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à Tortura - Módulo 1
Olá!
A criação de um curso sobre o tema da tortura é oportuna para avançar na Educação em Direitos
Humanos e no enfrentamento desse tipo de crime. No Brasil, a tortura é proibida pela Constituição
Federal, sendo insuscetível a anistias ou a ança, e foi de nida pela Lei nº 9.455/1997. Entretanto,
ainda é utilizada em abordagens pro ssionais da segurança pública para obter con ssões, castigar
pessoas privadas de liberdade, entre outras situações.
Essa questão foi objeto de discussão nos Encontros Nacionais de Comitês de Prevenção e
Combate à Tortura em 2015 e 2018, sendo demandada à Coordenação-Geral de Combate à
Tortura e à Violência Institucional a organização de curso básico sobre a temática.
Adicionalmente, o curso é uma oportunidade para dar visibilidade e engajar os membros de
Comitês e demais parceiros em relação às recomendações internacionais - Nações Unidas e
Organização dos Estados Americanos - e nacionais - Mecanismo Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura, principalmente- sobre o tema.
MÓDULO 1 - O QUE É TOR TUR A E O QUE SÃO TR ATAMEN TOS OU PEN AS CR UÉIS, DESUMAN OS E DEGR ADAN TES?
1 - Introdução
1 - Introdução
Em 2017, o representante regional da América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos (ACNUDH) declarou que especialistas da ONU, após visita às unidades penitenciárias no
Brasil, constataram um quadro generalizado de tortura.
Os Membros do Subcomitê das Nações Unidas sobre Prevenção da Tortura (SPT), assim como o Relator
Especial, puderam observar em suas visitas aos presídios que a tortura era generalizada desde o momento
da detenção até durante os interrogatórios.
Os especialistas relataram que a tortura, de modo desproporcional, afetava de modo desproporcional
pessoas de estratos sociais mais baixos, negros e minorias. No entanto, o relatório do SPT faz uma ressalva
de que, enquanto o Brasil coleta dados sobre diferentes aspectos da população e sistema carcerários,
informações sobre a incidência de tortura e tratamento cruel de pessoas privadas de liberdade não estão
disponíveis. Os especialistas também alertaram que, por medo de represálias, detentos eram
frequentemente persuadidos a não denunciar casos de tortura e tratamento cruel.
Outro aspecto considerado era que a impunidade em casos de tortura por agentes públicos no Brasil
continuava sendo a regra, e não a exceção, o que contribuía para que se criasse um clima de impunidade
que alimentava a continuidade de violações de direitos humanos.
Medidas tais como a pronta investigação de mortes por agentes estatais, capacitação pro ssional em
direitos humanos, a adoção de protocolos o ciais sobre o uso da força da polícia, a revisão dos salários da
força policial, garantir a independência dos Institutos Médicos Legais e um controle e caz de empresas
privadas envolvidas na administração de funções policiais foram algumas das soluções propostas pelos
especialistas para combater a prática da tortura no Brasil.
Saiba Mais!
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Íntegra da entrevista disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-impunidade-por-tortura-nas-prisoes-e-
regra-no-brasil/
1 .1 A d e n i ç ã o d e t o r t u r a n a s n o r m a s i n t e r n a c i o n a i s d e Di r e i t o s
Hu m a n o s
1.1 A de nição de tortura nas normas
internacionais de Direitos Humanos
Não precisa ser um especialista ou integrante da ONU para ter uma noção básica do conceito de tortura,
pois o nome é autoexplicativo. Contudo, não podemos seguir com o tema sem dar uma atenção especial à
de nição e tipi cação de tortura conforme estabelecido nas normas internacionais de Direitos Humanos.
Tanto a ONU (Organização das Nações Unidas) como a OEA (Organização dos Estados Americanos)
estabeleceram a de nição de tortura em suas respectivas Convenções. Acompanhe!
Qualquer ato pelo qual uma violenta dor ou sofrimento, físico ou mental, é in igido intencionalmente a uma pessoa,
com o m de se obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou con ssão; de puní-la por um ato que ela ou uma
terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir ela ou uma terceira pessoa; ou
por qualquer razão baseada em discriminação de qualquer espécie, quando tal dor ou sofrimento é imposto por um
funcionário público ou por outra pessoa atuando no exercício de funções públicas, ou ainda por instigação dele ou com
o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam
consequência, inerentes ou decorrentes de sanções legítimas.
Todo ato pelo qual são in igidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com ns de
investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com
qualquer outro m. Entender-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular
a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia
psíquica.
Não estarão compreendidos no conceito de tortura as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que sejam unicamente
conseqüência de medidas legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a aplicação dos
métodos a que se refere este artigo.
