Você está na página 1de 64

WBA0127_v2.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA,
SANITÁRIA E AMBIENTAL
Anderson da Silva Rêgo

Marceila de Andrade Fuzissaki

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, SANITÁRIA E


AMBIENTAL
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Presidente
Rodrigo Galindo

Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada


Paulo de Tarso Pires de Moraes

Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Henrique Salustiano Silva
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa

Revisor
Marcia Cristina Aparecida Thomaz
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Rêgo, Anderson da Silva
R343v Vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental/
Anderson da Silva Rêgo, Marceila de Andrade Fuzissaki –
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
200 p.

ISBN 978-65-87806-89-1

1. Vigilância epidemiológica 2. Vigilância sanitária e ambiental 3. Saúde pública I.


Fuzissaki, Marceila de Andrade II. Título.

CDD 500
____________________________________________________________________________________________
Raquel Torres – CRB 6/278

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

3
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, SANITÁRIA E AMBIENTAL

SUMÁRIO
Epidemiologia e informação em saúde_______________________________ 05

Doenças de notificação obrigatória e PNI ____________________________ 21

Eixos governamentais, organizacionais e sistemas de inspeção da


ANVISA ______________________________________________________________ 35

Contribuição das ações de vigilância na promoção da saúde e prevenção


de doenças __________________________________________________________ 50

4
Epidemiologia e informação em
saúde
Autoria: Marceila de Andrade Fuzissaki
Leitura crítica: Marcia Cristina Aparecida Thomaz

Objetivos
• Definir a epidemiologia, assim como sua área de
aplicação.

• Compreender os indicadores de saúde quanto ao


seu conceito, características e objetivos.

• Identificar a relação dos sistemas de informação


com a área da epidemiologia e sua importância na
gestão da saúde.

• Apontar o papel da epidemiologia na avaliação da


eficácia dos tratamentos

• Descrever o papel da epidemiologia na avaliação dos


testes diagnósticos.

5
1. Introdução

No século XIX, tempo em que não havia recursos tecnológicos e o


pesquisador utilizava-se tão somente da sua habilidade de observar,
John Snow (1813-1858), considerado o pai da epidemiologia moderna,
identificou a associação causal entre a cólera e o consumo de água
contaminada por fezes de doentes em plena epidemia dessa doença.
Desse momento até início do século XX, a epidemiologia focalizou
seus esforços nos modos de transmissão das doenças e no combate
às epidemias. No decorrer dos anos, com a melhora no estilo de vida
e a diminuição da ocorrência das doenças infeciosas, doenças não
transmissíveis, como o diabetes e o câncer, passaram a ser seu objeto
de estudo. Atualmente, essa ciência ampliou seu foco, que inclui: a
intensificação das doenças infecciosas, a qualidade dos cuidados em
saúde, a saúde mental, doenças ocupacionais, impactos ambientais,
dentre outros, visando a melhoria de vida e o aumento no nível de saúde
do coletivo (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018). Evidencia-se, portanto, que
o objeto de estudo da epidemiologia é complexo, mas fundamental por
proporcionar informação necessária para auxiliar na tomada de decisão
quanto ao planejamento, a administração e a avaliação de sistemas e
serviços de saúde. Vamos entender um pouco mais sobre essa temática?

1.1 Definição de epidemiologia

Nos últimos anos, o desenvolvimento da epidemiologia acelerou devido


aos inúmeros avanços, como os na área da informática. O método
epidemiológico, com suas diferentes nomenclaturas, consolidou-
se amplamente em sua área de origem, ou seja, na área da saúde
coletiva, assim como na área clínica, ou seja, nas questões relacionadas
à natureza individual, segundo Goldbaum (1996). Você conseguiria
identificar alguma contribuição da epidemiologia em seu cotidiano?
Veja alguns exemplos que também foram contribuições possíveis

6
devido a epidemiologia, segundo Goldbaum (1996): a identificação do
papel nocivo do tabaco, bem como a identificação dos fatores de risco
relacionados a ocorrência de doenças cardiovasculares e cânceres; a
função do flúor na prevenção da cárie dental, assim como a eficácia e
efetividade das vacinas.

Existem inúmeras definições de epidemiologia, dentre as quais, destaca-


se:

Ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas,


analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades,
danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo
medidas específicas de prevenção, controle, ou erradicação de doenças,
e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento,
administração e avaliação das ações de saúde (ROUQUAYROL, 1993 apud
GOLDBAUM, 1996, p.96).

Tem-se também a definição de epidemiologia, de acordo com a


Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), como “o estudo dos
fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas
coletividades humanas” (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018, p.10).

Quais seriam seus objetivos? Dentre seus objetivos, tem-se:


identificar a distribuição dos problemas de saúde, bem como sua
intensidade nas populações; pontuar fatores relacionados a etiologia
de determinadas doenças; oferecer dados fundamentais para o
planejamento, incluindo o estabelecimento de prioridades, a execução
das ações de saúde em termos de prevenção, controle e tratamento
e a avaliação (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018). Essa última função é
reforçada na Lei n. 8080, de 1990, que dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde e sobre a organização e
o funcionamento dos serviços de saúde e inclui a epidemiologia como
um importante instrumento na implementação do Sistema Único de
Saúde (SUS), o que inclui a determinação de prioridades e a alocação de
recursos, segundo Goldbaum (1996).

7
Ainda de acordo com Goldbaum (1996), considerando os sistemas
de saúde, quatro grandes usos da epidemiologia se destacam: nas
situações de saúde, na vigilância epidemiológica, nos estudos em que
se investiga fatores causais e na avaliação de serviços, programas e
tecnologias.

Entretanto, na prática, observa-se uma grande dificuldade dos serviços


de saúde em utilizar da epidemiologia em sua prática, apesar dos
avanços tecnológicos e da informática. Dentre as causas, destaca-se a
não consideração da epidemiologia ao se definir as políticas e ações de
saúde; a ausência de profissionais capacitados e infraestrutura antiga
dos serviços de saúde (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018). Visando melhor
aplicabilidade da epidemiologia nos serviços de saúde, pontuam-se
dois eixos: o político institucional e o plano operacional. O primeiro, por
meio das análises das situações de saúde, visa estabelecer aspectos que
permitirão identificar prioridades e estratégias nos diferentes níveis de
atuação. Considerando o plano operacional, segundo Goldbaum (1996),
a epidemiologia é utilizada na avaliação do impacto dos dados nos
diversos níveis e inclui a avaliação de serviços e análise da incorporação
de tecnologias para fins diagnósticos e/ou terapêuticos.

1.2 Epidemiologia na avaliação da eficácia dos


tratamentos

Esta temática pode ser iniciada com a seguinte pergunta: identificado


a natureza do COVID-19 e o curso esperado da doença, qual seria o
próximo passo? Você pode ter pensado: identificar o tratamento que
melhore o desfecho, ou seja, que cure ou previna as pessoas dessa
doença. A descoberta de novos tratamentos permeia as hipóteses,
ou seja, a ideia sobre o que pode ser um tratamento útil. O que seria
tratamento? Tratamento é qualquer intervenção cujo objetivo seja
melhorar o curso da doença, uma vez que esteja estabelecida. Além
disso, o tratamento pode ser referente a qualquer ponto da história

8
natural da doença, ou seja, desde a prevenção até o cuidado paliativo.
Como estabelecer os efeitos da intervenção? Dois métodos podem ser
utilizados: os estudos observacionais e os experimentais (FLETCHER;
FLETCHER; FLETCHER, 2014).

Nos estudos observacionais, o pesquisador observa o que ocorre com


os pacientes que, por diversos motivos, são expostos ou não a uma
intervenção. Dentre os tipos de estudos observacionais, têm-se os
estudos sobre prognóstico, ou seja, quando o fator prognóstico (por
exemplo: resposta ao tratamento, tempo de sobrevida global) é uma
intervenção terapêutica. Considerando os estudos experimentais, tem-
se o estudo de coorte, nos quais o recrutamento dos indivíduos do
grupo de tratamento, a natureza das intervenções, o manejo durante
o período de acompanhamento e a avaliação dos desfechos, são
estabelecidos pelo pesquisador, objetivando fazer comparações sem
viés. Esse tipo de estudo é chamado de ensaios clínicos. Dentre eles,
aqueles randomizados são os considerados de excelência, visto que o
tratamento é distribuído aleatoriamente, ou seja, ao acaso (FLETCHER;
FLETCHER; FLETCHER, 2014).

Na figura abaixo (Figura 1), tem-se as fontes que possibilitam a


descoberta de novos tratamentos.

9
Figura 1 – A relação entre as ideias e as evidências

Fonte: Fletcher, Fletcher e Fletcher (2014).

1.3 Epidemiologia na avaliação dos testes diagnósticos

Teste diagnóstico é definido como um teste realizado em laboratório.


Entretanto, também pode englobar informações clínicas advindas
da anamnese, do exame físico ou de um exame de imagem, como a
tomografia, ultrassom e endoscopia. Um conjunto de achados também
pode ser definido como um teste diagnóstico. Veja o seguinte exemplo:
homem tabagista com hemoptise e perda de peso. Tais sinais e sintomas
são achados sugestivos do diagnóstico de câncer de pulmão (FLETCHER;
FLETCHER; FLETCHER, 2014). Para estabelecer um diagnóstico, é
importante salientar que é um processo imperfeito, que resulta em
uma probabilidade. Dessa forma, deve-se verificar a relação entre os
resultados de um teste e o seu diagnóstico, como descrito na Figura 2.

10
Figura 2 – Relação entre o resultado de um teste diagnóstico e a
ocorrência da doença

Fonte: Fletcher, Fletcher e Fletcher (2014).

Observa-se, portanto, que um teste é definido como positivo (anormal)


ou negativo (normal), ou seja, quando a doença está presente ou
ausente, respectivamente. Entretanto, existem quatro tipos de
resultados possíveis: resultado correto, quando o teste for positivo
e houver a presença da doença (verdadeiro-positivo) ou negativo, na
ausência da doença (verdadeiro-negativo); resultado incorreto, quando o
teste for positivo e não houver doença (falso-positivo) ou teste negativo,
quando houver a doença (falso-negativo) (FLETCHER; FLETCHER;
FLETCHER, 2014).

