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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

BRUNA ELIZ ZOREK

UMA REVISÃO DO IMPACTO DA CAÇA LEGALIZADA NA CONSERVAÇÃO DE


MAMÍFEROS SILVESTRES

CURITIBA
2017
BRUNA ELIZ ZOREK

UMA REVISÃO DO IMPACTO DA CAÇA LEGALIZADA NA CONSERVAÇÃO DE


MAMÍFEROS SILVESTRES

Trabalho apresentado como requisito parcial para


obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas
do Setor de Ciências Biológicas da Universidade
Federal do Paraná.

Orientador: Dr. Emygdio Leite de Araujo Monteiro-Filho


Co-orientador: Dr. Roberto Fusco Costa

CURITIBA
2017
AGRADECIMENTOS

Sou grata à minha família, cujo incentivo e compreensão me fizeram chegar até
aqui. Pai, seu cuidado e carinho foram fundamentais nos momentos de dificuldade.
Mãe, você é meu alicerce e meu exemplo para não desistir dos meus sonhos.
Obrigada por sempre incentivarem a minha independência e a me fazerem enxergar a
importância de seguir meu próprio caminho. Eu amo vocês.
Agradeço aos amigos que cruzaram o meu caminho durante esse período, que
foi o melhor da minha vida. Dentre todas as coisas que a universidade me
proporcionou, vocês certamente foram a melhor delas, estando presente em cada uma
das vezes que precisei de consolo e carinho. Vocês aguentaram meus surtos,
contribuíam para a minha saúde mental e também estavam presentes nos momentos
de celebração, alegria e alívio. Todos vocês deixaram um pouco de si comigo, e
levaram um pouco de mim com vocês. Em especial àqueles que levarei para a vida,
Alessandro, Lillian, Lucas e Raul, muito obrigada por fazerem eu me sentir amada.
Às antigas amigas, que acompanharam o encerramento de mais um ciclo de
muitos que estão por vir e foram compreensivas nos momentos que precisei estar
ausente. Ana e Thami, sou grata ao universo por vocês permanecerem na minha vida
por tanto tempo e continuarem nela ainda por muito mais.
Obrigada a todos que estiveram comigo na ECOS e que participaram
ativamente do meu amadurecimento pessoal e profissional. Por muito tempo, vocês
foram o único motivo que tive para continuar seguindo em frente. Aos amigos que
conheci no vôlei, sou grata por serem a minha fonte de descontração e meu escape
das responsabilidades diárias, a vida ficou muito mais leve com vocês.
Aos que entraram na minha vida recentemente, mas que me ajudaram nessa
reta final, em especial aos meus orientadores Roberto Fusco e Marcos Carlucci,
obrigada pela dedicação e paciência.
RESUMO

A biodiversidade está ameaçada principalmente pela superexploração de recursos


naturais e pela destruição do hábitat. A legalização da caça é defendida por muitos
autores como uma alternativa para diminuição da superexploração de animais
silvestres ocasionada pela caça ilegal. Em alguns países, isso ocorreu a partir da
regulamentação da caça esportiva e de subsistência, movimentando recursos
financeiros que são aplicados na conservação desses animais. No entanto, esse tipo
de prática tem gerado controvérsias na literatura. Por isso, esse trabalho teve como
objetivo avaliar os impactos desses dois tipos de caça na conservação dos mamíferos
silvestres. Essa avaliação foi realizada com base na revisão de estudos de caso na
literatura científica internacional, a fim de discutir as implicações da liberação da caça
sobre a fauna nativa no Brasil. Ao todo, um total de 12 e 24 estudos relacionados a
reservas de caça e a caça de subsistência, respectivamente, foram selecionados. Nos
casos das reservas de caça, observou-se que pelo menos 80% deles constataram
declínios populacionais nos locais onde a caça troféu é permitida, e 15%
demonstraram ausência de impactos. As principais causas desses impactos são falhas
na gestão, encontradas em 75% dos casos, e as ameaças externas, correspondendo a
40% dos estudos. Para a caça de subsistência, 80% dos artigos exibiram declínios
populacionais de mamíferos, nos quais em 65% destes houve extinção local de
alguma espécie. Além disso, 12% dos casos relataram mudanças comportamentais
dos animais como impacto das atividades de caça e outros 12% apresentaram
ausência de impactos. As principais razões para os impactos encontrados
correspondem à demanda de recursos para consumo e comércio por parte das
comunidades (50%), a pressão de caça (25%), ao hábitat (20%) e a caça ilegal (12%).
Ao analisar o contexto do Brasil, o que se observa é um sistema de proteção e
conservação da fauna que enfrenta os mesmos problemas relatados nos locais onde a
caça é permitida. Projetos políticos que ambicionem regulamentar esse tipo de
atividade no país e que estejam embasados nessas mesmas falhas estão, portanto,
fadados ao fracasso. Recomenda-se explorar outros meios alternativos de uso da vida
selvagem, como o ecoturismo, a fim de fortalecer o sistema de proteção já existente e
permitir um meio de recreação e de levantamento de recursos de forma sustentável.

Palavras-chave: conservação, mamíferos silvestres, caça legal.


ABSTRACT

Nowadays biodiversity is threatened mainly due to overexploitation of natural resources


and habitat destruction. Many authors support hunting legalization as an alternative to
decrease the overexploitation of wild animals caused by illegal hunting. In some
countries, the legalization came with the regulation of both sport and subsistence
hunting, moving financial resources to be applied on these animals conservation.
However, this kind of practice has been creating controversies in literature, so this
dissertation aims to evaluate the impacts of these two types of hunting on the
conservation of wild mammals. This evaluation was performed through revision of case
studies in the scientific literature, in order to discuss the implications of the liberation of
hunting over Brazil’s wild fauna. A total of 12 and 24 studies related to game reserves
and subsistence hunting, respectively, were selected. In the game reserves cases, it
was observed that at least 80% of them showed population decline in places where
trophy hunting is allowed, and 15% showed no impacts. The major causes of these
impacts are flawed management, found in 75% of cases, and external threats,
corresponding to 40% of the studies. As for subsistence hunting 80% of articles
showed decline on mammal populations, with 65% of them indicating local extinction of
at least one species. In addition, 12% of the studies stated behavioral changes on the
animals as an impact of the hunting activities, and other 12% showed no impacts. The
main reasons for the found impacts relate to a demanding of resources for consumption
and commerce by the communities (50%), hunting pressure (25%), habitat (20%) and
illegal hunting (12%). When Brazil’s context comes to play, the same problems
regarding fauna protection and conservation in places where hunting is allowed can be
observed. Political projects attempting to regulate the hunting in the model those flawed
systems are therefore bound to fail. It is recommended to explore the alternatives of
wildlife use, such as ecotourism, in order to strengthen the current protection system
and allow sustainable means of recreation and resource uptake.

