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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

NÚCLEO DE ESPECIALIZAÇÃO À DISTÂNCIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM AQUICULTURA: SANIDADE E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

THIAGO ANDRÉ VILELA DA CRUZ

PARASITOS DE “KINGUIO” Carassius auratus (LINNAEUS, 1758),


ANALISADOS IN VIVO, PROVENIENTES DE PISCICULTURAS
ESPECIALIZADAS EM PEIXES ORNAMENTAIS

Maringá
2015
THIAGO ANDRÉ VILELA DA CRUZ

PARASITOS DE “KINGUIO” Carassius auratus (LINNAEUS, 1758),


ANALISADOS IN VIVO, PROVENIENTES DE PISCICULTURAS
ESPECIALIZADAS EM PEIXES ORNAMENTAIS

Monografia apresentada ao Curso de Especialização


em Aquicultura: Sanidade e Desenvolvimento
Sustentável do Núcleo de Especialização à Distância
da Universidade Estadual de Maringá, como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista em
Aquicultura.

Orientador: Dra. Geza Thais Rangel e Souza

Maringá
2015
RESUMO:

O comércio de peixes ornamentais no Brasil tem buscado melhorar a cadeia de transporte de


animais aquáticos ornamentais. Nos últimos anos, a agilidade da documentação para o
intercambio intra e interestadual tem ocasionado preocupação devido ao carreamento e
introdução de parasitos em sistemas de aquariofilia. Deste modo, a intensificação de estudos
que objetivam a identificação da parasitofauna de espécies ornamentais em suas regiões de
extrativismo é de suma importância para que medidas profiláticas sejam adotadas para
minimizar o risco de disseminação de patógenos. Este trabalho registra a parasitofauna de
Carassius auratus, analisados in vivo, provenientes de pisciculturas especializadas em peixes
ornamentais. Um total de 65 animais foram coletados em pisciculturas, escolhidos
aleatoriamente e examinados por esfregaço de pele e brânquias, sendo que 64 (98,46%)
encontravam-se parasitados por pelo menos um grupo de parasito. Entre os protozoários
destacaram-se Ichthyobodo necator, Chilodonella spp. e Trichodinidae, com prevalências de
75%, 40% e 38,46%, respectivamente. Já entre os metazoários, Monogenea e Digenea foram
os mais prevalentes (95,38% e 26,15%, respectivamente). Quando a análise parasitária foi
realizada por sítio de infecção observou-se que as maiores prevalências foram registradas, em
pele e brânquias respectivamente, para I. necator 50,77% e 69,23%, Monogenea 49,23% e
50,77%, Trichodinididae 32,31% e 30,77%, e Chilodonella spp. 23,08% e 29,23%.

Palavras chave: Aquicultura, peixe ornamental, biópsia, protozoários e metazoários

PARASITES OF "GOLDFISH" Carassius auratus (LINNAEUS, 1758), REVIEWED


"IN VIVO", FROM FISH FARM SPECIALIZED IN ORNAMENTAL FISH

ABSTRACT:

The trade in ornamental fish in Brazil has sought to improve the transport chain of
ornamental aquatic animals. In recent years, the agility of the documentation for intra and
interstate exchange has caused concern due to carried and introduction of parasites in
aquarium systems. Thus, the intensification of studies that aim to identify the parasite fauna
of ornamental species in their extraction regions is of paramount importance so that
preventive measures are taken to minimize the risk of spread of pathogens. This paper reports
the parasite fauna of goldfish, analyzed in vivo, from fish farms specialized in ornamental

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fish. A total of 65 animals were collected in fish farms, randomized and examined for smear
skin and gills, and 64 (98.46%) were parasitized by at least one group of parasite. Among the
protozoan stood out Ichthyobodo necator, Chilodonella spp. and Trichodinidae with
prevalence of 75%, 40% and 38.46%, respectively. Among the metazoan, Monogenea and
Digenea were the most prevalent (95.38% and 26.15%, respectively). When the parasitic
analysis was performed by site infection was observed that the highest prevalence rates were
recorded in skin and gills respectively for I. necator 50.77% and 69.23%, 49.23% and 50.77
Monogenea%, Trichodinididae 32.31% and 30.77%, and Chilodonella spp. 23.08% and
29.23%.

