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Tatus

Cadeia produtiva
da pesca no interior do
Delta do Parnaíba
e área marinha adjacente
COORDENAÇÃO DA PESQUISA
Alexandre Holanda Sampaio
(Professor UFC – Departamento de Engenharia de Pesca)

COLABORADORES
Oscarina V. Sousa
(Professor UFC – Instituto de Ciências do Mar)
Katiane Barbosa Guimarães
(Bolsita DTI - Engenheira de Pesca UFC)
Anísio Pereira Neto
(Bolsita DTI – Engenheiro de Pesca UFPI)

BOLSISTAS
Alessandra Oliveira Vasconcelos
(Bolsita ITI – Engenharia de Pesca UFPI)
Tiago Bruno Sales Paiva
(Bolsita ITI – Engenharia de Pesca UFPI)
Victor Monteiro
(Bolsita ITI – Engenharia de Pesca UFPI)

ESTUDANTES VOLUNTÁRIOS
Moacir Ramos dos Santos
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
Nickoly Maria Veras dos Santos
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
João Venceslau Lopes Netto
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
José Rafael Fonseca
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
Darlan Alves Rodrigues
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
Ítalo Nascimento
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
Luiz Gustavo do Nascimento Oliveira
(Estudante de Engenharia de Pesca UFPI)
Alessandra Cristina da Silva Farias
Antonio Adauto Fonteles Filho
Carlos Tassito Corrêa Ivo
Cezar Augusto Freire Fernandes
Francisca Edna de Andrade Cunha

Cadeia produtiva
da pesca no interior do
Delta do Parnaíba
e área marinha adjacente

Fortaleza
2015
Cadeia produtiva da pesca no interior do Delta do Parnaíba e área marinha adjacente

Copyrigth © 2015 by Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho,
Carlos Tassito Corrêa Ivo, Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha.

Todos os direitos reservado aos autores.

Revisão de textos:
Autores

Projeto gráfico, Diagramação e Capa:


Sandro Vasconcellos

Ficha Catalográfica:
Bibliotecária Nadsa Maria Araújo Cid

Impressão:
RDS Gráfica e Editora

C129 Cadeia produtiva da pesca no interior do Delta do Parnaíba e área marinha


adjacente. / Alessandra Cristina da Silva Farias et al,. Fortaleza: RDS, 2015.

240 p.: il. color.; 22 cm.

ISBN: 978-85-7997-144-0

1. Delta do Parnaíba (Nordeste) - Pesca - Cadeia Produtiva. 2. Recursos


Pesqueiros - Delta do Parnaíba (Nordeste). 3. Meio Ambiente - Delta do
Parnaíba (Nordeste). I. Farias, Alessandra Cristina da Silva. II. Fonteles Filho,
Antonio Adauto. III. Ivo, Carlos Tassito Corrêa. IV. Fernandes, Cezar Augusto
Freire. V. Cunha, Francisca Edna de Andrade. VI. Título.

CDD 333.955 54
AGRADECIMENTOS

Roberto Oliveira (Beto)


(Coletor de dados - Engenheiro de Pesca)

Carla Suzy de Brito


(Professor Engenharia de Pesca UFPI)

Francisco Quirino Lourenço (Chico do Caranguejo)


(Empresário na cadeia de produção do caranguejo-uçá)

Teodorico Barros Cavalcante (Durico)


(Mestre do barco Chico do Caranguejo)

Janina Sales Holanda


(Engenheira de Pesca)

José Gerardo
(Professor Engenharia de Pesca UFPI)

Michelle Vetorelli
(Professor Engenharia de Pesca UFPI)

Paterson Araújo
(Empresário do ramo turístico)

Rafael Braz Azevedo Farias


(Professor da UFC)

Rosivaldo de Paula (Vadão)


(Comerciante de pescado em Tutóia)
SUMÁRIO

CAPÍTULO I - Introdução Geral............................................................. 9

CAPÍTULO II – Descrição da Área de Estudo ................................... 32

CAPÍTULO III – Fatores da Produção: Pescador ............................... 33

CAPÍTULO IV – Fatores da Produção: Embarcação ......................... 43

CAPÍTULO V – Fatores da Produção: Apetrecho de Pesca .............. 53

CAPÍTULO VI – A Cata do Caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba ....... 65

CAPÍTULO VII – Estratégia e Táticas de Captura: Peixes .............. 135

CAPÍTULO VIII – Estratégia e Táticas de Captura: Outros


Recursos Pesqueiros ............................................ 169

CAPÍTULO IX – Comercialização do Pescado ................................. 187

CAPÍTULO X – Processamento do Pescado ..................................... 207

CAPÍTULO XI – Conclusões .............................................................. 217

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................... 223

GLOSSÁRIO ......................................................................................... 233


CAPÍTULO INTRODUÇÃO GERAL
I

O s recursos vivos do mar, dentre os quais se destacam os


peixes, crustáceos e moluscos por sua abundância e preferência po-
pular como fonte de alimento, são responsáveis por 17% da proteína de
origem animal. A formação desses recursos se origina de uma intrin-
cada cadeia de diversos componentes bióticos e abióticos, que resulta
na produção de biomassa da qual o maior beneficiário é o homem. Para
isto, é necessário que a atividade exploratória seja conduzida dentro
dos padrões estabelecidos pelos fatores dinâmicos que garantem o
equilíbrio do processo predatório e, consequentemente, a renovação da
biomassa com aproveitamento sustentável.
Ao longo de toda a costa brasileira, a pesca se destaca como im-
portante atividade econômica, responsável pela ocupação de uma par-
cela considerável da população litorânea, e como fonte de proteína
animal de alta qualidade. O Brasil, apesar de possuir uma grande ex-
tensão de costa, ocupa apenas o 26º lugar em produção de pescado no
mundo e isto se deve, principalmente, a fatores de natureza climática,
que conferem às regiões tropicais do globo terrestre alta diversidade
específica e pequena quantidade de biomassa por espécie.
O objetivo principal desse projeto é produzir um diagnóstico
completo dos recursos pesqueiros do Delta do Parnaíba, abordando
todos os aspectos relevantes para se entender seus processos de for-
mação, incluindo o inventário das espécies capturadas nos ambientes
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

estuarino, marinho e fluvial, sua diversidade e abundância, e as rela-


ções de produtividade com o esforço de pesca. Além destes, as relações
bioecológicas da biocenose são determinadas através de correlações
entre a abundância dos recursos e seus fatores causais, com destaque
para área superficial das zonas de pesca, tipo de substrato e intensi-
dade do aporte fluvial, integradas pelas características tecnológicas da
pesca e suas interações com os fatores oceanográficos.
O Delta do Parnaíba é um ambiente de grande importância eco-
nômica para os estados do Maranhão e Piauí (produtores), e Ceará
(consumidor), porém com poucos estudos realizados quanto à capaci-
dade de produção e periodicidade de ocorrência das espécies e dos
principais recursos pesqueiros de importância econômica e social.
Sendo assim, estudos acerca da composição das capturas e da biologia
das principais espécies capturadas são necessários para auxiliar na
gestão e conservação das populações naturais.
A região estuarina no interior do Delta é habitada por uma grande
variedade de táxons que se evidenciam como “recursos pesqueiros” por
sua abundância e/ou valor comercial. Fora dessa influência direta dos
braços do delta, está a plataforma interna, habitada principalmente por
dezenas de espécies de peixes pelágicos, demersais e bentônicos perten-
centes a muitas famílias, com destaque para aquelas pertencentes às famí-
lias Ariidae (bagres), Scombridae (cavala/serra), Sciaenidae (corvinas, pes-
cadas), Lutjanidae (ariacó), Centropomidae (robalos), Carcharhinidae
(cações) e Dasyatidae (raias). Dentre os crustáceos destaca-se de maneira
especial o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), por sua grande abundância,
valor comercial e como gerador de uma importante atividade socioeconô-
mica que se estende por uma cadeia produtiva poderosa, fruto das condi-
ções especiais do Delta para a sobrevivência e crescimento dos seus indiví-
duos. Recursos de menor importância são constituídos por camarões de
água doce do gênero Macrobrachium, siris do gênero Callinectes, ostras do
gênero Crassostrea e marisco (moluscos bivalves do gênero Cyanocyclas,
principalmente a espécie C. brasiliana).
Esses táxons se distribuem dentro de uma ampla faixa de tama-
nhos, de modo que o habitat e o ciclo vital das espécies componentes

10
INTRODUÇÃO GERAL

exigem o uso de uma grande variedade numérica e espacial de apetre-


chos de pesca convenientemente classificados como redes de espera e
arrasto, linha-de-mão, espinhel-de-anzóis (linha gozeira), armadilha
móvel (jiqui), armadilha fixa (zangaria, curral), tarrafa, coleta com ape-
trecho (landuá, jereré) e coleta manual por braceamento. A maior parte
dessa grande variedade de apetrechos, apesar de sua simplicidade, é
apropriada e bem adaptada às condições locais de pesca, com exceção
de certas redes de malhas muito pequenas, como rede de tapagem, tar-
rafa e curral.
Os peixes constituem os principais recursos naturais aquáticos
do Delta por sua diversidade específica, ampla distribuição geográfica
e intensa demanda mercadológica, de modo que as pescarias a eles di-
rigidas fazem uso de embarcações motorizadas e veleiras, sendo a pre-
dominância de uma dessas categorias determinada pela abundância e
valor comercial das espécies-alvos habitantes das áreas onde atuam,
tais como estuários, baías e águas pouco profundas que caracterizam a
zona costeira. Entre as espécies capturadas merecem destaque as se-
guintes: serra, cururuca, bonito, bagre-cangatan, bagre-uritinga, ariacó,
raias e robalos, apresentados na Figura 1.1.
Dentre os crustáceos endêmicos do Delta, além do caranguejo-
-uçá, os camarões de água doce, são responsáveis por uma parte
razoá­vel da fonte de renda das comunidades ribeirinhas, sendo repre-
sentados pelas espécies camarão voador, Macrobrachium amazonicum e
camarão-de-pedra, Macrobrachium acanthurus. O outro representante
da classe Crustacea, identificado como siri, de certo modo forma o
complemento marinho à população do caranguejo-uçá, embora sejam
braquiúros da subclasse Natantia e família Portunidae. Seus caracteres
anatômicos mais importantes são o corpo achatado, existência de vá-
rios espinhos laterais, e último par de patas em forma de remo, os quais
lhe atribuem a capacidade natatória, em contraste com o caranguejo,
que se arrasta e se enterra no ambiente lamoso do manguezal. As di-
versas espécies pertencem ao gênero Callinectes e, desse modo, a grande
semelhança entre seus caracteres físicos dificulta a identificação, mo-
tivo por que a produção é quantificada em nível de gênero. A dieta dos

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siris é bastante variada, incluindo pequenos crustáceos, moluscos, e


vários outros tipos de animais, geralmente em processo de decompo-
sição (Oliveira, 2006) – ver Figura 1.2.

a b

c d

e f

g h
Figura 1.1 - Principais representantes da categoria “peixes” na produção pesqueira do Delta do
Par­naíba. a – serra, Scomberomorus brasiliensis; b – cururuca, Micropogonias furnieri; c – bonito,
Euthynnus alleterattus; d – bagre-cangatan, Aspistor quadriscutis; e – bagre-uritinga, Sciades proops;
f - ariacó. Lutjanus synagris; g - raia – Dasyatis guttata; h - robalo-flecha, Centropomus undecimalis.

12
INTRODUÇÃO GERAL

Camarão-do-poço (Macrobrachium acanthurus) Camarão-voador (Macrobrachium amazonicum)

Caranguejo-uçá (U. cordatus) Siri (gênero Callinectes spp.)


Figura 1.2 – Espécies de crustáceos capturados no Delta do Parnaíba.

Durante o período de outubro/2013 a setembro/2014 foram apli-


cados questionários sobre a atividade pesqueira dos camaroneiros e
realizadas coletas para obtenção de dados sobre os seguintes atributos:
período de maior ocorrência do recurso, apetrecho de pesca utilizado
na captura, técnica de pesca empregada, produção, métodos de conser-
vação do produto, comercialização e aspectos socioeconômicos. Entre
abril de 2014 e março de 2015 foram também obtidas amostras sobre a
composição biométrica (comprimento e peso) do estoque, estágio de
maturidade sexual e periodicidade de ocorrência das espécies.
Embora constituam produtos com elevado valor comercial, os
moluscos representados por ostras e mariscos não têm a contrapartida
em termos de abundância e facilidade de captura, tendo em vista o
acesso restrito aos indivíduos em seu ambiente natural e a falta de uma
estratégia socioeconômica dirigida para o seu aproveitamento integral.

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Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Entre os moluscos mais importantes encontram-se as ostras (classe


Bivalvia), moluscos filtradores de grande relevância ambiental e econô-
mica cuja exploração é feita por meio de coleta manual de indivíduos
aderidos a diversos substratos. A taxonomia dos seres bivalves ainda é
confusa, há muitas espécies para melhoramento da definição e inúmeras
para ainda serem descritas. A superfamília Ostreoidea é constituída por
uma única família (Ostreidae), que possui três gêneros principais: Ostrea
Linnaeus, 1758, Crassostrea Sacco, 1897 (Figura 1.3) e Pycynodonte Fischer
de Waldheim, 1835, reunindo todas as ostras conhecidas.

Figura 1.3 – Ostras do gênero Crassostrea em seu ambiente natural no Delta do Parnaíba.

As espécies de ostra que aparecem nas áreas de exploração do


Delta são capturadas por pescadores que as comercializam local-
mente ou as repassam a atravessadores, dando prosseguimento a

14
INTRODUÇÃO GERAL

uma cadeia produtiva que introduz um importante complemento de


renda para a comunidade. As espécies são coletadas nos bancos na-
turais das redondezas do manguezal e foram identificadas como
ostra-do-mangue, Crassostrea rhizophorae e ostra-de-pedra, Crassostrea
brasiliana (Figura 1.4).

Figura 1.4 – Espécies de ostra que compõem a produção pesqueira no Delta do Parnaíba: (a) ostra-
-de-pedra (Crassostrea brasiliana) e (b) ostra-de-raiz (Crassostrea rhizophorae). Foto: Beto Oliveira.

Marisco é um nome genérico para designar várias espécies de


molusco bivalve, também filtradores, que tem grande sucesso comer-
cial no Delta por conta do manejo simples de sua coleta manual, da
qualidade nutritiva de sua carne e grande apelo para consumo em
bares e restaurantes. Dentre os diversos táxons que compõem essa ca-
tegoria, destacam-se os componentes do gênero Cyanocyclas (Figura
1.5) que, no município de Ilha Grande respondem por grande parte da
renda dos pescadores no sistema de subsistência e constituem parte
considerável da atividade extrativista. Além disso, na estação chuvosa
quando os pescadores se encontram fora do mercado por causa da pi-
racema, a atividade marisqueira não é interrompida o que contribui
para a sustentabilidade da economia doméstica.
O marisqueiro, mesmo tendo representação nos órgãos de orga-
nização profissional, não obtém preços justos por seu produto por dois
motivos principais: (a) não tem poder de negociação junto aos atraves-

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sadores e (b) não tem acesso às estruturas de apoio logístico à captura


e estocagem do produto de modo a viabilizar a adequada inserção na
cadeia de distribuição, fato agravado pela elevada perecibilidade do
marisco. Portanto, o atravessador nessa atividade é o maior benefi-
ciado devido ao seu poder de barganha na cadeia produtiva, ao estabe-
lecer preços livres e elevados em nível de consumidor de acordo com
as leis clássicas da oferta e procura.

Figura 1.5 - Espécies de marisco do gênero Cyanocyclas, capturadas no Delta do Parnaíba.


Foto: Carla Suzy

A produção dos principais táxons representantes dos recursos


pesqueiros (peixes, camarões, caranguejo-uçá, ostra, siri, marisco) e
sua participação relativa nos âmbitos do Delta e do Estado do Maranhão
estão representadas na Tabela 1.1 e Figura 1.6).

16
INTRODUÇÃO GERAL

Tabela 1.1 – Produção das categorias de recursos pesqueiros no âmbito do


Delta do Parnaíba e do Estado do Maranhão (MA), e sua relação percentual nesses
dois espaços geográficos (fonte: IBAMA, 2008).

Categorias de Produção no Delta Produção no Relação Delta/


Pescado (t) Maranhão-MA (t) MA (%)
Peixes 2.055,4 32.158,7 6,39
Camarões 711,1 5.242,2 13,56
Caranguejo-uçá 590,9 1.132,1 52,18
Ostras 113,1 115,1 98,26
Marisco 0,1 968,1 0,01
TOTAL 3.470,6 39.616,2 8,76

Caranguejo-uçá
Camarão 17%
20%

Ostra
3%

Figura 1.6 – Participação relativa


dos principais táxons na produção
de recursos pesqueiros, no âm-
bito do Delta do Parnaíba (fonte:
IBAMA, 2008).

Peixe
60%

Em termos de produção absoluta, os recursos se distribuem de


acordo com a seguinte ordem decrescente: peixes, camarões, caranguejo-
-uçá, ostra e marisco; por outro lado, em termos de sua participação no
contexto da produção estadual, esta ordem se modifica para ostra
(98,26%), caranguejo-uçá (52,18%), camarões (13,56%), peixes (6,39%) e
marisco (0,01%). Os peixes representam 59,1% da produção total de pes-

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cado nos municípios maranhenses do Delta (Tutóia e Araioses) e apenas


6,39% da produção total do Estado (Programa ESTATPESCA - IBAMA,
2008). Isto não significa necessariamente uma desvantagem, pois decorre
do fato de que as outras categorias de pescado como camarão, caran-
guejo e ostra, algumas até mais valiosas individualmente, tiveram ex-
pressivas participações na produção de pescado. O marisco, também
com algumas características peculiares de consumo, é um recurso essen-
cialmente relacionado com o substrato predominante em manguezais e,
portanto, resultando em níveis de exploração mais elevados na porção
oriental da região de estudo, no Estado do Piauí.
Pela participação da produção no Delta em relação à produção
total do Maranhão estimada para os diversos tipos de recursos pes-
queiros (“peixes”, “caranguejo-uçá”, “camarões”, “marisco”), fica bem
evidente a supremacia dos peixes em termos absolutos, enquanto ostras
e caranguejo-uçá são os maiores destaques em termos relativos. Estes
apresentam áreas de distribuição bem definidas e com pequena super-
posição espacial, pois os peixes ocupam toda a província nerítica, os ca-
marões procuram os substratos lamosos do sublitoral, enquanto o caran-
guejo-uçá é essencialmente um habitante endêmico do manguezal.
A atividade pesqueira é praticada ao longo de toda a extensão do
Delta do Parnaíba, mantendo-se em bases sustentáveis como fonte de
renda para diversas famílias da comunidade que tiram seu sustento
desse ecossistema. (Figura 1.7). Tem uma estrutura bastante diversifi-
cada e se mantém sobre um amplo leque de opções extrativistas, com
destaque para a cata do caranguejo-uçá, recurso pesqueiro de maior
importância socioeconômica. Portanto, trata-se de um ambiente de
grande importância econômica para os estados do Maranhão e Piauí
(produtores), e Ceará (consumidor), porém com deficiência de conhe-
cimentos quanto à capacidade de produção e periodicidade de ocor-
rência das espécies e dos principais recursos pesqueiros.
O estudo da cadeia produtiva de recursos pesqueiros tem adqui-
rido uma importância crescente, pois permite avaliar como os diversos
elementos que a compõem (meios de produção, insumos, bens de con-
sumo, receitas, mercados) participam do resultado final. No contexto

18
INTRODUÇÃO GERAL

Figura 1.7 – Pescador artesanal em atividade de captura no Delta do Rio Parnaíba.

da produção pesqueira e na qualidade de itens fundamentais para de-


sencadear a obtenção dos bens de consumo, destacam-se os fatores da
produção constituídos por pescador, embarcação e apetrecho-de-pesca,
considerados como os vetores da captura nas modalidades embarcada e
desembarcada, esta última também rotulada como cata ou coleta manual.
Nesse projeto de pesquisa e monitoramento da importância so-
cioeconômica do Delta do Parnaíba foram considerados os seguintes
elementos como parte do processo de obtenção e análise das informa-
ções: área de estudo da cadeia produtiva, fatores da produção, inven-
tário dos recursos pesqueiros, e estruturas de processamento, armaze-
nagem e comercialização do pescado, as quais estão implícitas no
desenvolvimento dos seguintes atributos:
(1) Estratégia de pesca – consiste na tomada de decisão sobre
quais recursos pesqueiros devem constituir o objeto dos fa-
tores produtivos e, com esse enfoque, identificar e mapear as
principais áreas de pesca, e aplicar as táticas de captura que
maximizem a produção física e a receita econômica;

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Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

(2) Fatores do processo produtivo - representados pela mão-de-


-obra, embarcações e apetrechos de pesca, considerados como
os vetores da captura nas modalidades embarcada e desem-
barcada, esta última também rotulada como coleta manual e,
portanto, os itens fundamentais para desencadear a obtenção
dos bens de consumo;
(3) Captura e comercialização - o volume de pescado submetido
à primeira comercialização, ou seja, aquele que tem como pri-
meiro destino os entrepostos de distribuição, é um excelente
parâmetro da participação relativa e da importância econô-
mica das espécies componentes no contexto da biocenose
capturável;
(4) Processamento do pescado – as infraestruturas de estocagem
e beneficiamento do pescado dependem diretamente da esta-
cionalidade da abundância, posicionamento das áreas de
pesca, valor comercial e preferência popular por certos tipos
de produtos pesqueiros;
(5) Apoio logístico ao embarque/desembarque – do ponto de
vista ideal essas atividades devem concentrar-se em termi-
nais pesqueiros cujo tamanho e localização devem ser estrate-
gicamente determinados de modo a otimizar sua eficiência ao
manter uma correlação estreita com as infraestruturas de es-
tocagem e processamento do pescado. Esses equipamentos
são fundamentais como pontos de recepção e distribuição
imediata do pescado, de modo que o sucesso da cadeia de
comercialização depende em grande parte de se alocar estra-
tegicamente os locais de desembarque e destino dos produtos
em relação aos centros de consumo com maior poder
aquisitivo.
A estratégia de pesca no Delta se orienta pela diversidade am-
biental dos quatro municípios onde ocorrem atividades de pesca e co-
leta manual ou com landuá. Portanto, a decisão de se concentrar os
esforços de captura de peixes em Tutóia/Araioses, caranguejo-uçá na

20
INTRODUÇÃO GERAL

Ilha Grande e camarões/marisco em Parnaíba se baseia nas condições


ambientais peculiares a essas zonas de pesca e na implementação dos
fatores de produção representados pelo trinômio pescador/embar-
cação/apetrecho de pesca. As táticas de pesca necessárias para viabi-
lizar a estratégia adotada, por sua vez, serão estabelecidas em função
de fatores econômico-financeiros que minimizem os custos e maxi-
mizem a receita num processo de custo-benefício baseado no sistema
“origem/destino da produção”.

21
CAPÍTULO DESCRIÇÃO DA ÁREA DE
II
ESTUDO

O Rio Parnaíba nasce nos contrafortes da Chapada das


Mangabeiras, sul do Piauí, numa altitude de 700 metros, e percorre cerca
de 1.450 km até sua desembocadura no Oceano Atlântico. Situa-se em
uma área de transição denominada Meio Norte do Brasil, entre o
Nordeste semi-árido, com vegetação pobre, e a floresta amazônica. O
regime do Parnaíba é pluvial, como os de quase todos os rios e bacias
hidrográficas brasileiras. Tem declividade acentuada desde suas nas-
centes até o município de Santa Filomena, sofrendo a partir daí uma re-
dução gradativa e chegando a uma declividade inferior a 25 cm/km nos
últimos quilômetros do seu percurso. O leito do Parnaíba recebe uma
carga anual de 20 bilhões de metros cúbicos de água, enquanto a precipi-
tação pluviométrica média na bacia hidrográfica está em torno de
1.500 mm/ano. Seu menor volume ocorre nos meses de julho-outubro,
mas a partir de janeiro/fevereiro aumenta rapidamente, enchendo as
muitas lagoas marginais.
O Delta do Parnaíba é um arquipélago com 2.700 km2 de área, for-
mado por mais de 70 ilhas, sendo o único das Américas localizado em
mar aberto e um dos três maiores do mundo em extensão e beleza natural
juntamente com os deltas dos rios Nilo (Egito) e Mekong (Vietnam).
Espelhos d’água, manguezais, dunas, lagoas, animais silvestres, rios e
praias com paisagens paradisíacas, tudo isso, com o sol brilhando forte o
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

ano todo é o cenário com que se depara o turista. Trata-se de uma área
formada por uma série de baías e estuários ligados por canais naturais
através dos manguezais (Figura 2.1), e se origina num ponto em que o
fluxo do rio se bifurca para formar dois braços, Igaraçu e Santa Rosa.
Desse processo resultam igarapés que vão, entremeados a inúmeras ilhas,
terminar no oceano por meio de cinco grandes bocas com o seguinte po-
sicionamento de leste para oeste: Tutóia, Melanciera (também chamada
de Carrapato), Ilha do Caju, Ilha das Canárias e Igaraçu. O Santa Rosa se
situa no Maranhão e se extende por 90 km; o Canárias fica na divisa Piauí/
Maranhão e tem extensão de 28 km; o Igaraçu situa-se no Piauí e separa a
Ilha Grande de Santa Isabel do continente, com extensão de 32 km.

Baia da Melancieira
Braço 4
OCEANO ATLÂNTICO
do Delta
Braço 5 Baia do Caju
do Delta Ilha Grande
do Paulino Braço 3
Baia do Feijão Bravo
Baia de Tutóia do Delta
dos
IIha do IIhaldros Baia das Canárias
Ilha do Caju Caiçara Po Braço 2 do Delta
Tutóia Papagaio Ilha das
Canárias Pontal

l
So
Ba Jesu do
Ilha do

açu
ra
Igoronhon Ilha Grande
Bo Ped
ia d s
gar
de Sta. Izabel oI
Ilha do
m

Braço 1
Barracoa do Delta
Água Doce Ilha do Tatus
CARNAUBEIRAS Manguinho
LUIS CORREIA
N. Sra. da Ilha de
Sta. Cruz Morro da
CONCEIÇÃO Mariana
çu

PARNAÍBA
ra

ARAIOSES
ga
oI
Ri

Figura 2.1 – Mapa do Delta do Parnaíba, nos estados do Piauí e Maranhão, com destaque para suas
ilhas principais.

Dada a grande abrangência espacial e funcional desse ecossis-


tema, os monitoramentos ambiental e pesqueiro devem considerar a
existência do seguinte zoneamento, em função dos volumes de desem-
barque e origem de sua captura: Zona 1 - abrange todo o sistema de de-
sembarque proveniente da plataforma continental interna e da parte do
Delta localizada no Estado do Maranhão, através do porto de Tutóia;
Zona 2 - representa a produção na parte interna do Delta situada nos
municípios de Araioses (Maranhão), e Ilha Grande e Parnaíba (Piauí)

24
42°10’0’’W 42°50’0’’W 41°50’0’’W

2°40’0’’S
2°40’0’’S

ILHA DO
CAJU
Ilha das Ilha dos
ILHA GRANDE Axixá Porto da
DO PAULINO Barreiras Poldros Poldros
Caiçara
Morro do Meio
Porto do Caiçara Porto do
AxixaILHA DAS CANÁRIAS Passarinho
TUTÓIA Ilha do Ilha da
PORTO Ilha do Torto Passarinho Canárias
TUTÓIA Ilha do Papagaio Desgraça
Enforcado Ilha do Ilha da
Ilha do João Coroatá Carrapato
Ilha da Trindade
Pachilar Correia Ilha das Ilha do
Pombas Caieira Ilha do Ilha do ILHA GRANDE
Igoronhon Ilha das Bagre Assado Ilha do Serrote SANTA ISABEL
Porto de Areia Graças Guara
Ilha do Ilha Croatá Ilha do
Estiva Ilha do São Bernardo Ilha da de Dentro Ilha das Ilha do Guirindó

25
Raimundo Torquato Ignez Porto do Barrocas Cardoso
Bom Gosto Porto de Bolacha PORTO DOS
Cajueiro Guajuru Água DocePedrinhas Barreirinha
Cajazeiras Ilha das TATUS
ÁGUA DOCE Bolacha Carnaubeiras Ilha do Batatas

2°50’0’’S
2°50’0’’S

Poço Dantas Manguinho Morro da Mariana


Jardim São José Flecheirinha Ilha do
Coqueiro
Goiabal
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Baixa Funda Barreiras


0 2,5 5 10 ARAIOSES
km

LEGENDA Informações cartográficas:


Sistema de Coordenadas Geográficas
Municípios/Cidades Datum: SIRGAS2000
Referências:
Povoados - Imagem - Google Maps
Portos Disponível em:https://maps.google.com.br
BRASIL Acesso: 15/08/2015
Pontos de Pesca - Cartas DSG MI-553 e MI-554
MA - ICMBio - Mapa RESEX Delta do Parnaíba
PI Organização:
Janaina Sales Holanda

Figura 2.2 - Mapa geral do Delta do Parnaíba, no qual se inclui as Zonas 1 e 2, relativas a distribuição dos desembarques de pescado.
dos recursos pesqueiros capturados pela frota artesanal. (Figura 2.2).
desembarcada principalmente no Porto dos Tatus, ponto de escoamento

MAPA GERAL
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

A atividade extrativa aquática é representada pelas pescarias de


peixes, camarão, siri e mariscos, e coleta manual do caranguejo-uçá por
braceamento e uso eventual de alguns apetrechos auxiliares, na divisa
entre os estados do Maranhão (municípios de Tutóia e Araioses) e Piauí
(municípios de Ilha Grande e Parnaíba), com destaque crescente ao
longo dos anos como geradora de emprego e renda. A riqueza natural
desse ecossistema em termos de sua produção primária tem origem
principal no aporte continental e na capacidade de retenção de nu-
trientes em função da extensa cobertura com manguezais, sustentada
pela vasta e rasa plataforma continental.
Seu principal biótopo é o manguezal, um ecossistema costeiro de
transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de re-
giões tropicais e subtropicais associadas às margens de baías, enseadas,
barras, desembocaduras de rios, lagunas e reentrâncias costeiras onde
haja encontro da água dos rios com a do mar, ou diretamente expostos
à linha da costa. Ao contrário do que acontece nas praias arenosas e nas
dunas, a cobertura vegetal do manguezal instala-se em substratos de
vasa de formação recente, de pequena declividade, sob a ação diária
das marés de água salgada ou, pelo menos, salobra (Figura 2.3).

Figura 2.3 – Vista parcial do manguezal do Delta do Parnaíba.

A origem dos manguezais ocorreu há cerca de 60 milhões de


anos, no atual Sudeste Asiático, quando as plantas angiospermas fi-

26
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

zeram uma experiência: voltar a viver em ambiente mais salino e mais


úmido que os encontrados em meio terrestre. Ao molhar novamente os
“pés” na praia e fixá-los num ambiente que haviam abandonado, o
reino vegetal inventou as diversas espécies que denominamos de
mangue. No entanto, o retorno ao mar encontrava sérios problemas de
adaptação, principalmente como lidar com o excesso de água e sal, e
compensar a carência de ar no solo. As espécies de mangue encon-
traram solução para tais problemas, mas não conseguiram se adaptar a
climas temperados e frios, motivo por que são essencialmente habi-
tantes da Zona Intertropical entre 23o N e 23o S.
Para diluir a salinidade, as espécies de mangue se instalaram,
preferencialmente, na foz de rios junto ao mar no interior de estuários,
pois as águas fluviais diluem o sal, criando água salobra. Para lidar
com o excesso de sal, criaram três mecanismos: (1) barrar a entrada dele
no organismo da planta, (2) diluí-lo no interior da planta e (3) expelir o
excedente por glândulas existentes nas folhas. O substrato terrestre
para as árvores-de-mangue normalmente é formado por partículas
muito finas que os tornam densos e pobres em oxigênio. Portanto, para
respirar, essas plantas desenvolveram raízes respiratórias (pneumató-
foros) que, em vez de se dirigirem para o substrato, vêm à tona e ab-
sorvem o ar por meio pequenos poros (lenticelas) quando a maré baixa,
e se fecham quando ela sobe. As raízes respiratórias podem ser compa-
radas à mangueira de um mergulhador: a haste é o pneumatóforo e o
furo por onde entra o ar é a lenticela.
O Delta do Parnaíba se estende por 19,3 km do litoral mara-
nhense que abrange 640 km de linha de costa e conta com 273 comuni-
dades pesqueiras distribuídas em 26 municípios costeiros, e por 6,7 km
do litoral piauiense, o mais estreito do país, com 66 km de linha de
costa, 47 comunidades e quatro municípios. O fato de que a maior
parte do Delta se encontra no estado do Maranhão, com certeza tem
influência fundamental sobre a estratégia de pesca e o posicionamento
dos centros de desembarque, com ênfase na captura de peixes e cama-
rões no setor maranhense e de crustáceos (caranguejo-uçá) e moluscos
(ostras, marisco), no setor piauiense.

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Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

No Maranhão, registra-se a ocorrência de cerca de 80 espécies de


peixes, assim distribuídas por subárea: litoral oeste, 51,7%; Ilha de São
Luis, 6,5%; e litoral leste, 41,8%. Nesta última subárea destacam-se
Tutóia e Araioses, dois municípios onde se encontra a maior extensão
do Delta do Parnaíba e cujas comunidades pesqueiras de Tutóia, Caju,
Canárias e Travosa têm interesse direto na produção de pescado, com
destaque para as espécies pertencentes às famílias Ariidae, Sciaenidae,
Scombridae e Centropomidae. Em termos de frequência de ocorrência,
ou seja, considerando-se tantos universos quantos sejam os grupos de
espécies, suas respectivas participações assumem valores percentuais
na subárea “litoral leste” que refletem a importância desses grupos no
contexto do universo formado pelo somatório das três subáreas, em
todo o litoral do estado do Maranhão. As estimativas em termos abso-
luto e relativo são as seguintes, refletindo a importância da subárea
“litoral leste”: bagres, 15 (29,4%), cações, 15 (78,9%), raias, 9 (64,3%),
pescadas, 9 (27,3%), tainhas, 4 (30,8%), peixe-pedra, 4 (33,3%), robalo, 3
(37,5%) e serra, 2 (25,0%) – Almeida et al. (2008).
O Piauí também inclui dois municípios no Delta: (a) Ilha Grande
onde se localiza o Porto dos Tatus, o segundo maior porto do estado,
participando com 35% da produção total, e tendo o privilégio de con-
centrar os maiores estoques do caranguejo-uçá e uma riqueza relativa-
mente elevada de moluscos; (b) Parnaíba, que tem participação mo-
desta como produtor de pescado, mas se destaca nos aspectos relativos
à recepção e exportação do caranguejo para os centros consumidores,
em especial a cidade de Fortaleza, no Ceará.
Os dois municípios maranhenses do Delta contribuíram com uma
média de 9,2% para a produção total de pescado, nos anos de 2002-2003
e 2005-2006 (IBAMA, 2008). Individualmente, Tutóia e Araioses tiveram
comportamento bastante diverso quando se considera a produção de
peixes, e a produção do caranguejo­-uçá e de outros recursos pesqueiros
(camarões, ostras, siris, marisco). No município de Tutóia as participa-
ções de desses grupos foram, respectivamente, 61,3% e 38,7%, enquanto
em Araioses estas foram 41,1% e 58,9%. Essas diferenças refletem prin-
cipalmente a posição geográfica desses dois municípios de acordo com

28
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

o seguinte esquema: (a) Araioses é beneficiado pela localização mais


centralizada no Delta, com maior influência da zona estuarina, onde
predominam as populações de crustáceo e marisco; (b) Tutóia, por se
localizar na porção ocidental extrema do Delta, com maior influência da
área marinha da plataforma interna, privilegia a produção de peixes.
Nos municípios vizinhos (Ilha Grande, Parnaíba, Luiz Correia e
Cajueiro), já no Estado do Piauí, a produção predominante é do caran-
guejo-uçá e ostras no município de Ilha Grande, e camarão, no muni-
cípio de Luiz Correia. Os peixes, principalmente serra, bonito, ariacó,
cavala e pargo, têm presença em todos os quatro municípios, mas com
maior destaque em Parnaíba e Luiz Correia (IBAMA, 2008). Além
disso, esses dados mostram que a maioria das espécies capturadas no
Delta se comporta de maneira relativamente uniforme quanto a sua
participação na produção total do estado (em torno de 10%), com ex-
ceção de quatro delas que se destacam em termos de produção abso-
luta, a saber, carapeba, beijupirá, raias e cavala (Figura 2.4).

600 40,0
P %DP/MA 35,0
500
30,0 Proporção delta/MA (%)
400
Produção (t)

25,0

300 20,0

15,0
200
10,0
100
5,0

0 0,0
Bonito

Cavala

Serra

Tainha

Enchova

Sardinha

Cação

Beijupirá

Tibiro

Guarajuba

Uriacica

Xaréu

Arraia

Bgre

Bandeirado

Bagre cabeçudo

Camurim

Bagre-cangatá

Carapeba

Corvina

Cururuca

Gurijuba

Pacamão

Peixe-pedra

Pescada-amarela

Pescada-branca

Pescada-gó

Sirigado

Uritinga

Espécies
Figura 2.4 – Produção das principais espécies de peixes capturados no Delta do Parnaíba, em termos
absolutos e como proporção da produção total no estado do Maranhão, no período 1999 – 2006.

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Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

A biocenose de peixes na área em frente aos municípios de


Tutóia e Araioses é composta por 30 espécies, dentre as quais sete são
pelágicas, com 20% da produção, e 23 são demersais, com 80% da
produção. Embora haja grande disparidade entre os grupos de espé-
cies, sua participação no âmbito da produção total do estado é bas-
tante regular, com valores de 6,0% e 6,8%, em torno da média de 6,4%,
o que significa uma distribuição espacial bastante uniforme nesses
dois estratos verticais da plataforma continental interna dos mencio-
nados municípios.
Como não existem informações sobre a produção mensal de pes-
cado por município nos Boletins do ESTATPESCA, utilizamos os dados
coletados para todo o estado do Maranhão para definir os períodos de
safra das principais espécies pelágicas e demersais que compõem sua
biocenose capturável. Assim, com base na Tabela 2.1, os resultados ob-
tidos sobre esse atributo são os seguintes:

BIOCENOSE: março – julho (representa 47,7% da produção anual).

Espécies Pelágicas
Bonito: janeiro-março/junho
Cavala: janeiro-maio
Serra: fevereiro-junho
Tainha: janeiro/abril/agosto/novembro-dezembro
Uriacica: abril/julho-dezembro

Espécies Demersais
Raias: maio-setembro
Bagres: janeiro/março-junho
Bandeirado: janeiro/março/junho-julho
Cangatan: maio-julho/setembro/novembro
Corvina: março-agosto
Cururuca: fevereiro-março/julho-setembro
Gurijuba: janeiro-março/junho
Pescada-amarela: junho-julho

30
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Pescada-branca: janeiro-março/novembro-dezembro
Pescada-gó: abril-agosto
Uritinga: janeiro-março/novembro

Tabela 2.1 – Época de safra das principais espécies de peixes pelágicos e demersais do
Maranhão (valores mensais da produção calculados como proporção das respectivas
médias), no período 1999 – 2006.
Espécies Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
PELÁGICO
Bonito 1,76 1,35 1,89 1,02 0,71 1,14 0,67 0,93 0,46 0,63 0,82 0,63
Cavala 2,24 1,40 1,12 1,27 1,41 0,95 0,47 0,66 0,51 0,71 0,79 0,47
Serra 0,77 1,33 1,80 1,06 1,81 1,69 0,70 0,60 0,56 0,55 0,52 0,62
Tainha 1,06 0,97 0,87 1,05 0,89 1,01 0,97 1,03 0,94 0,98 1,21 1,02
Uriacica 0,91 0,62 0,87 1,08 0,51 0,95 1,06 1,20 1,18 1,10 1,34 1,18
Média 1,01 1,07 1,29 1,03 1,23 1,27 0,95 0,88 0,79 0,78 0,89 0,80
DEMERSAL
Raia 0,65 0,63 0,86 0,71 1,57 1,25 2,21 1,05 1,11 0,71 0,67 0,59
Bagre 1,10 0,87 1,09 1,22 1,41 1,24 1,00 0,75 0,78 0,70 0,91 0,93
Bandeirao 1,14 0,88 1,09 0,86 0,99 1,34 1,19 0,82 0,98 0,95 0,96 0,81
Cangatan 0,81 0,69 1,00 0,99 1,04 1,24 1,08 0,97 1,17 0,99 1,09 0,92
Corvina 0,90 0,79 1,12 1,32 1,16 1,08 1,12 1,08 0,92 0,89 0,77 0,86
Cururuca 0,84 1,19 1,81 0,88 0,54 0,70 1,11 1,06 1,22 0,92 0,90 0,84
Gurijuba 1,85 1,09 2,52 0,77 0,59 1,22 0,82 0,70 0,62 0,44 0,84 0,54
P. Amarela 0,81 0,76 0,86 1,00 0,96 1,86 1,30 1,00 0,86 0,75 0,94 0,90
P. Branca 1,62 1,44 1,30 0,84 0,60 0,73 0,69 0,79 0,74 0,90 1,09 1,26
Pescada-gó 0,75 0,75 0,97 1,25 1,47 1,21 1,31 1,09 0,91 0,76 0,94 0,59
Uritinga 1,16 1,18 1,13 0,92 1,04 1,02 0,81 0,99 0,89 0,96 1,06 0,84
Média 0,95 0,86 1,08 1,07 1,13 1,29 1,16 0,96 0,92 0,83 0,93 0,83

31
CAPÍTULO
FATORES DA PRODUÇÃO:
III PESCADOR

O s pescadores formam o contingente mais importante no


contexto dos meios de produção, pois são eles que, direta ou indi-
retamente, executam as tarefas logísticas de embarque/desem-
barque nas viagens de pesca e, principalmente, por serem respon-
sáveis pela captura e/ou coleta manual dos recursos pesqueiros na
condição de bens de capital com uso direto na indústria alimen-
tícia. Tendo em vista a grande versatilidade de táxons que consti-
tuem a biocenose do Delta do Parnaíba, a mão-de-obra apresenta a
necessária variação em termos de quantidade e qualidade tecnoló-
gica, que se traduzem nas produções física e econômica das dife-
rentes categorias de pescado.
A descrição dos elementos que caracterizam os enfoques social,
econômico e técnico referentes aos pescadores do Delta do Parnaíba foi
realizada por meio de entrevistas baseadas em questionários estrutu-
rados e desenhados de acordo com os seguintes atributos: origem,
idade, grau de instrução, estado civil, renda, status socioeconômico e
inserção no mercado de trabalho. Foram entrevistados 209 pesca-
dores no período de julho a agosto de 2014, envolvidos com os se-
guintes recursos pesqueiros: caranguejo-uçá (47), camarão (32), peixe
(87) e marisco (43).
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

3.1 Enfoque social

Os pescadores de peixe são, em sua maioria, do sexo masculino


e provenientes dos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Pará; as mu-
lheres se originam apenas do Piauí e Maranhão. Os catadores de caran-
guejo-uçá são todos do sexo masculino e a maioria provém do estado
do Piauí. Os pescadores de camarão também são do sexo masculino e,
quanto à origem, se distribuem nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará,
Pará e Sergipe (Figura 3.1). Os catadores de marisco são, em sua
maioria, do sexo feminino, e, todos, independente do sexo, provêm do
Piauí e Maranhão.

