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Neste texto vamos explicar para você o que o inciso III da Constituição fala sobre a tortura,
qual a relevância da proibição dessa prática e como ela foi tratada ao longo da história em
nosso país. Continue com a gente!
Para conhecer outros direitos, confira a página do Artigo 5º, um projeto desenvolvido pelo
Politize! em parceria com o Instituto Mattos Filho e a Civicus.
A RELEVÂNCIA DA PROIBIÇÃO À TORTURA?
O artigo 5º, em seu terceiro inciso, afirma que:
A partir deste inciso, a Constituição de 1988 é clara em afirmar que a prática da tortura é
expressamente proibida em território brasileiro. O inciso se aplica a qualquer pessoa, pois
ao determinar que ninguém será submetido a tais atos violentos, incluem-se os brasileiros e
qualquer estrangeiro dentro dos limites de nosso país. Além da tortura, esse inciso também
prevê que nenhuma pessoa pode ser vítima de tratamento desumano ou degradante, pois
em todos esses casos se estaria agindo contra a dignidade da pessoa humana e, portanto,
devem ser reprovados pelo Estado brasileiro.
Pode parecer lógico que, ao garantir o direito à vida, a prevenção à tortura está implícita,
porém deixá-la evidente foi uma maneira de relembrar as autoridades de que a tortura não
deve ser tolerada. Esse direito é relevante porque busca proteger a vida e a integridade
física e moral dos indivíduos e preveni-los de serem submetidos a atos cruéis e desumanos.
Além de ser um modo de punição, torturar as pessoas foi uma forma bastante comum de
adquirir provas ou confissões com o objetivo de incriminar alguém. As confissões, em
algumas sociedades, possuíam valor superior a outras provas, ou seja, o que era
confessado valia como verdade absoluta. Assim, criava-se um mecanismo que dava às
pessoas que tinham o poder, as condições de incriminar quem desejassem, pois para
livrar-se da dor da tortura, as vítimas acabavam por admitir até mesmo atos que nem
haviam praticado.
O uso da tortura como instrumento sistemático de manifestação do poder pode ser de difícil
compreensão para aqueles que vivem em um Estado de Direito, mas a tortura foi mais
comum do que nossa breve existência pode nos fazer crer. Séculos antes do nascimento de
Cristo, as torturas já eram utilizadas e só começaram a ser proibidas no século XVIII, com a
propagação das ideias iluministas, movimento intelectual que defendia o uso da razão e
pregava maior liberdade política e econômica.
Mas foi somente em 1948 que a proibição à tortura foi oficializada, com a assinatura da
Declaração Universal dos Direitos Humanos pelos Estados membros da Organização das
Nações Unidas. Fazia 3 anos que a Segunda Guerra Mundial havia acabado e a motivação
para assinatura da declaração era, em grande medida, prevenir que as atrocidades que
foram cometidas durante a guerra, em especial no holocausto, fossem cometidas
novamente. Veja o que diz o artigo 5º desse documento:
Hoje, para o Direito Internacional, a proibição à tortura é considerada uma norma de jus
cogens, o que significa que todos os países devem obedecê-la, mesmo aqueles que não
tenham assinado qualquer tratado ou convenção internacional sobre o tema. Como já
explicamos, além da proibição à tortura ser um princípio geral do Direito Internacional, é
uma violação gravíssima aos Direitos Humanos.
Para saber mais sobre a história da tortura no mundo confira este texto do Politize!.
A tortura também faz parte de diversas páginas da história do Brasil. Ainda no período da
colonização, os portugueses praticavam torturas como mecanismo de dominação sobre a
população, em geral, índios e negros. A tortura era uma forma de punição por
desobediência aos senhores e também para obter provas por meio de confissões.
Segundo a nova Constituição, ninguém poderá ser vítima de tortura no Brasil, sob nenhuma
condição, como descreve o inciso III do artigo 5º. E para que essa norma fosse cumprida,
era necessário uma lei que descrevesse o que é considerado tortura e quais são as penas
para quem comete esse tipo de crime. A Lei nº 9.455/1997 foi promulgada no Brasil em
1997 e descreve a tortura de duas formas:
– submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou
grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal
ou medida de caráter preventivo.
A proibição à tortura também está prevista no Código Penal Brasileiro (Decreto Lei nº 2.848
de 7 de dezembro de 1940) e no Código de Processo Penal Brasileiro (Decreto Lei nº 3.689
de 3 de outubro de 1941 ). Segundo essas normas, a tortura é crime inafiançável, ou seja,
quem cometer o crime não poderá recorrer ao pagamento de uma fiança para ter a
liberdade. E, além disso, é um crime que dificulta o livramento condicional, situação em que
o indivíduo pode ter sua liberdade antecipada se cumprir alguns requisitos.
Nos últimos anos, diversas iniciativas para prevenir a prática da tortura foram
implementadas no Brasil, como por exemplo, a criação do Sistema Nacional de Combate à
Tortura pela Lei 12.847/2013. Essa legislação, dentre inúmeras iniciativas, prevê o
monitoramento de locais de detenção, hospitais psiquiátricos e estabelecimentos prisionais,
por exemplo, com o objetivo de prevenir a tortura nesses ambientes.
Segundo a organização internacional Human Rights Watch, entre janeiro de 2012 e junho
de 2014, a organização recebeu 5.431 denúncias de tortura, crueldade, desrespeito ou
tratamento degradantes. Essas violações acontecem principalmente dentro das delegacias,
prisões e viaturas. Para Maria Laura Carineu, diretora da organização no Brasil, o fator que
permite a perpetuação dessas atrocidades é a impunidade, pois raramente esses casos são
levados à justiça.