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PEIXESCOMERCIAIS

deMANAUS
Geraldo Santos, Efrem Ferreira, Jansen Zuanon
PEIXES
COMERCIAIS
de
MANAUS
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Revisão Centro Nacional de Informação. Tecnologias
Marina Silva Maria José Teixeira - Edições Ibama Ambientais e Editoração
Helionidia Carvalho de Oliveira - Edições Ibama Edições Ibama
SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA Antônio Calafi - Edições Ibama SCEN Trecho 2, Bloco B - Subsolo Ed. Sede do Ibama
Muriel Saragoussi 70818-900 - Brasília, DF
Projeto Gráfico e Capa Telefone (61) 316 1065
PROGRAMA-PILOTO PARA A PROTEÇÃO DAS Tito Fernandes E-mail: edicoes@ibama.gov.br
FLORESTAS TROPICAIS DO BRASIL
Nazaré Lima Soares Ilustrações
José Myrria e Karl Mokros Financiadores
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS
RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS Fotografias
Marcus Luiz Barroso Barros Efrem Ferreira: páginas 11, 17,21,25,73,103
Michael Goulding: páginas 16,20,24,72,102
DIRETORIA DE FAUNA E RECURSOS PESQUEIROS
Rômulo José Fernandes Barreto Mello Edição
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
COORDENAÇÃO-GERAL DE GESTÃO DE RECURSOS Naturais Renováveis
PESQUEIROS Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea -
José Dias Neto ProVárzea/Ibama
Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/n. Distrito
PROJETO MANEJO DOS RECURSOS NATURAIS Industrial – Manaus-AM – Brasil. 69075-830
DA VÁRZEA Tel: (92) 3613-3083/ 6246/6754/ Fax: (92) 3237-
Coordenador: Mauro Luis Ruffino 5616/6124
Correio Eletrônico: provarzea@provarzea.ibama.gov.br
Página na Internet: www.ibama.gov.br/provarzea.

Catalogação na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

S237p
Santos, Geraldo Mendes
Peixes comerciais de Manaus/ Geraldo Mendes dos Santos, Efrem J. G. Ferreira, Jansen A. S.
Zuanon. –Manaus: Ibama/AM, ProVárzea, 2006.
p. 144, il.: color. ; 27x21cm.

ISBN 85-7300-211-5

1. Peixes. 2. Ictiofauna. 3. Fauna aquática. 4. Recursos pesqueiros. I. Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Gerencia Executiva do Ibama em Manaus / AM. II.
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea. III. Título.

CDU (2.ed.)639.2.053
PEIXES
COMERCIAIS
de
MANAUS
Geraldo Mendes dos Santos
Efrem Jorge G. Ferreira
Jansen A. S. Zuanon
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), pelo apoio à pesquisa, produção e
divulgação do conhecimento.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq), pela bolsa de


pesquisa (GMS) e suporte ao projeto (Processo 3013304/86-6).

À Lúcia Rapp Py-Daniel, Ana Paula Freire e Inês Cristina de Alencar, pela leitura crítica do texto.

Ao José Myrria e Karl Mokros, pelos desenhos e aprimoramento computacional das imagens dos
peixes.

Ao Tito Fernandes, pelo trabalho de editoração.

Ao Michael Goulding, pela cessão de fotos.

Ao Jamil Tannús Neto, pelo trabalho em nanquim dos desenhos e esquemas.

Aos feirantes, pelo fornecimento de informações sobre o pescado.

Aos revisores do Ibama pelo esmero na correção do texto.

A todos aqueles que de uma forma ou outra contribuíram para a realização desta obra.
SUMÁRIO
Prefácio 7

