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A historietografia de Marco Antônio Villa: um negacionismo à brasileira

por Demian Melo | para o blog CONVERGÊNCIA em 07.fev.2014

Desde que publicou sua biografia do ex-presidente João


Goulart,[1] Marco Antonio Villa vem defendendo a tese de que aquele presidente
também pretendia “um golpe” em 1964.[2]Sendo assim os eventos de 31 de março/2
de abril daquele ano seriam uma espécie de “contra-golpe preventivo” – uma tese,
aliás, que nada mais é do que o argumento dos verdadeiros golpistas. Do mesmo
modo, o celebrado jornalista Elio Gaspari, em seu livro A ditadura
envergonhada defende a mesma “tese”.[3] A questão é: mas o quê os dois
apresentam como prova do suposto “golpismo” de Jango? Simplesmente um
memorando do Embaixador Lincoln Gordon, onde este relatou à Washington os
supostos intentos de Jango em “conseguir poderes ditatoriais”, além de informações
retiradas de um livro comprometido com a ditadura, A história das revoluções
brasileiras, de Glauco Carneiro. [4]A crítica ao trabalho de Gaspari já foi feita de forma
eficiente pelo historiador Mario Maestri e o pelo jornalista Mario Augusto Jacobskind,
[5] e essa nossa contribuição que segue irá se ater a Villa, que acaba de lançar outro
livro.
Ditadura à brasileira é o que podemos definir como negacionismo, termo usado contra
aqueles que nos anos 1980 difundiram a ideia de que o “Holocausto foi um mito”,
autores classificados por Pierre Vidal-Naquet de “assassinos da memória”. A tese
básica de Ditadura à brasileira apareceu há alguns anos em um artigo na Folha, que
vale contextualizar.
Em 2009, quando um editorial do jornal Folha de São Paulo resolveu amenizar a
ditadura brasileira através do termo “ditabranda”,[6] Villa não demorou muito para
comparecer nas páginas do mesmo periódico paulistano propondo uma leitura ainda
mais amenizadora sobre aquele período: a ideia de que no Brasil só houve mesmo
ditadura entre o AI-5 de dezembro de 1968, e 1979. Com a “certeza da impunidade”,
escreveu:
“Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 (até o AI-5), com toda a
movimentação político-cultural. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da
Lei de Anistia e as eleições para os governos estaduais em 1982.”[7]
Em suma, se fosse possível levar a sério essas palavras do autor, as milhares de
pessoas nas ruas em 1968 na passeata dos 100 mil contra a Ditadura deveriam ser
praticamente taxadas de loucas; tal como seriam insanos os milhões de cidadãos que
ocuparam as praças e avenidas do Brasil na campanha pelas Diretas já em 1984.
Mas voltemos a 1964 e pensemos em Gregório Bezerra, líder camponês e comunista,
já idoso e arrastado pelas ruas do Recife amarrado a um jipe no dia do golpe;
pensemos nos presos políticos, nas lideranças políticas banidas do país e nas
denúncias de tortura já nos primeiros dias da ditadura;[8] nos Atos Institucionais e na
Constituição de 1967. Poderíamos ficar aqui arrolando uma lista interminável de
aspectos daquele regime, que obviamente sofreu uma radicalização a partir do AI-5.
Em breves palavras o filósofo Paulo Arantes sintetizou o espírito dessa operação
revisionista:
“Pelas novas lentes revisionistas, a dita cuja só teria sido deflagrada para valer em
dezembro de 1968, com o Ato Institucional no5 (AI-5) – retardada, ao que parece, por
motivo de “efervescência” cultural tolerada – e encerrada precocemente em agosto de
1979, graças à autoabsolvição dos implicados em toda a cadeia de comando da
matança. O que vem por ai? Negacionismo à brasileira? Quem sabe alguma variante
local do esquema tortuoso de Ernest Nolte, que desencadeou o debate dos
historiadores alemães nos anos 1980 acerca dos campos da morte.[9] Por essa via, a
paranoia exterminista da ditadura ainda será reinterpretada como o efeito do pânico
preventivo disparado pela marcha apavorante de um Gulag vindo em nossa
direção.” [10]

