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TRATAMENTO DO CÂNCER
Elisangela de Paula Silva

Francielle Renata Danielli Martins Marques

TRATAMENTO DO CÂNCER
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Marques, Francielle Renata Danielli Martins
M357t
Tratamento do câncer/ Francielle Renata Danielli Martins
Marques, Elisangela de Paula Silva. – Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2020.
40 p.

ISBN 978-65-86461-76-3

1. Oncologia. 2. Câncer I. Silva, Elisangela de Paula. II. Título.

CDD 616.992
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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TRATAMENTO DO CÂNCER

SUMÁRIO
Principais modalidades de tratamento oncológico___________________ 05

Abordagem de eventos adversos aos tratamentos __________________ 18

Tratamento não farmacológico do câncer ___________________________ 32

Papel do enfermeiro do tratamento do câncer ______________________ 45

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Principais modalidades de
tratamento oncológico
Autoria: Elisangela de Paula Silva
Leitura crítica: Camila Maria Silva Paraizo-Horvath

Objetivos
• Conhecer os principais fármacos utilizados na
prática oncológica.

• Distinguir entre as diferentes abordagens


utilizadas no tratamento farmacológico, cirúrgico e
radioterápico.

• Refletir sobre as opções disponíveis para execução


do planejamento terapêutico, incluindo suas
vantagens e desvantagens.

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1. Estratégias no combate ao câncer

O câncer pode surgir em decorrência de diferentes fatores, como


fatores genéticos e ambientais, atualmente, ele é considerado
uma das principais causas de mortalidade no mundo, e tem como
principal característica a proliferação desordenada de células. Neste
material, você conhecerá as principais classes de fármacos utilizados
no tratamento oncológico e quais são seus mecanismos de atuação
para o combate às células cancerígenas. Além disso, você também
aprenderá quando é indicado lançar mão de outros tratamentos de
forma complementar à estratégia farmacológica. Como veremos neste
material, dependendo do tipo e estágio do câncer são necessárias
diferentes estratégias para seu combate, como cirurgias e radioterapias,
tendo cada diferente estratégia uma aplicabilidade específica,
entretanto, independentemente do tipo de tratamento, todos têm
como objetivo comum à morte parcial ou total das células neoplásicas,
buscando sempre a remissão da doença.

Vamos lá?

1.1 Quimioterápicos aniquilantes

Os agentes quimioterápicos utilizados no combate ao câncer são


divididos em classes, que variam conforme suas características
intrínsecas e mecanismo de ação. A maioria desses fármacos tem
como objetivo promover a destruição de células que se proliferam
rapidamente, sendo essa a principal característica das células tumorais.
Nesse sentido, as pesquisas para descoberta de medicamentos eficazes
evoluíram de maneira importante ao longo dos anos, atualmente
existem mais de 100 quimioterápicos direcionados ao tratamento do
câncer de forma isolada ou em combinação com outros medicamentos e
tratamentos (BONASSA; GATO, 2012).

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A palavra quimioterapia tem origem alemã, devido a um cientista se
referir a uma forma química de tratar essa doença como um agente
aniquilante, sendo esses os primeiros agentes descobertos (ARRUEBO et
al., 2011).

O primeiro agente aniquilante utilizado na prática clínica foi a


mecloretamina, a partir disso foram descobertos diferentes
quimioterápicos, que foram incluídos nesta classe. Os agentes
aniquilantes interferem diretamente no ciclo celular, levando à morte
as células que estão se proliferando rapidamente, sendo utilizados,
principalmente, no tratamento de câncer de mama, leucemias e
linfomas, câncer de ovário, mieloma, retinoblastoma, neuroblastoma
e câncer de pulmão, são exemplo de quimioterápicos aniquilantes
a ciclofosfamida: clorambucil, estramustina e cisplatina (FALZONE;
SALOMONE; LIBRA et al., 2018).

Figura 1 – Imagem microscópica de células leucêmicas em sangue


periférico (roxo), tipo de câncer dos tecidos formadores de sangue,
incluindo a medula óssea

Fonte: jarun011/iStock.com.

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As células de câncer adaptam seu metabolismo para atender a sua
necessidade de rápida proliferação, como essa demanda não está
presente nas células normais, emergiu um interesse considerável
em explorar alterações metabólicas para avanços terapêuticos em
oncologia. Desse modo, foram criados os quimioterápicos considerados
antimetabólitos, desenhados para se assemelhar a estrutura dos
metabólitos naturais das células, possibilitando sua entrada na célula,
a fim de transferir mensagens erradas para bloquear a produção de
enzimas necessárias para seu funcionamento (MEHRMOHAMADI;
JEONG; LOCASALE, 2017).

Entre os principais quimioterápicos antimetabólitos, temos: fluorouracil,


6-mercaptopurina, capecitabina, citarabina e floxuridine. Essa classe
de medicamentos é utilizada principalmente em leucemias, câncer de
mama, ovário e do trato intestinal (MEHRMOHAMADI; JEONG; LOCASALE,
2017).

1.2 Antibióticos antitumorais

Além de serem utilizados no combate às bactérias, alguns antibióticos


possuem a capacidade de se intercalar com o DNA e RNA de células
tumorais, inibindo sua proliferação. Os antibióticos mais utilizados
são da classe das antraciclinas, como: daunorrubicina, doxorrubicina
e epirubicina, sendo amplamente utilizados em leucemias. As
antraciclinas, por sua vez, constituem uma parte fundamental dos
regimes de quimioterapia utilizados para tratar uma série de doenças
malignas diferentes, tanto em pacientes pediátricos quanto adultos,
porém, essa classe de medicamentos deve ser utilizada com cautela,
devido ao seu uso ter sido associado ao aumento do risco de problemas
cardíacos (SAGI et al., 2016).

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1.3 Inibidores da topoisomerase

As topoisomerases são enzimas importantes que participam do


processo de replicação e reparação do DNA na célula. Os medicamentos
inibidores das topoisomerases atuam interferindo neste processo,
bloqueando a replicação do DNA, impedindo, dessa forma, que
as células tumorais se multipliquem. Esse mecanismo tornou as
topoisomerases alvos terapêuticos importantes dos agentes anticâncer.
Nesse sentido, são exemplos de inibidores da topoisomerase os
medicamentos: otecano, irinotecano e etoposido, e, na maioria dos
casos, esses medicamentos são utilizados no tratamento de câncer de
pulmão, ovário e tumores gastrointestinais (DELGADO et al., 2018).

1.4 Inibidores mitóticos

Como o câncer surge como resultado da divisão celular descontrolada,


grandes esforços têm sido dedicados à descoberta de medicamentos
direcionados à mitose, sendo esse o processo de divisão celular. Nesse
contexto, os inibidores mitóticos atuam impedindo que as células
sofram seu processo de divisão e, consequentemente, a formação
de novas células. Além disso, os inibidores mitóticos possuem a
capacidade de levar as células ao processo de apoptose, que é a morte
celular programada. Exemplos dessa classe de medicamentos são a
estramustina e o docetaxel, amplamente utilizados no tratamento de
câncer de mama localmente avançado ou metastático, após falha de
quimioterapia à base de antraciclinas, e no câncer de pulmão, após falha
de quimioterapia com derivados da platina (DELGADO et al., 2018).

1.5 Corticosteróides

De acordo com o Lossignol (2016), os corticosteroides ou cortisona,


como a prednisona, metilprednisolona e dexametasona, são hormônios
esteroides originalmente utilizados como anti-inflamatório em

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patologias crônicas, como artrite reumatoide e asma, somado a isso,
descobriu-se sua utilidade terapêutica no tratamento do câncer,
com objetivo curativo ou de suporte. Na prática clínica, o uso de
corticosteroides tem sido útil no tratamento da dor óssea e neuropática
quando associados à analgésicos, como os opioides, o seu efeito como
analgésico é atribuído ao seu poder anti-inflamatório e a inibição da
formação de novos vasos, processo denominado angiogênese.

1.6 Imunoterapia

Enquanto a luta contra o câncer continuar sendo uma batalha árdua,


haverá um grande esforço para o desenvolvimento de terapêuticas
agressivas destinadas a minimizar ou inibir a proliferação e metástase
de células cancerígenas. As estratégias convencionais, como radioterapia
e quimioterapia, por serem compostas por agentes externos que são
direcionados ou infundidos no paciente, apresentam alta toxicidade.

Se houvesse uma maneira de auxiliar o próprio organismo dos pacientes


a combater essa patologia, teríamos um grande aliado nesse combate.
Nesse sentido, as imunoterapias surgiram com inúmeros benefícios, as
abordagens imunoterapêuticas consistem em utilizar componentes do
próprio sistema imunológico do paciente para atingir seletivamente as
células tumorais, dessa forma, reduzindo muitos dos efeitos colaterais
associados às opções tradicionais de tratamento.