Apresentação 8

Prólogo 9

Introdução 10

Metodologia 11

Considerações sobre o pescado em Manaus 12

Considerações sobre taxonomia 14

Chave de identificação para as ordens de peixes 15

Osteoglossiformes 17

Arapaimatidae 18

Osteoglossidae 19

Clupeiformes 21

Pristigasteridae 22
25 Characiformes

26 Acestrorhynchidae

27 Anostomidae

39 Characidae

56 Curimatidae

61 Cynodontidae

64 Erythrinidae

66 Hemiodontidae

69 Prochilodontidae

73 Siluriformes

74 Auchenipteridae

76 Callichthyidae
Doradidae 77

Loricariidae 69

Pimelodidae 80

Perciformes 103

Cichlidae 104

Sciaenidae 125

Bibliografia geral 127

Glossário pictórico 132

Índice de nomes comuns 138

Índice de nomes científicos 141


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PREFÁCIO
Os recursos pesqueiros da Amazônia têm sido O acompanhamento da atividade pesqueira constitui-se
tradicionalmente subestimados na sua importância no melhor método de amostragem das populações
pelas autoridades governamentais. Prova disso é a naturais de peixes, fornecendo informações não
quase inexistência de séries de dados estatísticos e apenas sobre a sua biologia e parâmetros
informações científicas sobre a pesca nos diagnósticos populacionais, mas também, e principalmente, sobre
econômicos, informes ecológicos ou até publicações os efeitos da exploração pesqueira sobre a densidade
turísticas sobre a região. As publicações do IBGE - dos estoques. Assim, o ProVárzea/Ibama vem desde o
Anuário Estatístico do Brasil e Recursos Naturais e ano de 2000 realizando o monitoramento do
Meio Ambiente nem sequer mencionam os recursos desembarque pesqueiro em 16 municípios ao longo
pesqueiros, e os recursos hídricos são apenas da calha dos rios Solimões e Amazonas com o intuito
mencionados em função do potencial energético. de disponibilizar informações para subsidiar políticas
públicas e medidas de ordenamento pesqueiro para a
A pesca na Amazônia tem um caráter artesanal e região.
mesmo assim, o peixe representa a principal fonte de
proteína para consumo humano, particularmente das Um dos principais portos de desembarque na
populações que habitam as margens dos rios e lagos Amazônia é o porto de Manaus que desembarca, em
da região. O consumo per capita de pescado nas média, mais de 20 mil toneladas/ano e um número
cidades de Manaus e Itacoatiara foi estimado entre 100 diverso de espécies. E foram essas espécies que foram
e 200 g/dia na década de 70 e mais recentemente objeto de análises que resultou esta obra que agora
outros autores indicam que as populações rurais apresentamos.
ribeirinhas consomem cerca de 500 g/dia.
A presente publicação documenta de maneira
Estimativas mais conservadoras da produção extremamente didática e com uma riqueza de
pesqueira indicam valores de 200.000 t/ano para toda informações e detalhes as principais espécies
a Bacia, sendo a maior parte correspondente ao desembarcadas e comercializadas no porto de Manaus
território brasileiro. Estes valores representam entre 20 e vem contribuir para o melhor conhecimento desta
e 25% do rendimento total da pesca (marinha e de rica fauna aquática amazônica que muito ainda
água doce) do Brasil, o que mostra a importância dos necessita ser pesquisada.
recursos pesqueiros da região no contexto nacional.

