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O AGRONEGÓCIO NO MUNICÍPIO DE GRAJAÚ (MA): Desenvolvimento para

quem?

Alan Kardec gomes Pachêco Filho1


Ana Paula Batista Protacio2
1. INTRODUÇÃO

Os estudos através da História Ambiental, tecem abordagens ligadas em


questões historiográficas voltadas para o meio ambiente, a sociedade e a modernidade.
Visto que as pessoas estabelecem suas vidas relacionando-se com o meio natural. Para
Drummond, 1991, a maneira mais provocativa de colocar o significado da história
ambiental é considerar o fator tempo. O tempo no qual se movem as sociedades
humanas é uma construção cultural consciente. Cada sociedade cria ou adota formas de
contagem e divisão do tempo em torno das quais se organizam as diversas atividades
sociais.

Até o século XVII, a agricultura era uma atividade rudimentar, instável e de


baixa produtividade. A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, a aplicação
de ciência e tecnologia a esta atividade foi crescente, o que teve como conseqüência o
aumento da produção e da produtividade. Além da relevância econômica para a
reprodução do produtor, a agricultura familiar é importante enquanto definidora de uma
identidade social e de um modo singular de se relacionar com a sociedade e o meio
ambiente.
A emergência de um "ambientalismo complexo e multissetorial" a partir da
década de 1970, dotado de alto perfil na cena pública global, representou um dos
fenômenos sociológicos mais significativos da história contemporânea. Ele pode ser
considerado como um movimento histórico, mais do que um movimento social, que
1
Professor do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), e
dos Programas de Pós Graduação: História, Ensino e Narrativas e Desenvolvimento Socioespacial e
Regional, da mesma universidade. Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense
(2011). Autor de. “E porque tantos juraram para trair...” (2015) e Varando Mundos: navegação no vale do
rio Grajaú (2016). (Org). Capítulos de História do Sertão Maranhense (no prelo). Tem experiência na
área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: Sertão do Maranhão, Navegação Fluvial,
História Ambiental, História Oral, Memória e Maranhão Republicano.

2
Licenciada em História pela Universidade Estadual do Maranhão (2016). Professora da rede Pública
Estadual. Vencedora do Prêmio PIBEX (2015), autora de capítulo de livro. Tem experiência na área de
História atuando nos seguintes temas: Reforma Agrária, Agricultura Familiar, Meio Ambiente em Urbano
Santos, História Oral e Memória.
repercutiu nos diferentes campos do saber. (VIOLA, 1991) As problemáticas ambientais
brasileira afetam a qualidade de vida de sua população e, ao mesmo tempo, compõe as
conjunturas para o que deveria ser a concepção crítica da sociedade.

A necessidade do homem em retirar recursos do ambiente para sua


sobrevivência sempre existiu. No início, a maneira que este encontrou para garantir a
sobrevivência era a caça e a coleta de recursos naturais, com características de
nomadismo, atividades que causavam danos insignificantes ao ambiente devido ao nível
rudimentar das técnicas utilizadas.

Segundo Eunice Nodari (2014), as violências socioambientais mais


preocupantes são as silenciosas, aquelas que ocorrem cotidianamente e que não são
resolvidas. Por exemplo, a falta de saneamento básico para quase 100% da população.
Não podemos atribuir à falta de legislação o descontrole na degradação, pois a própria
Constituição de 1988 inclui os direitos relacionados ao meio ambiente. A preocupação
da historiadora está diretamente ligada às ações do homem.
As problemáticas ambientais brasileira afetam a qualidade de vida de sua
população e, ao mesmo tempo, compõe as conjunturas para o que deveria ser a
concepção crítica da sociedade. Neste trabalho, proponho uma reflexão sobre a
degradação ambiental e social que a grande plantação de árvores exóticas ao Sertão
Maranhense3 e Região das Serras4, vem causando ao meio natural e social.