Outra estratégia utilizada no combate ao câncer é a imunoterapia, essa


modalidade de tratamento consiste em auxiliar o sistema imunológico
do próprio paciente a reconhecer e combater as células tumorais. Como
principais imunoterápicos utilizados na prática clínica, podemos citar o
Pembrolizumab e o Nivolumab, esse medicamento tem sido utilizado,
sobretudo, em câncer de mama metastático em modalidade única
ou em associação com quimioterapia ou radioterapia. Apesar da sua
importante utilidade, o uso de imunoterápicos ainda enfrenta alguns

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desafios, como seu alto custo e baixa disponibilidade (ESTEVA et al.,
2019).

1.7 Tratamento cirúrgico oncológico

A realização de cirurgias em oncologia pode ser realizada com diferentes


objetivos, a cirurgia radical tem finalidade curativa e consiste em
remover de forma completa o tumor e uma área livre da doença,
como forma de segurança. Diferentemente da cirurgia radical, temos
as cirurgias classificadas como citorredutoras, que tem o objetivo de
reduzir o volume do tumor ou locais com presença de metástase,
em alguns casos, essa modalidade de cirurgia é realizada com o
objetivo de potencializar o efeito da quimioterapia que será realizada
posteriormente, aumentando a superfície de contato do efeito da droga
com as células localizadas no tumor. Em casos de doença avançada
ou de difícil tratamento, em que não é mais possível a realização de
tratamento com objetivo de cura, podem ser realizadas cirurgias
com o objetivo de melhorar a função e evitar complicações durante a
progressão da doença, assim, quando o objetivo é melhorar a qualidade
de vida do paciente, essa cirurgias são denominadas cirurgias paliativas
(ETHUN et al., 2017).

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Figura 2 – Demonstração de equipe cirúrgica em execução de
cirurgia aberta

Fonte: tempura/Istock.com.

1.8 Tratamento radioterápico oncológico

Uma modalidade de tratamento oncológico amplamente utilizada


é a terapia com radiação ou radioterapia, esse tipo de tratamento
continua sendo um importante componente no tratamento de pacientes
oncológicos. De acordo com o INCA (2020), ele consiste na utilização
de radiação ionizante, como os raios X e raios gama, com o objetivo
de destruir o tecido tumoral ou impedir que suas células aumentem,
podendo ser utilizada em combinação com outros tratamentos, como a
quimioterapia.

Cerca de 50% dos pacientes oncológicos são submetidos a esse tipo


de tratamento, seja no tratamento primário (radioterapia radical ou
adjuvante) ou no controle de sintomas (radioterapia paliativa), dessa
parcela de pacientes, cerca de 40 % se beneficiam de maneira curativa.
Como a radiação ionizante é extremamente eficaz para matar qualquer
tipo de célula, no entanto, para que isso seja efetivo, é necessário um

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bom planejamento terapêutico envolva a mensuração e marcação
correta da área a ser irradiada, determinação de intensidade de radiação
e número de sessões necessárias, que pode variar conforme a extensão
e localização do tumor (JAFFRAY; GOSPODAROWICZ, 2015).

Figura 3 – Demonstração de realização de procedimento de


radioterapia

Fonte: Mark Kostich/iStock.com.

2. Definição do plano terapêutico: vantagens e


desvantagens

O câncer continua sendo um dos maiores problemas de saúde pública


em todo o mundo, o avanço dos estudos que visam o seu combate
mudou significativamente os paradigmas de tratamento para essa
patologia. Atualmente, a escolha do tratamento considerado para cada
paciente envolve sua condição clínica, tipo e estadiamento do câncer. É
importante lembrarmos que cada tipo de tratamento envolve benefícios,
mas também alguns riscos. A realização de cirurgia é o mais antigo e

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utilizado método de tratamento, e quando realizada em estágios iniciais
da doença pode ser curativa. Nos casos ao qual a doença se encontra
em estágios mais avançados, o tratamento tem como objetivo o alivio de
sintomas e a remoção de focos de metástase.

O tratamento por quimioterapia é extremamente eficaz em diferentes


tipos de cânceres e pode ser utilizado de forma exclusiva, anterior ou
posterior a cirurgia, ou em combinação, entretanto, por ter um efeito
sistêmico e atingir as células saudáveis além das células de câncer, ele
acaba debilitando o paciente e trazendo outras complicações associadas,
como queda da imunidade, que pode ter como consequência
o desenvolvimento de outras patologias. Além disso, apesar de
importantes avanços no desenvolvimento de novos tratamentos, as
quimioterapias são tóxicas ao organismo, principalmente quando
realizada com quimioterápicos aniquilantes, como a cisplatina, podendo
comprometer a função de órgãos importantes, como o fígado, o baço e
o sistema hematológico.

Por sua vez, a radioterapia, apesar de não atuar de forma sistemática


como as quimioterapias, também compromete o tecido saudável
localizado ao redor do tumor. As consequências, no entanto, dependem
do local de radiação, quando o tratamento é voltado para a próstata,
por exemplo, temos o comprometimento de células do intestino,
podendo resultar em diarreias e na má absorção de nutrientes, além do
comprometimento da função reprodutora. Por outro lado, os avanços
no sentido de direcionamento com precisão da radiação têm contribuído
para minimizar os efeitos indesejados do tratamento. Atualmente,
esforços têm sido feitos a fim de atingir somente o tumor, por meio de
cálculos precisos da área a ser irradiada e, até mesmo, as braquiterapias,
onde a fonte de radiação é colocada diretamente no tecido tumoral,
como no caso das neoplasias ginecológicas.

Os esforços utilizados para combater o câncer podem envolver todas as


modalidades citadas anteriormente neste material de forma simultânea,

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apesar disso, cada paciente responderá ao tratamento de forma
diferente, fato que pode ser atribuído às características genéticas de
cada indivíduo.

Nesse sentido, a medicina personalizada no tratamento do câncer


tem demonstrado grande potencial, o termo se refere a um conceito
amplo que visa tratar a saúde de forma personalizada, analisando
cada paciente em sua individualidade, considerando sua história clínica
ambiental e, principalmente, genética. Com base nessas informações,
os médicos conseguem determinar, por exemplo, o porquê o paciente A
responde melhor ao mesmo tratamento que foi aplicado no paciente B.

Dessa forma, também é possível traçar estratégias de prevenção,


rastreamento, acompanhamento e menores efeitos colaterais quando
comparado aos tratamentos tradicionais, que, na maior parte das vezes,
são indicados de forma genérica, sem considerar as particularidades de
cada indivíduo.

Neste material, você aprendeu que existem diferentes modalidades para


tratamento do câncer, sendo os tratamentos quimioterápicos os mais
utilizados, apesar de existirem diferentes classes de quimioterápicos
atuando de maneira diferente, todos têm o mesmo objetivo, destruir
as células que se proliferam rapidamente, sendo essa a característica
principal das células tumorais.

Além disso, aprendemos que a remoção cirúrgica do tumor pode ser


utilizada com objetivo curativo ou paliativo, anterior ou posterior a
outros tratamentos, como a quimioterapia ou radioterapia, ou até
mesmo de forma exclusiva, sobretudo quando a doença se encontra em
estágios iniciais.

Da mesma forma, as radioterapias visam destruir as células tumorais,


porém, por meio de radiação, podendo ser utilizada para controle ou
cura da doença, mas de forma direcionada ao tecido tumoral e não de

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forma sistêmica, como as quimioterapias. Por falar em efeito sistêmico,
em nossa leitura, aprendemos que as imunoterapias se mostram
superiores por ter como característica a alta especificidade, utilizando o
próprio sistema imunológico do paciente para combater o câncer.

Por fim, concluímos que cada modalidade terapêutica envolve vantagens


e desvantagens, por isso, no planejamento devem ser considerados a
história clínica do paciente, além de tipo e estadiamento da patologia a
ser tratada.

Referências Bibliográficas
ARRUEBO, M.; VILABOA, N.; SÁEZ-GUTIERREZ, B.; LAMBEA, J.; TRES, A.; VALLADARES,
M.; GONZÁLEZ-FERNÁNDEZ, Á. Assessment of the evolution of cancer treatment
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BONASSA, E. M. A.; GATO, M. I. R. Terapêutica Oncológica para Enfermeiros e
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DELGADO, J. L.; HSIEH, C.; CHAN, N.; HIASA, H. Topoisomerases as anticancer
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ESTEVA, F. J.; HUBBARD-LUCEY, V. M.; TANG, J.; PUSZTAI, L. Immunotherapy and
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2018.
JAFFRAY, D. A.; GOSPODAROWICZ, M. K. Radiation therapy for cancer. In: GELBAND,
H.; JHA, P.; SANKARANARAYANAN, R.; HORTON, S. Cancer: disease control priorities.
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ERDELYI, D. J.; SZALAI, C.; SEMSEI, Á. Pharmacogenetics of anthracyclines.
Pharmacogenomics, [s.l.], v. 17, n. 9, p. 1075-1087, jun. 2016.
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2020.
HOFF, P. (ed.). Tratado de Oncologia. São Paulo: Atheneu, 2013.

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Abordagem de eventos adversos
aos tratamentos
Autoria: Elisangela de Paula Silva
Leitura crítica: Camila Maria Silva Paraizo-Horvath

Objetivos
• Refletir sobre situações em que pode ser necessário
alterar o plano terapêutico no tratamento
oncológico.