Mauro Luis Ruffino


Coordenador do ProVárzea/Ibama
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APRESENTAÇÃO
O Mercado Municipal “Adolpho Lisboa” de defendidas e examinadas, a experiência de
Manaus, é uma instituição centenária, e um inúmeras viagens e expedições de campo,
dos mais belos pontos turísticos da cidade. O permeadas por extenuante esforço físico, calor
Mercado e as feiras espalhadas pelos bairros extremo, muita chuva e infinita curiosidade.
são um museu com mostruário itinerante, pois
ao longo do ano, a composição das espécies Para fechar a apresentação deste lindo livro,
de pescado à venda vai se sucedendo. que honra a ictiologia brasileira, escolhi o que
Algumas, que ora são muito abundantes, vão o grande ictiólogo americano Eigenmann
sendo substituídas por outras que, às vezes, escreveu em 1912, sobre a Amazônia, num de
só aparecem numa época bem definida, como seus relatórios de expedição:
a sardinha. Assim, visitar o Adolpho Lisboa, ou
cruzar com uma feira ao vagar pela cidade, é “Although all other things were sacrificed to * "Embora todas as outras coisas tenham sido
uma delícia para os olhos do biólogo atento. the two purposes mentioned, I cannot claim sacrificadas aos dois propósitos mencionados,
that I accomplished them to my entire não posso afirmar que eu os realizei com
Este é um livro oportuno, escrito por três dos satisfaction. The conditions were all so novel, inteira satisfação. As condições eram tão
maiores ictiólogos brasileiros, pesquisadores the difficulties of travel so great, the heat so novas, as dificuldades de viagem tão grandes,
do Instituto Nacional de Pesquisas da intense, the fauna so rich, the time and the o calor tão intenso, a fauna tão rica, o tempo e
Amazônia, em Manaus, que faz jus à money at my command so limited, that I now o dinheiro a minha disposição tão limitados,
espetacular ictiofauna a que se refere - a mais occasionally regret that at this or that point I que agora ocasionalmente me arrependo que
rica do planeta, os peixes da Amazônia. As did not use different means, or devote more em um ou outro ponto não usei meios
imagens, o texto de conteúdo científico time to the objects in view. But to offset this diferentes, ou dediquei mais tempo aos
rigoroso, embora acessível ao não regret I have many solid satisfactions.” * propósitos visados. Mas para compensar este
especialista, são primorosos. Assim, lê-lo ou pesar tenho satisfações muito sólidas .”
apenas folheá-lo é um êxtase. Nele, estão
contidos anos de meticuloso estudo de
material de museus, conversas com colegas de Miguel Petrere Jr.
diferentes partes do país e do mundo, aulas UNESP – Departamento de Ecologia
assistidas e ministradas, dissertações e teses Câmpus de Rio Claro (SP)
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PRÓLOGO
Manaus ocupa uma posição estratégica no iniciativa que se insere nesse contexto, tendo variação na distribuição geográfica de certas
cenário amazônico, situada às margens dos como objetivo o fornecimento de informações espécies. Além disso, certos tipos de peixes
rios Amazonas e Negro, na parte central da biológicas básicas sobre as principais espécies acabam não chegando aos mercados em
maior bacia hidrográfica do planeta. É a maior de peixes comercializadas no mercado função do desinteresse pelo seu consumo, por
metrópole da região, e conta com um mercado manauara. A carência por informação é razões estritamente culturais. Podemos
pesqueiro de extraordinária importância. tamanha que quando uma publicação desse assegurar, contudo, que este livro pode ser
Dados estatísticos das últimas décadas dão tipo é lançada é comum as pessoas esperarem utilizado como base para a identificação da
conta de uma produção média anual em torno que ela venha suprir todas as lacunas maioria das espécies comerciais encontradas
de 30.000 toneladas de pescado, resultando existentes, como foi o caso de dois livros nos mercados das principais cidades da calha
numa intensa atividade sócioeconômica, da publicados anteriormente sobre o tema: do rio Amazonas, pois é desse sistema
qual participam milhares de pessoas, tanto em “Catálogo de peixes comerciais do baixo rio aquático que a maioria do pescado regional é
Manaus quanto no interior. Tocantins” de G.M. Santos, M. Jegu & B. proveniente.
Uma das características mais marcantes do Merona, de 1984, e “Peixes comerciais do As ilustrações das espécies, feitas por meio da
pescado comercializado em Manaus é a alta médio Amazonas: região de Santarém” de combinação de fotografias em papel com
diversidade de espécies de peixes. E.J.G. Ferreira, J.A.S. Zuanon & G.M. Santos, de recursos da tecnologia digital, representam
Curiosamente, essa mesma diversidade que 1998. Essas duas obras, em que o próprio uma tentativa de realçar o perfil, as formas e o
encanta pesquisadores, turistas e curiosos título já restringia sua abrangência geográfica, colorido e, assim, facilitar o reconhecimento
representa uma dificuldade adicional para são utilizadas, até hoje, como base para a das espécies.
quem deseja conhecer em detalhes o pescado identificação de peixes em vários locais, tanto É nossa esperança que esta obra seja útil a um
e a ictiofauna regional, pois são muitas as na Amazônia quanto fora dela, o que pode público diversificado e sirva, também, como
semelhanças de forma, coloração e hábitos gerar confusões e erros em trabalhos técnicos. incentivo para que outros pesquisadores se
entre as espécies. O livro que ora apresentamos foi escrito com juntem a nós nessa tarefa instigante de
Quem já se dispôs a procurar fontes de base em informações obtidas exclusivamente produzir e sintetizar conhecimentos sobre os
informações sobre os peixes do Brasil, dos peixes comercializados em Manaus. peixes, essa fantástica riqueza natural
especialmente da Amazônia, sabe das Evidentemente, o trabalho não contempla amazônica.
dificuldades de se obter livros ou outras todas as espécies de peixes de porte comercial
publicações escritas em linguagem acessível existentes na região, dada a enorme