1.2 Agronegócio em Grajaú (MA)

Propriedade vem do latim proprius e significa meu. A propriedade quase sempre


existiu. Nas Cruzadas, cristãos e muçulmanos tomaram terras uns dos outros, no período
dos descobrimentos os reis europeus se declaram proprietários das terras encontradas no
Novo Mundo, a questão da posse, da propriedade quase sempre foi resolvida com
guerra. Adam Smith já dizia que a propriedade só existe quando tem dono, confirmado
3
A Região de Planejamento do Sertão Maranhense é uma das 32 Regiões Administrativas de
Planejamento a que o Estado do Maranhão está dividido. Instituída pela Lei Complementar 108/2007, a
Região de Planejamento do Sertão Maranhense substituiu a antiga Gerência Regional de São João dos
Patos. Os municípios que formam a Regional são: Barão de Grajaú, Lagoa do Mato, Nova Iorque,
Paraibano, Passagem Franca, Pastos Bons, São Francisco do Maranhão, São João dos Patos, Sucupira do
Riachão.
4
É uma das 32 Regiões de Planejamento do Estado do Maranhão. Instituída pela Lei Complementar 108
de 21/11/2007, a Região de Planejamento está situada no Centro Oeste do Estado e é formada por 05
municípios. Grajaú é a maior cidade como também a cidade-polo. É formada pelos seguintes municípios:
Arame, Formosa da Serra Negra, Grajaú, Sítio Novo.
no cartório. Contudo a história da propriedade é a história do capitalismo.
(GRYNSZPAN, 2005, p. 376).

Nas últimas décadas, o agronegócio tem avançado de forma violenta no Sul do


Maranhão. Politicamente comemorado devido aos grandes projetos que desenvolveram
a economia do Estado. Esse modelo de desenvolvimento adotados pelos governos
maranhenses vem sendo debatido de forma constante pelas comunidades diretamente
afetadas. A expansão da monocultura de soja e eucalipto no sul maranhense nos últimos
vinte anos se deve a um união de diversos fatores, dentre eles, a política de incentivo ao
migrante gaúcho que já tinha experiência no cultivo do produto, o preço das terras, a
facilidade de escoamento da produção e a valorização constante do produto frente a
cadeia produtiva internacional.

Neste artigo, propõe-se uma reflexão sobre a degradação ambiental e social que
a grande plantação de árvores exóticas ao município de Grajaú (MA) 5, vem causando ao
meio natural e social.

Fonte: Blog Biblioteconomia Maranhense

O agronegócio vem se tornando uma prática cada vez mais presente no cenário
econômico maranhense profundamente afetada com a implementação de grandes
empresas voltadas para a indústria florestal e agricultura de exportação. A partir da
5
Grajaú é um município do estado brasileiro do Maranhão. Sua população, de acordo com a estimativa
populacional de 2016, era de 68.458 habitantes. Fonte: IBGE
década de 1990, o município maranhense de Grajaú, com cerca de 68 mil
habitantes, vem atravessando sérios problemas ambientais provocados pelo
agronegócio. A grande produção de arroz, soja, e melancia, associada a extração
de gipsita e a plantação de “florestas” de eucalipto, inviabilizaram a agricultura
familiar, poluíram os rios e praticamente erradicaram os animais silvestre,
complemento de proteína animal do homem do sertão. Além das necessidades
de camponeses e agroextrativistas que resistem à luta pela sobrevivência ou que
apoiam projetos alternativos ao padrão agrícola predominante.

Desde que o eucalipto chegou ao Brasil despertou muito interesse


comercial. Nos anos 60 a indústria florestal conseguiu incentivos fiscais e se
“espalhou” pelo nosso país. Muitas são as empresas atuam nesse seguimento de
celulose no Brasil, dentre elas a Aracruz, que adquirida pela Fibria, atualmente
lideram o mercado nacional de celulose. Temos ainda a Eldorado, a Cenibra,
que atuam, basicamente no Estado de Minas Gerias e ainda a Cia Suzano Papel
e celulose, uma das líderes do setor e nosso principal objeto de estudo neste
trabalho. No município de Grajaú, muitas são as empresas atuants no setor
florestal, conforme figuras e listagem de empresas:
Fonte: Energia Viva Fonte: Energia Viva

Lista de Empresas6 de Cultivo de eucalipto em Grajaú - MA:

Nome fantasia - Razão social

 GIPSOMIX - GIPSOMIX MINERACAO INDUSTRIA E COMERCIO


LTDA - ME
 SEMENTES PANTANAL - SEMENTES PANTANAL PRODUCAO E
COMERCIO LTDA - EPP
 VIVEIRO DU CAMPO - VIVEIRO DU CAMPO PRODUCAO E
COMERCIO DE MUDAS LTDA
 MACIEL AMARAL INDUSTRIA E COMERCIO DE CARVAO
VEGETAL LTDA - ME
 M SOUSA FLORESTAL - M SOUSA FLORESTAL LTDA CARVAO
PARANA - CARVAO PARANA LTDA - ME
 J R MECANIZACAO - J. RIZZATTI - ME
 ENERGIA VIVA - ENERGIA VIVA AGROFLORESTAL LTDA.
 F. V. M. SERVICOS - F. V. M. DE SOUZA SERVICOS - ME
 TOPFLORA REFLORESTAMENTO E DESENVOLVIMENTO - L. A.
ANSCHAU - ME
 FAZENDA SANTA MARIA INDUSTRIA E CARVOARIA -
CARVOARIA PEREIRA LTDA - EPP
 CURY AGROPECUARIA E SERVICOS RURAIS - WALDNEY CURY
ADMINISTRACAO - EPP
 FUTURA AGROPECUARIA - FUTURA AGROPECUARIA E
REFLORESTAMENTO LTDA - ME
 AGF SERVICOS FLORESTAIS - E. W. FERNANDES - ME
 SANDES EMANUEL COMERCIO AGROFLORESTAL - SANDES
EMANUEL COMERCIO AGROFLORESTAL LTDA - EPP
 NTZ REFLORESTAMENTO E AGROPECUARIA - NTZ
REFLORESTAMENTO E AGROPECUARIA LTDA
 PARANA AGRO FLORESTAL - O. MENDES FILHO & CIA. LTDA - ME
 CULTIVAR AGRONEGOCIO - N. J. MIGNONI JUNIOR EIRELI - ME
 M. C. FLORESTAL - M. C. LIMA MARINHO & CIA LTDA – ME
GENESISAGRO S/

A presença da indústria florestal é bastante significativa no município, tem


“florestas de eucaliptos” plantadas, por possuir solo e clima favoráveis ao eucalipto. O
reflorestamento como uma atividade destinada a gerar empregos é uma falácia, está
destinada a gerar lucros como qualquer empresa capitalista, apenas isso. A implantação
da floresta depende, não apenas da promessa de reflorestamento sustentável, mas sim da
6
Fonte: Empresas do Brasil
exploração da mata nativa, da pouca geração de empregos, da diminuição de água, e de
desapropriação de terras de pequenos agricultores rurais e outros inúmeros impactos
aqui estudados, diferentemente do discurso proferido.

1.3 Os impactos socioambientais causados pelas monoculturas.

Em nome do “progresso”, não se discuti os inúmeros desastres


ambientais causados por esse modelo de “desenvolvimento”, que além dos
grandes impactos ambientais, também amplia os problemas sociais da região,
com o aumento de famílias sem habitação e de invasões de terras na periferia da
cidade. Tal modelo de agricultura produz impactos ambientais negativos que
comprometem o futuro, como o empobrecimento e contaminação dos solos;
redução e contaminação das águas; perda de biodiversidade, natural e
cultivada; mudanças microclimáticas; destruição de paisagens; erosão e riscos
de desertificação. Além de afetar a segurança alimentar e nutricional, a saúde, a
soberania, enfim, a qualidade de vida rural e urbana (Le Monde, 2009).

O agronegócio é um dos responsáveis pela agressão e modificação dos


costumes no campo. A alteração na sociedade, na paisagem nos remete a uma
questão que diz respeito ao descaso dos direitos humanos, pouco visto nesse
conflito. Além do que, tem provocado vários problemas sociais como: aumento
de famílias sem moradia e conseqüentemente conflitos e invasões de terras na
periferia da cidade, além do aumento da violência.

Outro fator de preocupação dos ambientalistas e estudiosos do tema se refere a


grande quantidade água explorada pelas plantações que não necessitam de muitos
nutrientes; precisa de água e sol para se desenvolver. Tempo médio para corte,
dependendo da espécie, de 4 a 11 anos, atingindo em média 25 metros de altura. Cada
árvore consome cerca de 360 litros de água por dia (TENDINE, 2003). A
biodiversidade é de direito de todos e deve ser tratada por nós brasileiros como causa de
garantia nacional. Não devemos permitir que as indústrias pensem por nós.
1.4 Recursos hídricos: Rio Grajaú

O Brasil, no que se refere à disponibilidade de recursos hídricos, dispõe de uma


posição privilegiada em relação aos outros países do mundo. Correspondendo a 13% da
disponibilidade hídrica mundial (AGÊNCIA, 2013).