Keywords: conservation, wildlife mammals, legal hunting.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 9
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 11
3.1 RESERVAS DE CAÇA ................................................................................................... 11
3.1.1 CAUSAS DOS IMPACTOS ...................................................................................... 13
3.1.1.1 GESTÃO .......................................................................................................... 13
3.1.1.2 AMEAÇAS EXTERNAS ................................................................................... 16
3.1.2 AUSÊNCIA DE IMPACTOS ..................................................................................... 17
3.2 CAÇA DE SUBSISTÊNCIA ........................................................................................... 18
3.2.1 CAUSAS DO IMPACTO ........................................................................................... 21
3.2.1.1 DEMANDA DE RECURSOS ............................................................................ 21
3.2.1.2 PRESSÃO DE CAÇA ....................................................................................... 23
3.2.1.3 HÁBITAT .......................................................................................................... 24
3.2.1.4 CAÇA ILEGAL.................................................................................................. 26
3.2.2 AUSÊNCIA DE IMPACTO........................................................................................ 27
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 28
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 30
ANEXO 1 ............................................................................................................................. 35
ANEXO 2 ............................................................................................................................. 36
ANEXO 3 ............................................................................................................................. 39
7

1 INTRODUÇÃO

A superexploração de recursos naturais, somado com a destruição de


hábitat representa uma das principais ameaças à conservação da
biodiversidade (GROOM; MEFFE; CARROLL, 2005). Dentre as várias
atividades de superexploração, destaca-se a pressão de caça ilegal sobre
animais silvestres. Estimulada por questões culturais e econômicas, a caça
ilegal tem causado reduções populacionais drásticas para muitas espécies
de vertebrados, particularmente mamíferos de médio e grande porte, em todo
o mundo (MARTIN; CARO, 2012; LAWSON; VINES, 2014). Apesar dos
esforços no combate a caça ilegal, alguns autores defendem que a proibição
total da caça é ineficiente e anti-cultural e que inclusive pode estimular a
ilegalidade (LINDSEY; ROULET; ROMAÑACH, 2007).
Para contornar esse impasse muitos países tem legalizado a caça sobre
a fauna nativa como uma prática esportiva e de subsistência. As principais
justificativas da legalização da caça esportiva são pela promoção de serviços
sociais, econômicos e de conservação (LEWIS; ALPERT, 1997). Essa prática
é muito comum em países do continente Africano, Europeu, Asiático e na
América do Norte, onde formam uma indústria bastante lucrativa. Por
exemplo, as reservas de caça na África podem gerar até 200 milhões de
dólares por ano, em que leões, leopardos, entre outros grandes mamíferos
são os troféus (LINDSEY; ROULETB; ROMANACHA, 2007). Regularizada
por quotas e procedimentos de abate, a caça por troféu representa uma
importante ferramenta para conservação principalmente quando não causa
declínio da espécie caçada; quando facilita a recuperação de espécies
ameaçadas por meio de incentivos financeiros para reintrodução e
reabilitação; quando promove a redução de animais “problemas” ou até
mesmo quando promove a contratação de funcionários para combater a caça
ilegal (LINDSEY et al, 2006; LINDSEY; ROULETB; ROMANACHA, 2007;
CROSMARY; CÔTÉ; FRITZ, 2015).
Já a caça de subsistência é permitida na maioria dos países do mundo,
sendo uma importante fonte de proteína e renda para os povos tradicionais
(e.g. indígenas, quilombolas), além do aspecto cultural (WILKIE;
8

CARPENTER, 1999; ROBINSON; BENNETT, 2000). Geralmente, a caça de


subsistência não é regularizada quanto a quotas e procedimentos de abate, e
é permitida quando o abate dos animais é feito para saciar a fome do agente
ou da sua família, assumindo-se que nessas condições não há ameaça a
persistência das populações de animais caçados (BRASIL, 1998).
No Brasil, a caça sobre a fauna silvestre nativa é proibida e
considerada como um crime ambiental, mas ela é permitida como forma de
subsistência pela Lei nº 9.605/1998. Atualmente, no entanto existe a ambição
de oficializar e regulamentar a prática de caça nos moldes da caça esportiva.
Embora os argumentos na defesa da prática da caça esportiva e de
subsistência sejam legítimos, essas atividades têm gerado controvérsias
quanto à conservação das populações caçadas (FA; BROWN, 2009;
SELVAN et al, 2013). Este trabalho, portanto, possui como objetivo avaliar o
impacto desses dois tipos de caça na conservação de mamíferos silvestres.
Essa avaliação será realizada com base na revisão de estudos de caso na
literatura científica, a fim de melhorar o entendimento dos potenciais
impactos e problemas associados à caça esportiva e de subsistência na
conservação da vida silvestre, e discutir as implicações da liberação de caça
sobre a fauna nativa no Brasil.
9

2 MATERIAL E MÉTODOS

Para caracterizar o impacto da caça legalizada dos mamíferos silvestres ao


redor do mundo foram compilados estudos provenientes de literatura primária.
Para tanto, efetuou-se buscas com os termos “legal hunting”, “bushmeat hunting” e
“trophy hunting”, com filtros de “mammals” e “article” na base de dados Web of
Science. Como parâmetros de inclusão dos estudos no banco de dados, foram
considerados somente aqueles que contemplaram a caça legalizada em reservas
de caça ou áreas protegidas; e que avaliaram o impacto dessa atividade sobre as
espécies envolvidas.
Os dados retirados desses estudos foram tabulados e separados de acordo
com a classificação “reserva de caça” e “caça de subsistência”. Para cada estudo
foram levantados o local (continente/país), a abordagem do estudo (espacial ou
temporal, populacional ou comportamental), os animais avaliados que foram
impactados negativamente, o tipo e a causa do impacto, quando houver.
Para os trabalhos de reserva de caça, as causas de impacto foram definidas
em duas categorias, podendo ser aplicada mais de uma para cada estudo. A
primeira categoria é “gestão”, e nela foram inclusos os impactos causados por
ausência total ou insuficiência de: monitoramento das espécies caçadas e
fiscalização do cumprimento de cotas, atribuição de benefícios às comunidades
locais, patrulhamento, investimento em pesquisa ecológica da vida selvagem,
orientação aos caçadores e clientes; e corrupção. Já no segundo grupo,
denominado como “ameaça externa”, estão quaisquer ameaças relacionadas à
caça ilegal, dentro ou fora das reservas, bem como conflitos com humanos.
Para os artigos de caça de subsistência, foram definidas as principais causas
dos impactos encontrados nas seguintes categorias: “demanda de recursos”,
“pressão de caça”, “hábitat” e “caça ilegal”. A primeira categoria consta de
trabalhos nos quais há demanda das comunidades por fonte protéica (consumo)
ou fonte de renda (comércio), seja decorrente do aumento populacional da própria
tribo ou dos habitantes urbanos. Na segunda categoria se enquadram os impactos
decorrentes da presença dos caçadores, das armadilhas ou das armas de fogo
utilizadas por eles, sem que obrigatoriamente os autores tenham identificado essa
prática como uma demanda de subsistência. No terceiro grupo se encontram os
10

impactos da caça que estão associados à exploração de outros recursos


ambientais, a fragmentação e deterioração do hábitat e aos diferentes tipos
florestais, tanto dentro das áreas protegidas, como nas suas florestas adjacentes.
A última categoria inclui os impactos ocasionados pela caça furtiva, aquela que
ocorre em zonas específicas das áreas protegidas nas quais a caça é proibida,
seja pela população residente ou pela circundante a essas áreas; e também pela
caça indiscriminada de espécies que possuem status de proteção pela União
Internacional da Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês).
11

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 RESERVAS DE CAÇA

Um total de 12 estudos publicados no período de 1998 a 2017 foram


compilados a partir da busca realizada (ANEXO 1: tabela 1) da África, América do
Norte e Europa (figura 1). Foram encontrados trabalhos que avaliaram os impactos
da caça a partir da variação espacial, com comparação entre áreas caçadas
(reservas de caça) e áreas com ausência de caça (parques nacionais) e outros a
partir de um gradiente temporal, com análise desses impactos num mesmo local
ao longo do tempo.

Continentes
12

10

8
África
6
América do Norte
4 Europa

0
Continente

Figura 1: gráfico representativo da quantidade de trabalhos da reserva de caça que foram


compilados por continente.

Pelo menos 80% dos estudos constataram declínios populacionais de animais


nos locais onde a caça ao troféu é permitida (figura 2). Verificou-se que esses
impactos estavam associados a algumas causas comuns, decorrentes
principalmente de ações antrópicas. Nem todas as espécies, no entanto, foram
impactadas por esse tipo de atividade.
12

Tipos de Impactos
90%
80%
70% 80%
60%
50% Declínio populacional
40% Ausência de impacto
30% Mercado insuficiente
20%
10% 12% 8%
0%
Tipo de impacto

Figura 2: gráfico representativo dos tipos de impactos encontrados nos trabalhos de reserva de
caça que foram compilados.
13

3.1.1 CAUSAS DOS IMPACTOS

Os impactos ocasionados as populações de espécies caçadas são


decorrentes de diversas causas, cujas categorias estão apresentadas na figura 3
e serão mais bem detalhadas a seguir.

