Rotulagem Ambiental. In.:
XXVII Encontro Nacional De Engenharia De Produção. Foz do Iguaçu, PR, Brasil,
09-11 out., 2007.

HINZ, R.T.P.; VALENTINA, L.V.D.; FRANCO, A.C. Sustentabilidade ambiental das organiza-
ções através da produção mais limpa ou pela Avaliação do Ciclo de Vida. Estudos tecno-
lógicos. v.2, n.2. p.91-98, 2006.

IBD CERTIFICAÇÕES. Certificações e aprovações diversas / Ingredientes Naturais


IBD. 2014. Disponível em: < http://ibd.com.br/pt/IngredienteNaturalIbd.aspx>. Acesso em:
04 set. 2014.

90 • capítulo 4
MARTINI JUNIOR, L.C. de; SILVA, E.R. da; MATTOS, U.A. de O. Análise Da Maquiagem Ver-
de (GREENWASHING) Na Transparência Empresarial. In.: XXXII Encontro Nacional De
Engenharia De Produção. Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15-18 out., 2012.

PORTILHO, Fátima. O discurso internacional sobre o consumo sustentável: possi-


bilidades de ambientação e politização da esfera privada. Tese (Doutorado) Universidade de
Campinas, São Paulo, 2003.150p.

SIQUEIRA, R.R. Série ISO 14.000: Um Olhar Sobre a Importância da Rotulagem Ambiental.
In.: Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação (CONNEPI), 2010. Disponível em:
<http://goo.gl/4IXx7Y>. Acesso em: 05 set. 2014.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
Até agora vimos de maneira geral os aspectos mais relevantes ligados aos Sistemas de Ges-
tão Ambiental, alguns de seus conceitos fundamentadores e seus desdobramentos. Quando
analisamos nos capítulos anteriores temas como Auditoria Ambiental e Rotulagem Ambien-
tal, tivemos uma perspectiva de temas diretamente relacionados aos SGA. No próximo e
último capítulo, teremos a oportunidade de analisar mais a fundo alguns aspectos relevantes
do SGA. Dessa vez, buscaremos resgatar todas as reflexões e análises críticas já realizadas,
para aprofundá-las e compreender melhor o papel desses sistemas, tanto para as organi-
zações como para a sociedade e o ambiente natural, de forma mais ampla. Serão reflexões
importantes para fechamento do conteúdo visto. Vamos lá?

capítulo 4 • 91
5
Sistemas de
gestão ambiental
empresarial
5  Sistemas de gestão ambiental empresarial
Depois de vermos alguns aspectos da teoria e implantação na prática, relaciona-
dos aos Sistemas de Gestão Ambiental, torna-se importante analisarmos agora
algumas experiências reais, bem como aprofundarmos algumas análises críti-
cas que foram feitas ao longo dos capítulos anteriores. Ainda em complemento
ao que já estudamos, você verá a importância dos indicadores de desempenho
ambiental como auxílio ao sucesso do SGA. Você observará que a busca por in-
tegração nas cadeias de suprimento com auxílio do SGA é um fator importante
e ainda necessita de algumas conquistas. Além disso, você deverá terminar o
último capítulo do livro capaz de compreender o tema segundo uma visão críti-
ca da aplicação e do impacto do SGA, tanto dentro da empresa como fora dela.
Realize as leituras do capítulo V se esforçando para desenvolver ponderações,
confirmações ou contra-argumentos àquilo que já vimos. Bons estudos!

OBJETIVOS
•  Compreender o que são indicadores de desempenho ambiental;
•  Aprofundar o estudo das questões do crescimento empresarial sustentável e da relação da
empresa com o ambiente natural;
•  Analisar os recursos importantes à implantação do SGA;
•  Ilustrar a implantação com casos práticos e reais.

REFLEXÃO
Você se lembra de ter visto algo a respeito de indicadores de desempenho ambiental, fora de
nossos estudos? E algum caso real de sucesso na implantação do SGA? Se conhece algum
caso, em qual setor de atuação ele se encontra? Todas essas questões são importantes para
assimilarmos melhor o que já vimos a respeito dos Sistemas de Gestão Ambiental. Quando
analisamos os indicadores de desempenho ambiental, podemos ter uma compreensão me-
lhor de quanto determinada organização está avançada em seus esforços por diminuir os
impactos ambientais que causa, ou aos quais está relacionada. A partir disso, poderemos ver
casos práticos que envolvem não só a implantação do SGA, mas também diversos outros as-
pectos relacionados aos conceitos que vimos. Não poderia ser diferente: quando observamos

94 • capítulo 5
esforços por trazer à realidade as ideias desenvolvidas e discutidas em etapas anteriores, ve-
mos que há uma diversidade de fatores envolvidos, o que nos auxilia a compreender melhor
a complexidade das ações.

5.1  Indicadores de desempenho ambiental

Antes de iniciarmos os estudos sobre os indicadores de desempenho ambiental,


é fundamental compreendermos melhor o que significa o termo indicador, para
então compreendermos, por consequência, o propósito daqueles indicadores
destinados a apresentar dados de desempenho ambiental. Observe o que defi-
nem Campos e Melo (2008, p.542), a partir do estudo que realizam sobre o tema:

[...] Pode-se dizer que os indicadores são ferramentas utilizadas para a organização
monitorar determinados processos (geralmente os denominados críticos) quanto ao
alcance ou não de uma meta ou padrão mínimo de desempenho estabelecido. Visando
correções de possíveis desvios identificados a partir do acompanhamento de dados,
busca-se identificação das causas prováveis do não cumprimento de determinada meta
e propostas de ação para melhoria do processo. Estes dados ainda fornecem infor-
mações importantes para o planejamento e o gerenciamento dos processos, podendo
contribuir no processo de tomada de decisão.

Observe que os autores sugerem que uma contribuição dos indicadores é


permitir a compreensão de determinada situação real, a partir de dados quanti-
ficados, de modo a auxiliar a correção de procedimentos. Como veremos adian-
te, os indicadores de desempenho ambiental reforçam o que afirmam os auto-
res, quando sugerem que os dados contidos neles auxiliam o planejamento e
gerenciamento de processos. Sua finalidade não é apenas auxiliar na mudança
de procedimentos, mas também e antes disso, indicar com que sucesso se en-
contra a realidade em relação ao objetivo estabelecido (CAMPOS; MELO, 2008).
É importante ainda não confundir os conceitos de indicadores ambientais, de
desenvolvimento sustentável e de desempenho ambiental. Segundo propõe Lima4

4  LIMA, L. H. Contabilidade ambiental – avanços internacionais e atraso no Brasil. Anais do I Congresso Acadêmico
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro, FGV, Rio de Janeiro, 2004.