Figura 3.1 - Pescador de camarão em atividade no Delta do Parnaíba.

A idade média dos trabalhadores em atividade apresentou a se-


guinte variação quantitativa de acordo com o recurso pesqueiro: peixes
= 43 anos (Figura 3.2); caranguejo-uçá = 36 anos (Figura 3.3); camarões
= 40 anos (Figura 3.4); marisco = 36 anos (Figura 3.5). A elevada faixa
etária predominante dos pescadores daqueles recursos, sem exceção,
mostra que atualmente os jovens não têm interesse em se engajar na
atividade pesqueira pelos motivos expressos nas seguintes opiniões: o
trabalho é muito árduo, não se mostram atraídos por nenhum tipo de
tarefa, preferem estudar para pleitear um emprego melhor.

34
FATORES DA PRODUÇÃO: PESCADOR

25,0

20,0

15,0
(%)

10,0

5,0

0,0
15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65 65-70 70-75 75-80
Idade (anos)

Figura 3.2 - Estrutura etária do contingente de pescadores de peixe em atuação no Delta do Parnaíba.

25

20

15
(%)

10

0
15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65
Idade (anos)

Figura 3.3 - Estrutura etária do contingente de catadores de caranguejo-uçá, Ucides cordatus, em


atua­ção no Delta do Parnaíba.

40,0
35,0
30,0
25,0
(%)

20,0
15,0 Figura 3.4 - Estrutura etária
10,0 do contingente de pesca-
5,0 dores de camarões, Macro-
0,0 brachium sp., em atuação
15-25 25-35 35-45 45-55 55-65 65-75 no Delta do Parnaíba.
Idade (anos)

35
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Quanto à instrução formal, para todos os recursos, os pescadores em


sua maioria apenas iniciaram o Ensino Fundamental, muitos não conclu-
íram e os demais se rotulam como analfabetos, sendo que uma pequena
proporção iniciou o Ensino Médio mas muito poucos o concluíram.
Quanto ao estado civil, os pescadores são em sua maioria casados
(juntos), mantêm família com até 10 filhos numa faixa predominante
de 3 - 5 filhos, e assumem paternidade mesmo quando solteiros.

25,0

20,0

15,0
(%)

10,0

5,0

0,0
15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60
Idade (anos)

Figura 3.5 - Estrutura etária do contingente de catadores de marisco, Cyanoci-


clas spp., em atuação no Delta do Parnaíba.

A organização dos catadores de caranguejo segue uma regra de


fidelidade para com o comprador local (Araújo, 2004). As pessoas que
fazem parte da “turma” não vendem os caranguejos para os compra-
dores de fora, mesmo que o preço seja mais elevado. Conforme
afirmam, na época que está ruim de preço, os compradores não apa-
recem mas, por outro lado, “.... os daqui compram tanto na época que
está bom quanto na que está ruim”, ou seja, mantêm uma frequência na
compra que gera estabilidade para quem trabalha, embora o preço
pago não seja tão atrativo. O morador fiel que concedeu este depoi-
mento explica também que “... muitos não são assim e dizem ‘... vou
vender lá que tem mais dinheiro’ ”.

36
FATORES DA PRODUÇÃO: PESCADOR

3.2 Enfoque técnico 25,0


a
20,0
A proporção de pesca-
dores com tempo de trabalho 15,0

superior a 50 anos atuando na

(%)
10,0
pesca de peixe é pouco signifi-
cativa, sendo os intervalos de 5,0

10-20 anos, 20-30 anos e 30-40 0,0


0-14 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70
anos responsáveis pela maior Tempo de trabalho (anos)
frequência (>60%) de profissio-
nais em atividade no Delta; 30,0
b
25,0
também os pescadores com ati-
20,0
vidade por até 10 anos é bas-
(%)

15,0
tante significativa (Figura 3.6a). 10,0
Os pescadores de peixe são fi- 5,0
liados à Colônia, um pouco 0,0
1-10 10-20 20-30 30-40 40-50
mais da metade recebem o se- Tempo de trabalho (anos)
guro desemprego e possuem
40,0
carteira de pescador como do-
35,0
c
cumento básico para o exer-
cício da profissão. Por sua vez, 30,0

os pescadores de camarão com 25,0

maior longevidade na pesca


(%)

20,0

(>30 anos) têm representação 15,0

significativa (>25%) e aqueles 10,0

com atuação na faixa de 0-30 5,0

anos representam mais de 70% 0,0


1-10 10-20 20-30 30-40 40-50
do contingente em atividade Tempo de trabalho (anos)
(Figura 3.6b). Entre os maris-
Figura 3.6 – Tempo dedicado à atividade de pesca co-
queiros, é elevada a proporção mercial no Delta do Parnaíba: (a) pescadores de peixe;
destes profissionais que traba- (b) pescadores de camarão; (c) catadores de marisco.
lham por até 10 anos na ativi-
dade (Figura 3.6c), mas, por outro lado, é muito pequeno o percentual
de permanência por mais de 40 anos, dados que constituem um indício

37
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

evidente de que a atividade comercial de mariscagem no Delta não


deve ter sido iniciada há muito tempo.
Os pescadores que operam embarcados, utilizando os vários
tipos apetrechos de pesca acima citados, têm sua atuação principal no
município de Tutóia, enquanto aqueles que atuam na coleta de caran-
guejo-uçá por braceamento o fazem com frequência quase absoluta no
município de Ilha Grande. Aqueles que se dedicam à captura de peixes
se originam das seguintes localidades (com sua participação relativa
entre parênteses): Morro das Marianas (41,4%), Tatus (17,2%), Centro
(13,8%), Porto do Cal (10,3%) e, os restantes, São Vicente de Paulo,
Baixio, Vila de São Miguel, Ilhas das Canárias e Pedra do Sal todos com
a mesma participação e perfazendo um total de 17,0%. Os pesqueiros
por eles visitados são os seguintes, destacando-se sua participação re-
lativa entre parênteses: Barra das Canárias (14,6%), Rio Igaraçu (12,5%),
Pontal (20,8%), Rio Parnaíba (6,2%), Rio da Gracinha (6,2%), Rio Grande
(6,2%), Garapé do Periquito (4,2%) e Rio Novo (4,2%), bem como os
pesqueiros Rio das Batatas, Rdo. Nonato Soares, Igarapé do Galego,
Rio do Ganso, Garapé do Guirindó, Rio dos Tatus, Muntuns, Torto, Rio
dos Morros, Pedra do Sal, Azedo e Cotia, todos com participação igual
e totalizando 25,2%.
Os pescadores de peixe e camarão e os catadores de caranguejo-
-uçá, numa estimativa da metade desse contingente, possuem embar-
cação própria do tipo canoa. Os pescadores de peixe realizam um nú-
mero variável de viagens por mês na profundidade média de 5 metros,
em substratos arenoso/lamoso. O destino da produção é diversificado
de acordo com as seguintes proporções: 58,6% dos pescadores re-
passam a produção para o atravessador, 40,0% diretamente para o con-
sumidor e 36,8% para auto-consumo. A conservação do produto é feita
de forma natural (50,0%) ou em gelo (58,7%).
Uma proporção de 40,6% dos pescadores de camarão possui em-
barcação própria do tipo canoa, realizando um número variável de via-
gens por mês e capturando uma produção média mensal de 200 kg de
camarão. A safra da produção ocorre principalmente de fevereiro a
maio, resultante da captura realizada na faixa de profundidade de

38
FATORES DA PRODUÇÃO: PESCADOR

1 - 15 m, em substrato lamoso ou arenoso. Os principais aparelhos de


pesca utilizados são: jiqui, landuá, rede e tarrafa. O destino da pro-
dução é diversificado, em que: 12,5% dos pescadores repassam a pro-
dução para o dono da embarcação, 59,4% para o atravessador, 28,1%
para o consumidor. A conservação do camarão é feita de forma natural
(31,3%) ou em gelo (68,7%).
Esses pescadores exercem uma atividade de subsistência devido
às características gregárias, e à eneficiência dos sistemas de estocagem
e distribuição dos camarões. Essas condições impedem o uso de pro-
cessos tecnológicos mais avançados que ensejariam maiores capturas
mas, por outro lado, exigiriam mão-de-obra mais qualificada, com
maiores custos de produção e, em contrapartida, maior rendimento fí-
sico e econômico.
As marisqueiras realizam a cata por períodos de 2 - 7 dias por
semana, e o destino da produção é diversificado nas seguintes propor-
ções: 64,4% das catadoras repassam a produção para o atravessador,
20,0% diretamente para o consumidor e 15,6% para auto-consumo. A
conservação do marisco é feita de forma natural (37,2%), por resfria-
mento em gelo (11,6%) ou congelado (51,2%).

3.3 Enfoque econômico

Os pescadores constituem o elo inicial da cadeia produtiva, e,


portanto, deveriam ficar com a maior proporção da margem total de
comercialização, além do fato de serem os produtores iniciais da ma-
téria-prima. Além disso, cabe-lhes exercer as tarefas difíceis e extenu-
antes de ir para o mar ou para o manguezal, e enfrentar todos os pe-
rigos inerentes à responsabilidade de colocar peixes, caranguejo-uçá,
camarões, siris, ostras e mariscos na mesa do consumidor, geralmente
in natura e com todas as qualidades de sabor e frescor que os tornam
agradáveis ao paladar. O trabalho dos outros elementos da cadeia de
produção é muito mais fácil e, relativamente, muito melhor remune-
rado, uma injustiça cuja correção deve ser um dos objetivos do desen-
volvimento deste projeto.

39
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

No processo de manejo das unidades da frota pesqueira, des-


tacam-se o proprietário, que se encarrega de sua operação e manutenção,
e o mestre-de-barco, responsável pelo comando das pescarias, e pelos
cuidados com a embarcação e equipamentos após o desembarque do
pescado, tarefas das quais a tripulação pode eventualmente participar se
for requisitada. Em geral, a remuneração da mão-de-obra segue o tradicional
sistema de meiação, que consiste no seguinte: (a) parte da captura é posta
de lado para o consumo pessoal da tripulação e do proprietário, sendo o
restante vendido e os custos operacionais deduzidos do valor bruto da
viagem de pesca; (b) o valor líquido resultante dessa operação é dividido
de acordo com os sistemas de produção artesanal ou industrial, e todos
os pescadores recebem uma proporção dos lucros líquidos de cada
viagem, sem distinção entre os membros da tripulação; (c) quando o
mestre não é o proprietário da embarcação, poderá receber uma parte
adicional retirada da produção correspondente à embarcação.
A dependência do sistema de intermediação faz com que os ele-
mentos produtores da cadeia no Delta tenham sua receita reduzida por
incapacidade de interferir no valor de venda do produto e, por outro
lado, sem alternativa de emprego principalmente nos períodos de en-
tressafra do consumo. No entanto, como forma de compensação, o
IBAMA estabeleceu o seguro-defeso, um mecanismo de assistência fi-
nanceira temporária ao pescador por até seis meses, no valor de um
salário mínimo mensal, com a exigência de que o mesmo tenha apre-
sentado dedicação exclusiva às pescarias nos 12 meses que antecedem
o período de concessão do benefício. Como exceção, os catadores do
caranguejo-uçá não têm recebido esta contribuição talvez pelo curto
tempo de efetivo defeso, nos poucos dias de ocorrência da “andada”.
As informações coletadas por meio de entrevistas sobre remune-
ração, apropriação da moradia, acesso a serviços de saúde e realização
de atividades de lazer são muito uniformes e refletem uma grande se-
melhança nesse enfoque entre os diversos elementos envolvidos com a
exploração pesqueira, como se segue:
• Remuneração: média de 1,5 SM (salário mínimo);
• Moradia: casa própria, dotada de energia elétrica, água enca-

40
FATORES DA PRODUÇÃO: PESCADOR

nada, fossa séptica, fogão, geladeira, televisor e telefone;


• Serviços de saúde: disponibilidade de postos da saúde, dentista
e hospital, mas acesso real é limitado pela grande demanda;
• Lazer: passeio, música, dança, reunião com amigos em bares
e restaurantes, frequência a missas e cultos religiosos, pro-
gramas de televisão e cinema.

3.4 Enfoque ambiental

Quanto à sustentabilidade do meio ambiente sujeito a exploração


econômica, os pescadores/catadores têm as seguintes opiniões unânimes:
• Os pescadores de peixe entendem que a preservação das
condições ambientais é importante para a atividade, pois ga-
rante uma boa produção ao longo dos anos, tendo emitido as
seguintes opiniões; (a) 35,7% as consideraram ruins, porque
a abundância de peixes está diminuindo provavelmente de-
vido à escassez de pluviosidade; (b) 38,1% as consideram re-
gulares, devido às mudanças climáticas e à poluição, que
estão reduzindo a profundidade dos locais de pesca; (c)
26,2% as consideram boas porque ainda é possível sobre-
viver da pesca mesmo com a diminuição da abundância dos
estoques. São as seguintes as sugestões para melhorar a ativi-
dade pesqueira: a Colônia deveria fornecer mais apoio aos
pescadores; preservar o ambiente; receber incentivo do poder
público (subsídios); instalar cooperativas para ajudar na re-
gularização dos estoques e garantia do preço mínimo; imple-
mentar processos de fiscalização da pesca.
• Para os catadores de caranguejo-uçá, esta concepção pode
ser mais bem avaliada quando perguntados sobre as condi-
ções ambientais para a prática da atividade, em que: 17,0%
consideraram ruins, por que o esforço de pesca está muito
alto, 45,8% regular, devido à falta de preservação do am-
biente (alta poluição ambiental e desmatamento), e 37,2%
boa, porque ainda é possível pescar mesmo com a dimi-

41
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

nuição da abundância dos estoques de caranguejo. Sugestões


para melhoria do ambiente de catação e venda dos produtos
são: ter um fábrica de gelo; preservar o ambiente; incentivo
do poder público (subsídios); cooperativa para vender o pro-
duto a um melhor preço; mais fiscalização.
• Quanto aos pescadores de camarão, 37,5% consideraram ruins
as condições ambientais porque o esforço de pesca está muito
alto, 46,9% regular, devido às mudanças climáticas, 15,6% boa,
porque ainda é possível pescar mesmo com a diminuição da
abundância dos estoques. Idéias dos camaroneiros para me-
lhorar a pesca: a Colônia deveria fornecer mais apoio aos pes-
cadores; preservar o ambiente; incentivo do poder público
(subsídios); cooperativa para vender o produto a um melhor
preço; mais fiscalização, ter mais pesquisas científicas.
• Os marisqueiros acham que a preservação do meio am-
biente é importante para a pesca, pois garante uma boa
produção de marisco ao longo dos anos. Esta concepção
pode ser mais bem avaliada quando perguntados sobre as
condições ambientais para a prática da pesca, em que: 7,0%
acham péssimas, pois a área de pesca é muito poluída;
20,8% consideraram ruins, por que há muita poluição, não
está chovendo e há muitas pessoas pescando; 28,0% re-
gular, devido às mudanças climáticas e a poluição; 44,2%
boa, porque não há poluição. Este segmento do setor pro-
dutivo tem as seguintes propostas de melhoria: instalar
uma cooperativa que auxilie na venda do produto, gerando
mais renda; incentivo do poder público (subsídios); uma
fábrica de gelo.

42
CAPÍTULO FATORES DA PRODUÇÃO:
IV EMBARCAÇÃO

A grande maioria das embarcações em operação no Delta é


desprovida de equipamentos para navegação oceânica, de modo que
as deficiências na autonomia de mar e no raio de ação restringem sua
atuação a estuários, reentrâncias, zonas rasas e próximas da costa na
plataforma interna. Desse modo, uma grande quantidade de embarca-
ções de pequeno e médio portes se destina a pescarias de pequena es-
cala, com tendência à motorização, mas ainda com grande predomi-
nância da frota de canoas veleiras.
Quanto às táticas de pesca, os proprietários cujas embarcações
atuam na plataforma continental interna dos municípios de Tutóia e
Araioses, preferem a propulsão a vela (Figura 4.1a) por razões econô-
micas, pois os benefícios resultantes da instalação de motores variam
entre comunidades ao longo da costa e dependem dos tipos de pescaria,
nível de renda e qualificação tecnológica da tripulação. Além disso, o
trabalho a bordo é menos árduo e, pelo sistema tradicional de remune-
ração pela partilha da receita da pescaria, o proprietário assume muitas
das despesas de armação e manutenção. Por exemplo, em Tutóia as em-
barcações utilizadas na captura de peixes pelágicos migratórios no âm-
bito da plataforma continental devem ser motorizadas (Figura 4.1b), ao
contrário daquelas que operam em estuários e reentrâncias da costa.
Portanto, ainda persiste no Maranhão uma grande preocupação a res-
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

peito das relações de trabalho e remuneração entre tripulantes, proprie-


tários e intermediários, focalizando a insatisfação dos pescadores
quanto à desproporcionalidade nos níveis de renda dos diversos ele-
mentos que compõem a cadeia produtiva do setor pesqueiro.

a
Figura 4.1 – Embarcações pesqueiras usa-
das na região do Delta: a) canoa com pro-
pulsão a vela;

b
b) canoa com propulsão por motor-de-rabeta.

As mudanças estruturais no sentido da substituição de parte da


frota de embarcações veleiras e a remo por lanchas motorizadas têm
sido proteladas devido aos seguintes fatores principais: (a) existência
de um regime de ventos brando e previsível na maior parte do ano; (b)
grande perícia dos pescadores na arte de velejar, resultando em pe-
quena diferença no desempenho tático entre embarcações veleiras e
motorizadas; (c) alto custo dos motores e das correspondentes opera-
ções de pesca, que oneram as despesas fixas e variáveis das pescarias;
(d) exigência para se obter índices de rendimento elevados e promover
viagens de pesca economicamente rentáveis.
A utilização da embarcação como fator de produção tem como
premissa principal a concentração da abundância de espécies que se

44
FATORES DA PRODUÇÃO: EMBARCAÇÃO

movimentam em sua área de distribuição e, nessa categoria, se en-


quadram apenas peixes e camarões, pois as populações de caran-
guejo-uçá, siris e marisco são constituídas por indivíduos sésseis, ou
seja, quase totalmente sedentários. Portanto, na descrição das embar-
cações abaixo apresentada fica evidente que a característica mais im-
portante a ser considerada é sua condição de veleira ou motorizada,
nesse caso sob a influência de duas características principais impor-
tância comercial do pescado e extensão da área de pesca.
As pescarias de peixes ocorrem principalmente na plata-
forma continental interna dos municípios maranhenses do Delta
(Tutóia e Araioses), operacionalizadas por embarcações com pro-
pulsão a vela e a motor cujos principais representantes estão a se-
guir descritos.
Canoa veleira – embarcação movida a vela, remo ou motor-de-
-rabeta, com várias formas de casco, construídas de tabuado liso sobre
um cavername forte, sendo as cavernas cortadas de peças de madeira-
-de-lei que apresentam a curvatura desejada. Apresenta-se em dois
tipos, sob as formas de boião e biana.

(1) Boião - é uma canoa de boca aberta, com cavername re-


dondo, caracterizada por possuir uma proa chata e uma considerável
curvatura longitudinal, portanto desprovida de quilha, de modo que
as seções no fundo são aproximadamente semicirculares (Figura
4.2). O boião mede tipicamente de 5 a 7 metros de comprimento,
sendo governado por um leme grande e chato montado no espelho
de popa. No Maranhão representa cerca de 70% da frota e, no Piauí,
apenas 38%, sendo operacionalizadas na despesca do apetrecho
curral, na cata do caranguejo-uçá e em pescarias de peixe com linha-
-de-mão e rede-de-espera. Tem uma tripulação de quatro pescadores,
realizando viagens de ir-e-vir, em sua maioria, na dependência da
capacidade de armazenamento do pescado determinado pelo uso ex-
clusivo de gelo em caixas isotérmicas.

45
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Figura 4.2 – Canoa veleira do tipo boião.

2) Biana – essa canoa tem a mesma proa chata que o boião, mas
difere deste pelo maior porte (5,5 – 9,0 metros) e pelo fato de possuir
uma curvatura longitudinal menor e uma pequena quilha de seção
triangular, adaptada para pescarias em mar aberto (Figura 4.3). As se-
ções no fundo são mais chatas do que aquelas encontradas no bote. As

Figura 4.3 – Exemplares de biana, canoa que ope-


ra sob os meios de propulsão a vela e a motor.

46
FATORES DA PRODUÇÃO: EMBARCAÇÃO

bianas maiores podem ter seções mais largas, terminando num amplo
espelho de popa e normalmente são fechadas com convés e munidas
de um porão isolado, para peixe, com capacidade de 1,5 a 2,5 t de gelo.
Opera sob os meios de propulsão a vela ou a motor, fator que deter-
mina a duração da viagem de pesca, raio de ação da pescaria, compri-
mento da embarcação, duração da viagem de pesca e capacidade de
estocagem de pescado. Esse tipo de embarcação pode ser construído
com convés aberto ou fechado: as bianas abertas, geralmente são me-
nores e variam de 5 a 6 metros, com motores de até 18 HP e a esto-
cagem do pescado é feita em caixas geleiras isotérmicas sobre o convés;
as fechadas têm comprimento de 7 - 9 metros e motores de 18 a 36 HP
e utilizam urnas geleiras internas com capacidade para estocar até
1.500 kg de pescado.

Bote – trata-se de uma


embarcação veleira larga-
mente encontrada ao longo
do litoral do Maranhão, do-
tada de vela grande (caran-
gueja) e outra menor armada
na proa (de estai) (Figura
4.4). Possui proa com for-
mato de “V” acentuado, po-
dendo acrescentar uma popa
sem espelho (popa de risco).
Apresenta casario, urna de
gelo ou apenas caixas de
isopor dispostas sobre o
convés para estocagem do
pescado. Tem comprimento
que varia na faixa de 6 - 9 me-
Figura 4.4 – Bote utilizado em pescarias de peixe no
tros, e sua versão motorizada Delta do Parnaíba.
utiliza motor de 12 a 18 HP e
opera com 4 - 5 tripulantes.

47
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Lancha de madeira – embarcação motorizada, com casco de


madeira, comprimento na faixa de 8,0 - 15,0 metros, com casario na
popa ou na proa do convés, também conhecida como barco-a-motor,
com potência na faixa de 80 – 150 HP e detentora de maior raio de
ação e autonomia de mar do que o bote-motorizado (Figura 4.5).
Opera em áreas mais afastadas da costa para capturar indivíduos de
grande porte das espécies-alvos e, por esse motivo, dispõe de urnas
frigoríficas para estocagem em gelo, processo que exige grandes
quantidades desse produto, para manter o pescado bem conservado
ao longo de toda a viagem. Como equipamento auxiliar, algumas
dispõem de ecossonda para facilitar na localização dos pesqueiros,
bem como guinchos ou talhas elétricas para tornar as pescarias mais
eficientes durante o lançamento e recolhimento das redes de espera
e linhas-grozeiras. A lancha média é o tipo de embarcação que mais
tem contribuído para a realização de desembarques realizados no
litoral piauiense, participando com 43,2% da produção total, desta-
cando-se, principalmente, nos municípios de Luiz Correia e Ilha
Grande, onde essas embarcações são também utilizadas na coleta e
transporte do caranguejo-uçá nos diversos pontos de desembarque
do produto.

Figura 4.5 – Exemplares de lancha motorizada utilizado em pescarias de peixe na plataforma interna
adjacente ao Delta do Parnaíba.

48
FATORES DA PRODUÇÃO: EMBARCAÇÃO

Tomando-se as diversas frotas como um todo, as embarcações


acima descritas apresentam a seguinte ordem de importância no
processo de produção de pescado: lancha motorizada (13,8%); canoa
(44,0%), nas categorias motorizada (2,4%), veleira (18,2%) e a remo
(23,4%); e biana (42,2%), nas categorias motorizada (37,0%) e veleira
(5,2%). Portanto, verifica-se que as embarcações mais eficientes são a
lancha motorizada, a biana motorizada, e a canoa nas categorias a
remo e veleira. No ano de 2006 estavam em operação 9.149 embarca-
ções, das quais 634 (6,9%) no município de Tutóia e 251 (2,7%) no
município de Araioses, aqueles com interesse direto na cadeia pro-
dutiva de peixes no Delta do Parnaíba, segundo o Programa
Estatpesca (IBAMA, 2008).
Nos municípios de Tutóia e Araioses predomina o uso de em-
barcações veleiras, principalmente canoa a vela, que se traduz em
grande produção de pescado, mas sem a correspondência em termos
de rendimento cujos valores máximos são atingidos apenas quando se
usa embarcações maiores e/ou eficientes como lancha motorizada e
canoa a motor (Tabela 4.1). Nos municípios de Ilha Grande e Parnaíba
prevalecem as frotas de lanchas motorizadas principalmente dos tipos
pequeno e médio, responsáveis por elevados valores tanto da pro-
dução como do rendimento. No entanto, deve-se ressaltar que essa
vantagem, em comparação com os outros dois municípios, tem origem
no fato de esses barcos operarem apenas no recolhimento dos caran-
guejos agrupados ao longo dos igarapés sobre uma grande porção dos
manguezais do Delta, mais do que na captura propriamente dita de
recursos pesqueiros. Isto se confirma com o fato de que Ilha Grande
concentra o maior esforço de coleta da produção obtida com a catação
do caranguejo por causa da proximidade das ilhas onde sua abun-
dância é muito mais elevada.
Tutóia e Araioses concentram uma frota de 885 embarcações,
ou seja, 88,7% do total de 997 unidades, enquanto a produção de
3.501,5 kg corresponde a 71,1% do total de 4.925,9 kg obtida no âm-
bito dos quatro municípios do Delta. Os outros dois (Ilha Grande e
Parnaíba) são muito mais importantes como centros pesqueiros de

49
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crustáceos (caranguejo e siri) e marisco, de modo que a frota e a pro-


dução correspondem, respectivamente, a apenas 11,3% e 28,9% do
total (Tabela 4.1).

Tabela 4.1 – Valores anuais sobre a produção, esforço de pesca e índices de rendimento
por embarcações veleiras e motorizadas nos municípios de Tutóia, Araioses, Ilha Grande
e Parnaíba, como médias do periodo 1999-2006 (fonte: IBAMA, 2008).
Produção Esforço Rendimento
Município Embarcação
(kg) (emb.) (kg/emb.)
Tutoia Lancha de madeira 565,0 37 15,410
Biana motorizada 54,6 14 3,998
Canoa a remo 194,2 94 2,059
Canoa a vela 1012,6 382 2,653
Canoa a motor 70,1 9 7,507
Total 1896,5 535 3,545
Araioses Lancha de madeira 129,5 10 12,950
Biana motorizada 10,4 1 15,550
Canoa a remo 30,8 17 1,850
Canoa a vela 742,5 280 2,649
Canoa a motor 691,8 43 16,215
Total 1605,0 350 4,586
Ilha Grande Canoa 104,6 36 2,916
Lancha pequena 349,9 8 45,148
Lancha média 416,3 11 39,650
Lancha grande 189,5 1 189,457
Total 1060,4 56 18,934
Parnaíba Canoa 98,6 29 3,399
Lancha pequena 7,7 1 12,320
Lancha média 249,7 24 10,513
Lancha grande 7,8 1 13,700
Total 364,0 56 6,500

Algumas espécies de peixe com destaque na produção pesqueira


do Delta são capturadas por um ou mais desses tipos de embarcação
como, por exemplo:
Bagre – canoa veleira e canoa a remo;
Cangatan – biana motorizada e canoa veleira;
Cavala – lancha motorizada;
Corvina – biana motorizada e lancha motorizada;

50
FATORES DA PRODUÇÃO: EMBARCAÇÃO

Cururuca – lancha motorizada e biana motorizada;


Pescada amarela – biana motorizada;
Pescada branca – biana motorizada;
Serra - lancha motorizada e biana motorizada;
Tainha – canoa a remo e biana motorizada;
Uritinga – biana motorizada, canoa veleira e canoa a remo.

A eficiência na produção de peixes no Delta pelas embarcações


adaptadas às táticas de pesca com redes, anzóis e armadilhas se verifica
na seguinte ordem decrescente dos municípios: Tutóia, Araioses, Ilha
Grande e Parnaíba. Por outro lado, o rendimento apresenta uma ordem
diferenciada dos municípios em comparação com o atributo produção,
no caso, Ilha Grande. Parnaíba, Araioses e Tutóia, situação que pode ter
como fatores causais a maior produtividade biológica do setor
piauiense do Delta e/ou a maior eficiência da tática de coleta manual na
exploração dos recursos pesqueiros.
A pesca dos camarões de água doce do gênero Macrobrachium é
realizada apenas com o concurso de embarcações de pequeno porte
(Figura 4.6), geralmente canoas a vela e a remo, e emprega um tipo de
apetrecho (jiqui) com características de armadilha, tendo em vista a pe-
quena capacidade de deslocamento dessas espécies no interior do Delta.

Figura 4.6 – Canoa utilizada na despesca de camarões do gênero Macrobrachium no


Delta do Parnaíba.

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A pesca do siri é realizada por canoas sempre durante o dia, em


viagens com duração média de 4 horas realizadas por três tripulantes:
um mestre-de-embarcação e dois pescadores. As viagens são curtas
(média de 4 horas), com frequência diária e geralmente de-ir-e-vir, de-
pendendo das condições de maré e de vento (Figura 4.7). Das 10 canoas
monitoradas durante o período de estudo, três tiveram uma maior fre-
quência de pesca, mas as outras tiveram atuação diversificada no sen-
tido de procurar o recurso pesqueiro que no momento está gerando
maior renda.
Com relação ao marisco, os pesqueiros são denominados “croas”
por ficarem quase descobertos durante a baixamar, com altura máxima
de 1 metro, e se distinguem por sua elevada abundância. A captura é
feita a bordo de canoas com motor-de-rabeta, em pescarias com du-
ração média de 4 horas, resultando numa produção de 25 a 50 kg acon-
dicionada e desembarcada principalmente nos seguintes pontos de
coleta: Porto dos Morros, Porto dos Tatus e Porto do Baptista Pedro.

Figura 4.7 – Embarcação utilizada para a pesca do siri no Delta do Parnaíba.

52
CAPÍTULO FATORES DA PRODUÇÃO:
V APETRECHO DE PESCA

O s apetrechos a seguir descritos são utilizados em todos os


tipos de pescaria dirigidas aos recursos principais (peixe e camarão) e,
em menor escala, siris e marisco, já que caranguejo-uçá e ostras são
extraídos através de coleta manual com ou sem o uso de complementos
como redinha, cambito, e landuá em escala variável de acordo com a
abundância desses recursos em suas áreas de ocorrência.
Dentre os tipos de apetrechos abaixo descritos destacam-se por
sua utilização predominante e efetiva como fatores da produção os se-
guintes: rede-de-espera (57,8%), linha-grozeira (20,0%), tarrafa (13,3%)
e linha-de-mão (8,9%), sendo o pescado resultante dessa atividade co-
mercializado para os seguintes destinos: comunidade (53,6%), auto-
-consumo, (26,8%), centros externos (12,3%), peixaria (4,9%) e comércio
local (2,4%).
As pescarias de peixes são realizadas principalmente nos municí-
pios maranhenses do Delta, ou seja, Tutóia e Araioses. Em Tutóia (02º45’S
- 42º16’W), dentre os apetrechos de pesca predominam as redes-de-es-
pera à deriva ou fixa, identificadas pela espécie-alvo principal, tais como
pescadeira (pescada), serreira (serra) e tainheira (tainha). Além dessas, é
também comum o uso de rede de lanço, puçá-de-arrasto e tarrafa, e a
armadilha fixa zangaria, que capturam principalmente camarão, bagres,
bandeirado, uritinga, cangatan, uriacica, raia, pescada, robalos, corvina e
arenque nos pesqueiros Praia de Tutóia, Praia do Amor, e desde a Ilha do
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
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Caju até Travosa. Em Araioses (02º52’S - 41º44’W) predominam os ape-


trechos linha-grozeira, caçoeira, tapagem, landuá e jiqui, que se destacam na
captura de espécies de peixe como bagre, robalo, pescada, sardinhão,
tainha, mero, uriacica, bagre-mela-mão e bandeirado, bem como de ca-
marões e siris, nos pesqueiros Canárias, Barra do Meio, Barrinha, Torto,
Carnaubeiras, Morro do Meio e Caiçara.
Rede-de-espera – esse tipo de apetrecho é utilizado para a cap-
tura de diversos recursos pesqueiros, apresentando diferentes caracte-
rísticas de acordo com o habitat das espécies-alvos. No interior do
Delta encontram-se redes-de-espera com comprimento entre 60 e 70 m,
altura de 1,0 a 2,5 metros e aberturas de malha variado entre 2 e 15 cm
medidas entre nós opostos. Os panos da rede são mantidos na posição
adequada para captura em função de cabos de boias e de chumbadas
em suas partes superior e inferior, cuja quantidade varia de acordo
com a flutabilidade desejada, entre aparelhos de deriva ou superfície e
aparelhos fixos ou de fundo (Figura 5.1).

Rede-de-espera

Sinalização

Bóias

Chumbadas

Figura 5.1 – Rede-de-espera pronta para a pescaria.

54
FATORES DA PRODUÇÃO: APETRECHOS DE PESCA

Na modalidade à deriva, a rede-de-espera opera ao sabor das cor-


rentes e o principio de funcionamento é esperar que o peixe se emalhe
na rede, durante um tempo de imersão que dura de 1 a 2 horas e um
máximo de 4 lances realizados por dia. A técnica de espera fundeada
tem o mesmo princípio da modalidade anterior, com a diferença de que
é atada a uma garatéia para auxiliar na fixação da rede ao fundo, motivo
por que se destina principalmente à captura de espécies demersais.
Rede-serreira - rede-de-espera de deriva flutuante, com compri-
mento de 1.000 a 2.000 metros e altura equivalente a 40 - 50 malhas com
abertura esticada de 70 - 90 mm, tecidas a mão ou confeccionadas em
fábrica utilizando-se nylon monofilamento nº 50 ou 60. A rede serreira
tem como objetivo principal a captura da serra (Scomberomorus brasi-
liensis) e sua operação ocorre tanto à noite como durante o dia, embora o
período preferido seja o de maré de quarto minguante, quando as águas
costeiras são menos turvas, e por ser a serra uma espécie migratória for-
çada a seguir os cardumes de sardinha-bandeira (alimento principal da
espécie). Esta rede-de-espera é utilizada por embarcações do tipo lancha
de madeira, cujas viagens podem durar até 15 dias, e também por pe-
quenas embarcações a vela e a motor, em viagens de até 6 dias. Apesar
desse apetrecho ter a serra como principal espécie-alvo, seu uso foi adap-
tado para outras espécies mais de fundo como os bagres e corvinas e,
dessa forma, passou a ser utilizada em todo o litoral e dentro das baías.
Rede-pescadeira - rede-de-espera de deriva, cujo alvo principal
é a pescada-amarela (Cynoscion acoupa), sendo confeccionada artesa-
nalmente com nylon monofilamento de nº 100 e largura da malha com
150 - 170 mm entre nós opostos, como também com nylon multifila-
mento nº 210/36. A maioria das redes tem entre 40 e 50 malhas de al-
tura e comprimento que varia de 1.200 a 2.500 metros, cuja posição
vertical e profundidade na coluna d´água são ajustadas através de
bóias e chumbadas nas porções superior e inferior, respectivamente.
Os lances têm duração de 3 - 4 horas, em maré de enchente, nas baias
mais profundas e na costa até 10 milhas. As embarcações que parti-
cipam dessa pescaria são de dois tipos: lancha motorizada, e biana nas
modalidades veleira e motorizada.

55
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Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Rede-tainheira - este tipo de apetrecho visa a capturar tainhas


do tipo pitiuá (Mugil curema) e sajuba (Mugil incilis), sendo sua pa-
nagem formada respectivamente por malhas de 25-40 mm e 50-65 mm
entre nós opostos. A rede tainheira é confeccionada com nylon monofi-
lamento com diâmetro de 0,2 a 0,4 mm dependendo da espécie visada,
e comprimento entre 150 - 600 metros. São utilizadas em embarcações
do tipo canoa a remo e bianas motorizada e a vela, nas baías e reentrân-
cias costeiras.
Linha-grozeira - esse apetrecho, na realidade, funciona como um
espinhel de anzóis, destinado à captura de espécies demersais, princi-
palmente bagres, raias, peixe-pedra, cururuca e corvina, em pescarias
realizadas por canoas a vela e bianas motorizadas, nas baías, reentrân-
cias e até 5 milhas da costa, sendo o mesmo encontrado em todo o li-
toral do Maranhão (Figura 5.2).

Linha-grozeira

Linha de Linha
bóia principal

linha
secundária

Anzol

Garatéia

Figura 5.2 – Desenho esquemático da linha-grozeira ressaltando a posição das bóias, das linhas se-
cundárias dos anzóis iscados, utilizada no Delta do Parnaíba.

56
FATORES DA PRODUÇÃO: APETRECHOS DE PESCA

A linha principal é constituída por fio multifilamento com 4 - 5 mm


de diâmetro, à qual são afixadas linhas secundárias que comportam de
1.000 a 1.500 anzóis, e sendo fixada ao fundo por meio de uma garateia de
pedra ou ferro, portanto com configuração distinta de acordo com cada
pescador, mas com o mesmo princípio do espinhel. Com base nessas in-
formações foram estimadas as seguintes características biométricas: a am-
plitude encontrada para o comprimento da linha principal foi de 648 m e
média 378,9 m e seu diâmetro varia de 2,3 mm a 4,6 mm, com amplitude
de 2,3 mm e média de 3,06 mm. Quanto à linha secundária, foi estabele-
cida uma amplitude de 40 cm e uma média de 51,25 cm, todas compostas
de nylon monofilamento, com diâmetro variado de 1,3 a 2,6 mm com
uma amplitude de 1,3 mm e média de 1,95 mm.
Linha-de-mão - utilizada na captura de peixe-pedra, cururuca, ba-
gres, pescada e corvina. São confeccionadas com linhas de nylon monofi-
lamento e anzóis de nº 6 a 10. Tem utilidade generalizada ao longo de toda
a costa, pelo emprego de canoas a vela ou a remo com 4-5 metros de com-
primento, em viagens com tempo de duração correspondente a uma maré.
Puçá-de-arrasto - rede em forma de cone confeccionada com
nylon monofilamento, com malhas entre 10 e 20 mm, mantida aberta
por calões de madeira ao ser arrastada por dois pescadores com água
até o pescoço, nas margens das baias e reentrâncias (Figura 5.3). Esse
apetrecho é destinado especificamente à captura do camarão sendo
operacionalizado por embarcações do tipo canoa a remo e biana veleira
ou motorizada.
Muruada – apetrecho utilizado principalmente na captura do
camarão, podendo às vezes incluir alguns tipos de peixes, consiste
de um puçá de arrasto com dimensões pouco maiores do que o mo-
delo tradicional, instalado em série de 4 - 7 em estacas colocadas de
forma vertical. Os puçás são armados em calões para dar abertura
vertical na boca e estendidos horizontalmente entre um par de es-
tacas, são fincados no fundo em locais com correntes fortes nos estuá­
rios, furos e nos canais entre bancos de areia na baixa–mar. O ta-
manho da malha mede entre 18 e 29 mm no saco e 35 a 50 mm na
boca, tendo de 5 a 7 metros de comprimento, com largura de 2,5 a 3,0

57
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metros e altura de 1,0 a 1,5 metros. As embarcações utilizadas na


despesca são canoas a vela ou a remo.

Figura 5.3 - Puçá de arrasto. Ilustração de Alvarez, C. A. F.

Rede-de-tapagem – possui as mesmas características da rede-de-


-espera, e seu comprimento varia entre 40 braças e 60 braças, operado
por 2 e 3 pescadores respectivamente, dependendo da extensão do ha-
bitat. Seu modus operandi consiste em fechar um determinado trecho do
igarapé para impedir a passagem dos peixes e forçar seu emalhamento.
Para isto, suas extremidades são amarradas a varas fincadas no leito e
ainda seguras por uma corda que atravessa o igarapé, para reforçar sua
posição vertical quando sob o efeito da correnteza da maré vazante.
Arrastão-de-praia – esse apetrecho, também conhecido como
rede de lanço, consiste de uma rede com 150 - 200 metros de compri-
mento por 2 metros de altura, e em operação assume a forma de um
semi-círculo quando uma das extremidades do cabo fica na praia e a
outra é levada pela embarcação para completar o envolvimento dos

58
FATORES DA PRODUÇÃO: APETRECHOS DE PESCA

indivíduos encontrados na zona costeira (Figura 5.4). Quando retorna


à praia, inicia-se o recolhimento, que é feito manualmente por 6 - 8 ho-
mens em cada extremidade das cordas. O camarão é o principal re-
curso-alvo desse apetrecho, mas várias outras espécies podem compor
a biocenose atingida por esse tipo de pescaria, como pescadinha, boca-
-mole e sardinha.