• Distinguir entre os principais efeitos adversos


ocasionados pelo uso de medicamentos
quimioterápicos e terapias por radiação.

• Conhecer as ações que podem ser realizadas pela


equipe de enfermagem para prevenir ou minimizar
os feitos adversos relacionados ao tratamento
quimioterápico.

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Como profissional de enfermagem, é importante que você conheça os
principais efeitos adversos relacionados ao uso de quimioterápicos e,
sobretudo, quais medidas a equipe de enfermagem deve lançar mão
para minimizar esses efeitos, assim, prestando uma assistência de
qualidade e da forma mais adequada possível. Nesta leitura digital, você
conhecerá os principais efeitos associados ao uso de quimioterápicos,
e quais ações a equipe de enfermagem pode realizar para auxiliar o
paciente no enfrentamento do tratamento a ele proposto.

Vamos lá?

1. Alteração do planejamento terapêutico

É importante iniciarmos nossa leitura ressaltando que no momento


anterior ao início do tratamento quimioterápico, o paciente ou seu
responsável legal deve obrigatoriamente ler e, se concordar, assinar o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Nesse documento,
dentre outros aspectos, estão descritos quais os riscos potenciais que o
tratamento poderá envolver, bem como os principais efeitos adversos
que podem ser ocasionados pelo tratamento.

Além disso, pelo fato do profissional enfermeiro, devido sua formação


e atuação profissional, ter como função, além de prestação de
assistência ao paciente, a de educador, é importante que ele forneça
o máximo de informações ao paciente sobre os efeitos que podem
vir a ocorrer durante seu tratamento. Para isso, ele pode, ainda, caso
tenha na instituição de saúde que trabalha, oferecer um material
impresso informativo sobre o tratamento para o paciente ler em casa.
Nesse sentido, estudos têm sido realizados acerca da importância da
comunicação entre a enfermagem e o paciente neste momento delicado
de tratamento, reforçando a importância da comunicação efetiva na
busca da elevação da qualidade do cuidado e consequente contribuição

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no sucesso do tratamento quimioterápico (MIRANDA et al., 2009; SALLES;
CASTRO, 2010).

Cada tipo de câncer exige um tratamento especifico, por essa razão,


cada droga apresenta efeitos adversos específicos, o que pode alterar
o planejamento terapêutico, como concentração e frequência da droga
administrada, podendo, em alguns casos, interromper o tratamento
inicialmente proposto. Por exemplo, para entendermos como ocorre
o remanejamento do plano terapêutico devido à reação adversa,
em um tratamento da leucemia mielóide crônica, tipo de câncer
hematológico altamente incidente, o protocolo de tratamento envolve
o uso do fármaco Imatinibe em uma concentração inicial de 300mg/
dia, sendo aumentado gradativamente; esse medicamento, na maioria
dos pacientes, acaba ocasionando efeitos adversos que incluem edema
periorbital ou de membros inferiores, náusea, vômito, mialgia, diarreia,
erupção cutânea e hepatotoxicidade (elevação de enzimas hepáticas),
podendo levar a insuficiência hepática.

Em casos de toxicidade grave, no meio do tratamento, essa dose pode


ser alterada para a concentração inicial, reiniciando assim o esquema.
Se mesmo após alterar o esquema terapêutico por toxicidade ou por
não responsividade do paciente ao tratamento, ou seja, a doença
continue evoluindo, o médico pode lançar mão de outro medicamento,
o dasatinibe, que pode ser empregado na falha terapêutica (após
escalonamento de dose) ou intolerância ao Imatinibe (BRASIL, 2015).

2. Implicações hematológicas

Os agentes quimioterápicos contribuem de forma significativa para


a cura ou aumento de tempo de sobrevida dos pacientes portadores
de câncer, entretanto, por possuírem efeito sistêmico no organismo,
atingem não somente as células de câncer, mas também as saudáveis,

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o que provoca diferentes efeitos adversos. Além disso, pelo fato de
quimioterápicos atuarem de maneira mais específica destruindo as
células com divisão acelerada, um dos principais efeitos indesejados no
tratamento é a destruição do tecido hematopoiético, (tecido responsável
pela produção de células sanguíneas). Consequentemente, ocorre
a diminuição do número dessas células altamente capacitadas para
desempenhar funções diversas. Entre os fármacos quimioterápicos
com efeito supressor hematológico, podemos citar a bleomicina,
ciclofosfamida e a vincristina.

Na maioria dos casos, a primeira alteração sanguínea apresentada é a


leucopenia, que pode ser definida como a diminuição do número de
leucócitos no sangue. De acordo com Fonseca (2000), nessa condição,
pode-se, a critério médico, adiar a aplicação do quimioterápico quando
os valores estiverem muito abaixo dos considerados normais.

A principal função dos leucócitos é defender nosso organismo de


agentes patogênicos, desse modo, quando temos uma leucopenia
corremos um maior risco de desenvolver uma infecção. De acordo
com Fonseca (2000), cabe à equipe de enfermagem controlar com
precisão os sinais e sintomas de uma eventual infecção que possa vir a
ocorrer, além de acompanhar de modo rigoroso alterações no padrão
respiratório e urinário, integridade de pele e mucosas, e, sobretudo,
identificar, minimizar e orientar o paciente sobre os riscos ambientais
que contribuem para a ocorrência de um processo infeccioso.

Ainda, falando sobre ao impacto hematológico que as quimioterapias


podem envolver, as trombocitopenias (deficiência de plaquetas no
sangue) podem favorecer sangramentos intensos, podendo ocasionar
uma anemia (redução de glóbulos vermelhos no sangue), assim, a
equipe de enfermagem deve orientar o paciente quanto à importância
de uma alimentação balanceada e rica em ferro, devendo sempre
estar alinhado à orientação fornecida pela equipe de nutrição (SPIVAK;
GASCON; LUDWIG, 2009).

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3. Náuseas e vômitos

Outro sintoma importante apresentado nos pacientes submetidos à


tratamentos quimioterápicos está relacionado à náuseas e vômitos, as
causas diretamente relacionadas à ocorrência desse sintoma ainda não
foram totalmente elucidadas pela ciência, entretanto, sua incidência
está relacionada primariamente com um potencial emético do fármaco,
alguns tipos específicos de quimioterápicos como aniquilantes cisplatina,
dacarbazina e estreptozocina apresentam um risco maior de causar
náuseas (cerca de 90% dos casos), o tempo entre o início da infusão
e o aparecimento de náusea varia entre uma e seis horas. De acordo
com Fonseca (2000), alguns fatores, como dose, via de administração,
velocidade de aplicação ou a combinação de fármacos, podem
influenciar na ocorrência desse tipo de sintoma, a via oral tem maior
relação com a incidência de náuseas e vômitos em comparação à via
endovenosa.

Para atenuar o surgimento desses tipos de efeitos adversos procede-


se a administração de medicação antiemética de maneira rotineira
no momento anterior à quimioterapia. Logo, orientações podem ser
fornecidas pela equipe de enfermagem, a fim de auxiliar os pacientes
a atenuar esses tipos de efeitos, evitando alimentos gordurosos,
condimentados, comendo em quantidades menores e a intervalos mais
frequentes (MOYSÉS et al., 2016).

4. Alopecia

Devido ao componente farmacológico quimioterápico ter como alvo


células que se dividem rapidamente, um efeito adverso temido pelos
pacientes, e que acaba comprometendo de forma importante sua
autoestima, é a alopecia (queda de cabelo e pelos corporais), que surge

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em resultado de uma atrofia dos folículos capilares em reposta à lesão
ocasionada pelo fármaco. Nesse sentido, é importante lembrar que a
alopecia na região do couro cabeludo acaba se destacando devido à
localização da região, entretanto, a queda de pelos também em outras
regiões corporais, como sobrancelhas, axilas e região púbica. Segundo
Fonseca (2000), o início da alopecia costuma ocorrer de duas a três
semanas após o primeiro ciclo de quimioterapia, tendendo a persistir
com a repetição dos ciclos. A quantidade da queda depende do tipo de
droga empregada, dose e intervalos de administração.

Felizmente, existem estratégias para prevenir e atenuar a alopecia, como


a touca hipotérmica, que consiste em resfriar o couro cabeludo durante
a infusão do quimioterápico, a fim de diminuir o fluxo sanguíneo na
região e reduzir a circulação do quimioterápico para a região. No
entanto, estudos têm demonstrado não somente benefícios quanto à
redução de queda capilar durante o tratamento quimioterápico, mas
também após o tratamento. Um trabalho, que teve como objetivo avaliar
a eficácia da touca hipotérmica na prevenção da alopecia induzida
pela quimioterapia em pacientes com câncer de mama, concluiu que a
touca foi capaz de impedir alopecia nos pacientes avaliados de forma
segura, além disso, o resfriamento do couro cabeludo resultou em uma
recuperação mais rápida do volume capilar após a quimioterapia, como
podemos observar na Figura 1 (KINOSHITA et al., 2019)

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Figura 1–Imagem demonstrando diferença na quantidade e alopecia
em pacientes submetidos à quimioterapia com resfriamento do
couro cabeludo ou não. Nas imagens A, B e C foi utilizada a touca
hipotérmica durante as sessões, na imagem D a touca não foi
utilizada

Fonte: Kinoshita et al. (2019, p. 733).