A Convenção contra a Tortura estabelecida pela ONU visava garantir que a prática da tortura não fosse
mais utilizada como instrumento de política de Estado, especialmente em regimes ditatoriais e autoritários
que se instituíram no pós-Segunda Guerra Mundial, bem como em regimes democráticos em que os
discursos sobre a segurança subvertiam o princípio da dignidade da pessoa humana.
Já a Convenção contra a Tortura estabelecida pela OEA ampliou o conceito da ONU ao adotar “penas ou
sofrimentos físicos ou mentais” como consequência da tortura; e especi ca a nalidade do ato ao prever
“com ns de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida
preventiva, como pena ou com qualquer outro m” da tortura para o aparato de Segurança Pública e o
Sistema de Justiça.
1 .2 C o m o i d e n t i c a r o s e l e m e n t o s q u e c a r a c t e r i z a m a t o r t u r a ?
1 A tortura é qualquer ato que provoque violenta (“severe”, na língua inglesa) dor ou sofrimento
físico ou mental.
3 O ato é realizado por agente público ou outra pessoa atuando no exercício de funções públicas
ou ainda por instigação dele, com seu consentimento ou aquiescência.
Em relação à intencionalidade da prática do ato, a Convenção contra a Tortura da ONU especi ca quatro
motivações do agente para que se con gure a tortura:
Ao dispor sobre “métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física
ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica”, a Convenção da OEA amplia e garante as
alegações de vítimas sem que seja necessária análise clínica para con rmação. E, ainda, detalha a autoria
da prática da tortura no seu artigo segundo, incluindo a coparticipação de cúmplices não funcionários
públicos e especi cando mais os atos de ação e omissão praticados pelos agentes públicos.
A Convenção contra a Tortura da OEA especi ca em seu artigo terceiro que os responsáveis pelo delito de
tortura são:
a) Os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse caráter, ordenem sua comissão ou
instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam.
b) As pessoas que, por instigação dos funcionários ou empregados públicos a que se refere a alínea a),
ordenem sua comissão, instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou nele sejam cúmplices.
Autoria
O ato é cometido por funcionário público, empregado público ou por outra pessoa atuando no exercício de funções
públicas.
A autoria se dá quando o agente comete o ato, ordena sua realização, instiga ou induz terceira pessoa a fazê-lo, dá
consentimento, aquiescência ou não impeça, podendo fazê-lo, a ocorrência do ato (omissão).
Punir a vítima (ou terceira pessoa) por ato que cometeu ou se suspeita que tenha cometido ou ainda como
medida preventiva, como pena ou com qualquer outro m.
Dor ou sofrimento, físico ou mental, anulação da personalidade da vítima ou a diminuição de sua capacidade física ou
mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica.
Saiba Mais!
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Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis desumanos ou degradantes da ONU
disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm
A Organização dos Estados Americanos (OEA) foi fundada em 1948 com a assinatura, em Bogotá, Colômbia,
da Carta da OEA que entrou em vigor em dezembro de 1951. Para saber mais sobre a OEA,
acesse: http://www.oas.org/pt/
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
(...)
XLIII - a lei considerará crimes ina ançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura, o trá co ilícito de entorpecentes e drogas a ns, o terrorismo e os de nidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
E o que a lei brasileira estabelece a respeito da tipi cação da tortura? O Brasil tipi cou o crime de tortura
pela Lei n.º 9.455 de 7 de abril de 1997 e assim diz em seu artigo 1º:
Art. 1º Constitui crime de tortura:
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado.
O ato de submeter alguém que está sob sua guarda, poder ou autoridade,
utilizando violência ou ameaçando gravemente, a intenso sofrimento físico ou
mental como forma de aplicar castigo pessoal ou como medida preventiva.
2 .1 U m t r i s t e c a s o d e t o r t u r a o c o r r i d o n o B r a s i l
Um caso emblemático de tortura cometida por agente privado foi de autoria de uma procuradora
aposentada contra uma criança de dois anos e dez meses de idade que estava sob sua guarda. O Tribunal
de Justiça do Rio de Janeiro condenou a procuradora a oito anos de prisão, caracterizando a conduta
cometida como tortura e não como maus-tratos. A decisão expõe que:
“Num breve cotejo entre as diferenças do crime de tortura e de maus tratos, temos que o
sujeito ativo nas duas modalidades é o mesmo e ambos requerem que o crime seja
praticado por pessoa que exerça a guarda ou autoridade sobre a outra.
A distinção entre os crimes de maus tratos e tortura deve ser encontrada não só no
resultado provocado na vítima, como no elemento volitivo do agente. É necessário que o
sofrimento físico ou mental, decorrente da violência ou grave ameaça, seja praticado com
vistas à punição ou prevenção de uma ação da vítima, como é o caso do pai que bate no
lho para castigá-lo por uma má ação.