Nesse sentido, é fundamental abordar a acurácia do teste, ou seja,


quando se deseja de alguma forma saber se a doença realmente está
presente. Assim, tem-se o padrão ouro, também chamado de critério
padrão ou padrão de referência, é considerada uma indicação mais real
da verdade. Algumas vezes, o padrão ouro é um teste simples e barato,
como, por exemplo: teste de anticorpos para detectar a infecção pelo
vírus da imunodeficiência humana (FLETCHER; FLETCHER; FLETCHER,
2014).

O teste diagnóstico pode ser baseado nos sintomas e sinais e na história


clínica. Como exemplo, temos o diagnóstico da AIDS, que, segundo a
Organização Mundial da Saúde, pode ser definido por dois critérios: a

11
presença de dois sinais maiores (perda de pelo menos 10% de peso em
relação ao peso total, diarreia crônica ou febre prolongada) e um sinal
menor (tosse crônica, herpes-zoster, linfadenopatia generalizada). Esses
critérios podem ser utilizados em locais onde os recursos diagnósticos
são limitados.

Além desses critérios clínicos, têm-se os critérios laboratoriais, como


os definidos pelo Center for Disease Control (CDC): os indivíduos
considerados infectados pelo vírus HIV são aqueles com contagem de
CD4+ e células T inferiores a 200/microlitro (BONITA; BEAGLEHOLE;
KJELLSTROM, 2010). Em outros casos, são mais caros, como biopsia ou
cirurgia exploratória (FLETCHER; FLETCHER; FLETCHER, 2014).

Tais critérios diagnósticos podem ser modificados devido à incorporação


de avanços científicos e também nas técnicas de diagnóstico. Veja o
exemplo: o critério diagnóstico para infarto agudo do miocárdio definido
pela OMS, e de acordo com estudos epidemiológicos, foi alterado após
a incorporação do exame eletrocardiograma em 1980 e também com
a incorporação da dosagem de enzimas cardíacas em 1990 (BONITA;
BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010).

Outros aspectos importantes se referem a sensibilidade e especificidade


de um teste. A primeira se refere a proporção de indivíduos que
possuem a doença e que tem o teste positivo. Nesse caso, um teste
sensível, dificilmente deixará passar despercebido um indivíduo que

12
tenha a doença. A especificidade se refere a proporção de pessoas
sem a doença e que tenham um teste negativo. Assim, um teste
específico dificilmente identificará erroneamente uma pessoa como
sendo portadora da doença quando não a tenha (FLETCHER; FLETCHER;
FLETCHER, 2014).

1.4 Epidemiologia e indicadores de saúde

Os indicadores são instrumentos que possibilitam identificar, medir e


descrever aspectos relacionados a determinado evento ou objeto. Tem
como objetivo, traduzir de forma quantitativa (quando é possível medir)
ou qualitativa (quando é possível descrever) aspectos de determinada
realidade ou ação; podem ser utilizados em diversos momentos
do processo de elaboração de políticas e programas públicos. Tais
processos são construídos tendo, por base, o ciclo de políticas
públicas (BRASIL, 2018). Dentre os diversos modelos de ciclos, temos o
apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Modelo de ciclo de políticas públicas

Fonte: Brasil (2018).

13
Considerando o ciclo de políticas públicas, os indicadores podem ser
utilizados nas diversas fases e com diferentes objetivos. Na fase de
identificação do problema, tem como objetivo elaborar diagnósticos
iniciais ou realizar levantamento de situações para identificar
problemas futuros. Na fase de constituição da agenda (conjunto de
problemas oriundos de debates e discussões e que representam o
interesse público), os indicadores visam identificar os problemas e suas
respectivas características, como a gravidade, urgência e prioridade.
Na fase de planejamento, os indicadores são definidos visando medir o
desempenho de determinada intervenção com o intuito de monitorar
e avaliar (fases subsequentes do ciclo). Os indicadores definidos na
fase de implementação são, ou deveriam ser, originários da fase de
planejamento e deveriam ser utilizados na fase de monitoramento,
visando observar a evolução da intervenção e, caso necessário, propor
medidas corretivas. Na fase de avaliação, o indicador objetivo compara o
desempenho da política pública proposta para solucionar os problemas
apontados (BRASIL, 2018).

Como identificar e escolher os indicadores? Os indicadores que devem


ser selecionados são aqueles capazes de avaliar o desempenho das
políticas e também informar características fundamentais do objeto em
questão, ou seja, fenômenos como o social, o econômico, o ambiental, o
cultural. Sendo assim, a Figura 4 apresenta os aspectos que devem ser
levados em consideração ao escolher os indicadores (Figura 4).

14
Figura 4 – Aspectos dos indicadores que devem ser levados em
consideração durante seu processo de escolha

Fonte: Brasil (2018).

Nesse processo de escolha, além dos aspectos acima citados, é preciso


levar em consideração suas propriedades (BRASIL, 2018):

• Utilidade: os indicadores devem ser baseados nas necessidades


reais.

• Validade: ser capaz de representar, no decorrer do tempo, a


realidade que almeja avaliar e alterar.

• Confiabilidade: os indicadores devem ser originários de fontes


seguras e honestas.

• Disponibilidade: os dados devem ser de fácil aquisição.

15
• Simplicidade: os indicadores devem ser de fácil compreensão,
tanto para seus executores como para o público em geral.

• Clareza: o indicador deve expressar de maneira clara a sua


mensagem.

• Sensibilidade: o indicador deve ser capaz de avaliar as variações


do fenômeno.

• Desagregabilidade: capacidade de representar a regionalização


dos grupos sociodemográficos.

• Economicidade: o indicador deve ser obtido a baixo custo, ou seja,


a relação custo benefício deve ser favorável.

• Estabilidade: ser oriundo de séries históricas estáveis, em que há


possibilidade de monitoramento e comparações entre as variáveis.

• Auditabilidade ou rastreabilidade: os indicadores devem ser


passíveis de verificação quanto a sua obtenção, tratamento,
interpretação.

Por fim, os indicadores podem ser classificados quanto ao fluxo de


implementação (insumos-antes, processo-durante, produto-depois,
resultado-depois, impacto-depois) e quanto ao seu desempenho
(economicidade, eficiência, eficácia, efetividade) (BRASIL, 2018).

Diante do exposto, você consegue identificar onde está a epidemiologia


ao se falar dos indicadores? Qual seria essa relação? Esse aspecto
é de fundamental importância e precisa estar claro. Os indicadores
representam um tipo de medida básica de saúde, assim como os índices
absolutos (resultado de estimativas sobre a vida e a saúde, como
nascimentos, doenças e óbitos), os coeficientes (termo usado para
designar as medidas que descrevem os fenômenos observados) e as
taxas (auxiliam no cálculo dos fenômenos esperados). O termo índice

16
também é utilizado como sinônimo de indicador (ROUQUAYROL; DA
SILVA, 2018).

Tais medidas em saúde, derivadas da área da epidemiologia, são


fundamentais na área da gestão em saúde, que inclui três atividades
básicas: a avaliação, o planejamento e a execução das ações, que
deverão ser submetidas a novas avaliações. A avaliação inclui medidas
primárias de vida e de saúde, ou seja, medias elementares, absolutas, de
incidências e de prevalências (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018). O quadro
abaixo exemplifica as medidas segundo a natureza de ocorrência usadas
para a caracterização da vida (Figura 5).

Figura 5 – Denominação de medidas de acordo com a natureza da


ocorrência

Fonte: Rouquayrol e Da Silva (2018).

Essas ocorrências, descritas em números absolutos de observações,


correspondem às primeiras medidas em saúde pública.

O planejamento, etapa constituída pela seleção de ações visando


promoção da vida e a criação de projetos para a implementação dessas
ações, engloba medidas secundárias de vida e de saúde, ou seja,
medidas compostas, de incidência e de prevalência. Quais seriam essas
medidas secundárias? Coeficientes e taxas, calculados pela relação entre
médias primárias, e que resultam em valores relativos representados
por razão ou proporção (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018). A Figura 6
descreve algumas medidas básicas usadas em saúde coletiva.

17
Figura 6 – Resumo sobre os índices da saúde coletiva

Fonte: Rouquayrol e Da Silva (2018).

Dentre as medidas de saúde, têm-se os indicadores de morbidade,


definidos como medidas relativas ao comportamento das doenças e
dos agravos à vida em uma determinada população, usados para avaliar
o nível de saúde (vida) e para o direcionamento de ações, visando
controlar doenças ou agravos, ou seja, objetiva o monitoramento de
doenças e a avaliação do tipo causa/efeito. A expressão quantitativa da
morbidade é descrita abaixo:

Coeficientes de morbidade = números de casos de uma doença

———————————————————————————— x 10n

População

1.5 Epidemiologia e sistemas de informação

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), Sistema de


Informação em Saúde (SIS) “é definido como um mecanismo de coleta,
processamento, análise e transmissão da informação necessária para o

18
planejamento, a organização, a operação e a avaliação dos serviços de
saúde” (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018, p.617).