Como intelectual de bolso dos talibãs do


neoliberalismo, presença constante  como comentarista político – não, certamente, por
algum mérito como pesquisador –, da TV Cultura à Globo News, da VEJA à blogosfera
direitista, que Villa cumpra esse papel não deve espantar nenhuma pessoa bem
informada. Sua Ditadura à brasileira não é um livro que precise ser lido; assim como
os intragáveis Guias politicamente incorretos “disso e daquilo” não precisam de
qualquer consulta atenta para se saber o tipo de literatura temos pela frente: mera
manipulação ideológica.
Mais produtivo do que esquadrinhar o festival de bobagens escritos dessa vez pelo
autor será observar como manipulações dessa natureza não são incomuns. Ao
contrário, sempre ganham repercussão na ocasião de efemérides, como a dos 50
anos do golpe de 1964, como foi no bicentenário da Revolução Francesa,[11] ou, pior,
nos 80 anos da Revolução Russa (1997), quando, além do Livro negro do comunismo,
teve lugar também o filme Anastásia, da Disney, cuja função precípua era reabilitar o
czarismo. Um exemplo recente é bem ilustrativo.
A “historietografia” espanhola
Desde o início dos anos 2000 as livrarias do Estado Espanhol têm sido invadidas por
um tipo de literatura muito similar. Capitaneada por um ex-maoísta, Pío Moa,[12] e
muito apoio midiático, agora se diz que a Guerra Civil dos anos 1930 foi uma “guerra
patriótica contra a invasão vermelha”.[13] Enquanto isso o jornalista César Vidal, em
publicações que são best-sellers, defende a tese de que o massacre de Guernica,
imortalizado na tela de Picasso, não teria passado de um “mito vermelho”.[14]
Outra peça de propaganda desse revisionismo espanhol está expresso no Diccionario
Biográfico Español, feito sob os auspícios da Real Academia de la Historia de España.
No  verbete dedicado  a Franco, por exemplo, deixado a cargo do historiador
medievalista Luis Suarez – nada menos que o presidente da Fundación Francisco
Franco –, o caudilho aparece como um político “moderado” e “prudente” que
encabeçou um “regime autoritário”, não uma “ditadura”, muito menos uma “ditadura
fascista”. É evidente que não há consenso na historiografia sobre o enquadramento do
franquismo como uma experiência fascista, mas deve-se observar que o propósito
desta absolvição não opera a partir de uma rígida elaboração conceitual, mas com
flagrante propósito apologético.
Em resposta, En el combate por la historia. La república, la guerra civil, el
franquismo (Contradiccionario),[15] editado por Ángel Viñas e que conta com 45
capítulos temáticos e 12 verbetes biográficos  escritos por especialistas de três
gerações, como veteranos do porte de Paul Preston, Julia Casanova, Julio Aróstegui,
Alberto Reig Tapia, além de Josep Fontana. Com um título que rememora o clássico
livro Combats pour l’Histoire (1952) de Lucien Febvre (1878-1956), o propósito
do Contradiccionario é o de combater o que os autores denominam
de “historietografia”, e também apresentar o resultado da investigação histórica dos
últimos 30 anos sobre a evolução da sociedade espanhola no período compreendido
entre 1931 até 1975.
Em sua Introdução, Ángel Viñas confessa que relutou algumas vezes antes de aceitar
a ideia de organizar uma obra de resposta a essa manipulação neo-franquista da
história, mas que acabou convencido por entender o problema ético de fundo que
significava a popularização desse tipo de literatura no grande público. Isso por que, ao
contrário do que pensam muitos profissionais da Clio, o tipo de atividade que exercem
tem profundas implicações nas disputas políticas contemporâneas.
Normalizar um passado ditatorial pode ser uma arma eficiente na construção do
consenso em torno ao desmonte do Estado Social – que o Brasil nunca conheceu,
diga-se de passagem – e a instituição de um Estado Policial. Não se trata de um
debate sobre o passado, mas sobre o aqui e o agora, seja no Sul da Europa dos
pacotes de austeridade, seja no país da Copa e dos Megaeventos.
Um negacionismo à brasileira
Definitivamente, Marco Antonio Villa está longe de ser um historiador que a
comunidade acadêmica tem levado a sério. Embora esteja vinculado ao Departamento
de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, é só mais um exemplar
daqueles escribas da ordem apresentados na TV como “especialistas”, como o
sociólogo Demétrio Magnoli e tantos outros ex-esquerdistas que, como Villa, estão
sempre à disposição para vocalizar os interesses da oposição de direita ao governo do
PT.
Alguns colegas, sérios pesquisadores por sinal, acreditam que infelizmente trabalhos
como o de Villa vendem, e vendem muito. E é muito provável que tenham razão. Tal
como literatura de aeroporto, é muito possível que Ditadura à brasileira encontre seu
lugar entre os best-sellers na categoria dos livros de não-ficção, o que ironicamente só
revela o lado decadente  de amplas parcelas semiletradas da classe média brasileira,
mais afeitas a churrascarias do que  a bibliotecas.[16] Pois é propriamente o tipo de
livro que interessa a gente que adora uma boa justificativa para não ler mais nada.

