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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 1

Organizador

Maurício Lamano Ferreira

FERRAMENTAS AMBIENTAIS APLICADAS AO


PLANEJAMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS
da geoconservação às adaptações
às mudanças climáticas

1ª Edição

ANAP
Tupã/SP
2020
2

EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
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Foto capa - Rafael do Nascimento Lamano Ferreira
Arte final capa - Flavio Augusto Scoco de Abreu

Ficha Catalográfica

F383f Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades


sustentáveis: da geoconservação às adaptações às mudanças
climáticas/ Maurício Lamano Ferreira (orgs). 1 ed. – Tupã: ANAP,
2020.

331 p; il.; 14.8 x 21cm

ISBN 978-65-86753-05-9

1. Ambiente 2. Cidade 3. Planejamento


I. Título.

CDD: 333.72
CDU: 333.72-47

Índice para catálogo sistemático


Brasil: Meio Ambiente; Conservação e Proteção
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4

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Profa. Dra. Yanayne Benetti Barbosa
6

ORGANIZADOR DA OBRA

Maurício Lamano Ferreira


Pós doutor pela Universidade de São Paulo (CENA/USP), Doutor em Ciências pela
Universidade de São Paulo (CENA/USP), Mestre em Biodiversidade Vegetal e Meio
Ambiente pelo Instituto de Botânica de São Paulo (IBT/SP), formado em Geociências pelo
Instituto de Geociências da USP (IGc/USP) e também em Ciências Biológicas pela
Universidade Mackenzie (UPM). Com grande interesse em questões ambientais, sua
pesquisa tem dois focos principais, a saber: i) efeitos da poluição atmosférica em
ecossistemas naturais e urbanos e ii) compreensão de padrões e processos ecológicos,
com ênfase na ciclagem biogeoquímica, mudanças climáticas e conservação da
natureza (Bio e Geo conservação). Dentre os principais temas de seus trabalhos e
orientações encontram-se: Poluição Ambiental, Ecologia de Ecossistemas e Ecologia
Isotópica, Ciclos Biogeoquímicos, Mudanças Climáticas, Adaptações às Mudanças
Climáticas Baseadas em Ecossistemas (AbE), Nature-based Solutions (NbS) e
Conservação da Natureza. Com experiência docente nos cursos de graduação em
Ciências Biológicas, Engenharia Ambiental e Civil e Tecnologia em Gestão Ambiental, o
docente conta com 52 orientações de TCC e mais de 60 supervisões em Iniciação
Científica, demonstrando importante contribuição na formação de recursos humanos.
Na pós-graduação 'Lato sensu', Maurício já atuou como professor e membro do Núcleo
Docente Estruturante (NDE) do curso de Engenharia Ambiental. No 'Stricto sensu', o
pesquisador conta com 7 orientações de mestrado e uma de doutorado, com
dissertações e tese relacionadas à Ecologia de Florestas Urbanas e Poluição Atmosférica.
Com uma rede internacional de colaboradores, o professor tem publicações em
importantes periódicos científicos como SCIENCE e ENVIRONMENTAL RESEARCH,
destacando a internacionalização da sua pesquisa científica. Pelo seu reconhecimento
em ensino, pesquisa e extensão, Maurício foi premiado duas vezes como 'Professor 10'
na Universidade Nove de Julho.
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SUMÁRIO

PREFÁCIO .......................................................................................... 11
Samuel Carvalho de Benedicto

PARTE I
ATRIBUTOS ECOLÓGICOS E BIOTA COMO FERRAMENTAS
AMBIENTAIS

Capítulo 1 ......................................................................................... 19

PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO E A FRAGMENTAÇÃO DE


ECOSSISTEMAS NATURAIS
Regina Márcia Longo; Alessandra Leite da Silva; Admilson Irio
Ribeiro

Capítulo 2 ......................................................................................... 45
BIOMONITORAMENTO DE DIÓXIDO DE NITROGÊNIO E
COMPOSTOS NITROGENADOS UTILIZANDO PLANTAS DE Lolium
multiflorum CV. LEMA
Ricardo Keiichi Nakazato; Marisa Domingos

Capítulo 3 ......................................................................................... 65
ESCALAS DE INFRAESTRUTURA VERDE
Cíntia Miua Maruyama

Capítulo 4 ....................................................................................... 79
BIOMONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR: DO CONCEITO À
PRÁTICA
Patricia Bulbovas; Marisa Domingos
8

Capítulo 5 ........................................................................................ 103


EFICÁCIA DO ORDENAMENTO TERRITORIAL PARA A PROTEÇÃO
DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DA SERRA DO ITAPETI

Elaine Aparecida Rodrigues; Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor;


Edgar Fernando de Luca; Kátia Mazzei; Maurício Lamano Ferreira;
Luis Alberto Bucci; Rosangela Soares Lopes

Capítulo 6 ........................................................................................ 139


ISÓTOPOS ESTÁVEIS COMO FERRAMENTA DE MONITORAMENTO
AMBIENTAL EM CIDADES
Karina Gonçalves da Silba; Maurício Lamano Ferreira; Plínio
Barbosa de Camargo

PARTE II
TECNOLOGIAS, GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS COMO
FERRAMENTAS AMBIENTAIS

Capítulo 7 ........................................................................................ 157


SENSORIAMENTO REMOTO E SUAS CONTRIBUIÇÕES AOS
ESTUDOS URBANOS: O FENÔMENO DE ILHA DE CALOR E O
MONITORAMENTO DE QUALIDADE DE ÁGUA
Cristiano Capellani Quaresma

Capítulo 8 ......................................................................................... 179


FERRAMENTAS URBANAS ADOTADAS NO COMBATE ÀS
INUNDAÇÕES NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Carlos Alberto Nunes de Oliveira; Diego de Melo Conti; Pedro
Roberto Jacobi

Capítulo 9 ....................................................................................... 193


CONSERVAÇÃO DA GEODIVERSIDADE E DO PATRIMÔNIO
GEOLÓGICO
Maria da Glória Motta Garcia; Lígia Maria de Almeida Leite
Ribeiro; Christine Laure Marie Bourotte
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 9

Capítulo 10 ........................................................................................ 221


CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA: DO
PLANEJAMENTO AMBIENTAL À GESTÃO URBANA
Amarilis Lucia Casteli Figueiredo Gallardo; Juliana Siqueira-Gayl;
Daniella Aparecida de Mattos de Oliveira Rolo; Heidy Rodriguez
Ramos; Débora Mendonça Monteiro Machado

Capítulo 11 ........................................................................................ 237


ENVOLTÓRIAS VERDES: O USO DE FERRAMENTAS
COMPUTACIONAIS NA ANÁLISE AMBIENTAL
Thiago Montenegro Góes; Caio Frederico e Silva; Pedro Dias Boa
Sorte; Teresa Santos; José António Tenedório

Capítulo 12 ...................................................................................... 261


ANÁLISE DO PROCESSO DE EUTROFIZAÇÃO EM CORPOS HÍDRICOS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO
Heraldo Donatelli Filho; Andreza Portella Ribeiro; Anderson de
Oliveira; Leonardo Ferreira da Silva; Harry Alberto Bollmann

Capítulo 13 ....................................................................................... 283


DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE ZONAS COSTERAS EN CUBA: CASO
DE ESTUDIO SECTOR COSTERO QUIBÚ-ALMENDARES, MUNICIPIO
PLAYA, LA HABANA, CUBA
Elizabeth Dayana Curra Sánchez; Eduardo Salinas Chávez; Alberto
Enrique García Rivero; Ana Maria Suarez

Capítulo 14 ....................................................................................... 311


POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS E MUDANÇAS CLIMÁTICAS:
COMO ADAPTAR CIDADES PARA FUTUROS CENÁRIOS DE
ALTERAÇÕES AMBIENTAIS
Maryly Weyll Sant’Anna; António Guerner Dias; Maurício Lamano
Ferreira
10
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 11

PREFÁCIO

Ao longo dos séculos o desenvolvimento das nações se deu,


fundamentalmente, em torno das cidades. Entretanto, dados históricos
mostram que, quase sempre, esse desenvolvimento ocorreu pensando apenas
na sua própria geração, deixando de lado as gerações futuras. Movidos por essa
concepção imediatista e sem um planejamento futuro, a quase totalidade das
cidades se desenvolveu de forma desordenada, ferindo os princípios da
sustentabilidade e trazendo várias consequências danosas ao próprio ser
humano e ao meio ambiente. Como consequência desse modus operandi
coletivo, o planeta terra, de modo ampliado e em particular as cidades, já
apresenta fortes sinais agonizantes. Para que seja possível a habitabilidade das
gerações futuras, são necessárias ações concretas de revitalização das cidades.
Entretanto, para evitar cair nas mesmas armadilhas do passado, tais ações
devem ser precedidas de estudos e um meticuloso planejamento.
A finalidade precípua desta obra, “Ferramentas ambientais aplicadas
ao planejamento de cidades sustentáveis: da geoconservação às adaptações
às mudanças climáticas”, é ampliar o diálogo e apontar caminhos para o
enfrentamento aos principais problemas de natureza ambiental, espacial,
tecnológico, político, social e econômico decorrentes do manejo inadequado
das cidades. Ou seja, a obra foi elaborada dentro da perspectiva de que as
cidades somente serão melhores se houver um olhar sustentável no
planejamento das mesmas.
A obra destaca que a urbanização em si é considerada uma das
alterações de origem antropogênica sobre a estrutura do meio ambiente com
impactos significativos tanto à parte central das cidades quanto outros espaços
urbanos, periurbanos e rurais que estão ligados funcionalmente às mesmas.
Daí, a necessidade de planejar e preservar também o entorno das cidades.
Um capítulo da obra foi dedicado ao tema da “Infraestrutura Verde”,
composto por estruturas híbridas, artificiais e naturais. O estudo mostra que
esta modalidade de infraestrutura: (i) ajuda na redução de Ilhas de Calor: (ii)
melhora a qualidade do ar; (iii) promove a saúde pública; (iv) melhora o aspecto
visual da cidade; (v) diminui a possibilidade de alagamentos e enchentes; (vi)
possibilita caminhadas e o transporte cicloviário.
12

Tendo em vista que os problemas ambientais urbanos representam um


grande desafio para a elaboração de políticas públicas integradas, a obra
dedica um capítulo para tratar das “contribuições da avaliação ambiental
estratégica” (AAE). O estudo destaca que a AAE é um instrumento de apoio à
tomada de decisão para a inserção da variável ambiental em nível de
planejamento regional e setorial, que vem sendo regularmente aplicado em
algumas partes do mundo. Alguns instrumentos de gestão ambiental que
devem ser aplicados para integrar a temática ambiental na gestão urbana são:
Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV),
Pagamento de Serviços Ambientais (PSA), Estudo de Viabilidade Ambiental
(EVA), Termo de Compromisso Ambiental (TCA) e Termo de Compromisso de
Ajustamento de Conduta Ambiental (TACA).
O capítulo que trata da “análise da eficácia do ordenamento territorial
para a proteção dos serviços ecossistêmicos” discute a necessidade de
estabelecer as bases para um planejamento integrado dos ecossistemas
urbanos e periurbanos. O estudo utiliza a Serra do Itapeti, que integra a
Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV), como
exemplo de ecossistema que pode experimentar um processo de regeneração
natural. Esse exemplo mostra que, ainda que os ecossistemas estejam
degradados, um planejamento urbano e periurbano adequado permite a sua
regeneração, ainda que isso demore décadas.
Evidencia-se na obra a preocupação com a poluição urbana causada por
emissões veiculares e indústrias e suas consequências para o ser humano e o
meio ambiente. São apontadas como soluções as estações de monitoramento
de poluição atmosférica ou, na falta destas, o uso de algumas plantas nativas
para avaliação dos níveis de poluição.
Nesse sentido, a obra apresenta os isótopos estáveis de C e N (δ13C e
15
δ N) são apontados como importantes ferramentas no monitoramento
ambiental de cidades, uma vez que a assinatura destes elementos no
compartimento biótico e abiótico são conhecidas e facilmente interpretadas.
Pelo fato do carbono e nitrogênio serem elementos fundamentais na
composição corpórea dos seres vivos e ter forte influência em processos físicos
da atmosfera e solos de áreas urbanas, eles se apresentam como marcadores
que podem indicar com segurança as alterações ambientais.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 13

A obra trata de um fenômeno bastante recorrente nas fontes de águas


que abastecem as cidades: o processo de eutrofização dos corpos hídricos.
A eutrofização ocorre em razão do acúmulo de nutrientes, principalmente o
fósforo e o nitrogênio. A baixa concentração de oxigênio nos rios e lagos
provoca a morte de diversas espécies animais e vegetais (principalmente algas)
criando as condições para a reprodução e aumento exagerado de bactérias
aeróbias, e tem um altíssimo impacto para os ecossistemas aquáticos e para o
ser humano.
Um importante aspecto que mereceu destaque na obra são as
inundações. Este fenômeno, recorrente em muitas cidades, tem se agigantado
nas últimas décadas devido as mudanças climáticas que alteram as
precipitações pluviométricas. O estudo que trata das “ferramentas urbanas
adotadas no combate às inundações no município de São Paulo” faz uma
abordagem deste fenômeno numa perspectiva sustentável e aponta um
conjunto de medidas de curto, médio e longo prazos a serem adotadas pelo
Plano de Manejo Sustentável de Águas Pluviais em articulação com o Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano.
A obra chama atenção para um fenômeno decorrente das mudanças
climáticas e que tem afetado muitas cidades costeiras é a elevação do nível do
mar. O estudo “diagnóstico ambiental de zonas costeiras” relata que ao longo
século XX o aumento do nível do mar global foi de cerca de 15 cm, mas a taxa
atual está subindo podendo ser de 60 a 110 cm até o final deste século, se as
emissões de gases de efeito estufa continuarem a subir. O estudo mostra que
as avaliações de impacto ambiental são ferramentas importantes para
implementar medidas de manejo apropriadas, desenvolver planejamento e
implementar e executar o manejo integrado da zona costeira.
O capítulo que trata das “políticas públicas ambientais e mudanças
climáticas: como adaptar cidades para futuros cenários de alterações
ambientais” destaca a relação existente entre as alterações ambientais e a
saúde e qualidade de vida do ser humano. Enfatiza que as cidades devem se
preparar para condições adversas do clima e investir mais em infraestruturas
urbanas. Para minimizar os efeitos danosos das mudanças climáticas, é
fundamental que os municípios elaborem seus Planos Municipais de Mudanças
Climáticas.
14

Um capítulo da obra é dedicado ao uso do Sensoriamento Remoto como


ferramenta de grande importância aos estudos dos fenômenos e problemas
urbanos. O estudo trabalha a ideia de que as cidades são sistemas complexos
que possuem inúmeros problemas e desafios. Como tal, necessitam de
instrumentos técnicos adequados à sua análise. O Sensoriamento Remoto é
um instrumento que poderá auxiliar na identificação e solução de problemas
ambientais urbanos. O estudo mostra como o sensoriamento remoto pode ser
utilizado nos estudos do fenômeno Ilha de Calor.
Ao longo da obra fica patente que a problemática da sustentabilidade
assume, neste início de século, um papel central na reflexão em torno da crítica
ao modo de vida contemporâneo. Diversos fatores estão envolvidos neste
processo, tais como: industrialização acelerada, produção de resíduos urbanos
e industriais, concentração espacial, expressivo crescimento populacional,
crescente urbanização, alterações climáticas, esgotamento de recursos
produtivos, escassez de água, poluição do solo, água e ar, dentre outros. Estes
fatores compuseram os principais pontos de pressão e de conscientização
humana sobre a problemática socioeconômica e ambiental.
O quadro social, político, econômico e ambiental que caracteriza as
sociedades contemporâneas revela que os impactos antrópicos estão se
tornando cada vez mais complexos tanto quantitativa quanto
qualitativamente. Isto demanda nova formulação teórica, novos estudos e a
elaboração de propostas alternativas de superação das contradições do atual
cenário mundial, mas que sejam aplicáveis ao contexto das cidades. Desse
modo, a sustentabilidade é vista como uma ação estratégica para a
preservação do ambiente, da cultura e da dignidade social das gerações.
Portanto, a sustentabilidade possui um sentido amplo e complexo, não
se referindo especificamente a um problema limitado de adequações
ecológicas, mas a uma estratégia ou modelo com múltiplas facetas para a
sociedade, que deve levar em conta tanto uma viabilidade econômica quanto
o impacto social e ambiental nele embutido. Num sentido ainda mais
abrangente, a sustentabilidade remete à necessária redefinição das relações
em sociedade. Portanto, envolve uma mudança substancial do próprio
processo civilizatório e produtivo.
Na perspectiva em que foi organizada esta obra, a sustentabilidade se
estrutura como uma forma de aceitar que existe uma indissociabilidade entre
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 15

os aspectos ecológicos, econômicos e socioculturais presentes nos problemas


da atualidade. Portanto, o conjunto da obra possui uma visão holística e
interdisciplinar.
Foi pensando de forma holística e interdisciplinar que Ignacy Sachs
defende que somente pode haver sustentabilidade quando houver um
equilíbrio entre as dimensões econômica, ambiental, social, cultural, territorial
(espacial), tecnológica e política, dentre outras. Para tanto, é necessário que a
sustentabilidade seja tratada numa abordagem interdisciplinar. O conceito de
sustentabilidade, portanto, está relacionado com uma mentalidade, atitude ou
estratégia voltada para solução dos problemas que assolam a sociedade em
todas as dimensões mencionadas. Assim, para que o desenvolvimento de uma
cidade ou nação seja considerado sustentável, deve-se considerar ao menos as
sete dimensões proposta por Ignacy Sachs.
Na confluência das dimensões mencionadas espera-se um
planejamento da parte das autoridades públicas para que a sustentabilidade
seja promovida no âmbito das cidades, garantindo a existência das futuras
gerações no planeta Terra.
Portanto, a questão que se coloca para as autoridades públicas trata de
como analisar e propor formas de superar as contradições do modelo atual,
através da proposição de novas formulações teóricas, da realização de
diagnósticos, análises interdisciplinares e da apresentação de propostas
sustentáveis que sejam efetivas ao cenário das pequenas, médias e grandes
cidades.
Por fim, destaca-se que a discussão do tema é oportuna, pois estamos
num momento em que muitos questionam a relevância e julgam excessivos os
recursos aplicados em pesquisa no Brasil. Esta obra demonstra que as
universidades e outras instituições de pesquisa podem contribuir para o
desenvolvimento sustentado das cidades.
Certamente esta obra não esgota o tema aqui proposto, porém a
mesma cumpre o seu objetivo, tornando uma leitura útil para todos aqueles
interessados na solução dos problemas que permeiam as cidades, sobretudo,
àqueles que desejam elaborar um planejamento adequado para torná-las mais
humanizadas, sustentáveis e em condições de habitabilidade para a geração
atual e as gerações futuras.
16

Diante do exposto, recomendo fortemente a leitura desta importante


obra!

Prof. Dr. Samuel Carvalho de Benedicto


Coordenador e docente do Programa de Pós-Graduação em
Sustentabilidade da Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(PUC-Campinas)
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PARTE I

ATRIBUTOS ECOLÓGICOS E BIOTA


COMO FERRAMENTAS AMBIENTAIS
18
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 19

Capítulo 1

PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO E A FRAGMENTAÇÃO DE


ECOSSISTEMAS NATURAIS 1

Regina Márcia Longo2


Alessandra Leite da Silva3
Admilson Irio Ribeiro4

PLANEJAMENTO AMBIENTAL URBANO E A FRAGMENTAÇÃO DE


ECOSSISTEMAS NATURAIS

A urbanização pode ser considerada uma das alterações de origem


antropogênica sobre a estrutura do meio ambiente com impactos mais
significativos. O rápido aumento da área construída está associado a inúmeras
mudanças sociais, econômicas e ambientais ao longo dos anos, tanto em
termos quantitativos quanto qualitativos (PATRA et al., 2018). E isso não se
restringe apenas à parte central das cidades, mas engloba também outros
espaços urbanos, periurbanos e rurais que estão ligados funcionalmente às
cidades (HERSPERGER et al., 2018).
Dessa forma, quando essa urbanização ocorre de maneira não
sistemática e planejada, a sustentabilidade das atividades humanas no
conceito de desenvolvimento e crescimento é ameaçada, resultando em
efeitos negativos sobre os componentes ambientais; especialmente em países
em desenvolvimento, onde a dinâmica populacional está transformando
consideravelmente a paisagem urbana, levando a mudanças no uso e ocupação

1 Parte da dissertação de mestrado de Silva (2020).


2 Professora doutora do Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia, Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. E-mail: regina.longo@puc-campinas.edu.br
3
Mestre em Sistemas de Infraestrutura Urbana pela PUC-Campinas e doutoranda da
UNESP/Sorocaba. E-mail: alessandra_ls@yahoo.com
4 Professor assistente, UNESP/Sorocaba. E-mail: admilson.irio@unesp.br
20

do solo e promovendo intensa pressão sobre os recursos naturais (PATRA et


al., 2018).
Na China, por exemplo, como destacado por Wu et al. (2018), a rápida
urbanização ocorrida nos últimos quarenta anos foi responsável por uma
explosão populacional que resultou na exaustão dos recursos naturais, em
várias formas de poluição e que, consequentemente, tem comprometido a
capacidade das atividades econômicas no país a alcançarem o
desenvolvimento sustentável.
Dentre as mais graves e adversas implicações para a ecologia local,
provenientes da urbanização acelerada e sem o adequado planejamento, está
o aumento das áreas construídas e a consequente redução das áreas de
vegetação natural, das áreas úmidas, dos corpos d’água e de terras
agricultáveis (PATRA et al., 2018). O aumento das áreas impermeáveis leva à
diminuição da recarga dos aquíferos, promovendo a queda no nível d’água
subterrânea e a quantidade disponível, aumentando a demanda de água em
nível comercial e doméstico e, consequentemente, colocando graves ameaças
à sustentabilidade do processo de urbanização (PATRA et al., 2018; WU; TAN,
2012), levando também a alterações na qualidade dos rios e nascentes
localizados em áreas urbanas (GARCIA et al., 2018a; GARCIA et al., 2020). A
Figura 1 ilustra nascentes antropizadas no meio urbano.

Figura 1. Nascentes antropizadas em rios urbanos

Fonte: Autores (2020).

Além disso, o aumento de áreas construídas, cujos materiais principais


são asfalto e concreto, promove maior retenção do calor e da radiação,
resultando na alteração do microclima e aumento das temperaturas (PATRA et
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 21

al., 2018). Como verificado por Patra el al. (2018), as mudanças no padrão de
uso e ocupação do solo responsáveis pelo decréscimo da cobertura vegetal
demonstram ter relação direta com a crescente tendência de aumento das
temperaturas médias e com o declínio de precipitação, tanto temporal quanto
espacialmente. Assim, conforme verificado pelos autores ora citados, o
gradiente espacial da zona de altas temperaturas e do declínio das chuvas
segue o padrão da urbanização crescente, de forma que a mesma pôde ser
considerada fator preponderante para o aumento da temperatura e da
diminuição das chuvas na área de estudo.
Outras consequências da urbanização sem o adequado planejamento
são: aumento da evapotranspiração; aumento da concentração de gases do
efeito estufa e da poluição atmosférica; distúrbios nos ecossistemas naturais e
perda de biodiversidade (PATRA et al., 2018; WU et al., 2018).
Sendo assim, diante das questões ambientais resultantes dos danos
sofridos pelos ecossistemas naturais devido ao fenômeno da urbanização,
atualmente uma das questões-chave para promover um desenvolvimento
urbano sustentável é a necessidade de coordenar a relação entre a urbanização
e meio ambiente (WU et al., 2018), ou seja, buscar um planejamento
integrando entre essas questões.
Nessa condição, deve-se considerar que o planejamento das cidades
visa a ordenar a utilização dos espaços não ocupados, de forma organizar as
dinâmicas dessa ocupação, sendo necessário também considerar os locais já
ocupados e com dinâmicas estabelecidas, a fim de propor uma gestão
adequada. Desta forma, o planejamento e a gestão são os conceitos-chave para
a dinâmica das cidades (FRAGA; GAVRILOFF, 2014). Para desenvolver um
planejamento urbano sustentável, que garanta o desenvolvimento das cidades
como um ambiente urbano saudável aliado à conservação dos recursos
naturais, segundo alguns autores (PATRA et al., 2018; WU et al., 2018; WU;
TAN, 2012), alguns princípios básicos devem ser seguidos:
a) promover um planejamento espacial integrado que considere as
condições ambientais locais e a disponibilidade de recursos
hídricos, a fim de gerenciar o crescimento populacional e o uso do
solo de forma racional, a curto e longo prazo;
22

b) promover um desenvolvimento urbano integrativo entre as áreas


rurais e urbano-rurais para, de fato, alcançar um desenvolvimento
social e econômico;
c) instituir uma estrutura de monitoramento ambiental dinâmico, a
fim de acompanhar o grau de degradação ambiental, evitando seu
aumento;
d) desenvolver planos e programas que estejam focados não na
velocidade da urbanização, mas em sua qualidade;
e) promover a (re)estruturação da cidade para modelos mais
ecológicos, que promovam menor consumo de energia e de
recursos naturais;
f) estabelecer planos de gestão sustentável das águas, tanto
superficiais quanto subterrâneas, incentivando, por exemplo, a
redução do uso industrial de água, por meio de melhorias na
estrutura industrial local e incentivo a indústrias de alta tecnologia,
com baixo consumo de água e reduzido potencial poluidor;
g) promover um planejamento regional que atue como ferramenta de
gestão para casos pertinentes, a exemplo, nos casos onde é
necessária a realocação de recursos hídricos intermunicipais e
regulação do abastecimento de água; assegurando, porém, a
correta compensação dessa transferência do direito de uso da água
ação, seja entre cidades ou da área rural para urbana;
h) controlar o bombeamento excessivo de água subterrânea e tomar
medidas que contribuam para a recarga das águas subterrâneas;
i) promover o aumento da cobertura vegetal em áreas urbanas,
através do florestamento e reflorestamento compensatório, dada
sua eficaz atuação como mecanismo de resfriamento natural e
evapotranspiração, dissipador de CO2 e como ferramenta essencial
para a recarga de águas subterrâneas e conservação do solo.
De forma geral, o planejamento estratégico desenvolvido na escala
urbana se configura como documentos, tanto escritos quanto cartográficos,
norteadores de um desenvolvimento regional, que devem incluir a previsão do
crescimento econômico e habitacional e a classificação para as áreas potenciais
para desenvolvimento urbano, bem como a delimitação de áreas que devam
ser protegidas a fim de garantir a sustentabilidade dos recursos naturais e
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 23

culturais (HERSPERGER et al., 2018). Em outras palavras, como ressaltam


Andersson et al. (2014), para desenvolver um planejamento urbano eficaz é
necessário compreender as sinergias que existem entre os fatores ecológicos e
os fatores sociais.
De acordo com Ruffato-Ferreira (2018), essa compreensão do ambiente
urbano integrado ao ambiente natural está consolidando-se cada vez mais. Tal
relação entre meio antropogênico e meio natural no ambiente urbano é
evidenciada pelos recursos mais comuns disponíveis neste ambiente. Segundo
Castro-Coma e Martí-Costa (2016), estes podem ser tanto recursos materiais
(terra, moradia, infraestruturas, equipamentos, espaços públicos, espaços
verdes) quanto imateriais (informação, conhecimento, cultura, segurança...);
naturais (água, ar, biodiversidade) e artificiais (conhecimento social, cultural ou
coletivo); universais (cujo acesso deve ser garantido a todos) e produzidos
localmente; abundantes e escassos, e assim por diante.
Conceitos relacionados aos recursos hídricos, ao microclima urbano, à
qualidade do ar, entre outros são aspectos ambientais associados à dinâmica
da cidade e que ressaltam a necessidade da garantia de qualidade ambiental
como um todo. Além disso, é importante destacar que uma cidade sustentável,
além de outras características, traz como diferencial o fato de que em seu
território a tomada de decisão é partilhada entre o governo, os cidadãos e
demais interessados (RUFFATO-FERREIRA et al., 2018).
No Brasil, a partir de 1980, quando a variável ambiental passou a ser
incluída mais fortemente nas políticas públicas, novos recortes de
planejamento regional começaram a se desenvolver, como exemplo, a bacia
hidrográfica como unidade de planejamento e de gerenciamento. O recorte
regional por bacias hidrográficas surge então como um modelo de governança
que pode democratizar o papel do Estado, tornando o planejamento mais
inclusivo ao garantir a participação de outros atores que também produzem e
incidem no espaço. Além disso, o planejamento regional por bacias
hidrográficas apresenta um grande diferencial, pois possibilita a integração
entre indicadores dos sistemas antrópicos e naturais, aproximando-se, desta
forma, de uma condição mais próxima à sustentabilidade (PERES; CHIQUITO,
2012).
Entretanto, de forma geral, as paisagens urbanas evoluíram sob
influências extremamente complexas de mudanças no uso e ocupação do solo,
24

tanto em termos de tipologia quanto de grau de uso e ocupação, de forma que


no ambiente urbano atual uma das principais características é a fragmentação
das paisagens. Desta forma, o parcelamento do solo é um dos motivos pelos
quais o processo de fragmentação da paisagem vem causando tanto a redução
das áreas de cobertura vegetal quanto a distribuição fragmentada das mesmas;
nesse processo alguns habitats foram sustentados, mas muitos foram
alterados consideravelmente (ANDERSSON et al., 2014; CHAVES; SANTOS,
2009).
A estrutura de uma paisagem que sofre pelo processo de fragmentação
é caracterizada por um mosaico de fragmentos, ou manchas, que variam em
quantidade, na forma, no tamanho, no tipo e na heterogeneidade. Na maioria
das vezes, esses fragmentos estão inseridos em áreas predominantemente
antropizadas (MASSOLI; STATELLA; SANTOS, 2016). Dessa forma, evidencia-se
que a expansão das atividades antrópicas, sem premissa da viabilidade
ambiental, intensifica as pressões sobre as áreas com vegetação natural,
resultando no fenômeno de fragmentação florestal (SAITO et al., 2016).
De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL,
2003), fragmentação diz respeito à “divisão em partes de uma dada unidade
do ambiente” e consiste, portanto, em separações físicas de um habitat natural
anteriormente contínuo, provocando consideráveis alterações na paisagem
natural, que tende a tornar-se semelhante a um mosaico. Em muitas regiões
do país e do mundo, os fatores que mais têm contribuído para a modificação
da paisagem natural, e principalmente para a transformação de grandes áreas
de floresta em um mosaico de fragmentos com características e níveis de
regeneração diferentes, é o forte crescimento das atividades agropecuárias e
a expansão dos projetos urbanos (MASSOLI; STATELLA; SANTOS, 2016; SAITO
et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2015).
Massoli, Statella e Santos (2016) enfatizam que a fragmentação florestal
consiste em um dos principais fatores que mais interferem na sustentabilidade
dos recursos naturais, da biodiversidade e, portanto, na qualidade de vida da
sociedade. Umas das principais e mais significativas consequências da
fragmentação florestal promovida pelos usos da terra é o efeito de borda. Por
estarem dispersos como manchas em uma paisagem de mosaico os fragmentos
florestais passam a sofrer distúrbios oriundos da combinação dos fatores
naturais e antrópicos que agem na área limítrofe entre o fragmento e seu
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 25

entorno; distúrbios os quais são denominados de efeitos de borda


(BLUMENFELD et al., 2016). A Figura 2 ilustra a fragmentação florestal
observada em bacias hidrográficas do município de Campinas/SP.

Figura 2. Distribuição geográfica dos remanescentes florestais


nas seis bacias hidrográficas do município de Campinas

Onde: Consideraram-se apenas os remanescentes das tipologias florestais, ou seja: floresta


estacional semidecidual; floresta mista; floresta paludosa; floresta estacional semidecidual e
cerrado. Desta forma, a seleção identificou um total de 2.319.
Fonte: Silva (2020).

Os mesmos autores destacam que muitos estudos sobre o efeito de


borda em fragmentos florestais relacionam estes, em tipo e intensidade, aos
padrões físicos dos fragmentos florestais, como tamanho, disposição e formato
26

dos mesmos. Isto é de fato muito importante, pois até mesmo a influência
humana pode estar condicionada ou limitada, por exemplo, pela condição de
localização de determinado fragmento que facilite ou dificulte o acesso a ele.
Porém, além disso, verifica-se ainda que diferentes tipos de vizinhança causam
manifestações de efeitos de borda de forma e em extensões distintas nos
fragmentos florestais (BLUMENFELD et al., 2016). A Figura 3 apresenta a vista
geral e da borda de um fragmento florestal periurbano localizado no município
de Campinas/SP.

Figura 3. Vista geral e da borda de um fragmento florestal localizado em área periurbana

Fonte: Autores (2020).

Os resultados obtidos por Blumenfeld et al. (2016) em seu estudo com


indicadores bióticos e abióticos nas bordas de um fragmento florestal em
Cotia/SP, apontaram que, em geral, as bordas fronteiriças às tipologias agrícola
e urbana se diferenciam da borda limítrofe da floresta. Nesse escopo, ocupação
urbana foi a que apresentou maior diferença à região limítrofe da floresta,
indicando, portanto, que neste ambiente os efeitos de borda são mais intensos
e expressivos. Resultados similares foram observados por Garcia et al. (2018)
e Silva et al. (2019) ao analisarem fragmentos florestais do município de
Campinas/SP sob diferentes aspectos.
Dessa forma, a melhor estratégia para a conservação dos fragmentos é
por meio da manutenção de sua integridade ecológica, criando condições para
que haja fluxo gênico entre populações que se encontram isoladas nessas
áreas. Uma das alternativas que auxiliam para que esta condição seja alcançada
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 27

são os corredores ecológicos. Esses corredores são estruturas ambientais


aplicadas a áreas degradadas pelo desenvolvimento humano, em termos de
fragmentação florestal e perda de conectividade entre habitats. A finalidade
desses corredores consiste em conservar e recuperar a biodiversidade,
facilitando a movimentação dos indivíduos em busca de alimento e
favorecendo a dispersão de espécies e, consequentemente, aumentando a
variabilidade genética da flora e da fauna (OLIVEIRA et al., 2015).
Para a implantação de corredores ecológicos deve-se priorizar áreas que
já possuam fragmentos, de forma a minimizar os custos de implantação e
aproveitá-las como stepping stones (trampolins), acelerando o processo de
restauração (SAITO et al., 2016). Nesse sentido, apesar de os fragmentos
florestais de maior área apresentarem significância maior, aqueles de menor
área têm também uma função essencial para a conectividade dessas paisagens.
Como destacado por Moro e Milan (2016),

Do ponto de vista ecológico, as grandes manchas podem atuar


como áreas de origem e manter a biodiversidade, enquanto
pequenas manchas podem atuar como degraus ou corredores
de migração, refúgios ou fornecer locais para a nucleação.

Apesar de geralmente haver predomínio de pequenas manchas


florestais em paisagens altamente fragmentadas, como identificado no estudo
conduzido por Moro e Milan (2016), essas áreas funcionam como degraus,
refúgios ou fontes de nucleação florestal, que contribuem para garantir os
fluxos biológicos. Enquanto isso, as manchas maiores podem atuar como
refúgio para diversas espécies, em especial aquelas que necessitam que
grandes extensões de habitat e são sensíveis à fragmentação (MORO; MILAN,
2016).
Diante disso, Oliveira et al. (2015) citam a importância do
estabelecimento de áreas de reserva legal nesses locais em potencial, já que
esta é uma alternativa que não apenas possibilita a conectividade entre os
fragmentos como também pode subsidiar a criação de Unidades de
Conservação na região. Moro e Milan (2016) reforçam a necessidade de
investimento não apenas no aumento do número de áreas protegidas, mas
principalmente na manutenção e no aumento do tamanho delas. Além disso,
os mesmos autores salientam a importância do estabelecimento de políticas
28

públicas que envolvam os proprietários de terra, exigindo deles a proteção


dessas áreas florestais que, mesmo pequenas, são extremamente importantes
para a manutenção dessas conexões paisagísticas (MORO; MILAN, 2016).

ECOLOGIA E MÉTRICAS DE PAISAGEM EM ESTUDOS DA FRAGMENTAÇÃO


FLORESTAL

Conforme a descrição apresentada, as áreas florestais remanescentes


são fundamentais para mitigar os danos relativos à fragmentação da paisagem,
especialmente nos ambientes urbanos e podem ser utilizadas de formas
diversas dependendo da forma de planejamento, dos objetivos, do sistema de
gestão, do manejo florestal, de suas características ambientais e das
necessidades comunitárias (PIPPI; TRINDADA, 2013). Tanto a caracterização da
fragmentação de paisagens naturais quanto a avaliação dos efeitos que este
fenômeno exerce são pontos essenciais e preliminares para um planejamento
adequado para a restauração de áreas fragmentadas (JESUS et al., 2015).
Os métodos iniciais de monitoramento da vegetação foram os de
verificação diretamente em campo (tanto quali quanto quantitativamente) e
que continuam sendo aplicáveis até os dias atuais. Entretanto, com o avanço
tecnológico, observado especialmente das últimas décadas, os métodos de
sensoriamento remoto vêm sendo utilizados com mais frequência no
monitoramento ambiental (LAWLEY et al., 2016). Mas, como destacam Lawley
et al. (2016), se por um lado os métodos de sensoriamento remoto permitem
avaliar os indicadores de vegetação em larga escala e identificar as alterações
com maior rapidez, as avaliações em campo fornecem importantes medidas de
atributos biofísicos e dados ecológicos detalhados. Sendo assim, combinar
essas duas formas de avaliação aumenta a eficácia da análise, pois permite
compreender melhor os complexos padrões e processos espaciais da
vegetação, considerando seus aspectos estruturais, funcionais e de
composição.
Como ressaltado por Gaviria e Montealegre (2010), considerar os
aspectos de composição, diversidade e estrutura das áreas fragmentadas é
essencial para identificar os padrões desta paisagem e propor as medidas de
manejo mais adequadas para a conservação da mesma. Neste contexto, as
florestas e remanescentes florestais podem ser caracterizados como Unidades
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 29

de Paisagem. Considerando mais especificamente as florestas urbanas,


ressalta-se que estas recebem esta denominação devido à sua localização em
áreas urbanas ou próximas a elas e que, por este motivo, estão mais sujeitas às
influências e intervenções antrópicas (PIPPI; TRINDADA, 2013).
Portanto, uma metodologia bastante interessante para o estudo dessas
unidades de paisagem consiste no estudo da Ecologia de Paisagem; trata-se da
ciência que, dentre outros tópicos, estuda a fragmentação florestal e cujo
objetivo é avaliar as relações entre determinado ambiente e a sociedade que
atua sobre ele, modificando-o (HENKES, BARCELLOS, 2004 apud MASSOLI;
STATELLA; SANTOS, 2016). De acordo com Metzer (2003 apud OLIVEIRA et al.,
2015), visto que a Ecologia de Paisagem trata das relações entre os processos
ecológicos e os padrões espaciais, torna-se necessário então quantificar esses
padrões, processo realizado através das métricas de paisagem.
Nesse sentido, as métricas de paisagem se mostram como indicadores
pertinentes para análise espacial de paisagens, especialmente quando
associadas a conceitos de planejamento em ambientes sustentáveis (CABRAL;
SANTOS; AUGUSTO, 2011), uma vez que a estrutura de uma paisagem define
não apenas as características espaciais da mesma, mas também influencia suas
funções ecológicas (DiBARI, 2007 apud CABRAL; SANTOS; AUGUSTO, 2011).
Nota-se que as métricas de paisagem são indicadores ambientais tanto para a
avaliação de paisagens urbanas quanto naturais. Essas métricas podem ser de
área e de forma, além métricas de proximidade e indicadores de uso e
ocupação. As principais destas serão apresentados no Quadro 1.
Alguns exemplos disso são os estudos de Aguilera, Valenzuela e
Botequilha-Leitão (2011), Almeida et al. (2016) e Cabral, Santos e Augusto
(2011). Os autores aplicaram métricas de paisagem selecionadas pertinentes a
cada objeto e propósito de estudo, sendo respectivamente:
a) para a avaliação das características espaciais da expansão urbana
na Área Metropolitana de Granada, Espanha, utilizando também da
simulação de cenários para prever os padrões de urbanização para
o ano de 2020 (AGUILERA; VALENZUELA; BOTEQUILHA-LEITÃO,
2011);
b) para a consolidação de um índice que avaliasse a provisão de
serviços ecossistêmicos por marismas na região de Algarve,
Portugal, a fim de garantir a defesa costeira e os parâmetros que
30

necessitam ser otimizados para que o índice de defesa costeiro


possa ser mantido ou melhorado (ALMEIDA et al., 2016);
c) e, por fim, para quantificar as mudanças estruturais e funcionais
ocorridas na paisagem de áreas pertencentes à Reserva Ecológica
Natural (REN) nos municípios de Sintra e Cascais, Portugal, em
decorrência da expansão urbana, considerando três anos distintos,
1989,1994 e 2001 (CABRAL; SANTOS; AUGUSTO, 2011).

Quadro 1. Principais métricas empregadas nos estudos de fragmentação de paisagem


Tipologia Métricas/ Indicadores
Área e Forma Área da paisagem
Intensidade de fragmentação
Cobertura vegetal remanescente
Número de fragmentos
Área dos fragmentos/ Área média
Percentual de paisagem ocupada pelos mesmos
Coeficiente de variação de tamanho dos fragmentos
Índice do maior fragmento
Área core
Dimensão fractal
Número de áreas centrais adjuntas
Índice de área central médio
Total de bordas
Densidade de bordas
Índice de forma/Média do índice de forma
Índice de circularidade
Proximidade Proximidade entre fragmentos de vegetação e áreas urbanas
Proximidade entre fragmentos de vegetação e áreas edificadas
Proximidade entre fragmentos de vegetação e malha viária
Distância média do vizinho mais próximo
Conectividade
Uso e ocupação Percentual de classes de cobertura do solo
Uso e ocupação do solo na borda
Porcentagem de floresta em áreas protegidas
Suporte ao desenvolvimento da vegetação nativa
Fonte: Adaptado de Silva (2017).

Quanto à seleção das métricas pertinentes, Cabral, Santos e Augusto


(2011) ressaltam a importância da seleção de métricas que sejam,
preferencialmente, independentes e que consigam quantificar coerentemente
a paisagem analisada. Algumas métricas, porém, se destacam na maioria dos
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 31

estudos (FERNANDES et al., 2017; FERNANDES; FERNANDES, 2017; LIMA;


FRANCISCO; BOHRER, 2017; ALMEIDA et al., 2016; MASSOLI; STATELLA;
SANTOS, 2016; JESUS et al., 2015; FENGLER et al., 2015; MORAES; MELLO;
TOPPA, 2015; SILVA; SOUZA, 2014; PIROVANI et al., 2014; FREITAS, 2012;
CABRAL; SANTOS; AUGUSTO, 2011; AGUILERA; VALENZUELA; BOTEQUILHA-
LEITÃO, 2011; CALEGARI et al., 2010, ETTO et al. 2013).
Aplicadas aos fragmentos florestais, as métricas de paisagem atuam
como indicadores que permitem a avaliação da configuração da paisagem e o
diagnóstico das condições dos remanescentes, a fim de conduzir a tomada de
decisão em relação aos mesmos (JESUS et al., 2015). A Figura 4 ilustra algumas
métricas da paisagem aplicadas a um remanescente florestal.

Figura 4. Métricas da paisagem aplicadas a um fragmento florestal localizado em área urbana

Fonte: Silva (2017).

Nesse escopo, as métricas de paisagem são indicadores aplicáveis na


análise da degradação de recursos naturais e também na compreensão do
padrão espacial dos fragmentos florestais (MASSOLI; STATELLA; SANTOS,
2016). Aliadas ao uso de geotecnologias e do sensoriamento remoto, elas
promovem uma análise integrada da paisagem, permitindo avaliar
espacialmente o fenômeno da fragmentação florestal, de forma a promover
um planejamento ambiental da área que assegure não apenas a conservação
32

da biodiversidade, como também leve em conta o ambiente socioeconômico


da região (OLIVEIRA et al., 2015).

Métricas de área e forma

No aspecto da fragmentação florestal, uma das primeiras métricas a


serem avaliadas é o número de fragmentos, visto que esta métrica reflete
diretamente o grau de retalhamento da paisagem (MASSOLI; STATELLA;
SANTOS, 2016). De acordo com Fernandes et al. (2017), por exemplo, a
vegetação nativa ocupava 23,79% da área total da bacia hidrográfica objeto de
estudo e se apresentou como a classe de uso e ocupação com o maior número
de fragmentos, indicando a alta fragmentação desta classe.
Avaliando a paisagem no entorno de uma Reserva Particular do
Patrimônio Natural, Saito et al. (2016) constataram que, entre os anos de 1970
e 2007, houve um aumento no número de fragmentos da classe florestal.
Entretanto, esse aumento não foi resultado da implantação de novas áreas de
floresta, pelo contrário, resulta de um processo de fragmentação dessa
paisagem que foi evidenciado ainda pela redução da área florestal (de 13,0306
km² para 12,9256 km²), redução da área média dos fragmentos e aumento da
distância média entre eles.
Massoli, Statella e Santos (2016) evidenciaram uma situação
semelhante observando uma redução de 42% da área florestal em uma
microbacia ao mesmo tempo em que houve um aumento de 789 no número
de fragmentos, entre os anos de 1990 e 2014. Isso demonstra que os
fragmentos grandes presentes em 1990 foram subdivididos em outros, porém
de menor tamanho. Como ressaltam Fernandes et al. (2017), é necessário
analisar o número de fragmentos considerando também a área total da classe
e o percentual deles na paisagem, visto que uma diminuição no número de
fragmentos tanto pode indicar que houve união entre eles quanto que houve
extinção de remanescentes.
Desta forma, atuando também como um importante indicador do
fenômeno de fragmentação está a área dos fragmentos. De acordo com Moro
e Milan (2016), a área de um fragmento consiste em um parâmetro muito
importante para explicar as variações de riqueza de biodiversidade, visto que
quanto menor a área de um fragmento florestal maior é a influência de fatores
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 33

externos, o que acaba afetando os processos internos do ecossistema. Os


autores em sua área de estudo identificaram que quase 90% das manchas
florestais são menores que 10 ha, o que corresponde a menos de 10% da
paisagem total. Barbalho, Silva e Giustina (2015) destacam que a redução no
tamanho dos remanescentes contribui diretamente para a baixa conectividade
da paisagem. Além disso, “a maior frequência de fragmentos pequenos revela
que a maioria dos fragmentos da paisagem apresenta maior risco de extinção
local” (MASSOLI; STATELLA; SANTOS, 2016).
Nesse sentido, a redução de ecossistema efetivo pode ser bem
significativa quando se considera a presença do efeito de borda que atua sobre
os fragmentos. Para a avaliação desse aspecto destaca-se a métrica área
nuclear ou área central dos fragmentos, que consiste na área central de um
remanescente florestal desconsiderando sua faixa marginal, sujeita aos efeitos
de borda. Isto porque na área marginal (área de borda), devido ao contato com
outras matrizes de uso e ocupação, é onde ocorrem as principais mudanças
estruturais, ecológicas e microclimáticas nos remanescentes (MASSOLI;
STATELLA; SANTOS, 2016).
O estudo de Jesus et al. (2015) demonstrou haver uma redução de cerca
de 32% na área efetiva de ecossistema florestal, quando considerado um raio
mínimo de borda de 35 m em cada fragmento. Ademais, isso implica em uma
redução em 20% no número de fragmentos. Massoli, Statella e Santos (2016)
constataram que, de 1990 para 2014, houve uma redução de 39,26% da área
nuclear de habitat florestal na paisagem analisada, o que afeta diretamente as
espécies sensíveis que possuem requisitos ecológicos específicos, como área
de mata bem preservada e ausência de efeito de borda.
Muitos autores chegaram à mesma conclusão quanto a este aspecto: o
alto número de fragmentos associado à alta densidade de bordas e baixo valor
médio de área total e área central indicam que grande número de fragmentos
estejam fortemente sujeitos ao efeito de borda, especialmente fragmentos
pequenos, nos quais a área central é muito próximo a zero (FERNANDES et al.,
2017). Diante dos resultados obtidos em um estudo com fragmentos florestais
da Mata Atlântica, Crouzeilles et al. (2014) ressaltaram que mesmo em
paisagens com vegetação nativa entre 30 e 50% observa-se a influência
negativa do número de fragmentos, apontando para efeitos potencialmente
danosos da fragmentação florestal.
34

De acordo com Pirovani et al. (2014), o impacto do efeito de borda está


ainda relacionado à forma do fragmento, aumentando à medida que aumenta
a relação perímetro/área e, consequentemente, a irregularidade do formato
do fragmento. Isso porque a forma de um fragmento está associada à relação
de perímetro e área, através da qual é possível avaliar se o fragmento
apresenta formato mais ou menos circular e, portanto, mais regular ou não.
Fragmentos irregulares estão associados a fragmentos com formas mais
complexas e, portanto, áreas mais recortadas, nas quais é reduzida a área
central e maior a propensão à existência de área de borda (MASSOLI;
STATELLA; SANTOS, 2016; SAITO et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2015; JESUS et
al., 2015).
Isso ocorre porque, diferentemente de fragmentos nos quais o formato
é regular e a área central encontra-se mais distante das bordas, em fragmentos
com intensa proporção de bordas ocorre alta interação entre o ecossistema
remanescente e a matriz circundante. Dessa forma, tornam-se mais
susceptíveis às atividades antrópicas do entorno e, consequentemente, ao
efeito de borda e, portanto, mais vulneráveis a novas fragmentações
(MASSOLI; STATELLA; SANTOS, 2016; SAITO et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2015;
PIROVANI et al., 2014). Fernandes e Fernandes (2017) constataram que
formatos mais regulares estão associados especialmente a fragmentos
pequenos e/ou muito pequenos; isso indica que o aumento do tamanho dos
fragmentos geralmente resulta em formatos mais irregulares. Dessa forma,
conclui-se que, apesar de os fragmentos menores serem altamente suscetíveis
ao efeito de borda devido sua área reduzida, nos fragmentos maiores a
ocorrência de efeito de borda está associada principalmente à irregularidade
da forma do remanescente.
Dessa forma, observa-se que é muito comum na literatura que a
regularidade da forma de um fragmento florestal seja avaliada pelo índice de
circularidade (IC). Este índice correlaciona os valores de área e perímetro de
um remanescente de forma a avaliar se a forma do fragmento apresenta
tendência mais circular, casos nos quais o índice se aproxima de 1, ou tendência
mais alongada conforme o valor do índice diminui e se aproxima de zero. Logo,
estes últimos se encontram mais vulneráveis ao efeito de borda e às atividades
antrópicas (OLIVEIRA et al., 2015, ETTO et al., 2013, FENGLER et al., 2015).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 35

Métricas de proximidade

Associada às métricas já citadas, o isolamento entre fragmentos


florestais é outro indicador bastante avaliado em estudos de fragmentação
florestal, pois diz respeito à conectividade de determinada paisagem. O alto
grau de isolamento, representado por uma paisagem na qual os
remanescentes encontram-se distantes entre si, demonstra as consequências
da fragmentação principalmente no que diz respeito às condições de dispersão
e deslocamento das espécies. A partir de determinado grau de isolamento, as
populações biológicas começam a apresentar perdas em termos de fluxo
biológico (JESUS et al., 2015; MASSOLI; STATELLA; SANTOS, 2016).
Alguns estudos indicam que distâncias de até 60 metros são
consideradas como baixo isolamento; entre 60 e 120 metros médio
isolamento; entre 120 e 200 metros considera-se alto isolamento; e a partir de
200 m é considerado como isolamento muito alto (ALMEIDA, 2008 apud
MASSOLI; STATELLA; SANTOS, 2016). A maior proximidade entre os fragmentos
florestais é um fator bastante positivo, visto que indica melhor fluxo de fauna
silvestre, sementes e é um facilitador da polinização (FERNANDES et al., 2017).
Assim como o fator número de fragmentos, o isolamento entre
remanescentes florestais é uma métrica que não pode ser analisada
isoladamente. Essa condição foi identificada por Massoli, Statella e Santos
(2016), pois esse parâmetro pode ser pouco afetado pelo processo de
desmatamento ou, ainda, sofrer aparente melhora; uma vez que pode haver
redução do isolamento médio entre os fragmentos, contudo, associada ao
retalhamento de grandes remanescentes em outros de menor tamanho,
porém, distância reduzida entre eles. Jesus et al. (2015) apontaram a
predominância de fragmentos pequenos e próximos uns aos outros ao
constatar que 85% dos remanescentes avaliados apresentavam área inferior a
45 ha e eram estes os que apresentavam maiores condições de proximidade
com outros. Em contrapartida, os remanescentes maiores apresentaram
também maior distanciamento em relação uns aos outros (JESUS et al., 2015).
Como ressaltam Moro e Milan (2016), a conectividade estrutural e
funcional de uma paisagem depende não apenas do grau de isolamento dos
remanescentes, mas está associada também a outros fatores como:
permeabilidade da matriz, capacidade de percolação, relevo, capacidade da
36

espécie de responder a essas características estruturais, entre outros


(METZGER, 1999 apud MORO; MILAN, 2016).
Nesse sentido, Crouzeilles et al. (2014) enfatizam ainda que a
probabilidade de conexão entre dois fragmentos depende tanto da capacidade
de dispersão das espécies quanto da existência de remanescentes
intermediários que possibilitem tal movimentação. De forma que, em geral, as
espécies mais afetadas pela configuração fragmentada da paisagem são
aquelas com menor mobilidade, visto que sua capacidade de dispersão é
limitada em comparação às demais, o que reduz a probabilidade de conexão
entre fragmentos.
Além disso, considerar a distância dos fragmentos florestais para com
as fontes de perturbação é essencial. Isto porque, como destaca Valente
(2005), as ações de reestruturação de paisagem deverão ser priorizadas nas
áreas mais distantes das fontes de distúrbio. Neste contexto, os grandes
centros urbanos, por exemplo, destacam-se como fontes de perturbação, visto
que representam grandes barreiras aos fluxos biológicos (METZGER, 2003 apud
VALENTE, 2005).
Diante do exposto, a avaliação da proximidade entre fragmentos
florestais e áreas edificadas e/ou entre estes e a malha viária fornecem
informações de grande utilidade que contribuem para gestão ambiental local.
Segundo Fengler et al. (2015), quanto maior a proximidade dos fragmentos
com as áreas edificadas e/ou malha viária, maior se apresenta a perturbação
ambiental sobre as áreas florestais, de forma esses efeitos tornam-se pouco
consideráveis apenas a partir dos 200 m de distância.
Dessa forma, considerar as características da matriz da paisagem na
qual estão inseridos os remanescentes se mostra essencial para compreender
as pressões antrópicas e a condição de qualidade ambiental o qual os
fragmentos se encontram.

Indicadores de uso e ocupação do solo

Fica evidente a importância da avaliação do uso e ocupação do solo


como parte da análise da paisagem em estudos direcionados à remanescentes
florestais. De forma evidente, o fator antrópico é determinante no histórico de
perturbação e degradação dos remanescentes florestais. Assim, considerar a
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 37

relação das comunidades do entorno com os remanescentes florestais é


também essencial para melhor compreender a estrutura e dinâmica dos
mesmos (VIANA; PINHEIRO, 1998).
Oliveira et al. (2015), avaliando fragmentos florestais, identificaram que
os mais sensíveis consistem naqueles que apresentam área inferior a 99 ha,
que são aqueles que apresentam constantes atividades antrópicas no entorno,
o que contribui para reduzir sua área vegetada, tornando-os ainda mais
isolados. Nesse sentido, observa-se que a pressão antrópica se manifesta por
variadas vertentes. O estudo de Jesus et al. (2015), por exemplo, identificou
pressões sob a paisagem oriundas da agricultura, pecuária e pastagem, como
também provenientes da considerável diminuição de matas ciliares e pressão
antrópica sobre áreas de nascentes, sendo este resultado de conflitos de uso
do solo.
Fernandes e Fernandes (2017) identificaram que 63,32% dos
fragmentos florestais de uma bacia hidrográfica estão sob uma matriz de
natureza antrópica, o que consiste em um fator prejudicial para manutenção
dos mesmos, devido ao maior efeito de borda associado. Além disso, esta
interferência pode ser verificada não apenas nos remanescentes florestais
como também na disponibilidade de água, em termos de quantidade e
qualidade, em casos, por exemplo, nos quais há predominância de pastagem
em regiões de nascentes dos cursos d’água (FERNANDES; FERNANDES, 2017).
No estudo conduzido por Chaves e Santos (2009) constatou-se que o
aumento de fragmentação da paisagem se deu prioritariamente devido ao
parcelamento do solo para implantação de condomínios, construção de casas
e pelo aumento da densidade da malha viária. Os autores identificaram a
relação direta entre a fragmentação florestal e o uso e ocupação do solo,
verificando o aumento linear do grau de fragmentação da paisagem (avaliado
pelo índice Fp) em função do grau de uso e ocupação do solo (calculado através
do índice LUIm - Índice de uso e ocupação do solo modificado). A Tabela 1 ilustra
os resultados obtidos no diagnóstico de bacias hidrográficas em Campinas/SP
utilizando as métricas de paisagem.
38

Tabela 1. Resultados do diagnóstico dos remanescentes florestais nas bacias hidrográficas de


Campinas/SP utilizando as métricas de paisagem
Bacias hidrográficas do município de Campinas/SP
Métrica
s Capivari- Quilomb
Anhumas Atibaia Capivari Jaguari
Mirim o
CA (ha) 862,24 3.298,19 1.241,26 434,34 610,34 179,60
TLA (ha) 14.507,97 25.782,70 21.820,23 5.544,46 4.554,03 7.325,28
T
NumP 176 1.368 323 75 324 53
a
m MPS
4,90 2,41 3,84 5,79 1,88 3,39
a (ha)
n MedPS
1,85 0,40 1,82 1,74 0,22 2,08
h (ha)
o PSSD
18,43 9,21 6,04 11,45 7,84 4,03
(%)
PSCoV 376,13 382,17 157,24 197,74 415,99 118,95

B 185.248,8 1.286.614, 408.520,4 120.857,6 260.296,0 53.131,6


TE (m)
o 8 26 6 1 7 8
r ED
12,77 49,90 18,72 21,80 57,16 7,25
d (m/ha)
a MPE 1.052,55 940,51 1.264,77 1.611,43 803,38 1.002,48
MPAR
529,68 1.349,73 564,50 491,92 1.548,34 440,14
4 (m/ha)
F MSI 1,74 2,12 1,92 1,92 2,13 1,64
o
AWMSI 1,77 3,09 2,53 3,10 3,17 1,83
r
m MPFD 1,36 1,47 1,38 1,37 1,50 1,35
a AWMPF
1,30 1,40 1,37 1,38 1,41 1,34
D
Onde CA: Área da classe; TLA: Área da paisagem; NumP: Número de fragmentos; MPS: Tamanho
médio dos fragmentos; MedPS: Tamanho mediano dos fragmentos; PSSD: Desvio padrão do
tamanho dos fragmentos; PSCoV: Coeficiente de variação do tamanho dos fragmentos; TE: Total
de borda; ED: Densidade de borda; MPE: Comprimento médio da borda; MPAR: Relação média
perímetro/área; MSI: Indicador médio de forma; AWMSI: Indicador médio de forma ponderado
pela área; MPFD: Dimensão fractal média dos fragmentos; AWMPFD: Dimensão fractal média dos
fragmentos ponderada pela área.

Saito et al. (2016), por sua vez, identificaram que a fragmentação


florestal no entorno da RPPN Cafundó/ES poderia estar interligada ao aumento
das áreas de pastagem, cafezais e área agrícola. Contudo, apesar disso, a
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 39

avaliação do uso e ocupação no entorno desta área permitiu identificar um


fator positivo: a diminuição da classe solo exposto, que veio a se tornar campo
sujo. De acordo com os autores, isto representa aumento das áreas de
regeneração, visto que a proximidade de áreas de campo às áreas florestais
auxilia no processo de regeneração e expansão das mesmas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intenso processo de urbanização das sociedades contemporâneas se


constitui em um fenômeno ainda em expansão, pois uma grande parte das
nações tiveram e continuam tendo um aumento na população urbana. Esse
cenário trouxe uma série de benefícios como a centralização e disponibilidade
de infraestruturas de abastecimento, de saneamento, de lazer, de cultura e
principalmente maior dinâmica econômica. No entanto, essa urbanização
intensificada promoveu uma forte ruptura da paisagem, convertendo sistemas
naturais complexos em regiões antropizadas perdendo, assim, suas
funcionalidades ecológicas e grande parte da diversidade biológica.
Nesse cenário, dentre os impactos negativos mais percebidos com o
avanço da urbanização, encontra-se a fragmentação florestal, que resulta na
perda de conectividade biológica e, consequentemente, na diminuição de
recursos de biodiversidade, minimizando a capacidade dos ecossistemas em
contribuírem com bens e serviços para toda a sociedade. Nesse escopo, o
avanço das métricas de paisagem em estudos da fragmentação florestal,
conforme a descrição apresentada, pode contribuir significativamente para a
gestão ambiental de territórios urbanizados.
Dessa maneira, o texto apresentado contribui com a popularização e o
potencial de utilização dos indicadores de métrica da paisagem entre os
gestores públicos e privados, pois as decisões sobre a preservação de
fragmentos florestais na esfera pública ainda dependem fortemente das
iniciativas dos gestores municipais, enquanto na iniciativa privada permeia a
vontade particular do indivíduo em manter áreas arborizadas além das
previstas por instrumentos da política pública.
Para ações mais aplicadas à gestão de diminuição da fragmentação das
paisagens, a sinergia entre a governança pública e privada deve ser sempre
40

promovida, pois as pessoas, corporações e indústrias necessitam do ambiente


e sua funcionalidade como todo.
Essa exposição ressalta os desafios da conservação e gestão dos
recursos naturais, que são essenciais à qualidade de vida. Nesse sentido, o
entendimento da descontinuidade físico e funcional das florestas pode
contribuir com soluções para a melhoria da qualidade de vida nas cidades e
auxiliar na resolução de problemas, como mobilidade urbana, saneamento
básico, favelização e pobreza, violência, desastres naturais, entre outros.

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44
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 45

Capítulo 2

BIOMONITORAMENTO DE DIÓXIDO DE NITROGÊNIO E COMPOSTOS


NITROGENADOS UTILIZANDO PLANTAS DE
Lolium multiflorum CV. LEMA

Ricardo Keiichi Nakazato5


Marisa Domingos6

A poluição atmosférica no sudeste brasileiro vem sendo estudada


intensamente nos últimos anos devido às emissões de óxidos de nitrogênio,
material particulado, óxidos de enxofre, hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos, entre outros, pela crescente atividade industrial e alta
concentração de automóveis na região (CETESB, 2018). O dióxido de nitrogênio
(NO2) é um dos poluentes mais comuns e perigosos. A sua emissão está
relacionada principalmente às emissões veiculares e seu controle vem sendo
um grande desafio para as grandes metrópoles do mundo (SPORTISSE, 2010).
Suas concentrações têm sido regulares na Região Metropolitana de São Paulo;
entretanto, em algumas regiões, concentrações médias anuais de 60 µg/m 3
(padrão anual estabelecido pelo Decreto 59.113, de 23 de abril de 2013, do
Estado de São Paulo) vêm sendo ultrapassadas, podendo causar efeitos
danosos ao meio ambiente e à saúde da população local (CETESB, 2018; LIU et
al. 2015).
O óxido de nitrogênio (NO) pode ser produzido por duas diferentes
reações que envolvem a queima de combustíveis fósseis e calor. Cerca de 30 a
60% do nitrogênio contido no combustível fóssil é convertido em NO durante
a combustão. Em altas temperaturas, parte do nitrogênio e oxigênio podem
reagir na atmosfera formando o NO (BAIRD, 2008). Este NO é oxidado a NO2 na
atmosfera e devido a essa frequente conversão, ambos os gases também são

5 Pesquisador pós-doc. do Núcleo de Pesquisas em Ecologia do Instituto de Botânica. E-mail:


ricardo.nakazato@outlook.com
6 Pesquisadora científica do Núcleo de Pesquisas em Ecologia do Instituto de Botânica. E-mail:

mdomingos@ibot.sp.gov.br
46

referidos como NOx. Além disso, estes gases são importantes para a formação
do smog fotoquímico (BAIRD, 2008; DESONIE, 2007; SPORTISSE, 2010).
Um aumento na suscetibilidade de infecções respiratórias, irritações
nas vias respiratórias, bronco constrição e dispneia, especialmente em
pacientes asmáticos, foram associadas à poluição por NOx (KAGAWA, 1985;
KAMPA; CASTANAS, 2008; SAMET; KREWSKI, 2007). Efeitos mutagênicos foram
observados em bactérias, mamíferos e insetos (VICTORIN, 1994). Assim, é
esperado que plantas, por serem indivíduos estáticos, também sejam afetados
pela exposição por NO2 e outros poluentes atmosféricos.
O NO2 pode entrar na folha através dos estômatos, ser rapidamente
convertido em nitrito e nitrato e, por fim, serem assimilados em aminoácidos
e proteínas por meio de uma série de enzimas do metabolismo do nitrogênio,
como a enzima nitrito redutase (OKANO et al., 1985). Exposições entre 0,5 a 4
μl/L de NO2 por um período de 15 dias contribuíram para uma redução nos
conteúdos de clorofila e malondialdeído e um aumento na atividade da enzima
superóxido dismutase em mudas de Cinnamomun camphora (CHEN et al.,
2010); o NO2 afetou o crescimento e o nível de clorofila de plantas de
Arabidopsis thaliana, também elevou os níveis de radicais livres e,
consequentemente, induziu um aumento no conteúdo de proteínas e nas
atividades de enzimas do sistema antioxidante (LIU et al., 2015). Entretanto,
plantas podem suprimir a deficiência de nitrogênio através da absorção de NO2
da atmosfera em baixas doses. O NO2 estimulou o crescimento e a taxa
fotossintética de plantas de girassol; aumentou a quantidade de folhas, a área
foliar, a biomassa, o conteúdo de nitrogênio e clorofila em plantas de
Lycopersicon esculentum (OKANO et al., 1985; PANDEY; AGRAWAL, 1994).
As diferentes respostas induzidas a partir da exposição de plantas aos
poluentes atmosféricos podem ser utilizadas como indicadoras de
perturbações ambientais. Assim, temos os bioindicadores vegetais como
organismos ou um conjunto de organismos que reagem aos impactos
ambientais de modo reprodutível ou quantificável (ARNDT; SCHWEIZER, 1991).
Espécies tolerantes à poluição, que não apresentam sintomas visíveis e que
acumulam elementos químicos em seus diferentes órgãos são chamadas de
bioacumuladoras. Essas espécies possuem mecanismos fisiológicos,
bioquímicos e/ou morfológicos, que lhe conferem alta capacidade de
sobreviver em ambientes contaminados. Os elementos acumulados nas
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 47

folhas/caules/raízes podem reproduzir as concentrações destes mesmos na


atmosfera. Esta ferramenta pode ser empregada para caracterizar os níveis de
contaminação atmosférica por poluentes, indicar suas fontes de emissão e,
principalmente, determinar os impactos destes poluentes na vegetação ou em
outros organismos sensíveis (ARNDT; SCHWEIZER, 1991; MARKERT, 2007;
NAKAZATO, 2014).
O biomonitoramento ativo se dá ao utilizar plantas bioindicadoras (ou
biomonitoras), crescidas em laboratório (ou em casas de vegetação) e expostas
sob condições padronizadas por um determinado período (MARKERT, 2007).
No biomonitoramento passivo, as plantas biomonitoras ocorrem naturalmente
no ambiente e a heterogeneidade de suas condições de vida locais, como a
qualidade do solo, as condições climáticas e estações do ano, a variabilidade
genética e o estado metabólico, assim como a heterogeneidade da distribuição
espacial das espécies selecionadas, interferem nas respostas bioindicadoras,
destas (FALLA et al., 2000; MARKERT, 2007).
Dentre as espécies acumuladoras mais utilizadas para
biomonitoramento ativo, Lolium multiflorum cv. Lema foi padronizada para
determinar o acúmulo de flúor, chumbo, cádmio e zinco na Alemanha, durante
os anos 1970 (VDI, 2003). Seu método foi sendo aprimorado ao longo dos anos
e seu mais recente protocolo foi publicado em 2003 (VDI, 2003). Muitos
trabalhos vêm sendo publicados desde então.
Apesar de a cultivar, a princípio, ter sido padronizada para
biomonitoramento de metais, flúor e enxofre, seu uso vem sendo diversificado
para o acúmulo de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), compostos
nitrogenados, macro e micronutrientes, etc. Na América do Sul, Rodriguez et
al. (2015) avaliaram as concentrações de flúor e HPAs em Córdoba (Argentina);
Rinaldi et al. (2011) observaram o acúmulo de HPAs em Cubatão/SP; Nakazato
et al. (2015) indicaram mudanças no perfil de contaminação atmosférica por
metais, nitrogênio e enxofre em Cubatão/SP; Sandrin et al. (2008) atribuíram a
presença de carboidratos solúveis em folhas de L. multiflorum cv. Lema às
condições de estresse causados pela deposição atmosférica de ferro; Bulbovas
et al. (2015) apontaram os riscos associados às deposições de nutrientes na
Região Metropolitana de Campinas.
Apesar de os estudos indicarem que a contaminação por SO 2 e por
elementos tóxicos contidos no material particulado interferem diretamente no
48

metabolismo de frutanos de L. multiflorum (SANDRIN et al., 2013), a exposição


ao NO2 não interferiu significativamente no crescimento de raízes e folhas e no
conteúdo de açúcares de plantas expostas (SANDRIN et al., 2008; 2013). Esses
açúcares são importantes sequestradores de espécies reativas de oxigênio
(EROs), atuando como antioxidantes não enzimáticos. O L. multiflorum é capaz
de modular o metabolismo dos carboidratos em face das variações nas
concentrações de poluentes, aumentando a tolerância às condições de
estresse causadas pela poluição atmosférica e evidenciando a espécie como
uma eficiente biomonitora da qualidade do ar (SANDRIN et al., 2013).
Visto que a espécie é considerada uma ótima bioacumuladora e o NO2
é um poluente que pode ser assimilado pela planta e acumulado em forma de
seus derivados, a relação entre o conteúdo foliar de nitrogênio (N) e as
emissões de NO2 será abordada neste capítulo com a finalidade de se elaborar
um protocolo para o uso da espécie em áreas sob risco de contaminação por
NO2. Inicialmente, serão descritos detalhes sobre o método para uso de L.
multiflorum cv. Lema como biomonitor, adaptado de VDI (2003). Em seguida,
serão apresentados resultados de um programa de biomonitoramento
realizado em Cubatão/SP, que comprovou a eficácia dessa cultivar para
biomonitoramento de poluentes nitrogenados. Finalmente, serão relacionadas
recomendações para realizar um programa de biomonitoramento confiável e
para aprofundar na interpretação de resultados obtidos.