Keywords: Aquaculture, ornamental fish, biopsy, protozoan and metazoan

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INTRODUÇÃO:

Os peixes constituem a maior classe de vertebrados em número de espécie, existindo,

atualmente, 33.100 espécies catalogadas (FISHBASE, 2015; MILLER et al., 2009). Dentre

esta grande variedade de espécies, podemos encontrar mais de 1.500 que são exploradas com

fins ornamentais (LIVENGOOD; CHAPMAN, 2015). Dos três principais habitats existentes

(dulcícola, marinho e salobro), os peixes dulcícolas, que vivem em regiões tropicais, são os

mais explorados no aquarismo (MILLER et al., 2009).

O comércio de peixes ornamentais vem crescendo gradativamente a cada ano, sendo

que 73% do volume mundial de exportação é realizado pelos países asiáticos. Neste cenário,

o Brasil, apesar da grande diversidade íctica, obteve, em 2013, o décimo primeiro lugar no

ranking, com exportação superior a 9 milhões de dólares (US$), números alcançados devido

ao extrativismo animal (BASSLEER, 2015). Em 2015, o comércio brasileiro de peixes

ornamentais obteve facilidades para incrementar a venda de animais aquáticos. A Guia de

Transporte Animal (GTA) foi alterada pela Instrução Normativa no 4, de 04 de fevereiro de

2015, deste modo quando a venda ocorrer entre lojistas e consumidor final, não é necessária a

GTA, o Ministério da Pesca e o Ibama passaram a permitir a emissão on line do GTPON

(Guia de Trânsito de Peixes com Fins de Ornamentação e de Aquariofilia) para o comércio,

além da regularização de matrizes para aquicultura (BRASIL, 2015). Por outro lado, esta

facilidade de intercâmbio propicia a introdução e disseminação de parasitas entre lojistas e

criadores.

Animais selvagens, como peixes ornamentais, normalmente possuem grande

diversidade parasitária, todavia, mesmo infectados, poucos espécimes apresentam efeitos

severos devido à infecção. Entretanto, estes efeitos podem ser potencializados em ambientes

de cultivo, dependendo das particularidades do ciclo de vida dos parasitos envolvidos, devido

a concentração elevada de peixes em um ecossistema fechado. Deste modo, compreender o

ciclo de vida de um parasito particular, bem como a relação parasita-hospedeiro-ambiente, é

5
imprescindível para o intercâmbio seguro entre aquariofilistas, bem como para a adoção de

tratamentos eficazes e a erradicação das parasitoses (MILLER et al., 2009, LUQUE, 2004).

Neste contexto, o conhecimento sobre a especificidade parasitária, ou seja, sobre

quais parasitos acometem quais espécies de peixes, e a sazonalidade desta infecção

contribuem para que o manejo sanitário preventivo possa ser instituído com sucesso

(SCHALCH, 2011).

Entretanto, no Brasil, existe uma carência sobre estudos que envolvam aspectos

biológicos, patológicos e sanitários, de espécies endo e ectoparasitos em peixes ornamentais,

seja em ambientes naturais ou em pisciculturas (TAVARES-DIAS et al., 2009), tanto na área

acadêmica quanto na área comercial. Informações sobre o manejo, a identificação, a

manutenção, a filtragem, os tipos de aquecedores, o fotoperíodo, o comportamento e as

patologias que acometem estes animais são informações desconhecidas pela grande maioria

dos universitários que se formam na grande Área das Ciências Biológicas e Veterinárias e

que pretendem trabalhar com animais aquáticos.

Segundo Gomes (1998), em torno de 90% dos aquaristas no Brasil cessam com o

hobby em menos de um ano após o início das atividades, em virtude de adversidades no

manejo e na manutenção dos peixes ornamentais. Este fato poderia ser revertido se

houvessem pesquisas e disseminação de conhecimentos básicos.

A família Cyprinidae se destaca entre os peixes tropicais pelo número (2.200

espécies) e pela grande área de distribuição. Dentre as espécies comercializadas para a

aquariofilia destaca-se o Kinguio, Carassius auratus (Linnaeus, 1758), pela presença em

grande quantidade em lagos e aquários, com cerca de 30 variedades comercializadas

(MILLER et al., 2009).

Como um dos grandes motivos de mortalidade em piscicultura, que ocasionam

elevado prejuízo econômico, está relacionado com parasitos e doenças causadas por sua

presença (SCHALCH, 2011), este trabalho teve como objetivo analisar a fauna parasitária de

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Kinguios, Carassius auratus, por meio de biópsias, visando contribuir para o conhecimento

das principais parasitoses que afetam este setor, a manutenção dos espécimes analisados e a

proposição de tratamentos adequados, sendo possível o reconhecimento de 12 diferentes

parasitos em pele e brânquias dos kinguios examinados.

