Você está na página 1de 64

Compêndio de resenhas

de artigos científicos

Autores: equipe NUTRAFIS


Compêndio de Resenhas de Artigos Científicos
Elaborado pela equipe NUTRAFIS

i
ii
Autores das resenhas:

Alessandra Rischiteli Bragança Silva


Nutricionista e Fonoaudióloga. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da
UNICAMP e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Escola Paulista de Medicina
(EPM)-UNIFESP. Aprimoranda em Cuidados Paliativos pela Casa do Cuidar.
Amanda Paula Pedroso
Bióloga. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Estagiou na
Universidade do Colorado (USA). Desenvolve pesquisa em regulação da ingestão alimentar,
proteômica e metabolômica.
Ana Claudia Losinskas Hachul
Nutricionista. Especialista em Nutrição Clínica e Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pelo
GANEP. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Co-orientadora
de mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP.
Danielle da Silva Dias
Profissional de Educação Física. Doutora e Pós-doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências
da Reabilitação da Universidade Nove de Julho. Estagiou no Hypertension and Vascular Research
Center, Carolina do Norte (USA) e no Institute of Cardiovascular Sciences, Universidade de Manitoba
(Canadá). Realiza Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Translacional da
EPM-UNIFESP.
Erika Emy Nishi
Biomédica. Doutora e Pós-doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da EPM-
UNIFESP. Professora Afiliada do Departamento de Fisiologia e orientadora do Programa de Pós-
Graduação em Farmacologia da EPM-UNIFESP.
Fernanda Pinheiro da Silva
Nutricionista. Especialista pelo Programa de Residência Multidisciplinar em Saúde, área do
Envelhecimento, UNIFESP. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-
UNIFESP.

iii
Isy Faria de Sousa
Nutricionista. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Estagiou na
Università degli Studi di Salerno (Itália). Coordenou a criação da política de alimentação da UNIFESP.
Laís Vales Mennitti
Nutricionista. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde da
UNIFESP. Realizou estágio na Universidade de Cambridge (Reino Unido). Recebeu “I Prêmio Ciência
nos Primeiros 1000 Dias” da Danone Early Life Nutrition. Professora afiliada do Departamento de
Biociências da UNIFESP - Campus Baixada Santista.
Nelson Inácio Pinto Neto
Nutricionista. Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Estagiou na
Università degli Studi di Roma la Sapienza (Itália). Recebeu prêmio CAPES de tese em 2019. Co-
orientador de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Desenvolve
pesquisa em processo inflamatório no câncer e caquexia, e na Covid-19.
Regina Souza Aires
Biomédica. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Inovação Terapêutica da Universidade
Federal de Pernambuco. Realiza Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Farmacologia
da EPM-UNIFESP. Desenvolve pesquisas na área de doenças renais e cardiovasculares.
Valter Tadeu Boldarine
Biólogo. Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Estagiou na
Universidade de Worchester (Reino Unido). Desenvolve pesquisas em obesidade e regulação da
ingestão alimentar.

iv
Organizadores do Compêndio

Lila Missae Oyama


Professora Associada do Departamento de Fisiologia da Escola Paulista de Medicina (EPM)-
UNIFESP.
Mônica Marques Telles
Professora Adjunto do Departamento de Fisiologia da EPM-UNIFESP.
Paloma Korehisa Maza
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Microbiologia e Imunologia da EPM-UNIFESP.
Técnica Administrativa em Educação (cargo biólogo), Departamento de Fisiologia da EPM-
UNIFESP.
Valter Tadeu Boldarine
Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Técnico Administrativo em
Educação (cargo biólogo), Departamento de Fisiologia da EPM-UNIFESP.
Isy Faria de Sousa
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da EPM-UNIFESP. Técnico Administrativo
em Educação (cargo nutricionista), Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UNIFESP.

Equipe NUTRAFIS – coordenadora Claudia Maria Oller do Nascimento


Professora Titular do Departamento de Fisiologia da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP.

v
Bem-vindos ao universo NUTRAFIS! Convidamos vocês a lerem um conjunto de resenhas elaboradas
pela equipe NUTRAFIS ao longo de 2020. Neste compêndio, vocês encontrarão resenhas de artigos
científicos atuais sobre temas correlatos à Nutrição e Atividade Física. A equipe NUTRAFIS buscou
na literatura temas de relevada importância, que certamente contribuirão para a atualização dos
leitores. Esperamos que gostem!

Boa leitura!
Equipe NUTRAFIS

Instagram: nutrafis.unifesp
Site: nutrafisead.unifesp.br

vi
Índice:

-Tópico: Obesidade...............................................................................................................1

-Tópico: Exercício Físico......................................................................................................9

-Tópico: Envelhecimento....................................................................................................15

-Tópico: Programação Metabólica......................................................................................19

-Tópico: Câncer...................................................................................................................25

-Tópico: Nutracêuticos........................................................................................................28

-Tópico: Regulação da Homeostase Energética..................................................................34

-Tópico: Controle da Pressão Arterial.................................................................................41

-Tópico: Microbiota.............................................................................................................47

-Tópico: Temas Correlatos...................................................................................................52

vii
Tópico: Obesidade

1
Este estudo, publicado em 2020, trata-se de uma revisão com o objetivo de traçar um paralelo entre a
obesidade, associada ou não a comorbidades, e a patogenicidade da COVID-19, levando em conta uma série de
artigos originais previamente publicados sobre o tema, por meio de diversos parâmetros clínicos, e assim
discutindo possíveis mecanismos moleculares ligados a essas duas pandemias;
Uma das primeiras constatações clínicas feitas é de que há uma associação entre alto Índice de Massa
Corporal e a severidade do quadro de COVID-19. Com relação aos mecanismos moleculares envolvendo
obesidade e COVID-19, foi mostrado que o tecido adiposo contém diversos componentes para a entrada e saída
do SARS-CoV-2 das células (como a protease transmembrana humana serina 2 e a enzima conversora de
angiotensina 2), os quais também estão bastante envolvidos nas respostas imunes.
Os adipócitos tornam-se importantes reservatórios do vírus, e podem agir como um acelerador do
processo inflamatório, representando complicações severas da COVID-19, já que por si só iniciam uma
produção descontrolada de citocinas pró-inflamatórias (processo chamado de tempestade de citocinas), o que é
exacerbado pela produção já alta consequente do tecido adiposo aumentado.
Quanto às comorbidades associadas à obesidade, observou-se que a presença de diabetes tipo 2 pode
influenciar a carga viral e causar disfunção alveolar (através do aumento de proteínas que servem como
receptores do vírus, especialmente nos pulmões), alterar a resposta imune (acelerando a resposta inflamatória),
além de causar disfunção endotelial e de coagulação (através da elevada produção de espécies reativas de
oxigênio e um estado de hipercoagulação bastante comum em pacientes diabéticos).
A hipertensão, outra comorbidade associada à obesidade, também mostrou interferência na
patogenicidade da COVID-19, especialmente pelo fato de que a expansão do tecido adiposo que recobre as
artérias pulmonares, quando em combinação com a inflamação sistêmica e a resistência insulínica, contribui
para a gênese da hipertensão arterial pulmonar, levando a uma possível piora do quadro clínico geral.
Em resumo, concluiu-se que indivíduos obesos são bastante suscetíveis à infeccção pelo SARS-CoV-2
e a quadros clínicos mais severos em detrimento da doença. Por causa da importância que a resposta imune
apresenta nesses quadros, sugere-se que terapias utilizando citocinas anti-inflamatórias podem gerar benefícios
no tratamento agudo da COVID-19.

Artigo disponível em: https://www.mdpi.com/1422-0067/21/16/5793

2
Este artigo é uma revisão acerca dos carotenoides. Estes são precursores da vitamina A, tendo como
principal provitamina o β-caroteno, o qual age por meio da enzima BCO1 (β-caroteno-15, 15’ oxygenase),
formando o retinaldeído (Rald).
Os carotenoides têm ação de inibição do processo de diferenciação de adipócitos, capacidade dos
adipócitos para armazenamento de gordura e metabolismo oxidativo/termogênese e perfil secretor e
inflamatório do tecido adiposo.
Além disso, os carotenoides, a vitamina A e seus derivados podem, dentro dos adipócitos maduros
regular o metabolismo (capacidade relativa de armazenamento de gordura e oxidação), combater o estresse
oxidativo e produzir mediadores anti-inflamatórios.
Estas características são de especial relevância em relação à obesidade, uma vez que a obesidade implica
no desenvolvimento de adipócitos hipertróficos - em que o estresse oxidativo é exacerbado - e na inflamação
do tecido adiposo.

O tecido adiposo na obesidade pode gerar estresse oxidativo e os carotenoides podem estar reduzidos
em resposta ao estresse. Esta última explicação poderia justificar a diminuição dos níveis de carotenoides em
ambos o sangue e o tecido adiposo na obesidade.
Existem, aproximadamente, 600 carotenoides encontrados na natureza, os quais são constituídos por
dois grandes grupos, denominados carotenos, que consistem em hidrocarbonetos puros; e xantofilas,
hidrocarbonetos que possuem grupos funcionais oxigenados. Desses, 40 podem ser encontrados nos alimentos
(em frutas, legumes e verduras como o espinafre, a cenoura e o tomate) e, como resultado de uma absorção
seletiva do trato gastrintestinal, apenas 14 carotenoides são biodisponíveis. Entre esses se encontram o beta-
caroteno, o alfa-caroteno, a luteína, a zeaxantina, o licopeno, a beta-criptoxantina, a fucoxantina, a astaxantina,
a crocetina, a capsantina e o fitoeno.