ao público leigo. O presente trabalho é uma diversidade ictiofaunística existente e a Os autores
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INTRODUÇÃO
Os rios tiveram e continuam tendo papel fundamental na renda e lazer para milhares de pessoas, tanto na zona rural região ou simplesmente ao consumo próprio ou das
ocupação e colonização da Amazônia. Foi por eles que a quanto urbana. É por meio dela que se explora o pescado pequenas vilas do interior. Esse baixo nível de organização
região pôde ser explorada, e isso pode ser observado para consumo e para o comércio de peixes ornamentais. da pesca comercial se reflete na baixa qualidade geral do
pela concentração da população ao longo das margens Os primeiros registros sobre a pesca na região de pescado oferecido à população, o que gera perdas
dos rios. Esse processo espontâneo de colonização, com Manaus datam do século XVIII, quando a capital da desnecessárias de alimento e um impacto adicional sobre
forte vinculação aos rios, só foi complementado Província era Barcelos, e houve a instalação de um os estoques naturais de peixes.
recentemente com a abertura de grandes eixos Pesqueiro Real na ilha do Careiro, para suprir com Apesar da imensa riqueza de peixes amazônicos, estimada
rodoviários. Além de servir como caminhos (igarapé, por pescado os habitantes dessa cidade. Essa é a origem do entre 1.500 e 3.000 espécies, apenas uma parcela muito
exemplo, significa “caminho de canoa”) e eixos de nome “Lago do Rei” dado ao lago existente na ilha do reduzida dessa diversidade é explorada comercialmente
desenvolvimento, os rios são, também, fonte do principal Careiro, antes conhecida como Ilha do Pesqueiro Real. pela pesca. Historicamente, a espécie de peixe mais
alimento para os habitantes da região: o peixe. Atualmente, a produção pesqueira nas águas interiores importante para a Amazônia foi o pirarucu, e até meados
Registros fósseis mostram que o uso de pescado como da Amazônia brasileira está estimada em torno de do século XX isso ainda era verdadeiro. Estudos sobre a
alimento pelas populações indígenas amazônicas 217.000 toneladas por ano, sendo Manaus o maior composição do pescado no mercado de Manaus, e de
retrocede à pré-história, entre 3.000 e 1.500 a.C., e até centro produtor e consumidor, com um desembarque outras cidades da Amazônia Central, mencionam que a
hoje a pesca é uma das atividades mais tradicionais na que varia entre 22.000 e 35.000 t/ano. Essa pesca pesca comercial explora cerca de 100 espécies, sendo
Amazônia. No diário feito por Frei Gaspar de Carvajal, concentra uma produção oriunda de rios situados num que aproximadamente 90% estão concentrados somente
sobre a viagem de Francisco Orellana, em 1541, raio de aproximadamente 1.000 km a partir de Manaus, e numa dezena de espécies, destacando-se o tambaqui, o
descendo o rio Amazonas, é dito que: “... depois de que engloba o curso médio do rio Solimões/Amazonas e jaraqui, a matrinxã, o curimatã, o pacu e o tucunaré. Em
passarem muita fome, chegando ao extremo de o curso inferior de seus principais afluentes, sobretudo virtude dessa concentração do esforço de pesca em
comerem cintos e solas de sapatos cozidos com ervas, os de água branca, como Purus, Juruá, Japurá e poucas espécies, existem evidências de que alguns
encontraram uma povoação de índios que, ao vê-los, Madeira. Os rios de água preta, em especial o rio Negro, estoques pesqueiros, especialmente o do tambaqui, já
fugiram, deixando toda a comida existente, que foi constituem a principal fonte de peixes ornamentais vêm sendo explorados acima de sua capacidade de
devorada pelos espanhóis; mas após isso o contato foi destinados ao mercado internacional de aquariofilia. suporte.
amistoso, e os índios forneceram suprimento de peixes e Computando apenas o valor da venda direta do pescado, A causa principal desse fenômeno pode ser atribuída a
aves para eles”. a um preço médio por quilo entre 0,50 e 1,00 dólar, essa uma pesca intensiva e descontrolada, praticada na região
A pesca também é mencionada pelos colonizadores atividade movimenta de 100 a 200 milhões de dólares ao longo do tempo; entretanto, mais recentemente,
portugueses e por viajantes europeus e americanos dos por ano. Se a essa cifra forem incluídos os custos causas indiretas e com influências crescentes, como o
séculos XVII a XIX, como Pedro Teixeira, Alexandre envolvidos na armação dos barcos, compra de desmatamento (sobretudo das matas ciliares), a pecuária
Rodrigues Ferreira, Johann Spix, Carl Friedrich Martius, combustível, gelo e alimentação, esses valores devem em áreas de várzea, a construção de hidrelétricas e a
Louis Agassiz, Alfred Wallace e Henry Bates; contudo eles pelo menos duplicar. Além disso, nessa atividade mineração nos leitos dos rios têm contribuído para
estavam mais interessados nos aspectos da identificação e participam diretamente cerca de 250.000 pessoas, não acelerar esse problema. Diante dessas elevadas taxas de
descrição das espécies de peixes, do que seu uso como incluindo os ribeirinhos, que têm na pesca de explotação, e à enorme gama de distúrbios ambientais, é
recurso natural. José Veríssimo, um paraense de Óbidos, subsistência uma de suas principais fontes de alimento fundamental o estabelecimento de uma ampla base
publicou em 1895 o livro “A pesca na Amazônia”, sendo (seguramente, a principal fonte de proteína animal). O técnico-científica, acessível a todos os segmentos e atores
esse aparentemente o primeiro relato sobre a biologia e papel de destaque do peixe na vida dos ribeirinhos está envolvidos na atividade pesqueira, como forma de
ecologia dos peixes e a pesca no Brasil. claramente refletido no consumo de pescado, estimado subsidiar ações políticas, administrativas e educacionais
A pesca se desenvolveu a partir da combinação das culturas em mais de 400g/pessoa/dia, um dos maiores do que visem sua exploração sustentável.
indígenas locais e européias. Depois de séculos utilizando mundo. Uma das grandes dificuldades para quem lida com