MATERIAIS E MÉTODOS

Coleta e Armazenamento dos Espécimes de Peixe:

Os espécimes de peixes foram provenientes de três fornecedores localizados nas

cidades de Jacareí-SP, Igaratá-SP e Muriaé-MG. Os espécimes de kinguios (Fig. 1), coletados

aleatoriamente nas pisciculturas, foram encaminhados para o laboratório da empresa

Aquarius Hobby (Campinas, SP), sendo posteriormente armazenados em recipientes com

compressor de ar elétrico. Os animais foram examinados de Janeiro a Agosto de 2015, sendo

mantidos vivos durante e após o período da análise, já que parte do propósito do trabalho foi

o não sacrifício dos animais, devido ao alto valor econômico agregado a estes peixes

ornamentais.

Os peixes foram alimentados duas vezes por dia e a água do tanque foi trocada a cada

dois dias para manter os parâmetros físico-químicos equilibrados, uma vez que os ambientes

não possuíam sistema de filtragem (para minimizar o efeito da perda parasitária que pode ser

ocasionado pelo mesmo). Os espécimes ficaram, em média, sete dias armazenados nos

tanques, até o momento da biopsia (2-15 dias). Nenhum tipo de tratamento (sal grosso) ou

fármaco foi aplicado durante o transporte e a permanência dos peixes no laboratório antes da

análise, o que favoreceu o encontro do maior número possível de espécies de parasitos. Após

a biópsia os mesmos foram levados para o aquário de exposição, onde foi realizado o

tratamento, se necessário.

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Figura 1. Espécime de Carassius auratus proveniente de pisciculturas especializadas em cultivo de
ornamentais. Foto: Acervo do Autor.

Coleta, identificação e contagem de parasitos:

Cada espécime de peixe foi capturado, com o auxílio da rede, para a coleta de dados

biométricos (comprimentos total, padrão e peso) e fotografado bilateralmente.

Posteriormente, foi realizado um raspado de pele, em ambos os lados (sentido cabeça-cauda),

na região da linha lateral com o auxílio de uma lamínula.

Figura 2. Desenho exemplificando raspado de pele e montagem da lâmina para observação. Autor:
André Mota Alves.

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O muco recolhido foi, em seguida, prensado em lâmina, juntamente com a lamínula,

para observação da ocorrência de parasitos em estereomicroscópio (NOGA, 2010).

As brânquias foram examinadas por raspado, com o auxílio de uma lâmina para

bisturi número 15, sendo friccionadas no sentido cabeça-cauda, seguindo-se o mesmo

procedimento de montagem de lâmina descrido para o raspado de pele.

Os parasitos foram classificados até o menor nível taxonômico possível em

observações in vivo, sendo as identificações realizadas de acordo com Vicente et al. (1985),

Dyková et al. (1996), Moravec (1998), Vicente e Pinto (1999), Thatcher (2006), Cohen e

Kohn (2008) e Dyková (2008).

Os índices parasitológicos de prevalência (%), intensidade média (± desvio padrão) e

abundância média (± desvio padrão) foram calculados segundo Bush et al. (1997). Além

destes, a densidade parasitária foi calculada pela divisão da intensidade total pela área da

lamínula analisada, uma vez que o não sacrifício dos hospedeiros impossibilita o registro do

número exato dos parasitos.

RESULTADOS

Foram examinados 65 kinguios que apresentaram 14,32g (±11,89) de peso médio,

8,95 cm (±2,14) de comprimento total médio (Lt) e 5,84 cm (±11,89) de comprimento padrão

médio (Ls). Destes, 64 (98,50%) encontravam-se parasitados por pelo menos um grupo de

parasitos (Tab. 1). Entre os protozoários destacaram-se Ichthyobodo necator (Henneguy,

1883), Chilodonella spp. Strand, 1926 e Trichodinidae, com prevalências de 75%, 40% e

38,46%, respectivamente. Já entre os metazoários, Monogenea e Digenea foram os mais

prevalentes (95,38% e 26,15%, respectivamente).