MÉTODO PARA O USO DO Lolium multiflorum CV. LEMA COMO


BIOACUMULADORA (ADAPTADO DE VDI, 2003)

Plantio e cultivo

a) Vasos com capacidade de 1L devem ser higienizados antes do cultivo


para evitar contaminação por fungos e bactérias.
b) Um cordão de poliéster deve passar por dentro do vaso para garantir
o suprimento hídrico por capilaridade, sendo que uma parte do
cordão ficará em contato com a água e outra com as raízes que
crescem dentro do vaso (Figura 1A).
c) ⅔ do vaso são preenchidos com substrato para hortaliças e
vermiculita na proporção 3:1.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 49

d) Cerca de 0,8 g de sementes de Lolium multiflorum cv. Lema são


pesadas e reservadas para posterior plantio.
e) As sementes são distribuídas na superfície do vaso e sob contato com
o substrato; um pouco de substrato (cerca de 3 mm) é utilizado para
cobrir as sementes. Subsequente à semeadura, é necessário molhar o
solo com um spray de água e cobrir o vaso com um filme plástico
transparente.
f) Após uma semana, o plástico poderá ser removido.
g) Semanalmente, as plantas emergentes devem ser adubadas com
solução nutritiva descrita por Epstein (1975), e aparadas a uma altura
de 4 cm acima do substrato.
h) Na quarta semana após o início do cultivo, as plantas estão aptas para
a exposição no campo.
i) Os vasos devem permanecer sob caixas plásticas com água e em casa
de vegetação com ar filtrado até o momento da exposição (Figuras 1B
e 1C).
j) A casa de vegetação deverá ter um sistema de filtragem de gases e
partículas, ar-condicionado compatível com o tamanho da casa e ser
livre de patógenos.

Figura 1. A. Exemplo de vaso com corda para garantir irrigação. B. Vasos com L. multiflorum pré-
exposição. C. Casa de vegetação com ar filtrado e temperatura controlada
50

Exposição

Os vasos com L. multiflorum devem ser colocados em suportes


adaptados, presos em um tubo de PVC de 4”, a uma altura de 1,5 m acima do
solo.
Esses suportes para os vasos podem ser construídos com tubo de PVC
de 8” com Cap tampão de 8” na parte inferior. Esses devem ter um anel redutor
na parte superior para fixação do vaso, para que o fundo não entre em contato
com a água que fornecerá irrigação. Um furo “ladrão” deve ser incluído em
cada suporte para que o excesso de água, proveniente da precipitação, não
ultrapasse o limite estabelecido pelo fundo do vaso (Figura 2).
No mínimo 3 plantas de L. multiflorum deverão ser expostas nos
diferentes locais de investigação por períodos consecutivos de 28 ± 1dias,
durante no mínimo um ano.

Figura 2. Esquema para montagem de suporte para exposição de plantas de Lolium multiflorum,
utilizadas em programas de biomonitoramento (imagem das plantas é meramente ilustrativa,
retirada do site pngwing.com)

Fonte: pngwing.com
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 51

Amostragem e manuseio

As amostras foliares devem ser coletadas após o período de exposição


de 28 dias nos diferentes locais escolhidos para o biomonitoramento. Folhas
devem ser cortadas com tesouras de aço inox ou material inerte a 4 cm acima
do substrato. As folhas amostradas não devem ter vestígios de substrato e
sujeiras. O material deve ser embalado em sacos de papel para secagem em
estufa a 60 °C e pesado diversas vezes até ser obtido peso constante. O peso
fresco inicial e o seco final devem ser anotados.
Após secagem do material, as folhas de L. multiflorum devem ser
moídas em moinho de bola de ágata (preferencialmente, caso for analisar
metais também), armazenadas em potes plásticos, em temperatura ambiente
e longe do Sol.

Análise de nitrogênio foliar

O conteúdo foliar de nitrogênio pode ser determinado pelo método


Micro-Kjeldhal. Para tanto, as alíquotas do material foliar previamente seco e
pulverizado são digeridas com uma solução contendo ácido sulfúrico (420 ml),
peróxido de hidrogênio 30% (350 ml), sulfato de lítio (14 g) e selênio em pó
(0,42 g). Em tubos de digestão, 270 mg de material vegetal são misturados a 8
ml da solução digestora e mantidos em bloco digestor a 350 °C, seguindo
método descrito por Zagatto (1981). Todo o processo de digestão ácida deve
ser realizado no interior de uma capela de exaustão, a fim preservar a saúde
do analista. O resíduo final da digestão, após resfriamento, será passado por
um sistema de destilação a vapor com 10 ml de ácido bórico 5%, 2 gotas de
indicador misto (verde de bromocresol e vermelho de metila) e 15 ml de
hidróxido de sódio 18 N. O destilado é titulado com ácido clorídrico 0,1 N até o
ponto de viragem do indicador (BATAGLIA et al., 1983).
A eficiência analítica é determinada por meio da análise de amostra
vegetal certificada (por exemplo, NIST-apple leaves, ref. 1515) e por branco de
método, seguindo exatamente os mesmos métodos acima descritos. Os
procedimentos analíticos devem ser realizados em laboratório de análises
químicas, seguindo as boas práticas laboratoriais e poderão ser modificados
visando ao alcance da eficiência analítica esperada.
52

Exposição controle em câmaras de topo aberto

As câmaras de topo aberto são compostas por estruturas cilíndricas,


com dimensão aproximada de 3,0 m de diâmetro e 2,2 m de altura. São
constituídas por armações de aço inox, envoltas por filme de teflon, com
capacidade de transmitir praticamente 100% da radiação no comprimento de
onda da radiação visível. Esse fato é de grande interesse por permitir que não
haja dissipação e absorção da radiação incidente sobre as câmaras. A entrada
e distribuição de ar no interior das câmaras ocorrerão na base do cilindro,
forçadas por meio de ventiladores, e a saída de ar acontecerá na parte superior,
que é aberta, sendo, por isso, denominada câmara de topo aberto.
Os ventiladores (capacidade de 1,5 CV), instalados em caixas de
alumínio hermeticamente fechadas, onde é possível colocar ou não filtros para
retirada de partículas e gases do ar, forçam a entrada de ar filtrado ou não
filtrado no interior das câmaras. Os filtros de poeira são constituídos de papel
(para partículas grossas e finas) e partículas de carvão ativado impregnadas
com permanganato de potássio filtram os gases. O ideal é que sejam instaladas
seis câmaras de topo aberto em área não sombreada, na região a ser
monitorada, sendo que três delas recebem ar filtrado e outras três ar ambiente
poluído.
O fluxo de ar proveniente dos ventiladores deve ser calculado para que
haja uma distribuição uniforme em toda a câmara. Para garantir essa
distribuição de ar, é necessário criar uma passagem de ar circundando todo
perímetro da câmara até a altura dos vasos. Sendo assim, é dispensado o
suporte na altura de 1,5m descrito na Figura 2.
O uso das câmaras de topo aberto em programas de biomonitoramento
é incentivada, dado que nesses experimentos são obtidas respostas biológicas
sem que haja interferência das variações dos fatores ambientais, eliminando o
viés experimental.
O modelo descrito é uma adaptação do esquema utilizado para a
construção das câmaras instaladas no Centro de Estudios Ambientales Del
Mediterraneo (CEAM), situado em Valencia/Espanha (Figura 3).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 53

Figura 3. Exemplo e esquema de câmara de topo aberto utilizada para o biomonitoramento

BIOMONITORAMENTO COM PLANTAS DE Lolium multiflorum CV. LEMA


EXPOSTAS À POLUIÇÃO POR NO2

A eficiência de L. multiflorum cv. Lema para biomonitorar a poluição por


NO2 foi avaliada através de um programa de biomonitoramento realizado em
uma porção da Serra do Mar localizada na cidade de Cubatão/SP, no entorno
de uma refinaria de petróleo. O biomonitoramento foi realizado entre
maio/2009 a dezembro de 2012. Durante esse período, foram realizadas 30
exposições de plantas de L. multiflorum, com duração de 28 dias cada, nos sete
pontos indicados na tabela 1. Foram realizadas, também, 25 exposições de L.
multiflorum cv. “Lema” em câmaras de topo aberto no período de julho de
2010 a outubro de 2012, visando a estabelecer as concentrações basais de N
nessa cultivar, considerando as condições de cultivo adotadas, calcular um
fator de enriquecimento foliar em plantas expostas nos locais de
biomonitoramento e estimar o nível de poluição por compostos nitrogenados
na região biomonitorada. A região estudada está inserida em um complexo
industrial cujas concentrações medianas de NO2 variaram entre 20 a 30 μg/m3,
entre 2004 a 2013, com máximas chegando a valores acima de 150 μg/m 3
(Figura 4).
Os cinco pontos amostrais localizados nas encostas da Serra do Mar,
CM5 – CM1, foram escolhidos por estarem próximas à Floresta Atlântica e a
uma usina termelétrica instalada na refinaria de petróleo, cujas emissões de
NO2 são consideradas as maiores da região industrial de Cubatão (NAKAZATO,
2014). Esses pontos ficam em uma estrada que dá acesso à Baixada Santista e
é conhecida como Caminho do Mar (CM). O ponto CET foi escolhido por ser
próximo à estação de monitoramento da CETESB, de onde se retiraram os
54

dados das concentrações de NO2, material particulado (MP) e meteorológicos.


O ponto CEP foi a base para a instalação das câmaras de topo aberto e foi
incluído no biomonitoramento por estar sob influência do tráfego de
automóveis e das emissões de fontes industriais (Figura 5 e Tabela 1).
As exposições de L. multiflorum cv. Lema seguiram os protocolos
descritos nos itens acima. A retirada das amostras foliares para as
determinações das concentrações de nitrogênio ocorreu ao final dos 28 dias de
cada exposição, que foram realizadas nos locais do biomonitoramento e nas
câmaras de topo aberto. Os resultados obtidos são descritos a seguir.

Figura 4. Concentrações de NO2 em Cubatão entre os anos de 2004 a 2013

Fonte: Nakazato (2014).

As concentrações foliares de N, encontradas no biomonitoramento,


foram comparadas com os valores basais definidos pelas concentrações
obtidas em plantas expostas nas câmaras de topo aberto.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 55

Tabela 1. Descrição dos pontos de amostragem do biomonitoramento e as distâncias entre os


pontos em relação às fontes de emissão de poluentes e a estação de monitoramento da CETESB

P A DT DM La Lo
CM5 453 2,54 3,90 23°51'50.51"S 46°27'9.45"O
CM4 395 2,86 4,12 23°51'27.45"S 46°27'3.67"O
CM3 255 2,44 3,60 23°51'27.54"S 46°26'40.25"O
CM2 187 2,00 3,10 23°51'34.59"S 46°26'22.91"O
CM1 109 1,74 2,95 23°51'45.40"S 46°26'25.91"O
CEP 10 1,27 2,09 23°53'10.60"S 46°26'15.01"O
CET 6 1,42 0 23°52'46.10"S 46°25'5.88"O
P – Ponto; A – Altitude (m); DT – Distância da termelétrica (km); DM – Distância da estação de
monitoramento (km); La – Latitude; Lo – Longitude.

Figura 5. Imagem de satélite representando o município de Cubatão – SP e os pontos de


amostragem do biomonitoramento

Fonte: Google Earth (2020).

O experimento controle com câmaras de topo aberto, situadas em


região próxima às exposições no campo, mostrou baixas variações nas
concentrações de N foliar em plantas expostas em câmaras com ar ambiente e
com ar filtrado. As plantas mantidas em câmaras com ar filtrado tenderam a
ter concentrações mais baixas em relação às mantidas em ar ambiente. A
56

concentração basal de N em folhas de L. multiflorum foi estabelecida através


das concentrações médias, excluindo os outliers, obtidas das exposições em
câmaras de topo aberto com ar filtrado (Nitrogênio foliar basal = 2.62%).

Tabela 2. Concentrações de N foliar em plantas de L. multiflorum cv. Lema expostas em câmaras


de topo aberto com ar ambiente e ar filtrado
Ar ambiente Ar Filtrado
Média N (%) 2,74 2,62
Desvio-padrão 0,14 0,13

O fator de enriquecimento (EF) foi calculado a partir de uma razão das


concentrações foliares do elemento analisado nas folhas das plantas expostas
nos locais do biomonitoramento sobre a concentração basal do elemento:

EF= Nitrogênio foliar/Nitrogênio basal.

Outra forma de se classificar o acúmulo de N em plantas de L.


multiflorum cv. Lema, avaliando o nível de contaminação em uma escala
preestabelecida, foi descrito por Eurobionet (2004). Nesta abordagem são
levados em consideração a média da concentração, o valor base (vb) e o seu
desvio-padrão (ς) (Tabela 3).

Tabela 3. Níveis de acúmulo de N em plantas de Lolium multiflorum cv. Lema expostas em


programas de biomonitoramento
Classificação Nível de acúmulo Média (x) + valor base (vb)
1 Muito baixo x < vb
2 Baixo vb < x < vb + 3ς
3 Elevado vb +3ς < x < vb + 6ς
4 Muito elevado vb + 6ς < x
Fonte: (Eurobionet (2004).

Durante o biomonitoramento com L. multiflorum em Cubatão, os


valores de EF foram maiores nos pontos CM3, CM2 e CM4, seguido pelo CM5,
e menores nos pontos CM1, CEP e CET. É possível que as plantas expostas em
CM4, CM3, CM2 e CM5 estejam submetidas à poluição por compostos de
nitrogênio, vinda diretamente da refinaria de petróleo e da usina termelétrica.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 57

Em média, o nível de acúmulo de N foi considerado elevado nos pontos CM3 e


CM2, baixo no CM4, e muito baixo nas demais áreas (Figura 6).
O padrão de circulação atmosférica na região estudada deve ser levado
em consideração nos estudos de biomonitoramento. Na região de Cubatão, foi
observado que durante o início da manhã, ventos dispersam os poluentes em
direção ao oceano. No período da tarde, o vento sopra para a serra e transporta
a umidade do oceano e os poluentes do polo industrial diretamente para as
escarpas, provocando um aumento nas concentrações de poluentes em
direção aos pontos localizados na estrada Caminho do Mar (NAKAZATO, 2014;
POMPÉIA, 1997).

Figura 6. À esquerda, fator de enriquecimento de nitrogênio em folhas de L. multiflorum cv. Lema


expostas em sete pontos distribuídos no município de Cubatão/SP, Brasil. A linha vermelha indica
que a razão entre nitrogênio foliar e valor basal é acima de 1. À direita, concentrações médias de
N foliar e classificação das áreas de acordo com os níveis de contaminação propostos pela
Eurobionet

Correlações de Pearson foram calculadas entre as concentrações de


dióxido de nitrogênio (NO2), material particulado 10 µm (MP; visto que pode
conter compostos nitrogenados em sua composição), precipitação (P; visto que
é um veículo de solubilização de compostos nitrogenados nas superfícies
foliares) e as concentrações foliares de nitrogênio em plantas expostas. As
concentrações de NO2 indicaram correlações acima de ρ> 0.50 (p<0.05) para a
maioria dos locais, exceto para o ponto CM1. As correlações entre MP e
nitrogênio foliar, apesar de mais baixas do que entre NO 2 e N foliar, foram mais
58

explicativas (ρ>0.50) nos locais CM5, CM4, CM3 e CM1. A precipitação não
apresentou correlação significativa com as concentrações de N foliar (Tabela
4).

Tabela 4. Coeficientes de correlação de Pearson entre os poluentes NO 2, MP e a precipitação


acumulada, e as concentrações de nitrogênio foliar de plantas de L. multiflorum cv. Lema expostas
em Cubatão. Números vermelhos indicam correlação positiva e significativa (p<0,05)

CM5 CM4 CM3 CM2 CM1 CEP CET


NO2 0,87 0,71 0,71 0,66 0,28 0,65 0,64
MP 0,68 0,57 0,58 0,53 0,26 0,37 0,30
MM -0,27 -0,24 -0,30 -0,43 0,19 -0,14 0,09

Dada a forte correlação entre NO2 e N foliar no ponto CM5, foi calculada
a regressão linear entre ambos com a finalidade de se obter uma equação
preditora. A regressão entre o NO2 e N foliar foi significativa (p<0.001) e
positiva (r2 0.75), indicando o NO2 como uma das principais fontes de N para a
planta no local (Figura 7).
A absorção do NO2 é realizada pelos estômatos, visto que está
relacionada à abertura estomática e as trocas gasosas (OKANO, 1985). O NO 2
se dissolve no apoplasto e forma NO2- e NO3-. O NO3- é rapidamente reduzido
a NO2- nas células pela enzima nitrato redutase. O nitrito é transportado para
o cloroplasto, reduzido a amônio pela enzima nitrito redutase, e pode ser
utilizado no ciclo GS/GO-GAT (Ciclo glutamina/glutamato sintase) para a
incorporação dos aminoácidos (CRAWFORD, 1995).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 59

Figura 7. À esquerda, gráfico de dispersão com as variáveis NO2 e nitrogênio foliar de plantas
expostas no CM5. (NO2 = 3,781 + (1,029 * N%) p <0.01 r2 = 0.75). À direita, frequência acumulada
x resíduos resultantes da regressão linear.

Na atmosfera, os óxidos de nitrogênio são oxidados em ácido nítrico,


neutralizados com cátions de amônio, formando sais de nitrato de amônio que
compõem o material particulado (GRANTZ et al., 2003). A absorção destes
compostos nitrogenados presentes no MP pode ocorrer via estômatos (ex. NH3
e NH4+) e via raízes (ex. NO3- e NH4+).
O acúmulo de N em plantas de L. multiflorum foi considerado elevado
em CM3 e CM2, indicando que estes compostos absorvidos estão relacionados
às emissões atmosféricas por NO2. Além disso, a correlação entre o MP e o N
foliar em plantas de L. multiflorum também foi positiva e significativa. Isso pode
indicar que, nestes locais, o acúmulo de N foliar também depende da deposição
de compostos nitrogenados contidos no material particulado.
No ponto CET encontrou-se um coeficiente de correlação significativo
entre NO2 e N foliar, porém menor que nas demais áreas (exceto no CM1) e
correlação não significativa entre MP e N foliar, mesmo sendo localizado ao
lado da rede automática de monitoramento da poluição atmosférica. O fato
pode ser explicado pela área onde foi instalado o suporte de exposição das
plantas. O local é circundado por muros, que fazem proteção para os
equipamentos de medição da estação. Esses muros e a própria estação de
monitoramento devem ter restringido a circulação de ar local, reduzindo as
concentrações de NO2 e MP no entorno das folhas de L. multiflorum e,
60

consequentemente, proporcionando um viés amostral nesse local. O


equipamento de monitoramento da CETESB está instalado em uma plataforma
alta e sem a influência dos muros. Por esse motivo, é provável que as
concentrações de N das plantas expostas no CET não representem a poluição
por NO2 na região com a mesma eficiência que nos outros locais.
O ponto CM1 parece estar sendo influenciado por uma outra fonte de
nitrogênio não monitorada pela estação de monitoramento da CETESB.

RECOMENDAÇÕES FINAIS

O biomonitoramento com a espécie Lolium multiflorum cv. Lema é


eficiente e sua aplicabilidade já foi comprovada no Brasil por diversos trabalhos
(BULBOVAS et al., 2015; NAKAZATO et al., 2015; RINALDI et al., 2012).
Entretanto, para a obtenção de resultados confiáveis, alguns cuidados devem
ser tomados:
a) selecionar sementes viáveis da cultivar padronizada ‘Lema’;
b) cultivar as plantas em casa de vegetação com ar filtrado, para que
não haja contaminação pré-exposição;
c) padronizar substrato e adubação para todos os cultivos e
exposições;
d) garantir que haja controle fitossanitários para evitar proliferação de
pragas e patógenos;
e) avaliar os locais de exposição, evitando áreas fechadas com pouca
circulação de ar;
f) utilizar amostras de material vegetal certificadas, como o NIST SEM
1515 ‘Apple Leaves’, para validar as análises de nitrogênio nas
amostras foliares;
g) garantir amostragem suficiente para as análises estatísticas.

As concentrações basais foram obtidas através das exposições em


câmaras de topo aberto com ar filtrado. Entretanto, é possível calcular as
concentrações basais seguindo protocolo estabelecido por Klumpp (2009).
Neste procedimento, os menores valores encontrados na área de estudo, que
indicam somente baixo impacto pela poluição, são utilizados como valores de
referência.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 61

Caso não haja estações de monitoramento de poluição atmosférica


disponíveis na região de estudo, é possível a utilização de amostradores
passivos para NO2 descritos por Souza et al. (2017) para validação e
comparação dos métodos.
As análises de metais e enxofre com L. multiflorum cv. Lema em
conjunto com as análises de nitrogênio, podem ajudar na avaliação de outras
fontes de emissão. As relações entre essas variáveis podem ser testadas
através da correlação de Pearson/Spearman e da análise de cluster (distância
Euclidiana e método de Ward). Os pontos de amostragem podem ser
associados de acordo com a similaridade/dissimilaridade, formando
agrupamentos (“clusters”) graficamente ilustrados por dendrogramas
(EUROBIONET, 2004).
Os pontos de amostragem podem ser georreferenciados e as
concentrações de N podem ser estimadas para outros locais utilizando o
método geoestatístico de krigagem e gráficos de contorno.
Plantas nativas podem ser incluídas para potencializar a avaliação
ecológica em diferentes biomas. Algumas espécies nativas da Mata Atlântica
foram padronizadas e se mostraram eficientes para o acúmulo de nitrogênio
(NAKAZATO et al., 2018).

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64
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 65

Capítulo 3

ESCALAS DE INFRAESTRUTURA VERDE

Cíntia Miua Maruyama7

CONCEITOS DE INFRAESTRUTURA VERDE

Infraestrutura verde (IV) é um conceito que se originou no exterior, com


seguidores do meio técnico e acadêmico principalmente da América do Norte,
Reino Unido e Leste Europeu (MELL, 2008 apud SCHUTZER, 2014). No contexto
nacional, a IV ainda é algo novo, com poucas aplicações efetivas, embora
alguns avanços tenham ocorrido, como a criação de mais parques urbanos,
Unidades de Conservação e Parques Nacionais.
A IV tem a aparência de estruturas híbridas, artificiais e naturais. Ela
conforma paisagens, conserva importantes funções desempenhadas pelos
ecossistemas, fornece suporte à sustentabilidade de urbanizações e é benéfica
à vida selvagem por meio de serviços ecológicos (BENEDICT; MCMAHON, 2006;
AHERN, 2011). Por outro lado, a natureza na cidade pode fornecer inestimáveis
serviços ecológicos, como ajudar na redução de ilhas de calor e assim beneficiar
a saúde pública, diminuir a possibilidade de alagamentos e enchentes,
favorecer os modais suaves como a caminhada e o transporte cicloviário,
dentre outros. Quando a natureza é vista neste contexto, ela é entendida como
uma Infraestrutura Verde – IV (PELLEGRINO, 2019).
O conceito de IV se diferencia do conceito tradicional de conservação e
proteção dos recursos naturais porque ela entende a conservação natural
atuando em conjunto com o desenvolvimento urbano e as estruturas
edificadas humanas. A IV ajuda as comunidades a identificar e priorizar os
locais oportunos para a preservação e a conservação integrados aos planos de
desenvolvimento urbanos, como os planos diretores.

7 Doutora, docente da Universidade Federal do Paraná. E-mail: cintiamaruyama@ufpr.br


66

ESCALAS DE INFRAESTRUTURA VERDE

Existem diferenças de compreensão e de aplicação da IV de acordo com


a escala de abordagem na paisagem. Ela pode ir do planejamento de grandes
porções de terra, a escala territorial, até projetos com abrangência menor,
como a escala setorial, ou escala da rua. Analisemos as diferenças entre cada
escala.
A “grande escala” ou abordagem territorial numa IV pode envolver o
tratamento de uma cidade inteira ou frações maiores do território, que podem
ser interestaduais e até mesmo ir além das fronteiras de países. Por exemplo,
quando se trata do planejamento de uma IV para bacias hidrográficas, as áreas
consideradas no projeto provavelmente irão além de uma única cidade, pois
muitos rios nascem em um dado município e podem percorrer diversos até a
sua foz. O planejamento de uma IV de um polo como a Floresta Amazônica
certamente deveria envolver os diversos municípios, Estados e países por onde
a mata se estende, e assim por diante.

ESCALA TERRITORIAL

A abordagem territorial se beneficiará de conceitos de análise da IV que


faz a leitura da paisagem pelos elementos polo, conexão e fragmento 8
(BENEDICT; MCMAHON, 2006). Polos são os maiores elementos do sistema e
são, por exemplo, as grandes faixas verdes preservadas, os parques nacionais
e estaduais e as Unidades de Conservação 9. São áreas importantes para a
preservação da biodiversidade e a manutenção de diversos processos naturais
e dão suporte às ocupações urbanas. É o elemento mais extenso da paisagem
com cobertura vegetal predominante. Precisa responder a uma gama de
funções:
a) fornecer habitat para animais e plantas nativas;

8
Esta estrutura faz analogia à leitura da paisagem da Ecologia da Paisagem, pela estrutura de
mosaico composto pela matriz, corredor e mancha. No caso a matriz seria o polo da IV, o corredor
a conexão e a mancha o fragmento. Nota da autora.
9 Unidades de Conservação são áreas protegidas da natureza, que podem ser do tipo intocável

(APP) ou terem exploração sustentada (APA) (BRASIL, 2000). A APA é uma UC um pouco menos
rígida que a APP e permite um certo grau de ocupação humana (idem). Por outro lado, as APPs são
áreas intocáveis, onde não deve haver assentamentos humanos de qualquer natureza (idem).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 67

b) garantir o funcionamento e a manutenção dos processos


ecológicos sem ter interferências externas negativas;
c) desta forma, tais polos devem ter paisagens ecológicas de
tamanhos maiores, com pouca fragmentação e melhor
qualidade do sistema (BENEDICT; MCMAHON, 2006).
Por exemplo, o Parque Estadual da Cantareira em SP pode ser
entendido como um polo. Ele “protege importante remanescente da floresta
ombrófila mista densa (Mata Atlântica) e abrange parte dos municípios de São
Paulo, Caieiras, Mairiporã e Guarulhos” (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO,
2004). É considerada a maior floresta urbana do mundo, suas matas são
responsáveis pela regulação, purificação e proteção de rios, córregos e
mananciais. Também protege importantes nascentes e fontes de água, sendo
responsável “por 50% do abastecimento da Região Metropolitana de São
Paulo”, fornecendo água para cerca de 21,50 milhões de habitantes (GOVERNO
DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2004). Devido à sua extensão de florestas e
diversos corpos d´água existentes, o Parque também ameniza a temperatura
da mancha urbana, ajudando a reduzir as ilhas de calor. Foram identificadas
diferenças de temperatura de 8,5 °C entre o bairro da Bela Vista no município
de São Paulo e o Parque Nacional da Cantareira, medidas observadas a partir
de um mapa de temperatura de superfície de 1999 (MARUYAMA, 2019). Outra
pesquisa que avaliou os tipos de cobertura do mesmo Parque, incluindo uma
buffer zone de 1 km ao redor do mesmo, concluiu que a cobertura arbórea é
bem significativa, correspondendo a 46,10% da área analisada (DOBBERT,
2019).
Por outro lado, conexões são elementos lineares que possuem certa
homogeneidade e são distintos dos polos. Eles fazem as ligações do sistema e
são essenciais para “a manutenção dos processos ecológicos vitais para a saúde
e a biodiversidade das populações nativas” (VASCONCELLOS, 2011, p. 40).
Exemplo: rios, corredores de torres de energia, rodovias, corredores verdes. Os
rios formam os corredores azuis, que “podem ter formatos e comprimentos
variados, dependendo do tipo de ligação que configuram” (VASCONCELLOS,
2011, p. 40). Além do curso d´água em si, deve ser considerada a faixa de
vegetação permanente a ser mantida ao redor do rio. Pelos corredores verdes
há a circulação da vida selvagem entre os fragmentos de verde existente na
68

paisagem rural, desta forma torna-se possível a reprodução e manutenção das


espécies.
Fragmentos são áreas que na paisagem são relativamente pequenas
quando comparadas ao polo. Têm aparência não linear com alguma
homogeneidade, como vegetação nativa ou mesmo ocupações humanas que
interrompem o polo. Exemplos: os parques urbanos, como o Horto Florestal no
município de São Paulo.
Agora serão indicadas algumas possibilidades de aplicação da IV em
escala territorial:
a) o planejamento de uma rede de IV numa escala mais
abrangente, como os Parques Nacionais, que podem abranger
diversos municípios e Estados;
b) utilizar os conceitos baseados na recuperação ou preservação
de áreas naturais que são interconectadas para incentivar
“processos ecológicos naturais” (VASCONCELLOS, 2011, p. 45);
c) “Planejar tal rede implica definir quais áreas integrarão o
sistema e quais serão as suas funções na rede” (VASCONCELLOS,
2011, p. 45);
d) planejar uma IV tem como resultado principalmente as
definições relacionadas ao uso e ocupação do solo de uma
região (VASCONCELLOS, 2011).
Exemplo de possibilidade de planejamento de uma IV em escala
territorial: Escarpa Devoniana na região dos Campos Gerais, no Paraná. É uma
extensa faixa de terras com valores históricos, ecológicos, de vida selvagem e
ambientais. Praticamente atravessa o Estado do Paraná, indo do extremo sul
do Estado no município da Lapa até Sengés, divisa com o Estado de São Paulo.
Possui Unidades de Conservação importantes como o Parque Estadual de Vila
Velha e o Parque Estadual do Cânion Quartelá (TAKEDA; TAKEDA; FARAGO,
2001). Como percorre diversas municipalidades com economia baseada na
agroindústria, a Escarpa Devoniana sofre inúmeras pressões para a redução da
sua área. Então existe o conflito do avanço das áreas agrícolas sobre as terras
preservadas. O planejamento da IV pode ajudar a analisar de que forma o
desenvolvimento pode ser compatível com a preservação destes ecossistemas,
indicando quais áreas podem ser ocupadas por plantio, as conexões
importantes a serem mantidas, o tamanho mínimo dos fragmentos verdes
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 69

necessários que devem permanecer para a manutenção da vida selvagem


entre outros.

A DIMENSÃO SETORIAL

A escala da rua, ou dimensão setorial, refere-se à menor unidade do


espaço urbano. Os elementos morfológicos que se alinham nesta dimensão são
os edifícios, as ruas, as estruturas verdes, os parcelamentos do solo e o
mobiliário urbano. Então percebe-se que agora passamos da análise mais
global do espaço da paisagem (escala territorial), para a menor escala.
Quando se trata de analisar dimensões menores da paisagem como a
setorial, onde, por exemplo, tratamos de aspectos da paisagem viária, outra
abordagem de análise torna-se interessante: a que estuda a compartimentação
do relevo para a aplicação das tipologias de IV. Tipologias são elementos que
simulam funções ligadas à hidrologia e à ecologia da natureza. Assim se tornam
parte de uma forma de encarar o planejamento e projeto dos espaços abertos
urbanos que desempenham funções de infraestrutura, como o manejo do
escoamento pluvial, conforto ambiental, biodiversidade, entre outros
(CORMIER; PELLEGRINO, 2008). Estas tipologias podem ser naturais, como a
floresta urbana ou híbridas, como os jardins de chuva e biovaletas.
A seguir serão citadas algumas tipologias adequadas de serem aplicadas
no espaço viário e depois serão feitas as indicações de aplicações dessas
tipologias segundo as diferentes compartimentações de relevo existentes no
cenário urbano.

TIPOLOGIAS DE IV

Neste tópico serão apresentadas as tipologias de IV jardim de chuva,


biovaleta, canteiro pluvial e floresta urbana, que melhor se enquadram para a
aplicação na escala setorial, em especial nos espaços viários. Além dessas
tipologias será comentado o pavimento brando permeável, que também
colabora com os efeitos positivos da IV no meio urbano.
70

Jardins de chuva

São jardins rebaixados em relação ao seu entorno e recebem as águas


da chuva de vias ou calçadas, fazem a sua infiltração e ajudam no processo de
microdrenagem. Geralmente possuem vegetação e ajudam a retirar poluentes
perigosos de serem enviados diretamente aos canais e córregos, como os óleos
e as graxas dos fluxos de veículos. É interessante que estes jardins sejam
conectados à rede de drenagem tradicional, assim podem acomodar as chuvas
mais intensas, como as que tendem a ocorrer nos próximos tempos devido à
intensificação das ICU e do aquecimento global. Os elementos que auxiliam nos
processos de infiltração da água no terreno são as camadas de brita e
macadame hidráulico aplicado em suas camadas inferiores (Figuras 1 e 2),
assim como o solo que não deve ser compactado e deve ter capacidade
geotécnica de para infiltrar a água. A opção da adoção desta tipologia depende
das características do solo e da topografia, não sendo indicadas para regiões
com altas declividades, apenas para áreas de pouca declividade, pois são locais
aptos a “infiltração da água da chuva no solo” e dos escoamentos superficiais
(BONZI, 2015).

Figura 1. Corte de jardim de chuva Figura 2. Exemplo de jardim de chuva

Fonte: Portland (sem data) apud Bonzi (2015). Fonte: Lenka Jaklová (pintrest.com).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 71

Biovaletas Figura 3. Corte de biovaleta

Biovaletas são faixas


Fonte: grownative.org
geralmente em formato mais linear
também rebaixados em relação ao
entorno para receber os escoamentos
pluviais. Podem ter ou não vegetação,
o ideal é que sejam vegetados para
que as plantas ajudem no processo de
despoluição inicial das águas da chuva
advinda de vias. O seu principal papel
é o de aumentar o tempo de Fonte: Portland (sem data) apud Bonzi
(2015)
escoamento das águas pluviais,
“direcionando-as para estruturas que
Figura 4. Exemplo de biovaleta
são maiores, tais como os jardins de
chuva” (PORTLAND, 2016) ou para a
rede de drenagem convencional de
água. Ao contrário dos jardins de
chuva que trabalham principalmente
com a infiltração dos escoamentos, a
biovaleta atua no sentido de reduzir o
tempo em que a água da chuva
adentra os canais de drenagem e
desta forma evitar os picos das vazões Fonte: grownative.org
e a sobrecarga da rede de drenagem.

De forma geral, a biovaleta é indicada para ser inserida em


estacionamentos (Figuras 3 e 4) e nos canteiros centrais de vias, mas também
pode ser instalada entre o meio-fio e a calçada. A sua aplicação é possível em
todas as compartimentações do relevo.
72

Canteiro pluvial

São jardins de dimensões menores que podem ser alocados ao longo de


passeios, vias, próximos a habitações, entre outros espaços, e recebem uma
parcela do escoamento superficial proveniente das áreas impermeáveis.
Normalmente esses canteiros pluviais (Figuras 5 e 6) não possuem processos
de infiltração da água da chuva, podendo ser aplicados sobre superfícies
impermeabilizadas ou solos muito compactados. Neste caso, os processos que
desempenham são de evaporação e de evapotranspiração das plantas (BONZI,
2015). É recomendada a sua implantação nas áreas tabulares.

Figura 5. Corte de canteiro pluvial Figura 6. Canteiro pluvial

Fonte: Portland (sem data) apud Bonzi Fonte: Portland (2016).


(2015).

Floresta urbana

A floresta urbana corresponde ao total das árvores de uma cidade e


funciona como a parte mais importante de uma Infraestrutura Verde. Para fins
de projeto paisagístico podemos dividir a vegetação em estratos, que se
dividem em: arbóreo, arbustivo e rasteiro (composto pelas gramíneas por
exemplo). O estrato arbóreo possui tamanho e volume de folhas maior do que
o estrato arbustivo, então consegue exercer influência muito maior no meio
ambiente urbano que os estratos menores de vegetação.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 73

Os processos de evapotranspiração10 são muito mais efetivos nas


árvores e com isto elas retiram calor do ambiente, ajudando, por exemplo, a
reduzir os picos de temperatura e a diminuir as ilhas de calor urbanas (ICU).
Outro fato notório é o sombreamento que as árvores propiciam em
pavimentos (Figura 7) ajudando a reduzir as suas temperaturas e colaborando
para criar microclimas mais agradáveis para a circulação de pedestres, ciclistas
e outros usuários do espaço viário. Tal fato se dá principalmente pela
vegetação de porte médio a grande. As árvores também fornecem outros
serviços ecológicos, como a captura de gases de efeito estufa, provêm habitat
e manutenção para a biodiversidade entre outros (HERZOG, 2010).
Outro fato importante é que a existência do dossel arbóreo ajuda a
reduzir o impacto das gotas de chuva no solo, atenuando processos erosivos
que ocorrem em terra nua, assim como a diminuir a velocidade que a água
chega aos rios. Isto porque inicialmente a água da chuva terá sua energia
dissipada pelas folhas, depois escorrerá pelos troncos e caules e só então
atingirá o solo para posteriormente se dirigir aos corpos d´água. A arborização
é recomendada para todos os compartimentos ambientais, sendo que sua
aplicação se torna extremamente importante nas várzeas e nascentes, devido
à natural umidade do solo existente nestes locais (BONZI, 2015),
potencializando os processos de infiltração de água e recarga de aquíferos.

Pavimento permeável

Este tipo de pavimento possui elevada capacidade de armazenamento


de água, que se infiltra pela camada superior e fica estocada no solo ou nas
camadas inferiores do pavimento. Os pavimentos permeáveis permitem que a
água da chuva escoe por entre o pavimento para depois ser evaporada nos dias
de sol. Este processo de evaporação, que transforma a água do estado líquido
para o vapor, retira o calor do ambiente, tornando o pavimento brando, pois o
mantém menos quente que os pavimentos convencionais sob a ação do sol
(GARTLAND, 2010). Outra função que o pavimento brando permeável pode ter

10
Evapotranspiração combina evaporação com a transpiração e neste processo libera-se umidade
no ar. No momento da transformação de líquido para vapor é retirado calor do ambiente. Nota da
autora.
74

é o de filtragem dos poluentes presentes nas águas superficiais, principalmente


os provenientes nas vias, e assim melhorar a qualidade de rios e córregos.

Figura 8. Pavimento permeável

Existem pavimentos brandos


permeáveis em concreto e em
asfalto, que podem ser
moldados in loco ou serem pré-
moldados, como os pavers
(Figura 8). Também há os tipos
que empregam vegetação em
seu enchimento.

Fonte: Portland (2016).

A recomendação de uso é em áreas onde há pouca requisição de carga,


como calçadas, ciclovias e estacionamentos, pois a característica de
permeabilidade do pavimento permeável implica em menor resistência
estrutural, devido aos vazios existentes na estrutura do pavimento para a
passagem da água. Outro cuidado é a necessidade de manutenção, com limpeza
regular para evitar a colmatação (entupimento) para garantir a sua
permeabilidade.

APLICAÇÕES DA INFRAESTRUTURA VERDE NA ESCALA DA RUA

No contexto urbano a aplicação da IV, como normalmente é


preconizada seguindo os passos da Ecologia da Paisagem de uma estrutura
similar ao mosaico formada pelo polo, conexão e fragmento, fica muito
complicada. Em geral, esses elementos não estão presentes na paisagem
urbana. Normalmente não há os grandes polos de vegetação natural, nem as
conexões azuis de largos corredores vegetados ao longo dos rios e córregos,
além da conexão entre os pequenos e grandes fragmentos de vegetação
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 75

(BONZI, 2015). Então, no contexto urbano da escala da rua (escala setorial), a


aplicação da IV deve seguir outro caminho.
Na escala setorial, decidir qual tipo de tipologia de IV é a mais adequada
a ser adotada em determinada área se apoia na análise do relevo e de quais
processos naturais existem no local. O projeto desta IV pode iniciar com um
zoneamento ambiental que irá ter como princípio a preservação dos processos
naturais que ocorrem em cada compartimento (BONZI, 2015) e avaliar a
compartimentação de relevo existente. Os processos naturais são
principalmente os da dinâmica da água (infiltração, percolação,
evapotranspiração e escoamento superficial) e do clima. Os compartimentos
de relevo são identificados de acordo com a análise geomorfológica e de
topografia. Basicamente podemos compreender o relevo dividido nos
seguintes compartimentos (SCHUTZER, 2012):
a) áreas tabulares e mais favoráveis aos usos do homem;
b) as íngremes que devem ter ocupação controlada ou serem
mantidas em sua forma natural;
c) as planícies aluviais com vocação mista tanto à ocupação
humana quanto as mantidas intocáveis;
d) as nascentes e seus anfiteatros que devem ser locais de
preservação permanente.

Nas áreas tabulares, que são trechos com declividade baixa e favoráveis
à ocupação, predominam os processos de infiltração da água, muito mais que
os escoamentos superficiais. Schutzer (2012) recomenda instalar tipologias de
IV que favoreçam a permeabilidade para que haja eficiência do filtrar, percolar
e infiltrar das águas das chuvas, para garantir o abastecimento da população
“pelas nascentes e lençol freático” (BONZI, 2015; SCHUTZER, 2012).
Nas áreas íngremes, que vão de vertentes a altas colinas, que possuem
alta declividade, predominam os escoamentos superficiais. São regiões onde
potencialmente ocorrem os deslizamentos. O ideal é a manutenção em estado
natural desses trechos ou mantê-los densamente arborizados (BONZI, 2015;
SCHUTZER, 2012).
As nascentes surgem nas porções altas do território. Os anfiteatros não
devem ser ocupados, podendo ter usos de lazer e parques. Nesta área é
necessário manter o dossel arbóreo denso para estimular as dinâmicas da
76

água, como a evapotranspiração e evaporação, promover a infiltração e


percolação (BONZI, 2015; SCHUTZER, 2012).
Planícies aluviais ou várzeas são as porções com cotas mais baixas e
tendem a ser mais planas. A terra é sempre úmida por receber os sedimentos
e a água dos outros compartimentos. Nesta região são predominantes os
processos de armazenagem de água em relação aos de infiltração e de
escoamento superficial. Podem possuir parques dotados de densa arborização,
lagos e espaços de lazer (BONZI, 2015; SCHUTZER, 2012).
No Quadro 1 são indicadas as recomendações de aplicação de IV na
escala setorial, como por exemplo dos espaços viários:

Quadro 1. Aplicação de tipologias de acordo com a zona ambiental

Tipologia de Zona ambiental


Infraestrutura
Verde Áreas tabulares Áreas íngremes Nascentes Várzeas

“Jardim de chuva” SS NÃO NÃO NÃO

“Canteiro pluvial SS NÃO NÃO NÃO


com infiltração”

“Canteiro pluvial NÃO S S SS


sem infiltração”

“Biovaletas” SS S S S

“Pavimentos SS S S S
permeáveis”

Floresta urbana S S SS SS
SS: ocorre a máxima eficiência na instalação da tipologia de Infraestrutura Verde, tendo como
objetivo favorecer os “processos naturais” que predominam na “zona ambiental” (BONZI, 2015);
S: instalação da tipologia de Infraestrutura Verde é possível, mas neste caso há menor
eficiência, pois a tipologia trabalha com “processos naturais” não compatíveis com a ocupação
que ocorre na área (BONZI, 2015);
Não: A tipologia não deve ser instalada, pois favorece processos naturais que não devem
ocorrer na referida zona ambiental.
Fonte: Adaptado de Bonzi (2015).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Infraestrutura Verde pode ser entendida como uma forma de


planejamento urbano que considera o aspecto ambiental trabalhando em
consonância com as atividades humanas e que procura uma harmonia entre
ambos. Tanto preservando as dinâmicas naturais e as áreas sensíveis assim
como indicando quais os usos indicados para cada região do território ou
compartimentação do relevo.
O planejamento de uma IV passa pelo entendimento de qual escala de
abordagem se está trabalhando. Ela pode ir da “grande escala” ou escala
territorial que abrange grandes porções de terra até a “pequena escala” ou
dimensão setorial (escala da rua). A abordagem clássica da IV se baseia na
análise da paisagem conformada pela estrutura inspirada no mosaico da
Ecologia das Paisagens, no caso da IV formada pelo polo, conexão e fragmento.
Tal forma de pensar faz sentido no trabalho em uma escala territorial, para o
projeto por exemplo de Parques Estaduais, nacionais, obras que envolvam
análises de bacias hidrográficas e outros onde existem os grandes polos verdes,
as conexões verde-azuis que conectam fragmentos consideráveis de natureza.
Por outro lado, no contexto urbano fica complicada a aplicação de uma
Infraestrutura Verde pela abordagem tradicional da estrutura de mosaico,
mesmo porque neste cenário é difícil encontrar os grandes polos de vegetação
nativa, conexões significativas formadas por rios com grandes margens e suas
interligações com fragmentos de vegetação urbana. No ambiente da cidade a
reflexão, segundo o ponto de vista da escala menor, a setorial será mais
adequada. Neste sentido, o planejamento da IV urbana com a aplicação das
suas tipologias pode considerar a análise do zoneamento ambiental que se
baseia na compartimentação do relevo e dos processos naturais vigentes em
cada área. A avaliação de cada compartimento dirá qual tipologia de IV é mais
adequada para cada trecho, ou até mesmo indicará a sua contraindicação em
alguns casos.

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 79

Capítulo 4

BIOMONITORAMENTO DA QUALIDADE DO AR:


DO CONCEITO À PRÁTICA

Patricia Bulbovas11
Marisa Domingos12

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem-se observado o rápido crescimento dos centros


urbanos. No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), cerca de 84% da população brasileira vive em áreas
urbanas, sendo que na Região Sudeste este valor chega a 93% (IBGE, 2015).
O adensamento urbano traz consigo alguns problemas ambientais que
não estão restritos apenas aos limites dos municípios, mas também alcançam
níveis regionais a globais. Isso ocorre devido ao excessivo uso e exploração dos
recursos naturais, que levam à produção de lixo e emissões de poluentes para
o solo, água e ar (KLUMPP et al., 2001), que extrapolam os limites geográficos.
Nas áreas urbanas, as maiores fontes de poluentes atmosféricos são as
indústrias e os veículos automotores, que lançam quantidades variáveis de
dióxido de enxofre, óxidos de carbono e nitrogênio, material particulado e
compostos orgânicos, como hidrocarbonetos. Ainda, parte desses poluentes
podem reagir com compostos da atmosfera, sob determinadas condições
meteorológicas, e formar outros poluentes, como o ozônio, o nitrato de
peroxiacetila e o peróxido de hidrogênio (CETESB, 2019).
As altas concentrações de poluentes atmosféricos podem causar danos
à saúde humana, flora e fauna, e destruir construções, como monumentos
históricos. Esses efeitos são observados de forma frequente em aglomerações

11 Doutora, mestrado em Análise Geoambiental, Universidade Guarulhos. E-mail:


pbulbovas@hotmail.com
12 Doutora, Núcleo de Pesquisa em Ecologia, Instituto de Botânica. E-mail:
mdomingos@ibot.sp.gov.br
80

urbanas, onde há grande diversidade e quantidade de diferentes poluentes em


uma área relativamente limitada (KLUMPP et al., 2001).
Os efeitos causados pela poluição atmosférica, à vegetação presente
nas regiões urbanas, podem ser observados em diferentes níveis de
organização. Podem ocorrer danos aos processos de fotossíntese, respiração,
e peroxidação dos lipídios da membrana (CAILLERET et al., 2018; BRANDÃO et
al., 2017). As folhas podem apresentar sintomas foliares visíveis (ASSIS et al.,
2018). O organismo pode apresentar redução do crescimento e do acúmulo de
biomassa (CAILLERET et al., 2018), mudanças na eficiência hídrica, o que pode
alterar a entrada de água e nutrientes através das raízes, e também aumentar
o ataque por patógenos (KLUMPP et al., 2006; HEATH, 2008). Podem ser
observados danos à floração e concepção do tubo polínico, diminuindo a
produtividade da planta (SHARMA; DAVIS, 1997), como também aceleração da
senescência foliar (KRUPA; MANNING, 1988). Considerando que as espécies
apresentam respostas diversificadas, também podem ocorrer mudanças na
composição e estrutura das comunidades vegetais e ecossistemas (KARNOSKY
et al., 2003; SHRINER; KARNOSKY, 2003).
Os efeitos da poluição sobre a vegetação são decorrentes, entre outros
mecanismos, do estresse oxidativo causado por espécies reativas de oxigênio
(EROs), como peróxido de hidrogênio (H2O2), superóxido (O2•) e radicais
hidroxila (OH•), que são formadas a partir da reação dos poluentes com a água
ou outros constituintes da célula (BULBOVAS et al., 2014). É importante
ressaltar que a formação dessas EROs acontece em processos fisiológicos
normais da célula vegetal, como a fotossíntese e a respiração (CAILLERET et al.,
2018). No entanto, as EROs podem ter sua formação intensificada devido à
presença de poluentes no ambiente celular (NAKAZATO et al., 2018). Em
resposta, as plantas têm vários compostos enzimáticos e não enzimáticos que
podem protegê-las contra os danos oxidativos e controlar os efeitos oxidativos
causados pelas EROs. Entre essas defesas estão as enzimas superóxido
dismutase (SOD), catalase (CAT), ascorbato peroxidase (APX) e glutationa
redutase (GR), substâncias como a glutationa (GSH), carotenoides e ácido
ascórbico (AA) (CAREGNATO et al., 2008), além de compostos do metabolismo
secundário, como os compostos fenólicos (REZENDE; FURLAN, 2009). No
entanto, quando o estresse oxidativo supera a capacidade de defesa do
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 81

sistema antioxidante, os efeitos da poluição sobre as plantas tornam-se


aparentes e podem ser medidos (GILL, TUTEJA, 2010; BULBOVAS et al., 2014).
A vegetação das regiões urbanas tem um papel importante à vida na
urbe, oferecendo diferentes serviços ecossistêmicos às populações humanas.
Ela regula o clima e a qualidade do ar das cidades, preserva áreas de
mananciais, importantes para o abastecimento de água, como também
modera microclimas e embeleza a paisagem, trazendo à população a sensação
de bem-estar. Assim, compreender como a poluição atmosférica se comporta
nos centros urbanos, permite não somente conservar as condições de saúde
da população, devido à melhor qualidade do ar, mas também preservar os
serviços prestados pela vegetação presente tanto nas cidades como no seu
entorno (VICTOR et al., 2004).
O biomonitoramento tem se mostrado uma poderosa ferramenta para
compreender os efeitos da poluição atmosférica sobre a vegetação e preservar
a saúde ambiental das cidades. Ele se baseia no conceito de que respostas
biológicas selecionadas podem fornecer indicações seguras de níveis variáveis
de estresse imposto pela poluição do ar aos seres vivos (NAKAZATO et al.,
2018). Os resultados levantados por ele têm sido cada vez mais aceitos e
permitem subsidiar políticas públicas de desenvolvimento sustentável nos
grandes centros urbanos. É esse instrumento que será apresentado no
presente capítulo.

O BIOMONITORAMENTO

A qualidade do ar pode ser avaliada através de estimativas das


emissões, por meio de modelos matemáticos e utilizando métodos físico-
químicos (KLUMPP et al., 2001). Estes últimos são os mais usados em centros
urbanos. O Estado de São Paulo, por exemplo, possui uma rede de
monitoramento nas principais regiões industrializadas e urbanizadas do
Estado. Destaca-se a rede automática da Região Metropolitana de São Paulo, a
qual possui 29 estações de monitoramento (CETESB, 2019). Porém, essas
estações realizam medidas físico-químicas, que não permitem conclusões
sobre os impactos das concentrações dos poluentes sobre os seres vivos. Esses
impactos podem ser avaliados, eficientemente, por meio da quantificação de
danos observados em plantas bioindicadoras, desde o nível celular até o de
82

paisagem. Essa abordagem metodológica é denominada biomonitoramento


(KLUMPP et al., 1996; DE TEMMERMAN et al., 2004).
O biomonitoramento se baseia no fato de que os organismos vivos
sempre reagem a estímulos ambientais, como concentrações tóxicas de
poluentes atmosféricos. Eles podem ser usados como bioindicadores se essas
reações se apresentarem de maneira específica, observável e mensurável. Em
plantas, elas podem ser mudanças nas características morfológicas,
fisiológicas, bioquímicas e/ou químicas das folhas. Essas mudanças podem ser
marcadoras de sensibilidade (por exemplo, lesão foliar visível e dano
fisiológico) ou de tolerância a poluentes do ar e outros estressores ambientais
(por exemplo, níveis crescentes de compostos de defesa e acúmulo de
elementos/compostos tóxicos nos tecidos vegetais) (NAKAZATO et al., 2018).
Através de observações e medidas dessas reações específicas, podem-se tirar
conclusões a respeito do tipo de poluente, de sua fonte, e possivelmente de
sua intensidade (KLUMPP et al., 2001; DE TEMMERMAN et al., 2004).
A coleta sistemática de dados relativos aos efeitos de poluentes sobre
plantas permite a criação de um inventário de respostas qualitativas e
quantitativas para poluição, o qual pode compor um sistema de informação no
monitoramento da qualidade do ar, complementar aos inventários de
emissões e de concentrações ambientais (ARNDT et al., 1995; VDI 1999;
KLUMPP et al., 2001; DE TEMMERMAN et al., 2004). Assim, o
biomonitoramento não substitui medidas de concentrações ambientais de
poluentes por métodos físico-químicos, mas coopera com dados referentes aos
efeitos dos poluentes sobre organismos vivos (KLUMPP et al., 2001).
No biomonitoramento é preciso considerar que, entre a exposição da
planta a um determinado poluente e sua resposta, existe uma série de fatores
que contribuem para dizer se a exposição tem um efeito mais ou menos
negativo, pois elas reagem continuamente e de maneira integrada às variações
do ambiente. A temperatura, radiação solar, umidade, precipitação, vento e
condições edáficas são os fatores que mais contribuem para a determinação
da intensidade de resposta da planta ao estresse causado pela poluição (CAPE,
2009; CRISTOFOLINI et al., 2011). Além destes fatores, a forma química e física
do poluente, sua concentração na atmosfera e a duração e frequência da
exposição das plantas também devem ser considerados (DÄSSLER; BORTITZ,
1988). Por isso, as relações entre níveis de concentração de poluentes no ar e
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 83

intensidade de respostas vegetais bioindicadoras dificilmente serão lineares.


Sendo assim, uma avaliação precisa de riscos biológicos associados à
contaminação do ar pode ser feita somente com base em modelo de
biomonitoramento ajustado para a região a ser monitorada, tomando por base
não somente os dados de concentrações dos poluentes atmosféricos, como
também os dados meteorológicos.
O biomonitoramento usando plantas pode ser conduzido por duas
técnicas. Essas técnicas e as práticas relacionadas a elas serão apresentadas a
seguir.