Figura 5.4 – Modus operandi do apetrecho arrastão-de-praia em pescaria de peixe no Delta do Parnaíba.

Tarrafa – é uma pequena rede em forma circular, operada por


um pescador que a utiliza para a captura de peixes e camarões em
águas litorâneas e estuarinas (Figura 5.5). A captura decorre de uma
série de lançamentos da rede sobre a superfície da água e conseqüente
fechamento da mesma em torno de uma linha circular de chumbadas,
resultando na retenção dos indivíduos na sua parte inferior, denomi-
nada saco, cuja malhagem varia em função do tamanho dos exemplares
das espécies-alvos.

Figura 5.5 – Pescador tarra­


feiro em operação no Delta do
Parnaíba.

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Curral – trata-se de uma armadilha fixa do tipo paliçada, po-


dendo ser constituída de espia e compartimentos do tipo sala e chi-
queiro (Figura 5.6). As espias laterais formam um funil de frente para a
maré enchente (mais comum) e a captura do pescado se dá por ocasião
da maré vazante. Os peixes correm ao longo das espias passando pela
“sala” e entrando no “chiqueiro”, local onde ocorre a despesca por meio
de embarcações do tipo biana a vela e a motor, e por canoas a remo. A
altura dos currais depende do nível da água do mar no local onde está
instalado, variando entre 6 e 9 metros, e seu comprimento atinge até 150
metros. A despesca é feita diariamente, com a ocorrência de vários tipos
de peixes tais como bagres, pescada-gó, camurim e peixe-pedra.

Figura 5.6 - Aspecto geral de um curral para captura de peixes, em operação no Delta do Parnaíba.

Zangaria - armadilha considerada do tipo semi-fixo porque pode


ser deslocada para outro local, diferentemente do curral, que é fixo
(Figura 5.7). Esse apetrecho se assemelha a uma cerca sobre cujas es-
tacas se monta uma rede com malhas de 20 – 50 mm, confeccionada
com fios de poliamida e destinada à captura de camarão e peixes. A
altura das estacas e sua instalação dependem da amplitude da maré e
da profundidade do local, o mais próximo da costa e com até 3 metros,
de forma que o seu “chiqueiro” na baixa-mar possa ser despescado

60
FATORES DA PRODUÇÃO: APETRECHOS DE PESCA

com maior facilidade. A zangaria só opera em maré de vazante, quando


os pescadores mergulham e levantam a tralha superior da rede enros-
cando na parte superior das estacas; após a baixa-mar é feita a cata dos
camarões e a despesca no chiqueiro e, novamente, a rede é baixada,
utilizando-se embarcações do tipo canoa ou biana motorizada.

Figura 5.7 - Aspecto geral de uma zangaria para captura de peixes, em operação no Delta do Parnaíba.

Jiqui - O jiqui é um apetrecho de pesca utilizado para capturar


camarões e peixes, de formato cilíndrico um pouco abaulado em sua
porção central, com comprimento e diâmetro com dimensões médias
de 80 cm e 35 cm, respectivamente (Figura 5.8-5.9). São duas as mo-
dalidades de montagem: (1) na primeira, destinada à captura de ca-
marão; utilizam-se como materiais telas de plástico, quatro círculos
de aço e/ou madeira, varas de madeira e cinta plástica para amarra-
ções; uma vez preparado o “exqueleto” da estrutura, faz-se o reves-
timento com tela de plástico, por ter malhagem menor e, assim evitar
a fuga dos indivíduos capturados, geralmente de pequeno porte; (2)
na segunda, o jiqui é confeccionado com os mesmos materiais do

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anterior, mas com substituição da tela de plástico por varas de ma-


deira adquiridas na mata nativa da região. Independente do recurso-
-alvo (peixe ou camarão); as talas são fixadas a argolas de aço e/ou
madeira e amarradas próximas umas das outras, deixando apenas
um pequeno espaço de aproximadamente 1,5 cm, com a finalidade
de evitar a fuga dos indivíduos capturados. Os locais destinados à
entrada dos peixes e camarões, em número de dois, são conhecidos
por “sangria”, têm 6 cm de diâmetro e se posicionam em ambas as
extremidades do apetrecho.

Figura 5.8 - Características do jiqui utilizado para captura de camarões no Delta do Parnaíba.

Comprimento 80 cm

Figura 5.9 - Caracteristicas


morfométricas do jiqui. Boca 35 cm

62
FATORES DA PRODUÇÃO: APETRECHOS DE PESCA

Jereré – esse apetrecho constitui uma armadilha móvel geral-


mente construída pelos próprios pescadores a partir do aro da roda
de uma bicicleta, tendo um diâmetro de 60 cm. O material de con-
fecção da malha da rede que se estende no interior do aro e serve
para reter os indivíduos capturados, é feito de nylon medindo entre
0,30 e 0,40 mm de monofilamento (Figura 5.10) Utilizam-se boias
para a localização da arte de pesca, na sua grande maioria com-
postas por garrafas pet e isopor, ligadas ao jereré por um cabo cujo
comprimento varia entre 4 a 6 metros e é feito com material de
nylon multifilamento.

Figura 5.10 - Jereré, armadilha móvel para captura do siri no Delta do Parnaíba.

Landuá – apetrecho utilizado para realizar a coleta do marisco


identificado como várias espécies de molusco bivalve do gênero
Cyanocyclas, aprensentado no Capítulo I. Sua estrutura consiste basica-
mente de um galho de madeira encurvado para assumir um formato

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elíptico, que é envolvido por uma rede de nylon multifilamento com


abertura de malha de 2 cm medida entre nós alternados, terminando
num saco da rede com altura aproximada de 50 cm (Figura 5.11).

Figura 5.11 - Landuá utiilizado na captura de marisco no Delta do Parnaíba.

64
A CATA DO
CAPÍTULO
VI
CARANGUEJO-UÇÁ NO
DELTA DO PARNAÍBA

6.1 Introdução

A região Nordeste do Brasil é a principal geradora de pescado


originário da pesca marinha com 34% do total nacional. Na região do
Delta, a pesca do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), tem
grande importância socioeconômica na geração de emprego e renda
das populações litorâneas chegando a representar cerca de 50% de
todo o pescado desembarcado no estado Piauí em 2003 (Legat, 2003) e
33,3% em 2006 (IBAMA, 2008).
A produção pesqueira de U. cordatus no Brasil atingia pouco
mais de 10.000 t em 2002 (IBAMA 2002) caindo para pouco mais de
6.500 t em 2007 (IBAMA, 2007). As regiões Norte e Nordeste são res-
ponsáveis por quase toda a produção nacional. A maior produção nas
regiões foi obtida no estado do Pará (Neto, 2011). Conforme consta em
MPA (2011) a produção nacional do caranguejo-uçá apresentou cresci-
mento considerável nos anos de 2009 (9.027,4 toneladas), 2010 (8.534,7 t)
e 2011 (8.607,5 t) quando comparado com a produção do ano de 2007
(6.500,0 t). Os valores da produção nacional para o período 2009 a 2011
não condiz com o pensamento dominante entre catadores, atravessa-
dores e pesquisadores envolvidos, de alguma forma, na cata do caran-
guejo-uçá no Delta do Parnaíba, como será mostrado mais adiante. A
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discrepância poderia estar relacionada com a diferença de métodos


utilizados na coleta de dados, mas também na qualidade dos dados.
A cadeia produtiva do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba é
responsável por gerar mais de 4.500 empregos (Mota, 2007), com o co-
mércio de caranguejo no Nordeste beneficiando cerca de 6.500 cata-
dores, que muitas vezes tem nessa atividade sua única fonte de renda.
A culinária do caranguejo-uçá nas regiões de praia de maior intensi-
dade turística do Nordeste do Brasil sustenta centenas de bares e res-
taurantes, bem como importantes empreendimentos gastronômicos
nas cidades de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro (Assad et al., 2012).
Apenas o caranguejo-uçá pode ser considerado como recurso de
elevada importância econômica regional no Delta do Rio Parnaíba.
Entretanto, pelo menos 66 espécies de peixes teleósteos pertencentes a
26 famílias e algumas espécies de siris, camarões, ostras e mariscos são
de importância local, seja pelo volume produzido, seja pelo valor das
capturas. No período de 2008 a 2010, a média de produção de caran-
guejo-uçá foi de 8.582 t.
No Delta do Parnaíba o caranguejo-uçá é uma espécie largamente
apreciada na alimentação humana, representando uma cobiçada iguaria
nos litorais brasileiros tanto pelas populações locais quanto por turistas
de diversas partes do mundo. É um crustáceo que pode ser aproveitado
de diversas formas tanto na alimentação, quanto na produção de pro-
dutos biomédicos e cosméticos através do exoesqueleto quitinoso e
ainda das vísceras na formulação de ração para outros animais.

6.2 Habitat e ciclo vital

O caranguejo-uçá, apresenta a seguinte posição taxonômica:


Reino Animalia,
Filo Arthropoda,
Subfilo Crustacea,
Classe Malacostraca,
Ordem Decapoda,
Infraordem Brachyura,

66
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

Família Ocypodidae,
Subfamília Ocypodinae
Gênero Ucides
Espécie Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) – Figura 6.1.

Figura 6.1 – Exemplar integro de caranguejo-uçá, Ucides cordatus.

Do ponto de vista anatômico, seus principais caracteres são (Melo,


1996): (a) cefalotórax achatado lateralmente; (b) coloração que varia
entre o azulado, o mais comum, esverdeado, amarelado, amarronzado,
arroxeado ou mesmo avermelhado; (c) presença de 10 pereiópodos
(patas locomotoras), sendo que as do primeiro par, maiores e com capa-
cidade prensil, assumem funções importantes na alimentação e repro-
dução; (d) abdômen numa posição dobrada por baixo do cefalotórax;
A espécie, também conhecida por catanhão, caranguejo-do-
-mangue e caranguejo-verdadeiro apresenta comportamento territo-
rialista, construindo galerias individuais, e habitando regiões de subs-
trato mole, característica de manguezais, nas zonas entremarés, em
galerias escavadas no lodo que podem atingir 2 metros de profundi-
dade (Costa, 1972).

67
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Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

A família Ucididae é representada por duas espécies – Ucides


cordatus (Linnaeus, 1763) e Ucides occidentalis (Ortmann, 1897) encon-
tradas nas zonas entre marés de baías abrigadas e estuários das re-
giões tropicais e subtropicais do mundo (Crane, 1975 apud Benetti,
2007). O gênero Ucides é caracterizado por possuir órbitas profundas,
mas não muito maiores que os olhos; distância interorbital um pouco
maior do que a metade da largura do cefalotórax; antênulas oblíquas;
epistoma pequeno, mas proeminente; e pernas fortes. O gênero Ucides
é restrito às Américas (Figura 6.2), e a ocorrência de U. cordatus está
limitada à costa leste do continente americano, desde a Flórida (EUA)
até cidade de Laguna em Santa Catarina (Brasil) (Melo, 1996). Sua
área de distribuição se sobrepõe à dos manguezais, tendo como limite

U. cordatus cordatus/
U. cordatus occidentalis

U. cordatus cordatus/

U. cordatus occidentalis

Figura 6.2 – Mapa do continente americano com a distribuição das subespécies do


gênero Ucides. Fonte: http://www.puca.org.br.

68
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

de distribuição austral a cidade de laguna, em Santa Catarina


(Schaeffer-Novelli et al., 2000). A espécie é capturada principalmente
nos manguezais do Norte e Nordeste, assumindo importante caracte-
rística socioeconômica como fonte de alimentação, renda e emprego
nessa região onde sua cata é muito primitiva (Ivo 1999).
Tratando-se de uma espécie semi-terrestre, o caranguejo-uçá tem
ocorrência restrita ao manguezal onde habita em galerias cavadas em
áreas de substrato macio, próximas ao mar, entre os níveis médios de
preamar e baixa-mar. A profundidade média das galerias desta espécie
é de 84 cm, podendo chegar a 115 cm; quando saem e entram nas gale-
rias os indivíduos caminham por um mesmo trecho, movimentando-se
lateralmente e com os quelípodes curvados à frente do corpo (Costa,
1972). As aberturas das galerias têm formato elíptico devido às dimen-
sões corporais do indivíduo e ao comportamento de U. cordatus
(Schmidt, 2006; Santos et al., 2009), havendo também influência do des-
gaste da lama devido ao ato de entrar e sair desses animais nas tocas,
sempre em posição lateral (Holthuis, 1959; Costa, 1972; Geraldes &
Calventi, 1983). A menor dimensão da entrada da galeria corresponde
necessariamente ao comprimento do cefalotórax (Schmidt, 2006). Cada
indivíduo adulto de U. cordatus, em condições normais, ocupa galerias
individuais (e.g., Costa, 1972; Alcantara-Filho, 1978; Geraldes & Calventi,
1983; Nascimento, 1993; Branco, 1993; Blankensteyn et al., 1997; Botelho
et al., 2000; Pinheiro & Fiscarelli, 2001; Alves et al., 2005; Schmidt, 2006),
mas as dos jovens podem apresentar até seis aberturas (Costa, 1972;
Pinheiro & Fiscarelli, 2001). Essa assertiva, no entanto, não se aplica aos
recrutas, já que Schmidt (2006) chegou a registrar até quatro indivíduos
juvenis (CC<10 mm) compartilhando uma mesma galeria.
Segundo Warner (1969), a distribuição espacial da maioria das
espécies de caranguejo está relacionada com os níveis das marés. Para
U. cordatus, quanto maior a inundação da zona, maior o tamanho médio
dos caranguejos que nela habitam. Terrenos mais arenosos e menos
inundados, como aqueles ocupados pelo mangue branco (Laguncularia
racemosa), são em geral habitados por indivíduos de menor porte, en-
quanto aqueles de maior inundação, ocupados pelo mangue-vermelho

69
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(Rhizophora mangle), são habitados por caranguejos de maior porte, ge-


ralmente com tamanho comercial (Figura 6.3) (e.g., Costa, 1972; Diele,
2000; Alves & Nishida, 2002; Almeida, 2005; Schmidt et al., 2005; Hattori,
2006; Pinheiro, 2006; Schmidt, 2006; Schmidt et al., 2008). O caranguejo-
-uçá apresenta estreita relação biológica com seu habitat; com isso, al-
terações ambientais no ecossistema podem desencadear sérios dese-
quilíbrios na estrutura de suas populações (Nascimento, 1993).

Figura 6.3 – (a) área de mangue de maior inundação mostrando fauna mais frequente de mangue ver-
melho e (b) área de mangue de maior inundação mostrando fauna mais frequente de mangue branco.

Os machos da espécie podem atingir cerca de 70 mm de compri-


mento do cefalotórax e 89 mm de largura do cefalotórax, enquanto as
fêmeas podem atingir 54 mm de comprimento e 65 mm de largura – na
Figura 6.4 estão representadas as medidas lineares (comprimento – CC
e largura – LC) do cefalotórax do caranguejo-uçá. As principais fontes
de alimentação do caranguejo-uçá são vegetais (folhas de mangue) e
matéria orgânica, que são armazenados nas tocas e entram em decom-

70
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

posição com a ação de fungos. Seus predadores naturais são: coruja,


gavião, guaxinim, gambá e raposa.

CC

LC

Figura 6.4 – Desenho esquemático mostrando a largura do cefalotórax (LC) e o comprimento do


cefalotórax (CC) do caranguejo-uçá (fonte: Leite et al., 2006).

O caranguejo-uçá, U. cordatus, pode viver por mais de 10 anos,


distinguindo-se três fases principais no seu ciclo de vida: a ecdise
(muda), o acasalamento e a desova. A ecdise ocorre uma vez por ano
nos indivíduos adultos, sendo mais frequente nos mais jovens, fase
em que os caranguejos estão com o cefalotórax mole, sendo impró-
prios para o consumo, pois se tornam magros e menos saborosos
mas, no caso da perda de uma das patas, esta é regenerada nas pró-
ximas mudas.
Esta é uma espécie dióica, ou seja, possui sexos separados e apre-
senta dimorfismo sexual, pois os machos são maiores e possuem ab-
dome em forma de “t” invertido e as fêmeas, abdome arredondado
(Figura 6.5). O período reprodutivo recebe um nome peculiar, carnaval
ou andada, sendo caracterizado pela saída da grande parte da popu-

71
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lação de caranguejos de suas galerias batendo as quelas umas nas ou-


tras, ficando totalmente expostos e disponíveis à captura (IBAMA
1994). A fecundidade absoluta varia na faixa de 80.000 – 250.000 ovos,
porém somente 30 e 50 mil larvas eclodem com condições de sobre-
viver, o que acontece por ocasião do crepúsculo.

Figura 6.5 – Diferenciação morfológica entre macho e fêmea do caranguejo-uçá.

As “andadas” do caranguejo-uçá no Brasil ocorrem no período


de novembro a março, geralmente iniciando um dia após a lua cheia ou
nova, prolongando-se por até 6 dias (e.g., Costa, 1972; Nascimento,
1993; Diele, 2000; Góes et al., 2000; Sant’anna, 2006; Wunderlich et al.,
2008a; Schmidt et al., 2008b). Define-se como andada o período repro-
dutivo no qual os indivíduos de ambos os sexos saem de suas tocas e se
deslocam erraticamente pelo manguezal para acasalamento e liberação
de ovos. Vários fatores ambientais influenciam a intensidade da an-
dada, destacando-se a associação positiva com a temperatura (ar/água),

72
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

luminosidade e luas nova/cheia, e, negativamente, com as amplitudes


de maré em dias de lua cheia ou nova (Wunderlich et al., 2008;
Sant’Anna, 2006; Schmidt et al., 2008c).
Como os períodos de lua mudam ano a ano e a andada do caran-
guejo-uçá acontece no período de lua cheia ou nova faz-se necessário
que anualmente sejam definidos os períodos de defeso do caranguejo-
-uçá por Instrução Normativa Interministerial. Para os anos de 2013 a
2016 os períodos foram definidos como mostrado na Tabela 6.1, in-
cluindo os estados do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do

Tabela 6.1 – Períodos de defeso do caranguejo-uçá para os


anos de 2013 a 2016.
Instrução Normativa
Ano Período de defeso
Interministerial
Primeiro período
12 a 17.01 28.01 a 02.02
Segundo período
Número 1 de 9.01.2013 2013
11 a 16.02 26.02 a 03.03
Terceiro período
12 a 17.03 28.03 a 02.04
Primeiro período
02 1 07.01 17 a 22.01
Segundo período
31.01 a 05.02 15 a 20.02
Número 8 de 30.12.2013 2014
Terceiro período
02 a 07.03 17 a 22.03
Quarto período
31.03 a 05.04 –
Primeiro período
06 a 11.01 21. a 26.01
Segundo período
2015
04 a 09.02 19 a 24.02
Terceiro período
06 a 11.03 21 a 26.03
Número 9 de 30.12.2014
Primeiro período
10 a 15.01 24 a 29.01
Segundo período
2016
09 a 14.02 23 a 20.02
Terceiro período
09 a 14.03 24 a 29.03

73
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Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Anteriormente


a portaria 034/03N de 24 de junho de 2003 definia como período de
proibição da cata os meses de dezembro a maio de cada ano e delegava
aos Gerentes Executivos dos estados o estabelecimento dos dias de an-
dada, para a efetiva proibição da captura do caranguejo-uça nos es-
tados acima, dependendo das características locais.
Os períodos de defeso definidos nas INI’s (n0 1 de 9 de janeiro de
2013, n0 8 de 30 de dezembro de 2013 4 e n0 9 de 30 de dezembro de
2014) abrange os estados do Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia e têm por
objetivo proteger o acasalamento e a desova da espécie. Durante o pe-
ríodo de defeso ficam proibidos a captura, transporte, beneficiamento,
industrialização e comercialização de qualquer indivíduo de U.
cordatus. Os estoques remanescentes até o último dia que antecede o
período de andada (defeso) podem ser comercializados desde que suas
quantidades tenham sido declaradas ao IBAMA por pessoas que
atuam em qualquer das fases da cadeia produtivas do recurso.
Logo após o acasalamento, as fêmeas retêm os espermatóforos
até que suas gônadas se desenvolvam e ocorra a exteriorização dos
ovos; os espermatozoides podem ser estocados por longos períodos
(Sant’anna et al., 2007). O desenvolvimento embrionário da espécie
dura 18 dias a 27 ºC (Pinheiro & Fiscarelli, 2001; Pinheiro & Hattori,
2003), enquanto o desenvolvimento larval leva 60 dias a 25 ºC
(Rodrigues & Hebling, 1989). As fêmeas liberam as larvas, denomi-
nadas zoeas, principalmente antes da maré vazante de sizígia, facili-
tando sua dispersão para o mar aberto (Santarosa-Freire, 1998). As
larvas se desenvolvem em áreas oceânicas, sendo descritos sete está-
gios larvais para a espécie (Rodrigues & Hebbling, 1989). As zoeas per-
manecem longe dos manguezais por três a quatro semanas (Diele,
2000), completando seu desenvolvimento em águas costeiras. Iniciam
uma migração para dentro dos estuários, já na forma de recrutas, ou
megalopas, que consiste num estágio intermediário entre a larva planc-
tônica e o juvenil bentônico (Pinheiro & Fransozo, 2002). O retorno ao
manguezal ocorre durante as marés enchentes de lua cheia e nova

74
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

(Diele, op. cit.), onde os caranguejos completam seu desenvolvimento.


Os primeiros estágios juvenis são encontrados em associação ao sedi-
mento removido das galerias, pelos animais de maior porte, aprovei-
tando sua menor compactação para escavar suas próprias galerias
(Schmidt et al., 2005b; Schmidt, 2006; Kassuga & Masunari, 2008).
A liberação das larvas do caranguejo-uçá é feita na água, e estas
são carregadas por grandes distâncias na maré vazante com a ajuda
das correntes marinhas, aproveitando-se de águas mais salinas, dis-
tante da costa para o seu desenvolvimento. Passam então por seis está-
gios diferentes de zoea e um de megalopa, quando retornam ao man-
guezal, onde cavam suas tocas e se transformam em juvenis. Nesse
estágio já possuem a aparência de adultos, porém com tamanho redu-
zido. Na fase adulta apresenta o maior porte entre as espécies do gê-
nero Ucides, sendo utilizado como fonte de alimento em várias regiões
brasileiras, e a quitina do seu exoesqueleto pode ter uso médico e em
cosméticos. Muitas pessoas dependem da pesca desse crustáceo, prin-
cipalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Indivíduos da espécie U. cordatus alcançam a maturidade sexual
com até 3 anos de idade e, dependendo da localidade geográfica (lati-
tude) onde se encontram os indivíduos o tamanho de primeira matu-
ração pode variar (Botelho et al. (1999; Diele, 2000; Pinheiro et al., 2005).
Independente de localidade, em média os machos do caranguejo-uçá
atingem o tamanho de primeira maturação com 51,7 ± 5,3 mm e as fê-
meas com 46,7 ± 5,7mm (IBAMA, 2011). Comparando as médias obtidas
para as populações das regiões Norte/Nordeste e Sul/Sudeste brasileiras
nota-se que machos e fêmeas do Norte/Nordeste são maiores para tα 0,05
= 2,228, com tmacho = 2,857 e tfêmea = 2,228 (Tabela 6.2), o que reforça a ideia
de ordenamento regional diferenciado. Entende-se que o tamanho mí-
nimo de captura do caranguejo-uçá como definido em Instrução
Normativa em 60,0 mm de largura do cefalotórax tem por base o ta-
manho de primeira maturação como definido por diversos autores.
O número de ovos carregado por uma fêmea de caranguejo-uça
depende do tamanho individual, podendo apresentar ampla variação.
No Nordeste brasileiro, Mota-Alves (1975) obteve variação de 64.000

75
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

(comprimento do cefalotórax = 48,2 mm) a 195.000 ovos (comprimento


do cefalotórax = 60,2 mm). Pinheiro et al. (2003) encontraram em Iguape/
SP uma variação do número de ovos entre 36.081 e 250.566, correspon-
dendo a fêmeas de 30,9 a 72,9 mm de largura cefalotorácica.

Tabela 6.2 – Tamanhos de primeira maturação em milímetros


(LC = largura do cefalotórax) estimados por diversos autores ao
longo da costa brasileira para o caranguejo-uçá.
Tabela modificada de IBAMA (2011).

Segundo Hattori & Pinheiro (2003), a fertilidade de U. cordatus


variou de 71.200 a 220.800 larvas para tamanhos de referência de 41,7 a
76,8 mm de largura cefalotorácica; a fertilidade das fêmeas maiores,
classe de 75-80 mm, pode ser reduzida em até 75,0% quando compa-
rado a fêmeas menores.
Diferentes autores indicam que o caranguejo-uçá alimenta-se
preferencialmente de material vegetal, especialmente das folhas, flores
e propágulos das árvores e outras plantas do manguezal (Branco, 1993;
Christofoletti, 2005; Nordhaus et al., 2006). Também se alimentam de

76
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

outros materiais, como sedimentos, detritos, raízes, cascas de árvores


do manguezal (Blankesteyn et al., 1997; Ramos, 2005) e, eventualmente,
pequena quantidade de invertebrados (Branco, op. cit.). As folhas e os
propágulos foram os principais itens da dieta de U. cordatus
(Christofoletti, 2005), seguidos por elevada quantidade de matéria or-
gânica dissolvida, com baixa representatividade de itens de origem
animal. Estes animais alimentam-se continuamente, consumindo dia-
riamente cerca de 20% de seu peso seco, quando pequenos, o que é re-
duzido para 6,5% nos exemplares de maior porte. Demonstrando pre-
ferência por folhas senescentes ou em decomposição, em relação às
folhas verdes (Nordhaus, 2003).
O caranguejo-uçá apresenta um grande papel ecológico, atuando
no processamento da serrapilheira, no fluxo energético, na bioturbação
do sedimento, e na ciclagem do carbono e da matéria orgânica; também
pode promover a oxigenação das camadas mais profundas do sedi-
mento e ainda pode ser um importante biomonitor de poluentes. O
caranguejo-uçá pode apresentar um período conhecido como “caran-
guejo-leite” durante a ecdise, momento em que apresenta um grande
teor de carbonato, quando fica impróprio para o consumo humano.
Os machos alcançam tamanhos maiores do que as fêmeas, que
são cerca de 10% menores (Costa, 1979; Souto, 2007). Em IBAMA (2011)
são apresentados os valores mínimos e máximos obtidos em trabalhos
realizados ao longo do litoral brasileiro, conforme revisão realizada
por Pinheiro et al. (2005). O maior alcance de tamanho dos machos em
relação às fêmeas pode ser observado em todos os estudos.
De acordo com Ivo (1999) o desenvolvimento da espécie se dá
pela ecdise, processo de troca de cefalotórax ou exoesqueleto, sendo
mais frequente quando ainda jovem, podendo ocorrer várias vezes por
ano, reduzindo para uma muda por ano quando adulto. Pode-se de-
finir ainda segundo o mesmo autor quatro estágios de muda de A a D,
sendo o estágio A imediatamente após a muda, quando a cefalotórax
rompe muito facilmente e a locomoção é mínima. No estágio B, inter-
mediário a cefalotórax oferece certa resistência. O estágio C é caracte-
rístico do período pós-muda com cefalotórax já enrijecido e no último

77
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

estágio D, o caranguejo prepara-se para mudar novamente, apresenta


cefalotórax mole como se estivesse soltando o corpo.
Em IBAMA (2011) são apresentados valores da taxa de cresci-
mento e do comprimento máximo teórico para o caranguejo-uçá nos
estados do Para, Rio Grande do Norte e São Paulo, com diferenças con-
sideráveis para a taxa de crescimento; entre 0,15 e 1,12 para machos e
entre 0,19 e 0,90 para fêmeas, embora o tamanho assintótico tenha sido
muito similar entre 72,5 mm e 90,8 mm para machos e 71,5 m e 88,6 mm
para fêmeas. Lima e Oshiro (2004), em laboratório, confirmaram o cres-
cimento lento da espécie observado por outros autores e ainda obser-
varam que os jovens fazem mudas com mais frequência e têm maior
incremento de cumprimento por muda, diminuindo a frequência e o
aumento de tamanho quando adultos. O intervalo de mudas entre os
machos foi de 191 ± 140 dias, entre as fêmeas de 216 ± 76,2 dias e entre
os jovens foi de 54 ± 1,41 dias. A porcentagem de aumento da largura do
cefalotórax após a muda foi de 2,2 ± 1,4% entre os machos, de 1,3 ± 0,8%
entre as fêmeas e de 2,9 ± 2,1% entre os juvenis, independente de sexo.
Andrade et al. (2007) estimaram os parâmetros de mortalidade
do caranguejo-uçá em habitat natural como Z = 1,263, M = 0,527 e
F = 0,736, para os machos, e Z = 0,903, M = 0,457 e F = 0,446, para as
fêmeas. As elevadas taxas de mortalidade por cata sugerem ten-
dência à sobrexplotação independentemente do sexo, fato que justi-
ficaria a inclusão da espécie no Anexo 2 da Instrução Normativa nº 5.
Além da pesca, são frequentemente citados como importantes fontes
de mortalidade a destruição dos manguezais e as doenças (Diele
et al., 2005; Boeger et al., 2005). A taxa de explotação (E) para U. cor-
datus foi estimada em 0,58 e 0,48 para machos e fêmeas, respectiva-
mente, proximidade da taxa de 0,5 que indica estoques em nível má-
ximo de produção. Dessa forma, a exploração de U. cordatus está no
limite, porém fatores como a mortalidade em massa podem afetar
seriamente este cenário.
O fenômeno da mortalidade em massa do caranguejo-uçá foi pri-
meiramente detectado no litoral da Paraíba em 1998 e em 2000 havia
chegado ao Rio Grande do Norte (Nascimento, 2002). A partir de 2000

78
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

o fenômeno se expandiu para o sul (Schmidt, 2006). O estado de Sergipe


foi atingido em janeiro de 2001 (Nascimento, 2002). No mesmo ano co-
meçou a ser detectado em manguezais do Una e do norte de Canavieiras
(sul da Bahia), se alastrando para o sul de Canavieiras e Belmonte em
janeiro/2003 (Schmidt et al., 2004).

6.3 Fatores da produção

No litoral brasileiro, as populações tradicionais de catadores de


caranguejo-uçá vivem quase que exclusivamente dessa atividade,
sendo a utilização das áreas de manguezal ocupadas por catadores da
própria região, embora o aumento da demanda por caranguejo-uçá
tenha causado conflitos pela entrada de catadores de outras regiões. Os
caranguejeiros “invasores”, em geral não respeitam a legislação e
lançam mão de técnicas proibidas e predatórias, pois necessitam obter
boa produção (Barbieri; Mendonça, 2005). O caranguejo-uçá é impor-
tante recurso pesqueiro, fornecendo sustento para as comunidades de
baixa renda (Fiscarelli & Pinheiro, 2002).
No Brasil os caranguejeiros são em geral grupos economica-
mente marginalizados, extremamente pobres e pouco reconhecidos
entre os demais pescadores artesanais (Jankowski, 2007). Por exemplo,
em Iguape/SP, a maioria dos catadores não completa o ensino funda-
mental, sobrevivem unicamente da exploração e comercialização do
recurso, arrecadando até 2,5 salários mínimos/mês, dependendo da re-
gião e local de cata. A cata do caranguejo é uma atividade quase que
exclusivamente masculina e a grande maioria dos catadores têm bons
conhecimentos sobre os aspectos ecológicos da espécie (período de an-
dada, de desova etc.). A existência do período de defeso é de conheci-
mento dos catadores, embora nem sempre reconheçam o período como
correto (e.g., Fiscarelli & Pinheiro, 2002; Silva, 2006; EMBRAPA, 2007ab;
Linhares et al., 2008). Durante o período de defeso, a situação financeira
desses profissionais se agrava, pois eles não contam com seguro-de-
semprego que favorece os pescadores artesanais. Justifica o não paga-

79
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

mento do seguro-defeso a falta de informações sobre o número de pro-


fissionais que dependem deste recurso e, principalmente, o curto
período do defeso (Fiscarelli & Pinheiro, 2002).
Para os catadores de caranguejo-uçá, esta concepção pode ser
mais bem avaliada; quando perguntados sobre as condições ambien-
tais para a prática da cata 17,0% consideraram ruins, por que o es-
forço de pesca está muito elevado, 45,8% regular devido à falta de
preservação do ambiente (alta poluição ambiental e desmatamento)
e 37,2% boa, porque ainda é possível pescar mesmo com a dimi-
nuição da abundância dos estoques de caranguejo. Sugestões para
melhoria do ambiente de catação e venda dos produtos são: ter uma
fábrica de gelo; preservar o ambiente; incentivo do poder público
(subsídios); cooperativa para vender o produto a um melhor preço e
mais fiscalização.
A cata do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba é exercida apenas
por homens, sendo que 80,5% dos catadores são naturais do Estado do
Piauí e os demais dos estados do Maranhão (15,2%) e Ceará (4,3%). Os
caranguejeiros têm idade entre 16 e 63 anos, com média de 36 ± 11 anos.
Importante contingente de catadores (cerca de 40,0%) possui idade
entre 24 e 30 anos, fato que revela o interesse de razoável número de
jovens por essa profissão (Figura 6.6), fenômeno confirmado por 53,2%
dos caranguejeiros entrevistados. Esta decisão se fundamenta na falta
de oportunidade de trabalho qualificado na região, interesse em seguir
a carreira do pai e o desestímulo pelo estudo, enquanto o contingente
de jovens não interessados nessa atividade tem como justificativa a di-
ficuldade do trabalho e o interesse pelos estudos que poderá vir a ofe-
recer melhores oportunidades de trabalho.
Em relação ao grau de instrução tem-se que 27,7% dos carangue-
jeiros com idade média de 38 anos são analfabetos, sendo que o maior
contingente de catadores (49,9%) com idade média de 38 anos cursou
apenas os primeiros níveis do Ensino Fundamental. Com idade média
de 32 anos 14,9% concluíram o ensino fundamental, 6,4% finalizaram o
ensino médio (idade média de 32 anos) e 2,1% frequentaram parte do
ensino superior (idade média de 20 anos).

80
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

25

20
Porcentagem

15

10

0
17,5 27,5 37,5 47,5 57,5

Centro das Classes (anos)

Figura 6.6 – Estrutura etária do contingente de catadores de caranguejo-uçá em atividade


no Delta do Parnaíba.

Entre os caranguejeiros predomina o número de casados (74,0%


em união formal ou estável), com composição familiar entre 1 e 9 filhos
e média de 3 ± 2 filhos; dentre os solteiros alguns têm um filho.
A renda mensal do caranguejeiro no Delta é muito baixa, sendo
inferior a um 1 salário mínimo (SM) para 66,0% deles; mas alguns
podem auferir até dois 2 SM. O envolvimento de familiares na geração
de renda pode levar a renda familiar para até 2 salários para 55,3% dos
catadores de caranguejo. O acréscimo da renda provém de fontes como
bolsa-família e emprego informal.
Elevado percentual de caranguejeiros (78,7%) afirma possuir
moradia própria onde se pode encontrar energia elétrica, água enca-
nada, fossa séptica, e bens de consumo como fogão a gás, geladeira,
televisor, serviço de som e telefone celular. Os serviços de saúde no
interior do delta estão restritos a postos de saúde e não é comum en-
contrar qualquer tipo de lazer na região; a diversão está restrita a es-
portes, música e pequenos passeios (praia e rio).

81
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Elevado percentual de catadores de caranguejo-uçá (76,6%) tra-


balha na profissão por mais de 10 anos (Figura 6.7), são filiados a
Colônia de Pescadores, possui carteira de pescador para o exercício da
profissão, e não raramente recebe seguro-desemprego, devidos a ou-
tros pescadores que não caranguejeiros.

40

30
Porcentagem

20

10
Figura 6.7 – Frequência relativa do con-
tingente de catadores de caranguejo-
0 -uçá (Ucides cordatus), de acordo com
5 15 25 35 o tempo de dedicação a essa atividade
no Delta do Parnaíba.
Tempo de trabalho (anos)

Os catadores de caranguejo (46,8%) se deslocam para o local de


cata em embarcações próprias com tempo médio de deslocamento (ida
e volta) de 4,0 ± 4,5 horas. Na cata propriamente dita são despendidas
de 2 a 6 horas por dia com média de 5,0 ±1,5 horas, durante 1 a 5 dias
por semana. Capturam de 10 a 35 cordas por dia, que correspondem de
40 a 140 caranguejos, com média de 20 ± 5 cordas ou 80 ± 20 caran-
guejos. A safra do caranguejo ocorre em dois períodos, de junho a de-
zembro e de janeiro a março. O caranguejo-uçá é entregue ao atraves-
sador in natura. Durante a fase de catação, não se utiliza nenhum
processo de acondicionamento dos indivíduos a bordo, sendo estes
vendidos para o atravessador in natura.
O interesse pela preservação ambiental entre os caranguejeiros é
praticamente unânime: 17,0% entendem que o esforço de pesca na cata

82
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

do caranguejo está muito elevado; 45,8% entendem que o esforço está


medianamente elevado, mas que fatores ambientais, como poluição e
desmatamento, têm atuado no sentido de diminuir a produção e 37,2%
entendem que a produção de caranguejo-uçá é boa porque ainda é pos-
sível pescar mesmo com a diminuição dos estoques. Algumas das
ideias apontadas pelos catadores para melhorar a cata do caranguejo
são a implantação de fábricas de gelo; preservação ambiental; incentivo
do poder público (subsídios), criação de cooperativa para vender o
produto a um melhor preço, além de mais fiscalização.

6.4 Atividades de cata e embarcações

Os catadores de caranguejo-uçá detêm forte conhecimento empí-


rico sobre as características populacionais e o ciclo de vida desses ani-
mais (Fiscarelli; Pinheiro, 2002); Sabem diferenciar os sexos e estimam
o tamanho individual apenas pelos rastros e o tamanho da abertura da
toca (Alves & Nishida, 2003; Santos et al., 2009).
Tradicionalmente a cata do caranguejo-uçá no delta do Parnaíba,
como de resto em todo nordeste do Brasil, é feita por braceamento,
também conhecido como braçada, onde o catador coloca o próprio
braço na galeria e extrai o exemplar manualmente (Figura 6.7abcd).
Ultimamente, entretanto, a este método se associa o uso de um ape-
trecho denominado “cambito”, um vergalhão de ferro em forma de “J”,
que atua como uma extensão do braço de catador permitindo que se
alcance maiores profundidades do interior das tocas. Este método re-
sulta em razoável mortalidade de caranguejos atribuída a ferimentos
ocasionados por esse instrumento, com perfurações no cefalotórax e
perda de apêndices. A pressão sobre os estoques, experiência dos cata-
dores de caranguejo, tem feito com que os indivíduos procurem apro-
fundar suas tocas como forma de ficarem fora do alcance do cambito,
fato que estimula o catador a intensificar o uso desse apetrecho, ge-
rando-se assim um círculo vicioso que deve ser eliminado somente por
meio de regulamentação.

83
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Figura 6.7 – Catador de caranguejo no momento da cata: (a) procurando a melhor posição para
a introdução do braço na toca; (b) com o braço dentro da toca; (c) segurando o caranguejo após
retirá-lo da toca e mostrando o cambito; (d) limpando o caranguejo capturado.

Entretanto, ao longo da costa brasileira onde ocorre a cata do


caranguejo-uçá outros métodos de cata são utilizados, a exemplo (a) do
tapamento que consiste no fechamento da boca da toca com um misto
de raízes e sedimentos do próprio manguezal, forçando o caranguejo a
subir à superfície para a desobstrução, assim facilitando a captura
(Schmidt; & Oliveira, 2006; Legat et al., 2006); (b) da redinha que con-
siste numa armadilha feita de fios de sacos plásticos (ráfia) amarrados
pelas extremidades em gravetos retirados das próprias árvores do
manguezal, fechando a boca da toca (Botelho et al., 2000; Pinheiro &
Fiscarelli, 2001).

84
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

O caranguejo-uçá somente é comercializado enquanto vivo, de


modo que é fundamental o animal permanecer em boas condições até
chegar ao atravessador final, e aos pontos de comercialização nas ci-
dades e restaurantes onde são preparados para venda ao consu-
midor. A taxa de mortalidade entre a primeira comercialização e a
venda para os restaurantes varia em torno de 50% dependendo da
localidade onde o caranguejo é entregue (e.g., Legat, 2003; Assad et al.,
2012; Farias 2012; Mota, 2007), tendo o transporte como seu principal
fator causal. Por outro lado, essa mortalidade à qual esta sujeito o
caranguejo-uçá desde a cata até a distribuição aos fornecedores,
impõe a necessidade de uma maior extração do que o mercado pode
absorver, tornando a atividade bastante predatória (Farias, 2012) e
contribuindo para a redução do preço do produto pago ao catador.
Embarcações de vários tamanhos são usadas como auxiliares na
cata do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba: (a) as de pequeno porte
são utilizadas para o transporte dos catadores entre os locais de mo-
radia e de cata, deslocando-se com facilidade entre os igarapés; em
geral estas embarcações são providas de pequenos motores de “rabeta”
que as tornam mais rápidas e capazes de transportar até 8 catadores
(Figura 6.8); (b) as de médio porte (Figura 6.9) são utilizadas por atra-
vessadores e seus auxiliares. Nelas se concretiza o primeiro elo da ca-
deia produtiva do caranguejo-uçá no Delta, quando os mestres (atra-
vessadores) das embarcações compram a produção diária dos
catadores. Esta embarcação se desloca do Porto dos Tatus - PI por volta
de 9 horas para interceptar a produção gerada por catadores em todo o

Figura 6.8 – Embarcação de pequeno porte utilizada no transporte de pessoas e caranguejo-uçá no


interior do Delta do Parnaíba.

