Você está na página 1de 55

WBA0232_V2.

GESTÃO DE INFORMAÇÕES EM
SERVIÇOS HOSPITALARES
2

Fernanda Maria de Miranda

GESTÃO DE INFORMAÇÕES EM SERVIÇOS


HOSPITALARES
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de
informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.

Head de Platos Soluções Educacionais S.A


Silvia Rodrigues Cima Bizatto

Conselho Acadêmico
Alessandra Cristina Fahl
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Camila Turchetti Bacan Gabiatti

Revisor
Carla Fernanda Tiroli

Editorial
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Márcia Regina Silva
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Miranda, Fernanda Maria de
M672g Gestão de informações em serviços hospitalares /
Fernanda Maria de Miranda. – São Paulo: Platos Soluções
Educacionais S.A., 2022.
32 p.

ISBN 978-65-5356-213-4

1. Gestão hospitalar. 2. Gestão de informação. 3.


Tecnologia em saúde. I. Título.
CDD 362.11068
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

GESTÃO DE INFORMAÇÕES EM SERVIÇOS HOSPITALARES

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Conceitos básicos sobre a gestão da informação_____________ 07

Aplicação de sistemas de informação em saúde na gestão


hospitalar ____________________________________________________ 20

Tecnologias emergentes na saúde e pensamento inovador___ 32

Boas práticas, questões éticas e organizacionais em gestão de


informação ___________________________________________________ 44
5

Apresentação da disciplina

Esta disciplina tem como objetivo central a compreensão do


conhecimento como recurso estratégico na Gestão em Saúde e as
estratégias para a adequada gestão deste processo.

Convidamos você, por meio do entendimento teórico e de estudos de


casos de ordem prática, a refletir sobre os conceitos básicos da gestão e
qualidade da informação, perpassando pela contextualização histórica
desde a Revolução Industrial até a Indústria 4.0, assim como seu
desdobramento na modernidade para o uso da tecnologia nos hospitais.

Você poderá conhecer tecnologias de informação e comunicação,


as TICS, assim como os principais tipos e conceitos dos sistemas de
informação, diferenciando Sistemas de Processamento de Transações
(SPT), Sistemas de Informações Gerenciais (SIG), Sistemas de Apoio
à Decisão (SAD) e Sistemas de Apoio ao Executivo (SAE), assim como
será possível introduzir a Política Nacional de Informação e Informática
em Saúde e a usabilidade, as vantagens e os desafios dos sistemas de
informação em saúde.

Para além da apresentação de conceitos, é esperado que você se sinta


provocado a refletir sobre a importância do pensamento inovador e
como ele poderá contribuir para sua formação como gestor quando
forem apresentadas as tecnologias emergentes na saúde.

Para finalizar, você será convidado(a) a refletir também sobre os


aspectos éticos e organizacionais relacionadas à gestão da informação
6

para identificar boas práticas na utilização das TICs e dos sistemas


de informação na coleta e no gerenciamento de informações
organizacionais dentro de um hospital.

Por meio de dedicação e estudo, esta disciplina poderá mudar a forma


como enxerga o conhecimento organizacional.
7

Conceitos básicos sobre a gestão


da informação
Autoria: Fernanda Maria de Miranda
Leitura crítica: Carla Fernanda Tiroli

Objetivos
• Compreender a relação entre a Revolução Industrial
e a gestão de informação.

• Diferenciar o conceito de dado, informação e


conhecimento.

• Compreender os atributos da qualidade da


informação.

• Refletir sobre a gestão do conhecimento como


recurso estratégico na gestão em saúde.
8

1. Revolução Industrial e a gestão hospitalar

Caro aluno, para começarmos a entender os conceitos de gestão da


informação, precisamos voltar para o século XVIII para compreender a
influência do avanço científico e tecnológico nos modos de produção
e, consequentemente, na organização do trabalho em saúde. Nessa
época, surgiu a primeira fase da Revolução Industrial por meio das
transformações geradas a partir da criação da máquina a vapor.
No século seguinte, surgiu a segunda fase da Revolução Industrial,
conhecida pela possibilidade da manufatura em massa, consolidando
os avanços tecnológicos e o reconhecimento da ciência iniciados no
século anterior. Neste contexto, já conseguimos evidenciar a ascensão
de máquinas e equipamentos diagnósticos no campo terapêutico,
resultando em agilidade e eficácia na assistência à saúde (PÓLVORA,
2020).

A terceira fase da Revolução Industrial ficou conhecida também como


Revolução Tecnológica, pois sua principal característica foi a mudança
da percepção e produção do conhecimento e, consequentemente, da
gestão da informação. Aqui, o conhecimento passou a ser entendido
como valioso, e o ato de se gerar conhecimento ganhou um valor de
troca sob a ótica de mercado (PINOCHET, 2014). Neste sentido, gerenciar
apropriadamente a informação passou a representar também o sucesso
ou o fracasso de uma organização.

Atualmente, vivemos uma quarta fase da Revolução Industrial,


caracterizada pela Indústria 4.0 (PÓLVORA, 2020). Podemos observar,
nos serviços hospitalares, reflexos de cada uma destas etapas de
mudanças de paradigmas no modo de organização do processo de
trabalho em saúde, nas tecnologias e nos referenciais de capacitação do
corpo médico e técnico e, claro, na utilização de equipamentos, dos mais
simples aos mais complexos, para apoiar os processos diagnósticos e
terapêuticos.
9

Assim, nesta disciplina, você estudará a gestão da informação no


sentido de gestão do conhecimento organizacional, ou seja, a interação
entre o planejamento do gestor hospitalar e o ambiente informacional,
objetivando melhor desempenho organizacional e aumento da
competitividade.

2. Dado, informação e conhecimento

Um bom gestor precisa compreender que, embora no senso comum


frequentemente a palavra “dado” seja utilizada como sinônimo de
informação e/ou conhecimento, estes são conceitos distintos. No
ambiente organizacional, é imprescindível padronizar o entendimento
dos gestores com relação a estes conceitos básicos da gestão da
informação para se trazer maior fidedignidade na construção e análise
crítica dos documentos e, consequentemente, garantir tomada de
decisão efetiva.

O dado, unidade mais rudimentar deste conjunto, é entendido


como uma sequência de símbolos que não são úteis se não forem
processados. Ele é a matéria bruta e unitária que comporá o próximo
conceito, a informação. Neste cenário, um dado, após o devido
processamento e interpretação, passará a ter algum significado por
meio de conexão relacional, e é isso que o caracterizará como uma
informação. Já a transformação da informação para o conhecimento se
dará se esta informação for devidamente aplicada, de modo que seja útil
para a transformação da realidade (AKKARI, 2018).

Vamos para um exemplo prático? Se você, gestor, recebe uma planilha


com os seguintes dados (Tabela 1):
10

Tabela 1 - Figura de exemplo


Tabela sem título
Referência Valor Protocolo
Paciente 1 36,6 N
Paciente 2 39,1 S
Paciente 3 38,4 S
Paciente 4 37,1 N

Fonte: elaborada pela autora.

Após uma análise rápida, você percebe que o título que estava faltando
na planilha é “Temperatura em °C dos pacientes internados na Unidade
de Cuidados Intensivos (UTI) triados para abertura de protocolo de sepse”
e que ela foi enviada pelo profissional de saúde que gerencia o protocolo
de sepse da UTI do hospital. Neste momento, você passa a compreender
que o item “valor” trata da temperatura em °C e que o item “protocolo” diz
respeito à abertura (S = SIM) ou não (N = NÃO) do protocolo gerenciado.
Agora esses dados têm um significado para você, sendo compreendidos
como informações. Quando interpretamos as informações contidas na
planilha, com base na relação entre a temperatura corporal e a abertura
(ou não) do protocolo gerenciado para os pacientes com suspeita de sepse
e utilizamos essas informações para a gestão de recursos, por exemplo,
você está acessando e produzindo conhecimento para o arcabouço de
conhecimento organizacional.

Perceba que, para os dados encontrados se tornarem informações,


houve a necessidade de um processo de abstração mediado pelo
homem, a partir do qual aqueles símbolos se tornaram significativos.
Note também que estes mesmos dados poderiam conter outras
informações se o processo de entendimento fosse outro. Exemplo:
caso o título da planilha fosse “Tempo de gestação na internação em
maternidade” e ela tivesse sido encaminhada pelo serviço de regulação
do seu hospital, esses dados teriam um processo de abstração e
interpretação completamente diferentes.
11

Ainda sobre o conhecimento, é importante explicitar que o conhecimento


capitalizado pelas organizações é chamado de conhecimento
organizacional, e ele pode ser subdividido em explícito ou tácito. O
primeiro é aquele que pode ser organizado, armazenado e recuperado
por meio de sistemas informatizados; já o segundo, mais intangível, pode
englobar todo o conhecimento da práxis do trabalho, incorporada pelo
trabalhador durante seu processo de trabalho (RAMOS; YAMAGUCHI;
COSTA, 2020), e todo o conhecimento subjetivo do trabalhador, sua
vivência e a interação entre os sujeitos durante o ato de trabalhar.