Fonte: Blog ‘De Olho em Grajaú’

1.5 Conclusão:

Portanto, a crescente ação de industrialização tem colaborado com a


degradação ambiental e a redução da qualidade de vida da população em toda a parte do
mundo. Os agentes dessas dificuldades são consequências do uso indevido da natureza e
dos recursos naturais pela corrida de lucros cada vez maiores. Ao longo do tempo, o
homem atentou modificações no meio ambiente de forma desrespeitosa como, na
contaminação dos solos poluição do ar, recursos hídricos, diminuição dos recursos
naturais e avanço da produção de resíduos sólidos.
O crescimento da urbanização pela qual o mundo vem sofrendo, trouxe
implicações ambientais intensas, principalmente nos países mais pobres, como o Brasil,
ocorrendo com maior rapidez. Nosso Estado Maranhão, um dos Estados mais pobres do
país foi visto pelo agronegócio como um bom provedor de recursos naturais e isso
ocasionou transformações drásticas não só para o meio ambiente como para as
comunidades locais.
De acordo com nossos estudos, percebemos que a monocultura extensiva
agride o solo e o ecossistema, causando um desequilíbrio no ambiente, o que gera
mudanças climáticas e na composição do solo. Sabemos que plantações de soja e
eucalipto pode ser viável sim, até pelo pequeno agricultor. O que nos incomoda é como
está sendo feito o manejo das plantas.
A cultura do eucalipto consorciada com outra espécie, mesmo com manejo
especial, implica em aumento de custos e redução da produtividade. Sua monocultura se
revela de bom crescimento e rendimento madeireiro, representando uma fonte de
energia 87% mais barata que a de combustíveis fósseis, por outro lado, ela representa
um desenvolvimento de escala devastadora, porque reduz a biodiversidade — o
principal impacto. afeta os lençóis freáticos interferindo no reabastecimento da umidade
do solo e realimentação dos mananciais; altera a qualidade do solo quando plantadas em
áreas férteis, destruindo as condições de produtividade biológica, a fertilidade do solo e
a capacidade futura de produção de alimentos onde for instalada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DRUMMOND, José Augusto. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa.


Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, 1991, p. 177 – 197.

GRYNSZPAN, M. Posseiro. In: Motta, M. (Org.). Dicionário da terra. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2005. p. 373-376. Verbete.

VIOLA, E.; LEIS, H. Desordem global da biosfera e nova ordem internacional: o papel
organizador do ecologismo. In: LEIS, H. (Org.). Ecologia e política mundial. Rio de
Janeiro: Vozes, 1991.
TEDINE, Vânia. Eucalipto: O reflorestamento do capital financeiro. Jornal a Nova
Democracia, v. 2, n.12, p. 1, ago. 2003.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Relatório de conjuntura dos recursos
hídricos traz balanço da situação e da gestão das águas no Brasil. 2013. Disponível
em: http://www2.ana.gov.br/Paginas/imprensa/noticia.aspx?id_noticia=12365
SANTOS, Carla Norma Correia; VILAR, José Wellington Carvalho. O papel do
produtor familiar na agricultura brasileira: desafios e Perspectivas. In: ENCONTRO
NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 21, 2012., Uberlândia. Anais...Uberlândia,
2012.
NODARI, Eunice. Entrevista [4 set. 2014]. Entrevista concedida a Fátima Freitas.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/eunice-
nodari-doutora-em-historia-ambientalnao-podemos-controlar-chuva-os-desastres-sim-
13822995. Acesso em: 7 jun. 2015.

https://empresasdobrasil.com/empresas/grajau-ma/cultivo-de-eucalipto

http://biblioteconomiamaranhense.blogspot.com.br/2011/06/biblioteca-municipal-de-
grajau.html

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Grajaú: 2016.


Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ma/grajau

https://diplomatique.org.br/agronegocio-e-monoculturas/

http://realidadenatela.blogspot.com.br/2015/08/site-sediverte-denuncia-poluicao-no-
rio.html

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