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Não assisti na íntegra ao barulhento embate entre o historiador Marco Antônio Villa e o
deputado Jair Bolsonaro na Jovem Pan. Não tive muito estômago para o que me pareceu
que seria, pelas amostras a que tive acesso, um baita tempo perdido aturando um tiroteio
retórico irracional. Alguns detalhes, porém, que consegui identificar me chamaram
particularmente a atenção, e me parece conveniente ressaltá-los.
Cito a mim mesmo: “Não sou eu quem está dizendo, mas o próprio historiador Marco
Antônio Villa quem lembra que, de 1964 até 1968, a realização de festivais musicais, a
publicação de livros e artigos de oposição na imprensa da época, e a presença de um
‘leque enorme no campo político-cultural’ de esquerda impedem que seja razoável falar em
‘ditadura’ naquele momento. Isso não significa, ele também destaca, que houve ‘ampla
liberdade’ naquele período; houve uma combinação entre autoritarismo e liberdades, com o
Congresso majoritariamente aberto, tipo de ambiente que marcou diversos episódios da
nossa história, sobretudo até aquele momento”.
Na mesma ocasião, Villa disse que para chamar esse período de 64 a 68 de “ditadura”,
seria preciso “mudar o dicionário”. Ele chegou também a relativizar o autoritarismo mesmo
no auge do regime, na vigência do AI-5, dizendo que em 1974 “tivemos uma eleição
relativamente livre para o Senado”. Também disse que é um absurdo chamar de ditadura o
período que vem depois de 1978, durante o governo de Figueiredo.
Curiosamente, entretanto, em sua briga com Bolsonaro, perguntado pelo deputado sobre
quando a ditadura começou, em meio ao tiroteio vocabular, Villa bradou: “a ditadura é uma
longa história; a repressão já começa em 64. O povo pediu a saída de João Goulart, mas
não queria ditadura”.
A crítica atual de Villa, como dissemos naquele mesmo artigo, estará correta, se ele se
referir ao período pós-AI-5. Porém, agora ele resolveu, apenas para atacar Bolsonaro,
sustentar que Castelo Branco inaugurou uma terrível ditadura repressora. Que sentido faz
isso?
Villa disse ainda que o campo da “moral” e da “honestidade” não “interessam”. Ora, o
historiador está o tempo inteiro, com razão, atacando as imoralidades dos nossos homens
públicos, inclusive com relação aos absurdos que ouvimos no áudio do presidente Michel
Temer divulgado nos últimos dias. Se, em meio ao turbilhão da Lava Jato, a honestidade é
um tópico irrelevante, qual deles não o será?
Também nos causou uma baita confusão mental a crítica de Villa a Bolsonaro por ele ter
aceito a doação do fundo partidário (ele é um deputado que faz campanha por um partido,
não?). A confusão se dá porque Bolsonaro rejeitou receber uma doação de R$ 200 mil da
Friboi, e depois Bolsonaro recebeu o mesmo valor de seu partido. Ora, há alguma
ilegalidade nisso? Francamente, não é preciso ter muita sapiência para compreender.
Villa tem seu valor. Com a única intenção de destroçar Jair Bolsonaro sabe-se lá por que
motivo, porém, preferiu se entregar a esse esdrúxulo rebaixamento. Lamentável."
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/contradicoes-
de-marco-antonio-villa/
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A triunfal ascensão à base de asneiras de Marco Antônio Villa
Publicado por
Paulo Nogueira
-
15 de novembro de 2014
Republico um texto de junho de 2013 porque o objeto dele, Marco Antonio Villa, voltou
aos holofotes depois que viralizou o vídeo de um bateboca entre ele e Airton Soares
num telejornal da Cultura.
Não tenho grandes expectativas em relação à academia brasileira, mas mesmo assim
me surpreendi ao ler um artigo sem nexo na Folha, nas eleições de 2010, e ver que o
autor era professor da Universidade Federal de São Carlos.
Pobres alunos, na hora pensei.
Não conhecia o professor Marco Antonio Villa, historiador não sei de que obras. No
artigo, depois de ter entrado na mente de Lula, ele contava aos brasileiros que a
escolha de Dilma se dera apenas para que em 2014 Lula voltasse ao poder, nos braços
da “oligarquia financeira”. Villa, com as asas de suas teorias conspiratórias, voara até
2014 para prestar um serviço à Folha e seus leitores.
Não sei se Villa conhece a história inglesa, mas deveria ler uma frase de Wellington, o
general de Waterloo: “Quem acredita nisso, acredita em tudo”.
Minha surpresa não pararia ali. Saberia depois que, graças a seu direitismo estridente e
embalado numa prosa com as vírgulas no lugar, Villa virou presença frequente em
programas de televisão cujo objetivo era ajudar Serra, notadamente na Globonews sob
William Waack.