Artigo disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0003986115000843?via%3Dihub

3
As células do sistema imune adaptativo interagem com macrófagos do tecido adiposo para modificar
seu estado de ativação: polarização M1 ou M2. No tecido adiposo magro (lean), linfócitos T (Th2 e T reg) e
eosinófilos promovem a polarização de macrófagos M2, que mantêm um estado anti-inflamatório. Na obesidade
e diabetes tipo 2 (T2DM), o tecido adiposo é caracterizado por um aumento de macrófagos e linfócitos T que
induzem alteração para o estado pró-inflamatório (polarização de macrófagos M1).
Na obesidade, o desequilíbrio entre as células do sistema imunológico resulta na produção de
quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias, que promovem inflamação sistêmica e resistência à insulina.
Comparado com o fenótipo dos MHO (saudáveis), o tecido adiposo visceral dos MUO (não saudáveis)
é caracterizado por uma maior ativação do inflamassoma NLRP3 em macrófagos e uma diminuição do número
de linfócitos T reguladores anti-inflamatórios. Este desequilíbrio no perfil inflamatório pode explicar porque
obesos metabolicamente saudáveis têm menor risco de desenvolver diabetes melito tipo 2 (T2DM), doença
hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) e doenças cardiovasculares. Os gatilhos que determinam a ativação
diferencial do inflamassoma não foram identificados ainda. Possíveis candidatos são: ácidos graxos, glicose e
ácido úrico.

Artigo disponível em: https://orbi.uliege.be/handle/2268/168482

4
O aumento da massa do tecido adiposo (TA), característico do processo obesogênico, é uma das
principais forças motrizes da resistência à insulina e da patogênese de Diabetes Mellitus tipo 2 e Síndrome
Metabólica. Histologicamente, há 3 tipos principais de TA: tecido adiposo branco (WAT, 95% da massa
adiposa), tecido adiposo marrom (BAT, 1-2% do TA) e tecido adiposo bege (difícil de quantificar, representa
células intercaladas no WAT capazes de se transformar em adipócitos parecidos com o marrom após exposição
ao frio ou estimulação adrenérgica).
Evidências indicam que os adipócitos, mesmo em uma única camada de gordura, são genética e
metabolicamente heterogêneos. Adipócitos brancos, marrons e beges exibem heterogeneidade intrínseca. Além
de armazenar energia, os TAs são órgãos endócrinos que secretam diversos fatores com propriedades
hormonais, autócrinas e parácrinas (ex.: FGF21, BMPs, TGF-β e VEGF) e fatores de diferenciação.
A inflamação no TA é característica da obesidade e é marcada pela secreção de múltiplas citocinas e
infiltração por macrófagos e leucócitos. miRNAs têm importante papel na diferenciação e função de BAT, bege
e WAT. A expressão de miRNA no TA difere entre humanos obesos e magros, e os níveis desses miRNAs se
correlacionam de forma variável com IMC, glicemia e resistência à insulina.
Há evidências crescentes de que o TA é a principal fonte de miRNAs circulantes e que miRNAs
secretados por adipócitos, especialmente em exossomos, podem participar da comunicação entre tecidos e servir
como novos hormônios adiposos. Uma vez que o TA é um dos principais contribuintes para os miRNAs
exossômicos circulantes, observou-se que miRNAs circulantes estão alterados em indivíduos com obesidade,
lipodistrofia, DM2 e síndrome metabólica, e podem contribuir para a resistência à insulina nessas doenças.
Este artigo demonstra que compreender a heterogeneidade dos TAs é uma oportunidade única de
desenvolver drogas que podem modificar sua distribuição e alterá-lo de um subtipo metabolicamente deletério
para um subtipo metabolicamente mais saudável.

Artigo disponível em: https://www.jci.org/articles/view/129187

5
O estudo foi realizado com 20 indivíduos alocados em dois grupos (dieta com alimentos in natura ou
minimamente processados e dieta com alimentos ultraprocessados) de maneira randomizada cruzada, isto é, um
mesmo indivíduo recebeu os dois tratamentos em momentos diferentes, servindo como seu próprio controle.
Cada dieta foi consumida por um período de duas semanas. As dietas tinham a mesma quantidade de calorias,
densidade energética, macronutrientes, açúcares, sódio e fibras.
Os participantes do estudo foram internados no Metabolic Clinical Research Unit (MCRU) - NIH
Clinical Center (Bethesda, Maryland – USA) para melhor controle e avaliação dos tratamentos. Ao final do
estudo, os pesquisadores observaram que a dieta rica em alimentos ultraprocessados causou maior ingestão
energética diária (500 kcal/dia) em relação à dieta rica em alimentos in natura e minimamente processados e
aumento do peso corporal (+ 0,9 kg).
Durante o consumo da dieta rica em alimentos in natura e minimamente processados, os indivíduos
perderam em média 0,9 kg.
Concluindo, o estudo sugere que eliminar o consumo de alimentos ultraprocessados da dieta habitual
reduz a ingestão calórica e pode contribuir para a redução do peso corporal.

Artigo disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1550-4131(19)30248-7

6
Alimentar-se durante o trabalho se tornou uma prática comum nos últimos anos. A escassez de tempo
e o excesso de atribuições acabam por minar o período que dispomos para a realização das refeições.
Um trabalho realizado por pesquisadores da Auckland University of Technology, Nova Zelândia,
publicado na “Nutrients” em maio de 2019 avaliou se o consumo de alimentos durante a realização de tarefas
estressantes no computador, relacionadas ao trabalho, pode afetar a saciação e/ou a saciedade. Estudos anteriores
reportam que distrações durante o ato de comer, como assistir televisão, podem afetar a quantidade de calorias
consumida durante a refeição (saciação) e nas refeições subsequentes (saciedade).
Neste estudo clínico randomizado, 43 indivíduos saudáveis receberam a mesma refeição (pedaço de
pizza) em duas condições diferentes: durante a realização de tarefas no computador e em repouso.
O nível de estresse foi maior no grupo que realizava a tarefa enquanto se alimentava, no entanto não
houve diferença em relação ao consumo calórico em comparação com o grupo em repouso. Apesar disso, os
indivíduos que se alimentavam durante a realização de tarefas no computador apresentaram maior sensação de
fome após a refeição.
Estudos sugerem que indivíduos eutróficos seriam mais bem sucedidos no controle hedônico da
ingestão alimentar em situações de estresse em relação aos indivíduos com sobrepeso ou obesidade.

Artigo disponível em: https://doi.org/10.3390/nu11071545

7
Nesse estudo publicado em 2020 com 11.827 indivíduos adultos (entre 35 e 75 anos) de diferentes
cidades do Brasil (Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória e Porto Alegre), envolvidos no
Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), revelou-se que alimentos ultraprocessados (entre eles,
pão, doces, refrigerante, suco adoçado, carnes processadas, pizza, biscoitos, maionese, margarina e cream
cheese) representam em média 24,6% do consumo energético total diário dos participantes. Os autores também
apontaram maiores ganhos no peso corporal e na circunferência da cintura com o aumento da ingestão de
alimentos ultraprocessados.
Nessa pesquisa, os indivíduos foram acompanhados, em média, durante 3,8 anos e associações positivas
entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a incidência de sobrepeso/obesidade foram encontradas em
participantes que não apresentavam excesso de peso no início do estudo. Além disso, encontrou-se um aumento
de 20 a 30% no risco para maiores ganhos no peso corporal e na circunferência da cintura quando comparado o
quartil mais alto (30,84 a 73,84% do consumo energético total diário) com o quartil mais baixo (0 a 17,79% do
consumo energético total diário) de consumo de alimentos ultraprocessados.
Em resumo, os pesquisadores fornecem evidências prospectivas de que o consumo de alimentos
ultraprocessados poderia aumentar a adiposidade geral e central, bem como, a incidência de
sobrepeso/obesidade em indivíduos que não apresentavam essa condição no início do estudo. Sugere-se ainda
que políticas públicas voltadas para a redução do consumo de alimentos ultraprocessados podem ajudar a
reverter o aumento da obesidade no Brasil e em outros países.

Artigo disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31619309/

8
Tópico: Exercício Físico

9
Está bem estabelecido que a sobrecarga de frutose aumenta a inflamação e marcadores de estresse
oxidativo, que também contribuem para o aumento do risco cardiovascular.

Por outro lado, efeitos positivos do treinamento físico têm sido demonstrados na prevenção e tratamento
da hipertensão, resistência à insulina, diabetes mellitus (DM), dislipidemia, obesidade e síndrome metabólica.

Nesse estudo de Dias e colaboradores (2020), foi avaliado o impacto do treinamento físico combinado
(aeróbio + resistido) no desenvolvimento de complicações cardiovasculares e neuroimunes induzidas pelo
consumo de frutose (10% na água de beber) em ratos hipertensos (SHR).

Após o desmame, os SHR foram divididos em 3 grupos: SHR, SHR + frutose e SHR + frutose +
treinamento físico combinado (esteira + escada, 40-60% da capacidade máxima). Parâmetros metabólicos,
hemodinâmicos, autonômicos, inflamatórios e de estresse oxidativo foram avaliados nos tempos 7, 15, 30 e 60
dias de protocolo.

Os autores concluíram que o treinamento físico combinado realizado simultaneamente com o consumo
exacerbado de frutose preveniu a disfunção autonômica cardiovascular precoce, provavelmente desencadeando
mudanças positivas na inflamação e no estresse oxidativo, resultando em um melhor perfil cardiometabólico
em ratos geneticamente predispostos à hipertensão.