Práticas com biomonitoramento passivo

O biomonitoramento passivo se dá quando espécies vegetais existentes


naturalmente no ecossistema a ser estudado são utilizadas como
bioindicadoras. Ele possibilita avaliar o estado atual da vegetação, os efeitos da
poluição do ar sobre a vitalidade das plantas, e detectar mecanismos de
resistência, constituindo um importante método para o estudo das interações
entre as plantas e os poluentes em seu ambiente natural (ARNDT; SCHWEIZER,
1991; DE TEMMERMAN et al., 2004; NAKAZATO et al., 2018).
O órgão alemão Verein Deutscher Ingenieure (VDI) apresenta um
protocolo com instruções para realizar biomonitoramento passivo em regiões
urbanizadas, através da análise de elementos presentes na poluição e
acumulados nas folhas das plantas, como compostos de enxofre, nitrogênio,
metais e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA). Este protocolo dá
instruções de como selecionar locais, espécies e indivíduos a serem coletados,
de como e quando realizar as coletas, bem como armazenar, analisar e
interpretar os resultados (VDI, 2007).
Para o biomonitoramento de florestas, este mesmo protocolo
recomenda o uso dos manuais apresentados pelo International Co-operative
Programme on Assessment and Monitoring of Air Pollution Effects on Forests
(ICP - Forests) (VDI, 2007).
O Programa ICP-Forest foi criado na década de 1980 pela comunidade
Europeia em resposta à preocupação generalizada de que a poluição
atmosférica poderia afetar as florestas. Participam dele 40 países europeus,
como também os Estados Unidos e o Canadá. Este programa tem como
84

objetivos criar uma visão geral da variação espacial e temporal das condições
das florestas, em relação aos fatores de estresse naturais e antropogênicos (em
particular a poluição do ar), por meio de monitoramento, e também
compreender as relações de causa-efeito entre a condição dos ecossistemas
florestais e os fatores antropogênicos e de estresse natural, por meio de
monitoramento intensivo em florestas espalhadas entre os países
participantes do programa (SEIDLING et al., 2017). Para realizar esse
monitoramento e alcançar seus objetivos, foram criados vários manuais com
métodos padronizados para observar e coletar diferentes informações dos
ambientes florestais.
Esses manuais falam de princípios básicos de design para se criar redes
de monitoramento de florestas dentro do próprio programa, de modo a
garantir a qualidade dos estudos e a possibilidade de comparação entre os
dados levantados pelos diferentes países participantes (FERRETTI; KÖNIG;
GRANKE, 2016; FERRETTI et al., 2017). Entre os manuais para avaliação de
condições bióticas das florestas, há aqueles que abordam como estimar a
densidade de folhas das copas das árvores (EICHHORN et al., 2016), como
estudar o crescimento e fenologia da vegetação (BEUKER et al., 2016;
DOBBERTIN; NEUMANN, 2016), como avaliar a diversidade biológica de plantas
arbóreas, epífitas e também líquens (CANULLO et al., 2016; STOFER et al.,
2016), como observar a ocorrência de injúrias foliares visíveis causadas por
ozônio (SCHAUB et al., 2016), como amostrar folhas para analisar acúmulo de
elementos (RAUTIO et al., 2016) e como medir a área foliar (FLECK et al., 2016).
Há também manuais para avaliar as condições abióticas. Entre eles
estão os que abordam amostragem e análise de solo e solução do solo (COOLS;
DE VOS, 2016; NIEMINEN et al., 2016), deposição atmosférica de poluentes
(CLARKE et al., 2016), serapilheira (UKONMAANAHO et al., 2016) e
monitoramento da qualidade do ar e das condições meteorológicas (RASPE et
al., 2016; SCHAUB et al., 2016). Para garantir que os dados levantados pelos
diferentes países sejam comparáveis, há também um manual que orienta sobre
como realizar coletas e fazer as análises do material coletado (KÖNIG et al.,
2016).
Em São Paulo, os primeiros estudos no tema foram realizados na década
de 1980, utilizando técnicas de biomonitoramento passivo. Inicialmente, foi
avaliado o impacto causado pela poluição emitida por uma siderúrgica no
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 85

fragmento urbano de floresta Atlântica inserido no Parque Estadual das Fontes


do Ipiranga, localizado na zona sul do município de São Paulo, por meio da
determinação do acúmulo de elementos tóxicos no solo, serapilheira e
espécies arbóreas e trepadeiras (Tabela 1). Ainda na década de 1980, foram
identificadas alterações no processo de ciclagem de macro e micronutrientes
na Floresta Atlântica protegida pela Reserva Biológica de Paranapiacaba,
localizada no alto da Serra do Mar e na borda do planalto paulista. Naquela
época, a floresta era exposta a altos níveis de poluentes atmosféricos emitidos
pelo complexo industrial de Cubatão, que alcançavam a borda do planalto
através do vale do rio Moji (Tabela 1).
No início dos anos de 1990, ampliaram-se os estudos aplicando técnicas
do biomonitoramento passivo para avaliação dos efeitos dos poluentes
atmosféricos provenientes do complexo industrial de Cubatão sobre a Floresta
Atlântica que recobre as encostas da Serra do Mar. Trata-se de um vasto
complexo industrial, que emitia na época grande quantidade de gases e
material particulado para atmosfera. Esses estudos tiveram como foco
principal avaliar acúmulo de elementos, em especial nitrogênio, enxofre e
flúor, em algumas espécies nativas de Mata Atlântica que compõem a floresta
da região (Tabela 1).
Nos anos 2010, parte dos protocolos apresentados pelo ICP-Forest
foram adaptados para as condições ambientais tropicais, e os estudos sobre os
efeitos da poluição atmosférica foram bastante ampliados no Brasil.
Novamente Cubatão foi cenário de parte desses estudos, mas também foram
realizadas pesquisas na Região Metropolitana de Campinas, afetada por
poluentes oriundos de um polo petroquímico presente na região, como
também de atividades agrícolas e da frota veicular, que circulam escoando a
produção tanto industrial como agrícola da região (Tabela 1). Nesses estudos
foram avaliados antioxidantes, formação de injúrias foliares visíveis e variações
na anatomia e morfologia de plantas nativas, danos metabólicos e fisiológicos,
acúmulo de macro e micronutrientes, de metais pesados e HPAs.
Recentemente, estudos avaliando muitos desses parâmetros, entre eles
a formação de EROs, o sistema de defesa antioxidante, o acúmulo de
nitrogênio e modificações na anatomia e morfologia de folhas, foram
realizados em um gradiente ambiental entre florestas urbanas em regiões mais
úmidas, como a da Serra do Mar, no município de Cubatão, o PEFI, já no
86

planalto paulista, na cidade de São Paulo, uma Floresta Estacional


Semidecidual em Campinas, interior de São Paulo, e uma floresta em Ouro
Preto, Minas Gerais (Tabela 1).
Um resumo desses estudos, apresentando local, medidas feitas e
referência bibliográfica, é apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Resumo dos estudos utilizando a técnica de biomonitoramento passivo no Brasil

Local de Estudo Parâmetros avaliados Espécies estudadas Referência


São Paulo Acúmulo de nutrientes e - DE VUONO et al.
metais 1984, 1988
Paranapiacaba Ciclagem de macro e - DE VUONO et al.,
micronutrientes 1989
Paranapiacaba Ciclagem de macro e - DOMINGOS et al.,
micronutrientes 1990
Paranapiacaba Ciclagem de macro e - LOPES et al., 1990
micronutrientes
Paranapiacaba Ciclagem de macro e - DOMINGOS et al.,
micronutrientes 1995
Paranapiacaba Ciclagem de macro e - DOMINGOS et al.,
micronutrientes 2000
Paranapiacaba Ciclagem de macro e - DOMINGOS et al.,
micronutrientes 2009
Cubatão Acúmulo de F Tibouchina pulchra, KLUMPP et al., 1996
Miconia pyrifolia,
Cecropia glazioui
Cubatão Acúmulo de F, N, S, Fe, Tibouchina pulchra, KLUMPP et al., 1996
Mn, Zn e Al Miconia pyrifolia,
Cecropia glazioui
Cubatão Acúmulo de N, fenóis Tibouchina pulchra FURLAN et al., 1999
totais e taninos totais
Cubatão Acúmulo de N, P, K, Ca, - DOMINGOS; LOPES;
Mg e S na vegetação, STRUFFALDI-DE
solo e deposição VUONO, 2000
Cubatão Defesas antioxidantes Tibouchina pulchra KLUMPP et al., 2000
Cubatão Deposição - MAYER et al., 2000
Cubatão Fluxo de elementos - MAYER et al., 2000
atmosfera-solo
Cubatão Acúmulo de N, P, K, Ca, Tibouchina pulchra, KLUMPP;
Mg, S Miconia pyrifolia, DOMINGOS;
Cecropia glazioui KLUMPP, 2002
Cubatão Acúmulo de N, fenóis, Tibouchina pulchra FURLAN; SALATINO;
taninos, ligninas e DOMINGOS, 2004
herbivoria
Região Solo - LOPES et al., 2015
Metropolitana
de Campinas
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 87

Região Defesas antioxidantes Astronium AGUIAR-SILVA et al.,


Metropolitana graveolens, Croton 2016
de Campinas floribundus,
Piptadenia
gonoacantha
Região Sintoma foliar visível Astronium MOURA et al., 2018
Metropolitana graveolens, Croton
de Campinas floribundus,
Piptadenia
gonoacantha
Região Acúmulo de carboidratos Astronium ENGELA, 2016
Metropolitana e compostos fenólicos graveolens, Croton
de Campinas floribundus,
Piptadenia
gonoacantha
Região Acúmulo de HPA Astronium DIAS; RINALDI;
Metropolitana graveolens, Croton DOMINGOS, 2016
de Campinas floribundus,
Piptadenia
gonoacanth
Cubatão, São Defesas antioxidantes Espécies pioneira e BRANDÃO et al.;
Paulo, Região espécies não 2017
Metropolitana pioneira
de Campinas
Cubatão, São Acúmulo de nitrogênio Espécies pioneira e BOCUZZI, 2017
Paulo, Região espécies não
Metropolitana pioneira
de Campinas
Cubatão, São Defesas antioxidantes, Espécies pioneira e ESPOSITO et al.,
Paulo, Região espécies reativas de espécies não 2018
Metropolitana oxigênio pioneira
de Campinas,
Ouro Preto
Cubatão, São modificações anatômicas Espécies pioneira e FERNANDES, 2019
Paulo, Região e morfológicas espécies não
Metropolitana pioneira
de Campinas,
Ouro Preto
Região Acúmulo de elementos Astronium DAFRÉ-MARTINELLI
Metropolitana traços graveolens, Croton et al., 2020
de Campinas floribundus,
Piptadenia
gonoacantha
Fonte: Elaborado pelo autor.
88

Práticas com biomonitoramento ativo

O biomonitoramento ativo ocorre quando as plantas indicadoras


sensíveis ou acumuladoras, de mesma origem e cultivadas em condições
padronizadas, são introduzidas nas áreas de estudo, reduzindo, deste modo, a
variabilidade do material biológico e das condições ambientais (ARNDT;
SCHWEIZER, 1991; DE TEMMERMAN et al., 2004; VDI, 2007). O
biomonitoramento ativo usando plantas indicadoras acumuladoras ou
sensíveis é um meio apropriado para detectar e monitorar os efeitos da
poluição do ar, uma vez que as plantas podem reagir proporcionalmente às
concentrações de poluição do ar (KLUMPP et al., 2006). No Quadro 2
apresenta-se um resumo dos métodos de biomonitoramento ativo
empregados no Brasil.
No biomonitoramento ativo existem cultivares de espécies vegetais
bem padronizadas como indicadoras de poluentes atmosféricos específicos. É
o caso da cultivar Bel-W3 de tabaco Nicotiana tabacum L., extremamente
sensível ao ozônio, que apresenta necroses em suas folhas já em baixas
concentrações desse poluente (KLUMPP et al., 2006). Há, também, a cultivar
Lema de azevém Lolium multiflorum ssp. Italicum, acumuladora de metais,
enxofre, nitrogênio, flúor, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, dioxinas e
outros compostos orgânicos (VDI, 2003). Ambas têm sido empregadas em
diversos programas de biomonitoamento, sendo que o tabaco vem sendo
utilizado em vários estudos, em todo o mundo, por mais de quatro décadas
(KLUMPP et al., 2006).
No Brasil, o biomonitoramento ativo utilizando tabaco teve início nos
anos de 1990, na região de Cubatão (KLUMPP et al., 1994). Posteriormente, a
cidade de São Paulo foi cenário de estudo com esta espécie (SANTANNA et al.,
2008). Compreender como se manifesta a injúria foliar visível em tabaco
também foi alvo de estudos (SANTANNA et al., 2008; ESPOSITO et al., 2009;
SOUZA et al., 2009; ALVES et al., 2011; DIAS et al., 2011). Ainda, devido ao
tabaco ser uma espécie de clima temperado, recentemente foi observado que
sua resposta bioindicadora é fortemente influenciada pelo clima subtropical.
Assim, modelos para compreender a formação da injúria foliar visível em
condição meteorológica subtropical foram criados (KÄFFER et al., 2019;
BULBOVAS et al., no prelo).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 89

Assim como o tabaco, o uso do azevém como espécie bioindicadora no


Brasil também teve início nos anos de 1990, com estudos em Cubatão (KLUMPP
et al., 1994; 1996; RINALDI et al., 2012) e, posteriormente, em São Paulo
(SANDRIN; DOMINGOS; RIBEIRO, 2006; SANDRIN et al., 2008; MORETTO et al.,
2009; SANDRIN et al., 2013). Em Cubatão estes estudos objetivaram avaliar
acúmulo de elementos como nitrogênio, enxofre, flúor e HPAs, já em São
Paulo, além do acúmulo de metais, também foram avaliadas as variações de
carboidratos totais e frutanos em relação às concentrações de poluição
atmosférica.
Nos anos 2010s Cubatão voltou a ser cenário da utilização do azevém
em programa de biomonitoramento. Devido à mudança na forma de geração
de energia em uma importante refinaria da região, ele foi utilizado para avaliar
as variações das concentrações de nitrogênio e diferentes metais traço
(NAKAZATO; RINALDI; DOMINGOS, 2015; 2016). O azevém também foi
empregado em programa de biomonitoramento na Região Metropolitana de
Campinas e apresentou bons resultados, revelando a eficiência bioindicadora
da espécie nos trópicos (BULBOVAS; SANDRIN; DOMINGOS, 2015).
Também nos anos de 1990, híbridos de gladíolos e hemerocales foram
utilizados na Serra do Mar, em Cubatão, para avaliar o potencial poluidor de
fluoretos emitidos por siderúrgicas e indústrias de fertilizantes presentes na
região (KLUMPP et al., 1994; 1995).
Os estudos realizados em Cubatão com as plantas já conhecidas como
bioindicadoras da qualidade do ar, propiciaram testar novas espécies, neste
caso, nativas, para conhecer o seu potencial bioindicador da qualidade do ar,
seja acumulando elementos presentes na poluição atmosférica, ou sensíveis,
apresentando sintomas foliares visíveis (KLUMPP et al., 2000; FURLAN et al.,
2007). O manacá da serra (Tibouchina pulchra) foi uma dessas espécies. Ele já
foi vastamente utilizado em programas de biomonitoramento ativo em
Cubatão, para avaliar a presença atmosférica em concentrações fitotóxicas de
nitrogênio, enxofre, metais e flúor (KLUMPP et al., 2000; DOMINGOS et al.,
2003; FURLAN; DOMINGOS; SALATINO, 2007; NAKAZATO et al., 2016).
Variações nas concentrações de antioxidantes e na morfologia e anatomia das
folhas dessa espécie, também já foram avaliadas (ESPOSITO; DOMINGOS,
2014; PEDROSO et al., 2016).
90

Outra espécie nativa com potencial bioindicador é a goiabeira (Psidium


guajava). Estudos com esta espécie, iniciados nos anos 1990 em Cubatão,
mostraram que ela tem potencial para acumular nitrogênio, enxofre e metais
(KLUMPP et al., 1998). Assim, ela passou a ser utilizada em programas de
biomonitoramento da qualidade do ar como espécie acumuladora (MORAES et
al., 2002; DIAS; RINALDI; MORAES, 2007; BULBOVAS; SANDRIN; DOMINGOS,
2015; NAKAZATO et al., 2016). A influência dos poluentes do complexo
industrial de Cubatão sobre os compostos secundários de goiabeira também
foi estudada (FURLAN et al., 2006; 2010). A cultivar Paluma de goiabeira, em
experimento controlado de fumigação com ozônio, mostrou sintomas foliares
visíveis, que se apresentaram como manchas escuras avermelhadas apenas na
parte superior da folha e entre as nervuras. Posteriormente, detectou-se que
essas manchas resultam do acúmulo foliar de antocianinas (FURLAN et al.,
2007; REZENDE, FURLAN, 2009). A partir de então, a goiabeira Paluma passou
a ser utilizada em programas de biomonitoramento das concentrações
atmosféricas de ozônio (PINA; MOARES, 2007; 2010; SILVA; MEIRELLES;
MORAES, 2013; PINA et al., 2017).
Bromélias epífitas também têm sido utilizadas em programas de
biomonitoramento ativo como espécies acumuladoras de nitrogênio, enxofre
e metais. Tillandsia usneoides, exposta na cidade de São Paulo e na Região
Metropolitana de Campinas, foi utilizada para avaliar acúmulo de elementos
traço presentes no material particulado (FIGUEIREDO et al., 2001; 2004; 2007;
ALVES; MOURA; DOMINGOS, 2008; CARDOSO-GUSTAVSON et al., 2016;
GIAMPAOLI et al., 2015; 2016).
Os poluentes atmosféricos podem causar danos mutagênicos nas
células vegetais. Esse potencial pode ser testado e avaliado utilizando
inflorescências de clones de Tradescantia e da cultivar ornamental Purpurea de
Tradescantia pallida. Essas plantas bioindicadoras de potencial mutagênico já
foram utilizadas em estudos realizados na cidade de São Paulo (BATALHA et al.,
1999; GUIMARÃES et al., 2000; 2004; FERREIRA et al., 2003; 2007; SAVOIA et
al., 2009, entre outros).
Uma espécie que também foi utilizada na cidade de São Paulo em
estudo de biomonitoramento ativo foi a cultivar Scarlet O’Hara de Ipomea nil.
Ela é sensível ao ozônio e suas folhas apresentam injúrias foliares visíveis
(necroses) sob altas concentrações desse poluente (FERREIRA et al., 2012).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 91

Recentemente foi introduzido no Brasil o protocolo que utiliza os clones


sensível e resistente do trevo branco (Trifolium repens). A razão entre a
biomassa foliar desses clones mostra o potencial do ozônio de causar perda de
produtividade agrícola (SANDRIN et al., 2018).

Quadro 2. Métodos de biomonitoramento ativo


Espécie Parâmetro
Nome científico Poluente Referência
indicadora estudado
Tabaco Nicotiana tabacum Ozônio Sintoma foliar VDI, 2003
L. Bel-W3 visível
(necrose)
Azevém Lolium multiflorum Metais, S, N, F, Acúmulo VDI, 2003
ssp. Italicum Lema HPA, dioxina e
orgânicos
Manacá da Tibouchina pulchra Metais, S, N Acúmulo KLUMPP et
serra al., 1994
Goiabeira Psidium guajava Ozônio, metais, Sintoma foliar MORAES et
S, N visível al., 2002.
(pigmentação), FURLAN et
acúmulo al., 2007
Gladíolos Gladiolus hybr. Fluoreto Sintoma foliar ARNDT;
visível SCHWEIZER,
(necrose) 1991
Hemerocales Hemerocalllis hybr. Fluoreto Sintoma foliar ARNDT;
visível SCHWEIZER,
(necrose) e 1991
acúmulo
Barba de Tillandsia usneoides Metais, S, N Acúmulo Figueiredo
velho et al. 2004
Tradescantia Híbrido entre Substâncias Mutações em MA et al.,
Tradescantia genotóxicas células-mãe de 1994
subcaulis e T. grãos de pólen
hirsutifolia (bioensaio
(clone # 4430) Trad-MCN)
Tradescantia pallida
Purpurea
Trevo Branco Trifolium repens Ozônio Perda de HEAGLE;
biomassa MILLER;
SHERRILL,
1994
Fonte: Elaborado pelo autor.

CONCLUSÃO

Verifica-se, portanto, que o biomonitoramento utilizando plantas


mostra-se uma ferramenta bastante promissora. Ele reúne um conjunto de
92

técnicas versáteis que permitem avaliar qualitativa e quantitativamente a


qualidade do ar, em seus diferentes aspectos. Pode ser aplicado de forma
passiva e ativa, utilizando-se diferentes espécies e parâmetros para detectar o
potencial de toxicidade de diversos poluentes atmosféricos. No entanto, no
Brasil, o emprego dessa ferramenta tem sido limitado, sendo grande parte dos
estudos desenvolvidos no Estado de São Paulo. Vale destacar, finalmente, a
necessidade de padronização máxima das técnicas empregadas visando à
descrição precisa da qualidade do ar nos locais biomonitorados.

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102
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 103

Capítulo 5

EFICÁCIA DO ORDENAMENTO TERRITORIAL PARA A PROTEÇÃO DOS


SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DA SERRA DO ITAPETI

Elaine Aparecida Rodrigues13


Rodrigo Antonio Braga Moraes Victor 14
Edgar Fernando de Luca15
Kátia Mazzei16
Maurício Lamano Ferreira 17
Luis Alberto Bucci18
Rosangela Soares Lopes19

INTRODUÇÃO

Na década de 1980, a degradação ambiental nas áreas urbanas e


periurbanas da metrópole paulista gerou uma grande mobilização que logrou
reunir mais de 150 mil assinaturas com duplo objetivo: opor-se à Via Perimetral
Metropolitana (versão anterior do atual Rodoanel Metropolitano) e solicitar a
declaração do cinturão verde como reserva da biosfera, vinculada ao Programa
O Homem e a Biosfera (Man And Biosphere - MAB) da Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

13
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (SIMA). Doutoranda em Tecnologia Nuclear -
(IPEN/USP), responsável pela coordenação da pesquisa. E-mail: elainearodrigues@usp.br
14
Analista de Recursos Ambientais da Fundação Florestal (SIMA). Especialista convidado da
UNESCO, da SCOPE e da Academia de Ciências da China. E-mail: rabmvictor@yahoo.com.br
15
Pesquisador Científico do Instituto Florestal (SIMA). Doutor em Biogeoquímica Ambiental -
Centro de Energia Nuclear na Agricultura - CENA/USP. E-mail: efluca@gmail.com
16
Pesquisadora científica do Instituto Florestal (SIMA). Doutora em Geografia Física - Universidade
de São Paulo (USP). E-mail: katia.mazzei@gmail.com
17
Professor pesquisador no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). Doutor em
Ciências – Universidade de São Paulo. E-mail: mauecologia@yahoo.com.br
18
Pesquisador científico do Instituto Florestal (SIMA). Engenheiro Florestal. Diretor Geral. E-mail:
labucci@gmail.com
19
Bióloga. Pós-graduada em Análises Clínicas. Profissional Técnica de Laboratório da Fundação
Butantan. E-mail: sl_rosangela@yahoo.com.br
104

Iniciado em 1971, o Programa MAB tem como elemento principal as


reservas da biosfera, caracterizadas como sítios destinados a explorar e
demonstrar abordagens de conservação e desenvolvimento sustentável, em
escala regional, sob a jurisdição soberana de cada país. Atualmente estão
constituídas 701 reservas, distribuídas em 124 países (RODRIGUES et al., 2020).
O conceito de reserva da biosfera e sua aplicação ao contexto urbano
estabelece as bases para um planejamento integrado dos ecossistemas
urbanos e periurbanos. A declaração do Cinturão Verde como reserva da
biosfera ocorreu em 1994, e representou avanço e oportunidade para a gestão
de suas cidades e de seus ecossistemas.
A área abrangida pela Reserva da Biosfera do Cinturão Verde (RBCV)
abriga uma notável biodiversidade e oferece ampla gama de serviços
ecossistêmicos prestados para os municípios que a compõem: alimentos, água,
estabilização climática, controle de erosão, escorregamentos e inundações,
fixação de CO2 em superfície, turismo, recreação, valores estéticos, dentre
outros (RODRIGUES et al., 2020). Os ecossistemas da RBCV e seus serviços são
vitais para garantir o bem-estar de mais de 26 milhões de pessoas. Bacias
hidrográficas, mananciais de abastecimentos, represas, reflorestamentos,
unidades de conservação, áreas de vegetação nativa e áreas cultivadas
compõem o mosaico da RBCV, que, por sua vez, abriga de 12,5% da população
do Brasil e produz o equivalente a 18,8% do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro (IBGE, 2020).
A RBCV engloba, inteiramente, duas regiões administrativas, a Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP) e da Baixada Santista e, parcialmente, as
regiões metropolitanas de Sorocaba; Vale do Ribeira e Litoral Norte; Campinas
e região administrativa de Registro. A cidade de São Paulo encontra-se na
porção central da RBCV, densamente urbanizada, juntamente com outros 38
municípios que integram a sua região metropolitana (RODRIGUES et al., 2020).
O crescente aumento da população e do seu consumo per capita e a
intensificação dos processos de urbanização ampliam as alterações no
ambiente, com impactos locais, regionais e globais. A degradação dos
ecossistemas naturais e consequente perda de seus benefícios e de
biodiversidade compromete o bem-estar humano de forma significativa. Esses
benefícios promovidos pela natureza constituem os chamados serviços
ecossistêmicos (MEA, 2003), ou contribuições da natureza para as pessoas
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 105

(DIAZ et al., 2018), e incluem serviços de provisão (como água, madeira, fibras,
frutas), regulação (clima, água, polinização, controle de pragas, de doenças, de
enchentes e deslizamentos, entre outros) e culturais (recreação e atividade
física, contemplação e apreciação estética, experiência espiritual) (MEA, 2003).
Ao integrar o complexo e vasto espaço urbano e periurbano como
importante remanescente de Mata Atlântica, a Serra do Itapeti destaca-se na
RBCV pelos seus serviços ecossistêmicos em benefício da metrópole paulista.
Desde 1950, incidem sobre a Serra disciplinamentos municipais, estaduais e
federais, com destaque para a Lei estadual 4.529, de 18 de janeiro de 1985,
que disciplina seu uso e ocupação com vistas à proteção dos recursos hídricos,
da fauna e da flora para melhoria da qualidade ambiental na metrópole (SÃO
PAULO, 1985).
Ainda que a Serra do Itapeti tenha seu ordenamento territorial
legalmente disciplinado (SÃO PAULO, 1985), até 2013 contava com apenas
8,25% de seu território salvaguardado como área protegida em categoria
integrante do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (BRASIL,
2000), percentual este ampliado para 16,25% do território em 2016. Diante
desse quadro, considerou-se a hipótese de que, pela falta de figuras específicas
de tutela ambiental para a região desde a edição da Lei 4.529/1985, os
ecossistemas da Serra do Itapeti teriam sistematicamente perdido território ao
longo do tempo. Nesse contexto, foi avaliada a efetividade do ordenamento e
do planejamento territorial incidente na Serra do Itapeti ao longo de um
período de trinta e cinco anos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

A Serra do Itapeti, com extensão de 5.350 ha e até 5 km de largura,


abrange os municípios de Guararema, Mogi das Cruzes e Suzano, na Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), que é formada por 39 municípios. A maior
parte da Serra (96%) está inserida em Mogi das Cruzes. A área definida para
este estudo é o território da Serra do Itapeti delimitado pela Lei 4.529/1985
(SÃO PAULO, 1985), acrescido de uma zona de influência com 10 km a partir
dos limites estabelecidos pelo referido disciplinamento (Figura 1).
106

Figura 1. Imagem de satélite da área Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São
Paulo (em cinza, limite terrestre, e em azul, limite marinho) com a RMSP ao centro (em
vermelho) e a Serra do Itapeti (em verde), abrangendo os municípios de Guararema, Mogi das
Cruzes e Suzano

Fonte: Elaboração própria. Com base em: São Paulo (1985); Esri, Maxar, GeoEye, Earthstar
Geographics, CNES/Airbus DS, USDA, USGS, AeroGRID, IGN and the GIS User Commnity.

A altitude na Serra do Itapeti varia entre 700 e 1.160 m, com predomínio


do bioma Mata Atlântica, constituído por florestas subtropicais pluviais em
áreas de terrenos muito inclinados e com altos índices de precipitação. Em
termos ecológicos, a área está inserida no Domínio Fitoecológico da Floresta
Ombrófila Densa da Mata Atlântica (IBGE, 1992; VELOSO et al., 1991;
FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013).
No histórico de ocupação no território foi identificada a presença de
populações indígenas, seguida de processos de colonização, industrialização e
expansão urbana residencial, com expressivas supressões da mata original. A
vegetação que predomina é secundária, com diversos níveis de conservação,
em função do grau de intervenção/preservação de cada local. Nas áreas mais
protegidas, os remanescentes florestais encontram-se em estágio avançado de
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 107

sucessão ecológica, característico de processos de regeneração (FUNDAÇÃO


FLORESTAL, 2013; MORINI; MIRANDA, 2012).

Metodologias

Para o desenvolvimento do estudo foi realizada revisão da literatura


sobre a Serra do Itapeti, incluindo as áreas do conhecimento sobre ciências
ambientais (fauna, flora, meio físico) e ciências humanas – histórico de
desenvolvimento e de ocupação do território, incluindo a base de dados
Cidades (IBGE, 2020) e Informações dos Municípios Paulistas (SEADE, 2020),
com consulta a relatórios e documentos relacionados ao planejamento
territorial na área de estudo e legislação incidente na Serra do Itapeti.
Os documentos para análise foram selecionados a partir da avaliação de
convergência ao objetivo do estudo; além de relatórios temáticos produzidos
para a proposta de criação de unidades de conservação na Serra do Itapeti
(FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013).
A partir da base dados cartográfica de áreas prioritárias de conservação
do Programa Biota/Fapesp, do uso do solo da Emplasa, e da lei de uso e
ocupação da Serra do Itapeti (SÃO PAULO, 1985; EMPLASA, 2007; FAPESP,
2008), os atributos da paisagem foram analisados por meio de
fotointerpretação de ortofotocartas e imagens do Google Earth® em datas
entre 2007 e 2013. Com processamento digital de imagens (PDI) foram criados
mapas temáticos de caracterização territorial, sobrepostos em diversos layers,
para criação de novos produtos cartográficos, elaborados no Datum SAD69,
fuso 23S. As escalas utilizadas variaram de 1:10.000 a 1: 200.000. Para o
desenvolvimento desta análise territorial foram utilizados arquivos do banco
de dados espaciais do Instituto Florestal (2010).
Para avaliar a efetividade da Lei de proteção da Serra do Itapeti ao longo
do tempo, estabeleceu-se um comparativo da vegetação existente no início da
década de 1980 com sua condição atual. Para tanto, foram utilizadas as
categorias vegetais definidas no anteprojeto de Lei 7.343/050 (SÃO PAULO,
1982a; 1982b) e correlacionadas com as classes de uso do solo mapeadas pela
Emplasa (2007) e com informações sobre a vegetação nativa da região
(INSTITUTO FLORESTAL, 2010). Essas informações foram quantificadas por
categoria e totalizadas em hectares; os referidos valores foram comparados
108

com os dados fornecidos no Plano de Preservação e Aproveitamento da Serra


do Itapeti (SÃO PAULO, 1982a).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A ocupação do espaço na RMSP e a Serra do Itapeti

A ocupação do território na RMSP teve início em 1554, com a


designação do povoamento de São Paulo de Piratininga, entre a confluência
dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, e se estendendo ao longo do tempo pelo
território do planalto paulistano, em um desenvolvimento polinuclear e
descontínuo. Na origem do povoamento do vasto território da cidade de São
Paulo e de seu entorno foram instaladas aglomerações esparsas, separadas por
enormes espaços verdes, onde a natureza permanecia intocada.
Gradativamente, as características ambientais do Estado e da RMSP foram
modificadas ao longo do processo de ocupação do território (MARCÍLIO, 1973;
AB'SÁBER, 2004) (Figura 2).

Figura 2. Cobertura vegetal original no Estado de São Paulo e remanescentes florestais no século
XXI

Fonte: Adaptado de Victor et al. (2005).

No decorrer do tempo, o verde que cobria o território paulista no início


do processo de colonização foi substituído por diversos outros usos. A partir do
final do século XIX, a ocupação do território na RMSP se deu de forma
extraordinariamente rápida, sendo mais acentuada no século XX, com
modificações radicais no ambiente para possibilitar a vida e movimentação de
21 milhões de pessoas (MARCÍLIO, 1973; AB'SÁBER, 2004; IBGE, 2020).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 109

Em um curto espaço de tempo, a urbanização tornou-se caótica, com


retificações no território sem qualquer previsão de impactos e, em períodos
recentes, envolvendo especulação com terras varzeanas, grilagem de espaços
baldios, construção de estradas em terraços artificiais beiradeiros (AB'SÁBER,
2004).
O crescimento demográfico da cidade de São Paulo e do seu entorno no
decorrer destes quase 470 anos, sobretudo a dimensão exponencial da
ocupação do território a partir do século XX, denota o desenvolvimento de um
processo de urbanização que desconsiderou as consequências sobre os seus
ecossistemas de sustentação. Como resultado, a expansão urbana se projeta
em áreas e habitats biologicamente críticos, com alterações radicais na
paisagem e quebras de funcionalidade do organismo urbano.
Na RMSP, a expansão urbana acentuada suprimiu a maior parte da sua
vegetação nativa. Seus remanescentes maiores e mais numerosos estão
localizados principalmente nas áreas de encosta da Serra do Mar
(MITTERMEIER et al., 1999) devido ao seu relevo acidentado e às dificuldades
de uso dessas áreas para agricultura.
Nas regiões periféricas também são encontrados fragmentos
significativos, em especial nas cabeceiras e áreas de proteção aos mananciais
(CATHARINO et al., 2006). A Serra do Itapeti, inserida junto à borda do planalto
paulistano, é um desses significativos fragmentos perirubanos, caracterizada
por grandes extensões de morros com topos arredondados, vertentes abruptas
e perfil retilíneo (MORINI; MIRANDA, 2012).
Com extensão de 5,2 mil ha e até 5 km de largura (MORINI; MIRANDA,
2012) a Serra do Itapeti está inserida no território dos municípios de
Guararema, Mogi Guaçu e Suzano. Sua vertente norte drena para o rio Paraíba
do Sul e a vertente sul para o rio Tietê. Suas características a tornam um grande
divisor de águas e de bacias hidrográficas importantes para o Estado de São
Paulo (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013).
A Tabela 1 apresenta o percentual de abrangência da Serra do Itapeti
em cada um dos municípios por ela abrangidos, bem como indicadores de
território e população.
Guararema se localiza no vale do Paraíba, ao atravessar a Serra do
Itapeti, em sentido oposto ao fluxo do rio Tietê. Seu surgimento remonta a
meados do século XVI, com a construção da capela São Benedito às margens
110

do rio Paraíba. Em 1876, a passagem da estrada de Ferro Central do Brasil pelo


então povoado, favoreceu o seu desenvolvimento local (IBGE, 2020). O
município se destaca como importante destino turístico, com belezas naturais
e igrejas antigas, além de atrativos ligados às artes, história, gastronomia e
artesanato (FEITOSA et al., 2019).

Tabela 1. Indicadores de território, população e área abrangida pela Serra do Itapeti nos municípios
de Guararema, Mogi das Cruzes e Suzano
Densidade demográfica
Área População Serra do Itapeti
Município (hab/km2)
(km2)
1980 2020 1980 2020 (área/mun) (%/mun)
Guararema 270 55 108 15.060 29.429 198 3%
Mogi Cruzes 712 275 607 196.941 432.905 5.140 96%
Suzano 206 487 1.410 100.342 291.002 10 1%
RMSP 7.946 1.579 2.659 12.549.856 21.138.247 -- --
SP (Estado) 248.220 100 179 24.953.238 44.639.899 -- --
Fonte: Elaboração própria, com base em Fundação SEADE (2020).

Guararema se localiza no vale do Paraíba, ao atravessar a Serra do


Itapeti, em sentido oposto ao fluxo do rio Tietê. Seu surgimento remonta a
meados do século XVI, com a construção da capela São Benedito às margens
do rio Paraíba. Em 1876, a passagem da estrada de Ferro Central do Brasil pelo
então povoado, favoreceu o seu desenvolvimento local (IBGE, 2020). O
município se destaca como importante destino turístico, com belezas naturais
e igrejas antigas, além de atrativos ligados às artes, história, gastronomia e
artesanato (FEITOSA et al., 2019).
Devido à sua geografia, o município de Mogi das Cruzes se manteve
isolado por vários séculos, desde a instalação do então povoado em 1560: a
oeste, a comunicação com a vila de São Paulo de Piratininga era bastante difícil
devido às regiões baixas e alagadiças; ao sul, o isolamento era determinado
pela Serra do Mar; e, a leste, a Serra do Itapeti limitava o seu avanço para o
vale do Paraíba (MANFRÉ; WITTER, 2012).
Até o início do século XXI, quer por sua posição geográfica, quer pela
baixa qualidade de suas terras, Mogi não se transformou em um centro de
referência nem atraiu significativo número de pessoas para viver na região, o
que lhe rendeu a designação de um caminho de quatro séculos. Com a criação
da Estrada de Ferro do Norte, no final do século XIX e das estradas de rodagem
a partir dos anos de 1920, a cidade se firmou como o caminho feito para ligar
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 111

São Paulo ao Rio de Janeiro; e “caminhos” que eram de passagem, passaram a


se constituir em instrumento de progresso para a cidade e de rompimento do
seu isolamento geográfico (MANFRÉ; WITTER, 2012).
Já no século XX, o município se destacou ao estabelecer em seu
território a segunda maior colônia japonesa, que contribuiu para o incremento
da economia regional, em especial pela produção de hortifrutigranjeiros,
favorecendo a formação do Cinturão Verde paulista. As instalações das
estradas de rodagem possibilitaram a melhoria da infraestrutura para
escoamento da produção, e a incorporação e exploração de outras atividades
relacionadas à produção de horticultura, granjas, floricultura e fruticultura, o
que levou a cidade a uma posição destacada em relação à produção de gêneros
agrícolas na RMSP (MOGI DAS CRUZES, 2011).
Em Suzano, os primeiros registros de sua história datam 1874 ou 1875,
quando da implantação dos trilhos da Estrada de Ferro São Paulo-Rio, que
cortava os campos da região (IBGE, 2020). Posteriormente, a rodovia São
Paulo-Rio e a instalação de fábricas nesse eixo contribuíram para maior
ocupação da várzea do rio Tietê. O território de Suzano se constitui em um
mosaico de diferentes usos em contínua transformação. Com 206,60 km 2,
Suzano apresenta elevada densidade demográfica – 1.410,99 ha/km2. Próximo
à Serra do Itapeti se identifica o uso diversificado do solo, com ocupações
unifamiliares precárias, unidades habitacionais, fragmentos de vegetação
nativa, solo exposto, atividades agrícolas, áreas de campo e capoeira (VIEIRA,
2012).
O acelerado processo de urbanização vivido pela maioria das cidades do
Alto Tietê trouxe consigo os problemas decorrentes da ocupação desordenada
e irregular, que se fizeram sentir fortemente em Mogi das Cruzes e Suzano,
onde a população de baixa renda construiu habitações precárias em espaços
que avançavam até o rio Tietê e às margens de seus afluentes (ZANIRATO,
2011).
Em todo o Cinturão Verde que envolve a metrópole paulista,
significativos remanescentes de Floresta Atlântica propiciam inúmeros
benefícios tanto para a cidade de São Paulo quanto à sua região metropolitana.
No entanto, em geral, o constante avanço da mancha urbana em direção à
periferia vem degradando os recursos naturais dessa região sem considerar sua
vocação e potencialidades. Apesar deste padrão de urbanização, os municípios
112

de Guararema, Mogi das Cruzes e Suzano ainda contam com significativos


fragmentos de vegetação nativa, atrativos naturais e áreas protegidas que
proporcionam importantes serviços ecossistêmicos. A ocupação na Serra do
Itapeti chama a atenção, visto que, no auge da ocupação desenfreada da
RMSP, a região foi assistida por uma política de ordenamento e planejamento
territorial.

Entendendo a Serra do Itapeti e seu histórico de proteção

Originalmente, o Estado de São Paulo possuía cerca de 82% do seu


território coberto pelo bioma Mata Atlântica e seus ecossistemas associados.
Ainda que São Paulo concentre em 2020 os maiores remanescentes desse
bioma do país, o processo de comprometimento dos seus recursos naturais
não foi substancialmente diferente daquele observado no plano nacional. As
históricas mudanças antrópicas na Mata Atlântica são drásticas. As implicações
diretas na sustentabilidade de seus ecossistemas, tornam o bioma altamente
prioritário para a conservação da biodiversidade e de seus serviços.
A perda da biodiversidade e dos benefícios diretos e indiretos
proporcionados pelos ecossistemas – os chamados serviços ecossistêmicos,
comprometem o bem-estar humano e limitam o seu desenvolvimento. Em
1997, os serviços ecossistêmicos do planeta foram estimados em U$ 33
trilhões/ano. Para 2011, esta estimativa foi de U$ 125 trilhões/ano (assumindo
atualização nos valores e nas áreas dos biomas) e de U$ 145 trilhões/ano
(considerando apenas as atualizações nos valores dos serviços). As alterações
no uso da terra corresponderam à perda de serviços ecossistêmicos entre U$
4,3 a U$ 20,2 trilhões/ano no período de 1997 a 2011. Ao se considerar
somente o bioma “floresta” em âmbito global, a perda de seus serviços para o
mesmo período é estimada U$ 3,3 trilhões/ano decorrente das alterações na
cobertura das terras (COSTANZA et al., 1997; 2014).
Em um mundo densamente urbanizado, com 55% da população
ocupando 1% do território do planeta, a concentração de demanda de milhões
de pessoas em pequenas áreas leva ao crescente esgotamento dos serviços dos
ecossistemas, situação esta característica da RMSP, quarta maior aglomeração
urbana do mundo (UNITED NATIONS, 2019).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 113

Os desafios inerentes ao desenvolvimento sustentável na metrópole


paulista promoveu o surgimento de um forte movimento cívico na década de
1980 para a declaração do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo como
Reserva da Biosfera pela Unesco, que veio a se concretizar em 1994
(RODRIGUES et al., 2020). Em paralelo, também na década de 1980, foi
realizada uma avaliação integrada da Serra do Itapeti, incluindo aspectos
bióticos, abióticos e antrópicos, que promoveu uma iniciativa inovadora para a
região com vistas ao seu ordenamento territorial em escala municipal. Essas
iniciativas da década de 1980 para a proteção ambiental de grandes paisagens
de interesse especial tinham como objetivo assegurar o bem-estar das
populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais
(BRASIL, 1981).
É inquestionável a importância ambiental e ecossistêmica da Serra do
Itapeti enquanto fragmento sobrevivente da devastação ocorrida no bioma
Mata Atlântica (MORINI; MIRANDA, 2012). Seus ecossistemas abrigam 61% de
vegetação nativa em estágios primário e secundário, que são ameaçados pela
especulação imobiliária; grandes obras de infraestrutura; legislação
inadequada e/ou seu descumprimento; regulamentação fundiária precária do
território; extração de recursos florestais; mineração; resíduos sólidos
urbanos; poluição atmosférica e instalação de atividades potencialmente
poluidores e que desconsideram sua especificidade ambiental (FUNDAÇÃO
FLORESTAL, 2013).
Em nível estadual, a primeira medida para a preservação desse
território é de 1952, com a destinação de uma gleba de 37 ha na bacia
hidrográfica do córrego Cachoeirinha para preservação da flora e fauna (SÃO
PAULO, 1952). Após a edição da lei de uso e ocupação do solo na região (SÃO
PAULO, 1985), em 1987 foi criada a Estação Ecológica do Itapeti, com o objetivo
de preservar os últimos remanescentes florestais do Estado, proteger sua flora
e fauna ameaçadas de extinção, e garantir espaços para fins culturais,
científicos e educacionais para as gerações futuras (SÃO PAULO, 1987). Desde
então, somente em 2014, houve uma nova ação protetiva para a área em nível
estadual, por meio da criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) Botujuru, com 437,30 ha (SÃO PAULO, 2014).
As estratégias municipais de proteção da Serra do Itapeti, todavia, são
anteriores às iniciativas estaduais, remetendo às desapropriações para a
114

implantação do antigo sistema de abastecimento de água de Mogi das Cruzes,


nas décadas de 1930 e 1940 (MOGI DAS CRUZES, 2011). Posteriormente, em
1970, foi criado o Parque Natural Municipal da Serra do Itapeti, abrangendo
352 ha (MOGI DAS CRUZES, 1970; 2008), com a finalidade de proporcionar
recreação à população e sediar o horto florestal e o viveiro de mudas do
município (Figura 3).
Figura 3. Inauguração do Parque Municipal Francisco Afonso de Mello (A) e antigos tanques de
armazenamento de água, de meados do século XX

Fonte: Mogi das Cruzes (2011).

Em 1975, a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes e a Secretaria de


Estado dos Negócios Metropolitanos, iniciaram os estudos para
estabelecimento dos termos de referência para a preservação da Serra do
Itapeti. Com a participação da Emplasa, em 1982 foi consolidado o seu Plano
de Preservação (SÃO PAULO, 1982a) e respectivo Anteprojeto de Lei (SÃO
PAULO, 1982b). O zoneamento elaborado configura-se como a síntese de uma
proposta de proteção ambiental baseada no disciplinamento do uso e da
ocupação do solo (SÃO PAULO, 1982a). O Plano Diretor de Preservação e
Aproveitamento da Serra do Itapeti foi estruturado em seis mapas: de
geomorfologia; de litologia e estratigrafia; de vegetação; de áreas
homogêneas; de uso de solo e de zoneamento, este último reúne as propostas
de ocupação da terra e integra a Lei de Uso e Ocupação do Solo.
Para o plano de preservação e aproveitamento da Serra do Itapeti, a sua
delimitação correspondeu à chamada área de interface, que representa a área
de transição entre níveis topográficos que separa os setores das vertentes
onde ocorre a passagem do nível de maior altitude para o de menor altitude,
com feições de relevo mais íngremes e acidentadas que abrigam grande
quantidade de nascentes (SÃO PAULO, 1982a). Na porção mais elevada não há
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 115

distinção de área de transição entre o nível superior e o intermediário. A


passagem abrupta é expressa por escarpas de grande amplitude topográfica,
que atingem 400 metros em vários pontos, de modo que a área de interface
compreende os níveis superior e intermediário formando uma encosta
contínua até encontrar o nível inferior, onde o relevo atinge cotas não
superiores a 870 m.
O Plano Diretor de preservação da Serra do Itapeti (SÃO PAULO, 1982a)
destaca que, sob o ponto de vista geomorfológico, as áreas de interface
apresentam características de alta fragilidade, o que exige tratamento
coerente com tais implicações. Esses atributos são: declividade superior a 30%
na maioria das vertentes; concentração de nascentes que abastecem
mananciais; relevo de elevada fragilidade, suscetível a processos erosivos e
deslizamento de solo acelerado pela retirada da cobertura da terra;
concentração de feições íngremes e dissecadas, como vertentes escarpadas,
escarpas, anfiteatros, vales encaixados, setores convexos de vertentes, topos
íngremes, entre outros.
Com base nos atributos da paisagem, foi proposto o zoneamento para
o interior da unidade de planejamento, com a organização do espaço em dois
tipos lotes: com metragens superiores a 5.000 (cinco mil) ou 20.000 (vinte mil)
metros quadrados (SÃO PAULO, 1985). O documento técnico para criar a área
de interesse especial da Serra do Itapeti utilizou o princípio de superquadras
como uma garantia maior para sua preservação. Com o agrupamento dos lotes,
o sistema viário foi consideravelmente reduzido, com significativa diminuição
das superfícies impermeabilizadas e menor erosão e desmatamento, o que
garante a preservação da Serra do Itapeti devido à manutenção de áreas
maiores com cobertura vegetal (SÃO PAULO, 1982a).
O Plano de Preservação e Aproveitamento foi concluído de 1982. Pouco
tempo depois, em 1985, foi editada a Lei Estadual 4.529, que dispõe sobre o
uso e ocupação do solo na região da Serra do Itapeti, com vistas à sua proteção
e à melhoria da qualidade do meio ambiente na RMSP (SÃO PAULO, 1985). O
próprio anteprojeto que embasou a Lei 4.529/1985 trouxe em seu bojo que,
embora São Paulo seja a mais importante metrópole do país e a que mais sofre
os efeitos da enorme aglomeração de pessoas, existem poucos remanescentes
de vegetação nativa a serem preservados com vistas à melhoria da qualidade
116

de vida e bem-estar de seus habitantes; e destaca que a proteção da Serra do


Itapeti proporciona benefícios para a RMSP (SÃO PAULO, 1982b).
Os objetivos da referida lei sobre uso e ocupação desse território são: i)
contribuir para o bem-estar humano da população da metrópole mediante a
proteção de vegetação nativa localizada próximo às áreas urbanizadas; ii)
favorecer seu equilíbrio ecológico, especialmente pela proteção do solo, da
fauna, da flora, das nascentes, dos atributos da paisagem, e promover a
recuperação em áreas específicas; iii) proteger o ambiente por meio da
restrição ao parcelamento do solo, com ações para o controle da densidade
demográfica, a preservação da permeabilidade do solo e a manutenção das
reservas florestais; iv) estabelecer padrões e critérios para orientar o
licenciamento e o controle de uso e de ocupação do seu território (SÃO PAULO,
1985, art. 2º).
A edição do disciplinamento sobre uso das terras na Serra do Itapeti em
1985 foi convergente com o Código Florestal de 1965, que considerou as
florestas e demais formas de vegetação natural situadas em áreas
metropolitanas como de preservação permanente, com o objetivo de impedir
sua derrubada. A Lei sobre a Serra do Itapeti também foi convergente com a
Lei Federal 6.902/1981, que autorizava a criação de determinadas áreas de
interesse para a proteção ambiental, com o objetivo de assegurar o bem-estar
das pessoas e a conservação ou melhoria das condições ecológicas locais
(BRASIL, 1965; 1981; SÃO PAULO, 1982a; 1982b; 1985).
Naquele momento, a salvaguarda desse esforço pioneiro de proteção
da vegetação nativa na RMSP, por meio da proteção à paisagem como um todo,
ganhou um novo status protetivo com a Constituição da República de 1988,
que reconheceu a Mata Atlântica como patrimônio nacional e determinou que
seu uso ocorra em condições que assegurem a sua preservação (BRASIL, 1988).
Em 2006, a defesa desse patrimônio natural remanescente foi
instrumentalizada pela Lei da Mata Atlântica, que definiu a proteção e as
formas de uso incidentes no bioma, com base nos objetivos de
desenvolvimento sustentável, proteção da biodiversidade, da saúde humana,
dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da
estabilidade social (BRASIL, 2006, art. 6º).
Em 2012, o Código Florestal de 1965 foi substituído pela chamada Lei
de Florestas, Lei 12.561/2012 (modificada pela Lei 12.727/2012) (BRASIL 1965;
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 117

2012a; 2012b). Seu alcance para a proteção dos remanescentes estudados foi
direto, visto a importância da região da Serra do Itapeti para a produção
hídrica, com suas águas vertendo para a bacia hidrográfica do Alto Tietê e para
a bacia hidrográfica do Paraíba do Sul, e seu histórico uso como manancial de
abastecimento pelo município de Mogi das Cruzes até os anos de 1950.
Na esteira da Lei de Florestas, a Serra do Itapeti tem suas áreas de
preservação permanente (APPs) delimitadas nas faixas marginais de sua ampla
rede hidrográfica; nos topos de seus morros, montes e serras com altura
mínima de 100 metros e inclinação maior que 25o, em suas encostas com
declividade superior a 45o, nas áreas de entorno de seus reservatórios e
nascentes, nas bordas de seus tabuleiros ou chapadas (BRASIL, 2012a; 2012b).
Em decorrência do interesse prioritário para a preservação de suas
águas, as APPs da Serra do Itapeti se constituem em áreas de preservação
exclusiva, sem a possibilidade de outros usos, tais como atividades
agropecuárias, extração florestal ou uso recreativo (MACHADO, 2013). A
análise da paisagem para a Serra do Itapeti mostra a presença de importantes
formações da Mata Atlântica em estágios primários ou secundários, que
recobrem 61% do território. Ainda em conformidade com a Lei de Florestas, os
proprietários locais devem manter 20% da propriedade com uma área com
cobertura de vegetação nativa, designada como Reserva Legal (RL). Essas áreas
têm como principais funções assegurar o uso econômico sustentável dos
recursos naturais da propriedade, contribuir com a conservação e a
recuperação dos processos ecológicos, promover a conservação da
biodiversidade e prover abrigo e proteção para a fauna e flora nativa (BRASIL,
2012a, art. 3º, inc. III).
A instituição de medidas de apoio e de incentivo à conservação
ambiental, assim como a adoção de boas práticas para a conciliação entre
produtividade agrícola e conservação ambiental, também se configura como
importante dispositivo trazido pela Lei de Florestas, com vistas à redução de
impactos ambientais para promover o desenvolvimento sustentável. Essas
medidas incluem: i) o pagamento ou incentivo a serviços ambientais; ii) a
compensação pelas ações de conservação ambiental; e iii) os incentivos para a
comercialização, a inovação e a aceleração de ações de recuperação, de
conservação e de uso sustentável da vegetação nativa (MACHADO, 2013;
BRASIL; 2012a).
118

Com cerca de 3.300 ha de remanescentes da Mata Atlântica, a Serra do


Itapeti é prioritária para a conservação. Como tal, foi declarada área de
interesse especial com padrões e critérios estabelecidos para seu uso e
ocupação (SÃO PAULO, 1985), integra o zoneamento da RBCV como zona
núcleo (RODRIGUES et al., 2020) e figura como área prioritária para
conservação da biodiversidade (FAPESP, 2008).
Seus ecossistemas proporcionam benefícios essenciais à qualidade de
vida e ao bem-estar humano, em escala local, regional e global, beneficiando
diretamente a população da metrópole paulista. Por meio do disciplinamento
do uso e ocupação do espaço em áreas ambientalmente sensíveis, que
necessitam de padrões urbanísticos mais restritivos, sua declaração como área
de interesse especial representou um grande esforço com vistas à conservação
e melhoria do meio ambiente em uma das maiores regiões metropolitanas do
mundo (SÃO PAULO, 1982a; UNITED NATIONS, 2019).
Com a Lei de uso e ocupação do solo na região da Serra do Itapeti, foi
proibida a supressão de vegetação natural, exceto para cobertura de campos
antrópicos e estritamente indispensável à realização de obras, edificações e
usos autorizados (SÃO PAULO, 1985, art. 11). Para o alcance de seus objetivos,
o ordenamento territorial definido pela Lei 4.529/1985 subdividiu a Serra do
Itapeti em dois tipos de zonas: duas zonas de preservação ecológica (ZPE) e
duas zonas de proteção ambiental (ZPA) (Tabela 2 e Figura 4).
.
Tabela 2. Características gerais do zoneamento da Serra do Itapeti estabelecido pela Lei
4.529/1985
Parcelamento Nº de Área
Zonas estabelecidas Subdivisões Definição
do solo glebas (ha)
Preservação ecológica ZPE I Reserva florestal Proibido 1 1.480

Preservação ecológica ZPE II Matas naturais Proibido 4 1.616


contíguas de
grande extensão

Proteção ambiental ZPA I Urbanização Proibido lote 2 3.326


restrita de baixa menor que 20
densidade mil m²

Proteção ambiental ZPA II Urbanização Proibido lote 3 1.326


restrita de média menor que 5
densidade mil m²

Área total 5.713


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 119

Fonte: Elaboração própria, com base em São Paulo (1985).

Para o estabelecimento das normas sobre parcelamento do solo, foram


realizados estudos sobre as condições ambientais da paisagem, como relevo,
hidrografia, vegetação e solo, em cada uma das zonas (SÃO PAULO, 1982a). A
Lei 4.529/1985 não teve por objetivo vedar totalmente o uso da região, mas
disciplinar a sua utilização em função dos atributos especiais do seu relevo,
flora e belezas naturais, e das características da ocupação existente na região
(Figura 4). Para cada zona, foram expressamente determinados os usos
permitidos e a dimensão da área construída, ocupada, impermeabilizada e da
área de permeabilização alterável (tendo em conta que a impermeabilização
em porção contínua não pode exceder a 1.000 m²).

Figura 4. Zoneamento estabelecido na Serra do Itapeti pela Lei 4.529/1985

Fonte: Elaboração própria, a partir de Fundação Florestal (2013).

A vedação de uso, todavia, é explícita para implantação de obras e de


edificações nas áreas que apresentem: i) matas ou capoeiras; ii) declividade
maior que 40%; iii) nascentes localizadas no interior de uma circunferência em
um raio de 25 metros a partir do seu afloramento; iv) faixas de 15 metros de
cada lado das águas correntes e dormentes; e v) blocos rochosos (matacões) e
respectivas vertentes interiores adjacentes. Com o mesmo objetivo foi proibida
120

a supressão total ou parcial de mata e demais formas de vegetação natural


(capoeirões e capoeiras), salvo a remoção de cobertura vegetal de campos
antrópicos absolutamente necessária para obras, edificações e usos
autorizados (SÃO PAULO, 1985, arts. 10, 11).
Além de disciplinar os usos permitidos e proibidos na Serra do Itapeti, a
Lei 4.529/1985 também se mostrou avançada pela determinação de
repovoamento vegetal para fins de obtenção da licença de uso das obras e
edificações na área de terreno não impermeabilizada. Suas diretrizes definiram
critérios para o repovoamento, como dimensão, forma de realização do
plantio, espécies a serem utilizadas e aproveitamento das camadas férteis do
solo.
O índice de repovoamento vegetal mínimo para cada classe de área
impermeabilizada é crescente em função da ampliação da área impermeável.
Foi definido o mínimo de 250 m2 de repovoamento vegetal para área
impermeabilizada de 1 a 250 m2, chegando a 15.000 m2 de repovoamento para
área impermeabilizada entre 6.001 e 7.500 m2. Para áreas acima de 7.500 m2
de impermeabilização, foi determinado que o repovoamento ocorra em
superfície que corresponda ao triplo daquela impermeabilizada que exceder
aos 7.500 m2 – acrescido de 15 mil m2 correspondentes à área
impermeabilizada não excedentes aos primeiros 7.500 m2 (SÃO PAULO, 1985,
arts. 12-15).
O sistema viário não pode ultrapassar 10% da superfície total da gleba
a ser loteada, com previsão de sanções para o caso de descumprimento da
legislação (advertência, embargo, multa, demolição e interdição da obra,
suspensão da atividade, entre outros (SÃO PAULO, 1985, art. 15).
As diretrizes para uso e ocupação do espaço na região da Serra do
Itapeti, além de inovadoras para a década de 1980, configuram-se como
exceção ao padrão urbanístico vigente. Em geral, o planejamento urbano
apenas ocasionalmente considera os ecossistemas dentro e no entorno das
cidades, com impactos significativos especialmente pela perda de diversidade
e composição mais homogênea de espécies. As cidades apresentam diferentes
padrões de expansão que determinam distintas maneiras como os
ecossistemas são suprimidos ou fragmentados (McDONALD et al., 2018). Ainda
assim, apesar da devastação generalizada ocorrida no bioma Mata Atlântica
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 121

como um todo e, em especial, na RMSP, a Serra do Itapeti sobreviveu há mais


de quatrocentos anos de depredação.

Projeção da expansão urbana para a área de influência na Serra do Itapeti e


sua importância para a RMSP

Em uma análise histórica e considerando as tendências futuras de


desenvolvimento, este será lembrado pelas futuras gerações como o século
urbano. Em 1950, 30% dos habitantes do planeta viviam em cidades (751
milhões de pessoas); em 2018, 55% (4,8 bilhões de pessoas). Cenários apontam
que até 2050 haverá um acréscimo de 2,4 bilhões de pessoas em áreas
urbanas, o que equivale, em termos populacionais, a uma nova Londres a cada
sete semanas. Entre 1992 e 2000 a urbanização foi responsável pela perda de
190.000 km² dos habitats naturais do globo, equivalente a 16% do que foi
suprimido no período. Mantidas as taxas atuais de crescimento urbano, esse
número pode chegar a 290.000 km² em 2030, com especial prejuízo às florestas
úmidas. Os países que mais perderão ecossistemas nativos por urbanização
(>10.000 km²) na próxima década serão Estados Unidos, Brasil, Nigéria e China
(McDONALD et al., 2018; UNITED NATIONS, 2019).
A urbanização entre os anos de 2018 e 2030 poderá destruir uma
extensão de habitats naturais que armazenam 1,19 bilhão de toneladas de
carbono, equivalente à emissão anual de 931 milhões de veículos. Esse
processo se dará principalmente nos Estados Unidos, Brasil e Nigéria. Em uma
consideração das cidades como beneficiárias e, ao mesmo tempo, depositárias
da biodiversidade mais valiosa do mundo, foram identificadas 33 entre 442
cidades com mais de 300 mil habitantes que vivem em conflito com a
biodiversidade nos hotspots mundiais de biodiversidade (os chamados
hotspots cities). Essas 33 cidades selecionadas são as mais populosas e com
maior crescimento populacional entre os 36 hotspots biológicos reconhecidos;
para cada uma dessas cidades foi feita uma estimativa de expansão urbana
para o ano de 2030, ressaltando-se os potenciais pontos de conflito entre o
crescimento urbano e a biodiversidade (WELLER et al., 2017).
Entre os hotspots cities destaca-se a cidade de São Paulo. Na tendência
de expansão urbana para a região que integra a RBCV, observa-se grande
pressão e supressão de ecossistemas nativos nas franjas da área urbanizada da
122

RMSP e Baixada Santista, em áreas de mananciais, unidades de conservação e


vegetação de forma geral, que abrigam importante biodiversidade e proveem
significativos serviços ecossistêmicos às populações metropolitanas (Figura 5).

Figura 5. Tendências de expansão urbana em áreas da RBCV em 2030 e potenciais conflitos para
a biodiversidade

Fonte: Weller et al. (2007).

O impacto do crescimento urbano sobre áreas protegidas tende a se


tornar um problema ambiental global cada vez mais importante. Em 2030, 40%
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 123

das unidades de conservação de proteção integral do planeta estarão a um raio


de 50 km de uma área urbana, potencializando os impactos negativos da
urbanização sobre essas áreas (McDONALD et al., 2018; UNITED NATIONS,
2019).
Os processos de crescimento urbano (crescimento das cidades em área
ou população) e urbanização (processo pelo qual uma fração maior da
população vive em cidades) estão conectados com processos ecológicos e
biofísicos. Embora as áreas urbanizadas ocupem apenas uma pequena porção
da superfície do planeta (1%), sua contribuição para os impactos
antropogênicos na biosfera é imensa. As cidades se apropriam de vastas áreas
de ecossistemas funcionais para seu consumo e deposição de resíduos. A maior
parte dos serviços ecossistêmicos consumidos em cidades são gerados por
ecossistemas fora das cidades, muitas vezes em outras partes do mundo (MEA,
2005; GÓMEZ-BAGGETHUN et al., 2013; McDONALD et al., 2018).
Em uma análise do contexto regional no qual se insere a Serra do Itapeti,
foi realizada a espacialização de indicadores de tendência de urbanização, a
partir do mapeamento de uso e cobertura das terras em um raio de 10 km. A
base de dados para esse recorte foi dada pela Emplasa (2007), sendo realizado
o agrupamento de categorias de uso na área de influência do território para os
indicadores: i) área completamente urbanizada; ii) área de possível uso com a
expansão/adensamento urbano; e iii) área de sustentação e de apoio ao uso
urbano (Tabela 3).
Para o ano de 2007, a área completamente urbanizada neste raio de 10
km no entorno da Serra do Itapeti representava 8%, enquanto os usos relativos
à mineração, movimento de terra, loteamento desocupado, chácara e outros
usos – que apresentam maior tendência de urbanização futura –
correspondiam a 9%, proporção um pouco superior à área urbanizada. Classes
de sustentação do uso urbano representavam 83% do território, com destaque
para mata e campo que totalizaram 46,5% nesta área de influência.
A contextualização da Serra do Itapeti na RMSP evidencia sua
importância em termos de serviços ecossistêmicos e proteção à
biodiversidade, sendo notório seu papel enquanto área de sustentação e de
apoio ao serviço urbano para a metrópole. O comprometimento dos sistemas
de sustentação à vida se torna mais acentuado à medida que a urbanização se
projeta em direção às mesmas áreas fornecedoras de água e alimento, e
124

responsáveis pela amenização do clima e fixação do carbono em superfície


(Figura 6).

Tabela 3. Indicadores de sustentação para a área de influência da Serra do Itapeti


Indicador Classificação Área (ha) %
Área urbanizada 6.686 5,752
Equipamento urbano 915 0,787
Favela 185 0,157
Área completamente urbanizada
Indústria 1.075 0,925
(8,3%)
Lixão 1 0,001
Aterro sanitário 1 0,001
Rodovia 274 0,235
Mineração 991 0,853
Área de possível uso com a Movimentação de terra 1.253 1,078
expansão e adensamento urbanos Loteamento desocupado 308 0,265
(8,0%) Chácara 7.595 6,533
Outros usos 80 0,069
Mata 28.806 24,780
Capoeira 11.832 10,178
Área de sustentação e apoio ao Campo 25.318 21,780
uso urbano Vegetação de várzea 3.632 3,125
83,6% Hortifrutigranjeiros 11.274 9,698
Reflorestamento 13.389 11,517
Espelho d’água 2.635 2,266
TOTAL 116.250 100
Fonte: Elaboração própria, com base em Emplasa (2007).

Para melhor entendimento de como as cidades se relacionam com


manutenção de biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, é importante ter
em mente que as áreas urbanas, em uma visão multiescalar, ao mesmo tempo
abrigam ecossistemas e se configuram elas mesmas como ecossistemas,
especialmente quando se tem um olhar mais amplo que abrange a transição
das áreas mais adensadas para as zonas periurbanas (MEA, 2005).
Os chamados ecossistemas urbanos abarcam tanto a infraestrutura
construída quanto a infraestrutura ecológica, aqui entendida como o papel da
água e vegetação, dentro e próximas às áreas construídas, em áreas urbanas
(árvores, quintais, loteamentos) ou periurbanas (lagos, florestas), no
fornecimento de serviços ecossistêmicos em diferentes escalas espaciais
(residência, rua, bairro, região).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 125

Figura 6. Espacialização de área completamente urbanizada, tendência de expansão urbana e


área de suporte à urbanização, com destaque para a Serra do Itapeti e sua zona de influência

Fonte: Elaboração própria, com base em Emplasa (2007).

Como a definição de limites desses ecossistemas urbanos é geralmente


difícil, o escopo apropriado de análise do ecossistema urbano avança para as
áreas adjacentes que guardam relações de fluxos de matéria e energia com o
núcleo urbano e suburbano, e incluem florestas periurbanas, bacias
hidrográficas e áreas cultivadas (GÓMEZ-BAGGETHUN et al., 2013).
Para o contexto da RBCV, notadamente para a metrópole paulista, a
análise da relação entre área urbanizada, tendência de urbanização e área de
suporte (Figura 6) evidencia o papel desses ecossistemas de sustentação para
uma população que, na RMSP, totaliza mais de 21 milhões de pessoas em 2020.
Nesse cenário regional, chama a atenção a expressividade da Serra do Itapeti
visto que, na região, existem apenas mais quatro fragmentos florestais com
mais de 5 mil ha – que correspondem aos Parques Estaduais da Cantareira, do
Itapetinga, Itaberaba, Monumento Natural da Pedra Grande e fragmento
florestal na Serra da Mantiqueira (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013).
126

Desde a edição da Lei 4.529/1985 foram 35 anos cuja dinâmica urbana


se expressa no território da RBCV, em especial ao se considerar a população e
densidade demográfica para a cidade de São Paulo e para a sua região
metropolitana – quase metade da população de todo o Estado está
concentrada em 3% do território paulista (Tabela 4).

Tabela 4. Indicadores de expansão urbana para a cidade de São Paulo, sua região metropolitana e
a RBCV, em 1985 e 2020
Densidade demográfica (hab/km2) População
Localidade
1985 2020 1985 2020
SP (cidade) 5.912,21 7.803,29 9.004.231 11.869.660
RMSP 1.732,76 2.659,91 13.764.740 21.138.247
RBCV 706,901 1.410 16.228.6431 26.198.530
SP (Estado) 111,66 179,84 27.715.306 44.639.899
Fonte: Elaboração própria. Com base em Fundação SEADE (2020). 1Os dados de Alumínio,
Araçariguama, Bertioga, São Lourenço da Serra, Tuiuti e Vargem são relativos ao ano de 1995.

A RMSP experimentou um intenso processo de urbanização entre o


período de 1985 e 2020, com um aumento de 53% em sua população. Em 1985,
os estudos que subsidiaram o ordenamento legal sobre o uso e ocupação do
solo na região da Serra do Itapeti já indicavam que haviam poucos
remanescentes de vegetação nativa na RMSP a serem preservados para a
melhoria da qualidade de vida de sua população. O Plano Metropolitano de
Desenvolvimento Integrado de 1970 localizava a Serra do Itapeti entre os eixos
de expansão leste e nordeste do aglomerado metropolitano, e sugeria
providências para a sua proteção devido às suas características naturais,
proximidade com as manchas urbanas e com os eixos de expansão
metropolitana (SÃO PAULO, 1982b).
Após três décadas de vigência do disciplinamento do uso e ocupação do
solo na Serra do Itapeti, para avaliar a sua efetividade, procurou-se estabelecer
um comparativo da vegetação existente no início dos anos de 1980 com sua
condição estabelecida em 2013, com discussão complementar sobre medidas
estaduais de proteção à área que posteriormente foram editadas.
Para tanto, as categorias vegetais definidas no anteprojeto de Lei (SÃO
PAULO, 1982a; 1982b) foram correlacionadas com as classes de uso do solo
mapeadas pela Emplasa (2007) e com os dados do mapeamento da vegetação
nativa do Estado de São Paulo (INSTITUTO FLORESTAL, 2010). O Quadro 1
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 127

apresenta as correlações estabelecidas entre as categorias e que possibilitaram


a análise, enquanto o Quadro 1 mostra o comparativo entre esses dois
períodos históricos.

Quadro 1. Convergência entre categorias vegetais de dois períodos (1982 e 2020)


Categorias vegetais Definição (1982) Correspondente (2010)
Matas ciliares Cobertura vegetal de porte disposta Vegetação de Várzea
às margens dos cursos d’água.
Reflorestamentos Reflorestamento Reflorestamento

Campos antrópicos Cobertura vegetal herbácea Chácara, equipamento


secundária, correspondendo a uma urbano,
associação substitutiva da original hortifrutigranjeiro,
(mata ou campo), destruída por ação movimento de solo
do homem. exposto, mineração

Capoeirões Cobertura vegetal secundária, Capoeira


correspondendo a reconstituição de
mata primária derrubada. Apresenta
espécies diferentes da mata e
formação menos densa e alta.

Matas de Primeira Cobertura vegetal original, ou Mata


categoria
primária, formada por associações
arbóreas e arbustivas dispostas em
andares
Capoeiras Cobertura vegetal secundária, Campo
correspondente a estágio inicial ou
degradado de formação do capoeirão.
Apresenta formação menos densa e
alta que o mesmo.
Fonte: Elaboração própria. Com base em São Paulo (1982a; 1982b); Emplasa (2007); Instituto
Florestal (2010).

Na década de 1980, quando foram realizados os estudos para


proposição de estratégias de ordenamento territorial, a presença de
importantes formações florestais foi a maior expressão para a proteção
ambiental da região da Serra de Itapeti. Naquele momento, mais da metade do
território estava coberto de matas designadas de primeira qualidade em
conjunto com capoeirões – estágio mais desenvolvido da heterogeneidade
florestal, antes de assumir a condição de primeira categoria. Destacava-se
também a presença de grandes reflorestamentos que, embora não
128

constituíssem um equilíbrio ecológico ideal, configuravam-se como fatores


atenuantes (SÃO PAULO, 1982a).

Figura 7. Distribuição aproximada das categorias vegetais na Serra do Itapeti, em 1982 e 2010

Fonte: Elaboração própria. Com base em São Paulo (1982a); EMPLASA (2007); Instituto Florestal
(2010).

De acordo com os estudos realizados, havia a ocorrência, em menor


proporção, de capoeiras e campos antrópicos. Resultado da degradação do
passado, essas classes vegetais eram consideradas pobres em termos de
biodiversidade e representavam o ponto de reflexão quanto à preservação: se
por um lado as áreas degradadas sugerem uma ameaça ao que resta de
significativo do ponto de vista da cobertura vegetal, por outro induz a uma
atitude preservacionista, no sentido de possibilitar sua recuperação e ampliar
a riqueza da flora (SÃO PAULO, 1982a).
O diagnóstico realizado na década de 1980 para subsidiar a proteção da
região da Serra do Itapeti ressalta que o mapa da vegetação mostra a realidade
em um dado momento, e que esta situação sempre é alterada ao longo do
tempo. Como a mudança pode ser para melhor ou para pior a partir das
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 129

políticas adotadas, era de se esperar que capoeiras e campo antrópicos


cedessem lugar a uma vegetação mais rica à medida que o próprio homem
fosse ocupando a Serra de forma mais racional e convergente com a proteção
do ambiente (SÃO PAULO, 1982a).
Assim, passadas quase três décadas entre os dois períodos estudados
(Figura 7), o uso antrópico caiu de 18% para 8% da área. Por outro lado, as
áreas mais conservadas de vegetação (mata de primeira categoria e
capoeirões) passaram de 42% para 61%. Esses resultados evidenciam a eficácia
da lei de ordenamento territorial implantada na Serra do Itapeti em 1985, que
logrou a melhoria das suas condições naturais e recuperação de áreas que
estavam degradadas.

