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Capítulo 5 - Prevenção e combate à tortura

Embora a Proclamação da Independência do Brasil e a elaboração da primeira


Constituição de 1824 tenham abolido os açoites, a tortura, a marca de ferro quente
e todas as penas cruéis, o Código Criminal do Império, de 1830, previa em seu
artigo 60 “que se o réu for escravo, e incorrer em pena que não possa ser capital ou
de galés, será condenado a açoites e depois de os sofrer, será entregue ao seu
senhor, que se obrigará a trazê-lo com um ferro pelo tempo e maneira que o juiz
designar”.

Ao término da Segunda Guerra Mundial, quando foram revelados ao mundo os


horrores dos campos de extermínio nazistas na Europa Central, as potências
aliadas decidiram, pela primeira vez na História, julgar penalmente os responsáveis,
instituindo o Tribunal Militar Internacional de Nuremberg em 1945. O Estatuto desse
tribunal definiu como crimes contra a humanidade os seguintes atos: “o assassínio,
o extermínio, a redução à condição de escravo, a deportação e todo ato desumano,
cometido contra a população civil antes ou depois da guerra, bem como as
perseguições por motivos políticos e religiosos, quando tais atos ou perseguições,
constituindo ou não uma violação do direito interno do país em que foram
perpetrados, tenham sido cometidos em consequência de todo e qualquer crime
sujeito à competência do tribunal, ou conexo com esse crime.” [SEDH, p. 83].

Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) que proclama
expressa condenação à prática da tortura, conforme seu artigo 5º, esta questão tem
se tornado um ponto de referência importante para os Direitos Humanos.

Na fase final do regime militar, o presidente João Figueiredo aprovou a Lei da


Anistia - Lei nº 6.683 de 1979. A lei contemplou os crimes cometidos entre 1961 e
1979, garantindo: retorno dos exilados ao país; restabelecimento dos direitos
políticos suspensos de servidores da administração direta e indireta; dos servidores
do Legislativo e do Judiciário; de fundações ligadas ao poder público. Também
estendia esses benefícios aos militares envolvidos em crimes cometidos contra
aqueles que foram detidos.
A Lei da Anistia beneficiou 100 presos políticos e 150 banidos. Cerca de 2 mil
brasileiros puderam voltar ao país, entre políticos e intelectuais como Fernando
Gabeira, Herbert de Souza, o Betinho; Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Márcio
Moreira Alves, Miguel Arraes, Francisco Julião.

O combate à prática da tortura no Brasil foi firmado em lei com a Constituição


Federal de 1988, no artigo 5º. III, XLIII e XLVII, que expressa repúdio à prática da
tortura e penas degradantes, desumanas ou cruéis, além do interesse em proteger a
integridade física e moral do preso (art. 5º., XLIX).

Embora o Brasil tenha assinado a Convenção Contra a Tortura e Outros


Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes firmada pela ONU, a
Declaração Universal dos Direitos do Homem, do Pacto Internacional para a Defesa
de Direitos Civis e Políticos, a Convenção Interamericana Para Prevenir e Punir a
Tortura e da Convenção Americana de Direitos Humanos, somente em 1990, com a
Lei nº 8.072/90, que o Código Penal Brasileiro passou a prever a tortura como um
crime hediondo, ou seja, extremamente grave que não permite anistia, indulto e
fiança.

A lei contra a tortura no Brasil foi criada em 1997 para suprir a inexistência de uma
lei penal que tratasse especificamente desse comportamento. A Lei nº 9.455/97
passou a definir a tortura como crime pelo Código Penal.

Em 2011, no governo Dilma, a Lei 12.528 criou a Comissão Nacional da Verdade


(CNV), com o objetivo de investigar crimes, como mortes e desaparecimentos,
cometidos por agentes representantes do Estado entre 1946 e 1988, principalmente
aqueles ocorridos durante o período da Ditadura Militar.

Em 2013, a Lei n° 12.847 criou o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à


Tortura- SNPCT, com o objetivo de fortalecer a prevenção e o combate a esse
crime.

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