Os conhecimentos organizacionais tácitos e explícitos se relacionam


diretamente, conforme o quadro a seguir:

Quadro 1 - Relação entre os tipos de conhecimentos organizacionais


De Para Tipo de relação
Tácito Tácito Socialização
Explícito Explícito Combinação
Explícito Tácito Internalização
Tácito Explícito Externalização

Fonte: elaborado pela autora.

A socialização seria o processo de converter um conhecimento tácito


em outros conhecimentos deste tipo por meio das interações sociais e
experiências compartilhadas. A combinação seria seu equivalente para
a transformação de um conhecimento explícito em outros por meio
de fusão ou síntese de conceitos. Já a internalização acontece quando
o conhecimento explícito passa a ser assimilado (e praticado) por um
indivíduo (tácito). E, por fim, a externalização seria a transformação
de um conhecimento tácito no explícito, processo pelo qual todo o
conhecimento explícito perpassará em seu desenvolvimento.

Acima destes conceitos básicos, os teóricos da gestão da informação


ainda sugerem outros dois: inteligência e sabedoria. O primeiro está
12

relacionado ao processo cognitivo e analítico, pelo qual se possibilita


acumular conhecimento, e o segundo está associado à capacidade
de resgatar o conhecimento previamente acumulado para um novo
processo de tomada de decisão (AKKARI, 2018).

3. A qualidade da informação

Agora que você consegue identificar as diferenças entre os conceitos


básicos para gerar e gerenciar conhecimento organizacional, é preciso
aprofundar nas dimensões de qualidade da informação. Assim como
informações de qualidade identificam necessidades, direcionam
processos e levam a resultados exitosos, a má qualidade das
informações pode levar uma organização a desperdiçar recursos em
projetos ineficazes (AKKARI, 2018).

Mas, o que você deve avaliar para classificar uma informação como de
qualidade? Existem vários sistemas de classificação da qualidade da
informação, a seguir apresenta-se o referencial teórico de Sordi (2015
apud AKKARI, 2018), que definiu as quinze dimensões relacionadas à
qualidade da informação, suas características e seus atributos (SORDI,
2015 apud AKKARI, 2018, p. 28-33):

• Abrangência: ter quantidade de informação de tamanho e modo


adequados. Atributos relacionados: vetores da informação.

• Integridade: respeitar as questões éticas relacionadas à alteração


ou atualização da informação. Atributos relacionados: nível de
integridade.

• Acurácia: ter validade e legitimidade em sua geração. Atributos


relacionados: nível de acurácia; método para determinar o nível de
acurácia.
13

• Confidencialidade: respeitar os cuidados de manuseio durante


todo processo de gestão da informação. Atributos relacionados:
público-alvo; predileções informacionais do público-alvo.

• Disponibilidade: estar disponível no canal apropriado para acesso


dos sujeitos autorizados. Atributos relacionados: meio de acesso;
horário de disponibilização; tempo decorrido entre solicitar e
acessar a informação; indexação.

• Atualidade: controlar as informações para mantê-las atualizadas,


pertinentes e vinculadas à realidade. Atributos relacionados: data/
horário de geração da informação; intervalo de tempo entre cada
atualização.

• Ineditismo: ser rara e agregar valor ao ambiente em que foi


coletada ou aplicada. Atributos relacionados: disponibilidade de
informações idênticas ou similares.

• Contextualização: deve atrair e manter a atenção do público,


estando alinhada aos interesses e à realidade organizacional.
Atributos relacionados: caracterização da informação.

• Precisão: ter o detalhamento apropriado para o uso adequado.


Atributos relacionados: nível de precisão da informação.

• Confiabilidade: deve ser disponibilizada de forma crível, por meio


de evidências que favoreçam tanto o conteúdo quanto a fonte
da informação. Atributos relacionados: credibilidade da fonte;
credibilidade do conteúdo.

• Originalidade: deve ser próxima e relacionada à fonte geradora,


evitando traduções, cópias, edições e alteração do conteúdo
original que a distancie da fonte primária. Atributos relacionados:
originalidade.
14

• Existência: deve existir em formatos e mídias apropriados.


Atributos relacionados: localização do algoritmo para geração
de informação; localização do armazenamento do conteúdo
informacional.

• Pertinência: ser capaz de agregar valor e estar relacionada


ao desenvolvimento de atividades na organização. Atributos
relacionados: valor potencial da informação; valor entregue pela
informação.

• Identidade: ter um nome que favoreça a recuperação e o


entendimento. Atributos relacionados: nome; sinônimos; autoria.

• Audiência: ter a capacidade de ser acessada de forma a agregar


valor na organização. Atributos relacionados: frequência de acesso;
duração do tempo de acesso.

É importante notar que algumas dimensões de qualidade da informação


são interrelacionadas ou interdependentes, podendo esta relação
ser direta ou inversa (SORDI, 2015 apud AKKARI, 2018). Uma relação
direta expressa que, quanto maior a direção da informação para uma
das dimensões, maior será o seu alinhamento à outra. Já uma relação
inversa é aquela em que, quanto maior o direcionamento para uma
dimensão, menor será o seu direcionamento à outra. Você consegue
pensar em algum tipo de interrelação entre as dimensões?

Vamos a alguns exemplos:

a. As dimensões atualidade e confiabilidade são diretamente


relacionadas, ou seja, quanto mais atualizadas, pertinentes e
vinculadas à realidade, mais crível é esta informação. Em uma
análise rápida, qual informação parece mais crível para tomar uma
decisão sobre o investimento em recursos terapêuticos para a
Covid-19? Um artigo científico de março de 2020 ou uma evidência
de março de 2022? É claro que outras dimensões teriam que ser
15

analisadas, mas, quando se pensa isoladamente em atualidade,


sabe-se que as evidências sobre Covid-19 passaram por grandes
avanços desde o início da pandemia, com isso, as evidências mais
recentes transmitem maior confiabilidade.

b. As dimensões confidencialidade e disponibilidade são


inversamente relacionadas. Assim, se você considerar uma
informação confidencial e zelar pelos cuidados no manuseio
durante todo o processo de gestão da informação, provavelmente
esta será uma informação que terá algum conflito relacionado
à disponibilidade. Imagine você, como gestor, se informações
confidenciais de um processo produtivo se tornassem públicas
(aumento da dimensão disponibilidade), provavelmente sua
organização poderia ter sérios prejuízos, inclusive financeiros.

Os teóricos ainda classificam as relações entre as dimensões da


qualidade da informação à sua natureza em (SORDI, 2015 apud AKKARI,
2018):

• Técnica: refere-se às relações estabelecidas devido a aspectos


objetivos, concretos, físicos e/ou mecânicos dos formatos e
das mídias utilizados. Exemplo: dimensões Abrangência versus
Disponibilidade.

• Comercial: relaciona-se às questões ligadas ao valor agregado da


informação como um ativo aos olhos do mercado, logo produto
a ser comercializado. Exemplo: dimensões Precisão versus
Confidencialidade.

• Psíquica: diz respeito aos aspectos subjetivos associados ao


agente envolvido com a informação. Exemplo: dimensões
Identidade versus Confiabilidade.

Gerar e gerir a informação organizacional de forma a compreender


e buscar completude é imprescindível para manter-se competitivo
16

no mercado. Tanto pelos benefícios e pelo valor que a cadeia de


conhecimento pode gerar à organização quanto para balancear
os custos associados à geração de informações e, claro, ao de sua
subutilização (AKKARI, 2018).

4. A gestão do conhecimento

A gestão do conhecimento, embora muito praticada nas organizações,


ainda passa por divergências e incompletudes teóricas. De uma
maneira sintética, nada mais é do que o estudo sistemático da
obtenção, da distribuição e do mapeamento do conhecimento dentro
da organização (AKKARI, 2018). Neste sentido, o primeiro passo para
gerir o conhecimento de uma organização é compreender os elementos
dos processos de trabalho ali desenvolvidos e quais bens dotados de
valor para a organização, conhecidos como ativos, são relacionados
ao conhecimento estão vinculados a estes processos (RAMOS;
YAMAGUCHI; COSTA, 2020). A partir daí, o principal objetivo da gestão
do conhecimento é agregar valor organizacional a partir destes ativos,
comumente, intangíveis.