métodos tradicionais, essa atividade sofreu dois grandes Com exceção da pesca industrial, praticada no estuário estatística pesqueira, ou busca elaborar planos de
impactos: um, na década de 1930, com a introdução da do rio Amazonas e cuja produção é destinada à manejo, é que as designações populares dos peixes
rede de cerco, e outro na década de 1960, com a chegada exportação, todo o restante da pesca amazônica é comerciais geralmente não correspondem a espécies
dos fios de náilon, mais resistentes e baratos, para a artesanal, ou seja, pouco organizada e com produtividade biológicas, mas sim a um conjunto de espécies, e às
confecção das malhadeiras, sendo esses, até hoje, os muito variável ao longo das diferentes épocas do ano. vezes até de gêneros, distintos. Isso significa que um
principais métodos de captura de peixes na região. Esse caráter artesanal se verifica tanto na forma de mesmo nome popular pode ser dado a duas ou mais
A pesca tem destacado papel sócioeconômico, quer como subsistência quanto na comercial, independendo se o espécies. Além disso, alguns nomes variam de um lugar
produtora de alimento, quer como geradora de trabalho, pescado se destina aos grandes centros populacionais da para outro, dificultando comparações entre os
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METODOLOGIA
desembarques de diferentes regiões da Amazônia. As informações aqui apresentadas foram obtidas a
Se, por um lado, a denominação popular é bastante partir de um projeto de pesquisa financiado pelo
variável, espacial e temporalmente, e destituída de um Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
referencial que lhe dê estabilidade, observa-se também Tecnológico (Processo 3013304/86-6), cujo objetivo
que ela encerra uma noção muito racional e prática, era identificar as espécies de peixes comercializadas
advinda do acurado senso de observação, experiência nas feiras em Manaus. Para isso fizemos visitas
e conhecimento por parte do pescador. Muito quinzenais, entre março de 1998 e abril de 1999, a
comumente, há uma estreita relação entre a três diferentes tipos de feiras:
classificação popular e a científica. Por exemplo: o - Feiras livres (Fig. 1): Localizadas em áreas
nome aracu refere-se a todos os representantes da improvisadas nos bairros residenciais. Nelas se
família Anostomidae; bodós aos da família Loricariidae; comercializam pequenas quantidades de pescado
branquinha aos representantes de Curimatidae; e carás, recebido de intermediários ou mesmo vendido pelos
aos da família Cichlidae. próprios pescadores. Normalmente, funcionam apenas Figura 2 - Feira de bairro (Coroado).
Evidentemente, a nomenclatura popular é fruto de um uma vez por semana e têm caráter itinerante;
vasto conhecimento empírico e tem servido como base - Feiras de bairros residenciais (Fig. 2): Localizadas em
fundamental para o conhecimento dos peixes áreas fixas relativamente estruturadas nos bairros e
amazônicos; entretanto, é preciso destacar o fato de dos quais seus nomes são derivados. Nelas são
que cada espécie biológica tem uma história natural comercializadas quantidades relativamente grandes de
distinta e, portanto, necessidades, hábitos e estratégias pescado, que é vendido diariamente à população por
de vida próprios. Nesse sentido, cada espécie deve ser peixeiros profissionais e que o adquirem nas feiras do
tratada individualmente, sobretudo quando se tem em centro ou diretamente dos barcos que atracam no
vista planos detalhados de manejo. Assim, a correta porto da cidade; e,
identificação das espécies comercializadas e a aliança do - Feiras do centro (Fig. 3): Localizadas em áreas bem
conhecimento tradicional com o científico, devem estruturadas e especialmente construídas para esse fim
constituir uma preocupação constante e um na zona central da cidade, próximas ao porto fluvial.
instrumento imprescindível a todo e qualquer processo Nela são comercializadas diariamente grandes
de explotação pesqueira. quantidades de pescado, o qual é recebido diretamente
O presente trabalho se enquadra nesse contexto e foi dos barcos pesqueiros que ficam ancorados em seu
Figura 3 - Feira do centro (Panair).
concebido, justamente, para tentar minimizar esse entorno.
problema. Seu principal objetivo é constituir-se num As visitas foram realizadas nos finais de semana, pela quantidade de peixes à venda, e pela manhã nas feiras
guia descritivo e ilustrado das principais espécies de manhã, nas feiras do centro e de bairros residenciais, livres, em diferentes dias da semana.
peixes comercializadas no mercado de Manaus e por serem esses os dias e horários em que há maior Em cada visita era feita uma estimativa da participação
destinadas ao consumo humano. Para cada espécie relativa de cada grupo de pescado, em relação ao
são fornecidos os nomes científicos e populares, uma volume da produção total, que se encontrava exposta
caracterização morfológica sucinta, informações sobre à venda. As participações relativas ou graus de
os hábitos de vida e indicação da sua participação importância, tanto para os grupos quanto para as
relativa na produção local e regional. Além disso, para espécies de pescado foram agrupadas nas seguintes
cada espécie é fornecida uma bibliografia básica, em categorias:
que o leitor poderá encontrar informações adicionais Destacada: acima de 20%;
ou mais detalhadas a respeito das mesmas. Moderada: entre 5 e 20 %;
Em escala mais ampla, o objetivo deste trabalho é associar Insignificante: abaixo de 5%.
a nomenclatura científica com a popular, visando integrar, De cada espécie, foram adquiridos exemplares frescos e
num texto simples e acessível, as informações disponíveis em bom estado para ilustração e confirmação da
sobre as espécies comercializadas nos mercados de identificação em laboratório. Foi anotado também o nome
Manaus, contribuindo, assim, para o conhecimento e o comum dado a cada uma das espécies biológicas
uso sustentável desse importante recurso natural. Figura 1 - Feira livre (rua Airão). identificadas.
PEIXES MERCADO DE MANAUS 12