A partir desta análise podemos entender o "intenso sofrimento", como aquele sofrimento
excessivo, extremamente rude e que excede os limites do suportável tendo em vista o m
perseguido pelo agente e as condições pessoais da vítima. E não há dúvidas de que o
adjetivo “intenso” é vago e impreciso, cando adstrito à análise subjetiva de cada
aplicador, com o que se deixou ao intérprete a tarefa de considerar a ação do agente como
típica, ou não, em relação à Lei de Tortura.
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Quarta Câmara Criminal, apelação criminal n.º
0137941-38.2010.8.19.0001”
2 .2 C r i m e d e t o r t u r a c o m e t i d o s po r a g e n t e s pú b l i c o s e a
a pl i c a b i l i d a d e d a pe n a
De acordo com a Lei n.º 9.455 de 1997, o crime de tortura pode ser cometido por agentes públicos e
também por pessoas externas ao serviço público. Na hipótese de o crime de tortura ser cometido por
agentes públicos, a lei prevê o aumento da pena e a perda do cargo, função ou emprego público e a
interdição para seu exercício.
Mas, em que difere a aplicabilidade da pena dos agentes públicos para o cidadão comum? Bem, a diferença
na aplicação da penalidade vem justamente da condição do agente que receberá um aumento da pena de
um sexto até um terço do total estipulado. A Lei n.º 9.455 de 1997 reforça a previsão da Constituição
Federal de que o crime de tortura é ina ançável e insuscetível de graça ou anistia.
Isso posto, como saber quais as diferenças entre a tortura e os maus-tratos? O Código Penal de ne o crime
de maus-tratos no artigo 136:
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para m de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
§ 2º - Se resulta a morte:
Agora, que alerta! O tipo penal de maus-tratos assemelha-se à previsão do artigo primeiro, inciso II da Lei
n.º 9455 de 1997, de acordo com o quadro comparativo a seguir:
A legislação especí ca para reprimir a tortura está, geralmente, desarticulada da legislação penal. Ambas,
por sua vez, associadas à cultura de não priorizar, garantir e proteger os direitos das vítimas, resultam em
uma baixa responsabilização de agentes públicos. Há, consequentemente, uma perpetuação do
cometimento da prática de tortura e de outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes. Pense nisso!
Saiba Mais!
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Clique no link para acessar uma pesquisa realizada pelo grupo de organizações da sociedade civil indicando
que há uma tendência do Sistema de Justiça em condenar mais casos nos quais estão envolvidos agentes
privados.
https://www.conectas.org/publicacoes/download/julgando-tortura
Lição 3 of 3
Para a caracterização penal da tortura deve-se apresentar o preenchimento cumulativo de três dados:
Em casos criminais, é necessária a demonstração destes três elementos, caso contrário, a tipi cação ca
comprometida e o ato praticado pode ser denunciado e julgado como outro tipo criminal, por exemplo,
maus-tratos, lesão corporal, etc.
Sendo a tortura um ato “invisível”, propõe-se que as denúncias devam reunir e conter o máximo de
informações e detalhes possíveis visando a elucidação e robustez da investigação e consequente
responsabilização do(s) autor(es).
Desta forma, você deve considerar o seguinte esquema para elaboração de uma notícia-crime sobre
tortura:
PR E MI SSA PA R A A I N F O R MA Ç Õ E S DA S
I N F O R MA Ç Õ E S DA V Í T I MA
F O R MUL A Ç Ã O T E ST E MUN H A S
Documentação
Apresente o máximo de informações possíveis visando uma documentação robusta de caráter investigativo
que contenha elementos materiais e/ou subjetivos. Estes materiais devem ser oriundos de depoimentos que
estruturem o processo investigativo para posterior denúncia visando a responsabilização dos autores.
Atente-se para que a motivação e a nalidade do ato cometido pelo agente estejam claras, especi camente
nos seguintes elementos que compõem o tipo penal:
Para tanto, as informações devem ser organizadas quanto a) à vítima; b) às testemunhas; c) ao acusado; d)
elementos materiais (local, vestes, objetos, imagens, documentos).
PR E MI SSA PA R A A I N F O R MA Ç Õ E S DA S
I N F O R MA Ç Õ E S DA V Í T I MA
F O R MUL A Ç Ã O T E ST E MUN H A S
PR E MI SSA PA R A A I N F O R MA Ç Õ E S DA S
I N F O R MA Ç Õ E S DA V Í T I MA
F O R MUL A Ç Ã O T E ST E MUN H A S
Saiba Mais!