Qual seria a função dos SIS? Os SIS são consideradas ferramentas


fundamentais para a interpretação da realidade socioeconômica,
demográfica e epidemiológica e tomada de decisão, o que auxiliará no
planejamento, gestão, organização e avaliação nos diferentes níveis
que constituem o Sistema Único de Saúde (SUS), contribuindo para a
melhoria da qualidade dessas informações e também da assistência
(ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

Entretanto, ao se discutir sobre os SIS, tem-se um aspecto que


merece destaque: os dados, base para as informações, necessitam
ser completos e confiáveis, ou seja, realmente representar a realidade
da situação de saúde. Podem ser registrados de maneira contínua,
como, por exemplo, no caso de óbitos, nascimentos, internações e
doenças de notificação compulsória ou de maneira periódica, como o
recenseamento da população (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

No âmbito do SUS, qual sistema nacional de informação em saúde


você conhece? Reflita! Existem aqueles sistemas assistenciais e aqueles
epidemiológicos, importantes para a determinação do diagnóstico de
situações de saúde e também para a definição das intervenções mais
adequadas ao perfil populacional. Podemos citar os seguintes: Sistema
de Informação sobre Mortalidade (SIM), o Sistema de Informações
sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan), considerados epidemiológicos. Em se tratando dos
assistenciais, tem-se: o Sistema de Informações Hospitalares do SUS
(SIH-SUS) e o Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS)
(ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

19
1.6 Conclusão

Evidencia-se, portanto, que a epidemiologia é uma ciência que impacta


diretamente na vida de todos e o profissional que atua na área da saúde
pública deve ter conhecimento e se apropriar dessa ferramenta em sua
prática. Dentre os inúmeros aspectos, tem-se a avaliação da eficácia
dos testes diagnósticos e dos tratamentos, além da importância dos
sistemas de informação e também da aplicabilidade dos indicadores de
saúde na obtenção de dados. Tais aspectos são imprescindíveis para o
planejamento, a avaliação e o monitoramento dos sistemas de saúde, ou
seja, na gestão em saúde.

Referências Bibliográficas
BONITA, R.; BEAGLEHOLE, R.; KJELLSTROM, T. Epidemiologia básica. 2.ed. São
Paulo: Santos, 2010.
BRASIL. Ministério do Planejamento, desenvolvimento e gestão. Programa Nacional
de Gestão Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA). Indicadores: orientações
básicas aplicadas à gestão pública. 3 ed., Brasília, 2018. Disponível em: http://www.
gespublica.gov.br/content/indicadores-orienta%C3%A7%C3%B5es-b%C3%A1sicas-
aplicadas-%C3%A0-gest%C3%A3o-p%C3%BAblica. Acesso em: 14 set. 2020.
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica:
elementos essenciais. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
GOLDBAUM, M. Epidemiologia e serviços de saúde. Cad. Saúde Públ., 12 (Supl.
2):95-98, Rio de Janeiro, 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/
v12s2/1524.pdf. Acesso em: 14 set. 2020.
ROUQUAYROL, M. Z.; DA SILVA, M. G. C. Epidemiologia & Saúde. 8. ed. Rio de
Janeiro: Medbook, 2018.

20
Doenças de notificação
obrigatória e PNI
Autoria: Marceila de Andrade Fuzissaki
Leitura crítica: Marcia Cristina A Thomaz

Objetivos
• Definir vigilância em saúde pública.

• Compreender os aspectos históricos e as ações que


caracterizam a vigilância em saúde pública.

• Descrever o significado de notificação compulsória,


bem como as doenças incluídas nessa definição.

• Entender historicamente o Programa Nacional de


Imunização (PNI) e as caraterísticas relacionadas a
ele.

21
1. Introdução

Na área da saúde pública, a vigilância é responsável por ações


relacionadas à vigilância, prevenção e controle de doenças
transmissíveis, pela vigilância de fatores de risco para o desenvolvimento
de doenças crônicas não transmissíveis, saúde ambiental, saúde do
trabalhador e análise de saúde da população do Brasil. Nesse contexto,
tem-se as doenças de notificação compulsória e o Programa Nacional
de Imunização (PNI), que serão discutidos neste tópico (BRASIL, 2017).
Conhecer aspectos relacionados a esses componentes são fundamentais
para os profissionais que atuam na saúde pública. Vamos entender
melhor sobre esse assunto.

1.1 Vigilância epidemiológica

A vigilância em saúde pública, segundo o Centro de Doenças


Transmissíveis dos Estados Unidos das Américas (EUA), é definida como
a coleta sistemática e constante de dados, a análise e a interpretação de
desfechos específicos com o objetivo de utilizá-los no planejamento, na
implementação e na avaliação de ações em saúde pública. E vigilância
epidemiológica (VE)? O que significa? Segundo a Lei n. 8.080, de 1990
(Lei Orgânica da Saúde), a VE é definida como um conjunto de práticas
realizadas visando o conhecimento, a identificação ou a prevenção
de qualquer alteração nos fatores determinantes e condicionantes da
saúde, seja individual ou coletiva. Tem como objetivo o direcionamento
e a proposição de medidas preventivas e de controle de complicações
ou doenças (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018). Evidencia-se, portanto,
que, para atender ao seu objetivo, a VE deve ser alimentada com dados
sobre as doenças e os agravos que estão sob vigilância ou que possam
originar-se de modo atípico (TEIXEIRA et al., 1998).

Um marco histórico relacionado às ações de VE, no Brasil, refere-se


a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV), entre 1966 e 1973. Essa

22
campanha guiou a construção, em 1969, de um sistema semanal
de notificação de doenças e auxiliou a Fundação Serviços de Saúde
Pública (FSESP), na disseminação de informações por meio do boletim
epidemiológico. Isso permitiu a consolidação das bases técnicas e
operacionais das futuras ações relacionadas às doenças evitáveis pela
imunização (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

No Brasil, o modelo de organização das práticas de saúde coletiva inclui


ações de VE e ações de prevenção e controle de doenças. Portanto,
as ações de VE incluem ações de vigilância e ações de prevenção e
ações de controle. O que a área da vigilância engloba? Antigamente
englobava doenças transmissíveis e, hoje, devido a alteração no perfil
epidemiológico da população, incorporou novas áreas de ação, como:
a vigilância de mortes evitáveis, a vigilância dos eventos adversos
aos medicamentos, vacinas e ações médico-sanitárias, a vigilância de
doenças relacionadas a poluição ambiental e em saúde do trabalhador,
a vigilância de doenças não transmissíveis, assim como de seus fatores
de risco, entre outros (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

Quanto à terminologia, os órgãos internacionais tem optado pelo


termo vigilância em saúde pública, visto que consideram que o termo
epidemiológica seja restritivo e poderia confundir com o termo
epidemiologia em si. Entretanto, no Brasil, utiliza-se o termo vigilância
sanitária ao se referir às práticas de controle sanitário de medicamentos,
de alimentos e também de serviços e produtos relacionados à saúde; e o
termo vigilância epidemiológica, como descrito acima (ROUQUAYROL; DA
SILVA, 2018). Nesse conteúdo, utilizaremos o termo vigilância em saúde
pública.

Os objetivos da vigilância em saúde pública são:

• Compreender o comportamento epidemiológico das doenças


sob vigilância, objetivando detectar os surtos e as epidemias
precocemente, assim como a distribuição espacial das doenças;

23
a caracterização dos grupos mais afetados e dos quadros mais
graves da doença.

• Indicar as medidas de prevenção e de controle das doenças sob


vigilância e a avaliação das medidas adotadas.

• Interromper as cadeias de transmissão das doenças, nos casos


daquelas transmissíveis.

• Identificar novos problemas de saúde pública.

Consegue pensar na atualidade e identificar um exemplo de doenças


detectadas e ações conduzidas pelo conhecimento emergido da
vigilância em saúde pública? A síndrome respiratória grave aguda,
causada pelo coronavírus-19, a síndrome da zika congênita (SZC) e a
síndrome da imunodeficiência adquirida, são alguns exemplos.

Um sistema de vigilância em saúde pública inclui diversas ações (Figura


1).

Figura 1 – Ações relacionadas ao sistema de vigilância em saúde

Fonte: Rouquayrol e Da Silva (2018).

24
Essas ações devem ser realizadas em todos os níveis de gestão do
Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, em nível federal, estadual e
municipal de maneira complementar. O nível municipal deve executar
as ações, ou seja, o município deve ter autonomia técnico-gerencial para
identificar e resolver os problemas de saúde prioritários em sua área
de abrangência. A nível estadual e federal, devem conduzir as ações e
apoiá-las (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

1.2 Doenças de notificação obrigatória

A primeira lista de doenças de notificação compulsória é de 1377, que


embasou o Regulamento Sanitário Internacional (RSI) (TEIXEIRA et al.,
1998), que, a partir de 1951, obrigou os governos nacionais a notificarem
a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a ocorrência de varíola,
cólera, peste e febre amarela. Com o advento da erradicação da varíola,
na década de 1970, três doenças permaneceram na lista. A pandemia da
síndrome respiratória aguda grave (SARS) pelo coronavírus, entre 2002
e 2003, e o surgimento da influenza aviária de alta patogenicidade, pelo
vírus H5N1, fizeram emergir a necessidade de revisão da lista restrita de
doenças de notificação internacional, aprovada pelo RSI. Com o novo RSI,
a OMS começou a aceitar notificações de eventos realizados por outros
órgãos, além dos governos nacionais, como os meios de comunicação
em massa (ROUQUAYROL; DA SILVA, 2018).

No Brasil, as Normas Gerais Sobre Defesa e Proteção da Saúde, de


1961, incluíram quarenta e cinco doenças como sendo de notificação
compulsória. Contudo, apenas em 1969, devido aos resultados da CEV,
se iniciou a notificação sistemática de algumas doenças transmissíveis.
As informações eram coletadas por meio das Secretarias Estaduais de
Saúde e outros órgãos do Ministério da Saúde e divulgadas por meio de
um boletim epidemiológico a cada quinze dias (TEIXEIRA et al., 1998).

25
O leque das doenças de notificação compulsória foi ampliado, ou seja,
além daquelas consideradas pelo RSI, incluiu-se a malária, hanseníase,
a tuberculose e as meningites no geral, com a instituição do Sistema
nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), por meio da Lei n. 6.259,
de 1975, e o decreto n. 78.231, de 1976. No decorrer dos anos, outras
doenças foram acrescentadas a esta lista (TEIXEIRA et al., 1998).

A diversidade e extensão continental do Brasil fazem com que uma lista


geral de doenças seja pouco abrangente e tenha dificuldade em abordar
as diferenças regionais. Contudo, essa lista nacional é importante, visto
que permite a utilização imediata onde é gerada, alimenta o banco
nacional de dados e permite o planejamento e a adoção de medidas
de controle necessárias ao conjunto ou a determinados grupos da
população brasileira (TEIXEIRA et al., 1998).