capítulo 5 • 95
(2004, apud CAMPOS; MELO, 2008), o primeiro tipo indica dados de componentes
de um ecossistema; o segundo indica dados referentes às diferentes dimensões
do desenvolvimento sustentável, bem como suas variações, como a dimensão
econômica, social, ambiental, cultural etc.; e, por fim, o terceiro indica o efeito de
determinado processo ou técnica sobre um ou mais aspectos ambientais.
Se os dados dos indicadores são quantificados e quantificáveis, em geral
apresentam-se, portanto, como valores monetários, estatísticos ou ainda valo-
res absolutos indicativos de quantidade de recursos naturais consumidos no
processo. Para cada tipo de indicador, portanto, os dados serão apresentados
segundo um propósito, mas, via de regra indicarão aspectos monetários ou
quantidades como massa, unidades consumidas, tonelada equivalente de car-
bono, número de pessoas afetadas, dentre outros.
Para auxiliar na elaboração e uso dos indicadores de desempenho ambien-
tal, especialmente em Sistemas de Gestão Ambiental, há a norma ISO 14031, no
Brasil apresentada pela norma NBR ISO 14031:2004 (CAMPOS; MELO, 2008).
Essa norma alinha-se à serie ISO 14.000 e está bastante ligada aos estudos que
desenvolvemos ao longo da apostila. Ainda segundo os autores, a norma em
questão distingue duas categorias de indicadores: o de condição ambiental e o
de desempenho ambiental, o qual, por sua vez, subdivide-se em indicadores de
desempenho gerencial e operacional.
Os estudos de Campos e Melo (2008) contribuem ainda por elencar os dife-
rentes indicadores gerenciais e operacionais da norma NBR ISO 14031:2004. A
partir dessa contribuição, eles podem ser visualizados conforme se apresenta
no quadro 5.1, a seguir:

GERENCIAIS OPERACIONAIS
Implementação de política e programas Materiais

Conformidade Energia

Desempenho financeiro Serviços de apoio às operações da organização

96 • capítulo 5
GERENCIAIS OPERACIONAIS
Instalações físicas e equipamentos

Fornecimento e distribuição

Relações com a comunidade Produtos

Serviços oferecidos pela organização

Resíduos e emissões

Quadro 5.1 – Divisão dos indicadores de desempenho ambiental em gerenciais e operacio-


nais na norma NBR ISO 14031:2004.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Campos e Melo (2008).

O quadro 5. auxilia na visualização dessa distinção, mas não deve-se consi-


derar que há contraposição entre o grupo de indicadores gerenciais e operacio-
nais apresentados na mesma linha. Ou seja, não há relação de oposição entre
os indicadores de relações com a comunidade e os indicadores operacionais de
instalações físicas e equipamentos, por exemplo.
Os indicadores do GRI (Global Reporting Initiative) buscam abranger as áre-
as mais críticas dos aspectos ambientais relacionados à atividade empresarial.
Para que se possa avaliar o desempenho ambiental de determinada organiza-
ção por meio de indicadores, é fundamental que os mesmos tenham abrangên-
cia e consolidação suficientes. Assim, o GRI busca fornecer tais características
nos indicadores que propõe, os quais devem ser aplicados à realidade da orga-
nização. O Manual de Indicadores Ambientais elaborado pela Federação das
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2008) contribui em nossos es-
tudos ao explorar as possibilidades dos indicadores GRI.
O modelo proposto pelo GRI apresenta diferentes perspectivas sobre as
quais devem ser elaborados os indicadores. Assim, os aspectos que devem ser
contemplados pelos indicadores são (FIRJAN, 2008): materiais; energia; água;
biodiversidade; emissões, efluentes e resíduos; produtos e serviços; conformi-
dade; transporte; geral. E então, você percebeu alguma semelhança entre os
aspectos relevantes no GRI e na norma ISO 14031:2004. Ambas as proposições

capítulo 5 • 97
estão relacionadas e são desenvolvidas sobre o mesmo enfoque, o que implica
nessas semelhanças.
Para compreendermos melhor como os indicadores podem ser desenvolvi-
dos e apresentados, vejamos abaixo no quadro 2 alguns exemplos ilustrativos
de indicadores alinhados aos diferentes aspectos propostos pelo GRI ou norma
NBR ISO 14031:2004.

UNIDADE DE
ASPECTO INDICADOR MEDIDA
Total de emissões diretas e indiretas de GEE. tonelada CO2eq

Emissões de substâncias destruidoras da


t, m3, l.
camada de ozônio.
EMISSÕES,
EFLUENTES Descarte total de água, por qualidade e des-
E RESÍDUOS tinação.
m3, l.

Quantidade total dos resíduos, por tipo e mé-


kg, t.
todo de disposição.

Materiais usados por peso e volume. kg, t, m3, l.

MATERIAIS Percentual dos materiais usados provenien-


%
tes de reciclagem.

Consumo de energia direto discriminado por


MWh, kWh.
fonte primária.

ENERGIA Reduções obtidas com iniciativas para forne-


cer produtos e serviços com baixo consumo MWh, kWh, %.
de energia.

Quadro 5.2 – Exemplos de indicadores ambientais. Elaborado pelo autor com base em FIR-
JAN (2008).

98 • capítulo 5
Pelo quadro é possível observar também algumas unidades de medida mais
comumente utilizadas nos indicadores apresentados. Observe que há diferen-
tes unidades usuais, o que dependerá das escolhas da própria organização. O
relevante, nesse ponto, é que se observe tal unidade de medida, a fim de se evi-
tar distorções na comparação com indicadores de outras organizações.
Além disso, os indicadores podem ser absolutos ou relativos, o que implica
em enfoques de análise distintos. Quando comparamos, por exemplo, a quan-
tidade de material utilizado como input no processo industrial, de modo a con-
frontar aquele que tem origem na reciclagem ou reutilização com aquele oriun-
do da exploração de matérias-primas, temos um indicador relativo. Assim o é
porque ele relaciona materiais de origem distinta.
Já quando observamos as emissões de gases poluentes sem compará-la com
outras emissões, apenas indicando o volume total por poluente, temos indica-
dores absolutos. Repare que qualquer indicador pode estar relacionado com
dados levantados em anos anteriores ou outras unidades fabris. Nesse caso, os
indicadores ficam relativizados. Isso dependerá da etapa de análise dos dados
em que se encontra o processo.

5.2  Crescimento empresarial sustentável

Algumas das mudanças mais necessárias para os próximos anos diz respeito
à internalização da Sustentabilidade como valor determinante na estratégia
empresarial e na elaboração dos processos dentro das empresas (DIAS, 2011).
Quando uma empresa ou pessoa internaliza determinado valor, isso significa
que ela passa a levá-lo em consideração, a conhecê-lo e considerá-lo como rele-
vante em seu processo de tomada de decisão. Note que isso não significa afir-
mar que a mudança de postura das empresas será suficiente para alcançarmos
uma sociedade sustentável.
Já vimos que a necessidade de reflexão e análise crítica das informações é
requisito básico para um aprendizado mais amplo, o que implica uma atuação
rumo à excelência. Para isso, vamos resgatar o que estudamos a respeito do de-
senvolvimento sustentável.
Lembra-se que vimos sobre o limite de recursos naturais, o papel da inter-
venção humana no ambiente e a relação disso com desastres ambientais? O
desenvolvimento sustentável, então, será o conceito básico à formulação de
iniciativas que buscavam e buscam mitigar, ou amenizar, os impactos da ação

capítulo 5 • 99
humana sobre o meio ambiente. Há também a questão do estilo de vida hege-
mônico, ou mais comum, pautado no consumismo-produtivismo. Vimos ainda
que ele dá força à ideia de crescimento linear de riquezas materiais como o va-
lor central das sociedades.
A partir disso, podemos refletir melhor a respeito do que pode ser com-
preendido como crescimento empresarial sustentável e já algumas limitações
para esse modelo de desenvolvimento. Lembre-se de que os recursos naturais
não são infinitos, que o planeta Terra tem limites estabelecidos e, portanto, a
ideia de crescimento contínuo das riquezas materiais traz consigo problemas
ligados aos gargalos naturais. Ainda que não saibamos quais são esses limites,
ou até onde eles chegam, podemos perceber sem dificuldade que a Terra pos-
sui recursos finitos e que, por isso, esses limites existem.
Para sabermos até que ponto o crescimento econômico é viável e por conse-
quência até que ponto o crescimento empresarial também o é, faz-se necessá-
rio levar em conta esses limites naturais. Mas, não só eles: também o tamanho
da cadeia de suprimentos, ou quantidade de participantes, o porte desses par-
ticipantes, o tamanho do mercado consumidor, as perspectivas de desenvolvi-
mento tecnológico e o comprometimento dos participantes da cadeia perante
o desenvolvimento sustentável, além de outros fatores.
Veja, portanto, que essa não é uma resposta simples. O assunto também
não está em pauta nas organizações atualmente, via de regra, pois não é possí-
vel na economia de mercado atual, tão competitiva, que uma organização opte
por não crescer quando há risco ambiental para tanto. Esse freio só ocorre por
meio de barreiras legais, políticas, por haver risco financeiro envolvido ou, por
fim, por pressão do mercado consumidor.

