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A escravidão, que vigorou oficialmente no Brasil até 1888, deixou uma marca
indelével na nossa história e os incontáveis estudos sobre sua vigência não
esgotam nem exorcizam a barbárie praticada pelos portugueses, pelos brasileiros e
compartilhada pela sociedade.
Durante séculos a tortura era tida como aceitável para manutenção da ordem. A
preocupação com a dignidade humana tornou-se objeto de convenções
internacionais somente a partir Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
quando os meios de tortura transformaram-se em práticas cruéis.
Mesmo com a Proclamação da República (1889), apesar dos inegáveis avanços das
liberdades públicas, os movimentos de oposição à elite governante na época foram
combatidos com violência e seus simpatizantes submetidos às práticas de tortura e
a tratamentos degradantes. Foi o que ocorreu em Canudos (1896-1897), confronto
entre um movimento popular de fundo sócio-religioso da Bahia e o Exército da
República, ou na Revolta da Chibata (1910-1914), em que soldados da Marinha,
afro-brasileiros e mulatos, realizaram um motim para reivindicar melhores condições
de trabalho.
“Num certo dia de 1910, a tripulação do encouraçado Minas Gerais assistiu à uma
cena horrível: o marujo Marcelino foi castigado com 250 chibatadas, ficando com as
costas em carne viva. A corda de linho molhada, com agulhas de aço, arrancou
sangue e gritos da vítima.” [RIBEIRO, 1989]. Revoltados com os maus-tratos, dois
mil marujos deram início à Revolta da Chibata, na noite de 22 de novembro.
Amotinados, os marinheiros mataram quatro oficiais e levaram sete navios para fora
da baía de Guanabara, liderados por João Cândido (o Almirante Negro), que fez a
seguinte exigência: “— O governo tem que acabar com os castigos corporais,
melhorar nossa comida e dar anistia para todos os revoltosos. Se não a gente
bombardeia a cidade dentro de 12 horas”. [RIBEIRO, 1989].