Para minimizar os efeitos da quimioterapia e auxiliar os pacientes no


momento de enfrentamento da alopecia, caso ela ocorra, a equipe de
enfermagem deve estimular os pacientes a verbalizar os sentimentos
e percepções sobre o impacto da alopecia em sua vida. Além de
proporcionar informações antecipadas sobre a alopecia, sempre
buscando salientar que esse é um momento transitório em sua vida, já
que o cabelo voltará a crescer cerca de um a dois meses após o término
do tratamento, retornando ao volume inicial em cerca de seis meses a
um ano. Além disso, deve-se estimular o paciente a buscar pela adoção
de outras maneiras estéticas, como o uso de lenços e turbantes, se
essa for sua vontade, cuidados com a proteção do couro cabeludo a
exposição solar com o uso de protetor solar. Caso a instituição disponha
de toucas hipotérmicas para uso, ela sempre deverá ser apresentada ao
paciente e incluída no planejamento terapêutico, se for da vontade do
paciente (MEDEIROS et al., 2019).

24
5. Mucosites

As mucosites são consideradas uma resposta inflamatória da


mucosa oral ou gastrointestinal que pode ser ocasionada pela ação
do quimioterápico, ela se configura como um dos efeitos colaterais
debilitantes mais comuns relacionados à quimioterapia, cerca de 40%
dos pacientes em tratamento quimioterápico desenvolvem mucosites
em um grau variável. A perda de integridade da mucosa oral pode
favorecer infecções locais e sistêmicas que podem comprometer
a nutrição e a ingestão de líquidos. Por outro lado, a mucosite
gastrointestinal é responsável por náuseas, vômitos e diarreias,
podendo ter um impacto severo na qualidade de vida do paciente, além
de influenciar negativamente a capacidade dele manter o cronograma
de tratamento de forma adequada (BASILE et al., 2019).

Uma medida importante de prevenção a mucosite durante o tratamento


do câncer é relacionada à rotina diária de higiene bucal, após uma
avaliação inicial do dentista, a fim de remover possíveis fontes de
infecção ou trauma. O protocolo de higiene bucal recomendado deve
incluir uma escova de dente macia duas vezes ao dia, uso do fio dental e
enxaguatório bucal sem álcool após a higiene bucal (com soro fisiológico
a 0,9%, bicarbonato de sódio ou água pura). Além disso, restrições
alimentares e nutricionais devem reduzir possíveis estímulos irritantes,
como alimentos quentes e condimentados, desidratação, álcool e
tabagismo. Nesse contexto, a equipe de enfermagem pode intervir
para o alivio de dor e desconforto, como a aplicação de anestésicos
locais prescritos pelo médico, além de orientá-lo quanto à higiene oral
adequada e dieta branda e balanceada (FONSECA, 2000).

25
6. Alteração do estado nutricional

A piora do estado nutricional durante a terapia oncológica tem sido


descrita como resultado de uma combinação de fatores relacionados
ao tumor e à toxicidade do próprio tratamento. Nesse sentido, ocorre
perda ou ausência de apetite, que pode acometer os pacientes durante
o tratamento quimioterápico, essa complicação pode levar o paciente
a um déficit nutricional, tornando-o menos responsivo ao tratamento e
mais suscetível à infecções (EZEOKE; MORLEY, 2015).

A prevalência de desnutrição em pacientes com câncer varia de 30 a


80%. Frequentemente, esses problemas têm como causa primaria o
aumento nas citocinas pró-inflamatórias e no lactato, esses dois fatores
modulam as cascatas de neurotransmissores do sistema nervoso
central, sendo classificados como tendo uma origem central. Por
outro lado, perifericamente, a quimioterapia pode alterar a percepção
do paladar e causar náusea, vômito, mucosite, cólicas abdominais e
sangramentos intestinais (EZEOKE; MORLEY, 2015).

A equipe de enfermagem, apesar da alteração na percepção dos


sabores e náuseas, pode orientar os pacientes a ingerir alimentos o
mais próximo do habitual. Em casos mais graves, após avaliação, pode-
se lançar mão de suplementos de forma complementar e, até mesmo,
alimentação por sonda nasoenteral (MASTELARO et al., 2016).

7. Alterações gastrointestinais

Os efeitos colaterais gastrointestinais da quimioterapia são um


obstáculo clínico debilitante e muitas vezes esquecido no tratamento
do câncer. A constipação induzida por quimioterapia e a diarreia
apresentam um desafio constante no tratamento do câncer, e estão

26
entre os principais fatores contribuintes para reduções de dose e, até
mesmo, interrupção do tratamento (MCQUADE et al., 2016).

Por sua vez, a constipação pode ser definida como longos intervalos
ou ausência de evacuações, frequentemente acompanhada por perda
de apetite, desconforto e distensão abdominal. Os quimioterápicos
da classe dos alcaloides da vinda, como a vimblastina, vincristina e
vindesina, são os maiores responsáveis pela ocorrência de constipação,
atuando na redução da mobilidade gastrointestinal devido a sua ação
tóxica sobre o sistema nervoso do aparelho digestivo, alguns fatores
podem favorecer o surgimento desta complicação como idade avançada,
diminuição da mobilidade, alterações na alimentação. De acordo com
Fonseca (2000), para atenuar esse efeito, a equipe de enfermagem pode
orientar a ingestão hídrica e estimular a deambulação.

8. Efeitos adversos específicos no tratamento


oncológico por radioterapia

Até o momento, abordamos sobre os efeitos adversos desencadeados


pelo tratamento farmacológico quimioterápico, agora falaremos sobre
alguns dos principais efeitos adversos pelo uso de terapia radioativa
no tratamento. Os efeitos atribuídos ao uso de radioterapia podem
ser classificados como precoces ou tardios. Os efeitos adversos
iniciais ocorrem durante o tratamento ou logo após a sua conclusão e,
geralmente, desaparecem dentro de quatro ou seis semanas. Os efeitos
adversos tardios são observados meses ou anos após a conclusão do
tratamento e, geralmente, são permanentes.

Os efeitos podem envolver dermatite por radiação (Figura 2),


efeito adverso comum nesse tipo de intervenção, frequentemente
complicando o tratamento de neoplasias da mama, próstata, cabeça
e pescoço. O tratamento desse tipo de complicação pode envolver

27
esteroides tópicos e emolientes contendo dexpantenol. Outra
complicação comum é a cistite (infecção e/ou inflamação da bexiga),
que pode ser aguda, crônica ou hemorrágica, sendo essa última a mais
grave. Por outro lado, de acordo com Berkey (2010), a cistite crônica por
radiação ocorre de forma mais comum após a radiação nos tumores da
próstata, colorretal bexiga e região pélvica.

O tratamento visa principalmente à melhora dos sintomas. A disfunção


sexual, incluindo a impotência, é comum após a radioterapia para o
câncer de próstata e, em menor grau, em neoplasias colorretais. A
disfunção sexual feminina é mais comum após a radioterapia para
o câncer do colo do útero e do endométrio, os efeitos podem incluir
diminuição do interesse sexual, secura e estenose vaginal, dispareunia,
além de insatisfação sexual de forma generalizada. O tratamento
consiste no uso de cremes vaginais lubrificantes para irritação vaginal
após radiação. De acordo com Berkey (2010), sabendo que mulheres
com mais de 50 anos têm maior risco de estenose vaginal, a sociedade
americana de câncer recomenda o uso de um dilatador vaginal três
vezes por semana, a fim de evitar estenose.

28
Figura 2 – Alterações eritematosas em uma mulher de 76 anos de
idade na sexta semana de tratamento, recebendo radioterapia para
infiltração de carcinoma ductal da mama esquerda

Fonte: Berkey (2010, p. 383).

Neste material, você aprendeu que no momento anterior ao início do


tratamento, o paciente tem o direito de ser informado sobre todos
os potenciais efeitos que poderá sofrer com o tratamento ao qual
será submetido. Além disso, aprendemos que há situações em que o
planejamento terapêutico inicial terá que ser modificado, com o objetivo
de garantir a melhor eficácia possível do tratamento empregado,
além da garantia da segurança do paciente. Ainda, abordamos que
apesar dos tratamentos oncológicos trazerem inúmeros benefícios
para o paciente, eles podem também ocasionar efeitos indesejados,
felizmente, há métodos que podem ser empregados para minimizar
essas complicações. Nesse contexto, a equipe de enfermagem tem
inúmeras estratégias que podem ser empregadas para prestar a melhor
assistência e aumentar a qualidade de vida do paciente oncológico.