85
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Delta retornando ao porto por volta das 19 horas (Figura 6.10). As pe-
quenas embarcações trazem a produção dos catadores até as embarca-
ções de médio porte, encontrando-as em locais previamente acertados
no interior do delta. Os catadores guardam elevado grau de fidelidade
com os mestres das embarcações de médio porte garantindo-lhes a en-
trega de sua produção; em troca de sua fidelidade é comum os atraves-
sadores adiantarem numerários aos caranguejeiros por conta de pro-
duções futuras quando estes estão em dificuldade, por exemplo, sem
recurso para a compra de combustível para o barco, e, comumente
prestarem algum tipo de ajuda ao catador e seus familiares, a exemplo
do transporte de pessoas e materiais diversos, entre o porto dos Tatus
e o local de moradia do catador de caranguejo-uçá.

Figura 6.9 – Embarcações de médio porte utilizadas para compra e


transporte do caranguejo-uçá no interior do Delta do Parnaíba.

86
42°10’0’’W 42°50’0’’W 41°50’0’’W

2°40’0’’S
2°40’0’’S

ILHA DO
CAJU
Ilha das Ilha dos
ILHA GRANDE Barreiras Poldros Poldros
DO PAULINO
Morro do Meio
ILHA DASCANÁRIAS
TUTÓIA
PORTO Ilha da Torto
Desgraça Passarinho Canárias
TUTÓIA Ilha do Porto Melado (Torto) Ilha da
Carrapato Trindade
Ilha do Periquito
Igoronhon Ilha do Ilha do ILHA GRANDE
Bagre Assado Ilha do Serrote SANTA ISABEL
Guara
Ilha do Ilha do
São Bernardo

87
Ilha das Ilha do
Barrocas Cardoso Guirindó
PORTO DOS
Ilha das TATUS
ÁGUA DOCE Carnaubeiras Lamarão
Ilha do Batatas

2°50’0’’S
2°50’0’’S

Manguinho Morro da Mariana


Ilha do
Goiabal
Barreiras
0 2,5 5 10 ARAIOSES
km
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

LEGENDA Informações cartográficas:


Sistema de Coordenadas Geográficas
Municípios/Cidades Datum: SIRGAS2000
Referências:
Povoados - Imagem - Google Maps
Portos Disponível em:https://maps.google.com.br
BRASIL Acesso: 15/08/2015
Pontos de Pesca - Cartas DSG MI-553 e MI-554
MA - ICMBio - Mapa RESEX Delta do Parnaíba
PI Organização:
Rota de Embarcações Janaina Sales Holanda

Figura 6.10 - Mapa da rota seguida pelos catadores do caranguejo-uçá, Ucides cordatus, no Delta do Parnaíba.
MAPA rota
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

O mestre da embarcação coletora compra a produção obtida por


diversos grupos de catadores realizando de imediato o pagamento do
produto, cuja venda ocorre sob a forma de “cambada” ou “amarrado”,
agrupamentos que contêm 10 cordas ou 40 caranguejos. Nesta con-
dição, o gerente paga R$ 2,30 por corda, sendo que a quantia de R$ 0,30
é destinada ao proprietário do barco transporte que também é catador.
Nessa condição a paga por caranguejo é de R$ 0,50 e, na divisão da re-
ceita da faina, cada catador recebe o equivalente à sua produção.

6.5 Estratégia e táticas de coleta e transporte

A quase totalidade do caranguejo-uçá produzido na região do


Delta é desembarcada no Porto dos Tatus, a partir de onde é comercia-
lizado, principalmente para Fortaleza e Teresina e também para muni-
cípios mais próximos do delta, a exemplo de Parnaíba e Luiz Correia.
A cata do caranguejo-uçá se caracteriza como uma das mais inós-
pitas atividades da pesca no interior do Delta, a se considerar o modo
de cata e a localização das tocas entre as raízes do mangue. Ao chegar
aos locais escolhidos para a coleta manual do caranguejo, o catador se
posiciona entre as raízes, em local com maior densidade visual de tocas
para iniciar suas atividades (Figura 6.11a), geralmente usando apenas
uma bermuda e sem qualquer proteção adicional. Concluída a faina o
catador junta sua produção em cambadas, faz um breve asseio e em
seguida se desloca, carregando sua produção, para local onde foi dei-
xado no início da faina (Figura 6.11b) pelo barqueiro que o levará junto
com outros companheiros para venda do caranguejo. A cata ocorre
quatro vezes por semana e os catadores ficam no manguezal em torno
de 5 horas de trabalho efetivo durante o período de baixa-mar.
Sabe-se que o uso do cambito na cata de U. cordatus causa inju-
rias ao indivíduo, a exemplo de perfurações no abdômen e perda de
quelípodos, que inviabilizam sua comercialização (Legat et al. 2006).
Os catadores, entretanto, afirmam que apenas o braceamento, sem uso
do “cambito” torna inviável a captura do caranguejo, que vai cada vez
mais fundo no sedimento. Um estudo de comparação entre bracea-

88
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

mento simples ou sem “cambito”, braceamento com “cambito” e arma-


dilhas, Legat (2006) observa que o “cambito” apresentou as mais altas
taxas de mortalidade pelos ferimentos e injúrias causados, atingindo
47% das capturas, enquanto o braceamento simples e as armadilhas
apresentaram 5% e 2,5% respectivamente. Porém, apesar de o uso da
armadilha reduzir consideravelmente a mortalidade, este permanece
proibido, pois os danos à população de caranguejo e ao manguezal são
elevados devido a este apetrecho ser passível de esquecimento pelos
catadores no manguezal e ao enorme esforço de pesca que essa técnica
representa (Duran, 2011).

Figura 6.11 – Caranguejeiro no interior do manguezal: (a) catador posicionado entre as raízes do
mangue; (b) aguardando o barqueiro para transportá-lo ao local de comercialização do caranguejo.

O caranguejo do Delta contribui com 50% da produção total de


pescado do estado do Piauí, com produção elevada e crescente em anos
recentes (Legat, 2003). Entretanto, as grandes reduções nas capturas
em diversos estados do Brasil, e naqueles onde as capturas se manti-
veram constantes, com redução no tamanho e peso dos indivíduos cap-
turados, são indícios de sobrepesca, consequência da elevação do es-
forço de coleta sem o aumento efetivo da produção. A importância
social e econômica da pesca do caranguejo-uçá, associada ao aumento
do esforço de pesca e redução em alguns casos do comprimento e peso
individuais tem chamado a atenção e notável interesse de vários seg-

89
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

mentos da sociedade para a proteção, gerenciamento e extrativismo


sustentável da espécie.
Estima-se que de um total de 6 milhões de indivíduos captu-
rados no Delta em 2005 cerca de 3 milhões de unidades foram descar-
tadas apenas no Nordeste (Mota, 2007), o que representa uma taxa de
mortalidade de 50% associada ao transporte e manejo incorreto do pro-
duto até o local onde se completa sua cadeia produtiva. O caranguejo-
-uçá na maioria das vezes é transportado por longas distâncias, em
viagens com duração de até 12 horas, amarrados e amontoados em ca-
minhões, adotando-se o mesmo método de transporte de cargas secas
e inertes. Por esse motivo, a dinâmica do transporte caracteriza o prin-
cipal impacto da atividade (Assad et al., 2012) sobre a capacidade de
suporte da população com reflexos diretos na qualidade da gestão so-
cioeconômica desse importante recurso em áreas de mangue do Norte
e Nordeste do Brasil.
Estimativas de estoque do caranguejo-uçá são raras, mas alguns
autores indicam a possibilidade de sobrepesca do recurso, ao longo do
litoral brasileiro (Botelho et al., 2001; Jankowski et al., 2006). Para a re-
versão desse quadro sugere-se a limitação do número de catadores com
direito de acesso aos pesqueiros, e o monitoramento das condições am-
bientais com maior impacto sobre a produção, como pluviosidade e am-
plitude de marés (Schaeffer-Novelli et al., 2000; Hattori, 2006).
Estas evidências levaram os pesquisadores responsáveis pela ela-
boração da Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e
Peixes Sobreexplotadas ou Ameçadas de Sobreexplotação (instrução
normativa Nº 5, de 21 de Maio de 2004 – DOU de 28/05/2004) a incluírem
nesta lista Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), vulgarmente conhecido como
caranguejo-uçá, ucá, caranguejo-verdadeiro, caranguejo-de-mangue e
catanhão - ANEXO II. A lista foi elaborada considerando os compro-
missos assumidos pelo Brasil na Convenção sobre Diversidade
Biológica-CDB, ratificada pelo Decreto Legislativo no 2, de 8 de fevereiro
de 1994 e promulgada pelo Decreto no 2.519, de 16 de março de 1998.
Devido à demanda crescente por caranguejo-uçá a atividade de
catação tende a aumentar sua frequência e diversificar os métodos de

90
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

captura, acarretando em muitos estados brasileiros uma diminuição da


produtividade do U. cordatus, principalmente no Nordeste. Para a ma-
nutenção da produção em níveis que o mercado exige foi necessário
elevar o esforço de coleta, trazendo como consequência uma redução
do comprimento e peso individuais (Legat, 2003). A captura por uni-
dade de esforço (CPUE) varia de acordo com certo gradiente de sazo-
nalidade, visto que Assad (2012) registrou maiores produções de de-
zembro a março no delta do Parnaíba, e Oliveira (2007) apontou
melhores índices no verão na Bahia, com armadilhas, embora proibidas
por lei, gerando maiores índices produtivos (Nordi, 2006).
Considerando-se a importância social e econômica da cata do
caranguejo-uçá e o aumento do esforço de pesca a que está submetida
a espécie no Nordeste brasileiro, vários segmentos têm mostrado
grande interesse no gerenciamento da atividade a fim de torna-la sus-
tentável, assim, evitando o colapso da atividade geralmente associado
ao nível de exploração superior à real necessidade consumidora, evi-
dente para o U. cordatus com seus 50-60% de mortalidade (Legat, 2003).
O Porto dos Tatus (Ilha Grande) é um entreposto que recebe e rea-
liza o escoamento da maior parte das produções de pescado da região
do Delta do Parnaíba, sendo economicamente o principal produto o
caranguejo-uçá. A cadeia produtiva tem início nas vertentes: preparação
da embarcação, insumos, arte de pesca, esforço de pesca e, a captura em
si. Os catadores de forma geral mantêm certa fidelidade ao atravessador
habitual. Sua produção é toda entregue a ele diariamente ou em dias
alternados. Outros vendem sua produção diretamente aos proprietários
de restaurantes, hotéis e barracas, mas também ao “atravessador do
dia” não fidelizado, com maior oferta de preço de momento.
Por ocasião da transferência do caranguejo da embarcação pe-
quena para a de médio porte, estando estas emparelhadas, paradas ou
em movimento, é feita a contagem do caranguejo-uçá, em número de
amarrados; um amarrado consta de 10 cordas cada uma com 4 caran-
guejos. Não é incomum se encontrar indivíduos pequenos (menores do
que o tamanho permitido) ou injuriados/mortos entre os caranguejos
do amarrado; esses indivíduos são descartados, quando injuriados/

91
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

mortos e comercializado a baixo preço quando abaixo do tamanho mí-


nimo de comercialização. As perdas são assumidas pelos atravessa-
dores e estes realizam o pagamento imediatamente após a contagem
dos caranguejos.
Depois de recebidos e contados os amarrados são postas no
convés do barco, protegidos do sol, arrumados uns sobre os outros
(Figura 6.12a). Nesse momento amostradores do projeto retiram ao
acaso alguns amarrados para pesagem e, destes, uma subamostra dos
indivíduos para medição da largura do cefalotórax (Figura 6.12b). Essa
estratégia de transporte está diminuindo progressivamente, embora
ainda dominante, tendo em vista Instrução Normativa do IBAMA (IN
nº 9) em vigor desde janeiro de 2014 que regulamenta o transporte do
caranguejo-uçá.

a
Figura 6.12 – Transporte de caranguejo-
-uçá: (a) Disposição do amarrado no
convés da embarcação; (b) medição de
caranguejo-uçá.

92
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

O transporte entre o Porto dos Tatus e o local da última comer-


cialização in natura, por exemplo Fortaleza, é predominantemente feito
em caminhão, como descrito a seguir: os caranguejos são amarrados
em 10 cordas e estas em cambadas (Figura 6.13), que são dispostas no
assoalho da carroceria do caminhão espremidas umas contra as outras,
em geral ultrapassando a altura das grades. Por fim os caranguejos são
cobertos por uma lona que é fortemente amarrada às mesmas, procedi-
mento que induz a quebra do cefalotórax de muitos caranguejos e a sua
morte prematura (Figura 6.14).

Figura 6.13 – Cambada de carangue-


jo-uçá com 10 cordas (40 unidades).

Figura 6.14 – Cami-


nhão carregado com
caranguejo-uçá para
transporte a longas
distâncias.

93
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Já existem metodologias que reduzem a baixíssimos valores a


taxa de mortalidade do caranguejo no transporte, a exemplo do que
ocorre em Mato Grosso do Sul, estado bem distante do litoral, onde foi
estabelecida uma lei que determina que o caranguejo seja transportado
em caixa com ventilação e vegetação úmida (Farias, 2012). Em um es-
tudo comparativo, Legat (2006) encontrou mortalidade máxima de
apenas 5% para o transporte de caranguejos soltos em caixas úmidas e
de 55% em amarrados e empilhados.
Mais recentemente, objetivando a redução da mortalidade no
transporte e, portanto, reduzindo os custos na cadeia produtiva do ca-
ranguejo-uçá, nova estratégia de transporte tem sido adotada pelos
atravessadores. Após o desembarque do caranguejo, seja das embarca-
ções, em portos no interior do delta ou no Porto dos Tatus os amarrados
são desfeitos e os caranguejos selecionados, gerando três grupos de ca-
ranguejos: (1) caranguejos vivos maiores do que 60 mm (tamanho mí-
nimo permissionado), (2) caranguejos vivos menores de que 60 mm e
(3) caranguejos mortos. Os caranguejos do item (1) são resfriados em
caixas térmicas para exportação (Figura 6.15a-b), os caranguejos do item
(2) são destinados ao mercado interno (região do Delta), seja para con-
sumo in natura ou produção de patas e catado. As caixas isotérmicas são
transportadas em caminhão frigorífico (Figura 6.15c-d) que também
transporta outros produtos da pesca no delta, como caranguejo amon-
toado em cordas/cambadas e ostras ensacadas. Comumente se ouve de
barraqueiros e donos de restaurantes que o caranguejo quando res-
friado para transporte em caixas isotérmicas tem a carne escurecida,
resultando num produto de baixa qualidade quando cozido.
Tendo em vista reduzir a mortandade no transporte do caran-
guejo-uçá foi editada em janeiro de 2014, a Instrução Normativa nº 9 do
Ministério da Pesca e Aquicultura que impõe regras para o transporte
e armazenamento do caranguejo-uçá; a IN estabelece normas de acon-
dicionamento para fins de transporte terrestre e aquaviário de carga
viva de indivíduos de caranguejo-uçá, Ucides cordatus nos estados do
Pará, Maranhão, Piauí e Ceará. A Instrução Normativa exige que o ca-
ranguejo seja transportado desamarrado em caixas da seguinte forma:

94
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

(a) quando em transporte terrestre em caixas plásticas vazadas e for-


radas com espuma de acolchoamento embebida em água; (b) quando
em transporte aquaviário em caixas plásticas, sacos, peneiras, peras ou
acomodações que garantam a sobrevivência dos espécimes. A IN tem
por objetivo evitar e/ou diminuir o alto índice de mortalidade no trans-
porte do caranguejo-uçá.

Figura 6.15 – Transporte do caranguejo-uçá: (a-b) produto estoca-


do em caixa isotérmica; (c-d) caminhão frigorífico e de carroceria
sendo preparados para transporte em caixas isotérmicas, cordas/
amarrados e em caixas vazadas.

As embarcações coletoras já atendem em grande parte a Instrução


Normativa Nº 9 do transporte do caranguejo, mas o mesmo não ocorre
com o transporte feito pelos catadores nas embarcações de pequeno
porte usadas para transporte de catadores e caranguejos quando do
primeiro elo da cadeia produtiva. É possível que em futuro próximo o
método de transporte com empilhamento do caranguejo em sistema de
cordas/cambadas fique restrito ao interior do delta onde a fiscalização
é praticamente inviável.
O método de transporte conforme a IN nº 9 de 2 de julho de 2013
permite que a seleção do caranguejo-uçá por maiores indivíduos ocorra

95
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

desde o catador; os caranguejos menores não são trazidos para comer-


cialização, podendo até mesmo ser devolvidos ao meio ambiente
quando muito pequenos, por não atingirem grandes valores de mer-
cado. Nessas condições a unidade do caranguejo passou a ser vendida
por preço que varia entre R$ 0,50 e R$ 0,90, dependendo da condição e
do tamanho do indivíduo. Durante a comercialização os caranguejos
são medidos com um “paquímetro de madeira” com abertura fixa de
60 mm de largura do cefalotórax (LC) que corresponde ao tamanho
mínimo de cata, segundo norma do IBAMA (Portaria IBAMA No 34 de
24/06/2003). A Instrução Normativa no 20 de 30 de dezembro de 2013
modifica a portaria nº 9 de 2 de julho de 2013 para fazer ser respeitadas
também as normas estabelecidas em legislação específica referente ao
tamanho mínimo de captura e períodos de andada. Informações ob-
tidas junto a comerciantes de caranguejo-uçá em Fortaleza indicam que
a quase totalidade dos desembarques na cidade, com origem no Porto
dos Tatus, atendem as exigências da IN nº 9 de 2 de julho de 2013; os
desembarques que não atendem as normas de transporte seriam origi-
nados em localidade mais próximas a Fortaleza, sendo que os caran-
guejos têm menor porte quando comparado com os que são trazidos
do Delta do Parnaíba.
Durante a pesquisa, dentre os 1.894 indivíduos de U. cordatus me-
didos, não foram registrados indivíduos com valores de largura do cefa-
lotórax menores do que o exigido pela legislação (60 mm) (Figura 6.16).
O comprimento médio dos indivíduos amostrados foi de 74,0
mm. Quando se separa as frequências de comprimento por fase da lua
aparentemente não existe diferença entre os comprimentos dos indiví-
duos capturados nas três fases: Cheia (74,6 mm), Nova (74,1 mm) e
Quarto Minguante (72,8 mm) (Figura 6.17).
Essa aparente semelhança, no entanto, foi investigada para se
avaliar a influência direta ou indireta do atributo fase da lua sobre o ta-
manho do caranguejo-uçá, utilizando-se os dados sobre a largura do
cefalotórax no universo amostral de N = 1.894 indivíduos, assim distri-
buídos: Lua Cheia = 1.177; Lua Nova = 110; Quarto Minguante = 607.
Esses dados foram submetidos a análise estatística através do teste t,

96
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

considerando-se os atributos dois a dois, resultando nas informações


apresentadas no Quadro 6.1.

350 média = 74,0 mm

300
Número de caranguejos

250

200

150

100

50

0
60,5 64,5 68,5 72,5 76,5 80,5 84,5 88,5 92,5 96,5 100,5
Largura cefalotoráxica (mm)

Figura 6.16 – Distribuição de frequência de comprimento do cefalotórax do caranguejo-uçá no


Delta do Parnaíba.

25

nova
Frequência relativa (%)

20
cheia
15

minguante
10

0
60 65 70 75 80 85 90 95 100
Largura cefalotoráx (mm)

Figura 6.17 – Distribuição de frequência de comprimento do cefalotórax do caranguejo-uçá no Delta


do Parnaíba, por fase da lua.

97
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Quadro 6.1 - Estimativas da largura do cefalotórax do caranguejo-uçá, Ucides cordatus


no Delta do Parnaíba: amplitude (A), média (X), número de indivíduos (N), variância (S2),
desvio padrão (S), variância e erro da diferença das médias [S2(x1-x2) , S(x1-x2)], utilizados na
aplicação do teste t para avaliar a influência das fases da lua sobre o tamanho individual.
Parâmetros Lua Cheia Q. Minguante Lua Nova
A (mm) 60,5 – 100,5 60,5 – 86,5 62,5 – 84,5
X (mm) 74,6 72,8 74,1
N 1.177 607 110
S (mm )
2 2
30,50 21,45 29,07
S (mm) 5,52 4,63 5,39
S2(x1-x2) (mm2) 0,0612 0,2996 0,2902
S(x1-x2) (mm) 0,2475 0,5474 0,5387
Valor de t t = 0,934; P > 0,05
Valor de t t = 7,100; P < 0,01
Valor de t t = 2,282; P < 0,05

Lua Cheia x Lua Nova: t = 0,934; P > 0,05


Lua Cheia x Quarto Minguante: t = 7,100; P < 0,01
Lua Nova x Quarto Minguante: t = 2,282; P < 0,05
Os resultados do teste mostram que os comprimentos do caran-
guejo-uçá são maiores e estatisticamente iguais nas fases de Lua Cheia
(74,6 mm) e Lua Nova (74,1 mm) , mas diferentes em relação àquele na
Fase de Quarto Minguante, de menor tamanho (72,8 mm). Portanto,
confirma-se a influência desse fenômeno sobre o ciclo vital de Ucides
cordatus em temos do tamanho individual, que se comporta de maneira
semelhante nas fases da lua em que predominam as marés de sizígia,
mas diferentemente quando a fase é de Quarto Minguante, que exerce
menor influência sobre os eventos ambientais do manguezal devido à
predominância das marés de quadratura. Por outro lado, deve-se des-
cartar a possibilidade de que a fase da lua influencie a capacidade do
catador de ter acesso às galerias ocupadas por caranguejos, já que essa
atividade ocorre somente no período diurno.
A atividade reprodutiva do caranguejo-uçá ocorre de janeiro a
abril, época do ano com valores maiores da luminosidade, temperatura
e pluviosidade, mas realmente se intensifica em períodos mais curtos

98
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

denominados de “andadas”, quando machos e fêmeas saem das tocas


para se acasalar, manifestando-se poucos dias após a mudança para
Lua Cheia ou Lua Nova. Esses eventos parecem estar relacionados
com a ocorrência de marés de sizígia, cuja maior amplitude determi-
naria o aumento da área disponível para a realização do acasalamento.
A inundação do manguezal na estação chuvosa parece ser o gatilho
para obrigar os caranguejos a abandonar as tocas, ou o decréscimo da
salinidade poderia induzir a fabricação de hormônios que levariam as
fêmeas a intensificar a reprodução.
Em geral, quando a cata do caranguejo-uçá ocorre em locais mais
próximos do Porto dos Tatus os caranguejos são trazidos para o porto
em pequenas embarcações motorizadas e comercializados por ocasião
do desembarque. Neste caso a fidelização é menos frequente e a comer-
cialização, em geral, ocorre com o atravessador que oferecer o melhor
preço. Os compradores do porto se constituem no segundo elo da cadeia
produtiva do caranguejo-uçá quando estes são trazidos ao porto pelos
próprios catadores. Nessa modalidade os próprios catadores trans-
portam suas produções para comercializar no Porto dos Tatus, pagando
ao dono da embarcação uma taxa pelo transporte que varia entre R$ 4,00
e R$ 6,00, dependendo da distância do deslocamento e do tamanho da
embarcação. Os caranguejos nessa situação são transportados em cordas
ou amarrados, com o preço da corda variando entre R$ 3,00 e R$ 5,00
dependendo do tamanho do caranguejo. Não há seleção de tamanho e os
amarrados geralmente contêm mais de 10 cordas. O caranguejo-uçá de-
sembarcado no Porto dos Tatus seja pelas embarcações de pequeno ou
de médio porte (Figura 6.18) é acumulado no “piso” do porto onde
aguarda para ser transportado para diferentes locais de consumo.
Os caranguejos que são transportados em amarrados são soltos
em um recipiente para as medições, sendo que os que não atingirem a
marcação de 60 mm são devolvidos ao catador. Os que apresentarem
largura igual ao valor mínimo são comprados a R$ 0,5 e os que possuí­rem
largura superior a 80 mm valerão até R$ 0,90. Após a seleção os animais
são acomodados em basquetas revestidas com esponjas úmidas
(Figura 6.19), para em seguida serem acondicionados para exportação.

99
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Figura 6.18 – Desembarque do caranguejo-uçá no Porto dos Tatus.

a
Figura 6.19 – Seleção do caranguejo-uçá: (a)
produto selecio­nado para comercialização;
(b) indivíduos acomodados em basquetas
para transporte. b

100
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

6.6 Produção e receita

As estatísticas oficiais relativas ao período de 2002 a 2007 (IBAMA,


2011) permitem observar que as regiões Norte e Nordeste respondem
pela quase totalidade dos desembarques do caranguejo-uçá (Figura
6.20). No período, a produção nacional e as produções das regiões
Nordeste e Norte apresentaram tendência decrescente de produção.

Total Sudeste
12000
x Nordeste Norte
10000
Produção (toneladas)

8000

6000
x
x x x x
4000
x
2000

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Anos
Figura 6.20 - Produção nacional e regional de caranguejo-uçá, para o período 2002 - 2007
(fonte: IBAMA, 2011).

A tendência de redução na produção estaria relacionada, princi-


palmente, com a elevada pressão da cata do caranguejo, objetivando
atender a demanda pelo recurso, com destaque para os estados da re-
gião Nordeste, mas também com fatores ambientais, a exemplo do des-
matamento para ocupação urbana e da degradação do ambiente por
poluição química e orgânica.
Considerando o período de 1994 a 2007 (Figura 6.21) o compor-
tamento da produção total brasileira de caranguejo-uçá se comporta
como a seguir (IBAMA, 2011): a partir de uma produção próxima de
15.500 toneladas em 1994 ocorre um decréscimo, fazendo com que a

101
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

16

14
Produção anual (103 t)

12

10

4
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Anos
Figura 6.21 – Comportamento da produção anual do caranguejo-uçá no Brasil de 1994 a 2007 (fonte:
IBAMA, 2011).

produção chegue a 9.203 toneladas em 1998. Nos três anos seguintes


observa-se seguidos aumentos na produção fazendo com que a pro-
dução alcance cerca de 12.700 toneladas em 2001. Após queda em 2002,
os anos seguintes apresentaram aparente estabilidade até 2006, mas
com leve tendência de decréscimo, sendo que em 2007 foi obtida a
menor produção total da série, de 6.800 toneladas. Considerando a
série histórica da produção total do caranguejo-uçá, pode-se inferir que
o comportamento geral apresentou tendência decrescente. A tendência
de redução apresentada pode ter sido, em parte, os motivadores para
que a espécie tenha constado na proposta formulada em 2002, que in-
clui o caranguejo-uçá, U. cordatus, como espécie ameaçada de extinção
e, posteriormente, passada para a relação de espécies sobrepescadas ou
ameaçadas de sobrepesca (IN MMA n° 5/04).
Os valores de produção por estado indicam o Pará como o mais
produtivo (5.023,0 t); vindo em seguida Maranhão (1.690,3 t), Piauí
(909,5 t) e Bahia (739,5 t) Os estados da Paraíba, Alagoas, Sergipe, Rio
Grande do Norte e Pernambuco apresentam produção na faixa inter-

102
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

mediária de 115,1 - 364,0 t, e em São Paulo, Amazonas e Rio de Janeiro


a produção é inferior a 60,0 t (Figura 6.22).

6000,0

5000,0
Produção (toneladas)

4000,0

3000,0

2000,0

1000,0

0,0
rá o uí hia íba as e e o o s
ort buc aul ona eir
o
Pa anhã Pia Ba ra go gip
ra Pa Ala Ser do N nam São P maz e Jan
M G. Pe
r A od
Ri
R.
Estados
Figura 6.22 – Produção anual do caranguejo-uçá no Brasil, por estado (fonte: IBAMA, 2011).

A maior parte da produção de caranguejo-uçá proveniente do


Delta do Parnaíba é comercializada através do Porto dos Tatus, numa
proporção estimada em 95%, portanto consolidando-se como o prin-
cipal entreposto de distribuição de pescado na área de estudo. No pe-
ríodo outubro/2013 - setembro/2014 os desembarques totalizaram
461.591 cordas com média mensal de 38.446 cordas e valores mínimo
(7.868) em março e máximo (104.817) em outubro. Além do mês de
maior produção apenas dezembro (58.061), abril (41.138) e setembro
(60.178) superaram a média mensal de desembarque, remetendo os ou-
tros meses a épocas de menor importância na distribuição do caran-
guejo-uçá (Figura 6.23).
Parece não existir relação entre produção controlada no Porto dos
Tatus e pluviosidade. Nos meses de outubro e agosto, quando a ausência
de chuvas é total, a produção controlada é respectivamente máxima em

103
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

120 400
Produção (nº de cordas x 1000)

Produção Pluviosidade
350
100
300

Pluviosidade (mm)
80 250
60 200
150
40
100
20 50
0 0
out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set
Meses

Figura 6.23 – Valores da produção controlada (número de cordas) desembarcada no Porto dos
Tatus e pluviosidade (mm) na região do Delta do Parnaíba no período outubro/2013 – setem-
bro/2014.

outubro, e, bem próxima do valor mínimo observado em março (Figura


6.23); durante a estação seca (junho - setembro), observa-se que em se-
tembro a produção controlada foi a segunda maior do ano, sendo as dos
meses junho e julho menores do que a média mensal e próximas do valor
mínimo registrado em março. Nos meses de novembro - fevereiro e abril
– maio, valores de alta e baixa pluviosidades não correspondem necessa-
riamente a valores de baixa e alta produções.
Os desembarques no Porto dos Tatus foram originados de pelo
menos de 20 localidades do Delta, dentre as quais o máximo foi alcan-
çado na localidade de Periquito, com 35,8% dos desembarques; se-
guem-se os desembarques com origem nas localidades de Poldos
(21,6%), Doce (12,7%) e São Bernardo (8,8%). Ainda merecem algum
destaque os desembarques originados nas localidades de Carnaubeiras
(4,6%), Canárias (4,1%) e Barreirinha (2,1%). As demais localidades
participaram com percentuais menores do que 2,0% sendo que al-
gumas delas com percentuais inferiores a 1,0% (Figura 6.24.).
Considerando-se o peso médio de 200 gramas e o fato de que
uma corda equivale a quatro indivíduos, o controle estatístico dos de-
sembarques mostrou que a produção em peso variou na faixa de 11.330

104
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

- 150.936 kg com média de 55.391 kg, para uma produção total contro-
lada de 664.691 kg (Figura 6.25).

80
Desembarque (nº de cordas x 1.000)

70

60

50

40

30

20

10

0
o s e o s s a o o o ó l u a a a o i a o
uit oldo Doc nard beira nária irinh ond aleg squit irind Ponta Biri gueir birab Galç Tort Podo Curic rinh
riq P re au Ca rre imb G u Gu n a ssa
Pe B rn Ba Mar M Ma Gu Pa
São Ca
Localidades

Figura 6.24 – Desembarque de caranguejo-uçá no Porto dos Tatus por localidade de origem da produção.

160

140
Produção (kg de caranguejos x 1000)

120

100

80

60

40

20

0
out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set
Meses
Figura 6.25 – Produção controlada mensal do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba.

105
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

A produção controlada do caranguejo-uçá varia com o esforço de


pesca como é de se esperar, notando-se a existência de relação direta
embora, não necessariamente significante entre as duas variáveis
(Figura 6.26). No Porto dos Tatus esta variou entre 56.649 indivíduos
no mês de março, obtidos com um esforço estimado de 533 catadores e
754.682 indivíduos no mês de outubro, obtidos por 7.106 catadores. A
produção total controlada e corrigida foi de 3.323.455 indivíduos
(média mensal = 276.954 indivíduos), obtida com um esforço de 31.294
catadores (média mensal = 2607 catadores).

160 8,0
Nº de caranguejos (x 1000)

140 7,0

Nº de catadores (x 1000)
120 Série 1 Série 2 6,0
100 5,0
80 4,0
60 3,0
40 2,0
20 1,0
0 0,0
out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set
Meses
mês out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set
Produção 754.682,6 211.737,6 418.039,2 178.797,6 253.814,4 56.649,6 296.193,6 185.241,6 177.602,4 202.910,4 154.504,8 433.281,6
Esforço 7.106,2 1.993,8 3.936,3 1.683,6 2.390,0 533,4 2.789,0 1.744,3 1.672,3 1.910,6 1.454,8 4.079,9

Figura 6.26 – Variação da produção e esforço mensal do caranguejo-uçá no interior do Delta, desem-
barcado no Porto dos Tatus.

As fases da lua parecem não afetar a produção de caranguejo-


-uçá do Delta do Parnaíba desembarcada no Porto dos Tatus, pois nas
fases em que a produção é mais elevada coincide com o esforço mais
elevado, sendo este provavelmente o verdadeiro fator causal da va-
riação (Figura 6.27).
A comercialização no Porto dos Tatus é muito padronizada, com
pequenas diferenças na forma de transporte e destino dado a produção;
foram identificadas 6 vertentes de comercialização e em seguida entre-

106
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

vistado um representante de cada vertente, com repetição, sendo os


atravessadores fidelizados ou não, objetivando conhecer os elos da ca-
deia produtiva do caranguejo-uçá no Porto dos Tatus.

1.200.000 número esforço 1000


900

Esforço (nº de catadores x 10)


1.000.000
800
Produção (nº de indivíduos)

700
800.000
600
600.000 500
400
400.000
300
200
200.000
100
0 0
Nova crescente cheia minguante
Fases da lua

Figura 6.27 – Valores da produção desembarcada no Porto dos Tatus e esforço por fase da lua no
interior do Delta.

As entrevistas aconteceram de maneira informal e aberta. A se-


guir apresentamos as entrevistas: Atravessador 1 – compra a produção
do catador a R$ 2,50 ou R$ 3,00 e R$ 5,00, tem regra informal estabele-
cida: cordas com indivíduos abaixo de 8,0 cm váriam entre R$ 2,50 e
R$3,00 e o produto acima de 8,0 cm é pago a R$ 5,00. Em média são
comercializadas de 150 a 400 cordas diárias nos mercados de Teresina
e Parnaíba, mais exatamente, nas praias de Atalaia e Coqueiro, por R$
10,00 e R$ 8,00 reais respectivamente, Atravessador 2 – compra a pro-
dução da cata a R$ 2,50, R$ 3,00 e R$5,00 reais a corda. Entrega toda
produção nos restaurantes e barracas na praia de Atalaia (Parnaíba),
por 7,00 reais e 8,00 reais. Em média comercializa 300 cordas;
Atravessador 3 – compra a produção dos catadores para beneficia-
mento. Dois subprodutos são obtidos: carne e patas vendidos respecti-

107
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

vamente por R$ 35,00 o kg de carne e por R$ 5,00 a dúzia de patas. Para


a produção de 1 kg de carne de caranguejo se faz necessário 40 caran-
guejos. Em média são comercializadas de 150 a 300 cordas diárias;
Atravessador 4 – compra a produção dos catadores para produção de
carne que é vendida a R$ 35,00 o kg na baixa estação e a R$ 40,00 na alta
estação. Em média comercializa de 150 a 200 cordas por dia;
Atravessador 5 – compra a produção dos catadores a R$ 2,00 e R$ 5,00
e comercializa diretamente com os restaurantes e barracas de Parnaíba,
ao preço de R$ 4,00 e R$ 7,00. Compra de 100 a 300 cordas diárias e
Atravessador 6 – compra produção dos catadores para beneficiamento.
Extrai dois subprodutos: a carne de caranguejo é vendida a R$ 32,00/kg
e R$ 35,00/kg, para consumo individual e para revenda, respectiva-
mente. As patas do caranguejo são vendidas a R$ 4,00 e R$ 5,00 por
dúzia. A média comercializa de 150 a 300 cordas por dia.
As análises a seguir resultam de capturas realizadas em dife-
rentes locais de mangue no interior do Delta do Parnaíba, em geral não
muito distantes do local de desembarque, sendo transportada em pe-
quenas embarcações, em sua maioria motorizada com pequenos mo-
tores de “rabeta”. Quase sempre a entrega do caranguejo é feita ao atra-
vessador pelo mestre da embarcação, também catador. Um total de 101
operações de venda de caranguejo-uçá foi controlado em primeira e
segunda comercialização no Porto dos Tatus no período de março a
agosto de 2014 (Tabela 6.3). A produção amostrada é vendida, em se-
gunda comercialização, nas cidades de Parnaíba (Feira dos Quarenta,
Feira da Caramuru, Pé da Ponte, Mirante), Luis Coreia (bares, restau-
rantes) e Teresina no Piauí. No Porto dos Tatus, em primeira comercia-
lização (preço pago ao catador) foram controladas 63.656 cardas
(quatro caranguejos por corda), com preço médio por corda de R$ 3,23
e individual de R$ 0,81. Na segunda comercialização o preço médio da
corda foi estimado em R$ 7,05 e individual em R$ 1,76. O acréscimo de
receita entre a primeira e segunda comercialização foi estimado em
118,39%. A primeira comercialização rendeu R$ 205.621,45 contra R$
449.058,42 na segunda comercialização. O transporte entre o local de
primeira e segunda comercialização, dependendo da distância, é feito

108
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

em transporte comercial (ônibus de linha) e em carros menores particu-


lares de passeio ou utilitários; as cordas para transporte são amarradas
em pilhas, quase sempre cobertas por lona. Neste tipo de comerciali-
zação elimina-se um elo na cadeia produtiva: o catador entrega a pro-
dução diretamente ao atravessador responsável por levar o caranguejo
diretamente para a região de consumo.

Tabela 6.3 – Amostragem de caranguejo-uçá, Ucides cordatus,


comercializado no Porto dos Tatus.
Preço por corda (R$)
Estimativas Nº de cordas
1ª comercialização 2ª comercialização
Média 630,26 3,23 7,05
Mínimo 25 3,00 7,00
Máximo 2.840 3,50 8,00
Total 63.565 205.651,49 449.058,42

Embarcações de médio porte (barco coletor) com base no Porto


dos Tatus largam pelo menos 4 vezes por semana em direção a locais
previamente determinados na região do delta para a coleta de caran-
guejos que são trazidos por pequenas embarcações (Tabela 6.4); a pro-
dução é resultante da cata de diferentes números de catadores em dife-
rentes locais do mangue, em geral no Estado do Maranhão. Um catador,
sempre proprietário da embarcação, entrega a produção no barco co-
letor, confere o número de cordas entregues e recebe a paga pela pro-
dução que é dividida proporcionalmente entre os catadores de acordo
com a produção de cada um deles. Finda a coleta a embarcação retorna
ao porto onde desembarca a produção do dia. O número médio de ca-
tadores responsáveis pela produção entregue no barco coletor por dia
e por barco de pequeno porte foi em média de 4,4 catadores/embar-
cação. No período de outubro de 2013 a janeiro de 2014 foram contro-
lados 299 desembarques realizados no Porto dos Tatus com a produção
média 886,4 cordas/desembarque, para um total de 265.039 cordas. O
preço de compra da corda no barco coletor foi de R$ 3,31 em média; o
preço unitário do caranguejo foi em média de R$ 0,83. As 265.039

109
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

cordas renderam R$ 877.279,09. Dentre as 299 viagens controladas a


produção de 110 delas foram entregues a atravessadores que não infor-
maram a destinação final do produto. Boa parte da mesma foi desti-
nada ao estado do Ceará seja para Fortaleza com 67 (22,4%) ou Camocim
com 8 (2,7%). Ficaram no estado do Piauí 98 desembarques, sendo 3
(1,0 %) em Luis Correia e 95 (31,8%) em Parnaíba. Apenas a produção
de 4 (1,3%) embarcações foi destinado a Teresina. O restante foi desti-
nado à própria comunidade.

Tabela 6.4 – Amostragem de Caranguejo-uçá, Ucides cordatus, capturado no delta do


Parnaíba desembarcado no Porto dos Tatus para controle do número de catadores,
produção, duração da cata e preço de primeira comercialização.
Preço (R$)
Estimativas Catadores Cordas
corda unitário
Média 4,4 886,4 3,31 0,83
Mínimo 1 40 2 0,50
Máximo 20 5.800 5 1,75
Total – 265.039 877.259,09

Um total de 88 desembarques de caranguejo-uçá por embarca-


ções de pequeno porte foi acompanhado na Ponte Mirante em Parnaíba,
proveniente do controle de 13 embarcações relativo ao número de cata-
dores envolvidos e em 14 embarcações relativo à duração diária das
atividades de cata (Tabela 6.5). Considerando-se o conjunto dos estados
Maranhão/Piauí, tem-se que em média 3,5 catadores/barco são respon-
sáveis pela produção média de 49,9 cordas/barco o que resulta em
média 14,3 cordas/catador com preço médio de R$ 5,32 e receita média
por pescador de R$ 76,31. O tempo médio de cata por dia foi de 5,4
horas. Dentre os 29 desembarques provenientes do estado do Maranhão
6 foram controlados para registro do número de catadores, com média
de 3,3 catadores/barco; a produção média/barco foi estimada em 57,4
cordas com uma produção média de 17,2 cordas/catador. A receita
média por pescador foi de R$ 91,97, com preço médio por corda de

110
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

R$ 5,34 e tempo médio de cata de 4 horas. Para o estado do Piauí foram


controlados 59 desembarques dentre os quais 7 para registro do nú-
mero de catadores por desembarque e 58 para registro da produção.
Em média 3,6 pescadores capturaram 46,4 cordas com índice de 12,9
cordas/pescador. A receita total estimada por pescador foi de R$ 68,68,
com 6,7 horas de trabalho por dia.
O catador de caranguejo-uçá no estado do Maranhão aufere
maior receita média do que o catador do estado do Piauí, praticamente
com o mesmo preço médio de venda do caranguejo, respectivamente
R$ 5,34 e R$ 5,31; a maior receita no Estado do Maranhão (R$ 91,97)
deve-se a maior produtividade no estado, 17,2 cordas por catador e
12,9 cordas por catador no Piauí.