Do ordenamento territorial ao estabelecimento de figuras específicas de


tutela ambiental

A RMSP passou por um intenso processo de expansão urbana e de perda


de seus ecossistemas naturais, todavia, não fossem as iniciativas empreendidas
em meados do século XX para a proteção do patrimônio ambiental da Serra do
Itapeti, o comprometimento local e da metrópole seria bem mais intenso.
Naquele tempo, destacou-se o estabelecimento de um conjunto de grandes
áreas naturais tombadas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT),
incluindo Serra do Mar, Serra do Japi, Serra da Cantareira e a Serra do Itapeti,
que tiveram restrições impostas à intensa degradação ambiental que havia no
estado (FURLAN, 2018).
A edição da lei de ordenamento territorial da Serra do Itapeti ocorreu
em 1985, mesmo ano do tombamento da Serra do Mar e da Serra de
Paranapiacaba. A proteção da paisagem por essas medidas de tombamento
refletiu uma postura arrojada e desafiadora à época, justamente por se colocar
como uma contraposição à degradação do patrimônio natural do Estado.
Todavia, com o desenvolvimento ao longo dos anos de legislações ambientais
que protegem atributos determinados, a paisagem enquanto espaço foi
preterida como objetivo de preservação, e sua proteção não alcançou a mesma
importância das categorias estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza (SNUC) (BRASIL, 2000; FURLAN, 2018).
130

Assim, para se constituírem em unidades de conservação, as áreas


protegidas devem ser instituídas pelo poder público, com vistas à proteção de
sua fauna e flora, dos recursos hídricos, do solo, das paisagens e dos processos
ecológicos pertinentes aos ecossistemas naturais, bem como para a proteção
do patrimônio associado às manifestações culturais (BRASIL, 2000).
Para a modernização e a efetividade da gestão das áreas protegidas que
abriga, o SNUC definiu uma série de diretrizes e criou dois grupos de unidades
de conservação. O primeiro, engloba as unidades de proteção integral, que
visam a preservar a natureza em áreas com pouca ou nenhuma ação humana,
onde somente é admitida a utilização indireta dos seus recursos naturais. O
segundo grupo agrega as unidades de conservação de uso sustentável, que
associam a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus
recursos naturais, mantendo a biodiversidade e os atributos ecossistêmicos
(BRASIL, 2000; 2002).
Embora a Serra do Itapeti abarcasse em seu território três unidades de
conservação – Estação Ecológica do Itapeti, Parque Natural Municipal Francisco
Affonso de Mello e Reserva Particular do Patrimônio Natural Botujuru, juntas,
essas três unidades somavam apenas 868,3 ha de áreas protegidas como
unidade de conservação (SÃO PAULO, 1987; 2014; MOGI DAS CRUZES, 2008).
Assim, ao se considerar que a Lei 4.529/1985 dispõe sobre o uso e ocupação
do solo na região da Serra do Itapeti, mas não cria uma instância de gestão
territorial, menos de 20% da área da Serra do Itapeti dispunha de uma tutela
ambiental específica.
Em razão de sua importância e considerando o seu elevado grau de
vulnerabilidade, em 2013 o Estado de São Paulo iniciou um processo para
criação de unidades de conservação na Serra do Itapeti, com consolidação de
estudos técnicos, realização de audiências públicas e envolvimento da
sociedade civil e das municipalidades de Guararema, Mogi das Cruzes e Suzano
(FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013) (Quadro 2).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 131

Quadro 2. Síntese da importância para a conservação e ameaças para os componentes geologia,


geomorfologia e pedologia; recursos hídricos, mamíferos e aves para a Serra do Itapeti
Componente Importância para a conservação Pressões e ameaças
Localizada no Planalto de Alto nível de fragilidade do
Paraitinga/Paraibuna; apresenta relevo, sujeito a processos
densidade de drenagem média a erosivos agressivos e de
alta, com variação de padrão movimentos de massa, em
dentrítico à treliça conforme o especial em área desprovida de
condicionamento estrutural cobertura vegetal. Presença de
Geologia,
regional, altimetrias entre 800 m e estradas que dinamizam
geomorfologia
1.200 m, predomínio de até 1.000 processos erosivos lineares e de
e pedologia
m, declividade entre 20 a 40%. pastagens e áreas com vegetação
Formas de relevo correspondem ao rasteira que deixam o solo
conjunto de morros convexos e desprotegido e intensificam o
aguçados, vales entalhados e escoamento superficial.
pequena dimensão interfluvial Processos erosivos provocam
(entre 250 e 750 m). assoreamento em cursos d’água.
Localização do divisor de águas Captação de água sem outorga.
delimitado localmente pela linha de Loteamentos irregulares.
cumeada da Serra do Itapeti entre Lançamento de efluentes sem
as bacias hidrográficas do rio Tietê tratamento. Mineração.
e do Paraíba do Sul. Formação e/ou Reflorestamento com espécies
Recursos passagem de cursos hídricos na exóticas sem manejo adequado.
hídricos maior parte de suas vertentes. Solo exposto. Trilhas sem
Abriga ao menos 150 nascentes ou controle de acesso e turismo
olhos d’água. A região é desordenado. Retirada de
responsável por produção hídrica vegetação nativa. Aumento na
que abastece parte da metrópole região da população e da
paulista. demanda por água.
Diversidade de espécies de Perda de habitat original e
mamíferos - médio/grande porte e substituição por diversas
de morcegos (relevância da área culturas. Especulação imobiliária.
em nível estadual e para a MA). Turismo desordenado. Presença
Presença de espécies endêmicas da de espécies exóticas da fauna
Mamíferos
MA e ameaçadas. Indícios de com potencial de transmissão de
integridade ambiental relacionada doenças, de predação e de
à presença de carnívoros. Presença hibridação com espécies nativas.
de predador de topo de cadeia em Ocorrência de caça. Uso de fogo
condições de reprodução. em plantações.
Baixa similaridade entre espécies e Perda de habitat original.
muitas espécies exclusivas. Alta Fragmentação florestal que
diversidade de espécies e presença restringe a presença de espécies
Aves de espécies endêmicas e mais sensíveis. Fragmentos
ameaçadas. Configuração como isolados afetam o fluxo entre
corredor ecológico (Serras da populações. Caça e coleta de
Cantareira e Mantiqueira). espécies de aves.
Fonte: Elaboração própria, com base em Fundação Florestal (2013).
132

Como resultado deste processo, a Área de Proteção Ambiental (APA)


Serra do Itapeti foi criada em novembro de 2018, com 5.138,49 ha, inserida em
região de floresta de Mata Atlântica e de campos úmidos, abrangendo os
municípios de Guararema, Mogi das Cruzes e Suzano (SÃO PAULO, 2018).
A unidade de conservação apresenta cobertura vegetal de Floresta
Ombrófila Densa Montana (nas faixas altitudinais dos 500 até 1.500 m, em
latitude de 23o); floresta ombrófila densa montana de mata baixa
(caracterizada por ilhas de solo, zonas de plantas herbáceas e arbustos
predominantes na borda das matas com indivíduos baixos e copas pequenas);
e floresta ombrófila densa montana aluvial (também designada como floresta
ciliar, situada ao longo dos cursos d’água) (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2013). A
APA Serra do Itapeti apresenta espécies de pequeno porte (como o lírio do
brejo) e dosséis formados por árvores de até 25 metros de altura (como o
jequitibá-branco e cedro-rosa), cuja caracterização da cobertura florestal
engloba Floresta. A unidade de conservação abriga cerca de 1.700 espécies de
animais vertebrados, sendo 700 espécies endêmicas (que só existem em
ambientes específicos) e espécies consideradas vulneráveis (incluindo a catita,
a onça-parda, a jaguatirica, o gato-do-mato, o veado-mateiro e o sagui-da-
serra-escuro) (SÃO PAULO, 2020).
Com mais de 5 mil ha, a APA Serra do Itapeti tem como objetivo a
conservação dos serviços ecossistêmicos, especialmente a produção hídrica, a
proteção da paisagem, de espécies raras da fauna e da flora e de
remanescentes da mata atlântica, além de promover a educação ambiental e
incentivar as pesquisas científicas na área (SÃO PAULO, 2018). Após mais de
três décadas, a região da Serra do Itapeti como um todo alcançou uma tutela
ambiental específica para sua proteção. A gestão da APA ficou a cargo da
Fundação Florestal e conta com um conselho gestor, de caráter consultivo e
um plano de manejo, que define seu zoneamento e programas de gestão
(BRASIL, 2000; 2002; SÃO PAULO, 2018).
A criação de uma unidade de conservação de uso sustentável
abrangendo todo o perímetro definido pela Lei 4.529/1985 representa um
marco para a gestão ambiental da região ao proteger de forma definitiva a
paisagem e seus atributos, garantia à sua preservação e à continuidade dos
serviços ecossistêmicos que proporciona.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 133

O estabelecimento da APA conforma um importante mosaico de


unidades de conservação na Serra do Itapeti que, a partir de uma gestão
integrada e participativa, considerando os distintos objetivos de conservação e
manejo de cada unidade, promove uma ação protetiva sinérgica. A gestão
conjunta das unidades de conservação inseridas na Serra do Itapeti, em
associação com a permanente implementação da Lei 4.529/1985, que trata do
uso e ocupação do solo na região, logrará a continuidade do fornecimento dos
benefícios fornecidos pelos ecossistemas de um dos maiores e mais
importantes fragmentos de vegetação natural da metrópole paulista.

CONCLUSÃO

O crescimento da RMSP é um testemunho vivo do processo de


modificação da paisagem natural, uma vez que permite acompanhar em uma
escala temporal recente o avanço da mancha urbana consolidada em direção
ao seu cinturão verde, estabelecido como reserva da biosfera. O processo de
fragmentação que ocorre na região, principalmente em virtude da expansão
urbana, fragiliza a conservação da fauna e da flora e compromete o
fornecimento de serviços ecossistêmicos que beneficiam a própria metrópole
paulista.
Situada em um cenário de forte crescimento populacional e pressão
urbana, a Serra do Itapeti resistiu a mais de quatrocentos anos de exploração
e de uso predatório do espaço na RMSP, e abriga significativos remanescentes
de vegetação nativa que ocupam 61% de sua cobertura. Com o avanço de
processos de desenvolvimento sobre o território no entorno da cidade de São
Paulo, a partir de 1930 foram editadas medidas legais para a proteção de
determinados benefícios ambientais proporcionados pelos ecossistemas da
Serra do Itapeti, como a produção de água.
Entre 1950 e 1980, com a intensificação dos processos de degradação
ambiental e desastres ambientais, a sociedade se organizou na luta pela
proteção ambiental, o que promoveu as condições necessárias para iniciativas
públicas de proteção de grandes espaços, como a Serra do Itapeti,
instrumentalizada por meio de uma lei específica para uso e ocupação da
região, editada em 1985. Ainda que a referida normativa não se configure
como uma figura de tutela ambiental, o comparativo do mapeamento do uso
134

e da ocupação desse espaço, realizado em dois momentos, evidenciou a


eficácia da normativa: os ecossistemas da Serra do Itapeti experimentaram
significativo processo de regeneração natural ao longo de três décadas – o uso
antrópico diminuiu em 55%, ao passo que as áreas mais conservadas tiveram
um acréscimo de 45%. Esses dois fenômenos refutam a hipótese de que seus
ecossistemas teriam sistematicamente perdido território no decorrer do
tempo.
Em que pese a melhoria da qualidade ambiental promovida pela Lei
4.529/1985, que dispõe sobre o uso e ocupação do solo, somente em 2018
(depois de quase 35 anos), a região da Serra do Itapeti como um todo foi
reconhecida como unidade de conservação, na categoria Área de Proteção
Ambiental, tendo como primeiro objetivo a conservação dos serviços
ecossistêmicos, especialmente a produção hídrica, e a garantia das suas
características físicas, naturais e paisagísticas.
Os fragmentos florestais da Serra de Itapeti, enquanto zona núcleo da
RBCV, assumem grande importância na efetiva qualidade dos serviços
ecossistêmicos que essas matas circundantes da grande mancha urbana
propiciam para a população residente nos municípios do entorno da Serra do
Itapeti e para a metrópole paulista.

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 135

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138
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 139

Capítulo 6

ISÓTOPOS ESTÁVEIS COMO FERRAMENTA DE


MONITORAMENTO AMBIENTAL EM CIDADES20

Karina Gonçalves da Silba21


Maurício Lamano Ferreira 22
Plínio Barbosa de Camargo23

INTRODUÇÃO

O século XX foi marcado por rápido crescimento das cidades brasileiras,


as quais tiveram grande interesse voltado para o capital e pouca atenção para
o setor ambiental, principalmente para aspectos que envolvem a conservação
da biodiversidade e processos envolvendo o metabolismo urbano (DJIST et al.,
2018).
Este movimento de precária atenção ao desenvolvimento ambiental foi
agravado pela alta taxa migratória de pessoas que saíram do ambiente rural,
com ineficientes estruturas de trabalho e geração de renda, e procuraram as
médias e grandes cidades em busca de melhores condições de vida. Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), aproximadamente
85% da população brasileira vivem atualmente em cidades e apenas em torno
de 15% habitam zonas rurais. Nesse cenário, a Região Sudeste é a que detém a
maior parte dos moradores de áreas urbanas (93,14%), contrapondo a região
Nordeste, que é a com maior porcentagem de habitantes vivendo no campo

20
Parte da linha de pesquisa no Laboratório de Ecologia Isotópica do CENA/USP.
21Doutoranda no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. E-
mail:karina.gs.bio@gmail.com
22Prof. Dr. no Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista

de São Paulo. E-mail:mauecologia@yahoo.com.br


23 Prof. Dr. no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo. E-mail:

pcamargo@cena.usp.br
140

(26,88%). Este movimento migratório teve forte influência da mecanização da


lavoura, a qual teve em meados dos anos 1970 e 1980 uma alta quantidade de
pessoas que deixavam seus lares em áreas rurais e buscavam o sonho nas
metrópoles.
Com tamanha migração para os centros urbanos os problemas
ambientais surgiram e até hoje ameaçam alguns processos ecológicos naturais,
além de representarem um grande desafio para gestores públicos municipais.
Dentre os principais problemas ambientais urbanos, pode-se destacar a
contaminação atmosférica, o excesso de resíduos sólidos produzidos,
pessimamente separados e reaproveitados, os drásticos efeitos de ilhas de
calor que causam inversões térmicas e a perda da biodiversidade.
Este último fator está intimamente ligado à perda de serviços
ecossistêmicos. As áreas verdes urbanas (e.g. fragmentos de florestas, parques
e praças) são responsáveis por uma grande quantidade de carbono
sequestrado e estocado na vegetação e no solo (MARTIN et al., 2016). Parte
deste carbono é processado pela biota e é liberado para a atmosfera na forma
de CO2 ou CH4. Esses gases compõem os chamados Gases de Efeito Estufa (GEE)
e tanto em escala local quanto regional, eles têm o poder de alterar padrões
atmosféricos e com isso alterar processos meteorológicos urbanos
(SANTILLÁN-SOTO et al., 2019).
Cabe destacar que não são apenas esses gases oriundos de espaços
verdes que têm tal potencial. Atributos da morfologia urbana também são
responsáveis pela maior emissão de GEE e alteração de processos
ecossistêmicos.
Segundo Seto et al. (2011), o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC
destaca que a forma urbana foi identificada como um dos principais
impulsionadores das emissões urbanas de gases de efeito estufa. Alguns
estudos apontam que a estrutura geométrica formada pela distribuição
espacial dos elementos urbanos como edifícios, estradas e áreas verdes, pode
alterar os climas locais (ZHOU et al., 2017), sendo que edificações
extremamente altas podem afetar o efeito da ilha de calor urbana e gerar
ventos de alta velocidade (BLOCKEN et al., 2008).
Oliveira (2019) mostrou em um estudo sobre produção de serapilheira
em florestas urbanas da cidade de São Paulo que o fragmento localizado no
final da avenida Paulista, uma típica avenida com muitos prédios comerciais
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 141

altos no centro da capital do Estado de São Paulo, apresentou maior queda de


folhas e galhos da vegetação em relação a outras florestas mais distantes.
Nesse estudo, o modelo de regressão múltipla identificou forte influência da
velocidade de vento na produção do material decíduo, denotando clara
influência da morfologia urbana na deciduidade do material florestal.
Não apenas a emissão de gases de efeito ou a produção de serapilheira
são influenciados pela dinâmica das cidades, mas outros padrões e processos
naturais também ocorrem de forma distinta dos ambientes não urbanos. A
ciclagem biogeoquímica, como um todo, é fundamental para a manutenção
das áreas verdes e também na regulação climática. Estudos envolvendo
carbono e nitrogênio são cruciais para se compreender melhor a dinâmica, os
processos e o padrão de fragmentos florestais urbanos, além de serem
fundamentais na dinâmica atmosférica em escala local e regional.
Nesta linha, isótopos estáveis de C e N (δ13C e δ15N) se mostram como
importantes ferramentas no monitoramento ambiental de cidades, uma vez
que a assinatura desses elementos no compartimento biótico e abiótico são
conhecidas e facilmente interpretadas.

ISÓTOPOS ESTÁVEIS: BASES E APLICAÇÕES

O uso de isótopos estáveis vem se tornando cada vez mais frequente e


se disseminando por diferentes áreas do conhecimento, devido à robustez da
técnica e versatilidade de aplicações que essa ferramenta apresenta. Embora
a aplicação da metodologia isotópica tenha nascido em estudos nas áreas de
geologia e química, atualmente as ciências naturais já incorporaram essa
ferramenta ao seu leque de opções, quando o objetivo é compreender as
interações entre o ambiente e os seres vivos, visto que elementos como
carbono, nitrogênio, oxigênio entre outros estão presentes em processos e
mecanismos que governam a vida (WEST et al., 2006).
Por definição, “Isótopos são espécies atômicas de um mesmo elemento
químico que possuem massas diferentes pelo fato de o número de nêutrons
em seus núcleos serem distintos” (MARTINELLI et al., 2009). Dessa forma,
isótopos de um mesmo elemento terão massas atômicas (soma de prótons e
nêutrons) diferentes, mas conservarão a mesma identidade química por
manterem a sua quantidade de prótons inalterada. Por exemplo, o elemento
142

carbono apresenta um isótopo que contém seis prótons e seis nêutrons em seu
núcleo (12C), mas também possui um isótopo com sete nêutrons ( 13C) e outro
com oito nêutrons (14C) em seus núcleos, contudo, todos continuam sendo
carbono. Tanto o 12C como o 13C são denominados como estáveis, pois são
energeticamente estáveis durante toda a sua existência, ao contrário do 14C
(muito utilizado em estudos de datação) que é denominado como radioativo,
pois são isótopos que apresentam decaimento de suas massas ao longo do
tempo, devido à emissão de energia ou de partículas subatômicas (SULZMAN,
2007).
Os isótopos de um elemento naturalmente apresentam distintas
abundâncias, sendo que com frequência os isótopos de menor massa atômica
(mais leves) se apresentam em maior abundância na natureza, enquanto os
isótopos de maior massa (mais pesados) apresentam uma expressiva
diminuição em sua quantidade natural, sendo, portanto, menos abundantes ou
mais raros. Enquanto o 12C apresenta uma abundância média na natureza de
98,8%, o 13C apresenta uma abundância de apenas 1,1%. O mesmo ocorre com
outros isótopos de grande interesse nos estudos ecológicos como o nitrogênio
(14N= 99,3% e 15N= 0,33%), oxigênio (16O= 99,7%, 17O=0,03 e 18O= 0,19),
hidrogênio (1H=98,9%, 2H=0,02) e enxofre (32S=95,02% e 34S= 4,21%)
(MARTINELLI et al., 2009).
A análise da composição isotópica de um material é geralmente
mensurada a partir da técnica de espectrometria de massa de razão isotópica
(mais detalhes em Lehmann, 2017), e apresenta como resultado a relação
entre o isótopo mais raro e o mais abundante comparado a um padrão
internacionalmente conhecido e expresso em partes por mil desse desvio,
chegando à conhecida notação δ(‰);
δ(‰) = (𝑅𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎 /𝑅𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜 − 1) ∗ 1000
onde R representa a razão entre o isótopo mais raro pelo mais abundante (por
exemplo 13C/12C) da amostra de interesse comparado a um padrão. Cada
elemento é comparado a um padrão distinto, entre eles o PDB (Pee dee
Belamite) para o carbono, ar atmosférico para o nitrogênio e V-SMOW (Viena
Standard Mean Ocean Water) para hidrogênio e oxigênio (SULZMAN, 2007).
As diferenças na composição isotópica são uma das bases que
possibilitam o uso de isótopos estáveis como ferramenta em estudos
ecológicos. Essas diferenças ocorrem conforme o elemento cicla na natureza
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 143

em virtude de reações físico-químicas e/ou biológicas, resultando na


discriminação de um dos isótopos. Assim, dependendo do processo, ocorre um
enriquecimento ou empobrecimento do isótopo pesado de uma amostra
(produto) em relação à sua fonte (substrato), dinâmica conhecida como
fracionamento isotópico. Por exemplo, o fracionamento do carbono durante o
processo fotossintético em plantas, terá o δ13C do CO2 atmosférico como fonte
e o δ13C dos tecidos das plantas ou fotoassimilados como os produtos desse
processo (PEREIRA; BENEDITO, 2007).
Dessa forma, as aplicações dos isótopos estáveis em estudos ecológicos
se tornam inúmeras, tendo espaço para investigações sobre as plantas
auxiliando na compreensão do processo fotossintético, das rotas metabólicas
e uso de recursos abióticos como luz, água e CO2, em animais fornecendo ideias
sobre as fontes alimentares, as interações tróficas e migração nos solos,
ajudando a compreender a incorporação da matéria orgânica, além das
abordagens que utilizam os isótopos para elucidar padrões em diferentes
escalas tanto temporal como espacial (WEST et al., 2006; PEREIRA; BENEDITO,
2007). Com essas características os isótopos estáveis podem ser um
importante aliado nos estudos de ecossistemas urbanos, auxiliando a
compreendê-los e monitorá-los, uma vez que as atividades antrópicas, como a
queima de combustíveis fósseis, emitem compostos que alteram a composição
isotópica e são refletidos em processos das plantas e solos, assim, os isotópos
podem ajudar a identificar as fontes e as influências dos poluentes urbanos
(PATAKI et al., 2005).
Nas próximas sessões veremos os resultados das aplicações de isótopos
estáveis na ecologia e monitoramento de florestas urbanas.

APLICAÇÕES DE ISÓTOPOS DE CARBONO EM AMBIENTES URBANOS

As emissões de dióxido de carbono a partir de combustível fóssil em


diversos setores brasileiros, i.e. geração de eletricidade, uso doméstico ou
transporte veicular, estão diretamente relacionadas à dinâmica das áreas
urbanas. Alguns autores têm estabelecido relações entre crescimento urbano
e emissão de combustível fóssil per capta (WU et al., 2020), fato que contribui
diretamente para o aumento de CO2 atmosférico.
144

Algumas ferramentas ambientais têm sido propostas para avaliar o


impacto do aumento atmosférico de CO2 e a interação do composto com
ambientes verdes urbanos, em que se destaca o isótopo de carbono. Dessa
forma, os isótopos de C fornecem uma abordagem para examinar os impactos
das emissões de combustíveis fósseis e da poluição do ar no tecido vegetal em
árvores urbanas. Como as plantas utilizam CO2 atmosférico durante a
fotossíntese, os isótopos de C no tecido vegetal podem indicar as fontes de CO2
às quais as plantas foram expostas (REDING et al., 2013), além de fornecer
outras informações importantes. Isso é possível porque o sinal isotópico do C
presente no combustível fóssil se difere do ar atmosférico. Kuc e Zimnock
(1998) reportaram que a medição de razões isotópicas e concentração de CO 2
atmosférico é uma ferramenta poderosa para identificar fontes e sumidouros
do elemento nas regiões fortemente afetadas pela atividade antrópica.
Um exemplo de estudo isotópico em florestas urbanas foi realizado por
Pereira (2020), no qual o autor conseguiu diferenciar atributos fisiológicos em
árvores pertencentes a diferentes grupos taxonômicos. Tais características
fisiológicas podem trazer à luz a capacidade de árvores urbanas em sequestrar
carbono da atmosfera, funcionando assim como uma importante ferramenta
de mitigação das mudanças climáticas.
Estudos do CO2 atmosférico e seus isótopos começaram no início dos
anos 1950 por Keeling (1958) e no final do século passado ele já estava sendo
amplamente utilizado em estudos de marcadores ambientais. Kuc e Zimnoch
(1998) avaliaram o efeito da mistura do combustível fóssil no ar atmosférico
em uma cidade da Polônia, com amostragens quinzenais e mostraram que em
pouco mais de uma década houve uma tendência decrescente na assinatura
isotópica do carbono, com um leve declínio da razão 13C/12C, atribuindo esse
fato ao aumento do combustível fóssil pela frota veicular. Além disso, os
autores mostraram um padrão sazonal na quantidade de 13C atmosférico, o
que decorre, em grande parte, por influência do carbono biogênico da
vegetação urbana, a qual varia entre verão e inverno.
Isto se torna particularmente importante ao se considerar um cenário
de mudanças climáticas com elevadas taxas de emissões de GEE para a
atmosfera. Mapear e conhecer as principais fontes emissoras de C se torna
altamente relevante para se criar políticas públicas e efetivar mecanismos de
fiscalizações de impactos ambientais. Pataki et al. (2003) mencionaram que
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 145

medições diretas da composição isotópica de CO2 atmosférico em áreas


urbanas podem fornecer informações importantes sobre processos locais
(antrópicos ou biogênicos), além da variabilidade temporal e espacial na
composição isotópica das emissões urbanas, o que pode ser aplicado em
programas municipais de controle da frota veicular, por exemplo. Além disso,
Pataki et al. (2003) mostraram a contribuição de cada fonte de CO 2 dentro de
uma perspectiva sazonal, na cidade de Utah, EUA. A combustão do gás natural
mostrou forte contribuição durante o período de inverno, ao passo que a
respiração biogênica noturna foi mais pronunciada na primavera e verão. Essa
separação de fontes emissoras de dióxido de carbono para a atmosfera auxilia
na compreensão das emissões urbanas de gases de efeito estufa, o que pode
estar relacionada a programas de adaptação das cidades para futuros cenários
de extremos climáticos.
A ferramenta isotópica pode ser muito mais detalhista que
simplesmente indicar a fonte. Ela pode distinguir e mensurar a contribuição
dos diferentes compostos orgânicos voláteis (COV) presentes nas emissões
veiculares que utilizam combustível fóssil. Este material emitido na atmosfera
é oriundo da combustão incompleta do combustível fóssil e biomassa. Para
isso, é necessária a interpretação da assinatura isotópica das fontes e os efeitos
do fracionamento associado aos processos de remoção/eliminação do
composto para a atmosfera. Atualmente, sabe-se que as razões de isótopos
estáveis de alcanos e arenos ocorrem em torno de -27,7±1,7‰ (em relação à
Pee dee Belamite), totalmente compatível com a composição média dos óleos
crus. Em média, os alcenos são enriquecidos em 2% em 13C em relação a
alcanos e arenos. O acetileno emitido pelo escapamento do motor é
enriquecido em 13C por várias dezenas “por mil” em relação a outros
hidrocarbonetos (exceto metano) estudados, o que facilita a sua
rastreabilidade.
Diversos problemas ambientais estão associados às altas concentrações
de hidrocarbonetos atmosféricos, dentre eles a formação de ozônio
troposférico, poluente indubitavelmente tóxico aos seres humanos e às outras
formas de vida. Assim, monitorar a emissão de hidrocarbonetos por
metodologia isotópica pode auxiliar em políticas de transporte de cidades de
grande porte, como, por exemplo, as capitais e regiões metropolitanas
brasileiras.
146

A variação do radiocabono (∆14C) em determinado substrato vegetal


também pode ser um indicativo de alternância de fontes de CO2 na atmosfera,
pois em áreas urbanas o 14C é isotopicamente deplecionado devido às emissões
oriundas de combustível fóssil. Nesse sentido, Pataki et al. (2010) fizeram um
estudo utilizando isótopos de carbono aliado aos isótopos de nitrogênio e
oxigênio em algumas regiões poluídas da cidade de Los Angeles, EUA. Os
autores fizeram algumas amostragens a partir de plantas coletadas durante o
inverno (estação com maiores teores de poluentes atmosféricos, como
ozônio). No estudo, ∆14C foi fortemente associado ao monóxido de carbono e
ao ozônio troposférico. Os isótopos de 15N se correlacionaram às
concentrações de óxidos de nitrogênio e consequentemente ao O 3, pois NOx
são compostos precursores do ozônio. Isótopos de oxigênio ( 18O) foram
fortemente associados ao déficit de pressão de vapor e também ao O 3. Tais
resultados sugerem que os processos fisiológicos das plantas são influenciados
pela característica da atmosfera poluída.
Nessa perspectiva vegetal, uma característica interessante sobre o
metabolismo das plantas é que, em geral, alguns grupos taxonômicos
(gramíneas - e.g. milho, cana-de-açúcar) têm metabolismo fotossintético
bastante particular, que promove uma série de discriminações isotópicas ao
longo da fixação do carbono, acarretando em um sinal isotópico mais pesado
(aproximadamente -13‰) que outros grupos de plantas ou vegetais, como por
exemplo, árvores ou algas (-27‰). Animais que se alimentam dessas plantas
gramíneas apresentam assinatura isotópica de carbono (δ13C) equivalente à da
fonte. Logo, um frango que se alimenta exclusivamente de milho, ou uma vaca
que se alimenta exclusivamente de pastagem, terá a assinatura isotópica do
carbono de sua musculatura em aproximadamente -13‰. Da mesma forma,
um macaco que se alimenta exclusivamente de frutos arbóreos de uma floresta
tropical ou um peixe herbívoro que se alimenta exclusivamente de algas terá a
assinatura isotópica do carbono de sua musculatura em aproximadamente -
27‰.
Este raciocínio é o mesmo para humanos. Pessoas que se alimentam
predominantemente de peixes, como habitantes de comunidades ribeirinhas
da Amazônia, terão em seu tecido corpóreo a assinatura isotópica de carbono
equivalente à das algas (-27‰). Um fazendeiro que tem em sua dieta proteica
predominantemente carne de vaca e frango (animais que se alimentam de
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 147

pastagem e milho, respectivamente), terá em seu tecido corpóreo a assinatura


isotópica de carbono equivalente à das gramíneas (-13‰).
Dado este referencial, a ferramenta isotópica permite avaliar, por
exemplo, se habitantes de comunidades ribeirinhas da Amazônia estão
alterando o seu padrão de dieta proteica por razões de novas ofertas
alimentares ou por mudança no uso do solo (conversão de floresta para
pastagem), e consequentemente impactando, em partes, a conservação da
biodiversidade.
Este fato demanda atenção especial por parte de gestores públicos no
que diz respeito à atenção social de moradores dessas regiões. Porém, a
alteração de uso do solo levanta uma preocupação sobre o desenfreado
crescimento de pequenas cidades, as quais poderão mudar parte da paisagem
natural da Amazônia por manchas urbanas. Jesus et al. (2017) observaram que
em uma comunidade de Mamirauá e Amanã, no Estado do Amazonas, alguns
moradores locais plantavam milho para alimentar os porcos que serviam como
base proteica em suas dietas. Além disso, também foi identificado por
metodologia isotópica que os habitantes locais mudaram o padrão alimentar
devido aos subsídios financeiros repassados pelo governo, os quais permitiram
a substituição de produtos pescados ou caçados por produtos industrializados.
Os autores chegaram a esta conclusão porque partes de tecido humano
coletado (unha) dos habitantes destas comunidades mostraram assinatura
isotópica de aproximadamente -13‰, evidenciando que a base proteica da
alimentação deles não era a partir de animais silvestres ou peixes.

APLICAÇÕES DE ISÓTOPOS DE NITROGÊNIO EM AMBIENTES URBANOS

As atividades antrópicas causam inúmeras alterações na dinâmica dos


nutrientes, com especial destaque para o Nitrogênio (N). O N é um elemento
essencial para a saúde de um ecossistema, porém, é necessário que haja um
equilíbrio entre as entradas e saídas desse elemento nos sistemas. Este
equilíbrio tem sido prejudicado devido a atividades humanas como queima de
combustíveis fósseis, de biomassa e aumentos nos usos de fertilizantes, todas
atividades que promovem um aumento na deposição de N, podendo resultar
em sérios problemas tanto para ecossistemas terrestres como para os
aquáticos, por meio, por exemplo, da acidificação dos solos ou eutrofização das
148

águas (MATSON et al., 1999). Para as florestas urbanas os problemas da


deposição de N podem ser ainda mais sérios, pois esses ambientes estão alta e
continuamente expostos a essas fontes (BAI et al., 2015).
A deposição de N promove a liberação de espécies reativas de N para
a atmosfera, que podem ser nas formas reduzidas (NH 3 ou NH4+) ou oxidadas
(NOx, HNO3, N2O e NO3−), sendo que em florestas urbanas o NOx tem recebido
mais atenção por estar associado principalmente à queima de combustíveis
fósseis e de biomassa. Além disso, o NO x também pode causar danos para a
saúde humana, com ênfase para problemas respiratórios. Essas características
incentivam os esforços de monitoramento desse composto, e o uso do isótopo
do δ15N tem contribuído para realizar essa tarefa. O ẟ15N pode ser utilizado
para identificação das fontes dominantes de emissão de NO X, pois esses
emissores tendem a apresentar distintas assinaturas isotópicas, por exemplo,
a emissão de NOX originadas de veículos tendem a apresentar valores de ẟ15N
mais empobrecidos, enquanto o NOX obtido a partir da combustão do carvão
valores mais enriquecidos de ẟ15N (REDING et al., 2013; BAI et al., 2015; DÍAZ-
ALVAREZ; BARREIRA, 2018).
A abundância natural do ẟ15N também pode fornecer informações
sobre a dinâmica do N e as diferentes fontes disponíveis no ambiente, pois
cada etapa do ciclo do N e cada fonte tendem a apresentar um fracionamento,
resultando em diferentes composições isotópicas. Por exemplo, o N 2
atmosférico apresenta valor de ẟ15N de 0‰, assim plantas com acesso ao N2
atmosférico por meio da fixação biológica tendem a apresentar ẟ15N mais
empobrecido que plantas não fixadoras. NH4+ e NO3- também podem
apresentar diferenças na composição isotópica, porque a nitrificação
apresenta grande efeito isotópico e o NH 4+ tende a ser mais enriquecido em 15N
comparado ao NO3-(MARTINELLI et al., 2009). Assim, diferentes sinais de ẟ15N
no ecossistema têm sido usados como indicadores do ciclo de N em florestas
urbanas, pois sistemas enriquecidos em ẟ15N sugerem um ciclo aberto do N
com alta atividade microbiana e, possivelmente, alta perda de N no sistema,
sendo que 14N tende a ter mais propensão a ser perdido (BAI et al., 2015).
Uma abordagem muito promissora para avaliação da deposição de N
em ambientes urbanos tem sido a associação do δ15N ao biomonitoramento.
Reding et al. (2013) utilizaram duas espécies de gramíneas, uma de
metabolismo fotossintético C3 (Agrostis perennans) e outra C4 (Panicum
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 149

virgatum) para avaliar o efeito da deposição de NOX veicular ao longo de uma


rodovia (média de 33.000 veículos por dia) nos EUA. Os autores observaram
que o fluxo e o δ15N do NO2 foram mais elevados próximos à rodovia e ambas
as espécies vegetais dessa área apresentaram em seus tecidos um
enriquecimento do δ15N em torno de 3,0‰ em comparação com plantas que
cresceram longe da rodovia, refletindo assim o impacto da emissão veicular.
Contudo, a espécie C3 foi um biomonitor mais robusto para a absorção de
poluentes atmosféricos. Díaz-Alvarez e Barreira, (2018) obtiveram resultados
semelhantes na Cidade do México, utilizando espécies de biomonitores
(liquens, musgos e uma bromélia epífita), onde eles observaram que todas as
espécies apresentaram valores de δ15N distintos entre as áreas urbanas e a
área rural, e ressaltaram que os valores de δ15N dos musgos apresentaram uma
correlação linear com a deposição úmida de N, enquanto o δ15N da bromélia
uma resposta linear ao NOX.
O δ15N também tem sido aplicado para ajudar a obter um panorama
temporal sobre o ciclo de N e o histórico das fontes de poluição de uma área.
Duas técnicas se destacam para cumprir essa função; 1) a avaliação dos valores
de δ15N em anéis de crescimento de espécies arbóreas, e 2) o δ15N de espécies
conservadas em coleções de herbários. Para a primeira abordagem, Savard et
al. (2009) observaram mudanças no δ15N nas séries de longo prazo dos anéis
de árvores de Fagus grandifolia Ehrh e Pinus strobus L. da região de Montreal.
Houve um empobrecimento dos valores de δ15N dos anéis dessas árvores após
1951, que foi correlacionado com emissões de NOX derivadas das crescentes
deposições de N dos automóveis. Para a segunda abordagem, Stewart et al.
(2002) realizaram um panorama histórico a partir da comparação dos valores
do δ15N de uma comunidade vegetal atual da região de Cubatão e de espécies
conservadas em coleções de herbário do período pré-industrialização dessa
região. Essa área é um conhecido polo industrial do Brasil, e enfrentou diversos
problemas ambientais devido à poluição. Os autores encontraram um forte
empobrecimento nos valores de δ15N das espécies atuais, principalmente em
epífitas, chegando a -10,9‰, enquanto as espécies de herbário foram
substancialmente mais enriquecidas, chegando a 2,0‰, sendo esses
resultados associados a uma forte influência das atividades industriais da
região, principalmente vinculados aos setores petroquímicos e de fertilização.
150

Todos esses resultados demonstraram o grande potencial que a


aplicação do δ15N apresenta como uma ferramenta para monitoramento da
poluição atmosférica e avaliação das perturbações antropogênicas que afetam
o ciclo do N.

APLICAÇÕES DE OUTROS ISÓTOPOS EM AMBIENTES URBANOS

Os elementos hidrogênio e oxigênio também possuem isótopos estáveis


na natureza, seja na água de rios, oceanos, atmosfera ou mesmo nos
organismos vivos. O 1H é 99,9844% abundante nos diversos compartimentos,
enquanto o seu isótopo (2H - deutério) ocorre em baixíssima proporção
(0,0156%). Em relação ao oxigênio, o 16O ocupa 99,762% do total disponível no
planeta, o 17O representa 0,038% e o 18O representa 0,200% (SULZMAN, 2007).
Esta diversidade isotópica promove nove condições distintas de se
formar a molécula da água, sendo que a molécula (H 2O) com ambos isótopos
mais pesados é rara de ocorrer. Propriedade termodinâmicas e cinéticas
inerentes a esses elementos promovem particularidades em processos
naturais e antropogênicos, os quais permite que a avaliação de isótopos
estáveis possa ser uma importante ferramenta ambiental. Por exemplo, em um
simples processo de evaporação, a molécula de água que possuir 1H e 16O
passará do estado líquido para vapor antes da molécula que possuir 2H e 17O.
A compreensão do ciclo da água em ambientes urbanos e rurais é
fundamental para a manutenção de processos da dinâmica urbana, dado que
nesses ambientes pode ocorrer uma série de situações não desejadas, como,
por exemplo, risco de acidentes por deslizamentos de terra ou enchentes.
Alguns autores têm reportado que a queima do combustível fóssil está
fortemente associada à emissão de água para a atmosfera das cidades e pode
ser uma das principais responsáveis pelo gradiente de umidade que existe
entre áreas urbanas e rurais (ACKERMAN, 1987; HAGE, 1975).
Os isótopos de oxigênio e hidrogênio podem ser fortes indicadores da
contribuição do combustível fóssil na umidificação do ar ou no enriquecimento
de carbono na atmosfera. Gorski et al. (2015) mostraram por metodologia
isotópica que a queima de combustível fóssil em Salt Lake City, EUA, contribui
em 13% para a umidificação da atmosfera da área urbana, sendo que este fato
pode trazer implicações eco-hidrológicas e/ou fotoquímicas no contexto das
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 151

cidades. Além disso, essa abordagem isotópica pode ajudar pesquisadores a


monitorar as fontes de emissões de gases de efeito estufa das cidades e
estudar o impacto da água no clima urbano.
Outro elemento que tem a sua concentração atmosférica aumentada é
o enxofre (S). Este elemento emitido a partir da frota automotiva pesada é um
dos principais componentes que formam as chuvas ácidas e com isso acidificam
sistemas naturais agrícolas ou florestais. Áreas urbanas são conhecidas por
apresentarem altas taxas de emissão de óxidos de enxofre que contaminam a
atmosfera além dos limites das cidades (PRUETT et al., 2004; VINGIANI et al.,
2004).
Em geral, o isótopo do enxofre (δ34S) é utilizado para identificar
diferentes fontes emissoras. Uma limitação deste isótopo é a sua alta
variabilidade em distintos compartimentos, sendo que os valores de δ 34S
encontrados na natureza podem variar de −40 ‰ até + 40‰ (THODE, 1991).
Ohizumi et al. (1997) usaram a média de δ34S de carvões do norte da
China para estimar a contribuição do enxofre liberado pela combustão do
material fóssil no nordeste da Ásia. Diversos autores têm demonstrado que a
deposição natural é relativamente enriquecida em 34S (maior δ34S) em
comparação com a deposição antropogênica no continente europeu
(PICHLMAYER et al., 1998; NOVÁK et al., 2001).
Alguns autores têm utilizado organismos vivos para monitorar
poluentes atmosféricos compostos por enxofre, dentre os quais se destacam
os musgos (VINGIANI et al., 2004; ADAMO et al., 2008), os quais impregnam
em seus tecidos isótopos de enxofre que apontam com elevado grau de
segurança a fonte da contaminação (NRIAGU et al., 1991; NOVÁK et al., 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os isótopos estáveis são ferramentas com alto potencial de monitorar


processos naturais em áreas urbanizadas. Pelo fato de o carbono e o nitrogênio
serem elementos fundamentais na composição corpórea dos seres vivos e
terem forte influência em processos físicos da atmosfera e solos de áreas
urbanas, eles se apresentam como marcadores que podem indicar com
segurança as alterações ambientais.
152

O compartimento atmosférico e sua relação com as plantas podem ser


instrumentos de grande valia no monitoramento de impactos ambientais,
principalmente daqueles oriundos da queima de combustíveis fósseis.
Além disso, outros isótopos podem trazer informações ambientais
bastante pertinentes aos sistemas urbanos. Hidrogênio e oxigênio são
elementos que possuem isótopos estáveis com elevado potencial de indicar
alterações no ciclo da água em áreas urbanas, além do enxofre, que, embora
complexo, também pode ser aplicado no mapeamento e identificação de
possíveis fontes poluidoras do ar.

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 155

PARTE II

TECNOLOGIAS, GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS


COMO FERRAMENTAS AMBIENTAIS
156
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 157

Capítulo 7

SENSORIAMENTO REMOTO E SUAS CONTRIBUIÇÕES AOS


ESTUDOS URBANOS: O FENÔMENO DE ILHA DE CALOR E O
MONITORAMENTO DE QUALIDADE DE ÁGUA24

Cristiano Capellani Quaresma 25

INTRODUÇÃO

No ano de 2007, o número de pessoas vivendo em áreas urbanas


superou o número de pessoas vivendo nas áreas rurais do planeta. A partir de
então, a população urbana vem crescendo aceleradamente, chegando a 4,2
bilhões de pessoas em 2018, o que correspondia a 55% do total da população
absoluta mundial. Esse número continuará a crescer e, até 2050, deverá
alcançar cerca de 6,7 bilhões de pessoas, correspondendo a um total de 68%
da população absoluta mundial.
Entretanto, o desenvolvimento urbano não foi acompanhado por um
planejamento adequado na maioria das cidades existentes na atualidade, fato
que contribuiu para um quadro generalizado de crise urbana, marcado por
problemas sociais, ambientais e econômicos. Este quadro é ainda mais
preocupante nas áreas urbanas de países menos desenvolvidos, onde os
problemas se aprofundam, dada a maneira tardia e, posteriormente, acelerada
com que se processou a sua transição urbana.
Tendo em vista o esperado crescimento urbano para as próximas
décadas, o qual deverá se concentrar nas regiões menos desenvolvidas e mais
populosas do planeta, bem como diante do crescimento das preocupações
globais com a sustentabilidade, tornam-se necessários novos estudos que
permitam orientar as políticas e o planejamento urbano com vias à construção
de cidades sustentáveis.

24 Área de Pesquisa do autor


do capítulo.
25
Doutor em Geografia. Docente e pesquisador junto ao Programa de Pós-graduação em Cidades
Inteligentes e Sustentáveis da Universidade Nove de Julho – UNINOVE. E-mail:
quaresma.cristiano@gmail.com
158

As cidades, entendidas como organizações espaciais resultantes das


interações entre diversos elementos, podem ser enquadradas no conceito de
sistemas complexos e, como tal, necessitam de instrumentos técnicos
adequados à sua análise. Neste contexto, destaca-se o papel do Sensoriamento
Remoto como ferramenta de grande importância aos estudos dos fenômenos
e problemas urbanos.
Nesse sentido, o presente capítulo visa a dissertar sobre o potencial de
aplicação do Sensoriamento Remoto aos estudos urbanos. Para tanto, está
organizado em quatro seções, além da presente introdução. Na primeira, são
apontados os números da urbanização e alguns dos desafios para os quais
esses números apontam. A segunda seção discorre a respeito da relação entre
o fenômeno da urbanização e a sustentabilidade, indicando alguns dos
impactos sociais, econômicos e ambientais causados pela primeira. A terceira
seção aborda sobre a evolução do sensoriamento remoto e seus potenciais de
aplicação aos estudos urbanos, com foco nos estudos de ilha de calor urbana e
de monitoramento de qualidade de água. Na quarta seção, são apresentadas
as considerações finais, seguidas pelas referências bibliográficas utilizadas.

OS NÚMEROS DA URBANIZAÇÃO E ALGUNS DE SEUS DESAFIOS

A Divisão Populacional do Departamento de Assuntos Econômicos e


Sociais das Nações Unidas tem publicado, com base em estatísticas nacionais,
relatórios com estimativas e projeções revisadas e atualizadas das populações
urbanas e rurais de todos os países do mundo e dos principais assentamentos
urbanos existentes. O relatório de 2018 (UNITED NATIONS, 2018) apresentou
estimativas e projeções da população mundial total, urbana e rural para o
período de 1950 a 2050. Segundo o mesmo, em 1950 a população residente
em áreas urbanas correspondia a 30% da população total mundial. Entre este
ano e o ano de 2018, a população urbana mundial cresceu rapidamente e, em
2007, tal população tornou-se, pela primeira vez, superior à população rural.
Assim, entre 1950 e 2018, a população urbana cresceu mais de quatro vezes,
passando de 0,8 bilhão a 4,2 bilhões de pessoas, ou, em termos percentuais,
passando dos referidos 30% para 55% do total da população mundial.
O crescimento do número da população urbana mundial chama a
atenção quando se observa o tempo necessário para seu incremento em 1
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 159

bilhão de pessoas, sendo o ano de 1959 o primeiro a atingir esta marca. Para
que tal população alcançasse 2 bilhões de pessoas, foram necessários 26 anos,
correspondendo ao ano de 1985. Em 2002, após 17 anos, a população urbana
mundial alcançou 3 bilhões de pessoas e, em 2015, tal população atingiu 4
bilhões de pessoas, necessitando assim de apenas 13 anos para que se
chegasse a tal valor.
Esse crescimento, no entanto, não se processou de maneira homogênea
entre os diversos países e regiões existentes (QUARESMA et al., 2017).
Tomando como exemplo o Brasil, grande parte dos problemas enfrentados em
grandes e médias cidades pode ser entendida pela maneira tardia, acelerada e
desigual com que se processou o desenvolvimento urbano deste país. De
acordo com Villela e Suzigan (1973), até o final do século XIX a população
urbana brasileira era muito baixa e apresentou pouca variação. No período
entre os anos 1890 e 1920, tal população passa de 6,8% para 10,7% da
população absoluta existente. Porém, nas duas décadas seguintes, o índice
quase triplicou, alcançando 31,24% da população brasileira no ano de 1940. A
aceleração deste crescimento também se fez presente nos anos seguintes, de
tal modo que, de 1940 a 1980, segundo Scarlato (2005), verificou-se que a
população urbana brasileira passou para 67,59%.
A evolução desses dados permite observar que foram necessários
apenas quarenta anos para que o Brasil se transformasse de um país
predominantemente rural em um país predominantemente urbano. Tal
quadro se distingue das realidades de países desenvolvidos, os quais levaram
mais de um século para atingirem índices de urbanização semelhantes, a
exemplo da Bélgica, cuja população urbana evoluiu de 31% em 1846, passando
para 49% em 1900 e chegando a 61% em 1970.
Além das regiões mais desenvolvidas, caracterizadas por uma
população majoritariamente urbana, e de países como o Brasil, que se
caracterizaram por um processo tardio e, posteriormente, acelerado de
urbanização, mas que se constituem na atualidade em países de populações
predominantemente urbanas, torna-se importante destacar que muitas
regiões menos desenvolvidas do planeta se caracterizam por apresentarem
pouco menos da metade da sua população total vivendo ainda em áreas rurais.
A população urbana dessas regiões menos desenvolvidas vem
crescendo consideravelmente mais rápido que aquelas pertencentes às regiões
160

mais desenvolvidas. De acordo com United Nation (2018), no ano de 1950, a


população urbana das regiões mais desenvolvidas era de 446 milhões de
habitantes, sendo que, para as regiões menos desenvolvidas, os valores eram
de 305 milhões de habitantes. Tais valores demonstram que a população
urbana das regiões mais desenvolvidas representava 59% da população urbana
existente no planeta, apesar de tais regiões deterem apenas 32% da população
total mundial.
No ano de 1970, este quadro se inverte, com a população urbana das
regiões menos desenvolvidas representando 680 milhões de habitantes,
contra 674 milhões pertencentes às regiões mais desenvolvidas. A diferença
passa então a crescer rapidamente e, em 2018, a população urbana de regiões
menos desenvolvidas chegou a valores superiores a três vezes os valores da
população urbana de regiões mais desenvolvidas, representando 3,2 bilhões
de habitantes, contra 1,0 bilhão de habitantes, respectivamente. Nesse mesmo
ano a população urbana das regiões menos desenvolvidas representava 76%
da população urbana do mundo e 84% da população total mundial.
Considerando que, para o ano de 2050, a população urbana das regiões
mais desenvolvidas será de 1,1 bilhão de habitantes, correspondendo a apenas
17% da população urbana mundial, e que a população absoluta de tais regiões
corresponderá a apenas 13% da população absoluta mundial, podem-se
perceber os desafios que se impõem aos estudos urbanos em regiões pouco
desenvolvidas, uma vez que, segundo as projeções realizadas, estima-se que,
em 2050, a população urbana dessas regiões chegue a 5,6 bilhões. Tal valor
corresponderá a 83% da população urbana mundial, sendo que tais regiões
também abarcarão 87% da população absoluta mundial.
Outras estimativas trazidas pelo referido relatório apontam que o ritmo
da urbanização mundial deverá sofrer desaceleração no futuro. Deste modo,
entre os anos de 2018 e 2030, a população urbana mundial deverá apresentar
uma taxa de crescimento médio anual de 1,7%, sendo bastante inferior às taxas
médias de 3,0%, 2,6% e de 2,2% referentes aos períodos de 1950 a 1970, de
1970 a 1990 e de 1990 a 2018, respectivamente. Apesar de tal desaceleração,
as projeções realizadas apontam que a população urbana mundial continuará
a crescer, atingindo, em 2050, 68% da população absoluta existente, o que
corresponderá a um total de 6,7 bilhões de pessoas. Atribui-se como causas
para tal crescimento uma série de fatores, dentre os quais o crescimento
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 161

natural, as migrações do meio rural para o meio urbano e a expansão


geográfica dos assentamentos urbanos preexistentes.
Com relação ao atributo espacial, a expansão das áreas urbanas é, em
média, duas vezes mais rápida que o crescimento da população urbana, e o
aumento esperado na cobertura do solo urbano durante as primeiras três
décadas do século XXI será maior que a expansão urbana acumulada em toda
a história (SETO et al., 2014).

URBANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Diante dos números da urbanização apresentados, é possível observar


que o meio ambiente urbano se constituiu e vem se fortalecendo como o
principal meio de vida da humanidade.
Além disso, os dados permitem refletir sobre as relações existentes
entre as áreas urbanas e a sustentabilidade. Nesse sentido, Kadhim, Mourshed
e Bray (2016) observam que, apesar de serem motores de prosperidade
econômica e de desenvolvimento social, tendo em vista a capacidade de
concentração de pessoas e de atividades econômicas, as cidades sempre
acabam se caracterizando como ambientes urbanos insustentáveis.
De acordo com os referidos autores, o crescimento e expansão das
cidades sem planejamento, ou com um planejamento deficiente, podem gerar
impactos negativos a longo prazo na sustentabilidade urbana, afetando as
diversas escalas espaciais existentes, desde a local, passando pela regional e
nacional, e potencialmente afetando também a escala intergovernamental.
Dentre os impactos previstos, os autores citam os de consequência negativa
para a economia, tais como a redução da produtividade dos principais setores
econômicos, a degradação ambiental, que pode ser observada pela poluição
atmosférica, pela formação das ilhas de calor, bem como pelo aumento do
fenômeno de inundações urbanas, e impactos sociais negativos, tais como o
aumento da morbidade e mortalidade, perdas na qualidade de vida e
segregação de bairros e comunidades.
Essa dicotomia entre desenvolvimento urbano e impacto à
sustentabilidade também pode ser observada em Hoornweg e Bhada-Tata
(2012), para os quais as áreas urbanas, sendo responsáveis por cerca de 80%
do Produto Interno Bruto Global e, tendo em vista seu potencial de ampliação
162

da renda populacional, acabam estimulando o aumento no consumo de


energia e ampliando as emissões de gases do efeito estufa. Além disso,
segundo os referidos autores, as áreas urbanas são responsáveis pela geração
de cerca de 1,3 bilhão de toneladas de resíduos sólidos por ano. Este volume
de resíduos deve aumentar para 2,2 bilhões de toneladas em 2025 e os custos
do seu gerenciamento deverão chegar a 375,5 bilhões de dólares. Os referidos
autores destacam que os resíduos sólidos não coletados contribuem para
outros problemas urbanos, a exemplo das inundações, poluição do ar e para
impactos à saúde pública.
Os problemas ambientais urbanos são aprofundados quando
relacionados à urbanização acelerada, tal como a que se processou em países
em desenvolvimento como o Brasil. De acordo com Quaresma et al. (2017), a
aceleração do processo de urbanização, quando não acompanhada no mesmo
ritmo pelo planejamento, resulta em impactos negativos nas esferas sociais,
ambientais e econômicas.
Segundo os mesmos autores, na esfera social, dentre os problemas
existentes, destaca-se a segregação socioespacial. As cidades podem ser
interpretadas como produto social e histórico, refletindo, em sua configuração,
as relações de produção da sociedade que as criou. Assim, as diferenças de
classes inerentes ao modo de produção capitalista se materializam em
desigualdades espaciais no interior das cidades, as quais muitas vezes implicam
formas e processos de segregação socioespacial, a exemplo da favelização.
Com relação ao ambiente, as mudanças no uso e na ocupação
impactaram os ecossistemas imediatos, tendo em vista a supressão da maior
parte da cobertura vegetal natural, com consequentes modificações no clima,
em especial das variáveis precipitação pluviométrica e temperatura. As
transformações impostas ao meio também modificaram as condições
hidrológicas das bacias hidrográficas pela impermeabilização das superfícies,
com consequente diminuição da recarga das águas subterrâneas e
incrementos nos volumes de escoamento superficial, gerando inundações
constantes. Esses fenômenos, quando associados à segregação mencionada,
têm causado riscos e perdas de vidas humanas, especialmente da população
de baixa renda das cidades (QUARESMA et al., 2017).
Na esfera econômica, os impactos da urbanização acelerada implicam,
dentre outros, os gastos elevados com saúde pública, em razão dos problemas
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 163

causados pela poluição, com combate às enchentes e inundações, que,


segundo estudos recentes, acarretam prejuízos financeiros da ordem de
centenas de milhões de dólares ao Poder Público, à indústria e ao comércio, e
com a circulação de materiais e pessoas, tendo em vista as deficiências do
transporte urbano e os congestionamentos, os quais afetam o crescimento
econômico das cidades (QUARESMA et al., 2017).
O entendimento e a proposição de soluções para os problemas urbanos
do presente poderão contribuir para a minimização da reincidência dos
mesmos nas áreas menos desenvolvidas do planeta, as quais, conforme
exposto no item anterior, deverão impulsionar o processo de urbanização
planetária nas próximas décadas.
Zhu et al. (2019) destacam que os recursos necessários à construção e
operação das cidades do amanhã serão enormes e que o mundo necessitará
de conhecimento científico que possa auxiliar na criação de uma futura
sociedade urbana sustentável.
Dentre os desafios impostos a este conhecimento, destacam-se o nível
de complexidade das formas e dos processos urbanos e o desenvolvimento de
instrumentação tecnológica aplicada às pesquisas. Neste último item,
destacam-se as técnicas de Sensoriamento Remoto, as quais têm trazido
importantes avanços e contribuições aos estudos ambientais e urbanos.

SENSORIAMENTO REMOTO COMO INSTRUMENTO APLICADO AOS ESTUDOS


URBANOS

As cidades constituem-se em sistemas complexos (BATTY; TORRENS,


2005) e, como tal, seu estudo, por meio da abordagem sistêmica, enfrenta três
dificuldades. O primeiro, encontra-se no processo de identificação dos seus
elementos, atributos e relações, o que recai sobre o delineamento de sua
extensão. Esta dificuldade deve-se ao fato de que a maioria dos sistemas não
se apresenta de forma isolada, mas sim como constituintes de um sistema
maior, ao que se denomina universo.
O processo de globalização aprofundou essa dificuldade especialmente
porque grande parte dos processos e formas existentes na escala local
encontram suas origens e lógicas em agentes cada vez mais extra locais
(SANTOS, 2000).
164

Dentro do seu universo, o sistema passa a ser um elemento e, portanto,


a conviver e a depender de outros sistemas-elementos, ou subsistemas, os
quais constituem seu conjunto maior. Assim, pode-se fazer a distinção entre
dois grupos de sistemas, os controladores, ou antecedentes, e os controlados,
ou subsequentes (QUARESMA, 2008).
A relação entre os sistemas controlados e controladores não deve ser
considerada de maneira linear, haja vista a existência de mecanismos de
retroalimentação, também conhecidos como feedback, pelos quais os sistemas
subsequentes podem voltar a influenciar os sistemas antecedentes, em uma
interação entre todo o seu universo (CHRISTOFOLETTI, 1999).
A partir da decisão sobre qual será o sistema a ser investigado, definindo
seus elementos e as suas relações, torna-se mais fácil delimitá-lo no espaço,
identificar os seus componentes interligados pelas relações internas e
estabelecer os sistemas ambientais externos controladores. Além disso, a cada
elemento e relação discernidos no sistema, podem ser relacionadas numerosas
variáveis passíveis de mensuração, as quais expressam qualidades ou atributos,
a exemplo do número, tamanho, forma, arranjo espacial, fluxos, intensidades,
taxas de transformação, dentre outros (QUARESMA, 2008).
No caso do estudo das cidades, o delineamento da extensão do sistema
a ser estudado também encontra problemas em função da falta de
padronização do conceito que estabeleça de maneira clara os seus limites. De
acordo com Batty e Torres (2005), o delineamento claro dos limites físicos, que
definem onde uma cidade, área urbana ou assentamento humano inicia ou
termina não se trata de tarefa fácil, tendo em vista que na literatura há pelo
menos três métodos para seu estabelecimento. O primeiro trata-se dos limites
administrativos, os quais se referem aos limites territoriais ou políticos de uma
cidade. O segundo trata-se dos limites funcionais, os quais são delineados de
acordo com as conexões e interações entre áreas, a exemplo das interações
proporcionadas pelas atividades econômicas. O terceiro trata-se dos limites
morfológicos, baseados na forma e estrutura do uso e ocupação da terra ou do
ambiente construído. De acordo com os autores, a escolha dentre os três
critérios mencionados depende da questão de pesquisa em particular e
influenciará substancialmente os resultados da análise.
A segunda dificuldade encontrada no estudo das cidades, por meio da
abordagem sistêmica, encontra-se no próprio pesquisador, uma vez que
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 165

delimitar um determinado sistema da superfície terrestre, constituinte de uma


realidade complexa e que apresenta uma multiplicidade de fenômenos, exige
uma capacidade de abstração profunda, a qual dependerá da formação
intelectual do cientista, bem como de sua própria visão de mundo e de sua
percepção ambiental. Deste modo, segundo Christofoletti (1999), a redução da
subjetividade envolvida na decisão do pesquisador pode ser realizada com
base em quatro normas: a) a contiguidade, ou a proximidade física de seus
elementos; b) a mesma natureza ou similaridade entre seus elementos; c) a
finalidade comum de seus elementos; e d) a padronização distinta ou
reconhecível de seus elementos.
Deve-se, contudo, lembrar que qualquer uma dessas regras pode ser
desobedecida individualmente sem acarretar prejuízos para o discernimento
do sistema. Tal afirmação pode ser exemplificada por meio do sistema
industrial, cujos elementos constituintes (matéria-prima, fábricas e postos de
venda), apesar de não se apresentarem de forma contígua no espaço,
encontram-se organizados, inter-relacionados e, de forma interdependente,
atuam para uma dada finalidade, constituindo assim um sistema (QUARESMA,
2008).
Outro obstáculo ao estudo dos sistemas está no que Christofoletti
(1999) chama de “disponibilidade de instrumentação tecnológica” aplicada às
pesquisas. Graças às possibilidades garantidas pelo desenvolvimento
tecnológico, a produção de novos equipamentos favorece a obtenção de
dados, a compreensão, o diagnóstico e o manejo dos sistemas de organização
complexa.
Neste contexto, inserem-se as geotecnologias, os sistemas de
informação geográfica e o sensoriamento remoto, os quais têm sido
crescentemente utilizados nos estudos urbanos, contribuindo para o melhor
entendimento de seus elementos e relações, bem como de suas formas e
processos.
Tendo em vista o tema central do presente capítulo, cabe a
apresentação do conceito de sensoriamento remoto. Assim, segundo Novo
(2010), sensoriamento remoto trata-se de uma tecnologia que possibilita a
aquisição de informações a respeito de objetos, sem a necessidade de contato
físico direto com os mesmos.
166

Sabins (2007) também define sensoriamento remoto como a ciência de


aquisição, processamento e interpretação de imagens e de dados obtidos por
meio de sensores a bordo de aeronaves e de satélites, os quais captam a
interação entre a matéria e a radiação eletromagnética.
Segundo o referido autor, a aquisição de imagens se refere ao tipo de
sensor empregado, tal como um sistema de varredura eletro-óptico; o
processamento trata-se do procedimento responsável por converter dados
não tratados em imagens; e a interpretação de imagens permite a conversão
de uma imagem em informação que seja significativa e valiosa para uma faixa
ampla de usuários.
O sensoriamento remoto está, portanto, intimamente ligado à medição
da radiação eletromagnética refletida ou emitida dos alvos da superfície
terrestre, bem como ao tratamento e à disponibilização dessa informação
numa forma passível de ser interpretada (MOREIRA, 2011).
A interação entre matéria e radiação é determinada pelas propriedades
físicas da matéria e pelo comprimento de onda eletromagnética detectado
remotamente pelo sensor. Nesse sentido, o termo sensoriamento remoto se
refere a métodos que empregam energia eletromagnética, tal como luz, calor
e ondas de rádio, com o objetivo de detectar e de medir as características dos
objetos, denominados alvos (SABINS, 2007).
O sensoriamento remoto evoluiu de maneira significativa nas últimas
décadas, tanto em relação à maneira com que se realiza o transporte dos
sensores, deixando de ser apenas aerotransportados por meio de aeronaves
(sensores não orbitais) e passando a ser transportados por meio de satélites
artificiais (sensores orbitais), quanto em relação às melhorias em suas
capacidades técnicas de aquisição e processamento da energia
eletromagnética detectada.
Antes da década de 1960, a visão da Terra e do Universo se restringia à
observação direta e às fotografias que utilizavam a luz visível. As visões
distantes eram obtidas apenas a partir de aeronaves e de telescópios.
Atualmente, o sensoriamento remoto fornece instrumentos que visualizam os
alvos por meio de comprimentos de ondas eletromagnéticas muito mais
amplas que os comprimentos de onda correspondentes à luz visível (SABINS,
2007).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 167

De acordo com Zhu et al. (2019), o sensoriamento remoto aplicado a


estudos urbanos evoluiu de forma consistente nos últimos cinquenta anos. Na
década de 1960, o sensoriamento remoto urbano era baseado principalmente
na interpretação de fotografias aéreas. Nesta mesma década, iniciou-se o
desenvolvimento de tecnologias voltadas para a aquisição de imagens por
meio de comprimento de ondas correspondentes às regiões do espectro
eletromagnético do infravermelho e das micro-ondas, fato este que ampliou
grandemente o escopo e as aplicações do sensoriamento remoto.
O lançamento, no início da década de 1970, do Earth Resources
Technology Satellite 1 (ERTS-1), posteriormente denominado como Landsat-1,
permitiu uma revolução do sensoriamento remoto aplicado a estudos urbanos,
tendo em vista a possibilidade de obtenção de dados da superfície terrestre
por meio de sensores transportados por satélites. A partir de então, a série de
satélites Landsat tem sido bastante adotada para o sensoriamento remoto de
áreas urbanas com inúmeras possibilidades de aplicações (DONNAY et al.,
2014). Isto se deve à sua resolução espacial moderada, que permite a
diferenciação de diversos elementos urbanos, bem como à continuidade de
obtenção de imagens a longo prazo (ZHU et al., 2019).
A série Landsat iniciou-se a partir de um projeto desenvolvido pela
National Aeronautics and Space Administration (NASA), estando dedicado de
forma exclusiva à obtenção de dados relacionados aos recursos naturais
terrestres. O Landsat-1 foi o primeiro satélite de sensoriamento remoto do
mundo e também foi o primeiro a ser desenvolvido para atuar diretamente em
pesquisas de recursos naturais (INPE, 2020).
No início da década de 1980, incluiu-se uma banda térmica nos Landsats
de 4 a 8, o que permitiu fornecer medições consistentes da temperatura da
superfície da Terra, sendo de grande valia aos estudos de ilhas de calor urbanas
(VOOGT; OKE, 2003).
No final da década 1990, os lançamentos de satélites comerciais de alta
resolução espacial, tais como o IKONOS e o QuickBird, estimularam ainda mais
os estudos urbanos que fazem uso de técnicas de sensoriamento remoto
(BHASKARAN et al., 2010), tendo em vista que tais satélites comerciais podem
fornecer imagens de resolução espacial semelhantes às das fotografias aéreas,
porém com a vantagem de fornecerem esses dados rotineiramente.
168

De acordo com Zhu et al. (2019), o mapeamento global de todas as áreas


urbanas existentes não foi possível antes do lançamento do sensor Moderate
Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) no ano de 1999. Nesse ano,
realizou-se o lançamento do satélite Terra, e, em 2002, do satélite Aqua, ambos
transportando o referido sensor e que foi projetado para atender a estudos de
fenômenos atmosféricos, oceânicos e terrestres.
Apesar de a maioria dos estudos urbanos que se utilizam de
sensoriamento remoto se basearem em sensores óticos e térmicos diurnos,
existem outros sensores que também permitem observações únicas de outros
atributos urbanos, tais como os sensores de luzes noturnas, o LiDAR e o RADAR
(ZHU et al., 2019).
Os sensores de luzes noturnas podem medir a luz artificial noturna
proveniente de atividades antrópicas específicas ou em áreas urbanas
(ELVIDGE et al., 1997). De acordo com Zhu et al. (2019), alguns desses sensores
podem fornecer informações diárias relacionadas a luzes noturnas das cidades,
com uma acurácia capaz, inclusive, de detectar assentamentos pequenos e
menos desenvolvidos.
O LiDAR (Light Detection and Ranging) trata-se de um sensor remoto
ativo (possui sua própria fonte de energia), que emite feixes de laser na banda
correspondente ao infravermelho próximo e permite a geração de modelos
tridimensionais da superfície a exemplo do Modelo Digital de Terreno e do
Modelo Digital de Superfície (INPE, 2020). Tal sensor tem sido mais utilizado
em estudos de escala local e possui aplicações em levantamentos topográficos
e em estudos de caracterização da estrutura da vegetação e de medições de
características tridimensionais da infraestrutura urbana, a exemplo do cálculo
volumétrico das edificações.
Desde o lançamento do Satélite ERS-1 (European Remote Sensing
Satellite 1), no início da década de 1990, os dados RADAR foram utilizados para
o mapeamento do crescimento urbano, sendo a maioria dos estudos existentes
de pequena escala. Contudo, diante do lançamento de maior número de
satélites RADAR nas últimas décadas, à exemplo do TerraSAR-X, TanDEM-X e
Sentinel-1, estudos em escala continental e global começam a emergir (ZHU et
al., 2019). Além disso, de acordo com Zhu et al. (2012), estudos recentes têm
sugerido que os dados RADAR e óticos são complementares e seu uso
combinado pode aumentar a precisão no mapeamento urbano.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 169

Diante da evolução nas ferramentas e técnicas de sensoriamento


remoto, conforme apresentação realizada nos parágrafos anteriores, cabe
apontar exemplos de suas aplicações em estudos urbanos. Nesse sentido,
escolheram-se, para o presente capítulo, os temas Ilha de Calor e
Monitoramento e Qualidade de Água. Porém, torna-se importante destacar
que os temas ora selecionados são tão importantes quanto todos os outros
existentes, os quais serão de mesmo modo abordados em publicações futuras.