29
Referências Bibliográficas
BASILE, D.; DI NARDO, P.; CORVAJA, C.; GARATTINI, S. K.; PELIZZARI, G.; LISANTI, C.;
BORTOT, L.; DA ROS, L.; BARTOLETTI, M.; BORGHI, M.; GERRATANA, L.; LOMBARDI,
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FONSECA, S. M. da. Manual de quimioterapia antineoplásica. Rio de Janeiro:
Reichmann & Affonso, 2000. (Enfermagem Prática)
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MCQUADE, R. M.; STOJANOVSKA, V.; ABALO, R.; BORNSTEIN, J. C.; NURGALI, K.
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MEDEIROS, M. B. D.; SILVA, R. M. C. R. A.; PEREIRA, E. R.; MELO, S. H. D. S.; JOAQUIM,
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hematology. Oncologist., [s.l.], v. 14, suppl 1, p. 43-56, 2009.

31
Tratamento não farmacológico do
câncer
Autoria: Francielle Renata Danielli Martins Marques
Leitura crítica: Camila Maria Silva Paraizo-Horvath

Objetivos
• Conhecer os principais métodos não farmacológicos
utilizados no tratamento do câncer.

• Distinguir a aplicabilidade dos diferentes métodos


de tratamento não farmacológico do câncer.

• Identificar os principais efeitos adversos da utilização


de cada tratamento não farmacológico estudado.

32
1. Aspectos introdutórios dos tratamentos não
farmacológicos do câncer

As neoplasias malignas, assim como são conhecidos os diversos tipos


de cânceres, representam uma classe conhecida como doenças ou
condições crônicas, cujo tipo de tratamento é quase sempre em busca
de um melhor prognóstico (FONSECA; PEREIRA, 2014).

O tratamento pode ser isolado ou com associação de mais de uma


intervenção, como: cirurgia, quimioterapia, radioterapia, sendo essas
chamadas de tríade do tratamento oncológico (OLIVEIRA; RODRIGUES,
2016).

Ao iniciar o tratamento de um paciente com câncer, a equipe assistencial


deve estar instrumentalizada sobre a finalidade do tratamento proposto,
ter conhecimentos e habilidades específicas em oncologia, avaliar os
riscos possíveis na evolução do quadro e da terapêutica associada.
Além disso, é desejável o envolvimento do profissional com o paciente
e os familiares, de forma a que facilite o relacionamento da equipe e a
adesão do paciente ao tratamento proposto (FONSECA; PEREIRA, 2014;
OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

A seguir, destacaremos os principais métodos não farmacológicos


utilizados no tratamento do câncer.

33
2. Radioterapia

Figura 1 – Radioterapia na região da cabeça

Fonte: Mark Kostich/iStock.com.

2.1 Conceito

A radioterapia é uma forma comum de tratamento do câncer, sendo


utilizada em dois a cada três pacientes tratados isolados ou em
combinação com outros métodos de terapêuticos, como cirurgia ou
quimioterapia. De acordo com o INCA (2020), o objetivo da radioterapia
é danificar as células cancerígenas alterando seu material genético e a
capacidade de reprodução das células neoplásicas.

Entre os tipos de emissões radiológicas existentes, as mais utilizadas


são os Raios X ou Raios gama (radiação eletromagnética) e Radiações
emitidas através de elétrons, prótons e nêutrons (radiação corpuscular).
Apesar de todas as células serem atingidas pela radioterapia, as células
saudáveis têm uma alta capacidade de regeneração, o que normalmente

34
não acontece com as células neoplásicas, ocasionando a morte dessas
células e, consequentemente, na resposta eficaz do tratamento (HOFF;
DIZ; TESTA, 2019; INCA, 2020).

Portanto, ressalta-se a necessidade do planejamento cuidadoso da


radioterapia com a finalidade de preservar o máximo possível dos
tecidos saudáveis, minimizando os efeitos colaterais desse tratamento
(HOFF; DIZ; TESTA, 2019; INCA, 2020).

2.2 Local

O tratamento radioterápico é realizado em um Serviço de Radioterapia


de uma Clínica ou Hospital, sendo a maioria dos departamentos de
radioterapia localizados em hospitais de referência e de ensino (HOFF;
DIZ; TESTA, 2019).

A radioterapia externa (teleterapia) ou radioterapia convencional é a


mais utilizada. Ela consiste na emissão de um determinado feixe de
radiação a longa distância utilizando alta energia produzida por um
equipamento chamado de acelerador linear (FONSECA; PEREIRA, 2014).

A radioterapia externa é composta por uma equipe multidisciplinar


que planeja o tratamento (o tamanho, a forma e a direção do feixe), de
modo a atingir o tumor, poupando o tecido saudável ao redor. Ela pode
ser realizada até cinco vezes na semana, durante um período de 4 a 6
semanas em esquema ambulatorial, exceto nos casos da braquiterapia,
quando há a necessidade de hospitalização por alguns dias (FONSECA;
PEREIRA, 2014).

35
2.3 Objetivos da radioterapia

• Neoadjuvante: quando a radioterapia é utilizada para diminuir o


volume do tumor, com objetivo de facilitar a cirurgia ou permitir
que ela seja menos invasiva.

• Adjuvante: quando a radioterapia é realizada após à quimioterapia


ou à cirurgia. Utilizada para esterilizar possíveis focos microscópios
do tumor que possam estar presentes na corrente sanguínea e,
consequentemente, prevenir metástases.

• Curativa: quando a radioterapia é considerada a principal arma


no combate ao câncer, podendo ser associada à quimioterapia
ou utilizada nos casos em que a cirurgia não é possível ou muito
arriscada para o paciente. Aplicada em regiões da cabeça e
pescoço, tumores localmente avançados do colo e corpo uterino,
canal anal, pulmão, esôfago, sistema nervoso central etc.

• Paliativa: indicada nos casos em que não há a possibilidade de cura


da doença, porém o objetivo da terapia paliativa é proporcionar
qualidade de vida para os pacientes por vários anos. Os tumores
podem causar dor, compressão ou sangramento em seu sítio
primário, ou seja, no local onde se originou, bem como a distância
(metástases). Nessas situações, a radioterapia pode ser utilizada
para aliviar a dor, para aliviar a compressão mecânica causada
pelo tumor e para conter hemorragias (RODRIGUES; MARTIN;
MORAES, 2016; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

2.4 Braquiterapia

A radioterapia interna, ou braquiterapia, utiliza fontes a curta distância.


Nessa modalidade de tratamento, o material radioativo é colocado bem
próximo à lesão tumoral, com a utilização de implantes radioativos.
Dependendo do tipo de tratamento a ser utilizado (alta ou baixa dose),

36
o paciente pode precisar ser hospitalizado por alguns dias (HOFF; DIZ;
TESTA, 2019; INCA, 2020).

A radiação emitida pela radioterapia interna é indolor, embora o


procedimento para ser inserido na fonte possa, às vezes, causar um leve
desconforto (HOFF; DIZ; TESTA, 2019; INCA, 2020).

Ela pode ser dividida em:

• Intraluminal: a fonte de radiação é colocada no interior de órgãos


tubulares (lúmen). Ex.: câncer de esôfago e câncer de pulmão.

• Intersticial: a fonte de radiação é inserida diretamente no órgão


atingido, muito próxima ao tumor. Ex.: câncer de mama e cérebro.

• Superficial ou de Contato: é realizada através de moldes, nos quais


são colocadas as fontes de radiação.

• Intracavitária: a fonte é introduzida em cavidades do corpo


adjacentes aos tumores. Ex.: vagina, reto e uretra (INCA, 2020).

2.5 Riscos e benefícios

• Riscos: os efeitos colaterais da radioterapia estão diretamente


relacionados à área do corpo afetada e à dose administrada.
Nesse sentido, espera-se que esses efeitos colaterais se iniciem em
torno de três semanas após o início do tratamento radioterápico.
Nesse período, inicia-se um processo inflamatório cujos efeitos
colaterais serão específicos de acordo com as estruturas atingidas.
A radioterapia externa tende a causar mais efeitos colaterais do
que a radioterapia interna, tendo em vista atingir mais tecidos
saudáveis do que a braquiterapia. Logo, com as técnicas de
tratamento atuais, os efeitos colaterais estão se torando cada vez
mais leves e de fácil manejo (HOFF; DIZ; TESTA, 2019).

37
Os efeitos colaterais causados pela radioterapia normalmente
permanecem apenas alguns dias ou semanas após o término do
tratamento. “Entre as manifestações clínicas mais frequentes, destaca-
se as reações de pele, náuseas, diarreia, xerostomia, anorexia e disfagia
(MARCON, et. al. 2018, p. 3061)”. Entretanto, alguns sintomas, como os
sintomas de fadiga ou perda de cabelo, podem durar alguns meses,
e a infertilidade e a menopausa precoce podem ser permanentes
(RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016).

• Benefícios: as sessões de tratamento geralmente são realizadas


em regime de ambulatório, ou seja, sem necessidade de
internação hospitalar. A sessão, normalmente, leva menos de
uma hora, e às vezes menos do que 15 minutos, entre entrar na
sala de espera e deixar o hospital ou clínica (RODRIGUES; MARTIN;
MORAES, 2016).

3. Cirurgia oncológica

Figura 2 – Mastectomia total esquerda

Fonte: Pradit_Ph/iStock.com.