Entretanto, isso não exime os estados e municípios da elaboração de


suas próprias listas complementares de doenças, com o intuito de
fortalecer os sistemas locais de VE, considerando as peculiaridades de
cada área (TEIXEIRA et al., 1998). Essa notificação “é a comunicação da
ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde, feita à autoridade
sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, para fins de
adoção das medidas de intervenção pertinentes” (TEIXEIRA et al., 1998, p.
3).

A finalidade da notificação é que, ao ser reunida em sistemas


de informação, permite o acompanhamento das características,
como a distribuição e a disposição natural do fenômeno estudado.
Já a notificação compulsória, é o tipo de notificação em que há
obrigatoriedade dos profissionais de saúde e pessoas da comunidade
em comunicar a autoridade sanitária sobre a ocorrência de doença ou
agravo que está sob VE (TEIXEIRA et al., 1998).

O processo de notificação é dinâmico, visto que varia de acordo com as


alterações no perfil epidemiológico, os resultados obtidos em função das

26
ações de controle e da existência de novos conhecimentos científicos
e tecnológicos. Deve levar em consideração as áreas geográficas
abrangidas, a lista de doenças, o conteúdo de informação, características
para a definição de casos, periodicidade de transmissão de dados,
formas de notificação e fontes de informação disponíveis. As doenças
que compõem o sistema de informação de doenças de notificação
compulsória (SDNC) são aquelas que causam risco à saúde do coletivo
(TEIXEIRA et al., 1998).

A portaria, do Ministério da Saúde, n.264, de 2020, alterou a portaria


n.4/2017, uma vez que incluiu a doença de Chagas crônica no SDNC
nos serviços públicos e privados. A lista está descrita no quadro abaixo
(Quadro 1).

Quadro 1 - Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças,


agravos e eventos de saúde pública
Periodicidade de
notificação
Nº Doença ou agravo (ordem alfabética) Imediata (até 24
horas) para* Semanal
MS SES SMS
a. Acidente de trabalho com exposição a material biológico. X
1 b. Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e
X
adolescentes.
2 Acidente por animal peçonhento. X
3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva. X
4 Botulismo. X X X
5 Cólera. X X X
6 Coqueluche. X X
7 a. Dengue – Casos. X
b. Dengue – Óbitos. X X X
8 Difteria. X X
9 a. Doença de Chagas Aguda. X X
b. Doença de Chagas Crônica. X
10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). X
11 a. Doença Invasiva por Haemophilus Influenza. X X
b. Doença meningocócica e outras meningites. X X
Doenças com suspeita de disseminação intencional: a) antraz
12 X X X
pneumônico; b) tularemia; c) varíola.
Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: a)
13 arenavírus; b) ebola; c) marburg; d) lassa; e) febre purpúrica X X X
brasileira.

27
a. Doença aguda pelo vírus Zika. X
14 b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante. X X
c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika. X X X
15 Esquistossomose. X
Evento de Saúde Pública (ESP), que se constitua ameaça à
16 X X X
saúde pública (ver definição no art. 2º desta portaria).
17 Eventos adversos graves ou óbitos pós-vacinação. X X X
18 Febre amarela. X X X
a. Febre de Chikungunya. X
19 b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão. X X X
c. Óbito com suspeita de febre de Chikungunya. X X X
Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância
20 X X X
em saúde pública.
21 Febre maculosa e outras riquetisioses. X X X
22 Febre tifoide. X X
23 Hanseníase. X
24 Hantavirose. X X X
25 Hepatites virais. X
HIV/AIDS–Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana
26 X
ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e
27 X
criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV.
28 Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). X
29 Influenza humana produzida por novo subtipo viral. X X X
Intoxicação exógena (por substâncias químicas, incluindo
30 X
agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados).
31 Leishmaniose Tegumentar Americana. X
32 Leishmaniose Visceral. X
33 Leptospirose. X
a) Malária na região amazônica. X
34
b) Malária na região extra-amazônica. X X X
35 Óbito: a) infantil; b) materno. X
36 Poliomielite por poliovirus selvagem. X X X
37 Peste. X X X
38 Raiva humana. X X X
39 Síndrome da Rubéola Congênita. X X X
40 Doenças Exantemáticas: a) sarampo; b) rubéola. X X X
41 Sífilis: a. adquirida; b) congênita; c) em gestante. X
42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda. X X X
Síndrome Respiratória Aguda Grave associada à
43 X X X
Coronavírus; SARS-CoV; MERS- CoV.
44 Tétano: a) acidental; b) neonatal. X
45 Toxoplasmose gestacional e congênita. X
46 Tuberculose. X
47 Varicela–caso grave internado ou óbito. X X
a) Violência doméstica e/ou outras violências. X
48
b) Violência sexual e tentativa de suicídio. X

Fonte: Brasil (2020)

28
Legenda: MS (Ministério da Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) ou
SMS (Secretaria Municipal de Saúde). * Informação adicional: notificação
imediata ou semanal seguirá o fluxo de compartilhamento entre as
esferas de gestão do SUS, estabelecido pela SVS/MS; a notificação
imediata no Distrito Federal é equivalente à SMS.

Evidencia-se, portanto, que, atualmente, existem quarenta e oito


doenças ou agravos a saúde de notificação compulsória.

Em meio a esse panorama, torna-se pertinente discutir a questão da


subnotificação. É é uma das principais dificuldades para a VE. Consegue
identificar alguma causa que justifique a subnotificação? Profissionais
sem informação e pouco sensíveis ao assunto, especificamente os
médicos e profissionais da rede privada; não priorização da notificação
das doenças nas redes de serviços, como atividade básica e fundamental
da saúde. Outras dificuldades se referem ao sistema de informação:
dificuldade de rápida disponibilização dos dados nos diversos níveis do
sistema (TEIXEIRA et al., 1998).

Nesse sentido, desenvolveu-se o Sistema de Informação de Agravos


Notificáveis (SINAN), em 1992. Sendo assim, esse sistema deve ser
utilizado a partir do nível local com o propósito de racionalizar o
processo de coleta e transferência de dados quanto ás doenças e
agravos de notificação compulsória (TEIXEIRA et al., 1998).

1.3 Programa Nacional de Imunização

O programa de erradicação da varíola, no Brasil, que chegou ao


final em 1973, com a certificação da Organização Mundial da Saúde
(OMS), foi fundamental para a criação do Programa Nacional de
Imunização. Isso porque a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV),
que dispunha de estrutura autônoma e era diretamente subordinada
ao Ministério da Saúde, realizou grandes feitos: mobilizou grandes
esforços nacionais para a elaboração de estratégias de vacinação

29
em massa, apoiou a produção e o controle de vacina contra a varíola
de qualidade, introdução conceitos como vigilância epidemiológica
e estabeleceu mecanismos de avaliação do programa. Tudo isso
possibilitou a construção de uma base técnica, política e institucional
que, posteriormente, se consolidaria como uma importante ferramenta
do Estado no controle efetivo de algumas doenças prevalentes no país.
Outra experiência fundamental na criação do Programa foi a elaboração
do Plano Nacional de Controle da Poliomielite, em 1971, segundo
Temporão (2003).

Entretanto, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi


regulamentado apenas em 1975, com a lei federal n. 6.259 e o decreto
n. 78.321, de 1976, que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica (SNVE) (BRASIL, 2014).

O PNI estrutura a política nacional de vacinação no Brasil e tem como


objetivo o controle, a erradicação e a eliminação de doenças que a
vacinação previne. É considerada uma das principais ações em saúde
pública, no Brasil, devido seu impacto significativo na diminuição
de doenças nas últimas décadas. Tem como importantes atores as
secretarias estaduais e municipais de saúde (BRASIL, 2014).

As diretrizes e responsabilidades para a execução das ações de vigilância


em saúde, e que inclui ações de vacinação, são compartilhadas pela
União, pelos estados, pelo Distrito federal e pelos municípios. Essas
ações são pactuadas na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e
na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e devem ser pautadas na
regionalização, na rede de serviços e nas tecnologias disponíveis (BRASIL,
2014).

O PNI está sob responsabilidade da Coordenação-Geral do PNI (CGPNI),


de Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis (DEVIT), da
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, a nível
federal (BRASIL, 2014). As competências da esfera federal são:

30
• Coordenação do PNI, que inclui a definição das vacinas nos
calendários e das campanhas nacionais de vacinação.

• Abastecimento dos imunobiológicos definidos pelo PNI.

• Gestão do sistema de informação do PNI, o que inclui a análise


dos dados em nível nacional e retroalimentação das informações à
esfera estadual (BRASIL, 2014).

Em relação às competências da esfera estadual, tem-se:

• Coordenação do PNI em nível estadual.

• Abastecimento de seringas e agulhas.

• Gestão do sistema de informação do PNI, que engloba análise dos


dados municipais, envio das informações ao nível federal dentro
dos prazos definidos e retroalimentação das informações em nível
municipal (BRASIL, 2014).

Dentre as competências da esfera municipal, tem-se:

• Coordenação em nível municipal, assim como ações como a


vacinação de rotina, campanhas de vacinação e vacinação de
bloqueio, a notificação e investigação de eventos adversos e óbitos
associados à vacina.

• Gestão do estoque municipal de vacinas e outros insumos, além


do armazenamento e o transporte para seus locais de uso.

• Descarte e destinação final de frascos, seringas e agulhas


utilizadas, conforme normas vigentes.

• Gestão do sistema de informação do PNI: coleta, processamento,


consolidação e avaliação da qualidade dos dados provenientes
das unidades, transferência dos dados conforme os prazos e

31
fluxos pré-determinados nos âmbitos nacional e estadual e
retroalimentação das informações às unidades (BRASIL, 2014).