Tabela 6.5 – Amostragem de Caranguejo-uçá comercializado em Parnaíba, no local de


venda denominado Ponte do Mirante, para controle por estado de cata, Maranhão e Piauí,
do número de catadores, produção, duração da cata e preço de primeira comercialização.
Variáveis
Estimativas Duração da Preço /corda
Nº de catadores Nº de cordas coleta (horas) (R$)
Maranhão/Piauí
Média 3,5 49,9 5,4 5,32
Mínimo 1 7 4 2,00
Máximo 7 220 8 8,00
Cordas/catador 14,3
Receita/catador 76,31
Maranhão
Média 3,3 57,4 4,0 5,34
Mínimo 1 9 4 2,00
Máximo 5 150 4 8,00
Cordas/catador 17,2
Receita/catador 91,97
Piauí
Média 3,6 46,4 6,7 5,31
Mínimo 1 7 5 3,00
Máximo 7 220 8 8,00
Cordas/catador 12,9
Receita/catador 68,68

111
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

No período de agosto de 2013 a janeiro de 2014 foram amos-


trados no Porto dos Tatus 71 desembarques de Caranguejo-uçá cuja
cata provinha de áreas de mangue nos estados do Maranhão e Piauí
(Tabela 6.6). Em média foram capturadas 81,1 cordas/barco, sendo de
4,7 o número médio de catadores responsável pela produção, traba-
lhando em média 4,9 horas por dia; o preço médio da corda foi esti-
mado em R$ 2,70.

Tabela 6.6 – Amostragem do caranguejo-uçá, Ucides cordatus, comercializado no Porto


dos Tatus, para controle por estado do estado de cata, Maranhão e Piauí, do número de
catadores, produção, duração da cata e preço de primeira comercialização.
Variáveis
Estimativas Duração da Preço /corda
Nº de catadores Nº de cordas coleta (horas) (R$)
Maranhão/Piauí
Média 4,7 81,1 4,9 2,70
Mínimo 1 11 2 2,00
Máximo 15 405 7 5,00
Cordas/catador 17,3
Receita/catador 46,71
Maranhão
Média 5 85,1 4,9 2,79
Mínimo 1 11 3 2,00
Máximo 12 350 7 5,00
Cordas/catador 17,0
Receita/catador 47,43
Piauí
Média 4,6 78,5 5,0 2,63
Mínimo 1 18 2 2,00
Máximo 15 405 7 4,00
Cordas/catador 17,1
Receita/catador 44,97

Em média cada catador produz 17,1 cordas de caranguejo com


receita de R$ 46,16. Nos 30 desembarques cuja captura foi feita em
mangues de estado do Maranhão, 5 catadores produziram em média
85,1 cordas. Os catadores trabalharam em média 4,9 horas/dia e obti-
veram receita média de R$ 2,79 por corda. Em média cada catador

112
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

produz 17,1 cordas por dia de trabalho que gera uma receita de
R$ 47,84. Nos 44 desembarques com produção no estado do Piauí em
média 4,6 catadores produziram 78,5 cordas de caranguejo por dia de
trabalho com duração de 5,0 horas por dia e venderam a corda por
R$ 2,63. A média de corda/catador foi de 17,1 gerando uma receita
média de R$ 45,00 por dia de trabalho. Não se observa diferença no
número de cordas por catador obtido nos dois estados com pequena
diferença na receita obtida com leve superioridade para os catadores
do Maranhão, devido ao melhor preço de venda.
Na tentativa de se conhecer o efeito da fase da lua sobre a pro-
dução de caranguejo-uçá foi controlada a produção de 52 embarcações
nas fases da lua cheia, minguante e nova (Tabela 6.7), toda ela prove-
niente do delta maranhense.

Tabela 6.7 – Amostragem de Caranguejo-uçá, Ucides cordatus, em amostras em


embarcações com captura no delta maranhense, para controle do número de catadores,
produção, duração da cata e preço de primeira comercialização, por fase da lua.
Variáveis
Estimativas Duração da Preço /corda
Nº de catadores Nº de cordas
coleta (horas) (R$)
Todas
Média 5,3 138,5 4,0 2,32
Mínimo 1 13 4 2,30
Máximo 15 460 4 3,40
Cordas/catador 26,10
Receita/catador 60,32
Cheia
Média 6,1 150,8 4,0 2,30
Mínimo 1 13 4 2,30
Máximo 15 460 4 2,30
Cordas/catador 24,70
Receita/catador 57,04
Minguante
Média 4,3 143,1 4,0 2,30
Mínimo 1 20 4 2,30
Máximo 10 280 4 2,30
Cordas/catador 33,28
Receita/catador 75,90
Nova
Média 4,5 105,2 4,0 2,30
Mínimo 1 30 4 2,30
Máximo 11 285 4 2,30
Cordas/catador 23,10
Receita/catador 53,13

113
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Independente da fase da lua a produção média/desembarque foi


de 138,5 cordas obtidas em média por 5,3 catadores. Não houve va-
riação na duração diária do tempo da cata, com frequência de 4 horas/
dia. O preço médio de venda da corda de caranguejo foi de R$ 2,32.
O número médio de cordas por pescador foi estimado em 26,0 que per-
mite uma estimativa de receita por pescador de R$ 60,42. Observa-se
que o número de horas trabalhadas e o preço de primeira comerciali-
zação nas três fases da lua onde a produção foi controlada não variaram
ficando respectivamente em 4 horas por dia de trabalho e em R$ 2,30
por corda em qualquer fase da lua. Por fase da lua as médias de pro-
dução por catador e da receita por catador resultaram com a seguir: (1)
cheia – número de cordas por catador = 24,8 e R$ 57,08; (2) minguante
– número de cordas por pescador = 33,0 e R$ 75,90; e (3) nova – número
de cordas por pescador = 23,14 e R$ 53,13. A maior produtividade e por
consequência a maior receita por pescador foi verificada durante a fase
minguante que foi bem superior as demais fases da lua; a produtivi-
dade e receita durante a lua cheia foram superiores aos valores obser-
vados na lua nova. Em resumo tem-se que a receita máxima foi obtida
na fase de lua minguante, seguindo-se as fases de lua cheia e nova.
Os dados sobre esforço e CPUE no Brasil direcionados para a
cata do caranguejo-uçá são escassos. Os poucos dados existentes são
para o estado de São Paulo (IBAMA, 2011): em Iguape, entre 1999 e
2006, foi observado um aumento contínuo do esforço, chegando a 6.576
horas/ano; em Cananéia foram observados valores da CPUE = 11,4
ind./homem/dia (braceamento) e 15,3 ind./homem/dia (redinha), con-
firmando que capturas realizadas com técnicas predatórias apresentam
maior rendimento (Jankowski & Nordi, 2006). No Delta do Paranaíba,
a CPUE variou entre o mínimo de 12,9 cordas/catador (51,60 ind./ca-
tador), em 1 dia de trabalho, e o máximo de 33.28 cordas/catador
(133,12 ind./catador) com média de 20,75 cordas/catador (83,02 ind./
catador) (Tabelas 6.5 - 6,7). Assumindo que as unidades ind./homem/
dia e ind./catador têm o mesmo significado, especula-se que a produti-
vidade do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba é muito superior a en-
contrada em Cananéia -São Paulo.

114
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

Por ocasião dos desembarques do caranguejo-uçá no Porto dos


Tatus foram entrevistados alguns atravessadores, no sentido de se en-
tender a comercialização do caranguejo-uçá no interior do Delta do
Parnaíba. Três elos na cadeia produtiva do caranguejo-uçá são obser-
vados a partir do Porto dos Tatus – catador, atravessador 1 e atraves-
sador 2 e, duas comercializações catador/atravessador 1 e atravessador
1/atravessador 2. Os resultados das análises dos dados, onde não se
incluem despesas que não seja com a compra de caranguejo, são mos-
trados a seguir:
1. Atravessador que comprava caranguejo-uçá para venda em
Fortaleza – Ceará. Na ocasião foram comercializadas 275 cordas, sendo
68 de indivíduos com tamanho inferior ou igual a 80 mm e 207 com
tamanho superior a 80 mm (Tabela 6.8). Os maiores indivíduos, seja no
Porto dos Tatus ou em fortaleza, têm maior preço de comercialização.
Na compra no Porto dos Tatus o atravessador despendeu R$ 1.239,00 e
espera revender por R$ 2.546,00 em Fortaleza. O lucro presumido seria
de R$ 1.307,00 (105,49%).

Tabela 6.8 – Valores estimados de compra e venda do caranguejo-uçá do Delta do


Parnaíba comercializados no Porto dos Tatus e em Fortaleza.
Comercialização
Tamanho (mm) R$
Cordas R$
Porto de Tatus (custos)
< 80,0 68 3,00 204,00
> 80,0 207 5,00 1.035,00
Total 275 - 1.239,00
Fortaleza (receita)
< 80,0 68 7,00 476,00
> 80,0 207 10,00 2.070,00
Total 275 - 2.546,00

2. Foram comprados 275 caranguejos, sendo 68 menores ou


iguais a 80,0 mm e 107 maiores do que 80,0 mm; os maiores caran-
guejos são comercializados por maior preço (Tabela 6.9). Os custos com
a compra dos caranguejos foram de R$ 1.312,50 para uma receita esti-
mada de R$ 2.775,00 e lucro líquido de 1.452,50 (111,43%).

115
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Tabela 6.9 – Valores estimados de compra e venda do caranguejo-uçá do


Delta do Parnaíba comercializados no Porto dos Tatus, e em Parnaíba e Teresina.
Comercialização
Tamanho (mm) R$
Cordas R$
Porto de Tatus (custos)
< 80,0 75 2,50 204,00
> 80,0 225 5,00 1.125,00
Total 300 - 1.312,50
Parnaíba ou Terezina (receita)
< 80,0 75 7,00 525,00
> 80,0 225 10,00 2.250,00
Total 300 - 2.775,00

3. Foram comercializados 50 caranguejos menores ou iguais a


80,0 mm e 150 maiores do que 80,0 mm, totalizando 300 indivíduos
gerando uma despesa de R$ 850,00 e uma receita de R$ 1.250,00 e lucro
líquido de R$ 400,00 (47,07%) (Tabela 6.10).

Tabela 6.10 – Valores estimados de compra e venda do caranguejo-uçá do


Delta do Parnaíba comercializados no Porto dos Tatus e em Parnaíba e Teresina.
Comercialização
Tamanho (mm) R$
Cordas R$
Porto de Tatus (custos)
< 80,0 50 2,00 100,00
> 80,0 150 5,00 750,00
Total 200 - 850,50
Parnaíba ou Terezina (receita)
< 80,0 50 4,00 200,00
> 80,0 150 7,00 1.050,00
Total 200 - 1.250,00

4. Na comercialização não foi observado diferenciação por ta-


manho do caranguejo, mas apenas no preço de comercialização, ou
seja, R$ 5,00 no Porto dos Tatus e R$ 12,00 em Parnaíba ou Teresina
(Tabela 6.11). O gasto total com a compra de caranguejo foi de
R$ 2.000,00 para uma receita de R$ 4.800,00 e lucro líquido de
R$ 2.800,00 (140,00%). Este atravessador é diferenciado dos demais de-

116
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

vido ao tempo na atividade (20 anos), como também pela relação de


cumplicidade com os catadores e, ainda por ser proprietário de embar-
cações usadas exclusivamente para apoio a atividade da cata.

Tabela 6.11 – Valores estimados de compra e venda do caranguejo-uçá do


Delta do Parnaíba comercializados no Porto dos Tatus e em Parnaíba e Teresina.
Comercialização
Tamanho (mm) R$
Cordas R$
Porto de Tatus (custos)
< 80,0
400 5,00 2.000,00
> 80,0
Total 400 - 2.000,00
Parnaíba ou Terezina (receita)
< 80,0
400 12,00 4.800,00
> 80,0
Total 400 - 4.800,00

O caranguejo-uçá desembarcado no Porto dos Tatus é trazido


por pequenas embarcações motorizadas que trazem para comerciali-
zação a produção dos próprios caranguejeiros e por embarcações de
médio porte trazendo a produção de catadores adquirida no interior
do Delta por atravessadores. As informações sobre custo de compra e
venda do caranguejo-uçá não são as mais fidedignas; nem sempre os
atravessadores estão disponíveis para oferecer a informação, mas são
bastante aproximados.
Nos anos recentes os compradores do caranguejo-uçá notaram a
redução do comprimento individual da espécie no mercado. Para esti-
mular o comércio por indivíduos maiores criou-se uma variação de
comprimento para a seleção de indivíduos maiores, independente do
tamanho mínimo de cata estabelecido por portaria, com preço de
compra mais elevado (Tabelas 6.8 - 6.11 ).
Não existe contrato formal de trabalho entre os carregadores do
caranguejo do píer até os diversos meios de transporte; o grupo de car-
regadores atende a diferentes atravessadores. Em geral os atravessa-
dores pagam por este serviço um preço tacitamente negociado entre as
partes. Em geral um mesmo transporte, quando usado para transportar

117
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

caranguejo em longas distâncias atende a mais de um atravessador


com a divisão entre eles dos custos de arrendamento. Esta estratégia de
trabalho reduz os custos operacionais no Porto dos Tatus.
O preço final do caranguejo-uçá ou de suas partes em restau-
rantes de Fortaleza (Ceará) E Parnaíba, Luiz Corrêa e Teresina (Piauí),
principais locais de comercialização dos indivíduos originados no
Delta do Parnaíba apresenta pequena variação quando num mesmo
município (Tabela 6.12). A grande diferença no preço da carne do ca-
ranguejo-uçá em fortaleza e municípios do Piau está na forma de como
a iguaria é servida: porção de 100 g em Fortaleza e omelete nas cidades
do Piauí, com aproximadamente 300 g de carne.

Tabela 6.12 – Preços finais de comercialização do caranguejo-uçá em


restaurante e barracas de Fortaleza, Teresina, Parnaíba e Luiz Correia.
Preço de comercialização (R$)
Município Produto
mínimo máximo médio
caranguejo-uçá (corda) 4,50 8,00 6,30
Fortaleza patinha (12 unidades) 23,20 23,90 23,55
carne (aproximadamente 100 g) 3,90 12,90 8,40
caranguejo-uçá (4 unidades) 18,00 22,00 20,30
Teresina patinha (12 unidades) 14,90 19,90 20,90
carne (aproximadamente 100 g) 13,00 14,90 14,20
caranguejo-uçá (4 unidades) 18,00 20,00 19,00
Parnaíba patinha (12 unidades) 6,00 8,00 7,00
carne (omelete) 25,00 30,00 27,50
caranguejo-uçá (4 unidades) 20,00 22,00 21,00
Luiz Correia patinha (12 unidades) 10,00 12,00 11,00
carne (omelete) 25,00 30,00 27,50

Em Fortaleza, a maioria dos caranguejos comercializados nas bar-


racas da Praia do Futuro e em restaurantes da orla marítima tem origem
em Parnaíba, no Porto dos Tatus, com captura no Delta do Paranaíba,
seja no estado do Piauí ou do Maranhão. Em alguns locais de venda do
caranguejo-uçá foram citados como locais de origem do caranguejo os
Estados do Rio Grande do Norte e do Pará. Nas barracas, existem duas
formas de venda do caranguejo: por unidade ou em conjunto de três
unidades, com preço ao consumidor variando, por unidade, entre

118
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

R$ 4,50 e R$ 8,00, com média de R$ 6,30. Nos restaurantes, o preço de


venda variou de R$ 5,30 a RS 6,90 por unidade com média de R$ 6,40; em
geral o caranguejo é comercializado em porções com 4 indivíduos. Os
restaurantes e barracas agregam ao seu cardápio outros produtos do ca-
ranguejo, patinha e casquinha, com preço médio de R$ 23,00 para a pa-
tinha (12 unidade) e de R$ 3,90 para a casquinha (100 g).
A venda do caranguejo-uçá em Fortaleza ocorre em bares, res-
taurantes e barracas, bem como na orla marítima e em bairros do su-
búrbio, onde os preços são ligeiramente mais baixos devido à distância
dos centros consumidores com maior apelo turístico. Em qualquer
local onde se sirva o caranguejo-uçá e seus derivados, principalmente
carne e patas, o produto cozido é o mais comumente requisitado, sendo
o processamento realizado em água fervente com leite de coco, e ver-
duras como cheiro verde (coentro e cebolinha), cebola, pimentão, to-
mate (picados), pimenta do reino e sal gosto. O caranguejo é servido
em bacias, geralmente plásticas, em porção com 4 indivíduos, acompa-
nhado com farofa e caldo do próprio cozimento – ver (Figura 6.28).
A compra de caranguejo-uçá por barracas e restaurante em
Fortaleza ocorre entre terça feira e domingo, com pico de compra as
quintas feiras e sábados. As compras da quinta feira atendem ao maior
consumo deste dia em Fortaleza, definido como “quinta do caranguejo”
famosa nacionalmente entre turistas e consumidores locais. As compras
do sábado suprem a venda do dia, mas, principalmente, garante venda
do recurso no domingo, segundo dia de maior comércio do caranguejo-
-uçá em Fortaleza. A venda do caranguejo-uçá em barracas, bares e res-
taurantes é feita diariamente com os principais dias de venda as quintas,
domingos e sábados, em ordem de importância. Nos restaurantes, o
produto é comprado no mesmo dia em que é vendido para garantir a
qualidade do alimento. O caranguejo preparado não vendido no mesmo
dia tem dois destinos: (1) congelado para venda em outro momento e
(2) beneficiado do para produção de carne e patinhas.
Grande número de caranguejo-uçá é vendido em barracas, bares e
restaurante em Fortaleza. Nas barracas a venda diária variou entre o mí-
nimo 4 e 1.000 unidades com média de 200 caranguejos por dia; nos prin-

119
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

cipais dias de comercio o número variou entre 30 a 2.000 caranguejos,


com média de 466 caranguejos vendidos por dia. Nos restaurantes e bares
a venda variou de 90 a 1.000 caranguejos vendidos por dia, com média de
432 caranguejos. Nos principais dias de comércio a venda variou de 150 a
1.000 caranguejos, com média de 770 caranguejos vendidos.

Figura 6.28 – Comercialização do caranguejo-uçá em restaurante: (a) grupo de con-


sumidores; (b) porção de caranguejo; (c) porção de carne; (d) acompanhamento
servido com o caranguejo (fotos: Francisco Ivo).

Em Teresina a amplitude do preço do caranguejo (4 unidades)


e da patinha ficou em aproximadamente R$ 5,00, enquanto o preço
da carne teve uma variação de R$ 1,90. A média de preço para a corda
de caranguejo-uçá foi de R$ 20,30 e, para a patinha (12 unidades) e
carne (aproximadamente100 g), a média foi de R$ 20,90 e R$ 14,20,
respectivamente. Na cidade de Luiz Correia, tanto o caranguejo
(média = R$ 21,00) quanto a patinha (R$ 11,00) têm maior preço
quando comparado com os valores cobrados em Parnaíba, respecti-
vamente R$ 19,00 e R$ 7,00. Não há diferença quando se compara o

120
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

preço da carne em Luiz Correia e Parnaíba (média = R$ 27,50). Note


o valor bem mais elevado do preço para a carne do caranguejo-uçá
nestas duas cidades quando comparado com o mesmo item em
Fortaleza e Teresina. Justifica-se a diferença pelo fato de que nestas
cidades a carne do caranguejo é vendida, preferencialmente, como
“omelete” numa porção de aproximadamente 300 gramas de carne
– ver Tabela 6.12.

6.7 Processamento/beneficiamento

Uma parte da produção é comercializada sob as forma proces-


sadas como carne ou catado, ou ainda filé ou somente as patas. Em
geral o beneficiamento é feito na residência do próprio atravessador e
o preço de primeira comercialização pode atingir R$ 35,00 por kg de
carne em baixa temporada e R$ 40,00 nos períodos de alta temporada.
O controle estatístico do beneficiamento feito pelo projeto revelou
que para se obter 1 kg de carne são necessárias 10 cordas = 1 amarrado
= 40 caranguejos, pesando aproximadamente 7,0 kg, com rendimento
de 14% do peso bruto. Na estimativa não se incluem as quelas maiores,
que são vendidas de forma diferenciada por um valor de R$ 5,00 a
dúzia. Ogawa (2008) encontrou valores de 18,9% de rendimento so-
mando todas as partes do animal quando relacionado ao peso vivo.
Em alguns casos os atravessadores realizam apenas o pré-cozi-
mento, sem retirada da carne. O caranguejo inteiro pré-cozido é con-
servado no gelo para transporte. Nessa condição a produção é desti-
nada a Teresina. Nessa modalidade o caranguejo é adquirido por um
valor que varia de R$ 3,00 a R$ 5,00 reais por corda, sendo repassado
por 10 reais após o pré-processamento.
O processamento do caranguejo-uçá na região do Delta do
Parnaíba tem o ritual que se segue. O procedimento se inicia com a
compra das cordas do caranguejo no porto dos Tatus junto aos cata-
dores da comunidade. Após a compra o caranguejo é transportado
vivo para o local de beneficiamento onde uma equipe de processadores
já está a postos para iniciar o trabalho de beneficiamento. A operação

121
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

de beneficiamento é iniciada pelo cozimento dos caranguejos, com as


seguintes etapas: preparo do fogo a lenha, para o qual é levada uma
panela (tacho), onde são colocados cerca 30 litros de água. Estando a
água em fervura coloca-se 60 cordas de caranguejo para cozimento; os
caranguejos são mortos (Figura 6.29a), lavados e desamarrados a
exemplo do cozimento para consumo. O tempo de cozimento depende
da intensidade do fogo, mas em média são necessários 30 minutos para
finalizar a cocção. Uma pessoa com conhecimentos empíricos sobre o
cozimento é responsável pelo processo que inclui saber o momento
exato da retirada do caranguejo, quando a casca solta com facilidade.
Concluído o cozimento os caranguejos são retirados da panela e colo-
cados em uma bacia plástica onde são separados os peitos com patas
das cascas, utilizando-se de uma faca, com as mãos vestidas por luvas
para proteção contra cortes, pois as partes do caranguejo são duras e
cortantes. O peito é todo limpo e as vísceras descartadas, juntamente
com a parte dura (cefalotórax). As patas que se soltaram ao longo do
cozimento vão para outra bacia. A água do cozimento é utilizada para
lavar o peito dos caranguejos. As patas são lavadas com água corrente
e levadas para uma mesa, onde são quebradas manualmente, para reti-
rada da carne ou catado (Figura 6.29b), por homens e mulheres, utili-
zando uma pequena pedra como base e um porrete de madeira.

Figura 6.28 – Processamento: (a) cozinheiro matando um caranguejo; (b) catado resultando do
beneficiamento.

122
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

Em geral cinco pessoas participam desse processo, sendo que


uma delas realiza a quebra das quelas, mantendo as pinças deixando-
-as em ponto de venda. As outras pessoas são responsáveis por retirar
a carne das patas menores, ou unhas como identificadas por eles. Para
a retirada da carne, os peitos são lavados com a água do cozimento,
como dissemos, e, em seguida com água corrente. Concluída a lavagem
os peitos são colocados em uma bacia. O processo de retirada da parte
óssea do peito, definido como “descascar o peito” é realizado por uma
pessoa que utiliza uma faca de ponta grossa. Em seguida outra pessoa
retira a carne, utilizando-se de facas com a ponta mais fina. As pessoas
responsáveis pela retirada da carne dos caranguejos afirmam que a re-
tirada da carne do peito é mais simples e rápida do que a retirada da
carne das patas; retirar a carne das patas requer maior cuidado, pois as
mesmas são muito duras e quando quebradas podem gerar pedaços
cortantes e pontiagudos, que podem causar acidentes, como cortes nas
mãos dos trabalhadores. Como a retirada da carne das patas é mais
lenta, e oferece maiores riscos aos operários, este processo é realizado
pela manhã e no início da tarde quando os trabalhadores estão descan-
sados e, portanto, mais atentos para evitar acidentes. A retirada da
carne do peito é feito no fim da tarde. A carne do peito é comercializada
no quilo, podendo ser misturada com a carne das unhas, depende da
exigência do comprador. A carne e as quelas são conservadas conge-
ladas em freezer, não podendo ficar por muito tempo armazenadas
para não perder o sabor. As pessoas que trabalham no beneficiamento
do caranguejo-uçá são remuneradas por produção, recebendo R$ 3,50
por quilo de carne processada, independente de onde é retirada, se das
patas ou do peito. Os demais trabalhadores são pagos por dia de tra-
balho, ao custo de R$ 35,00 a diária, trabalhando em média 12 horas.
Um atravessador local adquiriu 320 cordas de caranguejo-uçá
no Porto dos Tatus, entre os quais 60 menores ou iguais 80,0 mm e 260
maiores do que 80,0 mm, respectivamente ao preço de R$ 2,50 e
R$ 5,00 por corda e, custo total de R$ 1.450,00 (Tabela 6.13). O caran-
guejo foi adquirido para beneficiamento tendo em vista a produção
de carne e patinhas que seriam comercializadas respectivamente

123
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

entre R$ 35,00 e R$ 40,00 o quilo e R$ 4,00 e R$ 5,00 a dúzia. Segundo


informações dos processadores são necessários 40 caranguejos para a
produção de 1 Kg de carne.

Tabela 6.13 – Valores de compra do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba


comercializados no Porto dos Tatus.
Caranguejos
Tamanho (mm) Compra R$
Cordas indivíduos R$
Despesa
< 80,0 60 240 2,50 150,00
> 80,0 260 1040 5,00 1.300,000
Total 320 1280 – 1.450,00

O produto resultante do beneficiamento se destina a restau-


rantes, hotéis ou mesmo consumidores individuais, ficando os custos
de transporte sob a responsabilidade do comprador.

Detalhamento da receita obtida com base na Tabela 6.14.


1. Carne
a) 1.280 caranguejos ÷ 40 indivíduos/Kg x 37,50 (preço médio
por Kg) = R$ 1.202,82.
2. Pata
b) Menores
240 indivíduos x 2 patas ÷ 12 patas x R$ 2,50 (preço por dúzia
de patas) = R$ 100,00.
c) Maiores
1.040 indivíduos x 2 patas ÷ 12 patas x R5,00 (preço por dúzia
de patas) = R$ 866,67.
Total = R$ 2.169,49 (a + b + c).

Nas condições em que foram beneficiadas e comercializadas as


320 cordas de caranguejo-uçá tem-se um lucro bruto de R$ 719,49
(49,62%). Não estão incluídos os custos com mão de obra e utensílios
do beneficiamento.

124
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

6.8 Cadeia de comercialização do caranguejo-uçá

Os estudos sobre da cadeia produtiva dos recursos pesqueiros têm


ganhado importância crescente nos anos recentes; nesse sentido merece
ser destacado o trabalho de Ivo et al., (2013) onde se discute a cadeia pro-
dutiva da lagosta nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Nos estudos
da cadeia produtiva de um recurso se avalia como os elementos, identi-
ficados como meios de produção, insumos, bens de consumo, receitas e
mercados, participam na obtenção do produto final. No contexto da ex-
ploração de um recurso pesqueiro se destacam como fatores da pro-
dução o pescador, a embarcação e o petrecho de pesca; na cata do caran-
guejo-uça apenas o catador merece maior destaque por ser ele que
desenvolve todo esforço na captura, mesmo quando utiliza um equipa-
mento auxiliar a cata, no caso o cambito.
O Delta do Parnaíba é um ambiente de grande importância eco-
lógica com reflexo nos estados do Maranhão e Piauí, como produtores
e Ceará como consumidor, porém com poucos estudos realizados
quanto à capacidade de produção e periodicidade de ocorrência das
espécies e dos principais recursos pesqueiros de importância econô-
mica e social. A atividade de cata do caranguejo-uçá está gerida por
uma série de medidas impostas pelo Governo Federal, onde se incluem
a proteção de indivíduos menores e de fêmeas em reprodução e o
transporte hidroviário e terrestre do caranguejo.
A cadeia de comercialização do caranguejo-uçá no Delta do
Parnaíba é realizada em várias fases, com os fatores de produção res-
tritos a embarcação (sem efeito direto sobre a cata), catador ou caran-
guejeiro e petrecho auxiliar a cata, limitado ao gancho. Seguem as fases
da cadeia:

Fase 1
Tem início quando um grupo de até 8 caranguejeiros se desloca
em embarcações motorizadas de pequeno porte no interior do Delta
até atingir as camboas onde teoricamente estão as áreas de maior pro-
dutividade de caranguejo (Figura 6.30). Nesse ponto os caranguejeiros

125
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

são desembarcados e cada um toma uma direção para iniciar o período


de cata que pode durar até 6 horas por dia, mas em geral não é inferior
a 4 horas. O condutor do barco e também proprietário tem ainda a
função de catador. Por vezes os caranguejeiros são desembarcados em
grupos em diferentes locais não muito distantes entre si. Concluído o
desembarque dos catadores o barco é amarrado a um tranco de arvore,
ai permanecendo, até que todos tenham retornado da faina diária.
Findo o período de cata os caranguejeiros retornam aos seus locais de
origem com o produto de sua catação e ai se inicia a segunda fase da
cadeia produtiva.

Ilha Grande do
Paulino Ilha do
Caju Ilha dos
Ilha das Canárias Poldros
Tutóia

Ilha Grande
Santa Isabel

Água Doce Tatus


Carnaubeiras Luis
Correia
Morro da
Mariana Parnaíba
Araioses

Figura 6.30 – Distribuição espacial dos principais pontos de coleta manual do caranguejo-uçá, Ucides
cordatus, no Delta do Parnaíba.

Fase 2
As embarcações retornam ao interior do Delta, e, a partir daí
tomam duas direções: (1) deslocam-se para pequenos cais no Delta ou
mais comumente para o Porto dos Tatus (principal porto de desem-
barque), onde comercializam sua produção e (2) encontram-se com
embarcações motorizadas de médio porte no interior do Delta para a
venda do caranguejo; estas embarcações levam o produto da compra
para o Porto dos Tatus. Nas duas oportunidades aparece a figura do
Primeiro Atravessador (ATR-1). Seja nos pequenos portos ou nas em-

126
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

barcações de médio porte uma parte dos caranguejos é resfriada em


caixas isotérmicas com gelo em cubos e levada para o Porto dos Tatus
de onde são exportadas. A produção levada para pequenos portos no
interior do delta é em geral destinada ao consumo interno, a exemplo
de Tutoia ou Araioses, ou convertida em subprodutos do caranguejo-
-uçá (patinhas e carne), os quais são transportados para o Porto dos
Tatus onde se incorporam a subprodutos ali armazernados e expor-
tados juntamente com o caranguejo in natura (Figura 6.31).

CADEIA PRODUTIVA (Fase 2)

Porto dos Tatus Exportação


Caranguejo
in natura
resfriado
patinha
carne
ATR-1
ATR-1
ATR-1
Pequeno Cais

Tutoia

Araioses

Delta do Parnaíba

Figura 6.31 – Fluxograma de comercialização na Fase 2 da cadeia produtiva do carnguejo-uçá, Ucides


cordatus, no Delta do Parnaíba.

127
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Fase 3
Do Porto dos Tatus, parte do caranguejo que ali é aportado (em
geral os menores indivíduos) é direcionada para beneficiamento; pro-
dução de carne e patinha. Esses produtos são trazidos novamente para
o Porto e exportados ou vendidos para consumidores locais, principal-
mente de Parnaíba e Luiz Correia. Neste ponto surge a figura do
Segundo Atavessador (ATR-2). Do Porto dos Tatus o caranguejo do
Delta do Parnaíba e seus derivados são exportados, em geral pelo
ATR-1 para algumas localidades no Piauí (Parnaíba, Luis Correia e
Teresina) e no Ceará (Fortaleza), esta a maior consumidora de caran-
guejo-uçá do Delta, seguida por Teresina. Nas cidades de Luis Correia
e Parnaíba surge um Terceiro Atravessador (ATR-3) que distribui o ca-
ranguejo e seus derivados para barracas, bares e restaurantes, e, ainda
para venda em pontos fixos das cidades.

CADEIA PRODUTIVA (Fase 3)

Vendedores
Carne ATR-1
Luiz Correia locais
Patinhas ATR-2 ATR-3
ATR-2 ATR-1 Parnaíba Bares
Restaurantes

ATR-1 Fortaleza

ATR-1

Teresina
Porto dos Tatus

Figura 6.32 – Fluxograma de comercialização na Fase 3 da cadeia produtiva do carnguejo-uçá, Ucides


cordatus, no Delta do Parnaíba.

128
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

Fase 4
Nas cidades receptoras de Fortaleza e Teresina o caranguejo-uçá,
ainda vivo, e seus derivados, em geral enviado pelo ATR-1, é recebido e
comercializado pelo Quarto Atravessador (ATR-4) para barracas, restau-
rantes e bares em Fortaleza, na região de praia e restaurantes do subúrbio
e para restaurantes em Teresina; em Fortaleza e Teresina os caranguejos
também são enviados para comercialização pelo Quinto Atravessador
(ATR-5) em pontos fixos das cidades receptoras. Os proprietários dos
estabelecimentos comerciais são responsáveis pela preparação das igua-
rias do caranguejo-uçá servidas ao consumidor final. Em Fortaleza o ca-
ranguejo preparado e não comercializado tem 2 destinos: (1) armaze-
nado em freezer ou câmara frigorífica para oportunamente ser servido e
(2) liberado para beneficiamento com produção de carne e patinha.

CADEIA PRODUTIVA (Fase 4) Vendedores


fixos

Barraca

Fortaleza ATR-5
Consumidor
Restaurante final
ATR-1 Cidade
ATR-4
receptora

Bar
Congelamento
Beneficiamento
Teresina ATR-5 Restaurante

Vendedores
fixos

Figura 6.33 – Fluxograma de comercialização na Fase 4 da cadeia produtiva do caranguejo-uçá, Ucides


cordatus, no Delta do Parnaíba.

6.9 Ordenamento da atividade de cata

Em algumas localidades onde a cata do caranguejo-uçá é realizada


existem evidencias de que os estoques e o comprimento individual estão
reduzidos e as taxas de mortalidade e, esforço de pesca, elevados. Estas

129
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

evidências levaram os pesquisadores responsáveis pela elaboração da


Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobre­
explotadas ou Ameçadas de Sobrexplotação (Instrução Normativa Nº 5,
de 22 de maio de 2004 – DOU de 28/05/2004) a incluírem na lista o caran-
guejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) - ANEXO II. As espécies inclu-
ídas nesta lista estariam submetidas a elaboração de um plano nacional de
gestão para o recurso. O plano de gestão para o caranguejo-uçá está apre-
sentado em IBAMA (2011) com as seguintes premissas e condições:

6.9.1 Objetivo geral


•• Promover a recuperação e a manutenção dos estoques naturais
de caranguejo-uçá e de seu habitat na costa brasileira.

6.9.2 Objetivos específicos


6.9.2.1 Biológico-pesqueiros
•• Recuperar e manter os estoques populacionais e seu habitat;
Aperfeiçoar as técnicas de captura, o transporte e o armazena-
mento; Regulamentar o acesso ao recurso pesqueiro;

6.9.2.2 Ecológicos
•• Recuperar e conservar os manguezais e os ecossistemas asso-
ciados; Promover a utilização sustentável desses ecossistemas.

6.9.2.3 Sociais
•• Manter a pesca do caranguejo-uçá em níveis aceitáveis de tra-
balho e de renda; Melhorar a qualidade de vida dos dependentes
do recurso; Reduzir os conflitos socioambientais;
•• Proposta de Gestão para o Uso Sustentável do Caranguejo-uçá
nas Regiões Norte e Nordeste;
•• Promover o fortalecimento da organização social das comuni-
dades dos pescadores envolvidos com o recurso; Integrar os atores
sociais no processo de gestão participativa dos recursos e Aumentar
o nível de escolaridade da população envolvida no processo;
•• Buscar o rendimento máximo econômico da pescaria sem, con-
tudo, comprometer a recuperação do recurso e a sustentabili-

130
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

dade; Reduzir as perdas no transporte e na comercialização;


Aumentar o valor agregado aos produtos; Melhorar a qualidade
sanitária dos produtos e Gerar alternativas de trabalho e de renda.
•• No campo da educação ambiental sensibilizar os atores en-
volvidos na cadeia produtiva do recurso, sobre a necessidade de
preservação e conservação do caranguejo-uçá, e dos ecossis-
temas de manguezais e outros associados; Qualificar os agentes
sociais no processo de gestão; Valorizar os saberes das comuni-
dades tradicionais.
•• Nos aspectos Legais Estabelecer um arcabouço jurídico que ga-
ranta a implementação compartilhada do plano de gestão do uso
sustentável do caranguejo-uçá e a proteção do habitat; Regularizar
as atividades pesqueiras conferindo legalidade e legitimidade
aos atores sociais envolvidos.

6.9.3 Estratégias para atingir os objetivos e os pontos de referência


Medidas de gestão a serem utilizadas:

6.9.3.1 Biológico-pesqueiros
• Manter a medida de tamanho mínimo de captura, de 6 cm de
largura da cefalotórax, estabelecida na legislação em vigor; Manter,
além dos métodos de braceamento e tapeamento, os petrechos
cambito e gancho, já permitidos pela legislação em vigor. Manter a
paralisação da captura nos períodos de andada nos meses de ja-
neiro, fevereiro e março.

6.9.3.2 Ecológicos
• Incentivar a criação de reservas extrativistas; Desenvolver es-
tratégias de manejo de áreas de exploração; Desenvolver estudos
para a definição de áreas de exclusão da pesca.

6.9.3.3 Sociais
• Buscar alternativas de trabalho e de renda; Interromper a de-
pleção dos estoques e manter a sustentabilidade da cata; Não per-

131
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

mitir que métodos de captura predatórios sejam utilizados;


Melhoria da qualidade do produto da cata (menor tempo de
viagem, adequado manuseio e acondicionamento); Adequação
no fluxo de comercialização; Ação específica de treinamento para
a segurança no trabalho; Articulação com os ministérios, as secre-
tarias estaduais e municipais de educação e saúde para assegurar
o acesso aos serviços de educação e de saúde, em quantidade e
com qualidade, para as comunidades de pescadores; Promover
entendimentos e apoiar ações na Secretaria de Patrimônio da
União (SPU) e no Ministério do Turismo, para regularizar os ter-
renos das residências dos pescadores e evitar a expulsão de pes-
cadores de suas localidades; Promover programas com os órgãos
competentes nas esferas federal, estaduais e municipais, objeti-
vando promover a melhoria das habitações dos catadores e o sa-
neamento básico das comunidades pesqueiras; Capacitar líderes
para a efetivação de organizações sociais legítimas; Promover fó-
runs para a participação das comunidades pesqueiras na gestão
compartilhada.

6.9.4 Instrumentos econômicos (mercado e qualidade do produto)


• Estabelecer normas de acondicionamento para o transporte de
caranguejos vivos; promover a melhoria da estrutura e o funcio-
namento da cadeia produtiva envolvida com o recurso; desen-
volver e promover a transferência de tecnologia para a melhoria
do arranjo produtivo do caranguejo-uçá; criar um selo de garantia
de origem atestando a qualidade dos caranguejos capturados e
dos produtos manufaturados, estocados e transportados; desen-
volver e implantar tecnologias de beneficiamento.

6.9.5 Educação ambiental


• Promover a participação cidadã dos catadores de caranguejo-
-uçá no processo de gestão compartilhada do uso do recurso;
Atuar como instrumento na mediação dos conflitos na pesca do
caranguejo-uçá; elaborar, promover e difundir instrumentos, mé-

132
A CATA DO CARANGUEJO-UÇÁ NO DELTA DO PARNAÍBA

todos e processos de divulgação e disseminação de informações


que contribuam para assegurar a plena participação dos usuários
nos processos de gestão compartilhada no uso do caranguejo-uçá;
apoiar o Estado no processo de definição, implementação e acom-
panhamento da gestão compartilhada na cata de caranguejo-uçá;
Promover eventos e outros instrumentos de afirmação, resgate e
divulgação da cultura das comunidades; Promover programas de
educação ambiental e de formação de multiplicadores.

6.9.5.1. Instrumentos Legais


•• Rígido controle do tamanho mínimo de captura; Garantir o
uso de petrechos e de métodos permitidos pela legislação em
vigor; Vigilância absoluta no período de paralisação da pesca na
época de maior intensidade e de reprodução; Produzir manual
de apoio à fiscalização da cata do recurso; Criação de unidades
de conservação de uso sustentável e de proteção integral;
Garantir a fiscalização do uso irregular ou ilegal em áreas de pro-
teção permanente (APP).

6.9.6 Pesquisas
•• Elaborar e manter um programa de pesquisa e de monitora-
mento para a obtenção dos melhores dados científicos para sub-
sidiar a implantação e a execução do plano de gestão; Incentivar
e apoiar pesquisas que abordem os seguintes aspectos:

- Densidade, abundância e zonação do recurso;


- Estatística da pesca;
- Estrutura populacional;
- Capacidade de suporte;
- Tamanho de primeira maturação;
- Repovoamento;
- Doenças e epidemias;
- Mapeamento das áreas de manguezais;
- Levantamentos fito-sociológicos;

133
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

- Estudos socioeconômicos;
- Estudos etnoecológicos;
- Diagnóstico das cadeias produtivas;
- Mapeamento das áreas de crescimento, de reprodução e de re-
crutamento da espécie;
- Hábitos alimentares e interações tróficas;
- Dispersão e recrutamento larval;
- Desenvolvimento de tecnologias de pesca e do beneficiamento
do pescado.