Quando a análise parasitária foi realizada por sítio de infecção observou-se que as

maiores prevalências foram registradas, em pele e brânquias respectivamente, para I. necator

9
50,77% e 69,23%, Monogenea 49,23% e 50,77%, Trichodinididae 32,31% e 30,77%, e

Chilodonella spp. 23,08% e 29,23% (Tab. 1). Ichthyobodo necator, aparentemente, não

demonstrou preferência por sítio de infecção, sendo observado em pele e brânquias,

entretanto apresenta maior intensidade média na pele (Tab. 1).

Tabela 1. Parasitos e índices parasitológicos, total e por sítio de infecção, de Carassius auratus
provenientes de pisciculturas especializadas em peixes ornamentais. N parasitado = número de peixes
parasitado; P = prevalência; IM = Intensidade Média; DP = desvio padrão.

Sítio de Infecção Total Pele Brânquias

N P IM P IM P IM
Parasitos \ Índices Parasitológicos
Parasitado (%) (±DP) (%) (±DP) (%) (±DP)
2 2
Amobae 1 1,54 - - 1,54
(±0,00) (±0,00)
19,54 16,22 7,67
Apiosoma spp. 11 16,92 13,85 13,85
(±23,88) (±31,45) (±13,45)
22,5 11,53 21,68
Chilodonella spp. 26 40 23,08 29,23
(±56,38) (±22,05) (±73,49)
81 81
Protozoa Epistylis sp. 2 3,08 3,08 - -
(±97,58) (±97,58)
114,08 95,03 54,53
Ichthyobodo necator 49 75,38 50,77 69,23
(±141,76) (±184,70) (±98,23)
20,4 14,71 14,43
Tetrahymena spp. 10 15,38 10,77 10,77
(±17,00) (±21,12) (±13,41)
31,28 28,29 9,4
Trichodinidae 25 38,46 32,31 30,77
(±26,37) (±33,19) (±10,58)
1 1
Argulus sp. 2 3,08 3,08 - -
(±0,00) (±0,00)
3,59 3,59
Digenea 17 26,15 - - 26,15
(±5,47) (±5,47)
1 1
Metazoa Lernea cyprinacea 2 3,08 3,08 - -
(±0,00) (±0,00)
19,63 11,12 26,09
Monogenea 62 95,38 49,23 50,77
(±13,74) (±15,71) (±12,56)
3 2,5 1
Nematoda 2 3,08 3,08 1,54
(±1,73) (±2,12) (±0,00)

Para a intensidade média (Tab. 1), I. necator apresentou o maior valor quando

somados parasitos de pele e brânquias 114,08 (±141,76) parasitos/peixe parasitados, seguido

por Epistylis sp. Ehrenberg, 1830 com 81 (±97,58) parasitos/peixe parasitados, Trichodinidae

com 31,28 (±26,37), Chilodonella spp. com 22,5 (±56,38), Tetrahymena spp. Furgason, 1940

com 20,4 (±17,00) e Monogenea com 19,629 (±13,74), respectivamente.

10
As maiores abundâncias em pele foram de Ichthyobodo necator com 48,25 (±139,10)

parasitos/peixe analisado, seguido por Trichodinidae 9,138 (±22,85), Epistylis sp. 2,49

(±18,64), Apiosoma spp. 2,24 (±12,47) e Tetrahymena spp. 1,58 (±7,93). Já em brânquias os

parasitos que se destacaram foram Monogenea 13,25 (±12,66) e Chilodonella spp. 6,34

(±40,22) (Fig. 2).

60  
Pele  
Abundância  Média  (Parasitos/Peixes  

50   Brânquias  

40  
Analisados    )  

30  

20  

10  

0  

Figura 2. Abundância média dos parasitos encontrados em pele e brânquias de Carassius auratus
provenientes de pisciculturas.

Os resultados da densidade de parasitos encontrados por área (mm2) em relação ao

sítio de infecção observado demonstram que houve uma diferença numérica entre os sítios

pele e brânquias (Fig. 3). Os parasitos I. necator, Tricodinidae, Apiosoma spp. e Epistylis sp.

foram encontrados em maior concentração no sítio pele, respectivamente, enquanto

Monogenea, Chilodonella spp. e Digenea em brânquias. Entretanto, algumas espécies

parecem não demonstrar preferência, como Tetrahymena spp. que apresentou resultados

iguais. Já Amobae, Argulus sp., Lerneae cyprinaceae e Nematoda que apresentaram resultado

0, em especial pelo baixo número amostral.