E quais são os ativos relacionados ao conhecimento que você pode


encontrar no contexto hospitalar? O que você consegue refletir sobre
sua prática de trabalho? Onde enxerga o conhecimento organizacional?
Os protocolos, os manuais, as rotinas e outros documentos que
formalizam os processos de trabalho, o conhecimento que permeia
o trabalho e desenvolvimento profissional de seus agentes, a própria
cultura organizacional, os objetivos estratégicos, a missão, visão e
valores podem ser compreendidos como ótimos exemplos de bens
preciosos no contexto organizacional. E, para alcançar uma gestão do
conhecimento eficaz, o pensamento sistematizado e focado na melhoria
contínua é imprescindível.
17

Na gestão do conhecimento, a busca organizacional pela criação


e melhoria da consciência organizacional, por meio do arcabouço
de conhecimentos, inteligência e sabedoria, recebe o nome de
aprendizagem organizacional. Alguns teóricos refletem, inclusive, que o
principal objetivo da gestão do conhecimento é alcançar a aprendizagem
organizacional. É por meio dela que as organizações conseguem
adaptar-se às mudanças e manter-se competitiva no Mercado (AKKARI,
2018; RAMOS; YAMAGUCHI; COSTA, 2020).

Neste sentido, um estudo de revisão de literatura encontrou 22 artigos


em bases de dados nacionais e internacionais que convergiam com
relação à relevância da gestão do conhecimento no desempenho
organizacional, seja na produção de seus produtos/serviços, no
desenvolvimento de projetos ou na área administrativa (RAMOS;
YAMAGUCHI; COSTA, 2020).

5. Considerações finais: o conhecimento como


recurso estratégico

Com base no que já estudou nesta Leitura Digital, você já deve estar se
perguntando sobre qual a relação entre a gestão de conhecimento e o
sucesso das organizações de saúde.

Pode-se compreender que, a partir do uso do conhecimento como


recurso estratégico, é possível apropriar-se dos dados institucionais para
melhorar todo o desempenho organizacional. A esse respeito, Akkari
(2018) vislumbra que, a partir dos processos de gestão de conhecimento,
é possível otimizar os processos organizacionais por meio de inovação,
aprendizagem (individual e coletiva) e tomada de decisão colaborativa.
Consequentemente, alcança-se resultados intermediários, como a
otimização dos comportamentos organizacionais, das decisões, produtos,
serviços, processos e relacionamentos (RAMOS; YAMAGUCHI; COSTA, 2020).
18

Já o conhecimento, no sentido de incorporação tecnológica, tem


influenciado diretamente toda a cadeia de valor na área de saúde, para
que, por meio de alianças estratégicas, novas tecnologias, pensamento
inovador e novos modelos de negócios sejam incorporados, e os
desafios para a gestão hospitalar, superados. É importante ressaltar aqui
que o entendimento de tecnologia empregado neste texto não se limita
naquele processo de desenvolvimento tecnológico e de comunicação
dependente de avançados aparatos tecnológicos e investimentos
consideráveis (MOTTA; PONCETTI; ESTEVES, 2019). Mas, retomaremos
esta discussão nos textos seguintes.

Nesta primeira Leitura Digital, você partiu da reflexão sobre a evolução


histórica da gestão da informação desde a primeira fase da Revolução
Industrial para compreender as repercussões das mudanças de
paradigmas nos modelos de gestão contemporâneos. Os conceitos
básicos de dado, informação e conhecimento devem ser completamente
compreendidos. Assim como um bom gestor deve atentar-se para a
qualidade das informações que são criadas, refinadas, armazenadas,
transferidas, compartilhadas e reutilizadas em sua organização, para
que a cadeia de conhecimento seja compreendida, a partir de agora,
como recurso estratégico na gestão em saúde.

Referências
AKKARI, A. C. S. Gestão do conhecimento e da tecnologia da informação.
Londrina, PR: Editora Educacional, 2018.
MOTTA, K. F.; PONCETTI, A. F. U.; ESTEVES, R. Z. O impacto da tecnologia da
informação na gestão hospitalar. Revista de Saúde Pública do Paraná, v. 2, p. 93-
102, jul. 2019. Disponível em: http://doi.org/10.32811/25954482-2019v2supl1p93.
Acesso em: 21 mar. 2022.
PINOCHET, L. H. C. Tecnologia da Informação e Comunicação. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier, 2014.
19

PÓLVORA, V. N. Saúde e Tecnologias Avançadas: os desafios da gestão hospitalar.


Gestão 4.0 em Tempos de Disrupção, p. 236-257, 2020. Disponível em: http://
dx.doi.org/10.5151/9786555500059-12. Acesso em: 22 mar. 2022.
RAMOS, N. K.; YAMAGUCHI, C. K.; COSTA, U. M. Tecnologia da informação e gestão
do conhecimento: estratégia de competitividade nas organizações. Brazilian
Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 1, p. 144-61, jan. 2020. Disponível em:
http://doi.org/10.34117/bjdv6n1-010. Acesso em: 22 mar. 2022.
SORDI, J. O. D. Administração da Informação: fundamentos e práticas para uma
nova gestão do conhecimento. In: AKKARI, A. C. S. Gestão do conhecimento e da
tecnologia da informação. Londrina, PR: Editora Educacional, 2018.
20

Aplicação de sistemas de
informação em saúde na gestão
hospitalar
Autoria: Fernanda Maria de Miranda
Leitura crítica: Carla Fernanda Tiroli

Objetivos
• Compreender o conceito de Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs).

• Conhecer as características dos sistemas de


informações (SI).

• Diferenciar Sistemas de Processamento de


Transações (SPT), Sistemas de Informações
Gerenciais (SIG), Sistemas de Apoio à Decisão (SAD) e
Sistemas de Apoio ao Executivo (SAE).

• Entender a relação entre PNIIS e Sistemas de


Informações em Saúde (SIS).

• Refletir sobre a relevância dos SIS no contexto


hospitalar, suas vantagens e seus desafios.
21

1. Introdução às Tecnologias de Informação e


Comunicação (TIC)

Caro aluno, nesta Leitura Digital, você conhecerá alguns conceitos


relacionados às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e
as características dos sistemas de informação que são aplicáveis no
contexto hospitalar.

A tecnologia tornou-se aliada para apoiar as organizações no processo


de gestão do conhecimento organizacional e, com isso, para que
as informações relevantes fluam dentro de um serviço de saúde de
maneira rápida e eficiente.

Desta necessidade, emergem ferramentas conhecidas como TIC, que


têm como função agrupar e distribuir informações, buscando tornar
esse acesso ágil e menos hierarquizado, diminuindo as distâncias
geográficas e agregando profissionais e processos (CAETANO;
MALAGUTTI, 2012). De uma forma sintética, a Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI, 2010, p. 16), caracterizou como TIC:

Todas as tecnologias que interferem e perpassam os processos


informacionais e comunicativos dos seres. Ainda, podem ser entendidas
como um conjunto de recursos tecnológicos integrados entre si,
que proporcionam, por meio das funções de hardware, software e
telecomunicações, a automação e comunicação dos processos de
negócios, dos serviços públicos, da pesquisa científica e de ensino e
aprendizagem.

Estas tecnologias podem ser agrupadas em três categorias (CAETANO;


MALAGUTTI, 2012):

a. Mediadas por computadores. Exemplo: softwares e bibliotecas


virtuais.
22

b. Relacionadas às telecomunicações. Exemplo: telessaúde e


consultorias via telefone.

c. Associadas às tecnologias de comunicação em rede. Exemplo: TIC


baseadas na web e nas redes sociais.

O uso das TICs favorece o cuidado em saúde através de diferentes


perspectivas, pois, além de integrar os profissionais de diferentes áreas
do saber, elas também favorecem a autonomia e o empoderamento
do paciente e da sociedade em geral. Pensando nisso, iniciativas,
tanto públicas quanto privadas, têm priorizado a elaboração destas
ferramentas.

Um exemplo disso ocorre nas metas apontadas para o avanço do


Sistema Único de Saúde (SUS) pela Política Nacional de Informação
e Informática em Saúde (PNIIS) para a defesa do direito universal à
informação, voltada para a inserção da população num amplo processo
de inclusão digital (BRASIL, 2016).

Outro aspecto importante é que sistematizar as informações em saúde


favorece também a organização destes dados para a formulação de
índices que qualificam e auditam a qualidade do serviço prestado,
sendo essenciais para a gestão em saúde. E é sobre esses sistemas que
falaremos a seguir.

2. Sistemas de informação (SI)

Um sistema de informação (SI) é aquele que coleta, processa, armazena,


analisa e dissemina dados e informações para um propósito específico,
alinhado aos objetivos organizacionais. Então, por que investir em SI?
Para responder a essa questão, é preciso retomar a afirmação sobre
valor da informação e sua gestão eficiente de que: informação é poder.
23

Assim, os benefícios do uso de SI mostram-se inúmeros (VALLE et al.,


2010, [s. p.]):

Melhor eficiência, maior controle sobre as operações, menores custos,


menor quantidade de erros, melhoria dos serviços ao consumidor, melhor
planejamento e organização das atividades operacionais e de distribuição,
decisões baseadas em melhores informações, menor dependência de
processos intensivos em mão de obra não especializada.