Causas dos Impactos


80%
70% 75%
60%
50% Gestão

40% Ameaça externa


40%
30% Sustentáveis

20% Não avaliado

10% 15%
8%
0%
Causas do impacto

Figura 3: gráfico representativo das causas dos impactos encontrados nos trabalhos de reserva de
caça que foram compilados.

3.1.1.1 GESTÃO

Ao todo, 75% dos artigos selecionados apresentaram impactos aos mamíferos


selvagens decorrentes de problemas relacionados à gestão. A maioria dos
estudos apontou as cotas insustentáveis como uma das razões determinantes no
declínio das populações caçadas. Isso ocorre por diversos aspectos que não são
levados em consideração quando essas estimativas são calculadas, mas que
possuem um papel fundamental na sua eficácia, como os fatores ambientais e a
ecologia dos animais.
Trabalhos exibem que as taxas de densidade, tamanho de grupo e
proporção sexual apresentam variação espacial da vida selvagem dentro de uma
mesma reserva, demonstrando que diferentes espécies podem responder de
forma distinta à intensidade do uso da vida selvagem. Essas estimativas podem
14

ser influenciadas pela distribuição de água, de alimentos e de hábitats dentro da


reserva (WILFRED; MACCOLL, 2016). O tipo de cobertura vegetal também pode
influenciar significativamente na distribuição de alguns taxa, e explicar as
diferenças encontradas em áreas protegidas distintas (WALTERT; MEYER;
KIFFNER, 2009; KAYS et al, 2017). Portanto, todos esses fatores sugerem que as
características do hábitat são importantes condições a serem consideradas em
estudos prévios que determinem cotas e outras medidas de conservação
(WILFRED; MACCOLL, 2016).
A metade dos estudos que apontam cotas insustentáveis está relacionada
essencialmente a populações que possuem harém e comportamentos infanticidas,
como leões e zebras. Pois, nessas espécies, após a morte do macho alfa, seus
filhotes podem ficar vulneráveis ao infanticídio causado pelo macho substituto. Por
consequência, a caça de machos adultos pode causar, de forma indireta, uma
perturbação social e genética nessas populações (LOVERIDGEA et al, 2007). Por
isso é importante ter um conhecimento prévio da ecologia desses animais para o
estabelecimento adequado de cotas específicas para faixa-etária e sexo,
permitindo que as taxas reprodutivas sejam suficientes para manter as densidades
populacionais desses grupos estáveis. Propõe-se como solução o investimento em
pesquisas sobre a vida útil das espécies caçadas dentro das reservas, a fim de
coletar dados como a longevidade, a proporção sexual de adultos e juvenis, a
idade da primeira reprodução e o sistema social. Além disso, uma seção com
populações imune à caça também pode ser interessante, permitindo a presença
de pesquisa constante e, talvez, ser aproveitada para a realização de ecoturismo
fotográfico. Recomenda-se ainda que a idade de cada troféu seja validada de
forma independente a partir de fotografias pós-morte, com características físicas
que indiquem a idade dos animais e que haja critérios mais rigorosos para a
exportação dessas espécies (LOVERIDGEA et al, 2007; CARO et al, 2008;
PACKER et al, 2009; 2011).
A falta de conhecimento e orientação dos caçadores ou da comunidade local
circundante às reservas também são problemas de gestão que contribuem para os
impactos negativos da caça troféu. Recomenda-se que tanto os caçadores
profissionais, como os clientes devam ser educados sobre como estimar a idade
dos leões, fator extremamente importante no caso de populações infanticidas
(PACKER et al, 2011). Ainda, a falta de fiscalização e monitoramento das espécies
15

caçadas se mostrou como um aspecto decisivo de caça insustentável (LINDSEY;


ROULETB; ROMANACHA, 2007; PACKER et al, 2009; KAYS et al, 2017). A
corrupção e a falta de atribuição de recursos as comunidades locais também são
questões relacionadas à gestão que devem ser consideradas (LINDSEY;
ROULETB; ROMANACHA, 2007). O desenvolvimento de um sistema de
certificação para as reservas de caça foi proposto como uma possibilidade de gerir
recursos que podem ser utilizados no monitoramento, no cumprimento de cotas e
na contratação de agentes qualificados, bem como para contribuir com as
comunidades locais (LEWIS; ALPERT, 1997; LINDSEY et al, 2006). Na prática,
isso significaria que os operadores de caça teriam a obrigação de pertencerem a
associações de caça nacionais aprovadas pelo Estado, que por sua vez teria o
poder de suspender ou remover licenças de caça em caso de descumprimento
das legislações (LINDSEY; ROULETB; ROMANACHA, 2007). Além disso, esse
sistema poderia atuar como um incentivo aos caçadores, visto que a maioria deles
leva em consideração se a caça está realmente beneficiando a conservação
quando escolhem um local para caçar (LINDSEY et al, 2006).
Além disso, embora em diversos países o sistema de reservas de caça gere
um grande incentivo econômico para a conservação, e essa seja a maior justificativa
para sua regulamentação (LEWIS; ALPERT, 1997; LINDSEY; ROULETB;
ROMANACHA, 2007), nem sempre isso acontece, evidenciando mais uma
problemática relacionada à gestão. Um estudo realizado na Europa apresentou
mercado insuficiente para justificar a realização da caça, apontando, inclusive,
evidências que suportam prejuízos financeiros derivados dessa prática. Portanto,
análises que estimem valores não-mercantis relacionadas com a caça são
recomendadas, a fim de entender quais são as prioridades da sociedade e identificar
quais os benefícios de se manter as atividades de caça em longo prazo (MARTÍNEZ-
JAUREGUI et al, 2014).
16

3.1.1.2 AMEAÇAS EXTERNAS

As ameaças externas nas reservas de caça ainda são um problema


encontrado no continente africano e que afeta a eficiência da caça troféu, estando
presente em pelo menos 40% dos casos.
A proteção legal, subsidiada por leis eficientes, apoiada pela fiscalização,
como o patrulhamento, possuem um papel fundamental na manutenção das
densidades de grandes mamíferos. No entanto, o pouco investimento financeiro
para manter a funcionalidade do patrulhamento em áreas protegidas, como
combustível e manutenção dos veículos utilizados, limita a realização dessa
prática em grandes áreas. Cabe destacar que este tipo de atividade tem sido a
mais recomendada para combater a caça ilegal, visto que os guardas são
importantes para reforçar a proibição da caça furtiva e para dissuadir os caçadores
que a fazem (CARO, 1998; WALTERT; MEYER; KIFFNER, 2009).
Além disso, o uso de iscas para atrair animais para fora de áreas protegidas
também foi identificado como uma das causas que levam a declínios
populacionais. Para tal, recomenda-se a criação de “zonas tampão” ao longo do
limite das reservas, na qual a caça seria proibida e esse tipo de prática banida
(LOVERIDGEA et al, 2007).
Observou-se, ainda, que nos países onde a produção de gado é mais
intensiva, as taxas de caças a leões foram maiores. Isso demonstra que as
comunidades locais circundantes, como fazendeiros e produtores de gado,
também podem afetar as espécies caçadas, visto que eles efetuam retaliação dos
leões como controle de predadores, a fim de proteger suas produções e
propriedades. Portanto, para que a conservação seja efetiva, principalmente no
caso de populações infanticidas, são necessárias estratégias aprimoradas de
monitoramento, a fim de diminuir essas necessidades de retaliação por parte das
comunidades e de melhorar o compartilhamento de benefícios da caça ao troféu
(PACKER et al, 2009).
17