Sensoriamento remoto e estudos de ilha de calor urbana

Dentre as alterações dos ambientes terrestres causadas pela ação


antrópica, destaca-se o fenômeno da ilha de calor, que tem sido observado nas
mais variadas cidades do mundo e que consiste no fato das temperaturas
serem mais elevadas nas áreas urbanas que nas demais áreas que as circundam
(GARTLAND, 2010).
Atribuem-se, como causas principais de tal fenômeno, as mudanças na
troca de energia entre a superfície terrestre e a atmosfera, tendo em vista a
impermeabilização da superfície, provocada pelas mudanças no uso e
ocupação das terras (ZHOU, 2019). Assim, nas áreas urbanas e suburbanas
muitos materiais de construção absorvem e retêm mais calor proveniente do
sol que materiais naturais que recobrem a superfície em áreas rurais
(GARTLAND, 2010).
A ilha de calor, à medida que causa alterações nas condições do
ambiente construído, contribui para a modificação das condições climáticas
locais e regionais, bem como impacta o crescimento da vegetação e a
qualidade da água e do ar. Tais modificações, por sua vez, impactam a saúde e
o bem-estar dos habitantes das áreas urbanas (ZHOU et al., 2019).
Diante desses impactos e de muitos outros ocasionados por este
fenômeno, bem como da provável intensificação de seus efeitos ao longo dos
próximos anos, haja vista a esperada urbanização acelerada, sobretudo em
áreas menos desenvolvidas do planeta, o estudo das ilhas de calor tem se
destacado na literatura acadêmica ao longo das últimas décadas.
De acordo com Zhou et al. (2019), os estudos existentes sobre ilhas de
calor podem ser classificados em duas categorias. A primeira trata dos efeitos
do fenômeno ao ar, o que exige a instalação de estações meteorológicas fixas,
170

ou de radiossondas em plataformas especiais, com vias ao seu devido


monitoramento. Entretanto, tais equipamentos são caros e sua instalação
pode ser demorada. Deste modo, os mesmos encontram-se disponíveis em
apenas algumas grandes cidades do mundo, fato que não permite a
disponibilização de dados suficientes para o planejamento do uso e ocupação
das terras. A segunda categoria, de acordo com Voogt e Oke (2003), trata das
diferenças na radiação eletromagnética entre superfícies urbanas e não
urbanas, podendo ser medidas por dados de sensoriamento remoto térmico
por satélites.
Nesse sentido, o sensoriamento remoto pode fornecer dados
consistentes e periódicos da superfície terrestre, possibilitando o estudo do
ambiente térmico urbano em múltiplas escalas espaciais e temporais (WENG,
2009).
Zhou et al. (2019) trazem importante contribuição à temática do
sensoriamento remoto aplicado aos estudos sobre ilhas de calor a partir da
superfície ao realizarem uma revisão sistemática de trabalhos acadêmicos
existentes, desde o início da década de 1970 até 2019, ano de publicação de
seu trabalho. Nesse sentido, os referidos autores identificaram uma tendência
exponencialmente crescente de pesquisas a respeito de ilhas de calor urbanas
de superfície a partir de 2005, com tendências relacionadas às áreas
geográficas, hora do dia, estações do ano, focos de pesquisas, bem como às
plataformas e aos sensores utilizados.
As análises dos autores permitiram verificar que o continente asiático
apresentou 62% da literatura existente sobre o tema, seguido pela América do
Norte e pela Europa, com 24% e 15%, respectivamente. Poucas publicações
foram encontradas para a Oceania, Américas do Sul e Central, bem como para
o continente Africano, e mesmo para os estudos existentes nessas regiões, a
maioria das cidades envolvidas foram incluídas em estudos globais e não em
estudos focados nas mesmas. Dentre os países que apresentaram publicações,
houve destaque para a China, com 213 trabalhos, seguida pelos Estados
Unidos, com 106, e pela Índia, com 38.
Com relação ao horário do dia e à estação do ano, Zhou et al. (2019)
apontaram que 69% das pesquisas se concentraram em uma hora específica,
especialmente na parte da manhã. Os autores também destacaram que os
dados obtidos pelos satélites normalmente não coincidem com os períodos do
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 171

dia em que a temperatura da superfície terrestre se encontra em seu máximo


ou em seu mínimo. Com relação à estação do ano, observaram também que
mais da metade dos estudos existentes focaram em uma única estação,
especialmente no verão, sendo que apenas 23% dos estudos existentes
abordaram todas as estações do ano. Os autores ainda apontaram que vários
estudos têm confirmado que a intensidade das ilhas de calor e seus
mecanismos variam grandemente com o tempo, o que destaca a importância
de estudos futuros que se baseiem em dados obtidos em diferentes horas do
dia e em diferentes estações do ano.
Com relação aos focos de pesquisas, os autores destacam que os
trabalhos existentes sobre ilhas de calor de superfície urbana conseguem
abordar uma grande variedade de tópicos, com predomínio para variações nas
temperaturas de superfície na escala local, correspondendo a 64% das
pesquisas, seguidas pelos impactos da expansão urbana, com 18%.
Ainda de acordo com Zhou et al. (2019), dentre os sensores remotos
existentes, para fins de estudo do fenômeno das ilhas de calor de superfície
urbana, destacam-se os sensores Thematic Mapper (TM), Enhanced Thematic
Mapper Plus (ETM+) e Thermal Infrared Sensor (TIRS), todos pertencentes à
série Landsat. Outro sensor que também apresenta destaque trata-se do
Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS), transportado pelos
satélites Terra e Aqua. Os quatro sensores mencionados contribuíram para
78% do total de publicações existentes.
As imagens obtidas pelo ASTER merecem destaque, uma vez que este
satélite apareceu como terceira maior fonte de dados presentes nos estudos
analisados. De acordo com Zhou et al. (2019), a participação inferior do uso de
imagens deste satélite nos estudos avaliados se explica pelo custo elevado para
a obtenção de suas imagens, tendo em vista a exigência de cobrança pelo
acesso às mesmas entre o ano de 1999 até abril de 2016. A partir de então, as
imagens passaram a estar disponíveis sem custo para todos os usuários, fato
que, segundo os autores, deverá favorecer o crescimento do uso desta
tecnologia em estudos futuros.
172

Sensoriamento remoto e estudos de monitoramento e qualidade de água

As características físicas, biológicas e químicas que a água deve ter de


modo que possa atender às necessidades dos variados tipos de uso, incluindo
o consumo humano, a irrigação e a recreação, definem a sua qualidade (SAGAN
et al., 2020), a qual está relacionada com a saúde da sociedade e dos
ecossistemas, representando a sua deterioração um risco à saúde humana, à
produtividade de alimentos, e à biodiversidade (RAMADAS; SAMANTARAY,
2018).
Entretanto, o acesso à água limpa tem se tornado uma questão cada vez
mais crítica mundialmente, tendo em vista o crescimento populacional, as
mudanças no uso e ocupação das terras e o aumento da carga de poluentes
tanto no meio rural como no urbano (SAGAN et al., 2020).
Assim, grande parte dos corpos d’água existentes na atualidade
encontram-se contaminados por arsênio, cádmio, cloramina, cromo, fluoreto,
bactérias e vírus, chumbo, nitratos, nitritos, mercúrio, perclorato, rádio,
selênio, prata e urânio. Além desses, existem também os contaminantes
provenientes de produtos farmacêuticos, produtos para cuidados pessoais e os
compostos desreguladores endócrinos, denominados poluentes emergentes
(REIS FILHO; LUVIZOTTO; VIEIRA, 2007), cujo efeito ainda não está totalmente
esclarecido (PETROVIC et al., 2004).
A qualidade da água representa uma questão tão importante quanto a
sua quantidade e seu estudo depende da distinção entre as fontes pontuais e
as fontes não pontuais de poluição. Como exemplos das primeiras podem ser
citadas as fábricas e outras instalações industriais e comerciais que liberam
substâncias tóxicas na água. Já as fontes não pontuais são um problema mais
complexo, incluindo as emissões provenientes dos veículos de transporte, do
escoamento superficial da agricultura, que pode carregar excesso de
nutrientes, pesticidas e lodo para os rios e aquíferos, bem como do
escoamento superficial urbano, que pode carregar metais tóxicos e orgânicos
dos bueiros para as usinas de tratamento de esgoto ou diretamente para rios
e lagos (SPIRO, 2009).
Nesse sentido, a qualidade da água é afetada pela carga de nutrientes,
produtos químicos e sedimentos provenientes do escoamento superficial em
áreas rurais e urbanas. O excesso de nitrogênio e/ou de fósforo pode criar
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 173

condições para o surgimento de algas e para o crescimento de plantas


aquáticas, levando à eutrofização (queda no oxigênio dissolvido) e à morte de
peixes. As mudanças climáticas, caracterizadas pelo aumento das
temperaturas e pelas anomalias nas precipitações pluviométricas, também
estão associadas ao aumento dos nutrientes nas águas, tendo em vista que
contribuem para o crescimento do surgimento de algas, sendo que algumas
destas podem causar danos à vida humana, desde a limitação ao uso recreativo
de lagos e de águas costeiras, devido às alterações de gosto e de cheiro, até
alguns tipos de cânceres e tumores. Estima-se que a poluição da água e a
eutrofização causem de 6 a 16 bilhões de dólares em perdas econômicas e mais
de 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo (SAGAN et al., 2020).
Dentre os principais parâmetros utilizados nos estudos relacionados à
qualidade da água, podem ser citados a concentração de clorofila-a, salinidade,
temperatura, pH, total de sólidos dissolvidos, total de sólidos em suspensão,
proliferação de algas, turbidez, carbono orgânico total, dureza total e
concentração de potássio, fósforo e nitrogênio. Os padrões de concentração
dos contaminantes variam dependendo do tipo de uso necessário
(GHOLIZADEH et al., 2016).
De acordo com Ramadas e Samantaray (2018), a coleta em campo de
amostras de água dos corpos hídricos e em intervalos regulares de tempo tem
sido a primeira fonte de informações a respeito da qualidade de água para fins
de monitoramento. Contudo, tal prática se torna preocupante em relação aos
custos e ao tempo, especialmente quando aplicada a estudos de grande escala
espacial.
Os avanços no campo do sensoriamento remoto, refletidos nas
melhorias das resoluções espectrais e espaciais dos sistemas sensores
utilizados, bem como na melhoria das técnicas de modelagem espacial, têm
permitido o monitoramento de parâmetros de qualidade de água de maneira
satisfatória, a baixos custos e com maior precisão (RAMADAS; SAMANTARAY,
2018).
Torna-se importante, porém, destacar que as técnicas de
sensoriamento remoto não implicam na eliminação das atividades de
monitoramento de campo, mas somam-se a estas, permitindo a identificação
de zonas e tipos de contaminação, bem como o desenvolvimento de
estratégias para a remediação dos quadros de contaminação.
174

No início do monitoramento ambiental espacial, marcado pelo


lançamento do Satélite ERTS-1 (Earth Resources Technology Satellite) em
agosto de 1972, os oceanógrafos tinham conhecimento de que a clorofila e a
temperatura podiam ser monitoradas remotamente. Eles também tinham
ideias a respeito de procedimentos necessários para a extração das
informações obtidas por satélites sobre as concentrações de clorofila por meio
da cor da água no meio do oceano. Os limnologistas, entretanto, tinham
conhecimentos quase nulos em como realizar o monitoramento espacial dos
parâmetros de qualidade das águas interiores ou em como extrair tais
parâmetros caso esses pudessem ser monitorados (BUKATA, 2013).
Entretanto, após o início da década de 1970, os limnologistas físicos
conduziram pesquisas excepcionais no campo da óptica de lagos e da
modelagem biogeo-óptica para as águas interiores e para as massas de águas
costeiras. De tal modo que importantes avanços podem ser apontados, tais
como: a) simulações de Monte Carlo da transferência de energia que ocorre
em águas de lagos opticamente complexos (GORDON et al., 1975); b) métodos
de campo e laboratoriais para determinação dos espectros ópticos de seção
transversal de agentes de produção de cores, orgânicos e inorgânicos, em
suspensão e/ou dissolvidos em águas de lagos; c) metodologia de otimização
multivariada não linear; e d) modelos biogeo-ópticos inversos que extraem
concentrações coexistentes desses agentes produtores de cores a partir de
espectros de cores das águas interiores obtidos a partir dos satélites (BUKATA,
2013).
As contribuições do sensoriamento remoto residem no fato de que os
diferentes sensores existentes possuem a capacidade de aquisição de
informações a respeito dos objetos na superfície do planeta por meio da leitura
de suas assinaturas espectrais. Deste modo, tais sensores fornecem
informações sobre contaminantes presentes nos corpos d’água e sua
concentração e podem ser traduzidos em diferentes indicadores de qualidade
de água.
Assim, a reflexão espectral da água limpa é baixa em todas as faixas do
espectro eletromagnético. No entanto, a reflexão aumenta na parte visível
devido a diferentes materiais suspensos na água (LILLESAND; KIEFER 1994),
ajudando a distinção entre água limpa e água carregada de sedimentos.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 175

A água absorve radiação nas regiões do vermelho e do infravermelho


próximo do espectro eletromagnético e nenhuma refletância é detectável a
partir de um corpo de água limpa acima de 750 nm de comprimento de onda,
contudo, a refletância de algas é detectável devido à presença de clorofila-a e
ficocianina. Sagan (2020) cita diversos estudos e modelos que têm sido
desenvolvidos a partir dos sensores Landsat, MODIS e MERIS, com vias a
estimar os níveis de clorofila-a e sedimentos em suspensão em rios de grande
porte, em reservatórios e em lagos.
No entanto, além das variáveis de qualidade de água mencionadas no
parágrafo anterior, existem outras que, por não serem opticamente ativas ou
por faltarem dados hiperespectrais em boa resolução espacial, não podem ser
medidas diretamente por meio dos satélites atuais, a exemplo das
concentrações de nitrogênio e fósforo, dos níveis de oxigênio dissolvido e dos
microrganismos/patógenos. Alguns estudos, baseados em imagens
hiperespectrais, têm permitido melhorar as estimativas dos totais de
nitrogênio e do fósforo a partir de picos de espalhamento e de valores de
refletância causados pela absorção da clorofila. Porém, os modelos gerados a
partir desses estudos ainda não podem ser generalizados (SAGAN, 2020).
Apesar dos avanços no desenvolvimento de algoritmos que contribuem
para a melhoria dos modelos gerados, uma das limitações ainda existentes é a
relativa indisponibilidade de sensores que contemplem boas resoluções
espacial e espectral ao mesmo tempo. Este fato destaca a importância de
sensores tais como o AVIRIS, HyMap, HyspIRI (Hyperspectral Infrared Imager)
e missões de satélites futuras, incluindo a missão Surface Biology and Geology
da NASA, PRISMA (Itália), HISUI (Japão) e EnMAP (Alemanha), os quais podem
contribuir para a solução deste problema (SAGAN, 2020).
Com relação aos potenciais dos instrumentos tecnológicos modernos e
que permitem evolução dos estudos referentes ao monitoramento da
qualidade de água, Ramadas e Samantaray (2018) também destacam que o
monitoramento e a remediação da qualidade da água foram beneficiados pelas
imagens mais recentes do Sentinel-2 e Landsat 8.
O Sentinel-2 faz parte do Monitoramento Global para Ambiente e
Segurança (Global Monitoring for Environment and Security – GMES), sendo
este uma iniciativa da Comissão Europeia e da Agência Espacial Europeia.
176

De acordo com Drusch et al. (2012), o Sentinel-2 possui uma alta


resolução temporal, tendo em vista que a presença de dois satélites idênticos
operando simultaneamente permite uma frequência de revisita de cinco dias.
Além disso, possui também uma excelente resolução espectral com 13 bandas
espectrais que abrangem o visível, o infravermelho próximo e o infravermelho.
Por fim, a sua resolução espacial também se torna um grande diferencial,
variando de 10 a 60 m, dependendo da banda espectral utilizada. Tais
características, somadas ao amplo campo de visada de 290 km, fazem do
Sentinel-2 um grande avanço em comparação às demais missões
multiespectrais existentes.
Os principais objetivos do Sentinel-2, segundo Drusch et al. (2012), são:
fornecer aquisição global e sistemática de imagens multiespectrais de alta
resolução com alta frequência de revisita, dar continuidade aprimorada às
imagens multiespectrais fornecidas pelo satélite SPOT, e fornecer informações
para a próxima geração de produtos operacionais como mapas de cobertura
do solo, mapas de detecção de mudanças de uso e ocupação e de variáveis
geofísicas.
Os dados obtidos pelo Sentinel-2 trazem contribuições importantes aos
estudos inerentes à gestão de riscos (inundações e incêndios florestais,
subsidência e deslizamentos de terra), às mudanças de uso e ocupação das
terras, ao monitoramento florestal, à segurança alimentar, ao gerenciamento
de água e proteção do solo, ao mapeamento urbano, e ao mapeamento da
ajuda e desenvolvimento humanitário (DRUSCH et al., 2012).
O Sentinel-2 também provê dados com a devida qualidade para o
monitoramento das práticas agrícolas e para o monitoramento das águas
costeiras e interiores (RAMADAS; SAMANTARAY, 2018).
Merecem também destaque os avanços da utilização de veículos aéreos
não tripulados (VANT), os quais têm permitido o monitoramento regional e
inovador das águas superficiais interiores, especialmente relativo à presença
de algas e de sedimentos em suspensão (VOGT; VOGT, 2016).
Ramadas e Samantaray (2018) publicaram uma revisão sobre o estado
da arte das aplicações do Sensoriamento Remoto no monitoramento e
remediação da qualidade da água e destacaram as contribuições dos Sistemas
de Informação Geográfica neste campo. Segundo os autores, diversas técnicas
de sensoriamento remoto têm sido adotadas em estudos com vias a auxiliar no
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 177

monitoramento e gerenciamento da qualidade da água, entretanto, são os


Sistemas de Informação Geográfica que tornam possível vincular
perfeitamente o monitoramento da qualidade da água no espaço e tempo com
estratégias de remediação a custos reduzidos. Tais sistemas também têm
contribuído na coleta de dados e na comunicação dos riscos relacionados à
qualidade da água em tempo real por meio da exibição de mapas.

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 179

Capítulo 8

FERRAMENTAS URBANAS ADOTADAS NO COMBATE ÀS INUNDAÇÕES


NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Carlos Alberto Nunes de Oliveira26


Diego de Melo Conti27
Pedro Roberto Jacobi28

INTRODUÇÃO

De acordo com dados e relatórios do Painel Brasileiro de Mudanças


Climáticas (PBMC, 2016), as cidades enfrentam impactos significativos devido
às mudanças climáticas, impactos esses que potencializam as consequências
relacionadas à saúde humana e meios de subsistência, especialmente para as
populações mais pobres e em situação de vulnerabilidade social. A temática
dos desastres naturais é destacada nas publicações do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas [IPCC], que apresenta o
crescimento destes desastres e destaca que tal crescimento está relacionado
com a mudança climática global (IPCC, 2014).
Em um importante boletim epidemiológico sobre Desastres Naturais e
Saúde publicado pelo Ministério da Saúde (2018), ressaltou-se que cerca de
três quartos da população do planeta vivem em áreas afetadas por desastres
naturais, tais como: secas, terremotos e inundações. Ademais, o documento

26 Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, Universidade Nove de Julho (UNINOVE). E-mail:


carlosnunes.co@gmail.com
27 Doutor em Administração, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor do Centro de

Economia e Administração da Pontifícia Universidade Católica de Campinas - Programa de Pós-


Graduação em Sustentabilidade. E-mail: diegoconti@uol.com.br
28 Doutor em Sociologia, Universidade de São Paulo (USP), professor titular sênior do Programa de

Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM/IEE/USP). Editor de Ambiente e Sociedade. E-mail:


prjacobi@gmail.com.
180

destacou que 85% dessa população exposta aos desastres naturais mora em
países em desenvolvimento ou emergentes.
Dentre as diferentes tipologias de desastres, as inundações geram
impactos de diferentes ordens, tal como ocorrências relacionadas a óbitos,
traumas, prejuízos ao patrimônio público, ambiental, coletivo e individual e
doenças afetando diretamente a saúde da população.
A cidade de São Paulo vivencia situações de alagamentos e inundações
desde o início de sua urbanização. Os processos de alagamentos e inundações
ocorrem em toda Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a qual é formada
por 39 municípios, e provocam danos sociais e econômicos à população (DAEE,
2019).
Para Oliveira (2020), os motivos que levam à existência desses
fenômenos estão relacionados às características físicas da cidade e ao processo
de urbanização que foi acelerado e desprovido de um planejamento urbano
voltado para as questões ambientais e habitacionais. Do mesmo modo, a
priorização do automóvel e a construção de estradas, o tamponamento e a
retificação dos rios e córregos que tiveram como ponto de partida a década de
1930, agravaram esta problemática.
Sousa (2018) complementa que os problemas ocasionados pelas
inundações se origina do desmatamento, impermeabilização do sítio urbano,
construção inadequada de diques, alterações nos cursos naturais dos rios e a
ineficiência dos projetos de captação de águas pluviais, em períodos nos quais
o índice pluviométrico é alto e o escoamento superficial, aliado aos fatores
anteriores, favorecem a ocorrência de inundações.
Sendo assim, a ocupação urbana é um dos fatores responsáveis pelas
inundações, que ocorrem normalmente no sentido da jusante 29 a montante30
dos rios que têm como influência a aceleração do escoamento que, por sua
vez, transferem o problema das reduções significativas dos espaços naturais
para a jusante, e então, quanto menor for o tempo de acúmulo da chuva, o
pico da vazão à jusante será maior.

29 Jusante é a direção normal para onde corre o fluxo de água em um rio em sentido à foz, do ponto
mais alto para um ponto mais baixo. Também é conhecido como baixa-mar ou vazante da maré
(IBGE, 1993).
30 Montante pode ser descrito como o lado da nascente de um rio, é o local que está mais próximo

das cabeceiras de um rio, ou seja, é a direção contrária ao sentido em que a água do rio flui (IBGE,
1993).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 181

Quanto à geografia, a cidade de São Paulo está localizada sobre um


planalto com baixos declives, aliada à impermeabilização do solo decorrente
do processo de ocupação desordenada que fez com que as áreas de várzeas de
rios, destinadas ao armazenamento natural das águas, fossem substituídas por
novas áreas inundáveis habitadas (DAEE, 2019).
Com a devastação do ecossistema e as emissões de poluentes o meio
ambiente é afetado e modifica o clima. Esta mudança climática causa um
impacto significativo com relação à frequência e magnitude das inundações.
Lombardo (1985) e Knox e Kundzewicz (1997) exemplificam isso ao relatarem
em seus estudos a formação de ilhas de calor no meio ambiente urbano, o que
ilustra este cenário de mudanças e que modificam os padrões e intensidade
das precipitações.

A análise dos cenários urbanos brasileiros revela a forma


desordenada de apropriação, norteado pela ausência de um
planejamento que considere o disciplinamento do uso e
ocupação do solo como prerrogativa básica de seu
ordenamento. Essa desordenação traz como uma das principais
consequências os níveis abusivos de degradação ambiental no
ambiente urbano. (OLIVEIRA, 1998, p. 3)

Nesse cenário, a cidade de São Paulo é um dos exemplos de maior


notoriedade no Brasil, pois a cidade passou por um rápido processo de
urbanização e as terras urbanizáveis foram tomadas até os limites das várzeas
de importantes rios, tais como Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. A aceleração da
expansão urbana se originou no início do processo de industrialização e,
posteriormente, quando a indústria automobilística se instalou, havendo a
necessidade da ampliação do sistema viário da cidade (CAMPOS, 2019;
PESSOA, 2019). Acreditava-se que este crescimento desenfreado era o
progresso e o desenvolvimento ocorria em benefício da população.
Devido a este crescimento acelerado, a cidade de São Paulo expandiu o
seu território além da área central da cidade, ocupando as várzeas ao longo
dos principais rios da cidade, consideradas como territórios ruins para
construção. É sabido, por exemplo, que o rio Tietê é um rio meândrico, sinuoso,
com grande área de inundação e cheias frequentes. Entretanto, as edificações
que se encontravam neste território sofriam com os alagamentos anuais que
traziam lixo, um odor desagradável e, consequentemente, doenças de fácil
propagação, e como forma pejorativa os moradores dessas várzeas eram
182

chamados de varzeanos, termo utilizado para nomear as áreas pobres e sujas


da cidade (PESSOA, 2019).
De acordo com estimativas realizadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2019 cerca de 5,13 milhões de
residências particulares encontram-se em setores subnormais31, este valor
corresponde a 8,75% das residências do Brasil e representam 9,54% de sua
população, o Estado de São Paulo é o que reúne o maior número de residências
em situação subnormais com aproximadamente 1,1 milhão de domicílios.
Com esta problemática exposta, desperta e urge a necessidade de
desempenhar uma gestão de águas urbanas de forma integrada, a fim de
inserir e captar novos paradigmas e conceitos associados com as águas
urbanas.

OS IMPACTOS DAS INUNDAÇÕES NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Durante décadas, no Brasil como em outros países, a drenagem urbana


das grandes metrópoles foi tratada de maneira acessória, no contexto do
parcelamento e uso do solo. De acordo com o relatório apresentado pela
Comissão de Melhoramento do Rio Tietê em 1924, que classificou o
comportamento do rio com velocidade moderada fora da época das chuvas,
durante o verão, com o aumento das chuvas o seu volume aumenta
consequentemente a sua velocidade, provocando erosão do leito que, com o
passar do tempo, torna-se meandros originados pela retirada do terreno
aluvial (CANHOLI, 2015).
Ao longo das décadas, as várzeas dos rios foram incorporadas ao
sistema viário por meio das denominadas “vias de fundo de vale”. Uma série
de córregos foram retificados e canalizados (boa parte sendo encerrada em
galerias), com o intuito de construir vias marginais sobre os antigos meandros
que eram formados pelos rios e córregos, as várzeas que sazonalmente são
sujeitas ao alagamento e as cheias de suas calhas, que foram suprimidas ao
serem urbanizadas, o que provocou aceleração no escoamento das águas de

31
O IBGE criou a tipologia subnormal para mostrar áreas de habitação precária que tem como
características: a) topografia para habitação inadequada; b) urbanização irregular; c) invasão de
terras; e d) precariedade ou ausência de serviços públicos essenciais. Este conceito se aplica à
população que resida em: invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos e
palafitas (IBGE, 2010).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 183

montante à jusante, gerando um aumento considerável nos picos de vazão e


por conseguinte as inundações em diversos casos (CANHOLI, 2015; BONZI,
2016; PESSOA, 2019).

Da mesma maneira que em muitas cidades mundo afora,


somente a partir da década de 1960, e mais efetivamente no
fim do século XX, começou-se a questionar até que ponto o
desenvolvimento tecnológico teria benefícios para sociedade
como um todo. (PESSOA, 2019, p. 2)

No Brasil, até o momento, não há uma política bem definida e elaborada


para a gestão de riscos de inundações no âmbito nacional (BARBEDO, 2016).
No entanto, a Lei de Zoneamento (Lei de Uso do Solo) determina que, no plano
do território municipal, a sua segmentação seja em diferentes zonas onde são
determinados os critérios para uso e ocupação do solo de maneira adequada,
como: comercial, residencial e industrial. Considera-se a característica do
ambiente natural a fim de garantir a proteção dos recursos hídricos e suas
encostas, áreas de recarga de aquíferos e de amortecimento de cheias,
planícies de inundações, terrenos com vegetação natural ou suscetíveis à
erosão, etc. (BASTOS, 2009).
Visto que o sistema de gestão que está previsto na Política Nacional de
Recursos Hídricos (PNRH) deve ser implantado no âmbito das bacias
hidrográficas, tais instrumentos são previstos e definidos pela Lei Federal
9.433/1997 e se caracterizam como o plano de recursos hídricos (PRH), a
outorga de direitos de uso, a cobrança pelo uso da água bruta, o
enquadramento dos corpos d’água e o sistema de informações sobre recursos
hídricos.
Tucci (2004) ressalta que a urbanização é espontânea e que o
planejamento urbano é realizado apenas para a parte da cidade ocupada pela
população de classe média, enquanto para as áreas de baixa renda e de
periferia o processo se dá de forma irregular. Rolnik (1997) analisou as formas
concretas de produção e apropriação do espaço urbano de São Paulo,
indicando como o mercado e a legalidade urbana ajudaram a criar uma cidade
marcada pela extrema desigualdade social (VERAS, 2018).
As populações que se encontram em situação de vulnerabilidade social
são as mais afetadas por residirem nas áreas periféricas e de riscos, que são
locais predispostos a incidentes de eventos catastróficos. Este segmento
populacional vivencia e encontra-se em condições de risco social, pois estão
184

expostos à insegurança e desproteção por viverem em situação de perigo,


apresentando mazelas que podem levar à morte (ESTEVES, 2011).
A desigualdade urbana tem uma forte relação com a vulnerabilidade, e
se observarmos as camadas populacionais que sofrem com ausência de
proteção destacam-se os grupos vulneráveis que carecem do acesso aos
serviços públicos de caráter social e condições básicas para a sobrevivência
(KOWARICK, 2000; CARDOSO; FELTRIN, 2011).
Tal cenário se agrava em função da especulação imobiliária, em que as
áreas mais centrais concentram a maior parte da infraestrutura e dos serviços
que permitem a valorização e geram privilégios para as populações mais ricas
e que se tornam sistematicamente beneficiadas pelo simples fato de terem
acesso aos equipamentos públicos e serviços urbanos. E, dessa forma, se
expulsa a população de baixa renda para áreas, muitas vezes, caracterizadas
pela suscetibilidade dos riscos e vulnerabilidade à ocorrência de desastres
ambientais, o que retrata uma distinção na oferta dos serviços públicos
(MARICATO, 2003; MARCUSE, 2004; LAURIANO, 2015).
Pisani (2018) ressalta que os acidentes associados às inundações afetam
em maior número as classes sociais menos favorecidas, as quais, por vezes, se
encontram em assentamentos precários e irregulares, ocupando assim áreas
ambientalmente frágeis. Dentre essas áreas, encontram-se aquelas
pertencentes às várzeas fluviais, que sofrem com processos de inundações
urbanas. Estes, apesar de se originarem a partir de elementos naturais, são
agravados pela ação antrópica, especialmente pela ocupação irregular, pela
impermeabilização dos solos e pelos sistemas ineficientes de drenagem
urbana, indica falta de governança colaborativa (JACOBI et al., 2013).
Pachaure et al. (2014) compreendem que essas perspectivas e desastres
ambientais se estendem por todo o globo e é um reflexo que as cidades
exercem devido ao movimento que impulsiona o crescimento urbano de um
país, nas dimensões econômicas, ambientais e sociais. Com o aumento das
áreas construídas (não permeáveis) nos centros urbanos, gerou-se um
problema de escoamento das águas das chuvas, criando-se áreas de
inundações e risco por não haver espaço físico de armazenagem e drenagem
dessas águas.
A construção de soluções para o controle de inundações passa por
inúmeros desafios, uma vez que devem ser articuladas de maneira eficiente e
integrada (KUTNER et al., 2015). Por exemplo: a implantação de reservatórios
de retenção de sólidos e das vazões (“piscinões”, como erroneamente
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 185

passaram a ser conhecidos), apesar de tecnicamente recomendável para


muitos locais (não para qualquer fundo de vale), enfrentam a oposição das
pessoas que moram nas imediações por não receberem nenhum tipo de
compensação pelos inconvenientes a que estarão sujeitas (OLIVEIRA, 2020).
As técnicas utilizadas atualmente para diminuir os danos provocados
pelas inundações expõem um valor significativo. Dentre as técnicas existentes
uma alternativa é a utilização de sensores para monitorar o comportamento
dos rios e córregos. Tal técnica tem por objetivo gerar alertas em tempo hábil,
auxiliando na melhor tomada de decisões, no intuito de diminuir os impactos
e danos provocados pelos desastres naturais (FREITAS; XIMENES, 2012; ARJUN
et al., 2015).
A cidade e a região metropolitana de São Paulo, em fevereiro de 2020,
sofreram mais uma vez com as fortes chuvas, sendo que as inundações dos rios
e córregos causaram diversos transtornos para a cidade. A Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), por exemplo, relatou
que o prejuízo provocado pelas inundações foi de aproximadamente 7 mil
toneladas de alimentos e R$ 24 milhões (EXAME, 2020). O Centro de
Gerenciamento de Emergências (CGE) reportou 160 pontos de alagamentos e
o corpo de bombeiros atendeu a 1.043 ocorrências de inundações, 163
ocorrências de desabamentos e desmoronamentos, 170 quedas de árvores e 8
pessoas vieram a óbito (O GLOBO, 2020).
Atualmente, o principal desafio enfrentado nas cidades,
independentemente de seu tamanho, é criar condições que assegurem uma
qualidade de vida aceitável sem interferir no meio ambiente e que haja de
maneira preventiva para sanar a continuidade da degradação que é notória nas
áreas mais carentes. Tal inclusão, inserida na esfera da sustentabilidade
ambiental, condiciona uma mudança de paradigmas a fim de alcançar um
desenvolvimento econômico compatível para conseguir equidade.

SOLUÇÕES OU PRINCÍPIOS DE SOLUÇÕES

É importante ressaltar que, em geral, na prevenção de inundações junto


com as obras localizadas (canalizações de preferência aberta, reservatórios,
etc.) devem ocorrer ações como racionalização e rigoroso controle do uso do
solo, controle de erosão, implantação de áreas verdes e principalmente,
educação ambiental ou melhor, conscientização cidadã da população (KUTNER
et al., 2015). Sem esta última, que tem um baixo custo e deve preceder,
186

conviver e continuar após as obras, as demais intervenções são comumente


ineficazes.
Porém, diversos instrumentos legais podem ser adotados e ajustados a
fim de mitigar seus impactos por meio das políticas do uso e ocupação do solo,
saneamento básico, gestão de recursos hídricos, planos diretores de drenagem
urbana, etc.
Os projetos e planos de drenagem urbana tiveram seus primeiros
conceitos inseridos para a diferenciação das ações com medidas estruturais e
medidas não estruturais, a fim de controlar e solucionar os problemas
causados pelas inundações (PESSINA, 2014). Os Quadros 1 e 2 apresentam as
medidas estruturais e não estruturais.
Segundo Canholi (2015), a saída que muitos dos engenheiros
responsáveis pela drenagem urbana adotaram como alternativa para as
inundações foi a canalização dos cursos d’água, medida tradicionalmente
utilizada como o pensamento higienista, a fim de aumentar a velocidade de
escoamento e expulsar a água rapidamente. De tal modo, o problema das
inundações é transferido para as áreas de jusante das bacias hidrográficas,
aumentando sua magnitude e frequência.
Já de acordo com Walesh (1989), as medidas de controle para
inundações podem ser estruturais, as quais abrangem as obras de engenharia
ou não estruturais, tais como: sistema de alerta, zoneamento, plano diretor e
seguros. Tucci e Genz (1995) reiteram que um planejamento e
desenvolvimento urbano consistente deve contemplar medidas estruturais e
não estruturais de maneira harmoniosa, porém, não se deve ampliar a cheia
natural do curso d’água esse é um critério fundamental que deve sempre ser
seguido.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 187

Quadro 1. Medidas estruturais para controle de inundações


Medidas estruturais
Aumento da Diques marginais ou anulares
capacidade de Melhoria das calhas (aumento da seção transversal, desobstruções e
escoamento das retificações)
calhas Canalização (melhoria da calha e revestimento, substituição da calha por
galeria / canal, canal de desvio)
Redução das vazões Reservatório nos cursos d'água principais
de cheias
Medidas para Medidas para Medidas locais (armazenamento
controle do detenção das águas em telhados, cisternas, bacias de
escoamento pluviais detenção em parques, etc.)
superficial
direto:

Medidas fora do local


(armazenamento em leitos secos
ou em reservatórios implantados
em pequenos cursos d'água)

Medidas para Medidas locais (poços, trincheiras,


infiltração das bacias de infiltração, escoamento
águas pluviais dirigido para terrenos gramados,
etc.)

Fonte: FCTH – Diretrizes Básicas para Projetos de Drenagem/SP (1999).

Quadro 2. Medidas não estruturais para controle de inundações


Medidas não estruturais
Regulamentação do uso e ocupação do solo (principalmente em fundo
de vale)
Proteção contra inundações (medidas de proteção individual das
edificações em áreas de risco)

Seguro contra inundações


Sistemas de alerta, ações de defesa civil, relocações
Fonte: FCTH – Diretrizes Básicas para Projetos de Drenagem/SP (1999).

Já a ineficiência e inexistência do suporte de medidas não


estruturais é apontada, atualmente, como uma das maiores
causas de problemas de drenagem nos centros mais
desenvolvidos. A utilização balanceada de investimentos, tanto
em medidas estruturais quanto não estruturais, pode
188

minimizar significativamente os prejuízos causados pelas


inundações. (FCTH, 1999, p. 20)

As ferramentas urbanas de soluções e mitigação aplicadas nas cidades,


como aquelas baseadas na natureza, são infraestruturas que procuram dar
“aspectos aliados à saúde, tanto física quanto mental das pessoas, além de
benefícios ambientais, tais como: equilíbrio climático, qualidade do ar e
permeabilização do solo como medida para controle de cheias” (MASRÓSTICA,
2019, p. 29), por meio de áreas verdes (BERLAND, et al., 2017). Dentre os tipos
de áreas verdes urbanas, cabe destacar as áreas verdes de propriedade pública,
parques lineares, praças, corredores verdes, jardins verticais, telhados verdes,
entre outros apresentados no Quadro 3.

Quadro 3. Definição de área verde urbana


“São um tipo especial de espaços livres onde o elemento
fundamental de composição é a vegetação. Elas devem
satisfazer três objetivos principais: ecológico-ambiental,
estético e de lazer. Vegetação e solo permeável (sem laje)
devem ocupar, pelo menos, 70% da área; devem servir à
população, propiciando um uso e condições para
NUCCI; CAVALHEIRO (2006)
recreação. Canteiros, pequenos jardins de ornamentação,
rotatórias e arborização não podem ser considerados áreas
verdes, mas sim "verde de acompanhamento viário", que
com as calçadas (sem separação total em relação aos
veículos) pertencem à categoria de espaços construídos ou
espaços de integração urbana. ”
“Considera-se área verde de domínio público, para efeito
desta Resolução, o espaço de domínio público que
Resolução do Conselho Nacional
desempenhe função ecológica, paisagística e recreativa,
do Meio Ambiente (CONAMA,
propiciando a melhoria da qualidade estética, funcional e
2006)
ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços
livres de impermeabilização. ”

“...destaca-se que as áreas verdes urbanas, sejam elas


DORIGO; LAMANO FERREIRA praças ou parques, são percebidas como importantes
(2015) espaços para convivência e interação social, além de
estreitar a relação do ser humano com a natureza. ”

“Áreas verdes é um termo que se aplica a diversos tipos de


espaços urbanos que têm em comum o fato de serem
DEMATTÊ (1997) abertos, acessíveis; relacionados com saúde e recreação
ativa e passiva, proporcionaram interação das atividades
humanas com o meio ambiente. ”
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 189

“Áreas, zonas, espaços ou equipamentos verdes são


espaços livres onde predominam áreas plantadas de
LLARDENT (1982)
vegetação, correspondendo, em geral, ao que se conhece
como parques, jardins ou praças. ”
“Geralmente considera-se como espaço verde urbano
parques públicos e jardins, mas pode ou não incluir
também uma série de outras áreas, como outros espaços
abertos públicos, árvores de rua, campos desportivos e
World Health
instalações recreativas, tais como campos de golfe, jardins
Organization Europe
privados e semiprivados e outros espaços abertos
(WHO, 2016)
residenciais, jardins de cobertura, agricultura urbana,
florestas comerciais, resíduos com vegetação terra, de fato
qualquer lugar onde há uma superfície natural ou onde as
árvores estão crescendo.”
Fonte: Maróstica (2019).

Para Bonzi (2016), as soluções baseadas em infraestrutura verde atraem


a participação da população. A massa vegetal melhora a qualidade do ar, o
conforto térmico, enriquece a comunidade e a paisagem local “com
desempenho que tende a aumentar com o passar do tempo” (BONZI, 2016).
Embora os componentes e processos envolvidos em infraestrutura verde
sejam vastos, as principais soluções baseadas na natureza são: valas de
infiltração; jardins de chuva; piso permeável; arborização urbana; telhado
verde; parques lineares; trincheiras de infiltração e reservatório de reuso
(BONZI, 2016).
Partindo de uma perspectiva sustentável, a abordagem do plano diretor
de drenagem urbana por meio do Plano de Manejo Sustentável de Águas
Pluviais, Rezende (2010) propõe e enfatiza a necessidade de se articular com o
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e aponta medidas de curto, médio
e longo prazo que devem ser implementadas.
Tal integração é um processo ainda em construção no país e o próximo
passo é a integração com as demais políticas de uso do solo e setoriais e as
ferramentas urbanas, tais como: a Política Nacional de Recursos Hídricos; o
Estatuto da Cidade; a Lei de Saneamento Básico; entre outras. Alguns desses
instrumentos já existiam e eram previstos na legislação, porém careciam de
uma definição melhor, pois apresentavam insuficiências tanto técnicas como
operacionais.
190

CONCLUSÕES

As inundações urbanas, no contexto brasileiro, podem ser consideradas


como reflexo de uma realidade de desigualdade socioespacial. Num sistema
bem enraizado, agentes políticos, econômicos e sociais, através da especulação
imobiliária, expulsam populações mais pobres para as periferias das cidades,
para espaços urbanos com ausência ou em situação precária de infraestrutura
e serviços urbanos. Esse processo reforça a vulnerabilidade desses grupos
sociais inclusive a desastres naturais, de forma diferente de camadas sociais de
regiões mais abastadas da cidade que criam seus próprios mecanismos para
minimizar os efeitos de tragédias ambientais e ser menos prejudicadas.
Observa-se que nas políticas sociais existe uma limitação no que tange
ao atendimento das necessidades das classes afetadas, e, desta maneira, as
políticas públicas apresentam respostas isoladas e que reforçam a realidade de
vulnerabilidade e subalternidade social, mantendo inalterado o dia a dia
daqueles que sofrem com as inundações. Além das questões naturais, a
sociedade brasileira tem pouca vivência de envolvimento com ações de
educação ambiental, e isto se reflete nas prioridades de políticos e gestores
municipais.
Assim, torna-se fundamental a implantação, a curto e médio prazo, de
uma política municipal ambiental efetiva e eficiente que amplie as áreas verdes
da cidade incluindo a ampliação do plantio de árvores e o estímulo à
construção de tetos verdes, por exemplo.
Adotando medidas universalizantes e eficientes, será possível se
posicionar a favor de uma sociedade justa e eficiente para resolver os graves
problemas de todos os seus membros causados pelas inundações num
município de gigantescas dimensões demográficas e sociais. Para tanto,
salienta-se que nenhum modelo, nenhuma estrutura ou nenhuma proposta
serão eficazes caso a sustentabilidade não seja pensada como o resultado de
esforços coletivos na busca de melhor qualidade de vida na maior metrópole
da nação apoiada em programas de educação ambiental.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 191

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 193

Capítulo 9

CONSERVAÇÃO DA GEODIVERSIDADE E DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO

Maria da Glória Motta Garcia32


Lígia Maria de Almeida Leite Ribeiro33
Christine Laure Marie Bourotte34

INTRODUÇÃO

Muitos dos problemas socioambientais colocados atualmente, tais


como desastres naturais, escorregamentos, enchentes e urbanização
descontrolada, estão relacionados ao manejo inadequado do meio físico.
Como parte integrante da diversidade natural e essencial no suporte à
biodiversidade, a supressão e a modificação de elementos da geodiversidade e
do patrimônio geológico podem resultar em graves consequências na
manutenção do meio natural e, consequentemente, na qualidade de vida da
sociedade. O conhecimento adequado dessa porção abiótica da natureza é,
portanto, indispensável para subsidiar políticas públicas de gestão ambiental,
de ordenamento territorial, de educação, entre outras.
Apesar desta importância, a geodiversidade tem sido, historicamente,
negligenciada quanto ao seu papel na manutenção do meio ambiente. Parte
desta situação relaciona-se diretamente ao desconhecimento do patrimônio
natural e à falta de apropriação, por parte da comunidade e dos governos, do
ambiente onde vivem. A ausência de percepção da sociedade sobre a dinâmica
dos sistemas naturais faz com que a aptidão para estabelecer posições críticas
e amparar decisões sobre ações antrópicas para ocupação e uso dos recursos
naturais seja dificultada (CAÑIZARES et al., 2019).

32 Doutora, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. E-mail: mgmgarcia@usp.br


33 Doutora, Serviço Geológico do Brasil, CPRM. E-mail: ligia.ribeiro@cprm.gov.br
34 Doutora, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo. E-mail: chrisbourotte@usp.br
194

Nesse contexto, este capítulo tem como objetivo trazer elementos


técnicos e científicos no âmbito da geodiversidade e do patrimônio geológico
que possam servir como base para compor estratégias de planejamento
ambiental no âmbito administrativo. Inicialmente são apresentados alguns
conceitos básicos visando facilitar a compreensão da problemática envolvendo
estes temas dentro do planejamento ambiental. Em seguida discutem-se
aspectos mais específicos em termos de legislação e dos potenciais turístico e
educativo de locais de interesse geológico na Região Metropolitana de São
Paulo (RMSP).

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

A temática da conservação do meio abiótico vem ganhando força em


vários países devido ao reconhecimento de seu papel na proposição de
alternativas sustentáveis de gestão do meio natural. Um dos grandes trunfos
desses estudos é seu caráter multidisciplinar e a possibilidade de envolver
profissionais de diversas áreas do conhecimento, tais como as geociências, o
turismo, a educação, as ciências sociais, a economia e muitas outras. Além
disso, a utilidade dos dados obtidos na resolução de problemas ambientais e
de uso e ocupação do solo a torna cada dia mais essencial no planejamento de
políticas públicas em vários setores.

Geodiversidade

O termo Geodiversidade surgiu no final dos anos 1990, no contexto da


gestão territorial das áreas protegidas, em oposição ao conceito de
biodiversidade, que trata dos elementos biológicos do ambiente natural. Desde
então, o termo foi definido de várias maneiras, desde o conceito de variedade
geológica até uma definição mais ampla, que inclui a diversidade de natureza
abiótica. Em um contexto mais abrangente, a geodiversidade inclui a variedade
natural (diversidade) de materiais geológicos, tais como rochas, minerais,
fósseis, estruturas, solos e formas de relevo e os processos ativos que os
formam, que são o suporte para a vida na Terra (STANLEY, 2000; BRILHA, 2005;
GRAY, 2013).
Essa estreita relação com a biodiversidade é uma característica essencial
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 195

no suporte de seres vivos e seus habitats e a gestão adequada dos ecossistemas


requer que as características geológicas e geomorfológicas, assim como a
história evolutiva e a dinâmica dos processos naturais, sejam levados em
consideração (BACCI et al., 2019). Desde 2008, a União Internacional para a
Conservação da Natureza (IUCN) vem incluindo a geodiversidade em sua
agenda como parte da diversidade natural, em conjunto com a biodiversidade.
Os elementos da geodiversidade fornecem bens e serviços em benefício desta
e das gerações futuras, que têm sido estudados segundo uma abordagem
ecossistêmica cujo foco principal é encontrar uma maneira ampla de tratar o
ambiente natural de modo sustentável, considerando a gestão da terra, da
água e dos seres vivos. Esta deve ser a base para o desenvolvimento de
respostas a questões atuais, como a pressão sobre o suprimento de recursos
naturais e as mudanças climáticas. Os serviços ecossistêmicos prestados pela
geodiversidade podem ser agrupados de acordo com cinco funções: regulação,
provisão, suporte, culturais e de conhecimento e sua avaliação adequada pode
ser a chave para o uso sustentável do patrimônio abiótico (GRAY, 2013) (Figura
1).

Figura 1. O papel da geodiversidade na geração de bens e serviços:


serviços ecossistêmicos da geodiversidade ou geossistêmicos

Fonte: Modificado de Gray (2013) e Chakraborty e Gray (2020).


196

Em geral, os elementos bióticos são associados a fragilidade,


vulnerabilidade e necessidade de conservação, ao contrário dos elementos da
geodiversidade, que são normalmente considerados estáveis. No entanto,
muitos locais de interesse geológico contêm elementos importantes que são
extremamente frágeis, como é o caso de espeleotemas e fósseis. Além disso,
quando um elemento da geodiversidade é destruído, isso ocorre de modo
permanente, pois é insubstituível no nosso tempo de vida. A geodiversidade
está sujeita a muitas ameaças naturais ou antrópicas, tais como erosão natural,
exploração de recursos geológicos, desmatamento, especulação imobiliária,
desenvolvimento de obras e coleta excessiva de amostras. Mas a pior delas
talvez seja a ignorância acerca de sua importância.

Patrimônio geológico

A geodiversidade pode ser descrita também por meio de valores (GRAY,


2013). Com exceção do valor intrínseco, que é aquele atribuído à
geodiversidade pelo "simples fato de existir", sem necessariamente ter relação
com o Homem, os outros valores são associados à sua utilização pela
sociedade: cultural, estético, econômico, funcional, científico e educativo.
Alguns elementos da geodiversidade têm relação direta com o conceito de
patrimônio, que está geralmente associado à herança e à sua relevância em
diferentes contextos espaciais e/ou temporais. Nesse sentido, a fração da
geodiversidade cuja relevância e importância são reconhecidas é denominada
patrimônio geológico. Esse tipo de patrimônio pode ser in situ e ex situ e tem
como principal característica o fato de consistir em registros relevantes da
história geológica do nosso planeta (Figura 2).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 197

Figura 2: A) Fluorita em quartzo, exemplo de patrimônio geológico ex-situ. Museu de Geociências


da USP; B) Geossítio "Inselbergues de Irauçuba", Ceará, que representam volumes residuais do
Maciço de Uruburetama (MOURA et al., 2017); C) Vista aérea do geossítio "Praia da Fazenda", em
Ubatuba, no ponto de encontro entre os rios Fazenda e Picinguaba. Notar a estreita relação do
relevo da Serra do Mar e a Floresta Atlântica (GARCIA et al., 2019); D) Geossítio "Injectitos da
Formação Resende", na Bacia de Taubaté. O afloramento registra prováveis eventos sísmicos
(terremotos) que teriam sido responsáveis pela formação dos diques clásticos (REVERTE et al.,
2019).

Fonte: Acervo das autoras.

As ocorrências de elementos da geodiversidade com valor significativo


são denominadas geossítios, locais com delimitação geográfica definida e que
podem variar em dimensão desde pontos até áreas. O conjunto de geossítios
de uma dada região constitui o seu patrimônio geológico. O reconhecimento e
a avaliação destes locais são feitos por meio de inventários, que podem ter
diferentes abordagens dependendo do uso, da escala considerada e do tipo de
local inventariado. A definição adequada dessas premissas é importante
porque permite realizar um diagnóstico com base em valor científico, risco de
degradação e potencial de uso educativo e turístico. De modo mais genérico,
pode-se utilizar a denominação locais de interesse geológico (LIGs). Neste
capítulo ambos os termos são utilizados.
198

Geoconservação

Ações no sentido de conservar elementos importantes da


geodiversidade são conhecidas desde o século XVII, na Europa e até o século
XIX eram iniciativas pontuais, designadas para proteger afloramentos, cavernas
e formas de relevo individuais. A partir do século XX, houve a organização de
sociedades e outras instituições conservacionistas, concebidas com objetivos
mais amplos e globais.
Neste contexto, a geoconservação surge como o ramo das geociências
que pode ser entendido como um grupo de ações que têm como objetivo
conservar os elementos da geodiversidade com valor relevante (CENDRERO
UCEDA, 2000; SHARPLES, 2002; BRILHA, 2005; HENRIQUES et al., 2011;
CARCAVILLA, 2012). Essas ações podem ser agrupadas em termos de
estratégias definidas, que permeiam os estudos na área e que incluem a
identificação, a conservação por ferramentas legais e a divulgação para a
sociedade.

Ferramentas para a geoconservação

Um dos grandes desafios da conservação da natureza e, em particular,


do patrimônio geológico, é fazer com que a sociedade reconheça o papel
fundamental do meio físico na qualidade de vida e no bem-estar. Um dos
principais caminhos para transpor esta barreira está na forma de divulgar o
conhecimento geológico para públicos não especializados e na dificuldade em
traduzir e interpretar o meio físico. É importante que as informações
geológicas sejam disseminadas de acordo com uma postura distinta daquela
utilizada para difundir informações puramente científicas.
Neste contexto, uma das principais ferramentas que vêm sendo
utilizadas na promoção da geodiversidade e do patrimônio geológico é o
geoturismo (DOWLING, 2015), um segmento do turismo cujos atrativos
fundamentais são geológicos. O geoturismo está diretamente relacionado à
conservação e à divulgação do patrimônio natural não biótico e ao
conhecimento do meio, tendo a Educação Ambiental e a Interpretação como
aliadas e, como premissa fundamental, o benefício socioeconômico das
comunidades envolvidas. Um dos grandes trunfos do geoturismo é promover
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 199

a integração entre geodiversidade, biodiversidade, história e cultura local, o


que faz com que o potencial turístico da região seja ampliado. O geoturismo
pode ser feito em áreas naturais ou em cidades, quando recebe o nome de
geoturismo urbano.
A utilização do geoturismo e da educação na promoção do patrimônio
geológico ganha contornos claros e se materializa num conceito de território
denominado geoparque. De acordo com a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), geoparques são "áreas geográficas
unificadas e únicas, nas quais locais e paisagens de importância geológica
internacional são gerenciados segundo um conceito holístico de proteção,
educação e desenvolvimento sustentável". Em um Geoparque Global da
Unesco (GGU), conservação e desenvolvimento sustentável, envolvendo as
comunidades locais, são combinados para gerar conscientização sobre
problemas ambientais e trazer benefícios para a população por meio do
geoturismo e da educação.
Atualmente, existem 161 geoparques globais da Unesco em 44 países
(dados de agosto/2020), reunidos em redes regionais e na rede mundial. No
Brasil existe, até o momento, um geoparque Unesco, o Geoparque Araripe, no
Ceará, criado em 2006. Exemplos de atividades turísticas e educativas
associadas ao patrimônio geológico podem ser vistos na Figura 3.

Figura 3: A) Trilha para a Pedra do Altar, no Parque Nacional do Itatiaia (RJ/MG). O local é um
exemplo de utilização sustentável do patrimônio geológico em unidades de conservação. Foto: V.
Mucivuna; B) Visitantes no Geossítio "Ponte de pedra", no Geoparque Araripe, Ceará

Fonte: Acervo das autoras.


200

GEOCONSERVAÇÃO NA RMSP

Panorama geral

Desde 1937, com a criação do Parque Nacional de Itatiaia, o Brasil tem


avançado significativamente nas políticas de proteção ambiental, que incluem
um capítulo inteiro dedicado ao tema na constituição de 1988 e diversas leis
de crimes ambientais e de gestão de unidades de conservação (PEREIRA et al.,
2008; FERREIRA, 2016). A maior parte destas leis, entretanto, é voltada à
gestão da biodiversidade. Na ausência de leis específicas, a proteção do
patrimônio geológico tem sido tratada por meio do Decreto-Lei 25/1937, que
dispõe sobre a Proteção do Patrimônio Histórico e seu Tombamento, por
algumas leis que tratam do patrimônio paleontológico e espeleológico e pela
Lei Federal 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o SNUC. No entanto, o
avanço na proteção do patrimônio geológico é grandemente dificultado pela
falta de conhecimento geológico e pela falta de pesquisas adequadas que
permitam o reconhecimento da geodiversidade e do patrimônio geológico
nacionais.
O Estado de São Paulo é o único a ter um Conselho Estadual de
Monumentos Geológicos (CoMGeo-SP), criado em 2009 e vinculado à
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, que reúne especialistas em
várias áreas do conhecimento com o objetivo de auxiliar as ações relacionadas
ao Projeto Monumentos Geológicos. Um excelente histórico sobre estas
iniciativas pode ser visto em Mantesso-Neto et al. (2013). O Estado também é
o único a contar com um inventário do patrimônio geológico, o primeiro
inventário sistemático da América Latina e cuja fase inicial definiu 142
geossítios com base no valor científico (GARCIA et al., 2018).
Em termos acadêmicos, a criação do Núcleo de Apoio à Pesquisa em
Patrimônio Geológico e Geoturismo (GeoHereditas), em 2011, sediado no
Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc/USP), deu impulso
à pesquisa em Geoconservação (https://www2.igc.usp.br/geohereditas/). A
partir daí foram criadas linhas de pesquisa oficiais em programa de pós-
graduação e no próprio IGc/USP. Na Universidade Estadual Paulista (UNESP) e
na Universidade de Campinas (UNICAMP), trabalhos de conclusão de curso,
dissertações e teses também têm sido defendidos nesses temas.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 201

O Estado conta com projetos de geoparques, parte dos quais descritos


em publicações do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Dentre esses está o
Geoparque Ciclo do Ouro, em Guarulhos, criado por um decreto municipal,
mas que não é oficialmente um geoparque da UNESCO (SCHOBBENHAUS;
SILVA, 2012; PÉREZ-AGUILLAR et al., 2013) e o Alto Vale do Ribeira (SP/PR)
(THEODOROVICZ, 2014). Destaca-se ainda o Projeto Geoparque Corumbataí
(http://geoparkcorumbatai.com.br/), uma iniciativa de universidades, poder
público e organizações do terceiro setor que vêm agregando ações diversas em
geoconservação e desenvolvimento sustentável (Figura 4A).
Diversos exemplos de utilização do patrimônio geológico como atrativo
e incentivador do turismo e da educação podem ser citados, como o Parque
Geológico do Varvito, em Itu (Figura 4B) (GUIMARÃES et al., 2018) e o Parque
da Rocha Moutonnée, em Salto, ambos criados na década de 1990. Mais
recentemente, o projeto de criação do Parque Geológico Irati, numa parceria
entre a Unesp e mineradoras, é um exemplo de boas práticas na utilização do
patrimônio geológico pela sociedade. No litoral norte de São Paulo foram
instalados painéis interpretativos em locais de interesse geológicos (GARCIA et
al., 2015; MOTA et al., 2014).

Figura 4: A) Estudantes no Parque Geológico do Varvito, em Itu-SP, que é um geossítio do


inventário do patrimônio geológico paulista; B) Estudantes de Geologia na região da Serra do
Itaqueri, Projeto Geoparque Corumbataí.

Fonte: Acervo das autoras. Foto (B) é de A. Kolya.

Mais especificamente na RMSP, destacam-se os trabalhos da CPRM na


avaliação da geodiversidade e no inventário de locais de interesse geológico.
No âmbito municipal, em 2014 foi criado o Grupo de Trabalho dos
Geossítios (GT Geo), ligado à secretaria municipal do Verde e do Meio
202

Ambiente (SVMA) no município de São Paulo (Portaria 84/SVMA-G/2014). O


GT tem como objetivo identificar os locais de interesse geológico que possam
ser utilizados para geoturismo e educação no âmbito das políticas públicas.
Iniciativas na divulgação do patrimônio geológico também têm sido
implementadas, como o roteiro geoturístico do Centro Velho e no cemitério da
Consolação, ilustrando o emprego de rochas paulistas na cidade (DEL LAMA et
al., 2015; DEL LAMA, 2019). Mais recentemente, o projeto "Geociências em
Foco", uma parceria do IGc/USP e outras entidades tem promovido atividades
como passeios geológicos e visitas interativas a um grande número de
interessados (https://www2.igc.usp.br/geohereditas/divulgacao-geociencias-
em-foco/).

Locais de interesse geológico na RMSP

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é composta por 39


municípios e constitui a maior área urbana brasileira, em uma região com
intenso processo de conurbação. Problemas relacionados à expansão urbana e
à utilização desordenada dos recursos naturais afetam diretamente áreas com
potencial mineral, científico, geoturístico, além de áreas de proteção
ambiental. Por esta razão, ferramentas para avaliação e gestão destes recursos
são imprescindíveis para os órgãos gestores e para a população.
Neste contexto, a CPRM - Serviço Geológico do Brasil vem
desenvolvendo o projeto Geologia e Recursos Minerais da RMSP, que tem,
dentre seus objetivos, a atualização da base geológica na escala 1:250.000 e o
levantamento do Potencial para Insumos para a Construção civil,
principalmente areia e brita (ALMEIDA et al., 2019). Esses estudos trazem
clareza sobre como o ordenamento territorial e as atividades relacionadas ao
crescimento urbano impactam as unidades geológicas e, consequentemente,
a geodiversidade da região.
A geologia levantada neste projeto constituiu a base para o Mapa da
Geodiversidade da Sub-Região Leste da RMSP (MORAES et al., 2019), um
estudo qualitativo da geodiversidade que permitiu detalhar ainda mais o
levantamento, bem como o estado de conservação, gestão e usos dos locais de
interesse geológico. Este mapa reclassifica a geologia em domínios geológico-
ambientais, com informações a respeito dos potenciais e limitações quanto ao
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 203

uso e ocupação frente a atividades de mineração, exploração de recursos


hídricos, suscetibilidade natural a deslizamentos e inundações e áreas com
potencial para geoturismo, constituindo uma importante ferramenta para
estudos de gestão do território. Foram identificados também locais de
interesse geológico (LIGs) representativos da geologia da região.
Para levantar a discussão sobre como as atividades antrópicas em áreas
densamente urbanizadas impactam os sítios geológicos, foram selecionados
seis locais representativos de diferentes contextos geológicos e
socioambientais, que serão abordados neste trabalho (Figura 5). Com exceção
do Granito Itaquera, estes geossítios estão incluídos no Inventário do
Patrimônio Geológico do Estado de São Paulo (GARCIA et al., 2018,
https://www2.igc.usp.br/geohereditas/atuacao-inventario-em-unidades-
administrativas/).

Figura 5. Mapa geológico simplificado da RMSP com a localização dos LIGs discutidos
neste trabalho

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Fitofósseis e palinomorfos de Itaquaquecetuba

Este LIG representa o único remanescente da Formação


Itaquaquecetuba, da Bacia de São Paulo, na RMSP. Os fitofósseis e
204

palinomorfos ocorrem em grande quantidade e diversidade e são encontrados


em “mega clastos” areno-argilosos ricos em matéria orgânica em depósitos
fluviais tipo entrelaçados ao longo de cavas de areia no curso do alto Tietê.
Além de ser parte do patrimônio geológico do Estado de São Paulo, o
local constitui um sítio amplamente utilizado para o ensino de geociências em
trabalhos de campo, destacando-se também por seu alto valor educativo.
Como parte de uma área privada, dentro de uma mineração de areia, o local
não conta com nenhum tipo de proteção legal, sendo afetado sensivelmente
pela mineração de areia e com estado de conservação ameaçado e em risco de
ser extinto com o final das atividades (Figura 6).

Figura 6. Mineração Itaquareia em Itaquaquecetuba. A) Panorâmica da Cava principal e áreas em


recuperação; B) e C) Afloramento com o que restou da Fm. Itaquaquecetuba já em contato com
xistos do Complexo Embu; D) Localização da mineração em relação ao rio Tietê e ao Rodoanel

Fonte: Acervo das autoras.

Cratera de Colônia

A Cratera de Colônia configura uma proeminente feição circular de


aproximadamente 3,6 km de diâmetro, interpretada como uma provável feição
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 205

de impacto de meteorito (RICCOMINI et al., 2005; VELÁZQUEZ et al., 2014).


