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Universidade Federal do Oeste do Pará

Instituto de Ciências e Tecnologias das Águas - ICTA


Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia das Águas

ROSENITA REBELO LEMOS


BICTA.2018M1

A UTILIDADE DA ZOOLOGIA NA PESCA E


AQUICULTURA: situação do Brasil no cenário mundial

Santarém/Pará
2021
ROSENITA REBELO LEMOS

A UTILIDADE DA ZOOLOGIA NA PESCA E


AQUICULTURA: situação do Brasil no cenário mundial

Trabalho apresentado para obtenção de nota


na disciplina Zoologia Aquática, do curso de
Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e
Tecnologia das Águas, da Universidade
Federal do Oeste do Pará.

Prof. Dr. Marlisson Feitosa

Santarém/Pará
2021
1. INTRODUÇÃO

Desde o homem primitivo e adquiriu uma importância na história humana que


superou a prática da atividade de subsistência, produtiva ou de lazer. Trata-se de um
saber construído na apropriação da natureza: marés, correntes, estações, luas, peixes,
crustáceos, moluscos, técnicas, instrumentos , artes, conhecimentos (TUTUÍ e
MACHADO, 2017).
Ao longo das décadas a população humana continuou crescendo e a necessidade
de abastecimento alimentar também. Houve explorações inadequadas de espécies
marinhas em áreas costeiras, o que resultou em uma diminuição dos estoques renováveis.
Na tentativa de suprir a demanda por pescado, novos ambientes passaram a ser
pesquisados , e logo a aquicultura se apresentou como uma opção para a produção de
proteína animal.
A aquicultura é a produção de organismos aquáticos em cativeiro, composta em
grande parte pelo pescado advindo de águas interiores. Na aquicultura é feita a produção
de peixes (piscicultura), onde o peixe pode ser destinado para comercialização como
alimento (incluindo seus ovos), para a prática de pesca esportiva e como produto
ornamental (aquários). A aquicultura também atua na produção de plantas marinhas e
algas (Algicultura), que abastecem as indústrias alimentícia e farmacêutica. Na criação
de moluscos (Malacocultura) e de crustáceos(Carcinicultura), com destaque para o
camarão, que dentre outras coisas, abastece a indústria de suplementação alimentar.
Na década de 1960, parte do pescado produzido por aquicultura, era utilizado na
produção de farinha e óleo de peixe. Porém, nos dias atuais, 87% da produção é destinada
ao consumo humano. A maior aceitação do pescado produzido em cativeiro, deve-se a
dois fatores: o melhoramento das técnicas da aquicultura, no intuito de cultivar espécies
de maior valor comercial, aumentar o volume e qualidade destes produtos; e, o contínuo
declínio dos estoques pesqueiros (EMBRAPA,2020).
Em 1974, 90% dos estoques foram classificados como “biologicamente
sustentáveis”, em 2017, apenas 65,8% dos estoques pesqueiros se enquadram nessa
classificação. O monitoramento dos estoques pesqueiros ainda indica declínio de espécies
marinhas, enquanto isso, a piscicultura avança. Em 2018, 39 países produziram mais
pescado em cativeiro que pela pesca extrativista, sendo liderados pela China com 35 %
da produção mundial (EMBRAPA, 2020).
2. O BRASIL NO CENÁRIO MUNDIAL

A escassez dos recursos pesqueiros associada aos novos hábitos da população


humana voltado à segurança alimentar, fizeram com que o setor de produção de peixes e
outros recursos pesqueiros crescesse em todo o mundo. Em 2020, foram ao todo 54,4
milhões de toneladas de peixes (47 milhões espécies de água doce e 7,3 milhões espécies
marinhas), 17,7 milhões são moluscos e 9,4 milhões crustáceos. No Brasil não seria
diferente, sendo que entre 2014 a 2019 foram produzidas 4.029.576 toneladas de peixes
(FORTUNATO et all., 2020; EMBRAPA,2020).
O Brasil ocupa apenas a 13ª posição na produção de peixes em cativeiro e o 8º na
produção de peixes de água doce. Favorecido pelas características naturais, a capacidade
aquícola brasileira conta com um território de aproximadamente 29 milhões de hectares
em reservatórios de água doce, naturais e artificiais, que podem ser utilizadas na produção
de organismos aquáticos (FORTUNATO et all., 2020 APUD CREPALDI et all., 2006).
De acordo com Fortunato e colaboradores (2020), a espécie mais produzida no
Brasil é a tilápia (Oreochromis niloticus), que em 2018 fechou o ano com cerca de
400.280 toneladas de tilápia. No entanto, a Tilápia não é comercializada na região norte
do país, onde ocorre a produção de nativos, como o Tambaqui (Colossoma macropomum)
que fechou o ano de 2018 com uma produção de 287.910 toneladas (IBGE, 2017; PEIXE
BR, 2019).
Particularmente em 2019, devido a pandemia da COVID-19, a produção de peixes
pode sofrer impactos severos. Segundo o relatório ‘O Estado da Pesca e Aquicultura
Mundial’ (SOFIA - 2020), a comercialização da produção foi afetada pelo fechamento de
hotéis, restaurantes e dificuldades de transporte internacional. Assim, muitos produtores
tiveram que manter grandes quantidades de peixes vivos. Em resumo, houve aumento dos
custos e redução da entrada de capital. Isso pode ser prejudicial ao setor, pela falência dos
produtores.
A pandemia trouxe muita preocupação para os diversos elos da cadeia produtiva
(FAO, 2020). Contudo, em 2020, a piscicultura brasileira teve desempenho positivo, com
crescimento de 5.93%, produzindo 802.390 toneladas de pescado, conforme aponta o
levantamento exclusivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Anuário Peixe BR
2021). Com destaque para a tilápia (60.6% ), seguida pelos peixes nativos, como o
Tambaqui na região Norte e o Pangasius no Nordeste. Outras espécies como a carpa e a
truta, fecharam o ano de 2020 com um aumento de 10,9 % na produção (Peixe BR-2021).
3. A INFLUÊNCIA DA ZOOLOGIA NA PISCICULTURA