134
CAPÍTULO ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE
VII CAPTURA: PEIXES

7.1 Estratégia da exploração com redes-de-espera

A atividade pesqueira no ecossistema Delta do Parnaíba leva


em consideração a existência de ambientes aquáticos em que se ma-
nifestam alternadamente características fluviais, estuarinas ou ma-
rinhas, o que exige a adoção de estratégias adequadas a cada am-
biente. A aplicação correta dos fatores de produção e das táticas de
pesca pertinentes se evidencia pela predominância do embiente es-
tuarino em termos da sua produção (controlada) de pescado
(13.623,3 kg), em comparação com a menor importância dos am-
bientes fluvial (3.002,2 kg) e marinho (2.405,7 kg) quanto a esse atri-
buto (Figura 7.1).
O ambiente estuarino do Delta é o principal responsável pela
maior parte das capturas dos táxons abordados nesse estudo, princi-
palmente crustáceos, ostras e siris, por sua própria condição de ecossis-
tema de transição entre o ambiente fluvial e marinho. O acesso direto e
rápido dos meios de produção às áreas habitadas pelas populações e a
disponibilidade de seus indivíduos para a captura constituem os ve-
tores de aumento do esforço e reforçam a predominância da zona estu-
arina como a grande produtora de pescado no Delta do Parnaíba. Os
peixes também são mais capturados na região estuarina, principal-
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

mente os robalos e as tainhas, incluindo um grande número de espé-


cies de bagre da família Ariidae, em torno de 80% (Figura 7.2).

16.000,0

14.000,0

12.000,0
Produção (Kg)

10.000,0

8.000,0

6.000,0

4.000,0

2.000,0

0,0
Estuarinho Marinho Rio

Ambiente
Figura 7.1 – Produção de peixes por tipo de ambiente no Delta do Rio Parnaíba.

14.000,0

12.000,0

10.000,0
Produção (Kg)

8.000,0

6.000,0

4.000,0

2.000,0

0,0
Camurim Tainha Bagres Corvina Sardião Outros

Espécie

Figura 7.2 – Produção de espécies de peixe com destaque no Delta do Parnaíba, no período outu-
bro/2013 – setembro/2014.

136
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

A duração das pescarias com redes-de-espera apresentou tempo


variável de acordo com a espécie-alvo, com valores de até 3 dias para a
captura de peixes, com exposição das redes em tempo integral (dia/
noite), ou em apenas um dos turnos (diurno ou noturno). O tempo in-
tegral foi o período com maior rendimento, já que engloba um período
diário completo, vindo em seguida o período noturno, quando as redes
ficam expostas por 12 horas e o período diurno, quando a exposição
dura apenas de 1 a 3 horas (Figura 7.3).

6000,0

5000,0
Produção (Kg)

4000,0

3000,0

2000,0

1000,0

0,0
Integral Noite Dia

Período de pesca

Figura 7.3 – Produção de peixes em função do tempo de exposição das redes de espera nas pescarias
realizadas no Delta do Rio Parnaíba.

As Figuras 7.4 – 7.6 mostram também a participação dos quatro


municípios que têm interesse direto na produção de peixes no en-
torno do Delta, podendo-se verificar a grande predominância do uso
dos apetrechos rede-de-espera, linha-de-mão e armadilha que se destacam
em Tutóia com 58%, 82% e 88% das capturas, respectivamente. O
menor nível de abrangência verificado com a rede-de-espera nesse
município se deve ao fato de que em Araioses (25%) e Parnaíba (17%)
a rede também se apresentou com um nível relativamente elevado de
poder de captura.

137
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Ilha Grande Ilha Grande


0% 0%
Parnaíba
Parnaíba Araioses 5%
Araioses 17% 16%
25%

Tutóia
58% Tutóia
79%

Figura 7.4 – Distribuição da produção de peixes Figura 7.5 – Distribuição da produção de peixes cap-
capturados por redes-de-espera nos municípios turados por apetrechos de linha e anzol nos municí-
costeiros onde se encontra o Delta do Parnaíba. pios costeiros onde se encontra o Delta do Parnaíba.

Ilha Grande
0%
Araioses Parnaíba
14% 0%

Tutóia
86%

Figura 7.6 – Distribuição espacial da produção de


peixes capturados por armadilha nos municípios
costeiros onde se encontra o Delta do Parnaíba.

138
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

A produção de peixes por tipo de apetrecho de pesca, no am-


biente do Delta do Parnaíba, apresentou a seguinte ordem de impor-
tância numa tendência decrescente: rede-de-espera, linha grozeira, tar-
rafa, linha de mão e landuá (Figura 7.7). Pelos dados obtidos, pode-se
ver facilmente que a produção de peixes é gerada em sua quase totali-
dade (96%) por rede-de-espera, embora esta informação deva ser vista
com cautela, pois se refere a um período curto de tempo e, portanto,
não deve ser considerada como uma média de longo prazo.

25000

20000
Produção (Kg)

15000

10000

5000

0
Rede Grozeira Tarrafa Anzol Landuá

Arte de pesca

Figura 7.7 – Produção de peixe por tipo de apetrecho no interior do Delta do Parnaíba, no
período outubro/2013 – setembro/ 2014.

As espécies de peixe capturadas apresentaram-se de acordo


com a seguinte ordem decrescente da produção: camurim (12.203,6
kg), tainha/sauna (3.426,0 kg), sardião (805,2 kg) e bagres (740,6 kg)
– Figura 7.8. As demais espécies, como curimã, mandi-amarelo,
mandi-mole, surubim, branquinha, cururuca, pescadinha, coruasul,
piau-de-vara, piau-de-coco, sarapó, fidalgo, caboje, judeu, papista,
mandubé, pacamão, cará-do-mar, corvina, cabeçudo, raia, camu-
rupim, pirucaia, espada, mandi-duro e coró apresentaram uma pro-
dução conjunta de 2.176,6 kg.

139
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

14.000
12.000
Produção (Kg)

10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
na
im

ais

ião

es

ba

o
bir
ur

gr

pe
m

rd

m
m

Ba
De
/S

Sa

ra

Ti
Ca

Ca
inha
Ta

Espécies

Figura 7.8 – Produção das principais espécies de peixes capturadas com rede-de-espera no Delta
do Parnaíba.

7.1.1 - Influência da largura da malha na produção de peixes

A principal característica da rede-de-espera é a largura de suas


malhas, medida entre nós opostos ou entre nós consecutivos, depen-
dendo do material de confecção e das espécies-alvos. Os pescadores
acreditam que quanto mais larga for a malha maior o tamanho dos in-
divíduos capturados, mas essa regra funciona até um certo compri-
mento médio de seleção, ou seja, ela vale apenas para peixes cujos va-
lores do comprimento tenham uma variação de aproximadamente 34%
para mais ou para menos em relação a essa média.
As redes-de-espera com abertura 3,5 cm e 4 cm apresentaram
produções de 1.873 e 1.515,5 kg, respectivamente, no período de es-
tudo, destacando-se como espécie-alvo Mugil spp. (taínhas/saúna) e
como fauna acompanhante espécies da família Haemulidae perten-
centes aos gêneros Genyatremus spp. e Haemulon spp., tendo coró e bi-
quara como representantes, Macrodon spp. (pescadinha), bagres da fa-
mília Ariidae e mais 18 espécies.

140
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

As redes de espera com aberturas 5 cm e 6 cm apresentaram pro-


duções de 182,5 e 3.021,78 kg, respectivamente, destacando-se um grupo
bem diversificado de espécies, como corvina, robalo-flecha, sardião, ca-
rapeba e tainhas, e mais 12 espécies de menor relevância. Esta diversi-
dade também apresentou-se nas aberturas de malha 7 cm e 8 cm com-
posta por bagre-negra-velha, pacamão, sardião, timbiro, robalo-flecha e
mandubé. As redes com abertura 9 cm e 10 cm apresentaram produções
de 2.686,9 e 111 kg, respectivamente, destacando-se como espécie-alvo
os robalos flecha e peva, e também a raia-bicuda (Dasyatis gutatta).
As produções de redes com abertura de malha 11 cm e 12 cm
foram de 61 kg e 8.810,5 kg, respectivamente, apresentando-se com a
menor e maior produção por abertura de malha no período monito-
rado. As espécies capturadas nestas aberturas de malha foram robalos
(Centropomus undecimalis e C. paralellus), pescada-amarela (Cynoscion
acoupa), coruasul e bagre-buribu.
Com respeito ao atributo diversidade específica, sua amplitude
apresentou valores extremos mínimo e máximo para as malhas de
7 cm e 12 cm, respectivamdente (Figura 7.9).
As técnicas de pesca registradas com o uso de redes-de-espera na
captura de peixes no interior do Delta foram: (a) à deriva, usada com
todas as aberturas de malha; (b) as redes de fundo, fixas, empregam
preferencialmente malhas com aberturas entre 3,5 a 9 cm; (c) a técnica
de arrasto foi usada em menor proporção sendo registrada nas redes
com malha 3,5 e 4 cm e também nas malhas 6 e 7; (d) a tapagem foi
utilizada apenas nas redes com abertura de malha 4 (Figura 7.10).
A produção de peixes no Delta do Rio Parnaíba apresentou
picos sazonais relacionados ao aumento de pluviosidade que ocorre
na estação chuvosa dos primeiros meses do ano (janeiro - junho), em-
bora esse fato também se verifique na estação seca, nos meses de se-
tembro e outubro quando se usa redes com as malhas menores de 3,5
– 4 mm para a captura de tainhas (Mugil spp.). As espécies desse gê-
nero, por serem pelágicas e onívoras, apresentam maior produção nos
meses de menor turbidez e maior produtividade primária na região
estuarina do Delta.

141
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Malha 7 cm
90 78,5
80
70
Produção (kg)

60 52
50 39,5 39 34,5
40
30 25
22
20 16 13 10 9 8,8 7,7
10 5 4,5 3 2,5
0
lha

Sa o
ião

Ca biro

ba

La ró
ba uca

E a
rá ada

Pa r
ta
a

Su ibu

Co m
M ina

a
ã

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Pe atub
gr ch

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m
e Co
m

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Ve

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Ro mb

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Ro lo p

Ba fle
Tim

Bu

Ca sp
ad
ca

do
ra

ar
a

lo
Pa

sc
e
gr
Ne

gr
e

Ba
gr
Ba

Malha 12 cm

10000
7675,5
8000
Produção (kg)

6000

4000

2000 1101,5
33,5
0
Robalo flecha Robalo peva Pescada amarela

Figura 7.9 – Produção (kg) por espécies capturadas com rede de emalhar com diferentes aberturas
de malha no Delta do Rio Parnaíba durante o período de outubro de 2013 a setembro de 2014.

142
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

Malha 4 cm
800 743

593,5
600
Produção (kg)

400

200 176

3
0
Deriva Arrasto Rede de Fundo Tapagem

Malha 12 cm

10000 8631
8000
Produção (kg)

6000
4000
2000
0
Deriva

Figura 7.10 – Produção (kg) por técnica de pesca usada com as redes de emalhe com diferentes aber-
turas de malha no Delta do Rio Parnaíba durante o período de outubro de 2013 a setembro de 2014.

143
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

As redes com abertura de malha de 7 cm registraram uma grande


produção de espécies pelágicas (carapeba e piau) também na estação
seca, enquanto que na estação chuvosa as maiores produções foram de
várias espécies de bagre da família Ariidae.
As redes com abertura de malha 6 cm obtiveram maior produção
no final da estação chuvosa e início da estação seca capturando espé-
cies pelágicas, tais como corvina, robalo, sardião, tainha e carapeba.
Este mesmo padrão também foi identificado na produção das redes de
malha 7 capturando pelágicos como sardião, carapeba e timbiro na es-
tação chuvosa, e demersais como bagre e pacamão na estação seca
(agosto e setembro).
As redes com abertura de malha 8 cm obtiveram maior produção
coincidente com a estação chuvosa capturando proporcionalmente es-
pécies demersais e pelágicas, respectivamente, bagre-negra-velha, su-
rubim, mandubé, robalo e sardião.
A partir da abertura de malha 9 até a 12 cm verifica-se o mesmo
padrão apresentando maior produção na estação chuvosa (janeiro a
maio) capturando as maiores biomassa das espécies de robalo.
A produção de peixes no Delta do Parnaíba ocorre em diversos
locais de pesca sendo eles: Pontal, Caiçara, Marimbondo, Guizbão, Rio
da Gracinha, Rio Grande, Rio do Corte, Rio do Borá, Rio Novo, Praia
da Cutia, Barra do Feijão Brabo, Barra das Canárias, Barra do Borá e
Pedra do Sal.
Verifica-se que nas pescarias em Pontal e Barra das Canárias os
pescadores utilizam redes com todos os tamanhos de abertura de
malha. Quando se analisa a espécie-alvo em relação ao tamanho da
malha verifica-se que as malhas com abertura entre 9 a 12 cm têm
como espécies-alvos os robalos capturados na Barra das Canárias,
Pontal, Pedra do Sal e Pontal. Pontal e Praia da Cutia foram o principal
pesqueiro para a pesca da tainha, enquanto os bagres alcançaram a
maior produção nos pesqueiros Rio da Gracinha, Caiçara, Guizbão e
Rio Novo.
Pode-se observar também que a distribuição espacial da captura
varia inversamente com a largura da malha, pois o maior número de

144
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

pesqueiros foi atingido com a malha de 8 cm, enquanto que o menor


ocorreu pelo emprego redes com malhas de 12 cm.
Na região da Ilha Grande (PI), a captura de peixes com rede-de-
-espera foi desembarcada em diversos locais, mas com maior destaque
para o Porto dos Tatus e o Porto dos Morros; os demais são pequenos
portos utilizados por pescadores das comunidades mais próximas de
sua residência, variável indicada no gráfico como ”casa” para indicar
sua posição relativa. Esses portos constituem os principais centros de
desembarque de pescado capturado no setor piauiense do Delta, com
grande diversidade de espécies representadas por bagres, tainhas, cor-
vina, carapeba, sardião, por malhas de 9 cm, e robalos por malhas de 12
cm. Esses portos apresentam ainda uma vantagem estratégica de sua
posição geográfica que favorece a saída do pescado tanto para seu des-
tino primário na cidade de Parnaíba, atendendo a rede de restaurantes,
hotéis e mercados, bem como o destino secundário em Brasília através
de transporte aéreo para atender a rede de restaurantes.
As pescarias no Delta ocorrem em diversas faixas de horários,
com variação entre o período integral e os períodos diurno/noturno,
dependendo da espécie e do apetrecho de pesca. No caso das redes de
deriva, estas podem ocorrer tanto de dia como a noite, de acordo com
o regime de marés, operando por meio de lances com número médio
de quatro e duração de 30 min. As redes fundeadas, em geral, operam
por um período contínuo de 24 horas, e seu recolhimento é feito
apenas para a despesca dos indivíduos emalhados, com imediata de-
volução à área de pesca até a próxima despesca, que pode ocorrer
após 48 horas.
A largura da malha de uso preferencial varia de acordo com a
diversidade dos ambientes de captura, de tal modo que para a malha
de 4 cm os três ambientes são explorados na seguinte ordem de pre-
ferência: estuarino => marinho => fluvial. No entanto, com a malha de
12 cm as pescarias ocorrem apenas no ambiente estuarino, que corres-
ponde à maior parte da região do Delta ocupada pela foz do Rio
Parnaíba, onde caranguejos, siris, ostras e mariscos são principal-
mente coletados nesta zona. Os peixes também são mais capturados

145
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

na região estuarina, principalemente robalos e tainhas, incluindo al-


guns bagres, mas estes últimos têm o ambiente fluvial como o de
maior abundância, o que explica a preferência na estratégia de pesca
(80%) por esse biótopo (Figura 7.11).

Malha 4 cm

1000
304,5
800
Produção (kg)

532,5,5
600
400
200 149,5

0
Estuário Marinho Rio

Ambiente de pesca

Malha 12 cm
10000
8810,5
9000
8000
7000
Produção (kg)

6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
Estuarino
Ambiente de pesca

Figura 7.11 - Ambiente de pesca em função da variação de comprimento das malhas empregadas
nas redes de emalhe.

146
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

A produção de tainhas e respectivo esforço de pesca gerado


pelas malhas de 3,5 cm e 4 cm apresentaram um incremento nos meses
associados ao período seco, embora em setembro de 2014 tenha ocor-
rido um menor esforço (45 pescadores) para se obter a maior produção
(650 kg), o que novamente confirma a abundância desse grupo de espé-
cies. Para as malhas 5 e 6, um alto esforço não resultou em um incre-
mento nas capturas, mas para as malhas 7, 8 e 9 cm voltou a haver
correspondência entre produção e esforço de pesca. Um baixo nível de
esforço (20 pescadores) no uso das malhas 10 mm não permitiu um
incremento das capturas para os robalos (50 kg) em setembro de 2014,
mas quando observadas as malhas 11 mm e 12 mm, o incremento na
produção foi associado ao aumento do esforço de pesca.
A eficiência da rede-de-espera em função da largura da malha,
avaliada através da CPUE (rendimento/pescador), varia bastante ao
longo do ano, de tal modo que pescarias realizadas com malha de
4 cm abrangem todos os meses do ano, enquanto redes com malhas
de 11 cm foram produtivas somente em dois meses: janeiro/2014 e
outubro/2014 (Figura 7.12). Esse fato está certamente relacionado
com o tamanho individual, permitindo que toda a biocenose seja atin-
gida por redes com malhas estreitas por ser formada principalmente
por espécies de pequeno e médio portes. Em outras palavras, parece
estar em andamento um processo de seletividade por esse tipo de
apetrecho de pesca de modo a permitir a preservação das espécies de
menor porte bastando para isso aumentar a largura da malha das
redes-de-espera.
A seguir, um resumo das informações acima apresentadas sobre
as relaçoes entre a produção de peixes com rede-de-espera e respec-
tivas larguras de malha:
• A região da Ilha Grande (PI) consome a maior parte da pro-
dução proveniente das malhas de menor largura entre nós opostos (va-
riando de 3,5 a 8 cm), que capturam principalmente peixes pequenos
tais como as tainhas, bagres e corvina. Parte dessa produção irá ganhar
o mercado da cidade de Parnaíba, atendendo a rede de restaurantes,
hotéis e mercados, enquanto os robalos, que são capturados com ma-

147
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

lhas grandes (entre 9 a 12 cm) são destinados a Brasília através de


transporte aéreo para a rede de restaurantes.

Malha 4 cm
30,00
CPUE (kg/ por pescador)

25,00
25,00
20,00
15,00 13,33 13,77
9,67 10,00
10,00 5,30
3,65 5,06 4,36
5,00 0,63 2,00
0,00
13 /1
3
/1
4 14 /1
4
/1
4 /1
4
/1
4 /1
4
/1
4
/1
4
t/ z v/ ar r ai jul t
ou de jan fe m ab m jun ag
o se

Meses

Malha 11 cm
8,00
7,00
7,00
CPUE (kg/pescador)

6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
2,00
1,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
0,00
13 13 13 /1
4 14 /1
4 14 /1
4
/1
4 /1
4
/1
4 14
t/ v/ z/ v/ ar r/ ai jul t/
ou no de jan fe m ab m jun ag
o se

Meses

Figura 7-12 - Captura por unidade de esforço (CPUE) em função da variação de comprimento das
malhas empregadas nas redes-de-espera.

• Considerando-se a amplitude de variação do tamanho das ma-


lhas, de modo geral verificou-se uma relação direta entre esforço de
pesca e produção, embora essa tendência não tenha sido muito evi-
dente para a faixa de 5 – 6 cm.

148
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

• As tainhas apresentaram a maior produtividade (kg/pescador)


no mês de outubro de 2013, paralelamente aos meses de período seco
com um total em torno de 103 kg por pescador para as malhas 3,5 cm
de abertura entre nós. Para os bagres a maior produtividade ocorreu na
malha 6 cm com 27,5 kg/ pescador no mês de julho, coincidindo com o
período entre o final e o início da estação seca.
• Os robalos apresentaram maior produtividade na malha de 12
cm entre os meses de fevereiro/2014 a julho/2014, associada ao período
chuvoso. O mínimo de 32,59 kg/pescador ocorreu em fevereiro e o má-
ximo de 145,35 kg/pescador no mês de março.
• Verifica-se que nas pescarias em Pontal e Barra das Canárias os
pescadores utilizam redes com todos os tamanhos de abertura de
malha. As malhas com abertura entre 9 a 12 cm tem como espécie-alvo
os robalos capturados na Barra das Canárias, Pontal, Pedra do Sal.
Pontal e Praia da Cutia foram os principais pesqueiros para a pesca da
taínha, enquanto os bagres alcançaram a maior produção nos pontos
Rio da Gracinha, Caiçara, Guizbão e Rio Novo.

7.2 Táticas de captura com redes-de-espera

Na modalidade à deriva, a rede-de-espera opera ao sabor das


correntes e, para isto, apresenta boias nas suas extremidades ou um
cabo-guia para a sua localização no momento do recolhimento. O prin-
cipio de funcionamento é esperar que o peixe se emalhe na rede (fil-
tração), durante um tempo de imersão que dura de 1 a 2 horas e com
um máximo de 4 lances realizados por dia.
A técnica de espera fundeada (rede-de-espera fixa) tem o mesmo
princípio da modalidade anterior, com a diferença de que é atada a uma
garatéia (de pedra ou ferro) para auxiliar na fixação da rede ao fundo além
de apresentar uma proporção de chumbada maior que de bóias, motivo
por que se destina principalmente à captura de espécies demersais.
As redes-de-espera usadas para a captura de peixes atuam na
superficie, meia água e fundo de forma a explorar os diferentes es-
tratos no ambiente aquático (Figura 7.13). Dentre as técnicas de pesca

149
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

que mais capturaram no Delta do Parnaíba está a rede-de-espera de


deriva com cerca de 16.000 kg, representando 80% da produção com a
participação de espécies pelágicas como Centropomus spp. e Mugil spp.
As redes de espera com as técnicas de fundo e arrasto foram responsá-
veis por 12% e 8%, respectivamente, da produção de peixes de hábitos
mais bentônicos pertencentes a família Ariidae (bagres).

16.000,0
14.000,0

12.000,0
Produção (Kg)

10.000,0
8.000,0
6.000,0
4.000,0

2.000,0
0,0
Deriva Rede de fundo Arrasto

Tipo de rede

Figura 7.13 – Técnicas de pesca utilizadas com a rede de emalhe para captura de peixes no Delta do
Parnaíba no período de outubro de 2013 a Setembro de 2014.

As pescarias no Delta ocorrem em diversas faixas de horários


que podem abranger os períodos diurno ou noturno, ou ainda em pe-
ríodo integral cobrindo ambos simultaneamente, dependendo do re-
gime de maré e/ou da preferência por um dos seus curtos intervalos
entre as fases secante e enchente. As redes de deriva, de uma maneira
geral, operam através de lances, cada um com duração média de 30
minutos, sendo efetuados cerca de 4 lances por operação de pesca, en-
quanto as redes de fundo são fixadas ao substrato por 24 horas, e após
a despesca da captura são imediatamente devolvidas à água, sendo
que algumas destas são despescadas somente a cada 48 horas.

150
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

A pesca com redes de espera apresentou uma produção razoável


ao longo do período monitorado, com um valor de 19.591 kg de peixes.
No mês de outubro/2013 registrou-se uma produção total de 1.097 kg,
com maior participação de tainhas e carapitanga. Após a ausência de
captura em novembro, a produção registrou uma queda em de-
zembro/2013 (290 kg) e janeiro/2014 (402 kg). Em fevereiro e março
verificou-se um aumento considerável que levou a produção a valores
de 2.266,9 kg e 2.456,2 kg, respectivamente, e também maior variedade
de táxons (cerca de 20 espécies), com destaque para os robalos,
Centropomus spp. Essa tendência de aumento prosseguiu em abril e
maio quando os máximos foram atingidos com 2.999,2 kg e e 3.037,9 kg
de peixes, respectivamente, e destaque para Centropomus spp. e Mugil
spp. Embora decrescente, pode-se atribuir à produção uma relativa es-
tabilidade em junho (2.513,6 kg) e julho (2.378,1 kg). Nos meses se-
guintes, a tendência agora é de instabilidade, como mostram os valores
de 477 kg em agosto e 1.679 kg em setembro, mas com destaque para a
grande produção de 1.300 kg de tainhas (Figura 7.14).

3500

3000

2500
Produção (Kg)

2000

1500

1000

500

0
out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set

Meses

Figura 7.14 – Produção de peixes capturados com redes de espera no Delta do Parnaíba no período de
outubro de 2013 a setembro de 2014.

151
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

A atividade de pesca viabilizada como podução de pescado por


redes-de-espera registrou os valores mais elevados nos meses fevereiro
– julho, portanto, cobrindo um longo período da estação chuvosa e en-
trando também na estação seca. Além disso, como valores medianos
foram registrados em setembro e outubro, pelo que pode-se supor que
a produção pesqueira independe da pluviosidade na região do Delta e,
ainda, que o regime fluvial do Rio Parnaíba seria o parâmetro mais im-
portante como fator causal desse atributo. Deve-se ressaltar que a au-
sência de captura no mês de novembro/2013 devido ao estabelecimento
do período de defeso da pesca continental (piracema), não inibiu a ati-
vidade pesqueira, pois esta se concentra na parte inferior do estuário, a
partir das Ilhas Canárias, não sujeita a regulamentação (Figura 7.15).

3500 Produção Pluviosidade 400


3000 350

Pluviosidade (mm)
300
2500
Produção (Kg)

250
2000
200
1500
150
1000 100
500 50
0 0
t

jun
z

jan

fev

set
ou

o
jul
r

ab

ma
de

ma
no

ag

Meses

Figura 7.15 – Produção mensal das redes-de-espera em função da pluviosidade no Delta do Parnaíba
no período de outubro de 2013 a setembro de 2014.

O controle do esforço de pesca foi bastante restrito e, nesse pro-


jeto, apenas com relação à atividade da canoa motorizada de pequeno
porte com até 5 metros de comprimento, propulsão a motor-de-rabeta
(1,5 HP) e tripulação que varia de 1 a 4 pescadores. A atividade de
captura mostrou-se mais intensa nos meses de abril a julho, enquanto
o rendimento, medido pela CPUE, atingiu seus maiores valores de fe-

152
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

vereiro a maio, sinal de que não existe uma pesca dirigida para espé-
cies-alvos, ou seja, não se verifica tendência de concentração espaço-
-temporal do esforço em relação à distribuição dos recursos pesqueiros,
uma característica muito comum em pescarias artesanais de pequena
escala (Figura 7.16).

Nº. canoas Produção canoa


18 300,00
16

CPUE (Produção/canoa)
Quantidade de canoas

250,00
14
12 200,00
10
150,00
8
6 100,00
4
50,00
2
0 0,00
t

jun
z
jan

fev

set
ou

o
jul
r
ab

ma
de

ma
no

ag

Meses

Figura 7.16 – Variação mensal do esforço de pesca (número de canoas) e da CPUE (kg/canoa), refe-
rentes à pesca com rede-de-espera realizada no Delta do Parnaíba no período de outubro de 2013 a
setembro 2014.

7.3 Captura com linha-grozeira

A captura de bagres com linha-grozeira apresenta caracterís-


ticas diferentes em relação à rede-de-espera, mas ambas contribuem
com esforço de pesca de forma semelhante que se evidencia através da
participação em torno de 50% para cada tipo de apetrecho. Com re-
lação á distribuição espacial da captura foram identificados 11 pontos
(Figura 7.17), dentre os quais Rio Igaraçu e Barra do Borá registraram
a maior e menor produções, respectivamente.
Sendo a linha-grozeira um espinhel de anzóis, estes estão afi-
xados a linhas secundárias que, por sua vez, são amarradas com elas
próprias diretamente na linha principal sem a presença do snap.

153
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Considerando-se a distância de 1,80 m entre uma linha secundária e


outra, é possível determinar o número de anzóis em cada grozeira que,
no conjunto de apetrechos contemplado, variou de 99 a 399 unidades.
Esses anzóis têm o formato de “J” com tamanhos de números 4, 6, 7 e
10 (Figura 7.18), mas geralmente o próprio pescador altera sua forma
para arredondada com o objetivo de aumentar a área de contato com os
peixes e, assim, incrementar seu poder de pesca.

180,0
160,0
140,0
120,0
Produção (Kg)

100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
a

rro


açú

os

vo

nso

de


l
nta

inh

Bo
Bo
ári

No

an

irin

Mo
Igu

Ga
Po

rac
an

Gr

do
do

Gu
Rio

do
aG
Rio

sC

Rio

rra
Rio

ida
do

éd

Ba
Ca
rra

rap
Ba

Ga

Pontos de pesca

Figura 7.17 – Produção (Kg) de bagres por ponto de pesca utilizando linha-grozeira.

Figura 7.18 – Anzóis utilizados na linha-


grozeira, com seu formato original.

154
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

Componentes essenciais da linha-grozeira são as bóias e a gara-


teia. As bóias são feitas de material artificial flutuante (isopor) com a
função de sinalizar a localização do apetrecho de pesca. Para manter a
linha grozeira em posição, faz-se uso de uma estrutura conhecida como
garateia, confeccionada com diversos tipos de material e que assume
formas diversas, como o arranjo de ferro mostrado, ou simplesmente
uma pedra amarrrada à extremidade do apetrecho.
A análise dos dados mensais mostra que o mês de outubro se
destaca como o mais produtivo e, ao contrário da rede-de-espera, a
produção de grozeira manteve relação inversa com a pluviosidade nos
meses de março a maio de 2014. (Figura 7.19).

250 Produção Precipitação (mm) 400


350
200

Pluviosidade (mm)
300
Produção (Kg)

150 250
200
100 150
100
50
50
0 0
t

jun
z

jan

fev

set
ou

o
jul
r

ab

ma
de

ma
no

ag

Meses

Figura 7.19 – Variação mensal da produção de bagres capturados por linha-grozeira e da pluviosidade
no Delta do Parnaíba, no período outubro/2013 – setembro/2014.

O desembarque dos bagres capturados pela linha-grozeira acon-


tece em quatro portos (Figura 7.20), todos localizados no município de
Ilha Grande, dentre os quais se destaca o Porto dos Tatus como o de
maior movimento pesqueiro e, portanto, o principal destino primário
da produção resultante.

155
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

450
400
350
Produção (Kg)

300
250
200
150
100
50
0
Porto dos Tatus Porto dos Morros Porto da Ponte Porto Mãe da Lua

Localidades

Figura 7.20 – Pontos de desembarque da produção de bagres no Delta do Parnaíba.

7.3.1 – Captura de bagres da família Ariidae

No contexto da biocenose de peixes na região de Tutóia, destaca-


-se a família Ariidae, constituída por grande número de espécies de
bagre e capturada principalmente por dois tipos de apetrecho de pesca,
a rede-de-espera (principalmente com malhas de 6 cm e 8 cm) e a linha-
-grozeira. A produção de bagres com rede-de-espera varia de modo
independente em relação aos níveis de pluviosidade, pois valores ele-
vados foram registrados tanto na estação chuvosa (abril– junho) como
na estação seca (fevereiro e setembro) - Figura 7.21.
A pesca de bagre do Delta do Parnaíba com rede-de-espera
ocorre em 19 pesqueiros, cuja produção em ordem decrescente está re-
presentada na Figura 7.22, com destaque para Pontal, Rio Novo, Barra
das Canárias e Rio da gracinha. A categoria “outros” representa a pro-
dução de 10 pesqueiros de menor importância, a seguir nominados:
Caiçara, Guirindó, Rio do Borrá, Cutia, Sauninha, Caída do Morro, Rio
dos Tatus, Garapé do Periquito, Marimbondo e São José. Esses dados
ressaltam a grande concentração espacial da abundância dos bagres,
pois a produção conjunta desses pesqueiros agrupados como “outros”

156
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

é de apenas 109,5 kg, valor praticamente igual ao da produção da Barra


das Canárias, com 108,18kg.

Produção Precipitação (mm)


160 400

Pluviosidade (mm)
140 350
Produção (Kg)

120 300
100 250
80 200
60 150
40 100
20 50
0 0
t

jun
z

jan

fev

set
ou

o
jul
r

ab

ma
de

ma
no

ag
Meses

Figura 7.21 – Variação mensal da produção de bagres e da pluviosidade, no Delta do Parnaíba.

250

200
Produção (Kg)

150

100

50

0
ovo

as

utia

de

bo

s
l
nta

tro
nh

ort

Bo
ári

ran

Bra
N

aC

Ou
aci

oC
Po

an

do
G
Rio

Gr

ijão
ia d
sC

Rio

rra
Rio
da

Fe
da

Pra

Ba
Rio

do
rra

rra
Ba

Ba

Ponto de pesca
Figura 7.22 – Produção de bagres em pesqueiros do Delta do Parnaíba.

A espécie de bagre que obteve a maior produção foi o nega-velha


ou buribu com 455,0 kg, seguido pelo bagre lambusa com 229,2 kg,
para as quais houve registro de ocorrência em todos os pesqueiros,

157
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

sendo que no final da lista se encontram os bagres jeremias e amarelo,


com produções de 7 kg e 5,7 kg respectivamente (Figura 7.23). À seme-
lhança da variedade de malhas para captura de peixes da biocenose
como um todo, para os bagres isso também ocorreu, mas com uma
concentração das capturas nas malhas de 6 cm e 8 cm (Figura 7.24)

500
450
400
Produção (Kg)

350
300
250
200
150
100
50
0
usa

atã

ha

ias

lo
a

ting

ub

eir
lh

are
cin

em
ng
Ve

mb

ruj

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Uru

Am
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Ca

Jer
Gu

Ba
gra

La

Bo

gre
gre

gre
gre

gre
Ne

gre

gre

gre

Ba
Ba

Ba
Ba

Ba
Ba

Ba
gre

Ba
Ba

Espécies

Figura 7.23 – Composição da produção, por espécies de bagre capturadas com rede-de-espera no
Delta do Parnaíba.

250,0

200,0
Produção (Kg)

150,0

100,0

50,0

0,0
4 4,6 5 6 7 8 9 11

Malha

Figura 7.24 – Produção de bagres de acordo com a abertura das malhas das redes-de-espera.

158
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

Todos os portos de desembarque da produção de bagres estão


localizados no município de Ilha Grande, nos quais também desem-
barca a produção de outras ilhas que possuem comunidades pes-
queiras, como a Ilha das Canárias, mas com maior destaque para Porto
dos Morros, seguido por Tatus e Batista Pedro (Figura 7.25). O ponto
intitulado “casa” indica que a produção obtida foi desembarcada em
algum córrego mais próximo do local de moradia dos pescadores.

450
400
350
300
Produção (Kg)

250
200
150
100
50
0
P. dos P. dos P. Batista Casa P. do Cal P. da P. do
Morros Tatus Pedro Ponte Baixão
Portos

Figura 7.25 – Principais portos que desembarcam a produção (Kg) dos bagres da rede-de-espera.

7.4 Táticas de captura com tarrafa

A tarrafa é um apetrecho de pesca que atua em locais com espaço


restrito e pequena profundidade, onde não existam obstáculos (galhos,
troncos, pedras) que venham prejudicar sua atuação durante o pro-
cesso de captura. Os recursos alvos desse apetrecho são as espécies de
baixo valor econômico que, muitas vezes, têm utilidade apenas como
iscas para outras capturadas por apetrechos mais eficientes, como a
linha-grozeira. Por esse motivo, geralmente os pescadores fazem uso
de uma combinação com outros apetrechos, mas com a presença cons-
tante da tarrafa e a vantagem de agregar maior produção.

159
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Esse apetrecho de pesca tem modus operandi simples: o pescador


faz o lance, e a tarrafa deve abrir-se ao máximo de modo a que, ao cair
sobre a superfície da água com a forma de circunferência, afunde ime-
diatamente sob a ação das chumbadas e envolva o maior número pos-
sível de peixes e/ou camarões. Um aspecto importante da tática de cap-
tura é a habilidade de o pescador retirar toda a tarrafa da água de modo
a maximizar a retenção de indivíduos em seu interior. A atividade pes-
queira com tarrafa tem características predominantes de subsistência,
com prioridade para a segurança alimentar do pescador e sua família e,
somente em caso de produção excedente, esta será destinada à venda no
mercado consumidor local.
O esforço de captura com tarrafa e associações (tarrafa/rede e tar-
rafa/anzol), dentre os 10 meses do período total de monitoramento, foi
registrado em apenas cinco, ou seja, em outubro/2013 e abril-julho/2014,
em função da época do defeso. Portanto, apesar de a análise da estaciona-
lidade da produção ficar bastante prejudicada, verifica-se que o mês de
outubro apresentou maior produção com 46 kg, gerada pela combinação
rede/tarrafa. Os meses de abril e maio apresentaram a mesma produção
de 16,5 kg, com a atuação em conjunto da tarrafa/anzol e da tarrafa isola-
damente. Nos meses de junho e julho registrou-se a menor produção com
9 e 6,5 kg, respectivamente, com uso apenas da tarrafa (Figura 7.26).

50 46

Rede / tarrafa
40
Produção (Kg)

30
Tarrafa / anzol
Tarrafa
20

10

0
out nov dez jan fev mar abr mai jun jul

Meses

Figura 7.26 – Produção (kg) mensal de pescado capturado com tarrafa e pelas associações “tarrafa/
rede” e “tarrafa/anzol”, no período outubro/2013 – julho/2014, no Delta do Parnaíba.

160
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

Na produção por local de pesca, o pesqueiro do Rio dos Morros


se destaca com produção de 46 kg, enquanto aquele com a menor pro-
dução foi o local de Caída do Morro, com 6 kg (Figura 7.27).

50
45
40
35
Produção (Kg)

30
25
20
10
5
0
Rio dos Rio dos Rio dos Tatus, Caída do Morro
Morros Tatus Caída do Morro

Locais de Pesca

Figura 7.27 – Produção de peixes capturados com tarrafa em pesqueiros do Delta do Parnaíba.

7.5 Origem e destino da produção

O controle estatístico da captura e informações sobre o contexto


das pescarias, com base na amostragem de parte dos desembarques da
frota, no período outubro/2013 - fevereiro/2014 abrange um período
curto de tempo, mas é bastante diversificado por apresentar informa-
ções sobre os locais de pesca e desembarque, destino da produção, mé-
todo de captura, e produção e preço do pescado, por espécie. No en-
tanto, por se referir a amostras relativamente pequenas das atividades
da frota, os dados estatísticos sofrem restrições quanto à representati-
vidade do universo do pescado, que leva a uma evidente subestimação
da magnitude e composição da biocenose capturada.
Com base numa pequena amostra, não necessariamente repre-
sentativa do universo, verifica-se que a biocenose capturada esteve

161
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

constituída de 25 espécies, com valor total da produção estimado em


2.922,4 kg e preço médio geral de R$ 8,30 (jan./2014), as quais podem
ser classificadas em três grupos:

• Espécies de grande abundância: robalo-flecha, robalo-peva e


tainha, cujos valores médios da produção e preço de venda
foram estimados em 750,5 kg e R$ 13,90;
• Espécies de abundância mediana: bagre-gurijuba, bagre-nega-
-velha, sauna, carapeba, bagre-cangatan, bagre-bandeira e
sardinhão, cujos valores médios da produção e preço de
venda foram estimados em 65,8 kg e R$ 9,10;
• Espécies de pequena abundância: coró, croaçu, pacamão, mero,
pescada-amarela, bagre-lambusa, bagre-uritinga, manjuba,
raia-bicuda, caboje, carapitanga, mandi-mole, arenque,
peixe-serrote e curimã, cujos valores médios da produção e
preço de venda foram estimados em 14,0 kg e R$ 5,70.

A Tabela 7.2 apresenta uma sinopse das informações sobre os


locais de origem da biocenose de peixes habitantes do Delta (quanti-
dade de pescado e distribuição espacial dos pesqueiros), bem como
sobre o destino da produção (in natura ou processada) para centros se
consumo local, e em outras cidades e regiões do país. Deve-se ressaltar
que o primeiro ponto de destino são as comunidades pesqueiras (prin-
cipalmente em Ilha Grande) para onde são levadas pelos atravessa-
dores e em seguida transportadas para grandes cidades como Teresina,
Fortaleza e Brasília, pelos elos seguintes da cadeia de comercialização.