3.1.2 AUSÊNCIA DE IMPACTOS

Estudos já comprovaram a eficácia da reserva de caça ao troféu na


conservação de mamíferos silvestres na África (CARO, 1999; CROSMARY;
CÔTÉ; FRITZ, 2015) e nos EUA (KAYS et al, 2017), quando estas são
gerenciadas de forma adequada e possuem cotas condizentes. Porém, estes
casos se referem a 15% dos trabalhos levantados.
Não se pode presumir que a demografia dos animais necessariamente muda
nos locais onde eles são explorados e nem que existirão mudanças
comportamentais significativas, pois ambos os fatores obviamente dependerão do
nível de pressão de caça local (CARO, 1999). Isso explica porque algumas
espécies não foram impactadas em reservas de caça, demonstrando que quando
cotas de abate são conservadoras e rigorosamente gerenciadas, a conservação
pode ser efetiva nessas áreas (CROSMARY; CÔTÉ; FRITZ, 2015).
Um estudo demonstrou que no caso de grandes herbívoros, eles não só não
foram prejudicados pelas atividades de caça, como ainda prosperaram dentro das
reservas. Isso pode ser explicado pelo fato das áreas de caça possuírem menores
densidades de predadores e de espécies competitivas dominantes, quando
comparadas a áreas totalmente protegidas, demonstrando que as reservas de
caça podem atuar como refúgios para animais desse grupo (CROSMARY; CÔTÉ;
FRITZ, 2015). E, ainda é importante ressaltar que embora o ecoturismo e a caça
tenham efeitos mensuráveis na distribuição de algumas espécies, estes efeitos
ainda são relativamente menores quando comparados com as co-variáveis
ambientais, como a fragmentação ou uso da terra associado ao hábitat (KAYS et
al, 2017).
Ainda segundo os mesmos autores, a respeito do efeito da caça nas
mudanças comportamentais dos animais, um estudo realizado em algumas
florestas dos EUA relatou que algumas espécies demonstraram maior propensão a
evitar pessoas em áreas caçadas. Embora essa atitude sugira que esses animais
percebem o risco de seres humanos de forma diferente, este efeito não foi
encontrado para as espécies mais caçadas, o que pode indicar que os caçadores
humanos não criam criticamente efeitos de "medo" para a comunidade de vida
selvagem.
18

3.2 CAÇA DE SUBSISTÊNCIA

Um total de 24 estudos publicados durante o período de 1999 a 2016 foram


compilados a partir da busca realizada (ANEXO 2: tabela 2) nos continentes
africano, americano e asiático (figura 4). Foram encontrados trabalhos que fizeram
comparações dentro de áreas protegidas ao longo de um gradiente de tempo,
avaliando o impacto das atividades de caça ao decorrer dos anos. Além disso,
outros analisaram as variações espaciais, comparando locais onde a prática é
permitida, com regiões onde ela é inexistente. Estas poderiam estar localizadas
dentro de áreas protegidas ou ao redor delas, e ainda, estar associadas a outros
tipos de extração. Outros estudos, no entanto, não conseguiram avaliar o impacto
da caça por não possuírem informações suficientes sobre a densidade
populacional das espécies.

Continente
12

10

8 África

6 América do Sul
Ásia
4
América Central
2

0
Continente

Figura 4: gráfico representativo da quantidade de trabalhos da caça de subsistência que foram


compilados por continente.

Pelo menos 80% dos estudos demonstraram taxas insustentáveis de caça em


locais nos quais esse tipo de atividade para a subsistência é permitida,
ocasionando declínios populacionais de algumas espécies de mamíferos (figura
5). Destes, cerca de 65% ainda apresentaram extinção local de alguns taxa.
19

Tipos de Impactos
90%
80%
80% Declínio populacional
70%
60% 65%
Extinção local de espécies
50%
40%
Mudança
30% comportamental
20% Ausência de impacto
10% 12% 12%
0%
Tipo de impacto

Figura 5: gráfico representativo dos tipos de impactos encontrados nos trabalhos de caça de
subsistência que foram compilados.

Há evidências de que em locais onde a pressão de caça é intensa, os animais


de grande porte são os primeiros a se esgotarem, principalmente aqueles que
possuem baixas taxas de reprodução, tornando-se vulneráveis à extinção local
(WILKIE; CARPENTER, 1999; FA; RYAN; BELL, 2005; TOPP-JØRGENSEN et al,
2009).Portanto, a redução dos níveis de caça é primordial para a sobrevivência
das espécies de grande porte (WILKIE; CARPENTER, 1999; TOPP-JØRGENSEN
et al, 2009; MELO et al, 2015). Além disso, ações que quantifiquem as taxas
atuais de caça para mantê-las sustentáveis são recomendadas (MELO et al,
2015), bem como o monitoramento dos status das populações selvagens e dos
níveis contínuos da caça (RAO et al, 2005; 2010; SÁNCHEZ; VÁSQUEZ, 2007).
Mudanças comportamentais decorrentes das práticas de caça também foram
registradas em 12% dos artigos levantados. Alguns trabalhos mostram mudanças
na distribuição espacial das espécies, decorrentes não apenas do declínio
populacional, mas também da mudança de comportamento. Isso ocorre porque os
impactos das atividades humanas na distribuição de animais variam entre as
espécies e grupos funcionais de mamíferos (URQUIZA-HAAS; PERES; DOLMAN,
2011; BOBO et al, 2014). Por exemplo, em primatas, como o galago-de-aleens
(ANEXO 3), em bovídeos, como o cabrito-azul, o duiker-de-ogilby, (LAURANCE et
al, 2008), o elande, e em rinocerontes-brancos observaram-se comportamentos de
se evitar locais com pressão de caça, como os limites de reservas ou rodovias,
sugerindo percepção de perigo e mudança de hábitos dos animais. Além disso, o
20

uso incomum de hábitats florestais, em decorrência dos riscos associados aos


ambientes de pastagem aberta, também foram relatados para búfalos-africanos e
rinocerontes-brancos (HAYWARD, 2009). Esse tipo de atitude também foi
detectada nos barreiros, locais onde os mamíferos consomem solo ou água para
suplementação mineral. Isso ocasionou menor atividade diurna, abundância e
riqueza de espécies, quando comparado com barreiros sem pressão de caça.
Dada a importância dos barreiros para a ecologia de muitas espécies, a restrição
da caça ao entorno delas poderia ser benéfica para as populações de animais
caçados (BLAKE; MOSQUERA; SALVADOR, 2012).
21

3.2.1 CAUSAS DO IMPACTO

Os impactos de declínio populacional, extinção de espécies e mudanças


comportamentais observados nas espécies de animais caçadas são ocasionados
por diversos motivos que estão apresentados na figura 6 e serão mais bem
detalhadas posteriormente.

Causas dos Impactos


60%

50%
50%
40% Demanda de recursos
Pressão de caça
30%
Habitat
20% 25% Caça ilegal
20%
Ausência de impacto
10% 12% 12%

0%
Causa do Impacto

Figura 6: gráfico representativo das causas dos impactos encontrados nos trabalhos de caça de
subsistência que foram compilados.