CONEXÃO
Os casos de pressão dos consumidores podem ser encontrados via internet, embora a lista
não seja ainda tão extensa. As pressões ocorrem segundo as mais diversas razões, em geral
relacionadas ao uso de materiais potencialmente tóxicos, com riscos à saúde humana, ou
a questões socioambientais diversas. Diante das diferenças de postura e amadurecimen-
to frente às questões ambientais, vemos que haveria espaço para o mercado consumidor
exercer bastante influência, fenômeno ainda em processo de desenvolvimento. No caso de
aspectos sociais, há um exemplo mais recente, que diz respeito à exploração do trabalho. Os
aspectos sociais e ambientais estão sempre diretamente relacionados.

100 • capítulo 5
Isso nos mostra que há uma limitação da ideia de considerar os limites de
crescimento empresarial no presente momento. Ao resgatarmos a compreen-
são do processo de esclarecimento e consideração das externalidades na or-
ganização, podemos imaginar que as externalidades decorrentes desse cres-
cimento serão mais reconhecidas quanto maior for a pressão externa. Você
concorda ou discorda? O que pensa a respeito desses argumentos sugeridos?
Qual a relação desse processo de reconhecimento de externalidades com
o SGA? Lembre-se que esses sistemas buscam melhoria contínua e frequen-
temente são implantados em razão da pressão externa, já que não são obriga-
tórios. Embora a legislação possa ser vista também como uma força externa à
organização, a implantação do SGA não se dá normalmente por essa via. Assim,
vemos que a disseminação do uso de SGA e sua integração entre os participan-
tes da cadeia são processos que devem acompanhar o avanço na compreensão
dos limites para a utilização de recursos naturais.

5.3  Demandas de mercado e compromisso com a qualidade


ambiental

Novamente neste tópico, teremos liberdade para realizar algumas reflexões,


com base em tudo que já vimos anteriormente. Finalizamos o tópico anterior
observando o possível papel das pressões externas sobre a internalização de be-
nefícios e prejuízos socioambientais. Uma das possíveis vias é a força do mer-
cado consumidor.
Podemos entender isso melhor quando consideramos que o mercado consu-
midor e a sociedade são basicamente o mesmo conjunto de pessoas, em papéis e
perspectivas de análise distintos. Sendo assim, terá maior poder de pressão uma
sociedade consciente dos prejuízos que sofre quando externalidades dos proces-
sos produtivos afetam o ambiental natural e a saúde humana. Mas, você deve já
ter imaginado como as sociedades são heterogêneas em relação ao nível de cons-
ciência dos cidadãos, não é mesmo?
Em razão dessa heterogeneidade, temos diferentes segmentos de mercado
se adaptando a diferentes níveis de pressão dos consumidores. Mas, de manei-
ra geral, a influência ainda não gerou os resultados necessários no avanço das
questões socioambientais. O consumidor tende a levar em conta seus interes-
ses econômicos no processo de compra, mais do que os demais aspectos envol-
vidos. Contribuirá para o processo, portanto, se os consumidores passarem a

capítulo 5 • 101
tomar decisões de compra com base em critérios mais amplos.
Resgate nesse ponto a questão da Educação Ambiental como via de desen-
volvimento da consciência ambiental, algo que vimos na unidade I. Num con-
texto de maior consciência ambiental, a força do mercado consumidor como
via de impulsionamento da postura ambientalmente comprometida nas ca-
deias de suprimento será mais percebida.
Por fim, o que acontece atualmente é uma carência grande de políticas de
Educação Ambiental que permitam às pessoas integrarem um mercado consu-
midor exigente. Isso implica em um risco na crença de que essa via é suficiente
para o desenvolvimento sustentável. Portanto, podemos perceber aí uma limi-
tação dos Sistemas de Gestão Ambiental, não como ferramenta de suporte à
gestão, mas como via única de alcance de uma sociedade sustentável. Veremos
mais a respeito em tópicos posteriores.

5.4  Recursos necessários ao SGA

Já vimos que uma das etapas de implantação do SGA na organização determina


que sejam estabelecidos os recursos utilizados pelo sistema e pelos processos
com ele relacionados. De modo geral, esses recursos estão relacionados a al-
guns fatores, dentre os quais pode-se citar o porte da organização, a natureza de
suas atividades, produtos e serviços, bem como o escopo do próprio sistema. Se
ele abrange apenas uma determinada parte da empresa, então seu escopo de-
verá abranger essa parte, especificamente, o que implicará em outros recursos
necessários à implantação do sistema.
Assim, faz parte do planejamento do SGA que sejam estabelecidos os recur-
sos necessários, ao lado do pessoal responsável por cada etapa de implantação e
operação. A infraestrutura organizacional, por exemplo, é um importante recurso
que deve ter sua disponibilização assegurada para o sucesso do sistema. Por in-
fraestrutura organizacional depreende-se uma série de outros recursos materiais
e humanos que devem estar empregados nos esforços ligados ao funcionamento
do sistema. Alguns deles são, por exemplo:

•  Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC): os SGA são sistemas


complexos, que envolvem uma série de processos e controles distintos.
Em razão disso e da necessidade de documentação ampla dos dados co-
letados, faz-se necessário que a organização possua ferramentas de TIC

102 • capítulo 5
para realização desses processos, a fim de que possam ser utilizadas pelos
responsáveis.

•  Instrumentos de medição: Quando a organização realiza processos de


transformação de insumos em produtos há, via de regra, a presença de re-
síduos e emissões que precisam ser verificadas com qualidade e precisão.
Em razão disso, os instrumentos de medição desses poluentes e emis-
sões devem estar satisfatoriamente disponibilizados aos responsáveis
(SEIFFERT, 2011).

•  Estrutura documental: Como vimos do capítulo II, faz parte do SGA um


subsistema de gestão documental. Isso envolve as ferramentas de TI,
mas também espaço físico adequado, bem como suporte interno ou ex-
terno na gestão desses documentos. O SGA gera uma grande quantidade
de documentos, que são importantes tanto para controle e tomada de
decisão, como para prestação de contas e realização de auditorias. Quan-
to melhor for o subsistema de gestão documental, melhores tendem a
ser os resultados do SGA (SEIFFERT, 2011).

•  Pessoal capacitado: Para o sucesso do SGA, é também necessário que


a organização disponha de pessoal capacitado. Isso envolve desde pro-
fissionais técnicos que estarão ligados ao acompanhamento e medição
dentro da operação, até auditores internos ligados a outros processos.
Como a amplitude do SGA depende de seu escopo, depreende-se que
também a demanda por pessoal capacitado dependerá do escopo.

•  Recursos financeiros: A implantação e operação de um SGA demanda,


entre outras coisas, a contratação de consultoria externa e de auditorias
para manter a certificação válida. Além disso, há uma série de outros gas-
tos relacionados, que devem estar previstos desde o início.