[1] VILLA, Marco Antonio. Jango, um perfil (1945-1964). São Paulo: Globo, 2004.


[2] Idem, p.9.
[3] GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras,
2002, p.51.
[4] VILLA, op. cit., p.191. GASPARI, op. cit., p.79.
[5] Cf. MAESTRI, Mário & JAKOBSKIND, Mário Augusto. “A historiografia
envergonhada” Revista História & Luta de Classes. Ano 1, nº 1, p. 125-131, 2005.
Disponível emhttp://www.espacoacademico.com.br/024/24res_gaspari.htm
[6] Editorial do jornal Folha de São Paulo, de 17 de fevereiro de 2009, p.2.
[7] VILLA, M. A. “Ditadura à brasileira.” Folha de São Paulo, 5 de março de 2009, p.3.
[8][8] Tortura como uma prática estrutural do novo regime, já que num país de
passado escravista como o Brasil sua origem é imemorial.
[9] Sobre o revisionismo de Nolte, remeto o leitor à nossa contribuição: MELO, Demian
Bezerra de. “Revisão e revisionismo historiográfico: as disputas pelo passado e os
embates políticos contemporâneos.” Marx e o Marxismo, Niterói, v.1, n.1, p.49-74
jul/dez 2013. Disponível
emhttp://www.marxeomarxismo.uff.br/index.php/MM/article/view/11
[10] ARANTES, Paulo. “1964, o ano que não terminou.” In. TELES, Edson &
SAFATLE, Vladimir (orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo:
Boitempo, 2010, p.209.
[11] Para o qual existe o incontornável livro de HOBSBAWM, Eric. Ecos da
Marselhesa: dois séculos revêem a Revolução Francesa. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.
[12] Pío Moa pertenceu à organização de extrema-esquerda Grupo de Resistência
Antifascista Primero de Octubre (GRAPO), fundada em 1975, o braço armado do
maoísta Partido Comunista de España (reconstituído).
[13] MOA, Pío. Los mitos de la Guerra Civil. Madrid: La esfera de los libros, 2003.
[14] VIDAL, César. Paracuellos-Katyn. Un ensayo sobre el genocídio de la izquierda.
Madrid: Libros libres, 2005.
[15] VIÑAS, Ángel (ed.). En el combate por la historia. La república, la guerra, el
franquismo. Barcelona: Pasado & Presente, 2012.
[16] Classe média essa que adora recomendar aos jovens de periferia que  façam
seus “rolezinhos” em bibliotecas.

"As contradições de Marco Antonio Villa


Por Rodrigo Constantino
[24/05/2017] [17:19]
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Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

Não assisti na íntegra ao barulhento embate entre o historiador Marco Antônio Villa e o
deputado Jair Bolsonaro na Jovem Pan. Não tive muito estômago para o que me pareceu
que seria, pelas amostras a que tive acesso, um baita tempo perdido aturando um tiroteio
retórico irracional. Alguns detalhes, porém, que consegui identificar me chamaram
particularmente a atenção, e me parece conveniente ressaltá-los.

Como de praxe, em discussões com Bolsonaro, o tema do regime militar apareceu. Em


artigo comentando uma polêmica entre Bolsonaro e o Partido Social Liberal, eu já havia
comentado o que penso acerca da opinião do deputado sobre aquele período histórico,
excessivamente endeusadora e idealizada.  No entanto, um detalhe interessante é que
citei Marco Villa naquele artigo, graças a um longo comentário crítico que fez a uma visão
estereotipada pelo sentido contrário – ou seja, demonizando e encarando todo aquele
período em bloco, como se fosse uma coisa só.

