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AS GRANDES NAVEGAÇÕES

A CRISE DO FEUDALISMO OCIDENTAL – SÉCULOS XIV – XV

1.1 A aventura do comércio

Fim da segunda invasão “bárbara” (Séculos VIII ao XI)


► Escandinavos;
► Sarracenos; Maior segurança ► maior
► Magiares. circulação de pessoas e
mercadorias

 Imigração;

 Inovações técnicas Aumento da Excedentes


 Arroteamentos
produção agrícola EXPANSÃO
 Drenagem dos pântanos

Em um primeiro ECONÔMICA POPULACIONAL


momento temos um
aumento da produção e
depois da produtividade.
GRANDE COMÉRCIO PEQUENO COMÉRCIO

SUL A volta do Mar


Mediterrâneo ao circuito
NORTE comercial europeu tem
início com as Cruzadas
► Flandres ► Mar Mediterrâneo
► Mar Báltico
► Mar do Norte As feiras surgiam principalmente nos entroncamentos
das rotas comerciais, beneficiadas pela paz de mercado e
pela anulação do aubaine – direito que o senhor possuía
de apropriar-se dos bens daqueles que morriam em suas
terras.

Os senhores interessados em chamar


mercadores para as suas feiras eram
obrigados a conceder a "paz do mercado"
ou "paz da feira", coibindo vexames ou represálias, dando alojamento e condições de armazenamento dos produtos
e prometendo a redução ou isenção de taxas. Esta política foi habilmente seguida pelos condes de Champanhe, que

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também se serviram do salvo-conduto e dos guardas das feiras para garantir o sucesso e o bom funcionamento das
mesmas.
https://www.infopedia.pt/$comercio-na-idade-media

Com o desenvolvimento do comércio as cidades crescem em importância. Como dizia um velho ditado alemão,
“O ar da cidade é o ar da liberdade”. Uma das principais mudanças advindas do comércio foi a mudança na
estrutura tripartite/trifuncional da sociedade feudal.

Baixa Idade
Média

Alta Idade Média

Com o aumento da importância da figura do mercador (burguês) a uma mudança na forma de ser ver o
mundo, de mentalidade, por parte desse grupo. A procura de uma nova forma de se relacionar com o tempo; de
afirmar a sua individualidade; de se guiar pela ética do trabalho e de lutar pela liberdade necessária para o
exercício de suas atividades.
Pelo III Concílio de Latrão (1179) a usura passou a ser reconhecida como pecado, pois o tempo pertence a
Deus, o que vai associar o mercador ao usurário, ao judeu ao pecado da avareza. Para a igreja, a usura, o juro, o
lucro e o comércio eram diferentes, entretanto tinha um ponto em comum, que era o dinheiro e este seria o
responsável pela erosão dos valores cristão.
O mercador vai ser o responsável pela lenta laicização da cultura. O conhecimento a educação é de vital
importância para a prática mercantil.
Os mercadores passam “exigir” o direito a riqueza e a salvação. Ou seja, como constatou Le Goff, o
“direito à bolsa e à vidaI”

“A Idade Média foi buscar à Antiguidade a imagem da Fortuna, encarnação do destino


cego que faz girar constantemente a roda que ora leva, ora faz cair os que procuram o sucesso. Na
sociedade medieval, não há talvez ninguém a quem melhor se adeque essa imagem do que ao
mercador. A palavra ‘fortuna’ continua a ter dois significados: destino, sucesso e grande soma de

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dinheiro, riqueza. E não é por acaso. O sentido de risco que, no mercado, existe sempre, estava
associado à ideia de destino que brinca com o homem.”
(GUREVIC, ARON JÁ. Op. Cit., pág. 183.)

1.2 Primeiros indícios de retração econômica

Excedente agrícola Liberou parte da mão de obra para outas atividades economicas, como o
comércio e o artesanato.

No final do século XIII a produção agrícola européia já se encontra em processo de estagnação. A causa encontra-
se no próprio caráter predatório e extensivo que a médio prazo causou uma série de problemas.

► Produção;
► Armazenamento;
► Distribuição.
Os arroteamentos e a ocupação de terras antes reservada a atividade pecúaria para a produção agrícola,
diminuiu o forneciemento de carne, leite e derivados, como a diminuição de esterco, tão necessário a produção
de alimentos.