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A ONU editou o “Manual para investigação e documentação e cazes da tortura e outras penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes” conhecido como Protocolo de Istambul. O documento
pretende funcionar como uma referência internacional para a avaliação da situação das pessoas alegadamente
vítimas de tortura e maus-tratos, para a investigação dos presumíveis casos de tortura e para a comunicação
dos fatos apurados ao poder judicial ou outros órgãos com competência no domínio da investigação.
Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/cdhm/documentos/relatorios/RelatTortnoBrasil.html”
Tais observações se repetem em segunda visita da relatoria da ONU sobre tortura ao Brasil em 2015
(sendo, à época, o relator Juan Mendez). Em seu relatório, Juan acrescenta que a tortura e os tratamentos
cruéis, desumanos e degradantes ocorrem comumente em interrogatórios, durante os procedimentos de
investigação; mortes por policiais e por agentes penitenciários que notadamente, afetam pessoas
integrantes de minorias de grupos racial, de gênero sexual, e outros grupos vulneráveis. Ele a rmou ainda
que a impunidade permanece como regra em vez de exceção, parcialmente devido aos altamente
de cientes procedimentos persecutórios em relação ao monitoramento e à documentação dos fatos (ONU,
2016).
3 .3 Q u e m po d e i n t e g r a r o c o n s e l h o d e d i r e i t o s h u m a n o s d a O NU ?
Os titulares de mandatos são especialistas independentes, nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos
para abordar situações especí cas de cada país ou questões temáticas em todas as partes do mundo. Suas
tarefas são de nidas nas resoluções do Conselho de Direitos Humanos, que criam ou ampliam seus
mandatos. Não são funcionários da ONU e são independentes de qualquer governo ou organização. Atuam
em sua capacidade individual, não recebem salário por seu trabalho e se comprometem a manter a
independência, e ciência, competência e integridade através da probidade, imparcialidade, honestidade e
boa-fé.
As três atividades principais do mandato do Relator Especial sobre a tortura e outros tratamentos ou penas
cruéis, desumanas e degradantes da Organização das Nações Unidas são as seguintes:
1. Encaminhar apelos urgentes aos Estados em relação à pessoas que pareçam correr o risco de serem
submetidas à tortura, bem como enviar comunicações sobre supostos casos de tortura já cometidos.
Saiba Mais!
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Para mais informações sobre a atuação do relator especial, acesse:
https://www.ohchr.org/SP/Issues/Torture/SRTorture/Pages/SRTortureIndex.aspx
Co n clu s ão
3.4 Conclusão
A de nição do crime de tortura estabelecido pela Convenção contra a Tortura da ONU e da OEA associam
o ato à realização apenas por funcionário público, empregado público ou por outra pessoa atuando no
exercício de funções públicas. A autoria ocorre quando o agente comete o ato, mas também quando ordena
sua realização, instiga ou induz terceira pessoa a fazê-lo ou ainda quando consente com o ato, podendo
impedir a ocorrência e não o faz.
Ainda segundo as convenções, o ato da tortura tem por nalidade obter informações ou con ssão da vítima
(ou de terceira pessoa); punir por ato que a vítima (ou terceira pessoa) cometeu ou se suspeita que tenha
cometido ou ainda como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro m; intimidar ou coagir a
vítima (ou terceira pessoa) ou ainda por discriminação de qualquer espécie.
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu como garantia fundamental a proteção do direito à vida e
integridade física, estabelecendo que o crime de tortura é ina ançável. Com o advento da Lei n. 9.455 de
1997, a tortura foi tipi cada como crime.
Esta lei estabeleceu que a prática de tortura é conduta que pode ser praticada também por agentes
privados, ou seja, qualquer pessoa que venha a constranger alguém com uso de violência ou grave ameaça
causando-lhe sofrimento físico ou mental para obter informação, declaração ou con ssão da vítima ou de
terceiro; para provocar ação ou omissão de natureza criminosa e ainda para discriminar em função da raça
ou religião. Deste modo, no Brasil, a tipi cação do crime de tortura não estabeleceu a exclusividade da
prática por agente público, mas atribuiu um agravante de pena nestes casos.
A Lei n. 9.455 de 1997 previu ainda que o ato de submeter alguém que está sob sua guarda, poder ou
autoridade, utilizando violência ou ameaçando gravemente, a intenso sofrimento físico ou mental como
forma de aplicar castigo pessoal ou como medida preventiva também se caracteriza como tortura.
Sendo assim, para se caracterizar a tortura, é preciso que três elementos estejam presentes: a forma em
que foi in igida (autoria, modo, circunstâncias) a consequência da ação (efeitos na vítima) e a motivação ou
objetivo (informação, castigo, ação ou omissão, descriminação). É preciso a demonstração destes três
elementos ou, a tipi cação ca comprometida e o ato praticado pode ser denunciado e julgado como outro
tipo criminal, como, por exemplo, maus-tratos, lesão corporal, entre outros.