Outro elemento que não se caracteriza como recurso material ou financei-


ro, mas que tem bastante relevância no sucesso do SGA é a cultura ambiental
difundida na organização (DIAS, 2011). Alguns hábitos devem ser superados,
ao passo que outros, importantes para o desenvolvimento da consciência socio-

capítulo 5 • 103
ambiental, devem ser incentivados e assimilados pela organização.
Segundo Dias (2011), a cultura ambiental deve ser considerada como parte
constituinte da cultura organizacional, de modo que todos os hábitos, costu-
mes, conhecimento (ou mesmo o nível de conscientização) e grau de desen-
volvimento científico e industrial fazem parte desse componente. Segundo o
autor, isso significa dizer que (DIAS, 2011, p.111):

Em outras palavras, [a cultura ambiental] é um sistema de orientação coletivo em que


se estabelece um acordo no qual se interpreta o valor do meio ambiente e que, em
consequência, determina a atitude de cada um frente a ele. Deste modo, quanto maior a
importância dada ao valor “meio ambiente” para a empresa, mais forte será a sua cultura
ambiental; e a cultura organizacional terá uma orientação ambiental mais enfatizada.

CONEXÃO
A cultura organizacional e sua adequação a determinados objetivos faz parte de um dos te-
mas de estudo do Comportamento Organizacional. É compreendida como o conjunto de prá-
ticas, símbolos, costumes, valores éticos e morais de uma organização; e é bastante relevante
para os estudos ligados à área de Recursos Humanos. Possui forte ligação com ciências
como a Psicologia, Sociologia e Antropologia. Alterar as características culturais de uma de-
terminada organização não é tarefa fácil e envolve esforços internos associados a pressões
externas para que seja possível. Dentro disso está a grande complexidade de inclusão do
valor ambiental entre os valores mais relevantes da organização. É preciso que funcionários
percebam esse valor como de fato relevante para a alta administração e para os resultados
esperados, a fim de que eles próprios internalizem a questão ambiental em suas ações.

Isso caracteriza a importância da disseminação dos valores ambientais den-


tro da organização, para que eles não fiquem isolados em determinados seto-
res, o que impediria a consolidação de uma cultura ambiental de fato. Mas, você
pode refletir a respeito da multiplicidade de demandas a que a organização se
submete. Sendo assim, embora saibamos a importância da disseminação da
cultura ambiental organizacional, é importante compreender que essa é uma
pauta ainda pouco considerada nas empresas.

104 • capítulo 5
5.5  Relevância do SGA nas indústrias

Antes de refletirmos sobre a importância do SGA nas indústrias, vamos diferen-


ciar suas possibilidades na realização de serviços ou na produção de bens. Ima-
gine determinada organização que preste serviço de manutenção automotiva.
Embora haja produtos potencialmente poluidores relacionados a seu trabalho,
como as peças automotivas, os pneus, os óleos, a finalidade de suas atividades
não é produzi-los, mas utilizá-los na manutenção dos automóveis. Seus clien-
tes, por não dominarem o conhecimento técnico necessário, optam por “com-
prar” esse serviço.
Nesse exemplo ilustrativo, você considera que a organização poderia ser
beneficiada com a implantação de um SGA? Se a empresa buscar certificação
para tanto, deverá seguir um conjunto de procedimentos específicos, como já
vimos. Vimos também que a certificação não é obrigatória e ocorre em razão
de outras necessidades, como pressão de clientes, acesso a novos mercados,
posicionamento de marca, dentre outros. A partir disso, já podemos analisar
melhor o impacto da implantação.
Devemos considerar que o porte da organização, o nível de exigência de
seus clientes, e a pressão interna para adoção de práticas mais avançadas em
gestão ambiental serão três dos fatores mais relevantes para a decisão por im-
plantação do SGA. Se houver esses pressupostos, a organização tenderá a perce-
ber de maneira mais clara a importância do SGA. Por outro lado, mesmo que tal
importância não esteja clara, a implantação tende a render bons frutos.
Do ponto de vista econômico, a empresa passará a ter uma maior variedade
de possíveis mercados. Poderá, ainda, reduzir custos e estabelecer um relacio-
namento mais duradouro com outros elos de sua cadeia de suprimentos. Do
ponto de vista estratégico, portanto, a presença de um SGA em longo prazo na
organização tende a gerar valor.
Do ponto de vista socioambiental, a implantação do SGA em qualquer tipo
ou porte de organização implica que um número maior de organizações assu-
mirá um compromisso de melhoria contínua, algo que para os padrões atuais
de exploração dos recursos naturais já é uma prática avançada. Ela permite,
além disso, a realização de outras práticas, cada vez mais avançadas, na busca
por redução de impactos. Quando tratamos da redução de impactos ambien-
tais, lidamos com a expectativa de prolongamento da disponibilidade de recur-
sos naturais, ou do prolongamento da permanência de ecossistemas em equi-

capítulo 5 • 105
líbrio, por exemplo.
Em relação às indústrias, a relevância do SGA é atualmente mais clara que
para os outros tipos de organizações. Seiffert (2011) lembra que o impacto am-
biental causado pelas empresas industriais é percebido de maneira mais inten-
sa por parte do público consumidor e há um fundamento objetivo para isso.
Com base em dados da OCDE, a autora ressalta que as indústrias dos países
desenvolvidos contribuem com aproximadamente 1/3 do Produto Nacional
Bruto (PNB), mas suas externalidades negativas têm sido proporcionalmente
maiores. Assim, a autora indica, com base nos mesmos dados, que (p.18):

Quanto à poluição do ar, o ramo industrial é responsável por 40% a 50% das emissões
de óxidos de enxofre e 50% [dos gases] do efeito estufa. Com relação à poluição da
água, a indústria contribui com 60% da demanda bioquímica de oxigênio e de material
em suspensão e 90% dos dejetos tóxicos na água. Quanto ao lixo, o setor industrial
produz 75% do lixo orgânico. As informações provenientes do macroambiente indicam
uma situação preocupante e servem para alertar para o impacto causado por diferentes
nichos de atuação industrial.

Além disso, a própria autora pondera que mesmo dentro do ramo industrial
há significativas diferenças de impacto de acordo com o setor específico, sendo
o impacto diferente também para os aspectos ambientais envolvidos. Alguns se-
tores impactam mais na qualidade do ar, outros, da água, e assim por diante. Se
os impactos causados pelas indústrias são de fato maiores, o papel do SGA é po-
tencialmente mais benéfico nesses casos. Essa relevância do SGA deve ficar clara.
Por outro lado, os interesses econômicos imediatos das indústrias também
podem ser beneficiados com a implantação do SGA. Autores como Valle (2006)
e Seiffert (2011) apontam para os benefícios econômicos de implantação do
SGA como um argumento real em favor de sua utilização. As organizações pres-
tadoras de serviços tendem a ter o mesmo tipo de vantagem econômica com a
implantação desses sistemas, quais sejam: economia de recursos, acesso a no-
vos mercados, prevenção de gastos inesperados com acidentes, além de outros.

5.6  Pensando dificuldades, desafios, vantagens e desvantagens de


implantação do SGA

106 • capítulo 5
Ao longo do estudo vimos em diversos pontos que há dificuldades e desafios en-
volvidos na implantação de um Sistema de Gestão Ambiental nas organizações.
Tratamos dos recursos necessários à sua implantação, dos processos envolvidos,
das exigências determinantes, dentre outros fatores. Todos eles envolvem difi-
culdades para que as organizações possam ter sucesso na implantação do SGA.
Como resgate desses temas trabalhados no livro, pode-se elencar algumas
das principais dificuldades envolvidas na implantação do SGA:

•  Como alcançar adesão da alta administração ao projeto de implantação


do SGA?