Artigo disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0233785

10
A microbiota intestinal humana é capaz de influenciar a fisiologia do hospedeiro regulando vários
processos, incluindo absorção de nutrientes, inflamação, estresse oxidativo, função imunológica e equilíbrio
anabólico. O envelhecimento está associado à redução da biodiversidade da microbiota, aumento da
variabilidade interindividual e super-representação de patobiontes (bactérias pró-inflamatórias presentes no
intestino em baixas concentrações) e esses fenômenos podem ter grande relevância para a massa e função do
músculo esquelético. Por essa razão, a presença de um eixo músculo-intestino regulando o início e a progressão
da fragilidade física e sarcopenia relacionadas à idade foi recentemente hipotetizada.
Nesta revisão de 2019, os autores apresentam estudos que poderiam sustentar uma possível associação
entre os parâmetros relacionados à microbiota intestinal com medidas de massa muscular, função muscular e
desempenho físico em modelos animais e humanos.
Os autores concluem que a presença de um eixo intestinal-músculo ativamente envolvido na
fisiopatologia da fragilidade física e sarcopenia é biologicamente plausível e é apoiada por um número limitado
de estudos em animais e humanos. A ligação causal permanece incerta devido à falta de estudos direcionados e
a influência de um grande número de covariáveis. A associação entre a composição da microbiota intestinal
humana e a massa muscular ainda não foi demonstrada. Em alguns estudos, foi demonstrada uma associação
entre a composição da microbiota e parâmetros de função muscular, enquanto uma associação entre microbiota
e fragilidade física parece provável.
A relação entre a microbiota intestinal e o desempenho físico no envelhecimento precisa de mais
investigação antes que possa influenciar razoavelmente a prática clínica. No entanto, a relação entre a microbiota
intestinal e a função física continua sendo uma área de pesquisa muito promissora para o futuro.

Artigo disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/11/7/1633

11
O sedentarismo é um dos principais fatores de risco para o aparecimento de doenças cardiometabólicas.
Alguns biomarcadores, como a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), têm sido amplamente estudados e
considerados envolvidos na gênese das disfunções associadas ao comportamento sedentário.
Num estudo de Zaffalon Júnior e colaboradores foram analisados os parâmetros hemodinâmicos,
autonômicos e de qualidade de vida em repouso e em resposta ao estresse mental (Stroop Color) de mulheres
jovens sedentárias e fisicamente ativas. Os grupos foram semelhantes em idade, peso, altura, índice de massa
corporal, percentual de gordura, valores de pressão arterial sistólica e diastólica e glicemia. O domínio saúde
física da qualidade de vida foi comprometido no grupo de mulheres sedentárias. Além disso, o grupo de
mulheres sedentárias apresentou maior frequência cardíaca, piora em parâmetros autonômicos e maior balanço
simpato-vagal cardíaco (representativo de prejuízo simpático cardíaco) tanto em repouso quanto em resposta ao
teste de estresse mental.
Os autores concluem que o estilo de vida sedentário em mulheres induz comprometimento da
modulação cardíaca autonômica em repouso e em resposta ao estresse fisiológico, comprometendo a qualidade
de vida, mesmo antes de alterar quaisquer parâmetros clínicos cardiovasculares ou metabólicos, reforçando o
papel potencial da variabilidade da frequência cardíaca como marcador precoce de risco cardiovascular nessa
população.

Artigo disponível em: https://physoc.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.14814/phy2.13873

12
Neste estudo de Farah e colaboradores, foi verificado o papel do treinamento físico aeróbio nas
disfunções cardiometabólicas em ratos submetidos à sobrecarga de frutose (10%).
A sobrecarga crônica de frutose induziu intolerância à glicose, aumento da massa do tecido adiposo
branco, bem como um prejuízo no índice de desempenho miocárdico e aumento da pressão arterial associado
ao aumento da modulação simpática cardíaca e vascular. A frutose também induziu alterações desfavoráveis no
perfil de estresse oxidativo e capacidade antioxidante total do coração.
O treinamento físico aeróbio promoveu redução do tecido adiposo branco, melhora na intolerância à
glicose, no índice de desempenho miocárdico, diminuiu a pressão arterial, modulação simpática e melhorou o
perfil oxidativo quando comparado ao grupo sedentário.
Os achados indicam que as disfunções cardiometabólicas induzidas pela sobrecarga de frutose no início
da vida podem ser prevenidas pelo treinamento aeróbico moderado.

Artigo disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0167291

13
Uma revisão de literatura, publicada em 2020 por Fuchs, Gonzalez e van Loon, no Journal of
Physiology, descreve que os carboidratos são importantes para melhorar o desempenho de atletas durante
períodos prolongados de exercícios de intensidade moderada a alta, bem como para a recuperação aguda pós-
exercício.
Além disso, a co-ingestão de frutose com glicose parece aumentar a capacidade total de absorver
carboidratos, além disso a frutose pode ser convertida no intestino e no fígado em glicose e lactato (Lac), sendo
uma fonte adicional de energia.
Por fim, a combinação da ingestão de glicose com frutose pode promover a melhora do desempenho de
atletas praticantes de exercício de resistência e aumentar a deposição de glicogênio.

Artigo disponível em: https://physoc.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1113/JP277116

14
Tópico: Envelhecimento

15
Muitos estudos indicam que o processo de autofagia diminui com a idade, e que isso está relacionado
ao desenvolvimento de doenças associadas ao envelhecimento, como as desordens neurodegenerativas.

Este artigo é uma revisão que apresenta evidências de que intervenções associadas ao aumento da
longevidade, como a restrição calórica e o exercício físico, podem estimular a autofagia.

Destacam-se entre os principais moduladores desse processo as vias de sinalização da proteína quinase
ativada por AMP (AMPK) e da proteína alvo da rapamicina (mTOR).

Artigo disponível em:https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/acel.12876

16
Neste artigo de revisão, publicado em fevereiro 2020, os pesquisadores descrevem como a atividade
física e a alimentação modulam o sistema imunológico durante o envelhecimento.
O processo de IMUNOSENESCÊNCIA nada mais é que uma remodelação do sistema imunológico que
acontece naturalmente durante o processo de envelhecimento, no qual ocorrem mudanças nos leucócitos e
declínio das várias funções celulares imunes. Assim, consequentemente os idosos são mais suscetíveis a
infecções, diminuição da eficácia de vacinas, aumento da prevalência de doenças autoimunes e câncer.
Fisiologicamente o sistema imunológico tem algumas estratégias adaptativas para lidar com o
envelhecimento. No entanto, se a atividade física não faz parte da rotina do idoso, se há diminuição da massa
muscular e se o estado nutricional é deficiente: temos um ambiente desadaptado! Tais fatores facilitam o
aumento da velocidade do processo de envelhecimento, da imunosenescência, da inflamação e de doenças.
Nesta revisão é discutida a relevância dos mecanismos de IMUNOPROTEÇÃO por meio de
ATIVIDADE FÍSICA (intervenções específicas de exercícios) e ALIMENTAÇÃO (estratégias nutricionais e
microbiota intestinal).

Artigo disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/12/3/622

17
Neste ensaio clínico randomizado, os autores avaliaram o efeito da suplementação de “whey protein”,
após exercício físico de resistência, sobre a massa muscular e a funcionalidade física em idosas saudáveis. O
estudo teve duração de 6 meses e a suplementação e o programa de exercício foram realizados 2 vezes por
semana.
Um grupo fez apenas o plano de exercício (EX); outro grupo apenas consumiu a suplementação (PRO)
e o terceiro grupo fez o plano de exercício associado à suplementação (EX + PRO). Plano de exercício:
exercícios de resistência utilizando o peso corporal e elásticos. Suplementação: 1 dose de 25 gramas de “whey
protein” com 92 kcal, 22,3 g de proteína (1225 mg de valina, 2975 mg de leucina e 1175 mg de isoleucina), 0,3
g de gordura, 0,1 g de carboidrato.
A ingestão proteica nos 3 grupos foi ajustada para um total de 1,2 g/kg/dia, sendo um pouco maior que
isso nos dias de suplementação (o grupo de exercício apenas teve a instrução de comer uma quantidade maior
de fontes proteicas no dia do exercício). Para avaliação da composição corporal foram feitas medidas do
percentual de gordura e da massa muscular dos membros superiores e inferiores, utilizando impedância
bioelétrica. Para a avaliação da função física os parâmetros avaliados foram: força de preensão palmar, força de
extensão do joelho e velocidade de marcha. As medidas foram realizadas nos momentos pré e pós período
experimental.
Os autores verificaram aumento do índice de massa muscular esquelética (SMI) maior no grupo
exercício comparado ao grupo proteína e ainda maior no grupo proteína mais exercício comparado com os dois
outros grupos. A força de preensão palmar e a velocidade de marcha foram superiores no grupo exercício mais
proteína comparado ao grupo proteína.
A ingestão de “whey protein” após exercícios de resistência foi efetiva para o aumento da massa e da
função muscular em idosas saudáveis japonesas, após 24 semanas de intervenção, sendo capaz de prevenir o
desenvolvimento de sarcopenia nesse grupo.

Artigo disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/ggi.13499

18
Tópico: Programação Metabólica

19
Hachul et al. (2018) publicaram estudo realizado em ratas Wistar (linhagem de ratos heterogêneos, que
"simulariam" a população brasileira), sem nenhuma doença induzida, que receberam extrato de chá verde com
dieta controle (uma dieta equilibrada) desde o primeiro dia da gestação até o final da lactação.
Os autores concluíram que o consumo materno de extrato de chá verde, equivalente a 1 xícara/chá/dia,
durante a gestação e a lactação, induziu um estado pró-inflamatório nas mães e nos filhotes com 28 dias (término
da lactação), mostrando que o consumo de extrato de chá verde durante a gestação e a lactação altera o
metabolismo das mães e da prole.
Vale lembrar que estudos realizados em animais não nos permitem extrapolar os resultados para
prescrições na prática clínica.