Historicamente, existem três fases distintas para o progresso de


software na consolidação dos SI (VALLE et al., 2010):

1. Primeira fase: dos anos 1950 a meados de 1960, marcada pelo


início do processamento de dados. Os usuários desenvolviam
seus próprios sistemas, que, de maneira geral, eram simples e
não exigiam sistematização técnica, controle da qualidade ou
documentação.

2. Segunda fase: de 1960 até o fim dos anos 1970. Fase marcada
pela implementação de sistemas mais complexos, principalmente
de SIG. O objetivo principal era a eficiência organizacional, e
a orientação dos sistemas passou a ser o fornecimento de
informações.

3. Terceira fase: a partir de 1970, essa fase é marcada pela


implementação de sistemas de informação estratégicos,
que integram diferentes dimensões a partir de módulos
complementares.

Neste contexto, um sistema de informação que colabore para o


processo de trabalho gerencial, contribuindo para a tomada de
decisão, é crucial para o sucesso da organização. Hoje, no contexto
do desenvolvimento de TIC, os SI também são mais do que o uso
24

de computadores, pois, para que um SI seja eficiente, é necessário


entender que ele pertence à organização e compreender as dimensões
organizacional, humana e tecnológica que o formam (ARMELIN, 2016).

É importante saber que os SI podem ser classificados de acordo com


(ARMELIN, 2016):

a. Tecnologia empregada: sistemas de processamento em lote,


sistemas cliente-servidor, sistemas transacionais e sistemas
baseados na internet.

b. Perfil do grupo de usuários: sistemas executivos, de suporte à


decisão, gerenciais, táticos e voltados à operação.

c. Abrangência/processos: sistemas de compra e venda, de


relacionamento com o cliente, de gerenciamento da cadeia de
fornecimento, para capacitação de funcionários e os sistemas
administrativos.

Neste sentido, os SI podem ser vistos em quatro grandes tipos de


sistemas (ARMELIN, 2016):

1. Sistemas de Processamento de Transações (SPT).

2. Sistemas de Informações Gerenciais (SIG).

3. Sistemas de Apoio à Decisão (SAD).

4. Sistemas de Apoio ao Executivo (SAE).

E serem estratificados de acordo com o nível operacional, conforme


expressa a Figura 1:
25

Figura 1 - Classificações dos SI pela ótica do nível organizacional

Fonte: adaptada de Armelin (2016, p. 39).

A seguir, serão abordadas brevemente as principais características dos


SI apresentados anteriormente. Você pode encontrar outras subdivisões
ou exemplos destes SI no seu dia a dia. Fique atento e tenha em mente
o tipo de tecnologia empregada, o público-alvo e a abrangência dos
sistemas que você conhece.

Os SPT são SI que objetivam monitorar, coletar, armazenar e processar


os dados e as informações gerados nas transações e seus processos
operacionais (ARMELIN, 2016). Neste sentido, são exemplos de SPT
os SI que apoiam os gestores na coleta e organização de dados de
fluxo de transporte, compra/vendas, folhas de pagamento, dados de
funcionários, expedição/estoque etc.

Os SIG são SI de nível tático, ou seja, intermediário, e objetivam a


obtenção e o gerenciamento de relatórios vinculados ao desempenho,
dando suporte aos gestores no monitoramento e controle das atividades
organizacionais e do negócio em si (ARMELIN, 2016; LAUDON; LAUDON,
2014).
26

Os SAD objetivam exatamente o que o nome propõe: apoiar o gestor


no processo de tomada de decisão. Mas, o que engloba o processo de
tomar decisão? Depois de detectar um problema raiz, para que a decisão
seja tomada, é preciso (LOUSADA; VALENTIM, 2011):

a. Coletar informações (fase diagnóstica).

b. Realizar uma análise criteriosa para se estabelecer correlação das


informações relevantes com variáveis organizacionais.

c. Buscar alternativas para eleger um critério de julgamento das


alternativas propostas.

d. Escolher uma alternativa e tomar uma decisão legítima e assertiva.

Lembre-se de que, após tomar uma decisão, sua implantação e avaliação


são importantíssimas para a consecução dos objetivos organizacionais
no tempo previsto. Voltando aos SAD, sua definição por si só já nos
ajuda a compreender que eles são os SI desenvolvidos para problemas
específicos que não possuem um procedimento existente de solução
(LAUDON; LAUDON, 2014).

Os SAE são SI de nível estratégico que trazem, por meio de informações


de diversas fontes, um painel amplo para apoio da alta gestão para a
definição de ações do negócio (ARMELIN, 2016).

Você pode, dentro do seu contexto organizacional, encontrar diversos


SI com formatos e propósitos diferentes. Os SI organizacionais mais
antigos são chamados de sistema legado, por sua falta de integração,
atualização e alto custo de manutenção; já os SI modernos passaram
a ser integrados. A vantagem competitiva de se integrar os SI está
em administrar todas as informações contidas nos diferentes níveis
organizacionais e garantir o aproveitamento de suas relações. Caso a
integração não aconteça, pode haver fragmentação dos dados e prejuízo
do alcance dos objetivos organizacionais (ARMELIN, 2016; LAUDON;
LAUDON, 2014; VALLE et al., 2010).
27

Os sistemas integrados de gestão, conhecidos também como sistema de


planejamento de recursos empresariais (do inglês, Enterprise Resource
Planning – ERP), são uma alternativa para evitar a fragmentação da
gestão da informação.

Além de sua integração, os ERP possuem como características que


os diferem dos outros SI: seu embasamento em modelo-padrão de
processos de negócios, sua abrangência funcional, a utilização de
um banco de dados corporativos sistematizado e a necessidade de
procedimentos de ajuste (ARMELIN, 2016).

3. Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) e


a PNIIS

Os SIS são entendidos como sistemas de informação que são utilizados


para apoiar as práticas em saúde.

Por um lado, dentro do setor privado, a livre concorrência e a demanda


do mercado fazem com que o desenvolvimento de SIS seja acelerado.
Seu desenvolvimento e suas premissas são baseados nas mesmas
identificadas anteriormente nesta Leitura Digital para qualquer outro
sistema de informação. Suas práticas mais comuns são orientadas
principalmente na qualidade do cuidado, na redução de gastos e na
controladoria.

Para estudarmos os SIS dentro do contexto do SUS, utilizaremos como


referencial teórico a PNIIS. Esta política prevê diretrizes e normas para
orientar as instituições de saúde inclusas no SUS na questão das TICs e
SIS, sendo seus princípios fundamentais (BRASIL, 2016, p. 13):

A informação em saúde destina-se ao cidadão, ao trabalhador e ao gestor


da saúde; A produção da informação em saúde deve abarcar a totalidade
das ações de controle e participação social, coletiva e individual, das ações
28

da atenção à saúde e das ações de gestão; A gestão da informação em


saúde integrada e capaz de gerar conhecimento; A democratização da
informação em saúde como um dever das instâncias pública e privada
de saúde; A informação em saúde como elemento estruturante para a
universalidade, a integralidade e a equidade social na atenção à saúde; O
acesso gratuito à informação em saúde como direito de todo indivíduo;
A descentralização dos processos de produção e disseminação da
informação em saúde para atender às necessidades de compartilhamento
de dados nacionais e internacionais e às especificidades regionais e locais;
A preservação da autenticidade e integridade da informação em saúde; e
A confidencialidade, sigilo e privacidade da informação de saúde pessoal
como direito de todo indivíduo.

Dentro da PNIIS, as ações de informatização podem acontecer em


diversos cenários em todos os níveis de atenção à saúde. É importante
ressaltar, neste momento, que a organização destes sistemas leva em
consideração o nível de atenção à saúde e a configuração das redes de
atenção à saúde (RAS), propostas pelo SUS (BRASIL, 2016).

Os níveis, organizados em Redes de Atenção à Saúde (RAS), são


classificados de acordo com o nível de complexidade das ações
desenvolvidas, sendo três deles: primário (exemplo: Estratégia de Saúde
da Família, Unidades Básicas de Saúde etc.), secundário (exemplo:
unidade de pronto atendimento, hospitais de pequeno porte etc.) e
terciário (exemplo: hospitais de grande porte) (BRASIL, 2016).

Buscaremos alguns exemplos: o Sistema de Informações sobre


Mortalidade (SIM) dispõe de dados de mortalidade consolidados
nacionalmente desde 1979. O Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (SINASC) funciona desde 1990, contendo dados sobre a gravidez,
parto e condições da criança ao nascer. O Sistema de Informações de
Agravos de Notificação (SINAN) agrega dados do sistema de vigilância
epidemiológica, principalmente acerca de doenças de notificação
compulsória (BRASIL, 2016).
29

Ademais, outros SIS colaboram para a estruturação do SUS: Sistema de


Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), Sistema de Informações
Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), Sistema de Informações do Programa
Nacional de Imunização (SI-PNI) etc. Faça um exercício: conheça as
principais bases e busque dados públicos de, pelo menos, um SIS que
esteja próximo à sua realidade profissional (BRASIL, 2016).