Ainda considerando a esfera municipal, a equipe da Estratégia de Saúde


da Família (ESF) verifica a caderneta e a situação vacinal e encaminha
a população à unidade de saúde para começar o esquema vacinal ou
completar, conforme o calendário de vacinas. Nesse contexto, torna-
se imprescindível a comunicação entre a equipe da sala de vacina e as
demais equipes de saúde, com o intuito de não perder as oportunidades
de vacinar (BRASIL, 2014).

As vacinas que são oferecidas na rotina dos serviços de saúde estão de


acordo com os calendários de vacinação, que incluem:

• Os tipos de vacina.

• O número de doses do esquema básico e dos reforços.

• A idade de administração de cada dose.

• O intervalo entre as doses em casos em que haja necessidade de


dose reforço (BRASIL, 2014).

A portaria n. 1.498, de 2012, no âmbito do PNI, em todo território


nacional, regulamenta os calendários de vacinação, atualizados por meio
de informes e notas técnicas. Eles, assim como os esquemas vacinais,
devem estar disponíveis para a consulta nas unidades básicas e afixados
em um local de fácil visualização. São construídos de acordo com o risco,
a vulnerabilidade e as especificidades sociais e possuem orientações
específicas para as crianças, adolescentes, adultos, gestantes, idosos
e indígenas. As vacinas direcionadas às crianças objetivam protegê-las
o mais precoce possível, a fim de garantir o esquema básico completo
no primeiro ano de vida e os reforços e outras vacinas nos anos
subsequentes (BRASIL, 2014).

32
Nos dias atuais, o PNI disponibiliza mais de 300 milhões de doses anuais
distribuídos entre quarenta e quatro imunobiológicos, como vacinas,
soros e imunoglobulinas. O Brasil conta ainda com trinta e quatro
mil salas de vacinação e quarenta e dois Centros de Referência em
Imunobiológicos Especiais (CRIE) ,destinados a portadores de condições
clínicas especiais e também várias estratégias como vacinação de
rotina, campanhas, bloqueios vacinais e ações extramuros. Alterações
na vacinação são baseadas em evidência epidemiológica, eficácia
e segurança da vacina e garantia da sustentabilidade da estratégia
(capacidade de produção em laboratórios nacionais, de armazenamento
e distribuição) (BRASIL, 2014).

O sistema de informação inclui o campo da imunização e, até meados


da década de 1990, os dados eram obtidos em planilhas elaboradas
manualmente, consolidadas pelo tipo de vacina e eram consideradas as
doses administradas em menores de um ano. Somente em 1994, criou-
se o Sistema de Informação de Avaliação do Programa de imunizações
(SI-API), que foi estabelecido em todas as unidades da Federação em
1998. Tal sistema permite a avaliação e o monitoramento das atividades
referentes à vacinação. Além desse sistema, vários subsistemas foram
desenvolvidos, como: o sistema de informação de eventos adversos
pós-vacinação (SI-EAPV) e o sistema de informações dos centros de
referência para imunobiológicos especiais (SI-CRIE) (BRASIL, 2014).

1.4 Conclusão

Evidencia-se, portanto que a vigilância em saúde pública é uma área


de importância considerável para o Sistema Único de Saúde e inclui
as doenças de notificação compulsória e o programa nacional de
imunização. Este último é um programa extremamente desenvolvido e
que serve como exemplo para muitos países.

33
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis. Biblioteca Virtual em Saúde. Manual de
normas e procedimentos para vacinação. Brasília, 2014. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf. Acesso
em: 14 set. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em saúde. Ministério da
Saúde, dezoito de maio de dois mil e dezessete. Disponível em: https://www.saude.
gov.br/vigilancia-em-saude/sobre-vigilancia-em-saude, Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Secretaria-Geral da Presidência da República. Imprensa Nacional.Diário
Oficial da União, dezenove de fevereiro de dois mil e vinte. ed. 35, seção 1, p. 97.
Portaria n. 264, de 17 de fevereiro de 2020. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.
br/bvs/saudelegis/gm/2020/prt0264_19_02_2020.html. Acesso em: 15 set. 2020.
ROUQUAYROL, M. Z.; DA SILVA, M. G. C. Epidemiologia & Saúde. 8. ed. Rio de
Janeiro: Medbook, 2018.
TEIXEIRA, M. G. et al. Seleção das doenças de notificação compulsória: critérios e
recomendações para as três esperas de governo. IESUS, v.II, n. 1, 1998.
TEMPORÃO, J. G. O programa Nacional de Imunização (PNI): origens e
desenvolvimento. História, Ciências, Saúde. Manguinhos. v.10, s.2, p. 601-17, 2003.

34
Eixos governamentais,
organizacionais e sistemas de
inspeção da ANVISA
Autoria: Anderson da Silva Rêgo
Leitura crítica: Marcia Cristina A Thomaz

Objetivos
• Estrutura da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).

• Competências organizacionais dos Sistemas de


Inspeção Municipal, Estadual e Federal, de acordo
com a Lei n. 8.080/90.

• A pactuação da Vigilância Sanitária entre as esferas


governamentais.

35
1. Vigilância epidemiológica, sanitária e
ambiental

O avanço tecnológico trouxe importantes marcos no desenvolvimento


humano, que caracteriza o marco histórico da urbanização, desde as
pequenas cidades até as grandes metrópoles, que contam a sobre
a importância da vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, de
acordo com seus decretos, protocolos e normatizações, com vistas
à redução de riscos à saúde da população, inerentes ao processo
urbanista crescente em todo mundo (COSTA, 1999; BRASIL, 2007).

Com esse acelerado crescimento, as cidades se formam sem


planejamento adequado e ordenado e que se perpetua até os dias
atuais. Inerente a este crescimento, ocorre o elevado índice de
habitações e de estabelecimentos comerciais, industriais e hospitalares,
que demandam de insumos para sua estabilidade, como água,
alimentos, medicações, equipamentos tecnológicos, móveis, entre
outros materiais, para sua subsistência e, atrelado a isso, produzem e
desprezam resíduos, como o lixo.

Cabe ressaltar que as civilizações presentes no país, desde os tempos


mais remotos, são distintas, com hábitos e tecnologias diversas, que
incidem no padrão de saúde e comportamental diferentes e que
necessitam ser abordados, conhecidos, para melhor controle dos fatores
de risco à saúde populacional e melhor desenvolvimento de estratégias
interventoras para o manejo dos riscos e melhora da qualidade de vida
populacional. Esse conhecimento e essas práticas interventoras fazem
parte da vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, que possuem
regras e providências sanitárias cabíveis a cada estabelecimento, seja
industrial, comercial ou residencial (COSTA, 1999; BRASIL, 2007; BRASIL,
2018).

36
Figura 1 – Geração de resíduos e o risco à saúde da população
quando não inspecionado

Fonte: adaptado de Generation/iStock.com.

1.2 Estrutura da Agência Nacional de Vigilância Sanitária


(Anvisa)

No contexto brasileiro, a Vigilância Sanitária atua de forma integrada e


descentralizada em todo o país, sob a coordenação do Sistema Nacional
de Vigilância Sanitária (SNVS), que responde aos artigos constituintes das
leis que regem o Sistema Único de Saúde (SUS). A lei sanitária necessita
ser seguida, em que sua aplicação é fiscalizada com prerrogativa do
governo em promover e proteger à saúde da população, fazendo,
assim, a Vigilância Sanitária. A atuação da vigilância é ampla e atende
estabelecimentos que atuam direta e indiretamente na saúde da
população, a partir de sua capacidade de produção de insumos, sejam
bens de produção e/ou residuais (COSTA, 1999; BRASIL, 1999, 2007
e2018).

37
Entre essas avaliações, estão importantes indicadores de risco, como
ambientais, por meio do consumo de água potável e a produção de
esgoto, seja comercial, industrial ou residencial, como também a
poluição do ar, solo e dos recursos hídricos que pertencem ao território
nacional. Ademais, os riscos sociais, ocupacionais, iatrogênicos e
institucionais também fazem parte da gama de riscos à saúde da
população, que necessita ser eventualmente fiscalizada.

A SNVS tem sua atuação pactuada com a Agência Nacional de Vigilância


Sanitária (Anvisa), criada Lei nº 9.782, de 26 de janeiro 1999, por meio
das agências reguladoras (AR), e tem sua estrutura organizacional
marcada pelo planejamento regulatório, debatendo sobre temas de
cunho sanitário recorrentes e com transparência a toda à sociedade
(BRASIL, 1999 e 2007).

De acordo com a Lei n. 9.782, em seu segundo artigo, compete à Anvisa:

Na condição de Agência Reguladora, compete à Anvisa promover a


proteção da saúde da população por meio do controle sanitário na
produção, na comercialização e no uso de produtos e serviços submetidos
à Vigilância Sanitária, inclusive nos ambientes, nos processos, nos insumos
e nas tecnologias a eles relacionados, e no controle de portos, aeroportos,
fronteiras e recintos alfandegados. (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA, 2018, p.2)

A Avisa iniciou a publicação de edições das AR a partir de 2009, que foi


anual até 2012. A partir de 2013, as edições passaram a ser bienal e, de
forma inédita, a atual edição é quadrienal, referente aos anos de 2017
a 2020. Essas mudanças nas vigências das edições das AR se deram
pelo processo moroso e de capilaridade gradativa, que são inerentes
às questões relacionadas aos impactos regulatórios, como também
às análises técnicas e jurídicas e por obedecer a um dos princípios
constitucionais do SUS, no que concerne a participação social (BRASIl,
1999, 2007 e 2018).

38
Ademais, a Anvisa possui o controle sanitário de produtos nos principais
pontos de fronteira com outros países e em aeroportos, portos recintos
alfandegados, de serviços de saúde e de produtos. Ressalta-se que os
produtos que seguem o controle rigoroso da Anvisa são medicamentos,
produtos cosmológicos, alimentares e derivados do tabaco e fluidos
hemáticos. Os equipamentos tecnológicos no auxílio de diagnósticos
clínicos também fazem parte do conjunto de itens fiscalizatórios da
Anvisa.