Vai ser só no final do século XIX, que O desgaste do solo, as variações climáticas são
a ciência vai produzir um fertilizante reflexos do período de expansão –
de baixo custo e que permitirá que a principalmente os arroteamentos.
população do mundo dobre em
aproximadamente em 100 anos. “(...) quase sem nenhumas terras por arrotear,
cheio de trabalhadores e coberto de searas (1.
campo de cereais. 2. extensão de terra
cultivada), os campos da Europa estavam realmente, no limiar do século XIV, superpovoados e sobrecarregados
por um número cada vez maior de camponeses famintos (...) Primeiro sintoma: em 1258, a penúria que se abateu
sobre a Inglaterra assumia o aspecto da fome. Em 1309-1311, os campos da Alemanha sofreram uma carência de
víveres muito mais cruel. O tempo das dificuldades começava”
(DUBY, GEORGES. Economia rural e vida no campo, Lisboa, Edições 70, 1962, Vol. 2, pág. 154.)

1.3. A triologia das catástrofes


1.
3 .1
A

Fome
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje”

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A fome não era incomum para o homem medieval, expressando assim as dificuldades de sobrevivencia e
a incerteza em relação ao futuro. Podemos perceber essa temática em quatro mitos medievais populares (o
Graal, Avalon, Reino de Preste João e o País da Cocanha) todas tem relações não só com funções alimentares, mas
também à abundância e à fartura.
 Sobre o Graal.
https://www.historiadomundo.com.br/idade-antiga/santo-graal.htm
 Sobre Avalon.
https://www.mitografias.com.br/2015/12/a-terra-de-avalon/
https://www.templodeavalon.com/modules/mastop_publish/?tac=Celebra%E7%F5es_Solares
 Sobre o Reino de Preste João
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-preste-joao-etiopia.phtml
https://www.ricardocosta.com/artigo/por-uma-geografia-mitologica-lenda-medieval-do-preste-joao-sua-
permanencia-transferencia-e
http://www.encontro2012.rj.anpuh.org/resources/anais/15/1338345356_ARQUIVO_ThiagoGredilha-
ApresentacaoANPUH.pdf

Tal lenda, cujo rei seria descendente de Baltasar, um dos Reis Magos, e inimigo dos muçulmanos, fazia parte do
imaginário europeu desde meados do século XII e contribuiu para o processo de Expansão Marítima portuguesa,
visto que um dos objetivos do rei de Portugal D. João II era localizar o dito reino.

 Sobre o País da Cocanha


http://miltonribeiro.sul21.com.br/tag/cocanha/
http://navegandonahistoria.blogspot.com/2007/03/o-pas-da-cocanha-o-reflexo-da-utopia.html

A segunda década do século XIV (especificamente os anos de 1315-1317) foi marcado por um ciclo de
chuvas torrenciais que acarretou em perda de colheita e consequentemente a fome em diversas regiões da
Europa.
Alguns autores relacionam essa variação climática a uma tendência geral de resfriamento climático.
Consequências da escassez de alimentos
► Convulsão social;
► Agravamento das tensões políticas;
► A fome propriamente dita;
► O surgimento de inúmeras moléstias ligadas à carência alimentar;
► Retração da economia – os recursos existentes eram canalizados para a aquisição de alimentos, ocasionando a
retração do comércio e do artesanato;
► acumulação de metais desvalorização monetária aumento constante de preços.

“A fome e doenças graves se seguiram (depois de 1317) reduziram as pessoas a


comerem cães e gatos, folhas e raízes, e, em alguns lugares, ao canibalismo. À medida
que o povo foi levado a atitudes desesperadas para obter comida, houve uma onda de
crimes. Em seguida, uma desastrosa epizootia (doença que apenas ocasionalmente se
encontra em uma comunidade animal, mas que se dissemina com grande rapidez e
apresenta grande número de casos) dizimou boa parte do rebanho.” (RICHARS, JEFFREY.
Sexo, desvio e danação. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1993, pág, 26.)