162
Tabela 7.2 – Dinâmica das pescarias de peixe em frente a Tutóia, Maranhão no período outubro/2013 – fevereiro/2014.
Produção
Local da Pescaria Desembarque Destino Apetrecho Preço (R$)
(kg)
Barra das Canárias/ Pontal Porto dos Tatus Conceição - Araioses – MA Espera 191,5 10,53
Barra das Canárias/ Pontal Porto das Canárias/Tatus Brasilia-DF Espera 600 14,00
Barra das Canárias/ Pontal Porto dos Morros Comunidade-Ilha Grande Lance 23,5 10,75
Barra das Canárias/ Pontal Porto dos Tatus Comunidade-Ilha Grande Lance 45 10,67
Barra das Canárias Porto dos Tatus Brasília Espera 520 14,00
Barra das Canárias Porto dos Tatus Teresina-PI Espera 400 13,00
Barra das Canárias Porto das Canárias/Tatus Teresina-PI Espera 300 17,00

163
Garapé do Periquito Porto dos Tatus Comunidade – Ilha Grande Lance 18,5 11,67
Barra do Feijão Brabo Porto dos Tatus Comunidade – Ilha Grande Lance 142 10,58
Pontal/Cutia Em Casa Comunidade – Ilha Grande Espera 61 13,71
Baixo do Cutia Em Casa Comunidade - Ilha Espera 5,9 8,67
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

Pontal Porto dos Morros Comunidade - Ilha Lance/ Espera 132 10,00
Pontal Porto dos Tatus Comunidade-Ilha Grande Espera 77 9,50
Rio Novo Porto dos Tatus Comunidade-Ilha Grande Lance 21 11,50
Rio das Canárias Porto dos Tatus Comunidade-Ilha Grande Espera 21 12,50
Barra do Pontal Casa Comercio Local Lance 14 17,00
MÉDIA -- -- -- 160,78 12,19
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Os desembarques (outubro/2013 - fevereiro/2014) foram realizados


nos seguines portos de recepção do pescado, com dados sobre o volume
de captura das espécies e seus respectivos preços de venda médios:

• Barra das Canárias com 1.220 kg, R$ 14,67;


• Barra das Canárias/Pontal: 860 kg, R$ 11,49;
• Pontal: 209 kg, R$ 11,75;
• Barra do Feijão Brabo/MA: 142 kg, R$ 10,18;
• Pontal/Cutia: 61 kg, R$ 13,71;
• Rio Novo: 21 kg, R$ 11,50;
• Rio das Canárias: 21 kg, R$12,50;
• Garapé do Periquito: 18,5 kg, R$ 11,70);
• Barra do Pontal: 14 kg, R$ 17,00;
• Barra do Cutia: 5,9 kg, R$ 8,70

Em resumo, os principais desembarques foram realizados nos


seguintes portos: Porto dos Tatus =16 (44,4%); Porto dos Morros = 14
(38,9%); Porto da Ponte = 4 (11,1%); Porto do Batista Pedro = 2 (5,6%).
O pescado, que corresponde aos principais bens de capital do
Delta do Parnaíba na qualidade de recursos alimentares para fins de sub-
sistência familiar, mas principalmente de gerador de emprego e renda,
se baseia na exploração de vários pesqueiros, a seguir nominados: Pontal,
Caiçara, Marimbondo, Guizbão, Rio da Gracinha, Rio Grande, Rio do
Corte, Rio do Borá, Rio Novo, Praia do Cutia, Barra do Feijão Brabo,
Barra das Canárias, Barra do Borá e Pedra do Sal. Dentre estes se des-
tacam Praia da Cutia para a captura de taínhas, enquanto os bagres al-
cançaram a maior produção em Rio da Gracinha, Caiçara, Guizbão e Rio
Novo (Figura 7.28). Para os peixes de modo geral, pode-se também citar
os pesqueiros da região de Barra das Canárias com a maior produção
(12.554 kg) e de algumas áreas marinhas como o Pontal e a Praia do
Cutia (Figura 7.29).

164
42°10’0’’W 42°50’0’’W 41°50’0’’W

2°40’0’’S
2°40’0’’S

ILHA DO
CAJU
Ilha das Ilha dos
ILHA GRANDE Barreiras Poldros Poldros
DO PAULINO
Morro do Meio
ILHA DASCANÁRIAS
TUTÓIA
PORTO Ilha da Torto
Desgraça Passarinho Canárias
TUTÓIA Ilha do Porto Melado (Torto) Ilha da
Carrapato Trindade
Ilha do Periquito ILHA GRANDE
Igoronhon Ilha do Ilha do
Bagre Assado Ilha do Serrote SANTA ISABEL
Guara
Ilha do Ilha do
São Bernardo Ilha das Ilha do
Guirindó

165
Barrocas Cardoso
PORTO DOS
Ilha das TATUS
ÁGUA DOCE Carnaubeiras Lamarão
Ilha do Batatas

2°50’0’’S
2°50’0’’S

Manguinho Morro da Mariana


Ilha do
Goiabal
Barreiras
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

0 2,5 5 10 ARAIOSES
km

LEGENDA Informações cartográficas:


Sistema de Coordenadas Geográficas
Municípios/Cidades Datum: SIRGAS2000
Referências:
Povoados - Imagem - Google Maps
Portos Disponível em:https://maps.google.com.br
BRASIL Acesso: 15/08/2015
Pontos de Pesca - Cartas DSG MI-553 e MI-554
MA - ICMBio - Mapa RESEX Delta do Parnaíba
Recurso Explotado: Organização:
PI Janaina Sales Holanda
Peixe

Figura 7.28 - Mapa de localização dos principais pesqueiros destinados à captura de peixes no Delta do Parnaíba.

MAPA PEIXES
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Produção (Kg)

Barra das Pontal Guizbão Praia do Rio do Rio Novo Caiçara


Canárias Cutia Borá

Principais pesqueiros

Figura 7.29 – Produção de peixes, de acordo com os pesqueiros em que é capturada no Delta
do Parnaíba.

Quanto ao destino primário do pescado, os principais pontos de


desembarque são Porto dos Tatus, Porto dos Morros e Porto Batista
Pedro, com produção conjunta de 18.884,7 kg dentre os quais o pri-
meiro responde por mais da metade da produção (12.861 kg). O Porto
dos Tatus se destaca por receber o desembarque de uma grande varie-
dade de espécies, enquanto o Porto dos Morros acolhe a grande parte
da produção de bagres e de algumas espécies pelágicas como taínhas,
carapeba, sardião, timbiro. Esse destaque está relacionado com a sua
posição estratégica para a realização de viagens turísticas no interior
do Delta e a destinação imedata do pescado desembarcado para os
mercados externos de Brasília e Teresina. Os demais são pequenos
portos correspodentes a zonas de pesca nas proximidades dos locais de
moradia, motivo por que nas estatísticas de captura são rotulados
como “residência” (Figura 7.30).
A região da Ilha Grande (PI) consome a maior parte da produção
proveniente das malhas de menor comprimento de abertura entre nós
opostos (variando de 3,5 a 8 cm), que capturam principalmente peixes
pequenos tais como as tainhas, bagres e corvina. Parte desta produção

166
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: PEIXES

Produção (Kg)

P. dos P. dos P. Batista Residência P. do P. do Cal


Tatus Morros Pedro Baixão

Portos

Figura 7.30 – Principais destinos primários da produção de peixes capturados no Delta do Parnaíba,
no período outubro/2013 – setembro/2014.

irá ganhar o mercado da cidade de Parnaíba, enquanto os robalos (cap-


turados com malhas grandes, na faixa de 9 - 12 cm) são destinados a
grandes centros urbanos através de transporte aéreo, para atender a
rede de restaurantes e hotéis.
Tendo em vista a diversidade da biocenose em número de espé-
cies, a grande maioria destas tem como destino centros de consumo
próximos aos portos de desembarque, principalmente no município de
Ilha Grande, mas ocorre uma tendência para concentração nas espécies
de maior abundância e/ou valor econômico. A comercialização de
peixes capturados do Delta apresenta Brasília como principal destino
secundário, com 10.431,5 kg, sendo outra parte desse pescado comercia-
lizada internamente na região de Ilha Grande (7.022,7 kg), Teresina e
Luiz Correia, no estado do Piaúi (Figura 7.31).
A grande produção de robalos provém da Ilha das Canárias e
desembarca no Porto dos Tatus onde atinge o preço de R$ 17,00/kg,
sendo toda ela acondicionada em caixas de isopor com gelo (Figura
7.32). Seu principal destino secundário de consumo é a cidade de
Brasília, onde é vendido a R$ 30,00/kg dependendo da época do ano e
da demanda pelo mercado.

167
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Produção (Kg)

Brasília - DF Região da Teresina - PI Porto dos Luis Corrêa


Ilha Grande Morros

Localidades

Figura 7.31 - Principais pontos de destino secundário da produção de peixes capturados no Delta do
Parnaíba, no período outubro/2013 – setembro/2014.

Figura 7.32 – Estocagem do pescado capturado com rede-de-espera, antes de sua destinação ao mer-
cado consumidor.

168
ESTRATÉGIA E TÁTICAS
CAPÍTULO
VIII DE CAPTURA: OUTROS
RECURSOS PESQUEIROS

Q uanto aos outros recursos pesqueiros do Delta, a pesca de


camarões, ostras e mariscos concentra-se na área a partir de 42°20’W
na Ilha das Barcas até a região da Ilha Grande Santa Isabel. Por es-
pécie, a pesca de camarão ocorre principalmente nas proximidades
das ilhas Manguinhos, Goiabal, Batatas e Grande Santa Isabel; ostras,
nas proximidades das ilhas Barrocas e Manguinhos; e siris, nas ilhas
Manguinhos, Goiabal e Guirindó (Figura 8.1).

8.1 - Camarões de água doce

A produção total de camarões de água doce no Delta ao longo do


período de estudo foi de 5.379,46 kg, a qual se distribui ao longo do
período outubro/2013 – setembro/2014 praticamente sem tendência de
variação, mas com destaque nos meses de outubro/dezembro de 2013 e
abril-junho/2014. Como a pluviosidade varia em função de estações
chuvosa e seca que variam de acordo com tendências de concentração
das chuvas nos períodos março-maio e junho-dezembro, respectiva-
mente, pode-se concluir que a captura de camarões não mantém re-
lação significante com a pluviosidade (Figura 8.2). Esse fato é corrobo-
rado pela existência de desova coletiva no período março – junho,
segundo relato dos próprios pescadores, uma estratégia biológica que
exige a presença regular de camarões na área de distribuição.
42°10’0’’W 42°50’0’’W 41°50’0’’W

2°40’0’’S
2°40’0’’S

ILHA DO
CAJU
Ilha das Ilha dos
ILHA GRANDE Barreiras Poldros Poldros
DO PAULINO
Morro do Meio
ILHA DASCANÁRIAS
TUTÓIA
PORTO Ilha da Torto
Desgraça Passarinho Canárias
TUTÓIA Ilha do Porto Melado (Torto) Ilha da
Carrapato Trindade
Ilha do Periquito ILHA GRANDE
Igoronhon Ilha do Ilha do
Bagre Assado Ilha do Serrote SANTA ISABEL
Guara
Ilha do Ilha do
São Bernardo Ilha das Ilha do

170
Barrocas Cardoso Guirindó
PORTO DOS
Ilha das TATUS
ÁGUA DOCE Carnaubeiras Lamarão
Ilha do Batatas

2°50’0’’S
2°50’0’’S

Manguinho Morro da Mariana


Ilha do
Goiabal
Barreiras
0 2,5 5 10 ARAIOSES
km
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

LEGENDA Informações cartográficas:


Sistema de Coordenadas Geográficas
Municípios/Cidades Portos Datum: SIRGAS2000
Referências:
Pontos de Pesca Povoados - Imagem - Google Maps
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,

Disponível em:https://maps.google.com.br
Recurso Explotados: BRASIL Acesso: 15/08/2015
- Cartas DSG MI-553 e MI-554
Camarão Ostra MA - ICMBio - Mapa RESEX Delta do Parnaíba
PI Organização:
Siri Marisco Janaina Sales Holanda

Figura 8.1 - Mapa de localização dos principais pesqueiros destinados à captura de crustáceos e muluscos no Delta do Parnaíba.

MAPA outros
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

1600 330
300
1400
270
1200 240

Precipitação (mm)
1000 210
Produção

180
800
150
600 120
400 90
60
200 30
0 0
out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set
Meses

Figura 8.2 – Variação mensal da produção de camarões do gênero Macrobrachium e do índice pluvio-
métrico, no Delta do Parnaíba, de outubro/2013 a setembro/ 2014.

Com base na medição de indivíduos das duas espécies de ca-


marão por amostragem da captura (Figura 8.3), foram obtidas as res-
pectivas distribuições de frequência do comprimento total, com os se-

Figura 8.3 - Medição do comprimento total de um exemplar do camarão


M. acanthurus, no Delta do Parnaíba.

171
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

guintes resultados por espécie: (a) M. amazonicum - a média geral foi


estimada em 65,3 mm, com o maior tamanho sendo alcançando no mês
de janeiro, com 82,4 mm; (b) M. acanthurus – média geral de 60,5 mm,
alcançando o maior valor no mês de junho, com 68,4 mm. Comparando-se
os gráficos de dispersão das duas espécies pode-se notar que apenas no
mês de novembro de 2014 os exemplares de M. acanthurus apresentaram
comprimento médio maior que os M. amazonicum, e mesmo assim por
uma diferença muito pequena (Figura 8.4).

85
M. amazonicum M. acanthurus
80

75
Comprimento total (mm)

70

65

60

56

50

45
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar
Meses
Figura 8.4 - Distrbiuição de comprimento dos camarões de água doce, Macrobrachium amazonicum e
Macrobrachium acanthurus, no Delta do Parnaíba, no período de abril/2014 – março/2015.

A participação relativa mensal das duas espécies nas amostras,


no período abril/2014-março/2015 mostra um comportamento vari-
ável, evidenciando-se a predominância da espécie M. acanthurus nos
meses de abri/2014 e setembro/2014-março/2015 e, consequentemente,
a predominância da espécie M. amazonicum no período maio –
agosto/2014 (Figura 8.5).

172
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

M. acanthurus M. amazonicum
220
200
Número de indivíduos

180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar

Meses

Figura 8.5 – Frequência absoluta mensal das espécies de camarão do gênero Macrobrachium, segundo
amostragem da captura no período abril/2014 – março/ 2015, no Delta do Parnaíba.

A análise da proporção sexual das duas espécies apresenta as


seguintes informações: (a) M. acanthurus – predominância dos machos
na maioria dos meses cobertos pelo sistema de amostragem, com ex-
ceção do período fevereiro – abril; (b) M. amazonicum - predominância
das fêmeas na maioria dos meses cobertos pelo sistema de amostragem,
com exceção apenas de dezembro/2014.
Em todos os meses houve ocorrência de indivíduos aptos à re-
produção, de acordo com a escala de desenvolvimento gonadal (0, 1, 2
e 3) proposta por Melo (2003). Analisando o aspecto reprodutivo sepa-
radamente, constatou-se uma ocorrência muito elevada de fêmeas de
M. acanthurus nos meses de abril e maio de 2014 e em março de 2015;
nos outros meses, com exceção de junho, não foram notadas fêmeas
nesse estágio reprodutivo. Já as fêmeas ovadas da espécie M. amazo-
nicum estiveram presentes em quase todos os meses, com exceção de
outubro e novembro, porém não ultrapassaram a marca de 17 indiví-
duos por amostra (mês de janeiro).
A principal técnica de captura de camarões no Delta do Parnaíba
ocorre pelo uso do jiqui, uma armadilha confeccionada com talas de ma-
deira, telas de náilon e amarrilho plástico. Uma vez preparada, a estrutura
é revestida por uma tela de plástico utilizada na construção de galinheiros,

173
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

com espaço suficientemente estreito para evitar a fuga das espécies e/ou
indivíduos de menor porte através das talas. A parte do jiqui encarregada
da captura dos camarões é chamada de “sangria”, com diâmetro de 6 cm
e em número de duas, sendo cada uma delas colocada na extremidade do
apetrecho e direcionada para a sua parte interna a fim de dificultar ainda
mais o escape dos indivíduos (Figura 8.6). O poder de captura é reforçado
pelo uso do “ralão”, subproduto da extração do óleo do coco-babaçu que
funciona como isca para atrair os camarões (Figura 8.7).

Porta

Boca
Sangria

Figura 8.6 – Configura-


ção do jiqui utilizado na
captura de camarão no
Delta do Parnaíba.

Comprimento

Figura 8.7. – “Ralão”, tipo


de isca usado para atrair
camarões para o interior
do jiqui.

174
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

Quando em operação, os jiquis ficam posicionados a uma dis-


tância de cerca de 10 metros entre si, e não possuem boias para locali-
zação, apenas o amarrilho plástico, de 1,5 metros de comprimento, que
flutua sobre a água, preso ao mesmo (Figura 8.8). A bordo de canoas
veleiras ou semi-motorizadas, os pescadores mantêm os jiquis sub-
mersos 24 horas por dia, erguendo-os à superfície apenas para a des-
pesca dos organismos capturados. Realizam a substituição do aparelho
depois de 4 - 5 meses devido ao desgaste dos materiais. Cada pescador
possui cerca de 30 a 50 jiquis, mas há registros de até 100 unidades. As
despescas são realizadas durante a baixa-mar, quando a água se en-
contra num nível suficientemente raso, para permitir o esvaziamento
dos jiquis, realizado sempre à luz do dia.

Figura 8.8 - Posicionamento dos jiquis no local de pesca.

A tripulação nas viagens de pesca é composta, em sua grande


maioria, por apenas um pescador, mas pode chegar a dois ou três
pescadores, geralmente com produções pequenas. As estatísticas de
captura dos camarões não fazem distinção entre as duas espécies,
como mostra a Figura 8.9, e o rendimento da produção fica na faixa
de 3 - 10 kg, com média de 5 kg/pescador-dia.

175
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Figura 8.9 – Produto de pescarias de camarões do gênero Macrobrachium no Delta do Parnaíba.

8.1.1- Origem e destino da produção

Os pesqueiros que apresentam maior frequência de produção


são, por ordem decrescente: Guirindó com 2.447,0 Kg (43,3%), pelo
menos 4 vezes maior do que qualquer um dos demais pontos de im-
portância média, Piriquito (529,0 kg; 9,2%), Ganso (510,5 kg; 9,0%),
Doce (449;7 kg; 9%) e Criolo (374;6 kg; 6%) (Figura 8.10). Seguem-se os
pontos de importância menos significativa: Mosquito, Bananal, Zé
Tude, Porto dos Tatus, Cajubeira, Azedo e Gracinha com produção
entre 230,0 kg (4,1%) e 118,5 kg (2,1%). Os demais pesqueiros, Esfola
Bode, Torto, Galego, Frente do Borá, Ilha do Engenho e Caída do
Morro, com destino principal para auto-consumo da tripulação, pro-
duziram em conjunto 181,0 kg (3,2%).

176
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

2500

2000
Produção (Kg)

1500

1000

500

0
o

so

ce

ito

us

s

na

tro
uit

iol

ud

eir

ed

inh
n

Do

qu

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na
Cr
riq

Ga

Po Zé T

jub

Az

Ou
sT

ac
os

Ba
Gu

Pi

Gr
Ca
do
M

rto

Pontos
Figura 8.10 - Produção de camarões do gênero Macrobrachium conforme estatísticas de desembar-
que no Porto dos Tatus, Delta do Parnaíba, de outubro/ 2013 a setembro/2014.

8.2 Siris

Os siris são crustáceos braquiúros da família Portunídae, pos-


suem em geral o corpo achatado com vários espinhos laterais e cinco
pares de patas, sendo que o último par tem forma de remo para auxi-
liar na natação, sendo essas as características fundamentais para dife-
renciação do siri para um caranguejo (CANTINI, 2008).
Existem duas espécies de siris com maior importância econô-
mica no mercado local, o siri vermelho e o azul, mas devido a dificul-
dades práticas para sua identificação pelos pescadores, a produção é
monitorada considerando-se o conjunto de espécies sob classificação
em nível de gênero, no caso, Callinectes spp.
A pesca de siri no Delta do Parnaíba é realizada de forma total-
mente artesanal, utilizando-se canoas, com tripulação máxima de até
três pescadores e capacidade para transportar entre 25 a 40 jererés. O

177
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

apetrecho de pesca (jereré) é uma armadilha feita pelos próprios pesca-


dores, geralmente constituída por um aro de roda de bicicleta, com 60
cm de diâmetro, rede com abertura de malha aberta entre nós alter-
nados. variando de 6 a 8 cm. O material de confecção da malha é nylon
medindo entre 0,30 e 0,40 mm de monofilamento e multifilamento.
Utilizam-se boias para a localização da arte de pesca, na sua grande
maioria compostas por garrafas “pets” e isopor, ligadas ao jereré por
um cabo de boia com um comprimento entre 4 a 6 metros, com mate-
rial de nylon multifilamento. No Delta registrou-se a presença de 10
canoas engajadas na pescaria do siri ao logo do período de estudo,
dentre as quais três tiveram presença constante, mas as outras va-
riaram de atividades, sempre procurando o recurso pesqueiro que
está gerando maior renda.

8.2.1 Origem e destino da produção

O acompanhamento dos desembarques de siri no Porto dos


Tatus foi realizado no período outubro/2013 – setembro/2014, tendo-se
coletado informações sobre produção, características dos apetrechos e
das embarcações, locais de captura, e estrutura de comercialização.
A produção total foi de aproximadamente 12.000 cordas de
siris por ano, com uma média de 972 cordas por mês, sendo outubro
de 2013 o que apresentou a maior produção em número de cordas de
siri, com um total de 3.570 cordas, seguido por novembro de 2013
com uma produção de 2.184 cordas (Figura 8.11). Os meses de abril e
maio de 2014 não registraram produção e, por sua vez este foi o pe-
ríodo de maior pluviosidade, sem captura. Segundo relatos dos pró-
prios pescadores, a atividade de captura só foi restabelecida na es-
tação seca, quando a água geralmente está menos turva e, portanto,
com maior transparência.
A pesca do siri é praticada em diversos pesqueiros no Delta do
Parnaíba, dentre os quais se destacam os seguintes por sua maior pro-
dução no período monitorado: Ganso, Sauna e Lamarão, represen-
tando as proporções de 43,7% (4.133 cordas), 22,5% (2.589 cordas) e

178
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

14,1% (1.051 cordas), respectivamente (Figura 8.12), mas alguns outros


também merecem citação, tais como Torto, Galego, Azedo e Periquito.

Soma de Quantidade (cordas) Média de Pluviométricos


4000 400
3500 350

Pluviosidade (mm)
Quantidade (Corda)

3000 300
2500 250
2000 200
1500 150
1000 100
500 50
0 0
t

jan

ar

ai

jun

jul

t
ou

se
ab
no

de

fe

ag
m
m

Meses

Figura 8.11 – Variação mensal da produção de siris e da pluviosidade no Delta do Parnaíba, no período
outubro/2013 - setembro/2014.

Soma de Quantidade (cordas) Soma de tripulação


4500 70
4000 Quantidade de pescadores
60
Produção (Cordas)

3500
50
3000
2500 40
2000 30
1500
20
1000
500 10
0 0
o

ão

ito

to

us
ns

un

leg

ed

r
iqu

at
ar

irin

To
Ga

Sa

Az

sT
Ga
m

r
Gu

Pe
La

do
o
Ri

Localidades

Figura 8.12 – Produção de siris em pesqueiros do Delta do Parnaíba.

179
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

8.3 Ostras

O gênero Crassostrea inclui as ostras comercialmente importantes


(ABBOTT, 1974), em cujos indivíduos a valva direita é menor e plana, e
a valva esquerda apresenta uma marca de aderência devido à sua fi-
xação sobre uma raiz de mangue ou sobre rochas em mar aberto. O
resílio é estriado longitudinalmente. O exterior é geralmente cinza
claro a branco, amarronzado e ou púrpura. O interior é branco, com a
cicatriz do músculo adutor roxo próximo ao centro, podendo estar pig-
mentada ou não. O ligamento é externo. O gênero apresenta indiví-
duos dióicos, sem dimorfismo sexual, produzindo de 30 a 50 milhões
de óvulos por desova (BOSS, 1982).
As embarcações que os coletores utilizaram para recolher o pro-
duto são de porte pequeno, chamadas canoas de madeira, com o com-
primento em média de 5 m com motor-de-rabeta (1,0 - 1,5 HP), em
fainas realizadas até quatro vezes por semana.

8.3.1 Origem e destino da produção

O aproveitamento de ostras dos estoques naturais do Delta é


feito através de coleta manual, a bordo de canoas com as mesmas ca-
racterísticas das utilizadas na pesca de siris, com uma frequência de até
quatro vezes por semana.
A produção das ostras Crassostrea brasiliana e Crassostrea
ryzophorae apresentou um valor total de 93.000 kg período outubro/2013
– setembro/2014, com valores mensais bastante variáveis entre um mí-
nimo de 7.750 kg em janeiro/2014 e um máximo de 15.950 kg em feve-
reiro/2014 (Figura 8.13). Quando a coleta é avaliada em função da pro-
dução por embarcação, quatro delas, a saber, são mais importantes:
Naili, Chico do Caranguejo e Gislane I e II sendo responsáveis por mais
de 90% da produção desembarcada no Porto dos Tatus. A embarcação
Naili é a maior coletora de ostra, desembarcado no Porto dos Tatus,
com a produção de 40.490 kg, com exceção dos meses de março, maio,
junho e agosto que não se obteve dados (Figura 8.14).

180
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

Produção (Kg) Chuva


16000 400
14000 350

Pluviosidade (mm)
Produção (Kg)

12000 300
10000 250
8000 200
6000 150
4000 100
2000 50
0 0
t

jan

ar

ai

jun

jul

t
ou

se
ab
no

de

fe

ag
m
m

Meses

Figura 8.13– Variação mensal da produção de ostras e da pluviosidade, no Delta do Parnaíba.

45000
40000
35000
Produção (Kg)

30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
Chico do Gislanne Naili Riba Toin
Caranguejo I e II

Embarcação

Figura 8.14 – Produção de ostras por embarcação.

O principal ponto de coleta de ostras ao longo do Delta é a comu-


nidade de Carnaubeira, cuja produção avaliada em conjunto com a co-
munidade de Barreirinha devido à sua proximidade, atinge o máximo

181
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

de 76.295 kg, portanto, bastante superior à produção isolada de


Barreirinha (14.750 kg) e à do Torto (400 kg) – ver Figura 8.15.

90000
80000
70000
60000
Produção (Kg)

50000
40000
30000
20000
10000
0
Torto Bareirinha Bareirinha e
Carnaubeira
Localidade

Figura 8.15 – Produção mensal de ostras por comunidade.

8.4 Marisco

8.4.1 Origem e destino da produção

O marisco capturado do Delta do Parnaíba é proveniente de de-


terminados pesqueiros que apresentam uma produção elevada deste
recurso, sendo seu desembarque realizado em sacos de nylon, com peso
total variando na faixa de 25 - 50 kg (Figura 8.16), nos seguintes pontos
de destaque de acordo com sua produção: Porto dos Morros, Porto dos
Tatus, Porto do Carlos e Porto do Baptista Pedro (Figura 8.17).
A produção entre outubro de 2013 e setembro foi de 2014 foi
52.009 kg de marisco inteiro (média mensal de 4.334 kg), com destaque
para novembro/2013 (8.400 kg) e julho/2014 (10.950 kg) como os meses
de maior valor da captura, mas coincidindo com a estação seca, ou de

182
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

Figura 8.16 - Desembarque do marisco em portos ao longo do Delta do Parnaíba.

30000

25000
Produção (Kg)

20000

15000

10000

5000

0
Porto dos Porto dos Porto do Cal Porto do
Tatus Morros Batista Pedro

Portos de desembarque

Figura 8.17 – Portos de desembarque de marisco no Delta do Parnaíba.

baixa pluviosidade (Figura 8.18). Por outro lado, durante a estação


chuvosa o excesso de deságüe fluvial causado pela quadra invernosa
nos meses de abril-maio determina uma queda da produção por que as
“croas” ficam cobertas com água doce, o que dificulta o acesso dos pes-
cadores e o uso de landuás na coleta do marisco.

183
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

12000 400

10000 350

Pluviosidade (mm)
300
8000
250
Peso (Kg)

6000 200

4000 150
100
2000
50
0 0
t

jan

ar

ai

jun

jul

t
ou

se
ab
no

de

fe

ag
m
m

Meses
Figura 8.18 – Produção mensal de marisco relacionada com a pluviosidade.

A CPUE mensal apresentou maior valor em agosto/2014 e se-


tembro/2014 com 242,05 e 275,93 kg/pescador, respectivamente, ob-
tidos com baixos índices de esforço de coleta em comparação com ou-
tros meses do ano (Figura 8.19). Destaca-se na série histórica mensal o
mês de outubro/2013 por apresentar o maior esforço em “número de
pescadores” e um baixo valor da CPUE, quando comparados com
meses que registraram baixos níveis de esforço e CPUE elevada.

80 Nº. pescadores Produção (kg) pescador/mês 300,00


Esforço (nº. de pescadores)

70
250,00
CPUE (kg/pescador)

60
200,00
50
40 150,00
30
100,00
20
50,00
10
0 0,00
t

ar

ai

t
ju
ou

se
ab
no

de

fe
ja

ju

ag
m
m

Meses

Figura 8.19 – Variação mensal do esforço de pesca e da CPUE referentes à captura do marisco no Delta
do Parnaíba.

184
ESTRATÉGIA E TÁTICAS DE CAPTURA: OUTROS RECURSOS PESQUEIROS

No contexto da produção local destaca-se o pesqueiro Bananal


com 32.355 kg de marisco inteiro e um número de pescadores de 225
para sua captura, um destaque na produtividade (143,8 kg/pescador)
que é devido a aspectos naturais e antrópicos: abundância do recurso,
melhor acesso à área de captura e, portanto, maior agregação do con-
tingente de pescadores (Figura 8.20).
A produtividade do pescado é independente da área de manejo
(nenhuma relação com a produção do local), observando-se (Figura
8.21) que a produtividade individual é maior no ponto de pesca Frente
do Borá com 194,25 kg de marisco inteiro. Com isso verifica-se que o
pesqueiro com maior produção (Bananal) individualmente não é o
mais produtivo, fato que se justifica por ser a área que recebe o maior
esforço em termos de número de pescadores.

35000 250
30000
200

Nº. de pescadores
25000
Produção (kg)

20000 150

15000 100
10000
50
5000
0 0
A
l

rte

us
l

ro


na

ba

inh
/M
or

Bo

at
Co
na

aia

sT
ac
PI
do
Ba

Go

do
do

Gr

do
a
e

vis

o
a

o
en

Ri
íd

Ri
Di
Ca

Fr

Localidades

Figura 8.20 – Valores da produção e esforço de pesca sobre o marisco em pesqueiros do Delta
do Parnaíba.

185
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Nº. pescadores Produção (kg) por pescador


250 250,00

CPUE (kg/pescador)
Nº. de pescadores

200 200,0

150 150,00

100 100,00

50 50,00

0 0,0

A
l

ha

rte

us
al

ro


na

/M
iab

or

Bo

at
cin

Co
na

sT
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PI
do

a
Ba

Go

do
do

Gr

do
a
te

vis

o
a

o
en

Ri
íd

Ri
Di
Ca

Fr

Local

Figura 8.21 – Esforço de pesca e CPUE do marisco em pesqueiros do Delta do Parnaíba.

186
CAPÍTULO COMERCIALIZAÇÃO DO
IX PESCADO

9.1 Peixes

T endo como área geral de pesca a plataforma continental


interna em frente aos municípios de Tutóia e Araioses, as 678 en-
tradas de pescado (N) num dos principais entrepostos de Tutóia al-
cançaram 133.486 kg de produção, com valores médios de 196,8
kg/N em rendimento e R$ 5,50 de preço de compra no período de-
zembro/2013 – setembro/2014. Esse pescado esteve distribuído em
32 categorias formadas por uma espécie, ou por várias espécies no
caso de raias, bagres, cações, pescadas. No processo de 2ª comercia-
lização, adiciona-se R$ 1,00 (para todas as espécies) ao valor original
de compra para formar o preço de venda ao consumidor imediato
ou ao primeiro atravessador intermediário da cadeia de comerciali-
zação. Esses dados foram analisados considerando-se os atributos
produção, frequência, rendimento e preço de compra, e se encontram dis-
postos na Tabela 9.1.
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Tabela 9.1 – Dados sobre produção (P), frequência (N), índice de rendimento (P/N) e preço de
compra das espécies desembarcadas em Tutóia, no período dezembro/2013 - setembro/2014.
Produção (kg) - P Frequência – N P/N Preço
Espécies
valor % valor % (kg/mês.) (R$/kg)
Serra 37633 28,19 84 12,41 447,3 7,05
Cururuca 29571 22,15 28 4,20 1039,0 4,80
Bonito 24265 18,18 62 9,09 393,5 4,15
Cangatan 9197 6,89 29 4,32 314,0 3,70
Uritinga 6107 4,58 56 8,29 108,6 6,15
Ariacó 5906 4,42 60 8,90 97,9 8,15
Raias 4188 3,14 59 8,73 70,8 2,40
Guarajuba 3907 2,93 36 5,35 107,6 4,90
Tibiro 2865 2,15 44 6,51 64,9 1,75
Cações 1991 1,49 32 4,65 63,1 6,20
Corvina 1772 1,33 10 1,43 182,9 8,00
Cavala 1683 1,26 28 4,06 61,1 9,90
Agulhão 670 0,50 18 2,68 36,8 5,40
Coro-branco 594 0,45 16 2,29 38,3 7,40
Cornuda 502 0,38 16 2,30 32,2 7,60
Xareu 375 0,28 20 2,88 19,2 4,80
Coro-marinheiro 357 0,27 10 1,430 36,8 3,50
Pargo 274 0,21 1 0,15 273,7 3,50
Beijupirá 233 0,17 7 1,10 31,3 7,80
Flamengo 214 0,16 5 0,75 42,2 7,50
Galo 204 0,15 8 1,24 24,2 7,25
Pescadas 171 0,13 9 1,33 19,0 8,75
Paru 147 0,11 4 0,60 35,0 2,85
Cavala-empinge 132 0,10 4 0,64 30,5 10,20
Cambuba 116 0,09 1 0,15 116,0 3,50
Camurim 86 0,06 8 1,23 10,3 10,90
Carapeba 80 0,06 10 1,42 8,3 4,00
Camurupim 74 0,06 2 0,29 37,0 7,00
Enchova 68 0,05 3 0,47 21,5 10,00
Dourado 46 0,03 5 0,80 8,4 5,80
Cavalinha 35 0,03 1 0,16 32,0 4,00
Lixa 24 0,02 1 0,15 24,0 3,00
MÉDIA 133486 100,00 678 100,00 196,8 5,50

Dados sobre o atributo produção correspondem ao peso compu-


tado para as diversas espécies e como se encontram nas estatísticas de
controle de entrada existentes no entreposto. Estas podem ser prove-

188
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

nientes dos desembarques de diversas embarcações, de modo que não


é possível relacionar seu valor com a capacidade de captura por uni-
dade da frota. As espécies foram classificadas em seis grupos de acordo
com sua produção total comercializada no entreposto, com os valores
das participações relativas totais e individual entre parênteses: grupo 1
- serra, cururuca e bonito (68,52%, com média de 22,84%); grupo 2 – can-
gatan, uritinga e ariacó (15,89%, com média de 5,30%); grupo 3 - raias,
guarajuba, tibiro, cação, corvina e cavala (12,30%, com média de 2,05%);
grupo 4 - agulhão, coró-branco, cornuda, xareu e coró-marinheiro
(1,88%, com média de 0,38%); grupo 5 – pargo, beijupirá, flamengo,
galo, pescada e paru (1,31%, com média de 0,16%); e grupo 6: cavala-
-empinge, cambuba, camurim, carapeba, camurupim, enchova, dou-
rado, cavalinha e lixa (0,49%, com média de 0,05. Deve-se destacar a
baixa participação de espécies com reconhecida importância na região
Norte como pargo, pescadas, beijupirá e camurim (Almeida, 2006), fato
provavelmente explicado pelo reduzido raio de ação da frota pesqueira
responsável pela captura da biocenose sob análise na plataforma conti-
nental de Tutóia/Araioses.

80

70

60
% da produção

50

40

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6
Grupos
Figura 9.1 – Variação da produção dos seis grupos de espécies desembarcadas no terminal pesqueiro
de Tutóia, e sujeitas a 1ª comercialização, no período dezembro/2013 – setembro/2014.

189
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Dados sobre o atributo frequência de entrada correspondem ao nú-


mero de registros de entrada das espécies no entreposto, sendo estes
distribuídos em cinco grupos no período dezembro/2013 - setembro
2014: grupo 1 – serra, bonito, ariacó, raia e uritinga (47,42%, com média
de 9,48%); grupo 2 – tibiro, guarajuba, cação, cangatan, cururuca e cavala
(29,09%, com média de 4,85%); grupo 3 - xareu, cornuda e coro-branco
(10,16%, com média de 2,54%); grupo 4 – corvina, coró-marinheiro, cara-
peba, pescada, galo, camurim e beijupirá (9,17%, com média de 1,31%);
grupo 5 – dourado, flamengo, cavala-empinge, enchova, camurupim,
pargo e lixa (4,16%, com média de 0,42%) – Figura 9.2.

50

45

35
Frequência de entrada

30

25

20

15

10

0
1 2 3 4 5
Grupos

Figura 9.2 – Variação da frequência de desembarque dos cinco grupos de espécies no terminal pes­
queiro de Tutóia e sujeitas a 1ª comercialização, no período dezembro/2013 – setembro/2014.

Na ausência de informações sobre esforço de pesca, os dados


sobre o atributo rendimento da captura (P/N), estimado por divisão da
produção total de cada espécie pelo número de entradas no entreposto,
refletem sua abundância individual nas áreas de pesca, com classifi-
cação em sete grupos: grupo 1 - cururuca (1.039,0 kg); grupo 2 – serra,
bonito, cangatan e pargo (357,1 kg); grupo 3 – corvina, cambuba, uri-

190
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

tinga, guarajuba e ariacó (122,6 kg); grupo 4 –raia, tibiro, cação e cavala
(65,0 kg); grupo 5 - flamengo, coró-branco, camurupim, coró-mari-
nheiro, agulhão, paru, cornuda, beijupirá e cavala-empinge (35,3 kg);
grupo 6 – galo, lixa, enchova, xaréu e pescadas (21,6 kg); e grupo 7 – ro-
balo, dourado e carapeba (9,0 kg) – Figura 9.3.

1.200,0

1.000,0

800,0
% da produção

600,0

400,0

200,0

0,0
1 2 3 4 5 6
Grupos

Figura 9.3 – Variação do rendimento dos seis grupos de espécies desembarcadas no terminal pes­
queiro de Tutóia, e sujeitas a 1ª comercialização, no período dezembro/2013 – setembro/2014.

O preço pago ao produtor ao nível de 1ª comercialização, ou seja,


quando o pescado é repassado aos donos dos entrepostos (barracões)
variou de R$ 1,74 (tibiro) a R$ 10,88 (robalo), podendo-se classificar o
pescado em cinco grupos de espécies de acordo com esse atributo, com
seu valor médio entre parênteses: grupo 1 - robalo, cavala-empinge, en-
chova e cavala (R$ 10,25); grupo 2 - pescadas, ariacó, corvina, beijupirá,
cornuda, flamengo, coró-branco, galo, serra e camurupim (R$ 7,64);
grupo 3 - cações, uritinga, dourado e agulhão (R$ 5,88); grupo 4 - guara-
juba, xaréu, cururuca, bonito, carapeba, cavalinha, cangatan, coró-ma-
rinheiro, pargo e cambuba (R$ 4,08); e grupo 5 - lixa, paru, raias e tibiro
(R$ 2,49). Deve-se ressaltar o baixo preço de compra atribuído ao pargo,

191
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

provavelmente devido à sub-representação dessa espécie nos desem-


barques, que não reflete a realidade pois este é um dos peixes mais bem
cotados no mercado de exportação da pesca industrial baseada em
Bragança e Belém (Pará).
A receita da 1ª comercialização, resultante da multiplicação da
produção pelo preço de compra, apresentou valores total e por espécie
de R$ 730.758,70 (US$ 332.163) e R$ 22.836,21 (US$ 10.880), com distri-
buição em sete grupos, com participação relativa das espécies na re-
ceita global entre parênteses: grupo 1 - serra (28,99%); grupo 2 - cururuca
e bonito (13,30%); grupo 3 - ariacó, uritinga e cangatan (4,36%); grupo 4
- guarajuba, cavala, robalo, cações e raias (1,59%); grupo 5 - tibiro, coró-
-branco, cornuda e agulhão (0,46%); grupo 6 - beijupirá, xaréu, fla-
mengo, pescadas, galo, cavala-empinge, coró-marinheiro e pargo
(0,15%); e grupo 7 - enchova, camurupim, paru, cambuba, carapeba,
dourado, cavalinha e lixa (0,04%). Na composição da receita a pro-
dução é mais importante do que o preço, pois a logística da distribuição
de pescado se baseia mais na quantidade do que na qualidade. Em
outras palavras, um mercado é mais bem sucedido quando lida com
uma grande variedade de espécies, em quantidades e preços variá­veis,
pois a demanda pelo consumidor será tanto mais atraente quanto mais
diversificada for a oferta de pescado, além do fato de que barateia os
custos com transporte, conservação e manuseio. As seis espécies dos
três primeiros grupos são responsáveis por 85,7% da receita global de
pescado, o que confirma o raciocínio anterior, já que estas não são as
mais valiosas (Figura 9.4).

192
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

300 12,00
Receita Preço
250 10,00

Preço de compra (R$/kg)


Receita (R$) x 1000

200 8,00

150 6,00

100 4,00

50 2,00

0 0,00
Robalo
Impim
Enchova
Cavala
Pescada
Ariacó
Corvina
Beijupirá
Cornuda
Flamengo
Coro Branco
Galo
Serra
Camurupim
Cação
Uritinga
Dourado
Agulhão
Guarajuba
Xareu
Cururuca
Bonito
Carapeba
Cavalinha
Cangatan
Coró Marinheiro
Pargo
Cambuba
Lixa
Paru
Raia
Tibiro
Figura 9.4 – Variação do preço de compra e receita correspondente das espécies desembarcadas no
terminal Pesqueiro de Tutóia, e sujeitas a 1ª comercialização em seus entrepostos de venda, no pe­
ríodo dezembro/2013 – setembro/2014.