3.2.1.1 DEMANDA DE RECURSOS

Cerca de 50% dos trabalhos apresentaram atividades de caça decorrente da


demanda de recursos das comunidades locais. Observaram-se dois principais
tipos distintos de demanda para a carne de caça: como fonte protéica (consumo) e
como fonte de renda (comércio). Em alguns casos, ela também foi utilizada para
cultos religiosos e tradições, como o retorno de estudantes para a comunidade; ou
ainda para a retaliação e conflitos homem-animal.
Por isso, intervenções de conservação devem levar em consideração as
necessidades das comunidades locais, e não pode ser direcionada a indivíduos
específicos (GOLDEN, 2009). Para tal, podem ser feitos acordos de utilização, a
fim de gerenciar o ambiente, a fauna, o uso da terra e regulamentar a caça ilegal
(RAO et al, 2010; SALAS et al, 2015). Para efeitos de longo prazo da conservação
22

da vida selvagem em regiões mais pobres, iniciativas para redução da taxa de


crescimento da população humana devem ser levadas em consideração
(NIELSEN, 2006).
Além disso, medidas que alterem essas demandas e ofertas da carne de caça
devem ser tomadas para que os efeitos da exploração da vida selvagem sejam
amenizados. A redução dessa oferta está diretamente relacionada ao
desenvolvimento social e econômico da área e, portanto, deve-se utilizar uma
campanha de conservação que seja capaz de fornecer uma alternativa barata de
proteína animal (WILCOX; NAMBU, 2007). Isso pode ser feito por meio da
facilitação e incentivos de mudanças para fontes domésticas de carne (NIELSEN,
2006; RAO; ZAW; HTUN, 2011). No caso das comunidades que obtêm renda
através da venda da carne de caça, essa redução pode ocorrer a partir de
empregos alternativos mais lucrativos destinado aos caçadores, ou por outros
meios, como pagamentos diretos da conservação às comunidades, venda de
direitos de caça, safári ou ecoturismo (WILCOX; NAMBU, 2007).
23

3.2.1.2 PRESSÃO DE CAÇA

A simples pressão de caça exercida pela presença do caçador foi uma das
razões apontadas pelos autores para justificar o declínio de populações e da riqueza
de mamíferos, sendo observada em 25% dos casos.
Esse efeito da caça parece ser diretamente proporcional ao tamanho das
espécies e à intensidade da caça (TOPP-JØRGENSEN et al, 2009), e
inversamente relacionadas à proximidade das comunidades com as cidades (RAO
et al, 2005). Além disso, é preciso enfatizar que essa pressão é capaz de ter
efeitos severos, visto que ela pode permanecer mesmo em áreas crônicas de caça
sobre-excedida (BRODIE et al, 2015), e que ela é potencializada pelo uso de
armas de fogo (KUMPEL et al, 2010). O desenvolvimento de um programa com
normas de uso e a disseminação de informações a comunidade sobre os efeitos
da pressão de caça podem ser efetivos para minimizar esses impactos
(SÁNCHEZ; VÁSQUEZ, 2007). A criação de um sistema para regular o uso de
armas e munições também poderia melhorar a sustentabilidade em longo prazo
(RAO et al, 2005).
É importante ressaltar, ainda, que essa pressão de caça pode ser feita de
forma passiva, ou seja, sem que o caçador esteja presente fisicamente. Isso se dá
pelo uso de armadilhas, que na maioria das vezes ocorre de forma indiscriminada,
afetando espécies que não necessariamente são do interesse do caçador.
Portanto, recomenda-se que esse tipo de método também seja levado em
consideração nos programas de gerenciamento de caça (FA; RYAN; BELL, 2005).
24

3.2.1.3 HÁBITAT

Um total de 20% dos estudos apresentou as características do hábitat como


um fator relevante no declínio populacional de mamíferos, principalmente quando
está associado às práticas de caça. Portanto, trabalhos de caracterização da
floresta devem ser realizados para que o impacto do hábitat possa ser avaliado
(SÁNCHEZ; VÁSQUEZ, 2007).
As atividades de caça podem estar próximas ou associadas a outras
atividades extrativistas, como concessão de petróleo, exploração madeireira ou
plantações (LAURANCE et al, 2008; PARRY; BARLOW; PERES, 2009;
POULSEN; CLARK; BOLKER, 2011). Embora em longo prazo a caça possa se
mostrar uma ameaça maior a vida selvagem que a exploração madeireira
(BRODIE et al, 2015), esses tipos de empreendimentos implicam em construção
de estradas, que facilitam o aumento de aldeias, da agricultura, de queimadas e
de caça nas áreas, tornando seus impactos ainda maiores (LAURANCE et al,
2008). Isso pode ocasionar áreas vizinhas dos parques existindo em diferentes
estágios de deterioração, e, por isso, estudos que analisem áreas adjacentes são
importantes quando modelos de gestão forem estabelecidos (BOBO et al, 2014).
Em alguns casos, observaram-se populações de algumas espécies que
pareceram sustentáveis a curto ou médio prazo com o esforço de caça atual,
muito provavelmente devido a uma combinação de taxas reprodutivas altas e
reabastecimento de refúgios circundantes, mas que não suportariam essa pressão
de caça em longo prazo (KUMPEL et al, 2010; MELO et al, 2015). Locais com
grandes áreas adjacentes de florestas não perturbadas podem reabastecer as
populações caçadas se as atividades de caça não forem tão intensas, contribuindo
com sua sustentabilidade (FA; RYAN; BELL, 2005). Elas ainda podem funcionar
como corredores ecológicos, mantendo a conectividade da floresta e limitando o
crescimento de populações humanas ao redor dos parques, e, por isso, deveriam
ser inclusas nas áreas protegidas (LAURANCE et al, 2008).
As espécies noturnas, muitas das quais são arborícolas ou de tamanho
relativamente pequeno, são menos influenciadas pela caça, e mais fortemente
afetadas pelas mudanças na estrutura da floresta que são ocasionadas pelo
homem, como a degradação do hábitat, seja do próprio local, ou da paisagem
circundante (LAURANCE et al, 2008; TOPP-JØRGENSEN et al, 2009; URQUIZA-
25

HAAS; PERES; DOLMAN, 2011). No entanto, para algumas guildas de animais, os


tipos de perturbação, como a caça e a extração de madeira, parecem ter um efeito
maior sobre as densidades populacionais do que a variação da estrutura florestal,
a cobertura do dossel ou a abundância de frutos (POULSEN; CLARK; BOLKER,
2011). Estudos que envolvem esquemas de plantação de árvores em grande
escala e regimes de regeneração florestal demonstraram que essa estratégia tem
um potencial limitado para a conservação de vertebrados de grande porte, visto
que ela oferece hábitat apenas para algumas espécies especialistas e não atraem
caçadores para longe das florestas primárias, e, portanto, não são capazes de
compensar o impacto negativo ocasionado pelos pequenos agricultores (PARRY;
BARLOW; PERES, 2009). Para que haja um equilíbrio da conservação com o
desenvolvimento econômico e as tradições de caça das comunidades, então, as
paisagens devem ser gerenciadas espacialmente, constando áreas protegidas,
zonas de caça comunitárias e florestas de produção separadamente (POULSEN;
CLARK; BOLKER, 2011). Esta abordagem também pode integrar reservas
privadas, comunais e públicas a partir de uma gestão coordenada da paisagem
(URQUIZA-HAAS; PERES; DOLMAN, 2011).
26

3.2.1.4 CAÇA ILEGAL

A caça ilegal ainda é um problema encontrado em pelo menos 12% das áreas
protegidas, e que afeta a densidade das populações de mamíferos, ocasionando
declínios consideráveis.
Ela ocorre principalmente de maneira furtiva, quando as comunidades locais
que residem dentro das áreas protegidas caçam em zonas específicas nas quais
essa prática é proibida. Além disso, ela ainda pode acontecer pelos povoados que
vivem ao redor dessas áreas protegidas, mas que suprem sua subsistência com
caça da fauna de dentro dessas áreas, sem que permissões sejam concedidas.
Embora a caça de espécies com algum nível de status de proteção tenha sido
pouco frequente, ela também foi observada para suprir as demandas de
subsistência, e, portanto, se enquadra nessa categoria.
Um forte quadro legislativo é fundamental para que a gestão da caça seja
efetiva, bem como a conscientização da comunidade sobre leis de conservação e
de espécies protegidas (RAO et al, 2005; RAO; ZAW; HTUN, 2011). Sugere-se,
ainda, que haja práticas de monitoramento dentro das áreas de conservação,
como também barreiras físicas para indicar seus limites, e patrulhamento ativo, a
fim de garantir que a caça furtiva não ameace a vida selvagem (HAYWARD, 2009;
TOPP-JØRGENSEN et al, 2009; RAO et al, 2010; RAO; ZAW; HTUN, 2011). A
caça ilegal também pode ser combatida através de esforços governamentais para
aumentar as oportunidades de emprego dos caçadores e os custos de caça
(NIELSEN, 2006; RAO; ZAW; HTUN, 2011).
27