38
3.1 Conceito

A cirurgia oncológica foi o primeiro tratamento capaz de modificar o


prognóstico incurável do câncer e, ainda, permanece como um dos
métodos mais utilizados para o tratamento neoplásico até hoje. Para
isso, é necessário um planejamento cirúrgico adequado que inclua os
cuidados referentes aos princípios cirúrgicos, que vão desde o preparo
clínico do paciente para a operação até o preparo emocional sobre as
alterações físicas e fisiológicas que poderão ocorrer com o tratamento
cirúrgico (RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016).

Nesse sentido, são muitos os tipos e técnicas cirúrgicas, porém há


partes da cirurgia que são as mesmas em quase todos os tipos de
procedimentos, incluindo: exames pré-operatórios, avaliação anestésica,
a cirurgia propriamente dita e um período de recuperação. Logo,
saber o que esperar do procedimento ajuda o paciente a se sentir
mais confortável e confiante, o que reduz o estresse sobre sua cirurgia
(OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

Durante o procedimento cirúrgico, há a retirada dos tecidos até a


margem de segurança, que varia de acordo com a localização e o tipo
histológico do tumor. O tumor maligno, pelo seu caráter de invasão
microscópica, exige a ressecção mais ampla, indo além do limite
macroscópico do tumor (FONSECA; PEREIRA, 2014).

Além da ressecção cirúrgica mais ampla, usualmente, é realizada


a retirada de linfonodos (linfadenectomia) de comprometimento
neoplásico, e também da(s) cadeia(s) linfonodal(is) primariamente em
risco de comprometimento. Linfonodos aumentados ou ingurgitados
(suspeitos) devem ser ressecados e biopsiados (FONSECA; PEREIRA,
2014).

Classicamente, os tumores de crescimento lento são os mais indicados


à cirurgia, tendo em vista a sua pequena capacidade de invasão dos

39
tecidos adjacentes e, consequentemente, menor espessura das margens
de segurança e menores as chances de acometimentos das cadeias de
linfonodos (FONSECA; PEREIRA, 2014).

As cirurgias oncológicas podem ter as seguintes finalidades: diagnóstica,


curativa, remoção de parte do tumor, paliativa, suporte, reconstrução ou
preventive (FONSECA; PEREIRA, 2014; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

3.2 Objetivos das cirurgias oncológicas

• Cirurgia diagnóstica: utilizada em quase todos os casos


para realização do diagnóstico da doença (como a biópsia) ou
estadiamento da doença.

• Cirurgia curativa: esse tipo de cirurgia é realizada quando,


provavelmente, toda a doença pode ser erradicada, tendo em
vista do tumor estar localizado em uma única parte do corpo, sem
invasão a outros órgãos ou estruturas. Nesses casos, a cirurgia é
o tratamento principal, que pode ser realizada isoladamente ou
em combinação com outros tratamentos, como quimioterapia
ou radioterapia, administrados antes (neoadjuvantes) ou após
(adjuvantes) a cirurgia.

• Cirurgia para remover parte do tumor: esse tipo de cirurgia é


utilizada quando não há a possibilidade de remover todo o tumor.
Isso pode acontecer quando o tumor está aderido às estruturas
vitais no qual a remoção poderia causar risco de morte, ou quando
o tumor está em grande parte aderido em outros órgãos cuja
remoção pudesse ocasionar a própria remoção do órgão. Nesses
casos, o cirurgião opta por remover a maior parte possível do
tumor e tratar o restante com outros métodos, como radioterapia
e quimioterapia.

• Cirurgia paliativa: a cirurgia paliativa pode ser usada para tratar


complicações causadas pela doença, de forma a promover alívio

40
sintomas que causam desconforto, melhorar a qualidade de vida
aos pacientes, mas sem o objetivo de promover a cura do câncer.
O tratamento cirúrgico paliativo tem a finalidade de controlar
a população das células tumorais e controlar as complicações
que comprometem a qualidade de vida do paciente oncológico.
São exemplos de tratamentos paliativos: a descompressão de
estruturas vitais, o controle de hemorragias e perfurações, o
controle da dor, o desvio de trânsitos aéreo, digestivo e urinário,
e a retirada de uma lesão de difícil convivência por causa de seu
aspecto e odor.

• Cirurgia de suporte: a cirurgia de suporte tem a finalidade de


prover o acesso para outras modalidades terapêuticas. Ela pode
ser exemplificada quando há a necessidade de inserção de cateter
em centro cirúrgico para administração da quimioterapia.

• Cirurgia de reconstrução: a cirurgia de reconstrução é realizada


para melhorar a estética por consequência de uma cirurgia
mutiladora ou para restaurar a função de um órgão ou estrutura.
A mais comum é a reconstrução mamária após uma mastectomia,
mas também podemos exemplificar a cirurgia de reconstrução de
cabeça e pescoço com uso de retalhos teciduais, enxertos ósseos
ou materiais protéticos.

• Cirurgia preventiva (profilática): a cirurgia preventiva ou


profilática é realizada quando ainda não há sinais de câncer. Por
exemplo, mulheres com histórico familiar de câncer de mama
e que têm uma mudança hereditária no gene BRCA1 ou BRCA2,
podem considerar a cirurgia de mastectomia como uma forma
profilática da doença. A cirurgia é feita com o objetivo de remover
o tecido que se tornará câncer, ou seja, no momento da cirurgia
ainda não há qualquer sinal da doença (FONSECA; PEREIRA, 2014;
OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

41
3.3 Efeitos adversos das cirurgias oncológicas

• Hemorragia: é parte de qualquer cirurgia e geralmente é


controlada. Ela pode ocorrer pela ruptura de um vaso sanguíneo
de forma proposital ou não.

• Coágulos sanguíneos: normalmente se originam nas veias


profundas dos membros inferiores, principalmente, se o paciente
se mantiver no mesmo decúbito por muito tempo. Para evitar uma
possível embolização do coágulo (complicação grave), é indicado a
deambulação precoce após o procedimento cirúrgico.

• Reações aos medicamentos: as reações que podem acontecer


são relacionadas às medicações usadas na anestesia ou com
outros medicamentos necessários durante o procedimento.
Para que se identifique qualquer reação de forma inicial, o
monitoramento dos sinais vitais deve ser realizado durante todo o
procedimento cirúrgico e no pós-operatório.

• Dor:  a dor é uma complicação esperada após um procedimento


cirúrgico. Contudo, ela não deve ser intensa o bastante a
ponto de retardar a recuperação do paciente. Nesse caso,
há muitas maneiras de lidar com a dor pós-cirúrgica, desde
formas medicamentosas (aspirina, morfina e codeína), como
não medicamentosas (aplicação de calor/frio, acupuntura e
massagem).

• Infecções:  a presença de infecções é algo que pode ocorrer em


qualquer cirurgia, embora todos os cuidados devam ser tomados
para evitar que isso ocorra. As infecções são mais presentes nas
cirurgias potencialmente contaminadas, como as que envolvem o
trato gastrintestinal, do que nas cirurgias limpas, justamente por
serem em órgãos já colonizados por agentes bacterianos. Outra
forma de infecção que pode ocorrer em qualquer procedimento
é no sítio cirúrgico. A maioria das infecções responde bem aos
antibióticos orais ou endovenosos.

42
• Constipação intestinal: a motilidade intestinal pode ser de
recuperação lenta. Para evitar que o trânsito intestinal fique
reduzido, recomenda-se pequenas caminhadas após a cirurgia,
a fim de ajudar a diminuir esse risco (FONSECA; PEREIRA, 2014;
OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016; RODRIGUES; MARTIN; MORAES,
2016).

Neste material, abordamos sobre a clássica tríade do tratamento


oncológico (quimioterapia, radioterapia e cirurgia oncológica), as duas
últimas foram tratadas neste capítulo por se tratarem de métodos não
farmacológicos. Ambas têm suas particularidades e, consequentemente,
aplicações diferentes, mas ambas são indicadas como tratamentos mais
localizados.

Além disso, aprendemos que a radioterapia (interna ou externa) tem a


finalidade de destruir o DNA das células neoplásicas, comprometendo
seu potencial de duplicação e que podem ser usadas antes ou depois de
outros procedimentos, dependendo da finalidade do tratamento. Nesse
sentido, aprendemos também que a remoção cirúrgica do tumor pode
ser utilizada com objetivos semelhantes aos da radioterapia (curativo ou
paliativo), ou até mesmo com objetivos cirúrgicos exclusivos.

Ao final da leitura digital, aprendemos que as duas modalidades


possuem vantagens e desvantagens para o paciente e, por isso, a
qualidade no planejamento terapêutico é necessária, a fim de definir
a estratégia que mais se adeque à necessidade do paciente naquele
momento.

Referências Bibliográficas
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2014.

43
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RODRIGUES, A. B.; MARTIN, L. G. R.; MORAES, M. W. de. Oncologia
multiprofissional: bases para assistência. São Paulo: Manole, 2016.

44
Papel do enfermeiro do
tratamento do câncer
Autoria: Francielle Renata Danielli Martins Marques
Leitura crítica: Camila Maria Silva Paraizo-Horvath

Objetivos
• Identificar o papel do enfermeiro na assistência ao
paciente oncológico.