Cito a mim mesmo: “Não sou eu quem está dizendo, mas o próprio historiador Marco
Antônio Villa quem lembra que, de 1964 até 1968, a realização de festivais musicais, a
publicação de livros e artigos de oposição na imprensa da época, e a presença de um
‘leque enorme no campo político-cultural’ de esquerda impedem que seja razoável falar em
‘ditadura’ naquele momento. Isso não significa, ele também destaca, que houve ‘ampla
liberdade’ naquele período; houve uma combinação entre autoritarismo e liberdades, com o
Congresso majoritariamente aberto, tipo de ambiente que marcou diversos episódios da
nossa história, sobretudo até aquele momento”.
Na mesma ocasião, Villa disse que para chamar esse período de 64 a 68 de “ditadura”,
seria preciso “mudar o dicionário”. Ele chegou também a relativizar o autoritarismo mesmo
no auge do regime, na vigência do AI-5, dizendo que em 1974 “tivemos uma eleição
relativamente livre para o Senado”. Também disse que é um absurdo chamar de ditadura o
período que vem depois de 1978, durante o governo de Figueiredo.

Curiosamente, entretanto, em sua briga com Bolsonaro, perguntado pelo deputado sobre
quando a ditadura começou, em meio ao tiroteio vocabular, Villa bradou: “a ditadura é uma
longa história; a repressão já começa em 64. O povo pediu a saída de João Goulart, mas
não queria ditadura”.

A crítica atual de Villa, como dissemos naquele mesmo artigo, estará correta, se ele se
referir ao período pós-AI-5. Porém, agora ele resolveu, apenas para atacar Bolsonaro,
sustentar que Castelo Branco inaugurou uma terrível ditadura repressora. Que sentido faz
isso?

Villa disse ainda que o campo da “moral” e da “honestidade” não “interessam”. Ora, o
historiador está o tempo inteiro, com razão, atacando as imoralidades dos nossos homens
públicos, inclusive com relação aos absurdos que ouvimos no áudio do presidente Michel
Temer divulgado nos últimos dias. Se, em meio ao turbilhão da Lava Jato, a honestidade é
um tópico irrelevante, qual deles não o será?

Também nos causou uma baita confusão mental a crítica de Villa a Bolsonaro por ele ter
aceito a doação do fundo partidário (ele é um deputado que faz campanha por um partido,
não?). A confusão se dá porque Bolsonaro rejeitou receber uma doação de R$ 200 mil da
Friboi, e depois Bolsonaro recebeu o mesmo valor de seu partido. Ora, há alguma
ilegalidade nisso? Francamente, não é preciso ter muita sapiência para compreender.