Em sua conjuntura organizacional, a Anvisa possui sua autarquia


distribuída em diretorias, que respaldam por determinados
departamentos, designados a seguir (BRASIL, 2007):

• DICOL–DIRETORIA COLEGIADA

• Secretaria geral da diretoria colegiada.

• Conselho consultivo.

• Ouvidoria (OUVID).

• Procuradoria (PROCR).

• Auditoria interna (AUDIT).

• Corregedoria (CORGE).

• Gabinete do diretor presidente (GADIP).

• Assessoria de Assuntos Internacionais (AINTE).

• Assessoria Parlamentar (ASPAR).

• Assessoria de Planejamento (APLAN).

• Assessoria de Comunicação (ASCOM).

39
• Assessoria do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
(ASNVS).

• Secretaria Executiva da Câmara de Regulação do Mercado


de Medicamentos (SCMED).

• Gerência-Geral de Recursos (GGREC).

• Primeira Diretoria:

• Gerência-Geral de Gestão Administrativa e Financeira (GGGAF).

• Gerência-Geral de Gestão de Pessoas (GGPES).

• Gerência-Geral de Tecnologia da Informação (GGTIN).

• Gerência-Geral de Conhecimento, Inovação e Pesquisa (GGCIP).

• Gerência de Sangue, Tecido, Células e Órgãos (GSTCO).

• Gerência-Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES).

• Segunda Diretoria:

• Gerência-Geral de Alimentos (GGALI).

• Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos


(GGMED).

• Terceira Diretoria:

• Gerência-Geral de Regulamentação e Boas Práticas Regulatórias


(GGREG).

• Gerência-Geral de Toxicologia (GGTOX).

• Gerência–Geral de Tecnologia de Produtos para Saúde (GGTPS).

40
• Gerência-Geral de Registro e Fiscalização de Produtos
Fumígenos Derivados ou Não do Tabaco (GGTAB).

• Gerência de Produtos de Higiene, Perfumes, Cosméticos e


Saneantes (GHCOS).

• Quarta Diretoria:

• Gerência-Geral de Inspeção e Fiscalização Sanitária (GGFIS).

• Gerência de Laboratórios de Saúde Pública (GELAS).

• Quinta Diretoria:

• Gerência-Geral de Monitoramento de Produtos sujeitos à


Vigilância Sanitária (GGMON).

• Gerência-Geral de Portos, Aeroportos, Fronteiras e Recintos


Alfandegados (GGPAF).

Desse modo, a composição das diretorias é formada a partir da


nomeação do diretor presidente, e cabe aos nomeados realizar
os serviços de competência das diretorias assumidas e de seus
subordinados presentes nas unidades administrativas. Assim formadas,
cabe a Anvisa realizar a cooperação entre estados e municípios, no que
tange questões técnicas e de financiamento (BRASIL, 2007).

Essa cooperação entre as demais esferas do governo é acompanhada


das ações sanitárias em todo o país, com regulamentos sobre concessão
de insumos e liberação de sua comercialização de acordo com os
regimentos internos, que identifiquem a integridade dos produtos que
serão comercializados, como também as patentes de determinados
produtos e processos farmacêuticos (BRASIL, 1999, 2007 e 2018).

41
1.3 Sistemas de inspeção municipal, estadual e federal

No que tange a descentralização, a vigilância em saúde avança além


do princípio do SUS e torna a estratégia como uma forma de fortalecer
e de se tornar efetiva em todo território nacional, de acordo com
seus preceitos teóricos e técnicos, os recursos de financiamento e a
responsabilidade institucional frente às demandas sanitárias impostas
no país constantemente. Descentralizar os serviços de fiscalização
sanitária é um determinante governamental que tem resultados
positivos na questão estrutural e de políticas de saúde (BRASIL, 1999ª,
1999b, 1999, 2007, 2018).

Figura 2 – Representação dos sistemas de inspeção governamentais


da Vigilância Sanitária

Fonte: TarikVision/ iStock.com.

42
As atribuições da Anvisa possuem abrangência nacional e a
responsabilidade pelas ações que fomentem a redução e/ou eliminação
e prevenção de riscos à saúde da sociedade, com medidas interventoras
sobre as complicações sanitárias que podem ocorrer no meio ambiente,
nas indústrias e suas manufaturas, como também a circulação de
determinados produto, requer atividade integrada entre as esferas
governamentais, sendo de nível federal, estadual e municipal.

A respeito do nível federal, as atividades de Vigilância Sanitária estão


relacionadas a controle em aeroportos, portos, fronteiras com outros
países e recintos alfandegários. Também compete ao nível federal,
as avaliações referentes a concessões de patentes farmacêuticas
previamente protocoladas no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), atribuídas à responsabilidade da Anvisa. Cabe ao
Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), realizar
supervisão e dar suporte de ações de cunho laboratorial as ações de
vigilância sanitária em todo o território nacional.

Em termos gerais, algumas competências da vigilância sanitária são


direcionadas às atribuições nacionais, regidas pelo SUS, conforme
abaixo, descrito no artigo 16, da Lei n. 8.080/90:

Definir e coordenar os sistemas de vigilância sanitária; estabelecer


normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras,
podendo a execução ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios; estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da
qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de consumo e uso
humano; formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução da
política nacional e produção de insumos e equipamentos para a saúde, em
articulação com os demais órgãos governamentais; controlar e fiscalizar
procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde;
normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de Sangue,
Componentes e Derivados. A União poderá executar ações de vigilância
epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como na ocorrência
de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção

43
estadual do Sistema Único de Saúde–SUS ou que representem risco de
disseminação nacional. (BRASIL, 1990, p. 8)

As agências reguladoras, em caráter federal, em excepcional a Anvisa, o


artigo 7, da Lei n. 8.080/90, dispõe que são de sua responsabilidade:

Conceder o registro de produtos, segundo as normas de sua área


de atuação; autorizar o funcionamento de empresas de fabricação,
comercialização, distribuição e importação de medicamentos; monitorar
a evolução dos preços de medicamentos, equipamentos, componentes,
insumos e serviços de saúde; controlar, fiscalizar e acompanhar, sob o
prisma da legislação sanitária, a propaganda e publicidade de produtos
submetidos ao regime de vigilância sanitária. (BRASIL, 1990, p. 4)

Para os estabelecimentos que lidam com produtos medicamentosos


alimentícios e de interesse da saúde, a autorização e funcionamento é
de responsabilidade da Anvisa em nível federal, que necessita verificar o
cumprimento de normas regulamentadoras, como também a estrutura
e a organização do processo de trabalho. Reitera-se que os registros
de determinados produtos seguem as regras estabelecidas, com vista
à prevenção, redução e eliminação de riscos à saúde da população
(BRASIL, 1999ª, 1999b, 1999, 2007 e 2018).

Os vinte e sete estados brasileiros possuem suas secretarias de


vigilância sanitária, tendo em sua estrutura física e organizacional,
seus próprios laboratórios (Secretarias de Estado de Saúde e seus
Laboratórios Centrais–LACEN), onde são realizadas as práticas de
coordenação das demandas de saúde, como também as execuções
de ações fiscalizadoras, em suporte ao sistema nacional e aportando
cooperação técnicas nos municípios e, dependendo de estados, suas
regionais, que realizam o trabalho técnico administrativo. Em seu artigo
17, da Lei n. 8.080/90, os estados são compromissados a:

Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços


de vigilância sanitária; em caráter suplementar, formular, executar,

44
acompanhar e avaliar a política de insumos e equipamentos para a saúde;
formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de
procedimentos de controle de qualidade para produtos e substâncias
de consumo humano; colaborar com a União na execução da vigilância
sanitária de portos, aeroportos e fronteiras. (BRASIL, 1990, p. 9)

É importante ressaltar que a vigilância sanitária atua diretamente nos


serviços de saúde, fomentando a necessidade da adesão às normas
técnicas vigentes, além de inspecionar as condições de atendimento
e estrutural dos estabelecimentos de saúde. Como comentado no
início desta leitura, você leu que os riscos ocupacionais, iatrogênicos,
ambientais e institucionais, também fazem parte das atribuições
da vigilância sanitária. Ademais, os serviços hospitalares, que
contemplam práticas de cuidado complexas e críticas, que demandam
de equipamentos tecnológicos, medicamentos e insumos, produtos
alimentícios, que incluem dietas industriais, fluídos hemáticos, entre
outros (BRASIL, 1999a, 1999b, 1999, 2007, 2018).

Os municípios realizam suas atividades de vigilância em saúde em


consonância com as ações estaduais, com monitoramento de produtos
e serviços, investigações de determinados tipos de agravos à saúde que
apresentam elevação repentina ou gradual em determinados locais dos
municípios e estados. A fiscalização é uma ação tripartite, que ocorre
com as três esferas governamentais e que, muitas vezes, é registrada
pelo município, estados, até chegar em nível federal.

De acordo com a Lei n. 8.080/90, em seu artigo 18, cabe aos municípios:

Executar serviços de vigilância sanitária; dar execução, no âmbito


municipal, à política de insumos e equipamentos para a saúde; e colaborar
com a União e os Estados na execução da vigilância sanitária de portos,
aeroportos e fronteiras. (BRASIL, 1990, p. 10)

Não obstante, a participação social é uma estratégia de inserção


necessária para a vigilância sanitária e redução de agravos à saúde da

45
população. Os conselhos de saúde possuem potencialidade em garantir
a atenção à saúde por parte das políticas públicas, de acordo com os
princípios norteadores do SUS, como saúde é direito de todos e dever do
estado.

Figura 3 – Participação social e diálogo com as esferas


governamentais: uma estratégia de sucesso

Fonte: cifotart/ iStock.com.