3.2.2 AUSÊNCIA DE IMPACTO

A caça de subsistência foi considerada sustentável em alguns locais da


América do Sul, como no Peru e na Colômbia, correspondendo a 12% dos casos.
No Parque Nacional Manu, a sustentabilidade parece ocorrer aparentemente
devido a dinâmica de fonte-sumidouro, no qual espécies mais vulneráveis se
encontram mais distantes dos assentamentos, fazendo com que o esforço para
caçá-las seja maior do que as mais próximas e abundantes. O que se observou foi
que os caçadores não aumentaram seu perímetro de caça com o passar dos anos,
apesar de haver um continuo crescimento populacional da comunidade. Isso
sugere que a absorção de cada espécie caçada acabará chegando a uma
assíntota, visto que a caça das espécies mais vulneráveis sempre serão
substituídas pelas das mais abundantes ao entorno dos assentamentos (OHL-
SCHACHERER et al, 2007).
Outro caso observado ocorreu na Reserva Nacional de Pucaruro e se deu a
partir de um plano de manejo de animais selvagens, que pode ser uma alternativa
econômica para as pessoas locais, através do aumento de renda e da redução de
práticas que causam danos ao ambiente. O plano de manejo constitui o
estabelecimento de cotas de carne defumada para caçadores, a caça restrita a
espécies menos vulneráveis à sobre-exploração e a delimitação de áreas restritas
e pré-estabelecidas para tais atividades, como hábitats com maior produtividade
(PÉREZ-PENA; GONZALES-TANCHIVA; TRIGOSO-PINEDO, 2016).
28

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reservas de caça, de fato, possuem um papel fundamental na conservação


de mamíferos silvestres, podendo gerar renda aplicável a esse fim, além de
promover recreação e ser um meio alternativo a locais onde o ecoturismo não é
viável. A caça de subsistência também se mostrou efetivamente sustentável,
conseguindo respeitar as tradições e suprir as necessidades dos povoados
tradicionais sem gerar impactos ao ambiente. Estudos de caso bem sucedidos ao
redor do mundo demonstraram que ambos os tipos de prática podem ser
sustentáveis, sem causar declínios populacionais e extinção de espécies nativas, ou
mudanças comportamentais nos animais caçados. Para que isso seja possível, no
entanto, é necessário haver fortes políticas legislativas, investimentos financeiros,
profissionais capacitados e planejamento adequado. Todavia, na maioria dos casos
o que se observou foi diversos problemas relacionados à gestão e conseqüente falta
de aplicabilidade correta dos recursos financeiros gerados nesses locais; bem como
a persistência da caça ilegal; e uma alta e crescente demanda por esses tipos de
recursos, que atualmente ocasionam diversos impactos as populações caçadas.
Ao analisar o contexto do Brasil, observa-se a existência de um sistema de
proteção e conservação da fauna nativa que contribui para a conservação da
biodiversidade do país, mas que ainda enfrenta muita dificuldade em solucionar os
diversos problemas que o permeiam. A falta de recursos financeiros e investimentos
adequados para suprir a demanda de funcionários capacitados para realizar
pesquisas da biologia dos animais, planos de manejo, monitoramento e fiscalização
de forma efetiva; bem como a ineficiência no combate a caça ilegal e a corrupção
são alguns exemplos observados. Para tentar amenizar os efeitos dessas
problemáticas existe, atualmente, a ambição de se regulamentar as reservas de
caça no país. Isso se daria a partir do manejo e do controle de caça no território
brasileiro, visando gerar ainda mais lucros para que investimentos adequados
possam ser feitos na conservação.
No Projeto de Lei, as cotas e a comercialização da fauna só podem ocorrer se
estiverem regulamentadas por um plano de manejo de fauna, que, atualmente, não
existe. Na prática, o que se vê é falta de investimento financeiro, de tempo e de
profissionais competentes para realizar esse tipo de procedimento, que já deveria
subsidiar as áreas protegidas e a caça de subsistência, que são permitidas no Brasil.
29

A atribuição irregular ou ausência de cotas foi um dos principais problemas


encontrados para caça esportiva e de subsistência ao redor do mundo, já que a sua
eficácia depende de estudos prévios da ecologia e biologia do animal, bem como do
ambiente em que eles vivem, e que na grande maioria dos casos não é presente.
Essa condição, por conseguinte, leva a uma segunda problemática: é preciso
ter recursos financeiros para que investimentos em pesquisa, análise de mercado,
capacitação profissional, fiscalização e manutenção dessas áreas possam ser
realizados. Essa demanda de recursos terá que ser suprida de alguma forma e por
mais que as reservas de caça possam gerar lucros consideráveis, a falta de um
planejamento e de fiscalização do uso eficiente desse dinheiro ainda é uma
dificuldade encontrada. Pois há diversos casos de corrupção e insuficiência de
fundos para a manutenção dessas áreas; para admissão da quantidade de
funcionários necessários; e para fiscalização e monitoramento das espécies, das
cotas, e das próprias operadoras de caça foram relatadas com frequência na
literatura.
Outra adversidade presente no atual sistema de proteção existente no Brasil,
e até mesmo nos locais onde essas práticas são regulamentadas, é a caça ilegal.
Esse problema é ocasionado principalmente pela falha nos investimentos financeiros
em fiscalização, mas também pela falta de programas de conservação que sejam
capazes de orientar e educar os clientes, caçadores e as comunidades locais. Essa
questão se mostrou relevante em diferentes partes do mundo, visto que é uma das
maiores responsáveis no declínio e extinção de espécies em áreas que, na prática,
deveriam contribuir para a conservação e proteção dessa fauna.
A resolução desses problemas ainda é, de fato, um grande desafio a ser
superado no Brasil, visto que o país ainda está em processo de desenvolvimento,
possui uma enorme área territorial e grande dificuldade em gerir e conservar a
biodiversidade existente. Portanto, qualquer proposta política que esteja baseada
nessas mesmas falhas está fadada ao fracasso. Há alternativas existentes para o
uso da vida selvagem em prol da conservação, como o ecoturismo, que além de
gerir recursos financeiros e recreação, permitem um contato do homem com a
natureza de forma muito menos invasiva. Estes recursos poderiam ser utilizados
para o fortalecimento do sistema de proteção já existente no país, permitindo um uso
mais consciente de uma das maiores e mais belas biodiversidades do mundo: a
nossa própria.
30

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35

ANEXO 1

Tabela 1: Levantamento da literarura do impacto e das causas da caça legal em reservas de caça da África, América
e Europa.
Causas do
Continente País Animais impactados Tipo de impacto Referência
impacto
Lindsey;
Rouletb e
África 23 países Puku, satutinga Declínio populacional Gestão
Romanacha
(2007)

Elande, godonga, inhacoso, javali-


Caro et al
África Tanzânia africano, leão, nunce, palanca- Declínio populacional Gestão
(2008)
negra

Packer et al
África Tanzânia Leão, leopardo Declínio populacional Gestão
(2011)
Cacu, elande, gazela-de-lala, Gestão; Waltert;
girafa, hipopótamo-comum, Densidades maiores em provável Meyer e
África Tanzânia
inhacoso, javali-africano, nunce, PN do que em RC ameaça Kifnner
palanca-vermelha externa (2009)

Wilfred e
Densidades maiores em Gestão;
África Tanzânia Cacu, girafa, hipopótamo-comum, MacColl
PN do que em RC ameaça
impala, inhacoso, javali-africano (2016)
externa
Densidades maiores em
Búfalo-africano, elande, girafa,
áreas protegidas com
África Tanzânia godonga, inhacoso, palanca- Ameaça Caro (1998)
guardas (em PN e RC)
vermelha, zebra externa
Tamanho de grupo
menor fora do PN;
Padrões demográficos e
Não foi
África Tanzânia Zebra-da-planície comportamentais sem Caro (1999)
avaliado
diferenças significativas
entre PN e RC para
demais espécies
Gestão;
Loveridgea
África Zimbábue Leão Declínio populacional ameaça
et al (2007)
externa
Densidades maiores em
PN do que em RC para
Gestão; Crosmary;
algumas espécies;
África Zimbábue Elefante-da-savana, impala são Côté e Fritz
e menores em PN do
sustentáveis (2015)
que em RC para outras