Artigo disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-018-20174-x.pdf

20
Estudo realizado em ratos Wistar por Hachul e colaboradores (2018) avaliou o efeito do consumo
materno de extrato de chá verde durante a gestação e lactação sobre o desenvolvimento metabólico da prole
adulta submetida a uma dieta hiperlipídica (HFD) por 10 semanas.
Os autores observaram que o consumo de HFD pela prole aumentou o ganho de massa corporal, a
concentração sérica de leptina e insulina, o HOMA-IR, a glicemia e a AUC no teste de tolerância oral à glicose
(TTOG) e a massa relativa dos tecidos adiposos, demonstrando que a HFD promoveu as alterações metabólicas
descritas na literatura.
Quando a mãe consumiu extrato de chá verde e a prole recebeu HFD houve redução no colesterol total,
nas citocinas inflamatórias e no p-NFκB-p50 no tecido adiposo gonadal (GON) e aumentou a concentração de
LPS e da glicemia basal no TTOG, demonstrando que o consumo materno de extrato de chá verde foi capaz de
desempenhar um papel protetor nas alterações deletérias derivadas da ingestão de HFD.
Os filhotes que consumiram dieta controle e suas mães receberam extrato de chá verde tiveram aumento
na concentração de HDL-colesterol, citocinas inflamatórias no GON e redução na concentração de IL-1beta no
GON, p-NFκB-p50 no tecido adiposo mesentérico, de LPS e na glicemia basal do TTOG, demonstrando que a
ingestão materna de extrato de chá verde nesse caso induziu um favorecimento para o estado pró-inflamatório.
Os autores concluíram que o consumo materno de extrato de chá́ verde foi capaz de alterar o
metabolismo da prole por promover alteração na programação metabólica.

Artigo disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0199969

21
Estudo com camundongos, realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, apontou que a
realização de corrida em esteira (aproximadamente 20 minutos, 5 dias por semana) por mães obesas, uma
semana antes e durante o período da gestação, foi capaz de impedir o desenvolvimento programado de
hipertrofia e disfunção cardíaca nos filhos adultos. Entretanto, apesar de beneficiar o fenótipo cardíaco, a prática
de exercício físico pela mãe obesa não preveniu o desenvolvimento de hipertensão nos filhos na idade adulta.
Dado que as doenças cardiovasculares (DCV) são a principal causa de morte no mundo, os autores
sugerem que pequenas melhorias no risco cardiovascular dos filhos podem apresentar importantes implicações
para o crescimento futuro e global de casos de DCV.
Esse estudo também revelou que não há a normalização do peso corporal das mães obesas após a
intervenção com exercício, indicando assim, que nem sempre é necessário alterar a composição corporal ou o
peso materno para melhorar o fenótipo dos filhos ao longo da vida.

Artigo disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2212877818305040?via%3Dihub

22
Diversos estudos sugerem que o desenvolvimento de distúrbios metabólicos tardios induzidos pela
desnutrição durante a gestação está relacionado a alterações no hipotálamo, a principal região cerebral envolvida
na regulação da homeostase energética.
Em um estudo experimental, Pedroso e colaboradores (2017) utilizaram a integração de dados de
proteômica e de metabolômica para avaliar os efeitos da desnutrição durante a gestação no hipotálamo de ratos
adultos.
Os autores mostraram que 50% de restrição alimentar durante todo o período de gestação provocou
aumento de adiposidade corporal, hiperleptinemia, hiperglicemia e sinais de resistência à insulina dos filhotes
na idade adulta.
Essas diferenças foram acompanhadas por alterações nos níveis de proteínas e metabólitos
hipotalâmicos que fazem parte da glicólise, do ciclo do ácido cítrico, da fosforilação oxidativa e do metabolismo
da glutationa.
Essas alterações no metabolismo energético e na homeostase redox indicam que os animais submetidos
à restrição do crescimento intrauterino induzida pela desnutrição apresentam, na idade adulta, disfunção
mitocondrial no hipotálamo, característica que está relacionada ao desenvolvimento de obesidade e diabetes.

Artigo disponível em: https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acs.jproteome.6b00923

23
Artigo publicado por Mennitti et al. em 2018 mostrou, em modelo experimental com ratos Wistar, que
quando as mães ingeriram quantidades equilibradas de gordura trans (presente na margarina, por exemplo)
durante a gestação e lactação, os filhos jovens apresentaram aumento do peso corporal, da adiposidade e das
respostas pró-inflamatórias no fígado.
Por outro lado, o consumo equilibrado de lipídeos do tipo ômega 3 (presente no óleo de peixe, por
exemplo) foi capaz de reduzir o peso corporal e a adiposidade dos filhos no período da infância. Em resumo,
esse estudo demonstra que a qualidade dos alimentos consumidos pela mãe nesses períodos críticos para o
desenvolvimento dos filhos é tão importante quanto a quantidade ingerida.

Artigo disponível em: https://www.dovepress.com/early-exposure-to-distinct-sources-of-lipids-affects-


differently-the-d-peer-reviewed-article-JIR

24
Tópico: Câncer

25
O câncer é uma das doenças que mais acomete a população mundial. Muitos pacientes com câncer
apresentam caquexia, uma síndrome complexa caracterizada pela presença de anorexia, perda de peso,
saciedade precoce, perda de massa muscular e frequentemente massa gorda, anemia e edema. No câncer-
caquexia, o indivíduo apresenta um quadro inflamatório crônico devido à produção de fatores inflamatórios
pelo tumor, tecido adiposo e músculo, que contribuem para o agravamento da doença.
Evidências demonstram que há “crossstalk” entre as células tumorais, as células do tecido adiposo e o
músculo e que esta relação entre as células do paciente com câncer-caquexia pode contribuir para o
desenvolvimento do tumor e resultar em um pior prognóstico.
Neste artigo, os autores mostraram que o tecido adiposo localizado próximo ao tumor de pacientes com
caquexia apresentava maior concentração de proteínas envolvidas com a sobrevivência e desenvolvimento
tumoral como TNF-alfa, STAT-1 e FADD. Também foram observadas correlações positivas entre citocinas
pró-inflamatórias com fatores de crescimento no tecido adiposo peritumoral.
Os resultados indicam que as vias inflamatórias e tumorigênicas foram alteradas no tecido adiposo
peritumoral de pacientes com câncer-caquexia e que há um “crosstalk” entre o tumor e o tecido adiposo.
Este artigo foi publicado em umas das revistas mais importantes da temática caquexia por Dr. Nelson
Inácio Pinto Neto, Profa. Dra. Claudia Oller do Nascimento, Profa. Dra. Lila Missae Oyama, Profa. Dra. Marília
Seelaneder (professores do curso de especialização desenvolvido pela equipe NUTRAFIS) e demais
colaboradores.

Artigo disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jcsm.12345

26
A caquexia do câncer é uma síndrome multifatorial que se desenvolve durante o crescimento maligno
do tumor. Várias terapias de intervenção foram propostas, incluindo a nutrição.
Os ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (n-3) (PUFAs), especialmente o ácido
eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), são reconhecidos por suas propriedades anti-
inflamatórias e têm sido utilizados em abordagens terapêuticas para tratar ou atenuar a caquexia do câncer. O
EPA parece atenuar a atividade de vias catabólicas, como degradação de proteínas, mobilização lipídica e
consumo reduzido de glicose no músculo esquelético.
A suplementação com PUFAs n-3, principalmente EPA, pode contribuir para melhorar a composição
corporal, particularmente a massa e a função muscular e suprimir o crescimento do câncer por múltiplas
mecanismos. O EPA desregula a resposta da fase aguda presente no processo inflamatório, reduzindo a
concentração sérica de PCR, TNF-α e IL-6. Como consequência da suplementação de PUFA n-3, observa-
se uma resposta tumoral melhorada aos tratamentos antineoplásicos, atenuando os efeitos colaterais da
quimioterapia e melhora do apetite.
Esta revisão reforça que os efeitos dos PUFAs n-3 na caquexia do câncer foram extensivamente
investigados, mas os mecanismos precisos envolvidos em seus efeitos ainda não são completamente conhecidos
e que diferentes doses utilizadas em estudos envolvendo caquexia e suplementação de n-3 podem explicar
resultados divergentes encontrados na literatura. E ressalta que mais investigações são necessárias para
identificar os mecanismos e dosagens precisas da ação do PUFA n-3 no paciente com câncer e caquexia.

Artigo disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0163-7258(18)30217-1

27
Tópico: Nutracêuticos

28
Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa da série n-3 (PUFA n-3), principalmente os ácidos
eicosapentaenoico (EPA) e docosaesaenóico (DHA), são lipídios encontrados em abundância em peixes e frutos
do mar.
Seus efeitos antidepressivos têm sido amplamente estudados e estariam associados ao seu potencial
anti-inflamatório.
Neste estudo, realizado com indivíduos entre 55-75 anos, foi encontrada uma relação inversa entre o
consumo moderado de peixes e PUFA n-3 e depressão.
Curiosamente, um consumo elevado desses alimentos/nutrientes não indicou proteção contra depressão.