1.4 Pactuação da vigilância sanitária entre as esferas


governamentais

A coordenação das ações de vigilância em saúde, apesar de se deterem


em esfera federal, as estaduais e municipais não são subordinadas ao
maior poder administrativo público. A responsabilidade atribuída entre
cada ente federativo é o que garante a pactuação e o compartilhamento
entre as competências aderidas a cada esfera. A obediência das
normas regulamentadoras, que competem sua elaboração ao Sistema
Nacional de Vigilância Sanitária, tem cunho prático de ordem estadual e
municipal, de acordo com os regimentos regionais, mas que obedeçam

46
às leis impostas na legislação, considerando suas hierarquias (BRASIL,
1999ª, 1999b, 1999 e 2018 2007; LEAL e TEIXEIRA, 2017).

Figura 4 – Representação sobre a conduta rigorosa das normativas


da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

NÃO!

Fonte: adaptado de Visual Generation/ iStock.com.

Ressalta-se que as ações da Vigilância Sanitária, no que tange às


práticas promocionais de saúde e de prevenção de risco, amparam
a beneficência como princípio ético. Embora as normas reguladoras
estabelecidas pela esfera federativa necessitem ser obedecidas, as
dimensões técnicas e administrativas devem estabelecer a parcimônia
em decorrência das especificidades que são inerentes às necessidades
da população, como também as questões regionais e socioculturais
(BRASIL, 1999ª, 1999b, 1999, 2007 e 2018; LEAL e TEIXEIRA, 2017).

A inspeção e fiscalização, como objeto prático da vigilância sanitária,


possuem a comunicação e o poder de gerenciamento como elementos
de regulação sanitária, que podem minimizar os problemas intrínsecos a
gestão e a organização do sistema, considerando os inúmeros casos sob
a responsabilidade da Anvisa.

47
Você percebeu que a pactuação entre as esferas governamentais
possuem especificidades e que precisam ser discutidas e dialogadas
com a Constituição?

Nesse sentido, é importante frisar que a capacidade local da vigilância


sanitária é um obstáculo para sua pactuação, no que concerne às
diversidade de fatores, principalmente de ordem política, econômica e
sociocultural, o que atesta a necessidade de comunicação em rede, em
busca da eficiência pública, considerando que os princípios constituintes
do SUS permitem a ampla participação, cooperação, construção de
vínculos, concretizando trabalhos importantes frente à saúde da
população.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Contrato de gestão que
entre si celebram o Ministério da Saúde/MS e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária–Anvisa. Diário Oficial da União, 1999. Disponível em: http://portal.anvisa.
gov.br/documents/281258/308532/contrato_consolidado.pdf/696f9fcd-aaca-4e67-
89fa-33f245a567c5. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Plano Diretor de
Vigilância Sanitária. 1. ed. Brasília: Anvisa, 2007. Disponível em: http://www.anvisa.
gov.br/hotsite/pdvisa/pdvisa_livro.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/L9782.htm. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Secretaria-Geral da Presidência da República. Imprensa Nacional.Diário
Oficial da União, onze de dezembro de dois mil e dezoito. ed. 237, seção 1, p. 159.
Resolução de Diretoria Colegiada – RDC n. 255, de 10 de dezembro de 2018.
Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/
content/id/54522298/do1-2018-12-11-resolucao-de-diretoria-colegiada-rdc-n-255-
de-10-de-dezembro-de-2018-54521871. Acesso em: 15 set. 2020.

48
COSTA, E. A. Vigilância sanitária: defesa e proteção da saúde. In: ROUQUAYROL, M.
Z.; ALMEIDA FILHO, N. (orgs.). Epidemiologia & saúde, 5. ed., p. 327-351. Rio de
Janeiro: Medsi; 1999.
LEAL, C. O. B. S.; TEIXEIRA, C. F. DE S. Solidarity: an innovative perspective in the
management and organization of Sanitary Surveillance actions. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 22, n. 10, p. 3161-3172, 2017.

49
Contribuição das ações de
vigilância na promoção da saúde
e prevenção de doenças
Autoria: Anderson da Silva Rêgo
Leitura crítica: Marcia Cristina A Thomaz

Objetivos

Neste tema você aprenderá sobre a contribuição das


ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental
na promoção da saúde e prevenção de doenças no
contexto da área de abrangência das Unidades de Saúde
da Família, por meio dos seguintes tópicos:

• Ações em saúde na Estratégia Saúde da Família: a


informação como meio didático para promoção da
saúde.

• Ações da vigilância epidemiológica, sanitária


e ambiental no contexto comunitário frente a
endemias.

• A intersetorialidade da Vigilância em Saúde e as


Unidades de Saúde da família.

50
1. Vigilância epidemiológica, sanitária e
ambiental: contexto histórico

As ações promocionais de prevenção de agravos e restabelecimento


da saúde da população brasileira consistem nas ações estratégicas do
Ministério da Saúde (MS), frente às crises endêmicas que acometem
a sociedade. Os surtos de varíola, que acometeram o Brasil, de forma
endêmica, no início do século XX, representam um exemplo prático, mais
conhecido, das ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental
no contexto histórico da evolução da saúde pública brasileira (COSTA,
1999; BRASIL, 1999; FONSECA e STAUFFER, 2007).

Os sistemas de promoção, prevenção e recuperação da saúde foram


desenvolvidos de acordo com a necessidade de resposta às doenças
endêmicas, o que foi sendo formulado de forma estratégica, com vistas
a exterminar doenças ou reduzir seu impacto rigoroso na sociedade.
A transmissão da varíola, que ainda foi persistente na década de 1970
e a poliomielite, que se disseminou de forma acelerada no nordeste
brasileiro no final da década de 1980, mostram os esforços da vigilância
em saúde e sua interferência na cadeia de transmissão.

51
Figura 1–Representação da Vigilância Sanitária no controle de
doenças e coleta de resíduos residenciais/domiciliares, comerciais e
industriais

Fonte: sorbetto/ iStock.com.

Dessa forma, cuidar da saúde humana é entendido como prática além


da assistência hospitalocêntrica, com foco na doença e não no indivíduo.
Reconhecer que promover à saúde teria custo menor na sociedade
do que nas práticas de cuidado para restabelecer a saúde de um
indivíduo enfermo, tornou-se a estratégia para controlar a doença e seus
estágios de infecção. As vacinas, assim como os métodos profiláticos,
se tornaram a principal medida utilizada pelas agências de vigilância em
saúde, sanitária, epidemiológica e ambiental.

A revolta da vacina foi exemplo claro da necessidade desse tipo de


intervenção na sociedade e que gerou resistência da população, que

52
não via a vacina como fórmula de proteção, mas como método imposto
que ocorreu no início do século XX, pouco tempo após a abolição da
escravatura. Dessa forma, as ações sanitárias passaram a ser utilizadas
como método estratégico, que permeavam as condições de agravo
à saúde da população e de instrução sobre o papel da sociedade na
redução de agravos à saúde.

Figura 2 – Representação da Revolta da Vacina, ocorrida no início do


século XX

Fonte: NLshop/ iStock.com.

1.1 Vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental: a ação


intersetorial do Sistema Único de Saúde

O modelo assistencial brasileiro à saúde tinha característica baseado


no modelo arquétipo biológico, sendo a saúde distinguida como a
ausência de morbidades/doenças e a assistência apenas apontada para
o indivíduo e a doença, com sua conduta restrita. Alguns movimentos,
liderados por determinados grupos relacionados à saúde pública,

53
mobilizaram manifestações no final da década de 1970 (COSTA, 1999;
BRASIL, 1999; FONSECA e STAUFFER, 2007).

Esses grupos almejavam um modelo, de assistência à saúde, mais


ampliado e que assegurasse o acesso à saúde como bem essencial
ao ser humano, de acordo com sua necessidade de saúde e com a
democratização dos bens e serviços do país. Nesse aspecto, iniciou-se o
movimento da Reforma Sanitária Brasileira (RSB), que se fortaleceu nos
anos de 1980, com objetivos pautados em assegurar o direito universal
à saúde, com mudanças expressivas no âmbito institucional, jurídico,
político e também, organizacional e operacional.

Assegurar a fundamentação de que ter saúde não era apenas a ausência


da doença, mas pelo completo bem-estar físico, mental e social,
adquiridos pela garantia de emprego, serviços de assistência à saúde,
transporte, educação, lazer e segurança, não foi tarefa fácil. As propostas
do movimento da RSB foram discutidas na 8ª Conferência Nacional
de Saúde (CNS), em 1986, em que os resultados serviram de base
para a construção da Constituição de 1988 e contribuiu para a criação
do Sistema Único de Saúde, uma conquista histórica da população
brasileira, em que seus direitos de saúde, de caráter universal, seriam
creditados pelo Estado.

54
Figura 3 – Movimento em prol de uma nova Constituição

Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/reivindicacoes-sociais-durante-a-
ditadura-apontam-anecessidade-de. Acesso em: 15 set. 2020.

O SUS foi criado em 1988, e suas diretrizes asseguram direitos à


assistência as necessidades de saúde da população, sendo universal,
com atendimento integral e equânime, garantindo direitos sociais,
individuais, baseado nas questões político-organizacional e econômica,
asseguradas pela Constituição de 1988. Para a saúde, a Constituição diz,
por meio do artigo 196, que:

A SAÚDE É DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 2016, p. 118)

55
As diretrizes que pautam o SUS são a universalidade, equidade e
integralidade, baseadas nas Leis Orgânica da Saúde n. 8.080/90 e n.
8.142/90. Essas diretrizes propunham a melhorar o acesso aos serviços
de saúde da população, com atendimentos descentralizados, possuindo
unidades de saúde nas regiões das centenas de municípios em
constituem o território brasileiro. Convém ressaltar que as estratégias
baseadas nas diretrizes do SUS, possuem maior ênfase da igualdade de
acesso à assistência oferecida, com apoio matricial, com a participação
popular e ainda, sobre os financiamentos de recursos responsáveis
pelas esferas governamentais. (BRASIL, 1990, 1999 e 2016; COSTA, 1999;
FONSECA e STAUFFER, 2007).