•  Como alcançar a mesma adesão dos demais níveis hierárquicos na orga-


nização?

•  Há recursos disponíveis para a implantação? Se não há, como a organiza-


ção pode conseguir tais recursos?

•  Os aspectos ambientais envolvidos já são suficientemente conhecidos


para que a organização tenha dimensão mais clara do que pode e deve
estabelecer como política ambiental?

•  As instituições certificadoras e consultorias de apoio são conhecidas e


acessíveis?

Temos acima apenas algumas das dificuldades envolvidas. Elas são tam-
bém genéricas. Ou seja, a cada organização, as perguntas levam a respostas dis-
tintas, e devem mesmo ser formuladas de maneiras distintas. Todas elas fazem
parte do planejamento prévio à implantação do SGA.
Em relação às vantagens e desvantagens de implantação do SGA, há dife-
rentes perspectivas que devem também ser levadas em consideração. Uma ma-
neira adequada de se avaliar vantagens e desvantagens é usar as três dimen-
sões iniciais de Sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Essa lógica é
proposta apenas como meio de se esclarecer os diversos resultados alcançados
com um SGA.
Assim, de maneira geral e com base em alguns autores da literatura sobre o
tema (VALLE, 2004; DIAS, 2011; SEIFFERT, 2011), podemos sintetizar algumas
vantagens de implantação do SGA conforme segue no quadro 5.3, a seguir. Tais

capítulo 5 • 107
vantagens dizem respeito também aos desdobramentos da implantação.

ECONOMICO SOCIAL AMBIENTAL


Redução de desper- Relação com o público Redução de consumo de
dícios com materiais. aprimorada. energia.

Acesso a novos Contribuição com o mer- Redução de consumo de


mercados. cado e comunidade locais. materiais e insumos.

Melhoria de relacio- Impactos positivos das Recuperação de danos e


namentos na cadeia ações de Educação passivos ambientais ante-
de suprimentos. Ambiental. riores.

Prevenção de acidentes com


impacto ambiental.

Redução de emissão de po-


luentes, resíduos e efluentes.

Quadro 5.3 – Vantagens de implantação do SGA segundo as três dimensões de Susten-


tabilidade.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Veja que o quadro 5.3 permite uma compreensão mais clara dos impactos
positivos da implantação do SGA, tanto na perspectiva da organização como
dos stakeholders. Assim, as potenciais vantagens econômicas têm maior apelo
para os interesses da organização, ao passo que os impactos socioambientais
contribuem mais à sociedade e aos próprios membros da organização enquan-
to inseridos na sociedade impactada.
As vantagens envolvidas devem ainda ser percebidas mais claramente quan-
do leva-se em consideração a melhoria contínua. Lembre-se: o nível de impacto
ambiental das atividades humanas deve ser reduzido continuamente, para que
possamos visualizar Sustentabilidade de fato.
Ressalta-se que por desvantagens devemos compreender os custos e despe-
sas adicionais envolvidos no SGA, algo que implica em certo risco. Esse risco,

108 • capítulo 5
por sua vez, demanda maior planejamento e implica em eventual resistência
por parte da alta administração em apoiar a implantação do SGA. Sendo assim,
a decisão por implantar ou não um SGA na organização acaba envolvendo uma
contraposição desses gastos envolvidos e riscos calculados, com os resultados
potencialmente obtidos.
Aqui, temos um privilégio dado aos resultados econômicos obtidos pela or-
ganização. No modelo econômico em que estamos inseridos, dentro de uma
economia de mercado, esse privilégio é resultado dos interesses imediatos da
organização. Para além deles, há os aspectos que a sociedade deve valorizar
para ampliar a demanda por aprimoramentos em perspectivas socioambien-
tais. A consolidação desse ciclo virtuoso pode ser uma via de alcance das redu-
ções reais dos impactos negativos resultantes das atividades humanas.

5.7  Casos de sucesso

Vimos ao longo dos estudos que a implantação do SGA é um processo sistema-


tizado e com estrutura bem conhecida. As orientações, entidades e consulto-
rias de apoio à implantação do SGA são diversas, de modo que há também di-
versos casos de sucesso disponíveis para pesquisa na web. Muitos desses casos
se aprofundam para além da descrição do processo de implantação, analisan-
do ainda aspectos específicos, como aqueles relacionados à gestão de pessoas,
por exemplo, na pesquisa de Oliveira e Pinheiro (2010).
A diversidade desses casos reflete ainda a diversidade de contextos em que
é possível se implantar um SGA. À luz da norma NBR ISO 14001:2004, a implan-
tação do SGA é bastante adaptável a diferentes realidades. Lembre-se: para a
implantação de um SGA segunda essa Norma, é necessário que a organização
estabeleça uma política ambiental e siga determinados procedimentos de
acompanhamento, verificação, correção e melhoria contínua. Esse conjunto
de processos é aplicável a uma ampla variedade de realidades.
Um exemplo bastante ilustrativo de implantação do SGA ocorre na pesquisa
de Affonso (2001), que acompanha e descreve o caso aplicado a um empreen-
dimento petrolífero situado na região Norte do Brasil, em área do bioma Ama-
zônia, com característica de preservação ambiental. Por ser anterior à revisão
de 2004 ocorrida na Norma, o estudo de caso apresenta uma experiência em
que há menor congruência entre SGA e Sistema de Gestão da Qualidade. A im-
plantação, nesse caso, ocorre em uma planta específica da empresa, em uma

capítulo 5 • 109
das unidades de produção. Segue ainda os procedimentos exigidos para certi-
ficação pela Norma. Algumas características específicas do caso nos ajudam a
entender melhor como se dá a implantação, na prática.
Um dos aspectos ilustrativos do caso, que é bastante extenso (AFFONSO,
2001), diz respeito ao treinamento dado aos trabalhadores envolvidos. O quadro
5.4, apresentado a seguir, indica a etapa de treinamento e o público-alvo principal.

MÓDULOS DO CARGA
PÚBLICO-ALVO CONTEÚDO
TREINAMENTO HORÁRIA

Conceitos Ambientais;
Facilitadores e Legislação Ambiental;
ISO 14000 24 h.
Coordenadores. Interpretação e Implementação da
Norma.

Conceitos Ambientais;
Fiscalização; Legislação Ambiental;
Gerentes de O SGA do Serviço de Engenharia;
SGA em Obras 16 h. Obras; Levantamento de Aspectos e Impactos;
Supervisores de Gerenciamento de Resíduos;
contratadas. Boas práticas na Construção e
Montagem.

O SGA pela ISO 14001;


Coordenadores; Tipos de Auditoria;
Auditoria 40 h. Fiscalização e Legislação Ambiental;
Facilitadores. Metodologia de Auditoria Ambiental
Perfil do Auditor.

110 • capítulo 5
MÓDULOS DO CARGA
PÚBLICO-ALVO CONTEÚDO
TREINAMENTO HORÁRIA

Conhecimento do PAE5
Formação de Grupos de Ação;
Fiscalização;
Ações de Sistema de Comunicação;
16 h. Pessoal
Emergência Simulados para: vazamento de
contratado.
combustíveis, incêndio / explosão,
perda de fonte radioativa.

Quadro 5.4 – Resumo dos treinamentos envolvidos com a implantação da norma SGA no
caso estudado por Affonso (2001).5
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Affonso (2001, p.78).