Desta maneira, a gestão e o financiamento dos SIS deve ser feita


de acordo com os princípios do SUS. Para isso, é imprescindível a
corresponsabilização das três esferas de governo, ou seja, deve haver
cooperação entre os níveis municipais, estaduais e federais. Assim,
foi preconizado pelo Ministério da Saúde que a implantação de um
SIS seja financiada de acordo com as normas de financiamento do
SUS, objetivando garantir infraestrutura de tecnologia da informação,
governança e gestão de pessoas na área de informação e informática
em saúde, padrões de interoperabilidade e desenvolvimento do
arcabouço legal para garantir a privacidade e a confidencialidade dos
dados identificados em saúde (BRASIL, 2016).

4. Concluindo: aplicação de SIS na gestão


hospitalar

O papel do gestor é garantir o sucesso organizacional a partir da


administração do processo de trabalho. Ele precisa saber tomar
decisões, mediar conflitos e resolver problemas. Um bom gestor precisa
conhecer a empresa e, para isso, gerir adequadamente a informação é
fundamental.

O campo da saúde, em especial o contexto hospitalar objeto desta


disciplina, possui dimensões amplas e diversificadas que integram
diferentes setores (público e privado), objetivos (promoção, prevenção,
manutenção, recuperação da saúde e redução de danos) e profissionais
30

(médicos, enfermeiros, administradores etc.). Neste contexto, a


informação em saúde é heterogênea, tendo em vista que é coletada
por diversos profissionais em diferentes momentos. Desta forma,
é necessária uma atenção especial para que os sistemas integrem
adequadamente estas informações.

Os SIS precisam integrar todos estes aspectos para garantir o cuidado


integral em saúde de qualidade. É importante ressaltar que um SIS é
apoiador, e não um gestor. Nenhum SI, por mais integrado e robusto,
fornecerá análises críticas e tomará decisões.

Entretanto, corroborando Valle et al. (2010), o uso de SI como recursos


estratégicos se tornou imprescindível para que estes profissionais
construíssem o arcabouço necessário para incrementar sua participação
na resolução de problemas da organização. É também benéfico para a
diminuição de custos e menor quantidade de erros, já que ele facilita
a tomada de decisão por fornecer informações fundamentais para o
usuário, contribuindo para o sucesso da organização.

Concluindo, nessa Leitura Digital, você pode, partindo do conceito TIC,


identificar os tipos e as características dos SI, seu desdobramento na
saúde por meio dos SIS e sua usabilidade no contexto hospitalar.

Referências
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Tecnologias de
informação e comunicação – TIC: sistemas aplicados a saúde humana. Cadernos
Temáticos TICs. Brasília, DF: ABDI, 2010.
ARMELIN, D. A. Sistemas de informação gerencial. Londrina, PR: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2016. 240p.
BRASIL. Política Nacional de Informação e Informática em Saúde. Brasília,
DF: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/politica_nacional_infor_informatica_saude_2016.pdf. Acesso em: 30
mar. 2022.
31

CAETANO, K. C.; MALAGUTTI, W. Informática em saúde: uma perspectiva


multiprofissional dos usos e possibilidades. São Caetano do Sul, SP: Yendis, 2012.
LAUDON, K. C.; LAUDON, J. P. Sistemas de Informação Gerencial. 11. ed. São
Paulo, SP: Pearson Prentice Hall, 2014.
LOUSADA, M.; VALENTIM, M. L. P. Modelos de tomada de decisão e sua relação com
a informação orgânica. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 16, n. 1, p. 147-
164, jan./mar. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pci/v16n1/a09v16n1.
pdf. Acesso em: 30 mar. 2022.
VALLE, A. B. et al. Sistemas de informações gerenciais em organizações de
saúde. Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2010.
32

Tecnologias emergentes na saúde


e pensamento inovador
Autoria: Fernanda Maria de Miranda
Leitura crítica: Carla Fernanda Tiroli

Objetivos
• Identificar a evolução histórica da tecnologia da
informação e comunicação na saúde.

• Conhecer algumas tecnologias emergentes na


saúde.

• Refletir sobre o pensamento inovador.


33

1. Histórico da Tecnologia da Informação e


Comunicação (TIC) na saúde

Nesta Leitura Digital, você retomará conceitos relacionados às


Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para identificar
tendências e refletir sobre o pensamento inovador.

Toda tecnologia, mediada por computadores, pela telecomunicação ou


pelas tecnologias de comunicação de rede, que interfira nos processos
informacionais e comunicativos são compreendidos como TIC (ABDI,
2010). Os Sistemas de Informação (SI) são exemplos importantes de TIC
para a obtenção, organização e recuperação de informações oriundas
do processo de trabalho e da organização do hospital como negócio.

Os primeiros SI integrados (do inglês, Enterprise Resource Planning –


ERP) clínicos começaram a ser utilizados no Brasil em 1992, vistos
à época como tecnologia inovadora de SI hospitalar e, a partir de
1998, as primeiras experiências relacionadas à prescrição eletrônica
foram registradas. A década de 2000 impulsionou a informatização
dos processos com o fortalecimento da transformação dos dados
gerados pelos ERPs em análises robustas e estratégicas, as ferramentas
informatizadas complexas e o uso da tecnologia móvel. Atualmente, o
desafio parece ser a consolidação da certificação digital, a automação
de processos inteiros e a criação de redes para a gestão da informação
(PINOCHET; LOPES; SILVA, 2014).

Vários formatos de SI e outras TIC foram incorporados aos processos


relacionados à assistência em saúde, especialmente no contexto
hospitalar. Para exemplificar a importância dessas tecnologias no
hospital, um estudo que analisou os produtos produzidos para o
contexto da saúde entre 2008 e 2018 identificou 10 tipos diferentes,
sendo os SI hospitalares os mais recorrentes em conjunto aos
relacionados à mortalidade. É interessante notar também que os países
34

que mais publicaram artigos científicos sobre o desenvolvimento ou


a análise de dados de SI foram os Estados Unidos da América (EUA), a
Inglaterra e o Brasil (LEITE; TAVARES; BACHEGA, 2021).

Neste sentido, as tendências tecnológicas em conjunto à mudança de


paradigma que passou a agregar valor organizacional à informação vêm
impulsionando os hospitais a se tornarem unidades de negócio, assim
como o uso de TIC que integrem gestão administrativa e clínica tornou-
se fundamental.

2. Tecnologias emergentes na saúde

A seguir, serão apresentadas algumas tecnologias emergentes na saúde.


Sempre quando há a sugestão de incorporação de uma nova tecnologia,
você, gestor, deve pensar sobre o uso e a aplicabilidade prática desta
tecnologia para melhoria da gestão do conhecimento organizacional.
É sempre importante que as novas tecnologias estejam alinhadas
aos objetivos estratégicos da organização, ou seja, além de estarem
vinculados à missão, à visão e aos valores do serviço de saúde, eles
devem impreterivelmente agregar valor ao negócio.

2.1 Business Intelligence (BI)

A BI passou a ser incorporada na saúde no início dos anos 2000. Ela


pode ser entendida como tecnologia, conceito ou filosofia institucional.

No sentido de tecnologia, a BI é vista como uma solução computadorizada


para a integração dos SI organizacionais. Como conceito ou filosofia, é vista
a partir do momento em que as informações gerenciais e os indicadores
necessários para a tomada de decisão saem dos sistemas e passam a
integrar a solução ao negócio (PINOCHET; LOPES; SILVA, 2014).
35

Por definição, a BI deve permitir a organização de grande volume


de dados, com rapidez, dinamicidade e acuidade analítica. Assim,
não é incomum que ela integre diversas tecnologias (por exemplo,
banco de dados, Data Warehouse, Data Mart, Data Mining, OLAP, ETL,
SI, soluções wBI, WAP), por meio de relatórios dinâmicos e em tempo
real distribuídos por HTML, e-mail ou SMS, que permitam amplo
gerenciamento no controle de materiais e processos, para que não
ocorram desperdícios (PINOCHET; LOPES; SILVA, 2014).

2.2 Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), certificação


digital e o hospital sem papel

Entre os desafios vinculados aos prontuários em papel, estava


(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE
INFORMÁTICA EM SAÚDE, 2012):

• A impossibilidade de uso simultâneo entre os profissionais de saúde.

• Sua baixa mobilidade.

• A fragilidade do papel para guarda.

• A difícil recuperação das informações.

• A ocorrência de ilegibilidade, ambiguidade, multiplicidade, perda


de informações, entre outros.

O PEP, compreendido como o registro computadorizado e mantido


eletronicamente sobre as informações de saúde dos pacientes
(PINOCHET; LOPES; SILVA, 2014), é uma das TIC mais utilizadas no
contexto clínico e tem como vantagens o acesso múltiplo aos dados,
a confidencialidade e a fácil recuperação das informações de saúde
(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE
INFORMÁTICA EM SAÚDE, 2012).
36

Figura 1 - Ilustração de prescrição manual versus prescrição


eletrônica em PEP

Fonte: http://biblioteca.cofen.gov.br/prevencao-de-erros-de-prescricao/. Acesso em: 11


abr. 2022.