9.1.1 Relações de comercialização

A grande dispersão e a falta de correspondência entre os valores


do rendimento e da frequência de entrada são evidentes em pratica-
mente todas as espécies no estágio de 1ª comercialização, com destaque
para as discrepâncias observadas em relação a cururura, ariacó, raias,
uritinga, tibiro, guarajuba, cavala, xareu, agulhão, cornuda e coro-
-branco, indicadas por elevados valores da frequência e baixos valores
do rendimento. Esses resultados foram estatisticamente confirmados
pelo modelo potencial de correlação ao indicar ausência de depen-
dência significante entre as variáveis sob análise (Figura 9.5).
O volume de entrada de peixes no entreposto varia bastante
entre espécies e reflete sua abundância nas áreas de pesca e, por ex-
tensão, na plataforma continental. A produção bruta em intervalos de

193
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

1200,0

1000,0

800,0
Rendimento

600,0
y = 29,88e0,0292x
R2 = 0,3084
400,0

200,0

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Frequência
Figura 9.5 – Equação de regressão entre rendimento e frequência de entrada do pescado no processo
de 1ª comercialização no terminal pesqueiro de Tutóia, no período dezembro/2013 – setembro/2014.

tempo (mês, trimestre, ano) dá uma idéia da quantidade de pescado


disponível para comercialização e consumo, enquanto sua frequência
no entreposto particulariza sua participação individual, que é um re-
flexo da hieraquia de dominância das espécies na biocenose.
Portanto, a existência de correlação estatisticamente significante
(R = 0,7453) entre frequência e produção reflete essa condição de do-
2

minância variável em função da espécie e mostra que a demanda é di-


retamente proporcional à oferta, ou seja, as espécies mais abundantes
sempre estarão disponíveis para consumo (Figura 9.6). No entanto, o
grau de correlação mostrou-se apenas mediano e com elevado grau de
variação (26,4%) não explicada pela regressão, devido a discrepâncias
no rendimento de algumas espécies que podem ser resultantes de ví-
cios no controle da produção pesqueira. Por exemplo, espécies como a
cururuca e a cavala apresentam a mesma frequência (28), mas a pri-
meira tem rendimento (1.039,0 kg/N) 17 vezes maior do que a segunda
(61,l kg/N), ou ainda corvina e carapeba que têm a mesma frequência

194
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

(10), mas a primeira tem rendimento (182,9 kg/N) 5 vezes maior do que
a segunda (36,8 kg/N) – ver Tabela 9.1.

90

80 y = 9,3027Ln(x) - 38,367
R2 = 0,7453
70

60
Frequência

50

40

30

20

10

0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Produção (kg)
Figura 9.6 - Regressão entre frequência de entrada e produção do pescado no processo de 1ª comer-
cialização no terminal pesqueiro de Tutóia, no período dezembro/2013 – setembro/2014.

Em resumo, uma espécie aparece com mais frequência no entre-


posto porque seu nível de produção é maior, mas a maior frequência
não se traduz em maior rendimento, ou seja, produção por entrada
(R2 = 0,3867 - Figura 9.7). O motivo pode ser o fato de que o rendimento
é proporcional à abundância específica no desembarque e, por conse­
quência, nas áreas de pesca.
Agora, não se pode desconsiderar o preço de compra pelo pri-
meiro atravessador nesta situação, pois o volume de produção e a qua-
lidade do pescado no manuseio podem também introduzir modifica-
ções na atratividade do pescado para comercialização. Em outras
palavras, coloca-se mais pescado para venda porque ele é mais abun-
dante e/ou mais valioso.
A Figura 9.8 evidencia a enorme dispersão dos dados relativos
aos atributos produção e preço de compra, o que elimina qualquer possi-
bilidade de correlação significante entre os mesmos, como mostram as

195
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

equações de regressão das Figuras 9.9 e 9.10. Assim, pode-se concluir


com razoável margem de segurança que a comercialização dessas es-
pécies trabalha com um sistema de demanda insatisfeita, ou seja, a
compra de pescado não depende nem da quantidade nem do preço,
sendo a primeira uma condição natural das espécies no meio ambiente,
e a segunda um conjunto de fatores relacionados com aspecto e sabor
do pescado, qualidade sanitária e preferência pelo consumidor em
função de fatores socioculturais. Portanto, podem-se aventar as hipó-
teses de que (1) o preço de venda das espécies independe de sua abun-
dância nas áreas de pesca, (2) a comercialização das espécies compo-
nentes é estimulada por sua produção pesqueira e, portanto, por sua
frequência de entrada nos entrepostos, tendo em vista o nível relativa-
mente elevado de correlação significante entre essas variáveis.

600,0

500,0
Índice de Rendimento (kg/N)

400,0

y = 22,85e0,0508x
300,0 R2 = 0,3867

200,0

100,0

0,0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Frequência

Figura 9.7 - Regressão entre índice de rendimento e frequência de entrada do pescado no processo
de 1ª comercialização no terminal pesqueiro de Tutóia, no período dezembro/2013 – setembro/2014.

196
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

40 12,00

35
10,00
Produção anual (kg x 1000)

30

Preço de compra (R$)


8,00
25

20 6,00

15
4,00
10
Produção 2,00
5
Preço
0 0,00
Serra

Curucaca

Bonito

Cangatan

Uritinga

Ariacó

Raia

Guarajuba

Tibiro

Cação

Corvina

Cvala

Agulhão

Coró Branco

Cornuda

Xareu

Marinheiro

Pargo

Beijupirá

Flamengo

Galo

Pescada

Impim

Camurim

Camurupim

Enchova

Dourado

Cavalinha
Espécies

Figura 9.8 - Variação do peso da produção e do preço de 1ª comercialização das espécies de peixe
desembarcadas em Tutóia, no período dezembro/2013 - setembro/2014.

12,00

10,00
Preço de 1ª. comercialização

8,00
y = 7,5448x-0,0381
R2 = 0,0355
6,00

4,00

2,00

0,00
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27
Produção (kg x 1000)

Figura 9.9 - Regressão entre produção e preço de 1ª comercialização do pescado no terminal pes­
queiro de Tutóia, no período dezembro/2013 setembro/2014.

197
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

12,00

10,00
Preço de 1ª. comercialização (R$)

8,00
y = 8,1601x-0,0756
R2 = 0,05
6,00

4,00

2,00

0,00
0 200 400 600 800 1000 1200
Índice de rendimento (kg/N)

Figura 9.10 - Regressão entre índice de rendimento e preço de 1ª comercialização do pescado no


terminal pesqueiro de Tutóia, no período dezembro/2013 setembro/2014.

A inexistência de correlação entre preço das espécies na 1ª comerciali-


zação e seu índice de rendimento mostra que essas variáveis têm im-
portância econômica equivalente e que sua preferência é ditada pela
quantidade e não por seu preço, significando que o setor pesqueiro
aproveita todo o pescado capturado, para o qual há destinos variados
em função do seu valor de mercado o que confirma o caráter genera-
lista da estratégia de pesca. No entanto, é óbvio que o valor comercial
do pescado sempre será um poderoso fator de desenvolvimento do
setor pesqueiro no sentido de se buscar o aprimoramento das táticas
de captura dirigida para espécies mais abundantes e/ou mais valiosas.
A forma de aproveitamento tecnológico depende não só do valor
comercial da espécie, mas também de sua condição sanitária e aspecto
físico, pois os exemplares que sofreram manuseio inadequado perdem
preço e precisam ser de preferência, salgados, causando uma dimi-
nuição significativa do seu valor comercial. Contudo, isto não reduz
necessariamente o grau de demanda pelo mercado, pois existem vários
níveis de poder aquisitivo dos consumidores internos e externos que

198
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

permitem o aproveitamento de toda a produção. Aparentemente, não


há descarte nas pescarias, pelo que foi possível observar-se no mercado
do peixe de Tutóia e pela diversificação das formas de processamento
do pescado.
As características de pesca generalista com redes e espinhéis de
anzóis sugeridas por esses resultados são também corroboradas pela
extraordinária variabilidade dos desembarques individuais por es-
pécie, que se evidencia através dos elevados valores do coeficiente de
variação (C.V.), alguns dos quais chegam a mais 100% como conse­
quência da também elevada assimetria positiva (Tabela 9.2). Os fatores
causais desse fenômeno podem ter origens diversas, tais como: (a) exi-
guidade do universo amostrado, cujo peso de 133,5 t representa apenas
6,5% da produção total de peixes em Tutóia/Araioses (2.055,4 t); (b)
variações espaciais da abundância do pescado no âmbito da área de
pesca; (c) grande diversidade específica da biocenose; (d) mudanças
estacionais nas táticas de pesca em função do clima.

Tabela 9.2 – Dados da frequência de entrada (N), e amplitude (A), média (X), desvio-
padrão (DP) e coeficiente de variação (C.V.) do índice de rendimento das espécies
desembarcadas em Tutóia, no período dezembro/2013 - setembro/2014.
Espécie N A (kg) X (kg) DP (kg) C.V. (%)
Agulhão 18 8 – 134 35,9 37,2 103,6
Ariacó 58 5 – 447 96,2 79,3 82,5
Bagre 2 30 – 366 198,0 237,6 120,0
Beijupirá 7 6 – 82 31,4 31,0 98,5
Bonito 62 29 - 2055 387,0 427,5 110,5
Cação 32 7 – 288 65,1 54,1 83,0
Cambuba 1 -- 118,0 -- --
Camurim 8 3 – 22 10,2 6,8 66,1
Camurupim 2 34 – 40 37,0 4,2 11,5
Cangatan 37 10 – 924 297,7 189,3 63,6
Carapeba 3 22 – 34 26,0 6,9 26,6
Cavala 27 3 - 206 62,8 53,9 85,8
Cavalinha 1 -- 32,0 -- --

199
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Cornuda 16 5 – 74 31,3 21,6 68,9


Coro-branco 19 6 – 116 35,0 28,3 60,6
Coró-marinheiro 9 2 – 87 36,6 32,6 89,3
Corvina 9 16 – 672 187,2 268,5 143,4
Cururuca 30 40 - 2622 1.056,0 624,6 59,1
Dourado 5 6 – 10 8,4 1,7 19,9
Enchova 3 3 – 40 21,0 18,5 88,2
Flamengo 5 11 – 106 42,4 38,5 91,0
Galo 8 6 – 75 23,8 24,6 103,4
Guarajuba 36 8 – 682 106,4 128,6 120,9
Cavala-empinge 4 14 – 48 30,5 18,0 59,0
Lixa 1 -- 24,0 -- --
Pargo 1 -- 252,0 -- --
Paru 6 5 – 80 29,0 29,5 101,9
Pescada 11 2 – 67 20,0 17,4 86,7
Pescada-amarela 2 7 – 12 10,0 3,5 37,2
Raia 58 6 – 308 69,8 62,4 89,4
Serra 80 18 - 5183 446,0 694,1 155,7
Tibiro 46 5 – 540 70,0 91,6 131,7
Uritinga 57 7 – 766 106,0 126,3 119,6
Xaréu 18 6 – 77 19,0 18,9 98,8

9.2 Camarões
O camarão desembarcado no Porto dos Tatus é vendido direta-
mente para os atravessadores, pelo preço de R$ 10,00/kg, num processo
muito rápido, pois logo após o desembarque da captura no “porto”,
esta é levada imediatamente para pesagem e venda. A comercialização
é feita por quilo, com pesagem em uma balança de prato (Figura 9.11)
e a sujeira do produto é mantida para se tentar algum ganho no peso.
Os primeiros compradores (atravessadores) transportam o ca-
marão em caixas plásticas e sacos de nylon até suas residências, onde é
realizado o beneficiamento, que eleva o preço do produto para
R$ 20,00/kg. Numa segunda etapa, o produto processado é transpor-

200
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

tado de moto ou ônibus para o principal destino secundário, no caso o


Mercado da Quarenta, em Parnaíba.

Figura 9.11 – Momento da pesagem para comercialização do camarão no Porto


dos Tatus.

Os custos com a operação de pesca são basicamente atribuídos à


compra de combustível utilizado no motor-de-rabeta, mas não im-
pactam os outros itens de despesa (rancho, gelo e outros suprimentos)
devido à curta duração (em torno de 4 horas) das viagens de pesca. A
fabricação do material de pesca, no caso o jiqui, tem também um im-
pacto de baixa intensidade sobre os custos operacionais, pois a estru-
tura do jiqui é montada pelo próprio pescador, além do fato de ser
composta de materiais de fácil aquisição e baixo valor como aro de bi-
cicleta, rede de nylon, bóia de marcação feita com garrafa pet e pedra
para servir como garateia.

9.3 Siri

O comércio de siris desembarcados do Porto dos Tatus é reali-


zado por meio de atravessadores que compram o produto diretamente

201
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

dos pescadores. O destino primário deste exige sua organização em


cordas de quatro indivíduos, atados com palha de carnaúba (Figura
9.12), que são repassadas para o destino secundário representado por
um segundo grupo de atravessadores, pelo preço de R$ 3,00 - 5,00.
Assim, ocorre outra variação no preço em função do tamanho dos indi-
víduos e da demanda, expresso na transferência para o elo seguinte da
cadeia por um preço de R$ 2,00 - 2,50 acima do valor de compra.
O transporte dos siris é realizado em diferentes veículos de loco-
moção, como ônibus de transporte urbano e motocicletas para as locali-
dades mais distantes, e bicicleta para vendas na própria comunidade.
Essas localidades na cidade de Parnaíba são: Ponte Simplício Dias com o
maior escoamento do produto, e nas feiras locais como a Feira da
Caramuru e Rotatória do Mirante. Em termos quantitativos, a comuni-
dade recebe a menor parte da produção, provavelmente porque o preço
de venda mantém um valor igual àquele praticado na cidade de Parnaíba.

Figura 9.12 - Amarração dos siris em cordas, para comercialização.

202
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

9.4 Ostras

Todos os desembarques foram acompanhados no Porto dos


Tatus, com as ostras armazenadas em sacos de nylon de 50 kg (Figura
9.13) e transportadas em caminhões abertos e, mais recentemente, fe-
chados, sempre acompanhando o caranguejo-uçá, e tendo como destino
principal a cidade de Fortaleza, no Ceará. Neste mercado, o produto foi
comercializado aos preços de R$ 80,00 por saco para a ostra de pedra
(Crassostrea brasiliana), e R$ 60,00 por saco para a ostra de raiz (C. rhizo-
phorae), respectivamente numa relação direta com o tamanho e peso dos
indivíduos. Esses bivalves foram comercializados também sob a forma
de filé, nesse caso ao preço de R$14,00/kg independente da espécie.

Figura 9.13 – Ostras armazenadas em sacos de nylon, para o transporte.

9.5 Marisco

O processo mais frequente de comercialização do marisco ocorre


da seguinte forma: (1) os catadores entregam o produto já limpo para o

203
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

ATRAVESSADOR 1, morador da própria região, responsável por coletar


uma produção semanal na faixa de 440 – 500 kg, ao preço de R$ 3,50/kg;
(2) esse produto é repassado ao ATRAVESSADOR 2 por um preço de
R$ 3,80 - 4,00, o qual fica encarregado de fazer o transporte do produto
congelado em caixas de isopor (Figura 9.14) para o destino final do mer-
cado de consumo; (3) esse destino, que pode ser secundário ou terciário,
é atingido por meio de transporte do marisco em veículo utilitário de
pequeno porte, ou caminhão-frigorífico e avião, dependendo da dis-
tância em relação aos locais de captura e/ou desembarque.

Figura 9.14 - Meio de transporte do marisco para os centros consumidores.

Com base em informações empíricas dos marisqueiros, para se


obter uma produtividade média de 5,5 kg da carne (miolo) são neces-
sários 50 kg de marisco em estado bruto, contido em um saco padrão.
O produtor, aqui denominado marisqueiro, faz 12 viagens/mês para
prospecção e coleta dos indivíduos.
Como a produção média anual por marisqueiro é de 6.156,2 kg
inteiro, significa que a produtividade, em termos dos períodos anual e
mensal, é de 677,0 kg e 67,7 kg de carne (miolo), respectivamente.

204
COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO

Considerando o preço de R$ 3,50 cotado pelo atravessador (março de


2015), um marisqueiro pode auferir uma renda mensal de R$ 236,95 e
uma renda anual de R$ 2.369,50 gerada em 10 meses de trabalho.
Assim, esses são os valores líquidos finais, desprezando-se os custos de
produção e processamento por falta dos dados pertinentes.

9.6 Estrutura de apoio à comercialização

Um dos principais critérios de seleção para a localização de um


Terminal Pesqueiro é a profundidade da entrada do porto e do canal de
acesso, que deve admitir a passagem de barcos com, pelo menos, 15
metros de comprimento total e calado de 1,5 - 2,0 m. Mesmo que o
canal praticamente seque nas baixas das marés vivas da costa norte, as
altas das marés mortas estão geralmente acima dos 2 m e, assim, um
barco de médio porte poderia aportar em condições de segurança em
quase todas as marés. O fator principal seria a ação das ondas, visto
que se um barco encalhar na barra e por isso ficar exposto a intempé-
ries climáticas, os riscos de naufrágio e perda total seriam elevados.
Outro aspecto fundamental na escolha dos locais de desembarque
consiste dos meios de acesso a outras cidades e/ou centros de consumo.
A maior parte dos portos comerciais de pesca tem de exportar seus pro-
dutos para outras zonas e isto se faz geralmente por via terrestre, em
caminhões ou carros-frigoríficos, o que torna a malha viária de funda-
mental importância para viabilizar a distribuição do pescado.
A seguir são apresentadas algumas informações importantes
para subsidiar prováveis ações de instalação de um Terminal Pesqueiro
na cidade de Tutóia, por ser esta a que apresenta as melhores condições
socioeconômicas para o desenvolvimento integrado da cadeia produ-
tiva da pesca no âmbito do Delta do Parnaíba.
No contexto do apoio logístico às viagens de pesca quanto ao
item de despesa “gelo”, existe uma fábrica em Tutóia com capacidade
máxima instalada para a produção diária (24 h) de 70 t de gelo em es-
cama. Essa quantidade é produzida por duas máquinas, das quais
apenas uma é geralmente requisitada para esse fim, havendo ação si-

205
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

multânea das duas quando ocorre uma demanda excepcional pelo pro-
duto. As fases de processamento do gelo são as seguintes:
• A fábrica se abastece com a água de três poços de proprie-
dade do empreendimento.
• Com as duas máquinas em operação simultânea, são gastos
10 mil litros de água por hora, com distribuição destinada a
todo o sistema hidráulico necessário ao funcionamento da
fábrica.
• Grande parte da frota motorizada de Tutóia se abastece de
gelo nessa fábrica, o qual é vendido sob duas modalidades:
(a) no varejo, acondicionado em basquetas de 25 litros ao
preço total de R$ 3,50 e unitário de R$ 0,14/kg; (b) no atacado,
a quantidade de 1.000 kg é vendida por R$ 100,00 com preço
unitário de R$ 0,10/kg.
• No processo de abastecimento dos barcos, o gelo é carreado
do depósito diretamente para o porão de estocagem do pes-
cado através de um cano de PVC, com capacidade de escoa-
mento de 1.000 kg de gelo a cada 3 minutos.
• Fluxograma de fabricação do gelo:

Movimentação
d’água
Caixa d’água
Estocagem
Poço Cisterna Gelo
em Câmara
Caixa d’água
Filtro
Cloro

206
CAPÍTULO PROCESSAMENTO DO
X
PESCADO

10.1 Análise da qualidade para consumo

D entre os produtos de origem animal, o pescado é um dos


mais susceptíveis ao processo de deterioração, devido às suas caracte-
rísticas intrínsecas como: pH próximo à neutralidade, elevada ativi-
dade de água nos tecidos, alto teor de nutrientes facilmente utilizáveis
pelos microrganismos, acentuado teor de fosfolipídios e rápida ação
destrutiva das enzimas presentes nos tecidos e nas vísceras (Bressan &
Perez, 2000).
Os vários tipos de pescado têm sua microbiota própria que é in-
fluenciada por alguns fatores dentre os quais se cita: a contaminação de
seu habitat (estuarino, lacustre ou marinho) através de esgotos e/ou
cursos d’água poluídos (BRASIL, 2001). Microrganismos deteriorantes,
assim como os patogênicos, podem ser detectados no pescado princi-
palmente por este possuir uma extensa cadeia produtiva, passando por
etapas de cultivo ou pesca, beneficiamento, conservação, transporte,
distribuição e armazenamento até que alcance a mesa do consumidor.
Várias pesquisas destacam a importância da refrigeração e do
congelamento na extensão do período de vida útil, permitindo que pro-
dutos frescos, possuindo elevada qualidade sensorial, estejam disponí-
veis em locais distantes dos de captura (Vieira et. al, 2004; Guimarães,
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

2000). Desse modo, o trinômio tempo x higiene x temperatura torna-se es-


sencial para assegurar a qualidade do pescado. O tempo se refere à ra-
pidez com que se desencadeiam reações autolíticas e/ou bacterianas
que, por outro lado, estão relacionadas com o grau de higiene das insta-
lações frigoríficas e dos manipuladores do pescado. Somados a baixas
temperaturas, se devidamente aplicadas, o manuseio adequado evitará
ou pelo menos retardará as reações deteriorantes (Vieira et al., 2004).
O controle de qualidade dos alimentos requer um rigoroso mo-
nitoramento de todo o processo produtivo, desde a captura, passando
pelas etapas de comercialização (Figura 10.1), processamento dos pro-
dutos atendendo as boas práticas de manipulação, até seu consumo.

Figura 10.1 - Vista parcial de um entreposto para comercialização de pescado no Porto de Tutóia,
Delta do Parnaíba.

10.1.1 Análise das etapas do processamento

As amostras de pescado inteiro e eviscerado foram obtidas do


porto de Tutóia no Estado do Maranhão e transportado sob refrige-

208
PROCESSAMENTO DO PESCADO

ração até as dependências do Laboratório de Microbiologia Ambiental


e do Pescado (LAMAP) em Fortaleza, Ceará. As amostras foram acon-
dicionadas em caixas isotérmicas e transportadas via aérea.
Foram analisadas amostras do músculo e da pele de duas espé-
cies de peixe conhecidas popularmente como timbiro e cururuca, de
acordo com as determinações da legislação brasileira vigente para ali-
mentos (Resolução RDC nº 12 /2001 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), sob os seguintes padrões microbiológicos:
• Estafilococos coagulase positiva
• Presença de Salmonella
• Escherichia coli
• Pseudomonas spp.
Apesar de não serem exigidos pela legislação nacional vigente,
Escherichia coli e Pseudomonas spp. tiveram presença avaliada por serem
conhecidos como patogênicas e que, portanto, não devem ser encon-
trados no pescado.
No Quadro 10.1 encontramos os limites microbiológicos para
amostras de pescado in natura, resfriados ou congelados que não serão
consumidos crus.

Quadro 10.1 - Limites estabelecidos pela legislação (RDC nº12 – ANVISA) para peixe
processado in natura resfriado ou congelado não consumido cru.
Parâmetros da
Microrganismo
legislação
Estafilococos coagulase positiva (UFC/g) 103
Salmonella (25 g) Ausência

A avaliação da qualidade apresentou as seguintes etapas:


1. Foram amostrados filés de cada peixe contendo somente mús-
culo e amostras de pele com auxílio de equipamentos esterilizados. As
amostras foram maceradas com auxílio de cadinho e pistilo estéreis
para posterior homogeneização em diluente apropriado para cada mi-
crorganismo testado (Figura 10.2).
2. Para análises de Escherichia coli, Pseudomonas e Estafilococos
coagulase positivo foram pesados 25g do material macerado e colo-

209
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

cados em 225 ml de solução salina (10-1). Diluições seriadas foram feitas


a partir desta até 10-6 (Figura 10.3).
3. Para Escherichia coli, a técnica utilizada foi a de tubos múltiplos
com alíquotas das diluições sendo inoculadas em tubos com meio de
cultura Caldo Lauril MUG e incubados em estufa a 35°C por 48h
(Figura 10.4).
4. Para Pseudomonas, a técnica utilizada foi a dos tubos múltiplos
com alíquotas das diluições sendo inoculadas em tubos com meio de cul-
tura Caldo Asparagina e incubados em estufa a 35°C por 24h. Depois
deste tempo, foi inoculado em meio seletivo Agar Cetrimide (Figura 10.5).
5. Para a quantificação de Estafilococos coagulase positivo foi
utilizada uma alíquota de 200 µL das diluições e plaqueadas (técnica
de spread plate) sobre o meio de cultura Ágar Baird Parker com incu-
bação a 35°C por 48h.
6. Para as análises de Salmonella foram pesadas 25 g de amostra e
colocadas em Caldo Lactosado e incubadas overnight em estufa a 35°C
por 24 h para uma etapa de pré-enriquecimento. Depois o material foi
inoculado em meios seletivos Agar Hektoen e Agar Verde Brilhante.
7. A metodologia utilizada foi baseada nas determinações do
Bacteriological Analytical Manual (BAM, 2009).
Os resultados das análises estão a seguir descritos (Tabela 10.1):

Tabela 10.1 - Resultados das análises da pele (P1) e músculo (P2)


das espécies Timbiro e Coruca.
Contagem
Bactérias indicadoras
P1 P2
Escherichia coli >1100x105 NMP/g >1100x105 NMP/g
Pseudomonas spp. 930 UFC/g 9300 UFC/g
Estafilococos Coagulase positiva <10 UFC/g <10 UFC/g
Salmonella Ausência Ausência

• Não foram detectadas cepas Estafilococos coagulase positiva


nas amostras.
• Não foi detectada presença de Salmonella nas amostras.

210
PROCESSAMENTO DO PESCADO

Figura 10.2 – Processamento das amostras de peixes: a – timbiro, peixe inteiro; b - cururuca, peixe
eviscerado; c - retirada de pele e músculo do timbiro; d - retirada de pele e músculo da cururuca.

Figura 10.3 – Processamento das análises de


peixes para determinação das presenças de
Escherichia coli, Estafilococos coagulase positiva,
Salmonella e Pseudomonas.

Figura 10.5 - Resultado positivo em Agar KF para


detecção de Pseudomonas.
Figura 10.4 - Resultados positivos em Caldo
LaurilTriptoseMug para quantificação de Esche-
richia coli.

211
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

• Foi verificada presença de Escherichia coli nas amostras P1


(pele) e P2 (músculo).
• Foram verificados crescimentos de colônias características de
Pseudomonas sobre a superfície do meio Agar Cetrimide.

De acordo com os resultados das análises e tendo como refe-


rencial os parâmetros microbiológicos da Resolução RDC nº 12 /2001
as amostras estão dentro do padrão exigido para pescado e produtos
de pesca in natura resfriados ou congelados, não consumidos crus,
que usa os parâmetros para Estafilococos Coagulase positiva e de-
tecção de Salmonella.
Entretanto, a presença de contagens elevadas de E. coli indica
condições sanitárias inadequadas no manuseio desse pescado. Da
mesma forma, a presença de bactérias do gênero Pseudomonas é um
indicativo da má qualidade do produto uma vez que estas são indica-
doras de processos de deterioração dos seus tecidos. A multiplicação
dessas bactérias pode ser relacionada com o desrespeito ao trinômio
tempo x higiene x temperatura, que é essencial para assegurar a quali-
dade do pescado.
Outra forma de processamento do pescado ocorre com a apli-
cação da técnica da salga seca, que consiste em colocar sal sobre a su-
perfície dos peixes, geralmente cações e raias de pequeno porte e, em
seguida, empilhá-los e deixar desidratando por alguns dias dentro do
galpão. Posteriormente, estes são colocados para secar sobre lonas, na
parte externa dos galpões na área do próprio terminal, de onde são
transportados para venda em diversas localidades do interior do
Maranhão (Figura 10.6).

212
PROCESSAMENTO DO PESCADO

Figura 10.6 - Produtos de pescado conservados sob a forma de salga-seca.

10.2 Processamento do camarão

Os camarões de água doce das espécies Macrobrachium amazo-


nicus e M. acanthurus, desembarcados no Porto dos Tatus e destinados
a torra, são vendidos na forma in natura diretamente aos atravessa-
dores pelo preço de R$ 10,00/kg. Estes o transportam em sacos de nylon
até suas residências onde o processamento é realizado manualmente
em forno a lenha, utilizando uma lata de 10 litros que vai ao fogo con-
tendo de 4 - 5 litros de água na qual se colocam simultaneamente 7 kg
de camarão e 1 kg de sal de cozinha.
O responsável pela torra mexe o camarão constantemente por
um período de 20 min para que o processo seja homogêneo e todo o
camarão atinja a coloração vermelha, após o que todo o produto é
retirado e posto dentro de uma bacia para resfriamento (Figura 10.7).

213
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

Figura 10.7 – Etapa de resfriamento do camarão após a torra.

A água da primeira torra é reutilizada para o processamento de todo


o produto, não havendo reposição durante o cozimento pois parte
dela é destinada ao processamento de mais 7 kg de camarão e 0,5 kg
sal de cozinha. Devido à perda de água, 20 kg de camarão in natura
rendem 17 kg e 2 kg rendem 1,2 kg após a torra. O produto proces-
sado in natura ou sob refrigeração com gelo dura em torno de 6 meses,
sendo geralmente comercializado no Mercado Público Municipal da
cidade de Parnaíba pelo preço de R$ 20,00/ kg.

10.3 Processamento do marisco

Todo o marisco comercializado passa por um processo de decan-


tação, através do seguinte procedimento: ao chegar da coleta o marisco
inteiro é posto em um reservatório, uma espécie de manilha com água
limpa, onde permanece mergulhado por 24 h para a retirada da areia
presente no interior do indivíduo. O produto, armazenado sob a forma
in natura em sacos de ráfia de 50 kg, é submetido a cozimento para re-
tirada da carne ou miolo (Figura 10.8), que atinge pesos de 5 – 6 kg,
portanto, com rendimento de 10,0 – 12,0%.

214
PROCESSAMENTO DO PESCADO

Figura 10.8 – Cozimento e retirada do miolo do marisco.

215
CAPÍTULO
XI
CONCLUSÕES

1. O Delta do Parnaíba se estende por 19,3 km do litoral mara-


nhense nos municípios de Tutóia e Araioses, e 6,7 km do litoral
piauiense nos municípios de Ilha Grande e Parnaíba. O fato de que a
maior parte do Delta se encontra no estado do Maranhão, com cer-
teza tem influência fundamental sobre a estratégia de pesca e o posi-
cionamento dos centros de desembarque, com ênfase na captura de
peixes e camarões no setor maranhense e de crustáceos (caranguejo-
-uçá) e moluscos (ostras, marisco), no setor piauiense.
2. Os peixes constituem os principais recursos pesqueiros do Delta do
Parnaíba por sua diversidade específica, ampla distribuição geográ-
fica e intensa demanda mercadológica, com destaque para as se-
guintes espécies: serra, Scomberomorus brasiliensis; cururuca,
Micropogonias furnieri; bonito, Euthynnus alleterattus; bagre-can-
gatan, Aspistor quadriscutis; bagre-uritinga, Sciades proops; ariacó.
Lutjanus synagris; raia-lixa, Dasyatis guttata; robalo-flecha,
Centropomus undecimalis
3. O caranguejo-uçá, Ucides cordatus, pode ser considerado como o re-
curso aquático símbolo do Delta, por ser responsável por uma ca-
deia produtiva independente e valiosa que envolve pelo menos
cinco elos e tem como destinos externos diversos mercados com ele-
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

vado poder aquisitivo. Outros recursos são também importantes


para o sistema socioeconômico local, destacando-se camarões de
água doce do gênero Madrobrachium, siris do gênero Callinectes, os-
tras do gênero Crassostrea e bivalves (marisco) do gênero Cyanocyclas
4. Nos dois municípios piauienses do Delta, Ilha Grande detém o Porto
dos Tatus, o segundo mais movimentado do estado, com o privilégio
de concentrar os maiores estoques do caranguejo-uçá e uma riqueza
relativamente elevada de moluscos; Parnaíba tem participação mo-
desta como produtor de pescado, mas se destaca nos aspectos rela-
tivos à recepção e exportação do caranguejo para grandes centros
como a cidade de Fortaleza, no Ceará.
5. Tutóia e Araioses têm comportamento bastante diverso quando se
considera as produções de peixes e dos outros tipos de pescado.
Essas diferenças refletem principalmente a posição geográfica dos
municípios, em que Araioses é beneficiado pela localização mais
centralizada no Delta, com maior influência da zona estuarina, onde
predominam as populações de crustáceo e marisco, enquanto Tutóia,
com maior influência da área marinha da plataforma interna, na
porção ocidental extrema do Delta, privilegia a produção de peixes.
6. Dentre os fatores produtivos pescador, embarcação e apetrecho de pesca,
no Delta do Parnaíba o pescador se destaca como o mais importante,
pelos seguintes motivos: (a) intervenção direta na cata do caran-
guejo-uçá, símbolo desse ecossistema, bem como na coleta manual
de ostras e mariscos; (b) intervenção indireta nas pescarias de peixe
através da manipulação da maior parte dos apetrechos, com des-
taque para rede-de-espera, linha-grozeira, tarrafa, jiqui, landuá e
puçá-de-arrasto.
7. O caranguejo-uçá exerce um relevante papel ecológico ao atuar no
processamento da serrapilheira, no fluxo energético, na bioturbação
do sedimento, e na ciclagem do carbono e da matéria orgânica; ao
mesmo tempo em que promove a oxigenação das camadas mais pro-
fundas do sedimento e, ainda, funciona como um importante bio-
monitor de poluentes.

218
CONCLUSÕES

8. O uso do braceamento, método tradicional de cata, tem-se tornado


muito complicado porque os caranguejos vão cada vez mais fundo
no sedimento, ao que parece como forma de se proteger do exagero
da predação. Como alternativa, os catadores têm recorrido com
maior frequência ao uso do cambito, embora essa técnica acarrete
injúrias físicas como perfurações em diferentes partes do corpo do
animal e perda de quelípodos, que prejudicam sua comer­cia-­
lização in natura.
9. Para se tentar reduzir a elevada mortalidade por transporte viário, a
comercialização do caranguejo tem adotado a seguinte estratégia,
após exclusão dos indivíduos mortos: (a) indivíduos maiores do que
60 mm são resfriados e estocados em caixas térmicas para expor-
tação, acondicionados soltos em caixas com furos protegidos por fo-
lhas de mangue e/ou em esponjas umedecidas; (b) indivíduos me-
nores do que 60 mm são destinados ao mercado interno (região do
Delta) para consumo in natura ou produção de patas e catado.
10. Tendo em vista a diversidade da biocenose em número de espécies,
a grande maioria destas tem como destino primário centros de con-
sumo próximos aos portos de desembarque. As espécies que se
destacam por sua maior abundância e/ou valor comercial têm
Brasília como o principal destino secundário, podendo parte de sua
produção ser vendida internamente em mercados regionais como
Ilha Grande, Teresina e Luiz Correia.
11. O volume de entrada de peixes no entreposto varia bastante entre
espécies e reflete sua abundância nas áreas pesca, sendo a produção
bruta um parâmetro da quantidade de pescado disponível para co-
mercialização e consumo, enquanto a frequência de entrada res-
salta sua participação individual, que é um reflexo da hieraquia de
dominância na biocenose. Isso mostra que a demanda é direta-
mente proporcional à oferta, ou seja, as espécies mais abundantes
sempre estarão disponíveis para consumo.
12. Na composição da receita a produção é mais importante do que o
preço, pois a logística da distribuição de pescado se baseia mais na

219
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

quantidade do que na qualidade. Em outras palavras, um mercado


é mais bem sucedido quando lida com uma grande variedade de
espécies, em quantidades e preços variáveis, pois a demanda pelo
consumidor será tanto mais atraente quanto mais diversificada for
a oferta, além do fato de que barateia os custos de produção.
13. A comercialização do pescado trabalha com um sistema de de-
manda insatisfeita, podendo-se aventar as hipóteses de que (1) o
preço de venda das espécies independe de sua abundância nas
áreas de pesca, (2) a comercialização das espécies componentes é
estimulada por sua produção pesqueira e, portanto, pela fre­quência
de entrada nos entrepostos.
14. Os camarões de água doce são vendidos in natura diretamente aos
atravessadores e, numa segunda etapa processados sob a forma de
“torra”, sendo em ambos os casos estocados sob refrigeração em
gelo por 6 meses e comercializados no Mercado Público Municipal
da cidade de Parnaíba.
15. O marisco comercializado passa por um processo de decantação para
a retirada da areia presente no interior do indivíduo, armazenado
sob a forma in natura em sacos de ráfia e submetido a cozimento para
retirada da carne ou miolo, com rendimento médio de 11,0%.
16. Na estratégia de localização dos pontos de desembarque ficou evi-
dente a escolha de posições geográficas que otimizam o acesso dos
meios de produção aos pesqueiros dos diversos recursos, e a utili-
zação da malha viária para transporte e distribuição do pescado
aos centros de consumo internos e externos.
17. As principais vocações do Delta do Parnaíba, como produtor de
pescado e polo turístico, têm sido historicamente preenchidas em
bases sustentáveis, como se pode atestar pelas seguintes situações:
(a) a grande diversidade de táxons representados por peixes, crus-
táceos (caranguejo-uçá, camarões de água doce e siris) e mo-
luscos (ostras e marisco) determina a generalização das técnicas
de captura e coleta manual com níveis diversos de intensidade;

220
CONCLUSÕES

(b) o caranguejo-uçá é submetido a elevada intensidade de explo-


ração, mas a cadeia de comercialização baseada na exportação
do produto para centros consumidores com elevado poder
aquisitivo atende a demanda insatisfeita, apesar do preço ele-
vado, sob duas premissas: (1) transporte dos indivíduos man-
tidos vivos e atualmente conservados por refrigeração em caixas
isotérmicas para minimizar a mortalidade; (2) preferência por
indivíduos machos com tamanho igual ou maior que o valor
mínimo legal de 60 mm LC, e exclusão quase total das fêmeas
do processo de cata;
(c) os peixes são submetidos a média intensidade de exploração,
pois a grande diversidade das técnicas e apetrechos de pesca
aplicados aos ambientes marinho, estuarino e fluvial ensejam
sua compatibilização com a abundância individual dos diversos
componentes da biocenose e sua demanda hierárquica por mer-
cados externos de maior poder aquisitivo.
(d) os recursos representados por outros crustáceos e moluscos são
submetidos a baixa intensidade de exploração, tendo em vista
os respectivos níveis de abundância, que os qualificam princi-
palmente para a subsistência familiar e a comercialização dos
excedentes nos mercados locais.
18. Como conclusão geral do desenvolvimento desse projeto sobre a
cadeia produtiva da pesca no Delta do Parnaíba, foi possível ob-
servar a ocorrência de uma interação harmônica entre as atividades
relacionadas ao turismo e à exploração pesqueira. Por outro lado,
mantendo o foco sobre a vocação do Delta como produtor de ali-
mento de origem aquática, a equipe responsável pela coleta, aná-
lise e divulgação dos resultados técnico-científico apresenta as se-
guintes sugestões:
(a) Implememtação de melhorias no sistema de captura de peixes a
partir do Porto de Tutóia, com a montagem de infraestruturas
de apoio de embarque/desembarque e facilidades para esto-
cagem do pescado em terra;

221
Alessandra Cristina da Silva Farias, Antonio Adauto Fonteles Filho, Carlos Tassito Corrêa Ivo,
Cezar Augusto Freire Fernandes, Francisca Edna de Andrade Cunha

(b) Implementação de melhorias de cata do caranguejo-uçá, com a


instalação de infraestrutura de recepção e estocagem dos indi-
víduos, e na organização do processo de distribuição do pro-
duto a partir do Porto dos Tatus;
(c) Envolvimento de estudantes e pesquisadores de instituições
universitárias da região, visando ao acompanhamento de todas
as etapas do processo de manutenção sustentável dos recursos
pesqueiros do Delta do Parnaíba.

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GLOSSÁRIO

Agulhão, Strongylura marina; arenque, Anchovia clupeoides; ariacó,


Lutjanus synagris; bagres, fam. Ariidae; bagre-amarelo, Arius spixii;
bagre-bandeira, Bagre marinus; bagre-cangatan, Aspistor quadriscutis;
bagre-gurijuba, Sciades parkeri; bagre-nega-velha, Genidens barbus;
bagre-uritinga, Sciades proops; beijupirá, Rachycentron canadus; cabeçudo,
Arius grandicassis; cação-lixa, Gynglimostoma cirratum; bonito, Euthynnus
alleterattus; cações, Squaliformes; camarão-do-poço, Macrobrachium
acanthurus; camarão-voador, Macrobrachium amazonicum; cambuba,
Haemulon steindachneri; camurupim, Tarpon atlanticus; carapeba,
Diapterus rhombeus; cavala, Scomberomorus cavalla; cavalinha, Scomber
scombrus; cornuda, Sphyrna tiburo; coró-branco, Genyatremus luteus;
coró-marinheiro, Conodon nobilis; corvina, Cynoscion microlepidotus;
cururuca, Micropogonias furnieri; dourado, Coryphaena hippurus;
enchova, Pomatomus saltatrix; espada, Trichiurus lepturus; flamengo,
Carcharhinus acronotus; galo, Selene vomer; guarajuba, Caranx latus;
impim, Acanthocybium solandri; judeu, Menticirrhus americanus; marisco,
Cyanopterus spp.; mero, Epinephelus itajara; ostra-do-mangue, Crassostrea
rhizophorae; ostra-de-pedra, Crassostrea brasiliana; pacamão, Batracoides
surinamensis; pargo, Lutjanus purpureus; paru, Chaetodipterus faber;
peixe-serrote, Pristis pectinatus; pescadas, Cynoscion spp.; pescadinha,
Cynoscion virescens; pescada-amarela, Cynoscion acoupa; pescada-gó,
Macrodon ancylodon; pirocaia, Bairdiella ronchus; raia-lixa, Dasystis
guttata; raias, Rajiformes; robalo-flecha, Centropomus undecimalis; serra,
Scomberomorus brasiliensis; siris, Callinectes spp.; tainhas, Mugil spp.;
tibiro, Oligoplites saurus; xaréu, Caranx hippos.
Apoio

Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA


Ministro: Helder Barbalho

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq


Presidente: Hernan Chaimovich Guralnik

Execução do Projeto
Departamento de Engenharia de Pesca - Universidade Federal do Ceará
Campus do Pici - Fortaleza, Ceará

Coordenação de Pesquisa
Alexandre Holanda Sampaio

Pesquisadores
Alessandra Cristina da Silva Farias (alesuite@gmail.com)
Antonio Adauto Fonteles Filho (afontele@labomar.ufc.br)
Carlos Tassito Corrêa Ivo (ivoctc@globo.com)
Cezar Augusto Freire Fernandes (cezaraff@hotmail.com)
Francisca Edna de Andrade Cunha (f_edna@yahoo.com.br)

Colofão
Gráfica

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