Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A tortura esteve presente por muito tempo também no Estado Novo (1937-1945),
período ditatorial no governo de Getúlio Vargas em que um “estado policial” foi
formado. Durante a ditadura de Getúlio, a polícia política tratava opositores do
governo na base da tortura. Não havia a garantia das liberdades individuais,
liberdade de expressão, direitos políticos e civis, além de as autoridades policiais
(delegados, oficiais e soldados) possuírem poder praticamente ilimitado sobre o
objeto de suas investigações e sobre os indivíduos.
“As atrocidades praticadas no Brasil pela polícia política do capitão Filinto Müller
excederam, em alguns pontos, as torturas infligidas pela Gestapo ao judeus,
antinazistas e prisioneiros aliados. Difícil é comparar a maldade com a maldade, a
barbaria com a barbaria, o perverso com o perverso. Os nazistas alemães retiraram
a pele tatuada dos condenados para o fabrico de “abat-jours”... Os policiais
brasileiros enfiavam arames na uretra dos presos e com o maçarico, aqueciam
esses arames até ficarem em brasa. Os nazistas alemães executavam os presos
em câmaras de gás. Os policiais brasileiros apertavam o crânio dos presos até que
eles morressem ou enlouquecessem.”, escreveu o jornalista David Nasser no livro
“Falta Alguém em Nuremberg” [NASSER, D. 1947, p.5] sobre a tortura de presos
políticos praticadas pelo capitão do exército Filinto Müller, poderoso chefe da polícia
de Getúlio de 1933 a 1942, ligado a polícia nazista.
No título do livro, esse alguém que falta em Nuremberg (tribunal militar internacional
que julgou e condenou o alto escalão nazista por crimes de guerra e contra a
humanidade durante a Segunda Guerra Mundial) é o Filinto, mostrando que ele
cometeu crimes tão monstruosos como os nazistas e que deveria ter sido julgado e
condenado como eles, mas não foi.
O líder comunista Luís Carlos Prestes, presidente da ANL, e sua esposa Olga
Benário, do partido comunista alemão, foram caçados pela polícia terrorista de
Müller, em uma das maiores operações repressivas da história, como mostra o filme
“Olga”, de Jayme Monjardim (2004).
Meu trisavô, Hugo de Souza Silveira, que era militar e integrante da ANL, também
foi preso político na Casa de Detenção da Rua Frei Caneca no Rio de Janeiro, onde
estavam Prestes, Olga, o escritor Graciliano Ramos, a psiquiatra Níse da Silveira,
Agildo Barata, Silvino Neto e muitos outros intelectuais e militares de esquerda. Ele
contava sobre o dia em que Olga Benário, grávida, foi enviada para a Alemanha
pelo governo brasileiro para ser morta pela Gestapo. Todos na prisão ficaram
revoltados e fizeram uma “greve do esporro”. O filme também mostra esta cena.
Outro filme, “Memórias do Cárcere”, de Nelson Pereira dos Santos (1984), sobre o
livro de Graciliano Ramos escrito na prisão, mostra como era a rotina do escritor e
dos outros presos na Casa de Detenção e depois na prisão da Ilha Grande, para
onde foi enviado.