• Compreender a aplicação da Sistematização da


Assistência de Enfermagem (SAE) na oncologia.

• Entender o papel do enfermeiro na identificação das


complicações advindas dos tratamentos oncológicos.

45
1. Aspectos introdutórios da enfermagem
oncológica

Figura 1–O enfermeiro na assistência oncológica

Fonte: b-d-s/iStock.com.

O cuidado de enfermagem ao paciente oncológico possui


especificidades decorrentes da complexidade terapêutica que envolve
todo o decorrer do tratamento, que, por tantas vezes, são abarcadas
pelos inúmeros efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia, pelas
frequentes mutilações cirúrgicas, pelas sucessivas internações, pelo
impacto financeiro e social que o tratamento acarreta e pelo limite tênue
com a finitude. Essas situações afloram os processos de enfermagem e
da qualidade da assistência, traduzindo sua especificidade para todos os
níveis de atenção oncológica.

Acrescenta-se que, quanto maior o número de demandas assistenciais


pelo paciente, maior é a necessidade de se planejar a assistência, já
que a sistematização das ações visa o planejamento, a organização,

46
a eficiência e a qualidade da assistência prestada. Desse modo, o
Processo de Enfermagem (PE) passa a ser um instrumento metodológico
da prática assistencial para prestação do cuidado de enfermagem,
configura-se no desenvolvimento de metas e resultados, vislumbrando
resultados satisfatórios, minimizando complicações, promovendo a
adesão, adaptação e recuperação do paciente (COFEN, 2009).

1.1 Recordando a Sistematização da Assistência de


Enfermagem (SAE):

Por sua vez, a resolução COFEN nº 358 de 2009 organiza o Processo de


Enfermagem (PE) em cinco etapas a saber:

[...] I – Coleta de dados de Enfermagem (ou Histórico de Enfermagem)


– processo deliberado, sistemático e contínuo, realizado com o auxílio
de métodos e técnicas variadas, que tem por finalidade a obtenção de
informações sobre a pessoa, família ou coletividade humana e sobre suas
respostas em um dado momento do processo saúde e doença.

II – Diagnóstico de Enfermagem – processo de interpretação e


agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, que culmina com
a tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de enfermagem
que representam, com mais exatidão, as respostas da pessoa, família ou
coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença;
e que constituem a base para a seleção das ações ou intervenções com as
quais se objetiva alcançar os resultados esperados.

III – Planejamento de Enfermagem – determinação dos resultados que se


espera alcançar; e das ações ou intervenções de enfermagem que serão
realizadas face às respostas da pessoa, família ou coletividade humana em
um dado momento do processo saúde e doença, identificadas na etapa de
Diagnóstico de Enfermagem.

IV – Implementação – realização das ações ou intervenções determinadas


na etapa de Planejamento de Enfermagem.

47
V – Avaliação de Enfermagem – processo deliberado, sistemático e
contínuo de verificação de mudanças nas respostas da pessoa, família ou
coletividade humana em um dado momento do processo saúde doença,
para determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcançaram
o resultado esperado; e de verificação da necessidade de mudanças ou
adaptações nas etapas do Processo de Enfermagem. (COFEN, 2009, p. 2)

2. Assistência de enfermagem em
quimioterapia (QT)

Para o planejamento do tratamento quimioterápico, é muito importante


que a equipe de saúde conheça as condições clínicas do paciente que
necessita desse tipo de tratamento, a fim de prestar uma assistência
humanizada e segura. Como estratégia de avaliação das condições
clínicas dos pacientes oncológicos, utilizam-se escalas e índices
internacionalmente reconhecidos. As escalas mais utilizadas são Eastern
Cooperative Oncology Group (ECOG) e Índice de Karnofsky (KPS).

No quadro a seguir, veremos as escalas ECOG e Karnofski comparadas.

Quadro 1 – Comparação das escalas ECOG e Karnofski


ECOG Karnofsky
0 Pessoa capaz de exercer 100 Pessoa normal, sem
uma atividade normal e ir ao queixas e sem evidência de
trabalho; nenhum cuidado 90 doença.
especial é necessário.
Capaz de exercer uma
atividade normal, com
pequenos sinais ou
sintomas da doença.

48
1 Restrição de atividades 80 Atividade normal com
físicas rigorosas; é capaz esforço, alguns sinais ou
de trabalhos leves e de 70 sintomas da doença.
natureza sedentária.
Cuidados para si, incapaz
de exercer uma atividade
normal ou para fazer um
trabalho ativo.
2 Capaz de realizar todos 60 Requer assistência
os autocuidados, mas ocasional, mas é capaz
incapaz de realizar qualquer 50 de cuidar mais de suas
atividade de trabalho em pé necessidades pessoais.
em, aproximadamente, 50%
das horas em que o paciente Requer considerável
está acordado. assistência e cuidados
médicos frequentes.
3 Capaz de realizar somente 40 Com deficiência, requer
autocuidados limitados, cuidados e assistência
confinado ao leito ou cadeira 30 especiais.
mais de 50% das horas
em que o paciente está Com deficiência grave, a
acordado. hospitalização é indicada,
embora a morte não seja
iminente.
4 Completamente incapaz 20 Muito doente, a
de realizar autocuidados hospitalização é necessária;
básicos, totalmente 10 tratamento de suporte
confinado ao leito ou à ativo necessário.
0
cadeira.
Moribundos; processo fatal
progredindo rapidamente.

Morte.
Fonte: adaptado de Oliveira e Rodrigues (2016).

49
Antes da administração do quimioterápico (função exclusiva do
enfermeiro) é importante que toda a equipe de enfermagem confira
todos os passos para uma administração segura. Para isso, confira o
checklist dos pontos críticos, listado a seguir:

Identificação (Leito, nome completo, nome da mãe, DN).

Alergias.

Protocolo (ciclo; dia de aplicação; intervalo de aplicação; medicamentos


e doses; medicamentos de pré-quimioterápicos).

Conhecer os quimioterápicos antes de aplicá-los.

Verificar as condições clínicas e laboratoriais do paciente antes da


administração da QT.

Clínicas:

• Menos de 10% de perda do peso corporal desde o início da


doença.

• Ausência de contraindicações clínicas para as drogas selecionadas.

• Ausência de infecção ou infecção presente, mas sob controle.

• Índices propostos por ECOG ou KARNOFSKY.

Laboratoriais:

• Valores de adultos:

• Leucócitos > 3.000/mm³ .


Neutrófilos > 1.500/mm³.
Plaquetas > 150.000/mm³.
Hemoglobina > 10 g/dl.

50
• Dosagens séricas:

• Ureia < 50 mg/dl.


Creatinina < 1,5 mg/dl.
Bilirrubina total < 3,0 mg/dl.
Ácido Úrico < 5,0 mg/dl.
Transferases (transaminases) < 50 Ul/ml.

Verificar o acesso para infusão da medicação (FONSECA; PEREIRA,


2014; OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016; RODRIGUES; MARTIN; MORAES, 2016;
INCA, 2020).

1.1.1 Extravasamento das drogas antineoplásicas

O extravasamento de drogas se configura como a saída da medicação


para fora dos vasos sanguíneos, atingindo os tecidos ao redor. Dessa
forma, sua toxicidade é dependente da região extravasada, quais tecidos
foram atingidos e, ainda, das condições clínicas do paciente e do tempo
de percepção entre o extravasamento e das medidas de emergência
tomadas. Os principais efeitos adversos são: dor moderada a severa e
danificações tissulares que podem chegar a necrose perióstea (OLIVEIRA;
RODRIGUES, 2016).

As complicações mais graves são causadas pelos quimioterápicos


vesicantes. As suas reações são responsáveis efeitos adversos graves,
com irritações tissulares com formação de vesículas e posterior
destruição tecidual. Como exemplo de drogas vesicantes, temos:
doxorrubicina, vimblastina, vincristina, idarrubicina etc. (OLIVEIRA;
RODRIGUES, 2016).

Já os quimioterápicos irritantes são capazes de provocar reações


menos intensas quando extravasado. Por sua vez, seus principais
sintomas envolvem dor e queimação, porém não há a formação de
vesículas e não apresentam destruição tecidual (necrose). Como

51
exemplo de drogas irritantes, temos: 5-fluorouracil, paclitaxel, cisplatina,
dacarbazina, oxaliplatina etc. (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

Cuidados para prevenção de extravasamentos:

• Não administrar drogas vesicantes em períodos superiores a 30


min.

• Evitar veias puncionadas há mais de 24 horas.

• Evitar punções nos MMII, em membros de aplicação de


radioterapia e em membros do mesmo lado de mastectomia ou
lesões metastáticas.

• Fixar a punção de maneira que permita a visualização do local da


punção.

• Infundir drogas vesicantes por infusor lateral com SF 0,9%


infundido paralelamente.

• Checar retorno a cada 2 ml.

• Infundir SF 0,9% ao término da quimioterapia.

• Orientar o paciente a comunicar qualquer sintoma, como: dor,


formigamento, dormência ou queimação.