A partir do quadro 4, é importante perceber que o treinamento segue uma


ordem lógica de disseminação dos conceitos para os envolvidos e potencial-
mente envolvidos. Como vimos em momento anterior do estudo, no capítulo
III, o desenvolvimento dos programas de treinamento e capacitação faz parte
da etapa de Planejamento da implantação do SGA, mas, além disso, envolve o
acompanhamento contínuo do sistema. Veja no caso estudado, por exemplo,
que fazem parte do treinamento as simulações para vazamento de combustí-
veis, para incêndios, explosões ou perda de fonte radioativa. Essas simulações
não são pontuais, assim como não é a atuação do Grupo de Ação.
No caso dos estudos de Oliveira e Pinheiro (2010), os autores apresentam dois
casos para explorar os aspectos da gestão de pessoas neles envolvidos. São os casos
de implantação do SGA em uma indústria moveleira, com aproximadamente 330
funcionários e de uma indústria de baterias automotivas, com 400 funcionários.
No primeiro, a empresa estava em processo de certificação NBR ISO
14001:2004 quando do desenvolvimento dos estudos; no segundo caso já exis-
tia essa certificação.
Os autores propõem e elencam uma série de práticas para implantação do
SGA, levando-se em consideração os temas da gestão de pessoas. Contribuem bas-
tante com nossos estudos, por reforçarem a importância do componente huma-
no do SGA. Os autores elencam diferentes temas envolvidos na gestão de pessoas

5  PAE: Plano de Ação de Emergência.

capítulo 5 • 111
para então indicar diversas práticas a eles relacionadas. Assim, podemos compre-
ender de maneira geral as práticas propostas em (OLIVEIRA; PINHEIRO, 2010):

•  Comprometimento da Alta Direção: Desenvolvimento e reforço das habili-


dades do gestor em liderança, comunicação interpessoal, reconhecimen-
to e valorização de talentos. Tais habilidades são fundamentais na parti-
cipação ativa desses gestores em ações como a elaboração da política e
diretrizes ambientais que nortearão o SGA, além da busca e viabilização de
investimentos financeiros nas ações de Gestão Ambiental, dentre outras.

•  Parceria com a área de Gestão de Pessoas: aprimoramento das compe-


tências e empoderamento do setor de Gestão de Pessoas para realização
de suas atividades de treinamento, sensibilização dos funcionários, recru-
tamento e seleção, desenvolvimento de lideranças, bem como de política
de cargos e salários atrelada à gestão por competências em consonância
com a visão da gestão ambiental. Isso significa dar ao setor a responsa-
bilidade de alinhar suas estratégias à política ambiental da organização.

•  Comitê de gestão ambiental: Embora esse já seja um requisito da Nor-


ma, os autores indicam a relevância do cuidado com a criação de um
comitê que seja integrado e multidisciplinar, de modo que haja melhor
disseminação das informações entre todos os públicos da organização.

•  Alinhamento do SGA com a missão e demais políticas da empresa: Em-


bora esse tema apresente argumentos bastante lógicos, é comum que as
organizações que buscam implantação do SGA não realizem um traba-
lho de alinhamento do mesmo com sua própria missão e políticas, não
só a ambiental. Ou seja, isso demanda a internalização do tema ambien-
tal nas demais políticas e na missão maior da organização, de modo que
o tema possa ser disseminado em outras ações da organização.

•  Treinamento e Desenvolvimento: Este tema está relacionado ao maior


empoderamento da área de Gestão de Pessoas. Assim, os programas de
treinamento e desenvolvimento estarão mais qualificados e adequados
à realidade da empresa. Além disso, espera-se que assim a organização
atente para o nivelamento da formação dos envolvidos em diferentes ta-

112 • capítulo 5
refas relacionadas ao SGA. Esse nivelamento surge do estabelecimento
de formação mínima e incentivo à formação contínua dos envolvidos.

•  Comunicação: As práticas ou diretrizes importantes apontadas pelos au-


tores no tema da Comunicação levam em consideração o que a Norma
propõe, bem como o que é necessário para o bom fluxo de informações.
Assim, sugerem que seja utilizada linguagem simples e compatível com
o nível e tipo de formação do público; sejam identificados e estabeleci-
dos os meios de comunicação mais adequados à organização e seus re-
cursos disponíveis; e que se tenha a preocupação em não tornar o meio
de comunicação e o conteúdo banais e desinteressantes.

Outra contribuição importante desse estudo (OLIVEIRA; PINHEIRO, 2010)


é apresentada no quadro 5.5, que indica fatores facilitadores e dificultadores de
implantação da Norma, na perspectiva da Gestão de Pessoas.

FATORES DESCRIÇÃO
Comprometimento da alta direção, parceria com a área de
recursos humanos, investimento em capacitação, consci-
FACILITADORES ência ambiental, cultura da organização, interação do co-
mitê de gestão ambiental com direção e preocupação em
minimizar resistência à mudança.

Resistência à mudança, pessimismo com novos programas


de gestão, necessidade de monitoramento e acompanha-
DIFICULTADORES mento intenso, falta de incentivo financeiro aos colabora-
dores e falta de integração com o sistema da qualidade.

Quadro 5.5 – Fatores humanos relevantes na implantação da norma ISO 14001.


Fonte: Oliveira e Pinheiro (2010).

Perceba que alguns fatores dificultadores são bastante claros como barrei-
ras ao avanço da consciência ambiental e das práticas em Gestão Ambiental
realizadas dentro do contexto organizacional. É importante que você reflita,
enquanto estudante do tema, se esses fatores estão arraigados na atuação da

capítulo 5 • 113
organização em que você se insere ou se inserirá. Ou ainda, se já os percebe pre-
sentes agora, durante o estudo. Ou seja, você se considera pessimista ou otimis-
ta em relação aos programas de gestão, em nosso caso específico os programas
e ações de gestão ambiental empresarial? Tende a ser resistente às mudanças
ocorridas em seu trabalho? Agora é momento de pensar a respeito das poten-
cialidades de um SGA e buscar contribuir com sua implantação e manutenção!

ATIVIDADE
1. Defina indicadores de desempenho ambiental e aponte sua importância para o SGA.

2. Escolha um indicador de desempenho gerencial qualquer. Aponte qual aspecto ambien-


tal está ligado a ele e como sua gestão pode ser aprimorada a partir das informações
disponibilizadas pelo indicador.

3. Repita a questão anterior, dessa vez para um indicador de desempenho operacional.

4. Sugira ações para resolução de fatores dificultadores para implantação da Norma NBR
ISO 14001:2004 segundo a perspectiva da Gestão de Pessoas.

REFLEXÃO
Você já teve acesso a diversas reflexões ao longo de todo o material que estudou, desde o
capítulo I ao capítulo V. A proposta com isso é justamente que você possa ter uma visão geral
sobre Sistemas de Gestão Ambiental, sem que deixe de analisar criticamente o papel dessa
ferramenta na busca por Sustentabilidade em âmbito empresarial.
Quando lidamos com os temas da Sustentabilidade Empresarial e Gestão Ambiental Em-
presarial, sendo os SGA um desses temas, é necessário que se leve em conta uma série de
questionamentos importantes para interpretarmos se de fato há conquistas rumo a atividades
humanas mais sustentáveis. Vimos que as comunicações podem apresentar os atributos am-
bientais supervalorizados, o que é um risco para a credibilidade e a própria viabilidade da Sus-
tentabilidade nesse âmbito. Além disso, vimos também que a consciência ambiental, embora
tenda a amadurecer, nem sempre está no estágio de amadurecimento necessário para dar
sustentação a produtos e formas de produção mais sustentáveis.

