Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
UNIDADE I....................................................................................... 3
UNIDADE II...................................................................................... 5
UNIDADE III................................................................................... 19
II. I – Introdução
portaldoprofessor.mec.gov.br
Degredado de sua terra, o negro foi obrigado a deixar para traz todos seus
pertences, costumes, parentesco, ancestralidade e também a condição de ser humano
e sua dignidade. A viagem já anunciava o que esperar da vida na nova terra e os
desafios a serem enfrentados dentro de um cenário de silenciamento e total exclusão
dos direitos.
“‘Estamos em pleno mar... Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas…
Castro Alves
A demanda por trabalhadores revela outra mazela desse período, que foi
a forma, a qual o povo indígena que já habitava essa terra foi dizimado.
A chegada dos europeus e o modo como se estabeleceram nas terras
brasileiras, primeiramente batizadas pelos nativos de “Pindorama”, interferiu de
forma desfavorável na vida dos índios. Estes foram subalternizados e
colocados para realizar os trabalhos pesados, inclusive nas lavouras.
Os indígenas tinham o costume de produzir para o próprio sustento,
diferente de ter que plantar para além do necessário e com uma rotina de
trabalho intensa estabelecida. Ainda de acordo com sua cultura esse era um
trabalho destinado às mulheres, se tornando esse um dos motivos pelos quais
foram rotulados como preguiçosos.
O amplo conhecimento do espaço geográfico, também contribuiu para
que a mão de obra indígena se tornasse escassa, facilitando as fugas para a
mata fechada. Ainda nos dias de hoje existe registro de tribos que vivem sem
contato com a civilização.
Debret (1808)
2
Jesuítas padres da Companhia de Jesus criada em 1534 pelo padre Inácio de Loyola e foi
oficialmente reconhecida pela Igreja a partir do papa Paulo III em 1540. Divulgavam o
cristianismo a partir ensino da catequese, com o objetivo de alcançar o mundo impedindo o
crescimento do protestantismo. A participação da ordem no período colonial foi fator que
interferiu significativamente no processo de constituição da nação, principalmente no tocante a
questão religiosa.
negreiro. Este foi o primeiro evento rumo à liberdade dos negros escravizados.
Contudo, a promulgação dessa legislação não foi suficiente para que o
comércio de escravos da África para o Brasil chegasse ao fim e essa atividade
continuou acontecendo de forma clandestina.
O fato da legislação não surtir efeito imediato após sua criação, deu
origem a expressão popular “para inglês ver”, e esta só começou a se efetivar a
partir da década de 1870 com a intensificação da fiscalização no espaço
marítimo. Com o enfraquecimento da mão de obra escrava, o país se buscou
incentivar a entrada de trabalhadores imigrantes, especialmente de origem
europeia.
Surgiram outras legislações importantes como a Lei do Ventre Livre, de
1871 que garantia a liberdade dos filhos dos escravizados nascidos após sua
promulgação. A Lei dos Sexagenários, de 1885, que garantia a liberdade à
população negra com mais de 65 anos, sendo essas conquistas do povo
escravizado no caminho rumo à liberdade, que se oficializou em 1888, com a
promulgação da Lei Áurea.
3 Status quo: expressão originada do latim que significa “estado atual”. Seu significado está
relacionado ao estado dos fatos, das situações e das coisas, independente do momento. O
termo status quo é geralmente acompanhado por outras palavras como manter, defender,
mudar e etc.
anos, e demarcava, assim, as desigualdades raciais, (pré)
determinando penalizações, que afetavam, principalmente, os
meninos negros.
O povo não branco deixou de ser bem vindo ao país quando começou-
se a pensar no Brasil como nação e não como uma terra a ser explorada,
demonstrando o início da historia de exclusão, que vem acompanhando esses
grupos raciais até os dias atuais.
Contudo, a legislação não foi suficiente para alterar a composição da
população, mesmo com estatísticas feitas por estudiosos, como o antropólogo
João Batista Lacerda (1911), que defendia a ideia de que em cem anos já não
existiriam negros e mestiços no país.
4 Eugenismo: Ideia criada e propagada por Francis Galton, em 1883. Defendia que o conceito
de seleção natural de Charles Darwin, seu primo, também poderia ser utilizado com seres
humanos. Buscava comprovar que a capacidade intelectual era hereditária, justificando dessa
Gilberto Freyre em sua obra Casa Grande e Senzala muda o foco das
questões biológicas e se volta à propagação da imagem de mestiçagem
cultural mesmo com a diferença entre as raças.
1989_ Lei 7.716, conhecida como Lei Caó, determinava como crime a
discriminação racial e a intolerância religiosa com prévia penalização.
5
Políticas Públicas de Ações Afirmativas são medidas especiais de políticas públicas e/ou
ações privadas de cunho temporário ou não. Este tipo de ação visa uma reparação histórica de
desigualdades e desvantagens acumuladas e vivenciadas por um grupo racial ou étnico, de
modo que essas medidas aumentam e facilitam o acesso desses grupos, garantindo a
igualdade de oportunidade. Entender de forma ampla e consciente as Ações Afirmativas é
também questionar o passado, efetivar o presente e planejar o futuro de forma consciente.
Disponível em: < https://acoes-afirmativas.ufsc.br>
1990 _ Instituição da Secretaria Estadual de Defesa e Promoção das
Populações Negras; Marcha Zumbi Contra o Racismo.
6 País signatário: Quer dizer que a nação subscreveu a algum tipo de manifesto, contrato,
acordo, carta ou outro documento com o qual concorda com o conteúdo apresentado e assina
se comprometendo com o mesmo.
_ Criação da Secretaria de Educação Continuada e Alfabetização e
Diversidade (SECAD).
2012 _ A Lei 12.711 de 2012, chamada Lei das Cotas, define que as
Instituições de Ensino Superior vinculadas ao Ministério da Educação e as
instituições federais de ensino técnico de nível médio devem reservar 50% de
suas vagas para as cotas.
Disponível em <http://www.acordacultura.org.br>
Todas essas ações e muitas outras que não foram citadas aqui
compõem o plano responsável pelo largo espaço que a questão étnico-racial
vem alcançando nos debates políticos, econômicos e sociais e sua ampla
visibilidade nas mídias e propostas educativas.
A luta por esse debate é tão complexa que mesmo com toda exposição
da produção teórica e cultural em favor do reconhecimento da população
negra, indígena e mestiça, a perversidade das ideologias raciais atuam no
consciente da população que percebe a questão sendo amplamente exposta e
atribuem essas importantes conquistas ao de que “ser preto está na moda”.
III.III – Considerações Finais
SCHWARCZ, L. M. Nem preto nem branco: muito pelo contrário. São Paulo:
Claro Enigma, 2012.