Villa tem seu valor. Com a única intenção de destroçar Jair Bolsonaro sabe-se lá por que
motivo, porém, preferiu se entregar a esse esdrúxulo rebaixamento. Lamentável."
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/contradicoes-
de-marco-antonio-villa/
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A triunfal ascensão à base de asneiras de Marco Antônio Villa
Publicado por
 Paulo Nogueira
 -
 15 de novembro de 2014
Republico um texto de junho de 2013 porque o objeto dele, Marco Antonio Villa, voltou
aos holofotes depois que viralizou o vídeo de um bateboca entre ele e Airton Soares
num telejornal da Cultura.
Não tenho grandes expectativas em relação à academia brasileira, mas mesmo assim
me surpreendi ao ler um artigo sem nexo na Folha, nas eleições de 2010, e ver que o
autor era professor da Universidade Federal de São Carlos.
Pobres alunos, na hora pensei.
Não conhecia o professor Marco Antonio Villa, historiador não sei de que obras. No
artigo, depois de ter entrado na mente de Lula, ele contava aos brasileiros que a
escolha de Dilma se dera apenas para que em 2014 Lula voltasse ao poder, nos braços
da “oligarquia financeira”. Villa, com as asas de suas teorias conspiratórias, voara até
2014 para prestar um serviço à Folha e seus leitores.
Não sei se Villa conhece a história inglesa, mas deveria ler uma frase de Wellington, o
general de Waterloo: “Quem acredita nisso, acredita em tudo”.
Minha surpresa não pararia ali. Saberia depois que, graças a seu direitismo estridente e
embalado numa prosa com as vírgulas no lugar, Villa virou presença frequente em
programas de televisão cujo objetivo era ajudar Serra, notadamente na Globonews sob
William Waack.
Mais recentemente, ele  participou de animadas mesas redondas no site da Veja sobre
o Mensalão. Vá ao YouTube e veja quantas pessoas vêem as espetaculares
discussões de que Villa participa ao lado de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo. O
recorde de Psy pode ser batido antes do que imaginamos.
Soube também que ele lançou um livro sobre o Mensalão. Abominei sem ler. Zero
estrela de um a cinco.
No site da Veja, ele é presença frequente, para infortúnio de leitores que se
desinformam espetacularmente com suas opiniões. Vale a pena reproduzir aqui a visão
convicta de Villa sobre o MPL nos primeiros dias de protesto. O blogueiro Augusto
Nunes fez questão de publicá-la em, acredite, dezesseis pontos que estavam errados
do primeiro ao último.
Alguns deles:
1. não é o que pode ser chamado de movimento social, sociologicamente falando;
2. é um ajuntamento de pequenos grupos ultra-esquerdistas sem qualquer importância
política;
3. tem uma prática típica de grupos fascistas, são eleitoralmente inexpressivos;
4.  a passagem de ônibus virou um eficaz instrumento para as lideranças desses
grupelhos dar satisfação às suas inquietas “bases”, cansadas de ouvir discursos
revolucionários, negadores da democracia (chamada depreciativamente de
“burguesa”), sem que tivessem o que chamam de prática revolucionária;
5. para estes grupelhos, o vandalismo é um excelente instrumento de propaganda.
Eles se alimentam do saque, da violência e da destruição do patrimônio público e
privado;
6. o poder público não sabe agir dentro da lei para conter os fascistas. Ou se omite, ou
age como eles (ou da forma como eles querem);
7. agir com energia, dentro dos limites legais, é a forma correta de conter os fascistas;
9. é evidente a tentativa de emparedar o governador do estado. O prefeito – sempre
omisso – não está na linha de fogo;
10. O “movimento” está desesperadamente procurando um cadáver;
11. E como bem disse um comentário, este movimento não vale vinte centavos.
Este é Villa, na sua essência. Este o comentarista que a grande mídia usa
incessantemente para deseducar o público.
Passados alguns dias, quando ele percebeu que os que lhe pagam estavam gostando
do MPL por supostamente emparedar o governo, ele desmentiu tudo o que tinha
categoricamente afirmado. Mais uma vez Augusto Nunes lhe deu microfone em seu
blog.
Este movimento tem características que, sinceramente, não encontro paralelo no que li
e estudei.
Ora, ele não estudou os protestos de 68 na França? Ou os do Ocupe Wall St? Você
pode ver a estatura de Villa ao confrontar suas observações rasas, erradas e giratórias
com as do filósofo Renato Janine Ribeiro, num artigo que o Diário publicou hoje.
Villa confunde com seu desconhecimento. Janine aclara com seu conhecimento.
Minha única surpresa em relação a Villa derivou de uma chancela importante de Elio
Gaspari, um dos melhores jornalistas que vi em ação como diretor adjunto da Veja nos
anos 1980. Ele fez parte da equipe de Elio na elaboração de seu livro “A Ditadura
Derrotada”.
Villa, conta Elio, “conferiu cada citação de livro ou documento. Foi um leitor atento e
pesquisador obsessivo. Villa tem uma prodigiosa capacidade de lembrar de um fato e
de saber onde está o documento que comprova sua afirmação. Ajuda como a dele é
motivo de tranqüilidade para quem tem o prazer de recebê-la. Além disso, dá a
impressão de saber de memória todos os resultados de jogos de futebol”. Foi o que
escreveu Elio.
Uau.
Villa trabalhou com Elio, portanto. Não aprendeu nada?
Não parece. Elio tem uma independência intelectual perante os partidos e os políticos
que passa completamente ao largo de Villa e congêneres. Isso lhe dá autoridade para
criticar e elogiar situação e oposição, e credibilidade para ser levado a sério.
Villa, em compensação, é fruto de uma circunstância em que se procura
desesperadamente dar legimitidade acadêmica a um direitismo malufista. Em outros
tempos, Villa – caso acredite mesmo nas coisas que escreve e fala — seria um
extravagante, um bizarro, imerso num mundo que é só só seu. Você poderia imaginá-lo
jogando dardos num pôster de Lula.
Nestes dias de confronto, é um símbolo de como alguém pode chegar aos holofotes e
virar “referência” falando apenas o que interesses poderosos querem ouvir.
As “referências” gozam de impunidade torrencial. Podem, como Villa, errar sempre que
não serão cobrados. Continuarão a ser procurados para espalhar sua ignorância cínica
— comprada pelo 1% como vil mercadoria.

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