Artigo disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/10/12/2000

29
Você sabia que Ginkgo biloba modifica o metabolismo do tecido adiposo? Em um estudo experimental
publicado em 2019, o grupo da Profa. Mônica Marques Telles, docente da Unifesp, mostrou efeitos benéficos
do tratamento prolongado com extrato de Ginkgo biloba em animais obesos.
Tais efeitos foram evidenciados pela redução do volume dos adipócitos e por alterações no proteoma
do tecido adiposo branco desses animais, que indicaram expressão diminuída de proteínas inflamatórias (como
o complemento C3) e proteínas envolvidas com estresse oxidativo (como a peroxirredoxina). Os resultados são
promissores e mais estudos deverão ser realizados para verificar quais são as doses mais seguras e a eficácia do
composto em humanos.
Diante do aumento da incidência da obesidade observado em nossa sociedade, são valiosos os estudos
envolvendo compostos fitoterápicos que, assim como Ginkgo biloba, possam auxiliar no tratamento dessa
doença.

Artigo disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fphar.2019.00686/full

30
A palmeira juçara (Euterpe edulis Mart.) é nativa da Mata Atlântica, com aparição da Bahia até o norte
do Rio Grande do Sul. O palmito oriundo dessa palmeira é um dos mais abundantes e valiosos produtos não
madeireiros da Mata Atlântica, porém, sua extração leva à morte da palmeira. Além de seu valor econômico,
essa palmeira é muito importante ecologicamente no ecossistema florestal. O consumo da fruta juçara é
importante para a preservação da palmeira no ecossistema da Mata Atlântica e das espécies animais dependentes
dela e para a contribuição com a economia da população caiçara.
A juçara apresenta elevada concentração de compostos bioativos, incluindo compostos fenólicos e
flavonoides, majoritariamente as antocianinas (que fornecem cor arroxeada à fruta), além de elevado percentual
de gorduras poli e monoinsaturadas e fibras. Sua composição nutricional é muito parecida com o açaí e seu
consumo é benéfico para a saúde dentro de uma alimentação variada e balanceada.
Um dos principais fatores promotores da obesidade é o consumo de dieta hipercalórica e hiperlipídica.
O consumo de alimentos com propriedades antioxidantes, como a juçara, poderia atenuar processos
inflamatórios induzidos por esse tipo de dieta.
Neste trabalho, as autoras analisaram o efeito do consumo da polpa juçara, em diferentes concentrações,
por camundongos magros e obesos (que receberam dieta hiperlipídica e hipercalórica por 10 semanas) sobre
diferentes parâmetros metabólicos e inflamatórios.
O principal achado do estudo foi relativo à resposta glicêmica. Dentre os animais obesos, o teste de
tolerância oral a glicose apresentou melhor resposta no grupo que consumiu 0,5% da polpa da fruta liofilizada
na dieta, com a área sob a curva do gráfico menor que os outros grupos. A área foi menor quando comparada
ao grupo que consumiu 2% e ao grupo que consumiu apenas a dieta hiperlipídica e hipercalórica.
A alimentação saudável e a inclusão de alimentos ricos em polifenóis podem auxiliar no tratamento da
obesidade e suas complicações.

Artigo disponível em: https://dmsjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13098-015-0122-4

31
Estudo clínico realizado por Santamarina e colaboradores mostrou que a suplementação diária com 5 g
de polpa de juçara liofilizada durante 6 semanas foi capaz de modular favoravelmente o perfil de ácidos graxos
circulantes em indivíduos com obesidade, reduzindo as concentrações séricas de ácidos graxos saturados totais
e aumentando os níveis séricos de ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados n-3.
Os autores também demonstraram que os monócitos (células do sistema imune presentes no sangue)
dos indivíduos com obesidade que ingeriram a polpa de juçara liofilizada apresentam maior expressão de
enzimas associadas com a metilação do DNA e a atividade da enzima histona deacetilase (HDAC) após um
estímulo pró-inflamatório com lipopolissacarídeos (LPS).
O tratamento com juçara e a concentração sérica de ácido graxo oleico foram apontados como preditores
de alterações encontradas nos níveis de RNAm da MeCP2 (proteína 2 de ligação metil CpG).
Em conjunto, esses dados sugerem uma possível participação da juçara na redução do risco para o
desenvolvimento de doenças metabólicas por meio da modulação epigenética em monócitos de indivíduos
obesos.

Artigo disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/10/12/1899

32
A obesidade é uma doença multifatorial crônica de difícil controle, e que leva ao surgimento de diversas
comorbidades, dentre elas a resistência insulínica, a qual aumenta com a ingestão de dietas ricas em gordura
saturada e diminui com a ingestão de alimentos ricos em n-3 (como peixes), embora através de mecanismos
ainda não totalmente elucidados.
O tecido adiposo branco (TAB) é um importante órgão de armazenamento de ácidos graxos em forma
de triacilglicerol, sendo que o desbalanço entre o transporte celular excessivo dos ácidos graxos livres e a
habilidade das mitocôndrias em oxidá-los resulta no acúmulo de lipídios biologicamente ativos, como as
ceramidas (Cer) e os diacilgliceróis (DAG), os quais inibem a via de sinalização da insulina.
Além disso, o TAB também tem papel endócrino, produzindo e secretando as adipocinas, compostos
com papel no metabolismo lipídico e inflamação, como por exemplo a adiponectina, que apresenta papel anti-
inflamatório.
Este estudo analisou os efeitos da suplementação de óleo de peixe sobre a expressão de adipocinas e o
conteúdo de Cer e DAG no TAB de ratos alimentados com dieta rica em gordura, e mostrou que a suplementação
diminuiu a concentração plasmática de insulina e reduziu o conteúdo de Cer e DAG do TAB quando comparado
ao grupo alimentado com dieta rica em gordura sem suplementação, embora sem retornar completamente aos
níveis do grupo alimentado com dieta controle. Com relação às adipocinas, houve um aumento da concentração
plasmática e expressão de adiponectina no TAB do grupo suplementado, em comparação com os dois outros
grupos.
Como conclusão, o artigo mostra que a ingestão de n-3 pode ajudar na prevenção do desenvolvimento
de resistência insulínica em resposta a uma alimentação rica em gordura, além de ter papel na regulação da
expressão e secreção de adipocinas no modelo animal utilizado.

Artigo disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/11/4/835

33
Tópico: Regulação da Homeostase Energética

34
González-Becerra et al. (2019) realizaram uma revisão sistemática sobre nutriepigenômica onde
avaliaram o papel dos ácidos graxos da dieta na modulação epigenética relacionada com o desenvolvimento de
doenças crônicas.
Na revisão, foram abordados estudos com humanos, gestantes, modelos animais e “in vitro” e foram
avaliados os efeitos dos ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) n-3 (EPA e DHA) e n-6 (AA); monoinsaturados
(MUFA) oleico e palmitoleico; ácidos graxos saturados (SFA) palmítico e esteárico; ácidos graxos trans
(TransFA) eláidico e ácido graxo de cadeia curta (SCFA) butirato sobre as alterações epigenéticas.
Os diferentes tipos de ácidos graxos promovem alterações epigenéticas por metilação de DNA, miRNA
e modificações de histonas.
Os autores concluíram que os ácidos graxos PUFA n-3, MUFA e SCFA melhoraram as respostas
inflamatórias, cardiovasculares e o metabolismo lipídico, prevenindo o desenvolvimento de doenças crônicas
como obesidade, câncer e diabetes. Por outro lado, verificaram que as alterações epigenéticas promovidas pelos
ácidos graxos PUFA n-6, SFA e TransFA aumentam o risco metabólico para resistência à insulina, distúrbios
pró-inflamatórios, alterações no metabolismo da glicose e lipídios, aumentando assim o risco do
desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, câncer e diabetes.
Assim, os ácidos graxos apresentam diferentes alterações epigenéticas de acordo com o seu tipo e por
isso devem ser consumidos dentro de uma alimentação equilibrada.

Artigo disponível em: https://lipidworld.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12944-019-1120-6

35
A grelina é um hormônio secretado principalmente pelas células da mucosa gástrica. Foi descrita em
1999 como um fator que estimulava a liberação do hormônio do crescimento (GH) através de sua ligação com
o receptor do secretagogo do hormônio do crescimento.
A grelina é o único peptídeo orexígeno conhecido produzido em órgãos periféricos: sua ação no
hipotálamo estimula a ingestão de alimentos e a redução do gasto energético. Participa também da regulação
hedônica da ingestão alimentar através de ação em outras regiões do cérebro envolvidas no comportamento
associado à recompensa. A obesidade prejudica a função desse hormônio relacionada ao controle da homeostase
energética.
A grelina participa também de outros processos fisiológicos, incluindo homeostase glicêmica, ciclo de
sono/vigília, neurogênese, aprendizado e memória, respostas ao estresse, entre outros.
Trabalhos recentes indicam que a grelina também tem um papel importante na homeostase celular:
promove autofagia, inibe inflamação, diminui estresse oxidativo e melhora o funcionamento das organelas
celulares.
Muitos aspectos sobre a biologia da grelina ainda precisam ser estudados e novas pesquisas sobre seu
papel homeostático são necessárias para determinar se esse hormônio poderá ser utilizado como um agente
terapêutico no tratamento de doenças metabólicas.