Localiza-se no extremo sul do município de São Paulo, no bairro de Parelheiros,
a aproximadamente 35 km do centro da capital. Desenvolvida sobre rochas
pré-cambrianas, a estrutura é definida por um anel externo colinoso que se
eleva a cerca de 125 m sobre uma planície aluvial interior pantanosa (Figura 7)
e é uma das duas únicas crateras de impacto habitadas no mundo. O local foi
declarado Monumento Geológico Estadual pelo CoMGeo) em 2009 e está
incluído no cadastro da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP) (RICCOMINI et al., 2005). Estudos com o objetivo de
reconstituir a evolução do bioma Mata Atlântica e a variabilidade climática
durante o Cenozoico vêm sendo realizados na pilha de sedimentos no seu
interior (RODRIGUEZ-ZORRO et al., 2020).

Figura 7. A) Cratera de Colônia e Loteamentos do Bairro Vargem Grande mostrando a expansão


dos loteamentos invadindo a área da cratera; B) Relevo colinoso na borda da cratera e expansão
urbana na área da planície aluvial no centro da cratera

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41772254.

Granito Itaquera

O Granito Itaquera (Figura 8) é uma rocha ornamental importante nas


construções do Centro Histórico da Cidade de São Paulo, sendo encontrado
206

como revestimento e fachada de importantes edificações na capital paulista. A


rocha é um biotita-muscovita monzogranito com estrutura levemente
orientada, textura inequigranular e com grande variação granulométrica,
comercializada como "Granito Itaquera" até a paralisação da exploração da sua
lavra (DEL LAMA et al., 2009).

Figura 8. Algumas construções na Cidade de São Paulo com o Granito Itaquera e os locais de
afloramento do corpo granítico. A) Pórtico do Cemitério da Consolação; B) Estátua de Brecheret
em túmulo no Cemitério da Consolação; C) Base do Monumento a Ramos de Azevedo em frente
ao IPT na Cidade Universitária. D) Afloramento do Granito Itaquera na Pedreira Lajeado em
Guaianases; E) Granito Itaquera no Piscinão da Pedreira

Fonte: Acervo das autoras.

A principal área de afloramento de onde a rocha foi retirada para


compor os monumentos é uma pedreira, hoje inativa, próxima ao atual Estádio
do Itaquerão, região leste da cidade. Existem outras duas áreas de
afloramento, ambas no bairro de Guaianases, extremo leste da capital paulista.
Uma delas é a Pedreira Lageado, onde o granito é explorado e comercializado
principalmente como brita e pó de rocha. A outra área é o Piscinão da Pedreira,
uma cava abandonada utilizada pela prefeitura do município de São Paulo
como reservatório de contenção de água para o ribeirão Guaratiba. Nesta área
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 207

é possível observar o Granito Itaquera em pequenos lajedos e no paredão da


cava inundada.

Granito Cantareira na Pedra Grande

Este geossítio fica na Trilha da Pedra Grande, no Parque Estadual da


Serra da Cantareira, núcleo Pedra Grande, a cerca de 10 km a partir do centro
da cidade de São Paulo, na zona norte da capital (Figura 9). A área do parque
atravessa ainda os municípios de Mairiporã, Guarulhos e Caieiras.

Figura 9. Granito Cantareira na Trilha da Pedra Grande que é um mirante de onde é possível ter
uma vista da capital paulista. No detalhe, aspecto da rocha que compõe o maciço Cantareira, um
granitoide porfirítico com megacristais de feldspato potássico com veios pegmatoides

Fonte: Acervo das autoras.

O Granito Cantareira é um monzogranito porfirítico que compõe a


maior ocorrência granítica no Domínio São Roque e da RMSP. Forma um
batólito com aproximadamente 360 km2, intrusivo nas rochas metamórficas do
Grupo São Roque. O local constitui também um mirante que fica a 1.010 m de
altitude, de onde é possível ter uma vista panorâmica da capital paulista. É um
sítio de grande relevância turística e também educativa, pois é visitado em
208

trabalhos de campo desde o ensino básico até o superior, com possibilidade de


diversos tipos de atividades educativas desenvolvidas dentro do ensino de
ciências naturais.

Pico do Jaraguá

O Pico do Jaraguá está localizado na região oeste da capital paulista e é


o ponto mais alto dentro da área do município de São Paulo, com 1. 135 m de
altitude (Figura 10). Consiste em um bloco estrutural metamórfico formado por
lentes quartzíticas, que se destaca entre as intercalações de meta-arcóseos e
sericita xistos. É uma feição de relevo residual por ser formado por quartzito,
uma rocha de difícil erosão.

Figura 10. A) Parte mais alta do Pico no acesso às antenas; B) Afloramento de quartzitos na
subida do Pico; C) Vista da região oeste da Grande São Paulo da porção mais alta do Pico do
Jaraguá

Fonte: Acervo das autoras.

O pico encontra-se dentro da área do parque estadual homônimo e que


abriga um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica na RMSP. O local é
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 209

amplamente utilizado para turismo dentro do município e constitui uma


paisagem icônica da capital paulista. Além disso, é também muito utilizado
para fins educativos, recebendo desde escolas de educação básica até visitas
de cursos de graduação e pós-graduação das mais diferentes áreas do
conhecimento. Na parte mais alta do Parque, acessível tanto por trilha quanto
por asfalto, há um mirante de onde é possível avistar principalmente a parte
oeste da Grande São Paulo e o Rodoanel Mário Covas. Junto às antenas de
televisão, existe uma grande escadaria que permite subir ainda mais e ter uma
visão panorâmica do entorno do pico.

Lavas Almofadadas de Pirapora do Bom Jesus

Este LIG é constituído por um afloramento formado por rochas


metamáficas (ortoanfibolitos) que contêm estruturas globulares bastante
preservadas, interpretadas como lavas almofadadas (pillow lavas)
(FIGUEIREDO et al., 1982) (Figura 11). Este tipo de estrutura ocorre devido ao
rápido resfriamento de lavas provenientes de porções profundas da crosta, que
penetram por meio de fraturas em rochas preexistentes. De acordo com
Tassinari et al. (2001), a rocha representaria a porção superior de um complexo
ofiolítico proterozoico que contém a estratigrafia da crosta oceânica quase
completa. A unidade encontra-se colocada tectonicamente em meio a rochas
metassedimentares de baixo grau do Grupo São Roque.
210

Figura 11. Geossítio Lavas almofadadas de Pirapora do Bom Jesus. A) Aspecto geral do
afloramento, mostrando o painel interpretativo instalado pelo IGc/USP; B) Aspecto globular das
lavas almofadadas; C) e D) Escavações e entulho ao lado e no local principal onde se encontram
as estruturas

Fonte: Acervo das autoras.

A proposta para inclusão do local como sítio geológico foi feita pelos
autores e aprovada pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP). No entanto, ainda não está publicada. Em 2013,
alunos e professores do Instituto de Geociências da USP elaboraram e
instalaram no local um painel interpretativo contendo informações sobre a
rocha e seu ambiente de formação.

POTENCIAL EDUCATIVO E TURÍSTICO

As paisagens que vemos atualmente e a rica biodiversidade associada a


elas têm sido construídas ao longo da evolução da Terra sobre uma base
geológica muito diversificada. Apesar desta importância, a geodiversidade e o
patrimônio geológico têm merecido menos atenção que a biodiversidade no
que concerne à conservação dos ecossistemas e à disseminação de
informações. Isso tem reflexo direto nos conteúdos geocientíficos abordados
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 211

na educação formal e não formal, cuja deficiência pode resultar em sociedades


desinteressadas nestes temas.
Sob a perspectiva da geoconservação, vários autores ressaltam que se
as pessoas tivessem consciência e uma conexão mais profunda com o
patrimônio geológico por meio de experiências mais significativas e
memoráveis, seria mais provável que a valorizassem e ajudassem a gerenciá-
lo de maneira sustentável (GORDON, 2012; STEWART; NIELD, 2013;
VASCONCELOS, 2016; BRILHA, 2018). Valorizar, explicar, fazer descobrir e
admirar este patrimônio que nos conta a história do lugar onde vivemos são
ações que podem ser promovidas pela educação e pelo geoturismo.
Os conceitos relacionados à geodiversidade e ao patrimônio geológico
podem ser ferramentas úteis para aproximar geocientistas, estudantes,
educadores formais e não formais e público em geral. Mas como a
geodiversidade e o patrimônio geológico podem ser inseridos em um contexto
local e usados em aula para intensificar nosso pertencimento à nossa região?
Carneiro et al. (2005) discutem dez motivos para a inclusão de temas e de
cultura geológica na educação básica e ressaltam que:

[...] permite trazer o mundo real para a sala de aula e, sobretudo,


permite levar a sala de aula para o mundo real. A busca de um ensino
mais prático e eficaz, apoiado em realidade vivencial, permitirá que as
pessoas contem com essa bagagem ao longo de toda a vida. (CARNEIRO
et al., 2005, p. 553)

Para valorizar a importância da história e sua relação com os fenômenos


físicos, químicos e biológicos que permeiam o currículo escolar, é fundamental
considerar o estudo do ambiente incluindo uma escala de tempo longo, que
considere os 4,6 bilhões de anos da Terra. Isto é imprescindível para a
compreensão do funcionamento da Natureza, sua valorização, conservação e
proteção, pois Toledo (2005) menciona:

[...] estudar o passado (origem e evolução da Terra e seus ambientes)


para compreender o presente (características dinâmicas dos
compartimentos ocupados e consequências das ações antrópicas) e
refletir sobre as possibilidades de futuro (remediação dos problemas já
criados, evitar novos problemas). (TOLEDO, 2005, p. 34)
212

A educação geocientífica é reconhecida também por Vasconcelos


(2016) como uma área-chave para o letramento científico e a sustentabilidade.
Neste sentido, o uso de locais de interesse geológico fornece oportunidades
para facilitar o aprendizado ou a aquisição de conhecimento sobre geologia de
modo investigativo, bem como para mostrar como a geodiversidade sustenta
a biodiversidade (BROCX; SEMENIUK, 2019) e como o ambiente natural é
interconectado. Esses locais possuem um papel central em fomentar atividades
educativas e geoturísticas no âmbito formal e não formal (BRILHA, 2018) e têm
potencial para promover o conhecimento sobre o grau de dependência da
nossa sociedade em relação à geodiversidade e as ameaças às quais está sujeita
(GORDON et al., 2018).
O uso de geossítios como atrativos pedagógicos/educacionais e
turísticos em ambientes naturais e urbanos é amplamente difundido em vários
exemplos no Brasil e no mundo (MOREIRA, 2014; MOURA FÉ et al., 2016;
PEREIRA et al., 2016; entre outros). Particularmente, as pedreiras ativas ou
abandonadas em ambientes urbanos podem se constituir em importantes
instrumentos para promover a disseminação de conteúdos geocientíficos e a
educação ambiental (GAJEK et al., 2019; PROSSER 2019).
Os potenciais educativo e geoturístico podem ser quantificados a partir
de diferentes critérios. Segundo Brilha (2018), um sítio com alto potencial
educacional deve ser resistente à destruição eventual pelos estudantes,
facilmente compreendido por alunos de diferentes níveis escolares, acessível
(ônibus, trilhas curtas e com nível de dificuldade baixo) e ter condições de
segurança adequadas. Por outro lado, um sítio com alto potencial geoturístico
deve ter relevância estética notável, ter um significado
geológico/geomorfológico facilmente compreendido por visitantes sem
bagagem geocientífica, ter baixo ou nenhum risco de degradação por
atividades antrópicas e acesso e infraestrutura adequadas para o recebimento
de visitantes, incluindo pessoas portadoras de deficiências.
Na nova base da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017)
e no Currículo Paulista (SÃO PAULO, 2018) os conteúdos geocientíficos são
principalmente encontrados no currículo escolar do Ensino Fundamental em
Ciências da Natureza e Ciências Humanas (Geografia) e do Ensino Médio na
área de conhecimento Ciências da Natureza e suas tecnologias e nas Ciências
Humanas e Sociais aplicadas.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 213

O reconhecimento e classificação de diferentes tipos de rochas, sua


formação e trajetória dentro do ciclo das rochas, sua relação com a paisagem,
a formação do relevo (processos magmáticos, tectônicos, erosivos, etc.), os
processos de intemperismo físico-químico-biológico, a formação de solos, são
objetos de estudo do currículo escolar. Estes conteúdos podem ser abordados
por meio de diversas atividades de ensino que incentivem o papel investigador
e a participação dos alunos (pesquisa, levantamento de hipóteses, síntese e
restituição dos resultados).
Como exemplos estão aulas em campo, estudos do meio, jogos,
projetos integradores inter- e multidisciplinares, entre outros. Isso resulta na
integração de várias disciplinas (ciências da natureza e ciências humanas como
geografia e história, ciências sociais, artes e até língua portuguesa), pois implica
na pesquisa de dados e documentos existentes em várias áreas de
conhecimento (documentos históricos, obras de artes, fotografias, ilustrações,
mapas, artigos, consulta a sites, etc.), na coleta de materiais e seu estudo
(amostras de rochas, minerais, solo, plantas eventualmente, registro
fotográfico, desenho, esquema e posterior caracterização e comparação) e na
restituição dessas informações, resultados, discussões, conclusões na forma de
produtos (mapas, maquetes), textos, mídias digitais (vídeos, por exemplo),
desenhos, entre outros.
O apelo geoturístico dos geossítios pode ser promovido dando ao local
um 'sentido de lugar', de pertencimento. Qualquer território se caracteriza
pelas suas paisagens, estruturas, sítios geológicos, presença ou não de fósseis,
rochas, minerais constituintes do subsolo ou aflorando em superfície, entre
outros, e uma história geológica que pode ser desvendada. É uma viagem na
história da Terra e do lugar que pode ser realizada em diferentes escalas
espaciais e temporais e fornecer experiências memoráveis e educacionais.
Vários geossítios na RMSP podem ser considerados como áreas
privilegiadas para atividades de campo e estudos do meio, contextualizadas e
integradas ao currículo escolar (Tabela 1). Este potencial educativo e turístico
foi identificado e quantificado por Higa (2019). No entanto, para os geossítios
Lavas almofadadas de Pirapora do Bom Jesus e Fitofósseis e palinomorfos de
Itaquaquecetuba (Itaquareia), o potencial educativo foi reconhecido
principalmente para o nível superior. Esses já fazem parte de roteiro de aula
214

em campo dos cursos de graduação em Geologia (IGc/USP, UNICAMP) e


Licenciaturas em Ciências (LiGEA-IGc/USP, LCN-EACH/USP).

Quadro 1. Síntese dos potenciais educativo e geoturístico dos geossítios selecionados da Região
Metropolitana de São Paulo

Geossítio Potencial educativo Potencial geoturístico

Pico do Jaraguá EF, EM, Sup. Trilhas interpretativas; aspectos


(área de proteção Educação Ambiental culturais e históricos (cavas de ouro,
integral) Ciências da Natureza, mineração século XVII, aldeia
Geografia, História indígena, destaque do pico no
relevo da cidade (e não é um
vulcão!); atividades ao ar livre

Cratera de Colônia EF, EM, Sup. Trilhas interpretativas; única cratera


(área de proteção Ciências da Natureza, de impacto de meteorito do Estado
integral) Geografia, História de São Paulo e reconhecida
internacionalmente; história da
ocupação; atividade ao ar livre

Granito Cantareira na EF, EM, Sup. Trilhas interpretativas; mirante


Pedra Grande Educação Ambiental (vista panorâmica da cidade de São
(área de proteção Ciências da Natureza, Paulo); história da ocupação da
integral) Geografia, História região; atividade ao ar livre

Fitofósseis e EF, EM, Sup. Rio Tietê; importância da mineração


palinomorfos de Educação Ambiental de areia para a sociedade; a bacia de
Itaquaquecetuba Ciências da Natureza, São Paulo no contexto da separação
(Mineração Itaquareia) Geografia do Gondwana
(área de proteção
ambiental privada)

Granito Itaquera EF, EM, Sup. A pedreira forneceu as rochas para


(área privada) Ciências da Natureza, a construção e ornamentação de
Geografia monumentos do centro da cidade
de São Paulo

Lavas almofadadas de EF, EM, Sup. Antigos ambientes; aqui jaz um


Pirapora do Bom Jesus Ciências da Natureza, pedaço de rochas oceânicas de mais
(área pública) Geografia de 500 Ma!

Fonte: Elaborado pelas autoras.


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 215

DISCUSSÃO E PERSPECTIVAS

A conservação da geodiversidade e do patrimônio geológico está


relacionada diretamente à manutenção do meio natural e, consequentemente,
à sustentabilidade da sociedade atual e das futuras. No entanto, muitos
desafios ainda nos confrontam até que a gestão integrada da natureza seja
alcançada. Garcia et al. (2020) realizaram uma análise das estratégias de
geoconservação com base em exemplos emblemáticos no Brasil. Os autores
apontam que as etapas de diagnóstico e promoção têm sido as mais bem-
sucedidas, possivelmente por envolver majoritariamente geocientistas e
acadêmicos com habilidades e conhecimentos multidisciplinares. A
conservação, por outro lado, coloca-se como o grande desafio, pois está
relacionada a gestores do poder público e outros atores sociais, além de exigir
a existência de legislação específica adequada.
A sobreposição dos locais de interesse geológico com os mapas de áreas
potenciais para mineração (principalmente relacionadas à areia e brita) e de
uso e ocupação do solo feita pela CPRM indica que alguns locais estão em áreas
de alta vulnerabilidade, tanto por processos de urbanização ou por atividades
de mineração. Essas atividades afetam sensivelmente os geossítios com menor
extensão e aumentam o risco de degradação, podendo levar até mesmo à
extinção de unidades geológicas.
Um exemplo emblemático é a Formação Itaquaquecetuba, da Bacia
Sedimentar de São Paulo. Uma das antigas áreas de afloramento conhecidas,
hoje submersa, localizava-se onde hoje é a raia olímpica da USP. Atualmente
não há outras áreas de afloramento desta unidade com ocorrência de fósseis
vegetais e palinomorfos conhecida. Com o avanço da exploração de areia para
construção civil, que acompanhou o crescimento da RMSP ao longo dos anos,
os afloramentos remanescentes foram ficando cada vez mais escassos,
resumindo-se hoje praticamente à cava mencionada. O exemplo deste
geossítio pode ser colocado no contexto da utilização de antigas áreas de lavra
(pedreiras) como instrumentos de geoturismo e educação ambiental. É o caso,
também, das pedreiras do Granito Itaquera, que têm um grande potencial
cultural e que fazem parte da história da região.
216

O geossítio Lavas almofadadas de Pirapora do Bom Jesus também é um


exemplo de local com extrema relevância científica e com grande potencial de
uso sustentável. O local situa-se próximo a escolas da rede pública e com fácil
acesso, o que poderia promover sua utilização na educação e no turismo
científico.
Por outro lado, geossítios que ocupam áreas extensas, ainda que não
estejam em risco de destruição, têm seu potencial educativo e turístico
reduzido e até mesmo impossibilitado devido a modificações na paisagem
causadas por ocupação desordenada, perda de habitats de animais silvestres,
entre outros. A Cratera de Colônia, por exemplo, tem sua borda norte habitada
desde a década de 1940. Uma ocupação mais recente, na borda sul, iniciou-se
entre as décadas de 1980-1990 e deu origem ao bairro de Vargem Grande, que
conta com ocupações irregulares e mais de 40 mil habitantes. Diversos
conflitos e questões habitacionais, além de outros problemas sociais, como
falta de saneamento básico, ocorrem na região. O governo municipal da capital
paulista estuda a criação de um parque municipal para conservação da área.
O Pico do Jaraguá é outro exemplo de local importante, tanto do ponto
de vista geológico como histórico, pois a região foi palco do primeiro ciclo de
exploração de ouro no Brasil, ainda no século XVII. Além disso, a região abriga
a Terra Indígena Jaraguá, habitada pelas etnias Guarani, Guarani Mbya e
Guarani Ñandeva, num total de seis aldeias onde vivem cerca de 900 pessoas.
Entretanto, existem muitos conflitos legais referentes à demarcação destas
terras, o que tem levado a diversas formas de reivindicação de território e à
falta de apoio do poder público em relação às aldeias. Exemplos de iniciativas
em trilhas interpretativas exploradas de modo presencial e virtual no Pico do
Jaraguá podem ser vistas em https://bit.ly/2NzCrxj.
Neste contexto, o uso de geossítios situados em áreas protegidas pode
também aprimorar estratégias de conscientização quanto à conservação da
natureza. Além do Pico do Jaraguá, o geossítio Granito Cantareira na Pedra
Grande é um exemplo de como a visita à unidade de conservação pode ser
utilizada para inserir também informações geocientíficas e promover a
importância da geodiversidade na construção e manutenção das paisagens.
O estudo da geodiversidade e do patrimônio geológico é importante
também para auxiliar tomadas de decisões no enfrentamento de problemas
prementes da atualidade e na conscientização acerca do componente abiótico
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 217

dos ecossistemas. De acordo com a ProGEO (2017), no âmbito da Agenda 2030


das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que define 17 metas
universais, muitos objetivos estão diretamente relacionados à
geoconservação, tais como aumentar a qualidade da educação (objetivo nº 4),
ter água limpa (objetivo nº 6), promover trabalho decente e crescimento
econômico (objetivo nº 8), organizar cidades e comunidades sustentáveis
(objetivo nº 11), entender as mudanças climáticas (objetivo nº 13), proteger,
restaurar e promover o uso sustentável dos recursos terrestres ecossistemas,
combater a desertificação e deter a perda da biodiversidade (objetivo nº 15).
Isso aumenta a responsabilidade dos pesquisadores que atuam na área e torna
essencial a cooperação entre pessoas e entidades interessadas na conservação
da natureza em geral, o que inclui encontrar maneiras de ampliar a
comunicação da academia com as administrações públicas e a sociedade. A
gestão adequada de locais de interesse geológico permite uma infinidade de
usos no âmbito dos recursos naturais não extraíveis e consiste no grande
desafio para as políticas públicas que envolvam a geoconservação.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de


São Paulo (FAPESP), Proc. 2017/50177-5. M. G. M. Garcia agradece ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Proc.
309964/2018-0.

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 221

Capítulo 10

CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA: DO


PLANEJAMENTO AMBIENTAL À GESTÃO URBANA35

Amarilis Lucia Casteli Figueiredo Gallardo36


Juliana Siqueira-Gayl37
Daniella Aparecida de Mattos de Oliveira Rolo 38
Heidy Rodriguez Ramos 39
Débora Mendonça Monteiro Machado40

INTRODUÇÃO

As cidades brasileiras constituem complexas arenas de conflitos


socioambientais em que a agenda ambiental pública deve integrar a gestão
urbana direcionada à promoção da sustentabilidade. Sousa, Silva e Travassos
(2008) destacam que os problemas ambientais urbanos representam um
grande desafio para a elaboração de políticas públicas integradas.
O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) estabelece diretrizes gerais da
política urbana brasileira e define os planos diretores como um de seus
instrumentos, em nível local. O Plano Diretor Estratégico do Município de São
Paulo (PDE) (Lei 16.050/2014) destaca alguns instrumentos de gestão
ambiental que devem ser aplicados para integrar a temática ambiental na
gestão urbana, tais como: Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Estudo de
Impacto de Vizinhança (EIV), e Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), além do
Pagamento de Serviços Ambientais (PSA), Estudo de Viabilidade Ambiental,
Termo de Compromisso Ambiental e Termo de Compromisso de Ajustamento
de Conduta Ambiental. Ainda assim, segundo Sepe e Pereira (2015), a

35
Artigo apresentado no XII Enanpur – Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-
graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (2017).
36 Doutora, Universidade de São Paulo/ Uninove. E-mail: amarilislcfgallardo@gmail.com
37 Mestre, Universidade de São Paulo E-mail: siq.juliana@gmail.com
38
Mestre, Uninove. E-mail: daniellamattos26@gmail.com
39 Doutora, Uninove. E-mail: heidyr@gmail.com
40 Mestre, Uninove. E-mail:debora87mm@hotmail.com
222

estratégia inovadora de conciliar mecanismos urbanísticos e ambientais não


conseguiu direcionar a cidade rumo à sustentabilidade.
No campo dos instrumentos de planejamento de projetos de
engenharia, em áreas rurais ou urbanas, a Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA), e o respectivo EIA, são obrigatórios e amplamente utilizados no país.
Silva e Marchesin (2015) destacam o papel da AIA na avaliação de projetos de
requalificação urbana e de grandes obras inseridas no tecido urbano
(GALLARDO et al., 2016a) ou para atender demandas das cidades como aterros
sanitários (MONTAÑO et al., 2012). No âmbito dos impactos denominados de
vizinhança, encontra-se o EIV, que subsidia a tomada de decisão de
empreendimentos que afetam a qualidade do ambiente urbano. De acordo
com Barreiros e Abiko (2016), o EIV, embora não seja amplamente utilizado na
região metropolitana de São Paulo, vem sendo aplicado em 28,2% dos
municípios inseridos nessa região.
A AAE é um instrumento de apoio à tomada de decisão para a inserção
da variável ambiental em nível de planejamento regional e setorial, que vem
sendo regularmente aplicado em algumas partes do mundo (FUNDINGSLAND
TETLOW; HANUSCH, 2012), com poucas experiências no Brasil (MALVESTIO;
MONTAÑO, 2019).
A aplicação sistemática da AAE tem representado contribuições à
gestão urbana (GENELETTI et al., 2007; BRAGAGNOLO; GENELETTI, 2014), não
obstante a importância individual de cada instrumento de planejamento
ambiental na promoção da qualidade ambiental urbana e a relevância do uso
integrado entre os mesmos (SIQUEIRA-GAY; SÁNCHEZ, 2019), este trabalho
define como recorte de pesquisa a discussão das potenciais contribuições da
AAE ao contexto brasileiro (GALLARDO; BOND, 2011; MONTAÑO et al., 2014).
Esse recorte justifica-se pelo fato de que, dentre os instrumentos de
gestão ambiental recomendados para a gestão urbana da cidade de São Paulo
pelo PDE 2014, a AAE representa o menos discutido localmente (SOUZA, 2003;
FABBRO NETO; SOUZA, 2009; GALLARDO, 2012).
O objetivo geral deste trabalho consiste em explorar as potenciais
contribuições da AAE para a gestão urbana enquanto instrumento de gestão
ambiental previsto no PDE. Os objetivos específicos referem-se a: analisar
como a valorização ambiental é considerada nas etapas dos estudos técnicos
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 223

de AAE de plano diretores; e analisar a integração da AAE com a gestão urbana


e ambiental.

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO

De acordo com Ahmed et al. (2005), em definição preconizada pelo


Banco Mundial, a AAE é entendida como um método participatório para trazer
questões ambientais e sociais para influenciar o desenvolvimento do
planejamento e da tomada de decisão em nível estratégico. De acordo com
Gallardo et al. (2016b), a AAE destina-se a subsidiar o planejamento nos
estágios decisórios que precedem a avaliação de empreendimentos, os
denominados Políticas, Planos e Programas (PPP).
Caschili et al. (2014) contabilizaram mais de sete mil aplicações de AAE
em contextos diversos, dentre os quais se inclui o ambiente urbano.
Atualmente, segundo Fundingsland Tetlow e Hanusch (2012), mais de 60 países
vêm adotando a AAE no planejamento, sendo que o início da consolidação do
instrumento remete aos anos 1990. Segundo Rizzo et al. (2017), a AAE vem
sendo considerada um instrumento apropriado para integrar a
sustentabilidade no planejamento.
Ainda de acordo com Gallardo et al. (2016b), a AAE não possui prática
consolidada no Brasil. Alguns trabalhos brasileiros têm levantado as
experiências de AAE realizadas no país, como, por exemplo, Malvestio e
Montaño (2019); Margato e Sánchez (2014), e Montaño et al. (2014). Montaño
et al. (2014) destacam que embora a prática local de AAE tenha se pautado nos
procedimentos disseminados nas diretrizes internacionais, há que se aprimorar
diretrizes próprias. Em 2011, Pellin et al. (2011) destacaram a falta de
arcabouço legal para a adoção da AAE no Brasil, reforçando a necessidade que
o instrumento seja utilizado baseado no fomento das discussões locais e a
partir das experiências nacionais. Atualmente, já não se pode dizer que não
exista força legal para o uso da AAE no país. Somente no Estado de São Paulo
a AAE aparece na Política Estadual de Mudanças Climáticas (NADRUZ et al.,
2018) e no PDE.
Gallardo et al. (2016b) destacam que o próprio quadro atual em que não
existe obrigatoriedade para o uso da AAE permite fomentar processos para que
seu uso atenda às especificidades dos planejamentos existentes. Nesse caso,
224

considera-se que existe uma janela de oportunidade para discutir as


contribuições da AAE à gestão urbana, o que atende ao destacado por Sánchez
e Croal (2012), que há uma agenda recomendada mundialmente para a adoção
do instrumento no campo do planejamento e gestão.
Com relação à discussão brasileira para o uso da AAE no contexto de
planos diretores, destacam-se os trabalhos de Souza (2003), que apresentou
uma leitura do plano diretor de Blumenau à luz da AAE, demonstrando as
contribuições do instrumento ao planeamento do uso e ocupação do solo, com
a inserção da temática ambiental na gestão urbana; de Gallardo (2012), que
considera o planejamento urbano como um campo profícuo para o uso
sistemático da AAE na ordenação sustentável dos espaços habitáveis,
mantendo as funções sociais essenciais esperadas numa organização urbana;
e Fabbro Neto e Souza (2009) que enfatizam a AAE no processo de elaboração
de planos de gerenciamento do uso do solo, com melhoria da qualidade
ambiental, fortalecendo premissas do Estatuto da Cidade enquanto promoção
de mecanismo de participação pública e desenvolvimento urbano, garantindo
que as questões ambientais sejam internalizadas nesse processo decisório.

MÉTODO

Esta pesquisa exploratória utiliza a análise documental de casos


múltiplos. Foram selecionados estudos de AAE de Planos Diretores de cidades
em diferentes continentes, visto a diversidade e complexidade que enseja o
planejamento e a gestão urbanos, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1. Relatórios de AAE de Planos Diretores utilizados na pesquisa


Estudo País Ano Sítio eletrônico

AAE do Plano Diretor Portugal 2011 https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/download


Municipal de Lisboa File/377957737
Strategic Environmental Paquistão 2014 5999/AAE%20PDM%20Lisboa%20Marco%
http://cmsdata.iucn.org/downloads/nia
Assessment of Master Plan 202011.pdf
psea_pilot_reportgb.pdf
for Gilgit City
Greenbelt Master Plan Canadá 2013 http://www.ncc-
Review – 2013 Strategic ccn.gc.ca/sites/default/files/pubs/sea_gb
Environmental Assessment mp2013_en_fina l.pdf
Evaluación Ambiental Chile 2014 http://www.municoquimbo.cl/ciudad/im
Estratégica Actualización ages/EAE_Coquimbo_Septiembre_2014_
Plan Regulador de Coquimbo VF.pdf
Región de Coquimbo
Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pelas autoras.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 225

Para analisar esses casos utilizaram-se referenciais técnicos publicados


e testados previamente em casos reais. Assim para analisar como a valorização
ambiental é considerada nas etapas da AAE, utilizou-se o referencial
estabelecido por McCluskey e João (2011), conforme apresentado no Quadro
2; e para a integração da gestão urbana e ambiental, o referencial estabelecido
por He et al. (2011), conforme apresentado no Quadro 3.

Quadro 2. Análise da valorização ambiental nas etapas de um relatório de AAE


Estágio da AAE Potencial para valorização ambiental pelo instrumento
Objetivos Garantir a conservação e a valorização da biodiversidade ao
invés de reduzir os impactos da biodiversidade
Diagnóstico ambiental Os dados apropriados e suficientes sejam coletados e
apresentados no contexto da ação estratégica
Relevância e implicações As ações em nível nacional, regional e local que têm relação ao
para outras ações planejamento em referência devem ser consideradas
estratégicas ou políticas
Alternativas As medidas de valorização ambiental devem ser consideradas
nas alternativas apresentadas
Identificação e avaliação Os efeitos das várias alternativas devem ser discutidos em
de efeitos-chave termos de cumulatividade de impactos negativos e dos
impactos positivos
Mitigação e Promoção de medidas de valorização ambiental para integração
monitoramentos na ação estratégica.
Consulta e tomada de Provisão de mecanismo para discussão do relatório de AAE com
decisão as partes interessadas antes da tomada de decisão.
Fonte: Modificado de McCluskey e João (2011).

Quadro 3. Análise da integração do planejamento ambiental ao planejamento urbano por meio


da AAE
Integração Resultados a serem atingidos

De atores Participação e integração de diferentes atores no processo de


planejamento e tomada de decisão. Os resultados devem ser
integrados em termos de metas e objetivos considerados.
De procedimentos Integração de diferentes requisitos processuais e de aprovação ou
licenciamento urbano, planejamento urbano, ecológico e de AAE para
otimizar atividades e evitar sobreposição de trabalho.
De conteúdos O relatório deve abranger e integrar conteúdos-chave e temas do
planejamento urbano, o planejamento ecológico e da AAE.
De metodologias Integração das abordagens de planejamento urbano, espacial e
ecológico. Integração de abordagens de avaliação ambiental,
econômica e social.
226

De instituições Provisão de capacidade para lidar com as questões-chave e


necessidades emergentes. Assegurar organização governamental para
promover a integração. Intercâmbio de informações e possibilidade de
intervenção entre os diferentes setores.
De políticas Integração das premissas do desenvolvimento sustentável como um
princípio orientador do planejamento; integração de leis específicas e
de regulação do setor, garantia de intervenção política para essa
integração.
Fonte: Modificado de He et al. (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os Quadros 4 a 7 apresentam dados referentes à valorização ambiental


nos vários estágios da AAE observados a partir dos estudos de caso
selecionados nesta pesquisa.

Quadro 4. Análise da valorização ambiental dos relatórios de AAE do plano diretor de Lisboa
Objetivos O objetivo da AAE é avaliar de que forma as propostas estratégicas
da revisão do PDM Lisboa respondem aos problemas ambientais e
de sustentabilidade críticos no município em face do seu contexto
regional, e quais os riscos e oportunidades que poderão suscitar no
futuro.
Diagnóstico Os dados do diagnóstico são integrados e considerados para além
ambiental das questões ambientais, no campo da sustentabilidade. Os temas
do diagnóstico abrangem: população e saúde, cultura e paisagem;
bens materiais; estrutura ecológica; qualidade do ambiente local;
cultura e paisagem; população e saúde; energia e alterações
climáticas.
Relevância e A revisão do plano diretor inclui três grandes desafios relacionados
implicações para com a construção de novas infraestruturas na área metropolitana de
outras ações Lisboa: a Terceira travessia do rio Tejo; a rede ferroviária de alta
estratégicas ou velocidade e o deslocamento da estação central de Lisboa e o novo
políticas aeroporto de Lisboa. O plano diretor, em nível nacional, é suportado
estrategicamente pela Carta Estratégica de Lisboa – 2010-2024 que
apresenta os seis desafios cruciais para o desenvolvimento da
metrópole: mais famílias e mais empresas; mais reabilitação e
melhor aproveitamento do edificado e da urbanização existente;
melhor espaço público e mais áreas pedonais; menos carros a
circular, melhores transportes públicos e mais meios suaves; mais
verde e maior eficiência energética; mais autonomia municipal e
racionalidade na utilização dos recursos.
Alternativas Foram definidas quatro prioridades estratégicas: 1. Afirmar Lisboa
nas redes globais e nacionais; 2. Regenerar a cidade consolidada; 3.
Promover a qualificação urbana; e 4. Estimular a participação pública
e melhorar o modelo de governança.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 227

Identificação e Foi realizada a avaliação de oportunidade e riscos, considerando-se


avaliação de efeitos- a análise de tendências para os fatores críticos de decisão (função
chave habitacional e vivência urbana; recursos ambientais e culturais;
mobilidade; energia e mudanças climáticas; vitalidade econômica;
modelo de governança) para cada uma das prioridades estratégicas
definidas e também quanto à análise do modelo territorial.
Mitigação e A análise de oportunidades e riscos evidenciam as ações a mitigar e
monitoramento dos como devem ser monitoradas, bem como aspectos a serem
efeitos (incluindo valorizados e monitorados. São apresentadas diretrizes de
valorização dos acompanhamento para cada um dos fatores críticos de decisão
efeitos positivos) analisados, o que contempla a promoção de valorização dos
aspectos positivos e abordagem integrada. Um conjunto de medidas
específicas também é apresentado.
Consulta e tomada O PDM encontra-se sujeito a um processo de AA de acordo com o
de decisão Decreto-lei nº 316/2007 de 19 de setembro – com a redação dada
pelo Decreto-Lei nº 46/2009 de 20 de fevereiro –, e subsidiariamente
com o Decreto-Lei nº 232/2007 de 15 de junho. Este enquadramento
legal define como responsável pela AAE o proponente do plano a
avaliar, neste caso a Câmara Municipal de Lisboa. Essa
responsabilidade estende-se à decisão de elaborar a AA,
determinação do âmbito e alcance da AAE, consulta de entidades
sobre o âmbito e alcance da AA, preparação do Relatório Ambiental
e respectivas consultas públicas e institucionais, e apresentação da
Declaração Ambiental à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quadro 5. Análise da valorização ambiental do relatório de AAE do Plano Diretor de Gilgit City
Objetivos O objetivo da AAE neste relatório consiste em influenciar a
formulação do plano por meio da elaboração de um quadro de
referência ambiental, um plano diretor conceitual, plano de
sustentabilidade financeira e um quadro institucional. O objetivo é
que a AAE forneça objetivos e metas claras, concisas e mensuráveis
para o desenvolvimento na cidade de Gilgit.
Diagnóstico Levantamentos de dados ambientais e socioeconômicos que
ambiental caracterizam o estado atual de Gilgit. Os levantamentos descrevem a
topografia, clima, uso do solo, recursos hídricos, qualidade do ar,
levantamentos ecológicos como levantamento de espécies e áreas
protegidas. Dados da população também são levantados como
projeções de crescimento populacional, geração de resíduos sólidos
e demanda energética.
Relevância e O quadro de referência institucional evidencia a relação com
implicações para instituições governamentais como o Comitê Municipal, autoridade
outras ações responsável pelo desenvolvimento, departamento de florestas, vida
estratégicas ou selvagem e conservação e a agência de proteção ambiental, além das
políticas legislações pertinentes sobre aquisição de terras e propriedades,
águas e drenagem e áreas de preservação.
228

Alternativas As alternativas cobrem os temas de uso do solo, onde delimitaram os


usos permitidos por meio de zoneamento; transporte, por meio de
desenvolvimento de diferentes modais de transporte;
sustentabilidade, expansão urbana; qualidade da água, com
preservação da principal fonte de água potável de forma a impedir a
disposição de dejetos industriais; resíduos sólidos e formas
alternativas de tratamento; perigos naturais, considerados no
zoneamento do uso do solo; demanda energética, com a expansão
das fontes energéticas atuais de forma a atender a demanda da
cidade em expansão; preservação de biodiversidade. Foram
elaboradas com base no crescimento populacional e devem
estratégias a serem endereçadas pelo plano diretor conceitual.
Identificação e O relatório não contempla a previsão de consequências ambientais
avaliação de efeitos- futuras de sua ação estratégica e avaliação de suas alternativas,
chave tampouco ações de mitigação monitoramento.
Mitigação e
monitoramento dos
efeitos
Consulta e tomada de A AAE foi elaborada em três partes: no quadro de referência
decisão ambiental houve consulta às partes interessadas (oficiais do governo,
secretarias, ministérios e ONGs); desenvolvimento do plano diretor
conceitual em que houve visita de campo com especialista; e consulta
às partes interessadas com todos os resultados da AAE prontos
(framework e plano conceitual) com vistas a influenciar na criação do
plano.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quadro 6 – Análise da valorização ambiental do relatório de AAE do Plano Diretor de Greenbelt


Objetivos AAE desenvolvida juntamente com a revisão do Plano Diretor do
Greenbelt. Os objetivos do relatório que serviram para subsidiar a
tomada de decisão do plano foram: otimização dos efeitos ambientais
positivos, minimização e mitigação de efeitos ambientais negativos das
propostas do plano, consideração de efeitos ambientais cumulativos,
implementação da Estratégia Federal de Desenvolvimento Sustentável,
identificar responsabilidades de consequências ainda não previstas no
plano, racionalização de avaliação ambiental em nível de projeto, uma
vez que algumas considerações ambientais serão feitas em nível de
planejamento, considerar questões de interesse público e, por fim,
contribuir para compromissos e obrigações governamentais mais amplas.
Diagnóstico As questões ambientais relevantes são divididas em fatores internos e
ambiental externos a região do Greenbelt. Internos como disposição de nutrientes
e rejeitos em corpos d´água, fragmentação de áreas naturais, degradação
dos solos, da paisagem, de sítios arqueológicos além de impactos
negativos na diversidade de espécies nativas e saúde dos ecossistemas.
Externos: fragmentação da paisagem, crescimento urbano e da rede de
transporte, poluição do ar e mudanças climáticas.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 229

Relevância e Outras estratégias para atingir os objetivos do Greenbelt são: limitar a


implicações expansão de infraestrutura, permitir o desenvolvimento dentro de terras
para outras do Greenbelt e expansão de áreas de preservação dos rios.
ações
Alternativas Fortalecimento do papel do meio ambiente natural dentro do Greenbelt;
estratégicas ou alteração de áreas com uso não regulados e adição de 2400 hectares de
políticas áreas naturais; adição de terras como alternativas anteriores e gestão
diferenciadas com compra e aluguel das áreas que não se encaixam na
visão da gestão do uso do solo local.
Identificação e Em geral, o plano apresenta efeitos ambientais positivos. Os resultados
avaliação de das políticas resultam em efeitos neutros para alguns dos aspectos
efeitos-chave culturais, socioeconômicos, físicos e bióticos. Alguns feitos negativos
foram evidenciados nas diretrizes que permitam a expansão das
instalações, transporte regional e desenvolvimento de infraestrutura
além da eliminação/demolição das residências e instalações do
Greenbelt. Os potenciais efeitos são: potencial perda de área disponível
para a agricultura; potenciais impactos na biodiversidade e sua
conectividade, bem como na qualidade e quantidade das águas; perda de
áreas naturais, vegetação; perda da qualidade do ar; alteração das
atividades agrícolas e recreativas
Mitigação e Alterações de plantio e agricultura devem ser paulatina à medida que os
monitoramento contratos de arrendamento são renovados com provisão de sistema
dos efeitos educacional e apoio aos agricultores; alterações na paisagem e nas
(incluindo práticas agrícolas por meio de alternativas de agricultura sustentável;
valorização dos tipologia de projetos a serem implementados deve ser limitada e seus
efeitos efeitos tratados por meio de uma avaliação ambiental específica de
positivos) projetos; exigência de não haver perdas líquidas para áreas naturais
fundamentais e compensação por efeitos negativos; requisitos de adoção
de melhores práticas de gestão e mitigação específica desenvolvida pelo
avaliação ambiental de projetos. As ações de monitoramento envolvem
desenvolvimento de plano da bacia hidrográfica visando à conservação
das áreas naturais; monitoramento da qualidade das águas, habitats e
ecossistemas; avaliação de espécies invasoras; desenvolvimento de
indicadores.
Consulta e A consulta pública a partes interessadas e o público ocorreu entre 2012 e
tomada de 2013. Versou sobre o projeto final de designação das terras, políticas do
decisão Greenbelt, mapas de planos setoriais e ações de gestão. As questões
levantadas foram provisão de infraestrutura de transporte, menor área
natural a ser adicionada do que originalmente definido; potencial
limitado para eliminação progressiva de instalações ao final de seu ciclo
de vida; restrição de transporte e desenvolvimento dentro do Greenbelt.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Quadro 7 – Análise da valorização ambiental do relatório de AAE do Plano Diretor de Coquinho


“Fornecer à autoridade local um instrumento de planejamento urbano para
orientar o desenvolvimento da orla costeira da comuna de Coquimbo”. “É
particularmente importante uma análise e desenvolvimento de novos e
Objetivos
completos estudo de capacidade viária do município; estudo de viabilidade
saúde, suficiência do equipamento, estudo de risco e análise da estrutura
estratégica e ambiental dos mesmos.”
230

O diagnóstico traz o levantamento de problemas ambientais relevantes


como: conflitos de uso do solo; pressões em solos agrícolas limítrofes à área
Diagnóstico
urbana; pressões no sistema costeiro com alto valor biológico; ocupação
ambiental
urbana de áreas de risco; aumento da geração de resíduos sólidos, déficit
de áreas verdes e segregação socioespacial.
Relevância e
implicações para Outros instrumentos normativos indicados: Plano de Regional de
outras ações Desenvolvimento Urbano; Estratégia de Desenvolvimento Regional, Plano
estratégicas ou de desenvolvimento comunitário; Plano Regulador Intercomunitário.
políticas
As estratégias são delimitadas pelos elementos que definem alternativas
de estruturação: ocupação, urbanização e delineamento dos usos do solo e
Alternativas
intensidade de usos. As alternativas são de: crescimento conturbado,
crescimento intermediário e crescimento policêntrico.

Identificação e As estratégias são avaliadas de acordo com os critérios de sustentabilidade


avaliação de – ambiental, social e econômico, problemas ambientais chave e potenciais
efeitos-chave efeitos ambientais.

Mitigação e
monitoramento
dos efeitos Apresenta como medida de mitigação geral um zoneamento preditivo com
(incluindo áreas sujeitas a riscos e restrições ambientais.
valorização dos
efeitos positivos)
Neste relatório, a consulta pública é realizada com base no relatório final
Consulta e
das atividades realizadas e principais resultados do relatório ambiental.
tomada de
Ela deve ser aprovada pela Câmara Municipal e secretaria de habitação e
decisão
desenvolvimento urbano.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Dos Quadros 4 a 7, a despeito das particularidades de cada município


enquanto características urbanas e ambientais e de gestão, pôde-se
depreender que a AAE permite agregar à gestão urbana:
a) por meio dos seus objetivos: evidenciar, internalizar e propiciar
mecanismos para a inserção dos temas ambientais e/ou de
sustentabilidade na agenda da gestão urbana;
b) por meio do diagnóstico ambiental: coleta, análise e interpretação
dos dados ambientais e/ou de sustentabilidade de modo amplo
contemplando uma abordagem integrada aos temas da gestão
urbana;
c) por meio da relevância e implicações para outras ações estratégicas
ou políticas: cria oportunidade para evidenciar entraves ou
diretrizes para o planejamento da cidade do ponto de vista
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 231

ambiental e/ou de sustentabilidade, bem como evidenciar a


interrelação a outros diplomas de planejamento correlatos nesse
contexto;
d) por meio das alternativas: definir as estratégias para a gestão
municipal pautadas também nas questões ambientais e/ou de
sustentabilidade relevantes;
e) por meio da identificação e avaliação de efeitos-chave: à exceção
da AAE de Gilgit City, as alternativas são avaliadas por meio de
cenários, promovendo ao planejamento de médio a longo prazo um
olhar holístico das questões ambientais e/ou de sustentabilidade
na gestão urbana;
f) por meio de mitigação e monitoramento: à exceção da AAE de Gilgit
City, estabelecem mecanismos diversos para que as ações
propostas para a inserção da variável ambiental e/ou de
sustentabilidade possam ser monitoradas e, portanto, avaliadas;
g) por meio da consulta e tomada de decisão: todos os casos
evidenciam mecanismos de consulta e participação pública,
fomentando a tomada de decisão com ampla consideração das
questões ambientais e/ou de sustentabilidade na gestão urbana.
O Quadro 8 consolida a análise do planejamento ambiental e urbano
possibilitado pela AAE, a partir da análise documental de cada um dos
relatórios de AAE utilizados nesta pesquisa.

Quadro 8. Análise da integração do planejamento ambiental e urbano possibilitado pela AAE a


partir dos relatórios de AAE
AAE Lisboa AAE Gilgit City AAE Greenbelt AAE Coquimbo
De atores Sim Sim Sim Sim
De procedimentos Sim Sim Sim Sim
De conteúdos Sim Não Não Sim
De metodologias Sim Não Não Sim
De instituições Sim Sim Sim Sim
De políticas Sim Sim Sim sim
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Da análise do Quadro 8, observa-se que, à exceção dos relatórios de AAE


de Gilgit City e de Greenbelt, todos os elementos destacados por He et al.
(2011) como necessários para a promoção da integração do planejamento
232

urbano em direção à sustentabilidade urbana, são verificados nas AAE


analisadas. Esse resultado demonstra que a AAE cumpre um importante papel
na integração entre planejamento ambiental e gestão urbana.
O contexto social, econômico e ambiental dos documentos de AAE
analisados são bastante distintos. Independente dessas diferenças, inclusive na
qualidade da AAE, em todos os casos pode-se verificar satisfatória a integração
do planejamento ambiental à gestão urbana, mais focada no ambiente rural no
caso da AAE do Greenbelt pelas características desse município. Tal afirmação
parte da premissa que praticamente para todas as categorias de análise
adotadas (Quadros 2 e 3) houve alguma associação verificada. O pior
desempenho foi da AAE de Gilgit City que apresenta alguns quadros de
referência para o planejamento e identificação das questões ambientais
relevantes sem considerar avaliação, mitigação e monitoramento das
alternativas propostas.
Guardadas as diferenças locais e regionais de aplicação da AAE, suas
potenciais contribuições para planos do uso do solo são evidentes como:
levantamento das implicações ambientais diante do crescimento urbano e
gestão do território; identificação de ações intervenientes com
consequentemente delimitação das atribuições das diversas partes
interessadas de maneira a evitar sobreposições de responsabilidade na gestão
do uso do solo; levantamento de alternativas para gerenciar o uso do solo com
o objetivo de melhorar a qualidade urbana e ambiental das cidades; mitigar e
monitorar efeitos adversos das ações propostas para a gestão do território.

CONCLUSÕES

Os resultados permitem destacar que a AAE possibilita uma ampla


integração da agenda ambiental ao planejamento urbano, demonstrando
grande potencial de contribuição à gestão urbana das cidades brasileiras.
A temática ambiental com o uso da AAE no plano diretor é inserida
desde os objetivos, o que amplia o escopo deste importante instrumento de
gestão urbana. Outro aspecto importante refere-se ao uso das boas práticas da
AAE, como ampla participação pública, reforçando a visão e a perspectiva
ambiental dos múltiplos atores municipais na gestão urbana.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 233

A participação pública, considerada durante o desenvolvimento do PDE


de São Paulo, é uma prerrogativa essencial da AAE. A AAE promove a
consideração de alternativas e sua avaliação, bem como medidas de mitigação
e monitoramento de seus efeitos adversos, contribuindo para a elaboração de
planos diretores com integração das questões ambientais.
A amostra de planos diretores avaliados a partir da AAE em diferentes
cidades no mundo, evidencia que a AAE tem o potencial de cobrir a demanda
específica do planejamento urbano local, contemplando uma ampla gama de
considerações ambientais em seus vários estágios.
A partir desse estudo exploratório, espera-se contribuir para a discussão
do uso da AAE no planejamento do país, em especial, na gestão urbana.
Evidencia-se que a realização, e posteriores revisões, dos planos diretores
podem ser suportadas pela AAE. A partir dessa premissa, considera-se que os
planos diretores teriam o potencial de integrar a valorização ambiental na
dinâmica das cidades, demonstrando a força da AAE como instrumento
técnico. A AAE no contexto do plano diretor permite, ainda, incrementar a
integração esperada entre planejamentos urbano e ambiental, no contexto de
cidades, como verificado pelos casos estudados.
Como a aplicação da AAE prevista no plano diretor avoca a necessidade
de ato do executivo que a regulamenta, demonstrando o alcance das
contribuições do uso sistemático da AAE na gestão urbana, não limitado ao
plano diretor, mas a todo o planejamento relacionado à cidade.

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236
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 237

Capítulo 11

ENVOLTÓRIAS VERDES:
O USO DE FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS NA ANÁLISE
AMBIENTAL

Thiago Montenegro Góes41


Caio Frederico e Silva42
Pedro Dias Boa Sorte 43
Teresa Santos 44
José António Tenedório 45

INTRODUÇÃO

Enfrentamos uma crise climática sem precedentes e que requer cidades


cada vez mais resilientes. Os principais modelos climatológicos apontam para
um aumento médio de temperatura da Terra de até 4,8 °C até o final do século
21, segundo o IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change (COLLINS et
al., 2013). Contudo, sabemos que o aumento não será homogêneo no espaço
nem no tempo, com ondas de calor muito superiores a esses valores.
Os centros urbanos estão no epicentro das questões de mudanças
climáticas, tanto como causa, como consequência. As atividades que ocorrem
nas cidades, como transportes, produção industrial bens como as edificações
e o consumo da mineração e da agricultura são responsáveis por 70% de todas

41
Mestre, Doutorando no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília – PPG/FAU/UnB. E-mail: thiago.goes01@gmail.com
42 Doutor, Professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e no PPG FAU da Universidade de

Brasília (UnB). Pesquisador LaSUS/Lacam/SiCAC. E-mail: caiosilva@unb.br


43 Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de

Brasília – PPG/FAU/UnB. E-mail: pedrodiasbs@gmail.com


44 Doutora, pesquisadora no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), Faculdade de

Ciências Sociais e Humanidades (NOVA FCSH), Universidade NOVA de Lisboa, Portugal. E-mail:
teresasantos@fcsh.unl.pt
45
Doutor, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades (NOVA FCSH) do Centro
Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA) da Universidade NOVA de Lisboa, Portugal. E-mail:
ja.tenedorio@fcsh.unl.pt
238

as emissões de gases do efeito estufa (ONU, 2011). Além disso, as cidades


sofrerão alguns dos principais efeitos do aquecimento global, pois é onde se
encontra a maior parte da população e os efeitos do aquecimento são
acentuados pelo efeito da ilha de calor (ESTRADA; TOL, 2017).
Nesse sentido, se faz urgente desenvolver estratégias e aplicar políticas
que sejam capazes de mitigar os efeitos nocivos das atividades urbanas ao
clima (SANTAMOURIS, 2014), assim como tornar as cidades mais resilientes e
menos suscetíveis aos efeitos de mudanças climáticas. Infraestruturas verdes
possuem um papel essencial em possibilitar resiliência climática das cidades,
mas também auxiliam a criar ambientes mais saudáveis e assim melhorar a
qualidade de vida local. Isso se deve aos diversos serviços ambientais que essas
infraestruturas fornecem, como melhoria do microclima, gestão das águas de
chuvas, redução de emissões de gases do efeito estufa, entre outros, assim
serviços sociais, como, por exemplo, aumentar coesão social (GEHRELS et al.,
2016).
Dentro da grande temática de infraestrutura verde, o uso da vegetação
é considerado estratégia central para o desenvolvimento de cidades mais
sustentáveis, ecológicas, saudáveis e humanas (NIEMELÄ et al., 2010). Nas
últimas décadas, a importância da vegetação urbana deixou de ser
predominantemente estética e ornamental para ganhar um papel essencial de
provedora de serviços ambientais (SILVERA SEAMANS, 2013, SALMOND et al.,
2016). Assim, o emprego da vegetação urbana é um dos principais aliados para
reduzir as emissões de gases do efeito estufa, especialmente pela capacidade
de fixação de carbono (ROMERO et al., 2019).
A vegetação na área urbana possui papel estratégico na mitigação do
calor na escala local, por sua capacidade de sombreamento, reflexão e
evapotranspiração (ROMERO, 2013). Em relação ao calor no meio urbano, a
vegetação possuiu características físicas que distinguem a sua transmissão de
energia térmica em relação aos materiais construtivos convencionais, como
asfalto, blocos de concreto e cerâmica. O desempenho térmico da vegetação é
caracterizado pela absorção de cerca de 90% da radiação visível e 60% da
infravermelha, a qual é utilizada em suas funções biológicas, e o restante
transmitido ou refletido pelas folhas. Esse potencial de redução da carga
térmica é especialmente relevante em contextos climáticos predominante
quentes, como é grande parte do território brasileiro.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 239

O emprego de envoltórias verdes (EV) – coberturas e paredes verdes –


por mais que não seja uma prática nova (BOWE, 2010), tem ganho destaque
nas últimas décadas (LI; YEUNG, 2014). Em contextos urbanos cada vez mais
densos e com grande supressão de áreas verdes, EV são alternativas viáveis
para prover os diversos serviços ambientais da vegetação sem a necessidade
de competir com o mercado imobiliário.
Os benefícios que EV possibilitam são diversos como: aumento da
biodiversidade urbana, melhora da qualidade do ar e da água, promover a
aproximação do homem com elementos da natureza, reduzir alagamentos,
amenizar o clima local, melhorar o conforto térmico e reduzir o consumo
energético das edificações, além de questões estética e contemplativas.
No nível do clima urbano, uma política de emprego de EV é capaz de
atenuar as ondas de calor. Estudos apontam para o potencial de redução de
picos temperatura do ar de até 11°C em Riad na Arábia Saudita e 7°C em
Brasília (ALEXANDRI; JONES, 2008).
Já no nível da edificação, EVs são capazes de melhorar os níveis de
conforto térmico em 7°C em climas tropicais (DOMINIQUE et al., 2014) em
virtude da massa térmica, sombreamento, evapotranspiração e reflexão que a
EV propícia. Essa capacidade de melhoria do conforto está atrelada à
proporção de vegetada na envoltória, com maior impacto de coberturas verdes
em edificações de baixa altura e de paredes verdes em edificações de maior
gabarito. Ademais, além de proporcionar melhores índices de satisfação dos
usuários, o emprego de EV acarreta na redução do consumo energético da
edificação – especificamente de sistema de condicionamento de 25% a 80%
(WONG et al., 2008) –, aspecto essencial para a redução das emissões de gases
do efeito estufa, visto que as edificações representam 19% de todas as
emissões de gases do efeito estufa (ÜRGE-VORSATZ et al., 2014).
Assim, percebemos que as EVs em si são ferramentas de controle
ambiental na escala urbana. Além disso, atualmente existem diversas
ferramentas de modelagem computacional que podem auxiliar na melhor
definição de políticas públicas para a implantação de estratégias como EV,
assim como a avaliação do seu impacto no conforto ambiental. Elas variam
desde ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento para a
identificação de potenciais na escala local, até ferramentas de simulação do
microclima e do desempenho termoenergético da edificação que quantificam
240

o impacto do emprego de estratégias como EV antes mesmo de sua


implementação, ainda na fase de projeto.
Este capítulo apresenta um panorama geral de ferramentas de
modelagem computacionais capazes de avaliar o impacto na mitigação do calor
da implementação das EV em múltiplas escalas a fim de auxiliar a
implementação de políticas urbanas, além de uma visão geral do potencial de
EV como estratégia de mitigação das mudanças climáticas no meio urbano. A
primeira parte destina-se a inserir as EV no contexto de soluções baseadas na
natureza e infraestrutura verde, assim como abordar os benefícios de EV ao
conforto ambiental tanto na escala urbana, como da edificação – e
consequentemente o impacto na eficiência energética. Na segunda parte está
a apresentação de ferramentas de modelagem computacional que podem
auxiliar na tomada de decisão em três escalas: no nível de planejamento a
partir de ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, na
escala urbana por meio de simulação computacional do microclima e na escala
da edificação de simulações termoenergéticas para avaliação do conforto
térmico e eficiência energética. Por fim, discutem-se perspectivas futuras
dessas ferramentas, especialmente sobre escopo e escala de investigação,
além de questões de integração e interoperabilidade.

ENVOLTÓRIAS VERDES: INFRAESTRUTURA VERDE PARA QUALIDADE


AMBIENTAL

As áreas urbanas podem contribuir para eventos extremos de calor e


aumentar a mortalidade e morbidade na população urbana (GABRIEL;
ENDDLICHER, 2011), como visto em Paris, França, em 2003 (DHAINAUT et al.,
2004), Melbourne, Austrália, em 2009 (Departamento de Serviços Humanos,
2009) e Moscou, Rússia, em 2010 (REVICH, 2011).
A resiliência urbana pode ser compreendida como a capacidade dos
indivíduos, comunidades, instituições, negócios e sistemas, em comum acordo
com a cidade, sobrevivem aos choques, desastres naturais, crises econômicas,
falhas de infraestrutura e sobrecargas. Resiliência não é apenas recuperação
ou um fenômeno estático, mas é transformação. Resiliência é o processo de
como a cidade por se redefinir após um choque, o que pode torná-la mais forte
(MARUYAMA; YAMAGATA, 2016).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 241

Esses novos conceitos colocam o paradigma do desenvolvimento


sustentável em xeque. A cidade resiliente é mais preparada para enfrentar os
problemas ambientais que a cidade sustentável? A esse fim, a cidade resiliente
acolhe as soluções baseadas na natureza dentro da sua própria dinâmica.
Infraestrutura verde são soluções de infraestrutura urbana baseadas na
natureza que prestam serviços ambientais. Um dos principais tipos de
infraestrutura verde é a vegetação urbana, que pode possibilitar bem-estar às
pessoas por meio de melhorias do conforto ambiental, qualidade do ar e
aumento da salubridade. Ademais, a presença de vegetação nas edificações
também influencia a vidas dos usuários do edifício e do entorno imediato.
Pesquisa realizada por Valesan et al. (2010) na cidade de Porto Alegre/RS
relatou que os usuários de edifícios com EV apontam como principais
vantagens o "embelezamento da paisagem urbana" e a "integração do meio
urbano com a natureza”.
Podemos considerar as EVs como elementos integrantes do conjunto
das infraestruturas verdes. As infraestruturas verdes, por sua vez, são
consideradas integrantes do campo de pesquisa das soluções baseadas na
natureza (Figura 1). Assim, a adoção de EV apresenta-se como uma das
alternativas deste campo que pretende mitigar as mudanças climáticas. Além
disso, possibilitam benefícios como aumento da biodiversidade, melhoria da
qualidade de vida e saúde das pessoas, redução de consumo energético e dos
gases do efeito estufa, mitigação da poluição da água e do ar, além de valor
estético e contemplativo (ÖZYAVUZ et al., 2015)

Figura 1. Hierarquia das soluções baseadas na natureza, infraestrutura verde e envoltória verde

Fonte: Autores (2020).


242

As EVs tornam a cidade um ambiente mais receptível para elementos


dos ambientes naturais. Segundo Meiners et al. (2002), as paredes verdes são
habitats para diversas espécies e podem ser definidas como uma comunidade
biótica ou um conjunto associado a um ambiente físico em um local específico,
especialmente se há uma consideração especifica das espécies que irão
compor uma parede ou cobertura verde. O uso de espécies nativas, em
contraposição às exóticas possuiu diversos benefícios, pois constituem um
importante patrimônio cultural e econômico para as populações locais,
representam a possibilidade de conciliação entre os objetivos da intervenção
antrópica e os da preservação da biodiversidade e permitem a integração de
projetos paisagísticos ao entorno paisagístico natural (NASCIMENTO;
OLIVEIRA, 2005; ROCHA et al., 1995). Além disso, suas características
morfológicas e fisiológicas possibilitam amenizar o clima local.
Um dos benefícios mais notórios de EV é sua capacidade em auxiliar na
mitigação do fenômeno ilha de calor urbano, descrita pela primeira vez em
Londres pelo meteorologista Luck Howard em 1833 (HOWARD, 1833). Nesse
fenômeno, o calor é absorvido pelas superfícies urbanas com alta capacidade
térmica (TALEGHANI, 2018) e posteriormente liberado no ambiente, o que
eleva a temperatura. A utilização de vegetais em vez de materiais com alta
capacidade térmica é uma estratégia que auxilia na mitigação dos efeitos de
ilhas urbanas de calor e eventos extremos de calor (NORTON et al., 2014).
Na escala da edificação, por sua vez, Araújo (2007) ressalta que o uso da
cobertura verde favorece o desempenho térmico dos edifícios, interna e
externamente, o que proporciona maior conforto térmico ao usuário. Segundo
Romero (2013), o uso de vegetação é a estratégia mais eficiente para se evitar
o ganho de calor, pois diminui a incidência solar nas superfícies dos ambientes
construídos. Além disso, o emprego de EV pode auxiliar no conforto térmico
em virtude do aumento da inércia térmica da envoltória, o que pode ser
benéfico tanto em climas quentes quanto frios. Essa melhoria no conforto
térmico da edificação, mais que melhorar a condição de habitabilidade,
acarreta maior eficiência energética da edificação, possibilitando na redução
no consumo de energia e consequentemente na redução de emissões de gases
do efeito estufa.
Nesse sentido, a definição do material superficial das edificações mais
adequados como EV, pode contribuir para cidades mais resilientes, que
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 243

propiciem maior bem-estar aos usuários, mais saúde, diversidade, além de


mais conforto térmico tanto no ambiente urbano, como dentro das
edificações, o que consequentemente permite cidades com menor consumo
de energia. Além disso, é possível alcançar esses objetivos, à medida que
tornamos as cidades mais morfologicamente semelhantes aos ambientes
naturais, o que inclusive contribui para cidades mais sustentáveis.