Cariacu, coiote, esquilo-cinzento,


América do Densidades menores São Kays et al
EUA esquilo-raposa, guaxinim, lince-
Norte em locais caçados. sustentáveis (2017)
pardo, urso-negro
EUA e Gestão;
América do
países da Declínio populacional ao provável Packer et al
Norte e Leão, puma
África longo do tempo ameaça (2009)
África
central externa
França,
Mercado insuficiente Martínez-
Eslováquia,
Europa Não foi avaliado para justificar a Gestão Jauregui et
Eslovênia e
manutenção da caça al (2014)
Suécia
Nota: RC= reserva de caça; PN= parque nacional.
36

ANEXO 2

Tabela 2: Levantamento da literatura do impacto e das causas da caça de subsistência na África, Américas e Ásia.
Causa do
Continente País Animais prejudicados Tipo de impacto Referência
Impacto
Antílope-real, bambi-castanho,
7 países cabrito-azul, esquilo, esquilo-de- Declínio populacional e Pressão de Fa; Ryan e
África
(revisão) palmeira, ratazana-do-capim, perda de espécies caça Bell (2005)
rato-gigante-africano
Mudanças Pressão de
Búfalo-africano, elande-comum, Hayward
África África do Sul comportamentais em caça;
rinoceronte-branco (2009)
ambas áreas com caça caça ilegal
Bambi-castanho, cabra-do-mato-
grande, cabrito-azul, colobus-
preto-e-branco, chimpanzé-
Bacia do comum, duiker-do-gabão, gorila- Wilkie e
Demanda para
África Congo do-ocidente, macaco-de-nariz- Declínio populacional Carpenter
comércio
(revisão) branco, macaco-do-velho- (1999)
mundo, porco-vermelho, rato-
cervo-aquático, sitatunga

Bambi-castanho, bambi-de-testa-
negra, cabra-do-mato-grande,
Declínio populacional em
cabrito-azul, cabrito-de-ventre-
zonas de caça
branco, duiker-do-gabão, Demanda para Bobo et al
África Camarões comunitária em
elefante-da-savana, gorila-do- consumo (2014)
comparação a áreas sem
ocidente, pangolim-africano,
caça (PN)
porco-espinho-africano, porco-
vermelho
Declínio populacional e
perda de espécies em Demanda para
Willcox e
Leopardo, pangolim-africano, ambas áreas com caça consumo;
África Camarões Nambu
pangolim-de-cauda-longa (ao redor PN) ao longo demanda para
(2007)
do tempo comércio

Declínio populacional e
Esquilo-de-cauda-escamosa, perda de espécies em
esquilo-voador-de-lordy-derby, áreas com caça em
Laurance et
África Gabão galago-de-aleens, galago-de- comparação com áreas Hábitat
al (2008)
demidoff, galago-elegante, sem caça;
porco-espinho-africano, potto mudança
comportamental
Declínio populacional e
Guiné Cabrito-azul, porco-espinho- Demanda para Kumpel et al
África perda de espécies ao
Equatorial africano consumo (2010)
longo do tempo

Fossa, indri, lêmure-de-cabeça-


Declínio populacional em Demanda para Golden
África Madagascar branca, lêmure-grisalho-do-
todas áreas de caça consumo (2009)
bambu, varecia-preto-e-branco

Cabrito-azul, chimpanzé-comum,
Poulsen;
gorila-do-ocidente, macacos-do- Menor densidade em
República Clark e
África velho-mundo, mangabei-de- CC+EM em comparação Hábitat
do Congo Bolker
bochecha-cinza com SC+EM e SC+SEM
(2011)
Cabrito-azul, cabrito-de-abbott, Perda de espécies áreas
duiker-de-harvey, porco-do- com caça em Demanda para Nielsen
África Tanzânia
mato-africano comparação a área sem consumo (2006)
caça (RF)
37

Causa do
Continente País Animais prejudicados Tipo de impacto Referência
Impacto
Hábitat;
Búfalo-africano, cabrito-azul,
Declínio populacional e provável Topp-
cabrito-de-abbott, duiker-de-
África Tanzânia perda de espécies nas 3 pressão de Jørgensen
harvey, elefante-de-savana,
áreas com caça (RF) caça et al (2009)
porco-do-mato-africano

Urquiza-
América Haas; Peres
México Cariacu, queixada Declínio populacional Hábitat
Central e Dolman
(2011)
Caxinguelê, cuxiú, macaco- Declínio populacional e
aranha-preto, macaco-de-cheiro, perda de espécies em Demanda para
América Melo et al
Brasil macaco-prego, paca, quati-de- área com caça em consumo;
do Sul (2015)
cauda-anelada, queixada, comparação a área sem retaliação
tamanduá-mirim caça (PN)
Declínio populacional e
Parry;
perda de espécies em 3
América Barlow e
Brasil Cutia, queixada, paca áreas com caça Hábitat
do Sul Peres
(diferentes tipos
(2009)
florestais)
Não teve diferenças
significativas:
América comparação entre 2 Salas et al
Colômbia Não há Ausente
do Sul comunidades dentro da (2015)
mesma área com caça
(PN)
Mudança
comportamental e perda Blake;
Provável
América Bugio, macaco-aranha-de-testa- de espécies em áreas Mosquera e
Equador pressão de
do Sul branca, queixada, veado-mateiro com caça em Salvador
caça
comparação a áreas sem (2012)
caça

Ohl-
América Taxas sustentáveis de
Peru Não há Ausente Schacherer
do Sul caça (PN)
et al (2007)

Pérez-Pena;
Gonzales-
América Taxas sustentáveis de Tanchiva e
Peru Não há Ausente
do Sul caça Trigoso-
Pinedo
(2016)

Anta-brasileira, bugio, cachorro-


do-mato, cairara, irara,
jaguarundi, jaguatirica, lontra-
Declínio populacional e
neotropical, macaco-aranha, Demanda para
perda de espécies em Sánchez e
América macaco-barrigudo, macaco- consumo;
Peru área com caça (PN) em Vásquez
do Sul prego, onça-pintada, paca, pressão de
comparação a áreas sem (2007)
parauacu-monge, puma, quati- caça
caça (PN)
de-cauda-anelada, tamanduá-
bandeira, tatuaçu, urso-de-
óculos, veado-mateiro
38

Causa do
Continente País Animais prejudicados Tipo de impacto Referência
Impacto
Declínio populacional em
áreas com caça em Demanda para Velho et al
Ásia Índia Gauro, lontra, tigre
comparação a áreas sem consumo (2015)
caça
Cervo-rato, civeta, civeta-de-
palmeira-asiática, civeta-oriental,
gato-de-algália, gato-de-cabeça-
chata, gato-marmorado, gato-
vermelho-de-bornéu, langur-de-
frente-branca, langur-de-hose,
langur-marrom, lisang-asiático,
macaco-de-cauda-longa, Declínio populacional em
Malásia (Ilha macaco-nemestrina, mangusto- áreas com caça em Pressão de Brodie et al
Ásia
de Bornéu) de-colarinho, marta-de-garganta- comparação a áreas sem caça (2015)
amarela, muntjac amarelo, caça
muntjac indiano, ouriço,
pangolim-malaio, porco-barbado,
porco-espinho-de-cauda-longa,
porco-espinho-do-himalaia,
sambar, tembadau, trágulo-
grande, urso-gato-asiático, urso-
malaio
Demanda para
Cervo-almiscarado-preto, lontra- comércio;
Perda de espécies (ao Rao et al
Ásia Myanmar européia, pangolim-malaio, tigre, demanda para
redor PN) (2005)
urso-negro-asiático consumo;
caça ilegal
Demanda para
comércio;
demanda para
Declínio populacional e
Macacos, muntjac, pangolins, consumo; Rao et al
Ásia Myanmar perda de espécies ao
porco-espinho, sambhur, ursos conflitos (2010)
longo do tempo
homem-animal
provável caça
ilegal
Cervo-almiscarado-preto, gato-
bravo-dourado-da-ásia, marta-
Declínio populacional e
de-garganta-amarela, panda- Demanda para Rao; Zaw e
Ásia Myanmar perda de espécies ao
vermelho, pangolim-chinês, comércio Htun (2011)
longo do tempo
porco-espinho, porco-espinho-
do-himalaia
Nota: PN= Parque Nacional; RF= Reserva Florestal; CC= área com caça; SC= área sem caça; EM= área com extração
madeireira; SEM= área sem extração madeireira.
39