A Zoologia é a área da biologia que estuda as espécies animais, suas características


como: estrutura, fisiologia, evolução e o comportamento desses seres vivos em seu habitat
natural (TUTUÍ e MACHADO, 2017).
A zoologia aquática é o ramo dessa ciência que estuda os animais aquáticos, onde, o
habitat natural é o ambiente aquático e os animais estudados são aqueles que se distribuem,
organizam e se relacionam nesse meio, especialmente no que se refere à composição da teia
alimentar. A figura 1, mostra como organismos em fase larval são importantes na composição
da base da cadeia trófica, no ambiente aquático natural.

Fig. 1: Composição da cadeia alimentar aquática


Fonte: Toda matéria<peritoanimal.com.br>

Na aquicultura, esse sistema não é muito diferente. Visto que os meios de cultivo
dos animais variam desde ambientes naturais (lagos, lagoas e o oceano), assim como,
ambientes construídos pelo homem (tanques, viveiros, reservatórios, etc.). Entre as
metodologias mais utilizadas para produção aquícola, estão os viveiros escavados no solo
(reservatórios que permitem a entrada e saída de água), e o uso de tanques-rede ou gaiola
flutuante nos cursos d’água doce e o cultivo em espinhel e balsas.
A produção de peixes consiste em quatro fases: larvicultura, alevinagem, recria e
engorda. Cada uma dessas fases exige um manejo diferenciado, e configura um tipo
diferente de piscicultura. Porém, a fase de larvicultura e pós-larvicultura, exige um
manejo adequado, pois nessa fase, o peixe ainda apresenta a boca fechada e o trato
digestivo incompleto e algumas espécies podem levar horas ou dia para romper o saco
vitelínico que as nutrem, quando poderão ser consideradas pós-larvas. Desse modo, ficam
mais susceptíveis à doenças e principalmente aos predadores, que geralmente são
imaturos de insetos aquáticos que já estão no ambiente (FORTUNATO et all., 2020).
Na fase larval dos peixes, destaca-se entre os predadores os imaturos da ordem
Odonata, que exploram diferentes ambientes dulcícolas e terrestres e desempenham
importante papel de biomoniotoramento nos ecossistemas aquáticos. Ao passar para a
fase pós-larvas´, os peixes se alimentam dos microrganismos existentes na água como
protozoários, rotíferos, copépodas e cladóceros (KALKMAN et all., 2008).
Além da predação das larvas que prejudica a produção dos peixes, a presença de
insetos da ordem Odonata (libélulas) imaturos ou na fase adulta, bem como, outros insetos
aquáticos, animais invertebrados e até girinos, são responsáveis por perdas por predação
dos alevinos. Diante dessas e outras ameaças, o piscicultor, acaba despejando defensivos
agrícolas na água que podem resultar em graves consequências para os peixes e para a
qualidade da água, afetando diretamente a fase de recria e de engorda dos peixes.
Outro tipo de relação existente entre animais dentro da aquicultura, é a infecção
de peixes por parasitos. Na piscicultura brasileira os grupos de parasitos que mais causam
doenças são os protozoários, mixosporídeos, crustáceos e os helmintos.
Dentre os helmintos, os acantocéfalos foram responsáveis pelas
altas infestações registradas na região Norte do Brasil, onde foram encontrados os
gêneros: Echinorhynchus (encontrado em Matrinxãs e pirapitingas), Neoechinorhynchus
(em Tambaquis) e Polyacanthorhynchus (em pirarucu) (CHAGAS et all., 2015).
Ao atingirem a fase adulta, os parasitos adultos se hospedam no intestino
delgado dos peixes, onde se reproduzem logo após a infecção e depois vivem por um ano.
Os ovos fertilizados dos helmintos são liberados juntamente com as fezes dos peixes e
permanecem no ambiente até serem ingeridos por um artrópode que é o hospedeiro
intermediário. A disponibilidade de hospedeiros intermediários infectados, facilita
o fechamento do ciclo de vida dos acantocéfalos, que associado ao estresse e a falta de
boas práticas sanitárias de manejo dos tanques, diminui a resistência dos peixes aos
parasitos e outras doenças (Brasil‐Sato & Pavanelli, 1999; CHAGAS et all., 2015).
4. CONCLUSÃO