A partir do final da década de 1990, é vista uma ampliação de


experiências exitosas com prontuários digitais e eletrônicos. Houve, em
2002, a elaboração da Cartilha sobre Prontuário Eletrônico, iniciativa em
parceria do Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira
de Informática em Saúde (SBIS). Este marco estabeleceu um convênio de
cooperação técnico-científica que está em vigência desde então, e um
dos principais marcos históricos a partir disso foi a regulação jurídica
dos PEP com a publicação da Resolução CFM nº 1821/2007 (CONSELHO
FEDERAL DE MEDICINA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMÁTICA EM
SAÚDE, 2012).

A partir da Medida Provisória nº 2.200, publicada no dia 29 de


junho de 2001, no Diário Oficial da União, passou a ser possível a
certificação digital no Brasil. A certificação digital nada mais é do
37

que um arquivo de computador que identifica uma pessoa física ou


jurídica no meio digital, ou seja, a assinatura e o carimbo de conselho
profissional de um profissional de saúde passa a ser também possível
no mundo digital por meio de diversas técnicas computacionais,
para garantir que o documento eletrônico assinado seja totalmente
seguro, um grande avanço para a segurança dos PEP (CONSELHO
FEDERAL DE MEDICINA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMÁTICA EM
SAÚDE, 2012).

Os certificados digitais possibilitaram um grande salto para a evolução


dos PEP. Antes, as anotações produzidas digitalmente deveriam ser
impreterivelmente impressas, verificadas e assinadas manualmente
pelos responsáveis por cada informação. Após a implantação dos
certificados digitais no contexto dos PEP, toda informação inserida pode
ser instantaneamente certificada pelo autor, reforçando sua integridade.
No PEP com certificação digital, até mesmo uma pequena alteração
no documento, como o acréscimo de um único caractere, invalida-o
totalmente (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA; SOCIEDADE BRASILEIRA
DE INFORMÁTICA EM SAÚDE, 2012).

Todos esses avanços no PEP, ponto nevrálgico nos hospitais e uma


das pontas de mais difícil informatização, possibilitaram experiências
de “hospital sem papel”, que, como o nome propõe, busca a gestão
eficiente das informações por meio da mudança de paradigma
relacionada aos modelos anteriores de gestão pautada no formato
digital dos documentos, uma tendência inteligente e embasada na
sustentabilidade.

2.3 Uso de dispositivos mobile à beira leito e


equipamentos robóticos

O uso de dispositivos móveis e portáteis, conhecidos como mobile,


possibilitou aos profissionais de saúde levar o PEP e os SI de apoio à
38

decisão em todos os lugares do hospital (PINOCHET; LOPES; SILVA,


2014). A partir do uso deste tipo de tecnologia, por meio do uso de
smartphones e tablets, por exemplo, possibilitou o surgimento de
aplicativos customizados para o cuidado em saúde (exemplo: Conecte
SUS, CalcFacil etc.) e a consulta aos softwares de apoio ao cuidado
baseado em evidências (exemplo: UpToDate, da Wolters Kluwer Health;
ClinicalKey, da Elsevier etc.).

Outras tecnologias, como o bluetooth, possibilitou o desenvolvimento


de muitos tipos novos de periféricos e enlaces de comunicação
entre equipamentos e softwares diversos (exemplo: monitores
multiparamétricos, transdutores diversos em um equipamento etc.).
Além disso, a robótica foi amplamente incorporada ao longo dos anos
nos hospitais. O uso de robôs mecânicos de alta precisão em conjunto
aos recursos de áudio, vídeo e inúmeros sensores pode apoiar os
profissionais da saúde nos processos assistenciais (PINOCHET; LOPES;
SILVA, 2014).

Os checkpoints para garantia da segurança do paciente, importante


indicador de qualidade na assistência em saúde, também tiveram
grande avanço com o uso de dispositivos móveis. São exemplos o uso
de checagem de código de barras para identificação do paciente, os
carrinhos de medicação beiram leito com tecnologia para checagem de
código de barras, acesso ao banco de imagens para apoio ao diagnóstico
de lesão por pressão etc. Enfim, o avanço de pesquisas aplicadas
de desenvolvimento tecnológico, o uso de dispositivos móveis e a
democracia da criação de conteúdo a partir da internet 2.0 trouxe ao
mercado infinitas possibilidades e tendências.

Para refletir: quantas tecnologias você vê nessa figura?


39

Figura 2 - Ilustração de cirurgia com apoio tecnológico

Fonte: shapecharge/ iStock.com.

2.4 Telemedicina e telessaúde

Em 2002, a Resolução do Conselho Federal de Medicina n. 1.643/2002,


em seu art. 1º, definiu a telemedicina como “o exercício da Medicina
através da utilização de metodologias interativas de comunicação
audiovisual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e
pesquisa em Saúde” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2002, [s.
p.]). Desde então, técnicos, teóricos e juristas se debruçaram sobre
a legalidade e as possibilidades dentro do campo da telemedicina e
telessaúde.

O uso mais frequente da telessaúde parecia ser para a troca de


informações entre instituições médicas de referência para outras de
menor espacialidade (exemplo: Unidades de Atenção Primária à Saúde),
para consultorias e troca de informações/experiências, discussões
de casos clínicos, auxílio diagnóstico etc. (PINOCHET; LOPES; SILVA,
2014). O uso para atendimento direto ao paciente parecia limitado e
longínquo, com usos limitados e direcionados a pacientes crônicos ou
40

de localidades remotas. A pandemia da Covid-19 fortaleceu a discussão


e o uso da telemedicina, sendo uma tendência ascendente. Durante a
pandemia, a telessaúde possibilitou a prevenção, a triagem, o cuidado
e tratamento, o monitoramento, a vigilância e a detecção da Covid-19,
sendo um marco para o futuro (CAETANO et al., 2020).

2.5 Educação em serviço: recursos digitais, ambientes


virtuais de aprendizagem (AVA) e uso de redes

Outra forma de compartilhar informações dentro de uma organização


é por meio da retenção e qualificação de seus agentes, os profissionais
de saúde. Dentro dos hospitais, o papel dos serviços de educação
corporativa é também o de preservar e promover a gestão da
informação, agregando valor ao negócio. Neste sentido, muito tem-se a
dizer sobre as TIC que podem apoiar a educação em serviço.

Você, gestor, está estudando neste momento por meio de um ambiente


virtual de aprendizagem (AVA), que nada mais é do que um ambiente
digital que guarda informações e contribui para que você possa construir
seu conhecimento, desenvolvendo-se como pessoa e profissional.
Consequentemente, você também agregará valor ao seu local de
trabalho, por meio da aplicação de sua aprendizagem ao conhecimento
organizacional explícito e tácito. Quando falamos do AVA, estamos
pensando, em grande parte, em estratégias de ensino a distância e de
forma assíncrona, ou seja, você que está lendo meu conteúdo não está
no mesmo lugar e tempo no qual eu escrevi este material.

Há também outros tipos de TIC que podem apoiar, e muito, outras


formas de interação que também geram conhecimento. As redes sociais
e os aplicativos multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas
de voz também podem ser muito úteis para a gestão da informação
organizacional (PINOCHET; LOPES; SILVA, 2014).
41

Por meio de plataformas, como Zoom, Teams, Meet, entre outras, é


possível estarmos no mesmo tempo e espaço, fazendo educação
em serviço, a distância e de forma síncrona. Pense na pandemia:
quantas reuniões, alinhamentos, treinamentos e até happy hours você
participou virtualmente. Isso não seria possível sem este tipo de recurso
tecnológico.

3. O pensamento inovador e o hospital do


futuro

Pinochet, Lopes e Silva (2014) já avisam que é preciso promover o


pensamento inovador na cultura organizacional:

As instituições da saúde, bem como os profissionais que atuam nesse


setor não ficam alheios a este processo de informatização. A utilização da
tecnologia permite a manutenção de uma posição de igualdade ou mesmo
de superioridade em relação a concorrentes no mercado competitivo, no
qual as organizações que prestam serviços de outsourcing devem ter o
mesmo comportamento. (LOPES; SILVA, 2014, p. 26)

Para inovar, é preciso conhecer profundamente seu negócio. O processo


de trabalho hospitalar é denso, complexo e vivo. É preciso ponderar os
objetivos estratégicos, os recursos disponíveis e exequíveis da tecnologia
da informação em seu contexto de trabalho e as características do
trabalho à qual a nova tecnologia será apoio. Sempre se pergunte:
como organizar a gestão da informação de forma eficaz e segura com
os recursos que tenho em mãos? Por que a melhoria relacionada a este
processo será a informatização?