ANEXO 3
Tabela 3: mamíferos citados no trabalho, que apresentaram impacto negativo decorrente
de atividades de caça
Ordem Espécie Nome popular
Artiodactyla
Aepyceros melampus Impala
Alcelaphus buselaphus Godonga
Bos gaurus Gauro
Bos javanicus Tembadau
Cephalophus callipygus Duiker-do-Gabão
Cephalophus dorsalis Bambi-castanho
Cephalophus harveyi Duiker-de-Harvey
Cephalophus leucogaster Cabrito-de-ventre-branco
Cephalophus monticola Cabrito-azul
Cephalophus nigrifons Bambi-de-testa-negra
Cephalophus ogilbyi Duiker-de-ogilby
Cephalophus silvicultor Cabra-do-mato-grande
Cephalophus spandix Cabrito-de-abbott
Damaliscus korrigum Cacu
Giraffa camelopardalis Girafa
Hippopotamus amphibius Hipopótamo-comum
Hippotragus equinus Palanca-vermelha
Hippotragus niger Palanca-negra
Hyemoschus aquaticus Rato-cervo-aquático
Kobus ellipsiprymnus Inhacoso
Kobus vardoni Puku
Madoqua kirkii Caxine
Mazama americana Veado-mateiro
Mazama nemorigava Veado-roxo
Moschus fuscus Cervo-almiscarado-preto
Muntiacus atherodes Muntjac-amarelo
Muntiacus muntjak Muntjac-indiano
Neotragus pygmaeus Antílope-real
Odocoileus virginuanus Cariacu
Pecari tajacu Porco-do-mato
Phacochoerus aethiopicus Javali-africano
Phacochoerus africanus Javali-africano
Philantomba monticola Cabito-azul
Potamochoerus larvatus Porco-do-mato-africano
Potamochoerus porcus Porco-vermelho
Redunca arundinum Nunce
Redunca redunca Gazela-de-lala
Rusa unicolor Sambar
Sus barbatus Porco-barbado
Syncerus caffer Búfalo-africano
40

Ordem Espécie Nome popular


Artiodactyla Taurotragus oryx Elande
Tayassu pecari Queixada
Tragelaphus oryx Elande-comum
Tragelaphus spekii Sitatunga
Tragulus kanchil Cervo-rato
Tragulus napu Trágulo-grande
Carnivora
Acinonyx jubatus Guepardo
Ailurus fulgens Panda-vermelho
Aonyx spp Lontra
Arctictis binturong Urso-gato-asiático
Canis latrans Coiote
Cryptoprocta ferox Fossa
Eira barbara Irara
Felis concolor Puma
Felis temminckii Gato-bravo-dourado-da-Ásia
Helarctos malayanus Urso-malaio
Hemigalus derbyanus Civeta
Herpailurus yagouaroundi Jaguarundi
Herpestes brachyurus Mangusto-de-cauda-curta
Herpestes semitorquatus Mangusto-de-colarinho
Leopardus pardalis Jaguatirica
Lontra longicaudis Lontra-neotropical
Lutra lutra Lontra-européia
Lutrogale spp Lontra
Lynx rufus Lince-pardo
Martes flavigula Marta-de-garganta-amarela
Nasua nasua Quati-de-cauda-anelada
Paguma larvata Gato-de-algália
Panthera leo Leão
Panthera onca Onça-pintada
Panthera pardus Leopardo
Panthera tigris Tigre
Paradoxurus hermaphroditus Civeta-de-palmeira-asiática
Pardofelis badia Gato-vermelho-de-bornéu
Pardofelis marmorata Gato-marmorado
Prionailurus planiceps Gato-de-cabeça-chata
Prionodon linsang Lisang-asiático
Procyon lotor Guaxinim
Puma concolor Puma
Speothos venaticus Cachorro-do-mato
Tremarctos ornatus Urso-de-óculos
Ursus americanus Urso-negro
Ursus thibetanus Urso-negro-asiático
Viverra tangalunga Civeta-oriental
41

Ordem Espécie Nome popular


Cingulata
Priodontes maximus Tatuaçu
Perissodactyla
Ceratotherium simum Rinoceronte-branco
Diceros bicornis Rinoceronte-negro
Equus burchelli Zebra-da-planície
Equus spp Zebra
Tapirus terrestris Anta-brasileira
Pholidota
Manis javanica Pangolim-malaio
Manis pentadactyla Pangolim-chinês
Phataginus tricuspis Pangolim-africano
Uromanis tetradactyla Pangolim-de-cauda-longa
Pilosa
Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-bandeira
Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim
Primates
Alouatta seniculus Bugio
Ateles belzebuth Macaco-aranha-de-testa-branca
Ateles chamek Macaco-aranha-peruano
Ateles paniscus Macaco-aranha-preto
Ateles sp Macaco-aranha
Cebus albifrons Cairara
Cebus apella Macaco-prego
Cercocebus albigena Macaco-do-Velho-Mundo
Cercopithecus cephus Macaco-do-Velho-Mundo
Cercopithecus nictitans Macaco-de-nariz-branco
Cercopithecus pogonias Macaco-do-Velho-Mundo
Chiropotes chiropotes Cuxiú
Colobus abyssinicus Colobus-preto-e-branco
Eulemur albifrons Lêmure-da-cabeça-branca
Euoticus elegantulus Galago-elegante
Galago alleni Galago-de-aleens
Galago demidoff Galago-de-demidoff
Gorilla gorilla Gorila-do-ocidente
Hapalemur griseus Lêmure-grisalho-do-bambu
Indri indri Indri
Lagothrix lagothricha Macaco-barrigudo
Lophocebus albigena Mangabei-de-bochecha-cinza
Macaca fascicularis Macaco-de-cauda-longa
Macaca nemestrina Macaco-nemestrina
Pan troglodytes Chimpanzé-comum
Perodicticus potto Potto
Pithecia monachus Parauacu-monge
42

Ordem Espécie Nome popular


Primates Presbytis frontata Langur-de-frente-branca
Presbytis hosei Langur-de-hose
Presbytis rubicunda Langur-marrom
Saimiri sciureus Macaco-de-cheiro
Varecia variegata Varecia-preto-e-branco
Proboscidea
Loxodonta africana Elefante-da-savana
Rodentia
Agouti paca Paca
Anomalurus derbianus Esquilo-voador-de-Lord-Derby
Atherurus africanus Porco-espinho-africano
Atherurus macrourus Porco-espinho
Cricetomys gambianus Rato-gigante-africano
Cuniculus paca Paca
Dasyprocta fuliginosa Cutia
Epixerus ebii Esquilo-de-palmeira
Hystrix brachyura Porco-espinho-do-Himalaia
Sciurus aestuans Caxinguelê
Sciurus CAROlinensis Esquilo-cinzento
Sciurus niger Esquilo-raposa
Thryonomys swinderianus Ratazana-do-capim
Trichys fasciculata Porco-espinho-de-cauda-longa
Xerus erythropus Esquilo
Zenkerella insignis Esquilo-de-cauda-escamosa
Soricomorpha
Echinosorex gymnura Ouriço

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