Artigo disponível em: https://www.cell.com/action/showPdf?pii=S1550-4131%2818%2930119-0

36
O ato de comer, alimentar-se, tem vários papéis e funções além da homeostase de energia e nutrição.
Neste artigo publicado em 2020, os autores discutem o que vai além e que o ato de comer de forma emocional
está envolvido na dificuldade para perder peso e relacionado com as altas taxas de sobrepeso e obesidade em
todo o mundo. Os pesquisadores fazem um embasamento teórico rico iniciando com a estatística que na
sociedade de hoje, as taxas de obesidade estão aumentando à medida que a ingestão de alimentos não é mais
apenas uma resposta aos sinais fisiológicos de fome que garantem a sobrevivência. Comer pode representar uma
recompensa, uma resposta ao tédio ou redução do estresse e regulação da emoção. Enquanto a maioria das
pessoas diminui a ingestão de alimentos em resposta ao estresse ou emoções negativas, algumas fazem o oposto.
No entanto, não está claro quem faz excessos emocionais e em quais circunstâncias.
Do ponto de vista fisiológico e evolutivo, estresse intenso e emoções negativas são esperados para
desencadear uma resposta de luta ou fuga envolvendo o sistema nervoso simpático, resultando em aumento do
estado de alerta e fornecimento de energia das reservas corporais e diminuição do apetite e ingestão de
alimentos. No entanto, os desejos de comida e comer demais em resposta a estresse também podem ser
observados e estar relacionados ao defensivo mecanismo. Os estressores emocionais e crônicos têm sido
associados à ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA).
De acordo com teorias fisiológicas, consumo excessivo de “comida de conforto” em resposta ao estresse
emocional deste tipo pode estar relacionado aos glicocorticoides. Consequências da desregulação do eixo HPA,
por exemplo, liberação excessiva de glicose do fígado, demonstrou contribuir para o desenvolvimento de hábitos
alimentares pouco saudáveis e obesidade por estresse ambiental. Teorias de regulação emocional descrevem
que comer por excessos emocionais é uma estratégia aprendida para regular as emoções negativas. As teorias
cognitivas, ao contrário, atribuem as questões emocionais ao comer para violações percebidas da dieta em
indivíduos que cronicamente tentam fazer dieta. Depois de consumir "alimentos proibidos", comem mais do
que indivíduos que não restringem sua ingestão de alimentos.
Este estudo investigou excessos emocionais, expondo indivíduos a uma indução de emoção
personalizada ao mostrar imagens de alimentos palatáveis. As variáveis foram: reatividade do sinal às imagens
de alimentos por meio de imagens avaliações (valência, desejo de comer), expressões faciais (eletromiografia
do músculo corrugador do supercilio), e reatividade cerebral ao detectar potenciais relacionados a eventos

37
(ERPs) por meios de eletroencefalografia (EEG). Foi avaliada também a influência da condição emocional
(negativa, neutro) e diferenças individuais (traço emocional auto-relatado e alimentação comedida).
Avaliações de valência e reações apetitivas por meio do músculo corrugador para imagens de alimentos
mostraram um aumento relativo na condição negativa para indivíduos com maiores escores emocionais de
alimentação, com o padrão oposto em menores pontuações. As classificações de desejo de comer mostraram
um padrão semelhante em indivíduos que mostraram uma forte resposta à manipulação de indução de emoção,
indicativa de uma resposta relativa à dose. Embora nenhuma diferença entre as condições tenha sido encontrada
para classificações ou atividade corrugadora com restrição alimentar como preditor, um ERP no P300 mostrou
aumento da ativação ao ver comida em comparação com objetos na condição negativa.
Os resultados apoiam as teorias de regulação da emoção: os comedores emocionais mostraram um
apetite reação nos padrões de classificação e atividade do corrugador. Os achados do EEG (aumento do P300)
sugerem uma atenção motivada para a comida em comedores reprimidos, o que apoia o aspecto cognitivo
teorias. No entanto, isso não se traduziu em outras variáveis, o que pode demonstrar contenção bem-sucedida.
Estudos futuros podem acompanhar essas descobertas investigando transtornos alimentares com dificuldades
de regulação da emoção.

Artigo disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnbeh.2020.00091/full

38
Alimentar-se durante o trabalho se tornou uma prática comum nos últimos anos. A escassez de tempo
e o excesso de atribuições acabam por minar o período que dispomos para a realização das refeições.
Um trabalho realizado por pesquisadores da Auckland University of Technology, Nova Zelândia,
publicado na “Nutrients” em maio de 2019 avaliou se o consumo de alimentos durante a realização de tarefas
estressantes no computador, relacionadas ao trabalho, pode afetar a saciação e/ou a saciedade. Estudos anteriores
reportam que distrações durante o ato de comer, como assistir televisão, podem afetar a quantidade de calorias
consumida durante a refeição (saciação) e nas refeições subsequentes (saciedade).
Neste estudo clínico randomizado, 43 indivíduos saudáveis receberam a mesma refeição (pedaço de
pizza) em duas condições diferentes: durante a realização de tarefas no computador e em repouso.
O nível de estresse foi maior no grupo que realizava a tarefa enquanto se alimentava, no entanto não
houve diferença em relação ao consumo calórico em comparação com o grupo em repouso. Apesar disso, os
indivíduos que se alimentavam durante a realização de tarefas no computador apresentaram maior sensação de
fome após a refeição.
Estudos sugerem que indivíduos eutróficos seriam mais bem sucedidos no controle hedônico da
ingestão alimentar em situações de estresse em relação aos indivíduos com sobrepeso ou obesidade.

Artigo disponível em: https://doi.org/10.3390/nu11071545

39
Há forte evidência epidemiológica que uma dieta inadequada estaria associada à depressão e que uma
dieta saudável rica em frutas, vegetais, peixes e carnes magras estaria associada a risco reduzido de depressão.
Francis e colaboradores (2019) realizaram estudo com adultos jovens (17 a 35 anos) apresentando
sintomas moderados a graves de depressão (classificados de acordo com a Escala de depressão, ansiedade e
estresse – DASS-21) concomitantemente a um estilo de alimentação inadequado (de acordo com classificação
do Australian Guide to Healthy Eating).
Os participantes do estudo foram distribuídos em dois grupos: grupo controle (indivíduos seguiram sua
dieta habitual) e grupo com modificação da dieta (indivíduos foram orientados, via vídeo, por nutricionista
quanto ao consumo de uma dieta rica em vegetais, frutas, cereais integrais, fontes magras de proteína, produtos
lácteos não adoçados, peixes, sementes e castanhas, azeite de oliva e especiarias - canela e açafrão, além da
redução do consumo de refrigerantes, carboidratos refinados e açúcares e carnes processadas e gordurosas).
Os participantes foram avaliados 21 dias e 3 meses após a intervenção, em que se verificou as condições
dietéticas, análises clínicas, sintomas depressivos, entre outros indicadores cognitivos.
Os sintomas depressivos foram avaliados através das escalas DASS-21 e da escala revisada “Center for
Epidemiologic Studies (CESD-R)”.
Na avaliação dietética, além da aplicação de questionário específico, foi usado um espectrofotômetro
para quantificar o consumo de flavonóides e carotenóides.
Os pesquisadores concluíram que uma intervenção nutricional curta (21 dias) é capaz de reduzir
sintomas depressivos em adultos jovens e que este que este efeito permaneceu por até 3 meses após a
intervenção.
Limitações do estudo apontadas pelos pesquisadores: População: estudantes de psicologia.
Pesquisadores: os assistentes que aplicaram os questionários de avaliação dos sintomas de depressão foram os
mesmos que coletaram as informações relativas à dieta dos participantes. Grupos: ausência de grupo controle
ativo (grupo controle recebendo outro tipo de dieta, como uma dieta com reduzido teor de gordura, ou uma dieta
menos saudável que a dieta habitual dos participantes, o que seria antiético ou mesmo grupo controle recebendo
terapia psicológica).
Artigo disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6784975/

40
Tópico: Controle da Pressão Arterial

41
Antioxidantes têm sido prescritos durante o desenvolvimento fetal para melhorar a saúde materna e o
crescimento do bebê. No entanto, o alfa-tocoferol em altas doses, por apresentar efeitos antioxidantes e
genômicos, pode levar a alterações metabólicas, como aumento na pressão arterial sistêmica.
Neste trabalho, os autores observaram, em ratos jovens, que a sobrecarga pré-natal de alfa-tocoferol em
doses consideradas reno-protetoras atrasou fortemente o desenvolvimento renal, prejudicou a atividade da Ang
II local, programou aumento da expressão e atividade de transportadores de Na+ e também direcionou proteínas-
cinases específicas – sequência de eventos que culmina em elevação significativa e persistente da pressão
arterial.
Este estudo tem relevância clínica, pois esclarece possíveis mecanismos celulares e moleculares
relacionados ao risco elevado de morte em humanos após prolongada sobrecarga de alfa-tocoferol.

Artigo disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0925443918301315?via%3Dihub

42
O sistema nervoso simpático é amplamente conhecido como o responsável pelas reações fisiológicas
de luta e fuga. De fato, ele é importante para as respostas de luta-ou-fuga, bem como para controle tônico de
diversas funções biológicas, incluindo o sistema cardiovascular. No entanto, a ativação crônica exacerbada do
tônus simpático pode resultar em alterações fisiopatológicas como, por exemplo, o aumento da pressão arterial.
Estudos experimentais e clínicos têm demonstrado que, além de fatores genéticos, o aumento da
ingestão energética ou de sal na dieta, inatividade física, estresse, dentre outros, podem contribuir para a
hiperatividade simpática e do sistema renina-angiotensina-aldosterona na hipertensão arterial.
O Grupo de Pesquisa em Fisiologia Cardiovascular da UNIFESP tem se dedicado ao estudo do papel
do estresse oxidativo em regiões do sistema nervoso central responsáveis pelo controle neural da pressão arterial
e da função renal em diferentes modelos de doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial, doença renal
crônica e obesidade.
Neste trabalho publicado na American J Hypertension, o grupo demonstrou que o tratamento com
vitamina C por 7 dias reduziu parcialmente a pressão arterial e melhorou o controle reflexo da pressão arterial
em ratos Wistar com hipertensão de origem renal. Além disso, a vitamina C reduziu a hiperatividade nervosa
simpática, o estresse oxidativo e a expressão gênica de receptores de angiotensina tipo 1 nos rins desses animais.
É importante ressaltar que o tratamento com antioxidantes não deve substituir o tratamento
farmacológico da hipertensão arterial, no entanto, os estudos têm demonstrado dados promissores para a
utilização de antioxidantes como coadjuvantes no tratamento farmacológico e de alterações no estilo de vida!