114 • capítulo 5
A partir disso, você já pode compreender como o SGA tem potencial de contribuição e é
ao mesmo tempo limitado ao desenvolvimento dessa consciência. Você deve compreender
também a importância da estruturação avançada proposta para o SGA, bem como a necessi-
dade de melhoria contínua, outro elemento importantíssimo na busca pela Sustentabilidade.

LEITURA RECOMENDADA
Artigo: Os desafios da implantação de um sistema de gestão ambiental: estudo de caso em
uma indústria de laticínios. Disponível em: <http://www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.
php/gestao_ambiental/article/view/1678>. Acesso em: 25 set. 2014.
Há diversos materiais que podem ilustrar experiências de implantação do SGA, em or-
ganizações de diferentes tipos, setores e tamanhos. O caso específico desse artigo é inte-
ressante por enfocar os desafios envolvidos nesse processo. Os autores Silveira, Alves e
Flaviano apresentam um texto em linguagem simples e buscam relatar superficialmente um
caso voltado à indústria de laticínios. Veja se encontra na internet algum caso no setor em
que você atua!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFFONSO, F.L. Metodologia para implantação de sistema de gestão ambiental
em serviços de engenharia para empreendimentos petrolíferos: um estudo de
caso. 2001. 218 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, CO-
PPE. Rio de Janeiro, março, 2001.

CAMPOS, L.M.S.; MELO, D.A. Indicadores de desempenho dos Sistemas de Gestão Ambien-
tal (SGA): uma pesquisa teórica. Produção, v. 18, n. 3, p. 540-555, 2008.

DIAS, R. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. 2 ed. São Paulo:


Atlas. 2011.

FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Manual de Indicadores


Ambientais: Instrumentos de Gestão Ambiental. Rio de Janeiro: DIM/GTM, 2008. Disponível
em: <http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE92826B8DA01283FB149342002.
htm>. Acesso em: 15 set. 2014.

capítulo 5 • 115
OLIVEIRA, O. J. de; PINHEIRO, C.R.M.S. Implantação de sistemas de gestão ambiental ISO
14001: uma contribuição da área de gestão de pessoas. Gestão e Produção, v. 17, n. 1, p.
51-61, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/gp/v17n1/v17n1a05.pdf>. Aces-
so em: 25 set. 2014.

SEIFFERT, M. E. B. ISO 14001 Sistemas de Gestão Ambiental: Implantação objetiva e


econômica. 4 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011.

VALLE, C. E. do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. 6 ed. São Paulo: Editora Senac, 2006.

EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1

1.  Aponte alguns dos principais fatores que levaram ao aumento da importân-
cia dos debates e estudos sobre impactos ambientais de origem humana.
Alguns desses fatores são: relevância de casos de prejuízos e danos à saúde em de-
corrência da poluição ou de desastres ambientais; surgimento de redes e grupos inter-
nacionais de análise dos temas ambientais; avanço nas questões de Direitos Humanos
discutidas globalmente, dentre outros.

2.  Descreva alguns dos elementos básicos necessários para que as atividades
humanas possam alcançar a Sustentabilidade de fato.
Para alcançar a Sustentabilidade de fato, as atividades humanas devem ocorrer em equi-
líbrio que possibilite sua manutenção e respeito a outros equilíbrios, como os ambientais,
sociais, econômicos e culturais. Para isso, devem buscar integrar os interesses e os
direitos de todos os envolvidos, da sociedade e da vida, como um todo.

3.  Analise e descreva a relação entre a Gestão Ambiental e a Responsabilida-


de Socioambiental.
As ações de RSC devem ser mais perenes, contínuas, e devem ser desenvolvidas com o
propósito de beneficiar organizações, entidades e pessoas em temas estratégicos para
a organização e para a sociedade em que se insere. Sendo assim, busca-se que a pró-

116 • capítulo 5
pria empresa possa sustentar-se melhor ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que
se busca contribuir para além das obrigações legalmente instituídas. As ações de RSC
cumprem um papel pontual, já que não são suficientes para se alcançar Sustentabilidade
de fato, embora contribuam nesse sentido. Por fim, quanto maior for a internalização da
Responsabilidade Socioambiental por parte da organização e seus membros, mais avan-
çadas tenderão a ser as ações de Gestão Ambiental.

4.  Qual a relação entre Responsabilidade Socioambiental e Sistemas de Ges-


tão Ambiental? Você pode apontar semelhanças e diferenças.
Assim como foi afirmado na questão anterior, uma maior internalização da Responsabilida-
de Socioambiental tende a implicar em ações mais avançadas de Gestão Ambiental. Entre
elas, a implantação de Sistemas de Gestão Ambiental é um bom exemplo. Além disso, com
um forte senso de RSC, os resultados obtidos com o SGA serão mais amplos e profundos.

5.  Reflita e aponte alguns limites do desenvolvimento sustentável e das ferra-


mentas desenvolvidas segundo esse conceito.
Um limite possível para o conceito de desenvolvimento sustentável e de suas ferramen-
tas é o fato de que tais abordagens não rompem por completo com sistemas produtivos
negativamente impactantes. Sendo assim, apenas amenizam um impacto que amplia-
se em razão da lógica produtivista-consumista que se mantém vigente. Outro limite diz
respeito à ideia pouco clara, tanto na retórica como em termos práticos, sobre o que é
preservação das gerações futuras, quão futuras elas são e se o ambiente natural pode
de fato ser considerado um recurso à disposição da Humanidade, mas que deve ser
preservado para que as futuras gerações possam também desfrutar de seus benefícios.

Capítulo 2

1.  Aponte e discorra sobre os principais motivadores que levaram à elabora-


ção da norma ISO 14001.
Alguns dos principais motivadores foram: necessidade de estabelecimento de um padrão
internacional que pudesse ser aceito mais amplamente; necessidade de buscar meios de
facilitar a verificação de resultados e a credibilidade dos SGA nas organizações; amadu-
recimento dos mercados consumidores, que passaram a esperar práticas mais avançadas
em Sustentabilidade.

capítulo 5 • 117
2.  Diferencie o processo de implantação da Norma do processo de certificação.
O processo de implantação da Norma implica a realização dos procedimentos necessá-
rios à internalização de um Sistema de Gestão Ambiental, junto com seus valores mais
importantes, como a melhoria contínua e a responsabilidade socioambiental. O processo
de certificação ocorre somente depois que o SGA já foi implantado e visa dar credibili-
dade a esse processo. É, portanto, posterior à implantação e envolve necessariamente a
participação de organização apta à certificação.

3.  Aponte os requisitos necessários para implantação da NBR ISO 14001:2004.


São diversos requisitos frequentemente apontados como fundamentais à implantação
da Norma. Compreendem elementos de verificação contínua, como: definição de escopo
e compromissos; da política ambiental; do planejamento; da implementação e operação;
da verificação; e, por fim, da análise pela administração da organização.

4.  Indique dentre as normas da série ISSO 14000 aquelas que estão ligadas ao
tema da Rotulagem Ambiental e da Auditoria Ambiental. Explique porque há
separação da série ISSO 14000 em diferentes normas.
Dentre as normas citadas, 14.010, 14.011 e 14.012 dizem respeito à Auditoria Ambien-
tal. Já as normas 14.020, 14.021, 14.022, 14.023 e 14.024 dizem respeito à Rotulagem
Ambiental. A separação ocorre para facilitar o acompanhamento por parte dos interes-
sados e permitir que as normas não fujam ao escopo. Além disso, as necessidades po-
dem surgir ou modificar-se ao longo do tempo, o que acaba por demandar novas normas
dedicadas a outros temas.