A produção de alimentos é uma preocupação constante devido o aumento da


população mundial, que é agravada pela redução dos recursos naturais disponíveis de
forma alarmante, a distribuição irregular de cursos d’água e terras férteis pelo planeta e
os desastres ambientais, guerras e pandemias.
Embora esse cenário de contrastes, a piscicultura tem se desenvolvido bem e
avançado no que diz respeito às técnicas de cultivo e controle de doenças. No Brasil,
apesar da oferta de muitos ambientes propícios ao cultivo, especialmente na região Norte
do país, a interação entre espécies de insetos e parasitos, ainda precisa ser melhor
estudada, até mesmo pelos próprios criadores.
Orientações sobre como melhorar as condições sanitárias dos tanques de cultivo,
manuseio dos peixes, monitoramento da qualidade da água e cuidados no transporte dos
alevinos são fundamentais. Essas orientações devem chegar até os produtores via suporte
técnico de instituições como EMATER, EMBRAPA e Universidades. Porém, a
piscicultura em alguns locais ainda ocorre na forma de tentativa e erro, com altos
investimentos e uso de aditivos, que podem ser prejudiciais aos ambientes aquáticos e ao
próprio peixe que depois servirá de alimento ao homem.
Nessa perspectiva, é preciso desenvolver mais estudos na compreensão desses
processos, bem como, disseminar esse conhecimento para aqueles que se propõem a fazer
parte do sistema de produção do pescado, mas estão isolados geograficamente e sujeitos
apenas ao próprio sistema de comercialização de aditivos.

5. REFERÊNCIAS

ANUÁRIO DE PISCICULTURA 2021-PEIXE BR.


Disponível em: https://www.peixebr.com.br/anuario-2021
Acesso realizado em: 05 de julho de 2021.

CHAGAS, E.; PEREIRA, S. L. A.; MACIEL, P. O. Infecções por Acantocéfalos: um


Problema para a Produção de Peixes. Aquicultura no Brasil: novas perspectivas.
[Vol.1]. São Carlos: Pedro & João Editores, 2015. 429p. ISBN. 978‐85‐7993‐271‐7.

CREPALDI, D. V. et al. Sistemas de produção na piscicultura. Revista Brasileira de


Reprodução Animal, Belo Horizonte, v. 30, n. 3/4, p. 86-99, 2006.

EMBRAPA. O Protagonismo do Brasil na Produção Mundial de Pescado. Disponível


em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias. Acesso realizado em: 04 de julho de 2021
Food and Agriculture Organizations of the United Nations- FAO. Addendum to the state
of world fisheries and aquaculture 2020. Summary of the impacts of the covid-19
pandemic on the fisheries and aquaculture sector. 2020. 9 78-92-5-132789-0.
Disponível em: http://www.fao.org/documents/card/en/c/ca9349en
Acesso realizado em: 05 de julho de 2021.

FORTUNATO, M. H. T.; MELO, C. L. de; MENDES, H. F. Piscicultura brasileira e a


influência da ordem odonata, uma revisão. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia
da UNIPAR, Umuarama, v. 23, n. 1cont., e2310, 2020. ISSN 1982-1131.

Instituto Brasileiro de Geografia e estatística - IBGE. Resultados preliminares, Censo


Agropecuário. 2017. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br
Acesso em: 05 DE Julho de 2021.

KALKMAN, V. J.; CLAUSNITZER, V.; DIJKSTRA, K. D. B.; ORR, A. G.; PAULSON,


D. R.; VAN TOL, J. Global diversity of nuárioy ies (Odonata) in freshwater.
Hydrobiologia. 2008. 595: 351-363, 2008.

The State of world Fisheries and Aquaculture (Relatório SOFIA – Edição 2020). A
Situação Mundial da Pesca e Aquicultura 2020.
Disponível em: http://www.fao.org/documents/card
Acesso realizado em: 05 de Julho de 2021.

TUTUÍ, S. L.; MACHADO, I.C. Sobre a Pesca e o Homem-IV: culturas pesqueiras em


São Paulo. Jornal Nippak, 19 a 25 de Janeiro de 2017.
Disponível em: http://www.portalnikkei.com.br e http://www.pesca.sp.gov.br
Acesso realizado em: 05 de Julho de 2021.

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