11
0,09
Pele
Densidade Parasitária (n/mm2)

0,08
Brânquias
0,07
0,06
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0

Figura 3. Densidade parasitária (parasitos/mm2) nos sítio de infecção analisados em Carassius


auratus provenientes de pisciculturas.

DISCUSSÃO

Em regiões ao redor do mundo como Austrália, Inglaterra (peixes oriundos da

América do Sul), Sri Lanka, África do Sul e Coréia, são encontrados protozoários e

metazoários em peixes ornamentais (TAVARES-DIAS et al., 2009). Com o crescimento da

aquariofilia como hobby, o aquarista procura animais exóticos e diferenciados, o que

aumenta o risco de transferência parasitária, deste modo o exame microscópico se torna uma

ferramenta essencial e de baixo custo para prevenção e controle de surtos parasitários

(BASSLEER, 2015).

No presente estudo foram encontrados valores elevados de I. necator, Trichodinidae,

Chilodonella spp. (Protozoários) e Monogena (Metazoário), o que reforça a preocupação

sanitária e a necessidade de investimento em pesquisa in vivo e prevenção.

12
Ichthyobodo necator, apesar de apresentar tamanho pequeno (10-15 µm x 5-9 µm),

multiplica-se por cissiparidade, o que contribui para sua rápida proliferação, além disso, não

possui especificidade parasitária (PAVANELLI et al., 2008), o que amplia sua capacidade de

transmissão em ambientes fechados. Os resultados encontrados (Intensidade Média,

Abundância Média e Densidade Parasitária) demonstraram que este parasito obteve altos

índices parasitários em pele, porém sua prevalência foi maior em brânquias. Eiras et al.

(2010) afirmaram que I. necator pode ser encontrado em ambos órgãos, porém em brânquias

a doença evolui para fusão lamelar, causando prejuízos elevados. Seu registro em poucos

hospedeiros pode estar relacionado aos métodos empregados em ictioparasitologia, que

priorizam os metazoários (EIRAS et al., 2010), uma vez que no presente trabalho foi

amplamente encontrado.

A transmissão de I. necator ocorre de maneira simples e rápida em ambientes

aquáticos (PAVANELLI et al., 2008), e equipamentos utilizados pelo aquariofilista como

rede e transportadores plásticos são fômites em potencial. Bassleer (2011) descreve

Formalina comercial ou FMC (Formaldeído, Azul de Metileno e oxalato de Verde de

Malaquita) para tratamento, cloreto de sódio também pode ser utilizado (PAVANELLI et al.,

2008), outra opção é a administração de Secnidazol, Triclabendazole e Metronidazol por via

oral pois demonstram bons resultados (NOGA, 2010). Preventivamente, a aquisição de

peixes de fornecedor confiável, com atestado de sanidade e quarentenados, contribuem para

minimizar os riscos de introduzir parasitos no aquário (BASSLLER, 2015), o exame

microscópico juntamente com a observação macroscópica são ferramentas importantes para a

manutenção da sanidade dos habitantes do aquário (YANONG, 2007).

Monogenea está entre os grupos de parasitos mais encontrados nas pisciculturas,

virtualmente pode parasitar todas as espécies, sendo Dactilogirídeos e Girodactilídeos os

grupos mais identificados no Brasil (PADUA; MENEZES JUNIOR, 2014), entretanto suas

espécies são espécie-específicas. Espécimes deste grupo parasitário foram identificados em

13
64 dos 65 animais examinados, com alta taxa de prevalência 95,38%, e com resultados de

Intensidade Média, de Abundância Média e de Densidade Parasitária mais elevados para

brânquias.

Infestações por Monogenea podem evoluir rapidamente, pois tem ciclo direto, neste

caso o exame detalhado ao microscópio contribui para conhecer a parasitofauna dos peixes

que se está adquirindo (NOGA, 2010). O grau da lesão ocasionado por este parasito varia de

acordo com o local de infestação e da intensidade. Os estudos sobre o controle e a

erradicação do mesmo são essenciais, visto o ocorrido na Noruega, na década de 70, onde a

inserção deste grupo resultou em grandes perdas para a indústria de pesca desportiva (EIRAS

et al., 2010).

Pavanelli et al. (2008) sugerem que seja realizado quarentena e banhos profiláticos

para evitar a disseminação. Além disso, medicamentos como Formalina, Organofosforado,

Permanganato de Potássio, Praziquantel, Mebendazole, Fenbendazole, Cloramina-T, Cobre e

Cloreto de Sódio são utilizados, com sucesso, para terapêutica em Monogeníase (NOGA,

2010).