Artigo disponível em: https://academic.oup.com/ajh/article/23/5/473/2281917

43
A hipertensão arterial e o diabetes melito são as principais causas de doença renal progressiva.
Diversos mecanismos neuro-hormonais que regulam a excreção de sódio e água no organismo são
importantes para o controle da pressão arterial e os rins são os principais órgãos envolvidos nesse processo.
Nesse artigo de revisão, é dada ênfase nas ações do hormônio vasopressina, também conhecido como
hormônio anti-diurético (ADH).
Alta ingestão de sódio e baixa ingestão de água, comum na população em geral, é potencialmente
patogênica e está associada ao desenvolvimento da hipertensão arterial e doença renal crônica.
A ingestão adequada de água e sódio impede o aumento de vasopressina e tem sido implicada na
melhora da hipertensão arterial e disfunção renal.
Outros hormônios que participam da regulação de sódio e água são angiotensina II e aldosterona.

Artigo disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/nep.13465

44
A nefropatia aguda por oxalato e o dano tubular renal pela liberação de espécies reativas ao oxigênio
são os principais mecanismos que levam à lesão renal aguda induzida pela carambola.
N-acetilcisteína (NAC) é um fármaco e suplemento nutricional com propriedade antioxidante
comumente utilizado como agente mucolítico, antídoto para intoxicação por acetaminofen (paracetamol) e
prevenção de nefropatia induzida por contraste.
No estudo de Shimizu e colaboradores (2017) foi demonstrado que ratos tratados com suco de
carambola, em quantidade previamente determinada para causar redução da função renal associada a
hiperoxalúria renal, causou dano tubular, aumento do estresse oxidativo e inflamação.
O tratamento com NAC atenuou a intensa deposição de cristais de oxalato de cálcio, dilatação dos
túbulos renais e degeneração epitelial tubular. Além disso, reduziu o dano oxidativo e a infiltração de
macrófagos nos rins.

Artigo disponível em: https://doi.org/10.1080/0886022X.2016.1256315

45
Fatores como o uso de produtos processados baratos, a expansão das cadeias de "fast food" e mudanças
desfavoráveis no estilo de vida têm aumentado drasticamente o consumo de frutose na sociedade ocidental,
podendo contribuir para a atual prevalência de distúrbios cardiometabólicos.
Alguns estudos têm demonstrado que o aumento no consumo de frutose em modelos experimentais
induz disfunções autonômicas, além de inflamação e estresse oxidativo na fase adulta, contudo ainda não está
claro o momento em que as alterações iniciam e quais os mecanismos envolvidos.
Neste estudo, Bernardes e colaboradores analisaram, do nascimento até a fase adulta, a disfunção
autonômica e alterações cardiometabólicas em ratos espontaneamente hipertensos e com sobrecarga de frutose.
Os dados indicaram que o barorreflexo (que controla o reflexo cardiovascular, inibe a atividade
simpática e estimula a atividade parassimpática) é o primeiro mecanismo (apenas 7 dias após o desmame)
afetado pela associação de hipertensão e sobrecarga de frutose e precede o aumento da inflamação e estresse
oxidativo nos tecidos-alvo, posteriormente (fase adulta) induzindo aumento da pressão arterial e resistência à
insulina.
Avaliar os mecanismos envolvidos no nas fases da vida oferece a possibilidade de entender as
disfunções cardiometabólicas em várias doenças e desenvolver novos e adequados alvos terapêuticos, com foco
principalmente na melhoria do controle autonômico cardiovascular da circulação.

Artigo disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-018-26816-4

46
Tópico: Microbiota

47
A heterogeneidade individual relacionada à predisposição ao desenvolvimento de obesidade frente à
ingestão de alimentos altamente calóricos e palatáveis comumente consumidos em nossa sociedade sempre
chamou a atenção de pesquisadores. Sabe-se que a variabilidade genética contribui, mas é insuficiente para
explicar essa resposta distinta entre a população.
Neste estudo, os autores investigaram fatores não genéticos que poderiam atuar como preditores da
propensão à obesidade. Para isso, eles avaliaram parâmetros comportamentais e metabólicos, marcadores
inflamatórios, a composição da microbiota e o metaproteoma fecal de camundongos, antes, durante e depois da
administração de dieta rica em lipídios e com baixo teor de fibras por oito semanas. Após esse período, baseados
no peso corporal, os camundongos foram separados nos grupos “propenso”, “fenótipo intermediário” ou
“resistente” à obesidade.
Entre os parâmetros avaliados, foram observadas alterações significativas no metaproteoma fecal dos
animais após a ingestão de dieta obesogênica. Os resultados também indicaram a existência da associação entre
o metaproteoma fecal antes do período de intervenção alimentar (mas não entre a composição da microbiota)
com o desenvolvimento de obesidade, sugerindo a capacidade do proteoma microbiano de distinguir aqueles
indivíduos propensos daqueles resistentes à doença. Entre as proteínas microbianas responsáveis pela
discriminação entre os grupos, destacaram-se aquelas relacionadas à motilidade celular.

Artigo disponível em: https://doi.org/10.1074/mcp.RA119.001623

48
Este artigo foi baseado em informações e ideais discutidas pela “North American branch of the
International Life Sciences Institute (ILSI North America)” em 2018 na conferência "Pode um microbioma
intestinal saudável ser definido através de características quantificáveis?".
Os autores tiveram como objetivos: 1) desenvolver uma avaliação das evidências no microbioma
intestinal humano associada à saúde humana; 2) verificar se há evidências suficientes para estabelecer
características mensuráveis do microbioma intestinal que podem servir como indicadores de “saúde”; 3)
identificar as necessidades de pesquisa de curto e longo prazo para caracterizar completamente o microbioma
intestinal saudável; 4) publicar as descobertas.
Conclusões: 1) ligações mecanicistas de mudanças específicas na estrutura do microbioma intestinal
com função ou marcadores da saúde humana ainda não foram estabelecidos; 2) não está estabelecido se a
disbiose é causa, consequência ou ambas de alterações na função epitelial e na doença intestinal humana; 3) as
comunidades microbianas são altamente individualizadas, mostram alto grau de variação interindividual à
perturbação e tendem a ser estáveis ao longo dos anos; 4) a complexidade das interações microbioma-hospedeiro
requer uma pesquisa abrangente e multidisciplinar para elucidar as relações entre o microbioma intestinal e a
saúde do hospedeiro; 5) biomarcadores e/ou indicadores do hospedeiro e processos patogênicos baseados no
microbioma precisam ser determinados e validados; 6) estudos futuros que mensurem as respostas a uma
exposição ou intervenção precisam combinar biomarcadores ao microbioma validado e/ou indicadores com
caracterização multiomômica do microbioma; 7) como a amostragem genética estática perde importantes
mudanças dinâmicas relacionadas ao microbioma a curto e longo prazo para saúde do hospedeiro, estudos
futuros devem ser desenvolvidos considerando as variações inter e intraindividuais e devem usar repetidas
medidas nos indivíduos.

Artigo disponível em: https://academic.oup.com/jn/article/149/11/1882/5542976

49
Os microrganismos no trato gastrointestinal desempenham um papel significativo na absorção de
nutrientes, síntese de vitaminas, captação de energia, modulação inflamatória e resposta imune, contribuindo
coletivamente para a saúde humana. No entanto, há necessidade de aprofundar as pesquisas sobre o papel que
o exercício desempenha, particularmente como fatores e estressores associados à dieta específica para esporte,
meio ambiente e suas interações podem influenciar a microbiota intestinal.
Os atletas de alto nível, em particular, oferecem uma fisiologia e metabolismo notáveis (incluindo
força/potência muscular, capacidade aeróbia, gasto de energia e produção de calor) em comparação com
indivíduos sedentários. Assim, compreender os mecanismos nos quais a microbiota intestinal pode atuar no
papel de influenciar o desempenho atlético é de considerável interesse para os atletas que trabalham para
melhorar seus resultados em competição, bem como reduzir o tempo de recuperação durante o treinamento.
O objetivo desta revisão, publicada em 2020, é resumir o conhecimento atual sobre a microbiota
intestinal do atleta e os fatores que o moldam. O exercício, os fatores dietéticos associados e a classificação
atlética promovem uma microbiota intestinal “associada à saúde”. Essas características incluem uma maior
abundância de espécies bacterianas promotoras da saúde, aumento da diversidade microbiana, capacidade
metabólica funcional e metabólitos associados a microrganismos, estimulação de abundância bacteriana que
pode modular a imunidade da mucosa e melhorar a função da barreira gastrointestinal.