FERRAMENTAS PARA ANÁLISE EM MULTIESCALA DO IMPACTO DE


ENVOLTÓRIAS VERDES NO CONFORTO AMBIENTAL

Ferramentas de modelagem computacional, desde sua disseminação a


partir da Terceira Revolução Industrial – mas especialmente agora com a
Quarta Revolução Industrial – têm transformado a humanidade de uma forma
sem precedentes, com alterações profundas em como as pessoas trabalham,
vivem e se relacionam. Essas mudanças têm impactos profundos em todas as
indústrias e suas cadeias produtivas (SCHWAB, 2016). Especificamente o
emprego de sistemas computacionais possibilita maior manipulação e
avaliação de dados, em uma dimensão praticamente inviável à capacidade
humana. Isso apresenta novas informações, o que auxilia a tomada de decisão,
em uma abordagem baseada em evidências (HAMILTON, WATKINS, 2008).
Dessa forma, as ferramentas de modelagem computacional servem de apoio,
como um assistente, à tomada de decisão em diversas áreas de atuação.
No planejamento urbano e desenvolvimento de políticas públicas, as
possibilidades de empregos de ferramentas de modelagem computacional são
inúmeras, desde legislações ou códigos no nível federais até municipal. Além
disso as informações que esse tipo de abordagem fornece, podem direcionar
investimentos como linhas de financiamento para área prioritárias de pesquisa
ou desenvolvimento de produtos. Ademais, ao criar um ecossistema de
ferramentas, os dados e informações obtidos por um tipo de ferramenta
podem auxiliar análises de outras ferramentas, o que fortalece a abordagem
de tomada de decisão baseada em evidências
Os sistemas de informação geográfica se beneficiam muito dos sistemas
computacionais, pela sua capacidade de armazenamento, processamento e
cruzamento de dados. As ferramentas de sensoriamento remoto são capazes
de fornecer vastas quantidades de dados aos sistemas de informações
244

geográficas. Isso está especialmente relacionado ao uso de imagens de satélite,


que têm se tornado popular para análise de contextos urbanos a partir dos
anos 1990 – com o maior acesso devido à desclassificação como tecnologia
militar –, mas especialmente a partir dos anos 2000 – com a melhoria da
qualidade das imagens e maior resolução espacial (mínima área coberta por
cada pixel). Por meio de análises espectrais das imagens, essas tecnologias de
sensoriamento remoto permitem a identificação e caracterização de diversas
coberturas, como por exemplo coberturas vegetais.
Ferramentas de simulação computacional para avaliação do
desempenho têm trajetória parecida e têm se popularizado nas últimas
décadas. Essas ferramentas se destacam por auxiliarem na melhoria de
ambientes existentes ou mesmo em fase de projeto, porque são capazes de
equacionar questões de qualidade ambiental e assim assistem à melhoria do
desempenho dos ambientes (KEELER; BURKE, 2010; ATHIENITIS; O'BRIEN,
2015). Isso ocorre porque são ferramentas de natureza multidisciplinar,
orientadas a problemas amplos e de escopo abrangente, que visam a fornecer
soluções aproximadas a problemas complexos por meio de um modelo
simplificado, mas fidedigno (HENSEN; LAMBERTS, 2011).
Especificamente, as ferramentas de avaliação do microclima urbano
permitem analisar o conforto ambiental como questões de umidade,
velocidade dos ventos, temperatura do ar e radiante, por meio de modelos que
representam as características físicas do local e do clima. Assim, além de poder
avaliar as condições atuais de conforto ambiental de um contexto urbano,
ferramentas de avaliação do microclima permitem estudar diversas
alternativas de intervenção, o que permite uma tomada de decisão mais
embasada. Essa abordagem tem se mostrado especificamente relevante ao
estudo do impacto de vegetação no ambiente urbano, como os casos de EV.
Ainda mais populares que ferramentas de simulação do microclima
urbano, ferramentas de simulação do desempenho ambiental de edificações –
especialmente a modelagem energética da edificação, ou Building Energy
Modeling (BEM). Essas ferramentas permitem a avaliação de questões de
conforto ambiental de espaços internos, assim como seu consumo energético,
por meio da construção de um modelo representativo das suas características
físicas. Similarmente às ferramentas de avaliação do microclima, permitem
avaliar alternativas sobre a forma de cenários para melhorar o conforto ou
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 245

desempenho ambiental e reduzir o consumo energético. Normalmente, essas


ferramentas possuem enfoque na avaliação dos sistemas construtivos e
sistemas ativos da edificação46. Especificamente a avaliação do impacto da
evapotranspiração da vegetação normalmente não é adequadamente
equacionada, se a vegetação não está encostada na envoltória da edificação.
Contudo, se a vegetação está empregada na envoltória, como é o caso de EV,
essas ferramentas de simulação são capazes de avaliar inclusive o impacto da
evapotranspiração no ambiente interno.

Escala local: sensoriamento remoto e geoprocessamento

O planejamento urbano constitui uma ferramenta de gestão eficiente


para promover o desenvolvimento sustentável em várias escalas. Porém, o seu
sucesso depende muito de informações precisas e robustas. Nesse contexto,
os dados de sensoriamento remoto são uma fonte eficiente de informação
sobre elementos na superfície urbana. Os recentes avanços nas tecnologias e
algoritmos dos sensores digitais tornaram possível a aquisição de imagens de
muito alta resolução (5 m a menos de 1 m), de forma regular e a um custo
relativamente baixo.
Essas informações permitem abordagens em várias escalas, das cidades
aos quarteirões e aos edifícios. Os dados recolhidos por sensores instalados a
bordo de veículos aéreos não tripulados (drones), helicópteros, aviões ou
satélites incluem informação espectral e altimétrica de grande detalhe
espacial. Deste modo, combinando diferentes sensores digitais, modelos 3D
complexos da superfície podem ser produzidos em ambientes de Sistemas de
Informação Geográfica (SIG) e usados para avaliar diversos fatores que
contribuem para a qualidade urbana.
Normalmente, os dados derivados são apresentados como indicadores
espaciais, que fornecem informações quantitativas atualizadas sobre um
objeto específico, do status da vegetação à temperatura da superfície da terra,
qualidade da água ou emissões de poluentes. Tradicionalmente, a coleta deste
tipo de informação exige inventários tecnicamente exigentes e com recursos

46
Entende-se como sistemas ativos aqueles que dependem diretamente de energia ao seu
funcionamento, como sistemas de ar-condicionado, ventilação, resfriamento e aquecimento,
iluminação artificial e outros equipamentos elétricos.
246

humanos muito especializados, que demoram tempo a produzir informação


útil, que muitas vezes já se encontra desatualizada quando disponibilizada.
Os indicadores urbanos espaciais baseados em dados remotos, por seu
lado, coletam eficientemente as informações que permitem aos planejadores
avaliar o problema, decidir onde e quando as políticas devem ser realizadas,
quais podem ser as metas realistas e quem está mais apto a implementá-las
(SANTOS et al., 2016). O uso de indicadores baseados em conhecimento
geográfico permite ainda avaliar o alcance das políticas públicas, uma vez que
a sua fácil formulação permite acompanhar a implementação e verificar o
cumprimento das metas definidas no plano.
Ao considerar medidas de adaptação e mitigação às mudanças
climáticas como as EV, os dados de sensoriamento remoto podem fornecer
indicadores relevantes para melhor estimar as necessidades atuais e avaliar
cenários de planejamento alternativos. A partir do processamento digital das
imagens de muito alta resolução é possível identificar quais os locais na cidade
que estão privados de áreas verdes, e que deste modo podem ser favorecidos
numa fase inicial do planejamento urbano. Porém, o planejamento da
intervenção ecológica em uma cidade implica a existência de áreas adequadas
no terreno; no entanto, em áreas de alta densidade, o espaço disponível é
geralmente escasso. Nesse contexto, as EV podem constituir uma alternativa
válida e saber onde estão os melhores locais da cidade para receber essas
estruturas é uma ferramenta essencial para o sucesso do planejamento verde
(SANTOS et al., 2019).
Contudo, nem todo edifício pode receber uma EV, pois vários fatores
influenciam a tomada de decisão sobre a possível adoção de sistemas de
vegetação na envoltória devem ser avaliados. No caso específico das
coberturas, a primeira dificuldade é a presença de telha como material de
cobertura. Também coberturas com inclinação superior a 20˚ não são indicadas
para receber essas estruturas verdes. Igualmente, coberturas com pouca
captação solar podem não ser as mais indicadas para receber vegetação.
Neste contexto, uma abordagem multissensor é a forma mais eficiente
de avaliar estes fatores. Por um lado, a informação espectral recolhida em
imagens permite identificar os materiais utilizados em cada topo de edifício.
Por outro lado, a informação altimétrica permite criar um modelo 3D do
ambiente urbano e derivar a informação sobre as inclinações de cada topo,
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 247

bem como quantificar a radiação solar disponível em cada cobertura (SANTOS


et al., 2014). Essa metodologia foi empregada em Lisboa, Portugal,
especificamente à identificação do potencial de emprego de coberturas verdes
por Santos et al. (2016). Essa abordagem possibilita aos gestores avaliarem a
viabilidade econômica e desenvolver planos de ações de forma mais
embasada.
Dessa forma, o planejamento para o desenvolvimento ecológico nas
cidades deve basear-se em informações sobre a adequação local para a
adaptação ecológica. Os produtos derivados de sensoriamento remoto
permitem, por um lado, identificar os critérios de sucesso de uma intervenção
verde de forma consistente, rápida e replicável para toda a área urbana; mas
também monitorizar a sua implementação de modo a avaliar o seu alcance e
aconselhar ajustes, se necessário.
O modelo de planejamento urbano moderno baseado em
conhecimento geográfico – denominado de e-planning – permite auxiliar a
tomada de decisão e assistir na discussão pública dos planos por meio da
visualização do impacto das intervenções propostas no espaço público. O
processo de e-planning pode ser incorporado em diversas escalas, no entanto,
conhecer a capacidade local fornece base sólida à tomada de decisão e ao
sucesso das políticas de desenvolvimento sustentável.

Simulação microclimática

Após identificar quais os melhores locais na cidade para receber EV, é


pertinente estudar diversos cenários de intervenção verde e avaliar qual traz
mais benefícios ao nível do conforto no espaço público. Nesta fase, a
informação recolhida por sensores remotos sobre a forma urbana e os
materiais à superfície pode ser usada em modelos de simulação microclimática
que produzem, de acordo com as condições meteorológicas locais, indicadores
de conforto térmico. Deste modo, diferentes cenários de intervenção podem
ser testados e produzir informação de apoio ao planejamento verde à escala
de vizinhança, como estudos de impacto de vizinhança (EIV), discussões de
planos diretores e avaliação de impactos intervenções de gestões municipais.
Muitas pesquisas dedicam-se a entender como o desenvolvimento
urbano e a falta de vegetação natural contribuem para o aumento da
248

temperatura nas cidades. Alguns estudos discutem a relação entre a vegetação


como meio de promover o conforto térmico em um contexto ambiental, assim
como as EV como estratégias de adaptação ou mitigação.
O ENVI-met é um programa desenvolvido por diversos projetos de
investigação científica e está, portanto, sob constante desenvolvimento. Sua
proposta fundamenta-se no prognóstico das leis fundamentais da dinâmica de
fluidos e da termodinâmica. O modelo inclui a simulação de: enchente ao redor
e entre edifícios troca de processos de calor e vapor na superfície do solo e nas
paredes turbulência troca de vegetação e parâmetros de vegetação;
bioclimatologia; dispersão de partículas (BRUSE, 2004). Atualmente, o
software ENVI-met encontra-se na sua quarta versão e entre outros recursos
aceita arquivos climáticos do tipo EPW (EnergyPlus Weather file).
A escala das ilhas urbanas de calor oferece pesquisas relevantes em dois
contextos climáticos diferentes. Maleki e Mahdavi (2016) discutem estratégias
de mitigação usando um modelo de microclima urbano tridimensional. Em seu
estudo, eles investigaram os efeitos da variação das propriedades físicas e
geométricas do tecido urbano no microclima urbano e no conforto térmico ao
ar livre com o uso do ENVI-met. Os autores concluíram que resultados que
aumentam a quantidade de vegetação e pavimentos permeáveis podem
resfriar a temperatura do ar em até 3 °C.
Em outro contexto climático, Razzaghmanesh et al. (2016) apresentam
uma investigação experimental nos vários níveis climáticos. Eles usam
simulação nas escalas micro e macro de um ambiente urbano típico na África
do Sul para avaliar o potencial de mitigação do efeito ilhas urbanas de calor na
cidade de Adelaide. Eles apontam a substituição de superfícies vegetadas por
materiais com baixo teor de albedo como uma das razões para o aumento da
temperatura em um ambiente urbano e, consequentemente, também uma das
causas essenciais dos efeitos de ilhas urbanas de calor. Os resultados
mostraram que essas mudanças têm efeitos significativos no resfriamento
durante o verão e podem se comportar como uma camada de isolamento para
manter os edifícios mais quentes no inverno. Finalmente, os autores afirmam
que o uso de paredes verdes e arborização de rua, juntamente com a adoção
de materiais com alto índice de albedo, é recomendado à redução da
temperatura urbana e mitigação dos efeitos das ilhas urbanas de calor.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 249

Morakinyo et al. (2019) apontam as paredes verdes como uma ótima


estratégia para melhorar as características térmicas de um ambiente ao ar livre
e reduzir o uso de energia em ambientes fechados. Especificamente em
cidades com alta densidade e verticalidade, como Hong Kong, a área de
superfície de fachadas dos edifícios é muito maior que as áreas de cobertura e
solo combinadas, oferecendo uma plataforma vertical para o esverdeamento.
Os autores usaram a simulação com ENVI-met para entender o potencial
resfriamento do ar e a melhoria do conforto térmico de uma vizinhança de
densidades variadas. Eles constataram um potencial de redução de cerca de 1
°C na temperatura do ar se 30 a 50% das fachadas dos edifícios de Hong Kong
fossem recobertas com paredes verdes. Isso permite melhorar o conforto
térmico para pedestres durante o dia em pelo menos uma classe termal no
índice PET (Physiological Equivalent Temperature).
A avaliação do impacto do desempenho de diferentes tipos de
infraestrutura verde no conforto térmico do clima urbano é abordada por Zölch
et al. (2016). Investiga-se como diferentes tipos de infraestrutura verde urbana
– especificamente, arborização e EV – afetam o conforto térmico dos
pedestres. O artigo demonstra que o plantio de árvores obteve o impacto mais
positivo, com uma redução média de 13% no PET, em comparação com o
cenário existente. Especificamente, paredes verdes possibilitaram atenuar
entre 5 a 10% no PET. Entretanto, os resultados também indicam que o
impacto de coberturas verdes foi desprezível na redução do PET.
Já Herath et al. (2018) avaliaram a estratégia de mitigação e resiliência
da infraestrutura verde urbana na tropical Colombo, a capital comercial do Sri
Lanka, por meio de simulação para as condições climáticas quentes e úmidas
do final de verão, em agosto. Avaliou-se o impacto no clima de sete cenários –
três de coberturas verdes, três de paredes verdes e cenário existente – com o
uso do ENVI-met. Os resultados destacaram que as EVs reduziram
significativamente a temperatura. Os melhores cenários mostram uma
redução de cerca de 2 °C com o emprego de parede verde e de 1,64 °C para a
cobertura verde em comparação com o cenário existente.
Dessa forma, demonstra-se a capacidade de EV como ferramenta de
controle ambiental e na melhoria do clima urbano, especificamente no
controle ao desconforto por calor e os efeitos do fenômeno de ilha de calor.
Para que EVs sejam implementadas adequadamente em política públicas é
250

necessário que sejam avaliados seus impactos. Nesse aspecto ferramentas de


avaliação do microclima urbano podem contribuir significativamente, seja na
análise de estudos de impacto de vizinhança, em discussões de planos
diretores juntos com a população ou na avaliação de alternativas por parte dos
gestores públicos.

Simulação termoenergética da edificação

As infraestruturas verdes também impactam o balanço energético dos


edifícios. Ferramentas de simulação do desempenho da edificação são
ferramentas de modelagem computacional capazes de desenvolver modelo
virtuais representativos de uma condição de contorno real (DEWILDE, 2018).
Isso é possível por meio de caracterização adequada de diversos dados de
entrada como arquivo climático, características do sítio, caraterísticas
termofísicas e geométricas dos elementos construtivos, sistemas empregados
e cargas e rotinas de uso e ocupação. Por serem ferramentas de natureza
multidisciplinar, orientadas a problemas amplos e de escopo abrangente,
podem fornecer soluções a problemas complexos de forma fidedigna por meio
de modelo simplificado (HENSEN; LAMBERTS, 2011).
Essas ferramentas podem ser compreendidas como experimentos
virtuais pois permitem avaliar a influência de diversas estratégias nos
indicadores de desempenho da edificação (AUGENBROE, 2011).
Especificamente, Building Energy Modeling (BEM) é um tipo de ferramenta de
avaliação do desempenho da edificação que possui como enfoque a avaliação
do consumo energético de uma edificação, entretanto, outros indicadores
relativos ao desempenho termoenergético, como temperatura do ar, radiante
e operativa também são gerados.
Existem diversas ferramentas de cálculo que realizam esse tipo de
simulação. O EnergyPlus, desenvolvido pelo Departamento de Energia do
Estados Unidos desde 1995 a partir de projetos anteriores – DOE2 e Blast – é
considerado o estado da arte desse tipo de ferramenta. Contudo, por se tratar
de um programa alfanumérico, não possui uma interface gráfica amigável
(WETTER et al., 2015). Dessa forma, diversas interfaces gráficas foram
desenvolvidas em cima do EnergyPlus e o utilizam como algoritmo de cálculo,
como OpenStudio, DesignBuilder, Sefira, Ecotect, entre outros. Ademais,
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 251

também existem outras ferramentas tipo BEM que possuem algoritmos de


cálculo próprios, como os casos do TAS e IESve.
Essas ferramentas de simulação têm sido vastamente utilizadas para a
avaliação do impacto de EV no desempenho de edificações, seja tanto para
conforto térmico como para eficiência energética. Especificamente as
ferramentas baseadas no EnergyPlus são capazes de avaliar o impacto de EV
no desempenho de forma fidedigna. Por possuir objeto específico a esse fim, o
EnergyPlus é capaz de simular os efeitos de plantas aderidas em sistemas
construtivos – paredes e coberturas – inclusive o efeito evapotranspirativo das
plantas, a rotina de irrigação e a evaporação do substrato.
Desta forma, é possível investigar o desempenho de diferentes cenários
construtivos como EV, e assim compará-las com outros tipos de envoltórias.
Ademais, essas ferramentas possibilitam investigar quais atributos – ou
parâmetros – de um tipo de envoltória como EV mais influenciam no conforto
ou eficiência energética de uma edificação, como por exemplo altura da
vegetação, profundidade do solo e leaf área index (LAI). Assim é possível refinar
melhor as soluções e atingir resultados mais otimizados. Essas estratégias
podem ser bastante úteis para melhor definir políticas públicas, legislação,
código de obras, linhas de financiamento e área prioritárias de pesquisa mais
adequadas as diferentes realidades climáticas.
Estudos comparativos podem pautar legislações locais, como código de
obras ou planos diretores, pois permitem investigar o desempenho de diversas
soluções. Por exemplo, o estudo de Gagliano et al. (2015) avaliou diversas
soluções de coberturas e apontou que coberturas verdes possibilitam
melhores condições de conforto térmico no verão no clima mediterrâneo
estudado, com redução de 3 °C em média em comparação com solução
tradicional de alvenaria e 1 °C em comparação com a segunda melhor solução.
Além disso, a maior inércia térmica permite a redução da oscilação de
temperatura, o que também reduz a demanda de pico de consumo de energia,
aspecto crucial a maior resiliência da rede elétrica.
Contudo, por mais que esses estudos comparativos permitam investigar
o desempenho entre soluções, ainda assim avaliam um número restrito de
alternativas e exploram o universo de soluções de maneira limitada. Esse tipo
de estudo não possui uma capacidade de refinar as soluções construtivas para
maximizar seu desempenho. Nesse sentido é importante avaliar o impacto que
252

os diversos parâmetros das EV no desempenho do ambiente. Afinal, há uma


grande diversidade tipos de EV.
Estudos paramétricos permitem realizar um ajuste fino de solução de
EV e permitem observar como a variação de um parâmetro impacta o resultado
de conforto ou eficiência energética. Dessa forma, é possível identificar qual
combinação dos parâmetros estudados permite melhor resultado de conforto
ou eficiência energética. Isso pode facilitar o desenvolvimento de diretrizes
mais especificas para códigos de obras locais ou políticas de eficiência
energética na esfera nacional.
Já análises de sensibilidade permitem avaliar o impacto da variação de
determinado parâmetro no resultado de conforto ou eficiência energética.
Diferentemente de estudos paramétricos propriamente ditos, análises de
sensibilidade não fornecem os resultados para cada combinação de
parâmetros, mas demonstram a influência de determinado parâmetro no
resultado. Isso pode auxiliar na definição de áreas prioritárias de pesquisa e
desenvolvimento, o que pode direcionar políticas de fomento.
Podemos constatar essas duas abordagens no estudo de Gomes et al.
(2019), que realiza um estudo paramétrico aliado à análise de sensibilidade
com o EnergyPlus com o intuito de avaliar o impacto de cobertura verde no
consumo de energia de um prédio institucional de baixo gabarito, em Portugal.
O estudo aponta que a altura da vegetação, profundidade do solo e leaf área
index (LAI) foram identificados como parâmetros-chave, assim como irrigação.
Especificamente a variação da irrigação afetou em 500% o consumo de energia,
enquanto a profundidade do solo afetou em 115%.
O estudo também evidenciou que determinados parâmetros afetam
diferentemente o consumo para aquecimento e resfriamento. A profundidade
do solo influencia mais o consumo para aquecimento – em 140% – enquanto o
LAI está mais relacionado ao consumo por resfriamento – com uma variação
de 365% (GOMES et al., 2019).
Dessa forma, demonstra-se a capacidade de EV na melhoria do conforto
térmico e eficiência energética das edificações em diversos contextos
climáticos. Contudo, seu emprego adequado depende essencialmente da
capacidade de avaliar diversos cenários, inclusive variações dos parâmetros, o
que as ferramentas de simulação do desempenho da edificação podem
auxiliar. Assim, essas ferramentas podem contribuir à definição de políticas
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 253

públicas, como legislação, desde o nível local como código de obras, até
questões normativas no nível nacional, além de orientar linhas de
financiamento e área prioritárias de pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para minimizar os impactos promovidos pelas mudanças climáticas,


assim como enfrentá-las, as cidades necessitam de uma reformulação para
tornarem-se cada vez mais resilientes. A dicotomia entre espaço antrópico em
contraposição ao espaço natural precisa ser superada e as cidades em
harmonia com a natureza precisa prevalecer. A esse fim, as soluções baseadas
na natureza podem contribuir em muito se integradas ao processo de
planejamento e construção das cidades de forma holística.
A vegetação não pode ser considerada apenas um bem estético e
ornamental no contexto urbano, mas como infraestrutura verde. Nesse
sentido, age com promotor de diversos serviços ambientais, como melhoria do
microclima, redução de emissões de gases do efeito estufa, aumento de
biodiversidade, gestão das águas pluviais, entre outros.
Em ambientes urbanos cada vez mais densos, as EV são uma alternativa
viável para implementação de vegetação urbana como infraestrutura verde. As
EV funcionam como ferramentas de controle ambiental tanto na escala do
microclima, como na escala do edifício. Na escala microclimática, EV pode
auxiliar na mitigação dos efeitos das ilhas de calor e regulação dos eventos
extremos de temperatura em diversos contextos climáticos. Enquanto na
escala da edificação, os diversos atributos que as EV apresentam são capazes
de servir como estratégias de conforto térmico tanto para o controle do calor
quanto do frio. Isso mais do que melhorar a condição de habitabilidade, possui
impacto direto no consumo de energia e, consequentemente, na redução de
emissões de gases do efeito estufa. Tanto na edificação, como no clima urbano,
a capacidade de melhoria do conforto está atrelada à proporção de vegetada
na envoltória com maior impacto de coberturas verdes em edificações de baixa
altura e de paredes verdes em edificações de maior gabarito.
Para a implementação de políticas públicas de planejamento de forma
mais técnica, embasadas cada vez mais em dados e evidências, são necessárias
ferramentas capazes de avaliar os impactos da adoção dessas políticas. Nesse
254

sentido, ferramentas de modelagem computacional colaboraram na tomada


de decisão visto que são capazes de auxiliar na identificação de cenários, assim
como verificar os impactos – especificamente no conforto térmico no escopo
deste capítulo –, além de possibilitar refinamento das soluções para sua
optimização dos resultados. Dessa forma, essas ferramentas possibilitam uma
avaliação em múltiplas escalas para uma melhor tomada de decisão.
Alguns usos das ferramentas já são uma realidade para certos centros
de pesquisa e para profissionais mais envolvidos com a simulação
computacional. Nesse sentido, apresentam-se algumas perspectivas para o
campo de atuação daqueles que desejam implementar, avaliar e monitorar EV
em seus projetos, nas mais variadas escalas.
A prática de e-planning com o uso de ferramentas de sensoriamento
remoto auxilia a tomada de decisão, assim como assistir na discussão pública
dos planos por meio da visualização do impacto das intervenções propostas no
espaço público. Especificamente, a abordagem multissensor que possibilita
uma caracterização mais completa do contexto urbano e assim identificar os
locais mais adequados ao emprego de EV.
Na escala do microclima urbano, ferramentas como o ENVI-met
permitem avaliar as condições de conforto térmico por meio de modelagem
computacional tridimensional. Esse tipo de prática pode auxiliar na avaliação
de estudos de impacto de vizinhança (EIV), ou mesmo em Estudos Prévios de
Viabilidade Técnica (EPVT), ambos instrumentos do Estatuto das Cidades,
assim como fundamentar tecnicamente a discussão e a revisão de planos
diretores.
Já na escala do edifício, ferramentas de modelagem computacional
como o EnergyPlus e suas interfaces gráficas possibilitam averiguar o impacto
no conforto térmico do espaço interno, assim como impacto no consumo de
energia e sua eficiência energética e, consequentemente, nas emissões de
gases do efeito estufa. Essas abordagens podem auxiliar no desenvolvimento
de diretrizes mais específicas para códigos de obras ou planos diretores no
nível local locais ou políticas de eficiência energética em escalas mais amplas,
como na esfera nacional.
Uma tendência nesse sentido são programas que permitem a avaliação
do parque construído e não somente uma edificação, como ocorre com as
ferramentas UMI – Urban Modeling Interface –, CitySIM e CEA – City Energy
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 255

Analyst. Essas ferramentas, além de permitirem investigar o desempenho


termoenergético do parque construído como um todo, também podem avaliar
o conforto térmico do ambiente urbano. Isso permite a avaliação de forma
mais holística, contudo, especificamente a respeito do impacto da vegetação
na escala urbana, sua capacidade de análise nesse contexto ainda é limitada,
pois não equaciona adequadamente questões relativas à umidade da
evapotranspiração das plantas.
A Figura 2 a seguir sintetiza as escalas de atuação de cada tipo de
ferramenta de modelagem computacional.

Figura 2. Ferramentas de modelagem computacional e suas escalas de atuação

Fonte: Autores (2020).

Outra questão relevante é quanto ao fluxo de trabalho,


interoperabilidade e troca de informação entre ferramentas. Apesar de
trabalhos, como Santos et al. (2019), utilizarem múltiplas ferramentas para
análise multiescala, a troca de informações entre as ferramentas ocorre de
forma analógica, o que dificulta a troca de informações e possibilita perda de
informação. Isso prejudica a qualidade de uma avaliação holística, assim como
consome mais tempo para sua execução.
Ferramentas de linguagem de programação visual para programas de
relacionados ao ambiente construído têm se popularizado recentemente,
como Grasshopper, Dynamo, Marionette e Houdini. Essas ferramentas criam
uma interface que permite maior integração de diversos programas, com uma
256

melhor comunicação de dados, visto que são interfaces de programação que


não exigem a escrita de linhas de código, uma programação mais amigável.
Dessa forma, essas interfaces criam ecossistemas com uma vasta
disponibilidade de ferramentas todas em um mesmo lugar e como acesso aos
mesmos bancos de informações.
Este contexto é especialmente relevante se o ambiente é de código
aberto (open-source), como é o caso do Grasshopper, pois permite o
desenvolvimento por diversos agentes, o que acelera seu desenvolvimento.
Atualmente, diversas ferramentas já são acessíveis no Grasshopper, desde o
EnergyPlus e sua interface gráfica OpenStudio, por meio do plugin Honneybee,
o ENVI-met, pelo plugin Guismo, o Qgis pelo plugin Heron, assim como a
importação de imagens de satélite por meio do Dragonfly. Esse ecossistema
favorece trocas e otimiza o tempo de trabalho.
Conclui-se que as ferramentas de modelagem computacional podem
auxiliar a avaliação da incorporação de EV nos centros urbanos, apoiando a
tomada de decisão de políticas públicas de planejamento em prol da melhoria
da qualidade ambiental das cidades. Essas ferramentas são valiosas para os
gestores, pois trazem evidências às decisões projetuais (evidence-based
design) sobretudo por possibilitarem melhor identificação e avaliação de
estratégias de controle ambiental. Por fim, garante-se que com o
conhecimento, divulgação, uso e evolução das plataformas, assim como com a
melhoria da interoperabilidade, as ferramentas ambientais possuem potencial
cada vez mais vasto.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é parcialmente financiado por fundos internacionais por


meio da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do
projeto UIDB/04647/2020 do CICS.NOVA – Centro Interdisciplinar de Ciências
Sociais da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.
O terceiro autor é financiado por fundos internacionais por meio da
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da Norma
Transitória - DL 57/2016/CP1453/CT0004.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 257

O segundo autor agradece à Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito


Federal (FAP-DF), pela Bolsa de Pós-Doutorado que subsidia parte desta
pesquisa.

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 261

Capítulo 12

ANÁLISE DO PROCESSO DE EUTROFIZAÇÃO EM CORPOS HÍDRICOS DA


REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO47

Heraldo Donatelli Filho48


Andreza Portella Ribeiro49
Anderson de Oliveira50
Leonardo Ferreira da Silva51
Harry Alberto Bollmann52

INTRODUÇÃO

A água é um bem precioso à vida, primordial à biodiversidade e,


também, um recurso natural, essencial para o desenvolvimento econômico.
Esse bem segue em constante ameaça, conforme enfatizam as Nações Unidas
ao indicar que a disponibilidade de água vem sendo prejudicada globalmente
como resultado das pressões antrópicas e das demandas de atividades
agrícolas, comerciais e de saneamento (ONU, 2014).
A utilização da água, de forma sustentável, caracteriza-se como grande
desafio para todo mundo e vale destacar que não basta a oferta de água em
quantidade, é preciso que tenha qualidade.
O uso eficiente da água deve considerar mecanismos que propiciem
atender o consumo da população e outras formas de manejo, com enfoque em
reaproveitamento, para fins, por exemplo, de saneamento básico. Em cada
situação deve-se verificar a que fim se destina, para que a água passe por
rigorosa avaliação de qualidade, condizente a sua utilização (LAMPARELLI et
al., 2004).

47 Este capítulo é parte da dissertação de mestrado de Heraldo Donatelli Filho.


48 Mestre, PPGCIS-UNINOVE. E-mail: hdfjuli@gmail.com
49 Doutora, PPGCIS-UNINOVE. E-mail: aportellar@gmail.com.br
50
Mestrando, PPGCIS-UNINOVE. E-mail: anderson.oliveira.o@uni9.edu.br
51 Mestre, PPGCIS-UNINOVE. E-mail: leonardo.silva57@uni9.edu.br
52 Doutor, PUC-PR. E-mail: harry.bollmann@pucpr.br
262

À medida que as cidades vão se desenvolvendo é natural o aumento da


captação de recursos hídricos e, consequentemente, o aumento do uso
doméstico, industrial ou outras formas de consumo pela população. Portanto,
para se evitar desperdícios, o armazenamento de água deve ocorrer,
essencialmente, em locais estratégicos, para facilitar o recebimento de água e
a sua distribuição (MARSALEK et al., 2006).
A qualidade da água é verificada por meio de diferentes parâmetros
(químicos, físicos e biológicos) e muitas vezes as condições da água não
atendem à legislação para consumo, tornando-a prejudicial à saúde (BRASIL,
2006).
O gerenciamento da água nos países em desenvolvimento, como o
Brasil, é mais desafiador devido à falta de infraestrutura eficiente, somada à
desigualdade social, à precarização de moradias em ambientes insalubres e à
falta de investimento em saneamento básico, sendo esse, normalmente,
agente de grande desperdício de água doce (CAPPS; BENTSEN; RAMÍREZ,
2016).
Esse é o caso de São Paulo, “a maior megalópole da América do Sul, que
em sua Região Metropolitana (RMSP) abrange 19,1 milhões de habitantes e
engloba o mais importante polo financeiro, industrial e comercial do Brasil”
(IBGE, 2019). Tal característica, por um lado lhe confere status de alavanca do
desenvolvimento, por outro, se traduz em grandes desafios, como o de
“melhorar os padrões de prestação de serviços, em um contexto de severas
limitações físicas” (BRASIL, 2006).
Não apenas a RMSP, mas todo o Estado passa por situações críticas
intermitentes, no que se trata da conservação da água, assegurando-lhe a
manutenção da qualidade, para o abastecimento. As áreas de mananciais da
RMSP, em estudo realizado por Whately e Cunha (2006), foram as “agentes da
produção da água para abastecimento público e manutenção das atividades
econômicas, ocupando 52% de sua área total”. Esse percentual inclui total ou
moderadamente 25 municípios, que têm enfrentado “intensos processos de
eutrofização, assoreamento e toxicidade” (WHATELY; CUNHA, 2006).
A situação da qualidade das águas na RMSP tem se agravado, por
consequência do número crescente de assentamentos urbanos informais, em
áreas de mananciais. Esse aumento foi acompanhado pelo efeito negativo nos
indicadores de qualidade, principalmente, pelo descarte de efluentes
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 263

domésticos, sem tratamento, diretamente nos corpos d’água, somando-se,


ainda, aos rejeitos industriais lançados clandestinamente (CORCORAN et al.,
2010).
O principal órgão ambiental do país, a Companhia Ambiental do Estado
de São Paulo (CETESB), indicou que entre os anos de 2014 e 2016 a RMSP
encontrava-se à beira de um colapso urbano e ambiental, devido aos efeitos
locais causados pelas variações climáticas, ausência de chuvas e enorme
redução na disponibilidade de água para abastecimento. À época, sucedeu-se
a maior seca ocorrida em 84 anos (CETESB, 2016).
A situação atual ainda não é reconfortante, pois os parâmetros
considerados para classificar o estado de qualidade das águas em São Paulo
são prejudicados pelos episódios recorrentes de disponibilidade. Situação
particularmente evidenciada “nas represas que compõem o Sistema Cantareira
– responsável por 45% do fornecimento de água, para cerca de 9 milhões de
habitantes da RMSP” (ALVIM; KATO; ROSIN, 2015). Assim, usualmente, os
órgãos ambientais apontam o clima domo como fator preponderante à
observância de valores de indicadores aquém do esperado para a qualidade da
água dos mananciais (ALVIM; KATO; ROSIN, 2015).
Dentre os métodos para monitorar as condições de corpos hídricos está
o grau de trofia. O estado trófico é um parâmetro de avaliação da qualidade da
água, no qual a biomassa existente nela é mensurada, com base nos teores de
fósforo, clorofila-𝑎 e turbidez (LAMPARELLI, 2004). Por isso, o grau de trofia
deve ser monitorado constantemente em águas de mananciais que sejam
utilizadas para abastecimento público, recreação, para funcionamento de
hidrelétricas, entre outros usos (BUZELLI; CUNHA-SANTINO, 2013).
A eutrofização é um fenômeno que pode ocorrer de forma natural ou
artificial. Na forma natural, ocorre por processo lento de envelhecimento, por
meio de chuvas que carreiam o solo e matéria orgânica aos recursos hídricos.
O processo artificial (ou antrópico) é consequência de ações humanas,
associadas ao desenvolvimento urbano e a aspectos econômicos e sociais,
pressões decorrentes do lançamento de resíduos gerados por atividades
agrícolas, industriais, que não passa por qualquer tratamento adequado, para
neutralizar componentes químicos, resíduos e esgotos domésticos (VAN-
GINGEL, 2011; TROMBONI; DODDS, 2017).
264

O enriquecimento de alguns nutrientes como fósforo e nitrogênio


propicia a proliferação de cianobactérias. O aumento da floração de algas
impede a penetração da luz solar, tornando o ambiente anóxico, com perda de
biodiversidade, modificando o estado trófico do corpo hídrico rapidamente
(ESTEVES, 1998, p. 8-10; FERREIRA et al., 2011; TROMBONI; DODDS, 2017).
Neste estudo apresenta-se uma análise dos Índices de Estado Trófico
(IET) informada pela Companhia Ambiental de São Paulo (CETESB), dos anos de
2001, 2011 e 2016. Os dados levantados se referem ao IET publicados em
relatórios da CETESB para os corpos hídricos pertencentes à Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos 6 [UGRH-6] - Bacia do Alto Tietê, que
compreende a RMSP.
Essa análise busca auxiliar o entendimento sobre a realidade da
qualidade das águas de abastecimento e contribuir com informações que
podem orientar as tomadas de decisão, necessárias ao planejamento e gestão
das áreas protegidas, considerando-se tanto a preservação ambiental como as
dinâmicas sociais e urbanas nas áreas estudadas, dado que os planos e projetos
públicos de gestão de recursos naturais, em geral, desenvolvem-se de forma
oposta, desarticulada e instável, diante de acordos políticos de curto e médio
prazo (FISTAROL, 2015).

INDICADORES DE EUTROFIZAÇÃO

O funcionamento dos ecossistemas aquáticos segue uma dinâmica


equilibrada, que se desequilibra com o processo de eutrofização,
desencadeado pela alteração na quantidade, proporções ou formas químicas
de nitrogênio e fósforo, que entram em sistemas aquáticos. A natureza e
intensidade das respostas dependem de fatores ambientais, como: tempo,
temperatura e luminosidade, que estimulam a eutrofização (KITSIOU; KARYDIS,
2011; VIEIRA et al., 2018).
As respostas criadas por um desequilíbrio são detectáveis em nível
fisiológico e/ou bioquímico de um indivíduo e, após essa fase, verifica-se o nível
comportamental ou morfológico e, por fim, os níveis de populações e
comunidades (VIEIRA et al., 2018). São importantes indicadores da
eutrofização a floração de comunidades aquáticas (às vezes tóxicas), a perda
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 265

de biodiversidade e anóxia, que geralmente levam à morte maciça de


organismos vivos.
A floração das cianobactérias, comumente encontradas em áreas de
tratamento de água, acontece de forma frequente, sazonal e alguns dos seus
gêneros podem produzir mais de uma variedade de cianotoxinas, que refletem
em alterações de paladar e odor (FISTAROL et al., 2015; LEAL et al., 2016). A
ingestão de água contendo altas concentrações de toxina cianobacteriana, seja
na dessedentação ou em recreação, representa risco para a saúde humana e
animal (ADAMS; STOLER; ADAMS, 2019).
Microalgas verdes, que compõem a biomassa fitoplanctônica, quando
presentes em grande quantidade, funcionam como indicadoras de estado
trófico, especificamente pela presença da clorofila-𝑎. A produção primária é
fortemente influenciada pela presença do fósforo, a exemplo do
enriquecimento de fósforo, por fontes externas de nutrientes, que podem
favorecer em até 50% a produção primária em reservatórios (KITSIOU;
KARYDIS, 2011).
Com base na presença de fósforo e clorofila-𝑎 podem-se avaliar os
níveis de poluição aquática, causado pela eutrofização e medidas preventivas
e corretivas podem ser adotadas, para a recuperação de áreas degradadas
(CARLSON, 1977; ESTEVES, 1998; SPERLING, 2005).

Índice de estado trófico CETESB

O Índice de Estado Trófico (IET) avalia a qualidade da água, a partir do


nível de enriquecimento de nutrientes em diferentes graus (LAMPARELLI,
2004).
A Cetesb calculava o IET, com base no estudo de Carlson (1977) e em
2004 passou a utilizar o modelo proposto por Lamparelli (2004). O índice leva
em consideração as características de águas de mananciais de regiões
subtropicais e adota como parâmetros de estado trófico, a concentração de
colorifila-𝑎 (CL) e fósforo total (PT).
O IET proposto por Lamparelli (2004), em que o índice é composto por
seis níveis de estado trófico (Figura 1), passou a ser utilizado, pela Cetesb, no
ano 2005. As Equações 1 a 4 são utilizadas para cálculo de IET em ambientes
lóticos e lênticos (LAMPARELLI, 2004).
266

Figura 1. Classificação dos estados tróficos


Classe Ponderação Características
Baixa concentração de nutrientes; não prejudicial
Ultraoligotrófico IET ≤ 47
ao meio ambiente.
Corpo d’água com baixa produção de nutrientes;
Oligotrófico 47 < IET ≤ 52 não prejudicial.
Produção de nutrientes em nível intermediário;
Mesotrófico 52 < IET ≤ 59 possibilidade de interferência.
Alta produção de nutrientes, baixa transparência,
Eutrófico 59 < IET ≤ 63 ambiente afetado por ações antrópicas; seu uso
pode ser comprometido.
Alta produção de nutrientes, baixa transparência,
Supertrófico 63 < IET ≤ 67 frequentes alterações por ações antrópicas;
floração de macrófitas.
Corpo d’água com elevadas concentrações de
materiais orgânicos, baixa oxigenação na água;
Hipertrófico > 67 mortes de espécies aquáticas, atividades pecuárias
prejudicadas.
Fonte: Adaptado de Lamparelli (2004); CETESB (2019), 2020.

Conforme apresentado por Lamparelli (2004), as Equações que


passaram a ser utilizadas pela Cetesb, para lóticos e lênticos foram:

Lóticos (Rios):

IET (CL) = 10*(6-((-0,7-0,6* (ln CL))/ln 2))-20 (Equação 1)


IET (PT) = 10*(6-((0,42-0,36* (ln PT))/ln 2))-20 (Equação 2)

Lênticos (Reservatórios):

IET (CL) = 10*(6-((0,92-0,34*(ln CL))/ln 2)) (Equação 3)


IET (PT) = 10*(6-(1,77-0,42*(ln PT)/ln 2)) (Equação 4)

Onde:

PT: concentração de fósforo total, medido na superfície da água em µg.L -1;


CL: concentração de clorofila-𝑎 medida à superfície da água, em g.L-1;
ln: logaritmo natural.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 267

Lamparelli (2004) demonstrou os valores mensais calculados com uma


média aritmética simples, com arredondamento na primeira casa, para os
índices referentes à clorofila-𝑎 (CL) e fósforo total (PT), utiliza-se a Equação 5:

IET = [IET (PT) + IET (CL)] / 2 (Equação 5)

O valor de IET (Equação 5), adotado pela Cetesb (2019), corresponde à


média simples dos valores de clorofila e fósforo total.

METODOLOGIA

O estudo adotou métodos mistos, com abordagem quantitativa e


qualitativa (CRESWELL, 2007). Foi realizado um procedimento sequencial, por
meio da coleta de valores dos IET, referente aos anos: 2001, 2011 e 2016,
fornecidos pelos relatórios da Cetesb.
Os IET e os períodos seco/chuvoso (determinados pela sazonalidade
mensal) foram ordenados e inseridos em tabelas de atributos. Os mapas finais,
apresentados nesse estudo, buscam evidenciar as modificações referentes ao
IET, ao longo de 15 anos, em decorrência de processos de urbanização, vocação
econômica, fatores associados à gestão dos mananciais, ou, ainda, devido a
fatores climáticos.
Para a elaboração dos mapas, utilizou-se o sítio digital da Agência
Nacional de Águas (ANA) e os seus arquivos referentes à UGRHI-6, Alto Tietê,
em formato “shape file”. Para o estudo de evolução atemporal, do
adensamento populacional, nas áreas que abrangem os mananciais da RMSP,
foram utilizadas imagens de satélite Landsat 5 e Landsat 8. As classificações e
tratamentos de imagens foram realizados por meio do software livre QGIS
3.4.4 e os mapas finais, também foram gerados por meio desse software.
Nas imagens foram inseridos os graus de trofia dos pontos de coleta da
Cetesb, com respectivas legendas. Para a classificação dos corpos hídricos,
vegetação e adensamento populacional, o tratamento das imagens foi feito por
meio de arquivos de formato raster.
O fluxograma, apresentado na Figura 2, indica o processo metodológico
para a elaboração dos mapas.
268

Figura 2. Fluxograma Mapas - QGIS® 3.4

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Além dos mapas, na correlação entre as variáveis repetidas (parâmetros


que influenciam o grau de trofia), em diferentes pontos de coleta, que
compreendem o ambiente lêntico e lótico, em períodos distintos, ao longo dos
15 anos, optou-se pela realização da Análise de Variância (ANOVA), que
permite comparar médias para diferentes variáveis simultaneamente. O
método também requer a observância de premissas, como o pressuposto de
distribuição normal do conjunto de dados e verificação da igualdade de
matrizes de variância e covariância (CALADO; MONTGOMERY, 2003; DUNN;
CLARK, 1974).
A Anova foi acompanhada do Teste de Tukey, para verificar a influência
do local, ano e período de coleta (seco e chuvoso), nas concentrações médias
anuais de PT e clorofila-𝑎 no IET.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 269

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se que, no período estudado, houve aumento no crescimento


das algas dos sistemas aquáticos, portanto, a presença da clorofila-𝑎 refletiu a
resposta do corpo hídrico ao agente causador da eutrofização.
Apesar de o IET se traduzir em resposta satisfatória à causa e ao efeito
da degradação da qualidade da água, possui limitações, visto que, pela falta de
padronização nos protocolos utilizados à obtenção desses indicadores, bem
como o número limitado de pontos de amostragem, alguns resultados podem
não representar fielmente a realidade do local.

Mapas com a classificação dos IET

Os rios que pertencem à UGRHI-6 são enquadrados em hipereutróficos,


se enquadram na classe 4 (CONAMA – 357/2005) e suas águas não são
destinadas ao abastecimento público. Entretanto, é importante indicar a
influência das áreas de drenagem das sub-bacias, que podem estar dentro de
Área de Proteção de Mananciais (APM).
No ano de 2001, a população média da UGRHI-6 foi estimada em
17.696.946 (IBGE, 2000) e, no mesmo período, a pluviosidade média anual da
RMSP foi de 1.525 mm, tendo como média anual 151 dias chuvosos. Em relação
aos IET utilizados, notou-se que na bacia do rio Tietê Alto – Cabeceiras, os níveis
PT mantiveram-se acima do padrão de qualidade dos corpos hídricos dessa
região (≥ 0,137 mg L-1). Os teores de PT contribuíram para o processo de
eutrofização do reservatório do rio Jundiaí, conforme apresentado nas Figuras
3A e 3B, referentes aos períodos seco e chuvoso, respectivamente. Os níveis
de clorofila-𝑎 não foram quantificados nessa bacia, durante esse período
(BUSTAMANTE, 2015), portanto, para o cálculo de IET, foram utilizadas as
Equações 2 e 4 (seção 2.1).
270

Figura 3A. Distribuição espacial dos valores de IET, obtidos a partir dos relatórios Cetesb, para
UGRHI-6 Alto Tietê 2001 – período chuvoso

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Figura 3B. Distribuição espacial dos valores de IET, obtidos a partir dos relatórios Cetesb, para
UGRHI-6 Alto Tietê 2001 – período seco

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 271

A bacia do Reservatório Billings apresentou baixa qualidade da água, em


decorrência do crescente desmatamento, aumento acelerado das ocupações
urbanas informais e loteamentos irregulares e clandestinos. Os pontos
monitorados nessa bacia apresentaram níveis de PT que remetem a IET,
enquadrados em altos graus de trofias (≥ 63: supereutrófico a hipereutrófico).
Nesse caso, foram realizadas as medidas de clorofila-𝑎 (≥ 0,003 mg L-1) e
observado alto crescimento de algas nas águas dos reservatórios. Os resíduos
dos bombeamentos do rio Pinheiros (encerrado em 1992), juntamente com a
contribuição difusa, proveniente das ocupações irregulares no entorno do
reservatório (Billings – Imigrantes), ocasionaram os processos de eutrofização
que se espalharam por boa parte da região, conforme IET indicados na Figura
3 (A e B).
Os rios Embu-Mirim, Embu-Guaçu e Parelheiros são os principais
formadores do Reservatório do Guarapiranga. Pode-se verificar que o IET dos
pontos monitorados (Embu-Mirim e Embu-Guaçu) foi classificado em processo
de eutrofização (≥ 59), sugerindo condições sanitárias precárias, em razão de
suas águas serem receptoras de esgoto in natura de São Paulo e Itapecerica da
Serra. As intensas ocupações irregulares no entorno do reservatório,
juntamente com as regulares, têm contribuído para aumento das
concentrações de PT e clorofila-𝑎. A eutrofização é pronunciada no local por
meio da intensa presença de algas no ambiente aquático (LEAL et al., 2016).
O mesmo padrão de IET foi verificado na Bacia do Rio Cotia, onde os
pontos de monitoramento e os índices calculados não incluíram teores de
clorofila- 𝑎. Estudos realizados com os mesmos dados indicaram piora na
qualidade da água, devido aos lançamentos domésticos e industriais na região
alta da bacia do rio Cotia (BRASIL, 2006; LAMPARELLI, 2004).
A bacia do rio Tietê Alto – zona metropolitana, possui o trecho do rio
Tietê que abrange toda a RMSP, área do maior complexo urbano-industrial.
Seus principais afluentes são os rios: Juqueri, Tamanduateí e Pinheiros, com as
condições de qualidade nas classes 3 e 4 (CONAMA – 357/2005), que denotam
péssima qualidade da água, segundo os critérios de classificação.
Os ambientes com qualidade classificada nas classes 3 e 4, segundo o
Conama 357/2005, são receptores de efluentes domésticos e industriais, de
maneira legal e clandestina. Nos mapas IET, os ambientes com essas
características terão seu valor igual a "0" e estarão fora das condições de
272

análise de IET. Em 2001, verificou-se índice pluviométrico inferior ao período


anterior, o que favoreceu os processos de eutrofização.
No ano de 2011, a população média da UGRHI-6 foi estimada em
19.658.648 habitantes (IBGE, 2011) e o IET indicou altos graus de trofia nos
pontos monitorados dos principais reservatórios da RMSP.
Na Figura 4A pode-se verificar a evolução de eutrófico para
supereutrófico, nos pontos do Reservatório Billings (Imigrantes) e
Guarapiranga, enquanto a bacia do rio Cotia voltou ao estado eutrófico. A
diminuição da concentração de oxigênio dissolvido foi em virtude da presença
de esgoto in natura nas águas da Guarapiranga (LEAL et al., 2016).
No período seco, observou-se a evolução do ponto do Reservatório
Billings-Imigrantes de supereutrófico para hipereutrófico (Figura 4B), fato que
pode estar associado à queda na intensidade de chuvas em 2011. Novamente,
fatores climáticos contribuíram para o aumento no grau de trofia dos corpos
d’água (CETESB, 2014).

Figura 4A. Distribuição espacial dos valores de IET, obtidos a partir dos relatórios Cetesb,
para UGRHI-6 Alto Tietê 2011 – período chuvoso

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 273

Figura 4B. Distribuição espacial dos valores de IET, obtidos a partir dos relatórios Cetesb,
para UGRHI-6 Alto Tietê 2011 – período seco

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

No ano 2016, a população média dessa UGRHI foi estimada em


21.063.097 habitantes (IBGE, 2016). Nas Figuras 5 (A e B) foram apresentados
os IET para 2016, na qual se observou que os pontos monitorados do
Reservatório do rio Jundiaí permaneceram classificados como eutrofizados.
Na bacia do Reservatório Billings o baixo índice pluviométrico, devido à
estiagem (2014/2015), favoreceu a concentração de PT e, consequentemente,
o enriquecimento das comunidades de cianobactérias (CAPPS, 2016) e a área
monitorada foi classificada como hipereutrófica.
O IET no reservatório do Guarapiranga permaneceu dentro da
classificação de supereutrófico, enquanto a bacia do rio Cotia, no período de
estiagem, voltou ao estado eutrófico. Não foram observadas variações
significativas de IET, que possam variar a classificação dos pontos monitorados,
entre os períodos chuvoso (Figura 5A) e seco (Figura 5B), em 2016.
274

Figura 5A. Distribuição espacial dos valores de IET, obtidos a partir dos relatórios Cetesb,
para UGRHI-6 Alto Tietê 2016 – período chuvoso

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Figura 5B. Distribuição espacial dos valores de IET, obtidos a partir dos relatórios Cetesb,
para UGRHI-6 Alto Tietê 2016 – período seco

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 275

Considerando-se que os mapas gerados não apresentaram variações


significativas para os IET calculados nos períodos seco e chuvoso, realizou-se a
avaliação estatística dos dados por meio da Anova.
A Anova confirmou que os valores de IET indicados pela Cetesb não
variaram significativamente entre os períodos seco e chuvoso (p = 0,078), mas
foram diferentes entre os locais estudados (p = 0,0000001), na UGRHI-6.

Alternativas para a preservação das águas e dos mananciais

Diante da situação dos mananciais e reservatórios, mostrada nos mapas


com as classes de IET, percebeu-se que o aumento gradual e intenso das
ocupações urbanas informais, associado aos despejos industriais, tem
acarretado a deterioração intensa de áreas que deveriam ser protegidas pela
legislação, mas, sem fiscalização ou com fiscalização precária, não surtem o
efeito desejado.
O estudo indicou que a maior influência no aumento da eutrofização em
mananciais e reservatórios da RMSP foi ocasionada, principalmente, pelas
atividades antrópicas e industriais e pelo acúmulo do fósforo, proveniente de
despejo de efluentes domésticos, sem tratamento.
Uma das alternativas viáveis para redução do fósforo é a implantação
de medidas mais técnicas e efetivas, com foco na redução de problemas
relacionados à qualidade das águas, como “a proibição do uso de detergentes
a base de polifosfatos ou a redução do teor de fósforos nesses produtos de
limpeza” (QUEVEDO; PAGANINI, 2016).
Tal estratégia mostrou-se viável em outros países, a exemplo do Japão,
que “baniu o uso de detergentes polifosfatados e conseguiu diminuir,
consideravelmente, a trofia do lago Biwa” (JORGENSEN, 2011). O Canadá
implementou tecnologias específicas para aumentar a capacidade de
“remoção do fósforo, no tratamento de esgotos domésticos, com eficiência
superior a 99%, obtendo-se resultados promissores em relação à redução da
carga orgânica de seus corpos hídricos” (JORGENSEN, 2011).
Bicudo, Tundisi e Scheuenstuhl (2010) identificaram que “a manutenção
das áreas alagadas na entrada dos tributários, para possibilitar absorção de P e
N, também é uma medida de baixo custo e com bons resultados”. Esse método
foi implantado na área do Sistema Guarapiranga, correspondente à região de
276

Parelheiros, onde ocorre a reversão das águas da Billings à Guarapiranga,


contudo, como se pode observar nos mapas, essa prática é insignificante,
diante do tamanho do problema que é a eutrofização antrópica, sendo cabível
aumentar a demanda, para obter resultados mais concretos (BICUDO; TUNDISI;
SCHEUENSTUHL, 2010).
Experiências internacionais mostraram a possibilidade de implantação
de ações para melhoria dos sistemas de coleta e tratamento de esgotos nas
grandes cidades, permitindo a recuperação do corpo d’água degradado (ISA,
2017), tais como nos exemplos:
•Rio Pó, Itália – Em apenas três anos, Milão passou a tratar 100% do esgoto
que era descartado no rio Pó, até o ano de 2002. A cidade de Milão foi
condenada a pagar multa diária por poluir o rio Pó, fato que gerou pressão para
que fosse instalado um sistema rápido e eficaz. Adotaram um sistema misto de
coleta de esgotos, por meio de lodos ativados e remoção de nutrientes (fósforo
e nitrogênio) e de desinfecção (ISA, 2017).
•Rio Han, Coreia do Sul – Observou-se o sucesso em iniciativas de despoluição
de rios, como o rio Han, que atravessa a cidade de Seul e suas áreas
urbanizadas, com ruas movimentadas, pontes e prédios, semelhantes às do rio
Tietê, em São Paulo. Até a década de 1980, o rio Han funcionava como receptor
de esgoto industrial e, pela atuação do governo, iniciou-se a despoluição, com
medidas rigorosas de fiscalização, quanto ao descarte de efluentes pelas
indústrias, construções de estações de tratamento, substituição de grandes
avenidas por parques à beira do rio e mutirões de limpeza, realizados pelo
exército, o que resultou em um rio mais “limpo”, desde 2003. Para manter os
bons resultados, são realizados tratamentos e monitoramentos das águas dos
40 córregos que deságuam no rio e foram proibidas instalações de fábricas ao
seu redor (CYAN, 2012).
•Lago Paranoá, Brasil – É um reservatório que foi criado em 1959, em Brasília,
e foi submetido a um longo período de eutrofização pelo lançamento de
esgotos. Somente na década de 1990 foram instaladas Estações de Tratamento
de Esgoto (ETE), que possibilitaram a remoção, com grande eficiência, da carga
de fósforo e nitrogênio dos esgotos que eram lançados no reservatório
(ANGELINI; BINI; STARLING, 2008). Embora a maioria dos casos de recuperação
de corpos hídricos eutrofizados seja de países temperados, o exemplo do lago
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 277

Paranoá mostrou que pode ser realidade no Brasil, se houver


comprometimento do poder público (ISA, 2017).
•Porto de Sydney – Nova Escócia, Canadá, foi um dos locais mais contaminados
do Canadá. Em 2004, os governos do Canadá e da Nova Escócia
comprometeram-se a reparar a área, que teve início em 2009. O programa de
reparação foi seguido por monitoramento para verificar a eficácia da ação. O
monitoramento mostrou que, principalmente, o programa de reparação
reduziu a concentração de contaminantes (FISTAROL et al., 2015).
•África do Sul – Durante as quatro últimas décadas, a eutrofização consolidou-
se como uma ameaça crescente aos usos dos corpos de água doce. Embora
exista legislação moderando o despejo de fósforo, em ambientes de
tratamento da água, a eutrofização é generalizada. As consequências são a
proliferação de cianobactérias, trazendo a ameaça de contaminação por
cianotoxinas e o crescimento exagerado de macrófitas, entupimento das
estruturas de abastecimento de água, reduzindo os usos recreativos e
aumentando mortandade de animais selvagens, assim, a água doce torna-se o
recurso natural mais limitante. Algumas opções de gerenciamento da
eutrofização consistem em reduzir o teor de fósforo nos detergentes, a
biomanipulação da cadeia alimentar, levantamento dos ciclos de crescimento
de cianobactérias e distúrbios mecânicos do epilímnio (VAN-GINGEL, 2011;
BUZELLI; CUNHA-SANTINO, 2013).
Outros métodos de controle à eutrofização foram sugeridos e testados
internacionalmente, conforme estudo realizado por Fistarol et al. (2015):
a) minimização de nutrientes (P e N);
b) inativação de nutrientes;
c) aumento de fluxo ou lavagem;
d) aeração hipolimnética;
e) remoção seletiva de água hipolimnética;
f) distúrbio epilímnio laminar;
g) redução do nível de água;
h) cobertura do sedimento do fundo;
i) dragagem;
j) colheita;
k) biomanipulação;
l) controle químico.
278

A recuperação de corpos hídricos, ao redor do mundo, pode ser


adaptada à realidade da UGRHI-6 e cabe ao poder público atuar de forma
ostensiva, para o restabelecimento da qualidade da água. Por outro lado, o
combate à eutrofização deve ser um trabalho conjunto que envolva a
população e adotem-se medidas de conscientização efetivas e implantem-se
programas adequados de gerenciamento. A “educação deve estar presente,
como uma medida de política pública substancial aos programas de
preservação e recuperação dos mananciais” (FISTAROL et al., 2015), além da
cooperação da população no enfrentamento da eutrofização, onde é
primordial o conhecimento abrangente da situação problema.

CONCLUSÕES

Dentre as grandes questões ambientais atuais, uma das que assume


relevância no interesse comum, refere-se à garantia de água potável para os
próximos anos, que está diretamente relacionada à manutenção e à
sobrevivência da vida no planeta. Nas últimas décadas, o consumo da água
aumentou consideravelmente e parte disso deve-se ao crescimento da
população mundial, ao aumento do desperdício, à contaminação hídrica e seu
uso incontido na agricultura.
Em relação ao crescimento populacional, destacou-se o problema das
ocupações urbanas informais, que inevitavelmente conduz à degradação
ambiental dos mananciais. Nesse sentido, verificou-se a existência de diversas
leis, normas, decretos e presença de órgãos relacionados à proteção,
recuperação dos mananciais e de suas águas. Contudo, a atuação lenta ou
inexistente dos órgãos competentes ao aplicarem as devidas sanções, permite
que as ocupações urbanas informais se estabeleçam sem qualquer dificuldade,
comprometendo a preservação na região dos mananciais.
A falta de integração dos órgãos responsáveis em preservar os
mananciais, além de gerar diversos conflitos, causa sua degradação. Por outro
lado, a falta de informação adequada para a população, referente à
necessidade de preservação da qualidade da água e a fragilidade da
fiscalização, formam um conjunto de fatores favoráveis para que o processo de
ocupação e de deterioração ambiental continuem.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 279

A questão complexa de preservação dos mananciais parte do princípio


no qual o comportamento de um grupo afetará todo o conjunto, havendo a
necessidade de serem realizadas intervenções múltiplas, em que a falta de
observância de uma delas poderá inviabilizar a recuperação do sistema. Dessa
forma, sugere-se a elaboração de um modelo de planejamento mais flexível e
sensível às modificações aleatórias e específicas a cada local, viabilizando ações
e respostas rápidas.
No período relacionado a essa pesquisa, referente aos anos: 2001, 2011
e 2016, as ações de controle das fontes poluidoras pontuais, associadas à
oscilação da intensidade das chuvas demonstraram que, na UGRHI-6, os
esgotos domésticos tornaram-se fatores significativos na contribuição da
degradação dos corpos hídricos. Vale destacar que a população
correspondente a essa bacia cresceu aproximadamente 30% ao longo do
período abordado.
Na UGRHI-6 merecem destaque os dados obtidos para os reservatórios
Billings e Guarapiranga, indicados nos mapas. Apesar de serem utilizados para
o abastecimento público, nesses locais pode-se observar o crescimento da
mancha de urbanização, fator que pode ser considerado como colaborador
para o aumento de valores de IET, que atingiram as classes super e
hipereutróficas.
A situação ideal para os dois reservatórios era que, justamente por
atenderem à demanda da população, pudessem refletir os objetivos
preconizados nas legislações que versam sobre a qualidade da água de
mananciais.
Os resultados ainda sugerem a deficiência na abrangência das redes de
coleta e tratamentos dos efluentes domésticos. Sugere-se avaliar a
possibilidade da ampliação dessas redes, viabilizar o aumento na remoção de
nutrientes, principalmente, nas reversões destinadas aos reservatórios
utilizados para o abastecimento público.
280

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282
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 283

Capítulo 13

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE ZONAS COSTERAS EN CUBA:


CASO DE ESTUDIO SECTOR COSTERO QUIBÚ-ALMENDARES,
MUNICIPIO PLAYA, LA HABANA, CUBA

Elizabeth Dayana Curra Sánchez53


Eduardo Salinas Chávez54
Alberto Enrique García Rivero55
Ana Maria Suarez56

INTRODUCCIÓN

En el informe especial del Grupo Intergubernamental de Expertos sobre


el Cambio Climático sobre el Océano y la Criosfera en un Clima Cambiante
(IPCC, 2019), se señala que un porciento considerable de los 680 millones de
personas que habitan en las zonas costeras y dependen directamente de estos
sistemas, están en peligro.
Durante el siglo XX, la elevación del nivel del mar a escala mundial
alcanzó unos 15 cm, pero el ritmo actual es superior y no deja de acelerarse,
según se evidencia en dicho informe. Pudiendo alcanzar para el año 2100 una
elevación de entre 30 y 60 cm, a pesar de que se alcance la reducción drástica
de las emisiones de gases de efecto invernadero y el calentamiento global se
mantenga muy por debajo de los 2 °C (conocido como punto de no retorno).
Sin embargo, si las emisiones de gases de efecto invernadero, siguen
aumentando, la elevación del nivel de las aguas marinas podría ser del orden
de 60 a 110 cm para finales de este siglo (IPCC, 2019).

53
Maestra en Manejo Integrado de Zonas Costeras, doctoranda en la Universidad de Concepción,
Chile. E-mail: elizabethdayanacurrasanchez@gmail.com
54
Doctor en Geografia, responsável pela coordenação da pesquisa. Profesor visitante extranjero
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Brasil. E-mail: esalinasc@yahoo.com
55Doctor en Geofísica, catedrático de la Escuela Profesional de Geografía, Facultad de Ciencias

Sociales, Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima, Perú. E-mail:


albertoenrique.garcia@unmsm.edu.pe
56 Doctora en Biología, Centro de Investigaciones Marinas, Universidad de La Habana, Cuba.

E-mail: amisa@cim.uh.cu
284

Cerca de un 50% de estos 680 millones de personas viven en ciudades


costeras de diferente tamaño, donde sus habitantes y bienes materiales
asociados se encuentran amenazados por la inundación y la erosión costera.
La zona costera por sus características y atributos presenta una gran
vulnerabilidad a los cambios, tanto naturales como antrópicos, que pueden no
corresponderse con su estructura, funcionamiento y evolución. Esta alberga
algunos de los ecosistemas terrestres y marinos más sensibles del planeta
como: los manglares, ciénagas, playas, pastos marinos y arrecifes de coral.
Estos constituyen la defensa natural contra los huracanes, ascenso del nivel del
mar, el Cambio Climático y otros fenómenos, además de producir
innumerables bienes y servicios ambientales a la sociedad, de los que
dependen las comunidades que allí habitan y la economía de muchos países.
Muchos investigadores consideran al diagnóstico ambiental y las
evaluaciones de impacto ambiental como herramientas importantes para
implementar medidas de gestión adecuadas, desarrollar la planificación y llevar
a cabo el manejo integrado de la zona costera. Este diagnóstico ambiental
como es concebido por diversos autores, permite evaluar el estado natural,
económico y social de las áreas estudiadas, con vistas a conocer y evaluar su
estado actual y analizar los escenarios futuros de su desarrollo (BARRETO,
1999; GALLO; SEJENOVICH, 2002; BARRAGÁN, 2003; CASO et al., 2005;
CORTÉS; REMOND, 2007; CORTÉS et al., 2010; ARECES-MALLEA et al., 2011;
RUÍZ-SINOGA; DELGADO-PEÑA, 2012).
La identificación de los problemas ambientales de la zona costera y sus
posibles soluciones ha sido abordada por muchos autores tales como Clark
(1996), Sorensen y Brandani (1997), Cicin-Sain y Knecht (1998), Barragán y de
Andrés (2016); Ibarra y Belmonte (2017) y Secretaria Nacional de Planificación
y Desarrollo del Ecuador (2017), los que coinciden al señalar, que los principales
problemas ambientales de la zona costera están relacionados
fundamentalmente con el deterioro de los recursos pesqueros por la
sobrepesca; la amenaza a la diversidad biológica marina por factores
antrópicos y climáticos; la degradación de las zonas costeras por el desarrollo
industrial, el turismo y la urbanización no controlada, la contaminación marina
por desechos domésticos e industriales desde fuentes terrestres; la
sobreexplotación de algunos recursos costeros (petróleo y áridos); y la
expansión de la transportación marítima, entre otros. Dichos autores
promueven los estudios para encontrar la solución a estos problemas y, sobre
todo, de la contaminación costera y marina que es considerada uno de los
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 285

problemas ambientales más serios que afronta hoy en día la humanidad y que
trasciende los límites político-administrativos de cada país.
La Habana, capital de Cuba, con una población actual de 2.158.000
habitantes y un área aproximada de 730 km², es un ejemplo de ciudad
populosa asentada en la zona costera. En su caso la costa ocupa todo su límite
norte, incluyendo de este a oeste los municipios de La Habana del Este, Habana
Vieja, Centro Habana, Plaza de la Revolución y el municipio Playa, el cual
constituye nuestra área de estudio, dado a su gran importancia para la Ciudad.
Diversos autores e instituciones han realizado investigaciones en este
territorio, entre las que se destacan Carmenate (2009) y Rivas (2015), con un
diagnóstico ambiental de diversos sectores del municipio con vistas a su
manejo integrado. Se han desarrollado también varios proyectos por el
Instituto de Oceanología (IDO) y el Centro de Ingeniería y Manejo Ambiental
de Bahías y Costas, con el objetivo de evaluar el estado ambiental del territorio,
identificar los impactos y problemas ambientales así como diagnosticar la
calidad ambiental del mismo, valorando el grado de deterioro o vulnerabilidad
y proponiendo soluciones que mejoren el estado, la calidad y el uso del área
(CAMPOS et al., 2001; RIVAS et al., 2003; RODAS et al., 2008; SOSA; RIVAS;
GUERRA, 2004; AGENCIA DE MEDIO AMBIENTE, 2005; ARCOS; FORS, 2005;
PÉREZ-OSORIO et al., 2005; MATEO et al., 2008; GÓMEZ; BELTRÁN, 2013; SOSA
et al., 2016; CURRA-SÁNCHEZ, 2016; RIVAS et al., 2012; REYES et al., 2014).
Muchos de los resultados de estas investigaciones sirvieron de base a la
presente investigación, aunque ninguno de ellos constituyó en sí, un estudio
de manejo integrado costero específico para el sector de estudio. Estos y otros
trabajos aportaron información valiosa sobre las características físico-
geográficas y socioeconómicas del municipio.
En el sector de estudio situado entre los ríos Quibú y Almendares se
analizó la problemática ambiental, a partir de la delimitación y cartografía de
las unidades de paisaje que en él existen, mientras que la generalidad de las
investigaciones precedentes, no toman en cuenta dichas unidades, careciendo
entonces de una visión geográfica integradora, necesaria como base para el
Manejo Integrado de las Zonas Costeras (MIZC).
La metodología utilizada en este trabajo, se sustenta en el uso de las
imágenes satelitales, mapas topográficos y temáticos; con el empleo de las
herramientas presentes en los Sistemas de Información Geográfica (SIG), para
integrar, procesar y analizar la información y datos recopilados;
confeccionando, por primera vez para el área, los mapas de unidades de
286

paisaje, uso del suelo/vegetación y problemas ambientales en dichas unidades,


los que aportan una visión espacial más completa de la situación ambiental del
sector costero estudiado como base para la propuesta de MIZC.
Para el éxito del MIZC es importante conocer las potencialidades de la
zona, sus características físico-geográficas y socio-económicas, los problemas
ambientales y los usos y conflictos presentes en la misma, ya que el objetivo
principal, debe ser proteger los recursos naturales existentes, mediante el
aprovechamiento óptimo de los mismos. Un Manejo Integrado de la Zona
Costera eficiente debe ser la meta de todo país o región que quiera preservar
los valores y beneficios de la misma, logrando una interrelación equilibrada
entre lo social, económico y natural, que no es posible sin estudios previos
como el diagnóstico ambiental o las evaluaciones de impacto ambiental. De ahí
la importancia de los resultados de esta investigación, que contribuyen al
mejor uso y aprovechamiento de los recursos de la zona costera, tanto por la
comunidad que la habita, como por la administración municipal y las empresas
que forman parte de su desarrollo.
De acuerdo a lo antes mencionado, este trabajo tiene como objetivo
principal realizar el diagnóstico ambiental para evaluar y determinar el estado
actual del medio ambiente en el sector de estudio, con el propósito de
proponer soluciones para el MIZC en áreas urbanas.