Em pele, outro grupo com elevados índices parasitológicos foi Trichodinidae. Este

grupo, normalmente, são ectocomensais, nutrindo-se de partículas em suspensão (EIRAS et

al., 2010), fragmentos celulares, e bactérias da microbiota (PADUA; MENEZES JUNIOR,

2014), porém quando ocorre diminuição da qualidade da água e aumento da matéria orgânica,

o parasito pode encontrar as condições ideais para sua proliferação, gerando lesões em

brânquias e pele (PAVANELLI et al., 2008). Em pisciculturas a presença deste parasito está

associada a uma morbidade ou mortalidade crônica (NOGA, 2010).

Como os trichodinídeos são parasitos que naturalmente podem fazer parte do

hospedeiro, a biópsia de animais debilitados contribui para o controle destes parasitos, em

casos de surtos parasitários, o veterinário pode realizar banhos com Permanganato de

Potássio, Sal, Cobre, Formalina e Ácido Acético (NOGA, 2010). A prevenção é realizada

14
mantendo os parâmetros físico-químicos ideais, densidade populacional baixa e higienizando

utensílios e equipamentos utilizados (PAVANELLI et al., 2008).

Chilodonella spp. se caracteriza por acometer peixes com baixa imunidade, causando

lesões em tegumento e em brânquias que podem causar hiperplasia (PAVANELLI et al.,

2008), sendo as brânquias o sítio preferencial no presente estudo. No caso de queda de

temperatura, de piora na qualidade da água e de debilidade dos peixes, este parasito encontra

condições ideais para sua instalação e infestação (PAVANELLI et al., 2008), sendo

frequentemente encontrado em ciprinídeos (EIRAS et al., 2010). O surto deste parasito causa

lesões no animal que podem servir como porta de entrada para possíveis bactérias

patogênicas zoonóticas (NOGA, 2010), como no aquarismo o manuseio é regular, podem

ocorrer acidentes que ocasionem a infecção do manipulador (BASSLEER, 2015).

Neste contexto, a correta manutenção dos parâmetros físico-químicos contribui para a

sanidade do ambiente em que o animal vive (NOGA, 2010; YANONG, 2007), colaborando

para a saúde do peixe e do homem-manipulador. Boas práticas de manejo e higiene

contribuem para evitar este patógeno, uma vez que sua grande habilidade de adaptação

(encistamento), o ciclo direto e a rápida disseminação o tornam um dos mais perigosos

parasitos para piscicultura (PAVANELLI et al., 2008). Além disso, a maneira correta de

transporte é importante, visto que as principais causas de infecções parasitárias estão

vinculadas ao transporte inapropriado de peixes ornamentais com água de má qualidade

(TAVARES-DIAS et al., 2009).

Em surtos de doenças, o diagnóstico preciso e o correto tratamento evitam perdas de

animais e financeiras e minimizam o uso indiscriminado de medicamentos (BASSLEER,

2015). Este último fator tem ampliado o número de cepas bacterianas resistentes, como no

caso do uso da Oxitetraciclina (BASSLEER, 2011) e do Diflubenzuron (Dimilin), que

apresentam ainda potencial carcinogênico e efeitos a longo prazo (ANUNCIAÇÃO, 2013).

15
No aquarismo, a falta de informação proveniente do lojista, acaba levando o aquarista

a buscar respostas em fontes desconhecidas. Atualmente, a internet tem absorvido grande

parte das pessoas que enfrentam surtos de doenças em seu aquário ou lagos e buscam

informações. Por vezes, as formas ou indicações que podem ser encontradas em fóruns ou

blogs são relatos isolados de apenas um experimento que surtiu efeito positivo para o

aquarista na ocasião, e o mesmo começa a disseminar a informação como verdade, sem ao

menos consultar a literatura científica vigente.

É necessário que a grande Área das Ciências Biológicas e Veterinárias absorva esta

lacuna nos animais aquáticos ornamentais, o diagnóstico de animais vivos na aquariofilia é

essencial para a que o animal viva melhor, o produtor possa ter sucesso na criação, o lojista

venda peixes de melhor qualidade e o aquarista mantenha seu hobby com sucesso e livre de

doenças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BASSLEER, G. (2015). Fish Disease Preventions and Solucions. Palestra proferida na


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