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PESCADO


Os peixes encontrados nos mercados de Manaus são Tabela 1. Denominações populares e científicas dos peixes Denominações Populares Nomes Científicos
reconhecidos por cerca de 50 diferentes comercializados em Manaus, com indicação do grau de
BRANQUINHA (+) Curimata inornata (+)
denominações populares, sendo que elas representam sua importância econômica de acordo com os seguintes Potamorhina altamazonica (+++)
geralmente grupos de espécies, e não espécies critérios: Destacada (+++, mais de 20%); Moderada Potamorhina latior (++)
biológicas. Nosso trabalho verificou que tais grupos, (++, entre 5 e 20%); e, Insignificante (+, até 5%). Os Potamorhina pristigaster (+)
Psectrogaster amazonica (+)
num total de 53, correspondem a 100 espécies graus de importância indicados na primeira coluna se
biológicas. Contudo, 36 desses grupos são formados referem à participação do grupo na produção CAPARARI (+) Pseudoplatystoma tigrinum
por apenas uma espécie (Tab. 1). pesqueira geral, e os da segunda coluna ao grau de
CARA-DE-GATO (+) Platynematichthys notatus
O grupo dos bagres ou peixes-lisos é o mais importância de cada espécie no grupo a que pertence.
diversificado, com 22 espécies biológicas, seguido dos CUBIU (+) Anodus elongatus
acarás com 15, aracus com 10, pacus com 6, piranhas Denominações Populares Nomes Científicos CUIÚ-CUIÚ (+) Oxydoras niger
e branquinhas com 5 espécies cada (Tab. 1). Observe-
ACARÁ (+) Astronotus crassipinnis (+++)
se, no entanto, que o grupo dos bagres, caracterizados CURIMATÃ (++) Prochilodus nigricans
Astronotus ocellatus (+)
pelo corpo liso, sem escama, abrange vários sub- Caquetaia spectabilis (+) DENTE-DE-CÃO (+) Acestrorhynchus falcirostris
grupos com nomes específicos, como por exemplo: Chaetobranchopsis orbicularis (+)
Chaetobranchus semifasciatus (+)
surubim, caparari, dourada, entre outros. DOURADA (+) Brachyplatystoma rousseauxii
Chaetobranchus flavescens (+)
Os peixes com maior participação nas feiras foram o Geophagus proximus (+) DOURADA-ZEBRA (+) Brachyplatystoma juruense
tambaqui e os jaraquis, correspondendo juntos a 47% Heros efasciatus (+)
Hoplarchus psittacus (+)
da produção pesqueira. Essas duas espécies, FILHOTE (+) Brachyplatystoma filamentosum
Hypselecara temporalis (+)
juntamente com curimatã, matrinxã e tucunaré, Mesonauta festivus (+) JACUNDÁ (+) Crenicichla sp. (+++)
perfazem cerca de 75% da produção total. Somando-se Satanoperca jurupari (+) Crenicichla cincta (+)
Satanoperca lilith (+)
os pacus, as sardinhas, a pescada, a pirapitinga e o
Symphysodon aequifasciatus (+) JAÚ (+) Zungaro zungaro
caparari, constituem 90% da produção total do Uaru amphiacanthoides (+)
mercado de Manaus. JARAQUI (+++) Semaprochilodus insignis (+++)
APAPÁ (+) Pellona castelnaeana (+++)
Além do tambaqui (Colossoma macropomum), matrinxã Semaprochilodus taeniurus (++)
Pellona flavipinnis (++)
(Brycon amazonicus) e curimatã (Prochilodus nigricans),
JATUARANA (+) Brycon melanopterus
que são espécies únicas, os demais peixes dominantes ARACU (+) Anostomoides laticeps (+)
Laemolyta varia (+)
foram Semaprochilodus insignis, no grupo dos jaraquis, JEJU (+) Hoplerythrinus unitaeniatus
Leporinus agassizii (+)
Mylossoma duriventre, no grupo dos pacus, e Cichla Leporinus falcipinnis (+) JUNDIÁ (+) Leiarius marmoratus
monoculus, no grupo dos tucunarés. Leporinus fasciatus (+)
Leporinus friderici (+)
Com exceção dos tucunarés, acarás e aruanã, que são MANDI (+) Pimelodus blochii
Leporinus trifasciatus (++)
territorialistas e vivem em lagos, todas as espécies mais Rhytiodus argenteofuscus (+) MANDI-MOELA (+) Pimelodina flavipinnis
importantes no mercado de Manaus são migradoras. Rhytiodus microlepis (++)
Schizodon fasciatus (+++)
Há uma grande oscilação nos níveis de participação dos MANDI-PERUANO (+) Auchenipterus nuchalis
diferentes grupos de peixes ao longo do ano. Tais ARARI (+) Chalceus erythrurus MANDUBÉ (+) Ageneiosus inermis
oscilações devem-se fundamentalmente às características
ARUANÃ (+) Osteoglossum bicirrhosum
ecológicas das espécies, que podem se tornar mais MAPARÁ (+) Hypophthalmus edentatus (+++)
vulneráveis à pesca (em função da formação de Hypophthalmus fimbriatus (+)
BABÃO (+) Goslinia platynema Hypophthalmus marginatus (+++)
cardumes em certas épocas do ano, por exemplo) ou