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Pobres e miseráveis no mundo europeu
A formação das monarquias e a centralização do poder provocaram diversos conflitos políticos e
instabilidades no cenário social europeu. Essas transformações atingiram diretamente a vida dos setores mais
populares.
Nessa sociedade desigual, onde a riqueza produzida era expropriada à força pela ordem senhorial e
religiosa, a maioria da população vivia nos limites da pobreza, que se acentuava ainda mais nos tempos de guerra
e nas crises agrícolas.
No campo, muitos camponeses e servos abandonavam suas terras para escapar da miséria e da violência
dos senhores. Esses ex-camponeses muitas vezes se juntavam a grupos que habitavam bosques e florestas e
saqueavam os viajantes nas estradas.
Nas cidades e vilas, a maioria dos trabalhadores pobres vivia de atividades sazonais, mal remuneradas e
insuficientes para garantir a sobrevivência. Os espaços urbanos concentravam miseráveis, doentes físicos e
mentais e inúmeros mendigos e ociosos que não encontravam condições materiais para sobreviver. Essas pessoas
alimentavam-se de restos e sobras, moravam em habitações insalubres e contavam apenas com atos de caridade.
Essa atmosfera de pobreza e violência produzia revoltas e motins que explodiam no campo e na cidade,
intensificando a instabilidade social e aumentando a repressão contra os pobres. Entre os séculos XIV e XVI,
inúmeras leis transformavam a pobreza e a mendicância em crime e exigiam que os pobres estivessem vinculados
a algum senhor.
Em Portugal, no ano de 1375, uma lei decretada pelo rei dom Fernando estabelecia que “só poderão
mendigar aqueles que pela sua idade e estado não puderem trabalhar, segundo certificado que as autoridades
locais passarão por alvará; todos os demais pedintes, vadios, ociosos, serão açoitados e, posteriormente, expulsos
do Reino, porque “El rei mandava e queria que ninguém fosse vadio. ”

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1.3.2 A peste

Leia o texto abaixo e responda o que se pede:

As doenças eram “parceiras” do homem medieval, isso não só pelas


condições alimentares, sanitárias, como também pelos recursos médicos.
Entre as diversas doenças do período a tuberculose foi a mais mortífera.
Entretanto foram as doenças de pele que mais marcaram o imaginário
medieval, de todas a lepra, foi a mais marcante, mas foi a peste negra a
doença que mais marcou o final da Idade Média.

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Considerando as expressivas desigualdades regionais, admite-se que, no seu conjunto, a Peste Negra
eliminasse cerca de 1/3 da população europeia.

“Ao contrário do que pensava até há pouco tempo, a peste não é influenciada pela
fome, isto é, a subnutrição, que pode dobrar ou triplicar a mortalidade de outras epidemias, não
altera a ação da peste. Portanto, ela atingia indiscriminadamente pobres e ricos, crianças e
adultos, homens e mulheres. Se as camadas sociais mais elevadas resistiram melhor, foi apenas
pela sua possibilidade de abandonar locais infectados e buscar refúgios em outros. ” (FRANCO
JÚNIOR, HILÁRIO. O feudalismo, 6º edição, São Paulo, 1987, pág. 81.)

Vídeos sobre a peste negra.


https://www.youtube.com/watch?v=ySClB6-OH-Q Legendado O passado, o presente e o futuro da peste
bubônica – Sharon N. DeWitte
https://www.youtube.com/watch?v=0Jawyluw918 - Seu Amigo, o Rato Pixar.
https://www.youtube.com/watch?v=SsM_CKojL2o – Era uma vez o homem – Guerra dos cem anos e peste negra
– animação.
Artigo sobre a Peste Negra:
http://www.saci.ufscar.br/data/clipping/imagens/29323_00.jpg

Os locais de maior concentração humana foram os que mais sofreram, já as zonas mais afastadas dos
circuitos comerciais tenham sido as mais poupadas. De modo geral, nas áreas de grande concentração, os
contratos da vida cotidiana – compra, venda, alugueis – praticamente desapareceram.

1.3.3 A Guerra

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Afetados pelas crises, a classes dominantes feudais recorreriam a um expediente clássico dos
momentos de maior instabilidade a guerra. Ao longo do período irromperam conflitos em diversos pontos da
Europa, sendo a mais importante delas a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), guerra em que a França e a
Inglaterra, por reivindicação dinástica, entre os Plantagenetas da Inglaterra e os Capetíngios da França.

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1.4. Os desdobramentos econômicos e social da crise
Declínio das atividades produtivas Sensível diminuição do
comércio

Consequências das Acentuada depressão demográfica


crises Diminuição da mão-de-obra

Alterações nas relações


servis®
Abandono das áreas antes habitadas e habitáveis
Obrigações servis
► Talha
► Corveia
Alterações nas relações servis

Os senhores feudais renunciaram às antigas obrigações camponesas


e passaram exigir as obrigações em dinheiro.

