MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (MDMA)
Kamanda Raylana Marques dos Reis
500 Anos de Destruição Ambiental no Brasil
Um diagnóstico Preliminar
PÁDUA, J. A. et al. 500 anos de destruição ambiental no Brasil: uma lição a ser aprendida. Série Técnica–Brasília–DF, WWF–Brasil, v. 5, 2000.
1 - A LÓGICA DA HERANÇA PREDATÓRIA
Quando os colonos portugueses desembarcaram em território brasileiro em
1500, descobriram uma grande variedade de ecossistemas, incluindo manguezais, rios, florestas e savanas, representando um vasto “capital natural”. Este ambiente rico coincidiu com os interesses económicos da expansão marítima europeia, baseados em princípios mercantilistas que visavam aumentar o rendimento dos países europeus através do estabelecimento de monopólios. Os colonos reconheceram que o uso direto da natureza, ignorando o conhecimento das comunidades indígenas locais, era o caminho para a prosperidade em novas terras. O pau-brasil foi o primeiro recurso a ser explorado em larga escala desde o início da colonização, evidenciando seu caráter predatório. O pensamento predatório continuou após a independência do Brasil em 1822 e afetou a relação do Brasil com o meio ambiente. A sensação de que os recursos naturais são inesgotáveis levou a práticas tecnológicas desrespeitosas, como a queima de florestas para plantações, e a uma atitude parasitária em relação à abundância natural. Devido à falta de conhecimento e consciência da natureza tropical, tem sido subutilizada e vista como um obstáculo ao desenvolvimento económico. As riquezas naturais do país eram vistas como um “constrangimento” a ser superado, e não como um tesouro a ser estudado e desfrutado de forma sustentável. Pode ser observado a forte influência da mentalidade predatória na fundação do Brasil, desde o seu primeiro contato com os senhores coloniais portugueses até os dias atuais. Ele enfatiza a importância de repensar os modelos de desenvolvimento para garantir um futuro sustentável, reconhecendo e valorizando as riquezas naturais do país. 2 - O DESENVOLVIMENTO DAS PRÁTICAS PREDATÓRIAS Nos séculos XVI e XVII, a mentalidade predatória dos colonizadores deixou um legado de destruição ambiental. Ao colonizar novos territórios, os portugueses demonstraram uma notável falta de preocupação ambiental, sacrificando ganhos económicos imediatos em prol da proteção ambiental. Um exemplo marcante deste descaso ambiental foi observado durante a expedição de Martím Afonso de Sousa em 1531, quando marinheiros, temendo a propagação da febre, incendiaram ilhas inteiras da costa sudeste. O incidente destacou a falta de compreensão dos colonos sobre os ecossistemas locais e a sua intenção de destruí-los para evitar riscos para a saúde. Além disso, a expansão do cultivo da cana-de-açúcar, baseada nas queimadas e na localização do cultivo nas florestas tropicais, levou à destruição em grande escala da Mata Atlântica. Grandes áreas de floresta foram destruídas para dar lugar a plantações de cana- de-açúcar e fornecer lenha para o funcionamento das usinas de açúcar, contribuindo significativamente para a perda de biodiversidade e para as mudanças no clima local. No século XVIII, a intensificação da mineração de ouro e diamantes exacerbou ainda mais a degradação ambiental. A poluição ambiental causada pelo desmatamento e pela extração mineral causa erosão do solo, assoreamento de rios e poluição por mercúrio, impactando negativamente a saúde dos ecossistemas locais e da sociedade humana. O século XIX marcou o auge do ciclo do café, que teve impacto devastador na Mata Atlântica do Vale do Paraíba. A desflorestamento desenfreado e as más práticas agrícolas para a criação de plantações de café levaram ao declínio económico e ambiental na região, resultando na perda de solo fértil, na erosão e em alterações no clima da região. No século XX, a expansão das fronteiras agrícolas para biomas como o Cerrado e a Amazônia continuou a acelerar a degradação ambiental. A dseflorestação em grande escala causada pela procura de terras para agricultura e pecuária está a exacerbar os problemas de perda de biodiversidade, erosão do solo e alterações climáticas, aumentando as ameaças à sustentabilidade ambiental do país. O século XVII foi caracterizado por uma mentalidade predatória que causou danos irreparáveis aos ecossistemas naturais e à biodiversidade. Este padrão de destruição continua até hoje, colocando grandes desafios à proteção ambiental e à busca do país pelo desenvolvimento sustentável. 3 - UM NOVO CAMINHO PARA UM NOVO MILÊNIO O Brasil tem uma longa história de exploração predatória de seus recursos naturais, que remonta aos tempos coloniais. Durante este período, os colonos europeus acreditavam que a abundância e a riqueza naturais do Brasil eram infinitas e ilimitadas. No entanto, mesmo após a libertação, esta forma de pensar continuou e teve um impacto negativo no ambiente e na sociedade. Ao longo dos séculos, as florestas do Brasil, especialmente a Mata Atlântica e a Floresta do Cerrado, diminuíram dramaticamente. Isto está a ter um impacto negativo não só na biodiversidade, mas também na economia e na qualidade de vida das pessoas. Ciclos econômicos como o do café esgotam os recursos naturais, levando ao declínio de regiões inteiras como o Vale do Paraíba. A exploração generalizada também teve os seus efeitos sobre as comunidades indígenas, levando a um rápido declínio populacional. No entanto, o autor também destaca que há exemplos positivos da história brasileira que demonstram formas sustentáveis de interação com o meio ambiente. Por exemplo, o cultivo do cacau à sombra das árvores da Mata Atlântica preserva parte do ecossistema natural. Além disso, os projetos modernos liderados pelo Fundo Mundial para a Natureza mostram que é possível alcançar o desenvolvimento econômico de uma forma sustentável, reduzindo ao mesmo tempo o impacto no ambiente. Apesar deste progresso, é destacada a importância de políticas governamentais consistentes para promover a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável em todo o país. Ações isoladas, ou focadas apenas no controle e na punição, não são suficientes para enfrentar os problemas ambientais que o Brasil enfrenta. Precisamos de ações colaborativas que reúnam diferentes setores da sociedade e priorizem a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras. Concluímos que a conservação ambiental não é apenas uma questão econômica, mas também uma questão ética. O ser humano é parte integrante da natureza e é responsável pela sua conservação e sustentabilidade para as gerações futuras. Encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental é fundamental para o futuro do Brasil e do planeta como um todo.