Dessa forma, para realizar todo plano estratégico em resposta as


diretrizes básicas do SUS e levar assistência até a região de sua moradia,
com organização do processo de trabalho das equipes responsáveis
pela assistência, o MS inseriu o Programa de Agente Comunitário de
Saúde (PACS), com o intuito inicial de suprir o território sem cobertura
de atendimento à saúde, onde o Agente Comunitário de Saúde (ACS)
realiza seus trabalhos de forma integrativa em visita ao indivíduo e sua
coletividade familiar, estabelecendo vínculo entre profissional e usuário.

Mesmo com as atividades dos ACS, a oferta ainda era insuficiente para
suprir toda a demanda das necessidades de saúde das pessoas, e as
intervenções ainda não eram resolutivas. Com este hiato organizacional,
o MS criou o Programa Saúde da Família, em 1994, com modelo
assistencialista, com foco nas regiões habitacionais e a comunidade.
O programa permite o direcionamento estratégico e organizado dos
clínicos a especialidades.

O PSF tornou-se a maior ferramenta de ações promocionais para a


população, por ser constituída com equipe multiprofissional treinada e
preparada para atendimento público, produzindo indicadores de saúde
que auxiliavam o MS nas decisões sobre atendimento e protocolos

56
clínicos. Em 1997, o MS compreendeu que o plano do PSF era maior e
renomeou o PSF para Estratégia Saúde da Família.

Figura 4 – Representação da assistência familiar por profissionais de


saúde

Fonte: Irina_Strelnikova/ iStock.com.

Na aula anterior, estudamos sobre a estrutura do Sistema Nacional de


Vigilância Sanitária (SNVS) e todo seu processo hierárquico. Dentro da
rede de atenção primária, representada pelas equipes da ESF, as equipes
da SNVS, considerando a extensão territorial de abrangência das UBS e
a complexidade das ações relacionadas à saúde pública, as intervenções
tendem a ter característica multidisciplinar e intersetorial.

Em caráter municipal, a descentralização da SNVS tem sido realizada de


acordo com a dinâmica assistencial dos municípios brasileiros, que são
responsáveis pelo atendimento e fiscalização a nível loca, tendo suporte
o governo estadual e federal. Essa descentralização só ocorreu após

57
decreto do MS, por meio das Normas Operacionais Básicas do Sistema
Único de Saúde (NOBs/SUS), de 1993 e 1996.

Em nível municipal, as atividades reguladoras e de fiscalização da SNVS


ainda permeiam no diálogo entre as três esferas governamentais, em
que nem sempre são acordados os decretos inerentes aos serviços
oferecidos pela SNVS. Em 2000, foram realizadas conferências e
estabelecido o Termo de Ajuste e Metas de Vigilância Sanitária, criado
pela Anvisa. O termo previa enviar recursos financeiros aos estados e
município em troca de indicadores que pudessem fornecer subsídios
sobre as metas da vigilância sanitária, havendo demanda maior da parte
financeira aos municípios que contribuíam mais com as exigências da
SNVS.

Desse modo, apesar de não ser coerente, o SNVS possui atribuições


além de regulamentar e fiscalizar, além de extenso campo de atuação,
que envolve diversos profissionais de saúde, com enfoque inter-
relações, visando a síntese dos diversos níveis de saberes para chegar a
um consenso sobre as práticas a serem desenvolvidas pela agência.

Nesse prisma, a portaria de número 2.436, de 21 de setembro de 2017,


institui a Vigilância em Saúde como conjunto da atenção básica, de
acordo com seu segundo artigo:

A Atenção Básica é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares


e coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico,
tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância
em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e
gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à
população em território definido, sobre as quais as equipes assumem
responsabilidade sanitária. (BRASIL, 2017, p. 2)

58
Figura 5 – Representação da equipe multiprofissional, que compõe a
base das ações a serem realizadas de acordo com a situação local

Fonte: elenabs/ iStock.com.

1.2 Intersetorialidade das ações em Saúde da Vigilância


Epidemiológica, Sanitária e Ambiental na Estratégia
Saúde da Família

Considerando a integralidade do SUS, representado pelas práticas


assistenciais da atenção à saúde, e as suas ações voltadas às práticas
preventivas de agravos à saúde, o mesmo devem ser integradas
as práticas cotidianas do trabalho da ESF, que são determinantes
necessários para a promoção de práticas de saúde integradas, entre
equipes assistenciais e a SNVS. Dessa forma, conforme a Lei n. 8.080, a
assistência preventiva permeia-se da seguinte forma:

Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde


e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da
produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da
saúde. (BRASIL, 1990, p. 3)

59
Na compreensão da intersetorialidade, como ação eficaz na mudança
dos indicadores de saúde e em determinantes sociais, detém como
principal estratégia para prevenção dos agravos da saúde da população.
Essa estratégia é pautada na compreensão e na melhor concordância
entre os níveis governamentais e a SNVS, ancorada na discussão de
casos, que possibilita a visão mais abrangente das intervenções que
podem ser atribuídas à prática dos profissionais de saúde (BRASIL, 1999,
2010 e 2016; FONSECA e STAUFFER, 2007).

No entanto, os profissionais de saúde ainda enfrentam fragilidades


para que o trabalho da SNVS seja eficaz na área de atuação de nível
primário. A disposição de materiais, ou os que estão em manutenção,
permanece como maior obstáculo para aperfeiçoamento das técnicas
de trabalho dos profissionais de saúde, como também o quantitativo
de recursos humanos. As estratégias preventivas dos equipamentos
podem assegurar a efetividade das ações em saúde, o controle e o
monitoramento do mesmo.

A SNVS possui complexidade nas suas ações por deter a


responsabilidade sobre os diversos produtos, que são desenvolvidos,
importados e as demais atividades que são inerentes a seu campo
de atuação e que necessitam de fiscalização e regulação. Além dessa
complexidade, a fragmentação dos serviços é um dos principais
obstáculos na efetivação das ações em saúde realizadas à população.

A intersetorialidade entre a SNVS e a atenção básica é referenciada pelas


coletas de amostras, após surto de alguma doença endêmica, como
surto de caso de diarreia ou dengue. Além disso, o órgão ainda busca
estimular os profissionais de saúde na elaboração de oficinas sobre
doenças endêmicas, acentuada na região de moradia, como também
nas questões relacionadas à investigação epidemiológica, solicitando e
incentivando o preenchimento das fichas de notificação, principalmente
as que são compulsórias. (BRASIL, 1999, 2010 e 2016; FONSECA e
STAUFFER, 2007; MELO et al., 2018).

60
Na nova Política Nacional de Atenção Básica, apresentada em 2017
e vigente a partir de 2018, aponta Vigilância em Saúde como prática
agregada da Atenção Básica, mesmo considerando as práticas de
promoção e prevenção à saúde que estava associada nas políticas
anteriores. A nova PNAB unificou as ações dos agentes comunitários de
saúde e os agentes de endemias, o que potencializa o esforço contra a
fragmentação das ações em saúde no âmbito da atenção básica (BRASIL,
2017; MELO et al., 2018).

Figura 6 – Dificuldade e obstáculos da SVNS na realização das ações


sanitárias, epidemiológicas e ambientais

Fonte: turkkub/ iStock.com.

Os principais pontos de dificuldade dos profissionais de saúde, tanto da


SNVS, como da atenção básica, consistem na sobrecarga e insatisfação
dos profissionais atuantes nas redes de serviço de ambos os órgãos,
como também condições de trabalho que inviabilizam a rotina
laboral dos profissionais no campo de atuação. O elevado número
de estabelecimentos e serviços pertencentes ao setor de regulação
também consiste em obstáculos na eficácia das ações realizada pelos
profissionais da SNVS. É importante o respaldo das políticas públicas
quanto à adoção de medidas punitivas aos estabelecimentos com
irregularidades sanitárias.

61
Referências Bibliográficas
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Contrato de gestão que
entre si celebram o Ministério da Saúde/MS e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária–Anvisa. Diário Oficial da União, 1999. Disponível em: http://portal.anvisa.
gov.br/documents/281258/308532/contrato_consolidado.pdf/696f9fcd-aaca-4e67-
89fa-33f245a567c5. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Plano Diretor de
Vigilância Sanitária. 1. ed. Brasília: Anvisa, 2007. Disponível em: http://www.anvisa.
gov.br/hotsite/pdvisa/pdvisa_livro.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. FIOCRUZ. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Reportagem.
Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/reivindicacoes-
sociais-durante-a-ditadura-apontam-anecessidade-de. Acesso em: 31 ago 2020.
Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Memórias da saúde da família no Brasil. Brasília, 2010.
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/memorias_saude_
familia_brasil.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei
n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/L9782.htm. Acesso em: 15 set. 2020.
BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
2016. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/
CF88_Livro_EC91_2016.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.
COSTA, E. A. Vigilância sanitária: defesa e proteção da saúde. In: ROUQUAYROL, M.
Z.; ALMEIDA FILHO, N. (orgs.). Epidemiologia & saúde, 5. ed., p. 327-351. Rio de
Janeiro: Medsi; 1999.
FERNANDES, R. Z. S.; VILELA, M. F. de G. Estratégias de integração das práticas
assistenciais de saúde e de vigilância sanitária no contexto de implementação da
Rede Cegonha. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 11, p. 4457-4466, 2014.
LIMA, Y. O.; SOUZA, M. K.; PAZ, B. M.; COSTA, E. Percepção dos profissionais da
Vigilância Sanitária sobre as condições sanitárias dos serviços da Atenção Primária à
Saúde. CIAIQ2018, v. 2, 2018.
MELO, E. A.; MENDONÇA, M. H. M. de; OLIVEIRA, J. R. de et al. Mudanças na Política
Nacional de Atenção Básica: entre retrocessos e desafios. Saúde em debate, v. 42,
p. 38-51, 2018.

62
MENDES, T. K. de A.; OLIVEIRA, S. P. de; DELAMARQUE, E. V. et al. Reestruturação
da Gestão das Vigilâncias em Saúde em Alagoas: a precarização da formação e do
trabalho. Trabalho, Educação e Saúde, v. 14, n. 2, p. 421-443,2016.

63
Bons estudos!

64

Você também pode gostar