Pense sobre o modelo de negócio... No Brasil, a rede de saúde é muito


complexa (saúde pública, suplementar e complementar), há vários
nichos de mercado diferentes, como hospitais que pertencem às
operadoras da saúde, cooperativas médicas, medicina de grupo, entre
42

outros. E, neste sentido, é esperado que os interesses e as resoluções


de problemas sejam distintos. Não há receita de bolo a ser seguida, mas
saiba que a tecnologia pode ajudar e que a padronização de processos
informacionais e da comunicação pode ser considerada uma questão de
sobrevivência para proporcionar a continuidade do modelo de negócio
da área da saúde.

Com a leitura de hoje, você pôde conhecer um recorte histórico


da tecnologia da informação e comunicação na saúde e algumas
tecnologias emergentes. Além disso, deparou-se com um disparador
para a reflexão sobre a importância do pensamento inovador. Para
finalizar esta Leitura Digital, é importante que você reflita sobre todos
os pontos e tecnologias apresentados. Como será o hospital do futuro?
Como você, gestor, pode contribuir com a incorporação e a manutenção
de novas tecnologias?

Referências
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. Tecnologias de
informação e comunicação – TIC: sistemas aplicados a saúde humana. Cadernos
Temáticos TICs. Brasília, DF: ABDI, 2010.
CAETANO, R. et al. Desafios e oportunidades para telessaúde em tempos da
pandemia pela COVID-19: uma reflexão sobre os espaços e iniciativas no contexto
brasileiro. Cad. Saúde Pública, v. 36, n. 5, p. e00088920, 2020. Disponível em:
http://doi.org/10.1590/0102-311X00088920. Acesso em: 10 abr. 2022.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFORMÁTICA EM
SAÚDE. Prontuário Eletrônico: a certificação de sistemas de registro eletrônico
de saúde. Brasília, DF: CFM; SBIS, 2012. Disponível em: http://www.sbis.org.br/
certificacao/Cartilha_SBIS_CFM_Prontuario_Eletronico_fev_2012.pdf. Acesso em: 12
abr. 2022.
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº 1.643, de 26 de agosto de
2002. Define e disciplina a prestação de serviços através da Telemedicina. Brasília,
DF: CFM, [2022]. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/
resolucoes/BR/2002/1643. Acesso em: 11 abr. 2022.
LEITE, S. H. F.; TAVARES, D. M.; BACHEGA, S. J. Utilização de um health information
system (HIS) para criação de base de dados. Brazilian Journal of Development,
43

Curitiba, v. 7, n. 1, p. 2794-2815, jan. 2021. Disponível em: http://doi.org/10.34117/


bjdv7n1-190. Acesso em :11 abr. 2022.
PINOCHET, L. H. C.; LOPES, A. S.; SILVA, J. S. Inovações e tendências aplicadas nas
tecnologias de informação e comunicação na gestão da saúde. Revista de Gestão
em Sistemas de Saúde RGSS, v. 3, n. 2, p. 11-29, 2014. Disponível em: http://dx.doi.
org/10.5585/rgss.v3i2.88. Acesso em: 11 abr. 2022.
44

Boas práticas, questões éticas


e organizacionais em gestão de
informação
Autoria: Fernanda Maria de Miranda
Leitura crítica: Carla Fernanda Tiroli

Objetivos
• Introduzir a ética em saúde.

• Refletir sobre aspectos éticos vinculados à gestão da


informação.

• Refletir sobre aspectos organizacionais vinculados à


gestão da informação.

• Refletir sobre as boas práticas na gestão da


informação.
45

1. Introdução à ética em saúde

Nesta Leitura Digital, você refletirá sobre aspectos éticos e


organizacionais relacionadas à gestão da informação para identificar
boas práticas na utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC) e Sistemas de Informação (SI) na coleta e no gerenciamento de
informações organizacionais dentro de um hospital.

Você consegue imaginar o trabalho em saúde sem a gestão da


informação? Como um profissional de saúde planejaria a terapêutica
e o cuidado em saúde sem suas anamneses, exames físicos, exames
complementares etc. Como poderia haver assistência à saúde sem a
comunicação, as passagens de plantão, a documentação em prontuário,
entre outros? Como os recursos assistenciais estariam previstos e
organizados para promover esse cuidado se os gestores não pudessem
acessar as informações operacionais, táticas e estratégicas deste local?

Como já bem entendido na literatura, conhecimento organizacional


agrega valor ao negócio. Dentro do processo de trabalho em saúde,
o acesso à informação é crucial, seja para o entendimento das
necessidades de saúde da população, a gestão dos recursos, a educação
em saúde, a ciência, a inovação, entre outros. Nossos pacientes
procuram o hospital para que suas necessidades de saúde sejam
atendidas e, para isso, é indispensável – e idiossincrático do trabalho
em saúde – que um conjunto de profissionais coletem, armazenem e
gerenciem informações específicas.

Um bom gestor deve estar atento aos processos existentes no seu


serviço de saúde, conhecer bem os recursos tecnológicos e alinhá-los às
expectativas e às experiências de gestão da informação e aos objetivos
estratégicos da organização. Para além da sistemática de implantação
e manutenção de um sistema manual ou informatizado para gestão da
informação, é importante conhecer e refletir sobre os aspectos éticos,
46

legais e organizacionais que permeiam esse processo, especialmente


num contexto tão específico quanto o hospitalar.

Para iniciar o processo de compreensão dos aspectos éticos e


organizacionais da segurança da informação, é importante compreender
o que é a bioética, ramo da ética destinada aos seres vivos, inclusive à
área da saúde. Na bioética clínica, discute-se sobre questões estruturais
da humanidade e os diferentes valores entre o eu e o outro, construindo
consensos para o convívio social, para as práticas clínicas e para a
responsabilização pelas tomadas de decisão dentro do trabalho em
saúde (COHEN, 2007).

A gestão da informação e comunicação possui uma interface direta


à bioética, tanto para garantir postura ilibada dos profissionais
durante o processo de gestão da informação, representada neste
texto pelos códigos de ética profissional, quanto para estabelecer
critérios éticos claros e bem delineados para os processos de obtenção,
armazenamento, distribuição, guarda, eliminação de informações,
representados neste texto pelas legislações vigentes em proteção de
dados e segurança da informação. É importante ressaltar que, nesta
Leitura Digital, será feito um recorte temático e legislações específicas
possivelmente não serão abordadas.

2. Aspectos éticos na gestão da informação

Historicamente, é importante ressaltar a contribuição de legislações,


como o art. 72 do Código de Defesa do Consumidor, Resolução CFM nº
1.331/1989, Resolução CFM nº 1.821/2007, Resolução CFM nº 2.218/2018,
entre outras, para a construção do arcabouço legal para a gestão da
informação dentro do contexto dos prontuários do paciente.
47

Atualmente, uma das diretrizes mais robustas no âmbito da proteção


dos dados é a nova Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD),
publicada em 2018, atualizada em 2019 e em vigor desde agosto de
2020, que tem como fundamentos éticos, já no art. 2º do Capítulo 1:

I–o respeito à privacidade; II–a autodeterminação informativa; III–a


liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; IV–a
inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; V–o desenvolvimento
econômico e tecnológico e a inovação; VI–a livre iniciativa, a livre
concorrência e a defesa do consumidor; e VII–os direitos humanos, o livre
desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania
pelas pessoas naturais. (BRASIL, 2018, [s. p.])

Nos hospitais, a nova LGPD tem sido motriz para diversas reflexões e
mudanças sobre como coletar e gerenciar os dados dos usuários de
saúde. Isso se dá pelo entendimento básico da nova LGPD de que toda
operação envolvendo dado pessoal é considerada tratamento de dados
e, para que haja qualquer gestão desta informação, deve-se haver a
autorização do titular do dado, com vistas para rígidas penalizações
para os que não fizerem cumprir a lei. Neste sentido, é importante
compreender alguns conceitos básicos dispostos no Quadro 1:

Quadro 1 - Conceitos básicos da LGPD


Termo Definição
Dados pessoais Qualquer informação capaz de identificar um indivíduo.
Dados pessoais sensíveis Informações que podem causar discriminação ao titular.
Titular Pessoa física a quem se referem os dados pessoais.
Controlador Aquele que decide o que será feito com os dados pessoais.
Operador Aquele que realiza o tratamento de dados
pessoais em nome do Controlador.
Encarregado pelo Aquele que atua como canal de comunicação entre
tratamento o titular dos dados pessoais e o Controlador.

Fonte: adaptado de Brasil (2018).


48

Agora que você já conhece esses conceitos básicos, vamos a três


informações importantes para o contexto hospitalar (BRASIL, 2018):

1. Toda e qualquer informação pessoal pode ser coletada e


gerenciada para que a atividade fim de determinado serviço ou
instituição possa acontecer na íntegra e com qualidade, desde que
consentido pelo titular.

2. Toda informação de saúde é considerada um dado pessoal


sensível.