BACU-PEDRA (+) Lithodoras dorsalis
mais difíceis de serem capturadas (quando se dispersam MATRINXÃ (++) Brycon amazonicus
pelas grandes áreas de florestas alagadas durante as BICO-DE-PATO (+) Sorubim lima ORANA (+) Argonectes longiceps (+)
cheias). A produção pesqueira em Manaus é maior entre Hemiodus sp. (+++)
BODÓ (+) Liposarcus pardalis
os meses de abril e novembro, com os picos ocorrendo
entre agosto e outubro, o que coincide com os meses de BRAÇO-DE-MOÇA (+) Hemisorubim platyrhynchos
vazante. A Figura 4 mostra a variação da quantidade do
pescado desembarcado mensalmente em Manaus com
Denominações Populares Nomes Científicos relação ao nível da água do rio para os anos de 1994 a aparentadas. Esse fato mostra claramente a necessidade
1996. A produção sobe com a subida da água, mas de se efetuar mais trabalhos básicos de biologia sobre
PACU (++) Metynnis lippincottianus (+)
Myleus rubripinnis (+) quando o nível da água atinge o máximo ocorre uma as espécies que vêm sendo exploradas comercialmente.
Myleus schomburgkii (+) queda da produção, que volta a aumentar quando a água Apesar de suas limitações, acreditamos que o presente
Myleus torquatus (+) começa a baixar, sendo a menor produção no início da estudo seja uma importante contribuição ao
Mylossoma aureum (+)
Mylossoma duriventre (+++) enchente (janeiro a março). conhecimento dos peixes comercializados no mercado
A verificação de que o caparari (Pseudoplatystoma de Manaus, ao reunir num só volume informações
PEIXE-CACHORRO (+) Cynodon gibbus tigrinum) tem uma participação expressiva na taxonômicas, biológicas e pesqueiras e também por
PEIXE-LENHA (+) Sorubimichthys planiceps composição do pescado, ocupando o décimo lugar na evidenciar grupos de espécies que necessitam de
produção total, aliado ao fato de que essa espécie estudos básicos de biologia e história natural.
PESCADA (+) Plagioscion auratus (+) raramente figura em trabalhos anteriores sobre Espera-se que os nomes comuns aplicados no
Plagioscion squamosissimus (+++)
estatística pesqueira, sugere que ela pode estar sendo presente trabalho, fruto de um grande levantamento
PIRACATINGA (+) Calophysus macropterus confundida com o surubim (Pseudoplatystoma junto aos pescadores e comerciantes, possam ter sua
fasciatum), um bagre muito parecido e com um nome nomenclatura consagrada, o que contribuiria para a
PIRAMUTABA (+) Brachyplatystoma vaillantii
bem mais conhecido. Esse fato pode estar ocorrendo formação de uma base mais segura e coerente para
PIRANAMBU (+) Pinirampus pirinampu também com outros grupos de peixes, significando futuros trabalhos de estatística pesqueira e o manejo
que espécies realmente importantes na pesca estão dos recursos pesqueiros da região. Espera-se, acima
PIRANDIRÁ (+) Hydrolycus scomberoides
sendo mascaradas sob o nome de outra espécie de tudo, que os resultados deste trabalho sejam úteis
PIRARUCU (+) Arapaima gigas semelhante e com nome mais popular ou mais aos técnicos das áreas de pesca e piscicultura e a todo
sugestivo à venda. Por outro lado, é possível que a cidadão interessado no mais espetacular recurso
PIRANHA (+) Pristobrycon striolatus (+)
Pygocentrus nattereri (+++) abertura de novos mercados para essas espécies de alimentar da Amazônia ocidental, que são os peixes.
Serrasalmus gouldingi (+) peixes tenha produzido alterações desse tipo nos
Serrasalmus rhombeus (+) desembarques de pescado regionais. Fonte bibliográfica:
Serrasalmus spilopleura (+)
Para um grande número de espécies não há literatura Roberts, 1972; Böhlke et al., 1978; Meggers, 1984;
PIRAPITINGA (+) Piaractus brachypomus científica disponível; assim sendo, informações sobre Santos, 1986/87; Merona, 1988; Bayley & Petrere
aspectos biológicos relativos aos hábitos alimentares e Jr., 1989; Ribeiro & Petrere Jr., 1990; Ruffino &
PIRARARA (+) Phractocephalus hemioliopterus
reprodutivos não foram apresentadas ou foram Isaac, 1994; Cerdeira et al., 1997; Batista, 1998;
RIPA (+) Rhaphiodon vulpinus fornecidas com certas ressalvas, com base em espécies Barthem, 1999; Goulding, 1999.
SARDINHA (+) Triportheus elongatus (+++)
Triportheus angulatus (++)
4500 31
SURUBIM (+) Pseudoplatystoma fasciatum Desembarque Nivel rio
4000 29
TAMBAQUI (+++) Colossoma macropomum 3500 27
TAMOATÁ (+) Hoplosternum littorale 3000
25
Toneladas