Mais recentemente, ele participou de animadas mesas redondas no site da Veja sobre
o Mensalão. Vá ao YouTube e veja quantas pessoas vêem as espetaculares
discussões de que Villa participa ao lado de Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo. O
recorde de Psy pode ser batido antes do que imaginamos.
Soube também que ele lançou um livro sobre o Mensalão. Abominei sem ler. Zero
estrela de um a cinco.
No site da Veja, ele é presença frequente, para infortúnio de leitores que se
desinformam espetacularmente com suas opiniões. Vale a pena reproduzir aqui a visão
convicta de Villa sobre o MPL nos primeiros dias de protesto. O blogueiro Augusto
Nunes fez questão de publicá-la em, acredite, dezesseis pontos que estavam errados
do primeiro ao último.
Alguns deles:
1. não é o que pode ser chamado de movimento social, sociologicamente falando;
2. é um ajuntamento de pequenos grupos ultra-esquerdistas sem qualquer importância
política;
3. tem uma prática típica de grupos fascistas, são eleitoralmente inexpressivos;
4. a passagem de ônibus virou um eficaz instrumento para as lideranças desses
grupelhos dar satisfação às suas inquietas “bases”, cansadas de ouvir discursos
revolucionários, negadores da democracia (chamada depreciativamente de
“burguesa”), sem que tivessem o que chamam de prática revolucionária;
5. para estes grupelhos, o vandalismo é um excelente instrumento de propaganda.
Eles se alimentam do saque, da violência e da destruição do patrimônio público e
privado;
6. o poder público não sabe agir dentro da lei para conter os fascistas. Ou se omite, ou
age como eles (ou da forma como eles querem);
7. agir com energia, dentro dos limites legais, é a forma correta de conter os fascistas;
9. é evidente a tentativa de emparedar o governador do estado. O prefeito – sempre
omisso – não está na linha de fogo;
10. O “movimento” está desesperadamente procurando um cadáver;
11. E como bem disse um comentário, este movimento não vale vinte centavos.
Este é Villa, na sua essência. Este o comentarista que a grande mídia usa
incessantemente para deseducar o público.
Passados alguns dias, quando ele percebeu que os que lhe pagam estavam gostando
do MPL por supostamente emparedar o governo, ele desmentiu tudo o que tinha
categoricamente afirmado. Mais uma vez Augusto Nunes lhe deu microfone em seu
blog.
Este movimento tem características que, sinceramente, não encontro paralelo no que li
e estudei.
Ora, ele não estudou os protestos de 68 na França? Ou os do Ocupe Wall St? Você
pode ver a estatura de Villa ao confrontar suas observações rasas, erradas e giratórias
com as do filósofo Renato Janine Ribeiro, num artigo que o Diário publicou hoje.
Villa confunde com seu desconhecimento. Janine aclara com seu conhecimento.
Minha única surpresa em relação a Villa derivou de uma chancela importante de Elio
Gaspari, um dos melhores jornalistas que vi em ação como diretor adjunto da Veja nos
anos 1980. Ele fez parte da equipe de Elio na elaboração de seu livro “A Ditadura
Derrotada”.
Villa, conta Elio, “conferiu cada citação de livro ou documento. Foi um leitor atento e
pesquisador obsessivo. Villa tem uma prodigiosa capacidade de lembrar de um fato e
de saber onde está o documento que comprova sua afirmação. Ajuda como a dele é
motivo de tranqüilidade para quem tem o prazer de recebê-la. Além disso, dá a
impressão de saber de memória todos os resultados de jogos de futebol”. Foi o que
escreveu Elio.
Uau.
Villa trabalhou com Elio, portanto. Não aprendeu nada?
Não parece. Elio tem uma independência intelectual perante os partidos e os políticos
que passa completamente ao largo de Villa e congêneres. Isso lhe dá autoridade para
criticar e elogiar situação e oposição, e credibilidade para ser levado a sério.
Villa, em compensação, é fruto de uma circunstância em que se procura
desesperadamente dar legimitidade acadêmica a um direitismo malufista. Em outros
tempos, Villa – caso acredite mesmo nas coisas que escreve e fala — seria um
extravagante, um bizarro, imerso num mundo que é só só seu. Você poderia imaginá-lo
jogando dardos num pôster de Lula.
Nestes dias de confronto, é um símbolo de como alguém pode chegar aos holofotes e
virar “referência” falando apenas o que interesses poderosos querem ouvir.
As “referências” gozam de impunidade torrencial. Podem, como Villa, errar sempre que
não serão cobrados. Continuarão a ser procurados para espalhar sua ignorância cínica
— comprada pelo 1% como vil mercadoria.