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Texto 1

Uma parcela importante do movimento operário não aceitou a forma como o


Governo Vargas tratou a questão do trabalho no início dos anos 1930. Se, por um
lado, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, demonstrou o
interesse do governo em buscar soluções para a chamada “Questão Social”, por
outro foi a forma dos governantes interferirem na organização dos sindicatos e
retirarem dos trabalhadores a liberdade que eles tinham para se organizarem e
lutarem por seus direitos.
   O Ministério do Trabalho podia, por exemplo, decidir quais os sindicatos que
seriam legalizados – os demais eram perseguidos e fechados –, obrigar que as atas
das reuniões sindicais fossem remetidas para o ministério, enviar um
representante do ministério para vigiar os encontros dos trabalhadores, entre
outras medidas. A criação da carteira de trabalho, por exemplo, estabelecida como
obrigatória, foi uma forma do governo cadastrar os dados pessoais dos
trabalhadores para ter controle sobre eles: era facilmente identificado e preso
quem estivesse participando de greves ou de qualquer outro tipo de
manifestação.

   Descontente com o crescimento da mobilização dos trabalhadores no segundo


semestre de 1934, o governo trabalhou para a criação da Lei de Segurança
Nacional, sancionada por Vargas em 4 de abril de 1935. Apelidada pelos
trabalhadores de “Lei Monstro”, ela deu mais poder para as autoridades
prenderem manifestantes e fecharem organizações sindicais.

   Por esses motivos, a chamada “esquerda radical” ou “revolucionária” combateu o


Ministério do Trabalho e denunciou o que chamavam de plano do governo Vargas
para controlar os trabalhadores. E contra estes opositores o governo usou de
muita violência, reprimindo e prendendo suas lideranças, tal qual era feito na
Primeira República. Como resposta à repressão policial, manifestantes reagiam
com o uso de pedras e armas caseiras como o “foguetão".
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A partir de meados de 1934, com a criação da Constituição de 16 de Julho,


proliferaram as greves no país. As principais exigências eram a jornada de
trabalho máxima de 8 horas diárias, o aumento de salários e o cumprimento das
leis trabalhistas que já estavam em vigor, mas que não estavam sendo fiscalizadas
de maneira satisfatória pelo Ministério do Trabalho.

Nesse contexto, Luís Carlos Prestes, com a coliderança de Olga Benário, Rodolfo
Ghioldi, Arthur Ewert, Antônio Bonfim (mais conhecido como Adalberto Fernandes
ou pelo apelido, “Miranda”) e outros, organizou levantes para o final de novembro
de 1935 a fim de tentar derrubar o Governo Vargas e tomar o poder. Acusavam o
governo de reformista e burguês, entendendo que ele não atendia às
reivindicações do movimento operário, apenas cuidando da manutenção da
exploração do trabalhador por outros meios, ao apresentar meros paliativos para
os abusos existentes na relação patrão-empregado.

As insurreições ocorreram no final de novembro de 1935, nas cidades de Recife,


Natal e Rio de Janeiro, sendo aniquiladas pelas forças do governo em poucos dias.
Receberam o preconceituoso apelido de “Intentona Comunista”, de forma a defini-
la como um plano insensato, um ato temerário e não uma ação revolucionária.
Como resultado, o período que se seguiu foi de intensa repressão. No Congresso,
antes dividido, houve união entre oposição e governistas contra os levantes e em
apoio ao presidente. Vargas, por sua vez, aproveitou a comoção nacional para
aprovar na Câmara e no Senado as reformas da Lei de Segurança Nacional e da
Constituição de 1934, o que lhe deu poderes para realizar prisões arbitrárias,
exonerar servidores públicos e reformar militares.

Outra medida importante foi a decretação do Estado de Sítio e sua equiparação ao


Estado de Guerra, já no final de novembro de 1935. Dessa forma, os direitos
constitucionais estavam suspensos e Vargas governava com os poderes de um
ditador. A cada três meses a medida era renovada em votação no Congresso, o
que ocorreu repetidas vezes durante quase dois anos.
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Com a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), em dezembro de


1939, os projetos de construção da imagem de Getúlio Vargas, de culto à sua
personalidade e de controle da opinião pública tiveram sua realização plena.
Estruturado como uma verdadeira máquina da propaganda governista, o DIP teve
forte atuação junto a todos os meios de comunicação, sobretudo o rádio e a
imprensa escrita. Ao DIP cabia a tarefa exclusiva de cuidar de toda a publicidade e
propaganda dos órgãos do governo e da administração pública federal, assim como
de todas as suas autarquias. O DIP dedicava parte de seus recursos à censura aos
meios de comunicação brasileiros. Nada (ou quase) escapava aos olhos atentos dos
censores, que em 1942 chegaram a proibir a veiculação de 108 programas de rádio e
quase 400 músicas, fosse pelo conteúdo nocivo aos interesses da pátria, fosse por
letras de moral questionável, sobretudo em se tratando das marchas de carnaval.