Metros
2500
TRAÍRA (+) Hoplias malabaricus 23
2000
TUCUNARÉ (++) Cichla monoculus (+++) 21
Cichla orinocensis (+) 1500
Cichla sp (+) 1000 19
Cichla temensis (++)
500 17
ZEBRINHA (+) Merodontotus tigrinus
0 15
Mai

Jul

Mai

Jul

Mai

Jul
Jan

Jan

Jan
Nov
Mar

Mar

Mar
Nov

Nov
Set

Set

Set
Legenda: Destacada (+++, mais de 20%), Moderada (++, de 5 a 20%), e,
Insignificante ( +, abaixo de 5%) Figura 4. Curvas do nível do rio e da produção de pescado desembarcado em Manaus para os anos de 1994,
1995 e 1996, segundo dados de Batista (1998).
PEIXES MERCADO DE MANAUS 14

CONSIDERAÇÕES SOBRE TAXONOMIA


Desde a pré-história, quando o homem começou a se 2. Em obras impressas, todo nome científico deve ser
comunicar por palavras, ele classifica os seres vivos ou escrito em itálico (tipo de letra fina e inclinada),
brutos, reais ou imaginários. Aos poucos, nossos diferente do corpo tipográfico usado no texto corrido.
ancestrais foram aprendendo a diferenciar plantas Em trabalhos manuscritos, esses nomes devem ser
comestíveis das venenosas, os solos férteis dos estéreis, e grifados.
os metais mais apropriados para a confecção de 3. Cada organismo deve ser reconhecido por uma
utensílios e armas. Ao longo da história, o homem designação binominal, em que o primeiro termo
aprendeu que a prática de classificar seres e objetos identifica o seu gênero e o segundo sua espécie.
facilita a manipulação e a compreensão das coisas e 4. O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo
dos fatos, além de permitir que esse conhecimento simples ou composto, escrito com inicial maiúscula.
seja compartilhado entre pessoas, constituindo-se em 5. O nome relativo à espécie deve ser um adjetivo escrito
um eficiente método de comunicação. com inicial minúscula.
Classificar é agrupar tipos com características comuns,
tendo por objetivo tornar mais fáceis os conhecimentos No geral, as divisões taxonômicas na Zoologia são as
gerais, particulares e comparativos. Em cada um dos seguintes:
idiomas existentes, os seres vivos receberam nomes, Espécie: grupamento de indivíduos com profundas
formando uma coletânea de muitos milhares de semelhanças recíprocas (estruturais e funcionais), que
denominações, impossíveis de serem conhecidas no mostram ainda acentuadas similaridades bioquímicas,
mundo todo. Esse fato gerou a necessidade de se idêntico cariótipo (conjunto de cromossomos) e
padronizar todos os nomes dos seres vivos de modo que a capacidade de reprodução entre si, originando novos
denominação de qualquer um deles seja entendida em descendentes férteis e com o mesmo conjunto geral de
qualquer língua. características.
Taxonomia, formada pela junção das palavras gregas Gênero: conjunto de espécies semelhantes, embora não
taxon, que significa ordem ou arranjo, e nomos, que idênticas, e mais aparentadas entre si do que com
significa lei ou norma, é a ciência que lida com a descrição, quaisquer outros grupos de organismos.
identificação e classificação dos organismos, Família: conjunto de gêneros afins, isto é, muito próximos
individualmente ou em grupo. ou parecidos, embora possuam diferenças mais
Um sistema natural de classificação não se baseia apenas significativas do que a divisão em gêneros. Levam a
na morfologia e na fisiologia dos organismos adultos, mas terminação “idae”.
também no desenvolvimento embrionário dos indivíduos, Ordem: conjunto de famílias semelhantes; no caso dos
nas características genéticas de cada espécie, na sua peixes, todos os nomes de ordem terminam com o
distribuição geográfica e no posicionamento dos seres sufixo “iformes”.
perante seus ancestrais no processo de evolução das Classe: conjunto de ordens afins.
espécies. Filo: conjunto de classes afins.
Após muitas tentativas, em 1758 um médico e
botânico sueco, Karl von Linné, conhecido como Com base nesse sistema, o curimatã, por exemplo,
Lineu, publicou o livro “Systema Naturae” no qual seria assim classificado:
propunha um sistema de classificação para as espécies Espécie: Prochilodus nigricans
de plantas e animais, baseado em dois nomes, daí esse Gênero: Prochilodus
sistema ser conhecido como classificação binominal. Família: Prochilodontidae
Em 1901, essas regras foram adotadas como padrão Ordem: Characiformes
e foram revistas em 1927 e 1961. Classe: Teleostomi
As principais regras desse sistema são: Filo: Chordata
1. Na designação científica, os nomes devem ser latinos ou Reino: Animalia ou Metazoa
latinizados.
15 PEIXES COMERCIAIS DE MANAUS

CHAVE DE IDENTIFICAÇÃO PARA AS ORDENS DE PEIXES


COMERCIAIS ENCONTRADAS NO MERCADO DE MANAUS
Identificar um peixe ou outro organismo qualquer é 1. Corpo nu, sem escamas ou coberto total ou
conhecer o nome cientifico da espécie ou categoria parcialmente com placas ósseas
superior (gênero, família, ordem, classe, etc.) a que .......................................................... SILURIFORMES
pertence. Para isso, diferentes meios são utilizados, (bagres)
sendo os mais comuns a consulta a especialistas, a
comparação com a descrição original da espécie,
fotografias ou exemplares previamente identificados e 1a. Corpo coberto de escamas ................................. 2
as “chaves de identificação”.
Uma chave de identificação é elaborada a partir do
ordenamento, em forma dicotômica (= duas saídas), 2. Nadadeiras dorsal, anal e pélvica com alguns raios
dos dados morfológicos e anatômicos básicos, duros, em forma de espinho; nadadeira pélvica
característicos de cada espécie ou outra categoria em situada logo abaixo ou à frente da nadadeira
questão. Normalmente, tal dicotomia inicia-se com o peitoral ............................................... PERCIFORMES
conjunto de caracteres precedido do número 1, (Acará, Jacundá, Pescada, Tucunaré)
seguido do conjunto de caracteres alternativos
precedidos do número 1a, e assim, sucessivamente,
até o último. 2a . Nadadeiras com todos os raios moles e
Para a correta utilização das chaves de identificação é flexíveis .................................................................... 3
importante que a seqüência de alternativas seja feita
com cuidado e passo a passo, sempre confrontando
os dados do exemplar analisado, com os dados 3. Língua ossificada e bastante áspera; nadadeiras
fornecidos pela chave. Caso esses dados sejam dorsal e anal longas, quase unidas à nadadeira
concordantes, chega-se a um determinado nome, que caudal ................................... OSTEOGLOSSIFORMES
deve ser o nome da espécie ou categoria em questão. (Aruanã, Pirarucu)
Caso os dados sejam discordantes, passa-se para a
alternativa seguinte, até que se chegue a outro nome.
Caso se chegue à última alternativa da chave, sem que 3a. Língua normal, carnosa e lisa; nadadeira
com isso seja possível determinar o nome da espécie dorsal normalmente distante da nadadeira
ou categoria em questão, o processo deve ser caudal ..................................................................... 4
reiniciado, para conferência. Se, mesmo assim, não se
chega a um resultado satisfatório, é sinal que a chave
não contempla a espécie ou outra categoria a que o 4. Boca voltada para cima, uma fileira de espinhos na
exemplar sob análise pertence e nesse caso, a região mediana do ventre e ausência de nadadeira
identificação não pode ser feita pela chave, requerendo adiposa ................................. CLUPEIFORMES
a consulta a outros meios. (Apapá)
A seguir é apresentada uma chave de identificação para
as diversas ordens às quais os peixes apresentados no
presente trabalho pertencem. É com base nela que o 4a. Boca em posição variável, geralmente terminal;
catálogo foi estruturado, sendo também cada uma ausência de espinhos na região ventral (exceção:
delas indicada por uma cor de fundo diferente das piranhas e pacus); nadadeira adiposa presente
outras. (exceção: traíras e jejus) ............... CHARACIFORMES
(Branquinha, curimatã, jaraqui, matrinxã, pacus,
piranhas)

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