Observe as imagens abaixo:

População – período anterior as crises População – período posterior as crises

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“Quando adã o cultivava a terra e Eva fiava, quem era entã o o nobre?”
A diminuição da população do campo, por morte ou migração, alterou as relações de produção na Europa. Pois a
diminuição de mão de obra. Os senhores feudais agiram de duas formas completamente diferentes. Uns exigiram
mais trabalho e o aumento das taxas, bloquei do aumento dos salários, nessas áreas, ocorreram um grande
número de revoltas, as Jacquerie, ocorrida na França em 1358, e a dos Camponeses, na Inglaterra, em 1381.
Outros abrandaram as imposições aos servos, já que estes tinham ao menos duas alternativas imediatas: o
abandono das terras e a ocupação de uma área vazia ou a migração para uma cidade onde a mao de obra fosse
escassa. Com isso surgiram novos segmentos sociais, como os camponeses livres.

A situação dos camponeses na Inglaterra no final do século XIV.

O desmoramento do mundo tradicional foi sentido por toda a sociedade feudal. Além do impacto sobre
os trabalhadores, vitimas em potencial da crise, muitas casas nobiliárquicas foram atingidas e desapareceram no
decurso da Idade Média. As rendas senhoriais cada vez menores e as desvalorizações monetárias crescentes
contribuíram para a liquidação das pequenas fortunas feudais. Estima-se que nos séculos XIV-XV, a cada seis
gerações em média, extinguia-se uma linhagem nobre. A saída foi muitas vezes a ligação, através de casamentos,
com setores da alta burguesia ou até mesmo com camponeses enriquecidos. Para estes, unir-se a nobreza e
adotar os seus hábitos indicava ascensão social, de tal forma que a sociedade, apesar do declinio dos senhores
feudais, permaneceu acentuadamente feudal. Por outro lado, a inserção no processo de centralização política,
colocando os serviços à disposição do rei, foi fundamental para a sobrevivencia da nobreza.

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A PENÍNSULA IBÉRICA

2.1. A formação do Estado Português

Não podemos desvincular a formação do Estado Português a luta de reconquista da Península Ibérica,
acelerada no século XI. Sua história começa quando D. Afonso VI de Castela, em 1095, confiou o Condado
Portucalense, sob a condição de vassalo, ao conde D. Henrique de Borgonha (região da atual França), marido de
sua filha bastarda, D. Teresa. Em 1128, Afonso Henrique entrou em guerra contra o reino de Castela. (Batalha de
São Mamede) e m 1037, Afonso Henrique vence uma importante batalha, a de Cerneja. Dois anos depois (1139)
os muçulmanos são derrotados em Ourique. Após essa vitoria Afonso Henrique se auto proclama rei, dando início
a dinastia de Borgonha. Em 1249 o Algarve e incorporado ao Reino de Portugal.

Em 1383, com a morte de Dom Fernando, o rei de Castela tenta usurpar o trono, mas a burguesia liderou
um movimento contra os Castelhanos, onde sairam vencedores, conhecido como Revolução de Avis (1383-1385).
O chefe militar desse movimento Dom João, mestre da ordem militar de Avis, e aclamado rei, com o título de
Dom João I, dando início a dinastia de Avis, que passa dar apoio ao comércio e a navegação, principais negócios
da burguesia portuguesa.

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Aula: Formação de Portugal e a expansão marítima portuguesa | História | Prof. Marcelo Lameirão
https://www.youtube.com/watch?v=GyLK0V-BcXs
Formação de Portugal. Condado a Reino - pt
https://www.youtube.com/watch?v=0ZZC6BTgrFE
Reis de Portugal - Episódio 01 - As Origens de Portugal - pt
https://www.youtube.com/watch?v=UCExpzshRtE

PORTUGAL E A EXPANSÃO COMERCIAL

3.1. O sentido da expansão comercial

As causas da expansão européia e especificamente portuguesa, no século XV foram exaustivamente


discutida pelos historiadores. É inútil procurar exclusividades. Combinaram-se causas economicas

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O Comércio Oriental era, desde o século XI, o mais dinâmico da da economia européia. Entretanto esse
comércio favorecia princialmente os mercadores árabes e italianos. Os primeiros introduziam os produtos
orientais no circuito mercantil mediterrânico. Daí em diante, eram os mercadores italianos que monopolizavam a
distribuição dos produtos orientais nas principais praças comerciais da Europa (conferir mapa da página 1).

O monopólio exercido pelos árabes e italianos foi o principal fator para o esgotamento dos metais na
Europa, pois o ouro e a prata eram os únicos produtos interessantes para os mercadores árabes. Diante da falta
de metais preciosos, podemos afirmar que a busca dos mesmos foi um dos principais fatores da ideia
expansionista.

Outro fator foi a necessidade de se expandir os mercados – consumidor e produtores.

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