• Qualquer sinal/sintoma de extravasamento, interromper a infusão,


manter o dispositivo de acesso no local, aspirar a medicação
residual existente, elevar o membro, aplicar compressas geladas
(exceto em alcaloides da vinca), fotografar a área, registrar e
comunicar a ocorrência; aplicar antídotos conforme o protocolo da
instituição (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016).

52
3. Assistência de enfermagem em radioterapia
(RT):

A atuação do enfermeiro no tratamento radioterápico tem um


importante papel no planejamento do tratamento com envolvimento da
equipe multiprofissional. O papel do enfermeiro na radioterapia inclui:

• Primeiramente, realizar uma escuta qualificada. Saber ouvir as


angústias, medos e dúvidas do paciente é mais importante do que
iniciar a consulta trazendo inúmeras informações.

• A partir das falas do paciente, você pode ir identificando suas


fragilidades e iniciar sua consulta pelos conceitos inadequados que
ele traz consigo. Um medo muito comum na radioterapia é que o
paciente se torne radioativo. Nesse caso, é válido lembrar que a
emissão de radioatividade e o isolamento do paciente é indicado
apenas para braquiterapia de baixa taxa de dose e iodoterapia.

• Orientar sobre a sessão de planejamento: como o próprio nome


já diz, será o momento em que serão planejadas as sessões de
radioterapia. O paciente irá conhecer toda a equipe multidisciplinar
envolvida no tratamento radioterápico (enfermeiro, físico, médico
e tecnólogo/técnico de radiologia). Além disso, serão feitos todos
os cálculos de emissão de radiação, marcações do local irradiado,
se haverá ou não a necessidade de acessórios e de anestesia.
Portanto, o paciente precisará se deitar na mesa do equipamento
para a equipe fazer as mediações. Mostre a sala para o paciente
e os acessórios, caso ele vá utilizar algum. Normalmente, são
realizados exames de tomografia no dia do planejamento para ter
uma atualização do tamanho e localização do tumor. Por ser uma
sessão diferenciada, o planejamento pode durar entre 40 a 60
minutos.

• Orientar sobre o esquema das sessões de radioterapia (dias


e horários). Reforce para o paciente não agendar nenhum

53
compromisso próximo ao horário da radioterapia, pois, apesar
das sessões serem rápidas (quando comparadas à quimioterapia),
eventuais emergências/urgências oncológicas podem ocorrer,
podendo levar ao atraso da sessão (MARTIN; MORAES, 2016; INCA,
2020).

3.1 Preparo na sala de RT

Como enfermeiro, você atuará no preparo do paciente ou na supervisão


desse procedimento para o planejamento. Nesse sentido, o preparo
consiste:

• Realizar higienização da área que será submetida à irradiação.

• Realizar troca de fraldas, se necessário.

• Realizar sondagem vesical, se necessário.

• Esvaziar bolsas coletoras, se houver.

• Colocação de avental no paciente para melhor exposição da área a


ser planejada.

• Evitar punção no membro submetido à mastectomia e


linfedenectomia axilar.

• Utilize acessórios para auxílio no posicionamento adequado do


paciente sobre a mesa. Lembre-se que esses acessórios são para
evitar que os tecidos saudáveis sejam expostos à radiação.

Cuidados de enfermagem para prevenção de radiodermatite/


radiodermite ao paciente submetido à RT:

• Orientar hidratação cutânea diariamente, de preferência com


hidratantes à base de aloe vera.

54
• Evitar jatos d´água fortes sobre a pele.

• Evitar depilação com lâmina ou cera. Oriente a optar por


barbeadores elétricos.

• Optar por vestir roupas de algodão confortáveis e mais folgadas,


inclusive roupas íntimas de algodão.

• Evitar exposição solar.

• Utilizar toalha de banho macia, secando a pele sem fricção, apenas


encostando-a delicadamente sobre o corpo.

• Optar por sabonete neutro.

• Evitar coçar a pele irradiada para não causar traumas.

• Aplicar protetor solar.

• Orientar a substituir o uso de papel higiênico por higiene íntima,


principalmente nos casos de irradiação pélvica.

• Evitar contato de fitas adesivas, como micropore ou esparadrapos,


direto com a pele. Nos casos de curativo, utilizar essas fitas
aderidas às gazes ou às ataduras (MARTIN; MORAES, 2016; INCA,
2020).

4. Assistência de enfermagem em cirurgia


oncológica

O enfermeiro é o ponto de comunicação entre o paciente e os demais


membros da equipe, pois é quem está mais próximo a pessoa adoecida
e, muitas vezes, será para o enfermeiro que ela poderá exteriorizar suas
aflições. Na maioria dos casos, são para os enfermeiros que pacientes

55
e familiares manifestam seus medos e questionamentos: “Se algo der
errado na anestesia?”; “Se não conseguir retirar todo o tumor?” ou
“Quais são as consequências da anestesia e da cirurgia?”.

Portanto, esse profissional precisa estar preparado para realizar uma


escuta qualificada e fazer a primeira acolhida do paciente. Isso significa
que ele deve transmitir segurança e conhecimento técnico sobre o
procedimento ao qual o paciente realizará. Contudo, isso não significa
uma postura menos humanizada, muito pelo contrário, a sensibilidade
deve estar presente em todos os cuidados de enfermagem, mas esses
cuidados devem ser dotados de conhecimento científico.

São cuidados pós-operatórios imediato e mediato nas principais


cirurgias oncológicas:

Mastectomia:

• Não realizar aferição de PA e punção venosa no mesmo membro


em que foram realizadas a mastectomia e linfadenectomia, a fim
de evitar edemas.

• Aferir PA nos MMII nos casos de mastectomia e linfadenectomia


bilateral.

• Manter membro superior afetado com apoio do travesseiro para


redução de edema.

• Manter paciente em semifowler para redução de edema.

• Observar sinais e sintomas de linfedema do membro afetado


(calor, dor aguda e edema).

• Incentivar a realização de exercícios motores, conforme a


prescrição da fisioterapia.

56
• Orientar que a cirurgia de reconstrução é garantida pelo SUS.

Cirurgias de reconstrução:

• Observar sinais e sintomas de necrose e se há desprendimento de


borda devido à rejeição da área enxertada.

• Verificar presença de sinais flogísticos (dor, rubor, calor e edema)


associados às secreções purulentas.

Cirurgias cerebrais:

• Verificar sinais vitais e neurológicos a cada 30 minutos nas


primeiras 4 horas.

• Manter decúbito semifowler para redução de edema cerebral.

Prostatectomia:

• No exame físico, identificar se há globo vesical palpável, perda


de urina pela uretra ao redor do catéter e urgência miccional.
Valorizar queixas de impotência sexual (MARTIN; MORAES, 2016;
INCA, 2020).

Neste material, aprendemos que o papel do enfermeiro no tratamento


oncológico é classicamente reconhecido pela assistência humanizada,
sendo destaque na equipe multiprofissional neste quesito. Mas, ele
também é um profissional extremamente técnico, cujo planejamento
assistencial é embasado em processos que visam a qualidade da
assistência, nesse caso, direcionado para a atenção oncológica.

Na quimioterapia, aprendemos que, antes de administrar qualquer


antioneoplásico, é papel do enfermeiro conhecer as condições clínicas
e laboratoriais do paciente antes de prepará-lo para o procedimento.

57
Durante a administração das drogas, a pior complicação que pode haver
são as toxicidades, sejam relacionadas aos efeitos adversos das drogas,
sejam relacionadas aos extravasamentos, se houver. Em ambas as
situações, o enfermeiro deve estar preparado para identificar e planejar
as intervenções de enfermagem de forma assertiva.

Além disso, também abordamos sobre o papel do enfermeiro na


radioterapia e nas cirurgias oncológicas. Nessas modalidades,
também é importante que o enfermeiro entenda qual a finalidade do
tratamento proposto (adjuvante, neoadjuvante, curativo e paliativo),
oriente o paciente adequadamente sobre os procedimentos, realize
os diagnósticos de enfermagem e planeje suas ações com base nos
diagnósticos levantados.

Ao final da nossa leitura digital, é possível visualizar o quão abrangente


é o papel do enfermeiro na área oncológica e todas as potencialidades
que essa área permite que o enfermeiro explore e se desenvolva.

Referências Bibliográficas
CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM–COFEN. Resolução COFEN-358/09.
Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação.
Brasília, DF: COFEN, [2009]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-
cofen-3582009_4384.html#:~:text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20
Sistematiza%C3%A7%C3%A3o%20da,Enfermagem%2C%20e%20d%C3%A1%20
outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 10 jun. 2020.
FONSECA, S. M.; PEREIRA, S. R. Enfermagem em oncologia. São Paulo: Atheneu,
2014.
INSTITUTO NACIONAL DO CANCER–INCA. Tratamento do câncer. Disponível: https://
www.inca.gov.br/tratamento. Acesso em: 27 mar. 2020.
OLIVEIRA, P. P.; RODRIGUES, A. B. Oncologia para enfermagem. Barueri: Manole,
2016.
RODRIGUES, A. B.; MARTIN, L. G. R.; MORAES, M. W. de. Oncologia
multiprofissional: bases para assistência. São Paulo: Manole, 2016.

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Bons estudos!

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