Artigo disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7218537/?report=classic

50
Neste estudo, os autores utilizaram a análise integrada de dados de transcriptoma, metagenômica e
metabolômica de camundongos diabéticos para avaliar os efeitos do jejum intermitente no déficit cognitivo
associado ao diabetes e investigar os mecanismos envolvidos nesses efeitos.
Os camundongos diabéticos submetidos ao regime de jejum intermitente durante 28 dias apresentaram
aumento da sensibilidade à insulina e melhora da função cognitiva quando comparados aos camundongos
diabéticos alimentados ad libitum.
Nos animais diabéticos, o jejum alterou a expressão de genes do metabolismo energético no hipocampo
(principal região cerebral envolvida com memória e aprendizagem), alterou a diversidade e abundância da
microbiota e aumentou os níveis plasmáticos de metabólitos modulados por bactérias intestinais, como a
serotonina e os ácidos 3-indolepropiônico (IPA) e tauroursodesoxicólico (TUDCA). A análise integrada dos
dados mostrou fortes correlações entre essas alterações.
Os autores demonstraram ainda que os efeitos benéficos do jejum na função cognitiva foram
parcialmente suprimidos após a remoção da microbiota através da utilização de antibióticos, e que a
administração de serotonina, IPA e TUDCA individualmente promoveu a melhora da função cognitiva.
Os dados sugerem que a microbiota intestinal e os metabólitos microbianos estão envolvidos na ação
neuroprotetora do jejum intermitente no diabetes.
Embora os resultados sejam promissores, essas alterações não foram avaliadas em estudos clínicos, e
ainda há a necessidade de aprofundar a investigação do impacto do jejum intermitente no tratamento de doenças
metabólicas e neurodegenerativas.

Artigo disponível em: https://doi.org/10.1038/s41467-020-14676-4

51
Tópico: Temas Correlatos

52
Nesse artigo é descrito o impacto do sedentarismo nos sistemas neuromuscular, cardiovascular,
metabólico e endócrino causado pelo confinamento domiciliar devido a COVID-19.
Em conjunto, os dados mostram que a perda muscular ocorre rapidamente, sendo detectável dentro de
dois dias após a inatividade. Essa perda de massa muscular está associada à desnervação das fibras, danos à
junção neuromuscular e à regulação positiva da quebra de proteínas, mas é explicada principalmente pela
supressão da síntese de proteínas musculares.
A inatividade também afeta a homeostase da glicose, reduzindo a sensibilidade à insulina,
principalmente no músculo. Além disso, a capacidade aeróbica é prejudicada em todos os níveis da cascata de
oxigênio, desde o sistema cardiovascular, incluindo circulação periférica, até a função oxidativa do músculo
esquelético.
O balanço energético positivo durante a inatividade física está associado à dep osição de gordura,
associada à inflamação sistêmica e à ativação de defesas antioxidantes, exacerbando a perda muscular.
É importante ressaltar que esses efeitos deletérios da inatividade podem ser diminuídos pela prática
rotineira de exercícios, mas a relação dose-resposta do exercício é atualmente desconhecida.
No entanto, exercícios de baixa e média/alta intensidade, facilmente implementáveis em ambientes
domésticos, podem ter efeitos positivos, principalmente se combinados com uma redução de 15 a 25% na
ingestão diária de energia. Esse regime combinado parece ideal para preservar a saúde neuromuscular,
metabólica e cardiovascular.

Artigo disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17461391.2020.1761076

53
Este estudo, publicado em 2019, teve como objetivo traçar um paralelo entre segurança alimentar e a
importância de fatores geográficos, econômicos e sociais envolvidos na capacidade de produção e consumo
alimentar ao redor do mundo (foram analisados 140 países, com representação de todos os continentes).
Os autores analisaram dados de 2000 a 2013 da Food and Agriculture Organization of the United
Nations - FAO (organização com objetivo de monitorar aspectos nutricionais e de segurança alimentar de forma
global) e se concentraram nos aspectos populacionais, de agricultura e outros indicadores para avaliar os
diferentes graus de insegurança alimentar de forma comparável entre as regiões do planeta.
O grau em que a segurança alimentar é garantida com o abastecimento doméstico varia fortemente em
todo o mundo. De maneira geral, essa garantia é melhor em países com economia mais forte e condições
favoráveis à agricultura (Estados Unidos e Austrália), e em países com área relativamente pequena de terra
arável per capita mas com alta produção (maioria dos países europeus). Países com menor renda per capita e
barreiras geográficas (montanhas, áreas geladas, desertos), mas que conseguem importar insumos (países do
Oriente Médio, Norte-africanos e Sul-americanos) apresentam em média déficit entre produção e consumo de
15% do volume de produção e um grau de subnutrição que vai de baixo a médio. O pior caso é do grupo de
países pertencentes à África Subsaariana e Ásia Central que, além de barreiras geográficas, possuem uma baixa
renda per capita e falta de recursos para importação de insumos, resultando em maior taxa de subnutrição global.
Em resumo, o volume de produção de alimentos depende muito das condições naturais, enquanto as
condições econômicas, principalmente a renda per capita nacional, têm maior impacto no consumo e nos níveis
de segurança alimentar. Condições naturais desfavoráveis podem ser compensadas pelo comércio exterior que,
no entanto, requer quantidades adequadas de capital para ser atribuído às importações agroalimentares.
Os autores sugerem que seria fundamental dar suporte ao setor agropecuário com foco em melhorias na
eficiência produtiva, especialmente nos países com alta insegurança alimentar.

Artigo disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0213448

54
Neste artigo, publicado em 2019, o grupo de trabalho europeu sobre sarcopenia em pessoas idosas
(European Working Group on Sarcopenia in Older People – EWGSOP) revisa o consenso de sarcopenia
apresentado por eles em 2010. Quase uma década depois, com novas evidências clínicas e científicas, o grupo
se reuniu para compilar os avanços relacionados à definição, diagnóstico e o cuidado das pessoas com
sarcopenia.
A sarcopenia é definida como um distúrbio músculo esquelético progressivo e generalizado,
caracterizado pela baixa força muscular (fator determinante), está associada com baixa quantidade e qualidade
muscular e com o aumento da probabilidade de resultados adversos, como quedas, fraturas, incapacidade física
e mortalidade. Pode ser aguda ou crônica, é mais comum em idosos, mas pode ocorrer em indivíduos mais
jovens.
Diagnóstico: força muscular pode ser mensurada pela força de preensão palmar através da utilização de
um dinamômetro e através do teste de sentar e levantar da cadeira sem utilização do apoio dos braços (também
pode ser utilizada a flexão/extensão do joelho) com pontos de corte específicos para cada teste. A quantidade
muscular (massa muscular esquelética) pode ser determinada por diferentes técnicas, como DEXA, ressonância
magnética, tomografia computadorizada e BIA. A severidade da sarcopenia pode ser determinada através da
realização de testes de performance física.

Artigo disponível em: https://academic.oup.com/ageing/article/48/1/16/5126243

55
Consumo elevado de gordura saturada está associado com aumento da concentração de LDL-c, que é
um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O perfil de ácidos graxos dos diferentes
óleos e gorduras exerce uma resposta metabólica diferente quando são consumidos, porém, ensaios clínicos que
os comparam ainda têm resultados controversos.
Nesse ensaio clínico randomizado, os autores tiveram como objetivo comparar as mudanças no perfil
lipídico, massa corporal, distribuição de gordura e marcadores metabólicos após o consumo diário de 50 gramas,
por 4 semanas, de diferentes fontes de ácido graxo: óleo de coco extra virgem, manteiga e óleo de oliva extra
virgem, em homens e mulheres saudáveis da população.
Os grupos foram divididos aleatoriamente e orientados a consumir 50 gramas por dia do ácido graxo
do grupo ao qual pertenciam, podendo adicionar nas preparações usuais ou consumir como suplemento
diariamente durante 4 semanas. Desfecho primário analisado: mudança na concentração sérica de LDL-c;
desfechos secundários: mudanças na concentração sérica de CT e HDL-c, razão CT/HDL-c, mudança na massa
corporal, IMC, circunferência de cintura, % de gordura corporal, pressão sanguínea sistólica e diastólica,
glicemia de jejum e proteína C reativa.
Resultados: LDL-c aumentou significativamente no grupo manteiga em comparação ao óleo de coco e
de oliva (esses dois não foram diferentes um do outro); a razão CT/HDL-c e colesterol não HDL foi
significativamente maior no grupo manteiga comparado ao grupo óleo de coco, que por sua vez não foi diferente
do grupo óleo de oliva; óleo de coco aumentou significativamente HDL-c comparado com os dois outros grupos.
Os demais parâmetros analisados não foram diferentes entre os grupos.
Interessante notar que, tanto a manteiga quanto o óleo de coco são ácidos graxos saturados, enquanto o
óleo de oliva é monoinsaturado. Apesar de serem classificados como gorduras saturadas, o perfil de ácidos
graxos do óleo de coco e da manteiga são diferentes, o que explica as diferenças metabólicas encontradas após
o seu consumo. Podemos observar nesse estudo que a resposta ao consumo do óleo de coco foi mais similar ao
consumo do óleo de oliva, apesar de majoritariamente serem classes diferentes de ácido graxo.
Os autores indicam que os achados encontrados nesse ensaio clínico não alteram a recomendação da
diminuição do consumo de ácidos graxos saturados em geral, mas evidenciam a necessidade de mais estudos
serem conduzidos para se entender a diferença entre o consumo de diferentes tipos de gordura e a saúde das
pessoas.
Lembrem-se: dentro de uma alimentação saudável podemos usar os diferentes tipos de gordura para as
mais diversas preparações, sempre levando em conta a diversificação e a escolha por alimentos (incluindo os
ácidos graxos) que são menos processados!

Artigo disponível em: https://bmjopen.bmj.com/content/8/3/e020167.long

56

Você também pode gostar