SITUACIÓN GEOGRÁFICA Y CARACTERÍSTICAS

El área de estudio está situada en el sector costero del municipio Playa,


perteneciente a la provincia de La Habana, Cuba (Ver Figura 1). Limitando al
oeste con el río Quibú y al este con el río Almendares, al sur por la calle 7ma y
al norte con el mar en la cota de profundidad de 15 metros, incluyendo tres de
los Consejos Populares del municipio, Cubanacán-Náutico, Ampliación de
Almendares y Miramar, con una población de 62 941 habitantes (según datos
de la ONEI, 2017). Las principales actividades socio-económicas del área, son
los servicios y el comercio con un uso principalmente residencial y algunas
instalaciones de ocio, negocios y turismo.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 287

Figura 1. Situación geográfica del área de estudio

Fuente: Los autores (2020).

El sector emergido del área de estudio, está constituido desde el punto


de vista geológico, por rocas carbonatadas de la formación Jaimanitas del
Neógeno-Cuaternario (PEÑALVER et al., 2008); un clima cálido
estacionalmente húmedo, donde predominan los vientos de dirección este-
noreste; con una temperatura media anual de 25 °C, y la presencia de un
período lluvioso y muy cálido de mayo a octubre y uno menos lluvioso y fresco
de noviembre a abril, con presencia de vegetación dispersa muy modificada,
con áreas verdes y jardines.
El sector sumergido presenta una terraza con tres biotopos
fundamentales: el primero se caracteriza por un fondo rocoso, con numerosas
oquedades y grietas ocupadas fundamentalmente por Echinometra sp., siendo
288

es el más afectado por la acción constante del oleaje y el que recibe el impacto
antrópico principal; el segundo es un fondo rocoso poco accidentado, con
parches de arena, que en el sector oeste está surcado por el paleocauce del río
Quibú; el tercero, sobre el escarpe de la terraza (veril); presenta un fondo
rocoso inclinado, con parches de arena y con numerosas oquedades que sirven
de refugio a diversas especies de peces y otros organismos marinos.

METODOLOGÍA DE LA INVESTIGACIÓN

Para identificar los principales problemas ambientales del área y


obtener la información necesaria para el trabajo se hizo una amplia revisión
bibliográfica y recorridos de campo, donde se realizaron observaciones y
entrevistas no estructuradas a los pobladores y a investigadores de diferentes
entidades del territorio. El Instituto de Planificación Física (IPF) facilitó la
información sobre los barrios insalubres, los cambios en el uso del suelo e
información cartográfica; La casa de la Maqueta de La Habana brindó la
información sobre los cambios en el uso del suelo, los problemas ambientales
y el estado general de las viviendas y la Oficina Nacional de Estadística e
Información (ONEI) del municipio Playa, suministró la información
demográfica. Además, se tuvo en cuenta el trabajo de Martínez-Iglesias et al.
(2007) sobre la propuesta de lineamientos metodológicos para la Gestión
Integrada de Zonas Costeras en Cuba.
La información geológica se tomó de Peñalver et al. (2008); la
geomorfológica, el clima, los tipos de suelo, la flora y la fauna se obtuvieron del
Nuevo Atlas Nacional de Cuba (INSTITUTO DE GEOGRAFIA, 1989) y los
recorridos de campo; para la información de la parte sumergida se utilizó
González-Díaz et al. (2010); la circulación marina se tomó de Rodas et al.
(2008); la caracterización socioeconómica se hizo a partir de los datos ofrecidos
por la ONEI (2017) y el Catastro de Cuba del año 2013 (IPF, 2013).

Cartografía

Para la cartografía de las unidades de paisaje se emplearon las


herramientas presentes en los Sistemas de Información Geográfica como son
la superposición de mapas y el análisis espacial. Se combinaron los mapas con
la información topográfica (batimetría para la parte submarina y el mapa
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 289

topográfico para la emergida) y temática (catastro de uso del suelo). Para ello
se utilizó el software ArcGis 10.3 y la propuesta de Ramón y Salinas (2012), para
la identificación, clasificación y cartografía de los paisajes a escalas detalladas
mediante el empleo del SIG.

Determinación del Coeficiente de Transformación Antropogénica (KAN)

Existen diversas formas de evaluar la influencia de las actividades


humanas sobre un territorio, entre estas tenemos: la Evaluación de la
Modificación Antrópica de los Paisajes, la Degradación de los Paisajes o Grado
de Hemerobia (BELEM; NUCCI, 2011; WALZ; STEIN, 2014), el Índice Integrado
Relativo de Antropización (MARTÍNEZ, 2010) y el Índice de Naturalidad
(MACHADO, 2004), entre otras. En nuestro caso utilizamos el Coeficiente de
Transformación Antropogénica (KAN) para determinar cuantitativamente la
carga antropogénica a la que está sometida un paisaje, tomado de Mateo
(2011). El cual se calcula según la expresión:

KAM =∑i=1 ri*pi*q/100

Donde:
(r) es el rango de transformación antropogénica de los paisajes del tipo
“i” de utilización
(p) es el porciento del área afectada de la unidad
(q) es el índice de profundidad de la transformación del paisaje
(m) son los tipos de utilización del suelo presentes en la unidad.

Con esta expresión se calcularon los valores de KAN para cada unidad
de orden superior de los paisajes (localidades). Atendiendo a los valores
obtenidos, el índice se dividió en dos rangos, los valores por debajo de 2,95
fueron clasificados como bajos y por encima de 2,95 se clasificaron como altos.

Usos y conflictos de uso

Los principales usos del suelo en el sector costero Quibú-Almendares,


fueron cartografiados utilizando la información del Catastro de Cuba del IPF del
2013, la información obtenida de las imágenes satelitales y el trabajo de campo
(ver Figura 2).
290

Figura 2. Uso del suelo en el sector costero Quibú-Almendares

Fuente: Elaborado según el Catastro de Cuba 1:10 000 IPF (2013).

Este mapa nos da una visión espacial de los usos principales existentes
en cada unidad de paisaje y como estos usos influyen o acrecientan algunos de
los problemas ambientales a los cuales nos referiremos posteriormente.
Fueron determinados los diferentes usuarios y su relación con los usos de la
zona costera objeto de estudio, a partir de la matriz propuesta por Chircop
(1997), los recorridos de campo y la información del Catastro de Cuba antes
mencionada, con lo cual se confeccionó una tabla que incluye los principales
usos existentes, que permitió categorizarlos y clasificarlos, para entender las
relaciones que existen entre los mismos.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 291

Principales problemas ambientales

Los principales problemas ambientales fueron identificados a partir del


análisis de los resultados de los trabajos llevados a cabo por diferentes autores
como: Rodas et al. (2008) y Valdés et al. (2011), entre otros. Así como los
recorridos de campo realizados, mediante los cuales se observaron in situ estos
problemas y se entrevistó a la población residente.
Para la cartografía de los problemas ambientales, fueron seleccionados
aquellos que podían ser representados espacialmente, utilizando las
herramientas presentes en el SIG ArcGis 10.3, y la base topográfica del área a
la que se les superpusieron los mapas temáticos, a escala 1: 25.000.
Complementado esto con la información específica para cada problema
ambiental estudiado. Por ejemplo, para la ubicación de los microvertederos se
utilizó la información brindada por la Dirección de Higiene del municipio y los
recorridos de campo. Para la cartografía de los arrecifes afectados, que se
encuentran en áreas contaminadas y presentan problemas de enfermedades,
bajo cubrimiento coralino y mortalidad, se empleó la información existente en
el trabajo de González-Díaz (2010) y el informe científico de Rodas et al. (2008),
donde aparece la localización geográfica de los puntos de muestreo.
Para el análisis de la calidad del agua (coliformes y estreptococos fecales
presentes), se emplearon los datos de las estaciones de muestreo y el trabajo
de Rodas et al. (2008) y Gómez y Beltrán (2013). La información del barrio
insalubre “El Romerillo” y de las inundaciones en la zona fueron suministradas
por la Dirección Municipal de Planificación Física, los informes de Arcos y Fors
(2005) y los estudios de Peligros, Vulnerabilidad y Riesgos realizados por la
Agencia de Medio Ambiente (2005).

Evaluación de los Impactos Ambientales sobre los paisajes de la zona

El análisis de los impactos ambientales sobre los paisajes, se elaboró a


partir del empleo de la Matriz de Impactos propuesta por Conesa (2006).
Utilizando una escala cualitativa (moderado, severo o crítico) para evaluar el
efecto del impacto según su naturaleza (negativo o positivo), según su
intensidad (baja, media o alta), de acuerdo con su extensión (puntual o parcial)
y según el momento, persistencia y reversibilidad de los mismos, sobre las
unidades de paisaje de primer orden cartografiadas.
292

Este análisis se realizó utilizando la fórmula:

𝐼 = ±(3𝐼𝑛 + 2𝐸𝑋 + 𝑀𝑂 + 𝑃𝐸 + 𝑅𝑉)

Donde:
I–importancia del impacto, In-intensidad, EX-Extensión del
impacto, MO-momento, PE–persistencia y RV–reversibilidad del
mismo.

RESULTADOS ALCANZADOS Y DISCUSIÓN

Caracterización y cartografía de las unidades de paisaje

Según la información recopilada y el análisis de los mapas de los


componentes naturales, se confeccionó el mapa de paisajes del área de estudio
donde fueron identificadas tres unidades de primer orden (localidades), que se
distribuyen indistintamente en el área y que a su vez están constituidas por
ocho unidades de orden inferior (comarcas) (Ver Figura 3).

Paisajes marinos
1- Llanura marina abrasivo-acumulativa aterrazada de 0 a 15 m de profundidad,
inclinada de 0-15º de pendiente, sobre rocas carbonatadas, con parches de
pastos marinos. Esta localidad ocupa toda la franja marina del área de estudio
y está limitada al norte por la isobata de 15 metros que coincide con el veril
(parte baja) y al sur por la costa rocosa emergida o terraza seboruco, estando
cortada al oeste por el paleocauce del río Quibú. Está constituida por rocas
carbonatadas (calizas y calcarenitas) de la formación Jaimanitas del Neogeno-
Cuaternario. Su superficie está cubierta por rocas y sedimentos de arena
gruesa o fina. Sobre ella se desarrollan parches de pastos marinos (Thalassia
testudinum Banks ex König) y comunidades de invertebrados bentónicos
sésiles (corales, esponjas y gorgonias). Esta localidad está constituida por tres
comarcas.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 293

Figura 3. Paisajes del sector costero Quibú-Almendares

Fuente: Confeccionado según Curra-Sánchez (2016).

Paisajes terrestres
2- Llanura litoral abrasivo-acumulativa baja (0 a 10 m de altura) plana (0 a 5º
de pendiente) sobre calizas arrecifales organógenas carsificadas con suelos
poco desarrollados, con uso residencial, instalaciones y parches de vegetación
secundaria. Está constituida por una superficie baja sometida a la influencia del
oleaje en el sector más al norte y limitada por los valles fluviales del río Quibú
y Almendares al oeste y este, respectivamente. Representa la unidad del
294

paisaje más difundida y extensa. Ocupa toda la era terraza marina de la


formación Jaimanitas constituida por calizas arrecifales organógenas
carsificadas, con suelos Ferralíticos rojos y Rendzinas roja y negra, poco
desarrolladas, con restos de vegetación de costa arenosa y rocosa muy
modificadas y vegetación segundaria. Se caracteriza por la irregularidad de sus
contornos debido en gran parte a la antropización, con uso residencial e
instalaciones. La localidad está constituida por cuatro comarcas.
3- Valles fluviales sobre rocas carbonatadas cubiertas por depósitos aluviales y
suelos hidromórficos con uso residencial, otras instalaciones y parches de
vegetación secundaria. Se caracteriza por la presencia de rocas carbonatadas
cubiertas por depósitos aluviales. Es una zona que se inunda con facilidad por
las intensas lluvias. Los suelos son pardo arcillosos hidrométricos, con
vegetación secundaria en forma de parches. Su uso es fundamentalmente
residencial y de otras instalaciones. La localidad presenta una sola comarca.

Determinación del Coeficiente de Transformación Antropogénica (KAN)

Como resultado de la determinación del KAN se obtuvieron los rangos


de transformación antropogénica del paisaje siguientes:
(ri): forestal (1), cultivos agrícolas (2), construcciones residenciales y
viales (3) instalaciones (4)
Los índices de profundidad de la transformación del paisaje (q): forestal
(1,1), cultivos agrícolas (1,2), construcciones residenciales y viales (1,3) e
instalaciones (1,4).
Se utilizó el enfoque histórico-antropogénico para el análisis de los
paisajes mediante el KAN, porque es un área urbanizada y se adapta mejor a
las necesidades de la investigación, para determinar cuantitativamente la carga
antropogénica a la que está sometida cada unidad de paisaje.
Los valores del KAN obtenidos para cada unidad de paisaje de 1er orden,
a partir de los coeficientes y pesos asignados fueron: bajo (0,28) para la
localidad uno; 4,01 (alto) para la localidad dos y 4,58 (alto) para la localidad 3
(Ver Figura 4).
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 295

Figura 4. Coeficiente de Transformación Antropogénica de los Paisajes (KAN)

Fuente: Confeccionado según Curra-Sánchez (2016).

Usos y conflictos de uso

Se elaboró una matriz de Uso contra Uso para determinar los conflictos
de uso presentes en la zona, siguiendo la metodología propuesta por Cicin-Sain
y Knecht (1998) (Ver Figura 5).
296

Es importante destacar que se realizó la distinción entre el uso y el no


uso de los recursos, así como en su función, o sea, si son usos extractivos o no
extractivos y aditivos o no aditivos (no uso de los recursos).
Fueron evaluados un total de 13 usos principales, los cuales se
subdividieron en 28 actividades, aunque el análisis de sus relaciones solo fue
realizado para los ocho usos más importantes. De los usos de los recursos, dos
se consideraron como extractivos, ambos relacionados con la extracción de
organismos vivos.

Figura 5. Matriz de la relación entre los usos del territorio

Fuente: Elaborada según Cicin-Sain y Knecht (1998).


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 297

El no uso de los recursos, fue clasificado como aditivo y no aditivo


incluyendo en los primeros los fijos, con siete usos y los móviles con uno. De
los no aditivos contamos con dos tipos de uso: científico y estudios, y de tiempo
libre, asociado a las actividades de esparcimiento y culturales.
En la matriz de interacción entre los usos, el 43% de los mismos no
interaccionan entre sí; el 30% generan conflictos para los usos de la fila I; un
11% tienen interacciones beneficiosas para ambos usos y solo el 2% de las
relaciones son del tipo conflictivo para ambos usos de la fila I y la columna J.
La taxonomía de usos y la matriz de usos elaborada corrobora los
resultados anteriores y demuestran el alto grado de urbanización existente y
su repercusión en la zona costera, planteamiento que fue descrito y analizado
por otros autores como Campos et al. (2001); Rodas et al. (2008); Rivas et al.
(2012); González-Díaz (2010) entre otros. Autores como González-Díaz (2015)
señala que los principales conflictos en las zonas costeras de Cuba y también
presentes en el área, están originados por: competencia por el espacio; efectos
negativos de un uso sobre otro; efectos negativos sobre la diversidad biológica
y los ecosistemas; interacciones negativas entre las instituciones a distintos
niveles (local, regional y nacional).
El análisis se enfocó por igual al ambiente marino y terrestre que se
unen en la zona costera, así como a los elementos naturales, económicos y
sociales, para tener una visión más integradora de la situación del sector de
estudio. Lo que resulta sumamente importante y según Cicin-Sain y Knecht
(1998), de gran aplicación, pues las matrices de uso son una herramienta útil
como punto de partida para los tomadores de decisiones, pues les permiten
comprender la complejidad e interacción entre los diferentes usos y recursos
en el área costera.
Según Areces et al. (2010), el proceso de ordenamiento ambiental debe
conjugar tres premisas: voluntad política de ejecución, un basamento jurídico
de apoyo y la existencia de instituciones con competencia para su desarrollo.
Para estos autores, la gestión integrada de las zonas costeras es un proceso
adaptativo, participativo, estratégico y anticipatorio, lo que permitirá llevar a
cabo un sistema de manejo integrado de esta zona de forma equilibrada
(SORENSEN; BRANDANI, 1997).
298

Principales problemas ambientales y evaluación de sus impactos en los


paisajes

En trabajos sobre la zona realizados con anterioridad (GÓMEZ;


BELTRAN, 2013; REYES et al., 2014) fue identificada la contaminación físico-
química y bacteriológica del mar en el municipio, como uno de los problemas
ambientales más importantes y que condiciona una calidad del agua de mar
entre regular y mala.
En esta zona fueron identificados a partir del levantamiento general del
estado actual del medio físico (o natural) y el socioeconómico, los recorridos
de campo y las entrevistas realizadas a diversos actores sociales e instituciones
del territorio, los principales problemas ambientales que son: la baja calidad
ambiental urbana y de la zona litoral condicionada por la contaminación del
agua (fluvial y marina), la erosión costera, la afectación a la vegetación costera
y a la fauna asociada a ella, la vulnerabilidad ante la ocurrencia de eventos
meteorológicos extremos, la sobrepesca, la presencia de vectores y roedores
por la existencia de microvertederos, el deterioro o inexistencia de la red de
alcantarillado, las dificultades con la disponibilidad de agua potable, las
afectaciones a la estética del paisaje, la inadecuada disposición de los
residuales líquidos y sólidos domésticos e industriales, la existencia de
actividades ilícitas y la presencia de barrios y focos insalubres, entre otros
(CAMPOS et al., 2001; RODAS et al., 2008; MATEO et al., 2008; CARMENATE,
2009; REYES et al., 2014; RIVAS, 2015) (Ver Figura 6).
Se observa que en las dos unidades de paisaje de primer orden, hay
problemas ambientales, por ejemplo en la unidad 1, encontramos los arrecifes
deteriorados y la presencia de coliformes y estreptococos fecales con valores
por encima de lo establecido en la Norma Cubana 22-1999. Los arrecifes
deteriorados según González-Díaz et al. (2003), Rodas (2008), González-
Ontivero y de la Guardia (2008), González-Díaz (2010) son consecuencia de la
contaminación existente en el mar por los vertimientos industriales arrastrados
por los ríos y los desechos domésticos dispensados directamente, que
ocasionan bajo cubrimiento coralino, blanqueamiento de las colonias y hacen
difícil su proceso de recuperación.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 299

Debido a la contaminación y a la pesca ilícita, se presentan cambios en


la composición de la ictiofauna, disminución de la talla, cantidad y variedad de
individuos y/o especies (AGUILAR et al., 2007; CABRERA-PÁEZ et al., 2008).
En el caso de la unidad 2, tenemos la presencia de microvertederos, del
barrio El Romerillo y la vulnerabilidad a la penetración del mar por eventos
hidrometeorológicos extremos.
En la unidad de paisaje 3 la cual se localiza en las márgenes de los ríos
Quibú y Almendares, entre los problemas detectados, encontramos la
vulnerabilidad ante la penetración del mar por eventos meteorológicos
extremos y la calidad del agua en la desembocadura de los ríos, evaluada de
mala (GÓMEZ; BELTRÁN, 2013)

Figura 6. Problemas ambientales del sector costero Quibú-Almendares

Fuente: Elaborada según Curra- Sánchez (2016).


300

Evaluación de los impactos ambientales sobre los paisajes

La matriz resultante de la identificación y evaluación de los impactos


(Ver Figura 7) muestra que fueron encontrados 122 impactos en toda la zona
de estudio, 101 se clasificaron como negativos, 20 como positivos y uno como
indeterminado. De ellos 17 se encuentran en la unidad de paisajes uno, 88 en
la unidad de paisajes dos y 17 en la unidad de paisajes tres.
Todas las unidades de paisaje de primer orden están afectadas por
varios impactos pero a continuación solo haremos referencia a los impactos
que se repiten en las tres unidades y que obtuvieron la calificación de
moderados y severos.
En la unidad de paisajes marinos 1, el vertimiento de los residuales
sólidos y líquidos domésticos afecta la calidad del agua de mar y la salud de los
arrecifes coralinos, presentes en el área. Los vertimientos de residuos
industriales son considerados como transfronterizos, porque ocurren fuera del
área, pero sus efectos llegan hasta la zona costera y afectan la calidad del agua
de mar y la biodiversidad marina.

Figura 7. Matriz de Impactos Ambientales en el sector Quibú-


Almendares

Fuente: Elaborada según Conesa (2006).


Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 301

Podemos señalar finalmente que el diagnóstico ambiental realizado en


las tres unidades de paisaje de primer orden del sector costero entre los ríos
Quibú y Almendares arrojó que todas tienen un estado ambiental deteriorado,
siendo las más afectadas por la contaminación y las más vulnerables ante los
eventos hidrometeorológicos extremos las unidades 2 y 3. Estos impactos
tienen una larga historia y han persistido en el tiempo, por lo cual el medio,
tanto natural como social convive con ellos. Los efectos actuales de dichos
impactos se consideran entre moderados y severos.
Todos los impactos ambientales evaluados tienen relación directa o
indirecta unos con otros. Por ejemplo, las inundaciones de las calles por las
fuertes lluvias afectan la estética del paisaje y la higiene de la ciudad y se
relacionan también con la modificación del drenaje natural por la urbanización
y la falta o ineficiente red de alcantarillado construida. A esta cadena de
impactos se suma que el agua pluvial que escurre arrastra la basura de los focos
y microvertederos de la zona y la deposita en otros lugares o la lleva hasta el
mar o los ríos afectando también la higiene y estética del paisaje y la calidad
del agua de los ríos y el mar.
La generación de basura y la existencia de microvertederos es un
problema complejo en la zona, ya sea por la ineficiencia en los servicios de
recogida, en cuanto a la frecuencia de colecta de la basura, la falta o
insuficiencia en la cantidad de contenedores y la falta de conciencia y
educación formal y ambiental que tienen las personas, que además botan la
basura y los escombros en cualquier lugar, no tienen cuidado de dañar la
propiedad pública, y sobre todo no reconocen que el problema es de todos no
solo del Estado. Todo esto impacta negativamente en la percepción y estética
del paisaje y la higiene del área.
Existe un consenso en casi todos los trabajos consultados de que los
contaminantes que se introducen en el medio marino y fluvial, afectan a corto
y largo plazo la calidad del agua y la biodiversidad. Según los informes técnicos
de Gómez y Beltrán (2013) y Reyes et al., (2014) se han incrementado los
valores, de contaminación en los últimos años. Esto confirma una vez más el
impacto negativo que tienen los vertimientos domésticos e industriales en la
calidad de las aguas de los ríos y estos a su vez en la desembocadura y en las
302

aguas marinas (AGUILAR; GONZÁLEZ-SANSÓN, 2007; GONZÁLEZ-DÍAZ, 2010;


GÓMEZ; BELTRÁN, 2013; REYES et al., 2014).
Los impactos negativos de los vertimientos de residuales domésticos e
industriales a la biodiversidad marina y fluvial son más significativos, para
algunas especies. En la desembocadura de los ríos Quibú y Almendares se
incrementa el cubrimiento por algas por el mayor aporte de nutrientes
(GONZÁLEZ-DÍAZ et al., 2003; GONZÁLEZ-ONTIVERO; DE LA GUARDIA, 2008;
MARTÍNEZ, 2009; GONZÁLEZ-DÍAZ, 2010).
La ictiofauna en esta zona, también está deteriorada (AGUILAR;
GONZÁLEZ-SANSÓN, 2000 y 2002), no hay peces de interés comercial y su
diversidad ha disminuido. Además, estos autores señalan que entre las causas
principales de este deterioro no están solamente la sobrepesca y los factores
naturales, sino también los residuales domésticos no tratados y la
contaminación que llega de la zona terrestre.
A partir de lo anteriormente expuesto fueron propuestas una serie de
medidas que toman en cuenta la estrecha relación existente entre el ambiente
costero, el marino y la actividad del hombre, lo que permitirá llevar a cabo un
sistema de manejo integrado de la zona costera, siguiendo lo plateado por
diversos autores como Scura et al., (1992) y Sorensen y Brandani (1997).

PROPUESTA DE MEDIDAS PARA PREVENIR, CORREGIR O MITIGAR LOS


IMPACTOS AMBIENTALES

A partir del estudio realizado, la consulta a expertos y el trabajo de


campo se proponen una serie de medidas que deben contribuir a prevenir,
corregir o mitigar los impactos ambientales encontrados sobre los paisajes en
el sector costero Quibú-Almendares:
 Implementar y controlar los sistemas de vigilancia y control ambiental,
promoviendo las investigaciones encaminadas a la rehabilitación de
los ecosistemas marinos, costeros y fluviales, que incluya la realización
de estudios sobre la fauna, flora y vegetación.
 Dar seguimiento al estudio de las comunidades de peces y organismos
bentónicos una vez comenzadas las actividades de limpieza del río y la
zona costera.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 303

 Eliminar los restos de espigones y otras construcciones en la costa, los


que afectan la dinámica litoral y generan problemas de erosión.
 Gestionar el financiamiento para la rehabilitación o creación de un
nuevo sistema de tratamiento de aguas residuales que garantice la
calidad del agua vertida a los ríos y al mar.
 Reajustar el ciclo de recogida de los desechos sólidos domiciliarios,
que realiza la Empresa de Servicios Comunales, así como el número de
contenedores necesarios para este fin.
 Dar seguimiento a la propuesta del plan económico de las fábricas y
empresas que realizan la disposición final de sus residuales a las aguas
de los ríos, garantizando el presupuesto para la construcción de un
adecuado sistema de tratamiento de los residuales que deberá
cumplir con los parámetros establecidos en las normas NC 27-2012 y
NC 521-2007 según corresponda.
 Cada entidad identificada como fuente contaminante presentará a la
autoridad ambiental cuando lo solicite, los resultados del laboratorio
que avalen la calidad del agua de los sistemas de tratamiento una vez
puestos en funcionamiento, así como de la fuente de abasto en caso
que corresponda.
 Realizar inspecciones periódicas a la base de pesca para garantizar el
cumplimiento de las medidas establecidas para el manejo de los
desechos de la limpieza de los peces.
 Fortalecer el sistema de inspectores ambientales en el territorio y su
capacitación, con el objetivo de incrementar la vigilancia a las
actividades delictivas que ocurren en la zona costera.
 Incentivar tanto a funcionarios como directivos a cumplir y hacer
cumplir con la legislación vigente en materia de mejoramiento
ambiental.
 Coordinar con las entidades estatales, y la sociedad civil, la promoción
y realización de actividades de educación ambiental y de salud para
fomentar y mejorar el cuidado de la zona costera.
 Coordinar con las diversas entidades del territorio la creación y
expansión de las áreas verdes o con cobertura forestal en solares
yermos.
304

 Realizar nuevas investigaciones encaminadas a evaluar las


potencialidades reales del uso y manejo eficiente del paisaje de la del
sector costero estudiado y sus areas circundantes.

CONSIDERACIONES FINALES

Se confirma la influencia negativa y sostenida de los ríos en la calidad de


las aguas marinas en la zona de estudio y las áreas cercanas a la
desembocadura de los mismos con malas condiciones ambientales.
Los impactos ambientales en el área tienen una larga historia y el medio
se ha adaptado a la mayoría de ellos en busca del equilibrio y por tanto los
efectos actuales se consideran moderados.
Las unidades de paisajes terrestres tienen la mayor cantidad de
impactos, lo que coincide con un alto valor del Coeficiente de Transformación
Antropogénica.
Los principales impactos ambientales identificados en las unidades de
paisaje son: la afectación a la flora y la fauna marina; el deterioro de la calidad
higiénico-sanitaria y la afectación a la calidad de las aguas marinas y terrestres.
Algo más de una tercera parte de los usos del sector costero tienen
interacciones de tipo conflictivo y los que más afectan son el industrial y el
doméstico. Estos vierten residuales líquidos y sólidos que perjudican al resto
de las actividades que se desarrollan en la zona costera.

Nota: Este trabajo ha sido elaborado tomando como base la tesis de maestría
de Elizabeth Dayana Curra Sánchez, “Diagnóstico ambiental del sector costero
Quibú-Almendares, municipio Playa, La Habana, Cuba”, defendida en la
Universidad de La Habana, Cuba en el año 2016 y el articulo “Diagnóstico
ambiental del sector costero Quibú-Almendares, municipio Playa, La Habana,
Cuba”, publicado en la Revista de Investigaciones Marinas de la Universidad ed
La Habana, Cuba.

REFERENCIAS

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por fuertes vientos, inundaciones por lluvias intensas e inundaciones costeras por
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 305

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Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 311

Capítulo 14

POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS E MUDANÇAS


CLIMÁTICAS: COMO ADAPTAR CIDADES PARA FUTUROS
CENÁRIOS DE ALTERAÇÕES AMBIENTAIS 57

Maryly Weyll Sant’Anna58


António Guerner Dias59
Maurício Lamano Ferreira 60

ANTECEDENTES HISTÓRICOS: POLÍTICAS AMBIENTAIS vs. MUDANÇAS


CLIMÁTICAS NO SÉCULO XX

De acordo com Minayo (2006), a relação existente entre os seres


humanos e o meio ambiente é reputado como algo, por um lado, essencial, por
outro, indissociável, sendo, portanto, considerada um processo construído ao
longo da história humana, pois abrange a “[...] existência, as condições e a
qualidade [...]” (MINAYO, 2006, p. 81) de vida de indivíduos integrantes de uma
sociedade e, por fim, de todos os ecossistemas contidos no planeta Terra.
Segundo o autor, desde os tempos antigos, filósofos e sábios orientais
e ocidentais associavam os diversos eventos da natureza (seja relacionado aos
diversos tipos de clima e à sua temperatura, seja relacionado ao movimento do
vento e às fases da Lua, dentre outros) com o aparecimento de morbidades.
Todavia, essa associação tornou-se mais intensa após a industrialização
ocorrida nos séculos XVIII e XIX, ou seja, no período pós-Revolução Industrial,

57 O presente capítulo compõe premissas abordadas na dissertação de Mestrado da pesquisadora


SANT`ANNA, Maryly Weyll (ainda em construção).
58 Mestranda no Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista

de São Paulo. E-mail: marylysantana@terra.com.br


59 Prof. Dr. no Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, Faculdade

de Ciências da Universidade do Porto, Portugal. E-mail: agdias@fc.up.pt


60 Prof. Dr. no Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista

de São Paulo. E-mail: mauecologia@yahoo.com.br


312

quando houve a intensificação do processo de urbanização e,


consequentemente, dos problemas ambientais existentes, i.e. falta de
saneamento adequado. Tais problemas urbanos passaram a ser associados
com o aparecimento de doenças, afetando a vida de trabalhadores e
impactando na produção industrial (MINAYO, 2006, p. 82).
Diante desse contexto, surgiu na Europa, em meados do século XIX, a
chamada medicina social, que concebia a saúde como resultante de condições
ambientais e de vida. Todavia, no âmbito ambiental, o saneamento e o controle
de vetores constituíram as principais estratégias de ação e mitigação do
problema (MINAYO, 2006, p. 82).
Como consequência deste crítico cenário, que preocupava chefes de
nações em pleno desenvolvimento e acometia grande parte da mão de obra
trabalhadora, em 1925, líderes de diversos países se juntaram e assinaram o
protocolo de Genebra, o qual proibiu o uso de gases tóxicos e o emprego de
armas bacteriológicas em operações militares. Este evento pode ser
considerado como um dos primeiros documentos que marcaram o
desenvolvimento do pensamento ecológico/social em termos mundiais
(BARROS, 2018, p. 115-116).
O século XX foi muito importante para a consolidação e maturidade de
acordos internacionais. Marcado por duas grandes guerras, a primeira metade
deste século foi um período de muita desestruturação social, sendo que nações
de diversos países enfrentaram períodos de reconstrução de nação.
Entretanto, de acordo com Minayo (2006), somente após a fim da
Segunda Guerra Mundial, em 1945, iniciou-se uma articulação mais complexa
entre as ações ambientais e de saúde. Este ano foi considerado um marco na
nossa história, pois foi oficializada a Organização das Nações Unidas (ONU) 61
(MINAYO, 2006, p. 82).
Em meados da segunda metade do século XX, as nações começavam a
se estruturar socioeconômico e ambientalmente. Em pleno desenvolvimento
econômico, a Inglaterra enfrenta no ano de 1952 um tremendo evento
ambiental que marca a história do impacto no meio ambiente causada por
atividades humanas. Um grande nevoeiro oriundo da queima de combustível

61A ONU é uma organização internacional formada por países que se voluntariaram para reunir-se
a favor da paz. Vide sítio oficial: https://nacoesunidas.org/conheca/.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 313

fóssil cobriu o céu da cidade de Londres e foi responsável pela morte de mais
de 10 mil londrinos. O smog fotoquímico, como foi chamado o evento, foi
causado pela intensa queima de carvão como matriz energética (LEIGHTON,
1961, p. 878).
Anos mais tarde outras preocupações ambientais chamavam a atenção
de líderes políticos na Europa e, em 1958, houve a assinatura da Convenção
Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por Óleo, em Genebra,
estabelecendo medidas para controle da poluição marítima (BARROS, 2018, p.
115-116). Essas ações tinham como finalidade melhorar a condição ambiental
das águas devido à sua grande importância econômica.
Pouco tempo depois, em 1960, estudos europeus realizaram uma
associação entre a acidificação de lagos na Suécia e a formação de chuvas
ácidas que estariam relacionadas com a queima de carvão mineral no Reino
Unido. Este evento foi associado com a morte de espécies aquáticas em lagos
na região da Escandinávia. Tal fenômeno começou a se mostrar como um vetor
de alteração ambiental e econômica, trazendo implicações em importantes
setores locais. Durante o mesmo período foi publicado o livro da bióloga
marinha norte-americana, Rachel Carson, intitulado: Silent Spring (Primavera
Silenciosa). A autora chamava a atenção para a ausência do canto de aves
durante as madrugadas da primavera, fato atribuído à contaminação do ar, do
solo, dos rios e dos mares por pesticidas utilizados. Este livro foi um marco para
o movimento ambientalista internacional (CLARK, 2017).
Diante deste cenário de reorganização econômica, social e ambiental
dos países, a comunidade científica percebe que as questões ambientais
necessitavam ser inseridas nas pautas universitárias. Por conta disso, em 1965,
na Conferência sobre Educação, na Universidade de Keele, na Grã-Bretanha,
surgiu o termo “Educação Ambiental”. Embora alguns autores relatem que
essa expressão já fosse utilizada nas Universidades desde 1945 (RUFINO;
CRISPIM, 2015).
Barros (2018) aduz que, neste momento histórico, a agenda ambiental
surgia como um instrumento necessário para o desenvolvimento econômico
das nações e, em 1968, foi fundado na Europa, o Clube de Roma, cuja finalidade
foi debater assuntos relacionados a política, economia internacional e meio
ambiente. Em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) eles
desenvolveram um estudo denominado Limits to Growth (Limites para o
314

Crescimento) o qual avaliou matematicamente as prováveis consequências de


um crescimento populacional rápido diante dos recursos naturais limitados.
Essas análises resultaram em relatórios que apontavam para a situação
ambiental em diferentes pontos do mundo, gerando uma globalização do
ambientalismo, o que levou à necessidade da adoção de uma agenda mais
ambientalista pelos governantes (BARROS, 2018, p. 115).
Sobre a perspectiva do meio ambiente, as primeiras conferências
mundiais da ONU sobre população (Conferência de Roma, em 1954 e
Bucareste, em 1965) podem ser consideradas as primeiras conferências onde
a temática ambiental tenha sido discutida, mesmo que de forma incipiente
(BARROS, 2018, p. 115).
No entanto foi na I Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada na cidade de Estocolmo/Suécia, no ano de 1972,
que a temática ambientalista ganhou força política. Em uma abordagem
científica, os ambientalistas buscaram sensibilizar os líderes mundiais para a
necessidade da implementação de medidas de proteção ambiental nas
diversas nações do mundo (BARROS, 2018, p. 115-116).
Segundo Lago (2006), cabe destacar que o contexto histórico que
antecede a Conferência de Estocolmo foi fundamental para a sua realização.
Em meados da década de 1960, a Europa ocidental apresentava uma
mentalidade mais resistente a um regime fechado e a classe média dos países
industrializados foi fortemente afetada por impactos ambientais e
econômicos. Essa força foi fundamental para a realização de um evento que
envolvesse diversas nações em uma causa ambiental comum (LAGO, 2006, p.
3).
Movidos por ameaças e estudos impactantes no meio ambiente, na
década seguinte ocorreram diversas manifestações técnicas e políticas quanto
aos possíveis impactos ambientais que ocorriam em escala planetária, com
destaque para a redução da camada de ozônio. Diante disso, um conjunto de
nações se reuniu em Viena, na Áustria, para discutir os possíveis
desdobramentos deste grande impacto ambiental na atmosfera terrestre.
Entre os gases sintéticos que mais danificavam a camada de ozônio estavam os
clorofluorcarbonetos (CFC), os quais eram utilizados como propulsores de
aerossóis, refrigeração ou espumas. Esta reunião em Viena foi fundamental
para o estabelecimento do Protocolo de Montreal, no Canadá. Foi então
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 315

acordado um documento, pelos países-membros, que determinou obrigações


específicas, principalmente as relacionadas à progressiva redução de consumo
e produção de substâncias responsáveis pela depleção do ozônio (SDO) até sua
total eliminação (MAGALHÃES et al., 2003).
Nesse momento, a questão ambiental começava a se misturar com
aspectos sociais de saúde coletiva, criando a necessidade de uma agenda
consolidada na qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) discutiu a promoção da saúde em escala global. A
Declaração de Alma-Ata (1978) faz um alerta quanto a necessidade, urgente no
mundo, para a aplicação de dez pontos que os cuidados primários de saúde
precisavam ser desenvolvidos, principalmente nos países em desenvolvimento.
A Carta de Ottawa (1986) estabeleceu, anos mais tarde, compromissos de
busca de equidade em termos de saúde pública entre as nações, destacando
fatores determinantes para isso através da adoção de políticas públicas
saudáveis, da criação de ambientes saudáveis e da capacitação para que os
determinantes sociais da saúde possam ser inseridos na população por meio
da políticas públicas (OPAS, 2019).
Neste contexto surgiu a expressão ecodesenvolvimento, sendo
ampliada em 1987 pelo termo desenvolvimento sustentável através do
relatório Brundtland, denominado “Nosso Futuro Comum”. Esse relatório
definiu “o papel dos seres humanos em relação ao meio ambiente e descreveu
o impacto das mudanças ambientais sobre a saúde e qualidade de vida das
populações” (MINAYO, 2006, p. 85).
O relatório Brundtland traz o conceito de desenvolvimento sustentável
como aquele que consegue atender às demandas da geração atual sem
prejuízo para as demandas das gerações futuras, tendo como objetivo
proporcionar que as pessoas do agora e do amanhã alcancem um grau
satisfatório de desenvolvimento social e crescimento econômico, bem como
de realização humana, podendo-se utilizar de forma racional os recursos
naturais disponíveis no planeta, sem levar à escassez deles (MAGALHÃES et al.,
2003).
De acordo com Magalhães et al. (2013), o termo desenvolvimento
sustentável está relacionado a um modelo de desenvolvimento global que,
além dos aspectos do desenvolvimento ambiental, também abrange outras
formas de desenvolvimento como o econômico, social, humano e tecnológico.
316

Esse termo também envolve a sustentabilidade ambiental, econômica e


sociopolítica.
Na perspectiva da sustentabilidade, o planeta Terra é percebido como
um local frágil e vulnerável à ação humana, e a sua conservação é indispensável
para a manutenção da vida humana e da sua diversidade biológica. Por conta
disso, o planeta necessita ser cuidado e respeitado pelos humanos que habitam
nele. Assim, deve haver um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico,
equidade social e a proteção do meio ambiente. Medidas como redução do
consumo, aumento da reutilização e da reciclagem de produtos fabricados,
permitem que se explorem menos matérias-primas, pelo que este
comportamento deve ser inserido em atividades comerciais e sociais
amparadas pelo senso comum, e pela normatividade jurídica (MAGALHÃES et
al., 2003).
Dando sequência cronológica aos eventos ambientais, no ano de 1992
aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio-92 ou Eco-92), realizada na cidade do Rio de
Janeiro/Brasil, na qual foi reconhecida a necessidade de conciliar o
desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza.
Na mesma ocasião, durante a Cúpula da Terra, foi adotada a Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC – United Nations
Framework Convention on Climate Change) entrando em vigor no dia 21 de
março de 1994, sendo ratificada por 196 Estados, que constituíram as “Partes”
para a Convenção (MARENGO; SOARES, 2003; OPAS, 2009; BRASIL, 2019; ONU,
2015).
Embora a década de 1990 tenha sido um período de grandes avanços
na discussão ambiental em escala global, nos anos 1980 já se repercutia
globalmente a preocupação com aspectos climáticos.
De acordo com Marengo e Soares (2003, p. 1-2), durante a década de
1980 houve um crescente interesse científico e social pelas evidências
científicas encontradas sobre a possibilidade de mudança de clima mundial
(MARENGO; SOARES 2003, p. 1-2). Em 1988, foi estabelecido o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC / Intergovernmental
Panel on Climate Change”), apoiado pela Organização Meteorológica Mundial
(OMM/ WMO, “Word Meteorological Organization”) e pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA /UNEP, “United Nations
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 317

Environmental Program”). O IPCC “avaliou o conhecimento existente no


mundo sobre a mudança climática global”, tendo por missão “avaliar a
informação científica, técnica e socioeconômica relevante para entender os
riscos induzidos pela mudança climática na população humana”, visto que o
“aumento nas concentrações de gases de efeito estufa (dióxido de carbono,
vapor de água, nitrogênio, oxigênio, monóxido de carbono, metano, óxido
nitroso, óxido nítrico e ozônio entre outros) tende a reduzir a eficiência com
que a Terra se resfria” (MARENGO; SOARES 2003, p. 1-2).
Ainda segundo Marengo e Soares (2003, p. 2):

Esta tarefa é abordada com a participação de muitos


pesquisadores nas áreas de clima, meteorologia,
hidrometeorologia, biologia e ciências afins, que se reúnem e
discutem as evidências científicas e resultados de modelos, com a
meta de chegar a um consenso sobre tendências mais recentes
em mudança de clima. Como resultado destas interações que
tomam de 2 a 3 anos, os três Grupos de Trabalho (GT) que formam
parte da estrutura científica do IPCC produziram relatórios
intitulados: “As Bases Científicas” do GT1, “Impactos, Adaptação e
Vulnerabilidade” do GT2, e “Mitigação” do GT3, onde cada GT
produz um relatório impresso contendo entre 700 a 900 páginas
de informação condensada. (MARENGO; SOARES 2003, p. 2).

Sendo assim, Marengo e Soares (2003) aduzem que há certa


preocupação climática por parte de vários pesquisadores de diversas áreas
científicas, denotando um consenso entre eles.

POLÍTICAS AMBIENTAIS vs. POLÍTICAS DE SAÚDE NA TRANSIÇÃO ENTRE OS


SÉCULOS XX E XXI

As preocupações climáticas foram acompanhadas por discussões no


âmbito da saúde coletiva. No ano de 1990, o IPCC – Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas62 – publicou seu Primeiro Relatório Científico (FAR),
beneficiando as pesquisas sobre mudanças de clima e colaborando com a

62
O IPCC trata-se de uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito das Nações
Unidas pela iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização
Meteorológica Mundial. Vide o sítio: https://www.ipcc.ch/.
318

interação entre cientistas de diferentes partes do mundo. No mesmo ano, a


Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou o primeiro informe sobre
mudança climática e saúde (MARENGO; SOARES, 2003; OPAS, 2009).
O Segundo Relatório Científico (SAR) do IPCC sobre Mudanças
Climáticas foi publicado em 1995. No mesmo ano, a Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), em reunião com a Academia Nacional de Ciências
dos Estados Unidos, durante a Conferência sobre as Mudanças Climáticas e
Saúde Humana, ocorrida em Washington, nos Estados Unidos, apresentou o
tema para debate. A partir de estudos e evidências científicas tem-se
comprovado os efeitos das alterações climáticas sobre a saúde necessitando
de consciência e preparação para enfrentar as ameaças e os efeitos que
surgirem dessas alterações. Além disso, as evidências comprovam que a maior
parte do aquecimento registrado nos últimos cinquenta anos decorre das
atividades humanas (MARENGO; SOARES, 2003; OPAS, 2009).
Dentro da perspectiva ambiental, a mudança do clima atrelada ao
aquecimento global ocupa uma relevância na Agenda Internacional dos
Estados (LIMA, 2012).
Os relatórios climáticos do IPCC apresentaram uma relevância política
inquestionável, os quais forneceram as bases técnicas para a adoção do
Protocolo de Quioto (Japão), em 1997. Esse protocolo foi considerado um
tratado complementar à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, e definiu metas de redução de emissões de gases de efeito
estufa (GEE) para os países desenvolvidos. O Protocolo só entrou em vigor no
ano de 2005, após o acordo firmado, por pelo menos 55% dos países-membros
da Convenção e que fossem responsáveis por, no mínimo 55% do total das
emissões desses gases até 1990. No primeiro período de compromisso, entre
2008-2012, a Comunidade Europeia, juntamente com 37 países
industrializados assumiu o acordo de reduzir as emissões de gases de efeito
estufa para uma média de 5% em relação aos níveis de 1990. No segundo
período de compromisso, entre 2013-2020, houve um comprometimento na
redução de pelo menos 18% abaixo dos níveis de 1990 (BRASIL, 1997).
Na 61ª Assembleia Mundial de Saúde, realizada em Genebra, na Suíça,
em 2008, foi alertado sobre os efeitos das alterações climáticas na saúde
humana, chamando a atenção para as áreas de maior vulnerabilidade
econômica. Foi constatado que:
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 319

As recentes conclusões do Painel Intergovernamental sobre as


Mudanças Climáticas, que afirma que já estão sendo observados
os efeitos do aumento da temperatura sobre alguns aspectos da
saúde humana e a existência do efeito negativo global da
mudança climática projetado sobre a saúde humana,
especialmente nos países em desenvolvimento, pequenas ilhas e
comunidades locais mais vulneráveis que não tenham um mínimo
de capacidade para se preparar e se adaptar a essas mudanças e
que a exposição à mudança climática prevista poderia afetar o
estado de saúde de milhões de pessoas, com o aumento da
desnutrição, ferimentos e morte devido a condições
meteorológicas extremas, aumento da carga de doenças
diarreicas, da frequência de doenças cardiorrespiratórias e
alteração da distribuição de vetores de algumas doenças
infecciosas. (OPAS, 2019, p. 10).

Diante disso, foi considerada no 48º Conselho Diretor da OPAS, ocorrido


em setembro de 2008, em Washington, a aprovação, pelos países-membros,
do Plano Regional de Ação para Proteger a Saúde frente às Mudanças
Climáticas. Os objetivos do plano consistem em garantir “que as preocupações
sobre o tema de saúde pública sejam o eixo central da resposta às mudanças
climáticas”, devendo haver a garantia de capacitação e o fortalecimento do
sistema de saúde do nível local ao nível global como intuito de proteger a saúde
humana dos riscos e minimizar os impactos na saúde decorrentes de mudanças
climáticas (OPAS, 2019, p. 11).
Entretanto, apesar da adoção do Protocolo de Quioto, ainda vigente
nesse período, os relatórios do IPCC constatavam um aumento significativo na
temperatura global, elevando o prejuízo ambiental. Nesse canário, foi realizada
a 15ª Conferência Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
(COP15), na cidade de Copenhague, em dezembro de 2009. Esse evento teve
uma importância pela comprovação da ação antrópica no processo de
mudança climática, havendo a necessidade da adoção de novos acordos e
metas de redução significativas para os países desenvolvidos, e acordos não
obrigatórios de redução de emissões para os países em desenvolvimento
(BICHARA; LIMA, 2012).
No ano de 2015 aconteceu em Paris (França) a 21ª Conferência das
Partes (COP-21) da UNFCCC, e a 11ª Reunião das Partes no Protocolo de Quioto
320

(MOP-11). Nesse evento foi assinado um acordo para sustentar o aumento da


temperatura média global em bem menos de 2 °C acima dos níveis pré-
industriais, sendo necessário a busca de esforços para conter o aumento da
temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Além das metas
vinculativas de emissão climática, também foi buscado o fortalecimento de
ações globais diante das ameaças da mudança climática, assim como promover
o aumento da capacidade dos países diante das consequências dessas
mudanças (BRASIL, 1997).
Atualmente, as mudanças climáticas são identificadas como uma
grande ameaça à saúde humana no mundo, apresentando um impacto
negativo no suprimento de alimentos, na qualidade do ar e da água, no clima,
na economia, entre outros. Isso vem alertando a OMS a trazer esse tema para
a pauta das suas discussões, com o intuito de envolver os profissionais de saúde
para se posicionarem nas negociações climáticas. A organização também
espera que esses profissionais analisem o impacto climático no processo do
adoecimento e cooperem com medidas que contribuam para a redução nas
emissões de gases de efeito estufa entre a população assistida. Visto que a
saúde humana é altamente impactada pelas mudanças climáticas, existe uma
esperança de que a OMS possa guiar as negociações climáticas através de
medidas sistemáticas e orientadas por políticas intersetoriais (ROCKLÖV;
QUAM, 2015; COSTA et al., 2017).

CENÁRIOS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Um dos principais aspectos analisados e corroborados pelo IPCC foi a


identificação da influência humana na mudança climática global. Foi
demonstrado que as variações climáticas ocorrem em respostas aos estímulos
provocados por ações antropogênicas em combinação com as forçantes
naturais. Há pouca possibilidade na variabilidade interna do clima de produzir
variações de considerável magnitude a longo prazo sem forçantes externas
(MARENGO; SOARES, 2003).
Os últimos estudos do órgão apontam para a velocidade das mudanças
climáticas que estão acontecendo, principalmente nos polos, provocando o
derretimento das geleiras e o aumento considerável do nível do mar em apenas
um século. Pesquisas apontam que mesmo havendo uma redução significativa
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 321

das emissões de GEE nos curto e médio prazos, o que seria improvável, os
efeitos do aquecimento global seriam percebidos por décadas, devido ao
acúmulo desses gases na atmosfera provenientes de emissões passadas
(MARTINS; FERREIRA, 2011).
No ano de 1996 foi publicado um conjunto de cenários de emissão com
base para as projeções climáticas do SAR (Second Assessment Report), nos
quais as projeções da mudança climática ocorreriam em decorrência de causas
antropogênicas dependentes das emissões de gases de efeito estufa e
aerossóis e da proporção de emissões remanescentes na atmosfera. Este
cenário foi denominado IS92 (MARENGO; SOARES, 2003).
As projeções de futuras mudanças climáticas para o século XXI pelo TAR
(Third Assessment Report) do IPCC foram realizadas através de modelos
climáticos que avaliaram as consequências de futuros cenários de forçantes
climáticas (gases de efeito estufa e aerossóis). Todavia, os modelos eram
passíveis de erros, pois se tratava de aproximações de um sistema muito
complexo de análise (MARENGO; SOARES, 2003).
No âmbito do TAR, os modelos utilizados nas simulações do IPCC
derivaram de alguns grupos de estudos, a saber: Max Planck Institute für
Meteorologie, da Alemanha (ECHAM4/OPYC3); Hadley Centre for Climate
Prediction and Research, da Inglaterra (HadCM3); Australia's Commonwealth
Scientific and Industrial Research Organization, da Australia (CSIRO-Mk2);
National Centre for Atmospheric Research, dos EUA (NCAR-PDM e NCARDOE);
Canadian Center for Climate Modelling and Analysis, do Canadá (CCCMA)
(MARENGO; SOARES, 2003).
Os cenários climáticos do IPCC (2001) foram definidos pelo Special
Report on Emissions Scenários (SRES), os quais foram baseados nas quatro
projeções de diferentes emissões de gases de efeito estufa e aerossóis (Quadro
1), analisados sob a relação de combinação entre as forçantes controladoras,
como a demografia, desenvolvimento socioeconômico e mudança na
tecnologia. Essas projeções foram realizadas em três “time-slices” (fatias de
tempo), sendo 2020, 2050 e 2080 (MARENGO; SOARES, 2003).
322

Quadro 1 – Cenários do SRES, IPCC


Cenários Descrição dos cenários
A1 Mundo futuro com a globalização dominante. Crescimento econômico rápido
e crescimento populacional pequeno com desenvolvimento acelerado de
tecnologias mais eficientes. Existência de uma convergência econômica e
cultural, com redução significativa em diferenças regionais e renda per capta.
Neste mundo, os indivíduos procuram riqueza pessoal em lugar de qualidade
ambiental. Há três cenários: A1B (estabilização), A1F1 (máximo uso de
combustível fóssil) e A1T (mínimo uso de combustível fóssil).
A2 Mundo futuro muito heterogêneo com a regionalização dominante, com
fortalecimento de identidades culturais regionais. Ênfase em valores da família
e tradições locais, com crescimento populacional alto, e menos preocupação
em relação ao desenvolvimento econômico rápido.
B1 Mundo com uma rápida mudança na estrutura econômica, ocorrendo uma
introdução de tecnologias limpas. Ênfase em soluções globais, na
sustentabilidade ambiental e social. Esforços combinados para o
desenvolvimento de tecnologia rápida.
B2 Mundo com ênfase em soluções locais, com sustentabilidade econômica,
social e ambiental. A mudança tecnológica é diversa com ênfase nas iniciativas
comunitárias e inovação social, em lugar de soluções globais.
Fonte: Marengo e Soares (2003, p. 11, adaptado pelos autores).

Cada cenário com suas características, níveis de concentrações de gases


de efeito estufa (C02, N20 e CH4, SO2), e suas variações durante o período de
1990 até 2100, estão descritos a seguir, na Figura 1.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 323

Figura 1. Emissões antropogênicas (CO2, N2O, CH4 e SO2) para os seis cenários ilustrativos SRES:
A1B, A2, B1, B2, A1F1 e A1T, e o cenário IS92a

Fonte: IPCC (2001b apud MARENGO; SOARES, 2003).

Figura 2. Projeção do aquecimento global da superfície em °C, no período de 1900 até 2100

Fonte: Riemann-Campe (2001).


324

A Figura 2 mostra uma projeção da variação da temperatura média


global para o ano de 2100 em cada cenário apresentado. No cenário A1 (1.4-
6.4 °C); A2 (2.0-5.4 °C); B1 (1.1-2.9 °C); B2 (1.4-3.8 °C). Percebe-se o aumento
da temperatura em todos os cenários demonstrados.

ADAPTAÇÕES DAS CIDADES PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Ao analisar a distribuição percentual dos GEE, percebe-se que


aproximadamente 70% das emissões são atribuídas às atividades urbanas
como: energia (26%), indústria (19%), transportes (13%) e construção (8%).
Atrelado a isso, as características da urbanização moderna, como o
crescimento acelerado e a concentração de pessoas, tornam os grandes
centros urbanos as maiores fontes de causas antrópicas das mudanças
climáticas e, ao mesmo tempo, as áreas mais vulneráveis aos efeitos dessas
mudanças (BRAGA, 2012). Cerca de 80% dos centros urbanos estão localizados
na costa ou próximos a rios, tornando-os vulneráveis ao aumento da incidência
de tempestades, de cheias e, em particular, da elevação do nível do mar
(MARTINS; FERREIRA, 2011).
Dessa forma, as mudanças climáticas previstas podem trazer grandes
prejuízos sociais e econômicos para as grandes cidades, os quais envolvem a
crescente incidência de desastres naturais, inundações e deslizamento de
terra; um possível aumento da incidência de doenças infecciosas ligadas à
água; aumento no número mortes decorrentes de ondas de calor, que estão
relacionadas a doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias,
principalmente em idosos e pessoas em grupos de risco, assim como o
aumento da incidência de rinite alérgica e asma devido à poluição existente
(BRAGA, 2012; NOBRE; YOUNG, 2011).
Segundo Marques (2014 apud ESPINDOLA; RIBEIRO, 2020), as cidades
sofrerão cada vez mais os impactos das consequências do efeito estufa, a
ocorrência das chuvas ácidas, redução de ambientes naturais, a crescente
destruição do ozônio atmosférico, a erosão e a eliminação de fontes de água
doce. Nesse sentido, os grandes centros urbanos, tornam-se peças
fundamentais para a implementação de políticas públicas direcionadas para a
problemática ambiental das alterações climáticas.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 325

Assim, as cidades devem se preparar para condições adversas do clima


e investir mais em infraestruturas urbanas. No âmbito político, é fundamental
que os municípios elaborem seus planos municipais para adaptação às
mudanças climáticas.
Atualmente, a comunidade científica e alguns países do hemisfério
Norte têm adotado o conceito de Nature-based Solutions, o qual preconiza o
uso da própria natureza na infraestrutura urbana. Esse conceito é pautado no
aumento da infraestrutura verde dos municípios, a qual presta uma série de
serviços ecossistêmicos como regulação do clima, manutenção da
biodiversidade, ornamentação e espaço de lazer (SEDDON et al., 2020).
Atrelada à infraestrutura verde, alguns paisagistas têm discutido a aplicação da
infraestrutura azul nas cidades, a qual conta com a ampliação de parques
lineares e conservação de áreas naturais com grande número de nascentes.
Esta discussão ainda se apresenta de forma “embrionária” nas gestões
municipais, porém, se faz necessária como forma de adaptar as cidades a
futuros cenários de mudanças climáticas (FUNG; JIM, 2020).
De um modo geral, as ações de mitigação foram mais contempladas nas
esferas políticas e científicas e apenas na última década as ações de adaptação
urbana foram percebidas como uma forma efetiva de lidar com os impactos da
mudança climática no futuro. Todavia, apesar de diferenças conceituais e nas
escalas de ação, a mitigação e adaptação são vistas como políticas
complementares, conforme a Figura 3 (MARTINS; FERREIRA, 2011).

Figura 3. Esquema da problematização das mudanças climáticas em termos de causas e


consequências
Antrópicas:
Desmatamento
Agropecuária Intensiva
Mudança no uso do solo
Medidas de mitigação • Aumento da
Decomposição de resíduos urbanos temperatura
Etc...
média do ar

• Maior recorrência
de extremos
Mudanças climáticos
Causas climáticas Consequências
• Elevação do nível
do mar

• Problemas
socioeconômicos
Naturais:
Queimadas Naturais Medidas de adaptação • Etc...
Atividades vulcânicas
Etc...

Fonte: Adaptação de Dias (2020).


326

As ações de mitigação em áreas urbanas estão relacionadas a atividades


que possuem baixa emissão de GEE, como: uso de energias renováveis; uso de
bicicleta e transporte público; uso de técnicas de climatização natural, redução
da produção de resíduos, utilização de materiais reciclados, melhoria da
eficiência energética de sistemas urbanos, entre tantas outras, como as ações
de arborização urbana (MARTINS; FERREIRA, 2011).
Políticas de meio ambiente no âmbito municipal e planos de arborização
são fundamentais na amenização climática e busca de equidade ao uso do
espaço verde nas cidades.
O mapeamento das áreas verdes urbanas e o seu uso adequado se faz
necessário na democratização do território urbano. Os espaços verdes são
conhecidos pela sua alta capacidade de melhorar aspectos da saúde física e
mental da população (MCKINNEY; VERBERKMOES, 2020; VENTER et al., 2020).
Assim, conhecer os padrões e processos ecológicos inerentes aos espaços
verdes se faz necessário na gestão de parques e florestas urbanas, as quais
podem ser ótimas ferramentas no sequestro de gases de efeito estufa e na boa
qualidade de vida da população (VALENTE et al., 2020).
Em geral, as medidas adaptativas têm como foco de atenção os eventos
naturais como ondas de calor, tempestades, inundações e ciclones. Suas ações
podem ocorrem de forma autônoma (individual) ou de forma planejada,
ressaltando-se o papel do Estado. Nas cidades, medidas de adaptação devem
ser planejadas e devem contar com a atuação do poder público, que deverá
realizar seu planejamento baseado nas mudanças presentes e nas projeções
futuras (MARTINS; FERREIRA, 2011).
Assim, entende-se que o poder público desempenha um papel
fundamental na adoção de políticas de mitigação e adaptação. Devendo,
segundo Martins e Ferreira (2011), os gestores se responsabilizarem por:
1. Financiamento: responsabilidade com a gestão orçamento municipal
de taxas e impostos arrecadados.
2. Obras públicas: implantação e manutenção do espaço público.
3. Energia e gás: se responsabilizar pela gestão e distribuição de
eletricidade e gás.
4. Desenvolvimento local: garantir o planejamento urbano, realizar o
zoneamento urbano, gerir o uso de praças de estacionamento em espaço
público, manter o registro de imóveis.
Ferramentas ambientais aplicadas ao planejamento de cidades sustentáveis - 327

5. Saúde e higiene pública: garantir a distribuição de água potável,


realizar o controle da poluição atmosférica e ambiental de ambientes públicos,
promover a coleta seletiva e tratamento de resíduos sólidos e garantir serviços
médicos e ambulatoriais.
6. Políticas sociais: adoção de políticas habitacionais, garantia de escolas
e creches públicas e envolvimento com atividades sociais que envolvam a
participação de jovens, idosos, etc.
7. Defesa civil e atendimento emergencial: capacidade de resposta
oportuna durante desastres ambientais e incêndios. Garantia de serviços de
ambulância e resgate.
8. Administração pública e recursos humanos: realizar com
responsabilidade a gestão de recursos humanos no serviço público.
Além dessas medidas, segundo a OPAS (2009), percebe-se a
necessidade de políticas públicas que modifiquem os condicionantes
estruturais da vulnerabilidade da população aos impactos do clima na saúde,
como:
1. Construção de habitações fora de áreas de risco (encostas de morros
e baixadas).
2. Melhora na infraestrutura básica de saneamento.
3. Combate efetivo à violência social.
4. Medidas de vigilância e controle na circulação de forma endêmico-
epidêmica, de patógenos cuja transmissão é influenciada pelo clima.
5. Desenvolvimento, aperfeiçoamento e avaliação da eficácia de
sistemas de alerta precoce contra eventos climáticos extremos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas públicas ambientais ao longo do século XX apresentam um


caráter mais expressivo após a década de 1950. A partir dos anos 1980,
percebe-se uma clara preocupação com aspectos ambientais em escala
planetária, pela própria percepção das alterações climáticas, principalmente
em decorrência da escassez de matéria-prima para o padrão de consumo que
se apresentava na ocasião, bem como o aumento de áreas desertificadas e
consequente perda de biodiversidade existente.
328

Atrelada às políticas ambientais, as políticas de saúde pública ganham


reforços e se entrelaçam em uma discussão única e global, a qual gera
diretrizes eficientes para os municípios de diversos países. A Declaração de
Xangai sobre Promoção de Saúde representa um marco histórico na junção de
políticas ambientais e de saúde.
Porém, na perspectiva climática, os esforços devem ser coletivos.
Modelos climáticos em escala planetária preconizam cenários que podem ser
desastrosos até o final do século XXI. Para isso, cidades de diferentes partes do
mundo devem se adaptar e criar mecanismos de ações e políticas específicas
para o enfrentamento da questão climática. Dentre tais ações, replanejar o
meio ambiente urbano a partir de infraestruturas verde e azul pode ser uma
alternativa eficiente para cunhar um futuro digno à população.
Por fim, sugere-se que municípios adotem o conceito de Nature-based
Solution para redesenhar as cidades e organizar o crescimento da zona urbana,
como um todo.

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