Capítulo 3

1.  Apresente as etapas de implantação de um SGA segundo a norma ISO


14001:2004, resumidamente.
As etapas de implantação estão também ligadas aos requisitos. Podem ser elencadas
em ordem: esclarecimento de recursos, funções e responsabilidade, treinamento e ca-
pacitação, comunicação, documentação, verificação e ação corretiva; e análise crítica
pela gerência.

118 • capítulo 5
2.  Aponte quais são, na sua opinião, dois dos papéis mais importantes assu-
midos pela alta administração da organização na viabilização de um SGA.
Dois dos papeis mais importantes da alta administração na viabilização de um SGA
podem ser o respaldo à implantação de uma política ambiental mais avançadas; além
da participação efetiva nas análises críticas de monitoramento do SGA. Com uma alta
administração comprometida nesses aspectos, o sucesso do SGA será mais possível.

3.  Analise o propósito das classificações em diferentes tipos de auditorias


ambientais e indique ao menos três tipos diferentes.
O propósito dessa diferenciação pode ser permitir a identificação de funções, objetivos
e responsabilidades diferentes para as organizações auditoras. Três exemplos de tipos
de auditoria são: as auditorias de conformidade legal ambiental, quando os critérios de
auditoria são exclusivamente os requisitos constantes na legislação vigente; auditoria de
desempenho ambiental, em que indicadores de desempenho são comparados a padrões
com metas definidas; e as auditorias de sistemas de gestão ambiental, quando se avalia
o cumprimento da norma, frequentemente a própria ISO 14001:2004.

4.  Aponte e reflita sobre o papel da auditoria ambiental no sucesso de um SGA.


A auditoria ambiental é quem dará credibilidade a um SGA que tenha sido implantado
segundo a Norma ISO 14001. Assim, se o órgão auditor não estiver apto, todo o proces-
so pode ser desqualificado. Uma auditoria que forneça informações claras, de maneira a
auxiliar a melhoria contínua do SGA, terá papel de auxílio ao sucesso.

Capítulo 4

1.  Defina Rotulagem Ambiental e dê alguns exemplos que você tenha visto.
É uma ferramenta de comunicação cujo propósito é aumentar o interesse dos consumi-
dores por produtos de menor impacto, de maneira a possibilitar a melhoria ambiental con-
tínua orientada pelo mercado. Envolve a maneira como as informações ambientais são
apresentadas, no rótulo da embalagem, ou em outro espaço adequado, como web sites.

capítulo 5 • 119
2.  Explique sucintamente a relação entre Marketing Verde e Rotulagem Am-
biental. Aponte aspectos positivos e negativos do uso desses dois conceitos.
O ponto de conexão mais importante do Marketing Verde com a rotulagem e selos
ambientais é a comunicação, como parte componente do mix desse tipo de Marketing.
Na comunicação, portanto, os aspectos ambientais devem ser levados em consideração
de maneira adequada e honesta para que não se incorra em maquiagem verde, ou gre-
enwashing.

3.  Quais são os tipos de rotulagem ambiental? Defina sucintamente cada um


deles. Diferencie selos ambientais de Rotulagem Ambiental.
Os tipos de rotulagem ambiental são: Rotulagem Tipo I – Programas de Selo Verde;
Rotulagem Tipo II – Auto-Declarações Ambientais; Rotulagem Tipo III – Inclui avaliações
de Ciclo de Vida. O selos ambientais distinguem-se dos rótulos ambientais porque esses
abrangem aqueles. Ou seja, selos ambientais são um tipo de rotulagem ambiental, que
pode apresentar ainda outras características distintas.

4.  Aponte alguns elementos que devem constar em rótulos de autodeclara-


ções ambientais, para que sejam mais confiáveis.
Alguns elementos relevantes que podem ser citados são: resultado dos ensaios ou evidên-
cia documental; dados da empresa de análise; evidência de que a declaração é precisa,
não enganosa; comprovação de que a avaliação realizada fornece garantia quanto à exa-
tidão da autodeclaração, dentre outros.

5.  Analise e aborde como os Sistemas de Gestão Ambiental podem ajudar na


consolidação de rótulos ambientais nas organizações.
Com processos bem organizados e pensados segundo um SGA, a organização poderá
desenvolver produtos com conquistas em favor da redução de seus impactos ambien-
tais, de modo que poderá divulgar tais conquistas ao público, seguindo critérios e pa-
drões de divulgação mais exigentes, o que lhe confere credibilidade.

120 • capítulo 5
6.  Descreva sucintamente a relação entre a gestão da cadeia de suprimentos, o
uso de rotulagem ambiental e de sistemas de gestão ambiental.
Maiores serão as conquistas de redução de impactos ambientais quanto mais houver
esforços conjuntos entre os elos de uma cadeia. À medida que tais esforços são alcan-
çados, as empresas podem passar a divulgá-los em suas rotulagens ambientais. Tanto o
esforço de integração como sua consequência na rotulagem ambiental estão relaciona-
dos aos SGA porque podem fazer parte das medidas adotadas a partir do que preconiza
o sistema para a empresa. A partir disso, pode-se perceber uma relação de nexos entre
os três conceitos.

Capítulo 5

1.  Defina indicadores de desempenho ambiental e aponte sua importância


para o SGA.
Um indicador de desempenho ambiental indica o efeito de determinado processo ou
técnica sobre um ou mais aspectos ambientais. Podem subdividir-se em indicadores
gerenciais e operacionais. Esses indicadores permitem que se levante informações rele-
vantes sobre os processos da organização, de modo que seja possível verificar progres-
sos, retrocessos ou necessidades de alinhamento.

2.  Escolha um indicador de desempenho gerencial qualquer. Aponte qual as-


pecto ambiental está ligado a ele e como sua gestão pode ser aprimorada
a partir das informações disponibilizadas pelo indicador.
Um exemplo de indicador de desempenho gerencial é a porcentagem de funcionários
contemplados em programas de educação ambiental. No caso de programas aplicados
ao manejo de água, por exemplo, o indicador de desempenho estará ligado aos aspectos
de recursos hídricos. No caso de programas mais amplos, estará ligado à consciência
ambiental como aspecto mais relevante. Quando se tem dimensão da proporção de
funcionários já contemplados pelo programa, pode-se buscar mais adequadamente al-
ternativas como ampliar os programas, desenvolver novos programas para reciclar os
conceitos já trabalhados, ou buscar temas alternativos.

capítulo 5 • 121
3.  Repita a questão anterior, dessa vez para um indicador de desempenho
operacional.
Um exemplo de indicador de desempenho operacional é a quantidade de resíduos pro-
duzidos por produto vendido. Um indicador como esse está ligado a aspectos como
prevenção de poluição, por exemplo. Com as informações disponibilizadas pelo indica-
dor, pode ser possível identificar quais produtos implicam maior ou menor geração de
resíduos e, a partir disso, buscar alternativas de redução desses resíduos.

4.  Sugira ações para resolução de fatores dificultadores para implantação da


Norma NBR ISO 14001:2004 segundo a perspectiva da Gestão de Pessoas.
Os aspectos que dificultam a implantação da Norma no tocante à Gestão de Pessoas são
difíceis de ser superados caso não haja apoio da alta administração. Todo o pessimismo
com novos programas de gestão, bem como a resistência às mudanças podem ser mini-
mizados quando há sinalização dos diretores e alta administração em sentido contrário.
Assim, se houver tal adesão, pode-se desenvolver programas de conscientização com
contextualização em diferentes linguagens, adequadas aos diferentes públicos da organi-
zação, a fim de que os funcionários despertem para os temas ambientais.

122 • capítulo 5

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