3. Os dados pessoais sensíveis, por sua natureza, são tratados


com maior rigor pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados
(ANPD).

Com base nestas três premissas, a compreensão plena da lei e sua


aplicabilidade à gestão da informação hospitalar se faz indispensável.
Vamos à um exemplo de fixação?

Imagine um cenário dentro da saúde suplementar. Se um indivíduo


possui um plano de saúde e passa por atendimento, você pode estar
diante de duas situações distintas. Se o atendimento fosse dentro de
um hospital de recursos próprios: o paciente será o titular dos dados, o
hospital será o controlador e operador dos dados, tendo um setor ou
indivíduo como encarregado pelo tratamento, pois a mesma pessoa
jurídica que coleta e gerencia os dados é aquela que tem poder decisório
sobre o processo. Entretanto, se o atendimento fosse em um hospital
de terceiros: o paciente continua sendo o titular dos dados, o hospital
terceiro será o operador dos dados e a operadora de saúde será o
controlador e seu representante será encarregado pelo tratamento.

A Federação Brasileira de Hospitais (FBH) lançou, em 2020, um manual


com oito passos para a adequação dos hospitais para a nova LGPD,
conforme expressa a Figura 1.
49

Figura 1 - Oito passos para a adequação de hospitais à proteção


de dados

Fonte: adaptada de Federação Brasileira de Hospitais (2020, p. 30-31).

Fazer cumprir a legislação vigente é o primeiro passo para a atuação


ética na saúde. Porém, é consenso entre os teóricos sobre a bioética
clínica que, para além dos limites legais, há uma faceta subjetiva
referente à ética cotidiana dos profissionais de saúde. Quando foi
descrito, no começo deste tópico, que o trabalho em saúde se faz
a partir da comunicação para a compreensão e a resolução das
necessidades de saúde dos pacientes, há o entendimento de que todo
o trabalho em saúde se pauta nas relações interpessoais e, claro, em
outras questões éticas de natureza sutil permeiam o trabalho hospitalar
todos os dias. A promoção de um ambiente organizacional ético vai para
além das normas escritas, arraigando-se também nas reflexões diárias
50

dos trabalhadores de saúde, e você, gestor, é responsável por este


processo.

3. Aspectos organizacionais na gestão da


informação

No contexto organizacional, os aspectos operacionais que devem ser


priorizados na gestão da informação são os relacionados à segurança
da informação. Você, gestor, deve estar atento às normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entre outras organizações, que
ditam as orientações acerca da segurança da informação.

A ISO/IEC 27000:2014 é o primeiro volume de toda a família de normas


ISO para este tema, denominadas ISO 27000. A ISO/IEC 27000:2014
definiu termos básicos sobre a segurança da informação e contém uma
visão geral dessa família de normas. Vamos conhecer alguns conceitos?
A Figura 2 considera um esquema visual simulando ataques a um
sistema vulnerável para ilustrar conceitos básicos sobre segurança da
informação:

Figura 2 - Ataques a sistemas vulneráveis

Fonte: elaborada pela autora.


51

No esquema, são vistos sistemas de informação, onde há diversas


informações valiosas para a organização, tidas como ativos.
Os três sistemas possuem as mesmas características, com as
mesmas vulnerabilidades. Entretanto, no primeiro cenário, não há
conhecimento da organização de suas vulnerabilidades nem dos
pontos de ameaça. No segundo, há a percepção, entretanto nada foi
implementado, mantendo o sistema em constante risco de ataques.
Por fim, no último cenário, uma medida defensiva foi implementada, e
o ataque, evitado.

Você pode compreender melhor estes conceitos no Quadro 2:

Quadro 2 - Conceitos de segurança da informação segundo a ABNT


Termo Definição
Ameaça “Causa potencial de um incidente indesejado, a qual
pode resultar no dano a um sistema ou organização”.
Ataque “Tentativa de destruir, expor, alterar, inutilizar,
roubar ou obter acesso não autorizado a, ou
fazer uso não autorizado de um ativo”.
Ativo Sinônimo de bem, ou seja, “qualquer coisa
que tenha valor para a organização”.
Exposição “Circunstância de estar exposto aos prejuízos
oriundos de um agente ameaçador”.
Risco “Combinação da probabilidade de um
evento e sua consequência”.
Vulnerabilidade “Fraqueza de um ativo ou controle que pode ser
explorada por uma ou mais ameaças”.

Fonte: Hintzbergen et al. (2018, p. 26-31).

Neste sentido, o conceito de segurança (do inglês, security) é definido


pelo gerenciamento do relacionamento das quatro concepções:
vulnerabilidade, ameaça, ataque e medida defensiva (VACCA, 2006).
Assim, pensando na engenharia de software dos sistemas de informação
(SI) ou tecnologias da informação e comunicação (TIC) possíveis na
gestão da informação, uma medida defensiva eficiente será aquela
que identifique as vulnerabilidades do sistema, assim como sua
52

exploração e/ou exposição a partir de ações ou ferramentas durante


um ataque mal-intencionado (VACCA, 2006). Já para a ABNT, uma ação
defensiva, chamada de ação preventiva é aquela “ação para eliminar a
causa de uma potencial não conformidade ou outra potencial situação
indesejável” (HINTZBERGEN et al., 2018, p. 26).

Confidencialidade, integridade e disponibilidade são os princípios


críticos de segurança. O primeiro assegura que o nível necessário de
sigilo seja aplicado em cada elemento de processamento de dados e
impede a divulgação não autorizada. O segundo se refere a ser correto
e consistente com o estado ou a informação pretendida, ou seja, a
impossibilidade de se haver modificações não autorizadas nestes
dados. O terceiro diz respeito à informação manter-se à disposição
corretamente, sem falhas, de forma contínua e robusta (HINTZBERGEN
et al., 2018; VACCA, 2006).

São exemplos de medidas defensivas com base nestes princípios:

a. Criptografia de dados no armazenamento ou na transmissão.

b. Preenchimento de tráfego na rede (trafic padding).

c. Controle de acesso (login/senha).

d. Classificação dos dados.

e. Gravação/rastreio (logged) das ações dos usuários.

f. Certificação digital.

g. Treinamentos sobre segurança e ética no tratamento de dados,


entre outros.
53

4. Boas práticas na gestão da informação

Para finalizar essa Leitura Digital, baseado nos itens estudados até aqui,
é possível sugerir uma lista de boas práticas relacionadas à gestão da
informação.

1. Conheça seu hospital e as informações que você gerencia.

2. Fortaleça grupos de reflexão, como as Comissões Hospitalares


de Ética e Segurança da Informação. Para além da formalidade
legal perante os conselhos de classe e órgãos responsáveis, esses
espaços são potentes para fomentar a reflexão da práxis.

3. Conheça a legislação que regula a segurança e a ética da


informação no seu âmbito de trabalho e cenário específico.
Lembre-se de buscar a informação mais completa e atual para o
seu cenário.

4. Proteja os dados que chegam até você. Lembre-se sempre quem


é o titular daquela informação e quais cuidados são necessários
para o respeito à LGPD. Compreenda os processos que envolvem
a gestão de dados pessoais e fortaleça suas equipes para a
melhoria contínua.

5. Aproprie-se da gestão de riscos, construa relatórios, gire ciclos


de melhoria contínua e fortaleça a cultura organizacional para a
gestão de riscos em segurança da informação.

6. Fortaleça seu time de experts em tecnologia da informação. É


importante conhecer seus sistemas informatizados, manter uma
relação aberta e próspera com seus fornecedores de sistema
e estar atento às vulnerabilidades e ameaças para garantir a
segurança e a proteção de dados.
54

7. Capacite seus profissionais. A reflexão da ética é um trabalho


de “travesseiro”, ou seja, aquele momento introspectivo feito no
íntimo de cada ser. É preciso que os colaboradores tenham acesso
contínuo a questionamentos, reflexões e boas práticas em bioética
para repensar (e transformar) suas práticas.

Referências
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a Lei Geral de
Proteção de Dados. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso
em: 19 abr. 2022.
COHEN, C. Questões de bioética clínica: pareceres da Comissão da Bioética do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Rio
de Janeiro, RJ: Elsevier, 2007.
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HOSPITAIS. Guia LGPD para o setor hospitalar:
orientações para implementação das adequações necessárias à aplicação da
nova lei geral de proteção de dados (LGPD) em hospitais. Brasília, DF: FBH, 2020.
Disponível em: https://www.fbh.com.br/wp-content/uploads/2021/02/Guia-LGPD.
pdf. Acesso em: 20 abr. 2022.
HINTZBERGEN, J. et al. Fundamentos de Segurança da Informação: com base na
ISO 27001 e na ISO 27002. Rio de Janeiro, RJ: Brasport Livros e Multimídia, 2018.
VACCA, J. R. Practical Internet Security. Nova Iorque: Springer, 2006.
55

Você também pode gostar