A organização do DIP dividia-se em cinco de divisões, dedicadas aos setores


considerados estratégicos para a propagação do ideário do regime de Vargas. A
Divisão de Radiodifusão era uma das mais destacadas, por ter sob sua vigília o mais
importante meio de comunicação do país, assim como a Divisão de Imprensa, a qual
cabia o controle do conteúdo que se veiculava pelos jornais, revistas e livros
brasileiros.

A Divisão de Cinema e Teatro responsabilizava-se não só pelo conteúdo das


produções brasileiras nesses setores, como pelo incentivo de realizações que
tivessem por objetivo a divulgação dos feitos de Vargas e de seu governo. Por último,
havia ainda a Divisão de Turismo, que apesar de sua modesta atuação, buscava
"enaltecer as belezas naturais deste vasto país", e a Divisão de Divulgação,
responsável pela distribuição de publicações oficiais e pelo controle e veiculação de
discursos governistas.

Ou seja, a censura foi utilizada como um objeto dominador político, portanto a DIP
do governo Vargas era claramente um instrumento de coerção social.
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Assassinatos com motivação política não foram raros durante a ditadura do


Estado Novo (1937-1945). O caso mais gritante foi o fuzilamento de oito
participantes do assalto ao Palácio Guanabara em 1938, organizado por militares e
militantes da Ação Integralista Brasileira. Os oito tinham sido capturados e
desarmados quando foram mortos nos fundos do palácio, como admitiu em suas
memórias o general Góis Monteiro (1889-1956). Não houve qualquer investigação
sobre o crime. Há referências a assassinatos nas revoltas comunistas de Natal e
Recife em 1935 e nas delegacias de polícia, sobretudo na sede da Polícia Central,
na Rua da Relação, na então capital da República, e nas casas de Detenção e
Correção. Um médico da Polícia Militar, Nilo Rodrigues, por exemplo, disse ao
jornalista Vítor do Espírito Santo ter presenciado fatos de alarmar:
“espancamentos horrorosos, vários assassinatos dentro da Polícia Especial”. Mas,
devido à censura à imprensa, poucos desses crimes vieram a conhecimento
público. Quase todos foram abafados nos porões das delegacias.

A tortura de presos foi investigada e descrita pelo jornalista David Nasser (1917-
1980), inicialmente em seis reportagens publicadas na revista O Cruzeiro – a
primeira delas em 29 de outubro de 1946 – e, depois, em livro de 1947. As
publicações foram intituladas “Falta alguém em Nuremberg”. Esse alguém era o
capitão do Exército Filinto Müller (1900-1973), chefe de Polícia da capital de 1933 a
1942. Os principais instrumentos de tortura, mencionados em depoimentos no
Congresso e registrados por David Nasser, eram: o maçarico, que queimava e
arrancava pedaços de carne; os “adelfis”, estiletes de madeira que eram enfiados
por baixo das unhas; os “anjinhos”, espécie de alicate para apertar e esmagar
testículos e pontas de seios; a “cadeira americana”, que não permitia que o preso
dormisse; e a máscara de couro.

Era também prática comum queimar os presos com pontas de cigarros ou de


charutos e espancá-los com canos de borracha. Em alguns casos, o requinte era
maior. O ex-sargento José Alves dos Santos, por exemplo, teve um arame enfiado
na uretra ficando uma ponta de fora, que foi, a seguir, aquecida com um maçarico.
Para que os gritos dos torturados não fossem ouvidos fora do prédio da Polícia
Especial, um rádio era ligado a todo o volume. Poucos torturados resistiam. Houve
quem se suicidasse pulando do terceiro andar da sede da Polícia Central; outros
enlouqueciam, como foi o caso de Harry Berger, membro do Partido Comunista
Alemão, torturado durante anos juntamente com sua mulher, Sabo. Quase todos
guardavam sequelas para o resto da vida no corpo e na mente.
Um dos depoimentos mais dramáticos foi o de Carlos Marighela (1911-1969),
deputado pela Bahia do Partido Comunista do Brasil, dado em 25 de agosto de
1947. Ele descreveu várias torturas que sofreu ou que presenciou. Entre elas,
espancamento com canos de borracha, aplicado na sola dos pés e nos rins,
queimaduras com pontas de cigarro, introdução de alfinetes por baixo das unhas,
arrancamento das solas dos pés ou de pedaços das nádegas com maçaricos. Em
se tratando de presas, costumava-se introduzir esponjas embebidas em mostarda
em suas vaginas. O general Figueiredo, que fora companheiro de prisão de
Marighela, considerou a declaração o ponto culminante dos trabalhos da
Comissão. Em seu depoimento, o jornalista Vítor do Espírito Santo disse ter ouvido
do médico Nilo Rodrigues que nunca tinha visto “tanta resistência a maus-tratos e
tanta bravura” como as demonstradas por Marighela.

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